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Apesar desta suposta antigüidade da presença humana na Amazônia, não existe uma
variabilidade genética muito ampla entre os indígenas que a ocupam. Dois fatores
contribuíram para esta situação: primeiramente, a migração da Asia, via estreito de
Bering, criou um estrangulamento populacional entre os grupos indígenas e, mais
tarde, a vinda do europeu às Américas causou uma grande queda demográfica devido,
principalemente, às doenças introduzidas. Esta redução foi significativa, de tal forma
que, de cada 20 indivíduos existentes naquela época, encontra-se, hoje, somente um
sobrevivente. Deste modo, a maioria dos grupos estudados exibe apenas quatro
haplogrupos. Pequenas exceções ocorrem entre outros, a exemplo dos Cinta Larga de
Rondônia, que exibem características semelhantes à composição genética de alguns
índios norte-americanos, fato este que ainda demanda explanação (Santos, 2000).
Diante desses achados as pesquisas realizadas por Walter Neves colocam em xeque a
questão da procedência dos primeiros habitantes humanos no Brasil e, por extensão,
na Amazônia. Neves salienta que antes da chegada dos falados indígenas haviam
populações negróides, muito similares àquelas que ocuparam a Austrália. Suas
pesquisas apoiam-se em estudos de ossadas e não de material genético. Caso consiga
extrair informações genéticas deste material ósseo, haveriam melhores condições para
identificar estas populações. No entanto, estes resultados baseiam-se em
características morfológicas, ou seja, medidas antropométricas que estabelecem
parâmetros gerais para identificação de populações humanas.
Antes da chegada dos europeus surge um outro fato curioso. As migrações internas na
Amazônia pré-histórica eram frequentes e revelam um outro quadro interessante. A
diversidade lingüística mostra que há uma amplitude grande de grupos étnicos que,
por sua vez, percorreram uma grande área geográfica, promovendo assim um
intercâmbio cultural significante entre várias etnias. Ao contrário do que se pensava, o
isolamento em si nunca existiu e as trocas e permutas entre os diversos grupos
facilitaram a difusão de muitas características culturais de uma área para outra.
Acredita-se, por exemplo, que a matriz biogenética da mandioca esteja situada no
nordeste brasileiro, mas sabe-se que a ocorrência deste plantio é encontrado em quase
todo o território nacional e países vizinhos, principalmente na Amazônia.
Junta-se a isto o movimento fronteiriço que alarma o governo brasileiro e seus vizinhos
amazônicos. O Projeto Calha Norte já buscava patrulhar a fronteira amazônica e em
breve será reforçado pelo Projeto Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).
Comenta-se que este sistema de vigilância combateria apenas parte do problema do
narcotráfico e o contrabando de ouro e peles de animais silvestres. Estas operações
ilícitas tornariam-se mais clandestinas e, junto com elas, a migração.