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MARX, ARISTÓTELES E O FUTEBOL

Tempos difíceis os nossos. Henry Ford inaugurou a era da produção em massa dos
automóveis e possibilitou que mais pessoas tivessem acesso a aquele bem. A construção civil
também, pelo menos teoricamente, teria o mesmo objetivo—proporcionar moradia digna a
um maior número de famílias. No entanto, o que acontece, é que muita gente anda a pé, outras
vivem pagando aluguéis ou moram em favelas. Algumas dessas pessoas são até mesmo as
mesmas que trabalham nas linhas de produção das fábricas de automóveis. Outras tantas
pessoas trabalham na construção civil. Elas fabricam casas e automóveis, o dia inteiro, para
outras pessoas usarem. A esse distanciamento do homem com relação àquilo que ele próprio
produz, Marx chamou de alienação.
Mas não é só em relação ao modo de produção capitalista que se restringe a alienação.
O cidadão, alienado dos bens que produziu, convive com a frustração e afoga as mágoas na
bebida, na droga. Outros se entregam à prática de crimes. Há, ainda, aqueles que se deliciam
no universo dos prazeres da carne e dos sentidos.Recebem seu dinheirinho semanal minguado
e, ansiosamente, dirigem-se aos bordéis, bingos e estádios de futebol e, uma vez nesses
ambientes, concretizam catártica e temporariamente, parte de seus sonhos e desejos
frustrados.
Todas as faces desse homem — o ladrão, o vândalo, o promíscuo, o perdulário, o
expectador — constituem elementos de identidade da espécie homo sapiens. A esse conjunto
de possibilidades, quando reunidas, reelaboradas e manifestadas numa determinada concepção
de produção artística, Aristóteles nomeou de natureza humana.
Integra também a natureza humana a porção contemplativa. O ser humano necessita,
principalmente quando se vê alienado de seus sonhos e desejos primários, exercitar a
contemplação. Nos estádios de futebol ele exercitaria, então, a sua necessidade de adoração.
Como o número de excluídos—e, conseqüentemente, frustrados - do modo de produção
capitalista é gigantesco, nada mais natural que um esporte tão popular como o futebol, cuja
prática todos têm acesso facilitado, independentemente de espaços e de equipamentos
adequados para isso, atraia essa enorme massa de descontentes. Tempos houve em que o
jogador e a prática do esporte em si eram mais íntimos do torcedor. Era o tempo do
compromisso do futebol consigo mesmo. Em argumentos da teoria crítica da arte, concluímos
que, metalingüisticamente, nós tínhamos, na prática, a concretização do tão desejável futebol
arte, uma vez que o objetivo do futebol estava centrado no próprio futebol.
Como hoje em dia a estrutura do futebol e a mente dos seus praticantes estão mais
empenhados em outros interesses que não o do futebol arte, temos a infelicidade de presenciar
a alienação da porção contemplativa. Ir ao estádio não serve mais como entretenimento.
Jogadores que fazem jogadas bonitas são punidos pêlos próprios colegas de profissão ou pelo
resultado derrota, no final da partida. No fim, todos perderam. Atletas não praticam mais a
arte como ofício, mas praticam o ofício do que é necessário. A platéia está alienada do
processo, pois, seu papel, que antes tinha melhor função na relação de contemplação, agora
está vinculado ao setor das bilheterias, ou seja, deixou de ser participante e virou membro
contribuinte na realização de um espetáculo que não mais a agrada. Contribuí pelas
esperanças nutridas pelas alegrias registradas na memória e também por falta de opção.
Enfim, se pudéssemos convidar Marx, Aristóteles e nós, para contemplar juntos uma
partida de futebol, os convidados provavelmente não iriam. Marx talvez dissesse: não, não
vou a lugares onde se pratica a alienação! Aristóteles, de seu lado, diria: não vou, não pactuo
com interesses que não são estéticos, isso é anti-humano!
No entanto, nós ficamos com a conta pra pagar e a natureza humana que se dane!

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