Vous êtes sur la page 1sur 275

COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CONTRIBUTOS PARA UMA REVISÃO GLOBAL


DO
REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL DE TIMOR-LESTE

UMA PROPOSTA

José Manuel Pinto


(assessor parlamentar)

Janeiro de 2009
(trabalho produzido entre 1 de Outubro de 2008 e 15 de Janeiro de 2009)

1
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

ANTEPROJECTO DE NOVO REGIMENTO


DO
PARLAMENTO NACIONAL DE TIMOR-LESTE

O presente anteprojecto, elaborado a pedido da Mesa, baseia-se nalguns estudos de


Direito Constitucional e Parlamentar, em regimentos comparados e na experiência da
prática parlamentar colhida durante a I Legislatura e a 1.a Sessão Legislativa da II
Legislatura, tendo em vista, em geral, melhorar o funcionamento dos órgãos
parlamentares e, em particular, corrigir anomalias verificadas na aplicação de
disposições regimentais, bem como repensar a formulação de normas regimentais
inadequadas, ultrapassadas ou inexequíveis. Visa-se ainda tornar mais céleres,
dinâmicos e funcionais os processos típicos em que se desenvolve a função político-
legislativa do Parlamento Nacional, abri-lo à sociedade e à interacção com os
cidadãos nele representados e garantir a participação democrática de todas as
forças políticas, maioritárias e minoritárias, com assento parlamentar. A breve pesquisa
comparativa que tive oportunidade de efectuar centrou-se nos regimentos dos
parlamentos de língua portuguesa, que serviram de modelo a este trabalho. Atrevi-me,
no entanto, a conceber algumas inovações que a minha própria consciência prática
me aconselhou e consegui adaptar ao regimento timorense ideias, curiosas e úteis,
que encontrei noutros regimentos internos consultados, seleccionadas de institutos
universalmente consolidados e independentes do respectivo sistema jurídico ou de
governo. Para que a escolha fosse mais prática, dei preferência aos parlamentos
unicamerais, com alusões embora a algumas câmaras baixas de parlamentos
bicamerais, e tentei privilegiar, de entre eles, os de países que, pela sua pequena
dimensão geográfica, tropicalidade ou características sócio-económicas, culturais ou
linguísticas, mais se assemelhassem a Timor-Leste. O articulado sugerido é
acompanhado de explicações, comentários, observações, apontamentos doutrinários
e remissões legais, que ajudem a compreendê-lo e a fundamentar as soluções
normativas escolhidas. A proposta, despretensiosa, é da minha exclusiva
responsabilidade. Apresento-a a título de mero contributo para uma revisão, que se
reclama, do Regimento do Parlamento Nacional de Timor-Leste. Acredito em que o
novo regimento, perante o contexto específico da realidade a que terá de se aplicar,
deve ser detalhado, de forma a cobrir o maior número de situações previsíveis e a
encurtar a margem de lacunas possíveis. Este trabalho carece, no entanto, de muita
afinação, porque o tempo de elaboração que me auto-atribuí acabou por se revelar
insuficiente para a análise cuidada, meticulosa e esclarecida das questões envolvidas.

2
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

SIGLAS UTILIZADAS

● CPC: Código do Processo Civil

● CPP: Código do Processo Penal

● IPU: Inter-Parliamentary Union (União Inter Parlamentar)

● LEPN: Lei Eleitoral para o Parlamento Nacional

● LEPR: Lei Eleitoral para o Presidente da República

● LOFAP: Lei da Organização e Funcionamento da Administração Parlamentar

● LPA: Lei da Publicação dos Actos

● PN: Parlamento Nacional

● PR: Presidente da República

● UNTAET: United Nations Transitional Administration in East Timor

NOTA: Salvo menção especial em contrário, os órgãos, diplomas normativos e actos políticos citados
no presente estudo referem-se ao ordenamento jurídico e orgânico de Timor-Leste; a palavra
“Constituição”, sem qualquer outra referência, diz respeito à Constituição da República Democrática de
Timor-Leste.

3
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

DESIGNAÇÕES ABREVIADAS DA PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA CITADA


● “A guide to good practice”: “Parliament and democracy in the twenty-first century – a
guide to good practice”, Inter-Parliamentary Union, Geneva, 2006
● “A participação”: Jaime Valle, “A participação do Governo no Exercício da Função
Legislativa”, Coimbra Editora, 2004
● “Constituição Anotada – Tomo I”: Jorge Miranda – Rui Medeiros, “Constituição
Portuguesa Anotada”, Tomo I, Coimbra Editora, 2005
● “Constituição Anotada – Tomo II”: Jorge Miranda – Rui Medeiros, “Constituição
Portuguesa Anotada”, Tomo II, Coimbra Editora, 2006
● “Constituição Anotada – Tomo III”: Jorge Miranda – Rui Medeiros, “Constituição
Portuguesa Anotada”, Tomo III, Coimbra Editora, 2007
● “Constituições”: Jorge Bacelar Gouveia, “As Constituições dos Estados de Língua
Portuguesa”, 2ª Edição, CPLP, Almedina, Coimbra, 2006
● “Dicionário”: João Melo Franco – Herlander Antunes Martins, “Dicionário de Conceitos
e Princípios Jurídicos”, 3ª Edição, Revista e Actualizada, Livraria Almedina, Coimbra, 1991
● “Direito Constitucional III”: Jorge Miranda, “Direito Constitucional III – Direito Eleitoral –
Direito Parlamentar”, Revisto e Actualizado, Associação Académica da Faculdade de
Direito de Lisboa, Lisboa, 2003
● “Do Controlo Parlamentar”: José Fontes, “Do controlo parlamentar da Administração
Pública – Teoria Geral e Instrumentos de Fiscalização” – Edição Cosmos, Com o alto
patrocínio da Assembleia da República, Lisboa, 1999
● “Estudos”: “Estudos de Direito Parlamentar” – Seminário de Direito Constitucional, 1995-
1996, obra colectiva, coordenada pelo Prof. Doutor Jorge Miranda, Associação
Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Edição apoiada pela Assembleia da
República, Lisboa, 1997
● “Introdução”: João Caupers, “Introdução ao Direito Administrativo”, 8ª Edição, 2005
● “Manual”, V I, T II: Jorge Miranda, “Manual de Direito Constitucional”, Volume I, Tomo
II, Coimbra Editora Limitada, 1981
● “Manual”, Tomo V: Jorge Miranda, “Manual de Direito Constitucional”, Tomo V, 3ª
Edição, Coimbra Editora, 2004
● “Parliamentary Mandate”: Marc Van der Hulst, “The parliamentary mandate – a global
comparative study”, Inter-Parliamentary Union, Geneva, 2000
● “Presiding Offices”: Georges Bergougnous, “Presiding offices of national parliamentary
assemblies – a world comparative study”, Inter-Parliamentary Union, 1997
● “Tools”: Hironori Yamamoto, “Tools for parliamentary oversight – a comparative study
of 88 national parliaments”, Inter-Parliamentary Union, 2007
NOTA: A restante bibliografia consultada e mencionada ocasionalmente é referenciada pela
designação completa da respectiva obra; outras fontes documentais, nomeadamente as constantes de
portais e sítios da Internet, têm referências próprias adequadas à sua especificidade.

4
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

RESENHA DOS REGIMENTOS PARLAMENTARES COMPILADOS


No curto processo de pesquisa que efectuei, os textos regimentais recolhidos dos
respectivos portais da Internet de parlamentos unicamerais ou câmaras baixas
(consoante os casos) dizem respeito aos seguintes países:
● Arménia (www.parliament.am);
● Bangladesh (www.parliamentofbangladesh.org);
● Barbados (www.barbadosparliament.com);
● Brasil (www.camara.gov.br);
● Cabo Verde (www.parlamento.cv);
● Costa do Marfim (www.anci.ci);
● Costa Rica (www.asemblea.go.cr);
● Cuba (www.parlamentocubano.cu);
● Guiana (www.parliament.gov.gy);
● Guiné-Bissau (www.anpguinebissau.org);
● Honduras (www.congreso.gob.hn);
● Ilhas Maurícias (http://mauritiusassembly.gov.mu);
● Ilhas Salomão (www.parliament.gov.sb);
● Lituânia (www.lrs.lt);
● Maldivas (www.majlis.gov.mv);
● Nicarágua (www.asamblea.gob.ni);
● Samoa (www.parliament.gov.ws);
● São Tomé e Príncipe (www.parlamento.st).
A consulta dos textos de Portugal baseou-se fundamentalmente na bibliografia,
suficiente, que tinha ao meu dispor. A versão do regimento português vigente no final do
século XX constituiu, aliás, a principal fonte confessada do actual regimento timorense,
assim como a sua versão actual serviu de matriz à elaboração da minha proposta.
Encontrei a página “web” do parlamento angolano invariavelmente “em
remodelação” e, dadas as limitações de tempo para a conclusão do presente trabalho,
desisti de procurar o correspondente texto regimental noutras fontes documentais.
Dispensei também a recolha do regimento interno moçambicano, até porque as
referências a esta experiência parlamentar são frequentes nas obras bibliográficas que
consultei.
NOTA 1: Os extractos de textos dos enumerados regimentos citados ao longo do presente trabalho,
quando não transcritos integralmente na língua original, são traduzidos, sob a minha inteira responsabilidade,
para português.
NOTA 2: Uma forma expedita de consultar os portais da Internet dos parlamentos é fazê-lo através da
ligação que existe na página da União Inter Parlamentar (www.ipu.org).
NOTA 3: Foi ainda objecto de consulta particular o “site” da Associação dos Secretários-Gerais dos
Parlamentos de Língua Portuguesa (www.asp-plp.org); também o “site” da Associação dos Secretários-Gerais dos
Parlamentos que funciona junto da IPU proporciona acesso a rico manancial de informação sobre temas
constitucionais e parlamentares.

5
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º
Regras aplicáveis ao funcionamento do Parlamento Nacional1
1 - O funcionamento da estrutura política do Parlamento Nacional rege-se
pelo presente regimento, daqui em diante designado por “Regimento”.2

1 A epígrafe do artigo 1º do actual Regimento é completamente desajustada do conteúdo do


preceito, que nada tem a ver com a natureza e função do Parlamento Nacional; de resto, não é
preciso definir no Regimento o Parlamento Nacional e a sua função porque já o está no texto
constitucional; o regimento interno dos parlamentos, para além da própria Constituição, de leis
ordinárias avulsas relacionadas com a actividade parlamentar e de usos, praxes e convenções
parlamentares, é, no entanto, a sede principal do Direito Parlamentar, considerado por Jorge
Miranda como corpo de normas relativas à organização e funcionamento do parlamento, por ele
aprovado; é uma espécie de “código parlamentar”, fruto do princípio da auto-regulamentação
do parlamento, composto por normas substantivas, organizatórias e procedimentais, onde
avultam, no entanto, as duas últimas modalidades, com relevo para as normas processuais,
sempre mais numerosas e detalhadas do que as restantes (daí que constitucionalistas como Jorge
Miranda falem do “carácter predominantemente instrumental ou adjectivo do Direito
Parlamentar”); o que aqui se propõe constitui um regimento de modelo continental, marcado
pela minúcia do seu articulado; pela pesquisa comparada que consegui efectuar, não creio,
todavia, em que essa seja uma característica exclusiva dos sistemas legais da família romano-
germânica; encontrei regimentos parlamentares igualmente extensos em países da
Commonwealth, de raiz anglo-saxónica ou influenciados pela matriz britânica (caso de ex-
possessões ou colónias dos ingleses); no entanto, muitos constitucionalistas costumam estabelecer
uma divisão clássica dos regimentos – fonte escrita central (não a única) do Direito Parlamentar –
entre os regimentos de tipo inglês e os de tipo continental, distinguindo ainda, no seio destes, o
sub-tipo latino e o sub-tipo nórdico (vd. “Estudos”, páginas 11 e seguintes, e “Direito Constitucional
III”, páginas 213 a 222).
2 A expressão “estrutura política” é aqui empregue para a distinguir da estrutura administrativa,

fundamentalmente regulada pela LOFAP, que entrou em vigor no final de Dezembro de 2008 (Lei
n.o 15/2008, de 24 de Dezembro); é, aliás, uma destrinça corrente na terminologia parlamentar
universal (vd. “Guía para las relaciones con los parlamentos”, página, 6, UNESCO-IPU, 2003).

6
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - As regras a que se refere o número anterior compreendem o modo


próprio de funcionamento dos órgãos parlamentares e os processos e
procedimentos específicos3 necessários ao desempenho das funções legislativa,
de fiscalização e de decisão política do Parlamento Nacional.

Artigo 2º
Sede
1 - O Parlamento Nacional tem a sua sede na cidade de Díli, onde
habitualmente funciona.4
2 - Excepcionalmente, um ou mais órgãos do Parlamento Nacional podem
reunir em qualquer outra localidade do território nacional, desde que o Plenário
assim o delibere, através de resolução, por maioria absoluta dos Deputados em
efectividade de funções.

Artigo 3º
Órgãos parlamentares
1 - São “órgãos parlamentares”, para os efeitos previstos no Regimento:

3 A palavra “processo” é habitualmente relacionada com a função jurisdicional e a locução


“procedimento” com a função administrativa; advêm da locução latina “procedere”, que
significa “avançar”, “ir para diante”, “estender-se”; os constitucionalistas admitem, no entanto, a
transposição do conceito de processo – entendido como sucessão de actos, cronologicamente
encadeados uns nos outros, de produção sucessiva, destinados a determinado objectivo –
também para os domínios legislativo e administrativo, conferindo-se ao conceito um sentido
amplo; a par do processo jurisdicional ou contencioso (sucessão de actos ordenados tendentes à
justa composição de um litígio) e do processo administrativo ou gracioso (para descrever a
formação dos actos da função administrativa), passou a falar-se também de processo legislativo
(vd. “Manual”, Tomo V, páginas 110 a 116, e “Introdução”, páginas 150 a 152); empregarei, no
presente anteprojecto, o termo “processo” para designar, em geral, o processo legislativo ou de
controlo político, reservando a palavra “procedimento” para actos de natureza administrativa,
mas tentando conjugar a terminologia com a legislação que regula o Procedimento
Administrativo, que também emprega a expressão “processo administrativo”, neste caso com o
sentido, físico e instrumental, que foge ao sentido normal de processo, de “conjunto de
documentos em que se traduzem os actos e formalidades que integram o procedimento
administrativo”, sendo este “a sucessão ordenada de actos e formalidades tendentes à formação
e manifestação da vontade da Administração Pública, ou à sua execução” (artigo 1º do Decreto-
Lei n.o 32/2008, de 27 de Agosto); quando, no caso do PN, estejamos em fase do conceito
instrumental de processo, cuja organização está normalmente a cargo dos serviços de apoio,
acrescentarei o adjectivo “documental” à palavra “processo”, para o distinguir da dimensão
puramente jurídica do conceito.
4 A primeira parte repete a norma correspondente da LOFAP; a segunda parte estipula a regra de

que o PN funciona na sua sede.

7
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) O Presidente do Parlamento Nacional, adiante igualmente designado


por “Presidente”;
b) Os presidentes das comissões parlamentares;
c) A Mesa do Parlamento Nacional, adiante designada por “Mesa”;
d) A Conferência dos Representantes das Bancadas Parlamentares,
adiante também designada por “Conferência dos Líderes Parlamentares”;
e) O Plenário;
f) A Comissão Permanente;
g) As comissões parlamentares.5
2 – Para efeitos do Regimento, consideram-se “órgãos parlamentares
colegiais” os previstos nas alíneas c), d), e), f) e g) do número anterior.6

5 Entre outros, os regimentos dos parlamentos das Ilhas Salomão, Maurícias, Samoa e Bangladesh
contêm normas introdutórias deste género, à boa maneira anglo-saxónica, com a definição de
conceitos e designações abreviadas; o regimento parlamentar das Maldivas apresenta, na sua
parte final, um pequeno glossário com semelhante objectivo; encontramos ainda uma curiosa
tipificação de órgãos parlamentares no regimento da Nicarágua, onde são divididos em
“principais” e “auxiliares”; no entanto, esta classificação inclui as bancadas parlamentares, que,
concordando com o Prof. Jorge Miranda, não considero órgãos do Parlamento, até por não
comungarem da característica da permanência que marca aqueles (pois são efémeros,
passageiros, mudam de legislatura para legislatura consoante varie a composição do espectro
político-partidário, não são permanentes ou intemporais), mas, sim, órgãos dos partidos políticos
ou coligações partidárias no Parlamento – o chamado “partido parlamentar”; são sujeitos internos
da actividade parlamentar e mediatizam a participação dos partidos que representam no
Parlamento, mas não exprimem a vontade deste (“Direito Constitucional III”, página 266).
6 Esta enumeração possibilita uma melhor arrumação sistemática das ideias ao longo do

articulado, ficando, no entanto, algo autonomizados do regime normal dos órgãos colegiais a
Mesa e a Conferência dos Líderes Parlamentares, as quais, apesar da sua composição plural, têm
um funcionamento muito particular e regras próprias; pelo n. o 2, o Presidente do PN e os
presidentes das comissões ficam caracterizados, por exclusão de partes, como órgãos singulares;
o regimento do parlamento nicaraguense, bastante ousado na transposição de conceitos
doutrinais para normas regimentais, ensaiou mesmo uma definição simples de Presidente, a que
chamou “un órgano unipersonal” (expressão em espanhol na versão que retirei do portal da
Internet do parlamento respectivo); partindo da noção de órgão (centro de imputação de
poderes funcionais pelos quais se manifesta a vontade da respectiva pessoa colectiva ou, na
perspectiva constitucional de órgão do Estado, “centro de formação de actos jurídicos do
Estado”), é conhecida a divisão, doutrinal e legal, entre órgãos colegiais (compostos por mais de
um titular) e órgãos singulares (os que só têm um titular), assim como os conceitos, que se lhes
contrapõem, de cargo (relativo ao órgão singular, como lugar ou conjunto de funções a
desempenhar pelo seu titular único) e mandato (respeitante ao órgão colegial, entendendo-se
aqui mandato na acepção de funções a exercer pelo conjunto dos seus titulares), importantes
para se compreender a forma de funcionamento de cada um deles (“Dicionário”, páginas 144-
634-635, “Introdução”, página 119, e “Manual”, Tomo V, páginas 45 e seguintes); o Parlamento

8
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 4º
Forma dos actos finais do Parlamento Nacional
1 - Os actos finais7 dos órgãos parlamentares colegiais, de natureza jurídica
ou política, revestem-se de uma das seguintes formas:8
a) Lei de revisão constitucional;
b) Lei;

Nacional é um órgão composto ou complexo (aquele que é formado, por sua vez, por outros
órgãos) caracterizado pelos princípios da continuidade (continua para além da mudança e das
vicissitudes dos seus titulares e exerce as suas funções em qualquer tempo, independentemente
dessa mudança e dessas vicissitudes) e da permanência de funcionamento (funciona sempre,
sem hiatos, embora por vezes não em pleno) (“Dicionário”, página 635, e “Direito Constitucional
III”, páginas 223-224); múltiplas são, para Jorge Miranda e outros, as classificações de órgãos do
Estado (transponíveis para o campo orgânico-parlamentar) que atendem a critérios estruturais,
funcionais ou estruturais-funcionais (“Dicionário”, páginas 634-635, e “Manual”, Tomo V, páginas 65
a 68); a elas farei referência, quando se justificar, a propósito de cada órgão parlamentar em
concreto.
7 Este adjectivo, aliado à correlação dos actos com os órgãos, afasta a inclusão nestas figuras de

actos intermédios, inseridos em processos, não destacáveis e sem eficácia jurídica externa ou
actos difusos praticados por Deputados individualmente considerados, como projectos e
propostas, documentos de trabalho, requerimentos, relatórios e outros actos escritos instrumentais;
apenas se têm em vista os actos finais com eficácia externa, normativos ou não, decorrentes do
exercício das funções constitucionais típicas do Parlamento Nacional; a Constituição timorense
peca por falta de tipificação dos actos jurídico-políticos dos órgãos de soberania, o que dificulta a
sua arrumação sistemática; a orientação a seguir tem de resultar, necessariamente, quer das
classificações doutrinais, quer ainda, com mais pragmatismo, da LPA (Lei n. o 1/2002, de 7 de
Agosto), de cujo artigo 5º consta uma ordenação, não necessariamente completa e
hierarquizada, desses actos; talvez pelos mesmos motivos, também o regimento da Guiné-Bissau
dedica um preceito especial à forma dos actos parlamentares; os regimentos de Cabo Verde e
São Tomé e Príncipe classificam também os actos parlamentares com eficácia externa, mas
repartindo-os, de forma redutora, apenas em três tipos (lei, moção e resolução); paradigmático e
exemplar, a este respeito, é o estudo de Florbela de Almeida Pires intitulado “Fontes do direito e
procedimento legislativo na República Democrática de Timor-Leste – alguns problemas”, cuja
leitura se aconselha.
8 Trata-se de uma classificação formal dos actos típicos resultantes do exercício das funções

constitucionais do Parlamento, que não corresponde aos que materialmente podemos encontrar
na perspectiva das competências a que se referem (leis, autorizações, aprovações, pronúncias,
pareceres, relatórios, apreciações, actos de testemunhar, eleições, moções, audições, inquéritos)
(vd. “Direito Constitucional III”, páginas 301-302); a lista dos actos classificados pelo critério da
forma final é, como se intui, menor, porque muitos dos actos compreendidos na classificação
material a que aludi consomem-se numa só forma final (por exemplo, os resultados das eleições e
as autorizações, designadamente a da ausência do Presidente da República do território
nacional, tomam a forma de resolução).

9
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Regimento;9

9 Tem sido muito discutida, com controvérsia, a natureza jurídica dos regimentos parlamentares,
imputando-lhe alguns autores meros efeitos internos (ou “interna corporis”); alinho, a este respeito,
pela tese dos que defendem a natureza de super-lei dos regimentos parlamentares, quando mais
não seja por regularem eles próprios o processo de formação das leis ordinárias e, tendo carácter
normativo, estarem, por isso, acima delas; “de jure condendo”, pois, melhor seria que revestissem
a forma de lei e passassem por um processo de apreciação, discussão e aprovação semelhante
ao legislativo, com o que se poderia evitar preventivamente algumas inconstitucionalidades em
que é susceptível de incorrer; entendo, sintetizando as posições que reputo de mais correctas, que
as normas regimentais são jurídicas (têm generalidade, abstracção, imperatividade e
coercibilidade, embora com vinculatividade externa reduzida às normas “externa corporis”),
muitas das quais com eficácia externa e directa no ordenamento estatal, dirigidas, nalguns casos,
a órgãos exteriores que entram em relação com os órgãos parlamentares e até a cidadãos
individualmente considerados (veja-se o caso dos que são chamados a depor em comissões), e
nesse sentido obrigam à sua intervenção, com força equiparável à da lei e efeitos umas vezes
internos e outras externos, dotadas de normatividade “sui generis”, sendo materialmente leis (em
sentido latíssimo) e contendo até regras materialmente constitucionais (embora repetindo,
nalguns casos, comandos da Lei Fundamental); de entre outros países, aprovam os regimentos
parlamentares sob a forma de lei o Egipto, a Grécia, a Indonésia, a Coreia, o Mali, o Panamá, o
Uruguai e Moçambique; nalguns outros, os regimentos parlamentares têm na hierarquia dos actos
do poder político a posição de lei constitucional, casos da Holanda, do Paquistão, da Zâmbia e
do Zimbabué; poderia ainda citar inúmeros outros exemplos de soluções várias, algumas
intermédias, que se multiplicam pelo mundo fora (cfr. “Estudos”, páginas 9 e seguintes, em
especial as páginas 13, 51, 52 e 95); também Cabo Verde, Guiné-Bissau e Nicarágua (esta
chamando-lhe “lei orgânica do poder legislativo”), segundo pude constatar nos respectivos sítios
da Internet dos seus parlamentos, atribuem a forma de lei aos regimentos; em Timor-Leste, como
em Portugal, o regimento ocupa um lugar próprio na hierarquia dos actos normativos, a meio
caminho entre a resolução e a lei (a colocação do regimento do Parlamento Nacional abaixo
das resoluções parlamentares, na lista do artigo 5º da LPA, não indicia obrigatoriamente uma
relação hierárquica entre esses dois actos, de modo a situar o primeiro abaixo das segundas,
achando eu, pelo contrário, que a natureza normativa do regimento o coloca em posição de
supremacia sobre a resolução, estando, de qualquer modo, separado e autonomizado como
acto típico próprio); é talvez apropriado qualificá-lo como acto normativo atípico (como o faz,
designadamente, Jaime Valle – in “A participação”, página 305); por isso, a aprovação do
regimento por resolução é incompatível com o seu carácter normativo (foi esta a principal razão
invocada por constitucionalistas para mudar o regime vigente em Portugal, que anteriormente
aprovava os regimentos por resolução); as resoluções não são, em regra, actos normativos
(atente-se na própria forma verbal com que são aprovadas – “o parlamento resolve” – que revela
o seu carácter eminentemente político); como em Timor-Leste não é nem uma coisa (lei) nem
outra (resolução), suscita-se o problema de saber se pode ser sujeito a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, face à omissão de resposta pelo texto constitucional; entendo que não,
porque só os actos legislativos propriamente ditos são passíveis desse controlo prévio da
conformidade com a Constituição; aconselha-se, em todo o caso, rigor na gestação dos
regimentos parlamentares, impendendo sobre os Deputados – ainda para mais titulares do órgão

10
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) Resolução;
e) Deliberação;
f) Moção;10
g) Voto de confiança;
h) Voto.11
2 - Quando, fora dos casos previstos nas alíneas a), b), c), f), g) e h) do
número anterior, se suscitem dúvidas sobre a forma do acto a utilizar, observam-se
as seguintes regras:
a) O acto toma a forma de resolução nos casos que expressamente a
imponham e em todos aqueles em que o acto deva ter efeitos externos;
b) O acto toma a forma de deliberação quando não possa revestir a forma
de resolução e vise produzir efeitos meramente internos no plano da organização
dos trabalhos parlamentares ou da estrutura política ou administrativa do
Parlamento Nacional.12

de soberania legislativo por excelência – a obrigação de prepararem as normas regimentais com


o maior cuidado, de modo a não ferirem os princípios constitucionais que enformam o edifício
jurídico-constitucional; pelo lugar que ocupa no sistema de actos jurídico-constitucionais,
pronuncia-se no mesmo sentido, a propósito do regimento português (o regime é igual), o Prof.
Jorge Miranda, que diz que o regimento não está sujeito a promulgação nem a veto presidencial
e, assim, a controlo preventivo da constitucionalidade, embora a sua conformidade com a
Constituição seja sindicável em sede de fiscalização sucessiva, concreta e abstracta, da
constitucionalidade (cfr. “Direito Parlamentar III”, página 220, e “Manual”, Tomo V, páginas 242-
243); transcrevo aqui, para finalizar, uma noção simples de regimento que encontrei,
concebendo-o como “conjunto de normas que rege, disciplina e regulamenta o funcionamento
da assembleia legislativa” (“Manual do Assessor Parlamentar”, organizado por Waldir Wilson
Rocha, Consultor Legislativo, Brasil); consulte-se ainda, sobre a natureza jurídica do regimento, a
“Constituição Anotada – Tomo II”, páginas 595-596); o glossário inserido em “Tools” concebe “rules
of procedure” (também designadas por “internal rules” em parlamentos francófonos e latinos ou
“standing orders” nos parlamentos da Commonwealth) como “a set of codified rules governing
the organization of parliament and its procedures”(página 80).
10 De rejeição do Programa do Governo ou de censura.
11 A tipologia de actos aqui consagrada tem, a meu ver, a vantagem de clarificar o campo de

aplicação de cada um dos actos parlamentares finais com eficácia jurídica, que algumas dúvidas
tem suscitado até agora.
12 Entendo que o recurso à forma da deliberação deve ser o mais limitado possível, até porque a

publicação de deliberações parlamentares não está garantida no Jornal da República; daí que a
formulação desta norma lhe atribua carácter de forma residual a utilizar quando de todo em todo
o acto não possa ser enquadrado como resolução “tout court”; o termo”deliberação” é aqui
empregue na sua acepção formal e não no sentido genérico de que se reveste a manifestação
de vontade de um órgão colegial.

11
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 - As deliberações são numeradas com referência ao órgão parlamentar


colegial que as haja emitido.13
4 - As decisões dos órgãos parlamentares singulares tomam, em regra, a
forma de despacho, quando outra não esteja especialmente prevista ou se
revele mais adequada ao conteúdo do acto.
5 - Cabe aos serviços de apoio competentes, com a concordância da
Mesa, a adopção de siglas ou abreviaturas tendentes a facilitar a tramitação de
processos e a identificação dos actos próprios da actividade parlamentar.

Artigo 5º
Legislatura
1 - A legislatura tem a duração de cinco sessões legislativas.14
2 - Em caso de dissolução, o Parlamento Nacional eleito inicia nova
legislatura, cuja duração é acrescida do tempo necessário a se completar o
período correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.15

Artigo 6º
Sessão legislativa e período normal de funcionamento

13 Este preceito visa evitar o lapso, que já foi cometido, de não distinguir, para efeitos formais, entre
as deliberações do Plenário (podem passar a ser designadas, por exemplo, pela referência “PL”) e
as da Comissão Permanente (poderia escolher-se a referência “CP”); as resoluções, por seu turno,
não carecem de numeração interna específica, porque são numeradas pelo órgão responsável
pela edição do Jornal da República como referidas ao Parlamento Nacional no seu todo.
14 Deslocou-se sistematicamente a actual norma correspondente para este título inicial por se

entender que é mais genérica, referida ao período de funcionamento do órgão de soberania


parlamentar no seu todo, ao passo que as regras que existem mais à frente se centram nos modos
específicos de funcionamento dos seus sub-órgãos políticos, a que entendi chamar “órgãos
parlamentares”; por outro lado, é preferível definir a legislatura por referência às sessões
legislativas em que se decompõe, na esteira do que se prescreve no n. o 1 do artigo 99o da
Constituição; até porque a vicissitude habitual que determina o acréscimo da duração da
legislatura – a dissolução do Parlamento – tem por base a sessão legislativa em curso à data da
sua ocorrência; a arrumação sistemática do actual título IV do Regimento é muito confusa e
inverte a ordem lógica dos institutos; por exemplo, o funcionamento do Parlamento – assim se
chama esse título – só se refere a reuniões e deliberações (como se não houvesse órgãos
singulares) e as definições de legislatura e sessão legislativa estão dentro do capítulo relativo às
“reuniões” (quando deveria ser ao contrário); no sentido aqui proposto vai o regimento de Cabo
Verde (estabelecendo que “cada legislatura tem a duração de cinco sessões legislativas”).
15 Cá está a excepção normal à regra da duração da sessão legislativa, que terá, neste caso,

mais de um ano; eliminou-se a expressão “conforme o disposto no n.o 5 do artigo 99.o da


Constituição” do texto anterior por ser totalmente desnecessária (esse preceito constitucional diz
exactamente o mesmo do que esta norma regimental, que repete a da Constituição).

12
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - A sessão legislativa tem a duração de um ano, começando a 15 de


Setembro e terminando a 14 de Setembro do ano seguinte.
2 - O período normal de funcionamento do Parlamento Nacional inicia-se a
15 de Setembro e termina a 15 de Julho, sem prejuízo das interrupções16 desse
período que o Plenário deliberar, através de resolução, por maioria de dois terços
dos Deputados em efectividade de funções.17

16 Acho mais adequado falar-se em “interromper” do que “suspender” um período que, não fôra
isso, fluiria normalmente; a suspensão é um facto que mais se aplica a um “iter” processual; estes
intervalos no período normal de funcionamento são também designados, noutros ordenamentos
jurídicos parlamentares, pela expressão “recesso”, difundida, por exemplo, no Brasil, na Nicarágua
e nas Honduras; também regimentos de matriz anglo-saxónica, como o da Guiana, segundo a
consulta que fiz, usam a expressão correspondente em inglês (“recess”).
17 Estas precisões, parecendo ridículas, só aparentemente o são; visam pôr termo às confusões

conceptuais que ainda hoje continuam a baralhar Deputados e funcionários, que identificam o
período da sessão legislativa com o do período normal de funcionamento; não são coincidentes;
a sessão legislativa tem a duração de um ano e o período normal de funcionamento, com
duração regimental de 10 meses, integra-se naquela, não está fora dela (o glossário electrónico
que consta do portal da Internet do parlamento português – www.parlamento.pt – define
incorrecta e contraditoriamente “sessão legislativa” – “período que corresponde ao normal
funcionamento da Assembleia da República” que “tem a duração de um ano, de 15 de
Setembro a 15 de Junho” - porque a faz coincidir com o período normal de funcionamento da
Assembleia e entra em contradição ao dizer que dura um ano e vai de 15 de Setembro a 15 de
Junho, o que não perfaz 12 meses); não se deve, pois, confundir “sessão” (período de
funcionamento do órgão) com “reunião” (encontro dos membros de órgão colegial para
deliberarem sobre matéria da sua competência) e “recesso” ou “férias parlamentares” (intervalo
no normal funcionamento do órgão, que, no entanto, se integra na sessão, quando esta é
contínua, como acontece com o caso de Timor-Leste); o texto em vigor presta-se a confusões
conceptuais por usar frequentemente os conceitos de “sessão” e “reunião” como sinónimos, o
que, como se viu, não é correcto; apenas aceito a utilização da locução “sessão” com o sentido
de “reunião” nos casos em que não é possível escapar às imposições terminológicas
constitucionais, como são exemplo as “sessões de perguntas ao Governo” (são reuniões
específicas, obviamente) previstas no n. o 2 do artigo 101º da Constituição; em Timor-Leste há uma
só sessão contínua, ininterrupta, de um ano (o recesso, de dois meses, interrompe o normal
funcionamento do órgão, fazendo o órgão entrar num período de funcionamento “a meio gás”
ou sem plenitude, mas não a sessão legislativa); em rigor, a sessão deveria até chamar-se “sessão
parlamentar” (não “sessão legislativa”, porque as funções do parlamento não se limitam à
legislativa); mas também aqui há que respeitar as opções terminológicas da Constituição, mesmo
que com elas não concordemos (artigo 99º, n.o 1, da Constituição); recorrendo a concepções
doutrinais do funcionamento dos órgãos colegiais, direi que o parlamento de Timor-Leste tem um
regime de funcionamento contínuo (repartido em “normal” e “fora do normal”), dizendo-se que
está em “sessão permanente”; há outros parlamentos que têm regimes diferentes de
funcionamento e sessões com duração inferior ou sessões anuais entrecortadas por mais do que
um recesso e, assim sendo, maior número de recessos anuais automáticos decorrentes das suas

13
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Para além dos casos previstos no número anterior, o período normal de


funcionamento pode ainda ser interrompido, por consenso estabelecido na
Conferência dos Líderes Parlamentares, sem necessidade de deliberação
expressa do Plenário, durante a quadra natalícia e as festividades de celebração
do final do ano civil, por período não superior a dez dias úteis.18

Artigo 7º
Convocação fora do período normal de funcionamento
Fora do período indicado no n.o 2 do artigo anterior, o Parlamento Nacional
pode funcionar:
a) Por resolução do Plenário, prorrogando o período normal de
funcionamento;
b) Por iniciativa da Comissão Permanente;
c) A requerimento do Presidente da República, sempre que imperiosas
razões de interesse nacional o justifiquem, nos termos da alínea d) do artigo 86º
da Constituição.

Artigo 8º

normas internas (por exemplo, o Brasil tem dois períodos de funcionamento por ano e a Guiné-
Bissau quatro); São Tomé e Príncipe tem duas sessões anuais, cada qual não podendo exceder 4
meses de duração; em contrapartida, o regimento do parlamento de Cabo Verde, que trabalha
em sessão contínua, encontrou uma formulação cristalina da qual se retira que o período normal
de funcionamento faz parte da sessão legislativa (“A Assembleia Nacional reúne-se em
assembleia legislativa anual, decorrendo o período normal de funcionamento de 1 de Outubro a
31 de Julho seguinte”); para esclarecimento de todas as noções referidas, relacionadas com o
funcionamento dos órgãos colegiais, vejam-se os ensinamentos de João Caupers (“Introdução”,
páginas 120-121) e Jorge Miranda (“Manual”, Tomo V, páginas 76 a 78, e “Constituição Anotada –
Tomo II”, páginas 591 a 593); Jorge Miranda realça que o período normal de funcionamento
coincide basicamente com o ano escolar (“Constituição Anotada – Tomo II”, página 592);
embora também em Timor-Leste o ano lectivo se compreenda em períodos semelhantes, é
questionável que assim deva ser necessariamente em países tropicais; no entanto, sempre se dirá
que com o regime em vigor as férias escolares e “parlamentares” acabam por ter lugar, fora do
período das monções, durante a época seca, mais propícia ao retemperamento em que se
caracterizam, por natureza, as férias.
18 Esta regra consagra a prática de suspender a actividade parlamentar numa época

tradicionalmente dedicada ao convívio com a família e os amigos; o limite que proponho é o


máximo tolerável, que não tem de ser atingido; aqui, como em muitas outras coisas da vida
pública, tem de prevalecer o bom senso, pelo que, se o Parlamento estiver confrontado com
período de enorme sobrecarga de trabalho, o recesso natalício deve ser reduzido ao mínimo
possível.

14
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Reuniões extraordinárias das comissões parlamentares


1 - Fora do período normal de funcionamento e durante as interrupções
deste resolvidas pelo Plenário, pode este deliberar autorizar o funcionamento de
qualquer comissão, sob proposta do seu presidente, se tal se revelar indispensável
ao bom andamento de trabalhos em curso ou inerentes ao cumprimento das
suas competências.19
2 – Sem prejuízo do previsto no número anterior, o Presidente pode
promover a convocação de qualquer comissão para os quinze dias anteriores ao
início da sessão legislativa, a fim de planearem e prepararem os trabalhos a
desenvolver no decurso desta.

Artigo 9º
Não realização de reuniões plenárias
1 – Durante o período normal de funcionamento do Parlamento Nacional,
pode o Plenário deliberar interromper a realização das suas reuniões ordinárias
durante determinado período, delimitado no tempo, para permitir o
desenvolvimento inadiável ou urgente de trabalhos das comissões parlamentares.
2 – A interrupção a que se refere o número anterior não pode exceder
catorze dias.20
3 – Para efeitos do Regimento, as expressões “reuniões do Plenário” e
“reuniões plenárias” têm o mesmo significado.

TÍTULO II
MANDATO PARLAMENTAR, DEPUTADOS E BANCADAS PARLAMENTARES

CAPÍTULO I
MANDATO PARLAMENTAR

19 A norma em vigor está tecnicamente incorrecta, porque atribui ao Parlamento no seu todo, sem
especificar qual dos seus órgãos, a competência para a deliberação; não poderá ser outro senão
o Plenário.
20 Mais uma vez o texto em vigor não é rigoroso do ponto de vista técnico, porque não só fala em

suspensão de reuniões (não é a reunião em si que se suspende, mas sim a realização normal dos
ciclos de reuniões ordinárias) como ainda não diz a que órgão compete decidir a interrupção
desses ciclos semanais de reuniões (é, naturalmente, o Plenário, como órgão magno); o limite
temporal de 14 dias parece sensato, porque, abarcando duas semanas de reuniões plenárias,
implicará, se tiver início a uma segunda-feira, a não realização de um máximo de 4 reuniões
plenárias.

15
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 10.º
Natureza do mandato parlamentar
Os Deputados são representantes de todo o povo, independentemente do
círculo eleitoral pelo qual tenham sido eleitos.21

Artigo 11º
Início e termo do mandato parlamentar e verificação de poderes
1 - O mandato dos Deputados, doravante designado por “mandato
parlamentar”, inicia-se e cessa nos termos definidos no Estatuto dos Deputados e
demais legislação aplicável.22

21 Este preceito, que repete o equivalente da Constituição, constitui o cerne da definição do tipo
de mandato que o Deputado exerce, com clara opção pelo regime do mandato representativo;
este regime - segundo o qual o mandato do Deputado, uma vez eleito, pertence-lhe a ele próprio
e não ao partido ou força política em cuja lista haja concorrido à eleição - é a regra em todo o
mundo, sendo considerado por muitos como a essência da democracia representativa; o
Deputado exerce livremente o mandato e, apesar de ter sido eleito por todo o povo, não está
sujeito a ordens ou instruções nem dos seus eleitores nem das direcções partidárias respectivas,
actuando segundo a sua própria consciência; são independentes dos partidos e dos seus
constituintes; no entanto, o desempenho do mandato não deixa de ter, por esse facto, um
carácter bivalente, na medida em que a ligação ao partido político a que pertença o deputado,
embora não o torne em seu mero porta-voz, é muito íntima e intensa, para além de,
nomeadamente através da acção dos grupos parlamentares, conferir mais eficácia, consistência
e força à acção política no seio da instituição parlamentar; há vários corolários do regime
escolhido, de entre os quais avulta o facto de o Deputado ser livre de integrar ou não
determinado grupo parlamentar e a regra de não perda do mandato só pelo facto de sair ou ser
expulso do partido (“Direito Constitucional III”, páginas 233 e 266 a 270); este tipo de mandato é,
pelas suas características, também conceptualizado justamente como “mandato livre”, que é a
noção utilizada, por exemplo, no glossário parlamentar de Moçambique que pode ser
encontrado em www.asg-plp.org (“princípio segundo o qual o Deputado representa todos os
cidadãos do Estado e não apenas o partido ou círculo eleitoral pelo qual foi eleito, sem prejuízo,
no entanto, da disciplina partidária que se lhe aplica enquanto militante de um partido político”);
a excepção hoje é o regime do mandato imperativo, pelo qual os directórios partidários podem
livremente cassar o lugar a um Deputado que desrespeite a disciplina partidária ou não acate
orientações políticas centrais da força partidária a que pertença; o mandato imperativo, cada
vez mais raro, existe, por exemplo, na Indonésia, em Cuba, nas ilhas Fiji, na Namíbia e nas
Seychelles (“Parliamentary Mandate”, páginas 10 e 135); eliminou-se no artigo anotado a
referência ao círculo nacional ou distrital porque não tem sentido estabelecer aqui a área da
circunscrição eleitoral, que deve ser definida na lei eleitoral e que pode variar consoante a opção
do legislador ordinário nessa sede; esse problema da ligação do Deputado à região a que se
relacione perdeu, aliás, actualidade em Timor-Leste, porque só existe um círculo nacional único
equivalente a todo o território nacional (cfr. artigo 9º da LEPN).

16
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Os poderes dos Deputados são verificados pelo Parlamento Nacional,


precedendo parecer de comissão parlamentar especial de verificação de
poderes, constituída na primeira reunião plenária da legislatura, com composição
plural consonante com o disposto no n.o 1 do artigo 58º.23

Artigo 12º
Cessação individual do mandato parlamentar
1 - O mandato parlamentar pode cessar:
a)) Com o seu termo normal;
b) Por morte do seu titular;24
c) Por renúncia;25
d) Por ocorrência de causa de perda de mandato.26

22 O anterior artigo 4º não continha uma definição genérica da duração do mandato, porque dizia
respeito ao caso particular da duração específica do mandato durante a primeira legislatura por
virtude da transição da Assembleia Constituinte para o Parlamento Nacional, melhor se
enquadrando em disposição de carácter transitório; essa norma transitória deixou, aliás, de ter
utilidade, ultrapassada que está a primeira legislatura, podendo ser retirada do texto regimental;
não é necessário repetir aqui a norma que preenche essa lacuna com a clarificação dos
momentos normais de início e termo colectivo do mandato, porque já consta do artigo 2º do
Estatuto dos Deputados; este artigo do Estatuto dos Deputados contém a regra do início e termo
do mandato para todos os deputados eleitos (início e termo “colectivo”); as excepções à
duração do mandato têm sempre a ver com as vicissitudes individuais, aqui arrumadas nos artigos
12º, 13º e 14º propostos; o artigo 1º do regimento cabo-verdiano também distingue correctamente
as figuras, estabelecendo que “o mandato dos Deputados inicia-se com o seu empossamento e
cessa com a posse dos Deputados eleitos no sufrágio seguinte, sem prejuízo da suspensão ou da
cessação individual do mandato”.
23 Penso não contrariar – pelo contrário, aplicar e densificar – a regra do actual artigo 3º do

Estatuto dos Deputados; esta verificação de poderes traduz-se no “reconhecimento dos poderes
dos membros” do PN “feito pelos seus pares”; a verificação não constitui os Deputados no seu
mandato, porque a investidura no cargo, o direito ao lugar e a legitimidade para o ocupar
provêm directamente da eleição proclamada; a verificação parlamentar dos poderes destina-se
apenas a conferir certeza a essa situação, aproveitando-se para se reunir os elementos
documentais e biográficos que identifiquem as pessoas presentes na assembleia e atestem que
são elas mesmas os representantes eleitos (veja-se “Direito Constitucional III”, páginas 236 e 237);
não detalhei esta norma como o faz, por exemplo, o regimento português, porque a forma como
se há-de fazer essa verificação pode ser deixada ao cuidado das assessorias técnicas e da
própria comissão “ad hoc”.
24 A morte de Deputado é uma causa óbvia de cessação do mandato; entendo que também a

sua impossibilidade física ou mental permanente lhe deve ser equiparada para estes efeitos,
sugerindo a ponderação da introdução dessa hipótese.
25 Acto unilateral e livre do Deputado que consiste na perda voluntária do mandato.

17
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – O mandato cessa ainda automaticamente, para o Deputado substituto,


com o regresso do Deputado substituído.27 28

Artigo 13º
Vicissitudes do mandato parlamentar
A suspensão do mandato, a renúncia ao mandato e a perda do
mandato29, assim como o preenchimento de vagas ocorridas, efectuam-se nos
termos do Estatuto dos Deputados e demais legislação aplicável.30

26 Esta arrumação das causas de cessação do mandato permite uma melhor percepção de todas
as situações em que ele termina; a alínea a) contém a situação normal de cessação do mandato
no seu termo; as restantes alíneas contêm causas de cessação antes do termo normal do
mandato.
27 O parlamento cubano tem no seu regimento interno uma classificação de causas de cessação

individual do mandato muito semelhante à que proponho aqui, acrescentando-lhe três outras
hipóteses não aplicáveis a Timor-Leste e uma, que considero de discutível consagração nesta
sede, consistente na “doença ou acidente que invalide o deputado permanentemente para o
exercício das suas funções” (tradução da versão do texto em espanhol, que consultei, da minha
responsabilidade); também o regimento do parlamento lituano inclui uma lista de causas de
cessação do mandato, com algumas inaplicáveis ao caso de Timor-Leste; o regimento do
parlamento da Nicarágua segue as pisadas do cubano, embora com algumas diferenças; o
regimento brasileiro, na perspectiva da vagatura, também sistematiza a matéria desta forma, mas
com uma lista mais reduzida, pois deixa de fora a hipótese contemplada na alínea a) deste n.o 1;
apesar de estas arrumações comportarem o risco de serem incompletas, são, a meu ver,
claramente vantajosas.
28 Algum Direito Regimental Comparado acrescenta a perda da respectiva cidadania nacional

como causa de cessação do mandato (por exemplo, Lituânia e Guiné-Bissau), o que faz todo o
sentido e deveria, talvez, merecer consagração no regimento timorense.
29 Como curiosidade, refira-se que o artigo 16º da LEPN repete, mas completando, o artigo 8º , n. o

1, alínea c), do Estatuto dos Deputados, acerca da causa de perda do mandato que consiste em
Deputado que mude, depois da eleição, para partido político diferente daquele pelo qual
concorreu.
30 Se o presente anteprojecto vier a merecer aceitação, as remissões dos artigos 4º e 5º do Estatuto

dos Deputados para artigos do Regimento terão de ser objecto de interpretações actualistas ou
mesmo merecer alteração legislativa actualizando os números dos artigos com os que resultarem
do novo regimento; eliminei, por desnecessidade, todos os preceitos regimentais (os relativos à
substituição temporária, à renúncia ao mandato, à perda do mandato e às imunidades) que se
limitam a copiar idênticos preceitos já existentes no Estatuto dos Deputados e na demais
legislação aplicável, como é o caso da lei eleitoral respectiva; é uma técnica meramente
remissiva que tem plena justificação (adoptada também, designadamente, no regimento
guineense e no de São Tomé e Príncipe); sobre as imunidades, as disposições correspondentes do
Estatuto dos Deputados são até mais rigorosas, porque, ao contrário do actual artigo 8º do
Regimento, arrumam as imunidades “lato sensu” nas duas modalidades – irresponsabilidade e
inviolabilidade – em que elas consistem; a respeito da substituição temporária de Deputados que

18
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 14º
Substituição temporária de Deputados
1 - A substituição temporária de Deputados segue o regime previsto no
Estatuto dos Deputados.
2 – O Deputado temporariamente ausente é substituído de acordo com o
regime de preenchimento de vagas ocorridas previsto no Estatuto dos Deputados
e na lei eleitoral aplicável.31
3 – Terminada a ausência, o Deputado substituído retoma
automaticamente o mandato com o seu regresso, cessando também as suas
funções o último Deputado da respectiva lista que à data desse regresso esteja a
exercer o mandato em regime de substituição. 32

Artigo 15º
Regalias e imunidades dos Deputados
No exercício das suas funções, os Deputados gozam das regalias e
imunidades estipuladas no Estatuto dos Deputados e demais legislação
aplicável.33 34

CAPÍTULO II

antecipem faltar mais de 3 dias consecutivos e desejem ser substituídos, basta o regime do artigo
5º do Estatuto dos Deputados, que, aliás, é bem mais completo do que o correspondente preceito
regimental, que não contempla a lista, não taxativa, dos motivos concretos que preenchem o
conceito de “razões ponderosas”; a remissão daquele preceito do Estatuto dos Deputados para o
artigo 5º do Regimento não tem, aliás, utilidade, porque o preceito regimental se limita a copiar
apenas parte do que consta do Estatuto dos Deputados sobre a essência do instituto; no entanto,
vale a pena clarificar quem é chamado a substituir o Deputado faltoso, porque neste aspecto o
Estatuto dos Deputados é omisso e o n.o 2 do artigo 5º do Regimento está francamente mal
redigido e desactualizado; o preenchimento das vagas é feito, em regra, pelo “próximo da lista”,
com as excepções resultantes, por exemplo, da quota de mulheres nas listas e do caso específico
das coligações eleitorais (cfr. artigos 12º e 15º da LEPN).
31 Presentemente o artigo 15º da LEPN.
32 Como o Deputado substituído suspende, dessa forma, o seu mandato, o regime proposto segue

de perto o que consta do artigo 6º, n.os 1, alínea a), e 2, do Estatuto dos Deputados.
33 A problemática das matérias estatutárias dos Deputados, designadamente a magna questão

das suas imunidades, merece uma análise profunda a que, no entanto, não cabe aqui proceder,
quer por escassez de tempo, quer por não se enquadrar obrigatoriamente no objecto do presente
estudo (já que a maior parte do regime estatutário está vertido no diploma legal justamente
denominado Estatuto dos Deputados).
34 As imunidades estão previstas nos artigos 10º e 11º do Estatuto dos Deputados.

19
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

PODERES DOS DEPUTADOS

Artigo 16º
Poderes funcionais dos Deputados
1 - Para o regular exercício do seu mandato, constituem poderes dos
Deputados, a exercer singular ou conjuntamente, nos termos do Regimento,
designadamente os seguintes:
a) Apresentar projectos de revisão constitucional;
b) Apresentar projectos de lei, de regimento, de referendo35, de resolução e
de deliberação;
c) Apresentar propostas de alteração aos textos das iniciativas previstas nas
alíneas anteriores;
d) Participar e intervir nas discussões e votações e nos debates
parlamentares, nos termos permitidos pelo Regimento;36
e) Fazer, por escrito, perguntas ao Governo sobre quaisquer actos deste ou
dos órgãos e serviços da Administração Pública, ressalvado o disposto na lei em
matéria de segredo de Estado;
f) Requerer, por escrito, e obter do Governo ou dos órgãos de qualquer
entidade pública os elementos, informações e publicações oficiais que
considerem úteis para o desempenho do seu mandato;
g) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito;
h) Requerer a apreciação de diplomas legislativos do Governo para efeitos
de cessação de vigência ou de alteração;
i) Requerer a urgência do processamento de qualquer projecto ou
proposta de lei, proposta de resolução ou projecto de resolução ou deliberação;
j) Apresentar moções de censura ao Governo;
k) Propor a constituição de comissões parlamentares eventuais;
l) Propor a realização de audições parlamentares37;

35 Em Portugal esta iniciativa não é autonomizada, porque reveste-se da forma de resolução; em


Timor-Leste, como o instituto do referendo ainda não está regulamentado por lei ordinária nem se
sabe como irá ser tramitado, deve ser deixado em aberto.
36 Alguns dos debates tipificados no Regimento envolvem, pela sua natureza, a formulação de

perguntas orais ao Governo, razão por que, ao contrário de outros regimentos lusófonos, não
autonomizei as “perguntas orais” nesta sede.
37 Abandono a expressão “audiências” utilizada no Regimento em vigor e usada na prática

parlamentar até agora adoptada, porque entendo que a expressão “audição” é mais apropriada
para a auscultação de entidades promovida espontaneamente pelos órgãos parlamentares e
que a locução “audiência” deve ficar reservada para as auscultações concedidas a pedido dos
auscultados.

20
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

m) Requerer a fiscalização da constitucionalidade e da legalidade, nos


termos permitidos pela Constituição;
n) Interpor recurso judicial da deliberação do Plenário que confirme a
declaração de perda de mandato ou a declare;
o) Propor a aprovação de votos, nos termos do artigo 97º.
2 – As perguntas e os requerimentos apresentados ao abrigo das alíneas e)
e f) do número anterior são numerados, publicados e remetidos pelo Presidente
às entidades destinatárias, observando-se o regime previsto no artigo 238º.

Artigo 17º
Outros poderes dos Deputados
Constituem ainda poderes dos Deputados, relacionados com o exercício
do seu mandato, para além dos restantes poderes expressamente consagrados
na lei ou no Regimento38, os de:
a) Tomar lugar nas salas destinadas ao funcionamento do Plenário e das
comissões parlamentares;
b) Usar da palavra durante as reuniões dos órgãos parlamentares colegiais,
nos termos do Regimento;
c) Em geral, fazer quaisquer requerimentos, apresentar reclamações,
formular protestos e contraprotestos e interpor recursos, em conformidade com o
disposto no Regimento.39

CAPÍTULO III
DIREITOS, DEVERES, INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS DOS DEPUTADOS

Artigo 18º
Direitos dos Deputados
Os direitos dos Deputados, para além dos poderes previstos no capítulo
anterior, são os que lhes advêm da Constituição, do Estatuto dos Deputados e da
demais legislação aplicável. 40

38Lista não taxativa, para que nenhum outro poder com existência normativa fique esquecido.
39Acho incompreensível e tautológica a referência ao poder de propor alterações ao Regimento,
que consta do texto regimental em vigor e também do regimento português, porque esse poder
já se inclui no de apresentar “projectos de Regimento”; embora a faculdade de votar seja um
poder-dever, também acho dispensável a sua referência neste plano, porque a participação nas
votações aparece quer no artigo anterior, como direito, quer no seguinte, como dever (é, a meu
ver, esta sua característica que deve, aliás, ser realçada).

21
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 19º
Deveres, incompatibilidades e impedimentos dos Deputados
1 – São deveres dos Deputados, para além dos previstos na Constituição, no
Estatuto dos Deputados e na demais legislação aplicável:
a) Comparecer pontualmente às reuniões dos órgãos parlamentares
colegiais de que façam parte, assinar os respectivos livros ou folhas de presenças
e participar nos seus trabalhos;
b) Justificar as faltas dadas a reuniões do Plenário ou das comissões
parlamentares de que sejam membros, no prazo de sete dias após a sua
ocorrência;41
c) Exercer zelosamente os cargos e as funções específicas para que forem
designados no Parlamento Nacional, nos termos previstos no Regimento;
d) Participar nas votações dos órgãos parlamentares colegiais a que
pertençam.
2 – São ainda deveres dos Deputados, a observar no exercício das suas
funções:
a) Respeitar a dignidade do Parlamento Nacional e dos Deputados;
b) Observar a ordem e a disciplina decorrentes das disposições regimentais
e acatar a autoridade do Presidente;

40 A lista dos direitos dos Deputados, de natureza estritamente pessoal ou relacionados com o
exercício da função, deriva fundamentalmente dos artigos 12º e 16º a 22º do Estatuto dos
Deputados; a lei própria a que se refere o artigo 22º do Estatuto dos Deputados, sobre a pensão
mensal vitalícia, é actualmente a Lei n.o 1/2007, de 18 de Janeiro.
41 O dever de comparência às reuniões dos órgãos de que os parlamentares façam parte é uma

obrigação não só jurídica como ainda moral (“Parliamentary Mandate”, página 107); em Timor-
Leste, embora o dever de comparência e registo da presença do Deputado se refira a todos os
órgãos parlamentares colegiais de que faça parte, só têm de ser justificadas as faltas às reuniões
do Plenário e das comissões, porque só essas relevam para efeitos de eventual perda do
mandato; também por isso, considero irregular a praxe instalada de compelir os Deputados a
assinar um só livro de presenças, patente na sala das reuniões plenárias, para todos os dias de
actividade parlamentar nas instalações do Parlamento Nacional; primeiro, porque só são
obrigados a registar as presenças nos dias de reuniões do Plenário e das comissões de que façam
parte, o que justifica que deva haver livros de presenças distintos para cada um desses órgãos
(para além do caso específico da Comissão Permanente); segundo, porque nem sequer são
obrigados a assinar qualquer folha de presenças em dias em que não haja trabalhos desses
órgãos, o que não os exime, no entanto, do dever de zelo, competência e responsabilidade no
exercício das suas competências e de realizarem, nesses dias, outro tipo de actividades, mesmo
que individuais, essenciais ao bom desempenho do mandato.

22
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Contribuir, com o seu comportamento, para a eficácia e o prestígio dos


trabalhos parlamentares;
d) Cumprir as estatuições constitucionais e legais.
3 – As incompatibilidades do exercício do mandato parlamentar com outros
cargos ou funções e os impedimentos dos Deputados são regulados pela
Constituição42, pelo Estatuto dos Deputados43 e pela lei44.

Artigo 20º
Dever especial de comparência a reuniões do Plenário e das comissões
parlamentares
1 – Os Deputados são obrigados a comparecer às reuniões do Plenário e
das comissões parlamentares de que façam parte, sob pena de incorrerem em
perda de mandato se derem o número de faltas injustificadas cominado pelo
Estatuto dos Deputados com aquela sanção.
2 – As faltas às reuniões previstas no número anterior são justificadas no
prazo a que alude a alínea b) do n.o 1 do artigo anterior, com invocação de um
dos motivos concretos previstos no Estatuto dos Deputados.
3 – Os serviços de apoio mantêm patentes, em locais próprios das salas
reservadas às reuniões dos órgãos parlamentares colegiais, folhas ou livros
próprios destinados a assinalar as presenças e faltas dos Deputados respectivos,
que estes assinam, nos devidos lugares, nos dois períodos a que se refere o n.o 1
do artigo 27º.
4 – As folhas ou livros próprios a que alude o número anterior são
devidamente arquivadas e arrumadas pelos serviços de apoio competentes, que
apenas comunicam ao Presidente, devidamente documentadas, as faltas
injustificadas de Deputados que hajam detectado para efeitos do disposto no
Estatuto dos Deputados.
5 – Quando determinado pelos respectivos presidentes, os serviços de apoio
competentes registam ainda os Deputados faltosos nos momentos de reunião do
Plenário ou de comissões parlamentares em que haja que proceder a votações.
6 – Os serviços de apoio financeiros processam por inteiro o vencimento
mensal dos Deputados independentemente do conhecimento das folhas ou livros
referidos nos números anteriores.45

42 Artigo 68º da Constituição.


43 Artigos 13º e 14º do Estatuto dos Deputados.
44 Para a qual remete o n.o 2 do artigo 68º da Constituição.
45 Isto porque, ao contrário do que acontece em grande parte dos parlamentos, nenhuma outra

sanção, para além da perda do mandato uma vez ultrapassado determinado número de faltas

23
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO IV
BANCADAS PARLAMENTARES E DEPUTADOS NÃO AGRUPADOS

Artigo 21º
Constituição e organização das bancadas parlamentares46
1 – Os Deputados eleitos em listas de partido político ou coligação
partidária47 podem constituir-se em bancada parlamentar.48
2 – É requisito indispensável da constituição de uma bancada parlamentar
que existam pelo menos dois Deputados para a formar.49

injustificadas, lhes pode ser aplicada; em muitos parlamentos, cada falta injustificada ou
determinado número delas implica sanções pecuniárias, como, por exemplo, o desconto de
parte proporcional no ordenado do Deputado (vd. “A guide to good practice”, páginas 103 e
104, e “Parliamentary Mandate, páginas 108 a 112; também em Cabo Verde, por exemplo, as
faltas injustificadas implicam a perda de parte do vencimento); como em Timor-Leste isso não é
possível, entendo que os serviços financeiros devem processar os salários dos deputados
independentemente do seu nível de assiduidade, não podendo fazer depender o processamento
do vencimento de base (só do “per diem” e outros abonos relacionados com a presença
efectiva) do conhecimento prévio dos livros ou folhas de presença.
46 Poucos são os regimentos que arriscam uma definição normativa de bancadas, grupos ou

blocos parlamentares (chame-se-lhes o que se quiser); curiosamente, o da Nicarágua define-os


como “a expressão das diferentes correntes políticas presentes na Assembleia Nacional”
(tradução do texto em espanhol da minha responsabilidade); o regimento português também
não contém um conceito de “grupo parlamentar”, mas o “web site” do parlamento luso
(www.parlamento.pt) define-o como “grupo de parlamentares de uma mesma representação
partidária” (glossário incluído no portal).
47 Esta expressão compatibiliza-se, em nome da uniformidade conceptual, com a que é usada na

legislação eleitoral para abreviadamente designar as coligações para fins eleitorais (cfr. artigos
19º e 20º da LEPN).
48 A constituição em bancada parlamentar é uma faculdade, não uma obrigação, o que reforça

a natureza representativa do mandato parlamentar e o seu exercício livre pelo titular, que é o
Deputado atomisticamente considerado; cabe aqui reproduzir, pela sua utilidade, alguns dos
corolários que se extraem desta norma, adaptados do enunciado do Prof. Jorge Miranda a
propósito de outra idêntica: a) grupo parlamentar requer pluralidade de Deputados; b) a
constituição de um grupo é uma faculdade, não uma necessidade ou obrigação; c) cada
deputado somente pode pertencer a um grupo; d) a cada partido há-de corresponder um só
grupo; e) a cada grupo há-de corresponder um só partido, não podendo haver grupos mistos de
deputados de diversos partidos; f) deputados eleitos por uma coligação de partidos podem
constituir um único grupo palamentar (mas não são obrigados); g) não pode haver ao mesmo
tempo um grupo parlamentar de coligação e grupos parlamentares de partidos nela integrados
(“Direito Constitucional III”, páginas 263-264).

24
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A constituição de cada bancada parlamentar efectua-se mediante


comunicação dirigida ao Presidente, assinada por todos os Deputados que a
compõem, com indicação dos Deputados que integram a direcção da bancada
parlamentar.
4 – A direcção da bancada parlamentar é composta por um presidente,
também designado por “líder parlamentar”, e, se os houver, um ou mais vice-
presidentes, que substituem o líder parlamentar nas suas faltas e impedimentos.
5 – Qualquer alteração posterior na composição da direcção da bancada
parlamentar é imediatamente comunicada ao Presidente. 50

Artigo 22º
Organização das bancadas parlamentares
1 – Cada bancada parlamentar estabelece livremente a sua organização
e modo de funcionamento.
2 – As funções de Presidente e de membro da Mesa são incompatíveis com
as de líder parlamentar e, havendo-o, vice-presidente de bancada
parlamentar.51

49 Não consigo aceitar a constituição de bancadas parlamentares unipessoais, porque as


bancadas (equivalentes aos “grupos” de outros ordenamentos jurídicos parlamentares)
pressupõem a existência de pelo menos dois deputados; o Direito Comparado revela-nos a
existência muito rara de casos insólitos e estranhos de regimentos que permitem grupos
parlamentares com um só deputado (“Estudos”, a páginas 109, menciona apenas a Noruega)
mas a quase totalidade exige mais do que um Deputado para se poder formar um grupo ou
bancada, o que faz parte da natureza das coisas, embora o número mínimo exigível possa variar
(em “Estudos”, ainda na página 109, fala-se em: 2 em Portugal e no Japão; 3 na Argentina e em
Israel; 5 na Áustria e na Suiça); em certos parlamentos esse patamar mínimo é mesmo
incrivelmente elevado (de acordo com “Estudos”, na mesma página: 7 na Irlanda; 10 na Costa do
Marfim; 20 na Coreia e na Câmara dos Deputados italiana; 30 em França e na Índia); verifiquei
ainda ser de 4 o limite mínimo exigido na Nicarágua, 7 na Lituânia, 5 em Cabo Verde e na Guiné-
Bissau e 3 em São Tomé e Príncipe (por consulta dos textos retirados dos sítios dos respectivos
parlamentos na Internet); o número citado em “Estudos” para o caso da Costa do Marfim ou
estará incorrecto ou terá entretanto baixado, porque o texto do respectivo regimento que
descarreguei da Internet menciona oito (não 10).
50 É dispensável a parte da norma em vigor que garante serviços de apoio e condições de

trabalho, nomeadamente gabinetes, para as bancadas, porque já está assegurado na LOFAP.


51 Não entendo o esquecimento da referência ao cargo de vice-presidente de bancada

parlamentar na versão actual quer do regimento timorense quer do português, porque, havendo-
o, é susceptível de desempenhar, em substituição, as funções de presidente, continuando a
justificar-se a incompatibilidade.

25
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 23º
Poderes das bancadas parlamentares
Constituem poderes de cada bancada parlamentar:
a) Participar nas comissões parlamentares em função do número dos seus
membros, indicando os seus representantes nelas;
b) Provocar, com a presença do Governo, a realização de debates de
urgência, nos termos do artigo 96º;52
c) Requerer a realização de interpelações ao Governo, nos termos previstos
no artigo 237º;
d) Exercer a iniciativa de revisão constitucional, de lei, de regimento, de
referendo, de resolução e de deliberação;
e) Apresentar moções de rejeição ao Programa do Governo;
f) Apresentar moções de censura ao Governo;
g) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito e
comissões eventuais;
h) Exercer os demais poderes previstos no Regimento.

Artigo 24º
Direitos das bancadas parlamentares
Constituem direitos de cada bancada parlamentar, nomeadamente53:
a) Eleger a sua direcção e determinar a sua organização e
regulamentação interna;
b) Escolher a presidência das comissões e subcomissões parlamentares, nos
termos estabelecidos no n.o 3 do artigo 58º;
c) Ser ouvida na fixação da ordem de trabalhos de reunião plenária, nos
termos do n.o 1 do artigo 78º;
d) Fixar a ordem de trabalhos de determinado número de reuniões
plenárias, nos termos do disposto no artigo 81º;
e) Solicitar à Comissão Permanente a convocação de reunião do Plenário;
f) Produzir declarações políticas em Plenário;
g) Ser informada pelo Governo, regular e directamente, sobre o
andamento dos principais assuntos de interesse público;

52 Eliminei a alínea do texto em vigor relativa a “ser ouvida na fixação da ordem do dia” por duas
razões: a) Isso não constitui, em si, um poder, mas sim um direito; b) A referência é desnecessária
porque essa auscultação já está prevista no âmbito da Conferência dos Líderes Parlamentares,
que tem representantes das bancadas.
53 Lista não taxativa; os restantes direitos serão os demais que resultem do Regimento.

26
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

h) Dispor de locais de trabalho na sede do Parlamento Nacional, bem


como de pessoal técnico e administrativo da sua confiança, nos termos da lei.54

Artigo 25º
Deputados não inscritos em bancada parlamentar
Os Deputados que, não sendo únicos representantes de partido político ou
coligação partidária, não integrem ou deixem de integrar qualquer bancada
parlamentar ou deixem de pertencer ao respectivo partido político ou coligação
partidária, doravante designados por “Deputados independentes”, comunicam
esse facto, por escrito, ao Presidente, exercendo o mandato parlamentar como
Deputados independentes.55

Artigo 26º
Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária
Ao Deputado que seja único representante de partido político ou
coligação partidária é atribuído o direito de intervenção como tal, a efectivar nos
termos do Regimento.

TÍTULO III
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GENÉRICAS

Artigo 27º
Horário normal de funcionamento do Parlamento Nacional

54Esta lei é, presentemente, a LOFAP.


55Dado o princípio constitucional da proporcionalidade da participação dos partidos políticos em
função da sua representatividade (artigo 70º, n.o 1, da Constituição), é natural que os Deputados
“independentes” (este adjectivo já não é admitido em Portugal, mas entendo que deve ser
mantido, para simplificar a linguagem regimental, em Timor-Leste) e os não inscritos em bancadas
não possam desfrutar dos mesmos poderes e direitos dos Deputados inseridos em blocos
parlamentares, cuja força lhes advém da sua maior representatividade; a preponderância dos
direitos das bancadas parlamentares, como expressão da união política que representam,
constitui, aliás, o princípio que permite dosear a liberdade de exercício do mandato pelo
Deputado individualmente considerado, que resulta das características que modelam o mandato,
de forma a privilegiar o exercício colectivo das funções parlamentares; a designação “deputados
independentes” (banida em Portugal) mantém-se, por exemplo, na Guiné-Bissau e em Cabo
Verde.

27
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – O Parlamento Nacional funciona, em regra, de segunda a sexta-feiras


não coincidentes com feriados, dentro dos seguintes períodos e horários diários:
a) Na parte da manhã, das 9 às 13 horas;
b) Na parte da tarde, das 15 às 18 horas.
2 – As horas de início e encerramento dos dois períodos previstos no número
anterior podem ser prolongadas ou antecipadas, por motivo de funcionamento
dos órgãos parlamentares colegiais, através de deliberação do respectivo órgão,
sob proposta do seu presidente ou a requerimento de qualquer Deputado.56

Artigo 28º
Organização dos trabalhos parlamentares e dias parlamentares
1 – Os trabalhos parlamentares são organizados de modo a reservar
períodos específicos para as reuniões ou sessões de trabalho de todos os órgãos
parlamentares.
2 – Sem prejuízo de reuniões extraordinárias de órgãos parlamentares
colegiais ou de trabalhos da Mesa, da Conferência dos Líderes Parlamentares ou
dos Deputados marcados para as sextas-feiras, estas são, em regra, reservadas a
contactos dos Deputados com os eleitores e a população em geral, a reuniões
das bancadas parlamentares ou entre bancadas parlamentares ou a encontros
das bancadas parlamentares com individualidades ou entidades que tenham
aceite receber em audiência.
3 – Os dias úteis a que se refere o n.o 1 do artigo anterior são considerados
“dias parlamentares” para efeitos do Regimento e do funcionamento dos serviços
de apoio do Parlamento Nacional.
4 – Por imposição constitucional, legal ou regimental ou, quando o Plenário
assim o delibere, por motivo de necessidade absoluta e inadiável, os órgãos
parlamentares podem funcionar, excepcionalmente, em qualquer dia da
semana.
5 – São considerados “trabalhos parlamentares”:
a) As reuniões do Plenário, da Comissão Permanente, da Mesa, da
Conferência dos Líderes Parlamentares, do Conselho de Administração, das

56 O horário de funcionamento do PN, previsto no actual artigo 42º, foi deslocado para esta parte
geral, porque entendo que diz respeito ao horário global do Parlamento no seu todo (o horário
normal de expediente, por assim dizer, não só dos órgãos parlamentares como ainda dos seus
serviços de apoio – não confundir com o horário de trabalho dos funcionários, que é diferente); o
citado artigo 42º releva, aliás, de uma gritante falta de rigor, confundindo sessões com reuniões,
sessões com contactos dos Deputados e sessões com reuniões das bancadas.

28
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

comissões e subcomissões parlamentares, dos grupos de trabalho criados no


âmbito das comissões parlamentares e das bancadas parlamentares;
b) A participação de Deputados em reuniões de organizações
internacionais e em delegações parlamentares;
c) A realização de seminários ou colóquios, dentro ou fora das instalações
do Parlamento Nacional, sobre temas de interesse para o Parlamento Nacional,
devidamente autorizados pelo Presidente, em que os Deputados sejam
convidados a participar;
d) As visitas ao exterior para efeitos de actividades de fiscalização política e
as missões de contacto com o eleitorado;
e) As demais reuniões de trabalho convocadas pelo Presidente e demais
tarefas desenvolvidas pelos Deputados no exercício das suas funções.57

CAPÍTULO II
PRESIDENTE58

Artigo 29º
Estatuto e competência genérica
1 – O Presidente do Parlamento Nacional substitui o Presidente da República
ou assume interinamente as suas funções nos casos previstos na Constituição.59 60

57 Existe norma idêntica, que se me afigura útil, no Direito Regimental Comparado dos países
lusófonos (casos de Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde, tendo sido os
preceitos correspondentes dos regimentos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, que me parecem
mais completos, os que serviram de base à norma proposta).
58 Órgão singular e órgão interno, com poderes gerais para representar o parlamento e dirigir e

disciplinar a sua actividade específica, mas também órgão constitucional “a se”, porque, por
exemplo, pode pedir a fiscalização abstracta (sucessiva) da constitucionalidade e substitui
interinamente o Presidente da República nas suas faltas e impedimentos (“Estudos”, página 85, e
“Direito Constitucional III”, página 279).
59 Reformulei a norma em vigor em face da dicotomia constitucional entre substituição e exercício

de funções em regime de interinidade; a Constituição timorense distingue as duas situações, ao


contrário da portuguesa, que só usa a figura da “substituição interina” (“de jure condendo”, seria
mais simples desta forma, porque qualquer que seja o facto que lhe dê origem estamos sempre
perante uma substituição).
60 Artigo 84º da Constituição; considero irregular a prática que se instalou de o Presidente do

Parlamento Nacional substituir interinamente o PR sempre que este se ausenta, seja em viagem de
carácter privado, seja em deslocação oficial, para o estrangeiro, porque nessas situações não
está impedido de exercer as suas funções constitucionais normais (nada o impede até, dados os
meios tecnológicos que existem hoje, de promulgar uma lei à distância); o conceito de
“impedimento temporário” aplica-se a outros casos que não o das deslocações ao estrangeiro,

29
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – O Presidente do Parlamento Nacional tem honras de representante de


segundo órgão de soberania do Estado.
3 - Cabe ao Presidente, em geral, representar o Parlamento Nacional, velar
pelo prestígio e dignidade da instituição parlamentar, dirigir e coordenar a
actividade desta e exercer autoridade sobre todos os funcionários e agentes e
sobre as forças de segurança postas ao serviço do Parlamento Nacional.61 62

Artigo 30º
Modo e processo de designação
1 – O Presidente é eleito, por escrutínio secreto, de entre os Deputados em
efectividade de funções.
2 – As candidaturas uninominais ao cargo de Presidente, separadas das
candidaturas aos restantes membros da Mesa, são subscritas por um mínimo de
dez e um máximo de vinte Deputados, sendo apresentadas ao Presidente em
exercício até duas horas antes do início da reunião plenária marcada para a
eleição.

mas seguramente o de internamento hospitalar por doença ou acidente que diminua


substancialmente as suas capacidades físicas e intelectuais (como, infelizmente, aconteceu em
Fevereiro de 2008, quando o actual PR sofreu um atentado, perpetrado com armas de fogo, à sua
vida, na sequência do qual teve de ser tratado e hospitalizado durante um considerável espaço
de tempo); aliás, mesmo quando impedido, o PR não deixa de o ser, só o exercício das suas
competências está afectado (vd. “Constituição Anotada – Tomo II”, página 376).
61 Está aqui prevista a competência geral do Presidente; por contraposição às atribuições (“fins

que a lei comete às pessoas colectivas”), as competências são os “poderes jurídicos de que os
órgãos de uma pessoa colectiva dispõem” (e, naturalmente, os titulares dos órgãos em cada
momento) “para prosseguirem as atribuições desta” (in “Introdução”, página 127) ou “o complexo
de poderes conferidos por lei a cada órgão para o desempenho das atribuições da pessoa
colectiva em que esteja integrado” (in “Dicionário”, página 194); “a competência vem da norma,
não se presume”, mas tanto pode ser explícita como implícita (vd. “Manual”, Tomo V, páginas 57
a 60); ou seja, não há competência sem norma, mas pode haver poderes implícitos em normas
definidoras de competências; é, a meu ver, o que acontece com este n.o 3, que, contendo uma
competência genérica, abrange também implicitamente todas as sub-competências específicas
que se incluam nas finalidades gerais previstas naquela (teoria dos poderes implícitos); o que
significa que o Presidente tem ainda todas as competências não previstas nas listas dos artigos 33º
a 36º propostos, que não colidam com as de outros órgãos parlamentares, necessárias a levar a
cabo as suas funções de representação, direcção e coordenação superior do PN; esta tese
jurídica, que não levanta qualquer celeuma, justifica-se porque não é possível prever longas listas
de competências que não deixem quaisquer “buracos” em aberto.
62 O regimento da Guiné-Bissau obriga mesmo à existência de um “dispositivo de segurança

autónomo” do parlamento.

30
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A eleição tem lugar na primeira reunião plenária da legislatura63, que é


presidida, até à eleição, pelo Presidente cessante, mesmo que não haja sido
eleito deputado na nova legislatura, ou, na sua impossibilidade64, pelo Deputado
mais idoso.65
4 – É eleito Presidente o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos
dos Deputados em efectividade de funções.
5 – Se nenhum dos candidatos obtiver o número de votos a que se refere o
número anterior, procede-se imediatamente a segundo sufrágio, ao qual
concorrem apenas os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a
candidatura.66
6 – Se nenhum candidato for eleito à segunda volta, é reaberto todo o
processo de eleição.67

63 Acerca do momento em que o Presidente ou Speaker é escolhido, encontramos no Direito


Comparado a quase totalidade dos países seguindo a orientação de que a eleição deve ser um
dos primeiros actos da nova assembleia, o que se compreende à luz da filosofia de que a Câmara
não deve permanecer muito tempo sem “comandante”; estipulam que essa eleição deve ser
realizada na primeira reunião, entre outros, a Austrália, a França, a Alemanha, a Irlanda, a Nova
Zelândia e a África do Sul; noutros casos, como o da Câmara dos Comuns canadiana, a eleição
deve ser o primeiro ponto da agenda; noutros ainda, como acontece com Singapura, a Câmara
deve fazer isso “before any other task”; no Japão, deve ter lugar “without delay” (vd. “Presiding
Offices”, páginas 14 a 16).
64 Por ter falecido, não querer assumir a tarefa ou se encontrar gravemente doente ou

incapacitado, por exemplo.


65 Consagra-se aqui a prática de muitos parlamentos (como os de Portugal, República Checa,

Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Laos, Noruega, Eslováquia e Vietname) de permitir que o
presidente cessante, nalguns casos acompanhado pelo secretário-geral, presida à primeira
reunião da legislatura, propondo eu que assim aconteça mesmo quando não haja sido reeleito
Deputado (ao arrepio, pois, das soluções encontradas no Direito Comparado, porque entendo
que o prestígio que um ex-presidente normalmente alcança durante o exercício das suas funções
lhe confere essa autoridade e importância); combinei esta praxe parlamentar com a possibilidade
de ser chamado a essas funções o Deputado mais idoso, no caso de o presidente cessante não
poder ou não querer assumi-las (vd. “Presiding Offices”, páginas 22 a 24); existem normas idênticas
nos regimentos de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, onde também se prevê a
possibilidade de serem os vice-presidentes, se reeleitos, a assumir a direcção dos trabalhos em
caso de impossibilidade do presidente.
66 Sistema de segunda volta só com os dois candidatos mais votados, observado, por exemplo, na

Bulgária, na República Checa, no Egipto, na Estónia, na Guatemala, em Madagáscar, em


Portugal e na Eslovénia (“in “Presiding Offices”, página 18); também é seguido, naturalmente, em
Cabo Verde, na Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe, que se baseiam no modelo português.
67 Para se encontrar um presidente com suficiente aceitação generalizada pelos seus colegas

(pois ele é um “primus inter pares”), há que reabrir o processo indefinidamente até que um
candidato obtenha a maioria absoluta (mais de metade) exigida; tudo passa, quando se revele

31
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 31º
Mandato
1 – O Presidente tem mandato de duração correspondente à da legislatura.
2 – O Presidente pode renunciar ao cargo mediante comunicação escrita
ao Plenário, tornando-se a renúncia imediatamente efectiva, sem prejuízo da sua
publicação posterior no Jornal do Parlamento Nacional.
3 – No caso de renúncia ao cargo ou vagatura, procede-se a nova eleição
no prazo de cinco dias úteis.
4 – O mandato do novo Presidente eleito tem duração equivalente ao
período restante da legislatura.

Artigo 32º
Substituição
1 – O Presidente é substituído, nas suas faltas e impedimentos:
a) Pelo Primeiro Vice-Presidente ou, na falta deste, pelo Segundo Vice-
Presidente;
b) Pelo Deputado mais idoso, nas faltas e impedimentos do Primeiro Vice-
Presidente e do Segundo Vice-Presidente.
2 – O disposto no número anterior não prejudica que o vice-presidente não
chamado a substituir o Presidente coadjuve o vice-presidente investido nessas
funções, prestando-lhe a colaboração possível.68

difícil a eleição, pela negociação política entre as forças políticas com assento parlamentar sobre
um candidato que reúna aceitação mínima indiciária pela maioria dos Deputados; a
generalidade dos parlamentos inquiridos para o estudo comparativo inerente a “Presiding Offices”
revelou que o grau de imparcialidade e neutralidade do Presidente ou Speaker depende
fundamentalmente da pessoa concreta que ocupar o cargo, com a sua experiência ou
senioridade, o seu sentido de moderação e equilíbrio na gestão dos assuntos, a sua consciência
do papel e das funções que lhe estão cometidos; não há um modelo ideal ou perfeito de
presidente de uma assembleia parlamentar; a personalidade do seu titular influencia bastante o
prestígio e a autoridade com que se exerce o cargo, que se deve identificar o mais possível com a
função de árbitro e moderador do “jogo parlamentar” (vd. “Presiding Offices”, páginas 115-116).
68 Prefiro estabelecer uma hierarquia entre os vice-presidentes, dando corpo à prática

parlamentar que tem vindo a ser seguida, do que continuar a sustentar, por via dessa prática, a
violação sistemática da regra regimental da rotatividade dos vice-presidentes quanto à
substituição do Presidente; a hierarquização dos vice-presidentes não é, aliás, caso virgem,
encontrando alguma consagração no Direito Comparado (vd. “Presiding Offices”, página 66;
existe também, por exemplo, em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau).

32
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 33º
Competências quanto à actividade parlamentar em geral
1. Compete especificamente ao Presidente, quanto à actividade
parlamentar em geral e aos trabalhos parlamentares:
a) Presidir à Mesa;
b) Admitir ou não admitir as iniciativas originárias de revisão constitucional,
lei, regimento, referendo, resolução ou deliberação e os requerimentos e
propostas de alteração, em atenção à sua regularidade regimental e ao
preenchimento dos respectivos pressupostos formais e materiais, sem prejuízo dos
direitos de reclamação e recurso previstos no Regimento;
c) Submeter às comissões parlamentares competentes, para efeitos de
apreciação, os textos das iniciativas referidas na alínea anterior, nas condições
previstas no Regimento;
d) Promover a constituição das comissões parlamentares, acompanhar e
incentivar os respectivos trabalhos e velar pelo cumprimento dos prazos
regimentais fixados para conclusão de tarefas a seu cargo;
e) Promover a constituição de delegações parlamentares, acompanhar e
incentivar as missões em que estejam investidas e velar para que contribuam
para a visibilidade externa e o prestígio do Parlamento Nacional e do País;
f) Dinamizar a constituição dos grupos parlamentes de amizade e de outros
organismos que se ocupem do diálogo do Parlamento Nacional com os países
amigos de Timor-Leste, acompanhar e incentivar os respectivos trabalhos e velar
pelo cumprimento dos regulamentos e resoluções existentes sobre a matéria;
g) Convocar os presidentes das comissões e subcomissões parlamentares
para se inteirar dos seu trabalhos e das razões que motivem atrasos na conclusão
de tarefas a seu cargo;
h) Receber e encaminhar para as comissões parlamentares competentes
as petições, queixas ou reclamações dirigidas ao Parlamento Nacional;69
i) Presidir à Comissão Permanente;
j) Presidir à Conferência dos Líderes Parlamentares;
k) Mandar publicar no Jornal da República as resoluções do Parlamento
Nacional, com excepção daquelas que cabe ao Presidente da República, nos
termos constitucionais, mandar publicar;

69A ordem das modalidades do exercício das garantias petitórias dos cidadãos aqui previstas –
petições, queixas e reclamações – respeita a orientação constitucional (artigo 48º da
Constituição).

33
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

l) Manter a ordem, a disciplina e a segurança do Parlamento Nacional,


podendo para o efeito requisitar e usar os meios necessários e tomar as medidas
que entender convenientes;
m) Apreciar a regularidade das candidaturas apresentadas por Deputados
a cargos electivos, bem como anunciar os resultados das eleições e proclamar os
candidatos eleitos;
n) Superintender o pessoal ao serviço do Parlamento Nacional;
o) Genericamente, assegurar o cumprimento do Regimento e das
deliberações do Parlamento Nacional.
2 – Compete ainda ao Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares:
a) Estabelecer protocolos de acordo, cooperação e assistência com as
universidades e outros estabelecimentos de ensino superior;
b) A título excepcional, e sem prejuízo da realização de reuniões solenes
para comemoração de eventos especiais ou recepção a individualidades
nacionais e estrangeiras, convidar estas a tomar lugar na sala das reuniões
plenárias e a usar da palavra durante reunião plenária ordinária.
3 – O Presidente pode delegar em qualquer dos vice-presidentes, através
de despacho escrito, o exercício dos seus poderes e competências.

Artigo 34º
Competências quanto às reuniões plenárias
1 – Compete particularmente ao Presidente, no tocante às reuniões
plenárias:
a) Fixar a ordem de trabalhos das reuniões plenárias, de harmonia com o
disposto nos artigos 78º, 79º e 80º;
b) Marcar e convocar reuniões plenárias extraordinárias, nos termos do
artigo 72º;
c) Presidir às reuniões plenárias, declarar a sua abertura, interrupção e
encerramento e dirigir os respectivos trabalhos;
d) Conceder a palavra aos Deputados e membros do Governo e orientar
os debates;
e) Dar oportuno conhecimento ao Plenário das mensagens, informações,
explicações, relatórios, convites e outros documentos pertinentes que lhe sejam
dirigidos;
f) Pôr à discussão e votação os projectos de revisão constitucional e as
iniciativas originárias de lei, de regimento, de referendo, de resolução e de

34
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

deliberação, bem como as propostas de alteração, os recursos e os


requerimentos admitidos.
2 – O Presidente pode tomar a iniciativa de conceder a palavra aos
Deputados, fora das formas usuais de uso da palavra, sempre que o entenda
necessário à boa condução dos trabalhos.70
3 – Das decisões do Presidente tomadas em reunião plenária cabe sempre
reclamação, bem como recurso para o Plenário.

Artigo 35º
Competências quanto ao mandato parlamentar
Compete especialmente ao Presidente, quanto aos Deputados:
a) Julgar as justificações de faltas dadas por Deputados, solicitadas nos
termos aplicáveis do Estatuto dos Deputados e da alínea b) do n.o 1 do artigo 19º;
b) Decidir sobre o deferimento de pedidos de justificação antecipada de
faltas e substituição temporária, nos termos previstos no Estatuto dos Deputados;
c) Receber e mandar publicar as declarações de renúncia ao mandato;
d) Dar seguimento às perguntas ao Governo e requerimentos escritos
apresentados pelos Deputados, nos termos das alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo
16º;
e) Autorizar as deslocações de carácter oficial ao estrangeiro ou dentro do
território nacional.

Artigo 36º
Competências quanto a outros órgãos
Compete ao Presidente, em relação a órgãos exteriores ao Parlamento
Nacional:
a) Enviar ao Presidente da República, para os efeitos previstos na
Constituição, os decretos do Parlamento Nacional;71
b) Enviar ao Presidente da República, para os efeitos previstos na
Constituição, os tratados, convenções e acordos internacionais submetidos à
apreciação do Parlamento Nacional, depois de aprovados ou ratificados,
consoante os casos, juntamente com as respectivas resoluções;72

70 Goza aqui o Presidente de um amplo poder discricionário tendente a permitir que os seus
próprios pares o ajudem a orientar os trabalhos.
71 Ou seja, para promulgação (artigo 85º, alínea a), da Constituição).
72 Ou seja, para publicação (artigo 85º, alínea a), da Constituição).

35
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Comunicar ao Presidente da República, nos termos e para os efeitos


constitucionalmente determinados, os resultados das votações de moções de
rejeição do Programa do Governo, votos de confiança e moções de censura ao
Governo;73
d) Marcar, em concertação com o Governo, as reuniões plenárias em que
os seus membros devam estar presentes;
e) Assinar os documentos expedidos em nome do Parlamento Nacional;
f) Chefiar as delegações do Parlamento Nacional de que faça parte.

CAPÍTULO III
MESA74

Artigo 37º
Composição
1 - A Mesa é composta pelo Presidente e pelos seguintes membros:
a) Primeiro Vice-Presidente;
b) Segundo Vice-Presidente;
c) Secretário;
d) Primeiro Vice-Secretário;
e) Segundo Vice-Secretário.
2 - O Secretário é substituído, nas suas faltas e impedimentos, pelo Primeiro
Vice-Secretário ou, na falta deste, pelo Segundo Vice-Secretário.
3 - Para efeitos do Regimento, a palavra “Mesa”, quando escrita com a
letra inicial em maiúscula, refere-se ao órgão parlamentar previsto no presente
capítulo.75

Artigo 38º
Modo e processo de designação
1 – Os membros da Mesa indicados no n.o 1 do artigo anterior são eleitos,
de entre os Deputados em efectividade de funções, pelo período da legislatura.
2 – As candidaturas aos cargos referidos no número anterior são
apresentadas em listas únicas, nominativas, fechadas e completas, subscritas por
um mínimo de cinco e um máximo de quinze Deputados.

73 Ou seja, para os efeitos previstos no artigo 112º, n.os 1, alíneas d), e) e f), e 2, da Constituição.
74 Órgão colegial, interno, auxiliar (“Direito Constitucional III”, página 279).
75 Esta precisão serve para distinguir claramente este órgão central e director das “mesas” das

comissões.

36
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – As listas de candidatos, a apresentar até vinte e quatro horas antes do


início da reunião plenária marcada para a eleição, devem indicar os nomes dos
Deputados propostos pela ordem dos cargos enumerados nas alíneas a), b), c),
d) e e) do n.o 1 do artigo anterior, assegurando-se na composição de cada lista,
tanto quanto possível, a participação proporcional das bancadas parlamentares
de acordo com a sua representatividade parlamentar.
4 – A eleição é feita por escrutínio secreto.
5 – Consideram-se eleitos os candidatos que constem da lista que obtenha
a maioria absoluta dos votos dos Deputados em efectividade de funções.
6 – Se nenhuma das listas de candidatos obtiver o número de votos a que
se refere o número anterior, aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 5 e 6
do artigo 30º.

Artigo 39º
Renúncia ao cargo de membro da Mesa
1 - Os membros da Mesa podem renunciar ao cargo mediante declaração
escrita fundamentada dirigida ao Presidente, tornando-se a renúncia
imediatamente efectiva, sem prejuízo da sua posterior publicação no Jornal do
Parlamento Nacional.
2 – Em caso de renúncia ao cargo de membro da Mesa ou vagatura,
procede-se a nova eleição do membro em falta, aplicando-se, com as devidas
adaptações, o disposto nos n.os 4, 5 e 6 do artigo anterior e nos n.os 3 e 4 do artigo
31º.

Artigo 40º
Competência genérica e deliberações da Mesa
1 - Compete à Mesa:
a) Declarar a perda do mandato em que incorra qualquer Deputado, nos
termos aplicáveis do Estatuto dos Deputados;
b) Assegurar o desempenho dos serviços de apoio técnico e administrativo
aos órgãos parlamentares;
c) Em geral, coadjuvar o Presidente no exercício das suas funções.
2 – As deliberações da Mesa são tomadas por consenso ou, quando tal não
seja possível, por maioria, exercendo o Presidente voto de qualidade.76

76 O texto em vigor é omisso sobre a forma como a Mesa delibera, o que pode vir a provocar
dificuldades ao seu funcionamento; daí o aditamento que se propõe; voto de qualidade consiste
em conferir uma ponderação ou peso especial ao voto do presidente de órgão colegial,

37
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A Mesa reúne, sob convocação do Presidente, sempre que este o


entender necessário.

Artigo 41º
Competência específica da Mesa quanto às reuniões plenárias
1 - Compete à Mesa, quanto às reuniões plenárias:
a) Integrar nas formas previstas no Regimento as iniciativas orais e escritas
dos Deputados, bancadas parlamentares e membros do Governo;
b) Decidir as questões de interpretação de normas regimentais e
integração de lacunas do Regimento, de acordo com o disposto nos artigos 270º
e 271º.
2 – Das deliberações da Mesa previstas no número anterior, que não
carecem obrigatoriamente de ser reduzidas a escrito77, cabe reclamação, bem
como recurso para o Plenário.

Artigo 42º
Competências dos vice-presidentes
Compete aos vice-presidentes:
a) Substituir o Presidente, nos termos do disposto no artigo 32º;
b) Aconselhar o Presidente e coadjuvá-lo no desempenho das suas
funções;
c) Exercer os poderes e competências que lhes forem delegados pelo
presidente;
d) Exercer a vice-presidência da Comissão Permanente;

atribuindo vencimento àquela das posições empatadas que tenha obtido o seu voto; neste caso,
o presidente deve votar sempre, ganhando, em caso de empate, o “lado” em que ele se
encontre; o presidente participa, como os outros, na votação e, em caso de empate, considera-
se a votação automaticamente desempatada de acordo com o sentido em que o presidente
tiver votado; voto de desempate, ao invés, pressupõe que o presidente só vota em caso de
empate, sendo o seu voto utilizado exactamente para desfazer o empate; faz-se a votação sem
que o presidente vote e, se houver empate, o presidente vota e desempata (Vd. “Introdução”,
página 124, e “Dicionário”, páginas 885-886); há norma idêntica à que se sugere no regimento
guineense (não prevendo embora o voto de qualidade do Presidente).
77 A excepção que proponho justifica-se à luz das circunstâncias especiais em que essas decisões

podem ser tomadas; muitas vezes na hora, no desenrolar dos trabalhos de reunião plenária, quase
espontaneamente; compreende-se que não haja tempo nem necessidade de as reduzir a escrito,
bastando o mero anúncio do sentido da decisão; quando possível, aconselha-se a que se escreva
sucintamente a decisão, exarando-se, por exemplo, no documento escrito a que se refira, se
existir.

38
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) Desempenhar as funções de representação institucional do Parlamento


Nacional de que sejam incumbidos pelo Presidente.

Artigo 43º
Competências do Secretário
Compete ao Secretário:
a) Proceder à verificação das presenças e verificar, em qualquer momento,
o quórum nas reuniões plenárias;
b) Ordenar as matérias a submeter à votação e registar os resultados das
votações realizadas;
c) Organizar as inscrições dos Deputados e membros do Governo que
pretendam usar da palavra;
d) Fazer as leituras indispensáveis durante as reuniões plenárias;
e) Promover a publicação no Jornal do Parlamento Nacional dos actos
escritos que o devam ser;
f) Assinar, por delegação do Presidente, a correspondência expedida em
nome do Parlamento Nacional;
g) Servir de escrutinador.

Artigo 44º
Competências dos Vice-Secretários
1 - Para além da função de substituição do Secretário nos termos do
disposto no n.o 2 do artigo 37º, o Segundo Vice-Secretário ou, nas suas faltas e
impedimentos, o Primeiro Vice-Secretário pode ser chamado a coadjuvar o
Secretário no exercício das funções que esteja obrigado a desempenhar durante
as reuniões plenárias, quando o volume ou a complexidade dos assuntos da
ordem de trabalhos o justifique.78
2 – Cabe ao Presidente decidir se é justificado o recurso a um dos vice-
secretários, pela ordem indicada no número anterior, para coadjuvar o Secretário
no exercício das funções aí referidas.

Artigo 45º

78A ordem da indigitação dos vice-secretários na função de coadjuvação aqui prevista está
propositadamente invertida em relação à do n. o 2 do artigo citado, começando pelo Segundo
Vice-Secretário, para se repartir melhor o trabalho entre os dois vice-secretários (se o Primeiro Vice-
Secretário é chamado em primeiro lugar a substituir o Secretário, justifica-se que aqui, para
compensar, seja o Segundo Vice-Secretário a ser chamado a exercer as funções adjuvantes do
Secretário).

39
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Presença dos membros da Mesa durante as reuniões plenárias


1 - Durante as reuniões plenárias, só exercem funções, nos lugares a eles
reservados na sala das reuniões do Plenário, os seguintes membros da Mesa:
a) O Presidente ou quem o substitua;
b) O Secretário ou o vice-secretário que o substitua;
c) Um dos vice-secretários, nos casos previstos no artigo anterior.79
2 – Em casos excepcionais, e sem prejuízo dos seus direitos de voto e
participação nos debates, pode qualquer dos vice-presidentes que não esteja a
substituir o Presidente sentar-se em lugar situado perto da tribuna onde o
Presidente ou quem o substitua se encontre.

Artigo 46º
Imparcialidade na condução das reuniões plenárias
1 - Durante as reuniões plenárias, o Presidente ou quem o substitua:
a) Não tem direito a voto, salvo quando se revelar necessário para
assegurar a formação do quórum de deliberação ou para garantir, no quadro da
correlação de forças partidárias com assento parlamentar, a representatividade
da bancada parlamentar a que corresponda o partido político ou coligação
partidária a que pertença;80

79 Acho excessivo sentarem-se nos lugares da Mesa o Presidente, frequentemente um dos Vice-
Presidentes, o Secretário, os dois vice-secretários, dois funcionários dos serviços de apoio e, muitas
vezes, assessores técnicos, como tem acontecido até agora; não é racional em termos de divisão
do trabalho, porque não permite libertar funcionários ou Deputados membros da Mesa para
outras tarefas que tenham de executar; deve evitar-se, pelo menos, a presença de Vice-
Presidente que não esteja a substituir o Presidente (porque a sua função é só essa, a de substituir o
Presidente nas suas faltas e impedimentos) e a dos vice-secretários ou, pelo menos, de um deles
(cuja presença não se afigura necessária, para além de o impedir de participar livremente nos
debates).
80 Se as razões da primeira excepção são intuitivas, as da segunda carecem de alguma

explicação para melhor se entender a sua motivação; estou a pensar, por exemplo, no caso em
que o Presidente pertença a uma bancada ou coligação de bancadas com maioria parlamentar
absoluta tangencial (com, por exemplo, 33 Deputados no actual colégio eleitoral) em que o seu
voto se revele essencial a que as posições dessa força partidária sejam vencedoras em processos
de votação; será também o caso de a bancada parlamentar a que o Presidente pertença se
encontrar de tal forma depauperada em número de elementos - por virtude, por exemplo, de
muitos se encontrarem a faltar justificadamente – que se justifique que possa votar também para
repor a representatividade, real ou aproximada, dessa bancada no espectro político-parlamentar
existente; de qualquer modo, as duas excepções contempladas são mais apertadas do que as
cláusulas vigentes nalguns regimentos lusófonos que atribuem ao Presidente o direito de votar
sempre que o entender; fundam-se ainda na filosofia que presidiu à elaboração da norma que

40
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) Não pode intervir nos debates em curso e deve abster-se de fazer


comentários sobre a substância dos diplomas ou assuntos em análise, a não ser
para sumariar os assuntos em discussão ou esclarecer o conteúdo ou sentido de
textos escritos, propostas, requerimentos ou outros actos submetidos à apreciação
do Plenário ou carecidos de decisão da Mesa.81
2 – Nos casos em que deva operar a ressalva prevista na alínea a) do
número anterior, o Presidente exerce o direito de voto em último lugar.82 83

proponho de fomentar a mentalidade da imparcialidade na condução e orientação dos


trabalhos parlamentares.
81 A ressalva da alínea b) não configura verdadeira intervenção, inserindo-se, sim, naqueles casos

que o Direito Comparado admite como zona cinzenta de intervenção dos presidentes ou
“speakers”, sem intuito de influenciar o curso do debate (vd. notas de rodapé seguintes).
82 Adopto no n.o 2 a solução encontrada nalguns parlamentos, como o da Lituânia (segundo

citação de “Presiding Offices”, páginas 81 a 85).


83 Esta proposta de artigo 46º visa pôr termo ao hábito, que se tem verificado até agora, de

permitir que o Presidente vote sempre, o que afecta a equidistância, imparcialidade e isenção
que deve manter relativamente aos seus colegas; o Direito Regimental Comparado, no entanto,
revela que na quase totalidade dos parlamentos, apesar de se colocar o problema das limitações
ao direito de voto do Presidente na sua qualidade de Deputado como qualquer outro, ele acaba
por poder votar, embora nalguns casos em certas condições; em Portugal, Cabo Verde e Guiné-
Bissau, por exemplo, só vota “quando assim o entender”; de facto, o Presidente, apesar do seu
estatuto elevado, é também um Deputado comum que deveria gozar da prerrogativa de
participar nos debates, expressar os seus pontos de vista e votar, ainda que lhe caiba presidir aos
trabalhos e orientar as discussões e os processos de votação; no entanto, atento esse seu papel
de árbitro, deve abster-se de intervir activamente no debate, salvo quando estritamente
necessário (por exemplo, para sumariar os assuntos em apreço) e sempre sem o tentar influenciar;
se alguns parlamentos, principalmente os de tradição britânica, recusam categoricamente a
possibilidade de o Speaker intervir no debate, já muitos outros o permitem; quanto ao direito de
voto, muito poucos são os países que o não admitem (caso da Finlândia); há poucos casos em
que pode votar sem quaisquer restrições (Timor-Leste, no regime em vigor) e casos, embora raros,
em que é até obrigado a votar (Senado polaco); na generalidade dos casos, o Presidente, se ele
próprio é Deputado, tem o direito de voto, mas raramente o exerce, exactamente para manter
neutralidade; há casos em que vota, mas sempre em último lugar (Lituânia, por exemplo); a
situação especial do Presidente ou Speaker, em qualquer dos modelos apresentados, é, pois,
tratada em função da posição ambígua e pouco confortável em que se encontra (vd. “Presiding
Offices”, páginas 81 a 85); a opção que sugiro é, assim, radical e draconiana e, por isso, algo
discutível, mas tem por finalidade assegurar de forma mais eficaz a neutralidade das funções do
Presidente, que faz mais sentido em parlamentos jovens, como o timorense, ainda em fase de
maturação da vivência democrática; fica, no entanto, a proposta, para que o desafio nela
implícito suscite a reflexão e o debate de ideias, não deixando de sublinhar que o problema se
tem colocado de uma forma generalizada ao redor do Mundo.

41
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO IV
CONFERÊNCIA DOS REPRESENTANTES DAS BANCADAS PARLAMENTARES84

Artigo 47º
Natureza e composição
1 - A Conferência dos Representantes das Bancadas Parlamentares é um
órgão consultivo do Presidente, sem prejuízo dos seus poderes decisórios próprios
expressamente previstos no Regimento.
2 - A Conferência dos Líderes Parlamentares é constituída pelo Presidente
ou quem o substitua, pelos líderes parlamentares ou quem os substituam e pelo
membro do Governo por este indicado.
3 – Os representantes das bancadas parlamentares têm na Conferência
dos Líderes Parlamentares um número de votos igual ao número de Deputados
que representam.
4 – O membro do Governo que participe nas reuniões da Conferência dos
Líderes Parlamentares só pode intervir, sem direito a voto, nos assuntos que não se
relacionem exclusivamente com o funcionamento do Parlamento Nacional.
5 - Às reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares assistem ainda,
sem direito a voto:
a) Os restantes membros da Mesa do Parlamento Nacional;
b) Quaisquer outras pessoas, designadamente assessores ou peritos,
autorizadas pelo Presidente.
6 - As entidades referidas no número anterior usam da palavra nas reuniões
da Conferência dos Líderes Parlamentares quando expressamente solicitada a
sua participação pelo Presidente ou quem o substitua.

Artigo 48º
Competências
Cabe à Conferência dos Líderes Parlamentares, para além das suas
funções consultivas genéricas:
a) Pronunciar-se sobre a fixação da ordem de trabalhos das reuniões
plenárias, nos termos do Regimento;
b) Determinar os tempos de uso da palavra em debates parlamentares, nos
casos previstos no Regimento;85

84Órgão colegial, interno, auxiliar, consultivo e também, em certos casos, deliberativo (“Direito
Constitucional III”, página 279); órgão auxiliar e adjuvante do Presidente (cfr. “Constituição
Anotada – Tomo II”, página 507).

42
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Exercer os demais poderes expressamente previstos no Regimento.

Artigo 49º
Funcionamento
1 - A Conferência dos Líderes Parlamentares reúne ordinariamente, durante
o período normal de funcionamento do Parlamento Nacional, uma vez por
semana, de preferência às quartas-feiras à tarde, ou, extraordinariamente,
sempre que o Presidente o entender necessário ao regular funcionamento do
Parlamento Nacional, sob expressa convocação deste.
2 - A convocação de reunião extraordinária da Conferência dos Líderes
Parlamentares pode ser feita pelos meios mais expeditos, designadamente
telefónicos, ao alcance do Presidente, sendo válida e inquestionável desde que
tentados contactos com todos os líderes parlamentares.
3 - A Conferência dos Líderes Parlamentares funciona e delibera
validamente com a presença de líderes parlamentares ou seus substitutos que
representem mais de metade dos Deputados em efectividade de funções.86 87
4 – As deliberações da Conferência dos Líderes Parlamentares, na falta de
consenso, são tomadas por maioria absoluta.
5 - De cada reunião da Conferência dos Líderes Parlamentares é lavrada
uma acta ou súmula, que contém, pelo menos:
a) A data e as horas de início e termo da reunião;

85 A limitação dos tempos de discussão aparece-nos como uma imposição física natural, porque
nenhum parlamento pode funcionar com debates intermináveis, sob pena de se pôr em causa o
próprio desempenho eficaz e atempado das funções parlamentares; a restrição do uso da
palavra verifica-se, com mais ou menos rigidez, em todos os parlamentos (cfr., por todos, “Time
limits on speeches and debates”, in “Constitutional and Parliamentary Information”, que se pode
consultar no sítio da Internet da Associação dos Secretários-Gerais dos Parlamentos que funciona
no âmbito da IPU); em “Estudos”, páginas 114-115, é sintomaticamente referido que “a gestão do
tempo é determinante para, a par da eficiência organizacional, o Parlamento produzir resultados
concretos no quadro da realização das suas funções sobretudo a legislativa e a de controle do
Governo”, dela dependendo “em grande medida o sucesso no combate às obstruções que,
vezes sem conta, constituem arma privilegiada da oposição, em geral, e das minorias, em
particular, no seu esforço para opor-se a uma proposta governamental ou a um projecto de
decisão apresentado pela maioria parlamentar”.
86 Maioria absoluta, como quórum simultaneamente de reunião e de deliberação.
87 Esta norma visa combater a crónica ausência de líderes parlamentares, que em muitos casos

impediu a realização de reuniões, garantindo-se, no entanto, que o quórum proposto,


simultaneamente de funcionamento e de deliberação, represente mais de 50% do espectro
político-partidário do Parlamento.

43
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) A indicação dos membros da Mesa e dos representantes das bancadas


parlamentares presentes;
c) Um resumo sucinto dos intervenientes e, na medida do possível, do
sentido das principais intervenções produzidas ou opiniões expressas;
d) As deliberações tomadas e os resultados das votações realizadas,
quando aquelas não tenham sido alcançadas por consenso.
6 – A acta ou súmula a que se refere o número anterior é assinada pelo
Secretário ou, na sua falta, por um dos vice-secretários presentes.
7 – Na falta de qualquer dos membros da Mesa a que se refere o número
anterior, a acta ou súmula prevista no n.o 5 é assinada por um dos vice-
presidentes ou, na sua falta, pelo Presidente ou quem o tenha substituído.

Artigo 50º
Apoio técnico e administrativo
1 - As reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares são secretariadas
e apoiadas, técnica e administrativamente, pelos serviços de apoio competentes.
2 – Os serviços de apoio competentes asseguram, entre outras tarefas:
a) O registo das presenças nas reuniões;
b) A elaboração da acta ou súmula a que se refere o n.o 5 do artigo
anterior;
c) A distribuição da documentação que se revelar necessária;
d) A elaboração dos guiões e notas técnicas ou instrumentais que sejam
solicitados pelo Presidente e se enquadrem no âmbito das competências dos
serviços de apoio requisitados.
3 - A acta ou súmula prevista na alínea b) do número anterior é submetida
à aprovação da Conferência dos Líderes Parlamentares, em projecto, numa das
reuniões posteriores àquela a que diga respeito, fazendo-se menção expressa à
sua aprovação na acta ou súmula da reunião em que efectivamente tiver sido
aprovada.

Artigo 51º
Carácter reservado das reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares
1 - As reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares não são públicas,
salvo se o Presidente, com a concordância de todos os representantes das
bancadas parlamentares presentes, autorizar a presença de pessoas estranhas
ao Parlamento Nacional e aos seus serviços de apoio, designadamente jornalistas
e outros profissionais da comunicação social.

44
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o Presidente e qualquer dos


líderes parlamentares ou quem os substitua podem revelar aos órgãos de
comunicação social os resultados de cada reunião da Conferência dos Líderes
Parlamentares que não hajam sido considerados de carácter reservado.

CAPÍTULO V
PLENÁRIO88

Artigo 52º
Definição e composição
O Plenário é o órgão supremo do Parlamento Nacional onde tomam
assento todos os Deputados em efectividade de funções.89

Artigo 53º
Competência genérica
Sem prejuízo das competências próprias dos restantes órgãos
parlamentares, cabe ao Plenário o exercício das funções legislativa e de
fiscalização e decisão política constitucionalmente atribuídas ao Parlamento
Nacional.

CAPÍTULO VI
COMISSÃO PERMANENTE90

Artigo 54º
Definição

88 Órgão principal e colegial que desempenha funções institucionais e materiais atribuídas ao


parlamento (vd. “Estudos”, páginas 83 e 96, e “Direito Constitucional III”, página 279).
89 Arrisco, aceitando eventuais críticas, esta conceptualização; depois de ter concebido o

conceito, encontrei idêntica formulação no regimento nicaraguense (que o define como “la
reunión de todos los diputados en ejercicio”); tal redacção levou-me, no entanto, a substituir a
expressão “Deputados eleitos” (que inicialmente havia adoptado) por “Deputados em
efectividade de funções” (porque, de facto, o Plenário pode nem sempre, em virtude de
vicissitudes dos mandatos individuais, ser composto por todos os deputados eleitos); em “Estudos”,
página 83, é definido como o “órgão que reúne todos os Deputados para debater e deliberar
sobre as questões apresentadas” – é uma formulação doutrinalmente correcta, mas a segunda
parte usa uma redacção demasiado infantil para figurar numa norma regimental.
90 Órgão colegial de substituição (também designado pelo sinónimo “órgão vicário”), deliberativo

(“Estudos”, página 84, e “Direito Constitucional III”, página 279).

45
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A Comissão Permanente é um órgão subsidiário que funciona durante o


período em que o Parlamento Nacional se encontrar dissolvido, fora do período
normal de funcionamento do Parlamento Nacional e nos restantes casos previstos
na Constituição.91

Artigo 55º
Composição
A Comissão Permanente é composta:
a) Pelo Presidente, que a ela preside;
b) Pelos vice-presidentes;
c) Por Deputados indicados por todos os partidos políticos com assento no
Parlamento Nacional, de acordo com a sua representatividade.92

Artigo 56º
Competências
Compete à Comissão Permanente, nomeadamente:93
a) Acompanhar a actividade do Governo e da Administração Pública;
b) Coordenar a actividade das comissões parlamentares;

91 O artigo 37º do regimento em vigor e o n.o 1 do artigo 102º da Constituição foram


manifestamente mal adaptados das suas fontes, pois não há intervalos nas sessões (não confundir
com “reuniões”); o Parlamento Nacional é um órgão permanente e as suas sessões legislativas são
contínuas, sucedendo-se os períodos de um ano sucessivamente uns aos outros, sem quaisquer
hiatos; o que tem interrupções é o período normal de funcionamento, que não é coincidente com
o da sessão legislativa (é sempre mais curto, salvo se o Plenário, em situação que se idealiza muito
excepcional, deliberar não interromper esse período até ao início da sessão legislativa seguinte); a
Comissão Pemanente, embora seja um órgão de substituição do Plenário, não tem, nem poderia
ter, a mesma amplitude de poderes (designadamente, não possui poderes legislativos e as
resoluções que tome em determinados processos, como o relativo à declaração do estado de
sítio ou estado de emergência, terão de ser objecto de posterior ratificação pelo Plenário).
92 Tem sentido que este direito pertença aos partidos políticos e não às bancadas parlamentares,

porque pode haver Deputados pertencentes a partidos políticos não inscritos em bancadas
(deputados independentes) ou únicos representantes de partido político ou coligação eleitoral
(que não podem constituir-se em bancada); no caso em que estiverem integrados em bancadas,
entendo que devem ser as direcções das bancadas parlamentares a exercer o direito de indicar
os seus representantes na Comissão Permanente.
93 À semelhança do que acontece com o n. o 3 do artigo 102º da Constituição, a enumeração não

pode ser exaustiva, sob pena de se falhar alguma competência específica expressamente
prevista; no entanto, pela própria natureza das coisas, os poderes legislativos normais, por
exemplo – porque pertencem ao Plenário e às comissões –, não podem ser assumidos pela
Comissão Permanente.

46
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Dirigir as relações entre o Parlamento Nacional e os parlamentos e


instituições análogas de outros países;
d) Promover a convocação do Plenário sempre que tal se mostre
necessário ou esteja constitucionalmente previsto;
e) Preparar a abertura da sessão legislativa e organizar as reuniões plenárias
que lhe dêem início;94
f) Dar assentimento à ausência do Presidente da República do território
nacional, nos termos da Constituição;95
g) Autorizar o Presidente da República a declarar o estado de sítio ou o
estado de emergência, a declarar a guerra e a fazer a paz, nos termos
constitucionais, legais e regimentais aplicáveis;
h) Exercer os poderes dos órgãos parlamentares competentes
relativamente ao mandato parlamentar, sem prejuízo das competências próprias

94 A alínea j) do actual artigo 39º está manifestamente mal redigida, porque, sendo a Comissão
Permanente um órgão de substituição do Plenário enquanto ele não está em funcionamento
efectivo, nomeadamente em período de recesso parlamentar, o que se prepara é exactamente
a abertura da sessão legislativa que comece após as “férias”, não a “abertura da sessão
plenária”; assim como a formulação da alínea d) do mesmo artigo 39º também é errónea, porque
o que a Comissão Permanente prepara são apenas as reuniões iniciais da sessão legislativa (face
ao facto de os restantes órgãos com essas competências normais, como a Conferência dos
Líderes Parlamentares e a Mesa, não estarem em funcionamento normal); estas duas alíneas em
vigor adaptaram mal para o regimento a norma vertida na alínea d) do n. o 3 do artigo 102º da
Constituição, que fala da preparação das sessões do Parlamento Nacional, que não são nem as
sessões plenárias (entendidas aqui “sessões” como sinónimo de “reuniões”) nem a abertura de
sessão plenária (quem abre e fecha uma reunião plenária é sempre o Presidente ou quem o
substitua); a alusão do texto constitucional é claramente às sessões legislativas que se iniciarem
após as “férias parlamentares”, porque só o órgão que esteja em funcionamento durante o
recesso as pode preparar e planear, ou pelo menos a sua parte inicial (infelizmente, a prática
parlamentar timorense, com quase ausência de agendas legislativas e planeamento, ainda que
indiciário, da actividade parlamentar, não tem permitido antever, com algum grau de
probabilidade, como irá decorrer a agenda dos trabalhos parlamentares, o que torna a
competência para a preparação da abertura da sessão legislativa de quase nulo alcance
prático); os regimentos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe não incorrem nesse erro técnico
(referem “preparar a abertura da sessão legislativa”) mas o de Cabo Verde, em contrapartida,
tropeça flagrantemente na incorrecção terminológica quando, a propósito do período de
funcionamento da Comissão Permanente, refere que esta funciona “nos intervalos das reuniões
plenárias”.
95 A alínea e) do actual artigo 39º peca por imprecisão terminológica e por não seguir a mesma

linguagem do texto constitucional; deve sempre usar-se os mesmos termos normativos para
designar a mesma realidade jurídica, sob pena de quebra da uniformidade do sistema; ao menos,
que se dissesse – nem isso - a que deslocação (interna ou ao estrangeiro, oficial ou de carácter
privado) nos estamos a referir.

47
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

detidas, nessa matéria, pelo Presidente do Parlamento Nacional e pela comissão


parlamentar competente;96
i) Autorizar e coordenar o funcionamento das comissões parlamentares fora
do período normal de funcionamento do Parlamento Nacional ou durante os
períodos de suspensão da sessão legislativa, se tal for necessário ao bom
andamento dos seus trabalhos;
j) Decidir as reclamações sobre inexactidões dos textos aprovados em
redacção final dos decretos, resoluções e deliberações do Parlamento Nacional;
k) Designar as delegações parlamentares e autorizar as respectivas
deslocações, nos termos previstos no Regimento;
l) Elaborar e alterar o seu regulamento de funcionamento.

CAPÍTULO VII
COMISSÕES PARLAMENTARES97

Secção I
Regras gerais

Artigo 57º
Tipos de comissões parlamentares
O Parlamento Nacional tem:
a) Obrigatoriamente, comissões parlamentares permanentes;
b) Facultativamente, comissões parlamentares eventuais.

Artigo 58º
Composição e dimensão das comissões parlamentares
1 – A composição das comissões parlamentares deve ser proporcional à
representatividade das bancadas parlamentares.
2 – As presidências das comissões parlamentares são, no conjunto,
repartidas pelas bancadas parlamentares na proporção da sua
representatividade.
3 – Para efeitos do número anterior, e sem prejuízo do princípio da
proporcionalidade nele fixado, as bancadas parlamentares escolhem as

96 Por exemplo, pode declarar a perda do mandato em nome da Mesa, mas tem de respeitar o
direito de prévia audição do Deputado na comissão competente.
97 Órgãos colegiais auxiliares, com poderes deliberativos e consultivos (“Estudos”, páginas 84 e 96,

e “Direito Constitucional III”, página 279).

48
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

presidências que lhes caibam, por ordem de prioridade, a começar pela maior
bancada parlamentar.
4 – O número de membros de cada comissão parlamentar e a sua
distribuição pelas diversas bancadas parlamentares são fixados por deliberação
do Plenário, sob proposta do Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares, no início da legislatura.
5 – A deliberação referida no número anterior deve mencionar os
Deputados independentes e únicos representantes de partido político ou
coligação partidária que integram as comissões parlamentares.
6 – Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, cada comissão
parlamentar não pode, em caso algum, ser constituída por mais de nove
membros.98

Artigo 59º

98 As comissões parlamentares não devem ser nem muito pequenas, porque isso pode afectar a
representatividade das forças políticas com assento parlamentar, nem demasiado grandes, sob
pena de desfuncionalidade ou paralisia da actividade parlamentar processual; tem de se buscar
o indispensável equilíbrio, ditado pelo bom senso e pelo sentido da realidade; o limite máximo do
número de membros existe numa larga latitude de parlamentos; na Costa Risca, as comissões
permanentes são compostas por 9 deputados (com excepção de uma, que tem 11), segundo
consulta do texto do regimento constante do portal da Internet do respectivo parlamento;
verifiquei também, compulsadas as versões dos respectivos regimentos, que, com excepção de
uma, todas as restantes comissões do parlamento das Maldivas são compostas por 7 membros,
que no parlamento da Costa do Marfim o número de membros tem de ser igual para todas as
comissões permanentes (só há seis) e que as comissões sectoriais do parlamento da Guiana são
constituídas invariavelmente por apenas 7 membros (4 representando os partidos que apoiem o
Governo e 3 os da oposição); na Guiné-Bissau são compostas por 5 e em São Tomé e Príncipe têm
obrigatoriamente entre 3 e 9 Deputados; alguns regimentos parlamentares adoptam o sistema de
fixação do número de membros de cada comissão por percentagem ou fracção do total de
membros da câmara (casos da Câmara dos Deputados brasileira, onde cada comissão
permanente não tem “mais de doze centésimos nem menos de três e meio centésimos do total
de Deputados”, e do parlamento arménio, cujo regimento estipula que o número de membros em
cada comissão permanente é igual a um nono do número total de Deputados); os casos citados
referem-se às comissões especializadas permanentes, mas considero que a mesma filosofia de
composição das comissões deve presidir à constituição das comissões eventuais; é essa a razão
por que incluí esta norma na parte comum respeitante às comissões parlamentares em geral;
neste sentido se pronuncia “Tools”, a páginas 41, embora a propósito do caso específico das
comissões de inquérito, que, no entanto, também são eventuais ou “ad hoc” (“a committee of
inquiry can be smaller than ordinary committees, although the principle of equitable representation
of parliamentary political groups is maintained”, parecendo-me estar aqui enunciado um princípio
geral de organização parlamentar – sublinhado meu).

49
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Indicação dos membros das comissões parlamentares


1 – A indicação dos Deputados para as comissões parlamentares compete
às direcções das respectivas bancadas parlamentares e deve ser efectuada no
prazo fixado pelo Presidente.
2 – O lugar na comissão parlamentar atribuído à bancada parlamentar
pertence a esta, competindo-lhe substituir em qualquer momento, através de
documento escrito dirigido ao presidente, o Deputado titular do lugar.
3 – Se alguma bancada parlamentar não quiser ou não puder indicar
representantes seus, não há lugar ao preenchimento das vagas por Deputados
de outras bancadas parlamentares.99
4 - Nenhum Deputado pode ser indicado para mais do que uma comissão
parlamentar permanente, salvo se a respectiva bancada parlamentar, pela sua
reduzida dimensão, não puder ter representantes em todas as comissões
parlamentares, sendo que, neste caso, não pode ter, em caso algum, mais do
que dois representantes no total das comissões parlamentares existentes.
5 – Os Deputados únicos representantes de partido político ou coligação
partidária indicam as opções sobre as comissões parlamentares permanentes que
desejem integrar e o Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares,
designa aquela ou aquelas a que o Deputado deva pertencer, acolhendo, na
medida do possível, as opções apresentadas.

Artigo 60º
Mesa das comissões parlamentares
1 - A mesa das comissões parlamentares é constituída por:
a) Um presidente;
b) Um vice-presidente, que coadjuva o presidente no exercício das suas
funções e o substitui nas suas faltas e impedimentos;
c) Um secretário.
2 – Os membros da mesa são eleitos por sufrágio uninominal, na primeira
reunião da comissão parlamentar, que é marcada, convocada e dirigida pelo
Presidente do Parlamento Nacional, o qual assegura o cumprimento do disposto
no n.o 2 do artigo 58º.

Artigo 61º
Competências do presidente
Compete ao presidente de comissão parlamentar, nomeadamente:

99 O n.o 3 é corolário da regra do n.o 2.

50
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Dirigir os trabalhos da comissão;


b) Dar conhecimento à comissão do expediente recebido relevante para
os seus trabalhos;
c) Designar, de entre os membros da comissão, os Deputados que devam
compor as subcomissões e grupos de trabalho criados nos termos do artigo 65º;
d) Impor a ordem e a disciplina nas reuniões da comissão;
e) Designar relatores, de acordo com o disposto no artigo 149º;
f) Assinar as actas ou súmulas da comissão, em conjunto com o secretário, e
a correspondência expedida em nome da comissão.

Artigo 62º
Competências do secretário
Compete ao secretário de comissão parlamentar, nomeadamente:
a) Registar a correspondência recebida e expedida e prestar informações
sobre assuntos que o presidente considerar relevantes;
b) Registar as votações, fazer os devidos escrutínios e anunciar os resultados
apurados;
c) Orientar a preparação da agenda de trabalhos e ordenar a sua
distribuição, nos termos do artigo 73º;
d) Assinar as actas ou súmulas da comissão, em conjunto com o presidente,
e a correspondência expedida em nome da comissão cuja assinatura o
presidente lhe haja delegado.

Secção II
Comissões parlamentares permanentes100

100 Há regimentos que contêm definições de “comissões permanentes”; o regimento da Guiné-


Bissau, por exemplo, refere que são “grupos de trabalho especializados em razão da matéria e
que têm como função preparar as questões a submeter à apreciação do Plenário”; no portal da
Internet do parlamento do Zimbabué, é sublinhado que “a Committee is a group of members
appointed by a House of Parliament from amongst its members to perform a specific function,
which the House has entrusted to it, and to report back to the House on the matter referred to it.
Committees are appointed because Parliament cannot effectively carry out all its functions during
plenary sessions of its Houses. Hence for close scrutiny of issues, Parliament, delegates this function
to Committees, thus enabling Parliament to ensure that issues are debated in more depth, than is
possible during the sitting of any of the two Houses” (www.parlzim.gov.zw) (sublinhado meu),
donde ressalta o papel primordial que as comissões representam nos parlamentos modernos e a
propensão para privilegiar o trabalho em comissão; em documento da Hansard Society de Julho
de 2003 (www.hansardsociety.org.uk) é enfatizado, com inteira propriedade, o papel das
comissões na análise detalhada de iniciativas legislativas (uma comissão permanente, na

51
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 63º
Elenco
1 - O elenco das comissões parlamentares permanentes e as áreas e
competências específicas de cada uma delas são fixados no início de cada
legislatura, por resolução do Plenário, sob proposta do Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares.101 102
2 – Quando se justifique, o elenco das comissões parlamentares
permanentes ou a repartição de competências entre elas pode ser alterada, no
decurso da legislatura, por resolução do Plenário, sob proposta de qualquer
Deputado ou bancada parlamentar ou do Presidente, ouvida a Conferência dos
Líderes Parlamentares.
3 – Para facilitar a comunicação interna de actos e a tramitação de
processos, as comissões parlamentares permanentes podem ser ordenadas e
identificadas, para além da sua designação completa, por códigos numéricos ou
alfabéticos, aprovados pelo Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares.103

perspectiva dos autores do texto, é um órgão “set up to scrutinise a Bill in detail” – sublinhado meu,
para reforçar a necessidade de transferir para as comissões a maior parte do trabalho não pura e
exclusivamente político do parlamento); em “Tools” (página 15) diz-se que “a parliamentary
committee is a group of parliamentarians appointed by one chamber (or both chambers, in the
case of joint committees in a bicameral parliament) to undertake certain specified tasks”, assim
como que “a significant part of parliamentary work is now conducted in committees rather than in
the parent chamber” (sublinhado meu).
101 Não vejo utilidade em continuar a haver um elenco predeterminado de comissões

permanentes, tanto mais que a tendência será sempre a de adaptar a cada legislatura o elenco
da anterior, com as reduções ou ampliações que as necessidades ditarem; não há elenco
prédefinido designadamente nos regimentos de Portugal e de São Tomé e Príncipe.
102 Esta disposição deve valer para o futuro e não torna inválida para a legislatura em curso,

apesar da sua forma, a Deliberação do Parlamento Nacional n.o 4/II, de 7 de Agosto, que criou o
elenco actual de comissões permanentes e regulou a sua composição e competências (o termo
“jurisdição”, para definir as suas áreas específicas de competências, é impróprio e deve ser
corrigido no futuro, porque é normal falar-se em jurisdição a respeito dos tribunais e não das
competências dos órgãos parlamentares).
103 Por exemplo, como ocorre na maioria dos parlamentos e organizações parlamentares

internacionais, por numeração ordinal: 1ª Comissão, 2ª Comissão, e assim sucessivamente.

52
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, em nenhum caso


podem ser criadas mais de oito comissões parlamentares permanentes por
legislatura.104

Artigo 64º
Competências genéricas
Compete às comissões parlamentares permanentes, para além de outras
competências expressamente previstas no Regimento:
a) Apreciar as iniciativas de lei, regimento, referendo, resolução e
deliberação e os tratados, convenções e acordos internacionais submetidos à
sua apreciação, produzindo os competentes relatórios e pareceres;
b) Discutir e votar na especialidade os textos referidos na alínea anterior,
nos casos em que a sua discussão e votação na especialidade não esteja
reservada ao Plenário;
c) Apreciar as petições, queixas e reclamações dirigidas ao Parlamento
Nacional;
d) Inteirar-se dos problemas políticos e administrativos que sejam da sua
competência e fornecer ao Plenário, quando este o julgar conveniente, os
elementos necessários à apreciação dos actos do Governo e da Administração
Pública;
e) Verificar o cumprimento pelo Governo e pela Administração Pública das
leis e resoluções do Parlamento Nacional, podendo sugerir as medidas que
considere convenientes à sua observância;
f) Elaborar relatórios sobre matérias da sua competência;
g) Aprovar os seus próprios regulamentos de funcionamento.

Artigo 65º
Subcomissões e grupos de trabalho
1 - As comissões parlamentares permanentes podem criar, sob proposta de
qualquer dos seus membros e deliberação expressa tomada por maioria, as

104 O excesso de comissões parlamentares permanentes já demonstrou, no decurso da II


Legislatura, afectar seriamente a eficácia, a produtividade, a eficiência e a celeridade
processual, mas sobretudo a qualidade, dos trabalhos das comissões; o limite máximo aqui
proposto, sendo razoável, encontra exemplos similares no Direito Comparado, ficando a meio
caminho entre o elenco da primeira legislatura (7, que também se revelou exagerado) e o da
segunda actualmente existente (9); muitos dos regimentos que logrei consultar pela Internet
estabelecem tectos desta natureza; cito, a título exemplificativo, os casos da Costa Rica, da Costa
do Marfim e das Maldivas (só 6 permitidas), assim como o da Samoa (entre 5 e 10).

53
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

subcomissões e os grupos de trabalho que entenderem adequados ao melhor


desempenho das suas competências próprias, observando a sua composição, na
medida do possível, os princípios estabelecidos no artigo 58º.
2 – A constituição de subcomissões carece de autorização prévia do
Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.105
3 – Compete às comissões parlamentares definir a composição e o objecto
das subcomissões e dos grupos de trabalho.
4 – As conclusões dos trabalhos das subcomissões parlamentares são
apresentadas à comissão parlamentar respectiva.

Artigo 66º
Período de exercício das funções
1 – A designação dos Deputados nas comissões parlamentares
permanentes faz-se por legislatura.
2 – Perde a qualidade de membro de comissão parlamentar permanente o
Deputado que:
a) Deixe de pertencer à bancada parlamentar pela qual foi indicado;
b) O solicite;
c) Seja substituído na comissão, em qualquer momento, pela bancada
parlamentar a que pertença;
d) Deixe de comparecer, sem motivo justificado, a quatro reuniões da
comissão por cada sessão legislativa.

Artigo 67º
Articulação entre as comissões parlamentares permanentes, as delegações
parlamentares e os grupos parlamentares de amizade
As comissões parlamentares competentes em razão da matéria garantem a
articulação com as delegações parlamentares e os grupos parlamentares de
amizade, designadamente:
a) Promovendo, periodicamente, reuniões conjuntas;

105 Compreende-se que assim seja, porque o Presidente, tendo a incumbência de coordenar e
orientar a actividade parlamentar em geral, deve estar ao corrente de todos os sub-órgãos que se
pretendam criar e controlar os ímpetos de criação dos Deputados, sendo o guardião da sua
eficácia e utilidade; a sua intervenção autorizadora pode evitar, por exemplo, a criação de
demasiados sub-órgãos auxiliares que tornem impraticável o seu funcionamento ou afectem o
cumprimento das competências das comissões; a autorização prévia do Presidente é exigida
também nos casos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

54
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) Promovendo a participação nas suas reuniões e actividades


específicas.106

Secção III
Comissões parlamentares eventuais

Artigo 68º
Constituição de comissões parlamentares eventuais e duração da tarefa
1 - O Plenário pode constituir comissões parlamentares eventuais para
qualquer fim determinado, mediante resolução, que determina ainda a duração
do respectivo mandato.
2 – A iniciativa de resolução com vista à constituição de comissões
parlamentares eventuais, salvo as de inquérito, tem de ser exercida por um
mínimo de cinco Deputados ou por uma ou mais bancadas parlamentares.
3 – As comissões parlamentares eventuais extinguem-se:
a) Com a conclusão da tarefa em que hajam sido investidas;
b) Pelo decurso do prazo que lhe haja sido fixado para realizarem a tarefa;
c) Uma vez finda a legislatura.107
4 – Qualquer comissão parlamentar eventual que não tenha concluído a
sua tarefa no prazo estabelecido para o efeito pode requerer e obter, por
deliberação do Plenário, a prorrogação, por período fixo, desse prazo.

Artigo 69º
Competência
1 - Compete à comissão parlamentar eventual apreciar os assuntos objecto
da sua constituição, terminando a sua tarefa e apresentando os respectivos

106 Para incrementar e relançar as relações internacionais e de cooperação com organismos


congéneres, a concertação de actuações com as comissões pode ser uma forma de dinamizar a
acção dos grupos parlamentares de amizade (hoje praticamente inexistente em termos de
institucionalização e organização interna, para não falar do facto, que se lamenta, de até ao
momento só terem sido compostos – que não necessariamente dinamizados – dois dos sete
grupos parlamentares de amizade criados).
107 Eliminei a limitação temporal do mandato das comissões eventuais à sessão legislativa em que

hajam sido constituídas, por não compreender a razão de não poderem funcionar em sessões
legislativas seguintes; é uma restrição que não me parece fazer sentido; acompanho a orientação
do regimento da Câmara dos Deputados brasileira, mais racional, para as suas comissões
“temporárias”, “que se extinguem com o término da legislatura” ou, naturalmente, antes dele
quando alcançado o fim a que se destinam ou expirado o seu prazo de duração (texto
consultado na Internet).

55
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

relatórios, conclusões ou pareceres nos prazos fixados na resolução que a tenha


criado.
2 – Para o cabal desempenho da sua missão, as comissões parlamentares
eventuais podem convidar os assessores, peritos ou técnicos que julgarem
adequados a coadjuvá-las, detendo ainda, com as devidas adaptações, as
competências próprias das comissões parlamentares permanentes.

TÍTULO IV
FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS PARLAMENTARES COLEGIAIS

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70º
Reuniões dos órgãos parlamentares colegiais
1 - Os órgãos parlamentares colegiais reúnem sob marcação e
convocação do respectivo presidente ou quem o substitua.
2 - A marcação e a convocação a que se refere o número anterior são
dispensadas quando se trate de reuniões ordinárias dos órgãos parlamentares
colegiais, devendo, no entanto, as respectivas ordens de trabalhos ser fixadas nos
termos dos artigos seguintes e as agendas ser dadas a conhecer, pelos meios
normais, com a antecedência mínima de vinte e quatro horas em relação à data
e hora previstas para a realização da reunião.108

108 Proponho aqui uma regra especial relativamente ao modo de funcionamento normal de
órgãos colegiais, com duplo objectivo: agilizar e desburocratizar a marcação de reuniões e
habituar os membros dos órgãos a comparecer regularmente às reuniões dos órgãos de que
façam parte, sem possibilidade de se escusarem com a falta de convocação expressa;
conjugada esta norma com a que, mais à frente, obriga os órgãos a reunirem logo pela manhã,
fica assegurado o desenvolvimento normal e eficaz da actividade parlamentar, uma vez que,
apesar dessa vinculação constante, as reuniões ordinárias que sejam curtas, pela falta de assuntos
a tratar, sempre libertarão os Deputados para a realização de outros trabalhos que tenham de
realizar no resto do dia; a dispensa de marcação (fixação da data e hora da reunião) e
convocação (notificação a todos os membros e cada um deles da realização da reunião, com
indicação do dia, hora, local e ordem de trabalhos, a que também é comum chamar “ordem do
dia”) de reuniões ordinárias não afasta, porém, a obrigação de fixar a ordem de trabalhos e
mandar distribuir a respectiva agenda, porque isso é pressuposto da reunião (sobre os conceitos
realçados, vd. “Introdução”, página 120).

56
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Ressalvadas as excepções previstas no Regimento, as reuniões dos


órgãos parlamentares colegiais são públicas.109

Artigo 71º
Ordem de trabalhos de reunião
1 - A ordem de trabalhos consiste na lista dos assuntos a tratar em reunião
do órgão parlamentar colegial a que diga respeito.110
2 – Salvo consenso em sentido contrário, só podem ser objecto de debate e
deliberação os assuntos constantes da ordem de trabalhos, que se torna
inalterável assim que iniciada a reunião a que diga respeito.
3 – A ordem de trabalhos de reunião ordinária pode ser fixada oralmente
numa das reuniões anteriores àquela a que diga respeito ou, no caso de assim
não acontecer, com a antecedência mínima de quarenta e oito horas em
relação à reunião a que se refira.
4 – Não carecem de fixação de ordem de trabalhos as reuniões da Mesa e
da Conferência dos Líderes Parlamentares.
5 – A ordem de trabalhos de reunião extraordinária é fixada no acto de
marcação e convocação, podendo ser dada a conhecer oralmente quando
aquele ocorra, de viva voz, em reunião ordinária anterior à que diga respeito.

Artigo 72º
Reuniões extraordinárias
1 – Salvo marcação e convocação oral em reunião ordinária anterior
àquela a que diga respeito, qualquer reunião extraordinária de órgão
parlamentar colegial é marcada e convocada pelo respectivo presidente com a

109 Regra geral vigente na maioria dos parlamentos, que se pode encontrar nos regimentos
lusófonos.
110 No mesmo sentido vai a definição de “agenda de trabalhos” constante do glossário do

parlamento de Moçambique que se pode consultar em www.asg-plp.org (“enumeração dos


assuntos a tratar no Plenário ou na Comissão”; “plano de trabalho de uma sessão parlamentar”),
assim como do glossário electrónico português (www.parlamento.pt), que define “ordem do dia”
como o “elenco de assuntos tratados na reunião plenária do dia”; o referido glossário parlamentar
moçambicano apresenta também, no entanto, uma definição de “ordem do dia”, como o “rol
de matérias ou assuntos que devem ser tratados na Assembleia, durante a sessão do Plenário,
sobre as quais se devem efectuar as deliberações”, não se vislumbrando, pois, com clareza em
que é que este conceito se distingue do de “agenda de trabalhos” (que eu proponho que seja a
expressão física e documental da ordem de trabalhos).

57
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

antecedência mínima de vinte e quatro horas em relação à data e horas


previstas para a sua realização.
2 – A ordem de trabalhos de reunião extraordinária é fixada no acto de
marcação e convocação, sendo a agenda imediatamente elaborada e
distribuída, depois de rubricada pelo respectivo presidente, pelos serviços de
apoio competentes, valendo como convocatória a sua recepção efectiva pelos
seus destinatários.
3 – Sem prejuízo do disposto no n.o 1, os Deputados que tenham faltado à
reunião onde qualquer reunião extraordinária haja sido marcada e convocada
oralmente ou não tenham estado presentes no momento da respectiva
convocatória oral são expressamente convocados para a sua realização por
qualquer meio de comunicação expedito, nomeadamente telefónico, que
assegure o seu efectivo conhecimento pelo destinatário.111

Artigo 73º
Agenda de reunião
1 – A agenda é o documento escrito onde se contém a ordem de trabalhos
de determinada reunião de órgão parlamentar colegial.112
2 – A agenda é preparada pelos serviços de apoio competentes sob a
orientação do presidente do respectivo órgão parlamentar colegial, tornando-se
válida e vinculativa assim que rubricada por ele.
3 – A agenda, depois de rubricada nos termos do número anterior, é
imediatamente distribuída, pelos serviços de apoio competentes, a todos os
membros do órgão parlamentar respectivo e posta à disposição dos órgãos de
comunicação social e do público em geral nos locais próprios a isso destinados.

Artigo 74º
Acta ou súmula de reunião
1 - De cada reunião de órgão parlamentar colegial, com excepção da
Mesa113, é sempre lavrada acta ou súmula114, datada e assinada pelo seu

111Encontramos norma paralela no regimento de São Tomé e Príncipe.


112Contra alguma doutrina que faz coincidir os conceitos de “ordem de trabalhos” e “agenda”
(por exemplo, “Introdução”, página 120), preferi fazer a distinção, que entendo mais clarificadora
e funcional, entre o primeiro conceito, de natureza substantiva, e o segundo, que constitui a
expressão física e material da ordem de trabalhos; na Guiné-Bissau, a ordem do dia das reuniões
plenárias é distribuída, com 15 dias de antecedência, em “folhas avulsas” (será o que
corresponde à agenda escrita).

58
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

presidente e pelo respectivo secretário, que contém um resumo do que nela tiver
ocorrido, indicando, pelo menos, os seguintes elementos:
a) Data e local da reunião;
b) Membros presentes;
c) Indicação da ordem de trabalhos;
d) Horas de início e encerramento da reunião;
e) Assuntos apreciados;
f) Deliberações tomadas e resultados das votações realizadas;
g) Declarações de voto e outras declarações ou documentos que devam
ser anexados à acta ou súmula.115
2 – O registo sonoro das reuniões do Plenário é, todavia, integralmente
transcrito em papel, através dos meios mecânicos e electrónicos que estiverem à
disposição dos serviços de apoio.
3 – As actas ou súmulas de órgãos parlamentares colegiais podem ser
consultadas, a todo o tempo, por qualquer Deputado.116

CAPÍTULO II
REUNIÕES

Secção I
Trabalhos do Plenário

113 Entendo que a Mesa, sendo embora órgão colectivo, deve ter uma forma mais informal de
funcionar compatível com a sua função auxiliar do Presidente (atente-se no teor dos propostos
artigos 40º e 41º).
114 Direi, em termos simples, que “acta” é o registo escrito das ocorrências de uma reunião e

“súmula” uma acta abreviada, resumida, ou seja, uma acta mais simples; o conceito de “acta”
pressupõe, pois, um registo mais completo das ocorrências de uma reunião; nesse sentido vai a
noção de “acta” incluída no glossário parlamentar moçambicano que se encontra em www.asg-
plp.org, como “registo integral e detalhado do que se tratou numa sessão ou assembleia”; o
mesmo glossário define “síntese das sessões” como “documento que se produz durante as sessões
do Parlamento, onde consta, de forma resumida, o conteúdo das discussões do plenário”, o que
tem correspondência, “grosso modo”, no conceito de “súmula” que utilizo.
115 Estes são os elementos mínimos de uma acta que a teoria geral do funcionamento dos órgãos

colegiais costuma considerar como indispensáveis; por isso, o Decreto-Lei n.o 17/2006, de 26 de
Julho, os contempla no seu artigo 29º (esse diploma diz respeito à Estrutura Orgânica da
Administração Pública); também o Breve Guia de Procedimentos Administrativos em vigor no PN,
aprovado em 2002, contém orientações idênticas a este respeito.
116 Norma idêntica existe, designadamente, no regimento cabo-verdiano, embora só a respeito

das comissões.

59
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 75º
Dias das reuniões plenárias
1 - O Plenário reúne ordinariamente às segundas e terças-feiras.
2 - O Plenário reúne ainda extraordinariamente, fora dos dias referidos no
número anterior, sempre que marcado e convocado pelo Presidente ou quem o
substitua, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.
3 – A cada dia marcado para reunião do Plenário corresponde uma
reunião plenária, podendo, em casos excepcionais, ocorrer mais do que uma
reunião no mesmo dia.117

Artigo 76º
Horário das reuniões plenárias
1 - Salvo estipulação excepcional de horário diferente, as reuniões plenárias
decorrem dentro do horário a que se refere o n.o 1 do artigo 27º, mas terminam
antes da hora normal de encerramento nele prevista assim que se mostrar
esgotada a respectiva ordem de trabalhos.
2 - O Presidente determina, segundo o seu prudente critério, os intervalos
que se revelem necessários, nomeadamente para descanso, restabelecimento
da ordem na sala e garantia do bom andamento dos trabalhos, com a duração
que entender adequada.118
3 – O Plenário pode deliberar, sob proposta do Presidente ou a
requerimento de qualquer Deputado, o prolongamento, com hora fixa, da hora

117 Esta norma visa dissipar dúvidas (que efectivamente já foram colocadas) a este respeito,
nomeadamente na perspectiva de se saber se tempos de palavra não utilizados em determinado
dia podem ser transportados para o dia seguinte (embora a Mesa deva evitar, em contrapartida,
terminar uma reunião sem os tempos se encontrarem precludidos e ainda houver Deputados que
queiram usar da palavra e disponham de tempo para o efeito); com esta precisão, conjugada
com as restantes normas propostas, isso deixa de ser possível; a ressalva, por sua vez, tem em vista,
designadamente, o caso de curta sessão solene seguida ou antecedida de reunião plenária
normal.
118 Esta norma permite ajustar a previsão normativa actual (que obriga a intervalos em

determinado horário, mas que não tem sido cumprida) ao que efectivamente tem constituído a
prática parlamentar e conferir maleabilidade suficiente à Mesa para decidir a duração dos
intervalos, sendo certo que os Deputados, mesmo quando as reuniões estão a decorrer, são livres
de sair da sala por breves momentos; a obrigação que neles impende tem a ver com a presença
na Sala para assegurar o quórum deliberativo e votar, já que não são obrigados a intervir nos
debates (a participação nas discussões é uma mera faculdade, não um dever, o que já não
acontece com o voto); a fonte principal onde fui encontrar os motivos exemplificativos para os
intervalos é o regimento de São Tomé e Príncipe.

60
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

normal de encerramento, observando-se, com as devidas adaptações, o regime


previsto no n.o 2 do artigo 27º.

Artigo 77º
Marcação e convocação das reuniões plenárias
A marcação e a convocação das reuniões plenárias seguem o regime
previsto nos artigos 70º e 72º.

Artigo 78º
Fixação da ordem de trabalhos das reuniões plenárias ordinárias
1 – A ordem de trabalhos de reunião plenária é fixada pelo Presidente de
acordo com as prioridades definidas no artigo seguinte, ouvida, a título indicativo,
a Conferência dos Líderes Parlamentares.
2 – A falta de audição da Conferência dos Líderes Parlamentares, por
impossibilidade de a reunir, não impede o Presidente de livremente fixar a ordem
de trabalhos de reunião plenária, em concertação com os restantes membros da
Mesa.
3 – A parte inicial da ordem de trabalhos, organizada de modo a não
ultrapassar duração que afecte o tratamento das restantes matérias, é reservada
a anúncios e informações que o Presidente considere pertinentes ou cuja
comunicação seja obrigatória.119
4 - Os restantes assuntos a tratar são incluídos na ordem de trabalhos
segundo a sequência de prioridades estabelecida no artigo seguinte.
5 – Acerca dos assuntos previstos no n.o 3, a cada Deputado que pretenda
pronunciar-se só é permitido o uso da palavra pelo tempo máximo de um minuto,
circunscrita ao esclarecimento de dúvidas, metodologias ou procedimentos
relativos à matéria em questão.
6 – Sem prejuízo da regra da inalterabilidade da ordem de trabalhos
prevista na segunda parte do n.o 2 do artigo 71º, a ordem de trabalhos de reunião
plenária pode ser modificada por consenso ou sempre que, nos casos

119 É aquilo a que vulgarmente se chama “expediente”; exemplo de comunicação obrigatória ao


Plenário que decorre da Constituição é a mensagem do Presidente da República a dar conta de
deslocação ao estrangeiro de carácter não oficial (viagem privada) com duração inferior a 15
dias (n.o 3 do artigo 80º da Constituição); com a formulação proposta, deixa de ser obrigatória a
leitura, que se tem revelado fastidiosa e muitas vezes injustificada, de todo o expediente, ficando
ao critério do Presidente determinar se deve ser feita leitura, sumário ou mera menção do assunto
em causa.

61
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

expressamente previstos no Regimento, seja possível aditar-lhe outros assuntos não


previamente previstos.120
7 – No caso de a ordem de trabalhos ou a sequência das matérias a tratar
sofrer alteração, os serviços de apoio competentes elaboram e distribuem
imediatamente, assim que rubricada pelo Presidente, nova agenda corrigida.
8 – A agenda em que consiste a ordem de trabalhos enumera os assuntos
nela incluídos por sequência numérica e ordem aritmética, podendo cada um
dos pontos ser divididos em sub-números ou alíneas.121

Artigo 79.º
Prioridades das matérias a atender na fixação da ordem de trabalhos
1 - Na fixação da ordem de trabalhos de reuniões plenárias, o Presidente dá
prioridade, pela ordem de precedência indicada, às seguintes matérias:
a) Autorização ao Presidente da República para declarar a guerra ou fazer
a paz, nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis;
b) Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou do
estado de emergência e apreciação da sua aplicação, nos termos
constitucionais, legais e regimentais aplicáveis;122

120 É o caso da apresentação, discussão e votação urgente de votos nos termos do artigo 97º; a
norma proposta consagra uma praxe parlamentar que vinha sendo seguida; aconteceu, por
exemplo, a respeito dos votos de solidariedade e pesar aprovados a respeito dos cataclismos
naturais que assolaram regiões da China e do Myanmar.
121 Proponho a abolição do período de antes da ordem do dia, preconizando a organização da

agenda por pontos numerados, de 1 até ao último que aritmeticamente corresponder ao total de
assuntos nela incluídos, de acordo com a ordem de trabalhos fixada; simplifica a organização da
agenda e evita a marcação de reuniões plenárias, como até agora tem acontecido, vazias de
conteúdo substantivo ou com ordens do dia forçadas através da inclusão de meros anúncios ou
expediente que não constituem matérias de fundo com dignidade para serem incluídas na ordem
do dia; terminam, pela minha proposta, os conceitos de período de antes da ordem do dia e
ordem do dia, num processo que rotulo de simplificado; embora consciente de que em muitos
parlamentos a distinção entre o período de expediente e o dos assuntos da ordem do dia ainda
fará sentido, creio haver muito mais vantagens na simplificação sugerida; a Câmara dos
Deputados brasileira chega a distinguir entre “pequeno expediente”, “grande expediente” e
“ordem do dia”, mas, em contrapartida, nas agendas da União Inter Parlamentar, por exemplo,
não há qualquer distinção (vejam-se exemplos de agendas em www.ipu.org).
122 A “suspensão das garantias constitucionais” constante do actual artigo 48º do Regimento não

tem autonomia para poder ser listada, porque a suspensão do exercício de direitos, liberdades e
garantias só pode ter lugar no quadro do estado de sítio ou do estado de emergência (artigo 25º
da Constituição); foi eliminada essa expressão, assim como a prioridade que se refere a “assuntos
do Regimento do Parlamento Nacional”, porque é ambígua, confusa e abrangente (o que são
“assuntos regimentais”? Tudo o que está no regimento, incluindo todos os processos legislativos e

62
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Apreciação do Programa do Governo;


d) Discussão e votação de votos de confiança ou moções de censura ao
Governo;
e) Discussão e votação das propostas de lei do Plano e do Orçamento
Geral do Estado; 123
f) Discussão e votação de iniciativas originárias de lei inseridas na
competência legislativa exclusiva do Parlamento Nacional, incluindo as que se
destinem à concessão de amnistias e perdões genéricos;124
g) Discussão e votação de propostas de lei de autorização legislativa e
iniciativas originárias de lei que não se insiram na competência legislativa
exclusiva do Parlamento Nacional;125
h) Apreciação e votação de tratados, convenções e acordos
internacionais apresentados pelo Governo, para aprovação, ratificação ou
denúncia, consoante os casos, ao Parlamento Nacional;
i) Debates com o Governo;

não legislativos, todo o tipo de iniciativas, todas as questões relacionadas com o mandato
parlamentar, tudo o que tem a ver com a actividade parlamentar, como relatórios, pareceres,
votos, requerimentos, etc.? Qual é o alcance desta prioridade e em que é que se destaca das
restantes, se o conceito permite abarcar quase tudo o que se relacione com a actividade
parlamentar e o cumprimento das competências do parlamento?).
123 Apreciação e deliberação obrigatória (artigo 95º, n. o 3, alínea b), da Constituição);

infelizmente, não tem sido formalmente apresentada proposta de lei do Plano, que se crê anual
(embora o seu conteúdo não tenha natureza normativa, é comum, em sistemas idênticos ao
timorense, que a iniciativa legislativa tenha um articulado limitado à aprovação do anexo em que
consista o plano propriamente dito, habitualmente não redigido por artigos); não basta que o
Governo, como aconteceu com o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2009, qualifique um
dos documentos explicativos daquele como “Plano do Estado para 2009”, porque a Constituição
obriga a que o Plano “tout court” conste de lei autónoma, ainda que concomitante, da do OGE.
124 É a chamada reserva absoluta de competência legislativa do PN, que consiste naquela zona

de matérias onde só o Parlamento Nacional pode legislar, embora sob iniciativa interna (dos
Deputados ou bancadas parlamentares) ou externa (do Governo); nunca compreendi a razão da
autonomização em alínea à parte, como competência política, da concessão de amnistias e
perdões genéricos, seja em Timor-Leste (artigo 95º, n.o 3, alínea g), da Constituição), em Portugal,
em São Tomé e Príncipe, na Guiné-Bissau ou em Moçambique (in “Constituições”, páginas 76-266-
412-498), porque só podem ser decretadas através de lei, que se insere na área de reserva
absoluta de competência legislativa do parlamento.
125 Estão aqui incluídos os domínios da reserva relativa de competência legislativa do PN (as

matérias em que pode delegar no Governo, sob proposta deste, a competência para legislar) e
da reserva concorrencial (aquelas em que, por exclusão de partes das reservas absoluta e relativa
de competência legislativa parlamentar e da competência legislativa exclusiva do Governo,
ambos podem livremente legislar, decretando o acto legislativo o órgão que primeiro o fizer).

63
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

j) Apreciação de diplomas legislativos do Governo;


k) Deliberação sobre o relatório de actividades do Governo;
l) Deliberação sobre relatório ou relatórios de execução do Plano e do
Orçamento Geral do Estado;126
m) Discussão e votação de projectos de resolução;
n) Discussão e votação de projectos de deliberação.
2 – São ainda incluídos na ordem de trabalhos, atendendo ao respectivo
grau de urgência ou necessidade de tratamento e às disposições regimentais
aplicáveis, pela ordem que for considerada adequada, antes ou depois das
matérias constantes do número anterior, os seguintes assuntos:127
a) Debates de urgência, nos termos dos disposto no artigo 96º;
b) Declarações políticas, nas condições estabelecidas no artigo 95º;
b) Deliberações sobre o mandato parlamentar;
c) Recursos das decisões da Mesa ou do Presidente ou de decisões sobre
reclamações apresentadas àqueles órgãos;
d) Assentimento à ausência do Presidente da República do território
nacional;
e) Apreciação de relatórios ou informações a apresentar obrigatoriamente,
nos termos constitucionais ou legais, por órgãos do Estado;128
f) Designação de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional;
g) Eleições suplementares de membros da Mesa;
h) Ratificações de nomeações de titulares de cargos exteriores ao
Parlamento Nacional;129

126 O uso do plural justifica-se porque, na maior parte dos casos, conforme a prática demonstra,
não há um só relatório, mas vários, normalmente de periodicidade trimestral, de acordo com as
regras legais que regem a gestão financeira e orçamental (ainda baseadas em regulamentos da
UNTAET); é obrigatória não só a apreciação como também a deliberação expressa, o que se
aconselha de futuro, porque o Parlamento Nacional tem omitido essa deliberação e, se não
delibera, mesmo que a deliberação seja juridicamente inócua, contraria os comandos
constitucionais aplicáveis (artigo 95º, n.o 3, alínea d), da Constituição).
127 A ordenação das matérias do n.o 1 tem de ser respeitada entre si, mas as matérias do n.o 2 –

salvo nos caso de prioridade absoluta, expressamente previstos no Regimento, em que não é
admitida a inclusão de qualquer outro assunto (Programa do Governo, por exemplo) – podem
aparecer primeiro (por exemplo, declarações políticas) antes da abordagem dos assuntos mais
importantes, mas que não sejam de apreciação urgente (por exemplo, a discussão e votação da
generalidade das iniciativas legislativas).
128 Caso da informação anual a prestar ao Parlamento Nacional pelo Procurador-Geral da

República (artigo 133º, n.o 4, da Constituição).


129 Caso da prevista no artigo 95º, n.o 3, alínea a), da Constituição.

64
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

i) Distribuição e apreciação de relatórios de deslocações de delegações


parlamentares ao estrangeiro e relatórios de visitas efectuadas por comissões
parlamentares dentro do território nacional;
j) Distribuição e apreciação de relatórios ou outros documentos
apresentados ao Parlamento Nacional, sem carácter de obrigatoriedade, por
entidades exteriores que se destinem ao seu conhecimento;
k) Informações e comunicações provindas das comissões parlamentares;
l) Constituição de comissões parlamentares permanentes e eventuais;
m) Constituição de delegações parlamentares;
n) Inquéritos parlamentares, nos termos dos artigos 246º e 247º;
o) Alterações ao Regimento, através de projectos de regimento;
p) Quaisquer outras matérias inseridas nas competências de fiscalização,
orientação, controlo ou decisão política, meramente deliberativas ou de
organização e funcionamento do Parlamento Nacional.
3 – Quando, relativamente às matérias previstas no número anterior, não
existam disposições próprias do Regimento regulando o uso da palavra pelos
Deputados, estes dispõem da faculdade de intervir nos termos do disposto no n.o
5 do artigo anterior.130

Artigo 80.º
Prioridade a solicitação das bancadas parlamentares e do Governo
1 – As bancadas parlamentares e o Governo podem solicitar prioridade
para o tratamento de assuntos de interesse nacional de resolução urgente ou
inadiável.
2 – A concessão da prioridade solicitada é decidida pelo Presidente,
ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, podendo os requerentes
recorrer da decisão para o Plenário.
3 – A prioridade solicitada não pode prejudicar a sequência de matérias
estabelecida no n.o 1 do artigo anterior.

Artigo 81º
Direitos das bancadas parlamentares à fixação da ordem do dia
1 – Sem prejuízo da observância da escala de prioridades fixada no n.o 1 do
artigo 79º, cada bancada parlamentar tem direito a fixar a ordem de trabalhos
de:

130Cláusula residual sobre tempos de uso da palavra acerca de questões de menor relevo
constitucional ou regimental.

65
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Duas reuniões plenárias por sessão legislativa, quando o número de


Deputados que a componha seja igual ou superior a vinte;
b) Uma reunião plenária por sessão legislativa, quando o número de
Deputados que a componha seja igual ou superior a dez, mas inferior a vinte;
c) Duas reuniões plenárias por legislatura, quando o número de Deputados
que a componha seja inferior a dez.131
2 – Os Deputados únicos representantes de partido político ou coligação
partidária têm direito a fixar a ordem de trabalhos de uma reunião plenária por
legislatura, salvaguardada sempre a escala de prioridades fixada no n.o 1 do
artigo 79º.
3 – O exercício do direito previsto no presente artigo é anunciado ao
Presidente, em reunião da Conferência dos Líderes Parlamentares, até ao dia 15
de cada mês, para que possa produzir efeitos no mês seguinte.

Artigo 82º
Ordem de trabalhos das reuniões plenárias extraordinárias
Nas reuniões plenárias extraordinárias só há lugar ao tratamento dos
assuntos que hajam motivado a sua marcação e convocação, não sendo
possível alterar a respectiva agenda de trabalhos, mesmo nos casos previstos no
n.o 6 do artigo 78º.132

Artigo 83º
Quórum de funcionamento133

131 Não concordo com o actual artigo 49º do regimento, ao limitar este direito às bancadas
parlamentares da oposição, porque não é por se ser apoiante do Governo que não se tem uma
agenda parlamentar própria; a norma que proponho respeita o princípio da representatividade
parlamentar, que vale por si e não está dependente do apoio ao Governo, e distribui o direito
consagrado de acordo com um critério de proporcionalidade aproximada, tendo em
consideração um nível de grandeza mínimo.
132 A ordem de trabalhos corresponde, nas reuniões extraordinárias, aos assuntos específicos

constantes da respectiva convocatória (vd. “Constituição Anotada – Tomo II”, página 600).
133 O Direito Regimental brasileiro chama-lhe “quórum de presença” (segundo o glossário

constante da 3ª edição do “Manual de Atuação Parlamentar” da Câmara dos Deputados,


editado em 2002 para a Legislatura de 2003-2007); “Dicionário”, a páginas 722, define-o como “a
exigência da presença da maioria do número legal de membros, ou outro número exigido por lei,
para que uma reunião possa validamente funcionar”; João Caupers chama-lhe quórum de
reunião (“Introdução”, página 121); Jorge Miranda refere o “número mínimo de titulares ou
membros presentes para o órgão colegial reunir” (quórum só para a discussão) ou “para
deliberar” (quórum para a deliberação) (“Manual”, Tomo V, página 77).

66
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - O Plenário funciona com a presença de pelo menos quinze Deputados,


contando para este efeito os membros da Mesa que se encontrem a dirigir os
trabalhos.134
2 - O quórum de funcionamento só tem de se verificar no início da reunião
plenária, que começa, à hora marcada, assim que formado aquele quórum.135

Artigo 84º
Quórum de deliberação136
A validade das deliberações depende da presença de mais de metade
dos Deputados em efectividade de funções137.

Artigo 85º
Deliberações

134 Quórum fixo, já que há um número certo predeterminado (vd. “Manual”, Tomo V, página 77).
135 Quórum de funcionamento (também conhecido por quórum de reunião) é o número mínimo
de membros do órgão colegial exigível para poder funcionar, sem deliberar; o glossário
electrónico português (em www.parlamento.pt) caracteriza-o exactamente como o “número
mínimo de Deputados necessário para que o Plenário possa funcionar”; não se justifica continuar
a existir um quórum de funcionamento igual ao deliberativo, sabendo-se das dificuldades
habituais, que se verificam na generalidade dos parlamentos, em formar os quóruns necessários;
também é habitual, em termos de Direito Comparado, o quórum de funcionamento ou reunião
ser bem mais baixo do que o de decisão, assim como só ser obrigatória a sua verificação no início
da reunião (sobre os conceitos de quórum de reunião e de deliberação, vd. “Introdução”, página
122).
136 “Número mínimo de Deputados necessário para que o Plenário e comissões possam tomar

deliberações”, como é definido no glossário que consta da página “web” do parlamento


português (www.parlamento.pt), ou “número mínimo de votos exigidos para que um órgão
colegial possa deliberar validamente sobre um certo assunto” (“Introdução”, página 122)
(sublinhado meu).
137 Em todo o texto foi eliminado o conceito de “Deputados eleitos”, porque não se conjuga com

as disposições constitucionais; todas as maiorias absolutas e qualificadas impostas pela


Constituição têm por referência os “Deputados presentes” e os “Deputados em efectividade de
funções” (casos dos artigos 88º,112º, 154º e 155º), nunca os Deputados “eleitos”; de todo o modo,
dificilmente ocorrerá situação em que o número de Deputados em efectividade de funções (os
que não tenham o mandato suspenso, não hajam renunciado ao mandato ou não o tenham
perdido) não corresponda ao dos eleitos (porque, em regra, as vagas são preenchidas pelos
substitutos, os Deputados que faltem justificadamente não deixam de estar em efectividade de
funções e os que faltem por mais de determinado período podem ser substituídos
temporariamente).

67
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - As deliberações são tomadas, por votação, à pluralidade de votos dos


Deputados presentes, salvo nos casos, previstos na Constituição, na lei ou no
Regimento, em que se exija maioria absoluta ou qualificada.138 139
2 - As abstenções não contam para o apuramento da maioria dos votos.
3 - É considerada “maioria simples ou relativa”, equivalente à primeira parte
do n.o1, a que reúne mais votos em certo sentido do que em qualquer outro.140
4 – Entende-se por “maioria absoluta” a equivalente a mais de metade dos
votos expressos, arredondado o número não inteiro que corresponder à metade
para o número inteiro imediatamente seguinte, salvo disposição especial que
disponha de forma diferente.141

138 A primeira parte contém a regra (maioria relativa dos presentes, desde que verificado o
quórum deliberativo) e a segunda as excepções (maioria absoluta e maioria qualificada) da
tomada de deliberações; vigora, pois, o princípio da maioria relativa na tomada de deliberações
(cfr. “Manual”, Tomo V, página 78).
139 Redacção mais esclarecedora do que a anterior em matéria das maiorias exigíveis para

deliberar; a regra é sempre a da maioria simples (maioria de votos a favor, superior à dos votos
contra).
140 Esta formulação combina os conceitos que lhe serviram de fonte, encontrados em “Manual”,

Tomo V, páginas 77-78 (“mais votos em certo sentido do que em qualquer outro”), “Dicionário”,
página 557 (“a que reúne um número mais elevado de votos independentemente de qualquer
referência à metade do total”), e “Introdução”, página 123 (“consiste em apurar a vontade do
órgão fazendo coincidir esta com a expressa pelos votantes que se pronunciaram no sentido que
recolheu mais votos”); já não me parece correcta a distinção que encontrei no glossário do
parlamento de Moçambique (em www.asg-plp.org) entre maioria relativa (“simples superioridade
numérica dos votos”) e maioria simples (“a que compreende mais da metade dos votos apurados
dos votantes que compareceram, sem levar em conta a totalidade dos que possam votar”).
141 O conceito aqui normativizado – normalmente na perspectiva da exigência de votos

favoráveis (em teoria, há – embora sem efeitos destacáveis - maiorias absolutas de votos contra) -
concilia noções encontradas em “Manual”, Tomo V, página 77 (“mais de metade dos votos
expressos ou dos votos validamente expressos”), “Dicionário”, página 557 (“quando a maioria
corresponde a mais de metade do número de votos”), e “Introdução”, página 123 (“identifica a
vontade do órgão com aquela que foi expressa por mais de metade dos votantes”); a segunda
parte da norma tem o alcance prático de desfazer dúvidas quando a metade não corresponde a
um número inteiro (essas dúvidas já se colocaram durante a I e a II Legislaturas); o conceito que
adopto identifica-se, assim, com a metade real e descola-se daquela conceptualização que
concebe a maioria absoluta como “metade mais um”; salvo se norma expressa utilizar esta
fórmula, deve entender-se que maioria absoluta do colégio parlamentar eleitoral de 65 é 33, e
não 34 (que se imporia se fosse seguida a orientação de “metade mais um”, porque não há
“meios Deputados” e, sendo a metade um número que não é inteiro - 32,5 -, forçosamente mais
um Deputado significaria pelo menos 34); o glossário parlamentar moçambicano (em www.asp-
plp.org) contém uma formulação de “maioria absoluta” mais próxima da que defendo, embora

68
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

5 – Considera-se “maioria qualificada” a que equivale a um número de


votos expressos por uma certa fracção ou percentagem dos votantes superior à
maioria absoluta, arredondado o número não inteiro que corresponder a tal
fracção ou percentagem para o número inteiro imediatamente seguinte.142 143
6 – Significa “unanimidade” a totalidade dos votos favoráveis dos
votantes.144
7 – Para efeitos do Regimento, entende-se ainda por decisão ou
deliberação tomada por “consenso” aquela que o for sem qualquer oposição ou
discordância.

Artigo 86º
Direito de voto e dever de votar
1 – Cada Deputado tem um voto.145

hesitante (“aquela que é formada por mais de metade dos votos”; “número igual ou superior à
metade do total dos votos e mais um ou mais meio”).
142 As fontes da formulação deste conceito foram, uma vez mais, o “Manual”, Tomo V, página 78

(“maioria agravada” – isto não é suficiente para uma definição completa e inequívoca),
“Dicionário”, página 557 (“maioria agravada para certa deliberação” – reproduz a noção
concebida por Jorge Miranda”), e “Introdução”, página 123 (“faz corresponder a vontade do
órgão àquela que foi expressa por uma certa fracção dos votantes superior à maioria absoluta” –
esta redacção é a que melhor define, em abstracto, a noção de maioria qualificada e a que
melhor responde à minha preocupação de delimitação do âmbito de aplicação das diversas
maiorias); a segunda parte da norma, à semelhança do que se passa com a maioria absoluta,
tem o alcance prático de esclarecer o que se passa quando a fracção ou percentagem especial
coincida com número não inteiro; a definição que consta do glossário da página “web” do
parlamento português (www.parlamento.pt) – “tipo de maioria que corresponde ao número de
votos, superior a dois terços ou quatro quintos dos Deputados em efectividade de funções” - não
é, a meu ver, correcta, porque não a formula em abstracto, mas sim em relação a exemplos de
fracções em que a maioria qualificada (também já a encontrei caracterizada como “reforçada”)
pode consistir; serão os mais comuns, mas não teoricamente os únicos possíveis, pois pode haver
um leque infindável de possibilidades (dois terços, três quartos, três quintos, quatro quintos, etc.);
existe, no entanto, uma maioria absoluta que não se encaixa rigorosamente na noção que
proponho, porque na prática redunda numa maioria qualificada ou agravada – trata-se da
“maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções”, que de facto é mais do que a
“maioria absoluta dos Deputados presentes” (vd. “Direito Constitucional III, página 309); não deixa
de ser, no entanto, uma maioria absoluta, mas de determinado colégio eleitoral.
143 O regimento nicaraguense é dos poucos que se atreve a conceptualizar, em disposição

especialmente dedicada a isso, os conceitos de “maioria simples”, “maioria absoluta” e “maioria


qualificada”.
144 Baseei-me no conceito que consta de “Introdução”, a páginas 114.
145 A regra do “one man one vote”, aqui estipulada, só sofre a compreensível excepção da

Conferência dos Líderes Parlamentares, porque neste órgão cada líder tem o peso do conjunto de

69
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Nenhum Deputado pode deixar de votar, sem prejuízo do direito de


abstenção.146

Artigo 87º
Forma das votações
A votação reveste uma das seguintes formas:
a) Votação normal;147
b) Votação nominal;
c) Votação por escrutínio secreto.

Artigo 88º
Votação normal
1 - A votação normal é a forma usual de votar, que consiste em se
perguntar quem vota a favor, quem vota contra e quem se abstém.148
2 – O voto é exercido pelos Deputados através do sistema de braço no ar,
segundo o qual cada Deputado indica o sentido do seu voto levantando um dos
braços à pergunta da Mesa, prevista no número anterior, correspondente à sua
intenção de voto.
3 – A indicação da intenção de voto, pelo sistema de braço no ar previsto
no número anterior, pode ser feita simultaneamente para os três sentidos de voto
previstos no n.o 1 através da exibição de cartões de três cores diferentes, cada
umas das quais correspondente a determinado sentido de voto, empunhando
cada Deputado o cartão com a cor equivalente ao sentido de voto escolhido.149

Deputados que representa; assim sendo, o número de votos a que cada um tem direito deve ser
proporcional à representatividade do respectiva bancada.
146 Esta regra compagina-se com o dever de os Deputados votarem; a abstenção, embora

formulada como excepção, não o é verdadeiramente, ao contrário do que acontece com as


eleições gerais (em que a abstenção significa o acto passivo de nem sequer se exercer o direito
de votar, o acto de simplesmente não votar, o acto negativo de o eleitor nem sequer se deslocar
ao local de votação); no caso da votação parlamentar, a abstenção é uma manifestação
expressa de vontade e constitui ela própria um voto com um sentido determinado, embora de
indiferença entre o voto favorável e o voto contra; tem sempre, no entanto, uma expressão de
vontade política com um significado mais ou menos intenso consoante a situação concreta em
que ocorra.
147 Usei o adjectivo “normal” – em vez de “ordinária” - para evitar a coincidência com a

nomenclatura empregue a propósito das reuniões dos órgãos colegiais.


148 O regimento cabo-verdiano contém preceito idêntico, ainda mais preciso, dado referir a

ordem das perguntas com as expressões, sucessivas, “primeiro”, “em seguida” e “finalmente”.
149 A modalidade de votação de braço no ar prevista no n.o 3 caiu na “praxis” parlamentar e

deve ter expressão normativa, embora eu ache que possibilita um mais fácil escrutínio a hipótese

70
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – A Mesa deve assegurar a contagem dos votos pelos três tipos de


intenções de que se podem revestir e discriminar o número de Deputados de
cada bancada parlamentar, Deputados independentes e Deputados únicos
representantes de partido político ou coligação partidária que tenham votado
em cada um dos sentidos, anunciando imediatamente os resultados apurados.150

Artigo 89º
Votação nominal
1 – A requerimento potestativo de vinte Deputados, a votação é nominal
quando incida sobre as seguintes matérias;
a) Autorização para declarar a guerra ou fazer a paz;
b) Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou estado
de emergência;
c) Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais do Presidente da
República.
2 – Pode ainda ter lugar a votação nominal sobre quaisquer outras matérias
se o Plenário ou a Conferência dos Líderes Parlamentares assim o deliberarem por
votação normal.
3 – A votação nominal é feita por chamada, um a um, dos Deputados,
segundo a ordem alfabética dos seus nomes, indicando o Deputado chamado,
de viva voz, o sentido do seu voto.

Artigo 90º
Votação por escrutínio secreto
A votação por escrutínio secreto só tem lugar:
a) Em eleições;
b) Para tomada de deliberações que, segundo o Regimento, o Estatuto dos
Deputados ou a lei, devam observar essa forma;

– que consiste em dividir a votação por três momentos sucessivos, mas distintos – prevista no n.o 2;
o recurso à forma do n.o 2 tem mais potencialidade para evitar divergências entre o resultado
anunciado e o resultado real (que já ocorreram na história parlamentar timorense) do que a do n. o
3.
150 Acho que é um dado relevante e indispensável, sob o ponto de vista político, que a Mesa não

tem apurado, saber o sentido de voto dos Deputados de cada agrupamento político, se não os
seus nomes, pelo menos quantos votaram em determinado sentido; sem isso, fica diluída a
responsabilidade política – só essa impende nos Deputados – pela tomada de deliberações
parlamentares.

71
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Quando o Plenário assim o deliberar, a requerimento de vinte


Deputados.

Artigo 91º
Empate na votação
1 – Quando a votação produza empate, a matéria sobre a qual tiver
recaído entra de novo em discussão, procedendo-se, finda esta, a nova votação.
2 – No caso de a votação que produziu empate não tiver sido precedida
de discussão151, passa-se de imediato a nova votação.
3 – O empate na segunda votação equivale a rejeição.

Artigo 92º
Realização e continuidade das reuniões plenárias
1 - Durante o funcionamento do Plenário, não podem ocorrer reuniões de
comissões parlamentares, salvo autorização excepcional do Presidente.
2 – Sempre que ocorram reuniões de comissões parlamentares em
simultâneo com reunião plenária, o Presidente deve anunciar o facto no Plenário
e mandar interromper os trabalhos das comissões parlamentares que se
encontrem a reunir para que os Deputados possam exercer, no Plenário, o seu
direito de voto.152
3 – As reuniões plenárias são contínuas, sem prejuízo dos intervalos previstos
no n. 1 do artigo 27º e no n.o 2 do artigo 76º e das interrupções determinadas
o

pela Mesa a requerimento de qualquer bancada parlamentar.153

Artigo 93º
Lugar na sala das reuniões plenárias

151 Estou a pensar no caso extremo de empate na votação final global.


152 Esta norma, que tem todo o sentido, foi retirada do regimento português; também existe norma
semelhante, por exemplo, nos regimentos da Guiné-Bissau, de Cabo Verde e de São Tomé e
Príncipe; compreende-se que, no caso excepcional de reuniões plenárias e de comissões em
simultâneo, as das comissões (porque estas são órgãos auxiliares do Plenário) tenham de ceder
perante as do Plenário, sendo interrompidas para os Deputados exercerem o voto no Plenário,
porque este é um direito, mas também um dever.
153 Estão aqui contemplados, em suma: a) o intervalo para almoço, em regra entre as 13 e as 15

horas; b) os curtos intervalos que o Presidente entender necessários; c) outros intervalos que se
revelem adequados, quando requeridos e aceites, para, por exemplo, permitir negociações entre
bancadas parlamentares, estudo de matérias complexas ou distribuição de documentação não
atempadamente dada a conhecer aos Deputados.

72
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Os Deputados tomam lugar na sala onde devam decorrer as reuniões


plenárias pela forma acordada, entre o Presidente e os representantes das
bancadas parlamentares, no início da legislatura.
2 - Na falta de acordo sobre a definição dos lugares reservados aos
Deputados, o Plenário delibera a distribuição dos lugares.
3 – Na sala destinada às reuniões plenárias há lugares especialmente
reservados:
a) Ao Presidente;
b) Aos membros da Mesa;
c) Aos funcionários parlamentares e assessores que devam apoiar os órgãos
parlamentares mencionados nas alíneas anteriores;
d) Aos membros do Governo e outros convidados especiais;
e) Aos oradores que sejam chamados a intervir junto ao local onde se
sentem o Presidente e os membros da Mesa;
f) Aos representantes dos órgãos da comunicação social autorizados a
acompanhar, para efeitos noticiosos, os trabalhos;
g) Ao público em geral, nos limites da capacidade física da sala para
acolher quem pretenda assistir a reunião plenária.
4 – Os representantes dos órgãos da comunicação social e o público em
geral devem assistir em silêncio ao desenrolar dos trabalhos, sem fazerem
qualquer gesto ou ruído através do qual se manifeste concordância ou
discordância com intervenções produzidas durante os debates.
5 – O Presidente pode ordenar a retirada da sala das pessoas a que se
refere o número anterior quando adoptem comportamentos que perturbem o
desenvolvimento normal dos trabalhos ou, depois de devidamente advertidas a
pôr cobro aos mesmos, persistam nas condutas censuradas.

Artigo 94º
Proibição da presença de pessoas estranhas ao Parlamento Nacional
Com ressalva dos espaços reservados, para assistência às reuniões
plenárias, às pessoas previstas nas alíneas d), f) e g) do n.o 3 do artigo anterior,
não é permitida na sala onde estejam a decorrer reuniões plenárias a presença
de pessoas estranhas ao Parlamento Nacional ou aos seus serviços de apoio ou
que não estejam ao seu serviço.

Artigo 95º
Declarações políticas

73
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – Cada bancada parlamentar tem direito a produzir uma declaração


política por semana, com a duração máxima de dez minutos.
2 – Cada Deputado independente ou Deputado único representante de
partido político ou coligação partidária tem direito a produzir quatro declarações
políticas por sessão legislativa.154
3 – A vontade de exercer o direito de produzir declarações políticas, nos
termos dos números anteriores, deve ser comunicada à Mesa até ao início da
respectiva reunião plenária.
4 – Cada grupo parlamentar dispõe de dois minutos para fazer comentários
ou solicitar esclarecimentos ao orador sobre a respectiva declaração política,
dispondo o autor desta do mesmo tempo, para reagir ou dar explicações, por
cada uma das intervenções produzidas.
5 – A cada Deputado independente ou Deputado único representante de
partido político ou coligação partidária é reconhecido o direito previsto no
número anterior, mas com o tempo para uso da palavra reduzido a um minuto,
aplicando-se a mesma duração do uso da palavra, para reagir ou dar
explicações, ao autor da declaração política.155.

Artigo 96º
Debates de urgência
1 – Qualquer bancada parlamentar ou o Governo pode requerer
fundamentadamente a realização de debates de urgência, em Plenário,
centrados num tema específico que careça de apreciação parlamentar urgente.
2 – O requerimento para a realização de debate de urgência é apreciado
pela Conferência dos Líderes Parlamentares, que, se deliberar aceitar a
realização do debate, o marca para uma das duas reuniões plenárias seguintes,
estabelecendo a distribuição dos tempos atribuídos para uso da palavra.
3 – Na falta de organização do debate e distribuição dos tempos para uso
da palavra pela Conferência dos Líderes Parlamentares, aplica-se, com as

154 Isto resulta numa periodicidade de uma declaração política por trimestre, que parece razoável
em atenção à proporcionalidade na distribuição dos tempos entre as bancadas e os Deputados
não pertencentes a bancadas.
155 As declarações políticas aqui previstas são um mecanismo unilateral de intervenção político-

parlamentar que não pressupõem debate, ao contrário de outros mecanismos regimentais de


controlo e decisão política; daí que apenas se admitam meras reacções curtas de Deputados
que não hajam proferido as declarações; não se justifica que depois o próprio autor da
declaração se defenda ou tenha de justificar uma mera posição política por muito mais tempo,
quiçá roubando tempo ao tratamento de outros pontos da ordem de trabalhos.

74
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

devidas adaptações, o disposto nos n.os 3 e 4 do artigo 236º, mas com os tempos
unitários de intervenção previstos na alínea a) do n.o 4 deste preceito reduzidos a
um minuto.156

Artigo 97º
Votos
1 – A Mesa ou qualquer Deputado ou bancada parlamentar pode propor a
aprovação de votos escritos, de acordo com as seguintes modalidades:
a) Voto de congratulação ou regozijo;
b) Voto de saudação;
c) Voto de louvor;
d) Voto de protesto;
e) Voto de condenação;
f) Voto de solidariedade;
g) Voto de pesar.
2 – Ao conjunto de votos escritos previstos no número anterior é atribuída
pelos serviços de apoio competentes, após o devido registo, a mesma
numeração sequencial, com referência à legislatura e, se assim for decidido pela
Mesa, à sessão legislativa a que se refiram.
3 – Os Deputados ou bancadas parlamentares que queiram propor a
aprovação de um voto escrito devem comunicar essa intenção à Mesa até ao
início da reunião plenária em que o pretendam fazer, apresentando
imediatamente o respectivo texto.
4 – A discussão de cada voto apresentado incide sobre o texto na sua
globalidade, dispondo cada bancada parlamentar de dois minutos e cada
Deputado independente ou Deputado único representante de partido político ou
coligação partidária de um minuto para intervir no debate.
5 – No caso de haver mais do que um voto em discussão, os tempos
previstos no número anterior são alargados a, respectivamente, quatro e dois
minutos.
6 – A votação de cada voto tem lugar assim que terminada a respectiva
discussão.
7 - Só podem ser introduzidas no texto de um voto aprovado as alterações
que hajam sido aceites por consenso.

156Compreende-se esta redução, porque se trata de um mini-debate que, pelas suas


características de urgência, se deve limitar à abordagem rápida e incisiva da matéria em
questão.

75
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 98º
Uso da palavra pelos Deputados
1 – Os Deputados podem expressar-se em qualquer das línguas oficiais,
salvo quando, excepcionalmente, se justifique o uso de uma das línguas de
trabalho ou outra língua estrangeira.157
2 - A palavra é concedida aos Deputados para:
a) Apresentar projectos de revisão constitucional, de lei, de regimento, de
referendo, de resolução e de deliberação;
b) Fazer declarações políticas, nos termos do artigo 95º;
c) Participar nos debates;
d) Invocar ponto de ordem, nos termos do artigo 106º;
e) Fazer requerimentos, escritos ou orais;
f) Fazer protestos e contraprotestos, nos termos do artigo 108º;

157 Creio que a regra a prevalecer deve ser a do uso do português ou do tétum, porque o poder
constituinte as consagrou como línguas oficiais (artigo 13º da Constituição); o uso regular do
indonésio e do inglês nos trabalhos oficiais dos órgãos de soberania viola, a meu ver, o artigo 159º
da Constituição, cuja intenção clara é a de tolerar o uso de línguas de trabalho apenas no
âmbito da Administração Pública (que o Parlamento não é) perante as dificuldades linguísticas do
país; no entanto, casos haverá – estou a lembrar-me das sessões solenes para recepção de
individualidades estrangeiras e da participação de delegações parlamentares em eventos
internacionais, colóquios ou seminários sobre temas de actualidade – que justificam o recurso a
uma das línguas de trabalho e até a outras (por que não um Deputado exprimir-se em espanhol,
por exemplo, num encontro entre parlamentares promovido por organizações latino-
americanas?); é essa a razão da excepção contemplada, que não pode invalidar nem
obscurecer a regra; encontrei como exemplo desta dualidade linguística o caso do parlamento
das Ilhas Salomão (os processos e debates orientam-se pela língua inglesa ou em “pidgin”, mas os
textos devem ser escritos em inglês, estabelecendo-se ainda que os actos legislativos,
regulamentares e administrativos devem ser redigidos em ambos os idiomas e que a publicação,
quando obrigatória, deve contemplar ambas as versões); neste caso, não quererá a supremacia
da língua inglesa nos trabalhos parlamentares traduzir o reconhecimento da insuficiência do
idioma “nacional”?; outro caso é o da Constituição cipriota, que proclama como línguas oficiais o
grego e o turco (curiosamente, línguas de países vizinhos); na Samoa, os procedimentos da
Assembleia são conduzidos “in the Samoan and English languages”; em Barbados, os documentos
para debate têm de ser escritos em inglês ou acompanhados de tradução em inglês certificada
como fidedigna pelo seu apresentante; nas Maurícias – para culminar uma veloz incursão no
Direito Comparado – os processos e debates são em inglês, mas os Deputados podem falar em
francês (tradução do texto respectivo da minha responsabilidade); em Moçambique usa-se
normalmente “a língua portuguesa nas actividades parlamentares” e, se “porventura algum
deputado preferir exprimir-se numa das línguas nacionais, pode fazê-lo, providenciando, ele
mesmo, todavia, a tradução” (in “Estudos”, página 100).

76
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

g) Apresentar reclamações e interpor recursos, nos casos previstos no


Regimento;
h) Exercer o direito de defesa da honra ou consideração, nos termos do
artigo 110º;
i) Produzir declarações de voto, no termos do artigo 111º;
j) Usar da palavra nos restantes casos previstos no Regimento.158

Artigo 99º
Uso da palavra pelos membros da Mesa
Se o Presidente e os restantes membros da Mesa quiserem usar da palavra
em reunião plenária na qual se encontrem em funções, não podem reassumi-las
até ao termo do debate ou da votação respectiva, se a houver, durante o qual o
facto tenha ocorrido.159

Artigo 100º
Uso da palavra pelos membros do Governo
A palavra é concedida aos membros do Governo para:
a) Apresentar propostas de lei e de resolução, propostas de alteração e
votos de confiança, nos termos e limites do Regimento;
b) Participar nos debates, nos termos e limites do Regimento;
c) Responder a perguntas dos Deputados sobre quaisquer actos do
Governo ou da Administração Pública;

158 Eliminei a figura dos pedidos de esclarecimento, que não têm autonomia relativamente às
intervenções de fundo em debates, as quais servem também para isso mesmo (nos debates todos
os tipos de intervenção, sejam comentários, perguntas, opiniões, observações políticas ou pedidos
de esclarecimento, acabam por se entrelaçar e relacionar no mesmo tipo de figura regimental);
de resto, o uso da figura do pedido de esclarecimento não poderia deixar de ser descontado no
tempo atribuído, global ou individualmente, ao orador, pelo que lhe é indiferente usar desse
tempo para produzir um pedido de esclarecimento relacionado com o tema ou fazê-lo à parte,
mas descontando no tempo atribuído (porque tudo se insere no contexto do mesmo debate).
159 Modelo seguido, por exemplo, na Dinamarca, no Egipto, na Finlândia, na Alemanha e no

Japão (o Presidente, por exemplo, pode intervir no debate, mas só depois de fisicamente ter
deixado o lugar e sido substituído nos termos regimentais, normalmente por um vice-presidente –
vd. “Presiding Offices”, página 82); nalguns casos, e como na norma proposta também se aponta,
só pode retomar o lugar depois de o debate em que estava a participar ter terminado (casos da
Bélgica, da Holanda, da Noruega e da Espanha – vd. “Presiding Offices”, página 82); obviamente,
o que está em causa aqui é a intervenção de fundo no debate, com manifestação de opiniões
sobre os assuntos em apreço, e não a intervenção, limitada, a que se refere a segunda parte da
alínea b) do n.o1 do artigo 46º do articulado que proponho; tem regra parecida a esta,
designadamente, o regimento da Guiné-Bissau.

77
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) Fazer ponto de ordem, nos termos do artigo 106º;


e) Fazer protestos e contraprotestos, no termos do artigo 108º;
f) Exercer o direito de defesa da honra ou consideração e dar explicações,
nos termos previstos no artigo 110º;
g) Usar da palavra nos restantes casos previstos no Regimento.

Artigo 101º
Ordem do uso da palavra
1 - A palavra é concedida pela ordem de inscrições, que a Mesa promove
de modo a que não intervenham seguidamente, havendo outros inscritos,
Deputados da mesma bancada parlamentar ou membros do Governo.
2 – É autorizada, a todo o tempo, a troca de posição para uso da palavra
entre quaisquer oradores inscritos.160

Artigo 102º
Finalidade e duração do uso da palavra
1 – Qualquer Deputado que solicitar o uso da palavra deve indicar ou
declarar para que fim a pretende.
2 – Quando o orador se afaste da finalidade para que lhe foi concedida a
palavra, é advertido pelo Presidente para se cingir a essa finalidade, sendo-lhe
retirada a palavra se persistir na sua atitude.161
3 – O Presidente pode permitir que o orador continue no uso da palavra,
pelo tempo que entender razoável, quando, embora esgotado o tempo
regimental disponível, a matéria em abordagem revele extrema relevância para
o debate.162

Artigo 103º
Proibição do uso da palavra durante as votações

160 Há normas similares nos regimentos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.


161 Está aqui previsto fundamentalmente o caso de se pedir a palavra para o uso de determinada
figura regimental e se usá-la para outra figura diferente; não é, pois, situação igual à da alínea a)
do n.o 4 do artigo 104º , que tem a ver com a substância da intervenção censurada.
162 Exprimi aqui uma ideia que considero pertinente para o enriquecimento da qualidade dos

debates colhida no Direito Comparado (in “Parliamentary Mandate”, página 74, que refere o
caso francês); esta possibilidade evita que determinada intervenção que suscite elevado interesse
seja guilhotinada pelo esgotamento do tempo atribuído, permitindo-se que o orador fale um
pouco mais; atribui, no entanto, um poder discricionário ao Presidente, inscrito na esfera das suas
competências disciplinadoras dos trabalhos, que, a ser exercido, deve pautar-se por critérios de
equilíbrio e igualdade de tratamento.

78
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Anunciado o início de votação, nenhum Deputado pode usar da


palavra até ao anúncio do respectivo resultado, excepto para apresentar
requerimentos respeitantes ao processo de votação.
2 – O processamento dos requerimentos apresentados ao abrigo do
disposto no número anterior segue o regime do artigo 107º.

Artigo 104º
Modo de usar da palavra
1 – Os Deputados só podem usar da palavra quando concedida pelo
Presidente.
2 – No uso da palavra, os Deputados devem ser educados e respeitosos.
3 – O orador não pode ser interrompido sem o seu consentimento, excepto
nos casos previstos no número seguinte e no n.o 2 do artigo 102º, não se
considerando, porém, interrupções as vozes de concordância, discordância ou
análogas.163
4 – O Presidente pode advertir o orador ou mesmo retirar-lhe a palavra, se o
advertido persistir no comportamento censurado, quando o orador:
a) Se desviar do assunto em debate;
b) Exceder o tempo que lhe for atribuído;
c) Usar da palavra sem autorização;
d) Utilizar linguagem indecorosa, injuriosa ou ofensiva;
e) Ofender a honra ou consideração de Deputados ou outros titulares de
órgãos de soberania;
f) Proferir insultos ou fizer ameaças à integridade física ou moral de qualquer
Deputado.164

163 Os chamados apartes, como são exemplos as exclamações “Muito bem!”, “Apoiado!” ou
“Muito mal!” (no Brasil, porém, os “apartes” têm significado diferente, pois referem-se à efectiva
interrupção, breve e oportuna, da intervenção do orador, com a sua permissão).
164 A propósito de comportamentos inadequados e linguagem imprópria, constatei que alguns

regimentos contêm dentro do seu próprio articulado pequenos códigos éticos ou de conduta ou,
pelo menos, princípios gerais comportamentais dos parlamentares, o que constitui boa prática
recomendada pela IPU (vd. “A guide to good practice”, páginas 98 a 100); são os casos dos
regimentos da Samoa, das Maldivas e do Bangladesh, citados a título meramente exemplificativo;
de entre algumas situações do código ético previsto no regimento das Maldivas (“Things
disallowed to do in a sitting of Majlis”), destaco, por exemplo, a proibição de ler jornais ou revistas
enquanto está a decorrer uma reunião, de maneira a afectar o respeito devido aos
parlamentares, comer ou beber, com excepção de água, fazer barulho excessivo ou dar
gargalhadas no decurso de uma reunião.

79
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 105º
Organização dos debates
1 – Quando o Regimento o não fixar expressamente, cabe à Conferência
dos Líderes Parlamentares deliberar sobre o tempo global de cada debate, bem
como sobre a distribuição dos tempos atribuídos.
2 – O tempo gasto com pontos de ordem, requerimentos à Mesa, protestos
e contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou consideração
não é descontado nos tempos previstos no número anterior.
3 – Sempre que o Regimento se referir a tempos para uso da palavra sem
menção específica da figura regimental a que respeitem, entende-se que se
reportam a intervenções no âmbito de debates propriamente ditos.

Artigo 106º
Ponto de ordem
1 – O ponto de ordem é pedido por qualquer Deputado ou membro do
Governo para invocar o Regimento ou interpelar a Mesa sobre decisões suas a
respeito da orientação dos trabalhos.
2 – Quando invoque o Regimento, o Deputado deve indicar a norma que
considere infringida por determinada decisão ou actuação, apresentando a
fundamentação estritamente indispensável para o efeito.
3 – O uso da palavra para ponto de ordem não pode exceder um minuto.

Artigo 107º
Requerimentos à Mesa
1 – Qualquer Deputado pode apresentar requerimentos à Mesa.
2 – São considerados requerimentos à Mesa, formulados por escrito ou
oralmente, os pedidos que lhe sejam dirigidos sobre o processo de apresentação,
discussão e votação de qualquer assunto ou o funcionamento da reunião
plenária.165
3 – Os requerimentos escritos são imediatamente anunciados pela Mesa e
distribuídos por todos os Deputados.
4 – Os requerimentos escritos não são lidos, salvo se a sua leitura for pedida
por pelo menos cinco Deputados.

165 A possibilidade de apresentação verbal de requerimentos sobre questões processuais,


metodológicas ou de disciplina assenta na dinâmica própria dos trabalhos de órgãos colegiais,
cujo modo de funcionamento se compatibiliza facilmente com essa forma, desburocratizada, de
intervenção.

80
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

5 – A apresentação de requerimentos orais não pode exceder dois minutos.


6 – Os requisitos a que os requerimentos devem obedecer são, com as
devidas adaptações, os previstos no artigo 169º.
7 - Qualquer requerimento, se admitido pela Mesa, é imediatamente
votado sem discussão.
8 – Não são admitidas declarações de voto orais.

Artigo 108º
Protestos e contraprotestos
1 – Por cada bancada parlamentar, Deputado independente, Deputado
único representante de partido político ou coligação partidária ou Governo é
permitida a formulação de um protesto sobre uma intervenção produzida
imediatamente antes.
2 – O tempo disponível para a formulação do protesto é de dois minutos.
3 – Não são admitidos protestos a declarações de voto.
4 – O Deputado visado pelo protesto pode apresentar contraprotesto,
imediatamente a seguir, com duração máxima de dois minutos.

Artigo 109º
Reclamações e recursos
1 – Qualquer Deputado pode reclamar das decisões do Presidente ou da
Mesa, bem como recorrer das mesmas para o Plenário.166
2 – As reclamações e os recursos de decisões do Presidente ou da Mesa
tomadas no decurso de reunião plenária são apresentados imediatamente.
3 – O reclamante ou um dos reclamantes, no caso de haver mais do que
um, pode usar da palavra, para fundamentar a reclamação, por tempo não
superior a dois minutos.

166Estão aqui previstos os dois meios normais de impugnação graciosa (por contraposição aos
meios de impugnação contenciosa, que são aqueles que se referem à reacção ao acto nos
meios judiciais) de actos administrativos, teorizados pelo Direito Administrativo e plasmados na lei
ordinária, que valem “mutatis mutandis” no campo parlamentar; reclamação entendida como
“pedido de reapreciação do acto administrativo dirigido ao seu autor” (ou seja, pede-se que ele
repondere a sua própria decisão) e recurso (hierárquico) considerado como “pedido de
reapreciação do acto administrativo dirigido ao superior hierárquico do seu autor” (neste caso o
Plenário, que é o órgão supremo que está acima do Presidente) (vd. “Introdução”, páginas 265 a
267); o regime geral da reclamação e do recurso hierárquico, aqui supletivamente aplicável, está
consagrado nos artigos 68º a 84º do Decreto-Lei n.o 32/2008, de 27 de Agosto (“Procedimento
Administrativo”).

81
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – No caso de recurso, o tempo máximo de uso da palavra, nos termos do


número anterior, é de três minutos.
5 – Em qualquer dos casos previstos nos números anteriores, pode ainda
pronunciar-se, por um minuto, um Deputado de cada bancada parlamentar a
que os reclamantes ou recorrentes não pertençam e cada um dos Deputados
únicos representantes de partido político ou coligação partidária que não sejam
reclamantes ou recorrentes.
6 – As reclamações são decididas pelo órgão parlamentar reclamado e os
recursos votados pelo Plenário.
7 – Não há lugar, em qualquer caso, a declarações de voto.
8 – Quaisquer reclamações e recursos de decisões do Presidente ou da
Mesa tomadas fora do caso previsto no n.o 2 são apresentados no prazo máximo
de sete dias, se outro não estiver expressamente contemplado no Regimento.

Artigo 110º
Defesa da honra ou consideração
1 – Sempre que um Deputado ou membro do Governo considere terem
sido proferidas expressões ofensivas da sua honra ou consideração pode, para se
defender, usar da palavra por tempo não superior a dois minutos.
2 – O autor das expressões consideradas ofensivas pode dar explicações
por tempo máximo de dois minutos.
3 – O Presidente toma nota do pedido de uso da palavra para os efeitos
previstos no presente artigo, concedendo a palavra a seguir ao debate que
esteja em curso, sem prejuízo de a poder conceder imediatamente quando
considere que as situações envolvidas ou a gravidade das imputações ofensivas
o justifica.

Artigo 111º
Declarações de voto
1 - Cada Deputado tem direito a produzir, no final de cada votação, uma
declaração de voto, escrita ou oral, esclarecendo o sentido da sua votação.167
2 – As declarações de voto escritas devem ser entregues à Mesa.

167 Creio que não tem sentido manter o direito a declaração de voto em nome da bancada
parlamentar, porque a prática dos últimos anos demonstrou que as declarações de voto são
sempre produzidas a título individual, mesmo quando traduzam uma posição comum da
bancada respectiva; por isso eliminei essa possibilidade do texto originário (a qual, de resto, não
traz qualquer vantagem, porque o tempo de uso da palavra é o mesmo para ambas as
situações).

82
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A duração máxima de cada declaração de voto oral é de um minuto.


4 – Exceptuam-se do disposto no número anterior as declarações de voto
relativas a votações finais globais de projectos ou propostas de lei, a moções de
rejeição do Programa do Governo, a votos de confiança ou a moções de
censura, cuja duração máxima é de dois minutos.

SECÇÃO II
Trabalhos das comissões e subcomissões parlamentares

Artigo 112º
Regra geral do funcionamento das comissões e subcomissões parlamentares
1 – As comissões e sub-comissões parlamentares reúnem ordinariamente às
quartas e quintas-feiras.
2 - Sem prejuízo das especialidades estabelecidas na presente secção e
nos regulamentos próprios das comissões e sub-comissões parlamentares,
aplicam-se ao seu funcionamento, com as devidas adaptações, as disposições
contidas no Capítulo I e na Secção I do Capítulo II do presente título do
Regimento.

Artigo 113º
Quóruns de funcionamento e de deliberação
1 – As comissões e subcomissões parlamentares reúnem com a presença de
um terço, arredondado por excesso, dos seus membros, nos quais se incluem os
membros das respectivas mesas.168
2 – As deliberações das comissões e subcomissões parlamentares são
válidas quando tomadas com a presença de mais de metade dos seus
membros.169

168 Este número contempla o quórum de funcionamento ou de reunião; é um quórum variável,


porque proporcional aos membros (vd. “Manual”, Tomo V, página 77) ; a expressão “arredondado
por excesso” visa acautelar a ocorrência de situações em que o número equivalente à fracção
escolhida não seja número inteiro, como acontecerá, por exemplo, com uma comissão composta
por 7 Deputados (neste caso, como um terço é 2,333, entender-se-á que a presença de três
Deputados é suficiente para funcionar, sem, no entanto, poder deliberar, o que visa facilitar a
formação de quóruns de funcionamento e não emperrar o funcionamento das comissões face ao
eventual absentismo dos Deputados); o quórum de funcionamento de uma comissão com 8 ou 9
membros continuaria a ser de 3 (porque um terço é, respectivamente, 2,666 e 3); encontramos
este quórum de funcionamento no regimento cabo-verdiano, generalizado a todos “os órgãos da
Assembleia Nacional” (leia-se, naturalmente, “colegiais”).
169 Quórum deliberativo.

83
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 114º
Colaboração ou presença de outros Deputados em reuniões
1 - Nas reuniões das comissões ou subcomissões parlamentares podem
participar, sem direito a voto, os Deputados autores de projecto de lei, de
resolução ou deliberação que nelas se encontre em apreciação.
2 – Qualquer outro Deputado pode assistir a reuniões de comissões ou
subcomissões parlamentares a que não pertença, bem como, se a respectiva
comissão ou subcomissão o autorizar, a participar nos respectivos trabalhos, sem
direito a voto.
3 – Qualquer Deputado é livre de enviar observações ou notas escritas às
comissões ou subcomissões parlamentares sobre matéria da sua competência.170

Artigo 115º
Participação de outras entidades
1 – Os membros do Governo podem participar nos trabalhos das comissões
ou subcomissões parlamentares a solicitação destas ou por sua iniciativa,
podendo, porém, ser-lhes recusada, neste caso, a participação quando a
comissão ou subcomissão em causa o entender adequado ao seu bom
funcionamento.171
2 – As comissões ou subcomissões parlamentares podem solicitar a
participação nos seus trabalhos, sem direito a voto, de quaisquer cidadãos,
designadamente:
a) Pessoal de direcção e chefia e funcionários da Administração directa do
Estado;
b) Pessoal de direcção e chefia, funcionários e trabalhadores contratados
da Administração indirecta e do sector empresarial do Estado;
c) Consultores, peritos ou especialistas em matérias sob apreciação.

170 Mas não propostas de alteração – ao contrário do caso, muito especial, do Presidente – porque
isso poderia perturbar seriamente o desenvolvimento do processo legislativo e pôr em causa a sua
celeridade; os Deputados que queiram interferir na discussão e votação na especialidade têm ao
seu alcance o instituto da avocação, com os seus condicionalismos próprios.
171 Traduz-se aqui o direito de participação do Governo nos trabalhos das comissões

parlamentares sem necessidade “de ser convidado ou de obter a anuência daquelas à sua
presença”, no quadro das relações de cooperação entre os dois órgãos de soberania e como
expressão da “posição do Governo enquanto principal titular da direcção política do Estado” (in
“A participação”, páginas 152-153).

84
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A participação das entidades referidas na alínea a) depende da


autorização dos respectivos ministros.
4 – As diligências previstas nos números anteriores são efectuadas através
do presidente da respectiva comissão ou subcomissão, sendo delas dado
conhecimento ao Presidente do Parlamento Nacional.172

Artigo 116º
Poderes das comissões e subcomissões parlamentares
1 - As comissões e subcomissões parlamentares podem requerer ou
promover quaisquer diligências necessárias ao bom exercício das suas
competências, nomeadamente:
a) Proceder a estudos;
b) Requerer informações ou pareceres;
c) Solicitar depoimentos a quaisquer cidadãos;
d) Realizar audições públicas, nos termos do artigo seguinte;
e) Convocar quaisquer titulares de órgãos do Estado e da Administração
Pública para prestarem informações sobre assuntos inerentes às suas funções;
e) Requisitar e contratar especialistas para as coadjuvar nos seus trabalhos,
sob autorização do Presidente e conhecimento do Plenário;
f) Efectuar missões de informação ou de estudo;
g) Conceder audiências públicas a pessoas ou entidades que se lhes
pretendam dirigir, sobre matérias da sua esfera de competências, mediante
deliberação tomada por maioria.173

172 Sempre entendi, contra o hábito instalado durante a I Legislatura, que as comissões podem
convidar directamente membros do Governo e, “a fortiori”, outras entidades, sem intermediação
do Presidente, a participar nos seus trabalhos, embora com conhecimento ao Presidente (por uma
questão de delicadeza e para que ele esteja ao corrente do que se passa nas comissões, a fim de
poder mais cabalmente exercer o seu poder de coordenar as actividades daquelas); é o que
dispõe o artigo 101º, n.o 3, da Constituição, que atribui tal faculdade directamente também às
comissões parlamentares.
173 Creio que esta última alínea esclarece, definitivamente, uma distinção por que sempre lutei,

em nome da clareza da actividade parlamentar: entre “audição” (acto de ouvir determinado


livremente por quem pretende auscultar, dentro dos seus poderes decisórios, pessoas ou
entidades que convida a comparecerem perante ela) e “audiência” (recepção facultada às
pessoas ou entidades que pretendem falar-lhe, a pedido destas); no primeiro caso o movimento é
centrífugo (de dentro, onde se forma a decisão, para fora, onde ela se projecta) e no segundo
centrípeto (impulsionado de fora, pelas pessoas que se lhe apresentam, para dentro, onde quem
é solicitado decide se aceita satisfazer o pedido vindo de fora); no primeiro caso, a audição é
imposta pela entidade que a promove, no segundo aceite pela mesma entidade; em idêntico
sentido vai o glossário parlamentar moçambicano (que pode ser consultado em www.asg-

85
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Às missões de informação ou de estudo previstas na alínea f) do número


anterior que impliquem deslocações, dentro ou fora do território nacional,
aplicam-se, com as necessárias adaptações, a alínea e) do artigo 35º e o n.o 10
do artigo 266º.

Artigo 117º
Audições públicas
1 - As comissões e subcomissões parlamentares podem realizar audições
públicas, individuais ou colectivas, com quaisquer pessoas singulares ou entidades
públicas para análise de matéria, legislativa ou não legislativa, em apreciação no
seu seio e relativa às respectivas áreas de competência.174
2 – A decisão de realização de audições públicas é da exclusiva
competência da comissão ou subcomissão respectiva, que o deliberará por
maioria.175
3 – Excepcionalmente, a audição pública que diga respeito a assunto do
interesse geral do Parlamento Nacional pode ter lugar em reunião plenária, sob
proposta de qualquer comissão parlamentar ou decisão tomada na Conferência
dos Líderes Parlamentares.176

plp.org), ao definir “audiência” como “recepção dada por uma autoridade às pessoas que
pretendem falar-lhe”; por seu turno, o glossário parlamentar português (o portal do parlamento
português, onde pode ser consultado, é www.parlamento.pt) define “audição pública” como o
“acto público deliberado e promovido pelas comissões parlamentares para ouvir membros do
Governo, funcionários da Administração directa/indirecta e do sector empresarial do Estado com
vista ao esclarecimento de assuntos de interesse para os trabalhos parlamentares”.
174 Utilizo a expressão “pessoas” para me referir aos indivíduos que compõem a sociedade civil em

geral; se as entidades públicas, porque pacificamente sujeitas ao escrutínio parlamentar, têm um


dever jurídico-político de comparecer, acho mais duvidoso que se possa impor essa obrigação, a
não ser por factos graves relacionados com a utilização de bens públicos, às instituições ou
organizações da sociedade civil; as pessoas, a título individual, comparecerão ou não, mesmo
quando em representação de instituições ou organizações da sociedade civil.
175 O recurso às audições públicas não é em regra obrigatório, embora se aconselhe, hoje em dia,

nos parlamentos modernos, onde a crise de legitimação e a consciência, cada vez mais vincada,
de que os parlamentos representam quem os elegeu leva a abri-los mais à sociedade, de forma a
que a sua actividade, em cumprimento das suas funções constitucionais típicas, seja o mais
possível transparente e dinâmica; segundo “A guide to good practice”, as cinco características
que um parlamento deve ter são as de se apresentar como “representative”, “transparent”,
“accessible”, “accountable” e “effective” (cfr. prefácio da obra citada, que resume a ideia).
176 Dou aqui corpo a uma prática parlamentar, embora entenda que em regra as audições

públicas devem ser feitas em comissão.

86
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 118º
Relatórios e pareceres das comissões e subcomissões parlamentares
Aplicam-se à elaboração de relatórios e pareceres pelas comissões e
subcomissões parlamentares, com as devidas adaptações, as regras
contempladas nos artigos 149º e 150º.

Artigo 119º
Colaboração entre comissões e subcomissões parlamentares
Várias comissões parlamentares podem reunir em conjunto para o estudo
ou tratamento de assuntos de interesse comum, não podendo, no entanto, tomar
deliberações.177

Artigo 120º
Plano e relatório de actividades das comissões parlamentares
No final de cada sessão legislativa, as comissões parlamentares elaboram
relatório de actividades relativo à sessão legislativa finda e plano de actividades
para a sessão legislativa seguinte, que apresentam ao Presidente.178

Artigo 121º
Instalações e apoio técnico e administrativo
1 - As comissões e subcomissões parlamentares dispõem de instalações
próprias na sede do Parlamento Nacional.
2 – Os trabalhos das comissões e subcomissões parlamentares são apoiados
por funcionários administrativos e assessorias adequadas, nos termos
estabelecidos na lei que regula a organização e funcionamento da
administração parlamentar.

Artigo 122º
Regulamentos das comissões parlamentares
1 - Cada comissão parlamentar elabora o seu próprio regulamento, que se
aplica também, com as devidas adaptações, às subcomissões constituídas no
seu seio.

177 Compreende-se a restrição da segunda parte do preceito, porque essas comissões não
formam um mega-órgão à parte, composto por todas elas, com poderes deliberativos próprios.
178 Esta periodicidade única anual, mais viável, substitui a anterior obrigação de apresentação de

relatórios mensais, que considero impraticável e, de resto, pouco útil.

87
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Na falta ou insuficiência do regulamento da comissão parlamentar,


aplicam-se, por analogia, as disposições do Regimento, nomeadamente aquelas
para que remete o artigo 112º.

TÍTULO V
PUBLICIDADE DOS ACTOS E DA ACTIVIDADE DO PARLAMENTO NACIONAL

Artigo 123º
Jornal oficial do Parlamento Nacional
O jornal oficial do Parlamento Nacional, que constitui o meio oficial de
publicitação dos actos escritos do Parlamento Nacional, designa-se por Jornal do
Parlamento Nacional.

Artigo 124º
Actos escritos sujeitos a publicação no Jornal do Parlamento Nacional
1 - São publicados no Jornal do Parlamento Nacional os actos escritos do
Parlamento Nacional, enumerados no número seguinte, que não devam ser
publicitados no Jornal da República.
2 - Publicam-se no Jornal do Parlamento Nacional:
a) As transcrições integrais das reuniões plenárias, nos termos do n.o 2 do
artigo 74º;
b) Os actos previstos na Lei da Organização e Funcionamento da
Administração Parlamentar que nele devam ser publicados;
c) Os projectos de revisão constitucional, de lei, de regimento, de
referendo, de resolução e de deliberação;
d) Os relatórios e pareceres das comissões parlamentares;
e) Os relatórios de delegações parlamentares;
f) As mensagens do Presidente da República;179
g) As moções de rejeição do Programa do Governo;
h) Os votos de confiança;
i) As moções de censura ao Governo;
j) Os requerimentos de apreciação de diplomas legislativos do Governo;
k) As perguntas e os requerimentos escritos apresentados ao abrigo do
disposto nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 16º;
l) As intervenções escritas feitas por Deputados, em representação do
Parlamento Nacional, em instâncias internacionais;

179 Meio escrito normal de o PR se dirigir ao PN.

88
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

m) Quaisquer planos de acção e relatórios de actividades;


n) As deliberações escritas do Parlamento Nacional;
o) As declarações de renúncia ao mandato parlamentar e a qualquer
cargo detido em órgão parlamentar;
p) Os despachos escritos do Presidente que não sejam de mero expediente;
q) Os votos previstos no artigo 97º;
r) Todos os demais actos escritos do Parlamento Nacional que a Mesa
entenda deverem ser publicados ou cuja publicação seja obrigatória ou
deliberada pelo Plenário, mediante requerimento escrito de pelo menos vinte
Deputados.180

Artigo 125º
Edição, periodicidade e organização do Jornal do Parlamento Nacional
1 - O Jornal do Parlamento Nacional é editado, duas vezes por semana,
pela entidade responsável pela edição do Jornal da República.
2 - Há lugar à publicação de mais do que duas edições semanais do Jornal
do Parlamento Nacional, sob a forma de suplemento, quando o volume ou a
urgência dos actos a publicar o justifique.
3 – Na organização do Jornal do Parlamento Nacional observam-se, com as
necessárias adaptações, as disposições da Lei n.o 1/2002, de 7 de Agosto, que
regem a organização do Jornal da República, nomeadamente os seus artigos 1º
a 4º, 6º e 17º.
4 - O Jornal do Parlamento Nacional compreende duas séries, identificadas
por numeração romana, organizadas da seguinte forma:
a) Na I Série são publicados os actos identificados na alínea a) do n.o 2 do
artigo anterior;
b) Na II Série são publicados todos os demais actos escritos a que se refere
o n. 2, exceptuada a alínea a), do artigo anterior.
o

180 A publicidade aqui prevista refere-se à disseminação da actividade em geral e dos actos
próprios dessa actividade; não tem a ver com o carácter secreto ou aberto das reuniões dos seus
órgãos parlamentares colegiais, razão por que desloquei sistematicamente os actuais artigos 81º e
82º para os sítios respectivos; por outro lado, o “nomen juris” do jornal oficial do Parlamento
Nacional passou a ser o que consta da LOFAP, por questões de harmonização de linguagem; de
resto, nem sequer se justificaria chamar-se “Diário” porque a sua periodicidade não tem de ser – e,
a meu ver, não se justifica que o seja – diária; a última alínea é residual, visando contemplar os
casos não expressamente previstos; esta lista, não taxativa, teve por fonte o regimento de Cabo
Verde.

89
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 126º
Publicidade da actividade parlamentar em geral
1 - A actividade parlamentar regular é dada a conhecer aos Deputados,
aos órgãos de comunicação social e ao público em geral através da distribuição
electrónica e em papel, com a máxima amplitude possível, de:
a) Agendas de reuniões de órgãos parlamentares colegiais;
b) Boletim informativo periódico, de preferência semanal, contendo
informação geral sobre as datas e horários das principais actividades marcadas
para o período em apreço, nomeadamente das reuniões dos órgãos
parlamentares colegiais, dos encontros das bancadas parlamentares, das
deslocações de delegações parlamentares ao estrangeiro e das visitas de
individualidades estrangeiras ao Parlamento Nacional.
2 – O boletim informativo a que se refere a alínea b) do número anterior,
elaborado pelos serviços competentes sob a supervisão dos respectivos superiores
hierárquicos e da Mesa, é actualizado sempre que ocorrerem alterações
significativas aos dados que dele constem.181

TÍTULO VI
FORMAS DE PROCESSO

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS

Artigo 127º
Apoio técnico à tramitação de processos
1 - Sempre que solicitados, os serviços de apoio competentes prestam as
informações e as notas técnicas necessárias à regular tramitação dos processos
previstos no presente título.
2 - Os órgãos parlamentares podem ainda socorrer-se da intervenção
técnica de peritos ou assessores especializados estranhos ao Parlamento Nacional
em áreas que não possam ser asseguradas pelos funcionários parlamentares, nos
termos permitidos pela lei que regule a organização e funcionamento da
administração parlamentar.

181Esta é uma forma de dar cumprimento aos princípios, universalmente aceites, da transparência
e abertura dos parlamentos; não se faz referência à distribuição específica das agendas de
trabalhos das reuniões plenárias (conforme o artigo 84º do regimento em vigor) porque essa
obrigação já está contemplada no lugar próprio.

90
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 128º
Processo de revisão constitucional
1 - O processo de revisão constitucional segue, com as devidas
adaptações, os termos do processo legislativo comum, com as especialidades
previstas nos números seguintes e as exigências decorrentes da Constituição.182
2 - Salvo se o Plenário deliberar a constituição de comissão eventual para a
revisão constitucional, a apreciação inicial dos projectos de revisão constitucional
apresentados cabe à comissão parlamentar permanente com competência
para apreciar os assuntos constitucionais e os direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos.183
3 - A discussão e votação na especialidade tem lugar no Plenário.184

182 Designadamente a que obriga à unificação num único processo de todos os projectos
apresentados (n.o 6 do artigo 154º da Constituição), segundo uma regra de condensação, que
“determina a cumulação de todas as iniciativas num só processo”, “destinada a assegurar uma
ponderação simultânea e globalizante das modificações constitucionais e a garantir a unidade
sistemática da Lei Fundamental” (in “Manual”, V I, T II, página 460; vd. também, no mesmo sentido,
“Constituição Anotada – Tomo III”, página 902).
183 Fala-se aqui apenas de projectos de revisão constitucional porque se trata de matéria de

iniciativa exclusiva e reserva absoluta do PN, conforme resulta dos artigos 154º e 155º da
Constituição; no entanto, a atribuição “ipso jure” de poderes de revisão constitucional ao PN,
nomeadamente em sede de revisão ordinária, não implica só por si o desencadear do processo,
que depende, naturalmente, de um acto de iniciativa (vd. “Manual”, V I, T II, página 459); esse
acto de iniciativa está previsto no n.o 1 do artigo 154º da Constituição, ao qual se seguem os
restantes projectos, conforme dispõem os n.os 5 e 6 do mesmo preceito constitucional; o n.o 2 do
artigo 154º da Constituição prevê a chamada revisão ordinária e o n.o 4 do mesmo artigo 154º da
Constituição a chamada revisão extraordinária; em Timor-Leste, ainda não foi feita a primeira
revisão constitucional ordinária, apesar de já terem decorrido mais de seis anos sobre a entrada
em vigor da Constituição; esse facto, a meu ver, não preclude a possibilidade de ela ter lugar a
qualquer momento, mesmo que passados 7, 8 ou 9 anos, já que o n.o 2, neste caso em
conjugação com o n.o 3, do artigo 154º da Constituição contempla um prazo mínimo, não um
prazo máximo, dependendo o momento da iniciativa de revisão constitucional da ponderação
da sua oportunidade política ou necessidade; a revisão ordinária – direi – não é obrigatória, mas
apenas possível, assim que preenchido esse pressuposto temporal; por outras palavras, “o não
exercício da competência de revisão, por falta de iniciativa”, não acarreta preclusão da
competência (vd. “Manual”, V I, T II, página 462).
184 Creio que se imporia a introdução de uma norma, ainda que muito lapidar, sobre os trâmites

do processo de revisão constitucional, para ao menos se ter uma orientação sobre a condução
do processo, já que a Constituição não é completa – nem teria de o ser – sobre os aspectos
procedimentais da revisão; nada obsta a que, desde que não se contrariem princípios
constitucionais, sejam aprovadas normas regimentais respeitantes ao procedimento de revisão
constitucional (vd. “Constituição Anotada – Tomo III”, página 905); a particularidade de a fase da

91
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 129º
Tramitação de projectos de referendo, resolução ou deliberação
1 - A tramitação dos projectos de referendo, resolução ou deliberação
segue, com as devidas adaptações, as regras do processo legislativo comum,
não carecendo aqueles, no entanto, de ser redigidos sob a forma de artigos.
2 - Admitido um projecto de referendo, resolução ou deliberação, o
Presidente, no mesmo acto, determina a baixa à comissão que considere
competente, em razão da matéria, para o apreciar, salvo quando, pela sua
simplicidade, o Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares,
entender dever dispensar a baixa à comissão competente e remeter a discussão
e votação directamente para o Plenário.
2 - Em qualquer dos casos previstos no número anterior, a discussão na
generalidade e na especialidade dos projectos de referendo, resolução ou
deliberação tem lugar obrigatoriamente no Plenário, mas a discussão e votação
na especialidade limita-se às partes do texto sobre as quais hajam sido
apresentadas propostas de alteração.

especialidade (e parece que só esta pode existir) decorrer em Plenário resulta do facto de as
alterações à Constituição terem de ser sufragadas por maioria de dois terços dos Deputados em
efectividade de funções, o que é impossível de se verificar em comissão (vd. “Manual”, T I, V II,
página 460, e “Constituição Anotada – Tomo III”, páginas 908 a 910); regulam o processo de
revisão constitucional, entre outros, o regimento de Cabo Verde; Jorge Miranda opina, a este
respeito, que as regras do procedimento legislativo comum “também valem a título subsidiário na
revisão constitucional” (“Manual”, Tomo V, página 243); trata-se, à semelhança do regime
português, de um sistema de revisão constitucional pela assembleia representativa normal com as
competências legislativas usuais, segundo o processo de aprovação das leis ordinárias, mas com
algumas especialidades, designadamente quanto ao tempo e à iniciativa, através de maioria
qualificada (cfr. “Manual”, V I, T II, páginas 452 a 458, sobre sistemas de revisão constitucional em
Direito Comparado); há que assinalar ainda, para além das especialidades apontadas, que a
votação final global parece não ser possível nem fazer sentido neste processo especial, uma vez
que as alterações à Constituição são, por natureza, modificações de especialidade, de artigos
concretos da Lei Fundamental, pelo que cada alteração deve ter-se por consumada com a sua
aprovação singular e, uma vez todas elas aprovadas por dois terços, estão em condições de ser
reunidas num único texto para os efeitos previstos no n. o 2 do artigo 155º da Constituição (vd.
“Manual”, V I, T II, página 461, e “Constituição Anotada – Tomo III”, páginas 908 a 910); e também,
pelo seu carácter, o PR não pode recusar a promulgação da lei de revisão constitucional (n.o 3 do
artigo 155º da Constituição).

92
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Há lugar a uma única votação global sobre todo o texto, com as


alterações aprovadas que lhe tiverem sido introduzidas.185

Artigo 130º
Processamento de urgência
1 - Qualquer projecto ou proposta de lei, proposta de resolução ou projecto
de resolução ou deliberação pode ser objecto de processamento de urgência,
desde que a apresentação da iniciativa seja acompanhada de pedido de
processamento de urgência, formulado pelo seu autor, devidamente justificado.
2 – O Presidente, recebida e admitida a iniciativa, remete-a à comissão
parlamentar competente, para, no prazo de vinte e quatro horas, apreciar e
elaborar parecer fundamentado sobre o pedido de processamento de urgência.
3 – Do parecer da comissão parlamentar competente sobre o pedido de
processamento de urgência que se pronuncie pela pertinência do mesmo deve
constar a forma de organizar o processo relativo à iniciativa para cuja tramitação
haja sido requerida urgência, que pode incluir:
a) A dispensa da apreciação inicial na comissão parlamentar competente
ou a redução do respectivo prazo;
b) A limitação do número de intervenções e de duração do uso da palavra
pelos Deputados e membros do Governo;
c) A dispensa do envio à comissão parlamentar competente para a
redacção final ou a redução do respectivo prazo.
4 - Elaborado e apresentado o parecer a que se refere o número anterior, o
Plenário delibera sobre a urgência solicitada.
5 - Se o Plenário deliberar não se justificar o processamento de urgência,
observa-se a tramitação normal aplicável ao caso.

185 Esta disposição serve para dissipar algumas dúvidas que já se suscitaram sobre a
susceptibilidade de os projectos de resolução e deliberação serem discutidos também na
especialidade, apesar de não serem apresentados, em regra, de forma articulada; a prática que
se instalou foi a de serem submetidos imediatamente à discussão e votação, em bloco, no
Plenário, sem passarem pelo crivo de qualquer comissão; “de jure condendo”, são iniciativas
como quaisquer outras – embora sem carácter legislativo – que carecem de admissão, discussão
e votação e, embora em regra não se modifique o seu texto, casos haverá em que pode ter
sentido alterá-lo, tendo em conta que as resoluções, por natureza actos em regra não normativos,
exprimem, no entanto, posições políticas da assembleia; pelas características específicas da
prática parlamentar em Timor-Leste, acredito, no entanto, nas virtualidades da discussão e
votação dos projectos de resolução e deliberação no Plenário, até pelo seu cariz essencialmente
político, fugindo aqui à tendência de outros parlamentos de idêntica matriz, como o português,
que adoptam a regra da discussão em comissão, reservando apenas a votação para o Plenário.

93
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

6 - Se o Plenário deliberar que deve haver lugar a processamento de


urgência, o processo é tramitado nos termos propostos no parecer a que alude o
n.o 3 ou, no caso de não ter sido apresentada qualquer proposta de organização
do processo, pela forma que vier a ser determinada pela Conferência dos Líderes
Parlamentares ou, na sua falta, pelo Presidente.
7 - Se, deliberada a necessidade da urgência na tramitação da iniciativa,
nada tiver sido determinado ao abrigo do disposto nos números anteriores, o
processo segue os trâmites normais, com as seguintes especialidades:
a) O prazo para a apreciação na comissão parlamentar é de cinco dias;
b) O prazo para a redacção final do diploma é de dois dias.186

CAPÍTULO II
PROCESSOS LEGISLATIVOS E DE RESOLUÇÃO187

Secção I
Processo legislativo comum188

186 Ao contrário do que sucede no regimento português, que trata esta matéria em capítulo à
parte como se de processo autónomo se tratasse, entendo estarmos em face de uma mera
vicissitude ou fase anómala ou eventual da tramitação habitual dos quatro tipos de iniciativas
abrangidas; daí ter incluído o processo de urgência (significativamente reapelidado de
“processamento de urgência”) nesta parte genérica das formas processuais; no entanto, as regras
regimentais existentes são manifestamente lacunares, pelo que me socorri de disposições do
regimento português para as completar, embora com as devidas adaptações e correcções; e
digo “correcções” porque, a meu ver, o próprio texto do regimento português não está isento de
falhas, chegando mesmo a entrar em contradição (por exemplo: inclui no seu âmbito objectivo
de aplicação as iniciativas legislativas e de resolução, mas às tantas utiliza a expressão “processo
legislativo” quando é sabido que as resoluções nada têm de actos legislativos).
187 Para se ter uma noção de processo legislativo, transcrevo a formulação encontrada em texto

retirado da Internet, caracterizando-o como “conjunto de atos preordenados mediante os quais


se produzem as leis” (“Processo Legislativo – Rito e Rigor”, Orivaldo Melo, Assessor Legislativo da
CLDF, Brasil); o glossário parlamentar moçambicano, patente em www.asg-plp.org, define-o,
chamando-lhe “procedimento legislativo”, como “conjunto de normas que regem o
procedimento a ser seguido pelo órgão competente, especificando actos infraconstitucionais
preordenados a serem realizados na elaboração das leis”; o glossário electrónico português (em
www.parlamento.pt) define “processo legislativo” como “conjunto sequencial de actos formais
através dos quais uma iniciativa legislativa, projecto de lei ou proposta de lei, se transforma em
lei”.
188 A doutrina costuma teorizar os diversos passos que constituem o processo legislativo dividindo-

os por fases; Gomes Canotilho aceita cinco fases (a da iniciativa, a instrutória, a constitutiva, a de
controlo e a de integração de eficácia – in “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, 4ª
Edição, Almedina); Jorge Miranda identifica quatro fases (a da iniciativa, a da apreciação ou

94
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Subsecção I
Iniciativa processual189

Artigo 131º
Poder de iniciativa legislativa
A iniciativa de lei compete aos Deputados, às bancadas parlamentares e
ao Governo.

Artigo 132º
Formas de iniciativa de lei
1 - A iniciativa orginária de lei toma a forma de:
a) Projecto de lei, quando exercida pelos Deputados, individual ou
colectivamente, ou pelas bancadas parlamentares, através das respectivas
direcções ou de conjuntos de Deputados que as componham agindo em seu
nome;
b) Proposta de lei, quando exercida pelo Governo. 190

consulta, a da deliberação ou da discussão e votação e a da promulgação e controlo – in


“Manual”, Tomo V, página 245); Luísa Neto, Assistente da Faculdade de Direito da Universidade do
Porto, num texto de apoio de aulas de Direito Constitucional leccionadas no ano lectivo de 1999-
2000, que retirei da Internet, combina essas duas classificações em cinco fases (a da iniciativa, a
instrutória ou de apreciação, a constitutiva, de deliberação ou de discussão e votação, a de
controlo e a de integração de eficácia); em todo o caso, o processo – dir-se-á simplisticamente –
desenvolve-se em cascata, de modo a não se passar para uma fase, em regra, sem a anterior
estar concluída.
189 Fase do impulso processual que desencadeia o processo, dá início ao processo legislativo;

definido, numa curiosa formulação que encontrei, como o “ato que deflagra todo o
procedimento” (in “Manual do Assessor Parlamentar”, organizado por Waldir Wilson Rocha,
Consultor Legislativo, Brasil); fase propulsiva do procedimento legiferante; o conceito de iniciativa
legislativa (significa “propor” a lei), que não coincide com o de impulso legiferante, não se
confunde também com o de competência legislativa (significa “decretar” a lei); esta distinção
tem a importância prática de clarificar que o Parlamento, mesmo quando o impulso parte do
Governo sob a forma de proposta de lei, não deixa de ser ele próprio a exercer a competência
legislativa, porque o acto normativo final – mais ou menos modificado relativamente à proposta
inicial consoante o maior ou menor fluxo de iniciativas supervenientes aprovadas – é sempre uma
lei parlamentar (vd. “Manual”, Tomo V, páginas 246 a 252).
190 Os advérbios aditados à versão em vigor – “individual ou colectivamente” – visam tornar claro

que um só Deputado pode subscrever um projecto de lei (o que se compreende face à natureza
do mandato como de livre exercício pelo seu titular, independentemente das orientações
partidárias); a segunda precisão – relacionada com o exercício do direito de iniciativa pelas
bancadas – é de natureza prática, para evitar dúvidas sobre a qualidade em que Deputados

95
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – A iniciativa superveniente de lei toma a forma de proposta de alteração


ou texto de substituição.191

Artigo 133º
Limites materiais e temporais à iniciativa de lei
1 – Não podem ser admitidos projectos ou propostas de lei, assim como
propostas de alteração, que:
a) Violem a Constituição ou os princípios nela consignados;
b) Não definam concretamente o sentido das modificações a introduzir na
ordem legislativa;
c) Envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou
diminuição das receitas do Estado previstas no Orçamento Geral do Estado, seja
inicial, seja rectificativo.192
2 – Os projectos e as propostas de lei definitivamente rejeitados não podem
ser renovados na mesma sessão legislativa.193

Artigo 134º
Renovação e caducidade das iniciativas de lei
1 – Os projectos e as propostas de lei não definitivamente votados durante
a sessão legislativa em que hajam sido apresentados não carecem de ser
renovados nas sessões legislativas seguintes, salvo se ocorrer termo da legislatura.
2 – As propostas de lei caducam com a demissão do Governo que as tenha
apresentado ou com o termo da respectiva legislatura.194

subscritores de projectos de lei têm intervindo até agora; para se perceber que é a bancada que
apresenta o projecto, deve, então, o documento ser assinado pela respectiva direcção, em
nome da bancada, ou por todos ou grande parte dos Deputados que a compõem, agindo em
seu nome, presumindo-se que a decisão foi previamente tomada no seio da própria bancada.
191 Eliminei a expressão “em processo de apreciação” do texto actual, porque francamente não

entendo a sua utilidade e alcance; basta dizer “proposta de alteração” para se compreender
que se trata das modificações propostas a determinado texto já existente (daí que se designe esta
iniciativa por “superveniente”) na fase própria – que mais à frente é designada por
“especialidade” – com essa finalidade; também os textos de substituição, a cargo das comissões,
configuram iniciativa legislativa superveniente.
192 Isto não inclui, naturalmente, o próprio Orçamento Geral do Estado, que é aprovado mediante

proposta de lei, porque ele próprio é o limite aqui previsto; no entanto, acrescentou-se as
propostas de lei ao texto em vigor, porque também estão abrangidas pelo limite por via do n. o 2
do artigo 97º da Constituição.
193 O n.o 1 contém limites materiais e o n.o 2 um limite temporal; os limites formais são

apresentados, pela positiva, em artigo distinto.

96
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 135º
Cancelamento de iniciativa de lei
1 – Admitido qualquer projecto ou proposta de lei ou qualquer proposta de
alteração, os seus autores podem retirar a iniciativa:
a) Até à sua votação na generalidade, no caso de projecto ou proposta
de lei;
b) Até ao momento em que deva ser votada, no caso de proposta de
alteração.195
2 – O cancelamento da iniciativa pode ser feito por escrito ou oralmente,
no decurso de reunião do órgão parlamentar colegial em que ocorra a
manifestação de vontade de cancelar, observando-se o seguinte:
a) Os projectos de lei subscritos por bancadas parlamentares ou em nome
delas só podem ser retirados pelas respectivas direcções ou pelos Deputados que
o assinaram, sem oposição dos Deputados subscritores que não se hajam
pronunciado expressamente sobre a intenção de cancelamento;
b) Os projectos de lei subscritos por vários Deputados podem ser retirados
por um dos subscritores, desde que os restantes a isso não se oponham
expressamente;196

194 O n.o 1 adopta uma regra de não caducidade de sessão para sessão legislativa (dentro, pois,
da mesma legislatura) para os dois tipos de iniciativas; o n.o 2 refere-se ao caso particular das
propostas de lei, estabelecendo a sua caducidade com a demissão do Governo (compreende-
se, porque o autor perde a legitimidade e a plenitude dos seus poderes) ou o fim da legislatura
(aqui é tautológico porque repete o que resulta, “a contrario sensu”, do n. o 1); no n.o 2, se
quisermos dizer ao contrário, está escrito que as propostas de lei se mantêm sempre válidas
enquanto permanecer em funções o Governo que lhes deu origem; a legislatura é que faz
caducar tudo, sejam projectos ou propostas de lei; no n. o 1, o adjectivo “definitivamente” é
introduzido para clarificar que se trata da votação na generalidade ou da votação final global,
que culmina a fase deliberativa do processo legislativo comum; isto conjuga-se com o artigo
anterior, para efeitos de saber até, por exemplo, se um diploma foi ou não rejeitado e deve ou
não ser renovado.
195 O texto em vigor abrange no seu âmbito as propostas de alteração, mas acaba por se referir,

como momento até ao qual a iniciativa pode ser retirada, a votação na generalidade, de que a
proposta de alteração é insusceptível; está, pois, incorrecto e incompleto; compreende-se,
relativamente à iniciativa originária de lei, que o limite seja a votação na generalidade, porque a
partir daí ou o processo termina, se a iniciativa for rejeitada, ou deixa de estar sob o controlo do
seu autor, passando a pertencer ao próprio parlamento, se for aprovada.
196 Esta ideia de consentimento tácito, através do silêncio ou não oposição expressa ao

cancelamento de iniciativa, encontra-se também, por exemplo, no regimento das Ilhas Maurícias

97
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) As propostas de lei e as propostas de alteração apresentadas pelo


Governo só podem ser retiradas pelo Primeiro-Ministro ou por ministro que se
encontre mandatado para o fazer, uma vez comprovado ter a decisão de
cancelamento da iniciativa sido tomada em Conselho de Ministros;197
d) As propostas de alteração apresentadas por vários Deputados só podem
ser retiradas por todos os subscritores ou por alguns deles sem a oposição dos
restantes.
3 – Qualquer Deputado pode adoptar como seu qualquer projecto ou
proposta de lei ou proposta de alteração que se pretenda retirar, desde que o
faça imediatamente após o cancelamento da iniciativa pelos seus autores.
4 – Caduca a iniciativa de lei que, uma vez retirada, não haja sido
adoptada nos termos do número anterior.
5 – A iniciativa de lei adoptada no uso da faculdade prevista no n.o 3 segue
os termos processuais normais como projecto ou proposta do adoptante.198

Artigo 136º
Exercício e apresentação de iniciativa originária de lei
1 – Os projectos e as propostas de lei são dirigidos ao Presidente e entregues
na Mesa.
2 – Os autores dos projectos ou propostas de lei devem fazer entrega, em
simultâneo com a versão em papel, da versão electrónica dos documentos em
que se contenham as iniciativas legislativas.
3 – Os projectos de lei são subscritos:

a propósito da retirada de propostas de emenda, “provided there is no dissitient voice”


(sublinhado meu).
197 Se as propostas de lei e de resolução têm de ser aprovadas pelo Conselho de Ministros (artigos

116º, alínea c), da Constituição e 11º, n.o 3, da LPA), só este, naturalmente, as pode retirar, valendo
o mesmo, por maioria de razão, para as propostas de alteração (no mesmo sentido, “A
Participação”, páginas 143, 146 e 172).
198 A redacção mais completa que sugiro para este artigo permite desfazer dúvidas sobre a

validade dos cancelamentos de iniciativas de lei que têm vindo a ocorrer no parlamento
timorense, às vezes tão imperceptíveis que nem todos os Deputados e serviços de apoio se
apercebem do facto; além disso, tem de se respeitar a vontade de todos os apresentantes, não
sendo de aceitar que um só possa decidir do destino de uma iniciativa em nome de todos os
outros, muitas vezes possivelmente à sua revelia ou sem o seu conhecimento pleno; em todo o
caso, a economia processual está garantida ao se atribuir o valor de anuência tácita ao
cancelamento pelos que, através do seu silêncio, não contrariem a vontade activa de
cancelamento expressa por quem a haja declarado.

98
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Por uma ou várias bancadas parlamentares, assinados pelas respectivas


direcções em nome das bancadas parlamentares que representam ou por
diversos Deputados dessas bancadas parlamentares, agindo em nome delas,
desde que incluídos os Deputados que componham as respectivas direcções;
b) Por um número ilimitado de Deputados199, quando o façam
independentemente das bancadas parlamentares em que se incluam,
assinalando, no entanto, as bancadas parlamentares a que pertençam em sítio
visível à frente da respectiva assinatura.
4 – As propostas de lei são subscritas pelo Primeiro-Ministro e ministros
competentes em razão da matéria, devendo conter a menção de que foram
aprovadas em Conselho de Ministros e a data em que o tenham sido.200

Artigo 137º
Requisitos formais das iniciativas originárias de lei
1 – Os projectos e propostas de lei devem:
a) Ser redigidos por escrito em qualquer das línguas oficiais, com
preferência pela língua portuguesa;
b) Ser redigidos sob a forma de artigos numerados, eventualmente divididos
em números e alíneas e estruturados em divisões sistemáticas;201
c) Ter uma designação que traduza sinteticamente o seu objecto principal;
d) Conter um preâmbulo;

199 Não concordo com o patamar máximo de Deputados subscritores de um projecto de lei em
vigor (10), porque francamente não vejo por que se há-de impedir uma iniciativa legislativa que
reúna à partida largo consenso ou um considerável número de apoiantes no seio dos
representantes do povo, que, se o fazem, mesmo pertencendo a diferentes quadrantes políticos, é
por o entenderem vantajoso para a Nação; não me parecem suficientes os argumentos de alguns
constitucionalistas, que referem a existência do limite como obedecendo “a uma preocupação
de garantia de liberdade de deliberação”, embora depois admitam a iniciativa conjunta de dois
ou mais grupos parlamentares (e, por maioria de razão, também todos os grupos parlamentares),
o que contradiz, até certo ponto, aquela explicação (vd. “Manual”, Tomo V, página 253);
curiosamente, o regimento da Guiné-Bissau vai num sentido totalmente oposto ao fixar não um
limite máximo, mas um limite mínimo, de subscritores de projecto de lei (cinco Deputados); o
regimento cabo-verdiano não estipula qualquer limitação (prescreve que “qualquer Deputado ou
grupo parlamentar pode subscrever um projecto de lei”).
200 Vd. artigo 11º da LPA, que prevê este requisito formal.
201 A segunda parte refere-se à habitual arrumação em livros ou partes-títulos-capítulos-secções-

subsecções-divisões-subdivisões (esta ordenação não reflecte qualquer obrigatoriedade, nem é


obrigatória a arrumação por divisões sistemáticas, quando não se justifique – daí o advérbio
“eventualmente” ).

99
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) Ser acompanhados de uma breve justificação ou exposição de


motivos.202
2 – O requisito referido na alínea e) do número anterior implica, no que diz
respeito às propostas de lei e na medida do possível, a apresentação, de modo
abreviado, dos seguintes elementos:203
a) Uma memória descritiva das situações sociais, económicas, financeiras e
políticas a que se aplica;
b) Uma informação sobre os benefícios e as consequências da sua
aplicação;
c) Uma resenha da legislação vigente referente ao assunto.
3 – As propostas de lei devem ainda ser acompanhadas dos estudos,
pareceres e documentos instrumentais que as tenham fundamentado.204

202 Como a LPA impõe a existência de preâmbulo quer nas leis quer nos decretos-leis,
aconselhava-se a consagração, que aqui proponho, da prática parlamentar que consistia em
incluir nas iniciativas originárias de lei quer uma proposta de preâmbulo, normalmente colocado
entre o título do diploma e o início do articulado, quer a justificação ou exposição de motivos,
que lhe é exterior; os motivos da iniciativa – costumo referir – são as razões do proponente, de
quem toma o impulso legiferante, de quem desencadeia o processo legislativo; o preâmbulo são
as razões sucintas do legislador, de quem acabou por fazer emitir o acto legislativo, de quem, no
fundo, é o seu autor final, mesmo quando sob iniciativa de outros; por isso, o preâmbulo deve ter
um conteúdo que se conforme com o resultado final do acto normativo a que se refira, pelo que
o seu texto inicial deve ser adaptado em função das modificações que a iniciativa sofra, através
da aprovação de propostas de alteração, no percurso do processo; se essas modificações forem
de tal forma profundas que façam com que partes da proposta de preâmbulo percam sentido, o
legislador tem, naturalmente, de o modificar em conformidade com essas alterações; no entanto,
o esboço de preâmbulo a incluir no texto inicial facilita o trabalho dos Deputados que irão
concluir o acto legislativo, sendo útil a sua apresentação à luz do princípio da economia
processual; pelo contrário, a justificação ou exposição de motivos é exclusiva do proponente e
não faz parte do texto normativo, embora possa ter importância hermenêutica quando haja que
recorrer ao elemento histórico da interpretação de normas jurídicas, assim como o próprio
preâmbulo encerra, naturalmente, algum valor interpretativo do texto legal a que se refere; só
que a justificação ou exposição de motivos não se inclui no articulado e, por isso, prefiro a
expressão “ser acompanhado” à expressão “ser precedido” do texto em vigor (decalcado do seu
homólogo português), até porque tanto faz que “preceda” ou “siga” (já algumas vezes tem
aparecido depois, nalguns casos até temporalmente) o texto a que diga respeito.
203 O corpo deste número do artigo 94º em vigor foi muito mal adaptado da sua fonte, porque,

obviamente, não se queria referir ao preâmbulo; este até pode ser demasiado sucinto e conter
apenas, como já aconteceu em inúmeros casos, um ou dois parágrafos; a exigência - que já
perde sentido no caso dos projectos de lei, porque provêm do órgão de onde emana o poder
legislativo sobre o qual não recaem as mesmas obrigações de justificação da decisão de legislar –
diz respeito, obviamente, aos motivos do Governo.

100
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – Quando os textos das iniciativas originárias de lei forem apresentados


em ambas as línguas oficiais, a versão na língua portuguesa constitui o texto de
base que faz fé em relação ao texto escrito na versão em tétum, sobre o qual
prevalece, sem prejuízo da publicação integral, como lei, dos dois textos finais.205
5 – Não são admitidos os projectos ou propostas de lei que hajam preterido
o prescrito nas alíneas a) e b) do n.o 1.206
6 – A falta dos requisitos previstos nas alíneas c), d) e e) do n.o 1 implica a
necessidade de suprimento no prazo de dez dias a contar da recepção da
notificação que para o efeito for dirigida pelo Presidente ao autor da iniciativa,
sob pena de não admissão.207

Artigo 138º
Admissibilidade de iniciativa e organização do processo
1 – Apresentada uma iniciativa de lei, o Presidente decide, por despacho,
se a mesma deve ou não ser admitida, tendo em atenção os requisitos
constitucionais, legais e regimentais a que deve obedecer208, no prazo máximo
de trinta dias.209

204 Compreende-se esta norma, retirada do regimento português, com a necessidade de o


Governo – que não é o órgão legislativo por excelência - justificar o mais possível a sua decisão de
propor a legislação perante o órgão competente para a emitir.
205 Dada a potencialidade de o português exprimir com mais rigor a linguagem técnico-jurídica

utilizada na elaboração legislativa, para além da sua reconhecida riqueza sintáctica e


morfológica.
206 Violação de requisitos insanáveis; corrijo aqui aquilo que considero ser um exagero do texto

regimental em vigor, aparentemente despropositado, ao cominar com a não admissão da


iniciativa a falta de apresentação de justificação ou exposição de motivos, pois esta pode ser
facilmente suprível; só a não utilização da língua oficial ou a formulação sem forma de artigos me
parece grave para justificar a rejeição liminar.
207 Falta de requisitos supríveis através do seu preenchimento em determinado prazo; se o não for

nesse prazo, deve ser rejeitada liminarmente, por revelar incapacidade do seu autor para
colmatar a falha ou até, porventura, desinteresse na motivação da decisão de impulsionar o
processo legislativo ou banalização da actividade legislativa através da falta de ponderação das
razões, benefícios e consequências do acto legislativo que se propõe.
208 Trata-se, pois, de uma fase inicial de saneamento, verificação prévia do preenchimento dos

requisitos obrigatórios, despistagem de eventuais deficiências manifestas de que a iniciativa


padeça.
209 Este prazo, até aqui inexistente, destina-se a evitar que, pela inércia, o Presidente não decida e,

desse modo, boicote o direito de iniciativa legislativa dos seus proponentes, que têm direito a uma
decisão (mesmo que negativa).

101
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – O prazo supletivo previsto na parte final do número anterior não se


aplica às iniciativas supervenientes de lei, que seguem o regime do artigo 169º.
3 – A decisão de não admissão carece de fundamentação, ainda que
sucinta.210
4 – Se decidir não admitir a iniciativa, o Presidente comunica a decisão, por
escrito, ao seu autor, que, no caso de projecto de lei subscrito por vários
Deputados, é o primeiro signatário.
5 – Uma vez despachados, os projectos e as propostas de lei e as propostas
de alteração são registados e numerados pela ordem da sua entrega na Mesa.
6 – Os projectos e propostas de lei são identificados, em epígrafe, pelo
número, pela legislatura e, se assim for decidido, pela sessão legislativa a que
digam respeito.
7 – Compete aos serviços de apoio competentes a organização dos
processos documentais211 relativos à tramitação de iniciativas de lei originárias e
supervenientes.212

Artigo 139º
Admissão de iniciativa originária de lei
1 - Admitido qualquer projecto ou proposta de lei, o Presidente, no mesmo
acto ou posteriormente, e pela ordem indicada:
a) Determina a comissão parlamentar competente em razão da matéria,
mandando baixar a iniciativa legislativa a essa comissão;
b) Fixa, se o entender, o prazo de que a comissão prevista na alínea
anterior dispõe para proceder à apreciação inicial, elaborando o respectivo
relatório e parecer fundamentado;
c) Manda enviar o texto à mesma comissão, acompanhado de elementos
que considere relevantes e das informações ou notas técnicas que hajam sido
preparadas sobre a iniciativa legislativa;

210 Não me parece exigível fundamentar a decisão de admissão, porque é o acto mais normal em
democracia parlamentar, uma vez verificado o preenchimento dos requisitos materiais e formais
da iniciativa; de todo o modo, se for mal admitida, a decisão sempre poderá ser anulada por via
de recurso ou corrigidos os defeitos da iniciativa no decurso do processo.
211 Aqui “processo” é utilizado no seu sentido físico, com a acepção que lhe é dada pelo artigo 1º,

n.o 2, do decreto-lei (n.o 32/2008, de 27 de Agosto) que regula o Procedimento Administrativo


(“conjunto de documentos em que se traduzem os actos e formalidades que integram o
procedimento”, neste caso processo).
212 Designadamente quanto ao seu registo e numeração.

102
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) Manda imediatamente distribuir cópias da iniciativa legislativa a todos os


Deputados, começando pelas direcções das bancadas parlamentares;213
e) Ordena a inscrição imediata na ordem de trabalhos de uma das
reuniões plenárias seguintes do anúncio da admissão da iniciativa.214
2 – Na falta de fixação pelo Presidente, o prazo a que se refere a alínea b)
do número anterior é de 30 dias a contar da data do envio ou, quando a haja,
da entrega simbólica do texto a que alude o n.o 3 do artigo 143º à comissão
parlamentar competente, findos os quais a Mesa pode agendar a iniciativa
legislativa para discussão e votação na generalidade independentemente da
apresentação do relatório e parecer fundamentado pela comissão.215
3 – O prazo mencionado na alínea b) do n.o 1 pode ser prorrogado pelo
Presidente, por um máximo de 30 dias, a requerimento da comissão parlamentar
competente.

Artigo 140º
Recurso da decisão sobre a admissibilidade de iniciativa originária de lei
1 - Admitido qualquer projecto ou proposta de lei e distribuído este à
comissão parlamentar competente ou decidida a sua não admissão, o Presidente
comunica a decisão ao Plenário através de anúncio a inscrever na ordem de
trabalhos de uma das reuniões plenárias seguintes.
2 – O anúncio da decisão de admissão inclui a referência à comissão
parlamentar a que a iniciativa tenha baixado, se a baixa à comissão tiver sido
decidida no mesmo acto da admissão.
3 – Cabe reclamação da decisão do Presidente, a apresentar
imediatamente após o respectivo anúncio.
4 – A reclamação da decisão do Presidente é imediatamente decidida por
si e comunicada oralmente ao Plenário.

213 Formaliza-se aqui a prática, institucionalizada desde há muito, de se distribuir o projecto ou


proposta de lei a todos os Deputados, embora eu entenda que os serviços de apoio encarregues
dessa tarefa devem ser instruídos a começar sempre pelos líderes parlamentares ou quem os
substitua.
214 Os diversos aspectos que o despacho do Presidente tem de contemplar ficam, assim, melhor

arrumados e cronologicamente encadeados.


215 O prazo supletivo aqui previsto evitará incertezas sobre o prazo atribuível à comissão quando o

Presidente não queira ou se esqueça de fixar prazo concreto e sobre as consequências da


eventual inércia da comissão, quando perpetue no tempo a fase da apreciação inicial sem a
terminar; resguarda ainda a Mesa de críticas que possa sofrer quando decida agendar a iniciativa
para o Plenário sem esperar pela conclusão do trabalho da comissão, nos casos em que não lhe
tenha fixado prazo.

103
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

5 – Até ao termo da reunião plenária seguinte à do anúncio da decisão,


qualquer Deputado pode recorrer, por requerimento escrito e fundamentado, da
decisão do Presidente.
6 – Interposto recurso, o Presidente submete-o à apreciação da comissão
parlamentar competente em razão da matéria.
7 – A comissão parlamentar competente a que alude o número anterior
elabora, no prazo de quarenta e oito horas, parecer fundamentado sobre o
recurso, o qual é agendado para votação na reunião plenária subsequente ao
termo do referido prazo.
8 – O parecer a que se refere o número anterior é lido e votado no Plenário.
9 – Não tendo sido elaborado o parecer a que alude o n.o 7, o recurso é
votado directamente no Plenário independentemente da existência daquele, no
mesmo prazo previsto no n.o 7.
10 – Cada Deputado pode usar da palavra, a respeito do recurso, por
tempo não superior a um minuto.216

Artigo 141º
Iniciativa superveniente de lei217
1 – Qualquer Deputado ou bancada parlamentar pode apresentar
propostas de alteração a quaisquer iniciativas originárias de lei, aprovadas na
generalidade, perante o órgão parlamentar colegial competente para a
discussão e votação na especialidade.
2 – O Primeiro-Ministro ou os membros do Governo competentes em razão
da matéria podem apresentar propostas de alteração, nos termos previstos no
número anterior, a propostas de lei em tramitação no Parlamento Nacional.218

216 Creio que desta forma este preceito fica mais completo, ao se referir quer à decisão de
admissão quer à de não admissão (deve ser evitado o termo “rejeitado”, porque tem mais a ver
com a não aprovação, na substância, de uma iniciativa de lei - acto que os serviços de apoio
vulgarmente anotam, para efeitos de registo dos resultados das votações, com a fórmula, em
tétum, “la pasa”); prevê-se também a possibilidade de reclamação (impugnação da decisão
perante o seu próprio autor), porque podem as razões invocadas pelo reclamante convencer o
Presidente a modificar o sentido da sua decisão; é claro que de decisão diferente da inicial,
resultante da reclamação, caberá depois recurso – não novamente reclamação – por quem não
se conforme com a mudança na decisão; alterei também a referência ao “Parlamento” como
entidade a que se comunica a decisão sob a forma de anúncio, porque acho que se tem de
especificar o sub-órgão parlamentar concreto onde se deve fazer o anúncio, que não pode
deixar de ser a assembleia magna da instituição.
217 A que Gomes Canotilho também chama “iniciativa legislativa secundária ou derivada” (in

“Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, 4ª Edição, Almedina, página 845).

104
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 142º
Tipos de propostas de alteração
1 – As propostas de alteração podem ser de eliminação, de substituição, de
emenda e de aditamento.
2 – Consideram-se propostas de eliminação as que se destinem a suprimir a
disposição em discussão.
3 – Consideram-se propostas de substituição as que contenham disposição
diversa daquela que tenha sido apresentada.
4 – Consideram-se propostas de emenda as que, conservando todo ou
parte do texto em discussão, restrinjam, ampliem ou modifiquem o seu sentido.
5 – Consideram-se propostas de aditamento as que, conservando o texto
primitivo e o seu sentido, contenham a adição de matéria nova.219

218 A limitação aqui preconizada terá de ser bastante ponderada, porque contraria a tese,
maioritária em Portugal, de que o Governo deve possuir um poder genérico de iniciativa
legislativa superveniente – através da qual se pode determinar o conteúdo do acto legislativo que
resulta do exercício da competência legislativa originária – “sobre todas as matérias que podem
ser objecto de lei” do parlamento, “incluindo as que integram a reserva de iniciativa legislativa
originária de outros órgãos” (vd., por exemplo, “A participação”, páginas 111-112); a razão desta
minha proposta prende-se com a prática seguida em Timor-Leste – que terá formado uma
espécie de costume constitucional – de o Governo nunca intervir na fase constitutiva dos
processos legislativos baseados em projectos de lei (embora seja muitas vezes chamado a
participar na fase de apreciação que decorre em comissão), como que fazendo-se eco da
aversão dos governos em colaborar em morosos procedimentos parlamentares legislativos e
aceitando, assim, o primado exclusivo (e “solitário”) do Parlamento na elaboração de actos
legislativos que ele próprio desencadeia; daí que se me afigure suficiente circunscrever o direito
de iniciativa superveniente de lei pelo Governo apenas aos casos em que ele próprio tenha
impulsionado o processo legislativo.
219 As modalidades de propostas de alteração aqui previstas, segundo a sua natureza, estão

escalonadas por ordem decrescente do grau de afectação do texto primitivo em que incidem;
mantive basicamente o texto em vigor, baseado no do regimento português, embora admita
que, para simplificar a ordenação das propostas de alteração em atenção à sua natureza, se
devesse talvez eliminar a distinção entre propostas de substituição e propostas de emenda; na
prática, tem-se revelado difícil distinguir umas das outras e também não vejo alcance prático
nessa distinção; daí que mais à frente, a propósito da apresentação concreta de propostas,
apenas exija a identificação da modalidade “na medida do possível”, consciente que estou
dessa dificuldade; neste aspecto, o regimento interno da Câmara dos Deputados brasileira,
apesar de conter cinco modalidades, em vez de quatro, de “emendas” (equivalentes às nossas
“alterações”), é mais claro na distinção entre aquilo a que chama “emenda substitutiva” e a
denominada “emenda modificativa”, contemplando ainda emendas supressiva (eliminação),
“aditiva” (aditamento) e “aglutinativa” (uma curiosa modalidade que consiste na fusão de outros
tipos de emendas ou destas com o texto em que incidem); contempla ainda o texto brasileiro

105
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Subsecção II
Apreciação inicial220

Artigo 143º
Envio de iniciativas originárias de lei à comissão parlamentar
1 – Admitido qualquer projecto ou proposta de lei, o Presidente envia o
respectivo texto à comissão parlamentar que considerar competente em razão
da matéria para proceder à apreciação inicial, acompanhado dos elementos a
que se refere a alínea c) do n.o 1 do artigo 139º.
2 – No caso de o Presidente enviar o texto referido no número anterior a
mais do que uma comissão parlamentar, deve indicar, no despacho em que o
determine, qual a comissão parlamentar que se deve responsabilizar pela
elaboração e aprovação do relatório e parecer final.221
3 – O anúncio em Plenário da admissão e baixa à comissão parlamentar
considerada competente de determinado projecto ou proposta de lei e a
entrega simbólica de cópia do respectivo texto ao presidente daquela comissão
parlamentar, quando aconteça, substituem o envio formal da iniciativa à mesma
comissão parlamentar, mas não dispensam a emissão dos despachos do

puras “emendas de redacção”, que visam “sanar vício de linguagem, incorrecção técnica
legislativa ou lapso manifesto” (não vejo necessidade na adopção deste tipo de proposta de
alteração ao regimento timorense, porque a finalidade dessas emendas puramente técnicas
pode ser alcançada em sede de redacção final do diploma e até, como tem vindo a ser
praticado, por via da apresentação, logo na fase da especialidade, de qualquer das quatro
modalidades de propostas de alteração existentes, embora com o objectivo de corrigir meras
imperfeições de redacção, estilo de linguagem ou terminologia técnica); em todo o caso, o texto
em vigor ainda confunde mais ao trocar a ordem lógica em que, dentro da filosofia de afectação
do texto primitivo, esses dois tipos de propostas deveriam aparecer (o texto do regimento
português ordena-os ao contrário).
220 Fase instrutória, de mera apreciação, exame e/ou consulta; trata-se de uma fase de estudo e

análise da oportunidade do procedimento legislativo e do conteúdo da iniciativa legislativa, em


que se reúnem elementos, dados e informações indispensáveis à fase subsequente, em que, aí
sim, se tomam decisões sobre o texto normativo em apreço (vd. “Manual”, Tomo V, páginas 266 a
271).
221 Esta norma é clarificadora; já tem havido casos de baixa a várias comissões, sem indicação de

qual deve elaborar o parecer; se bem que todas as comissões indicadas devam colaborar entre
elas na apreciação inicial que façam, só uma deve elaborar o relatório e parecer final; não
devem ser admitidos relatórios conjuntos, porque isso significaria ficcionar uma megacomissão,
com os membros de todas as comissões, para efeitos da tomada de deliberações.

106
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Presidente referidos nos artigos 138º e 139º, a exarar por escrito no respectivo
processo.222
4 – O Plenário pode constituir uma comissão parlamentar eventual para a
apreciação inicial de determinado projecto ou proposta de lei ou projectos ou
propostas de lei, quando a sua importância ou complexidade o justifique.

Artigo 144º
Determinação da comissão parlamentar competente
Quando uma comissão parlamentar discorde da decisão do Presidente
sobre a determinação da comissão parlamentar competente, deve comunicar a
sua opinião, tomada por deliberação, ao Presidente, no prazo de sete dias, para
que aquele reaprecie o respectivo despacho.

Artigo 145º
Projectos e propostas de lei sobre matérias idênticas
1 – Se, até metade do prazo fixado à comissão parlamentar competente
para proceder à apreciação inicial e emitir relatório e parecer, lhe forem
enviados outro ou outros projectos ou propostas de lei sobre a mesma matéria, a
comissão parlamentar deve fazer a sua apreciação conjunta, sem prejuízo da
emissão de relatório e parecer em separado.
2 – Não se verificando a circunstância prevista no número anterior, têm
precedência na emissão de relatório e parecer o texto ou os textos que tiverem
sido recebidos em primeiro lugar.

Artigo 146º
Conteúdo da apreciação inicial
1 – A apreciação inicial feita pela comissão parlamentar competente não
está sujeita a quaisquer limites materiais, podendo ser analisados,
nomeadamente:
a) Os requisitos formais e materiais da iniciativa de lei;223

222 Consagra-se normativamente um ritual que já entrou na prática parlamentar timorense, sem se
admitir, no entanto, a dispensa dos despachos escritos sobre a tramitação inicial da iniciativa que,
por uma questão de certeza jurídica e disciplina processual, têm de existir no processo
documental.
223 Admito aqui que a comissão volte a analisar, depois de o próprio Presidente o ter feito quando

do despacho de admissão, a conformidade da iniciativa com os pressupostos formais,


constitucionais, legais e regimentais a que deva obedecer, porque pode ter-lhe escapado – e ao
Plenário, quando do anúncio respectivo – alguma falha significativa.

107
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) O enquadramento legal e doutrinário da matéria em apreço, incluindo


no plano regional e internacional;
c) Os factos, situações e realidades a que a iniciativa diga respeito;
d) Os principais problemas sociais ou políticos suscitados;
e) As consequências da aprovação da iniciativa legislativa e os previsíveis
encargos financeiros com a respectiva aplicação.
2 – A apreciação inicial culmina com a elaboração de relatório e parecer
fundamentado sobre a iniciativa legislativa sob análise, aprovado pela comissão
no prazo a que se referem a alínea b) do n.o 1 e o n.o 2 do artigo 139º e enviado
ao Presidente dentro do mesmo prazo.

Artigo 147º
Contributos para a apreciação inicial e textos de substituição
1 – No âmbito da apreciação inicial, a comissão parlamentar competente
pode ouvir as pessoas directamente interessadas na aprovação da iniciativa e os
assessores, peritos, técnicos, membros do Governo, funcionários públicos ou
quaisquer entidades, públicas ou privadas, que entender, assim como recolher os
pareceres, relatórios e outros documentos relevantes que lhe sejam facultados,
espontaneamente ou a seu pedido, sobre a matéria em causa.
2 – O autor da iniciativa legislativa a apreciar ou um dos seus subscritores
tem o direito de a apresentar, querendo, perante a comissão parlamentar
competente, que, uma vez manifestada a vontade de exercer tal prerrogativa,
marca reunião para o efeito.
3 – Após a apresentação prevista no número anterior, segue-se um período
de esclarecimentos a prestar pelo autor da iniciativa legislativa, a instâncias dos
Deputados presentes na reunião, sobre a substância do texto em discussão.
4 – O Presidente pode também enviar à comissão parlamentar competente
para a apreciação inicial qualquer documento pertinente ou proposta de
alteração que entenda dever desde logo propor.224
5 – A comissão parlamentar competente pode apresentar textos de
substituição global225 das iniciativas originárias de lei em apreciação para

224 Trata-se de um direito de participação nos trabalhos parlamentares reconhecido às


presidências no Direito Comparado (cfr. “Presiding Offices”, página 58, que fala da existência
dessa faculdade – “power to transmit a text to a committee” - numa vasta maioria de
parlamentos, que se inscreve no direito de participação do Presidente, na qualidade de
Deputado, nos trabalhos parlamentares); a extensão dessa faculdade aos restantes membros da
Mesa – que eu tinha previsto no esboço inicial deste texto – não terá justificação, porque eles
também fazem parte, em regra, das comissões parlamentares permanentes.

108
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

discussão e votação na generalidade, sem prejuízo dos projectos ou propostas de


lei, quando não retirados, a que se refiram.
6 – As propostas de alteração e os textos de substituição globais
apresentados ao abrigo do disposto nos n.os 4 e 5 devem constar, em anexo, do
relatório e parecer da comissão.226

225 Mesmo que a comissão entenda dever substituir apenas parte do texto da iniciativa legislativa
originária em que incida, é preferível, por uma questão de facilitação metodológica da discussão
e votação na generalidade, apresentá-lo de forma global, ainda que com remissão para as
partes do texto primitivo não substituídas.
226 Esta norma inovatória, parcialmente baseada em disposições paralelas do regimento

português, traz a vantagem de permitir, nesta fase crucial do processo, a recolha paulatina e
gradual de uma ampla gama de elementos susceptíveis de enriquecer o debate e melhorar o
texto normativo; é manifestamente vantajosa também do ponto de vista da economia
processual, porque possibilita a preparação atempada das fases subsequentes do processo;
quanto mais coisas forem antecipadamente preparadas menos tempo se perderá quando
tiverem de ser apresentadas em fase ulterior; proponho é a eliminação da norma que obriga à
auscultação das organizações sindicais ou patronais e do Governo a respeito da legislação do
trabalho (artigo 97º em vigor) por me parecer dispensável em face da prática parlamentar,
disseminada e regular, de fazer audições públicas sobre quase todos os diplomas sujeitos à
apreciação das comissões (certamente não deixarão de o fazer a propósito de leis laborais); é
uma prática aplaudida em vários estudos de Direito Parlamentar Comparado; a apresentação de
textos de substituição, por seu turno, é permitida em numerosos regimentos, de entre os quais o
português e o cabo-verdiano, e não é posta em causa – antes pelo contrário, aconselhada – pela
doutrina constitucionalista (vd., por exemplo, “Manual”, Tomo V, páginas 254 e 255); o glossário
que encontramos no portal cibernáutico do parlamento português (www.parlamento.pt)
concebe o “texto de substituição” como o “documento que pretende substituir, total ou
parcialmente, uma iniciativa legislativa, projecto ou proposta de lei”; o regimento português prevê
os textos de substituição tanto na generalidade como na especialidade; entendo, porém, que os
textos de substituição na especialidade não o são nem na sua essência nem sob o ponto de vista
formal; embora os textos modificativos do ou dos aprovados na generalidade possam, por
comodidade processual, ser reunidos num só, uma vez obtido consenso indiciário, eles acabam
por ter a natureza de propostas de alteração que terão de ser consolidadas na comissão, de
modo a que o texto a apresentar ao plenário, para votação final global, seja único (já que a
votação final global, ao contrário da generalidade no sistema português, só pode gerar uma
texto normativo); em Portugal – contra a minha proposta para Timor-Leste – é possível a
aprovação na generalidade de várias iniciativas originárias de lei sobre a mesma matéria, que
podem porventura ser conciliadas e fundidas na fase da especialidade, mas que também o
podem ser logo na fase de apreciação prévia; no caso de iniciativa de lei única aprovada na
generalidade, já perderá sentido falar de texto de substituição na fase da especialidade, porque
o novo texto que se formar nessa fase resulta de alterações – não “substituições” – nele
introduzidas; daí que Gomes Canotilho – talvez duvidando da dificuldade em conciliar na
especialidade vários textos aprovados na fase anterior – fale sempre no singular da possibilidade
de substituição “por outro do texto do projecto ou proposta” (in “Direito Constitucional e Teoria da

109
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 148º
Discussão pública de iniciativas originárias de lei

Constituição”, 4ª Edição, Almedina, página 846); na base do sistema que proponho está o
entendimento de que só é possível conciliar num só texto iniciativas sobre o mesmo assunto que
não divirjam substancialmente entre si ou, divergindo, em que tenha havido acordo quanto às
diferenças políticas que as dividam, o que pode ser conseguido na fase da apreciação inicial em
comissão; os textos de substituição, na minha proposta só admissíveis nessa primeira etapa, têm,
assim, por escopo o melhoramento técnico e de conteúdo do texto através de “inputs” recolhidos
das bancadas parlamentares e assessorias técnicas, quando se tratar de uma só iniciativa, ou a
conciliação de vários textos num só, quando, havendo mais do que uma iniciativa, haja acordo
político nesse sentido, sempre, em qualquer caso, sem prejuízo da discussão e votação das
iniciativas primitivas em que os textos de substituição incidam; na lógica do sistema que proponho,
a decisão de legislar num ou noutro sentido tem é de ser tomada necessariamente na
generalidade, que é a fase que determina a escolha do esboço de lei a trabalhar nas etapas
subsequentes (nesse sentido opina Jorge Miranda, para o qual a decisão de legislar e com base
em quê é tomada na votação na generalidade); se há vários textos idênticos e pouco a separá-
los, então basta que um siga em frente, porque pode sempre ser pontualmente modificado por
via de propostas de alteração que até, porventura, aproveitem ideias dos textos rejeitados, não se
vislumbrando vantagem na aprovação de todos ele e conciliação posterior num só corpo textual;
se há vários textos e diferenças políticas profundas a dividi-los, não vejo como é possível imaginar
a aprovação de todos eles na generalidade, quando é suposto que as posições de fundo das
bancadas já estejam definitivamente consolidadas – após três fases processuais (admissão,
apreciação inicial e generalidade) decorridas e completas, com tempo suficiente para os
protagonistas do jogo parlamentar formarem as suas opiniões – e não fazendo sentido prolongar a
contenda política para a fase subsequente, perdendo-se tempo e atrasando-se o
desenvolvimento do processo, num estágio de muito previsivelmente difícil obtenção de acordos
políticos; e, mesmo que, inesperadamente, esses acordos fossem conseguidos, ainda assim
poderia fazer-se funcionar, em última e derradeira instância, o mecanismo das propostas de
alteração para se obter o resultado que já não estava no horizonte das expectativas políticas;
pela prática parlamentar verificada nos últimos seis anos em Timor-Leste, antevejo muito remota a
possibilidade de várias iniciativas legislativas sobre a mesma matéria poderem ser aprovadas na
generalidade depois de trabalhadas na fase da apreciação preliminar (isso só quase esteve
prestes a ocorrer quando da discussão de um pacote de projectos legislativos sobre assuntos
eleitorais); no entanto, reconheço muita validade e pertinência à tese dos especialistas
parlamentares que defendem a faculdade de apresentação de textos de substituição também
na fase da especialidade, justificados, contudo, numa lógica que me custa a aceitar e que
consiste na possibilidade de aprovação na generalidade de várias iniciativas originárias de lei;
ciente de que a futura revisão do regimento reclama a maior ponderação, aconselho, assim, a
que esta questão, como muitas outras constantes da minha proposta global, seja objecto de
profunda análise e reflexão, para que possamos aprovar um regimento bem estruturado e com
chance de alguma durabilidade.

110
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Em razão da especial relevância da matéria, a comissão parlamentar


competente pode propor ao Presidente a discussão pública de projectos ou
propostas de lei.
2 – O disposto no número anterior não prejudica as diligências que as
comissões parlamentares competentes em razão da matéria entendam
desenvolver de modo a recolher os contributos dos interessados,
designadamente através de audições parlamentares.227

Artigo 149º
Elaboração de relatório e parecer
1 – Cabe à mesa da comissão parlamentar competente a designação de
Deputado responsável pela elaboração do projecto de relatório e parecer
relativo à apreciação inicial.
2 – Quando se justifique, a mesa pode designar mais do que um Deputado
para elaborar o projecto mencionado no número anterior.
3 – Na designação dos Deputados responsáveis pela elaboração do
projecto de relatório e parecer, deve atender-se, conjugadamente:
a) A uma distribuição equilibrada e rotativa dessa tarefa;

227 O n.o 1 não se confunde com a realização, por exemplo, de audições públicas, enraizadas na
prática parlamentar timorense; daí que o n.o 2 as excepcione; o n.o 1 contempla outra
modalidade de consulta pública, igualmente facultativa, mas cada vez mais em voga nos
parlamentos modernos, que consiste em publicitar a iniciativa originária de lei ou um aviso acerca
da existência da mesma, por exemplo através dos jornais, da rádio, da televisão ou do portal da
Internet detido pelo respectivo parlamento, de forma a recolher contributos da parte da opinião
pública ou, para usar uma expressão mais contemporânea, da sociedade civil, permitindo que
esta se pronuncie, querendo, sobre o projecto ou proposta legislativa; daí se chamar “discussão
pública”, porque a interacção que se consegue com o cidadão, por esse meio, permite o debate
de ideias, mesmo que só por escrito; infelizmente, dado o estado do desenvolvimento tecnológico
em Timor-Leste e a pobreza do portal da Internet do PN, o recurso intensivo à Internet, para este
fim, é, por enquanto, quase uma miragem; de qualquer modo, o n.o 1, possibilitando a recolha de
pareceres e sugestões úteis para o processo legislativo e proporcionando a reflexão sobre a
matéria que esteja em causa, é também uma forma de garantir o direito de participação
institucional dos cidadãos na vida política; a democracia representativa – de que o parlamento é
sua expressão – exige, nas palavras de António Costa Rodrigues, “maior participação social nos
processos de tomada de decisão” (in “Discussão pública no processo legislativo”, Assembleia da
República, Lisboa, 2001); a abertura de processos de discussão pública deve ser fomentada,
porque aproxima mais a vontade dos representados dos seus representantes; dessa forma, o
legislador tem mais possibilidades de conhecer as opiniões externas, embora sem se comprometer
com as mesmas, por não serem vinculativas.

111
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) À indicação preferencial de Deputados que não sejam autores da


iniciativa legislativa em análise;
c) À vontade expressa de um Deputado com apetência para analisar
determinada matéria.228

Artigo 150º
Conteúdo do relatório e parecer
1 - O relatório e parecer da comissão parlamentar a que caiba a
apreciação inicial deve conter, pelo menos:
a) Uma análise breve da conformidade dos requisitos constitucionais, legais
e regimentais, de natureza formal e material, a que a iniciativa legislativa deva
obedecer;
b) O enquadramento legal e doutrinário do tema, incluindo, sempre que
possível, no plano internacional ou regional;
c) Uma análise sucinta dos factos, situações e realidades a que a iniciativa
legislativa diga respeito;
d) Um esboço histórico dos problemas suscitados;
e) A apreciação das consequência previsíveis da aprovação da iniciativa
legislativa e os previsíveis encargos com a sua aplicação;
f) Referências a contributos de entidades que tenham interesse nas
matérias tratadas na iniciativa legislativa, designadamente os pareceres por elas
emitidos;
g) Posições sumárias das bancadas parlamentares, Deputados
independentes e Deputados únicos representantes de partido político ou
coligação partidária, se as houver;229

228 Os objectivos deste número são fáceis de intuir; a alínea a) é uma orientação para evitar que
sejam sempre os mesmos os Deputados nomeados; a alínea b) visa assegurar o desejável
distanciamento do texto em análise, que um seu autor não terá; a alínea c) tem por escopo
aproveitar os conhecimentos e a vontade de quem sinta vocação, habilidade ou qualificações
para tratar de uma matéria específica, que por isso terá maior propensão a trabalhar com mais
afinco, rigor e dedicação sobre o assunto que se lhe depare.
229 De acordo com um princípio geral de explicação intuitiva, os relatórios das comissões devem

também incluir as opiniões dissonantes seja em relação ao texto no seu todo seja quanto a parte
do seu conteúdo ou, por exemplo, às conclusões e recomendações; nalguns parlamentos, grupos
minoritários dentro de uma comissão têm até o direito de fazer publicar os seus próprios relatórios
separados do relatório principal da comissão, quando, naturalmente, não concordem com ele;
em muitos parlamentos, por outro lado, qualquer Deputado individualmente considerado com
pontos de vista divergentes pode emitir declarações de voto ou quaisquer outras em que exprima

112
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

h) Conclusões e parecer;
i) Recomendações, se as houver, e anexos, se os houver.
2 – O relatório e parecer deve ser assinado pelo presidente da comissão
parlamentar competente e pelo relator ou relatores.

Subsecção III
Discussão e votação na generalidade230

Artigo 151º
Regra da discussão e votação na generalidade de iniciativas originárias de lei
1 - Os projectos e propostas de lei admitidos, assim como os textos de
substituição global apresentados por comissão parlamentar competente, são
obrigatoriamente discutidos e votados na generalidade em Plenário.
2 – A discussão precede sempre a votação, que tem lugar assim que
concluída aquela.
3 – Os textos de substituição global, quando existam, são discutidos em
conjunto com os projectos e propostas de lei a que se refiram.
4 – Quando haja projectos ou propostas de lei que versem matérias
idênticas, a sua discussão deve ser feita em conjunto, desde que os mesmos
tenham sido admitidos até dez dias antes da data marcada para a discussão e
votação.

Artigo 152º
Conhecimento prévio dos projectos e propostas de lei

as suas opiniões contrárias, as quais, no espírito da norma proposta, devem constar do relatório,
ainda que em anexo (vd. “Tools”, páginas 36-37).
230 Primeira etapa da fase constitutiva, de deliberação ou de discussão e votação, também

designada por “fase de decisão”, “fase dispositiva”, “fase conclusiva”, “fase decisiva”, “fase
decisória” ou “fase deliberativa”, sendo, no fundo, “aquela em que se produz o acto principal e
ao qual se reportam os efeitos jurídicos essenciais” (in J. J. Gomes Canotilho, “Direito Constitucional
e Teoria da Constituição”, 4ª Edição, Almedina, páginas 847-848); a segunda etapa, que se segue
lógica e cronologicamente à primeira, é a da especialidade; não concordo inteiramente com a
afirmação do Prof. Jorge Miranda de que a decisão de legislar (aprovando na generalidade o
texto) ou não legislar (rejeitando-o na generalidade) é tomada na votação na generalidade,
sendo as outras votações “consequenciais” (“Manual”, Tomo V, página 275); isto porque a última
votação (a votação final global) é susceptível de produzir um acto negativo de reprovação –
embora raramente isso aconteça (aconteceu uma vez, curiosamente, em Timor-Leste) –
determinando a caducidade do processo e a não emissão do acto legislativo que se pretendia.

113
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Nenhum projecto ou proposta de lei pode ser apreciado em comissão


parlamentar ou agendado para discussão e votação em reunião plenária sem
antes ter sido distribuído a todos os Deputados.

Artigo 153º
Objecto da discussão na generalidade
A discussão na generalidade incide sobre os princípios e o sistema de cada
projecto ou proposta de lei.

Artigo 154º
Início e desenvolvimento da discussão na generalidade
1 – A discussão na generalidade de determinada iniciativa originária de lei
é marcada pelo Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares,
observando-se o disposto nos artigos 78º e 79º.
2 - O debate na generalidade de texto agendado inicia-se com a
apresentação sucinta das conclusões do relatório e parecer da comissão
parlamentar competente em sede de apreciação inicial da iniciativa legislativa
em debate, por tempo não superior a dez minutos, pelo Deputado membro
daquela comissão que esta indicar para o efeito.
3 – Concluída a apresentação prevista no número anterior, há lugar a uma
intervenção do autor do texto em discussão, que é, no caso de projectos de lei
subscritos por vários Deputados, um dos signatários escolhidos de entre os
proponentes.
4 - Às intervenções iniciais dos autores dos textos em debate segue-se um
período de perguntas, respostas e comentários, em que consiste o debate
propriamente dito.
5 – O debate termina assim que esgotados os tempos de intervenção
disponíveis ou quando não houver mais pedidos de palavra.

Artigo 155º
Tempos de uso da palavra
1 - Os tempos de uso da palavra pelos Deputados e pelos membros do
Governo, para intervir no debate, são fixados globalmente, por bancada
parlamentar, Deputado independente, Deputado único representante de partido
político ou coligação partidária e Governo, pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, tendo em conta a natureza e a importância da matéria a discutir,
mediante grelha de distribuição de tempos globais, atribuídos na proporção da

114
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

respectiva representatividade, aprovada por aquela e distribuída a todos os


Deputados concomitantemente com a agenda respectiva.
2 – Para efeitos do disposto no número anterior, o tempo de uso da palavra
a atribuir ao Governo é igual ao da maior bancada parlamentar.231
3 – Na falta de fixação da grelha de tempos globais a que se refere o n.o 1,
aplicam-se as seguintes regras gerais:
a) A intervenção inicial mencionada no n.o 3 do artigo anterior tem a
duração máxima de 15 minutos para cada texto em debate;
b) Durante o debate, cada Deputado pode usar da palavra por uma só
vez e tempo não superior a cinco minutos;232
c) Os membros do Governo presentes, quando se trate da discussão de
proposta de lei, dispõem do tempo global previsto no número anterior, a ratear
entre eles, não devendo cada um deles falar, de cada vez, por mais de cinco
minutos;
d) A Mesa concede a palavra de modo a evitar, durante o debate, mais
do que duas intervenções seguidas de Deputados da mesma bancada
parlamentar ou do Governo;
e) O Deputado que não pretenda intervir no debate pode ceder o tempo
de que disponha, declarando-o expressamente à Mesa, a Deputado que
pretenda falar mais do que uma vez.
4 – O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa,
protestos e contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou
consideração não é considerado nos tempos previstos no número anterior, que se
destinam a intervenção no debate propriamente dito.

Artigo 156º
Momento e objecto da votação na generalidade

231 Trata-se de um critério razoável também previsto, entre outros, nos regimentos de Cabo Verde,
São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau.
232 De acordo com esta regra, um debate terá a duração média possível de 325 minutos (65 x 5),

no pressuposto de todos os Deputados falarem ou de todos os tempos serem utilizados por recurso
ao mecanismo da proposta alínea e), sem contar com o tempo do Governo, com o tempo gasto
nas figuras regimentais que não são descontadas no debate, nos termos do n.o 4, e com os
intervalos e pausas; ou seja, significa reunião plenária com debate de duração útil de mais de seis
horas, o que é mais do que razoável e se enquadra na média de duração dos debates de fundo
na grande maioria dos parlamentos (cfr., por todos, “Te volume of parliamentary workload”, in
“Constitutional and Parliamentary Information”, publicada pela Associação dos Secretários-Gerais
dos Parlamentos da IPU).

115
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - A votação na generalidade do texto agendado tem lugar assim que


terminado o respectivo debate.
2 - A votação na generalidade versa sobre cada projecto de lei, proposta
de lei ou texto de substituição global.233

Artigo 157º
Ordem da votação na generalidade de vários textos
1 – Quando várias iniciativas originárias de lei e textos de substituição global
sobre idêntica matéria tiverem sido objecto de discussão em conjunto, observam-
se, quanto à ordem da sua votação, as seguintes regras:
a) A votação de texto de substituição global precede a do projecto ou
proposta de lei a que se refere;
b) A votação de projecto de lei precede a de proposta de lei sobre a
mesma matéria;
c) A votação de vários projectos de lei ou propostas de lei começa pelo
texto identificado, em epígrafe, pelo número mais baixo e prossegue com a
votação sucessiva dos que tiverem a numeração seguinte por ordem aritmética,
até à aprovação de um deles.
2 – A aprovação de um texto inutiliza a votação de todos aqueles textos
que, discutidos em conjunto com o aprovado, se refiram à mesma matéria, de
modo a que só um texto passe à discussão e votação na especialidade, sem
prejuízo do aproveitamento, sob a forma de propostas de alteração, dos textos
não aprovados.234

233 A finalidade desta votação é intuitiva: versa sobre a oportunidade e o sentido global da
iniciativa legislativa.
234 Admito que esta proposta é discutível, porque é possível a aprovação de vários textos na

generalidade, provenientes de diferentes quadrantes político-parlamentares, susceptíveis de


concitar algum consenso e poderem todos ser aceites se não contiverem diferenças políticas
substanciais, podendo assim ser reunidos, na fase da especialidade, num único texto
compromissório que concilie as posições comuns e o que de bom se retire de cada um deles; o
motivo da minha proposta radica na preferência, revelada pela prática parlamentar, em levar um
só texto à especialidade, por um questão de simplificação processual, sem prejuízo do
aproveitamento dos textos “chumbados” sob a forma de propostas de alteração; acho, em todo
o caso, que o objectivo de conjugação dos diferentes projectos ou propostas de alteração pode
ser mais eficazmente alcançado, quando haja várias iniciativas originárias de lei sobre a mesma
matéria, logo na fase da apreciação inicial, através de texto de substituição global que
compatibilize os diversos textos; se a Câmara desejar esse consenso, aprovará, então, esse texto
compromissório na fase da generalidade, o que facilita a tramitação processual, estando mesmo
assim qualquer Deputado sempre a tempo, apesar do consenso estabelecido, de propor as

116
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 158º
Transição para a fase de discussão e votação na especialidade
1 - O texto aprovado na generalidade, quando não tenha de ser discutido
e votado na especialidade também em Plenário, baixa imediatamente,
mediante despacho do Presidente, à comissão parlamentar competente.
2 - A comissão parlamentar competente para proceder à discussão e
votação na especialidade é aquela que haja feito a apreciação inicial dos textos
submetidos à discussão e votação na generalidade.
3 - O despacho do Presidente a que se refere o n.o 1 deve conter:
a) A indicação concreta da comissão parlamentar competente, de acordo
com o princípio estabelecido no número anterior;
b) O prazo de que a comissão parlamentar competente dispõe para a
conclusão da discussão e votação na especialidade, de acordo com o disposto
no artigo 162º.

Subsecção IV
Discussão e votação na especialidade235

Artigo 159º
Regra da competência para a discussão e votação na especialidade
Salvo o disposto no artigo seguinte e sem prejuízo do direito de avocação
previsto no artigo 163º, a discussão e votação na especialidade de texto
aprovado na generalidade cabe à comissão parlamentar competente em razão
da matéria, aplicando-se o disposto no n.o 2 do artigo anterior.236

alterações pontuais que entender adequadas na fase seguinte, que é a da especialidade; vd.
também, sobre esta questão, as observações feitas nas notas de rodapé relativas ao artigo 147º.
235 Segunda sub-fase da fase constitutiva, deliberativa ou de debate e votação.
236 Tento inverter, desta forma, a regra regimental que obriga a discutir e votar na especialidade

em Plenário a grande maioria das iniciativas legislativas, dada a forma como está formulado o
actual artigo 102º do Regimento; este preceito, que contempla a excepção à regra da discussão
e votação em comissão, contém uma tão vasta lista de excepções que estas acabaram por se
tornar na regra; tal prática, que afecta a funcionalidade do trabalho parlamentar, contraria a
tendência, diria quase universal, de fazer deslocar para as comissões (constituídas por grupos de
trabalho pouco numerosos e, assim sendo, mais funcionais) os trabalhos de maior pormenor e
tecnicidade, reservando a função tribunícia e de discussão meramente política para os plenários,
vocacionados – até pelo impacto mediático das intervenções que nele se produzem – para o
debate das grandes questões nacionais; a redução da lista de matérias a tratar na especialidade
em Plenário agiliza o processo legislativo e alivia o Plenário de uma tarefa em grande parte

117
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 160º
Excepções à regra da competência da comissão parlamentar
1 - São obrigatoriamente discutidas e votadas na especialidade em
Plenário as iniciativas originárias de lei que criem impostos.
2 - São também obrigatoriamente discutidas e votadas na especialidade
em Plenário:
a) As propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do Estado;
b) As iniciativas originárias de lei cuja discussão e votação em Plenário seja
imposta pela Constituição237, por lei ou pelo Regimento.238

Artigo 161º
Início da discussão e votação na especialidade

essencialmente técnica, sem embargo sempre, naturalmente, do direito de avocação da


discussão e votação na especialidade para o Plenário, o que se supõe irá ser utilizado quando
estejamos em face de assuntos social ou politicamente sensíveis susceptíveis de dividir opiniões; a
lista de matérias hoje obrigatoriamente sujeitas a discussão e votação no Plenário é, de facto,
demasiado extensa e emperra, muitas vezes, o processo legislativo, nomeadamente porque exige
a formação de quóruns deliberativos mais dificilmente obtíveis no Plenário; a multiplicidade,
diversidade e complexidade de matérias que os parlamentos são hoje chamados a tratar justifica
esta transferência de funções para as comissões, em nome da optimização dos trabalhos
parlamentares, ajudando a descomprimir os plenários (vd. “Constituição Anotada – Tomo II”,
página 608, onde se sublinha que a concentração do trabalho parlamentar, cada vez mais, nas
comissões é uma tendência que se verifica um pouco “por toda a parte”); como se escreve em
“Presiding Offices”, a páginas 54, as assembleias parlamentares são demasiado grandes para
permitirem significativos debates em reuniões plenárias se não for feito um trabalho preparatório e
de saneamento de todos os assuntos submetidos à sua apreciação, sendo por isso que o trabalho
de análise legislativa é compartilhado previamente com órgãos mais pequenos, que são as
comissões (adaptação minha para português da ideia escrita na obra referida); na IPU, as
comissões são mesmo caracterizadas como órgãos que prestam assistência à Assembleia,
preparando o seu trabalho e elaborando relatórios e projectos de textos a discutir e votar (vd.
artigo 13º dos respectivos estatutos); teorizando a justificação da deslocação do trabalho
parlamentar para as comissões, escreve-se ainda em “Tools”, a páginas 15, que “committees offer
a setting which facilitates detailed scrutinity of draft legislation, oversight of government activities
and interaction with the public and external actors” (sublinhado meu).
237 Embora a Constituição não interfira na esfera de auto-organização do Parlamento, admite

indirectamente, pelo menos num caso, que a especialidade tem de ocorrer em Plenário: o das
alterações constitucionais, através do processo de revisão constitucional, porque é exigida para a
sua aprovação a maioria qualificada de dois terços de todos os Deputados, só obtíveis no Plenário
(artigo 155º, n.o 1, da Constituição).
238 Cláusula residual; é exemplo a discussão e votação de eventuais propostas de alteração a

decreto vetado politicamente pelo Presidente da República.

118
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A discussão e votação na especialidade inicia-se:


a) Assim que baixa à comissão parlamentar competente, nos casos
previstos no n.o 1 do artigo 158º;
b) Na reunião plenária, marcada para o efeito, subsequente àquela em
que o texto haja sido aprovado na generalidade, nos casos previstos no artigo
anterior.239

Artigo 162º
Prazo para a discussão e votação na especialidade em comissão
1 - Nos casos a que se refere o artigo 159º, a comissão parlamentar deve
concluir a discussão e votação na especialidade no prazo que lhe for fixado pelo
Presidente ou, não o havendo, dentro de 30 dias a contar da baixa à comissão
do respectivo texto aprovado na generalidade.
2 – Sempre que se trate de diploma demasiado extenso ou complexo, o
Presidente fixa o prazo dilatado que considere suficiente para a conclusão da
tarefa.240

Artigo 163º
Avocação pelo Plenário
1 – O Plenário pode deliberar, a qualquer momento, a avocação da
discussão e votação na especialidade de parte do texto que se encontre a ser
discutido e votado na especialidade em comissão, mediante requerimento de
pelo menos vinte Deputados ou duas bancadas parlamentares.241

239 Não acho bom que, como tem acontecido muitas vezes até agora, a fase da especialidade se
inicie imediatamente a seguir à conclusão da generalidade, na mesma reunião plenária, sem dar
tempo aos Deputados para começar a conceber e preparar propostas de alteração; deve haver
um hiato mínimo – salvo consenso em contrário, devido, por exemplo, à simplicidade do assunto –
entre a conclusão de uma fase e o início da seguinte, até porque, como se propõe no artigo 167º
do articulado que sugiro, deve ser fixado prazo, ainda que não absoluto, para a apresentação de
propostas de alteração.
240 Estou a pensar, por exemplo, num grande código legislativo.
241 A relação entre o Plenário e as comissões assemelha-se às que se estabelecem entre comitente

e comissário ou delegante e delegado, em que o primeiro tem o poder de controlar e chamar a


si, a todo o tempo, a prática dos actos autorizados; a obrigação de o requerimento ser subscrito
por um número mínimo de Deputados ou bancadas visa rodear a utilização do mecanismo de
alguma seriedade e evitar a sua utilização leviana; ao contrário do Regimento português, prevê-
se aqui a avocação quer da votação quer também da inerente discussão; nunca compreendi
por que o regimento português só prevê a avocação da votação e não também da discussão,
porque faz todo o sentido discutir o que se avoca, para depois se votar em consciência; “avocar”
significa “chamar a si”, “atrair”, “chamar uma causa ou processo que corria por outro” órgão

119
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - O requerimento a que se refere o número anterior, obrigatoriamente


apresentado por escrito, deve especificar concretamente as partes do texto cuja
discussão e votação se pretende avocar para o Plenário.242

Artigo 164º
Tempos de uso da palavra em Plenário
1 – Quando a discussão e votação na especialidade ocorra no Plenário nos
casos previstos no artigo anterior e no artigo 160º, cada Deputado dispõe de um
minuto para se pronunciar sobre cada artigo ou proposta de alteração
apresentada.
2 – O autor ou um dos autores, quando haja vários, de proposta de
alteração dispõe de dois minutos para a apresentar e justificar oralmente,
podendo ainda usar da palavra, por tempo máximo de cinco minutos, para
prestar esclarecimentos ou responder ao conjunto de todas as questões
colocadas sobre a proposta de alteração.
3 – O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa,
protestos e contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou
consideração não é descontado nos tempos previstos nos números anteriores.
4 – Quando se trate da discussão e votação na especialidade de proposta
de lei, os membros do Governo presentes têm direito a usar da palavra nos termos
previstos nos números anteriores.243

Artigo 165º
Objecto da discussão e votação na especialidade

(nesse sentido vai o glossário parlamentar moçambicano, que pode ser consultado em www.asg-
plp.org).
242 Não creio ser admissível a avocação de todo o texto, embora se possa tornear esta restrição

pedindo-se a avocação de praticamente todo ele, porque isso não deixa de ser uma parte –
embora extensa – do texto; desde que não seja pedida a avocação da totalidade, pode pedir-se
a avocação da maior parte do texto; em todo o caso, o direito de avocação não é de exercício
potestativo e não opera, pois, automaticamente com a apresentação do requerimento, que
carece de ponderação e deliberação da Câmara.
243 Preferi circunscrever ao Plenário esta regra do uso da palavra para intervir no debate da

especialidade, porque – diz-me a experiência – as comissões funcionam com muito mais


informalidade e com uma gestão de tempos sem a rigidez própria dos plenários, onde se justifica
a imposição de limites aos tempos de uso da palavra por estarmos perante plateias bem mais
vastas; no entanto, admito perfeitamente que a regra possa ser extensível à comissão, até por lhe
ser aplicável supletivamente.

120
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - A discussão na especialidade versa sobre cada artigo ou proposta de


alteração admitida.244
2 – A discussão na especialidade de artigos sobre os quais não hajam
recaído propostas de alteração cinge-se à colocação de dúvidas ou questões
concretas, relacionadas com o texto em apreço, que não tenha sido possível
esclarecer em sede de apreciação inicial.
3 – Pode ser deliberado, quando metodologicamente se justifique, que a
discussão incida simultaneamente sobre conjuntos de mais do que um artigo ou,
com fundamento na complexidade da matéria ou das propostas de alteração
apresentadas, se faça por números ou alíneas.
4 – Os conjuntos de artigos a discutir simultaneamente ou cada número ou
alínea a discutir separadamente, nos termos do disposto no número anterior,
funcionam como um só artigo ou proposta de alteração para efeitos de
atribuição de tempos de uso da palavra ao abrigo do n.o 1 do artigo anterior.
5 - A votação na especialidade, que tem lugar imediatamente a seguir à
discussão dos textos a votar, incide sobre cada proposta de alteração, artigo,
número ou alínea ou conjunto de artigos, conforme determinado ao abrigo do n.o
3 e pela ordem indicada no artigo 170º.
6 – Os preâmbulos dos diplomas, embora votáveis autonomamente, só são
objecto de discussão quando sobre eles hajam sido apresentadas propostas de
alteração.
7 – Os artigos, números ou alíneas que remetam para anexos que façam
parte integrante do diploma são discutidos e votados em paralelo, começando-
se pelo conteúdo dos anexos.245

244 Com a transferência da quase totalidade das discussões e votações na especialidade para as
comissões, abandona-se a regra de pura e simplesmente não haver discussão de artigos sobre os
quais não tenha sido apresentada qualquer proposta de alteração, embora se estipule uma
limitação ao uso da palavra para esse efeito; de resto, essa disposição regimental em vigor não
tem vindo a ser respeitada, porque se instalou o hábito de ler e debater brevemente cada artigo,
mesmo que não haja propostas de alteração; discordo é da prática de pedir ao Governo a
justificação de cada artigo de proposta de lei, porque as razões subjacentes ao articulado do
texto originário, nesta fase procedimental, já devem estar suficientemente adquiridas, por terem
sido objecto de estudo quer na comissão em apreciação inicial (cujo relatório e parecer é dado a
conhecer a todos) quer durante a generalidade (onde, apesar de se discutirem os princípios e as
ideias gerais do diploma, também se debate, ao fim e ao cabo, o conteúdo dos artigos); de todo
o modo, com o que proponho há sempre possibilidade de rebater argumentos e repisar
explicações e fundamentações, nos limites de um minuto por interveniente e artigo, quando em
Plenário, ou dentro da informalidade e abertura que caracterizam os trabalhos das comissões,
quando em comissão.

121
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 166º
Regra geral sobre a ordenação da discussão e votação
1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, de métodos lógicos que se
imponham e de metodologias específicas deliberadas pelo Plenário sob proposta
da Mesa ou de qualquer Deputado, o articulado do texto é discutido e votado
pela sua ordem aritmética.246
2 – Só é possível reabrir a discussão e votação de texto já votado:
a) Por consenso;
b) Quando se detecte ter ocorrido irregularidade processual susceptível de
afectar a validade de votação realizada;
c) Em caso de avocação para o Plenário da discussão e votação de texto
votado em comissão.
3. Nos casos previstos no número anterior, a nova votação implica a
anulação automática da já realizada.247

Artigo 167º
Prazo de apresentação de propostas de alteração
1 - O presidente do órgão parlamentar colegial onde decorra a discussão e
votação na especialidade fixa, no início da discussão na especialidade, prazo
para a entrega de propostas de alteração e, caso se justifique, para a
organização e distribuição, pelos serviços de apoio competentes, de guião da
discussão e votação, aprovado pela respectiva mesa.
2 – Se não for fixado prazo nos termos do número anterior, só podem ser
apresentadas propostas de alteração a determinado artigo ou parte de texto até

245 A ordem da votação destes textos já foi questionada, com muita pertinência, a respeito, por
exemplo, da discussão e votação da proposta de lei de Orçamento Geral do Estado rectificativo
em 2008, tendo-se verificado significativas divergências entre a posição da Mesa, as assessorias e
alguns Deputados mais experientes; com este preceito, fica definida uma metodologia que tanta
polémica já causou.
246 Solução igual consta do regimento da Lituânia (“unless the Seimas decides otherwise, articles

shall be adopted in sequence”, segundo a versão em inglês que recolhi da Internet).


247 Este artigo, cuja autoria assumo, visa pôr termo a intensas polémicas registadas, durante a

primeira sessão legislativa da II Legislatura, sobre a reabertura de processos de votação, que


causaram alguma crispação entre a Mesa e alguns Deputados que questionaram as suas
decisões sobre o assunto.

122
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

ao encerramento da discussão e votação do artigo ou parte do texto


imediatamente antecedente na ordem respectiva.248 249
3 - Podem ser apresentadas propostas de alteração fora do prazo a que se
referem os números anteriores, por escrito ou, oralmente, nos casos previstos no n.o
3 do artigo 169º, sempre que o desenvolvimento do processo de discussão e
votação o justifique e não haja oposição da maioria dos Deputados que
componham o órgão parlamentar colegial respectivo.

Artigo 168º
Legitimidade para apresentação de propostas de alteração
Qualquer Deputado, mesmo que não seja membro do órgão parlamentar
colegial competente, ou, no caso de proposta de lei, membro do Governo pode
apresentar proposta de alteração, identificando, sempre que possível, a sua
natureza em face dos tipos de propostas de alteração previstos no artigo 142º.

Artigo 169º
Admissão e requisitos formais das propostas de alteração
1 – Qualquer proposta de alteração, devendo ser apresentada por escrito,
só é submetida a discussão e votação depois de admitida pela Mesa250, uma vez
verificado, nomeadamente251, que:
a) A alteração proposta tem a ver com a iniciativa legislativa em
discussão;252

248 “Ordem respectiva” significa ordem do texto da iniciativa legislativa originária ou ordem
diferente estabelecida em atenção a determinada metodologia julgada mais adequada.
249 Prazo supletivo que visa disciplinar a organização do debate e discussão na especialidade,

evitando a apresentação indefinida de propostas e a eternização desta fase processual.


250 Opta-se aqui por atribuir a responsabilidade pela verificação da admissibilidade das propostas

de alteração à Mesa no seu todo e não apenas ao Presidente, dada a intervenção activa
daquela em toda a fase da especialidade, seguindo-se a orientação de muitos países (cfr.
“Presiding Offices, página 64).
251 Enumeração não taxativa, porque há outros requisitos óbvios a preencher, como, por exemplo,

o de a proposta vir assinada pelo seu autor.


252 Este requisito foi acrescentado depois de ter redigido os restantes, quando deparei com uma

regra regimental brasileira interessante acerca de recusa de presidente de comissão em admitir


“emenda formulada de modo inconveniente, estranha ao projecto em discussão ou anti-
regimental” (in “Manual de Elaboração Legislativa – Modelos e Informações”, 4ª Edição Revista e
Ampliada, Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Informação, Coordenação de
Publicações, Brasília, 2002).

123
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) A proposta de alteração está escrita na mesma língua do texto em que


incida, sem prejuízo do disposto no n.o 3;
c) Está claramente identificada a parte do texto eliminado, alterado ou
aditado;
d) É inteligível o sentido da modificação a introduzir.253 254
2 – A decisão de não admissão de proposta de alteração é imediatamente
comunicada aos membros presentes do órgão parlamentar colegial respectivo,
aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 109º.
3 - É admissível a apresentação oral de propostas de alteração quando o
seu sentido, pela sua simplicidade, possa imediatamente ser compreendido por
todos os Deputados que componham o órgão colegial em que tal apresentação
ocorra.255

Artigo 170º
Ordem da votação256
1 – A ordem da votação de cada parte de texto é a seguinte:
a) Propostas de eliminação;
b) Propostas de substituição;
c) Propostas de emenda;
d) Texto discutido, com as alterações eventualmente já aprovadas;
e) Propostas de aditamento ao texto votado.257

253 Encontramos o conceito de “inteligibilidade” nos regimentos, nomeadamente, do Bangladesh


e das Ilhas Salomão, embora a propósito do conteúdo de questões a dirigir ao Executivo.
254 Há casos curiosos, em parlamentos de matriz anglo-saxónica, de motivos para não admissão

de propostas de alteração (“amendments”); no Bangladesh, designadamente, o Speaker pode


recusar uma emenda que entenda “frivolous” (“frívola”, em português, tem o significado de “fútil”,
“leviana”, “insignificante”), “inconsistente” com decisão prévia ou “irrelevante” para a matéria em
causa, o que denota a maior maleabilidade de análise dos requisitos materiais das alterações
conferida ao Speaker nos sistemas parlamentares baseados na Common Law, quando
comparados com os modelos napoleónicos.
255 Em nome da celeridade processual, não se vê inconveniente em que propostas de eliminação

ou muito curtas e simples propostas de emenda, substituição ou aditamento possam ser


apresentadas por via oral, quando resultem da dinâmica do debate e não se veja necessidade
de as reduzir a escrito (o registo, para efeitos processuais, há-de sempre constar da gravação ou
respectiva acta ou súmula).
256 Esta votação destina-se à aprovação ou rejeição de cada um dos preceitos ou alterações a

eles propostas.
257 Nos parlamentos de tradição ou influência britânica não é costume haver uma ordem tão

rígida na votação das “emendas”, deixando-se a decisão ao livre critério do Speaker; no

124
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – A aprovação de proposta de eliminação inutiliza, por prejudicialidade,


todas as propostas idênticas ou de diferente natureza que hajam sido
apresentadas sobre a disposição eliminada.258
3 – Quando haja duas ou mais propostas de alteração do mesmo tipo, são
as mesmas submetidas à votação pela ordem da sua apresentação.
4 - No caso previsto no número anterior, a aprovação de uma das
propostas de alteração inutiliza, por prejudicialidade, todas as restantes que
disponham em sentido idêntico ou cuja aprovação se revele incompatível ou
inconciliável com o sentido da proposta aprovada.
5 – Cabe à mesa respectiva decidir sobre as propostas que considere
prejudicadas nos termos do número anterior.
6 – Da decisão da mesa respectiva a que se refere o número anterior cabe
reclamação e recurso, nos mesmos termos que são permitidos das decisões do
Presidente.

Subsecção V
Votação final global259

regimento do Bangladesh, designadamente, o Speaker “may put” (amendments) “to the vote in
any order he may choose”.
258 O conceito prático de prejudicialidade também tem consagração no Direito Parlamentar

brasileiro e o regimento da Câmara dos Deputados dedica-lhe mesmo um capítulo inteiro (vd. a
entrada designada por “prejudicialidade de proposição” em “Manual de Elaboração Legislativa –
Modelos e Informações”, 4ª Edição Revista e Ampliada, Câmara dos Deputados, Centro de
Documentação e Informação, Coordenação de Publicações, Brasília, 2002); naturalmente,
porém, como todas as decisões da Mesa em geral, também as que considerem ou não
determinadas propostas de alteração prejudicadas, por estarem consumidas por outras
aprovadas, são recorríveis, nos termos gerais, para o Plenário; o conceito de “prejudicialidade”
constante de glossário incluído na 3ª Edição do “Manual de Atuação Parlamentar” da Câmara
dos Deputados Brasileira, para a legislatura de 2003-2007, define-o como “declaração, pelo
presidente da Casa, ou de Comissão, de que determinada matéria perdeu a oportunidade de
apreciação”, acrescentando que “da declaração de prejudicialidade cabe recurso para o
Plenário”; mas também noutros casos de Direito Comparado opera esse mecanismo de
inutilização do debate e votação de emendas que hajam perdido sentido (“Presiding Offices”
aflora o problema, no capítulo sobre se o Speaker controla os textos sob discussão e votação,
através desta frase muito significativa, a páginas 77, que se transcreve: “It has of course been seen
above that under certain circumstances a Speaker may decide on the admissibility of
parliamentary proposals; he may also have to decide during the debate that, because certain
articles and amendments have been adopted, others have become meaningless” – sublinhado
meu).

125
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 171º
Momento da votação final global
A votação final global tem lugar:
a) Assim que terminada a discussão e votação na especialidade, quando
ocorra em Plenário;
b) Na reunião plenária marcada, pelo Presidente, para o efeito, uma vez
por si recebido o respectivo texto, quando tenha sido objecto de discussão e
votação na especialidade em comissão.

Artigo 172º
Objecto da votação final global
1 – A votação final global incide sobre o texto da iniciativa com todas as
alterações aprovadas nele introduzidas.
2 – Quando a discussão e votação na especialidade tenha ocorrido no
Plenário e a votação final global se lhe siga imediatamente, é dispensada a
preparação do texto global com as alterações aprovadas nele incorporadas,
entendendo-se que a votação incide sobre todo o texto global.
3 - Na situação prevista no número anterior, os serviços de apoio
competentes preparam o texto global, sob a coordenação da Mesa, uma vez
aprovado em votação final global.
4 – A votação final global não é precedida de discussão, podendo, no
entanto, cada Deputado produzir uma declaração de voto nos termos do
disposto no artigo 111º.

Subsecção VI
Redacção final260

Artigo 173º
Objecto da redacção final
A redacção final incide sobre o texto global aprovado em votação final
global.

259 Terceira e última etapa da fase constitutiva, de deliberação ou de discussão e votação; tem
por objecto o conjunto do texto aprovado na especialidade, permitindo um juízo definitivo sobre
ele em função das modificações que a sua versão inicial haja sofrido.
260 Esta sub-etapa do processo legislativo integra-se, a meu ver, ainda na fase constitutiva do

processo legislativo.

126
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 174º
Competência para a redacção final
1 – A redacção final dos textos globais aprovados em votação final global
incumbe à comissão parlamentar competente, aplicando-se o disposto no n.o 2
do artigo 158º.
2 – Cabe aos serviços a que compita o apoio ao Plenário e à Mesa enviar à
comissão parlamentar competente, para redacção final, o texto global de
projecto ou proposta de lei aprovado em votação final global, podendo aqueles
apresentar, sob autorização da Mesa, as sugestões de redacção final que se
afigurarem pertinentes.261

Artigo 175º
Finalidade da redacção final
1 – A redacção final dos textos aprovados em votação final global destina-
se a aperfeiçoar a sua sistematização e o seu estilo gramatical.
2 – Na redacção final, a comissão parlamentar competente pode ter em
conta, nomeadamente, os seguintes aspectos:
a) Ordenação sistemática das previsões normativas;
b) Correcção morfológica262, sintáctica263 e técnica264 dos textos;
c) Uniformidade de expressões e conceitos utilizados;
d) Respeito pelas regras legais e regulamentares que regulam a
apresentação, identificação e publicação dos actos normativos.265

261 Dá-se aqui corpo a uma prática que tem vindo a ser seguida pelos serviços que apoiam a
Mesa e o Plenário, mas que não afecta a competência exclusiva da comissão para determinar a
redacção final; esse trabalho preparatório, auxiliar e meramente opinativo desses serviços não é
vinculativo para a comissão, a qual é livre de aceitar ou não, no todo ou em parte, as sugestões
que lhe são apresentadas (que não passam disso mesmo).
262 Das palavras.
263 Das frases, em termos da sua construção.
264 Tenho em vista, por exemplo, a correcção de remissões erradas.
265 Esta fase, tão incompreendida durante a Primeira Legislatura, destina-se à depuração do texto

do ponto de vista da chamada “legística formal”, tendo, no entanto, o pensamento legislativo


como baliza intransponível (as ideias são intocáveis); a finalidade é torná-lo o mais inteligível,
perfeito, conciso e correcto à luz das regras de gramática e da linguagem técnica a que deve
obedecer; muitos parlamentos dispõem de manuais de redacção legislativa ou de actos
normativos em geral, que facilitam o trabalho dos Deputados incumbidos dessas tarefas; são os
casos de Portugal (Assembleia da República) e Brasil (Câmara dos Deputados) no âmbito da CPLP
(esses manuais podem ser consultados nos portais da Internet dos respectivos parlamentos,
estando ainda alguns deles disponíveis no sítio da Associação dos Secretários-Gerais dos
Parlamentos de Língua Portuguesa com o endereço www.asg-plp.org); em Timor-Leste, não

127
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – A comissão parlamentar competente não pode modificar o


pensamento legislativo, deliberando a redacção final do texto sem votos contra
ou, não sendo isso possível, por maioria qualificada de dois terços dos membros
presentes.266

Artigo 176º
Prazo para a redacção final
1 – A comissão parlamentar competente efectua a redacção final no prazo
fixado pelo Presidente ou, não o havendo, no prazo máximo de quinze dias.267
2 – Concluída a redacção final, o texto é imediatamente enviado ao
Presidente.

Artigo 177º

havendo ainda manual de redacção legislativa específico para os actos normativos emitidos pelo
Parlamento Nacional, devem-se-lhe aplicar a LPA e, com as necessárias adaptações, as
orientações constantes do Despacho n.o 1/SECM/2007, de 31 de Agosto, alterado pelo Despacho
n.o 1/2008, de 31 de Março (Regras de Legística na Elaboração de Actos Normativos pelo IV
Governo Constitucional); no entanto, mesmo sem a existência desses diplomas, há um conjunto
de cânones tradicionais na elaboração de actos normativos, compilados em obras específicas,
que pessoal técnico especializado pode aplicar, sem grandes controvérsias, na fase da redacção
final dos textos; o ideal seria, até, que existisse um corpo de assessores dedicados exclusivamente
a essa missão concreta, como acontece nalguns parlamentos, dotados de muitos meios de apoio
técnico à actividade legislativa; infelizmente, como isso não tem sido possível em Timor-Leste, creio
que a melhor solução é detalhar o mais possível, quer no Regimento, quer em manuais e
regulamentos próprios, as directrizes que hão-de guiar a redacção normativa, com vista, para
além do mais, à racionalização da feitura dos actos normativos, à compreensibilidade e
qualidade linguística dos textos e à uniformização da linguagem e dos conceitos utilizados; não
deixa de ser, contudo, uma tarefa delicada a levar a cabo com o maior cuidado e atenção,
para evitar desvios indesejados do pensamento legislativo (ficou conhecido em Portugal um
famoso caso que ocorreu com um acto legislativo parlamentar, em cuja redacção final a
colocação de uma simples vírgula mudou diametralmente o sentido de determinada norma do
diploma em questão, o que fez “correr rios de tinta” em torno da responsabilidade pela falha).
266 A redacção final não é uma operação política que possa dividir opiniões; é uma tarefa

exclusivamente técnica que, com o apoio das assessorias, deve reunir consenso; mesmo assim, e
atendendo à prática parlamentar timorense, sugiro uma solução intermédia não tão drástica
como a do regimento português, onde só se admite deliberação sem votos contra; norma
correspondente do regimento guineense, útil para a percepção do problema, prescreve que “a
redacção final dos projectos e propostas de lei aprovados será confiada à comissão competente,
que não poderá alterar a substância do diploma ou o pensamento legislativo, competindo-lhe
apenas aperfeiçoar a técnica e o estilo jurídicos do texto”.
267 Fica, assim, colmatada a lacuna do regimento em vigor que consiste em não existir prazo

supletivo para a redacção final.

128
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Reclamações contra inexactidões


1 – O Presidente, uma vez recebido o texto aprovado em redacção final,
manda publicá-lo imediatamente no Jornal do Parlamento Nacional ou, em
alternativa, anuncia a sua existência em reunião plenária, sem prejuízo da sua
ulterior publicação. 268
2 – Qualquer Deputado pode apresentar reclamações contra inexactidões
do texto no prazo de três dias úteis a contar, consoante os casos previstos no
número anterior, da publicação do texto aprovado em redacção final ou do
anúncio da sua existência em reunião plenária.
3 – O Presidente decide as reclamações no prazo de vinte e quatro horas a
contar do termo do prazo previsto no número anterior e anuncia a decisão em
reunião do Plenário ou da Comissão Permanente, podendo os Deputados
reclamantes recorrer da decisão, para o Plenário ou para a Comissão
Permanente, até à reunião de um destes órgãos imediata à do anúncio da
decisão.

Artigo 178º
Texto definitivo
Considera-se definitivo o texto sobre o qual não tenham recaído
reclamações ou aquele a que se tenha chegado depois de decididas as
reclamações apresentadas.269

Artigo 179º

268 A prática parlamentar dos últimos tempos tem sistematicamente esquecido o prazo de
reclamações contra a redacção final, que encontra justificação na necessidade de possibilitar
aos Deputados que não hajam intervindo na redacção final (todos, menos os da comissão
parlamentar competente) o controlo do respeito pelo pensamento legislativo; para que, no
entanto, possam conhecer o texto aprovado em redacção final, é preciso dá-lo a conhecer, dar-
lhe publicidade, sob pena de os Deputados, não sabendo da sua existência, não poderem
exercer o seu legítimo direito de reclamação; preconizo, porém, uma solução mais suave do que
a do regimento português e consentânea com a celeridade processual, que não chega à
imposição de publicação obrigatória no jornal oficial do texto aprovado em redacção final,
optando-se por uma solução alternativa entre a publicação do texto ou, nos casos em que se
justifique acelerar o desfecho do processo legislativo, o mero anúncio público, em reunião
plenária, da sua existência, o que bastará para que os Deputados que se mostrem interessados ou
tenham curiosidade em confrontar a versão do texto aprovado em votação final global com a do
texto aprovado pela comissão em sede de redacção final tenham possibilidade de reagir,
querendo, no uso do direito de reclamação.
269 Aqui, sim, o texto é definitivo, no sentido de ser irrecorrível, já não poder ser modificado.

129
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Decreto
Denomina-se decreto o texto definitivo de projecto ou proposta de lei
depois de assinado pelo Presidente do Parlamento Nacional.270

Subsecção VII
Promulgação e reapreciação de decretos do Parlamento Nacional271

Artigo 180º
Envio do decreto para promulgação
1 - O decreto é enviado, para promulgação272, ao Presidente da República.
2 – Quando promulgado, o decreto toma a forma de lei do Parlamento
Nacional e é enviado para publicação no Jornal da República, acompanhado
dos autógrafos impostos pela Lei da Publicação dos Actos.273

270 Nesta acepção (não esquecer que há decretos do PR e decretos do Governo), “decreto” é,
pois, o projecto ou proposta de lei aprovado pelo parlamento “antes da promulgação” (in
“Dicionário”, página 293) mas – acrescento eu – depois de assinado pelo Presidente do
Parlamento.
271 Fase da promulgação e do controlo (sigo a orientação do Prof. Jorge Miranda, discordando da

inclusão no processo legislativo da fase de integração de eficácia, traduzida na publicidade do


acto legislativo, por se situar fora do processo legislativo; naturalmente, a sub-fase de
reapreciação de decreto parlamentar vetado é eventual, porque só tem lugar se o PR exercer o
seu direito de veto).
272 A promulgação é, segundo o glossário do portal da Internet do parlamento português

(www.parlamento.pt), o “acto do Presidente da República que declara a existência da lei e


atesta que ela proveio do órgão competente, após o regular processo legislativo”; é, noutra
formulação mais simples, “o acto pelo qual o Chefe de Estado declara a existência da lei e
ordena a sua execução” (“Dicionário”, página 704); insere-se, segundo Gomes Canotilho, na fase
de controlo do processo legislativo, “destinada a permitir a avaliação do mérito e da
conformidade constitucional do acto legislativo” (in “Direito Constitucional e Teoria da
Constituição, 4ª Edição, Almedina, páginas 848-849).
273 A fase da publicação – requisito de eficácia da lei (artigo 73º, n.o 2, “a contrario”, da

Constituição) - situa-se já fora do processo legislativo (vd. “Manual”, Tomo V, página 245); Gomes
Canotilho, integrando-a, no entanto, na fase de integração de eficácia do processo legislativo,
define-a como o “acto mediante o qual os actos normativos” (neste caso lei) “são levados ao
conhecimento dos seus destinatários” (in “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, 4ª
Edição, Almedina, páginas 849 a 851), sendo a forma de publicidade de actos normativos ou de
conteúdo genérico dos órgãos de soberania feita através da publicação no jornal oficial (artigo
73º da Constituição); numa outra formulação, “publicação” (da lei) é “o meio (que, aliás, tem
variado com os tempos) de levar a lei ao conhecimento geral dos indivíduos” (“Dicionário”,
página 717).

130
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Os serviços de apoio competentes do Parlamento Nacional colaboram


com os serviços da Presidência da República na preparação e envio do diploma,
em versão electrónica e em papel, ao organismo responsável pela publicação.274
4 – As rectificações275 ao texto da lei publicada no Jornal da República a
que haja lugar são decididas e ordenadas pelo Presidente do Parlamento
Nacional, a pedido de qualquer Deputado ou órgão parlamentar, de acordo
com o disposto no artigo 17º da Lei da Publicação dos Actos.

Artigo 181º
Reapreciação do decreto objecto de veto político276
1 – No caso de exercício do direito de veto pelo Presidente da República
nos termos do n.o 1 do artigo 88.o da Constituição, a nova apreciação do
diploma vetado277 efectua-se no prazo de noventa dias a contar da recepção
da mensagem fundamentada do Presidente da República, em reunião plenária

274 Apesar de a ordem de publicação competir à Presidência da República, tem sido seguida a
prática de serem os serviços de apoio parlamentares a promover o envio das versões electrónica
e em papel do texto legal à Gráfica Nacional (responsável pela publicação); esta norma
formaliza essa tradição, embora consigne “ex novo” também o dever de colaboração entre os
dois órgãos de soberania.
275 Segundo Gomes Canotilho, qualquer rectificação, sendo um “acto jurídico-público
materialmente administrativo destinado a corrigir erros de execução material ocorridos no
procedimento de publicação de uma norma jurídica”, destina-se a corrigir apenas faltas ou lapsos
na impressão gráfica do diploma legislativo, estando assim afastada a possibilidade de quaisquer
alterações relativas ao conteúdo e sentido do diploma encobertas sob a forma de rectificação (in
“Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, 4ª Edição, Almedina, página 852); há, pois, que
rodear a emissão de rectificações das maiores cautelas, para não se cair na tentação de
emendar através delas ideias expressas de forma imperfeita no texto legal.
276 O adjectivo “político” não é empregue na Constituição, mas, como diz o Prof. Jorge Miranda,

assim o é na sua natureza, porque não pode fundar-se em razões jurídicas; “por óbvia
contraposição com o” veto jurídico, só pode “radicar em razões políticas”; “o veto por
inconstitucionalidade precede, logicamente, o veto político” e o exercício do veto político
preclude, em regra, a iniciativa de fiscalização preventiva da constitucionalidade através do veto
jurídico (a não ser, por exemplo, que do exercício do veto político resulte novo diploma, por
alteração do vetado, que suscite ao PR dúvidas de constitucionalidade) (cfr. “Manual”, Tomo V,
páginas 292 a 296).
277 Quase me atreveria a sugerir a expressão “decreto vetado”, porque aqui é possível

pormenorizar; a Constituição está feita, neste aspecto, em abstracto, numa altura em que, face à
inexistência de norma constitucional tipificadora dos actos normativos dos órgãos de soberania,
ainda não se sabia como se iria chamar o acto legislativo final do PN antes da promulgação;
aliás, o texto em vigor, que basicamente mantive, fala depois, nos números seguintes, em
“decreto”, o que não abona à uniformidade conceptual.

131
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

marcada por iniciativa do Presidente do Parlamento Nacional ou a requerimento


potestativo278 de pelo menos dez Deputados ou qualquer bancada
parlamentar.279
2 – Na discussão apenas intervêm, por uma só vez e tempo não superior a
dez minutos, um dos autores do projecto ou da proposta de lei relativo ao
diploma vetado280, um Deputado por cada bancada parlamentar e os
Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária. 281
3 – A votação pode versar sobre a confirmação do decreto do Parlamento
Nacional ou sobre propostas para a sua alteração, que têm de ser apresentadas
até ao final do debate previsto no número anterior.282 283
4 – No caso de serem apresentadas propostas de alteração, a votação
incide apenas sobre os artigos objecto das propostas de alteração.284
5 – O texto do decreto que não sofra alterações 285 não carece de voltar à
comissão parlamentar competente para efeitos de redacção final.286

Artigo 182º
Efeitos da deliberação
1 - Se o Parlamento Nacional confirmar o voto nos termos dos n.os 2 e 3 do
artigo 88.o da Constituição, o decreto é enviado ao Presidente da República para

278 “Potestativo” é “o que está na faculdade ou poder de alguém” (“Dicionário”, página 671).
279 Acrescentei “plenária” para sublinhar que a discussão e votação deve ter lugar no Plenário.
280 Vidé nota sobre a expressão “decreto vetado”.
281 Trata-se de um debate que tem de ser rápido, porque a maioria dos argumentos foram

esgrimidos durante o respectivo processo legislativo e o veto a que se refere este artigo é ditado
por razões meramente políticas, não jurídicas; o limite máximo de 10 minutos parece-me razoável.
282 Há um debate único que, embora possa versar sobre a generalidade do diploma vetado, não

pode ser qualificado como de “generalidade”, no que não acompanho o texto regimental em
vigor; aliás, as questões em que se centrará o debate tenderão a cingir-se aos problemas
suscitados na mensagem presidencial; é, pois, limitado às questões colocadas, pelo que não me
parece ser tão geral como o artigo actual supõe.
283 Que, naturalmente, seguem a tipologia normal das propostas de alteração.
284 Regista-se aqui uma excepção à regra da discussão e votação na especialidade em

comissão.
285 Por ter sido “confirmado”.
286 Eliminei “na segunda deliberação” do texto actual, não só por a expressão ser inócua como

ainda por poder lançar alguma confusão sobre esta fase processual eventual; já basta utilizar
como sinónimo de nova apreciação o vocábulo “reapreciação”; um terceiro sinónimo – segunda
apreciação ou deliberação – parece-me excessivo e perturbador da uniformidade terminológica;
“a contrario sensu” e por uma questão de lógica, o texto que sofra alterações carece de
redacção final.

132
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

promulgação obrigatória no prazo de oito dias a contar da data da sua


recepção.287
2 – Se o Parlamento Nacional introduzir alterações, o novo decreto é
enviado ao Presidente da República para promulgação.288
3 – Se o Parlamento Nacional não confirmar o decreto vetado, a respectiva
iniciativa originária de lei não pode ser renovada na mesma sessão legislativa.

Artigo 183º
Reapreciação do decreto objecto de veto por inconstitucionalidade289
1 – No caso de exercício do direito de veto pelo Presidente da República
nos termos do artigo 149o da Constituição, é aplicável, com as devidas
adaptações, o disposto nos artigos 88o da Constituição e 181º e 182º do
Regimento, com as excepções constantes dos números seguintes e do artigo
seguinte.290
2 – A votação pode versar sobre a expurgação da norma ou normas por
cuja inconstitucionalidade o Supremo Tribunal de Justiça se tenha pronunciado,
sobre a reformulação do decreto ou sobre a sua confirmação.291

287 Creio que esta redacção remissiva para a Constituição é preferível à redacção espartilhada
dos actuais n.os 1 e 2 do artigo 110º do regimento em vigor, como se a especialidade contida no
seu n.o 2 não partilhasse da previsão normativa do n.o 1 a respeito do envio do texto para
promulgação; acrescentei, no entanto, “obrigatória”, para sublinhar, como se faz no texto em
vigor, mas por outras palavras, que o Presidente da República está vinculado à promulgação; não
pode vetar de novo, nem politicamente, nem juridicamente, em caso de confirmação do voto,
sob pena de violação das suas obrigações constitucionais; “voto” significa, no texto da
Constituição, “aprovação”.
288 “Alterações” são, na linguagem regimental, modificações em geral, através das quatro

modalidades permitidas; a expressão “emendas”, no texto em vigor, é de evitar; neste caso, ao


contrário do n.o 1, o Presidente pode vetar de novo, porque está perante texto novo que, também
ele, pode ser alvo de crítica, política ou jurídica, do Chefe do Estado.
289 Também conhecido, na doutrina, por “veto jurídico”, porque fundado apenas em meras razões

jurídicas consubstanciadas num juízo de inconstitucionalidade, sem prejuízo de se considerar que


a decisão em si de requerer o controlo preventivo da constitucionalidade é uma decisão política
– por natureza livre – do PR (vd. “Manual”, Tomo V, página 292); os constitucionalistas, como Jorge
Miranda, costumam classificar as inconstitucionalidades (entendida “inconstitucionalidade” como
não cumprimento da Constituição por órgão do poder político) em inconstitucionalidades por
acção e por omissão, total e parcial, material e formal ou formal e orgânica, originária e
superveniente, antecedente e consequente (vd. “Manual”, V I, T II, páginas 589 a 594).
290 Esta remissão para o regime da reacção parlamentar ao veto político é imposição da própria

Constituição (artigo 149º, n.o 4).


291 Mais uma vez eliminei “na generalidade” do texto regimental actual, porque não há

propriamente duas fases distintas – uma geral e uma especial – nesta fase eventual do processo

133
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – O decreto que tenha sido objecto de reformulação ou de expurgação


das normas julgadas inconstitucionais volta à comissão parlamentar competente
para efeitos de redacção final.

Artigo 184º
Envio para promulgação
1 - Se o Parlamento Nacional expurgar as normas julgadas inconstitucionais
ou confirmar o decreto, este é enviado ao Presidente da República para
promulgação obrigatória no prazo de oito dias dias a contar da data da sua
recepção.
2 – Se o Parlamento Nacional introduzir alterações ao decreto, o novo
decreto é enviado ao Presidente da República para promulgação.292

Secção II
Processos legislativos e de resolução especiais293

Subsecção I
Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência e apreciação da sua aplicação294

legislativo comum; é só uma fase enxertada nele, não um novo processo que justifique a
autonomização de duas novas sub-fases de generalidade e especialidade; é uma discussão e
votação única que tem objectos diferentes consoante a intenção seja retirar as normas viciadas,
manter o texto ou reformulá-lo em determinado sentido.
292 Neste caso, o Presidente da República pode vetar de novo, já que se trata de um decreto

reformulado, com novas normas ou normas alteradas, também susceptíveis, pois, de


inconstitucionalidade.
293 Relativamente à versão actual do regimento e também à sua fonte mais próxima (o regimento

português), acrescentei “e de resolução”, porque esta parte sistemática não abrange apenas
processos exclusivamente legislativos: o da subsecção I é misto, podendo gerar resolução ou lei; o
da subsecção II é puramente de resolução; o da subsecção III é claramente legislativo (o
regimento português inclui-o nesta divisão sistemática, mas a versão em vigor do regimento
timorense coloca-o, estranhamente, em capítulo separado); o da subsecção IV – embora diga
respeito à função financeira do PN – é, do ponto de vista da forma, essencialmente legislativo.
294 O estado de sítio e o estado de emergência – entre ambos existe apenas uma diferença de

grau - são estados de excepção que justificam a suspensão do exercício de parte dos direitos,
liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos (há direitos absolutos intocáveis); como
qualquer restrição ao exercício desses direitos, liberdades e garantias, só pode ser feita por lei
(artigos 24º e 25º da Constituição); vd., a propósito, as anotações constantes das páginas 148 a
169 de “Constituição Anotada – Tomo I”; a lei ordinária que regula o estado de sítio e o estado de

134
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 185º
Reunião do Parlamento Nacional
1 – Tendo o Presidente da República solicitado autorização ao Parlamento
Nacional para a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência, nos
termos constitucionais295 296, o Presidente do Parlamento Nacional promove a sua
imediata apreciação pelo Plenário ou pela Comissão Permanente, no caso de o
Parlamento Nacional não se encontrar em funcionamento efectivo ou não ser
possível a marcação imediata de reunião plenária.297
2 – A inscrição na ordem de trabalhos da apreciação do pedido de
autorização e a marcação de reunião do Plenário ou da Comissão Permanente
têm lugar independentemente de qualquer prazo ou formalidade regimental.298

Artigo 186º
Debate sobre a autorização da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência
1 – O debate tem por base a mensagem do Presidente da República que,
nos termos constitucionais, constitua o pedido de autorização da declaração do
estado de sítio ou do estado de emergência.
2 – O debate não pode exceder um dia e nele têm direito a intervir:299
a) O Primeiro-Ministro, por tempo não superior a sessenta minutos;
b) Um Deputado de cada bancada parlamentar, por tempo não superior a
trinta minutos;
c) Os Deputados independentes e Deputados únicos representantes de
partido político ou coligação partidária, por tempo não superior a 10 minutos.
3 – O debate é encerrado assim que produzidas as intervenções previstas
no número anterior.

emergência – contendo também normas procedimentais a concatenar com as do regimento – é


actualmente a Lei n.o 3/2008, de 22 de Fevereiro.
295 Creio ser de evitar, na medida do possível, remissões expressas para os preceitos constitucionais,

o que tem a vantagem de manter o Regimento actualizado em face de eventuais alterações


pouco profundas na Lei Fundamental.
296 Artigos 85º, alínea g), e 95º, n.o 3, alínea j), da Constituição.
297 Vd. também artigo 25º da Lei n.o 3/2008, que remete a regulação do processo aplicável para o

regimento.
298 É incorrecto o uso da expressão “precede qualquer prazo ou formalidade” constante do texto

em vigor.
299 Eliminei o advérbio “prioritariamente” da versão em vigor porque acho que só devem ser

admitidas as intervenções enumeradas.

135
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – Não podem ser inscritos quaisquer outros assuntos na ordem de


trabalhos destinada ao debate previsto nos números anteriores.
5 – As regras previstas no números anteriores aplicam-se quer a reunião
ocorra em Plenário quer ocorra na Comissão Permanente.

Artigo 187º
Votação da autorização
A votação incide sobre a concessão da autorização solicitada.

Artigo 188º
Forma da autorização
A autorização toma a forma de:
a) Lei, quando concedida pelo Plenário;
b) Resolução, quando concedida pela Comissão Permanente.300 301

Artigo 189º
Confirmação da autorização concedida pela comissão Permanente
Sempre que a autorização da declaração do estado de sítio ou do estado
de emergência seja concedida pela Comissão Permanente, esta convoca de
imediato o Plenário para reunir no mais curto prazo possível para efeitos de
confirmação302 da autorização.303 304

Artigo 190º
Duração do debate sobre a confirmação
O debate sobre a confirmação da autorização da declaração do estado
de sítio ou do estado de emergência não pode exceder um dia, aplicando-se,
com as devidas adaptações, o disposto no artigo 186º.

300 Vd. também artigo 16º da Lei n.o 3/2008.


301 Parece que, por questão de lógica, a eventual recusa de autorização também deve revestir a
forma de resolução, neste caso quer provenha da Comissão Permanente quer do Plenário (a
versão em vigor do regimento, assim como o regimento português, é omissa a este respeito).
302 “Confirmação”, no seu sentido vulgar e jurídico, de ratificação ou validação.
303 A norma regimental em vigor não me parece atender à celeridade que a situação exige, ao

estipular que a autorização da Comissão Permanente deve ser confirmada na “primeira reunião
plenária”; após “recesso parlamentar”?; se estivermos no início do recesso, teremos de esperar até
acabar o recesso para confirmarmos decisão sobre questão tão drástica quão excepcional?.
304 Vd. também a norma remissiva do artigo 26º da Lei n.o 3/2008.

136
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 191º
Votação da confirmação
A votação incide sobre a confirmação da autorização concedida pela
Comissão Permanente.

Artigo 192º
Forma do acto
1 – A confirmação da autorização concedida pela Comissão Permanente
toma a forma de lei.
2 – A recusa de confirmação da autorização concedida pela Comissão
Permanente toma a forma de resolução.

Artigo 193º
Debate sobre a renovação da autorização ou a modificação ou revogação da
declaração do estado de sítio ou do estado de emergência
No caso de o Presidente da República ter solicitado a renovação da
autorização do Parlamento Nacional para a declaração do estado de sítio ou do
estado de emergência ou a modificação ou revogação da respectiva
declaração, aplicam-se, com as devidas adaptações, os artigos anteriores.305

Artigo 194º
Apreciação da aplicação do estado de sítio ou do estado de emergência
1 - O Presidente do Parlamento Nacional promove, nos termos
constitucionais306 e legais307, a apreciação pelo Plenário da aplicação da
declaração do estado de sítio ou do estado de emergência.
2 – Aos debates aplicam-se, com as devidas adaptações, as disposições
constantes do artigo 186º.

Subsecção II
Autorização para declarar a guerra ou fazer a paz

Artigo 195º
Reunião do Parlamento Nacional para apreciação do pedido de autorização
para declarar a guerra ou fazer a paz

305 Cfr. artigo 27º da Lei n.o 3/2008.


306 Artigo 25º da Constituição.
307 Artigo 29º da Lei n.o 3/2008.

137
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Quando o Presidente da República solicitar autorização ao Parlamento


Nacional para declarar a guerra ou fazer a paz, nos termos constitucionais308, o
Presidente do Parlamento Nacional promove a sua imediata apreciação pelo
Plenário ou pela Comissão Permanente, no caso de o Parlamento Nacional não
se encontrar em funcionamento efectivo ou não ser possível a marcação
imediata de reunião plenária.
2 – Ao debate aplica-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo
186º.

Artigo 196º
Votação da autorização para declarar a guerra ou fazer a paz
A votação incide sobre a concessão da autorização solicitada.

Artigo 197º
Forma da autorização para declarar a guerra ou fazer a paz
A autorização toma a forma de resolução.309

Artigo 198º
Convocação imediata do Plenário
Sempre que a autorização para a declaração de guerra ou feitura da paz
seja concedida pela Comissão Permanente, esta convoca de imediato o Plenário
para reunir no mais curto prazo possível, para efeitos de confirmação da
autorização, à qual se aplica o disposto nos artigos 189º e 190º.

Artigo 199º
Debate para confirmação da autorização da declaração de guerra ou feitura da
paz
O debate sobre a confirmação da autorização para a declaração de
guerra ou feitura da paz não pode exceder um dia, aplicando-se, com as
devidas adaptações, o disposto no artigo 186º.

Subsecção III

308 Artigos 85º, alínea h), e 91º, n.o 1, alínea c), da Constituição (curiosamente, do elenco de
competências do PN inscrito no n.o 3 do artigo 95º não consta a autorização ao PR para declarar
a guerra e fazer a paz).
309 Por maioria de razão, parece que a eventual recusa de autorização deve igualmente ter a

forma de resolução, seja da Comissão Permanente seja do Plenário (a versão em vigor do


regimento timorense e o regimento português são omissos).

138
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Autorizações legislativas310

Artigo 200º
Objecto, sentido, extensão e duração
1 - O Parlamento Nacional pode, através de lei, autorizar o Governo a fazer
decretos-leis, nos termos e sobre as matérias constitucionalmente previstos.311
2 – A lei de autorização legislativa deve definir o objecto, o sentido, a
extensão e a duração da autorização solicitada.
3 – A duração da autorização legislativa pode ser prorrogada por período
determinado, mediante nova lei de autorização legislativa.

Artigo 201º
Iniciativa das autorizações legislativas e informação do Governo
1 – A iniciativa originária de pedido de autorização legislativa é da exclusiva
competência do Governo, revestindo a forma de proposta de lei.312 313

310 Jorge Miranda refuta as concepções clássicas que explicam as autorizações legislativas como
transferências de poderes (legislativos), mandatos ou substituições; segundo o reputado
constitucionalista, a construção jurídica desta figura “tem de promover-se na específica
perspectiva constitucional da divisão de poderes e da colaboração dos órgãos de soberania”;
“não há transferência ou alienação de poderes”; o parlamento, aprovando a autorização, “não
cede faculdades atribuídas pela Constituição, nem renuncia ao seu exercício; “apenas chama o
Governo a também exercê-las”; mas, em todo o caso, ao legislar sob autorização, o Governo
“exerce uma competência sua, não exerce uma competência alheia”, “não é um mandatário do
Parlamento” (“Manual, Tomo V, páginas 315 a 318; no mesmo sentido vai Jaime Valle, in “A
participação”, página 306); no sentido de que o Parlamento chama o Governo a desempenhar
essas funções legislativas, as “autorizações legislativas” podem, assim, ser definidas também como
“delegações legislativas”, sendo essas expressões sinónimas umas das outras (vd. “Dicionário”,
página 297).
311 Artigo 96º da Constituição.
312 Constitui esta uma excepção à liberdade de iniciativa originária, que em termos normais é

concorrencial entre o PN e o Governo; é um caso de iniciativa legislativa reservada ao Governo,


ditada pela natureza das coisas (vd. “Manual”, Tomo V, páginas 255 a 258).
313 Suprimi a regra especial de não haver exame em comissão, para, na esteira da mesma opção

tomada em recente revisão do regimento português, permitir que, por aplicação supletiva das
regras do processo comum, a proposta de lei possa ser objecto de apreciação em comissão e,
seja qual for o órgão competente, também em especialidade; desfazem-se, assim, as dúvidas que
recentemente foram colocadas a respeito das fases que este processo especial deve comportar,
que culminou com a aceitação tácita da Mesa de um parecer restritivo da minha autoria; apesar
de ter opinado que não poderia haver discussão na especialidade face à versão do regimento
em vigor, entendo, “de jure condendo”, que ela deve ter lugar, uma vez que se trata de uma
iniciativa originária de lei que, como todas as outras, pode ser modificada pelo Parlamento; se

139
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – O Governo, quando tenha procedido a consultas públicas sobre um


anteprojecto de decreto-lei, deve, a título informativo, juntá-lo à proposta de lei
de autorização legislativa, acompanhado das tomadas de posição assumidas
pelas diferentes entidades interessadas na matéria em causa.

Subsecção IV
Plano e Orçamento Geral do Estado314

Artigo 202º
Apresentação e distribuição
1 – A iniciativa originária de lei sobre o Plano e o Orçamento Geral do
Estado é da exclusiva competência do Governo.315
2 – As propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do Estado relativas
a cada ano financeiro316 são apresentadas ao Parlamento Nacional nos prazos
legalmente fixados.317

contrariar substancialmente as intenções legiferantes do Governo, as consequências a extrair da


posição do Parlamento só podem ser colocadas no plano político e do relacionamento do
Governo com as forças parlamentares que o apoiem.
314 Vd. artigo 95º, n.o 3, alínea d), da Constituição (tratando-se de uma competência legislativa,

parece-me incorrecto ou, pelo menos, incompleto o termo “deliberar” utilizado neste preceito
constitucional, que, se tem sentido em relação aos relatórios sobre execução orçamental, já não
exprime correctamente a função do PN em sede de aprovação do Orçamento do Estado); vd.
também artigo 145º da Constituição.
315 Caso de iniciativa legislativa exclusiva e, nesta situação, obrigatória do Governo – excepção à

regra da iniciativa concorrencial e livre – determinada pela natureza das coisas e pelo papel
insubstituível do Governo em matéria de elaboração orçamental (vd. “Manual”, Tomo V, páginas
255 a 258); são fundamentalmente razões de ordem técnica, fundadas no reconhecimento de
que só o Governo se encontra apetrechado com os meios indispensáveis à elaboração da
proposta de lei orçamental, que explicam esta reserva de iniciativa originária de lei, para além da
que radica em ser ao Governo que fundamentalmente cabe a direcção política do Estado (vd.
“A participação”, páginas 114-115).
316 Nova nomenclatura compatível com a aprovada pela Lei n. o 8/2007, de 21 de Setembro (sobre

a definição de “período orçamental”).


317 Acho preferível remeter para o que a lei ordinária prescrever em matéria de prazo de

apresentação das iniciativas legislativas aqui previstas do que prever uma prazo irrealista e de
difícil cumprimento rigoroso (90 dias); de momento existe até choque flagrante entre a norma
regimental que estipula esse prazo de 90 dias e a do diploma sobre orçamento e gestão
financeira que prevê a apresentação até 15 dias antes do início do ano financeiro respectivo (n. o
10 do artigo 20º do Regulamento da UNTAET n.o 13/2001, interpretado actualisticamente); mesmo
que exista, não deixa de ser um prazo meramente disciplinador cujo não acatamento não
acarreta consequências jurídicas de vulto, a não ser a aplicação do orçamento anterior, em

140
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Admitidas as propostas de lei referidas no número anterior, o Presidente


ordena a sua distribuição imediata a todos os Deputados, começando pelas
direcções das bancadas parlamentares e Deputados únicos representantes de
partido político ou coligação partidária.
4 – As propostas de lei são, então, remetidas à comissão parlamentar
permanente competente em razão da matéria para as apreciar e elaborar
relatório final e às restantes comissões parlamentares competentes, para
elaboração dos pareceres parcelares a que se refere o artigo seguinte.

Artigo 203º
Exame pelas comissões parlamentares permanentes
1 – As comissões parlamentares competentes apreciam as partes das
propostas de lei que digam respeito às respectivas áreas de competências,
elaborando parecer no prazo de quinze dias.
2 – Os pareceres previstos no número anterior são enviados à comissão
parlamentar permanente competente em razão da matéria para apreciar e
elaborar relatório final sobre as propostas de lei, dispondo para o fazer do prazo
de dez dias a contar do termo do prazo previsto no número anterior.
3 – Para efeitos do cumprimento do disposto nos números anteriores, as
comissões parlamentares permanentes tomam as iniciativas e fazem as
diligências que considerem pertinentes e promovem as audições e reuniões de
trabalho, com membros do Governo, assessores e peritos, que se afigurem
necessárias.

Artigo 204º
Agendamento da discussão e votação
Recebido o relatório final sobre as propostas de lei, o Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares, agenda a discussão e votação na
generalidade e na especialidade das propostas de lei, nos termos dos artigos
seguintes.

Artigo 205º
Discussão e votação na generalidade

regime duodecimal, quando o que esteja a ser discutido não entre em vigor antes do início do
“ano económico” a que se refira; também esta expressão foi substituída pela de “ano financeiro”,
que obteve consagração na lei ordinária; a Constituição, por outro lado, não impõe nem o uso de
específica designação para o período anual de vigência do orçamento nem qualquer prazo para
a apresentação das propostas de lei.

141
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – A discussão na generalidade das propostas de lei do Plano e do


Orçamento Geral do Estado tem a duração de dois ou três dias.318
2 – O número de reuniões plenárias319 e o tempo global do debate na
generalidade, bem como a sua distribuição, são fixados pelo Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares.
3 – Na falta da decisão a que se refere o número anterior, há lugar a três
reuniões plenárias, aplicando-se à fixação e distribuição dos tempos de uso da
palavra, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 155º para cada uma
das reuniões plenárias.320
4 – Em qualquer caso, o debate inicia-se com uma intervenção do Primeiro-
Ministro e encerra-se com uma intervenção de cada bancada parlamentar,
Deputado único representante de partido político ou coligação partidária e
Governo, por esta ordem.
5 – Durante o debate, a ordem de trabalhos das respectivas reuniões
plenárias tem como único ponto a discussão e votação na generalidade das
propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do Estado.

Artigo 206º
Discussão e votação na especialidade
1 – A discussão e votação na especialidade decorre em Plenário, não
podendo a sua duração exceder dez reuniões plenárias.
2 – À discussão e votação na especialidade aplicam-se os artigos 164º a
170º, sendo, em qualquer caso, os orçamentos parcelares de cada ministério,
órgão ou serviço discutidos e votados, sucessivamente, pela ordem em que
constem do respectivo texto.

Artigo 207º
Votação final global e redacção final
1 – Assim que terminada a discussão e votação na especialidade, as
propostas de lei são submetidas a votação final global.

318 Acho excessivos, como já ficou demonstrado, os 3 dias inflexíveis actualmente previstos, uma
vez que se trata do debate genérico sobre a ossatura das propostas de lei; se o debate se
eternizar, a tendência será resvalar para o detalhe, quando a discussão dos pormenores deve
ficar para a fase da especialidade.
319 Duas ou três, nos termos do n.o 1.
320 Regra supletiva, optando-se pelo número máximo de reuniões plenárias permitidas pelo n. o 1.

142
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – A redacção final dos textos incumbe à comissão parlamentar


permanente competente em razão da matéria para apreciar e elaborar o
relatório final sobre as propostas de lei.

CAPÍTULO III
APRECIAÇÃO DE ACTOS LEGISLATIVOS DO GOVERNO321 322

Artigo 208º
Requerimento de apreciação de decretos-leis
1 - O requerimento de apreciação de decreto-lei para efeito de cessação
de vigência ou de alteração, nos termos constitucionais, deve ser subscrito por
pelo menos um quinto dos Deputados em efectividade de funções e
apresentado por escrito à Mesa nos trinta dias subsequentes à respectiva
publicação, descontados os períodos de suspensão de período normal de
funcionamento do Parlamento Nacional.323 324

321 Trata-se de um processo ao mesmo tempo de controlo político (materialmente) e porventura


legislativo ou de resolução (na perspectiva da forma final do acto que pode gerar); é essa
característica mista específica que motiva a sua colocação em divisão sistemática à parte da
anterior.
322 Este instituto já teve, em Portugal, a designação de “ratificação de decretos-leis”, traduzindo-se

a sua não apreciação pelo parlamento em ratificação tácita; esta construção jurídica do instituto
veio, no entanto, a ser abandonada em Portugal, por subentender que os actos legislativos do
Governo seriam actos sob condição suspensiva da ratificação parlamentar; ou seja, teriam o início
da produção dos seus efeitos jurídicos condicionado à ratificação parlamentar; com efeito, assim
não se passa, porque os decretos-leis são actos definitivos “elaborados no exercício de uma
competência autónoma e normal, não podendo considerar-se que a superveniência de eventual
acto” do Parlamento “determinante da cessação da vigência de um decreto-lei comunique uma
característica de provisoriedade à sua natureza” (in “A participação”, página 309); os regimentos
de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, embora denominando o instituto de “apreciação de
decretos-leis”, continuam a basear-se na noção de “ratificação”; para assegurar a certeza e a
segurança jurídicas, os decretos-leis só podem ser apreciados em determinado prazo, sob pena
de, não havendo limitação temporal, nunca se tornarem em diplomas definitivos na ordem
jurídica; como escreve Jaime Valle, “traduzindo a apreciação parlamentar o exercício de uma
competência de fiscalização política que é uma competência secundária, parece ajustado que
a sua iniciativa tenha de ocorrer num período de tempo determinado e relativamente curto, para
reduzir ao mínimo indispensável os seus efeitos sobre a certeza e segurança jurídica relativamente
à subsistência dos decretos-leis” (in “A participação”, página 308).
323 Há que combinar este preceito processual com a norma material constante do artigo 98º da

Constituição, para se concluir, por exemplo, que a apreciação parlamentar só pode incidir em
decretos-leis que não sejam da competência legislativa exclusiva do Governo (os do artigo 115º,
n.o 3, da Constituição), por razões óbvias que dispensam explicação; mas, obviamente, qualquer

143
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - O requerimento previsto no número anterior deve indicar o decreto-lei a


apreciar e a sua data de publicação, bem como, tratando-se de decreto-lei no
uso de autorização legislativa, a respectiva lei habilitante, devendo ainda conter
sucinta justificação de motivos
3 - À admissão do requerimento são aplicáveis, com as necessárias
adaptações, as regras dos artigos 138º e 140º.

Artigo 209º
Prazo de apreciação de decretos-leis
Se o decreto-lei sujeito a apreciação tiver sido emitido ao abrigo de
autorização legislativa, o Presidente deve agendar o seu debate até à sexta
reunião plenária posterior à apresentação do requerimento previsto no artigo
anterior.

Artigo 210º
Apreciação de decretos-leis na generalidade
1 - O decreto-lei é directamente apreciado na generalidade pelo
Plenário325, não havendo exame prévio em comissão.
2 - O debate é aberto por um dos autores do requerimento, tendo o
Governo direito a intervir.
3 - O debate não pode exceder duas reuniões plenárias.
4 – Sem prejuízo do disposto no n.o 2, compete à Conferência dos Líderes
Parlamentares determinar o número de reuniões plenárias a realizar, bem como
organizar o debate e fixar os respectivos tempos de uso da palavra.
5 – Na falta da decisão a que se refere o número anterior, há lugar a duas
reuniões plenárias, aplicando-se as regras previstas no artigo 155º, com as devidas
adaptações, por cada reunião plenária.326

norma de decretos–leis (incluindo os inseridos na competência legislativa exclusiva do Governo),


haja ou não apreciação parlamentar, pode ser sujeita a fiscalização sucessiva da
constitucionalidade (artigos 150º e 152º da Constituição).
324 A formulação da norma por referência ao objecto deste processo no singular parece-me mais

adequada.
325 É um erro frequente – que, aliás, também se verifica no regimento português – a alusão no

regimento em vigor à prática de determinado acto no órgão de soberania no seu todo, através
do uso da expressão “Parlamento”; sabendo-se que estamos no âmbito da instituição
parlamentar, o que interessa, para um enunciado normativo claro e indiscutível, é determinar qual
o seu sub-órgão (porque o Parlamento, sendo um órgão complexo, compõe-se ele próprio de
órgãos) que deve desempenhar determinada tarefa.
326 Regra supletiva.

144
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 211º
Votação e forma
1 - A votação na generalidade incide sobre a cessação de vigência.
2 - A cessação de vigência toma a forma de resolução.

Artigo 212º
Suspensão da vigência
1 - Requerida a apreciação de um decreto-lei, e no caso de serem
apresentadas propostas de alteração, o Parlamento Nacional pode suspender,
no todo ou em parte, mediante resolução, a vigência do decreto-lei até à
publicação da lei que o vier a alterar ou até à rejeição de todas as propostas de
alteração apresentadas.327
2 - A suspensão prevista no número anterior caduca decorridas dez
reuniões plenárias sem que o Parlamento Nacional se tenha pronunciado a final
sobre o decreto-lei.

Artigo 213º
Cessação de vigência
No caso de cessação de vigência, o decreto-lei deixa de vigorar no dia da
publicação da resolução no Jornal da República, não podendo voltar a ser
publicado no decurso da mesma sessão legislativa.

Artigo 214º
Repristinação
A resolução a que se refere o artigo anterior deve especificar se a
cessação de vigência implica a repristinação de normas eventualmente
revogadas pelo diploma em causa.328

327 No regime português, a suspensão de vigência só é admitida em relação aos decretos-leis


elaborados ao abrigo de autorização legislativa, dado presumir-se a validade e a eficácia jurídica
da generalidade dos decretos-leis enquanto não forem objecto de alteração ou cessação de
vigência; em Timor-Leste, todavia, a Constituição não distingue e parece admitir a suspensão da
vigência de quaisquer decretos-leis, o que - embora se estranhe, pela incerteza jurídica que essa
possibilidade cria - tem de ser respeitado a nível infraconstitucional.
328 O regimento actual não contém norma sobre a situação aqui contemplada, que tem a ver

com o problema da ressuscitação de normas revogadas por determinado diploma no caso de


este ser também revogado (aqui através da cessação da sua vigência), a que é comum chamar
repristinação.

145
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 215º
Alteração do decreto-lei
1 - Se não for aprovada a cessação da vigência do decreto-lei e tiverem
sido apresentadas propostas de alteração, o decreto-lei e as propostas de
alteração baixam à comissão parlamentar competente para proceder à
discussão e votação na especialidade, salvo se o Plenário deliberar que esta
ocorra em reunião plenária.
2 - As propostas de alteração podem ser apresentadas até ao termo do
debate na generalidade em Plenário, sem prejuízo do disposto no n.o 3 do artigo
167º.
3 – Se forem aprovadas alterações em comissão, o texto deve ser enviado
ao Plenário para, na reunião plenária seguinte, ser submetido a votação final
global, ficando o decreto-lei modificado nos termos da lei na qual elas se
traduzam.
4 - Se forem rejeitadas todas as propostas de alteração admitidas e a
vigência do diploma se encontrar suspensa, o Presidente deve remeter para
publicação no Jornal da República a declaração do termo de suspensão.
5 - Se todas as propostas de alteração forem rejeitadas pela comissão
parlamentar competente, considera-se caduco o processo de apreciação,
sendo o Plenário de imediato informado do facto e a respectiva declaração
remetida para publicação no Jornal da República.
6 – Se, requerida a apreciação, o Parlamento Nacional não se tiver
pronunciado ou, havendo deliberado introduzir alterações, não tiver votado a
respectiva lei até ao termo da sessão legislativa em curso, desde que decorridas
quinze reuniões plenárias, considerar-se-á caduco o processo.

Artigo 216º
Revogação do decreto-lei
1 - Se o Governo, em qualquer momento, revogar o decreto-lei objecto da
apreciação, o respectivo processo é automaticamente encerrado.
2 – Se a revogação ocorrer durante o debate na especialidade, pode
qualquer Deputado adoptar o decreto-lei como projecto de lei, nos termos dos
n.os 3 e 5 do artigo 135º.

CAPÍTULO IV

146
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

APRECIAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL329

Artigo 217º
Iniciativa em matéria de tratados, convenções e acordos internacionais
1 - Os tratados e convenções sujeitos à ratificação do Parlamento Nacional
e os acordos internacionais sujeitos à sua aprovação e denúncia nos termos
constitucionais, doravante designados genericamente de “instrumentos de Direito
Internacional”330, são enviados pelo Governo ao Parlamento Nacional através de
proposta de resolução.331

329 Embora os instrumentos de Direito Internacional sejam submetidos ao Parlamento Nacional


para sua “aprovação”, eles podem, teoricamente, não ser aprovados; daí que se proponha a
alteração do nome anterior deste capítulo.
330 É uma expressão genérica que abrange os três tipos de acordos internacionais contemplados e

que joga com a nomenclatura utilizada no corpo do n. o 3 do artigo 14º da LPA; para alicerçar a
simplificação de linguagem que sugiro, encontrei no regimento nicaraguense uma arrumação
terminológica muito semelhante, embora a designação genérica do instituto use “aprovação”
(em vez de “apreciação”) e omita a palavra “Direito” (chama-lhe “Aprobación de Instrumentos
Internacionales”).
331 A redacção anterior está incorrecta; não é o tratado, convenção ou acordo em si que é da

iniciativa do Governo, mas sim a proposta para a sua aprovação, ratificação ou denúncia,
consoante os casos; “de jure condendo”, não deveria existir “ratificação” pelo parlamento no
sistema semi-presidencial adoptado pela Constituição; “ratificar” significa confirmar o que foi feito,
prometido ou aprovado por outrem; pressupõe, pois, uma aprovação sobre uma aprovação
prévia, que em Timor-Leste não existe, porque o instrumento de Direito Internacional é sempre
submetido ao Parlamento sem qualquer acto de aprovação a carimbá-lo; ora, a ratificação
deveria caber ao Presidente da República, depois de aprovado pelo Parlamento; a ratificação
incide sobre a aprovação do parlamento ou do Governo, consoante os casos (“Dicionário”,
página 725); em geral, a recepção na ordem jurídica interna de instrumentos de Direito
Internacional, no sistema de governo apontado, envolve a participação dos três órgãos de
soberania no sentido de Governo negoceia e/ou assina-Parlamento aprova, para adesão ou
ratificação, consoante os casos-Chefe do Estado ratifica; de resto, pela própria natureza do
conceito de ratificação, este pressupõe a existência de um acto positivo (aprovação),
cronologicamente anterior ao da ratificação, por um órgão diferente daquele que ratifica (o que
ratifica confirma o acto de outro, que em Timor-Leste acaba por não existir); é essa a essência do
instituto da ratificação; por isso, o glossário electrónico português (em www.parlamento.pt) define
“ratificação”, neste âmbito, sintomaticamente, como “acto do Presidente da República, no
âmbito das relações internacionais, relativamente aos tratados internacionais enviados pelo
Governo à Assembleia da República depois de aí serem devidamente aprovados”; veja-se ainda
o caso do regimento da Guiné-Bissau, que não adulterou a lógica do processo, onde se lê que “se
o tratado for aprovado, é enviado ao Presidente da República para ratificação” (sublinhado
meu); também vai nesse sentido o regimento cabo-verdiano; este desvirtuamento do processo de
“negociação e/ou assinatura-aprovação-ratificação”, necessariamente tripartido e envolvendo a

147
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - O Presidente manda distribuir os textos da proposta de resolução e do


instrumento de Direito Internacional que a acompanhe, submetendo-os à
apreciação da comissão parlamentar competente em razão da matéria e, se for
caso disso, de outra ou outras comissões parlamentares.

Artigo 218º
Exame de instrumentos de Direito Internacional em comissão parlamentar
A comissão parlamentar competente emite relatório e parecer, sobre o
instrumento de Direito Internacional submetido à sua apreciação, no prazo
previsto na alínea b) do n.o 1 ou no n.o 2 do artigo 139º, consoante os casos.

Artigo 219º
Discussão de instrumentos de Direito Internacional
O debate do instrumento de Direito Internacional é único e tem lugar no
Plenário, aplicando-se à organização do debate e à fixação de tempos de uso
da palavra, com as devidas adaptações, o disposto nos n.os 3 e 4 do artigo 236º.

Artigo 220º
Votação de instrumentos de Direito Internacional

intervenção dos três órgãos de soberania nas três etapas sucessiva e cronologicamente
encadeadas, resultou de uma vicissitude política do processo constituinte que levou a que fosse
retirado do projecto inicial de Constituição o poder presidencial de ratificar instrumentos de Direito
Internacional; é, no entanto, uma incongruência do sistema com que temos de pactuar e que,
em todo o caso, não tem afectado a recepção na ordem jurídica interna dos instrumentos de
Direito Internacional a que Timor-Leste se vai associando; dada a forma pouco clara como o
sistema está arquitectado na Constituição, tem, porém, a consequência de trazer para o
Parlamento em elevado número de acordos internacionais em forma simplificada que melhor se
enquadrariam numa reserva de competência exclusiva do Governo, neste caso para negociar,
assinar e aprovar directamente, sem intermediação parlamentar, um conjunto vasto de
mecanismos de Direito Internacional que não tem sentido ser submetidos ao crivo do Parlamento;
na dúvida, o Governo prefere remeter a responsabilidade da aprovação de muitos desses
acordos em forma simplificada para a instituição parlamentar; de facto, a competência para o
Governo “celebrar, aprovar, aderir e denunciar acordos internacionais que não sejam da
competência do Parlamento Nacional ou do Presidente da República” (artigo 115º, n.o 1, alínea f),
da Constituição) é completamente oca porque em nenhum lado (salvo uma competência
muitíssimo restrita do Presidente da República) se diz o que compete ao Parlamento Nacional e ao
Chefe do Estado em matéria de instrumentos de Direito Internacional; em 2002, foi feito um
parecer, subscrito por mim e outra colega jurista portuguesa, Dr.a Cristina Ferreira, que denuncia
estas patologias do sistema de aprovação de “normas” internacionais e clarifica o entendimento
que acabo de expor.

148
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A votação, que tem lugar imediatamente após o encerramento do debate


previsto no número anterior, é global, incidindo sobre todo o texto do instrumento
de Direito Internacional.332

Artigo 221º
Reservas ao instrumento de Direito Internacional
O texto de instrumento de Direito Internacional é insuceptível de
modificações, mas admite a formulação de reservas às suas disposições.333

Artigo 222º
Efeitos da votação de instrumentos de Direito Internacional
Se o instrumento de Direito Internacional for aprovado ou ratificado, a
resolução e o texto daquele são enviados ao Presidente da República para os
efeitos previstos na alínea a) do artigo 85.º da Constituição.334

Artigo 223º
Forma do acto parlamentar
1 - A aprovação, denúncia ou ratificação de instrumento de Direito
Internacional toma a forma de resolução.
2 - A resolução que aprove ou ratifique instrumento de Direito Internacional
contém obrigatoriamente, em anexo e como sua parte integrante, o texto desse
instrumento de Direito Internacional.335 336

332 Porque, sendo um instrumento negocial, é insusceptível de alteração; pode, no entanto, ser
objecto das chamadas “reservas”, que constituem excepções às cláusulas contratuais que estão
para além do seu texto.
333 De harmonia com a alínea d) do n.o 1 do artigo 2º da Convenção de Viena sobre o Direito dos

Tratados, assinada em 23 de Maio de 1969 e ratificada, para adesão, pela Resolução do PN n. o


5/2004, de 28 de Julho, “reserva” significa “uma declaração unilateral, qualquer que seja o seu
conteúdo ou a sua denominação, feita por um Estado quando assina, ratifica, aceita ou aprova
um tratado ou a ele adere, pela qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas
disposições do tratado na sua aplicação a esse Estado” (versão em português anexa à citada
resolução parlamentar).
334 No regimento português, exactamente porque não ocorreu o desvirtuamento deste processo a

que acima me referi, diz-se, sem margem para dúvidas, que o texto é enviado ao Presidente da
República “para ratificação”.
335 Vd. artigo 14º, n.o 3, da LPA.
336 O regimento português contempla, a finalizar as normas deste instituto, regras sobre

reapreciação de normas constantes de tratados ou acordos internacionais julgados


inconstitucionais; ao contrário, porém, do que acontece no regime português, não há lugar, em
Timor-Leste, a reapreciação de norma constante de instrumento de Direito Internacional julgada

149
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO V
PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO POLÍTICA337

inconstitucional pela instância judicial competente, porque isso só tem sentido em sede de
fiscalização preventiva abstracta da constitucionalidade, possibilidade que em Timor-Leste não
existe para os tratados, convenções e acordos internacionais; a inconstitucionalidade de normas
contidas em instrumentos de Direito Internacional só é verificável no âmbito da fiscalização
sucessiva, abstracta ou concreta, da constitucionalidade prevista nos artigos 150º e 151º da
Constituição, que pode incidir sobre qualquer norma desconforme com a Constituição, seja qual
for o tipo de acto jurídico-constitucional em que se insira; os instrumentos de Direito Internacional,
porque não sujeitos a promulgação nem a ratificação do PR, são insusceptíveis de fiscalização
preventiva da constitucionalidade, mas podem ser objecto dessa fiscalização “a posteriori”; não é
possível, porém, prever uma reapreciação parlamentar que não tem suporte constitucional, pelo
que a eventual inconstitucionalidade de norma incluída em instrumento de Direito Internacional,
decretada pelo Supremo Tribunal de Justiça, tem o efeito, inultrapassável, de a eliminar da ordem
jurídica.
337 O PN, perante o qual o Governo responde, exerce um controlo meramente político dos actos

do Governo e da Administração Pública, da qual aquele é o órgão superior; “controlar” significa,


em geral, fiscalizar, verificar, inspeccionar, examinar; em “Tools” (página 9), a fiscalização
parlamentar (“parliamentary oversight”) é definida como “the review, monitoring and supervision
of government agencies, including the implementation of policy and legislation”; porém, não
pode o PN exercer um controlo parlamentar revogatório ou substitutivo dos actos de natureza
diversa da legislativa (“maxime” os da função administrativa), porque isso violaria o princípio da
separação de poderes, segundo o qual a função governativa e administrativa está reservada ao
Governo (as deliberações parlamentares tomadas nesse domínio são, assim, essencialmente
“indicativas ou sugestivas à Administração Pública”); esse facto levou alguns jurisconsultos, como o
saudoso António de Sousa Franco, a caracterizar o controlo parlamentar como ineficaz e inútil,
porque “só é útil o controlo que permite a acção correctiva”; assim não é totalmente, todavia,
porque os instrumentos de fiscalização política parlamentar, sobretudo os previstos neste capítulo,
têm pelo menos a vantagem de dotar os Deputados de dados e informações, essenciais ao
desempenho do seu mandato, que de outra forma não teriam possibilidade de obter,
confrontando o Governo com acções políticas menos correctas e expondo os seus erros
governativos ao juízo público; a função parlamentar de controlo político constitui actualmente
uma das mais importantes funções dos parlamentos, porque as tradicionais funções que lhes eram
atribuídas, como a legislativa, deixaram de ser exclusivamente suas; as perguntas ao Governo
permitem a obtenção de esclarecimentos sobre actos governativos, assumindo, assim, carácter
instrumental das restantes competências parlamentares, aliás como quase todos os restantes
mecanismos fiscalizadores; “através das perguntas ao Governo a câmara representativa dos
cidadãos nacionais pode ver satisfeita a sua curiosidade perante determinada dúvida que se lhe
coloca”; “o controlo político permitirá uma visão global, crítica, quando for caso disso, da
actuação das Administrações sujeitas ao seu controlo”; “O controlo político-parlamentar é
essencialmente um controlo que não privilegia apenas os critérios formais, mas sobretudo o
conteúdo das decisões, o seu mérito, a oportunidade e conveniência assente em critérios de
eficiência e racionalidade, próprios de um controlo político”; tem interesse ainda destacar – dada

150
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Secção I
Apreciação do Programa do Governo338

Artigo 224º
Reunião para apresentação e discussão do Programa do Governo
1 – As reuniões plenárias para apresentação e debate do Programa do
Governo, nos termos constitucionais339, são fixadas pelo Presidente, em
concertação com o Primeiro-Ministro e ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares, obrigando-se aquele a entregar o texto escrito do Programa do
Governo até pelo menos quarenta e oito horas antes das datas marcadas para a
mencionada apresentação e a realização do respectivo debate.
2 – Se o Parlamento Nacional não se encontrar em funcionamento efectivo,
o Plenário é obrigatoriamente convocado, para os efeitos previstos no número
anterior, pela Comissão Permanente ou, na impossibilidade de esta reunir, pelo
Presidente.340

Artigo 225º
Apreciação do Programa do Governo
1 – O Programa do Governo é submetido à apreciação do Plenário através
de uma declaração do Primeiro-Ministro, cuja duração não deve ultrapassar
sessenta minutos.341

a forma pouco racional como tenho visto as acções de fiscalização difusa serem desenvolvidas
nos últimos tempos – que, como salientava António de Sousa Franco, o controlo deve preocupar-
se mais com as situações de “desvio e excepção do que com as actividades normais” (sublinhado
meu) (vd. “Do Controlo”, páginas 41, 86, 107 e 171 a 178).
338 “Programa do Governo” é definido no glossário do portal electrónico do parlamento português

(www.parlamento.pt) como o “texto que contém as principais orientações políticas e medidas a


adoptar ou a propor nos diversos domínios da actividade governamental” (a segunda parte do
texto exposto no glossário já não faz parte do conceito propriamente dito); Jaime Valle define-o
como “o acto político que enuncia o conjunto dos principais objectivos e medidas políticas” (in “A
participação”, página 75).
339 Artigos 108º e 109º da Constituição.
340 Quer no caso de o Parlamento se encontrar fora do período normal de funcionamento quer na

hipótese de dissolução do Parlamento, a Comissão Permanente está em funções; não entendo,


pois, por que o regimento em vigor e o português não atribuem essa incumbência em primeira
mão à Comissão Permanente; é a correcção que proponho nesta sede.
341 A prática revelou a insuficiência do limite actual de 40 minutos, justificando-se um limite mais

alargado em face de um documento central da orientação política da actividade governativa.

151
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Finda a apresentação da declaração prevista no número anterior, há


lugar imediatamente a um período de debate, organizado pela Conferência dos
Líderes Parlamentares.
3 – O debate não pode exceder cinco dias consecutivos, cabendo à
Conferência dos Líderes Parlamentares determinar quantas reuniões plenárias
devem ser realizadas.342
4 – Na falta da decisão prevista no número anterior, há lugar a três reuniões
plenárias.
5 – Se o texto escrito do Programa do Governo não tiver sido distribuído até
vinte e quatro horas antes de iniciada a declaração prevista no n.o 1, o debate só
pode iniciar-se vinte e quatro horas após a sua distribuição efectiva a todos os
Deputados.
6 – As ordens de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate do
Programa do Governo têm como ponto único esse debate.343

Artigo 226º
Debate sobre o Programa do Governo
1 – Na falta de organização do debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, observam-se para cada dia de reunião plenária, com as devidas
adaptações, as regras de atribuição e distribuição de tempos de uso da palavra
constantes do artigo 155º.
2 - Em qualquer caso, o debate termina com intervenções produzidas,
respectiva e sucessivamente, por um Deputado de cada bancada parlamentar,
Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária e
Primeiro-Ministro, dispondo de um tempo adicional de 10 minutos por intervenção.

Artigo 227º
Moção de rejeição do Programa do Governo e voto de confiança
1 - Até ao encerramento do debate, e sem prejuízo deste, qualquer
bancada parlamentar pode propor a rejeição do Programa do Governo, através

342 Tratando-se de um debate político de âmbito geral, acho francamente exagerado o limite
máximo de 5 dias em vigor; no entanto, o limite não pode ser reduzido dada a imposição
constitucional do artigo 109º, n.o 2, da Lei Fundamental.
343 A importância deste momento alto da vida parlamentar justifica que não se perca tempo com

outras questões, de modo a focar a atenção dos intervenientes apenas naquilo para que foram
chamados a reunir, que é a apreciação do programa governamental que há-de orientar a
governação pelo período da legislatura.

152
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

da apresentação de moção de rejeição, ou o Governo solicitar a aprovação de


um voto de confiança.344 345 346
2- Qualquer moção de rejeição ou voto de confiança carece de ser
apresentado por escrito e entregue à Mesa, distribuindo-se o respectivo texto a
todos os Deputados.
3 – Encerrado o debate, procede-se, na mesma reunião plenária em que
ele ocorrer, e após intervalo de pelo menos dez minutos, se requerido, à votação
das moções de rejeição e voto de confiança que hajam sido apresentados.
4 - Até à votação, podem ser retiradas as moções de rejeição e o voto de
confiança que hajam sido apresentados.
5 – Se for apresentada mais de uma moção de rejeição, a votação realiza-
se pela ordem da sua apresentação, sem prejuízo da eventual não aprovação
de qualquer delas.347
6 – A rejeição do Programa do Governo, através da aprovação de moção
de rejeição, exige maioria absoluta dos Deputados em efectividade de
funções.348
7 – O Presidente do Parlamento Nacional comunica ao Presidente da
República, para os efeitos previstos nas alíneas d) e e) do n.º 1 e no n.º 2 do artigo
112º da Constituição, a aprovação da ou das moções de rejeição ou a não
aprovação de um voto de confiança.

344 Nas palavras de António Vitorino, o voto de confiança, que só pode ser apresentado pelo
Governo (iniciativa reservada), “tem como objectivo transformar em maioria positiva a
apreciação do Programa do Governo” (in “O controlo parlamentar dos actos do governo”,
página 375) (sublinhado meu).
345 Está claramente estabelecida a distinção entre moção de rejeição e moção de censura; a

primeira circunscreve-se temporalmente ao momento da apreciação do Programa do Governo e


tem por única finalidade a sua rejeição, com os efeitos constitucionalmente previstos; a segunda é
impulsionada já com o Governo em funções e a executar o seu Programa e tem por finalidade
exactamente censurar a sua actuação governativa em execução do programa ou em assunto
de relevante interesse nacional, dependendo a decisão da sua apresentação da ponderação
política da sua pertinência ou oportunidade pelos seus autores.
346 O Programa do Governo não carece de aprovação parlamentar expressa; considera-se válido

e tacitamente aceite se não for rejeitado por via de não aprovação de moção de rejeição e/ou
aprovação de voto de confiança ou se nenhuma delas tiver sido apresentada.
347 A segunda parte do preceito significa que a não aprovação de uma moção não inutiliza a

sujeição a votação das restantes que hajam sido apresentadas; votam-se todas, porque podem
ter proveniência política diferente e os resultados alcançados nas respectivas votações os seus
significados políticos próprios, mesmo que todas venham a ser rejeitadas.
348 Imposição do n.o 3 do artigo 109º da Constituição.

153
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Secção II
Voto de confiança349

Artigo 228º
Reunião para apreciação de voto de confiança
1 - Se o Governo, nos termos do artigo 110º da Constituição350, solicitar ao
Parlamento Nacional a aprovação de um voto de confiança sobre uma
declaração de política geral ou qualquer assunto de relevante interesse nacional,
a respectiva discussão inicia-se, em Plenário, no sétimo dia parlamentar posterior
à apresentação do requerimento de voto de confiança dirigido, por escrito, ao
Presidente.
2 - Fora do período normal de funcionamento do Parlamento Nacional, o
requerimento do Governo previsto no número anterior só determina a
convocação do Plenário mediante prévia deliberação da Comissão Permanente,
nos termos da alínea d) do artigo 56º.
3 – O requerimento escrito previsto no n.o 1, introduzindo o voto de
confiança, é mandado distribuir a todos os Deputados assim que recebido pelo
Presidente.

Artigo 229º
Debate do voto de confiança
1 - O debate não pode exceder três dias, iniciando-se sempre com uma
intervenção do Governo.
2 – Sem prejuízo do disposto na segunda parte do número anterior,
compete à Conferência dos Líderes Parlamentares determinar o número de
reuniões plenárias a realizar351, organizar o debate e fixar os respectivos tempos
de uso da palavra, aplicando-se, na falta de decisão, as regras previstas no artigo

349 A expressão “moção de confiança” seria aqui mais adequada, para distinguir este processo
especial da figura do voto de confiança circunscrita ao âmbito do processo de apreciação e
discussão do Programa do Governo; porém, a Constituição não distinguiu esses dois instrumentos
de orientação política ao alcance do Governo (artigos 109º e 110º da Lei Fundamental), não nos
sendo legítimo fazê-lo em sede regimental; o significado do voto de confiança passa “pela
renovação ou verificação da subsistência da maioria parlamentar de suporte do Governo ou
ainda pela necessidade de forçar o reconhecimento formal da falta de condições para a sua
manutenção, por forma a abrir caminho a uma nova solução governativa” (in “A participação”,
página 76).
350 Ou seja: também voto de confiança, mas fora do âmbito do n. o 2 do artigo 109º da

Constituição (voto de confiança confinado à discussão do Programa do Governo).


351 Entre uma e três, nos termos do n.o 1.

154
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

155º, com as devidas adaptações, por cada reunião plenária e havendo, no


total, duas reuniões plenárias.
3 - As ordens de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate do
voto de confiança têm como ponto único esse debate.
4 – O voto de confiança pode ser retirado, no todo ou em parte, pelo
Governo, até ao fim do debate.

Artigo 230º
Votação do voto de confiança
1 - Encerrado o debate, procede-se imediatamente à votação do voto de
confiança na mesma reunião plenária.352
2 – Se o voto de confiança não for aprovado, o facto é comunicado pelo
Presidente do Parlamento Nacional ao Presidente da República para os efeitos
previstos na alínea e) do n.º 1 e no n.º 2 do artigo 112º da Constituição.353

Secção III
Moções de censura354

Artigo 231º
Iniciativa de moção de censura
Podem ser apresentadas moções de censura ao Governo sobre a
execução do seu Programa ou assunto de relevante interesse nacional, nos
termos constitucionais, por iniciativa de pelo menos um quarto dos Deputados em
efectividade de funções.355

352 Retirei a exigência de aprovação por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de
funções, constante do texto regimental em vigor, porque nada na Constituição obriga a que um
voto de confiança tenha de carecer da aprovação de determinada maioria agravada para
produzir o seu efeito, negativo, de não provocar a demissão do Governo; assim como a não
aprovação pode resultar de maioria simples ou relativa dos Deputados presentes; nesse sentido,
embora referindo-se ao caso português, opina Jaime Valle, para o qual “para a aprovação do
voto de confiança basta que recolha mais votos favoráveis do que desfavoráveis” (“A
participação”, página 76).
353 O texto do regimento em vigor prevê a comunicação de qualquer dos resultados da votação,

mas só tem sentido comunicar-se ao Chefe do Estado a não aprovação, porque só essa produz os
efeitos previstos na Constituição.
354 Instrumento de efectivação da responsabilidade política, sempre de iniciativa parlamentar (cfr.

António Vitorino, “O controlo parlamentar dos actos do governo”, páginas 374 a 379).
355 É desnecessária a referência expressa ao artigo concreto da Constituição feita no texto actual,

até porque esta divisão sistemática reproduz o respectivo enunciado normativo; neste caso trata-
se do artigo 111º da Constituição.

155
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 232º
Debate da moção de censura
1 - O debate, que se inicia no prazo de dez dias a contar da apresentação
da moção de censura, é aberto e encerrado por um dos signatários da moção.
2 - O debate não pode exceder três dias.
3 – Sem prejuízo do disposto no n.o 1, ao debate aplica-se o disposto no
artigo 229º, com as devidas adaptações.
4 - A ordem de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate de
moção de censura tem como ponto único esse debate.

Artigo 233º
Votação da moção de censura
1 - Encerrado o debate, procede-se imediatamente à votação da moção
de censura na mesma reunião plenária.
2 - A moção de censura só se considera aprovada quando obtiver os votos
da maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.356 357
3 - Se a moção de censura não for aprovada, os seus signatários não
podem apresentar outra durante a mesma sessão legislativa.
4 – No caso de aprovação de uma moção de censura, o Presidente do
Parlamento Nacional comunica o facto ao Presidente da República para os
efeitos previstos na alínea f) do n.º 1 do artigo 112º da Constituição.358

Secção IV
Debates com o Governo359

356 Condição imposta pelo artigo 112º, n.o 1, alínea f), da Constituição.
357 Substituiu-se “Deputados eleitos“ por “Deputados em efectividade de funções”, o que vem na
esteira do que acima preconizei e está, de resto, conforme com o texto constitucional (artigo 110º,
n.o 1, alínea f), da Constituição); não se percebe por que o regimento actual recorreu ao conceito
de “Deputados eleitos” quando a própria Constituição fala sempre, a respeito da necessidade de
maiorias absolutas ou qualificadas, de “Deputados em efectividade de funções”.
358 À semelhança do que acontece com o voto de confiança, o actual artigo 136º do Regimento

prevê a comunicação ao Presidente da República de qualquer dos resultados da votação,


quando só é preciso no caso de aprovação.
359 Prevêem-se aqui três tipos de debates com o Governo, sendo um, por imposição constitucional,

o das sessões de perguntas ao Governo, outro, novo, o dos debates gerais com o Governo e um
outro, sob o instituto das interpelações ao Governo, com características de debates sectoriais; o
instituto das sessões de perguntas ao Governo foi, no entanto, reformulado de modo a eliminar os
trâmites que lhe conferiam muita previsibilidade e monotonia e a torná-lo mais espontâneo e

156
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 234º
Tipos de debates com o Governo
1 - Os debates com o Governo de natureza política, não enquadrados nos
restantes processos previstos no Regimento, revestem-se de uma das seguintes
formas:
a) Debates gerais com o Governo;
b) Sessões de perguntas ao Governo;360
c) Interpelações ao Governo sobre assuntos sectoriais de interesse
nacional.361

dinâmico, acabando-se ainda com a periodicidade mensal – que considero irrealista – da sua
realização (tanto assim que, decorridos mais de seis anos desde 2002, ainda não foi feito nenhum);
para compensar o encurtamento dessa periodicidade, criaram-se os debates gerais com o
Governo, fora do formato das perguntas propriamente ditas, continuando a existir a possibilidade
de debates sectoriais sob a forma de interpelações ao Governo; estou em crer que esta
arrumação sistematizada de institutos de mero debate político é mais objectiva, clara e
perceptível, para além de exequível; os debates previstos nesta secção são instrumentos de
controlo político de tipo clássico (vd. António Vitorino, “O controlo parlamentar dos actos do
governo”, páginas 379 a 383).
360 Instituto que tem a sua origem no sistema parlamentar britânico, que reserva periodicamente

um período destinado exclusivamente à colocação de perguntas aos ministros, com propriedade


designado por “Question Time” (“cfr. “Do Controlo”, página 150).
361 As duas primeiras modalidades são de ocorrência obrigatória, embora com periodicidades

realistas, de forma a estimular o papel de legitimação e controlo político que caracteriza os


parlamentos modernos, onde essa função está cada vez mais a sobrepor-se à função legislativa,
partilhada com os governos, mas as mais das vezes exercida pelos parlamentos sob iniciativa
daqueles; a terceira modalidade prevista é de ocorrência ocasional, dependente da iniciativa de
um número mínimo de Deputados ou bancadas parlamentares; para se dosear a participação
dos membros do Governo e evitar que, para além dos momentos em que tenham de comparecer
no parlamento para discussão de iniciativas legislativas, sejam forçados a interromper acções
governativas para intervenção no parlamento, as três modalidades de debates aqui previstas
foram formatadas de modo a equilibrar o número de membros do Governo envolvidos, sendo que
no primeiro caso é de quase todos eles, no segundo de grande parte deles e no terceiro apenas
dos que tutelem a área em questão; não pode deixar de se lembrar que, no sistema de governo
vigente em Timor-Leste, é o Governo que responde perante o Parlamento Nacional, pelo que terá
de estar permanentemente preparado para vir ao parlamento prestar contas sobre a sua
governação a uma casa que representa os governados; creio, no entanto, que o PN e, quiçá,
também o próprio Gabinete do Primeiro-Ministro têm pecado pela não concertação atempada
de datas de realizações parlamentares requerendo a intervenção do Governo, o que originou
mais do que é normal a impossibilidade de discutir pontos da ordem de trabalhos de reuniões
plenárias envolvendo a presença de membros do Governo por pura e simplesmente estes não
terem podido comparecer; as datas têm de ser combinadas e acertadas, com mais

157
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Os debates previstos no número anterior não podem exceder um dia


parlamentar, não havendo lugar ao agendamento de quaisquer outros assuntos
na ordem de trabalhos da reunião plenária marcada para o efeito.

Artigo 235º
Debates gerais com o Governo
1 - Em cada sessão legislativa, é realizado, em Plenário, pelo menos um
debate com o Governo sobre política geral e governação.
2 – No debate previsto no número anterior é obrigatória a presença do
Primeiro-Ministro e de, pelo menos, metade dos membros do Governo.
3 – À organização do debate e distribuição dos tempos para uso da
palavra aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 3 e 4 do artigo seguinte.

Artigo 236º
Sessões de perguntas ao Governo362
1 – Em cada sessão legislativa, são realizadas, em Plenário, pelo menos duas
sessões363 de perguntas ao Governo, sobre quaisquer assuntos de política interna
ou externa que possam ser respondidos pelos membros do Governo presentes.364

antecedência, entre os respectivos gabinetes, assim como instalado o hábito de o membro do


Governo competente se fazer representar na Conferência dos Líderes Parlamentares (o que até
agora, na segunda legislatura, só em casos raros aconteceu) uma vez regularizada a
periodicidade da realização das reuniões daquela e comunicação regular entre os gabinetes dos
dois órgãos de soberania.
362 Imposição do n.o 2 do artigo 101º da Constituição.
363 A palavra “sessão” não está aqui empregue no seu sentido técnico de período de

funcionamento do órgão, mas sim no de “reunião plenária”.


364 Com a expressão “que possam ser respondidas” pretende-se circunscrever o âmbito das

perguntas a áreas ou órgãos tutelados pelos respectivos membros do Governo, já que não podem
responder sobre coisas que não tenham a ver com as suas funções ou responsabilidades (por
exemplo, actividades empresariais exclusivas do sector privado); parece evidente que o Governo
só pode ser chamado a responder perante o Parlamento pelos actos da função governativa e
administrativa relacionados com as entidades sobre as quais exerça poderes de direcção e
hierárquicos ou, pelo menos, de tutela (há, no entanto, autores que só admitem perguntas sobre a
Administração directa e não também sobre a Administração indirecta do Estado – é caso de José
Fontes, in “Do controlo”, páginas 90, 152-153-177-178, a respeito em geral dos limites da
responsabilidade do Governo perante o parlamento e, em particular, sobre o instituto das
perguntas escritas, para o qual o parlamento, se quiser obter informações da parte da
Administração indirecta, “deve requerê-las aos órgãos das outras administrações”); José Fontes,
reportando-se, de uma forma mais genérica, ao instituto das interpelações ao Governo no sistema
português, refere, em suma, que “o Governo só pode ser interpelado sobre actos em que de
alguma forma haja participado ou tenha a possibilidade de o fazer”, por se tratar de actos da sua

158
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – O Primeiro-Ministro não é obrigado a comparecer na reunião plenária


destinada a sessão de perguntas ao Governo, mas deve assegurar a presença do
maior número possível de membros do Governo, não inferior a um terço do seu
elenco total.
3 – A reunião plenária para sessão de perguntas ao Governo é marcada
pelo Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, à qual cabe
organizar o debate e a distribuição de tempos para formular perguntas e
apresentar respostas.
4 – Na falta de fixação de tempos de debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, aplicam-se os seguintes critérios de distribuição de tempos para
uso da palavra:
a) Cada Deputado dispõe de dois minutos para formular uma pergunta a
membro do Governo presente sobre área por si tutelada, o qual responde em
igual tempo;
b) Um Deputado que não pretenda formular pergunta pode ceder o
tempo atribuído pela alínea anterior a Deputado que queira colocar mais do que
uma pergunta;
c) Cada ronda de perguntas não deve ultrapassar as dez, dando-se depois
a palavra aos membros do Governo interpelados para responderem, dentro dos
limites de tempo previstos na alínea a), ao conjunto de perguntas colocadas;
d) A Mesa deve conceder a palavra alternadamente a Deputados
pertencentes a diferentes bancadas parlamentares, de modo a evitar a
concentração de perguntas nas mesmas bancadas parlamentares;

competência (in “Do controlo”, páginas 155 e 177); sobre o conteúdo das perguntas, alguns
regimentos de matriz anglo-saxónica estabelecem limites que vão bem para além da cláusula
indeterminada que proponho; nas Ilhas Maurícias, nenhuma questão pode referir-se a informações
que constem já de publicações oficiais ou trabalhos escritos de referência a que facilmente se
possa aceder, a matérias que pela sua natureza sejam secretas ou a conversas entre ministros (só
para citar três exemplos de entre os inúmeros que constam do texto regimental respectivo); o
regimento do Bangladesh estipula, por exemplo, a proibição da colocação de perguntas com
imputações, difamações ou expressões irónicas e, na esteira das citações com que iniciei esta
nota de rodapé, não permite perguntas que não se relacionem com matérias não ligadas à
actividade governativa; veda ainda o texto do Bangladesh perguntas vexatórias, vagas ou sem
sentido; o regimento das Ilhas Salomão não admite perguntas tendenciosas ou contendo
expressões ofensivas; igualmente o regimento de Barbados contempla restrições semelhantes à
colocação de perguntas; todos os casos citados são caracterizados por contemplarem listas
relativamente longas de proibições, que têm um tronco comum, dada a fonte donde emanam;
em Cabo Verde, as perguntas devem ser “concisas”, “por forma a permitir respostas objectivas e
breves”, “não devem conter observações subjectivas ou juízos de valor” e devem “incidir sobre
matérias relativamente às quais o Governo tem responsabilidade directa ou indirecta”.

159
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa,


protestos e contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou
consideração não é considerado nos tempos previstos na alínea a).

Artigo 237º
Interpelações ao Governo
1 – A requerimento de dez Deputados ou pelo menos duas bancadas
parlamentares, podem realizar-se debates sobre determinado tema ou assunto
de actualidade escolhido pelos requerentes, com participação obrigatória dos
membros do Governo que tutelem a área respectiva.
2 – A pertinência do debate previsto no número anterior é decidida pela
Conferência dos Líderes Parlamentares, que, no caso de o aprovar, o organiza,
fixando a distribuição dos tempos para uso da palavra.
3 – Na falta de organização do debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 3 e 4 do artigo
anterior.
4 – Em qualquer caso, o debate inicia-se e termina com intervenções de um
Deputado signatário ou um Deputado de bancada parlamentar interpelante e
de um membro do Governo.

Secção V
Perguntas e requerimentos escritos365

Artigo 238º
Apresentação e tratamento das perguntas e requerimentos escritos
1 – As perguntas e os requerimentos escritos apresentados ao abrigo do
disposto nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 16º são numerados e remetidos pelo
Presidente à entidade competente.366

365 Instrumento de controlo parlamentar de tipo clássico (vd. António Vitorino, “O controlo
parlamentar dos actos do governo”, páginas 379 a 383); a “very widespread parliamentary tool
and the most commonly used tool of parliamentary oversight”, para “Tools”, a páginas 55
(curiosamente, ainda não caiu nos hábitos parlamentares timorenses e só raramente foi utilizado,
quase sempre sem resultados práticos, face à falta de resposta).
366 Não necessariamente ao destinatário da pergunta ou requerimento indicado pelo requerente

ou requerentes, parecendo-me que aqui o Presidente pode desempenhar um papel corrector


quando se aperceba de manifesto erro na determinação da entidade competente pelo autor do
documento.

160
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – As perguntas e os requerimentos devem identificar claramente o


destinatário competente para prestar os esclarecimentos ou fornecer os
elementos, informações ou publicações solicitados.367
3 – O Governo e a Administração Pública devem responder com a urgência
que a questão justificar, não devendo a resposta exceder o prazo de trinta dias.
4 – Sempre que o Governo ou a Administração Pública não possam
responder no prazo previsto no número anterior, devem comunicar tal facto por
escrito ao Presidente do Parlamento Nacional, apresentando sucintamente,
também por escrito, a respectiva fundamentação.

Artigo 239º
Perguntas e requerimentos não respondidos
Na primeira semana dos meses de Março, Julho e Novembro, é publicada
no Jornal do Parlamento Nacional uma lista das perguntas e requerimentos
escritos, com referência aos autores, datas de apresentação e resumos das
questões colocadas, não respondidos no prazo previsto no n.o 3 do artigo anterior.

Secção VI
Petições368

Artigo 240º
Exercício de direito de petição
1 - O direito de petição previsto no artigo 48.º da Constituição e na lei369
exerce-se perante o Parlamento por meio de petições, queixas ou reclamações.
2 – O termo “petição”, para efeitos do Regimento, abrange todas as
modalidades do direito de petição referidas no número anterior.

367 O Direito Comparado assinala, no entanto, a existência generalizada da faculdade expressa


do Presidente ou Speaker de verificar se a pergunta ou requerimento escrito observa
determinados requisitos de forma e conteúdo, podendo recusar o seu encaminhamento ao
destinatário ou propor o aperfeiçoamento do documento ao seu autor em caso de inobservância
dessas condições; também é comum poder recusar documentos que usem linguagem pejorativa
(vd. “Tools”, página 56).
368 Reproduzi basicamente, por ora, o articulado do texto regimental em vigor, embora ache que

este instituto carece de reformulação profunda, de forma a não banalizar o exercício do direito
de petição e a entupir o PN de petições inúteis ou manifestamente inaceitáveis; no entanto,
enquanto não é regulado por lei, entendo preferível deixá-lo consagrado, ainda que com
imperfeições, no regimento, porque constitui um importante instrumento de participação política
dos cidadãos e de fazerem valer os seus direitos, liberdades e garantias.
369 O exercício do direito de petição ainda não foi regulamentado na lei ordinária.

161
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 241º
Forma
1 - As petições devem ser reduzidas a escrito e conter a identificação do
seu titular e o respectivo domicílio, devendo ainda ser por ele assinadas ou por
outra pessoa, a seu pedido, quando não possa ou não saiba assinar.
2 - As petições devem ser inteligíveis e especificar claramente o seu
objecto.
3 - Nas petições com uma pluralidade de peticionários, é suficiente a
identificação e domicílio de um dos seus signatários.

Artigo 242º
Apresentação e processo
1 - As petições são dirigidas ao Presidente, que as remete à comissão
parlamentar competente em razão da matéria, depois de numeradas e
registadas pelos serviços de apoio competentes.
2 - Recebida a petição, a comissão parlamentar competente reúne para
proceder ao seu exame e verificar, desde logo, o seguinte:
a) Se ocorre alguma das causas legalmente previstas que determinem o
indeferimento liminar;
b) Se não foram observados os requisitos previstos no artigo anterior.
3 - O indeferimento liminar da petição implica o seu arquivamento, sendo
notificado o peticionário ou, havendo vários, o primeiro dos subscritores da
petição.
4 – A comissão parlamentar competente pode, no entanto, fixar aos
interessados um prazo de trinta dias para suprirem a falta de qualquer dos
requisitos previstos no artigo anterior.

Artigo 243º
Exame pela comissão parlamentar
1 - A comissão parlamentar competente deve apreciar as petições no
prazo máximo de noventa dias, prorrogável a seu pedido, a contar da reunião a
que se refere o n.º 2 do artigo anterior, e elaborar relatório recomendando as
providências que julgue adequadas.
2 - Se ocorrer o caso previsto no n.º 4 do artigo anterior, o prazo
estabelecido no número anterior só começa a correr na data em que se mostrem
supridas as deficiências verificadas.

162
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 - A comissão parlamentar competente pode propor que a petição seja


submetida à apreciação do Provedor de Direitos Humanos e Justiça, devendo,
neste caso, o Presidente do Parlamento Nacional enviar-lhe o respectivo relatório
para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 27º da Constituição.

Artigo 244º
Apreciação de petição pelo Plenário
1 - A decisão sobre se determinada petição deve ser apreciada em
Plenário depende de deliberação da comissão parlamentar competente em
razão da matéria.
2 - Elaborado o respectivo relatório pela comissão parlamentar
competente, é o mesmo enviado ao Presidente, que o agenda para apreciação
em Plenário.
3 – No debate intervêm apenas um Deputado de cada bancada
parlamentar e os Deputados únicos representantes de partido político ou
coligação partidária, dispondo cada um deles de cinco minutos.

Artigo 245º
Comunicação ao autor ou autores da petição
O Presidente comunica, por escrito, ao autor ou, havendo vários, ao
primeiro dos autores da petição o relatório da comissão parlamentar competente
e as diligências subsequentes que tenham sido adoptadas.

Secção VII
Inquéritos parlamentares

Artigo 246º
Objecto dos inquéritos parlamentares
1 - Os inquéritos parlamentares destinam-se a averiguar do cumprimento da
Constituição e das leis e a apreciar os actos do Governo e da Administração
Pública.370

370“Os inquéritos inserem-se na actividade informativa ou cognoscitiva do parlamento e na sua


função geral de vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e de apreciar os actos do
Governo e da Administração” (“Constituição Anotada – Tomo II”, página 610); o instrumento dos
inquéritos é considerado por muitos como “um dos mais importantes meios de controlo” político-
parlamentar, tendo por objectivo “fiscalizar o Governo e a Administração em saber se terão agido
ou não bem” (in “Do Controlo”, páginas 157 e 160).

163
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Os inquéritos parlamentares são realizados através da constituição de


comissões parlamentares eventuais especialmente constituídas para cada caso
específico, através de resolução do Parlamento.

Artigo 247º
Constituição da comissão parlamentar de inquérito e realização do inquérito
1 - A iniciativa da constituição das comissões parlamentares eventuais de
inquérito e a realização do inquérito processam-se nos termos previstos no
presente artigo e na lei.371
2 - As comissões parlamentares eventuais de inquérito são criadas mediante
proposta de pelo menos quinze Deputados ou uma bancada parlamentar e a
sua composição deve reflectir o princípio da proporcionalidade dos Deputados
que compõem as bancadas parlamentares.
3 - A iniciativa de constituição de comissão parlamentar eventual de
inquérito carece de aprovação por maioria absoluta dos Deputados em
efectividade de funções.372
4 – O Presidente deve, antes de agendar o debate da iniciativa, confirmar
junto do Procurador-Geral da República que não existe qualquer processo
pendente em tribunal sobre a matéria objecto do inquérito proposto, só
submetendo a iniciativa a discussão no caso de obter tal confirmação.
5 – No debate sobre a iniciativa intervêm apenas um dos proponentes da
iniciativa, o Primeiro-Ministro ou outro membro do Governo, um Deputado de
cada bancada parlamentar e os Deputados únicos representantes de partido
político ou coligação partidária, dispondo cada um deles do tempo máximo de
dez minutos.
6 - A resolução que crie comissão parlamentar eventual de inquérito deve
conter uma justificação de motivos, a definição do objecto do inquérito, o
número dos Deputados que constituem a comissão e o prazo para emitir o
respectivo relatório, que pode ser prorrogado a pedido daquela.

371 Também este importante mecanismo de fiscalização política, disseminado por vários
parlamentos, carece de regulamentação por lei ordinária, ainda inexistente.
372 Tenho dúvidas de que a maioria aqui exigida tenha de ser tão alta, porque desta forma a

decisão de realização de inquéritos acaba por ser controlada pelas maiorias parlamentares
absolutas que apoiem o Governo, inviabilizando as iniciativas da oposição acerca do
accionamento de um dos mais relevantes meios de controlo político; há parlamentos onde, para
evitar isso, a constituição de comissões de inquérito é de exercício potestativo (como em Cabo
Verde, que tem lugar obrigatoriamente sempre que requerido “por, pelo menos, um quinto dos
Deputados”).

164
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 248º
Funcionamento e poderes das comissões parlamentares de inquérito
1 – O Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, fixa o
número de membros que devem compor comissão parlamentar eventual de
inquérito, dá-lhes posse e determina o prazo da realização do inquérito, quando
a resolução que tenha criado a comissão não o tenha feito expressamente.
2 – As comissões parlamentares de inquérito gozam dos poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais e dos demais poderes e direitos
previstos na lei.373

CAPÍTULO VI
PROCESSOS RELATIVOS A OUTROS ÓRGÃOS374

Secção I
Processos relativos ao Presidente da República

Subsecção I
Investidura e posse do Presidente da República

Artigo 249º
Reunião do Parlamento Nacional
1 - O Parlamento Nacional reúne especialmente, em Plenário, para a
investidura e posse do Presidente da República, nos termos do artigo 77º da
Constituição.
2 - Se o Parlamento Nacional não estiver em funcionamento efectivo, deve
o Plenário ser convocado para o efeito pela Comissão Permanente ou, na falta
desta, pelo Presidente do Parlamento Nacional.

Artigo 250º
Formalidades a observar
1 - Aberta a reunião plenária, o Presidente do Parlamento Nacional
interrompe-a para receber o Presidente da República eleito e os convidados.

373É a esta lei – ainda inexistente - que caberá regular todos esses aspectos.
374 Está prevista neste capítulo, designadamente, a função electiva do Parlamento Nacional
relativamente a alguns membros de outros órgãos de génese constitucional ou legal.

165
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Reaberta a reunião, o Presidente do Parlamento Nacional manda ler a


acta do apuramento dos resultados nacionais da eleição pelo Secretário da
Mesa.375
3 - O Presidente da República eleito é investido pelo Presidente do
Parlamento Nacional e toma posse em cerimónia pública, perante os Deputados
e os representantes dos outros órgãos de soberania, prestando a declaração de
juramento estabelecida no n.º 3 do artigo 77º da Constituição, após o que se
executa o Hino Nacional.
4 - O auto de posse é assinado pelo Presidente da República e pelo
Presidente do Parlamento Nacional.

Artigo 251º
Actos solenes subsequentes
1 - Após a assinatura do auto de posse, o Presidente do Parlamento
Nacional saúda o novo Presidente da República.
2 – De seguida, o Presidente da República dirige mensagem ao Parlamento
Nacional e à Nação.
3 - Após as palavras do Presidente da República, o Presidente do
Parlamento Nacional declara encerrada a reunião plenária, sendo de novo
executado o Hino Nacional.

Subsecção II
Assentimento para a ausência do Presidente da República do território nacional

Artigo 252º
Iniciativa
1 - O Presidente da República solicita assentimento ao Parlamento Nacional
para se ausentar do território nacional por meio de mensagem escrita, conforme
o disposto no artigo 80.º da Constituição.376

375Cfr. artigo 47º, n.o 2, da LEPR.


376 Eliminei a referência ao n.o 1 do artigo 80º da Constituição porque também há lugar a
autorização parlamentar no caso de deslocação ao estrangeiro de carácter privado ou não
oficial de duração igual ou superior a 15 dias (artigo 80º, n.o 3, “a contrario sensu”, da
Constituição); a conjugação dos n.os 1 e 3 do artigo 80º da Constituição permite concluir que
carecem de assentimento parlamentar (a) todas as deslocações ao estrangeiro de carácter
oficial e (b) as deslocações ao estrangeiro de carácter não oficial (ou privado) de duração igual
ou superior a 15 dias; ou seja, as viagens privadas que não caiam na previsão do n.o 3 do artigo
80º têm de cair necessariamente na do n.o1 do mesmo preceito, seguindo o regime previsto nesse

166
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Se o Parlamento Nacional não estiver em funcionamento efectivo, o


assentimento é apreciado e, se for o caso377, dado pela Comissão Permanente.
3 – A mensagem a que se refere o n.o 1 é distribuída a todos os Deputados
antes do início da reunião destinada à sua apreciação.

Artigo 253º
Discussão sobre o assentimento à ausência
O debate sobre o assentimento à ausência, em reunião plenária ou da
Comissão Permanente, consoante os casos, tem por base a mensagem do
Presidente da República e nele têm direito a intervir, pelo tempo máximo de três
minutos, um Deputado de cada bancada parlamentar e os Deputados únicos
representantes de partido político ou coligação partidária.

Artigo 254º
Forma do acto de assentimento à ausência

n.o 1; a alínea h) do n.o 3 do artigo 95º da Constituição, muito mal redigida, resulta certamente de
lapso do legislador constituinte, mas a verdade é que cria dúvidas interpretativas ao se referir
apenas a “visita de Estado” e não explicitar sequer que se trata de “deslocação” ao estrangeiro
(já que as deslocações dentro do território nacional não dependem de consentimento
parlamentar); a interpretação correctiva que se deve fazer desta norma, no sentido que indiquei,
tem de partir, pois, da sua conjugação com o regime substantivo que determina as condições em
que o assentimento deve ser obrigatoriamente prestado (artigo 80º da Constituição); a
reprodução imperfeita da fonte em que essa alínea h) foi encontrar a sua formulação
(Constituições lusófonas) presta-se, assim, a interpretações erradas do seu sentido real, que até a
génese e a finalidade deste instrumento de controlo político ao alcance do parlamento ajudam a
explicar (um Chefe do Estado, neste sistema de governo, não pode sair do território nacional por
períodos longos nem fazer visitas oficiais a países que criem engulhos à política de relações
externas do Estado em cada momento, como, por exemplo, visitas a países com os quais Timor-
Leste tenha quebrado relações diplomáticas); a Constituição portuguesa utiliza a epígrafe
“ausência do território nacional” no preceito correspondente ao artigo 80º timorense e a fórmula
“dar assentimento à ausência do Presidente da República do território nacional” no equivalente à
citada alínea h); formulações idênticas, mais precisas e menos susceptíveis de controvérsias
interpretativas, existem nas Constituições de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde
(“Constituições”, páginas 263-316); curiosa mas significativamente, a formulação da alínea e) do
n.o 3 do artigo 102º da Constituição timorense não repete a inexactidão da referida alínea h) e
remete para o artigo 80º no seu todo, o que igualmente ajuda a fundamentar a interpretação
defendida; estes apontamentos, que aqui se deixam, têm, para além de importância exegêtica,
bastante utilidade prática, pois ainda muito recentemente se suscitaram algumas dúvidas sobre a
atitude parlamentar a adoptar perante mensagem presidencial inicial comunicando deslocação
de carácter privado com duração de 20 dias.
377 Em teoria, pode não ser dado.

167
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A deliberação do Parlamento Nacional toma a forma de resolução.

Subsecção III
Renúncia do Presidente da República

Artigo 255º
Reunião do Parlamento Nacional em caso de renúncia do Presidente da
República
1 - No caso de renúncia do Presidente da República, o Parlamento
Nacional reúne-se para tomar conhecimento da mensagem prevista no artigo
81.º da Constituição, no prazo de quarenta e oito horas a contar da recepção da
mensagem.
2 - Não há lugar a debate.378

Subsecção IV
Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais do Presidente da
República

Artigo 256º
Iniciativa
1 - Para efeitos do previsto no n.º 2 do artigo 79º da Constituição, a iniciativa
do processo compete ao Parlamento Nacional, mediante proposta de um quinto
e deliberação aprovada por maioria de dois terços de todos os Deputados em
efectividade de funções.
2 - O Parlamento Nacional deve constituir uma comissão parlamentar
eventual especial a fim de elaborar relatório no prazo que lhe for fixado.

Artigo 257º
Discussão e votação
1 - Recebido o relatório a que se refere o n.o 2 do artigo anterior, o
Presidente do Parlamento Nacional marca, dentro das quarenta e oito horas
susbsequentes, reunião extraordinária do Plenário para dele se ocupar.
2 - No termo do debate, ao qual se aplica, com as devidas adaptações, o
disposto no artigo 155º, o Presidente do Parlamento Nacional coloca à votação,
por escrutínio secreto, a iniciativa, que deve ser aprovada por maioria de dois
terços dos Deputados em efectividade de funções.

378 Porque é um acto unilateral, livre, do titular do cargo, não sujeito a condição.

168
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 - O levantamento da imunidade do Presidente da República em


conformidade com o disposto nos n.os 3 e 7 do artigo 79.º da Constituição é
igualmente efectuado por iniciativa do Parlamento Nacional, através de
resolução.

Secção II
Efectivação da responsabilidade criminal de membros do Governo

Artigo 258º
Discussão e votação sobre suspensão e imunidades de membros do Governo
1 - As necessárias deliberações do Parlamento Nacional previstas nos artigos
113.º e 114.º da Constituição, que revestem a forma de resolução, são tomadas
por escrutínio secreto e maioria absoluta dos Deputados presentes, precedendo
parecer de comissão parlamentar especialmente constituída para o efeito.
2 – Ao respectivo processo de discussão e votação aplica-se, com as
necessárias adaptações, o disposto no n.o 2 do artigo 256º e no artigo anterior.

Secção III
Designação de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional

Artigo 259º
Eleição de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional
1 - O Parlamento Nacional elege, nos termos estabelecidos na Constituição
ou na lei, os titulares dos cargos exteriores ao Parlamento Nacional cuja
designação lhe compita, revestindo a proclamação dos titulares eleitos a forma
final de resolução.
2 - Na falta de disposições constitucionais ou legais directamente
aplicáveis, observa-se o disposto nos artigos seguintes.

Artigo 260º
Apresentação de candidaturas
1- As candidaturas são apresentadas por um mínimo de cinco e um máximo
de quinze Deputados ou por qualquer bancada parlamentar.
2 - A apresentação é feita perante o Presidente até ao termo da penúltima
reunião anterior àquela em que tiver lugar a eleição, acompanhada do
curriculum vitae do candidato e da correspondente declaração de aceitação
de candidatura.

169
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 261º
Sufrágio na eleição de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional
1 - Considera-se eleito o candidato que obtiver mais de metade dos votos
validamente expressos.
2 - Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, procede-se a
segundo sufrágio, ao qual concorrerão apenas os dois candidatos mais votados
cuja candidatura não tenha sido retirada.

Artigo 262º
Sistema de representação proporcional
Sempre que tenha de se aplicar o sistema de representação proporcional,
a eleição é por lista completa, adoptando-se o método da média mais alta de
Hondt.

Artigo 263º
Reabertura do processo
No caso de não apresentação de candidaturas ou não eleição de
candidatos, o processo é reaberto no prazo máximo de trinta dias.379

TÍTULO VII
REPRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL DENTRO E FORA DO TERRITÓRIO NACIONAL380

Artigo 264º
Disposição geral
As relações institucionais do Parlamento Nacional com os restantes órgãos
de soberania nacionais, parlamentos de outros países e outras entidades ou
instituições nacionais, internacionais ou estrangeiras processam-se:

379 A inclusão desta norma disciplinadora é indispensável, porque já aconteceram casos de


processos de eleição frustrados.
380 Trata-se de um capítulo genérico sobre a forma como o Parlamento Nacional desenvolve as

suas relações institucionais e de fiscalização política interna e as suas relações internacionais no


exterior, nomeadamente através da deslocação de delegações a eventos parlamentares e da
participação em organizações parlamentares internacionais de que faça parte, como a União
Inter Parlamentar e a Assembleia Inter Parlamentar da CPLP (a nível regional, perspectiva-se, por
exemplo, a adesão à ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático – que inclui ela própria
uma assembleia inter-parlamentar); os anteriores artigos 172º a 174º estavam francamente
deslocados, numa secção do capítulo concernente aos processos relativos a outros órgãos;
também a acreditação de jornalistas parlamentares junto do Parlamento Nacional não tem
sentido nesta sede.

170
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Por intermédio do Presidente, que representa, em geral, o Parlamento


Nacional;381
b) Através de delegações parlamentares a eventos no território nacional ou
no estrangeiro, com missões determinadas;382 383
c) Mediante os grupos parlamentares de amizade.

Artigo 265º
Protocolo e ordem de precedências
As regras de protocolo e ordem de precedências de Deputados para
efeitos de participação em eventos solenes ou representação institucional, dentro
ou fora do Parlamento Nacional, são fixadas por resolução, que deverá conjugá-
las com as normas que rejam o protocolo do Estado.384

381 Na esfera internacional, a maioria dos presidentes ou “speakers” representam os seus


parlamentos em organismos especializados vocacionados para a cooperação inter-parlamentar
a nível global ou regional, embora não seja seu papel conduzir os negócios estrangeiros,
reservados, em qualquer sistema de governo, ao poder executivo (cfr. “Presiding Offices”, páginas
14 e 15).
382 Abandonei as expressões “representações” e “deputações”, assim como a sua separação em

regimes autónomos, por serem sinónimos, redundantes e dispensáveis, da mesma realidade em


que consistem as delegações.
383 Em Direito Administrativo, “missões” são “as tarefas desenvolvidas pelos diversos serviços

públicos” (in “Introdução”, página 127); para melhor compreensão do conceito envolvido, aquela
definição doutrinal facilmente se adapta ao caso das delegações parlamentares; a utilização da
expressão “missões” está generalizada no Direito Comparado (“Tools” usa, na página 43, o termo
“missions”).
384 Sem embargo de estatuto de supremacia das presidências e mesas directoras, não existe uma

hierarquia entre os Deputados, dado o princípio, praticamente universal, da igualdade estatutária


entre os membros da assembleia; não há deputados de 1ª ou 2ª classe, devendo ser todos
tratados com a mesma dignidade; no entanto, esse princípio de igualdade não pode precludir
distinções para meros efeitos protocolares, porque, pela própria natureza das coisas, em certas
ocasiões não é possível colocar os parlamentares todos no mesmo plano; na maior parte das
situações, as limitações são de ordem puramente física (por exemplo: numa cerimónia solene, não
podem sentar-se todos na primeira fila); há, pois, que estabelecer critérios de hierarquia por razões
de ordem prática e representativa; os principais critérios utilizados são o das funções e
responsabilidades desempenhadas em órgãos parlamentares e o da senioridade; normalmente,
como é de intuir, é dada primazia aos presidentes, vice-presidentes, restantes membros das
mesas, líder da maioria, líder da posição, chefes de grupos parlamentares; os restantes membros
do parlamento podem ser ordenados, por exemplo, por ordem de senioridade; deixo, no entanto,
a definição dessas regras para diploma infra-regimental (vd. “Parliamentary Mandate”, páginas 94
a 100); existe, desde 2004, um anteprojecto de resolução nesta matéria, preparado pelas
assessorias técnicas, que aguarda apadrinhamento.

171
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 266º
Delegações parlamentares
1 – As delegações parlamentares são, em princípio, plurais.
2 - Os Deputados que devam compor determinada delegação
parlamentar são indicados, por despacho escrito, pelo Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares, cabendo aos líderes parlamentares
propor os respectivos Deputados que devam integrar a delegação.
3 – A composição das delegações parlamentares deve incluir Deputados
de todas as bancadas parlamentares e, sempre que possível, Deputados únicos
representantes de partidos políticos ou coligações partidárias e Deputados
independentes.
4 – Não sendo possível compor delegação parlamentar nos termos do
número anterior, a respectiva composição é determinada pela Conferência dos
Líderes Parlamentares, respeitando-se o princípio da proporcionalidade da
representatividade dos partidos políticos ou coligações partidárias com assento
parlamentar, de modo a que sejam indicados os Deputados das bancadas
parlamentares com maior representatividade em número suficiente a preencher
a delegação parlamentar fixada.
5 – Quando não se justifique a representação de todas ou, nos termos do
número anterior, parte das bancadas parlamentares, devem ser indicados para
formar a delegação parlamentar um Deputado da maioria parlamentar que
apoie o Governo e um Deputado da oposição.
6 – Em casos excepcionais, por consenso estabelecido na Conferência dos
Líderes Parlamentares ou no Plenário, a representação do Parlamento Nacional
pode ser assegurada por um só Deputado.
7 – Em qualquer das situações previstas nos números anteriores, podem ser
designados membros da Mesa, incluindo o Presidente, para formar delegações
parlamentares.
8 – A chefia das delegações parlamentares deve, em regra, ser atribuída,
alternadamente, a Deputados das três maiores bancadas parlamentares.
9 – As delegações parlamentares são acompanhadas por um ou mais
funcionários parlamentares ou assessores contratados para o efeito, consoante as
suas áreas de especialidade, na medida das possibilidades em recursos humanos
do Parlamento Nacional e das necessidades concretas da missão que esteja em
causa.
10 – O despacho escrito a que se refere o n.o 2 deve mencionar o objectivo
da missão em que a delegação parlamentar fique investida, assim como indicar
os seus membros e quem a chefia.

172
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

11 – Finda a respectiva missão, a delegação parlamentar elabora relatório


das actividades desenvolvidas, assinado por quem a haja chefiado e pelo
respectivo relator, e apresenta-o, no prazo máximo de sessenta dias, ao
Presidente, para este o submeter à apreciação do Plenário e promover a sua
publicação no Jornal do Parlamento Nacional.
12 - Ultrapassado o prazo previsto no número anterior sem que o relatório
nele referido tenha sido apresentado, ficam os Deputados responsáveis pela falha
impedidos de integrar missões ao estrangeiro até à apresentação do relatório em
falta.385
13 – Os princípios do regime das delegações parlamentares constante dos
números anteriores são regulamentados por resolução.

Artigo 267º
Grupos parlamentares de amizade
1 – Os grupos parlamentares de amizade são organismos, constituídos por
Deputados do Parlamento Nacional, vocacionados para o diálogo e a
cooperação com os parlamentos de países amigos de Timor-Leste.
2 – Os grupos parlamentares de amizade promovem as acções necessárias
à intensificação das relações entre os Deputados do Parlamento Nacional e
parlamentares de outros Estados, designadamente:
a) Intercâmbio geral de conhecimentos e experiências;
b) Estudo das relações bilaterais e do seu enquadramento nas alianças,
instituições ou organizações de que os Estados envolvidos façam parte ou em
que participem;
c) Divulgação e promoção de interesses e objectivos comuns nos domínios
político, económico, social e cultural;
d) Troca de informações e consultas mútuas tendo em vista a eventual
articulação de posições em organismos internacionais de natureza
interparlamentar386, sem prejuízo da plena autonomia de cada grupo nacional;

385 A experiência negativa dos últimos seis anos demonstrou as dificuldades na apresentação
célere destes relatórios, devido fundamentalmente à escassez de assessorias técnicas e pessoal
de apoio e à generalizada falta de planeamento dos trabalhos parlamentares; acho preferível
prever um prazo mais alargado e realista, mas exigir implacavelmente o seu cumprimento e
sancionar-se a inobservância.
386 Casos da União Inter Parlamentar (UIP) e da Assembleia Inter-Parlamentar da Comunidade dos

Países de Língua Portuguesa (CPLP).

173
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) Reflexão conjunta sobre problemas envolvendo os Estados amigos e os


seus nacionais e busca de soluções que relevem da competência legislativa de
cada um;
f) Valorização do papel, histórico e actual, das comunidades de emigrantes
respectivos porventura existentes.
3 – O Plenário define, através de resolução, as restantes matérias relativas
aos grupos parlamentares de amizade, nomeadamente o seu âmbito de
actuação, a sua designação, os seus poderes e órgãos, a sua composição, a sua
organização e funcionamento, as actividades a desenvolver por si e as
respectivas fontes de financiamento.387

Artigo 268º
Elenco dos grupos parlamentares de amizade
1 – O elenco dos grupos parlamentares de amizade é fixado, no início da
legislatura, por deliberação do Plenário, sob proposta do Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares.
2 – Quanto se justifique, o Plenário delibera, igualmente sob proposta do
Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, a constituição de
outros grupos parlamentares de amizade para além dos constituídos nos termos
do n.o 1.

Artigo 269º
Secretariado dos grupos parlamentares de amizade
Os grupos parlamentares de amizade são apoiados, administrativa e
tecnicamente, pelos funcionários do Parlamento Nacional e assessorias
adequadas, na medida das possibilidades em recursos humanos do Parlamento
Nacional.

TÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AO REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

Artigo 270º
Princípios gerais da organização e actividade parlamentar

387Vigora actualmente a Resolução do Parlamento Nacional n.o 6/2003, de 22 de Julho


(“Constituição dos Grupos Parlamentares de Amizade”).

174
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

São princípios388 gerais da organização do Parlamento Nacional e da


actividade parlamentar, processual ou difusa, os da:
a) Proporcionalidade na distribuição dos tempos de uso da palavra em
debates parlamentares e na composição de órgãos parlamentares colegiais em
função da representatividade das bancadas parlamentares e Deputados
independentes ou únicos representantes de partido político ou coligação
partidária;389
b) Afastamento por consenso ou unanimidade da aplicação de normas
regimentais meramente disciplinadoras ou organizativas;
c) Prevalência de norma especial sobre norma geral;
d) Aplicação supletiva das normas que regem o processo legislativo
comum aos processos legislativos e de resolução especiais e a outros processos
especiais de natureza não legislativa;
e) Recurso à analogia390 e aos princípios gerais de Direito para integração
de lacunas391;
f) Nulidade de deliberação de órgão parlamentar colegial tomada
tumultuosamente ou com inobservância de quórum ou maioria constitucional ou
legalmente exigidos.392

388 No mundo do Direito, “princípio” “traduz um sentido do direito, um vector que informa o
conteúdo das normas, orientando o legislador e o intérprete, mas que pode, em determinadas
condições, ser directamente aplicado a casos concretos”; “induz-se de fontes e normas pela
construção e sistematização científicas” (“Dicionário”, página 689).
389 O princípio da proporcionalidade na composição das comissões parece até ter ganho foros de

princípio universal observado nos parlamentos eleitos por sufrágio directo, periódico e secreto, a
crer no enunciado que encontramos em “Tools”, a páginas 16, segundo o qual “generally
speaking, the composition of a committee reflects that of the parent chamber”; mais à frente,
escreve-se que “parliamentary political groups are typically represented in committees in
proportion to their numerical strenght in the chamber” e que “special consideration can be given
to smaller groups to ensure their representation in committees, either as full members or as
observers” (sublinhado meu).
390 Transcrevo a mais sintética noção de “analogia” que encontrei, considerando-a como

“semelhança entre o caso omisso (na lei) e outro contemplado e regulado no sistema legislativo”
(“Dicionário”, página 86); há que ter em conta, no entanto, que o recurso à analogia como forma
de preencher lacunas encontra limitações pacificamente aceites; por exemplo, as normas
excepcionais e punitivas não permitem analogia.
391 “Decisão dos casos omissos” (texto em vigor) é o mesmo que “integração de lacunas”.
392 Suprimi do texto em vigor a regra da nulidade de qualquer decisão que contrarie norma

regimental, porque parte da presunção, a meu ver errada, de que todas as normas regimentais
têm a mesma imperatividade e valor vinculativo (muitas são meramente disciplinadoras ou
ordenadoras e outras supletivas) e qualquer desconformidade com norma regimental determina o
grau de invalidade previsto; vários graus de invalidade (nulidade ou anulabilidade) e de

175
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 271º
Interpretação de normas e integração de lacunas do Regimento
1 - Compete à Mesa interpretar o Regimento e integrar as suas lacunas.
2 - Constituem Direito subsidiário, a observar na integração de lacunas do
Regimento, para além do que se prevê na alínea e) do artigo anterior:
a) As práticas, usos e costumes pacificamente aceites nos parlamentos
nacionais baseados no modelo de assembleia representativa eleita por sufrágio
directo, periódico e universal;393 394
b) A legislação geral da Administração Pública e os princípios gerais de
Direito Administrativo, quanto à organização e funcionamento dos órgãos
parlamentares e à tramitação de procedimentos administrativos;395

desconformidade com normas superiores na hierarquia dos actos normativos (ilegalidade e


mesmo inconstitucionalidade) podem resultar da violação de regras regimentais, consoante o
carácter interno ou externo das suas normas e os efeitos que produzem (sabendo-se, como se
explicou atrás, da heterogeneidade e complexidade das normas que compõem o regimento);
mas nem todas as normas têm o mesmo valor e as preterições as mesmas consequências,
dependendo dos casos (vd. “Manual”, Tomo V, páginas 243 e 244); Jorge Miranda, a respeito dos
graus de invalidade do acto jurídico-político, distingue entre inexistência, nulidade, anulabilidade
e irregularidade (vd. “Manual”, V I, T II, páginas 605-606); em contrapartida, proponho que se
estabeleça a regra da nulidade de deliberações tomadas sem quórum constitutivo (a que
também se chama quórum de deliberação) ou maioria constitucional ou legalmente exigida,
assim como tumultuosamente, transpondo para aqui a regra geral – comungada pela doutrina
constitucionalista e administrativista – prevista no artigo 50º, n.o 2, alínea g), do Decreto-Lei n.o
33/2008, de 27 de Agosto (“Procedimento Administrativo”); o Prof. Jorge Miranda refere,
justamente, que a falta do quórum para deliberar determina “invalidade, quando não inexistência
jurídica, da deliberação” (“Manual”, Tomo V, página 77).
393 Dou um exemplo de uma prática salutar na UIP e no parlamento português em nome da

economia processual, quando se antevê unanimidade na tomada de determinada deliberação:


para poupar tempo, a Mesa abrevia o processo de votação perguntando aos membros da
assembleia se têm algum voto contra ou abstenção, considerando-se, no silêncio da Câmara, o
texto ou deliberação em debate aprovado por unanimidade.
394 Julgo que, havendo praxes parlamentares aplicáveis ao caso, esta alínea obriga a pensar

nelas, sendo certo que respeita o reconhecimento constitucional da validade do Direito


costumeiro (artigo 2º, n.o 4, da Constituição); vd. também artigos 7º, n.o 1, e 65º, n.o 1, da
Constituição, acerca dos modos de sufrágio que caracterizam os parlamentos livres e
verdadeiramente democráticos.
395 Um exemplo é o “procedimento administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 33/2008, de 27

de Agosto; contém normas gerais, aplicáveis supletivamente, sobre competências administrativas,


princípios de actuação da Administração Pública, teoria geral do acto administrativo,
impugnação graciosa e contenciosa de actos administrativos e regime da invalidade de
decisões, deliberações e actos administrativos; outro exemplo é o diploma que regula a “Estrutura

176
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) A legislação respeitante ao processo civil396 e ao processo penal397 e os


príncipios gerais de Direito Processual398, no que diz respeito à tramitação dos
processos legislativos, comum e especiais, e dos restantes processos relativos às
funções electiva, política e fiscalizadora da competência do Parlamento
Nacional.399
3 – Das decisões da Mesa sobre a interpretação do Regimento e a
integração das suas lacunas cabe reclamação, assim como recurso para o
Plenário.

Artigo 272º
Alterações ao Regimento
1 – O Regimento pode ser alterado pelo Parlamento Nacional, através de
projecto de regimento, por iniciativa de qualquer Deputado.
2 – Os projectos de regimento devem obedecer aos requisitos previstos nas
alíneas a), b), c) e e) do n.o 1 do artigo 137º.
3 – Admitido qualquer projecto de regimento, o Presidente ordena a sua
distribuição a todos os deputados e envia o texto à comissão parlamentar
competente para a sua apreciação inicial.

Orgânica da Administração Pública”, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 17/2006, de 26 de Julho, que
comporta várias regras genéricas sobre funcionamento de órgãos colegiais; a relevância supletiva
destes dois diplomas para o âmbito parlamentar parece-me óbvia, devendo a sua aplicabilidade
ser objecto de expressa consagração.
396 O Prof. Jorge Miranda admite claramente a aplicação supletiva do Direito Processual Civil (vd.

“Manual”, Tomo V, página 289).


397 A favor da aplicação subsidiária das regras de processo penal às comissões de inquérito,

concretamente a propósito da recolha de provas, veja-se, por exemplo, “Tools”, a páginas 42


(“the rules of criminal procedure shall apply “mutatis mutandis” to the taking of evidence”).
398 Aos quais os próprios CPC e CPP fazem apelo (o primeiro no artigo 1º, n. o 2, alínea b), e o

segundo no artigo 3º).


399 Um outro exemplo é a legislação eleitoral, cujos princípios podem ser aplicados supletivamente

às normas regimentais processuais que regem a designação, por eleição, de órgãos exteriores ao
Parlamento Nacional; também o princípio do contraditório, que vigora no âmbito do processo
civil, tem aplicabilidade supletiva aos processos regimentais (cfr. artigo 8º do CPC); o dever de
comparência e de depoimento de testemunhas chamadas a tribunal parece-me um outro
princípio geral aplicável ao caso de pessoas que devam depor perante comissão parlamentar de
inquérito, consagrado nos artigos 122º e 123º do CPP; os exemplos de relevantes disposições
desses dois ramos do Direito adjectivo aplicáveis a título supletivo poderiam multiplicar-se
facilmente, mas seria exaustivo e despropositado fazê-lo nesta sede; apenas são aqui
mencionados aqueles dois exemplos para se transmitir a importância das normas remissivas em
questão; as alíneas aqui redigidas inscrevem-se ainda no propósito deste estudo, anunciado no
seu intróito, de reduzir a margem de impossibilidade real de preenchimento de lacunas.

177
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – O texto, concluída a sua apreciação inicial, é discutido e votado, na


generalidade e na especialidade, na mesma comissão parlamentar, que, uma
vez integradas todas as alterações aprovadas, envia o texto global ao Presidente,
a fim de ser sujeito a votação final global.
5 - O novo Regimento só é aprovado se obtiver o voto favorável da maioria
absoluta dos Deputados presentes.
6 – A comissão parlamentar competente procede à redacção final do
texto.
7 – O Regimento, com as alterações inscritas no lugar próprio, é objecto de
nova publicação no Jornal da República.
8 – Aplicam-se supletivamente à discussão e votação dos projectos de
regimento as regras que regem o processo legislativo comum.400

TÍTULO IX
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS401

Artigo 273º
Contagem dos prazos regimentais
1 - Salvo norma especial em contrário, os prazos previstos no Regimento são
contados em dias seguidos.
2 - No cômputo dos prazos não se inclui o dia da prática do acto,
começando o prazo a contar a partir do dia seguinte.
3 - Quando o termo de um prazo coincidir com sábado, domingo ou
feriado, aquele transfere-se para o dia útil imediatamente seguinte.402

Artigo 274º
Transcrição integral dos registos sonoros das reuniões plenárias

400 É expressão da opinião generalizada dos constitucionalistas; Jorge Miranda, por exemplo,
entende que as regras do processo legislativo comum também valem, a título subsidiário, “nas
alterações ao regimento” (“Manual”, Tomo V, página 243).
401 No Regimento actual, as disposições finais dele constantes estão manifestamente
desenquadradas em termos sistemáticos, porque incluídas, como capítulo, no título respeitante às
formas de processo, quando, afinal, contêm princípios gerais aplicáveis a toda a actividade
parlamentar, seja processual, seja de representação institucional, seja de interpretação e
integração de lacunas.
402 Faltava uma norma a definir a forma de contagem dos prazos; dos regimentos lusófonos que

consultei, só o de São Tomé e Príncipe prevê regra semelhante.

178
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Enquanto não existirem meios humanos e técnicos capazes de assegurar o


cumprimento do disposto no n.o 2 do artigo 74º, os serviços de apoio competentes
e a Mesa garantem a elaboração de súmulas das reuniões plenárias, contendo,
pelo menos, os elementos constantes do n.o 1 do artigo 74º.

Artigo 275º
Bancadas parlamentares unipessoais existentes
Mantêm a sua existência, durante a legislatura em curso à data da
publicação do presente Regimento, as bancadas parlamentares constituídas
com um só Deputado, contra o disposto no n.o 2 do artigo 21º.

Artigo 276º
Norma revogatória
São revogados:
a) O Regimento do Parlamento Nacional publicado no Jornal da
República, Série I, n.o 2, 1º Suplemento, de 11 de Junho de 2003;
b) A Resolução do Parlamento Nacional n.o 11/2007, de 6 de Agosto (Altera
o artigo 29.o do Regimento).403

Artigo 277º
Entrada em vigor
O presente Regimento entra em vigor no dia 15 de Setembro de 2009.404

403 Esta resolução está aqui incluída não só pela sua relação com o regimento em vigor, mas
também por contrariar a minha tese, suportada na lei, de que o regimento parlamentar não pode
ser modificado por resolução.
404 A intenção é que, se aprovado novo Regimento alguns meses antes de terminada a segunda

sessão legislativa da II Legislatura, esse período sirva para se estudarem e conhecerem as novas
regras, sem se perturbar o desenvolvimento da sessão legislativa em curso, começando a vigorar
exactamente no início de nova sessão legislativa (a terceira).

179
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

VERSÃO SIMPLES DO ARTICULADO PROPOSTO

180
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º
Regras aplicáveis ao funcionamento do Parlamento Nacional
1 - O funcionamento da estrutura política do Parlamento Nacional rege-se pelo
presente regimento, daqui em diante designado por “Regimento”.
2 - As regras a que se refere o número anterior compreendem o modo próprio de
funcionamento dos órgãos parlamentares e os processos e procedimentos específicos
necessários ao desempenho das funções legislativa, de fiscalização e de decisão política
do Parlamento Nacional.

Artigo 2º
Sede
1 - O Parlamento Nacional tem a sua sede na cidade de Díli, onde habitualmente
funciona.
2 - Excepcionalmente, um ou mais órgãos do Parlamento Nacional podem reunir
em qualquer outra localidade do território nacional, desde que o Plenário assim o
delibere, através de resolução, por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de
funções.

Artigo 3º
Órgãos parlamentares
1 - São “órgãos parlamentares”, para os efeitos previstos no Regimento:
a) O Presidente do Parlamento Nacional, adiante igualmente designado por
“Presidente”;
b) Os presidentes das comissões parlamentares;
c) A Mesa do Parlamento Nacional, adiante designada por “Mesa”;
d) A Conferência dos Representantes das Bancadas Parlamentares, adiante
também designada por “Conferência dos Líderes Parlamentares”;
e) O Plenário;
f) A Comissão Permanente;
g) As comissões parlamentares.

181
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Para efeitos do Regimento, consideram-se “órgãos parlamentares colegiais” os


previstos nas alíneas c), d), e), f) e g) do número anterior.

Artigo 4º
Forma dos actos finais do Parlamento Nacional
1 - Os actos finais dos órgãos parlamentares colegiais, de natureza jurídica ou
política, revestem-se de uma das seguintes formas:
a) Lei de revisão constitucional;
b) Lei;
c) Regimento;
d) Resolução;
e) Deliberação;
f) Moção;
g) Voto de confiança;
h) Voto.
2 - Quando, fora dos casos previstos nas alíneas a), b), c), f), g) e h) do número
anterior, se suscitem dúvidas sobre a forma do acto a utilizar, observam-se as seguintes
regras:
a) O acto toma a forma de resolução nos casos que expressamente a imponham
e em todos aqueles em que o acto deva ter efeitos externos;
b) O acto toma a forma de deliberação quando não possa revestir a forma de
resolução e vise produzir efeitos meramente internos no plano da organização dos
trabalhos parlamentares ou da estrutura política ou administrativa do Parlamento
Nacional.
3 - As deliberações são numeradas com referência ao órgão parlamentar colegial
que as haja emitido.
4 - As decisões dos órgãos parlamentares singulares tomam, em regra, a forma de
despacho, quando outra não esteja especialmente prevista ou se revele mais adequada
ao conteúdo do acto.
5 - Cabe aos serviços de apoio competentes, com a concordância da Mesa, a
adopção de siglas ou abreviaturas tendentes a facilitar a tramitação de processos e a
identificação dos actos próprios da actividade parlamentar.

Artigo 5º
Legislatura
1 - A legislatura tem a duração de cinco sessões legislativas.
2 - Em caso de dissolução, o Parlamento Nacional eleito inicia nova legislatura,
cuja duração é acrescida do tempo necessário a se completar o período
correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.

Artigo 6º

182
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Sessão legislativa e período normal de funcionamento


1 - A sessão legislativa tem a duração de um ano, começando a 15 de Setembro e
terminando a 14 de Setembro do ano seguinte.
2 - O período normal de funcionamento do Parlamento Nacional inicia-se a 15 de
Setembro e termina a 15 de Julho, sem prejuízo das interrupções desse período que o
Plenário deliberar, através de resolução, por maioria de dois terços dos Deputados em
efectividade de funções.
3 – Para além dos casos previstos no número anterior, o período normal de
funcionamento pode ainda ser interrompido, por consenso estabelecido na Conferência
dos Líderes Parlamentares, sem necessidade de deliberação expressa do Plenário,
durante a quadra natalícia e as festividades de celebração do final do ano civil, por
período não superior a dez dias úteis.

Artigo 7º
Convocação fora do período normal de funcionamento
Fora do período indicado no n.o 2 do artigo anterior, o Parlamento Nacional pode
funcionar:
a) Por resolução do Plenário, prorrogando o período normal de funcionamento;
b) Por iniciativa da Comissão Permanente;
c) A requerimento do Presidente da República, sempre que imperiosas razões de
interesse nacional o justifiquem, nos termos da alínea d) do artigo 86º da Constituição.

Artigo 8º
Reuniões extraordinárias das comissões parlamentares
1 - Fora do período normal de funcionamento e durante as interrupções deste
resolvidas pelo Plenário, pode este deliberar autorizar o funcionamento de qualquer
comissão, sob proposta do seu presidente, se tal se revelar indispensável ao bom
andamento de trabalhos em curso ou inerentes ao cumprimento das suas competências.
2 – Sem prejuízo do previsto no número anterior, o Presidente pode promover a
convocação de qualquer comissão para os quinze dias anteriores ao início da sessão
legislativa, a fim de planearem e prepararem os trabalhos a desenvolver no decurso
desta.

Artigo 9º
Não realização de reuniões plenárias
1 – Durante o período normal de funcionamento do Parlamento Nacional, pode o
Plenário deliberar interromper a realização das suas reuniões ordinárias durante
determinado período, delimitado no tempo, para permitir o desenvolvimento inadiável
ou urgente de trabalhos das comissões parlamentares.
2 – A interrupção a que se refere o número anterior não pode exceder catorze
dias.

183
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Para efeitos do Regimento, as expressões “reuniões do Plenário” e “reuniões


plenárias” têm o mesmo significado.

TÍTULO II
MANDATO PARLAMENTAR, DEPUTADOS E BANCADAS PARLAMENTARES

CAPÍTULO I
MANDATO PARLAMENTAR

Artigo 10.º
Natureza do mandato parlamentar
Os Deputados são representantes de todo o povo, independentemente do círculo
eleitoral pelo qual tenham sido eleitos.

Artigo 11º
Início e termo do mandato parlamentar e verificação de poderes
1 - O mandato dos Deputados, doravante designado por “mandato parlamentar”,
inicia-se e cessa nos termos definidos no Estatuto dos Deputados e demais legislação
aplicável.
2 – Os poderes dos Deputados são verificados pelo Parlamento Nacional,
precedendo parecer de comissão parlamentar especial de verificação de poderes,
constituída na primeira reunião plenária da legislatura, com composição plural
consonante com o disposto no n.o 1 do artigo 58º.

Artigo 12º
Cessação individual do mandato parlamentar
1 - O mandato parlamentar pode cessar:
a)) Com o seu termo normal;
b) Por morte do seu titular;
c) Por renúncia;
d) Por ocorrência de causa de perda de mandato.
2 – O mandato cessa ainda automaticamente, para o Deputado substituto, com o
regresso do Deputado substituído.

Artigo 13º
Vicissitudes do mandato parlamentar
A suspensão do mandato, a renúncia ao mandato e a perda do mandato, assim
como o preenchimento de vagas ocorridas, efectuam-se nos termos do Estatuto dos
Deputados e demais legislação aplicável.

Artigo 14º

184
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Substituição temporária de Deputados


1 - A substituição temporária de Deputados segue o regime previsto no Estatuto
dos Deputados.
2 – O Deputado temporariamente ausente é substituído de acordo com o regime
de preenchimento de vagas ocorridas previsto no Estatuto dos Deputados e na lei
eleitoral aplicável.
3 – Terminada a ausência, o Deputado substituído retoma automaticamente o
mandato com o seu regresso, cessando também as suas funções o último Deputado da
respectiva lista que à data desse regresso esteja a exercer o mandato em regime de
substituição.

Artigo 15º
Regalias e imunidades dos Deputados
No exercício das suas funções, os Deputados gozam das regalias e imunidades
estipuladas no Estatuto dos Deputados e demais legislação aplicável.

CAPÍTULO II
PODERES DOS DEPUTADOS

Artigo 16º
Poderes funcionais dos Deputados
1 - Para o regular exercício do seu mandato, constituem poderes dos Deputados, a
exercer singular ou conjuntamente, nos termos do Regimento, designadamente os
seguintes:
a) Apresentar projectos de revisão constitucional;
b) Apresentar projectos de lei, de regimento, de referendo, de resolução e de
deliberação;
c) Apresentar propostas de alteração aos textos das iniciativas previstas nas
alíneas anteriores;
d) Participar e intervir nas discussões e votações e nos debates parlamentares, nos
termos permitidos pelo Regimento;
e) Fazer, por escrito, perguntas ao Governo sobre quaisquer actos deste ou dos
órgãos e serviços da Administração Pública, ressalvado o disposto na lei em matéria de
segredo de Estado;
f) Requerer, por escrito, e obter do Governo ou dos órgãos de qualquer entidade
pública os elementos, informações e publicações oficiais que considerem úteis para o
desempenho do seu mandato;
g) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito;
h) Requerer a apreciação de diplomas legislativos do Governo para efeitos de
cessação de vigência ou de alteração;

185
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

i) Requerer a urgência do processamento de qualquer projecto ou proposta de lei,


proposta de resolução ou projecto de resolução ou deliberação;
j) Apresentar moções de censura ao Governo;
k) Propor a constituição de comissões parlamentares eventuais;
l) Propor a realização de audições parlamentares;
m) Requerer a fiscalização da constitucionalidade e da legalidade, nos termos
permitidos pela Constituição;
n) Interpor recurso judicial da deliberação do Plenário que confirme a declaração
de perda de mandato ou a declare;
o) Propor a aprovação de votos, nos termos do artigo 97º.
2 – As perguntas e os requerimentos apresentados ao abrigo das alíneas e) e f) do
número anterior são numerados, publicados e remetidos pelo Presidente às entidades
destinatárias, observando-se o regime previsto no artigo 238º.

Artigo 17º
Outros poderes dos Deputados
Constituem ainda poderes dos Deputados, relacionados com o exercício do seu
mandato, para além dos restantes poderes expressamente consagrados na lei ou no
Regimento, os de:
a) Tomar lugar nas salas destinadas ao funcionamento do Plenário e das comissões
parlamentares;
b) Usar da palavra durante as reuniões dos órgãos parlamentares colegiais, nos
termos do Regimento;
c) Em geral, fazer quaisquer requerimentos, apresentar reclamações, formular
protestos e contraprotestos e interpor recursos, em conformidade com o disposto no
Regimento.

CAPÍTULO III
DIREITOS, DEVERES, INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS DOS DEPUTADOS

Artigo 18º
Direitos dos Deputados
Os direitos dos Deputados, para além dos poderes previstos no capítulo anterior,
são os que lhes advêm da Constituição, do Estatuto dos Deputados e da demais
legislação aplicável.

Artigo 19º
Deveres, incompatibilidades e impedimentos dos Deputados
1 – São deveres dos Deputados, para além dos previstos na Constituição, no
Estatuto dos Deputados e na demais legislação aplicável:

186
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Comparecer pontualmente às reuniões dos órgãos parlamentares colegiais de


que façam parte, assinar os respectivos livros ou folhas de presenças e participar nos seus
trabalhos;
b) Justificar as faltas dadas a reuniões do Plenário ou das comissões parlamentares
de que sejam membros, no prazo de sete dias após a sua ocorrência;
c) Exercer zelosamente os cargos e as funções específicas para que forem
designados no Parlamento Nacional, nos termos previstos no Regimento;
d) Participar nas votações dos órgãos parlamentares colegiais a que pertençam.
2 – São ainda deveres dos Deputados, a observar no exercício das suas funções:
a) Respeitar a dignidade do Parlamento Nacional e dos Deputados;
b) Observar a ordem e a disciplina decorrentes das disposições regimentais e
acatar a autoridade do Presidente;
c) Contribuir, com o seu comportamento, para a eficácia e o prestígio dos
trabalhos parlamentares;
d) Cumprir as estatuições constitucionais e legais.
3 – As incompatibilidades do exercício do mandato parlamentar com outros
cargos ou funções e os impedimentos dos Deputados são regulados pela Constituição,
pelo Estatuto dos Deputados e pela lei.

Artigo 20º
Dever especial de comparência a reuniões do Plenário e das comissões parlamentares
1 – Os Deputados são obrigados a comparecer às reuniões do Plenário e das
comissões parlamentares de que façam parte, sob pena de incorrerem em perda de
mandato se derem o número de faltas injustificadas cominado pelo Estatuto dos
Deputados com aquela sanção.
2 – As faltas às reuniões previstas no número anterior são justificadas no prazo a
que alude a alínea b) do n.o 1 do artigo anterior, com invocação de um dos motivos
concretos previstos no Estatuto dos Deputados.
3 – Os serviços de apoio mantêm patentes, em locais próprios das salas reservadas
às reuniões dos órgãos parlamentares colegiais, folhas ou livros próprios destinados a
assinalar as presenças e faltas dos Deputados respectivos, que estes assinam, nos devidos
lugares, nos dois períodos a que se refere o n.o 1 do artigo 27º.
4 – As folhas ou livros próprios a que alude o número anterior são devidamente
arquivadas e arrumadas pelos serviços de apoio competentes, que apenas comunicam
ao Presidente, devidamente documentadas, as faltas injustificadas de Deputados que
hajam detectado para efeitos do disposto no Estatuto dos Deputados.
5 – Quando determinado pelos respectivos presidentes, os serviços de apoio
competentes registam ainda os Deputados faltosos nos momentos de reunião do Plenário
ou de comissões parlamentares em que haja que proceder a votações.

187
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

6 – Os serviços de apoio financeiros processam por inteiro o vencimento mensal


dos Deputados independentemente do conhecimento das folhas ou livros referidos nos
números anteriores.

CAPÍTULO IV
BANCADAS PARLAMENTARES E DEPUTADOS NÃO AGRUPADOS

Artigo 21º
Constituição e organização das bancadas parlamentares
1 – Os Deputados eleitos em listas de partido político ou coligação partidária
podem constituir-se em bancada parlamentar.
2 – É requisito indispensável da constituição de uma bancada parlamentar que
existam pelo menos dois Deputados para a formar.
3 – A constituição de cada bancada parlamentar efectua-se mediante
comunicação dirigida ao Presidente, assinada por todos os Deputados que a compõem,
com indicação dos Deputados que integram a direcção da bancada parlamentar.
4 – A direcção da bancada parlamentar é composta por um presidente, também
designado por “líder parlamentar”, e, se os houver, um ou mais vice-presidentes, que
substituem o líder parlamentar nas suas faltas e impedimentos.
5 – Qualquer alteração posterior na composição da direcção da bancada
parlamentar é imediatamente comunicada ao Presidente.

Artigo 22º
Organização das bancadas parlamentares
1 – Cada bancada parlamentar estabelece livremente a sua organização e modo
de funcionamento.
2 – As funções de Presidente e de membro da Mesa são incompatíveis com as de
líder parlamentar e, havendo-o, vice-presidente de bancada parlamentar.

Artigo 23º
Poderes das bancadas parlamentares
Constituem poderes de cada bancada parlamentar:
a) Participar nas comissões parlamentares em função do número dos seus
membros, indicando os seus representantes nelas;
b) Provocar, com a presença do Governo, a realização de debates de urgência,
nos termos do artigo 96º;
c) Requerer a realização de interpelações ao Governo, nos termos previstos no
artigo 237º;
d) Exercer a iniciativa de revisão constitucional, de lei, de regimento, de referendo,
de resolução e de deliberação;
e) Apresentar moções de rejeição ao Programa do Governo;

188
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

f) Apresentar moções de censura ao Governo;


g) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito e comissões
eventuais;
h) Exercer os demais poderes previstos no Regimento.

Artigo 24º
Direitos das bancadas parlamentares
Constituem direitos de cada bancada parlamentar, nomeadamente:
a) Eleger a sua direcção e determinar a sua organização e regulamentação
interna;
b) Escolher a presidência das comissões e subcomissões parlamentares, nos termos
estabelecidos no n.o 3 do artigo 58º;
c) Ser ouvida na fixação da ordem de trabalhos de reunião plenária, nos termos
do n.o 1 do artigo 78º;
d) Fixar a ordem de trabalhos de determinado número de reuniões plenárias, nos
termos do disposto no artigo 81º;
e) Solicitar à Comissão Permanente a convocação de reunião do Plenário;
f) Produzir declarações políticas em Plenário;
g) Ser informada pelo Governo, regular e directamente, sobre o andamento dos
principais assuntos de interesse público;
h) Dispor de locais de trabalho na sede do Parlamento Nacional, bem como de
pessoal técnico e administrativo da sua confiança, nos termos da lei.

Artigo 25º
Deputados não inscritos em bancada parlamentar
Os Deputados que, não sendo únicos representantes de partido político ou
coligação partidária, não integrem ou deixem de integrar qualquer bancada
parlamentar ou deixem de pertencer ao respectivo partido político ou coligação
partidária, doravante designados por “Deputados independentes”, comunicam esse
facto, por escrito, ao Presidente, exercendo o mandato parlamentar como Deputados
independentes.

Artigo 26º
Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária
Ao Deputado que seja único representante de partido político ou coligação
partidária é atribuído o direito de intervenção como tal, a efectivar nos termos do
Regimento.

TÍTULO III
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

189
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GENÉRICAS

Artigo 27º
Horário normal de funcionamento do Parlamento Nacional
1 – O Parlamento Nacional funciona, em regra, de segunda a sexta-feiras não
coincidentes com feriados, dentro dos seguintes períodos e horários diários:
a) Na parte da manhã, das 9 às 13 horas;
b) Na parte da tarde, das 15 às 18 horas.
2 – As horas de início e encerramento dos dois períodos previstos no número
anterior podem ser prolongadas ou antecipadas, por motivo de funcionamento dos
órgãos parlamentares colegiais, através de deliberação do respectivo órgão, sob
proposta do seu presidente ou a requerimento de qualquer Deputado.

Artigo 28º
Organização dos trabalhos parlamentares e dias parlamentares
1 – Os trabalhos parlamentares são organizados de modo a reservar períodos
específicos para as reuniões ou sessões de trabalho de todos os órgãos parlamentares.
2 – Sem prejuízo de reuniões extraordinárias de órgãos parlamentares colegiais ou
de trabalhos da Mesa, da Conferência dos Líderes Parlamentares ou dos Deputados
marcados para as sextas-feiras, estas são, em regra, reservadas a contactos dos
Deputados com os eleitores e a população em geral, a reuniões das bancadas
parlamentares ou entre bancadas parlamentares ou a encontros das bancadas
parlamentares com individualidades ou entidades que tenham aceite receber em
audiência.
3 – Os dias úteis a que se refere o n.o 1 do artigo anterior são considerados “dias
parlamentares” para efeitos do Regimento e do funcionamento dos serviços de apoio do
Parlamento Nacional.
4 – Por imposição constitucional, legal ou regimental ou, quando o Plenário assim o
delibere, por motivo de necessidade absoluta e inadiável, os órgãos parlamentares
podem funcionar, excepcionalmente, em qualquer dia da semana.
5 – São considerados “trabalhos parlamentares”:
a) As reuniões do Plenário, da Comissão Permanente, da Mesa, da Conferência
dos Líderes Parlamentares, do Conselho de Administração, das comissões e subcomissões
parlamentares, dos grupos de trabalho criados no âmbito das comissões parlamentares e
das bancadas parlamentares;
b) A participação de Deputados em reuniões de organizações internacionais e em
delegações parlamentares;
c) A realização de seminários ou colóquios, dentro ou fora das instalações do
Parlamento Nacional, sobre temas de interesse para o Parlamento Nacional,

190
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

devidamente autorizados pelo Presidente, em que os Deputados sejam convidados a


participar;
d) As visitas ao exterior para efeitos de actividades de fiscalização política e as
missões de contacto com o eleitorado;
e) As demais reuniões de trabalho convocadas pelo Presidente e demais tarefas
desenvolvidas pelos Deputados no exercício das suas funções.

CAPÍTULO II
PRESIDENTE

Artigo 29º
Estatuto e competência genérica
1 – O Presidente do Parlamento Nacional substitui o Presidente da República ou
assume interinamente as suas funções nos casos previstos na Constituição.
2 – O Presidente do Parlamento Nacional tem honras de representante de
segundo órgão de soberania do Estado.
3 - Cabe ao Presidente, em geral, representar o Parlamento Nacional, velar pelo
prestígio e dignidade da instituição parlamentar, dirigir e coordenar a actividade desta e
exercer autoridade sobre todos os funcionários e agentes e sobre as forças de segurança
postas ao serviço do Parlamento Nacional.

Artigo 30º
Modo e processo de designação
1 – O Presidente é eleito, por escrutínio secreto, de entre os Deputados em
efectividade de funções.
2 – As candidaturas uninominais ao cargo de Presidente, separadas das
candidaturas aos restantes membros da Mesa, são subscritas por um mínimo de dez e um
máximo de vinte Deputados, sendo apresentadas ao Presidente em exercício até duas
horas antes do início da reunião plenária marcada para a eleição.
3 – A eleição tem lugar na primeira reunião plenária da legislatura, que é presidida,
até à eleição, pelo Presidente cessante, mesmo que não haja sido eleito deputado na
nova legislatura, ou, na sua impossibilidade, pelo Deputado mais idoso.
4 – É eleito Presidente o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos dos
Deputados em efectividade de funções.
5 – Se nenhum dos candidatos obtiver o número de votos a que se refere o número
anterior, procede-se imediatamente a segundo sufrágio, ao qual concorrem apenas os
dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura.
6 – Se nenhum candidato for eleito à segunda volta, é reaberto todo o processo
de eleição.

Artigo 31º

191
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Mandato
1 – O Presidente tem mandato de duração correspondente à da legislatura.
2 – O Presidente pode renunciar ao cargo mediante comunicação escrita ao
Plenário, tornando-se a renúncia imediatamente efectiva, sem prejuízo da sua
publicação posterior no Jornal do Parlamento Nacional.
3 – No caso de renúncia ao cargo ou vagatura, procede-se a nova eleição no
prazo de cinco dias úteis.
4 – O mandato do novo Presidente eleito tem duração equivalente ao período
restante da legislatura.

Artigo 32º
Substituição
1 – O Presidente é substituído, nas suas faltas e impedimentos:
a) Pelo Primeiro Vice-Presidente ou, na falta deste, pelo Segundo Vice-Presidente;
b) Pelo Deputado mais idoso, nas faltas e impedimentos do Primeiro Vice-
Presidente e do Segundo Vice-Presidente.
2 – O disposto no número anterior não prejudica que o vice-presidente não
chamado a substituir o Presidente coadjuve o vice-presidente investido nessas funções,
prestando-lhe a colaboração possível.

Artigo 33º
Competências quanto à actividade parlamentar em geral
1. Compete especificamente ao Presidente, quanto à actividade parlamentar em
geral e aos trabalhos parlamentares:
a) Presidir à Mesa;
b) Admitir ou não admitir as iniciativas originárias de revisão constitucional, lei,
regimento, referendo, resolução ou deliberação e os requerimentos e propostas de
alteração, em atenção à sua regularidade regimental e ao preenchimento dos
respectivos pressupostos formais e materiais, sem prejuízo dos direitos de reclamação e
recurso previstos no Regimento;
c) Submeter às comissões parlamentares competentes, para efeitos de
apreciação, os textos das iniciativas referidas na alínea anterior, nas condições previstas
no Regimento;
d) Promover a constituição das comissões parlamentares, acompanhar e
incentivar os respectivos trabalhos e velar pelo cumprimento dos prazos regimentais
fixados para conclusão de tarefas a seu cargo;
e) Promover a constituição de delegações parlamentares, acompanhar e
incentivar as missões em que estejam investidas e velar para que contribuam para a
visibilidade externa e o prestígio do Parlamento Nacional e do País;
f) Dinamizar a constituição dos grupos parlamentes de amizade e de outros
organismos que se ocupem do diálogo do Parlamento Nacional com os países amigos

192
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

de Timor-Leste, acompanhar e incentivar os respectivos trabalhos e velar pelo


cumprimento dos regulamentos e resoluções existentes sobre a matéria;
g) Convocar os presidentes das comissões e subcomissões parlamentares para se
inteirar dos seu trabalhos e das razões que motivem atrasos na conclusão de tarefas a
seu cargo;
h) Receber e encaminhar para as comissões parlamentares competentes as
petições, queixas ou reclamações dirigidas ao Parlamento Nacional;
i) Presidir à Comissão Permanente;
j) Presidir à Conferência dos Líderes Parlamentares;
k) Mandar publicar no Jornal da República as resoluções do Parlamento Nacional,
com excepção daquelas que cabe ao Presidente da República, nos termos
constitucionais, mandar publicar;
l) Manter a ordem, a disciplina e a segurança do Parlamento Nacional, podendo
para o efeito requisitar e usar os meios necessários e tomar as medidas que entender
convenientes;
m) Apreciar a regularidade das candidaturas apresentadas por Deputados a
cargos electivos, bem como anunciar os resultados das eleições e proclamar os
candidatos eleitos;
n) Superintender o pessoal ao serviço do Parlamento Nacional;
o) Genericamente, assegurar o cumprimento do Regimento e das deliberações do
Parlamento Nacional.
2 – Compete ainda ao Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares:
a) Estabelecer protocolos de acordo, cooperação e assistência com as
universidades e outros estabelecimentos de ensino superior;
b) A título excepcional, e sem prejuízo da realização de reuniões solenes para
comemoração de eventos especiais ou recepção a individualidades nacionais e
estrangeiras, convidar estas a tomar lugar na sala das reuniões plenárias e a usar da
palavra durante reunião plenária ordinária.
3 – O Presidente pode delegar em qualquer dos vice-presidentes, através de
despacho escrito, o exercício dos seus poderes e competências.

Artigo 34º
Competências quanto às reuniões plenárias
1 – Compete particularmente ao Presidente, no tocante às reuniões plenárias:
a) Fixar a ordem de trabalhos das reuniões plenárias, de harmonia com o disposto
nos artigos 78º, 79º e 80º;
b) Marcar e convocar reuniões plenárias extraordinárias, nos termos do artigo 72º;
c) Presidir às reuniões plenárias, declarar a sua abertura, interrupção e
encerramento e dirigir os respectivos trabalhos;

193
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) Conceder a palavra aos Deputados e membros do Governo e orientar os


debates;
e) Dar oportuno conhecimento ao Plenário das mensagens, informações,
explicações, relatórios, convites e outros documentos pertinentes que lhe sejam dirigidos;
f) Pôr à discussão e votação os projectos de revisão constitucional e as iniciativas
originárias de lei, de regimento, de referendo, de resolução e de deliberação, bem como
as propostas de alteração, os recursos e os requerimentos admitidos.
2 – O Presidente pode tomar a iniciativa de conceder a palavra aos Deputados,
fora das formas usuais de uso da palavra, sempre que o entenda necessário à boa
condução dos trabalhos.
3 – Das decisões do Presidente tomadas em reunião plenária cabe sempre
reclamação, bem como recurso para o Plenário.

Artigo 35º
Competências quanto ao mandato parlamentar
Compete especialmente ao Presidente, quanto aos Deputados:
a) Julgar as justificações de faltas dadas por Deputados, solicitadas nos termos
aplicáveis do Estatuto dos Deputados e da alínea b) do n.o 1 do artigo 19º;
b) Decidir sobre o deferimento de pedidos de justificação antecipada de faltas e
substituição temporária, nos termos previstos no Estatuto dos Deputados;
c) Receber e mandar publicar as declarações de renúncia ao mandato;
d) Dar seguimento às perguntas ao Governo e requerimentos escritos
apresentados pelos Deputados, nos termos das alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 16º;
e) Autorizar as deslocações de carácter oficial ao estrangeiro ou dentro do
território nacional.

Artigo 36º
Competências quanto a outros órgãos
Compete ao Presidente, em relação a órgãos exteriores ao Parlamento Nacional:
a) Enviar ao Presidente da República, para os efeitos previstos na Constituição, os
decretos do Parlamento Nacional;
b) Enviar ao Presidente da República, para os efeitos previstos na Constituição, os
tratados, convenções e acordos internacionais submetidos à apreciação do Parlamento
Nacional, depois de aprovados ou ratificados, consoante os casos, juntamente com as
respectivas resoluções;
c) Comunicar ao Presidente da República, nos termos e para os efeitos
constitucionalmente determinados, os resultados das votações de moções de rejeição
do Programa do Governo, votos de confiança e moções de censura ao Governo;
d) Marcar, em concertação com o Governo, as reuniões plenárias em que os seus
membros devam estar presentes;
e) Assinar os documentos expedidos em nome do Parlamento Nacional;

194
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

f) Chefiar as delegações do Parlamento Nacional de que faça parte.

CAPÍTULO III
MESA

Artigo 37º
Composição
1 - A Mesa é composta pelo Presidente e pelos seguintes membros:
a) Primeiro Vice-Presidente;
b) Segundo Vice-Presidente;
c) Secretário;
d) Primeiro Vice-Secretário;
e) Segundo Vice-Secretário.
2 - O Secretário é substituído, nas suas faltas e impedimentos, pelo Primeiro Vice-
Secretário ou, na falta deste, pelo Segundo Vice-Secretário.
3 - Para efeitos do Regimento, a palavra “Mesa”, quando escrita com a letra inicial
em maiúscula, refere-se ao órgão parlamentar previsto no presente capítulo.

Artigo 38º
Modo e processo de designação
1 – Os membros da Mesa indicados no n.o 1 do artigo anterior são eleitos, de entre
os Deputados em efectividade de funções, pelo período da legislatura.
2 – As candidaturas aos cargos referidos no número anterior são apresentadas em
listas únicas, nominativas, fechadas e completas, subscritas por um mínimo de cinco e um
máximo de quinze Deputados.
3 – As listas de candidatos, a apresentar até vinte e quatro horas antes do início da
reunião plenária marcada para a eleição, devem indicar os nomes dos Deputados
propostos pela ordem dos cargos enumerados nas alíneas a), b), c), d) e e) do n.o 1 do
artigo anterior, assegurando-se na composição de cada lista, tanto quanto possível, a
participação proporcional das bancadas parlamentares de acordo com a sua
representatividade parlamentar.
4 – A eleição é feita por escrutínio secreto.
5 – Consideram-se eleitos os candidatos que constem da lista que obtenha a
maioria absoluta dos votos dos Deputados em efectividade de funções.
6 – Se nenhuma das listas de candidatos obtiver o número de votos a que se refere
o número anterior, aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 5 e 6 do artigo 30º.

Artigo 39º
Renúncia ao cargo de membro da Mesa

195
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Os membros da Mesa podem renunciar ao cargo mediante declaração escrita


fundamentada dirigida ao Presidente, tornando-se a renúncia imediatamente efectiva,
sem prejuízo da sua posterior publicação no Jornal do Parlamento Nacional.
2 – Em caso de renúncia ao cargo de membro da Mesa ou vagatura, procede-se
a nova eleição do membro em falta, aplicando-se, com as devidas adaptações, o
disposto nos n.os 4, 5 e 6 do artigo anterior e nos n.os 3 e 4 do artigo 31º.

Artigo 40º
Competência genérica e deliberações da Mesa
1 - Compete à Mesa:
a) Declarar a perda do mandato em que incorra qualquer Deputado, nos termos
aplicáveis do Estatuto dos Deputados;
b) Assegurar o desempenho dos serviços de apoio técnico e administrativo aos
órgãos parlamentares;
c) Em geral, coadjuvar o Presidente no exercício das suas funções.
2 – As deliberações da Mesa são tomadas por consenso ou, quando tal não seja
possível, por maioria, exercendo o Presidente voto de qualidade.
3 – A Mesa reúne, sob convocação do Presidente, sempre que este o entender
necessário.

Artigo 41º
Competência específica da Mesa quanto às reuniões plenárias
1 - Compete à Mesa, quanto às reuniões plenárias:
a) Integrar nas formas previstas no Regimento as iniciativas orais e escritas dos
Deputados, bancadas parlamentares e membros do Governo;
b) Decidir as questões de interpretação de normas regimentais e integração de
lacunas do Regimento, de acordo com o disposto nos artigos 270º e 271º.
2 – Das deliberações da Mesa previstas no número anterior, que não carecem
obrigatoriamente de ser reduzidas a escrito, cabe reclamação, bem como recurso para
o Plenário.

Artigo 42º
Competências dos vice-presidentes
Compete aos vice-presidentes:
a) Substituir o Presidente, nos termos do disposto no artigo 32º;
b) Aconselhar o Presidente e coadjuvá-lo no desempenho das suas funções;
c) Exercer os poderes e competências que lhes forem delegados pelo presidente;
d) Exercer a vice-presidência da Comissão Permanente;
e) Desempenhar as funções de representação institucional do Parlamento
Nacional de que sejam incumbidos pelo Presidente.

196
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 43º
Competências do Secretário
Compete ao Secretário:
a) Proceder à verificação das presenças e verificar, em qualquer momento, o
quórum nas reuniões plenárias;
b) Ordenar as matérias a submeter à votação e registar os resultados das votações
realizadas;
c) Organizar as inscrições dos Deputados e membros do Governo que pretendam
usar da palavra;
d) Fazer as leituras indispensáveis durante as reuniões plenárias;
e) Promover a publicação no Jornal do Parlamento Nacional dos actos escritos
que o devam ser;
f) Assinar, por delegação do Presidente, a correspondência expedida em nome
do Parlamento Nacional;
g) Servir de escrutinador.

Artigo 44º
Competências dos Vice-Secretários
1 - Para além da função de substituição do Secretário nos termos do disposto no
n.o 2 do artigo 37º, o Segundo Vice-Secretário ou, nas suas faltas e impedimentos, o
Primeiro Vice-Secretário pode ser chamado a coadjuvar o Secretário no exercício das
funções que esteja obrigado a desempenhar durante as reuniões plenárias, quando o
volume ou a complexidade dos assuntos da ordem de trabalhos o justifique.
2 – Cabe ao Presidente decidir se é justificado o recurso a um dos vice-secretários,
pela ordem indicada no número anterior, para coadjuvar o Secretário no exercício das
funções aí referidas.

Artigo 45º
Presença dos membros da Mesa durante as reuniões plenárias
1 - Durante as reuniões plenárias, só exercem funções, nos lugares a eles
reservados na sala das reuniões do Plenário, os seguintes membros da Mesa:
a) O Presidente ou quem o substitua;
b) O Secretário ou o vice-secretário que o substitua;
c) Um dos vice-secretários, nos casos previstos no artigo anterior.
2 – Em casos excepcionais, e sem prejuízo dos seus direitos de voto e participação
nos debates, pode qualquer dos vice-presidentes que não esteja a substituir o Presidente
sentar-se em lugar situado perto da tribuna onde o Presidente ou quem o substitua se
encontre.

Artigo 46º
Imparcialidade na condução das reuniões plenárias

197
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Durante as reuniões plenárias, o Presidente ou quem o substitua:


a) Não tem direito a voto, salvo quando se revelar necessário para assegurar a
formação do quórum de deliberação ou para garantir, no quadro da correlação de
forças partidárias com assento parlamentar, a representatividade da bancada
parlamentar a que corresponda o partido político ou coligação partidária a que
pertença;
b) Não pode intervir nos debates em curso e deve abster-se de fazer comentários
sobre a substância dos diplomas ou assuntos em análise, a não ser para sumariar os
assuntos em discussão ou esclarecer o conteúdo ou sentido de textos escritos, propostas,
requerimentos ou outros actos submetidos à apreciação do Plenário ou carecidos de
decisão da Mesa.
2 – Nos casos em que deva operar a ressalva prevista na alínea a) do número
anterior, o Presidente exerce o direito de voto em último lugar.

CAPÍTULO IV
CONFERÊNCIA DOS REPRESENTANTES DAS BANCADAS PARLAMENTARES

Artigo 47º
Natureza e composição
1 - A Conferência dos Representantes das Bancadas Parlamentares é um órgão
consultivo do Presidente, sem prejuízo dos poderes decisórios próprios expressamente
previstos no Regimento.
2 - A Conferência dos Líderes Parlamentares é constituída pelo Presidente ou quem
o substitua, pelos líderes parlamentares ou quem os substituam e pelo membro do
Governo por este indicado.
3 – Os representantes das bancadas parlamentares têm na Conferência dos
Líderes Parlamentares um número de votos igual ao número de Deputados que
representam.
4 – O membro do Governo que participe nas reuniões da Conferência dos Líderes
Parlamentares só pode intervir, sem direito a voto, nos assuntos que não se relacionem
exclusivamente com o funcionamento do Parlamento Nacional.
5 - Às reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares assistem ainda, sem
direito a voto:
a) Os restantes membros da Mesa do Parlamento Nacional;
b) Quaisquer outras pessoas, designadamente assessores ou peritos, autorizadas
pelo Presidente.
6 - As entidades referidas no número anterior usam da palavra nas reuniões da
Conferência dos Líderes Parlamentares quando expressamente solicitada a sua
participação pelo Presidente ou quem o substitua.

Artigo 48º

198
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Competências
Cabe à Conferência dos Líderes Parlamentares, para além das suas funções
consultivas genéricas:
a) Pronunciar-se sobre a fixação da ordem de trabalhos das reuniões plenárias, nos
termos do Regimento;
b) Determinar os tempos de uso da palavra em debates parlamentares, nos casos
previstos no Regimento;
c) Exercer os demais poderes expressamente previstos no Regimento.

Artigo 49º
Funcionamento
1 - A Conferência dos Líderes Parlamentares reúne ordinariamente, durante o
período normal de funcionamento do Parlamento Nacional, uma vez por semana, de
preferência às quartas-feiras à tarde, ou, extraordinariamente, sempre que o Presidente o
entender necessário ao regular funcionamento do Parlamento Nacional, sob expressa
convocação deste.
2 - A convocação de reunião extraordinária da Conferência dos Líderes
Parlamentares pode ser feita pelos meios mais expeditos, designadamente telefónicos,
ao alcance do Presidente, sendo válida e inquestionável desde que tentados contactos
com todos os líderes parlamentares.
3 - A Conferência dos Líderes Parlamentares funciona e delibera validamente com
a presença de líderes parlamentares ou seus substitutos que representem mais de
metade dos Deputados em efectividade de funções.
4 – As deliberações da Conferência dos Líderes Parlamentares, na falta de
consenso, são tomadas por maioria absoluta.
5 - De cada reunião da Conferência dos Líderes Parlamentares é lavrada uma
acta ou súmula, que contém, pelo menos:
a) A data e as horas de início e termo da reunião;
b) A indicação dos membros da Mesa e dos representantes das bancadas
parlamentares presentes;
c) Um resumo sucinto dos intervenientes e, na medida do possível, do sentido das
principais intervenções produzidas ou opiniões expressas;
d) As deliberações tomadas e os resultados das votações realizadas, quando
aquelas não tenham sido alcançadas por consenso.
6 – A acta ou súmula a que se refere o número anterior é assinada pelo Secretário
ou, na sua falta, por um dos vice-secretários presentes.
7 – Na falta de qualquer dos membros da Mesa a que se refere o número anterior,
a acta ou súmula prevista no n.o 5 é assinada por um dos vice-presidentes ou, na sua
falta, pelo Presidente ou quem o tenha substituído.

Artigo 50º

199
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Apoio técnico e administrativo


1 - As reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares são secretariadas e
apoiadas, técnica e administrativamente, pelos serviços de apoio competentes.
2 – Os serviços de apoio competentes asseguram, entre outras tarefas:
a) O registo das presenças nas reuniões;
b) A elaboração da acta ou súmula a que se refere o n.o 5 do artigo anterior;
c) A distribuição da documentação que se revelar necessária;
d) A elaboração dos guiões e notas técnicas ou instrumentais que sejam
solicitados pelo Presidente e se enquadrem no âmbito das competências dos serviços de
apoio requisitados.
3 - A acta ou súmula prevista na alínea b) do número anterior é submetida à
aprovação da Conferência dos Líderes Parlamentares, em projecto, numa das reuniões
posteriores àquela a que diga respeito, fazendo-se menção expressa à sua aprovação
na acta ou súmula da reunião em que efectivamente tiver sido aprovada.

Artigo 51º
Carácter reservado das reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares
1 - As reuniões da Conferência dos Líderes Parlamentares não são públicas, salvo
se o Presidente, com a concordância de todos os representantes das bancadas
parlamentares presentes, autorizar a presença de pessoas estranhas ao Parlamento
Nacional e aos seus serviços de apoio, designadamente jornalistas e outros profissionais
da comunicação social.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o Presidente e qualquer dos líderes
parlamentares ou quem os substitua podem revelar aos órgãos de comunicação social
os resultados de cada reunião da Conferência dos Líderes Parlamentares que não hajam
sido considerados de carácter reservado.

CAPÍTULO V
PLENÁRIO

Artigo 52º
Definição e composição
O Plenário é o órgão supremo do Parlamento Nacional onde tomam assento todos
os Deputados em efectividade de funções.

Artigo 53º
Competência genérica
Sem prejuízo das competências próprias dos restantes órgãos parlamentares, cabe
ao Plenário o exercício das funções legislativa e de fiscalização e decisão política
constitucionalmente atribuídas ao Parlamento Nacional.

200
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO VI
COMISSÃO PERMANENTE

Artigo 54º
Definição
A Comissão Permanente é um órgão subsidiário que funciona durante o período
em que o Parlamento Nacional se encontrar dissolvido, fora do período normal de
funcionamento do Parlamento Nacional e nos restantes casos previstos na Constituição.

Artigo 55º
Composição
A Comissão Permanente é composta:
a) Pelo Presidente, que a ela preside;
b) Pelos vice-presidentes;
c) Por Deputados indicados por todos os partidos políticos com assento no
Parlamento Nacional, de acordo com a sua representatividade.

Artigo 56º
Competências
Compete à Comissão Permanente, nomeadamente:
a) Acompanhar a actividade do Governo e da Administração Pública;
b) Coordenar a actividade das comissões parlamentares;
c) Dirigir as relações entre o Parlamento Nacional e os parlamentos e instituições
análogas de outros países;
d) Promover a convocação do Plenário sempre que tal se mostre necessário ou
esteja constitucionalmente previsto;
e) Preparar a abertura da sessão legislativa e organizar as reuniões plenárias que
lhe dêem início;
f) Dar assentimento à ausência do Presidente da República do território nacional,
nos termos da Constituição;
g) Autorizar o Presidente da República a declarar o estado de sítio ou o estado de
emergência, a declarar a guerra e a fazer a paz, nos termos constitucionais, legais e
regimentais aplicáveis;
h) Exercer os poderes dos órgãos parlamentares competentes relativamente ao
mandato parlamentar, sem prejuízo das competências próprias detidas, nessa matéria,
pelo Presidente do Parlamento Nacional e pela comissão parlamentar competente;
i) Autorizar e coordenar o funcionamento das comissões parlamentares fora do
período normal de funcionamento do Parlamento Nacional ou durante os períodos de
suspensão da sessão legislativa, se tal for necessário ao bom andamento dos seus
trabalhos;

201
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

j) Decidir as reclamações sobre inexactidões dos textos aprovados em redacção


final dos decretos, resoluções e deliberações do Parlamento Nacional;
k) Designar as delegações parlamentares e autorizar as respectivas deslocações,
nos termos previstos no Regimento;
l) Elaborar e alterar o seu regulamento de funcionamento.

CAPÍTULO VII
COMISSÕES PARLAMENTARES

Secção I
Regras gerais

Artigo 57º
Tipos de comissões parlamentares
O Parlamento Nacional tem:
a) Obrigatoriamente, comissões parlamentares permanentes;
b) Facultativamente, comissões parlamentares eventuais.

Artigo 58º
Composição e dimensão das comissões parlamentares
1 – A composição das comissões parlamentares deve ser proporcional à
representatividade das bancadas parlamentares.
2 – As presidências das comissões parlamentares são, no conjunto, repartidas pelas
bancadas parlamentares na proporção da sua representatividade.
3 – Para efeitos do número anterior, e sem prejuízo do princípio da
proporcionalidade nele fixado, as bancadas parlamentares escolhem as presidências
que lhes caibam, por ordem de prioridade, a começar pela maior bancada
parlamentar.
4 – O número de membros de cada comissão parlamentar e a sua distribuição
pelas diversas bancadas parlamentares são fixados por deliberação do Plenário, sob
proposta do Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, no início da
legislatura.
5 – A deliberação referida no número anterior deve mencionar os Deputados
independentes e únicos representantes de partido político ou coligação partidária que
integram as comissões parlamentares.
6 – Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, cada comissão parlamentar
não pode, em caso algum, ser constituída por mais de nove membros.

Artigo 59º
Indicação dos membros das comissões parlamentares

202
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – A indicação dos Deputados para as comissões parlamentares compete às


direcções das respectivas bancadas parlamentares e deve ser efectuada no prazo
fixado pelo Presidente.
2 – O lugar na comissão parlamentar atribuído à bancada parlamentar pertence a
esta, competindo-lhe substituir em qualquer momento, através de documento escrito
dirigido ao presidente, o Deputado titular do lugar.
3 – Se alguma bancada parlamentar não quiser ou não puder indicar
representantes seus, não há lugar ao preenchimento das vagas por Deputados de outras
bancadas parlamentares.
4 - Nenhum Deputado pode ser indicado para mais do que uma comissão
parlamentar permanente, salvo se a respectiva bancada parlamentar, pela sua reduzida
dimensão, não puder ter representantes em todas as comissões parlamentares, sendo
que, neste caso, não pode ter, em caso algum, mais do que dois representantes no total
das comissões parlamentares existentes.
5 – Os Deputados únicos representantes de partido político ou coligação
partidária indicam as opções sobre as comissões parlamentares permanentes que
desejem integrar e o Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares,
designa aquela ou aquelas a que o Deputado deva pertencer, acolhendo, na medida
do possível, as opções apresentadas.

Artigo 60º
Mesa das comissões parlamentares
1 - A mesa das comissões parlamentares é constituída por:
a) Um presidente;
b) Um vice-presidente, que coadjuva o presidente no exercício das suas funções e
o substitui nas suas faltas e impedimentos;
c) Um secretário.
2 – Os membros da mesa são eleitos por sufrágio uninominal, na primeira reunião
da comissão parlamentar, que é marcada, convocada e dirigida pelo Presidente do
Parlamento Nacional, o qual assegura o cumprimento do disposto no n.o 2 do artigo 58º.

Artigo 61º
Competências do presidente
Compete ao presidente de comissão parlamentar, nomeadamente:
a) Dirigir os trabalhos da comissão;
b) Dar conhecimento à comissão do expediente recebido relevante para os seus
trabalhos;
c) Designar, de entre os membros da comissão, os Deputados que devam compor
as subcomissões e grupos de trabalho criados nos termos do artigo 65º;
d) Impor a ordem e a disciplina nas reuniões da comissão;
e) Designar relatores, de acordo com o disposto no artigo 149º;

203
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

f) Assinar as actas ou súmulas da comissão, em conjunto com o secretário, e a


correspondência expedida em nome da comissão.

Artigo 62º
Competências do secretário
Compete ao secretário de comissão parlamentar, nomeadamente:
a) Registar a correspondência recebida e expedida e prestar informações sobre
assuntos que o presidente considerar relevantes;
b) Registar as votações, fazer os devidos escrutínios e anunciar os resultados
apurados;
c) Orientar a preparação da agenda de trabalhos e ordenar a sua distribuição,
nos termos do artigo 73º;
d) Assinar as actas ou súmulas da comissão, em conjunto com o presidente, e a
correspondência expedida em nome da comissão cuja assinatura o presidente lhe haja
delegado.

Secção II
Comissões parlamentares permanentes

Artigo 63º
Elenco
1 - O elenco das comissões parlamentares permanentes e as áreas e
competências específicas de cada uma delas são fixados no início de cada legislatura,
por resolução do Plenário, sob proposta do Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares.
2 – Quando se justifique, o elenco das comissões parlamentares permanentes ou a
repartição de competências entre elas pode ser alterada, no decurso da legislatura, por
resolução do Plenário, sob proposta de qualquer Deputado ou bancada parlamentar ou
do Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.
3 – Para facilitar a comunicação interna de actos e a tramitação de processos, as
comissões parlamentares permanentes podem ser ordenadas e identificadas, para além
da sua designação completa, por códigos numéricos ou alfabéticos, aprovados pelo
Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.
4 – Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, em nenhum caso podem ser
criadas mais de oito comissões parlamentares permanentes por legislatura.

Artigo 64º
Competências genéricas
Compete às comissões parlamentares permanentes, para além de outras
competências expressamente previstas no Regimento:

204
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Apreciar as iniciativas de lei, regimento, referendo, resolução e deliberação e os


tratados, convenções e acordos internacionais submetidos à sua apreciação,
produzindo os competentes relatórios e pareceres;
b) Discutir e votar na especialidade os textos referidos na alínea anterior, nos casos
em que a sua discussão e votação na especialidade não esteja reservada ao Plenário;
c) Apreciar as petições, queixas e reclamações dirigidas ao Parlamento Nacional;
d) Inteirar-se dos problemas políticos e administrativos que sejam da sua
competência e fornecer ao Plenário, quando este o julgar conveniente, os elementos
necessários à apreciação dos actos do Governo e da Administração Pública;
e) Verificar o cumprimento pelo Governo e pela Administração Pública das leis e
resoluções do Parlamento Nacional, podendo sugerir as medidas que considere
convenientes à sua observância;
f) Elaborar relatórios sobre matérias da sua competência;
g) Aprovar os seus próprios regulamentos de funcionamento.

Artigo 65º
Subcomissões e grupos de trabalho
1 - As comissões parlamentares permanentes podem criar, sob proposta de
qualquer dos seus membros e deliberação expressa tomada por maioria, as
subcomissões e os grupos de trabalho que entenderem adequados ao melhor
desempenho das suas competências próprias, observando a sua composição, na
medida do possível, os princípios estabelecidos no artigo 58º.
2 – A constituição de subcomissões carece de autorização prévia do Presidente,
ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.
3 – Compete às comissões parlamentares definir a composição e o objecto das
subcomissões e dos grupos de trabalho.
4 – As conclusões dos trabalhos das subcomissões parlamentares são apresentadas
à comissão parlamentar respectiva.

Artigo 66º
Período de exercício das funções
1 – A designação dos Deputados nas comissões parlamentares permanentes faz-se
por legislatura.
2 – Perde a qualidade de membro de comissão parlamentar permanente o
Deputado que:
a) Deixe de pertencer à bancada parlamentar pela qual foi indicado;
b) O solicite;
c) Seja substituído na comissão, em qualquer momento, pela bancada
parlamentar a que pertença;
d) Deixe de comparecer, sem motivo justificado, a quatro reuniões da comissão
por cada sessão legislativa.

205
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 67º
Articulação entre as comissões parlamentares permanentes, as delegações
parlamentares e os grupos parlamentares de amizade
As comissões parlamentares competentes em razão da matéria garantem a
articulação com as delegações parlamentares e os grupos parlamentares de amizade,
designadamente:
a) Promovendo, periodicamente, reuniões conjuntas;
b) Promovendo a participação nas suas reuniões e actividades específicas.

Secção III
Comissões parlamentares eventuais

Artigo 68º
Constituição de comissões parlamentares eventuais e duração da tarefa
1 - O Plenário pode constituir comissões parlamentares eventuais para qualquer fim
determinado, mediante resolução, que determina ainda a duração do respectivo
mandato.
2 – A iniciativa de resolução com vista à constituição de comissões parlamentares
eventuais, salvo as de inquérito, tem de ser exercida por um mínimo de cinco Deputados
ou por uma ou mais bancadas parlamentares.
3 – As comissões parlamentares eventuais extinguem-se:
a) Com a conclusão da tarefa em que hajam sido investidas;
b) Pelo decurso do prazo que lhe haja sido fixado para realizarem a tarefa;
c) Uma vez finda a legislatura.
4 – Qualquer comissão parlamentar eventual que não tenha concluído a sua
tarefa no prazo estabelecido para o efeito pode requerer e obter, por deliberação do
Plenário, a prorrogação, por período fixo, desse prazo.

Artigo 69º
Competência
1 - Compete à comissão parlamentar eventual apreciar os assuntos objecto da
sua constituição, terminando a sua tarefa e apresentando os respectivos relatórios,
conclusões ou pareceres nos prazos fixados na resolução que a tenha criado.
2 – Para o cabal desempenho da sua missão, as comissões parlamentares
eventuais podem convidar os assessores, peritos ou técnicos que julgarem adequados a
coadjuvá-las, detendo ainda, com as devidas adaptações, as competências próprias
das comissões parlamentares permanentes.

TÍTULO IV
FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS PARLAMENTARES COLEGIAIS

206
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70º
Reuniões dos órgãos parlamentares colegiais
1 - Os órgãos parlamentares colegiais reúnem sob marcação e convocação do
respectivo presidente ou quem o substitua.
2 - A marcação e a convocação a que se refere o número anterior são
dispensadas quando se trate de reuniões ordinárias dos órgãos parlamentares colegiais,
devendo, no entanto, as respectivas ordens de trabalhos ser fixadas nos termos dos
artigos seguintes e as agendas ser dadas a conhecer, pelos meios normais, com a
antecedência mínima de vinte e quatro horas em relação à data e hora previstas para a
realização da reunião.
3 – Ressalvadas as excepções previstas no Regimento, as reuniões dos órgãos
parlamentares colegiais são públicas.

Artigo 71º
Ordem de trabalhos de reunião
1 - A ordem de trabalhos consiste na lista dos assuntos a tratar em reunião do
órgão parlamentar colegial a que diga respeito.
2 – Salvo consenso em sentido contrário, só podem ser objecto de debate e
deliberação os assuntos constantes da ordem de trabalhos, que se torna inalterável assim
que iniciada a reunião a que diga respeito.
3 – A ordem de trabalhos de reunião ordinária pode ser fixada oralmente numa
das reuniões anteriores àquela a que diga respeito ou, no caso de assim não acontecer,
com a antecedência mínima de quarenta e oito horas em relação à reunião a que se
refira.
4 – Não carecem de fixação de ordem de trabalhos as reuniões da Mesa e da
Conferência dos Líderes Parlamentares.
5 – A ordem de trabalhos de reunião extraordinária é fixada no acto de marcação
e convocação, podendo ser dada a conhecer oralmente quando aquele ocorra, de
viva voz, em reunião ordinária anterior à que diga respeito.

Artigo 72º
Reuniões extraordinárias
1 – Salvo marcação e convocação oral em reunião ordinária anterior àquela a
que diga respeito, qualquer reunião extraordinária de órgão parlamentar colegial é
marcada e convocada pelo respectivo presidente com a antecedência mínima de vinte
e quatro horas em relação à data e horas previstas para a sua realização.

207
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – A ordem de trabalhos de reunião extraordinária é fixada no acto de marcação


e convocação, sendo a agenda imediatamente elaborada e distribuída, depois de
rubricada pelo respectivo presidente, pelos serviços de apoio competentes, valendo
como convocatória a sua recepção efectiva pelos seus destinatários.
3 – Sem prejuízo do disposto no n.o 1, os Deputados que tenham faltado à reunião
onde qualquer reunião extraordinária haja sido marcada e convocada oralmente ou
não tenham estado presentes no momento da respectiva convocatória oral são
expressamente convocados para a sua realização por qualquer meio de comunicação
expedito, nomeadamente telefónico, que assegure o seu efectivo conhecimento pelo
destinatário.

Artigo 73º
Agenda de reunião
1 – A agenda é o documento escrito onde se contém a ordem de trabalhos de
determinada reunião de órgão parlamentar colegial.
2 – A agenda é preparada pelos serviços de apoio competentes sob a orientação
do presidente do respectivo órgão parlamentar colegial, tornando-se válida e vinculativa
assim que rubricada por ele.
3 – A agenda, depois de rubricada nos termos do número anterior, é
imediatamente distribuída, pelos serviços de apoio competentes, a todos os membros do
órgão parlamentar respectivo e posta à disposição dos órgãos de comunicação social e
do público em geral nos locais próprios a isso destinados.

Artigo 74º
Acta ou súmula de reunião
1 - De cada reunião de órgão parlamentar colegial, com excepção da Mesa, é
sempre lavrada acta ou súmula, datada e assinada pelo seu presidente e pelo
respectivo secretário, que contém um resumo do que nela tiver ocorrido, indicando, pelo
menos, os seguintes elementos:
a) Data e local da reunião;
b) Membros presentes;
c) Indicação da ordem de trabalhos;
d) Horas de início e encerramento da reunião;
e) Assuntos apreciados;
f) Deliberações tomadas e resultados das votações realizadas;
g) Declarações de voto e outras declarações ou documentos que devam ser
anexados à acta ou súmula.
2 – O registo sonoro das reuniões do Plenário é, todavia, integralmente transcrito
em papel, através dos meios mecânicos e electrónicos que estiverem à disposição dos
serviços de apoio.

208
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – As actas ou súmulas de órgãos parlamentares colegiais podem ser consultadas,


a todo o tempo, por qualquer Deputado.

CAPÍTULO II
REUNIÕES

Secção I
Trabalhos do Plenário

Artigo 75º
Dias das reuniões plenárias
1 - O Plenário reúne ordinariamente às segundas e terças-feiras.
2 - O Plenário reúne ainda extraordinariamente, fora dos dias referidos no número
anterior, sempre que marcado e convocado pelo Presidente ou quem o substitua,
ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares.
3 – A cada dia marcado para reunião do Plenário corresponde uma reunião
plenária, podendo, em casos excepcionais, ocorrer mais do que uma reunião no mesmo
dia.

Artigo 76º
Horário das reuniões plenárias
1 Salvo estipulação excepcional de horário diferente, as reuniões plenárias
decorrem dentro do horário a que se refere o n.o 1 do artigo 27º, mas terminam antes da
hora normal de encerramento nele prevista assim que se mostrar esgotada a respectiva
ordem de trabalhos.
2 - O Presidente determina, segundo o seu prudente critério, os intervalos que se
revelem necessários, nomeadamente para descanso, restabelecimento da ordem na
sala e garantia do bom andamento dos trabalhos, com a duração que entender
adequada.
3 – O Plenário pode deliberar, sob proposta do Presidente ou a requerimento de
qualquer Deputado, o prolongamento, com hora fixa, da hora normal de encerramento,
observando-se, com as devidas adaptações, o regime previsto no n.o 2 do artigo 27º.

Artigo 77º
Marcação e convocação das reuniões plenárias
A marcação e a convocação das reuniões plenárias seguem o regime previsto
nos artigos 70º e 72º.

Artigo 78º
Fixação da ordem de trabalhos das reuniões plenárias ordinárias

209
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – A ordem de trabalhos de reunião plenária é fixada pelo Presidente de acordo


com as prioridades definidas no artigo seguinte, ouvida, a título indicativo, a Conferência
dos Líderes Parlamentares.
2 – A falta de audição da Conferência dos Líderes Parlamentares, por
impossibilidade de a reunir, não impede o Presidente de livremente fixar a ordem de
trabalhos de reunião plenária, em concertação com os restantes membros da Mesa.
3 – A parte inicial da ordem de trabalhos, organizada de modo a não ultrapassar
duração que afecte o tratamento das restantes matérias, é reservada a anúncios e
informações que o Presidente considere pertinentes ou cuja comunicação seja
obrigatória.
4 - Os restantes assuntos a tratar são incluídos na ordem de trabalhos segundo a
sequência de prioridades estabelecida no artigo seguinte.
5 – Acerca dos assuntos previstos no n.o 3, a cada Deputado que pretenda
pronunciar-se só é permitido o uso da palavra pelo tempo máximo de um minuto,
circunscrita ao esclarecimento de dúvidas, metodologias ou procedimentos relativos à
matéria em questão.
6 – Sem prejuízo da regra da inalterabilidade da ordem de trabalhos prevista na
segunda parte do n.o 2 do artigo 71º, a ordem de trabalhos de reunião plenária pode ser
modificada por consenso ou sempre que, nos casos expressamente previstos no
Regimento, seja possível aditar-lhe outros assuntos não previamente previstos.
7 – No caso de a ordem de trabalhos ou a sequência das matérias a tratar sofrer
alteração, os serviços de apoio competentes elaboram e distribuem imediatamente,
assim que rubricada pelo Presidente, nova agenda corrigida.
8 – A agenda em que consiste a ordem de trabalhos enumera os assuntos nela
incluídos por sequência numérica e ordem aritmética, podendo cada um dos pontos ser
divididos em sub-números ou alíneas.

Artigo 79.º
Prioridades das matérias a atender na fixação da ordem de trabalhos
1 - Na fixação da ordem de trabalhos de reuniões plenárias, o Presidente dá
prioridade, pela ordem de precedência indicada, às seguintes matérias:
a) Autorização ao Presidente da República para declarar a guerra ou fazer a paz,
nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis;
b) Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência e apreciação da sua aplicação, nos termos constitucionais, legais e
regimentais aplicáveis;
c) Apreciação do Programa do Governo;
d) Discussão e votação de votos de confiança ou moções de censura ao
Governo;
e) Discussão e votação das propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do
Estado;

210
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

f) Discussão e votação de iniciativas originárias de lei inseridas na competência


legislativa exclusiva do Parlamento Nacional, incluindo as que se destinem à concessão
de amnistias e perdões genéricos;
g) Discussão e votação de propostas de lei de autorização legislativa e iniciativas
originárias de lei que não se insiram na competência legislativa exclusiva do Parlamento
Nacional;
h) Apreciação e votação de tratados, convenções e acordos internacionais
apresentados pelo Governo, para aprovação, ratificação ou denúncia, consoante os
casos, ao Parlamento Nacional;
i) Debates com o Governo;
j) Apreciação de diplomas legislativos do Governo;
k) Deliberação sobre o relatório de actividades do Governo;
l) Deliberação sobre relatório ou relatórios de execução do Plano e do Orçamento
Geral do Estado;
m) Discussão e votação de projectos de resolução;
n) Discussão e votação de projectos de deliberação.
2 – São ainda incluídos na ordem de trabalhos, atendendo ao respectivo grau de
urgência ou necessidade de tratamento e às disposições regimentais aplicáveis, pela
ordem que for considerada adequada, antes ou depois das matérias constantes do
número anterior, os seguintes assuntos:
a) Debates de urgência, nos termos dos disposto no artigo 96º;
b) Declarações políticas, nas condições estabelecidas no artigo 95º;
b) Deliberações sobre o mandato parlamentar;
c) Recursos das decisões da Mesa ou do Presidente ou de decisões sobre
reclamações apresentadas àqueles órgãos;
d) Assentimento à ausência do Presidente da República do território nacional;
e) Apreciação de relatórios ou informações a apresentar obrigatoriamente, nos
termos constitucionais ou legais, por órgãos do Estado;
f) Designação de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional;
g) Eleições suplementares de membros da Mesa;
h) Ratificações de nomeações de titulares de cargos exteriores ao Parlamento
Nacional;
i) Distribuição e apreciação de relatórios de deslocações de delegações
parlamentares ao estrangeiro e relatórios de visitas efectuadas por comissões
parlamentares dentro do território nacional;
j) Distribuição e apreciação de relatórios ou outros documentos apresentados ao
Parlamento Nacional, sem carácter de obrigatoriedade, por entidades exteriores que se
destinem ao seu conhecimento;
k) Informações e comunicações provindas das comissões parlamentares;
l) Constituição de comissões parlamentares permanentes e eventuais;
m) Constituição de delegações parlamentares;

211
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

n) Inquéritos parlamentares, nos termos dos artigos 246º e 247º;


o) Alterações ao Regimento, através de projectos de regimento;
p) Quaisquer outras matérias inseridas nas competências de fiscalização,
orientação, controlo ou decisão política, meramente deliberativas ou de organização e
funcionamento do Parlamento Nacional.
3 – Quando, relativamente às matérias previstas no número anterior, não existam
disposições próprias do Regimento regulando o uso da palavra pelos Deputados, estes
dispõem da faculdade de intervir nos termos do disposto no n.o 5 do artigo anterior.

Artigo 80.º
Prioridade a solicitação das bancadas parlamentares e do Governo
1 – As bancadas parlamentares e o Governo podem solicitar prioridade para o
tratamento de assuntos de interesse nacional de resolução urgente ou inadiável.
2 – A concessão da prioridade solicitada é decidida pelo Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares, podendo os requerentes recorrer da decisão
para o Plenário.
3 – A prioridade solicitada não pode prejudicar a sequência de matérias
estabelecida no n.o 1 do artigo anterior.

Artigo 81º
Direitos das bancadas parlamentares à fixação da ordem do dia
1 – Sem prejuízo da observância da escala de prioridades fixada no n.o 1 do artigo
79º, cada bancada parlamentar tem direito a fixar a ordem de trabalhos de:
a) Duas reuniões plenárias por sessão legislativa, quando o número de Deputados
que a componha seja igual ou superior a vinte;
b) Uma reunião plenária por sessão legislativa, quando o número de Deputados
que a componha seja igual ou superior a dez, mas inferior a vinte;
c) Duas reuniões plenárias por legislatura, quando o número de Deputados que a
componha seja inferior a dez.
2 – Os Deputados únicos representantes de partido político ou coligação
partidária têm direito a fixar a ordem de trabalhos de uma reunião plenária por
legislatura, salvaguardada sempre a escala de prioridades fixada no n.o 1 do artigo 79º.
3 – O exercício do direito previsto no presente artigo é anunciado ao Presidente,
em reunião da Conferência dos Líderes Parlamentares, até ao dia 15 de cada mês, para
que possa produzir efeitos no mês seguinte.

Artigo 82º
Ordem de trabalhos das reuniões plenárias extraordinárias
Nas reuniões plenárias extraordinárias só há lugar ao tratamento dos assuntos que
hajam motivado a sua marcação e convocação, não sendo possível alterar a respectiva
agenda de trabalhos, mesmo nos casos previstos no n.o 6 do artigo 78º.

212
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 83º
Quórum de funcionamento
1 - O Plenário funciona com a presença de pelo menos quinze Deputados,
contando para este efeito os membros da Mesa que se encontrem a dirigir os trabalhos.
2 - O quórum de funcionamento só tem de se verificar no início da reunião
plenária, que começa, à hora marcada, assim que formado aquele quórum.

Artigo 84º
Quórum de deliberação
A validade das deliberações depende da presença de mais de metade dos
Deputados em efectividade de funções.

Artigo 85º
Deliberações
1 - As deliberações são tomadas, por votação, à pluralidade de votos dos
Deputados presentes, salvo nos casos, previstos na Constituição, na lei ou no Regimento,
em que se exija maioria absoluta ou qualificada.
2 - As abstenções não contam para o apuramento da maioria dos votos.
3 - É considerada “maioria simples ou relativa”, equivalente à primeira parte do
n.o1, a que reúne mais votos em certo sentido do que em qualquer outro.
4 – Entende-se por “maioria absoluta” a equivalente a mais de metade dos votos
expressos, arredondado o número não inteiro que corresponder à metade para o
número inteiro imediatamente seguinte, salvo disposição especial que disponha de
forma diferente.
5 – Considera-se “maioria qualificada” a que equivale a um número de votos
expressos por uma certa fracção ou percentagem dos votantes superior à maioria
absoluta, arredondado o número não inteiro que corresponder a tal fracção ou
percentagem para o número inteiro imediatamente seguinte.
6 – Significa “unanimidade” a totalidade dos votos favoráveis dos votantes.
7 – Para efeitos do Regimento, entende-se ainda por decisão ou deliberação
tomada por “consenso” aquela que o for sem qualquer oposição ou discordância.

Artigo 86º
Direito de voto e dever de votar
1 – Cada Deputado tem um voto.
2 – Nenhum Deputado pode deixar de votar, sem prejuízo do direito de
abstenção.

Artigo 87º
Forma das votações

213
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A votação reveste uma das seguintes formas:


a) Votação normal;
b) Votação nominal;
c) Votação por escrutínio secreto.

Artigo 88º
Votação normal
1 - A votação normal é a forma usual de votar, que consiste em se perguntar
quem vota a favor, quem vota contra e quem se abstém.
2 – O voto é exercido pelos Deputados através do sistema de braço no ar,
segundo o qual cada Deputado indica o sentido do seu voto levantando um dos braços
à pergunta da Mesa, prevista no número anterior, correspondente à sua intenção de
voto.
3 – A indicação da intenção de voto, pelo sistema de braço no ar previsto no
número anterior, pode ser feita simultaneamente para os três sentidos de voto previstos
no n.o 1 através da exibição de cartões de três cores diferentes, cada umas das quais
correspondente a determinado sentido de voto, empunhando cada Deputado o cartão
com a cor equivalente ao sentido de voto escolhido.
4 – A Mesa deve assegurar a contagem dos votos pelos três tipos de intenções de
que se podem revestir e discriminar o número de Deputados de cada bancada
parlamentar, Deputados independentes e Deputados únicos representantes de partido
político ou coligação partidária que tenham votado em cada um dos sentidos,
anunciando imediatamente os resultados apurados.

Artigo 89º
Votação nominal
1 – A requerimento potestativo de vinte Deputados, a votação é nominal quando
incida sobre as seguintes matérias;
a) Autorização para declarar a guerra ou fazer a paz;
b) Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou estado de
emergência;
c) Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais do Presidente da
República.
2 – Pode ainda ter lugar a votação nominal sobre quaisquer outras matérias se o
Plenário ou a Conferência dos Líderes Parlamentares assim o deliberarem por votação
normal.
3 – A votação nominal é feita por chamada, um a um, dos Deputados, segundo a
ordem alfabética dos seus nomes, indicando o Deputado chamado, de viva voz, o
sentido do seu voto.

Artigo 90º

214
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Votação por escrutínio secreto


A votação por escrutínio secreto só tem lugar:
a) Em eleições;
b) Para tomada de deliberações que, segundo o Regimento, o Estatuto dos
Deputados ou a lei, devam observar essa forma;
c) Quando o Plenário assim o deliberar, a requerimento de vinte Deputados.

Artigo 91º
Empate na votação
1 – Quando a votação produza empate, a matéria sobre a qual tiver recaído
entra de novo em discussão, procedendo-se, finda esta, a nova votação.
2 – No caso de a votação que produziu empate não tiver sido precedida de
discussão, passa-se de imediato a nova votação.
3 – O empate na segunda votação equivale a rejeição.

Artigo 92º
Realização e continuidade das reuniões plenárias
1 - Durante o funcionamento do Plenário, não podem ocorrer reuniões de
comissões parlamentares, salvo autorização excepcional do Presidente.
2 – Sempre que ocorram reuniões de comissões parlamentares em simultâneo com
reunião plenária, o Presidente deve anunciar o facto no Plenário e mandar interromper
os trabalhos das comissões parlamentares que se encontrem a reunir para que os
Deputados possam exercer, no Plenário, o seu direito de voto.
3 – As reuniões plenárias são contínuas, sem prejuízo dos intervalos previstos no n.o 1
do artigo 27º e no n.o 2 do artigo 76º e das interrupções determinadas pela Mesa a
requerimento de qualquer bancada parlamentar.

Artigo 93º
Lugar na sala das reuniões plenárias
1 - Os Deputados tomam lugar na sala onde devam decorrer as reuniões plenárias
pela forma acordada, entre o Presidente e os representantes das bancadas
parlamentares, no início da legislatura.
2 - Na falta de acordo sobre a definição dos lugares reservados aos Deputados, o
Plenário delibera a distribuição dos lugares.
3 – Na sala destinada às reuniões plenárias há lugares especialmente reservados:
a) Ao Presidente;
b) Aos membros da Mesa;
c) Aos funcionários parlamentares e assessores que devam apoiar os órgãos
parlamentares mencionados nas alíneas anteriores;
d) Aos membros do Governo e outros convidados especiais;

215
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) Aos oradores que sejam chamados a intervir junto ao local onde se sentem o
Presidente e os membros da Mesa;
f) Aos representantes dos órgãos da comunicação social autorizados a
acompanhar, para efeitos noticiosos, os trabalhos;
g) Ao público em geral, nos limites da capacidade física da sala para acolher
quem pretenda assistir a reunião plenária.
4 – Os representantes dos órgãos da comunicação social e o público em geral
devem assistir em silêncio ao desenrolar dos trabalhos, sem fazerem qualquer gesto ou
ruído através do qual se manifeste concordância ou discordância com intervenções
produzidas durante os debates.
5 – O Presidente pode ordenar a retirada da sala das pessoas a que se refere o
número anterior quando adoptem comportamentos que perturbem o desenvolvimento
normal dos trabalhos ou, depois de devidamente advertidas a pôr cobro aos mesmos,
persistam nas condutas censuradas.

Artigo 94º
Proibição da presença de pessoas estranhas ao Parlamento Nacional
Com ressalva dos espaços reservados, para assistência às reuniões plenárias, às
pessoas previstas nas alíneas d), f) e g) do n.o 3 do artigo anterior, não é permitida na sala
onde estejam a decorrer reuniões plenárias a presença de pessoas estranhas ao
Parlamento Nacional ou aos seus serviços de apoio ou que não estejam ao seu serviço.

Artigo 95º
Declarações políticas
1 – Cada bancada parlamentar tem direito a produzir uma declaração política
por semana, com a duração máxima de dez minutos.
2 – Cada Deputado independente ou Deputado único representante de partido
político ou coligação partidária tem direito a produzir quatro declarações políticas por
sessão legislativa.
3 – A vontade de exercer o direito de produzir declarações políticas, nos termos
dos números anteriores, deve ser comunicada à Mesa até ao início da respectiva reunião
plenária.
4 – Cada grupo parlamentar dispõe de dois minutos para fazer comentários ou
solicitar esclarecimentos ao orador sobre a respectiva declaração política, dispondo o
autor desta do mesmo tempo, para reagir ou dar explicações, por cada uma das
intervenções produzidas.
5 – A cada Deputado independente ou Deputado único representante de partido
político ou coligação partidária é reconhecido o direito previsto no número anterior, mas
com o tempo para uso da palavra reduzido a um minuto, aplicando-se a mesma
duração do uso da palavra, para reagir ou dar explicações, ao autor da declaração
política..

216
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 96º
Debates de urgência
1 – Qualquer bancada parlamentar ou o Governo pode requerer
fundamentadamente a realização de debates de urgência, em Plenário, centrados num
tema específico que careça de apreciação parlamentar urgente.
2 – O requerimento para a realização de debate de urgência é apreciado pela
Conferência dos Líderes Parlamentares, que, se deliberar aceitar a realização do debate,
o marca para uma das duas reuniões plenárias seguintes, estabelecendo a distribuição
dos tempos atribuídos para uso da palavra.
3 – Na falta de organização do debate e distribuição dos tempos para uso da
palavra pela Conferência dos Líderes Parlamentares, aplica-se, com as devidas
adaptações, o disposto nos n.os 3 e 4 do artigo 236º, mas com os tempos unitários de
intervenção previstos na alínea a) do n.o 4 deste preceito reduzidos a um minuto.

Artigo 97º
Votos
1 – A Mesa ou qualquer Deputado ou bancada parlamentar pode propor a
aprovação de votos escritos, de acordo com as seguintes modalidades:
a) Voto de congratulação ou regozijo;
b) Voto de saudação;
c) Voto de louvor;
d) Voto de protesto;
e) Voto de condenação;
f) Voto de solidariedade;
g) Voto de pesar.
2 – Ao conjunto de votos escritos previstos no número anterior é atribuída pelos
serviços de apoio competentes, após o devido registo, a mesma numeração sequencial,
com referência à legislatura e, se assim for decidido pela Mesa, à sessão legislativa a que
se refiram.
3 – Os Deputados ou bancadas parlamentares que queiram propor a aprovação
de um voto escrito devem comunicar essa intenção à Mesa até ao início da reunião
plenária em que o pretendam fazer, apresentando imediatamente o respectivo texto.
4 – A discussão de cada voto apresentado incide sobre o texto na sua
globalidade, dispondo cada bancada parlamentar de dois minutos e cada Deputado
independente ou Deputado único representante de partido político ou coligação
partidária de um minuto para intervir no debate.
5 – No caso de haver mais do que um voto em discussão, os tempos previstos no
número anterior são alargados a, respectivamente, quatro e dois minutos.
6 – A votação de cada voto tem lugar assim que terminada a respectiva
discussão.

217
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

7 - Só podem ser introduzidas no texto de um voto aprovado as alterações que


hajam sido aceites por consenso.

Artigo 98º
Uso da palavra pelos Deputados
1 – Os Deputados podem expressar-se em qualquer das línguas oficiais, salvo
quando, excepcionalmente, se justifique o uso de uma das línguas de trabalho ou outra
língua estrangeira.
2 - A palavra é concedida aos Deputados para:
a) Apresentar projectos de revisão constitucional, de lei, de regimento, de
referendo, de resolução e de deliberação;
b) Fazer declarações políticas, nos termos do artigo 95º;
c) Participar nos debates;
d) Invocar ponto de ordem, nos termos do artigo 106º;
e) Fazer requerimentos, escritos ou orais;
f) Fazer protestos e contraprotestos, nos termos do artigo 108º;
g) Apresentar reclamações e interpor recursos, nos casos previstos no Regimento;
h) Exercer o direito de defesa da honra ou consideração, nos termos do artigo
110º;
i) Produzir declarações de voto, no termos do artigo 111º;
j) Usar da palavra nos restantes casos previstos no Regimento.

Artigo 99º
Uso da palavra pelos membros da Mesa
Se o Presidente e os restantes membros da Mesa quiserem usar da palavra em
reunião plenária na qual se encontrem em funções, não podem reassumi-las até ao
termo do debate ou da votação respectiva, se a houver, durante o qual o facto tenha
ocorrido.

Artigo 100º
Uso da palavra pelos membros do Governo
A palavra é concedida aos membros do Governo para:
a) Apresentar propostas de lei e de resolução, propostas de alteração e votos de
confiança, nos termos e limites do Regimento;
b) Participar nos debates, nos termos e limites do Regimento;
c) Responder a perguntas dos Deputados sobre quaisquer actos do Governo ou
da Administração Pública;
d) Fazer ponto de ordem, nos termos do artigo 106º;
e) Fazer protestos e contraprotestos, no termos do artigo 108º;
f) Exercer o direito de defesa da honra ou consideração e dar explicações, nos
termos previstos no artigo 110º;

218
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

g) Usar da palavra nos restantes casos previstos no Regimento.

Artigo 101º
Ordem do uso da palavra
1 - A palavra é concedida pela ordem de inscrições, que a Mesa promove de
modo a que não intervenham seguidamente, havendo outros inscritos, Deputados da
mesma bancada parlamentar ou membros do Governo.
2 – É autorizada, a todo o tempo, a troca de posição para uso da palavra entre
quaisquer oradores inscritos.

Artigo 102º
Finalidade e duração do uso da palavra
1 – Qualquer Deputado que solicitar o uso da palavra deve indicar ou declarar
para que fim a pretende.
2 – Quando o orador se afaste da finalidade para que lhe foi concedida a
palavra, é advertido pelo Presidente para se cingir a essa finalidade, sendo-lhe retirada a
palavra se persistir na sua atitude.
3 – O Presidente pode permitir que o orador continue no uso da palavra, pelo
tempo que entender razoável, quando, embora esgotado o tempo regimental
disponível, a matéria em abordagem revele extrema relevância para o debate.

Artigo 103º
Proibição do uso da palavra durante as votações
1 - Anunciado o início de votação, nenhum Deputado pode usar da palavra até
ao anúncio do respectivo resultado, excepto para apresentar requerimentos respeitantes
ao processo de votação.
2 – O processamento dos requerimentos apresentados ao abrigo do disposto no
número anterior segue o regime do artigo 107º.

Artigo 104º
Modo de usar da palavra
1 – Os Deputados só podem usar da palavra quando concedida pelo Presidente.
2 – No uso da palavra, os Deputados devem ser educados e respeitosos.
3 – O orador não pode ser interrompido sem o seu consentimento, excepto nos
casos previstos no número seguinte e no n.o 2 do artigo 102º, não se considerando,
porém, interrupções as vozes de concordância, discordância ou análogas.
4 – O Presidente pode advertir o orador ou mesmo retirar-lhe a palavra, se o
advertido persistir no comportamento censurado, quando o orador:
a) Se desviar do assunto em debate;
b) Exceder o tempo que lhe for atribuído;
c) Usar da palavra sem autorização;

219
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) Utilizar linguagem indecorosa, injuriosa ou ofensiva;


e) Ofender a honra ou consideração de Deputados ou outros titulares de órgãos
de soberania;
f) Proferir insultos ou fizer ameaças à integridade física ou moral de qualquer
Deputado.

Artigo 105º
Organização dos debates
1 – Quando o Regimento o não fixar expressamente, cabe à Conferência dos
Líderes Parlamentares deliberar sobre o tempo global de cada debate, bem como sobre
a distribuição dos tempos atribuídos.
2 – O tempo gasto com pontos de ordem, requerimentos à Mesa, protestos e
contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou consideração não é
descontado nos tempos previstos no número anterior.
3 – Sempre que o Regimento se referir a tempos para uso da palavra sem menção
específica da figura regimental a que respeitem, entende-se que se reportam a
intervenções no âmbito de debates propriamente ditos.

Artigo 106º
Ponto de ordem
1 – O ponto de ordem é pedido por qualquer Deputado ou membro do Governo
para invocar o Regimento ou interpelar a Mesa sobre decisões suas a respeito da
orientação dos trabalhos.
2 – Quando invoque o Regimento, o Deputado deve indicar a norma que
considere infringida por determinada decisão ou actuação, apresentando a
fundamentação estritamente indispensável para o efeito.
3 – O uso da palavra para ponto de ordem não pode exceder um minuto.

Artigo 107º
Requerimentos à Mesa
1 – Qualquer Deputado pode apresentar requerimentos à Mesa.
2 – São considerados requerimentos à Mesa, formulados por escrito ou oralmente,
os pedidos que lhe sejam dirigidos sobre o processo de apresentação, discussão e
votação de qualquer assunto ou o funcionamento da reunião plenária.
3 – Os requerimentos escritos são imediatamente anunciados pela Mesa e
distribuídos por todos os Deputados.
4 – Os requerimentos escritos não são lidos, salvo se a sua leitura for pedida por
pelo menos cinco Deputados.
5 – A apresentação de requerimentos orais não pode exceder dois minutos.
6 – Os requisitos a que os requerimentos devem obedecer são, com as devidas
adaptações, os previstos no artigo 169º.

220
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

7 - Qualquer requerimento, se admitido pela Mesa, é imediatamente votado sem


discussão.
8 – Não são admitidas declarações de voto orais.

Artigo 108º
Protestos e contraprotestos
1 – Por cada bancada parlamentar, Deputado independente, Deputado único
representante de partido político ou coligação partidária ou Governo é permitida a
formulação de um protesto sobre uma intervenção produzida imediatamente antes.
2 – O tempo disponível para a formulação do protesto é de dois minutos.
3 – Não são admitidos protestos a declarações de voto.
4 – O Deputado visado pelo protesto pode apresentar contraprotesto,
imediatamente a seguir, com duração máxima de dois minutos.

Artigo 109º
Reclamações e recursos
1 – Qualquer Deputado pode reclamar das decisões do Presidente ou da Mesa,
bem como recorrer das mesmas para o Plenário.
2 – As reclamações e os recursos de decisões do Presidente ou da Mesa tomadas
no decurso de reunião plenária são apresentados imediatamente.
3 – O reclamante ou um dos reclamantes, no caso de haver mais do que um,
pode usar da palavra, para fundamentar a reclamação, por tempo não superior a dois
minutos.
4 – No caso de recurso, o tempo máximo de uso da palavra, nos termos do
número anterior, é de três minutos.
5 – Em qualquer dos casos previstos nos números anteriores, pode ainda
pronunciar-se, por um minuto, um Deputado de cada bancada parlamentar a que os
reclamantes ou recorrentes não pertençam e cada um dos Deputados únicos
representantes de partido político ou coligação partidária que não sejam reclamantes
ou recorrentes.
6 – As reclamações são decididas pelo órgão parlamentar reclamado e os
recursos votados pelo Plenário.
7 – Não há lugar, em qualquer caso, a declarações de voto.
8 – Quaisquer reclamações e recursos de decisões do Presidente ou da Mesa
tomadas fora do caso previsto no n.o 2 são apresentados no prazo máximo de sete dias,
se outro não estiver expressamente contemplado no Regimento.

Artigo 110º
Defesa da honra ou consideração

221
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – Sempre que um Deputado ou membro do Governo considere terem sido


proferidas expressões ofensivas da sua honra ou consideração pode, para se defender,
usar da palavra por tempo não superior a dois minutos.
2 – O autor das expressões consideradas ofensivas pode dar explicações por
tempo máximo de dois minutos.
3 – O Presidente toma nota do pedido de uso da palavra para os efeitos previstos
no presente artigo, concedendo a palavra a seguir ao debate que esteja em curso, sem
prejuízo de a poder conceder imediatamente quando considere que as situações
envolvidas ou a gravidade das imputações ofensivas o justifica.

Artigo 111º
Declarações de voto
1 - Cada Deputado tem direito a produzir, no final de cada votação, uma
declaração de voto, escrita ou oral, esclarecendo o sentido da sua votação.
2 – As declarações de voto escritas devem ser entregues à Mesa.
3 – A duração máxima de cada declaração de voto oral é de um minuto.
4 – Exceptuam-se do disposto no número anterior as declarações de voto relativas
a votações finais globais de projectos ou propostas de lei, a moções de rejeição do
Programa do Governo, a votos de confiança ou a moções de censura, cuja duração
máxima é de dois minutos.

SECÇÃO II
Trabalhos das comissões e subcomissões parlamentares

Artigo 112º
Regra geral do funcionamento das comissões e subcomissões parlamentares
1 – As comissões e sub-comissões parlamentares reúnem ordinariamente às quartas
e quintas-feiras.
2 - Sem prejuízo das especialidades estabelecidas na presente secção e nos
regulamentos próprios das comissões e sub-comissões parlamentares, aplicam-se ao seu
funcionamento, com as devidas adaptações, as disposições contidas no Capítulo I e na
Secção I do Capítulo II do presente título do Regimento.

Artigo 113º
Quóruns de funcionamento e de deliberação
1 – As comissões e subcomissões parlamentares reúnem com a presença de um
terço, arredondado por excesso, dos seus membros, nos quais se incluem os membros
das respectivas mesas.
2 – As deliberações das comissões e subcomissões parlamentares são válidas
quando tomadas com a presença de mais de metade dos seus membros.

222
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 114º
Colaboração ou presença de outros Deputados em reuniões
1 - Nas reuniões das comissões ou subcomissões parlamentares podem participar,
sem direito a voto, os Deputados autores de projecto de lei, de resolução ou deliberação
que nelas se encontre em apreciação.
2 – Qualquer outro Deputado pode assistir a reuniões de comissões ou
subcomissões parlamentares a que não pertença, bem como, se a respectiva comissão
ou subcomissão o autorizar, a participar nos respectivos trabalhos, sem direito a voto.
3 – Qualquer Deputado é livre de enviar observações ou notas escritas às
comissões ou subcomissões parlamentares sobre matéria da sua competência.

Artigo 115º
Participação de outras entidades
1 – Os membros do Governo podem participar nos trabalhos das comissões ou
subcomissões parlamentares a solicitação destas ou por sua iniciativa, podendo, porém,
ser-lhes recusada, neste caso, a participação quando a comissão ou subcomissão em
causa o entender adequado ao seu bom funcionamento.
2 – As comissões ou subcomissões parlamentares podem solicitar a participação
nos seus trabalhos, sem direito a voto, de quaisquer cidadãos, designadamente:
a) Pessoal de direcção e chefia e funcionários da Administração directa do
Estado;
b) Pessoal de direcção e chefia, funcionários e trabalhadores contratados da
Administração indirecta e do sector empresarial do Estado;
c) Consultores, peritos ou especialistas em matérias sob apreciação.
3 – A participação das entidades referidas na alínea a) depende da autorização
dos respectivos ministros.
4 – As diligências previstas nos números anteriores são efectuadas através do
presidente da respectiva comissão ou subcomissão, sendo delas dado conhecimento ao
Presidente do Parlamento Nacional.

Artigo 116º
Poderes das comissões e subcomissões parlamentares
1 - As comissões e subcomissões parlamentares podem requerer ou promover
quaisquer diligências necessárias ao bom exercício das suas competências,
nomeadamente:
a) Proceder a estudos;
b) Requerer informações ou pareceres;
c) Solicitar depoimentos a quaisquer cidadãos;
d) Realizar audições públicas, nos termos do artigo seguinte;
e) Convocar quaisquer titulares de órgãos do Estado e da Administração Pública
para prestarem informações sobre assuntos inerentes às suas funções;

223
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

e) Requisitar e contratar especialistas para as coadjuvar nos seus trabalhos, sob


autorização do Presidente e conhecimento do Plenário;
f) Efectuar missões de informação ou de estudo;
g) Conceder audiências públicas a pessoas ou entidades que se lhes pretendam
dirigir, sobre matérias da sua esfera de competências, mediante deliberação tomada
por maioria.
2 – Às missões de informação ou de estudo previstas na alínea f) do número
anterior que impliquem deslocações, dentro ou fora do território nacional, aplicam-se,
com as necessárias adaptações, a alínea e) do artigo 35º e o n.o 10 do artigo 266º.

Artigo 117º
Audições públicas
1 - As comissões e subcomissões parlamentares podem realizar audições públicas,
individuais ou colectivas, com quaisquer pessoas singulares ou entidades públicas para
análise de matéria, legislativa ou não legislativa, em apreciação no seu seio e relativa às
respectivas áreas de competência.
2 – A decisão de realização de audições públicas é da exclusiva competência da
comissão ou subcomissão respectiva, que o deliberará por maioria.
3 – Excepcionalmente, a audição pública que diga respeito a assunto do interesse
geral do Parlamento Nacional pode ter lugar em reunião plenária, sob proposta de
qualquer comissão parlamentar ou decisão tomada na Conferência dos Líderes
Parlamentares.

Artigo 118º
Relatórios e pareceres das comissões e subcomissões parlamentares
Aplicam-se à elaboração de relatórios e pareceres pelas comissões e
subcomissões parlamentares, com as devidas adaptações, as regras contempladas nos
artigos 149º e 150º.

Artigo 119º
Colaboração entre comissões e subcomissões parlamentares
Várias comissões parlamentares podem reunir em conjunto para o estudo ou
tratamento de assuntos de interesse comum, não podendo, no entanto, tomar
deliberações.

Artigo 120º
Plano e relatório de actividades das comissões parlamentares
No final de cada sessão legislativa, as comissões parlamentares elaboram relatório
de actividades relativo à sessão legislativa finda e plano de actividades para a sessão
legislativa seguinte, que apresentam ao Presidente.

224
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 121º
Instalações e apoio técnico e administrativo
1 - As comissões e subcomissões parlamentares dispõem de instalações próprias na
sede do Parlamento Nacional.
2 – Os trabalhos das comissões e subcomissões parlamentares são apoiados por
funcionários administrativos e assessorias adequadas, nos termos estabelecidos na lei que
regula a organização e funcionamento da administração parlamentar.

Artigo 122º
Regulamentos das comissões parlamentares
1 - Cada comissão parlamentar elabora o seu próprio regulamento, que se aplica
também, com as devidas adaptações, às subcomissões constituídas no seu seio.
2 – Na falta ou insuficiência do regulamento da comissão parlamentar, aplicam-se,
por analogia, as disposições do Regimento, nomeadamente aquelas para que remete o
artigo 112º.

TÍTULO V
PUBLICIDADE DOS ACTOS E DA ACTIVIDADE DO PARLAMENTO NACIONAL

Artigo 123º
Jornal oficial do Parlamento Nacional
O jornal oficial do Parlamento Nacional, que constitui o meio oficial de
publicitação dos actos escritos do Parlamento Nacional, designa-se por Jornal do
Parlamento Nacional.

Artigo 124º
Actos escritos sujeitos a publicação no Jornal do Parlamento Nacional
1 - São publicados no Jornal do Parlamento Nacional os actos escritos do
Parlamento Nacional, enumerados no número seguinte, que não devam ser publicitados
no Jornal da República.
2 - Publicam-se no Jornal do Parlamento Nacional:
a) As transcrições integrais das reuniões plenárias, nos termos do n.o 2 do artigo 74º;
b) Os actos previstos na Lei da Organização e Funcionamento da Administração
Parlamentar que nele devam ser publicados;
c) Os projectos de revisão constitucional, de lei, de regimento, de referendo, de
resolução e de deliberação;
d) Os relatórios e pareceres das comissões parlamentares;
e) Os relatórios de delegações parlamentares;
f) As mensagens do Presidente da República;
g) As moções de rejeição do Programa do Governo;
h) Os votos de confiança;

225
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

i) As moções de censura ao Governo;


j) Os requerimentos de apreciação de diplomas legislativos do Governo;
k) As perguntas e os requerimentos escritos apresentados ao abrigo do disposto
nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 16º;
l) As intervenções escritas feitas por Deputados, em representação do Parlamento
Nacional, em instâncias internacionais;
m) Quaisquer planos de acção e relatórios de actividades;
n) As deliberações escritas do Parlamento Nacional;
o) As declarações de renúncia ao mandato parlamentar e a qualquer cargo
detido em órgão parlamentar;
p) Os despachos escritos do Presidente que não sejam de mero expediente;
q) Os votos previstos no artigo 97º;
r) Todos os demais actos escritos do Parlamento Nacional que a Mesa entenda
deverem ser publicados ou cuja publicação seja obrigatória ou deliberada pelo Plenário,
mediante requerimento escrito de pelo menos vinte Deputados.

Artigo 125º
Edição, periodicidade e organização do Jornal do Parlamento Nacional
1 - O Jornal do Parlamento Nacional é editado, duas vezes por semana, pela
entidade responsável pela edição do Jornal da República.
2 - Há lugar à publicação de mais do que duas edições semanais do Jornal do
Parlamento Nacional, sob a forma de suplemento, quando o volume ou a urgência dos
actos a publicar o justifique.
3 – Na organização do Jornal do Parlamento Nacional observam-se, com as
necessárias adaptações, as disposições da Lei n.o 1/2002, de 7 de Agosto, que regem a
organização do Jornal da República, nomeadamente os seus artigos 1º a 4º, 6º e 17º.
4 - O Jornal do Parlamento Nacional compreende duas séries, identificadas por
numeração romana, organizadas da seguinte forma:
a) Na I Série são publicados os actos identificados na alínea a) do n.o 2 do artigo
anterior;
b) Na II Série são publicados todos os demais actos escritos a que se refere o n.o 2,
exceptuada a alínea a), do artigo anterior.

Artigo 126º
Publicidade da actividade parlamentar em geral
1 - A actividade parlamentar regular é dada a conhecer aos Deputados, aos
órgãos de comunicação social e ao público em geral através da distribuição electrónica
e em papel, com a máxima amplitude possível, de:
a) Agendas de reuniões de órgãos parlamentares colegiais;
b) Boletim informativo periódico, de preferência semanal, contendo informação
geral sobre as datas e horários das principais actividades marcadas para o período em

226
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

apreço, nomeadamente das reuniões dos órgãos parlamentares colegiais, dos encontros
das bancadas parlamentares, das deslocações de delegações parlamentares ao
estrangeiro e das visitas de individualidades estrangeiras ao Parlamento Nacional.
2 – O boletim informativo a que se refere a alínea b) do número anterior,
elaborado pelos serviços competentes sob a supervisão dos respectivos superiores
hierárquicos e da Mesa, é actualizado sempre que ocorrerem alterações significativas
aos dados que dele constem.

TÍTULO VI
FORMAS DE PROCESSO

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS

Artigo 127º
Apoio técnico à tramitação de processos
1 - Sempre que solicitados, os serviços de apoio competentes prestam as
informações e as notas técnicas necessárias à regular tramitação dos processos previstos
no presente título.
2 - Os órgãos parlamentares podem ainda socorrer-se da intervenção técnica de
peritos ou assessores especializados estranhos ao Parlamento Nacional em áreas que não
possam ser asseguradas pelos funcionários parlamentares, nos termos permitidos pela lei
que regule a organização e funcionamento da administração parlamentar.

Artigo 128º
Processo de revisão constitucional
1 - O processo de revisão constitucional segue, com as devidas adaptações, os
termos do processo legislativo comum, com as especialidades previstas nos números
seguintes e as exigências decorrentes da Constituição.
2 - Salvo se o Plenário deliberar a constituição de comissão eventual para a revisão
constitucional, a apreciação inicial dos projectos de revisão constitucional apresentados
cabe à comissão parlamentar permanente com competência para apreciar os assuntos
constitucionais e os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
3 - A discussão e votação na especialidade tem lugar no Plenário.

Artigo 129º
Tramitação de projectos de referendo, resolução ou deliberação
1 - A tramitação dos projectos de referendo, resolução ou deliberação segue,
com as devidas adaptações, as regras do processo legislativo comum, não carecendo
aqueles, no entanto, de ser redigidos sob a forma de artigos.

227
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Admitido um projecto de referendo, resolução ou deliberação, o Presidente, no


mesmo acto, determina a baixa à comissão que considere competente, em razão da
matéria, para o apreciar, salvo quando, pela sua simplicidade, o Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares, entender dever dispensar a baixa à comissão
competente e remeter a discussão e votação directamente para o Plenário.
2 - Em qualquer dos casos previstos no número anterior, a discussão na
generalidade e na especialidade dos projectos de referendo, resolução ou deliberação
tem lugar obrigatoriamente no Plenário, mas a discussão e votação na especialidade
limita-se às partes do texto sobre as quais hajam sido apresentadas propostas de
alteração.
3 – Há lugar a uma única votação global sobre todo o texto, com as alterações
aprovadas que lhe tiverem sido introduzidas.

Artigo 130º
Processamento de urgência
1 - Qualquer projecto ou proposta de lei, proposta de resolução ou projecto de
resolução ou deliberação pode ser objecto de processamento de urgência, desde que a
apresentação da iniciativa seja acompanhada de pedido de processamento de
urgência, formulado pelo seu autor, devidamente justificado.
2 – O Presidente, recebida e admitida a iniciativa, remete-a à comissão
parlamentar competente, para, no prazo de vinte e quatro horas, apreciar e elaborar
parecer fundamentado sobre o pedido de processamento de urgência.
3 – Do parecer da comissão parlamentar competente sobre o pedido de
processamento de urgência que se pronuncie pela pertinência do mesmo deve constar
a forma de organizar o processo relativo à iniciativa para cuja tramitação haja sido
requerida urgência, que pode incluir:
a) A dispensa da apreciação inicial na comissão parlamentar competente ou a
redução do respectivo prazo;
b) A limitação do número de intervenções e de duração do uso da palavra pelos
Deputados e membros do Governo;
c) A dispensa do envio à comissão parlamentar competente para a redacção
final ou a redução do respectivo prazo.
4 - Elaborado e apresentado o parecer a que se refere o número anterior, o
Plenário delibera sobre a urgência solicitada.
5 - Se o Plenário deliberar não se justificar o processamento de urgência, observa-
se a tramitação normal aplicável ao caso.
6 - Se o Plenário deliberar que deve haver lugar a processamento de urgência, o
processo é tramitado nos termos propostos no parecer a que alude o n.o 3 ou, no caso
de não ter sido apresentada qualquer proposta de organização do processo, pela forma
que vier a ser determinada pela Conferência dos Líderes Parlamentares ou, na sua falta,
pelo Presidente.

228
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

7 - Se, deliberada a necessidade da urgência na tramitação da iniciativa, nada


tiver sido determinado ao abrigo do disposto nos números anteriores, o processo segue os
trâmites normais, com as seguintes especialidades:
a) O prazo para a apreciação na comissão parlamentar é de cinco dias;
b) O prazo para a redacção final do diploma é de dois dias.

CAPÍTULO II
PROCESSOS LEGISLATIVOS E DE RESOLUÇÃO

Secção I
Processo legislativo comum

Subsecção I
Iniciativa processual

Artigo 131º
Poder de iniciativa legislativa
A iniciativa de lei compete aos Deputados, às bancadas parlamentares e ao
Governo.

Artigo 132º
Formas de iniciativa de lei
1 - A iniciativa orginária de lei toma a forma de:
a) Projecto de lei, quando exercida pelos Deputados, individual ou
colectivamente, ou pelas bancadas parlamentares, através das respectivas direcções ou
de conjuntos de Deputados que as componham agindo em seu nome;
b) Proposta de lei, quando exercida pelo Governo.
2 – A iniciativa superveniente de lei toma a forma de proposta de alteração ou
texto de substituição.

Artigo 133º
Limites materiais e temporais à iniciativa de lei
1 – Não podem ser admitidos projectos ou propostas de lei, assim como propostas
de alteração, que:
a) Violem a Constituição ou os princípios nela consignados;
b) Não definam concretamente o sentido das modificações a introduzir na ordem
legislativa;
c) Envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição
das receitas do Estado previstas no Orçamento Geral do Estado, seja inicial, seja
rectificativo.

229
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Os projectos e as propostas de lei definitivamente rejeitados não podem ser


renovados na mesma sessão legislativa.

Artigo 134º
Renovação e caducidade das iniciativas de lei
1 – Os projectos e as propostas de lei não definitivamente votados durante a
sessão legislativa em que hajam sido apresentados não carecem de ser renovados nas
sessões legislativas seguintes, salvo se ocorrer termo da legislatura.
2 – As propostas de lei caducam com a demissão do Governo que as tenha
apresentado ou com o termo da respectiva legislatura.

Artigo 135º
Cancelamento de iniciativa de lei
1 – Admitido qualquer projecto ou proposta de lei ou qualquer proposta de
alteração, os seus autores podem retirar a iniciativa:
a) Até à sua votação na generalidade, no caso de projecto ou proposta de lei;
b) Até ao momento em que deva ser votada, no caso de proposta de alteração.
2 – O cancelamento da iniciativa pode ser feito por escrito ou oralmente, no
decurso de reunião do órgão parlamentar colegial em que ocorra a manifestação de
vontade de cancelar, observando-se o seguinte:
a) Os projectos de lei subscritos por bancadas parlamentares ou em nome delas só
podem ser retirados pelas respectivas direcções ou pelos Deputados que o assinaram,
sem oposição dos Deputados subscritores que não se hajam pronunciado expressamente
sobre a intenção de cancelamento;
b) Os projectos de lei subscritos por vários Deputados podem ser retirados por um
dos subscritores, desde que os restantes a isso não se oponham expressamente;
c) As propostas de lei e as propostas de alteração apresentadas pelo Governo só
podem ser retiradas pelo Primeiro-Ministro ou por ministro que se encontre mandatado
para o fazer, uma vez comprovado ter a decisão de cancelamento da iniciativa sido
tomada em Conselho de Ministros;
d) As propostas de alteração apresentadas por vários Deputados só podem ser
retiradas por todos os subscritores ou por alguns deles sem a oposição dos restantes.
3 – Qualquer Deputado pode adoptar como seu qualquer projecto ou proposta
de lei ou proposta de alteração que se pretenda retirar, desde que o faça
imediatamente após o cancelamento da iniciativa pelos seus autores.
4 – Caduca a iniciativa de lei que, uma vez retirada, não haja sido adoptada nos
termos do número anterior.
5 – A iniciativa de lei adoptada no uso da faculdade prevista no n.o 3 segue os
termos processuais normais como projecto ou proposta do adoptante.

Artigo 136º

230
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Exercício e apresentação de iniciativa originária de lei


1 – Os projectos e as propostas de lei são dirigidos ao Presidente e entregues na
Mesa.
2 – Os autores dos projectos ou propostas de lei devem fazer entrega, em
simultâneo com a versão em papel, da versão electrónica dos documentos em que se
contenham as iniciativas legislativas.
3 – Os projectos de lei são subscritos:
a) Por uma ou várias bancadas parlamentares, assinados pelas respectivas
direcções em nome das bancadas parlamentares que representam ou por diversos
Deputados dessas bancadas parlamentares, agindo em nome delas, desde que incluídos
os Deputados que componham as respectivas direcções;
b) Por um número ilimitado de Deputados, quando o façam independentemente
das bancadas parlamentares em que se incluam, assinalando, no entanto, as bancadas
parlamentares a que pertençam em sítio visível à frente da respectiva assinatura.
4 – As propostas de lei são subscritas pelo Primeiro-Ministro e ministros competentes
em razão da matéria, devendo conter a menção de que foram aprovadas em Conselho
de Ministros e a data em que o tenham sido.

Artigo 137º
Requisitos formais das iniciativas originárias de lei
1 – Os projectos e propostas de lei devem:
a) Ser redigidos por escrito em qualquer das línguas oficiais, com preferência pela
língua portuguesa;
b) Ser redigidos sob a forma de artigos numerados, eventualmente divididos em
números e alíneas e estruturados em divisões sistemáticas;
c) Ter uma designação que traduza sinteticamente o seu objecto principal;
d) Conter um preâmbulo;
e) Ser acompanhados de uma breve justificação ou exposição de motivos.
2 – O requisito referido na alínea e) do número anterior implica, no que diz respeito
às propostas de lei e na medida do possível, a apresentação, de modo abreviado, dos
seguintes elementos:
a) Uma memória descritiva das situações sociais, económicas, financeiras e
políticas a que se aplica;
b) Uma informação sobre os benefícios e as consequências da sua aplicação;
c) Uma resenha da legislação vigente referente ao assunto.
3 – As propostas de lei devem ainda ser acompanhadas dos estudos, pareceres e
documentos instrumentais que as tenham fundamentado.
4 – Quando os textos das iniciativas originárias de lei forem apresentados em
ambas as línguas oficiais, a versão na língua portuguesa constitui o texto de base que faz
fé em relação ao texto escrito na versão em tétum, sobre o qual prevalece, sem prejuízo
da publicação integral, como lei, dos dois textos finais.

231
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

5 – Não são admitidos os projectos ou propostas de lei que hajam preterido o


prescrito nas alíneas a) e b) do n.o 1.
6 – A falta dos requisitos previstos nas alíneas c), d) e e) do n.o 1 implica a
necessidade de suprimento no prazo de dez dias a contar da recepção da notificação
que para o efeito for dirigida pelo Presidente ao autor da iniciativa, sob pena de não
admissão.

Artigo 138º
Admissibilidade de iniciativa e organização do processo
1 – Apresentada uma iniciativa de lei, o Presidente decide, por despacho, se a
mesma deve ou não ser admitida, tendo em atenção os requisitos constitucionais, legais
e regimentais a que deve obedecer, no prazo máximo de trinta dias.
2 – O prazo supletivo previsto na parte final do número anterior não se aplica às
iniciativas supervenientes de lei, que seguem o regime do artigo 169º.
3 – A decisão de não admissão carece de fundamentação, ainda que sucinta.
4 – Se decidir não admitir a iniciativa, o Presidente comunica a decisão, por
escrito, ao seu autor, que, no caso de projecto de lei subscrito por vários Deputados, é o
primeiro signatário.
5 – Uma vez despachados, os projectos e as propostas de lei e as propostas de
alteração são registados e numerados pela ordem da sua entrega na Mesa.
6 – Os projectos e propostas de lei são identificados, em epígrafe, pelo número,
pela legislatura e, se assim for decidido, pela sessão legislativa a que digam respeito.
7 – Compete aos serviços de apoio competentes a organização dos processos
documentais relativos à tramitação de iniciativas de lei originárias e supervenientes.

Artigo 139º
Admissão de iniciativa originária de lei
1 - Admitido qualquer projecto ou proposta de lei, o Presidente, no mesmo acto ou
posteriormente, e pela ordem indicada:
a) Determina a comissão parlamentar competente em razão da matéria,
mandando baixar a iniciativa legislativa a essa comissão;
b) Fixa, se o entender, o prazo de que a comissão prevista na alínea anterior
dispõe para proceder à apreciação inicial, elaborando o respectivo relatório e parecer
fundamentado;
c) Manda enviar o texto à mesma comissão, acompanhado de elementos que
considere relevantes e das informações ou notas técnicas que hajam sido preparadas
sobre a iniciativa legislativa;
d) Manda imediatamente distribuir cópias da iniciativa legislativa a todos os
Deputados, começando pelas direcções das bancadas parlamentares;
e) Ordena a inscrição imediata na ordem de trabalhos de uma das reuniões
plenárias seguintes do anúncio da admissão da iniciativa.

232
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Na falta de fixação pelo Presidente, o prazo a que se refere a alínea b) do


número anterior é de 30 dias a contar da data do envio ou, quando a haja, da entrega
simbólica do texto a que alude o n.o 3 do artigo 143º à comissão parlamentar
competente, findos os quais a Mesa pode agendar a iniciativa legislativa para discussão
e votação na generalidade independentemente da apresentação do relatório e
parecer fundamentado pela comissão.
3 – O prazo mencionado na alínea b) do n.o 1 pode ser prorrogado pelo
Presidente, por um máximo de 30 dias, a requerimento da comissão parlamentar
competente.

Artigo 140º
Recurso da decisão sobre a admissibilidade de iniciativa originária de lei
1 - Admitido qualquer projecto ou proposta de lei e distribuído este à comissão
parlamentar competente ou decidida a sua não admissão, o Presidente comunica a
decisão ao Plenário através de anúncio a inscrever na ordem de trabalhos de uma das
reuniões plenárias seguintes.
2 – O anúncio da decisão de admissão inclui a referência à comissão parlamentar
a que a iniciativa tenha baixado, se a baixa à comissão tiver sido decidida no mesmo
acto da admissão.
3 – Cabe reclamação da decisão do Presidente, a apresentar imediatamente
após o respectivo anúncio.
4 – A reclamação da decisão do Presidente é imediatamente decidida por si e
comunicada oralmente ao Plenário.
5 – Até ao termo da reunião plenária seguinte à do anúncio da decisão, qualquer
Deputado pode recorrer, por requerimento escrito e fundamentado, da decisão do
Presidente.
6 – Interposto recurso, o Presidente submete-o à apreciação da comissão
parlamentar competente em razão da matéria.
7 – A comissão parlamentar competente a que alude o número anterior elabora,
no prazo de quarenta e oito horas, parecer fundamentado sobre o recurso, o qual é
agendado para votação na reunião plenária subsequente ao termo do referido prazo.
8 – O parecer a que se refere o número anterior é lido e votado no Plenário.
9 – Não tendo sido elaborado o parecer a que alude o n.o 7, o recurso é votado
directamente no Plenário independentemente da existência daquele, no mesmo prazo
previsto no n.o 7.
10 – Cada Deputado pode usar da palavra, a respeito do recurso, por tempo não
superior a um minuto.

Artigo 141º
Iniciativa superveniente de lei

233
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – Qualquer Deputado ou bancada parlamentar pode apresentar propostas de


alteração a quaisquer iniciativas originárias de lei, aprovadas na generalidade, perante o
órgão parlamentar colegial competente para a discussão e votação na especialidade.
2 – O Primeiro-Ministro ou os membros do Governo competentes em razão da
matéria podem apresentar propostas de alteração, nos termos previstos no número
anterior, a propostas de lei em tramitação no Parlamento Nacional.

Artigo 142º
Tipos de propostas de alteração
1 – As propostas de alteração podem ser de eliminação, de substituição, de
emenda e de aditamento.
2 – Consideram-se propostas de eliminação as que se destinem a suprimir a
disposição em discussão.
3 – Consideram-se propostas de substituição as que contenham disposição diversa
daquela que tenha sido apresentada.
4 – Consideram-se propostas de emenda as que, conservando todo ou parte do
texto em discussão, restrinjam, ampliem ou modifiquem o seu sentido.
5 – Consideram-se propostas de aditamento as que, conservando o texto primitivo
e o seu sentido, contenham a adição de matéria nova.

Subsecção II
Apreciação inicial

Artigo 143º
Envio de iniciativas originárias de lei à comissão parlamentar
1 – Admitido qualquer projecto ou proposta de lei, o Presidente envia o respectivo
texto à comissão parlamentar que considerar competente em razão da matéria para
proceder à apreciação inicial, acompanhado dos elementos a que se refere a alínea c)
do n.o 1 do artigo 139º.
2 – No caso de o Presidente enviar o texto referido no número anterior a mais do
que uma comissão parlamentar, deve indicar, no despacho em que o determine, qual a
comissão parlamentar que se deve responsabilizar pela elaboração e aprovação do
relatório e parecer final.
3 – O anúncio em Plenário da admissão e baixa à comissão parlamentar
considerada competente de determinado projecto ou proposta de lei e a entrega
simbólica de cópia do respectivo texto ao presidente daquela comissão parlamentar,
quando aconteça, substituem o envio formal da iniciativa à mesma comissão
parlamentar, mas não dispensam a emissão dos despachos do Presidente referidos nos
artigos 138º e 139º, a exarar por escrito no respectivo processo.

234
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – O Plenário pode constituir uma comissão parlamentar eventual para a


apreciação inicial de determinado projecto ou proposta de lei ou projectos ou propostas
de lei, quando a sua importância ou complexidade o justifique.

Artigo 144º
Determinação da comissão parlamentar competente
Quando uma comissão parlamentar discorde da decisão do Presidente sobre a
determinação da comissão parlamentar competente, deve comunicar a sua opinião,
tomada por deliberação, ao Presidente, no prazo de sete dias, para que aquele
reaprecie o respectivo despacho.

Artigo 145º
Projectos e propostas de lei sobre matérias idênticas
1 – Se, até metade do prazo fixado à comissão parlamentar competente para
proceder à apreciação inicial e emitir relatório e parecer, lhe forem enviados outro ou
outros projectos ou propostas de lei sobre a mesma matéria, a comissão parlamentar
deve fazer a sua apreciação conjunta, sem prejuízo da emissão de relatório e parecer
em separado.
2 – Não se verificando a circunstância prevista no número anterior, têm
precedência na emissão de relatório e parecer o texto ou os textos que tiverem sido
recebidos em primeiro lugar.

Artigo 146º
Conteúdo da apreciação inicial
1 – A apreciação inicial feita pela comissão parlamentar competente não está
sujeita a quaisquer limites materiais, podendo ser analisados, nomeadamente:
a) Os requisitos formais e materiais da iniciativa de lei;
b) O enquadramento legal e doutrinário da matéria em apreço, incluindo no
plano regional e internacional;
c) Os factos, situações e realidades a que a iniciativa diga respeito;
d) Os principais problemas sociais ou políticos suscitados;
e) As consequências da aprovação da iniciativa legislativa e os previsíveis
encargos financeiros com a respectiva aplicação.
2 – A apreciação inicial culmina com a elaboração de relatório e parecer
fundamentado sobre a iniciativa legislativa sob análise, aprovado pela comissão no
prazo a que se referem a alínea b) do n.o 1 e o n.o 2 do artigo 139º e enviado ao
Presidente dentro do mesmo prazo.

Artigo 147º
Contributos para a apreciação inicial e textos de substituição

235
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – No âmbito da apreciação inicial, a comissão parlamentar competente pode


ouvir as pessoas directamente interessadas na aprovação da iniciativa e os assessores,
peritos, técnicos, membros do Governo, funcionários públicos ou quaisquer entidades,
públicas ou privadas, que entender, assim como recolher os pareceres, relatórios e outros
documentos relevantes que lhe sejam facultados, espontaneamente ou a seu pedido,
sobre a matéria em causa.
2 – O autor da iniciativa legislativa a apreciar ou um dos seus subscritores tem o
direito de a apresentar, querendo, perante a comissão parlamentar competente, que,
uma vez manifestada a vontade de exercer tal prerrogativa, marca reunião para o
efeito.
3 – Após a apresentação prevista no número anterior, segue-se um período de
esclarecimentos a prestar pelo autor da iniciativa legislativa, a instâncias dos Deputados
presentes na reunião, sobre a substância do texto em discussão.
4 – O Presidente pode também enviar à comissão parlamentar competente para
a apreciação inicial qualquer documento pertinente ou proposta de alteração que
entenda dever desde logo propor.
5 – A comissão parlamentar competente pode apresentar textos de substituição
global das iniciativas originárias de lei em apreciação para discussão e votação na
generalidade, sem prejuízo dos projectos ou propostas de lei, quando não retirados, a
que se refiram.
6 – As propostas de alteração e os textos de substituição globais apresentados ao
abrigo do disposto nos n.os 4 e 5 devem constar, em anexo, do relatório e parecer da
comissão.

Artigo 148º
Discussão pública de iniciativas originárias de lei
1 - Em razão da especial relevância da matéria, a comissão parlamentar
competente pode propor ao Presidente a discussão pública de projectos ou propostas
de lei.
2 – O disposto no número anterior não prejudica as diligências que as comissões
parlamentares competentes em razão da matéria entendam desenvolver de modo a
recolher os contributos dos interessados, designadamente através de audições
parlamentares.

Artigo 149º
Elaboração de relatório e parecer
1 – Cabe à mesa da comissão parlamentar competente a designação de
Deputado responsável pela elaboração do projecto de relatório e parecer relativo à
apreciação inicial.
2 – Quando se justifique, a mesa pode designar mais do que um Deputado para
elaborar o projecto mencionado no número anterior.

236
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Na designação dos Deputados responsáveis pela elaboração do projecto de


relatório e parecer, deve atender-se, conjugadamente:
a) A uma distribuição equilibrada e rotativa dessa tarefa;
b) À indicação preferencial de Deputados que não sejam autores da iniciativa
legislativa em análise;
c) À vontade expressa de um Deputado com apetência para analisar
determinada matéria.

Artigo 150º
Conteúdo do relatório e parecer
1 - O relatório e parecer da comissão parlamentar a que caiba a apreciação
inicial deve conter, pelo menos:
a) Uma análise breve da conformidade dos requisitos constitucionais, legais e
regimentais, de natureza formal e material, a que a iniciativa legislativa deva obedecer;
b) O enquadramento legal e doutrinário do tema, incluindo, sempre que possível,
no plano internacional ou regional;
c) Uma análise sucinta dos factos, situações e realidades a que a iniciativa
legislativa diga respeito;
d) Um esboço histórico dos problemas suscitados;
e) A apreciação das consequência previsíveis da aprovação da iniciativa
legislativa e os previsíveis encargos com a sua aplicação;
f) Referências a contributos de entidades que tenham interesse nas matérias
tratadas na iniciativa legislativa, designadamente os pareceres por elas emitidos;
g) Posições sumárias das bancadas parlamentares, Deputados independentes e
Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária, se as
houver;
h) Conclusões e parecer;
i) Recomendações, se as houver, e anexos, se os houver.
2 – O relatório e parecer deve ser assinado pelo presidente da comissão
parlamentar competente e pelo relator ou relatores.

Subsecção III
Discussão e votação na generalidade

Artigo 151º
Regra da discussão e votação na generalidade de iniciativas originárias de lei
1 - Os projectos e propostas de lei admitidos, assim como os textos de substituição
global apresentados por comissão parlamentar competente, são obrigatoriamente
discutidos e votados na generalidade em Plenário.
2 – A discussão precede sempre a votação, que tem lugar assim que concluída
aquela.

237
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – Os textos de substituição global, quando existam, são discutidos em conjunto


com os projectos e propostas de lei a que se refiram.
4 – Quando haja projectos ou propostas de lei que versem matérias idênticas, a
sua discussão deve ser feita em conjunto, desde que os mesmos tenham sido admitidos
até dez dias antes da data marcada para a discussão e votação.

Artigo 152º
Conhecimento prévio dos projectos e propostas de lei
Nenhum projecto ou proposta de lei pode ser apreciado em comissão
parlamentar ou agendado para discussão e votação em reunião plenária sem antes ter
sido distribuído a todos os Deputados.

Artigo 153º
Objecto da discussão na generalidade
A discussão na generalidade incide sobre os princípios e o sistema de cada
projecto ou proposta de lei.

Artigo 154º
Início e desenvolvimento da discussão na generalidade
1 – A discussão na generalidade de determinada iniciativa originária de lei é
marcada pelo Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, observando-
se o disposto nos artigos 78º e 79º.
2 - O debate na generalidade de texto agendado inicia-se com a apresentação
sucinta das conclusões do relatório e parecer da comissão parlamentar competente em
sede de apreciação inicial da iniciativa legislativa em debate, por tempo não superior a
dez minutos, pelo Deputado membro daquela comissão que esta indicar para o efeito.
3 – Concluída a apresentação prevista no número anterior, há lugar a uma
intervenção do autor do texto em discussão, que é, no caso de projectos de lei subscritos
por vários Deputados, um dos signatários escolhidos de entre os proponentes.
4 - Às intervenções iniciais dos autores dos textos em debate segue-se um período
de perguntas, respostas e comentários, em que consiste o debate propriamente dito.
5 – O debate termina assim que esgotados os tempos de intervenção disponíveis
ou quando não houver mais pedidos de palavra.

Artigo 155º
Tempos de uso da palavra
1 - Os tempos de uso da palavra pelos Deputados e pelos membros do Governo,
para intervir no debate, são fixados globalmente, por bancada parlamentar, Deputado
independente, Deputado único representante de partido político ou coligação
partidária e Governo, pela Conferência dos Líderes Parlamentares, tendo em conta a
natureza e a importância da matéria a discutir, mediante grelha de distribuição de

238
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

tempos globais, atribuídos na proporção da respectiva representatividade, aprovada por


aquela e distribuída a todos os Deputados concomitantemente com a agenda
respectiva.
2 – Para efeitos do disposto no número anterior, o tempo de uso da palavra a
atribuir ao Governo é igual ao da maior bancada parlamentar.
3 – Na falta de fixação da grelha de tempos globais a que se refere o n.o 1,
aplicam-se as seguintes regras gerais:
a) A intervenção inicial mencionada no n.o 3 do artigo anterior tem a duração
máxima de 15 minutos para cada texto em debate;
b) Durante o debate, cada Deputado pode usar da palavra por uma só vez e
tempo não superior a cinco minutos;
c) Os membros do Governo presentes, quando se trate da discussão de proposta
de lei, dispõem do tempo global previsto no número anterior, a ratear entre eles, não
devendo cada um deles falar, de cada vez, por mais de cinco minutos;
d) A Mesa concede a palavra de modo a evitar, durante o debate, mais do que
duas intervenções seguidas de Deputados da mesma bancada parlamentar ou do
Governo;
e) O Deputado que não pretenda intervir no debate pode ceder o tempo de que
disponha, declarando-o expressamente à Mesa, a Deputado que pretenda falar mais do
que uma vez.
4 – O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa, protestos e
contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou consideração não é
considerado nos tempos previstos no número anterior, que se destinam a intervenção no
debate propriamente dito.

Artigo 156º
Momento e objecto da votação na generalidade
1 - A votação na generalidade do texto agendado tem lugar assim que terminado
o respectivo debate.
2 - A votação na generalidade versa sobre cada projecto de lei, proposta de lei
ou texto de substituição global.

Artigo 157º
Ordem da votação na generalidade de vários textos
1 – Quando várias iniciativas originárias de lei e textos de substituição global sobre
idêntica matéria tiverem sido objecto de discussão em conjunto, observam-se, quanto à
ordem da sua votação, as seguintes regras:
a) A votação de texto de substituição global precede a do projecto ou proposta
de lei a que se refere;
b) A votação de projecto de lei precede a de proposta de lei sobre a mesma
matéria;

239
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) A votação de vários projectos de lei ou propostas de lei começa pelo texto


identificado, em epígrafe, pelo número mais baixo e prossegue com a votação sucessiva
dos que tiverem a numeração seguinte por ordem aritmética, até à aprovação de um
deles.
2 – A aprovação de um texto inutiliza a votação de todos aqueles textos que,
discutidos em conjunto com o aprovado, se refiram à mesma matéria, de modo a que só
um texto passe à discussão e votação na especialidade, sem prejuízo do
aproveitamento, sob a forma de propostas de alteração, dos textos não aprovados.

Artigo 158º
Transição para a fase de discussão e votação na especialidade
1 - O texto aprovado na generalidade, quando não tenha de ser discutido e
votado na especialidade também em Plenário, baixa imediatamente, mediante
despacho do Presidente, à comissão parlamentar competente.
2 - A comissão parlamentar competente para proceder à discussão e votação na
especialidade é aquela que haja feito a apreciação inicial dos textos submetidos à
discussão e votação na generalidade.
3 - O despacho do Presidente a que se refere o n.o 1 deve conter:
a) A indicação concreta da comissão parlamentar competente, de acordo com
o princípio estabelecido no número anterior;
b) O prazo de que a comissão parlamentar competente dispõe para a conclusão
da discussão e votação na especialidade, de acordo com o disposto no artigo 162º.

Subsecção IV
Discussão e votação na especialidade

Artigo 159º
Regra da competência para a discussão e votação na especialidade
Salvo o disposto no artigo seguinte e sem prejuízo do direito de avocação previsto
no artigo 163º, a discussão e votação na especialidade de texto aprovado na
generalidade cabe à comissão parlamentar competente em razão da matéria,
aplicando-se o disposto no n.o 2 do artigo anterior.

Artigo 160º
Excepções à regra da competência da comissão parlamentar
1 - São obrigatoriamente discutidas e votadas na especialidade em Plenário as
iniciativas originárias de lei que criem impostos.
2 - São também obrigatoriamente discutidas e votadas na especialidade em
Plenário:
a) As propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do Estado;

240
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) As iniciativas originárias de lei cuja discussão e votação em Plenário seja


imposta pela Constituição, por lei ou pelo Regimento.

Artigo 161º
Início da discussão e votação na especialidade
A discussão e votação na especialidade inicia-se:
a) Assim que baixa à comissão parlamentar competente, nos casos previstos no n.o
1 do artigo 158º;
b) Na reunião plenária, marcada para o efeito, subsequente àquela em que o
texto haja sido aprovado na generalidade, nos casos previstos no artigo anterior.

Artigo 162º
Prazo para a discussão e votação na especialidade em comissão
1 - Nos casos a que se refere o artigo 159º, a comissão parlamentar deve concluir a
discussão e votação na especialidade no prazo que lhe for fixado pelo Presidente ou,
não o havendo, dentro de 30 dias a contar da baixa à comissão do respectivo texto
aprovado na generalidade.
2 – Sempre que se trate de diploma demasiado extenso ou complexo, o Presidente
fixa o prazo dilatado que considere suficiente para a conclusão da tarefa.

Artigo 163º
Avocação pelo Plenário
1 – O Plenário pode deliberar, a qualquer momento, a avocação da discussão e
votação na especialidade de parte do texto que se encontre a ser discutido e votado na
especialidade em comissão, mediante requerimento de pelo menos vinte Deputados ou
duas bancadas parlamentares.
2 - O requerimento a que se refere o número anterior, obrigatoriamente
apresentado por escrito, deve especificar concretamente as partes do texto cuja
discussão e votação se pretende avocar para o Plenário.

Artigo 164º
Tempos de uso da palavra em Plenário
1 – Quando a discussão e votação na especialidade ocorra no Plenário nos casos
previstos no artigo anterior e no artigo 160º, cada Deputado dispõe de um minuto para
se pronunciar sobre cada artigo ou proposta de alteração apresentada.
2 – O autor ou um dos autores, quando haja vários, de proposta de alteração
dispõe de dois minutos para a apresentar e justificar oralmente, podendo ainda usar da
palavra, por tempo máximo de cinco minutos, para prestar esclarecimentos ou responder
ao conjunto de todas as questões colocadas sobre a proposta de alteração.

241
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

3 – O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa, protestos e


contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou consideração não é
descontado nos tempos previstos nos números anteriores.
4 – Quando se trate da discussão e votação na especialidade de proposta de lei,
os membros do Governo presentes têm direito a usar da palavra nos termos previstos nos
números anteriores.

Artigo 165º
Objecto da discussão e votação na especialidade
1 - A discussão na especialidade versa sobre cada artigo ou proposta de
alteração admitida.
2 – A discussão na especialidade de artigos sobre os quais não hajam recaído
propostas de alteração cinge-se à colocação de dúvidas ou questões concretas,
relacionadas com o texto em apreço, que não tenha sido possível esclarecer em sede
de apreciação inicial.
3 – Pode ser deliberado, quando metodologicamente se justifique, que a discussão
incida simultaneamente sobre conjuntos de mais do que um artigo ou, com fundamento
na complexidade da matéria ou das propostas de alteração apresentadas, se faça por
números ou alíneas.
4 – Os conjuntos de artigos a discutir simultaneamente ou cada número ou alínea
a discutir separadamente, nos termos do disposto no número anterior, funcionam como
um só artigo ou proposta de alteração para efeitos de atribuição de tempos de uso da
palavra ao abrigo do n.o 1 do artigo anterior.
5 - A votação na especialidade, que tem lugar imediatamente a seguir à
discussão dos textos a votar, incide sobre cada proposta de alteração, artigo, número ou
alínea ou conjunto de artigos, conforme determinado ao abrigo do n.o 3 e pela ordem
indicada no artigo 170º.
6 – Os preâmbulos dos diplomas, embora votáveis autonomamente, só são
objecto de discussão quando sobre eles hajam sido apresentadas propostas de
alteração.
7 – Os artigos, números ou alíneas que remetam para anexos que façam parte
integrante do diploma são discutidos e votados em paralelo, começando-se pelo
conteúdo dos anexos.

Artigo 166º
Regra geral sobre a ordenação da discussão e votação
1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, de métodos lógicos que se
imponham e de metodologias específicas deliberadas pelo Plenário sob proposta da
Mesa ou de qualquer Deputado, o articulado do texto é discutido e votado pela sua
ordem aritmética.
2 – Só é possível reabrir a discussão e votação de texto já votado:

242
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Por consenso;
b) Quando se detecte ter ocorrido irregularidade processual susceptível de afectar
a validade de votação realizada;
c) Em caso de avocação para o Plenário da discussão e votação de texto votado
em comissão.
3. Nos casos previstos no número anterior, a nova votação implica a anulação
automática da já realizada.

Artigo 167º
Prazo de apresentação de propostas de alteração
1 - O presidente do órgão parlamentar colegial onde decorra a discussão e
votação na especialidade fixa, no início da discussão na especialidade, prazo para a
entrega de propostas de alteração e, caso se justifique, para a organização e
distribuição, pelos serviços de apoio competentes, de guião da discussão e votação,
aprovado pela respectiva mesa.
2 – Se não for fixado prazo nos termos do número anterior, só podem ser
apresentadas propostas de alteração a determinado artigo ou parte de texto até ao
encerramento da discussão e votação do artigo ou parte do texto imediatamente
antecedente na ordem respectiva.
3 - Podem ser apresentadas propostas de alteração fora do prazo a que se
referem os números anteriores, por escrito ou, oralmente, nos casos previstos no n.o 3 do
artigo 169º, sempre que o desenvolvimento do processo de discussão e votação o
justifique e não haja oposição da maioria dos Deputados que componham o órgão
parlamentar colegial respectivo.

Artigo 168º
Legitimidade para apresentação de propostas de alteração
Qualquer Deputado, mesmo que não seja membro do órgão parlamentar colegial
competente, ou, no caso de proposta de lei, membro do Governo pode apresentar
proposta de alteração, identificando, sempre que possível, a sua natureza em face dos
tipos de propostas de alteração previstos no artigo 142º.

Artigo 169º
Admissão e requisitos formais das propostas de alteração
1 – Qualquer proposta de alteração, devendo ser apresentada por escrito, só é
submetida a discussão e votação depois de admitida pela Mesa, uma vez verificado,
nomeadamente, que:
a) A alteração proposta tem a ver com a iniciativa legislativa em discussão;
b) A proposta de alteração está escrita na mesma língua do texto em que incida,
sem prejuízo do disposto no n.o 3;
c) Está claramente identificada a parte do texto eliminado, alterado ou aditado;

243
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

d) É inteligível o sentido da modificação a introduzir.


2 – A decisão de não admissão de proposta de alteração é imediatamente
comunicada aos membros presentes do órgão parlamentar colegial respectivo,
aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 109º.
3 - É admissível a apresentação oral de propostas de alteração quando o seu
sentido, pela sua simplicidade, possa imediatamente ser compreendido por todos os
Deputados que componham o órgão colegial em que tal apresentação ocorra.

Artigo 170º
Ordem da votação
1 – A ordem da votação de cada parte de texto é a seguinte:
a) Propostas de eliminação;
b) Propostas de substituição;
c) Propostas de emenda;
d) Texto discutido, com as alterações eventualmente já aprovadas;
e) Propostas de aditamento ao texto votado.
2 – A aprovação de proposta de eliminação inutiliza, por prejudicialidade, todas as
propostas idênticas ou de diferente natureza que hajam sido apresentadas sobre a
disposição eliminada.
3 – Quando haja duas ou mais propostas de alteração do mesmo tipo, são as
mesmas submetidas à votação pela ordem da sua apresentação.
4 - No caso previsto no número anterior, a aprovação de uma das propostas de
alteração inutiliza, por prejudicialidade, todas as restantes que disponham em sentido
idêntico ou cuja aprovação se revele incompatível ou inconciliável com o sentido da
proposta aprovada.
5 – Cabe à mesa respectiva decidir sobre as propostas que considere
prejudicadas nos termos do número anterior.
6 – Da decisão da mesa respectiva a que se refere o número anterior cabe
reclamação e recurso, nos mesmos termos que são permitidos das decisões do
Presidente.

Subsecção V
Votação final global

Artigo 171º
Momento da votação final global
A votação final global tem lugar:
a) Assim que terminada a discussão e votação na especialidade, quando ocorra
em Plenário;

244
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

b) Na reunião plenária marcada, pelo Presidente, para o efeito, uma vez por si
recebido o respectivo texto, quando tenha sido objecto de discussão e votação na
especialidade em comissão.

Artigo 172º
Objecto da votação final global
1 – A votação final global incide sobre o texto da iniciativa com todas as
alterações aprovadas nele introduzidas.
2 – Quando a discussão e votação na especialidade tenha ocorrido no Plenário e
a votação final global se lhe siga imediatamente, é dispensada a preparação do texto
global com as alterações aprovadas nele incorporadas, entendendo-se que a votação
incide sobre todo o texto global.
3 - Na situação prevista no número anterior, os serviços de apoio competentes
preparam o texto global, sob a coordenação da Mesa, uma vez aprovado em votação
final global.
4 – A votação final global não é precedida de discussão, podendo, no entanto,
cada Deputado produzir uma declaração de voto nos termos do disposto no artigo 111º.

Subsecção VI
Redacção final

Artigo 173º
Objecto da redacção final
A redacção final incide sobre o texto global aprovado em votação final global.

Artigo 174º
Competência para a redacção final
1 – A redacção final dos textos globais aprovados em votação final global
incumbe à comissão parlamentar competente, aplicando-se o disposto no n.o 2 do artigo
158º.
2 – Cabe aos serviços a que compita o apoio ao Plenário e à Mesa enviar à
comissão parlamentar competente, para redacção final, o texto global de projecto ou
proposta de lei aprovado em votação final global, podendo aqueles apresentar, sob
autorização da Mesa, as sugestões de redacção final que se afigurarem pertinentes.

Artigo 175º
Finalidade da redacção final
1 – A redacção final dos textos aprovados em votação final global destina-se a
aperfeiçoar a sua sistematização e o seu estilo gramatical.
2 – Na redacção final, a comissão parlamentar competente pode ter em conta,
nomeadamente, os seguintes aspectos:

245
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

a) Ordenação sistemática das previsões normativas;


b) Correcção morfológica, sintáctica e técnica dos textos;
c) Uniformidade de expressões e conceitos utilizados;
d) Respeito pelas regras legais e regulamentares que regulam a apresentação,
identificação e publicação dos actos normativos.
3 – A comissão parlamentar competente não pode modificar o pensamento
legislativo, deliberando a redacção final do texto sem votos contra ou, não sendo isso
possível, por maioria qualificada de dois terços dos membros presentes.

Artigo 176º
Prazo para a redacção final
1 – A comissão parlamentar competente efectua a redacção final no prazo fixado
pelo Presidente ou, não o havendo, no prazo máximo de quinze dias.
2 – Concluída a redacção final, o texto é imediatamente enviado ao Presidente.

Artigo 177º
Reclamações contra inexactidões
1 – O Presidente, uma vez recebido o texto aprovado em redacção final, manda
publicá-lo imediatamente no Jornal do Parlamento Nacional ou, em alternativa, anuncia
a sua existência em reunião plenária, sem prejuízo da sua ulterior publicação.
2 – Qualquer Deputado pode apresentar reclamações contra inexactidões do
texto no prazo de três dias úteis a contar, consoante os casos previstos no número
anterior, da publicação do texto aprovado em redacção final ou do anúncio da sua
existência em reunião plenária.
3 – O Presidente decide as reclamações no prazo de vinte e quatro horas a contar
do termo do prazo previsto no número anterior e anuncia a decisão em reunião do
Plenário ou da Comissão Permanente, podendo os Deputados reclamantes recorrer da
decisão, para o Plenário ou para a Comissão Permanente, até à reunião de um destes
órgãos imediata à do anúncio da decisão.

Artigo 178º
Texto definitivo
Considera-se definitivo o texto sobre o qual não tenham recaído reclamações ou
aquele a que se tenha chegado depois de decididas as reclamações apresentadas.

Artigo 179º
Decreto
Denomina-se decreto o texto definitivo de projecto ou proposta de lei depois de
assinado pelo Presidente do Parlamento Nacional.

Subsecção VII

246
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Promulgação e reapreciação de decretos do Parlamento Nacional

Artigo 180º
Envio do decreto para promulgação
1 - O decreto é enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
2 – Quando promulgado, o decreto toma a forma de lei do Parlamento Nacional e
é enviado para publicação no Jornal da República, acompanhado dos autógrafos
impostos pela Lei da Publicação dos Actos.
3 – Os serviços de apoio competentes do Parlamento Nacional colaboram com os
serviços da Presidência da República na preparação e envio do diploma, em versão
electrónica e em papel, ao organismo responsável pela publicação.
4 – As rectificações ao texto da lei publicada no Jornal da República a que haja
lugar são decididas e ordenadas pelo Presidente do Parlamento Nacional, a pedido de
qualquer Deputado ou órgão parlamentar, de acordo com o disposto no artigo 17º da
Lei da Publicação dos Actos.

Artigo 181º
Reapreciação do decreto objecto de veto político
1 – No caso de exercício do direito de veto pelo Presidente da República nos
termos do n.o 1 do artigo 88.o da Constituição, a nova apreciação do diploma vetado
efectua-se no prazo de noventa dias a contar da recepção da mensagem
fundamentada do Presidente da República, em reunião plenária marcada por iniciativa
do Presidente do Parlamento Nacional ou a requerimento potestativo de pelo menos dez
Deputados ou qualquer bancada parlamentar.
2 – Na discussão apenas intervêm, por uma só vez e tempo não superior a dez
minutos, um dos autores do projecto ou da proposta de lei relativo ao diploma vetado,
um Deputado por cada bancada parlamentar e os Deputados únicos representantes de
partido político ou coligação partidária.
3 – A votação pode versar sobre a confirmação do decreto do Parlamento
Nacional ou sobre propostas para a sua alteração, que têm de ser apresentadas até ao
final do debate previsto no número anterior.
4 – No caso de serem apresentadas propostas de alteração, a votação incide
apenas sobre os artigos objecto das propostas de alteração.
5 – O texto do decreto que não sofra alterações não carece de voltar à comissão
parlamentar competente para efeitos de redacção final.

Artigo 182º
Efeitos da deliberação
1 - Se o Parlamento Nacional confirmar o voto nos termos dos n.os 2 e 3 do artigo
88. da Constituição, o decreto é enviado ao Presidente da República para
o

promulgação obrigatória no prazo de oito dias a contar da data da sua recepção.

247
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – Se o Parlamento Nacional introduzir alterações, o novo decreto é enviado ao


Presidente da República para promulgação.
3 – Se o Parlamento Nacional não confirmar o decreto vetado, a respectiva
iniciativa originária de lei não pode ser renovada na mesma sessão legislativa.

Artigo 183º
Reapreciação do decreto objecto de veto por inconstitucionalidade
1 – No caso de exercício do direito de veto pelo Presidente da República nos
termos do artigo 149o da Constituição, é aplicável, com as devidas adaptações, o
disposto nos artigos 88o da Constituição e 181º e 182º do Regimento, com as excepções
constantes dos números seguintes e do artigo seguinte.
2 – A votação pode versar sobre a expurgação da norma ou normas por cuja
inconstitucionalidade o Supremo Tribunal de Justiça se tenha pronunciado, sobre a
reformulação do decreto ou sobre a sua confirmação.
3 – O decreto que tenha sido objecto de reformulação ou de expurgação das
normas julgadas inconstitucionais volta à comissão parlamentar competente para efeitos
de redacção final.

Artigo 184º
Envio para promulgação
1 - Se o Parlamento Nacional expurgar as normas julgadas inconstitucionais ou
confirmar o decreto, este é enviado ao Presidente da República para promulgação
obrigatória no prazo de oito dias dias a contar da data da sua recepção.
2 – Se o Parlamento Nacional introduzir alterações ao decreto, o novo decreto é
enviado ao Presidente da República para promulgação.

Secção II
Processos legislativos e de resolução especiais

Subsecção I
Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência e apreciação da sua aplicação

Artigo 185º
Reunião do Parlamento Nacional
1 – Tendo o Presidente da República solicitado autorização ao Parlamento
Nacional para a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência, nos termos
constitucionais , o Presidente do Parlamento Nacional promove a sua imediata
apreciação pelo Plenário ou pela Comissão Permanente, no caso de o Parlamento
Nacional não se encontrar em funcionamento efectivo ou não ser possível a marcação
imediata de reunião plenária.

248
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 – A inscrição na ordem de trabalhos da apreciação do pedido de autorização e


a marcação de reunião do Plenário ou da Comissão Permanente têm lugar
independentemente de qualquer prazo ou formalidade regimental.

Artigo 186º
Debate sobre a autorização da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência
1 – O debate tem por base a mensagem do Presidente da República que, nos
termos constitucionais, constitua o pedido de autorização da declaração do estado de
sítio ou do estado de emergência.
2 – O debate não pode exceder um dia e nele têm direito a intervir:
a) O Primeiro-Ministro, por tempo não superior a sessenta minutos;
b) Um Deputado de cada bancada parlamentar, por tempo não superior a trinta
minutos;
c) Os Deputados independentes e Deputados únicos representantes de partido
político ou coligação partidária, por tempo não superior a 10 minutos.
3 – O debate é encerrado assim que produzidas as intervenções previstas no
número anterior.
4 – Não podem ser inscritos quaisquer outros assuntos na ordem de trabalhos
destinada ao debate previsto nos números anteriores.
5 – As regras previstas no números anteriores aplicam-se quer a reunião ocorra em
Plenário quer ocorra na Comissão Permanente.

Artigo 187º
Votação da autorização
A votação incide sobre a concessão da autorização solicitada.

Artigo 188º
Forma da autorização
A autorização toma a forma de:
a) Lei, quando concedida pelo Plenário;
b) Resolução, quando concedida pela Comissão Permanente.

Artigo 189º
Confirmação da autorização concedida pela comissão Permanente
Sempre que a autorização da declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência seja concedida pela Comissão Permanente, esta convoca de imediato o
Plenário para reunir no mais curto prazo possível para efeitos de confirmação da
autorização.

Artigo 190º

249
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Duração do debate sobre a confirmação


O debate sobre a confirmação da autorização da declaração do estado de sítio
ou do estado de emergência não pode exceder um dia, aplicando-se, com as devidas
adaptações, o disposto no artigo 186º.

Artigo 191º
Votação da confirmação
A votação incide sobre a confirmação da autorização concedida pela Comissão
Permanente.

Artigo 192º
Forma do acto
1 – A confirmação da autorização concedida pela Comissão Permanente toma a
forma de lei.
2 – A recusa de confirmação da autorização concedida pela Comissão
Permanente toma a forma de resolução.

Artigo 193º
Debate sobre a renovação da autorização ou a modificação ou revogação da
declaração do estado de sítio ou do estado de emergência
No caso de o Presidente da República ter solicitado a renovação da autorização
do Parlamento Nacional para a declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência ou a modificação ou revogação da respectiva declaração, aplicam-se,
com as devidas adaptações, os artigos anteriores.

Artigo 194º
Apreciação da aplicação do estado de sítio ou do estado de emergência
1 - O Presidente do Parlamento Nacional promove, nos termos constitucionais e
legais, a apreciação pelo Plenário da aplicação da declaração do estado de sítio ou do
estado de emergência.
2 – Aos debates aplicam-se, com as devidas adaptações, as disposições
constantes do artigo 186º.

Subsecção II
Autorização para declarar a guerra ou fazer a paz

Artigo 195º
Reunião do Parlamento Nacional para apreciação do pedido de autorização para
declarar a guerra ou fazer a paz
1 - Quando o Presidente da República solicitar autorização ao Parlamento
Nacional para declarar a guerra ou fazer a paz, nos termos constitucionais, o Presidente

250
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

do Parlamento Nacional promove a sua imediata apreciação pelo Plenário ou pela


Comissão Permanente, no caso de o Parlamento Nacional não se encontrar em
funcionamento efectivo ou não ser possível a marcação imediata de reunião plenária.
2 – Ao debate aplica-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 186º.

Artigo 196º
Votação da autorização para declarar a guerra ou fazer a paz
A votação incide sobre a concessão da autorização solicitada.

Artigo 197º
Forma da autorização para declarar a guerra ou fazer a paz
A autorização toma a forma de resolução.

Artigo 198º
Convocação imediata do Plenário
Sempre que a autorização para a declaração de guerra ou feitura da paz seja
concedida pela Comissão Permanente, esta convoca de imediato o Plenário para reunir
no mais curto prazo possível, para efeitos de confirmação da autorização, à qual se
aplica o disposto nos artigos 189º e 190º.

Artigo 199º
Debate para confirmação da autorização da declaração de guerra ou feitura da paz
O debate sobre a confirmação da autorização para a declaração de guerra ou
feitura da paz não pode exceder um dia, aplicando-se, com as devidas adaptações, o
disposto no artigo 186º.

Subsecção III
Autorizações legislativas

Artigo 200º
Objecto, sentido, extensão e duração
1 - O Parlamento Nacional pode, através de lei, autorizar o Governo a fazer
decretos-leis, nos termos e sobre as matérias constitucionalmente previstos.
2 – A lei de autorização legislativa deve definir o objecto, o sentido, a extensão e a
duração da autorização solicitada.
3 – A duração da autorização legislativa pode ser prorrogada por período
determinado, mediante nova lei de autorização legislativa.

Artigo 201º
Iniciativa das autorizações legislativas e informação do Governo

251
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 – A iniciativa originária de pedido de autorização legislativa é da exclusiva


competência do Governo, revestindo a forma de proposta de lei.
2 – O Governo, quando tenha procedido a consultas públicas sobre um
anteprojecto de decreto-lei, deve, a título informativo, juntá-lo à proposta de lei de
autorização legislativa, acompanhado das tomadas de posição assumidas pelas
diferentes entidades interessadas na matéria em causa.

Subsecção IV
Plano e Orçamento Geral do Estado

Artigo 202º
Apresentação e distribuição
1 – A iniciativa originária de lei sobre o Plano e o Orçamento Geral do Estado é da
exclusiva competência do Governo.
2 – As propostas de lei do Plano e do Orçamento Geral do Estado relativas a cada
ano financeiro são apresentadas ao Parlamento Nacional nos prazos legalmente fixados.
3 – Admitidas as propostas de lei referidas no número anterior, o Presidente ordena
a sua distribuição imediata a todos os Deputados, começando pelas direcções das
bancadas parlamentares e Deputados únicos representantes de partido político ou
coligação partidária.
4 – As propostas de lei são, então, remetidas à comissão parlamentar permanente
competente em razão da matéria para as apreciar e elaborar relatório final e às
restantes comissões parlamentares competentes, para elaboração dos pareceres
parcelares a que se refere o artigo seguinte.

Artigo 203º
Exame pelas comissões parlamentares permanentes
1 – As comissões parlamentares competentes apreciam as partes das propostas de
lei que digam respeito às respectivas áreas de competências, elaborando parecer no
prazo de quinze dias.
2 – Os pareceres previstos no número anterior são enviados à comissão
parlamentar permanente competente em razão da matéria para apreciar e elaborar
relatório final sobre as propostas de lei, dispondo para o fazer do prazo de dez dias a
contar do termo do prazo previsto no número anterior.
3 – Para efeitos do cumprimento do disposto nos números anteriores, as comissões
parlamentares permanentes tomam as iniciativas e fazem as diligências que considerem
pertinentes e promovem as audições e reuniões de trabalho, com membros do Governo,
assessores e peritos, que se afigurem necessárias.

Artigo 204º
Agendamento da discussão e votação

252
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Recebido o relatório final sobre as propostas de lei, o Presidente, ouvida a


Conferência dos Líderes Parlamentares, agenda a discussão e votação na generalidade
e na especialidade das propostas de lei, nos termos dos artigos seguintes.

Artigo 205º
Discussão e votação na generalidade
1 – A discussão na generalidade das propostas de lei do Plano e do Orçamento
Geral do Estado tem a duração de dois ou três dias.
2 – O número de reuniões plenárias e o tempo global do debate na generalidade,
bem como a sua distribuição, são fixados pelo Presidente, ouvida a Conferência dos
Líderes Parlamentares.
3 – Na falta da decisão a que se refere o número anterior, há lugar a três reuniões
plenárias, aplicando-se à fixação e distribuição dos tempos de uso da palavra, com as
devidas adaptações, o disposto no artigo 155º para cada uma das reuniões plenárias.
4 – Em qualquer caso, o debate inicia-se com uma intervenção do Primeiro-
Ministro e encerra-se com uma intervenção de cada bancada parlamentar, Deputado
único representante de partido político ou coligação partidária e Governo, por esta
ordem.
5 – Durante o debate, a ordem de trabalhos das respectivas reuniões plenárias tem
como único ponto a discussão e votação na generalidade das propostas de lei do Plano
e do Orçamento Geral do Estado.

Artigo 206º
Discussão e votação na especialidade
1 – A discussão e votação na especialidade decorre em Plenário, não podendo a
sua duração exceder dez reuniões plenárias.
2 – À discussão e votação na especialidade aplicam-se os artigos 164º a 170º,
sendo, em qualquer caso, os orçamentos parcelares de cada ministério, órgão ou serviço
discutidos e votados, sucessivamente, pela ordem em que constem do respectivo texto.

Artigo 207º
Votação final global e redacção final
1 – Assim que terminada a discussão e votação na especialidade, as propostas de
lei são submetidas a votação final global.
2 – A redacção final dos textos incumbe à comissão parlamentar permanente
competente em razão da matéria para apreciar e elaborar o relatório final sobre as
propostas de lei.

CAPÍTULO III
APRECIAÇÃO DE ACTOS LEGISLATIVOS DO GOVERNO

253
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 208º
Requerimento de apreciação de decretos-leis
1 - O requerimento de apreciação de decreto-lei para efeito de cessação de
vigência ou de alteração, nos termos constitucionais, deve ser subscrito por pelo menos
um quinto dos Deputados em efectividade de funções e apresentado por escrito à Mesa
nos trinta dias subsequentes à respectiva publicação, descontados os períodos de
suspensão de período normal de funcionamento do Parlamento Nacional.
2 - O requerimento previsto no número anterior deve indicar o decreto-lei a
apreciar e a sua data de publicação, bem como, tratando-se de decreto-lei no uso de
autorização legislativa, a respectiva lei habilitante, devendo ainda conter sucinta
justificação de motivos
3 - À admissão do requerimento são aplicáveis, com as necessárias adaptações,
as regras dos artigos 138º e 140º.

Artigo 209º
Prazo de apreciação de decretos-leis
Se o decreto-lei sujeito a apreciação tiver sido emitido ao abrigo de autorização
legislativa, o Presidente deve agendar o seu debate até à sexta reunião plenária
posterior à apresentação do requerimento previsto no artigo anterior.

Artigo 210º
Apreciação de decretos-leis na generalidade
1 - O decreto-lei é directamente apreciado na generalidade pelo Plenário, não
havendo exame prévio em comissão.
2 - O debate é aberto por um dos autores do requerimento, tendo o Governo
direito a intervir.
3 - O debate não pode exceder duas reuniões plenárias.
4 – Sem prejuízo do disposto no n.o 2, compete à Conferência dos Líderes
Parlamentares determinar o número de reuniões plenárias a realizar, bem como organizar
o debate e fixar os respectivos tempos de uso da palavra.
5 – Na falta da decisão a que se refere o número anterior, há lugar a duas reuniões
plenárias, aplicando-se as regras previstas no artigo 155º, com as devidas adaptações,
por cada reunião plenária.

Artigo 211º
Votação e forma
1 - A votação na generalidade incide sobre a cessação de vigência.
2 - A cessação de vigência toma a forma de resolução.

Artigo 212º
Suspensão da vigência

254
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - Requerida a apreciação de um decreto-lei, e no caso de serem apresentadas


propostas de alteração, o Parlamento Nacional pode suspender, no todo ou em parte,
mediante resolução, a vigência do decreto-lei até à publicação da lei que o vier a
alterar ou até à rejeição de todas as propostas de alteração apresentadas.
2 - A suspensão prevista no número anterior caduca decorridas dez reuniões
plenárias sem que o Parlamento Nacional se tenha pronunciado a final sobre o decreto-
lei.

Artigo 213º
Cessação de vigência
No caso de cessação de vigência, o decreto-lei deixa de vigorar no dia da
publicação da resolução no Jornal da República, não podendo voltar a ser publicado
no decurso da mesma sessão legislativa.

Artigo 214º
Repristinação
A resolução a que se refere o artigo anterior deve especificar se a cessação de
vigência implica a repristinação de normas eventualmente revogadas pelo diploma em
causa.

Artigo 215º
Alteração do decreto-lei
1 - Se não for aprovada a cessação da vigência do decreto-lei e tiverem sido
apresentadas propostas de alteração, o decreto-lei e as propostas de alteração baixam
à comissão parlamentar competente para proceder à discussão e votação na
especialidade, salvo se o Plenário deliberar que esta ocorra em reunião plenária.
2 - As propostas de alteração podem ser apresentadas até ao termo do debate
na generalidade em Plenário, sem prejuízo do disposto no n.o 3 do artigo 167º.
3 – Se forem aprovadas alterações em comissão, o texto deve ser enviado ao
Plenário para, na reunião plenária seguinte, ser submetido a votação final global, ficando
o decreto-lei modificado nos termos da lei na qual elas se traduzam.
4 - Se forem rejeitadas todas as propostas de alteração admitidas e a vigência do
diploma se encontrar suspensa, o Presidente deve remeter para publicação no Jornal da
República a declaração do termo de suspensão.
5 - Se todas as propostas de alteração forem rejeitadas pela comissão parlamentar
competente, considera-se caduco o processo de apreciação, sendo o Plenário de
imediato informado do facto e a respectiva declaração remetida para publicação no
Jornal da República.
6 – Se, requerida a apreciação, o Parlamento Nacional não se tiver pronunciado
ou, havendo deliberado introduzir alterações, não tiver votado a respectiva lei até ao

255
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

termo da sessão legislativa em curso, desde que decorridas quinze reuniões plenárias,
considerar-se-á caduco o processo.

Artigo 216º
Revogação do decreto-lei
1 - Se o Governo, em qualquer momento, revogar o decreto-lei objecto da
apreciação, o respectivo processo é automaticamente encerrado.
2 – Se a revogação ocorrer durante o debate na especialidade, pode qualquer
Deputado adoptar o decreto-lei como projecto de lei, nos termos dos n.os 3 e 5 do artigo
135º.

CAPÍTULO IV
APRECIAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL

Artigo 217º
Iniciativa em matéria de tratados, convenções e acordos internacionais
1 - Os tratados e convenções sujeitos à ratificação do Parlamento Nacional e os
acordos internacionais sujeitos à sua aprovação e denúncia nos termos constitucionais,
doravante designados genericamente de “instrumentos de Direito Internacional”, são
enviados pelo Governo ao Parlamento Nacional através de proposta de resolução.
2 - O Presidente manda distribuir os textos da proposta de resolução e do
instrumento de Direito Internacional que a acompanhe, submetendo-os à apreciação da
comissão parlamentar competente em razão da matéria e, se for caso disso, de outra ou
outras comissões parlamentares.

Artigo 218º
Exame de instrumentos de Direito Internacional em comissão parlamentar
A comissão parlamentar competente emite relatório e parecer, sobre o
instrumento de Direito Internacional submetido à sua apreciação, no prazo previsto na
alínea b) do n.o 1 ou no n.o 2 do artigo 139º, consoante os casos.

Artigo 219º
Discussão de instrumentos de Direito Internacional
O debate do instrumento de Direito Internacional é único e tem lugar no Plenário,
aplicando-se à organização do debate e à fixação de tempos de uso da palavra, com
as devidas adaptações, o disposto nos n.os 3 e 4 do artigo 236º.

Artigo 220º
Votação de instrumentos de Direito Internacional

256
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

A votação, que tem lugar imediatamente após o encerramento do debate


previsto no número anterior, é global, incidindo sobre todo o texto do instrumento de
Direito Internacional.

Artigo 221º
Reservas ao instrumento de Direito Internacional
O texto de instrumento de Direito Internacional é insuceptível de modificações,
mas admite a formulação de reservas às suas disposições.

Artigo 222º
Efeitos da votação de instrumentos de Direito Internacional
Se o instrumento de Direito Internacional for aprovado ou ratificado, a resolução e
o texto daquele são enviados ao Presidente da República para os efeitos previstos na
alínea a) do artigo 85.º da Constituição.

Artigo 223º
Forma do acto parlamentar
1 - A aprovação, denúncia ou ratificação de instrumento de Direito Internacional
toma a forma de resolução.
2 - A resolução que aprove ou ratifique instrumento de Direito Internacional
contém obrigatoriamente, em anexo e como sua parte integrante, o texto desse
instrumento de Direito Internacional.

CAPÍTULO V
PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO POLÍTICA

Secção I
Apreciação do Programa do Governo

Artigo 224º
Reunião para apresentação e discussão do Programa do Governo
1 – As reuniões plenárias para apresentação e debate do Programa do Governo,
nos termos constitucionais, são fixadas pelo Presidente, em concertação com o Primeiro-
Ministro e ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, obrigando-se aquele a
entregar o texto escrito do Programa do Governo até pelo menos quarenta e oito horas
antes das datas marcadas para a mencionada apresentação e a realização do
respectivo debate.
2 – Se o Parlamento Nacional não se encontrar em funcionamento efectivo, o
Plenário é obrigatoriamente convocado, para os efeitos previstos no número anterior,
pela Comissão Permanente ou, na impossibilidade de esta reunir, pelo Presidente.

257
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 225º
Apreciação do Programa do Governo
1 – O Programa do Governo é submetido à apreciação do Plenário através de
uma declaração do Primeiro-Ministro, cuja duração não deve ultrapassar sessenta
minutos.
2 – Finda a apresentação da declaração prevista no número anterior, há lugar
imediatamente a um período de debate, organizado pela Conferência dos Líderes
Parlamentares.
3 – O debate não pode exceder cinco dias consecutivos, cabendo à Conferência
dos Líderes Parlamentares determinar quantas reuniões plenárias devem ser realizadas.
4 – Na falta da decisão prevista no número anterior, há lugar a três reuniões
plenárias.
5 – Se o texto escrito do Programa do Governo não tiver sido distribuído até vinte e
quatro horas antes de iniciada a declaração prevista no n.o 1, o debate só pode iniciar-
se vinte e quatro horas após a sua distribuição efectiva a todos os Deputados.
6 – As ordens de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate do
Programa do Governo têm como ponto único esse debate.

Artigo 226º
Debate sobre o Programa do Governo
1 – Na falta de organização do debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, observam-se para cada dia de reunião plenária, com as devidas
adaptações, as regras de atribuição e distribuição de tempos de uso da palavra
constantes do artigo 155º.
2 - Em qualquer caso, o debate termina com intervenções produzidas, respectiva
e sucessivamente, por um Deputado de cada bancada parlamentar, Deputados únicos
representantes de partido político ou coligação partidária e Primeiro-Ministro, dispondo
de um tempo adicional de 10 minutos por intervenção.

Artigo 227º
Moção de rejeição do Programa do Governo e voto de confiança
1 - Até ao encerramento do debate, e sem prejuízo deste, qualquer bancada
parlamentar pode propor a rejeição do Programa do Governo, através da apresentação
de moção de rejeição, ou o Governo solicitar a aprovação de um voto de confiança.
2- Qualquer moção de rejeição ou voto de confiança carece de ser apresentado
por escrito e entregue à Mesa, distribuindo-se o respectivo texto a todos os Deputados.
3 – Encerrado o debate, procede-se, na mesma reunião plenária em que ele
ocorrer, e após intervalo de pelo menos dez minutos, se requerido, à votação das
moções de rejeição e voto de confiança que hajam sido apresentados.
4 - Até à votação, podem ser retiradas as moções de rejeição e o voto de
confiança que hajam sido apresentados.

258
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

5 – Se for apresentada mais de uma moção de rejeição, a votação realiza-se pela


ordem da sua apresentação, sem prejuízo da eventual não aprovação de qualquer
delas.
6 – A rejeição do Programa do Governo, através da aprovação de moção de
rejeição, exige maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.
7 – O Presidente do Parlamento Nacional comunica ao Presidente da República,
para os efeitos previstos nas alíneas d) e e) do n.º 1 e no n.º 2 do artigo 112º da
Constituição, a aprovação da ou das moções de rejeição ou a não aprovação de um
voto de confiança.

Secção II
Voto de confiança

Artigo 228º
Reunião para apreciação de voto de confiança
1 - Se o Governo, nos termos do artigo 110º da Constituição, solicitar ao
Parlamento Nacional a aprovação de um voto de confiança sobre uma declaração de
política geral ou qualquer assunto de relevante interesse nacional, a respectiva discussão
inicia-se, em Plenário, no sétimo dia parlamentar posterior à apresentação do
requerimento de voto de confiança dirigido, por escrito, ao Presidente.
2 - Fora do período normal de funcionamento do Parlamento Nacional, o
requerimento do Governo previsto no número anterior só determina a convocação do
Plenário mediante prévia deliberação da Comissão Permanente, nos termos da alínea d)
do artigo 56º.
3 – O requerimento escrito previsto no n.o 1, introduzindo o voto de confiança, é
mandado distribuir a todos os Deputados assim que recebido pelo Presidente.

Artigo 229º
Debate do voto de confiança
1 - O debate não pode exceder três dias, iniciando-se sempre com uma
intervenção do Governo.
2 – Sem prejuízo do disposto na segunda parte do número anterior, compete à
Conferência dos Líderes Parlamentares determinar o número de reuniões plenárias a
realizar, organizar o debate e fixar os respectivos tempos de uso da palavra, aplicando-
se, na falta de decisão, as regras previstas no artigo 155º, com as devidas adaptações,
por cada reunião plenária e havendo, no total, duas reuniões plenárias.
3 - As ordens de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate do voto de
confiança têm como ponto único esse debate.
4 – O voto de confiança pode ser retirado, no todo ou em parte, pelo Governo,
até ao fim do debate.

259
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 230º
Votação do voto de confiança
1 - Encerrado o debate, procede-se imediatamente à votação do voto de
confiança na mesma reunião plenária.
2 – Se o voto de confiança não for aprovado, o facto é comunicado pelo
Presidente do Parlamento Nacional ao Presidente da República para os efeitos previstos
na alínea e) do n.º 1 e no n.º 2 do artigo 112º da Constituição.

Secção III
Moções de censura

Artigo 231º
Iniciativa de moção de censura
Podem ser apresentadas moções de censura ao Governo sobre a execução do
seu Programa ou assunto de relevante interesse nacional, nos termos constitucionais, por
iniciativa de pelo menos um quarto dos Deputados em efectividade de funções.

Artigo 232º
Debate da moção de censura
1 - O debate, que se inicia no prazo de dez dias a contar da apresentação da
moção de censura, é aberto e encerrado por um dos signatários da moção.
2 - O debate não pode exceder três dias.
3 – Sem prejuízo do disposto no n.o 1, ao debate aplica-se o disposto no artigo 229º,
com as devidas adaptações.
4 - A ordem de trabalhos das reuniões plenárias destinadas ao debate de moção
de censura tem como ponto único esse debate.

Artigo 233º
Votação da moção de censura
1 - Encerrado o debate, procede-se imediatamente à votação da moção de
censura na mesma reunião plenária.
2 - A moção de censura só se considera aprovada quando obtiver os votos da
maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.
3 - Se a moção de censura não for aprovada, os seus signatários não podem
apresentar outra durante a mesma sessão legislativa.
4 – No caso de aprovação de uma moção de censura, o Presidente do
Parlamento Nacional comunica o facto ao Presidente da República para os efeitos
previstos na alínea f) do n.º 1 do artigo 112º da Constituição.

Secção IV
Debates com o Governo

260
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 234º
Tipos de debates com o Governo
1 - Os debates com o Governo de natureza política, não enquadrados nos
restantes processos previstos no Regimento, revestem-se de uma das seguintes formas:
a) Debates gerais com o Governo;
b) Sessões de perguntas ao Governo;
c) Interpelações ao Governo sobre assuntos sectoriais de interesse nacional.
2 - Os debates previstos no número anterior não podem exceder um dia
parlamentar, não havendo lugar ao agendamento de quaisquer outros assuntos na
ordem de trabalhos da reunião plenária marcada para o efeito.

Artigo 235º
Debates gerais com o Governo
1 - Em cada sessão legislativa, é realizado, em Plenário, pelo menos um debate
com o Governo sobre política geral e governação.
2 – No debate previsto no número anterior é obrigatória a presença do Primeiro-
Ministro e de, pelo menos, metade dos membros do Governo.
3 – À organização do debate e distribuição dos tempos para uso da palavra
aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 3 e 4 do artigo seguinte.

Artigo 236º
Sessões de perguntas ao Governo
1 – Em cada sessão legislativa, são realizadas, em Plenário, pelo menos duas
sessões de perguntas ao Governo, sobre quaisquer assuntos de política interna ou
externa que possam ser respondidos pelos membros do Governo presentes.
2 – O Primeiro-Ministro não é obrigado a comparecer na reunião plenária
destinada a sessão de perguntas ao Governo, mas deve assegurar a presença do maior
número possível de membros do Governo, não inferior a um terço do seu elenco total.
3 – A reunião plenária para sessão de perguntas ao Governo é marcada pelo
Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, à qual cabe organizar o
debate e a distribuição de tempos para formular perguntas e apresentar respostas.
4 – Na falta de fixação de tempos de debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, aplicam-se os seguintes critérios de distribuição de tempos para uso da
palavra:
a) Cada Deputado dispõe de dois minutos para formular uma pergunta a membro
do Governo presente sobre área por si tutelada, o qual responde em igual tempo;
b) Um Deputado que não pretenda formular pergunta pode ceder o tempo
atribuído pela alínea anterior a Deputado que queira colocar mais do que uma
pergunta;

261
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) Cada ronda de perguntas não deve ultrapassar as dez, dando-se depois a


palavra aos membros do Governo interpelados para responderem, dentro dos limites de
tempo previstos na alínea a), ao conjunto de perguntas colocadas;
d) A Mesa deve conceder a palavra alternadamente a Deputados pertencentes
a diferentes bancadas parlamentares, de modo a evitar a concentração de perguntas
nas mesmas bancadas parlamentares;
e) O uso da palavra para pontos de ordem, requerimentos à Mesa, protestos e
contraprotestos, reclamações e recursos e defesa da honra ou consideração não é
considerado nos tempos previstos na alínea a).

Artigo 237º
Interpelações ao Governo
1 – A requerimento de dez Deputados ou pelo menos duas bancadas
parlamentares, podem realizar-se debates sobre determinado tema ou assunto de
actualidade escolhido pelos requerentes, com participação obrigatória dos membros do
Governo que tutelem a área respectiva.
2 – A pertinência do debate previsto no número anterior é decidida pela
Conferência dos Líderes Parlamentares, que, no caso de o aprovar, o organiza, fixando a
distribuição dos tempos para uso da palavra.
3 – Na falta de organização do debate pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, aplicam-se, com as devidas adaptações, os n.os 3 e 4 do artigo anterior.
4 – Em qualquer caso, o debate inicia-se e termina com intervenções de um
Deputado signatário ou um Deputado de bancada parlamentar interpelante e de um
membro do Governo.

Secção V
Perguntas e requerimentos escritos

Artigo 238º
Apresentação e tratamento das perguntas e requerimentos escritos
1 – As perguntas e os requerimentos escritos apresentados ao abrigo do disposto
nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 16º são numerados e remetidos pelo Presidente à
entidade competente.
2 – As perguntas e os requerimentos devem identificar claramente o destinatário
competente para prestar os esclarecimentos ou fornecer os elementos, informações ou
publicações solicitados.
3 – O Governo e a Administração Pública devem responder com a urgência que a
questão justificar, não devendo a resposta exceder o prazo de trinta dias.
4 – Sempre que o Governo ou a Administração Pública não possam responder no
prazo previsto no número anterior, devem comunicar tal facto por escrito ao Presidente

262
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

do Parlamento Nacional, apresentando sucintamente, também por escrito, a respectiva


fundamentação.

Artigo 239º
Perguntas e requerimentos não respondidos
Na primeira semana dos meses de Março, Julho e Novembro, é publicada no
Jornal do Parlamento Nacional uma lista das perguntas e requerimentos escritos, com
referência aos autores, datas de apresentação e resumos das questões colocadas, não
respondidos no prazo previsto no n.o 3 do artigo anterior.

Secção VI
Petições

Artigo 240º
Exercício de direito de petição
1 - O direito de petição previsto no artigo 48.º da Constituição e na lei exerce-se
perante o Parlamento por meio de petições, queixas ou reclamações.
2 – O termo “petição”, para efeitos do Regimento, abrange todas as modalidades
do direito de petição referidas no número anterior.

Artigo 241º
Forma
1 - As petições devem ser reduzidas a escrito e conter a identificação do seu titular
e o respectivo domicílio, devendo ainda ser por ele assinadas ou por outra pessoa, a seu
pedido, quando não possa ou não saiba assinar.
2 - As petições devem ser inteligíveis e especificar claramente o seu objecto.
3 - Nas petições com uma pluralidade de peticionários, é suficiente a identificação
e domicílio de um dos seus signatários.

Artigo 242º
Apresentação e processo
1 - As petições são dirigidas ao Presidente, que as remete à comissão parlamentar
competente em razão da matéria, depois de numeradas e registadas pelos serviços de
apoio competentes.
2 - Recebida a petição, a comissão parlamentar competente reúne para
proceder ao seu exame e verificar, desde logo, o seguinte:
a) Se ocorre alguma das causas legalmente previstas que determinem o
indeferimento liminar;
b) Se não foram observados os requisitos previstos no artigo anterior.
3 - O indeferimento liminar da petição implica o seu arquivamento, sendo
notificado o peticionário ou, havendo vários, o primeiro dos subscritores da petição.

263
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

4 – A comissão parlamentar competente pode, no entanto, fixar aos interessados


um prazo de trinta dias para suprirem a falta de qualquer dos requisitos previstos no artigo
anterior.

Artigo 243º
Exame pela comissão parlamentar
1 - A comissão parlamentar competente deve apreciar as petições no prazo
máximo de noventa dias, prorrogável a seu pedido, a contar da reunião a que se refere
o n.º 2 do artigo anterior, e elaborar relatório recomendando as providências que julgue
adequadas.
2 - Se ocorrer o caso previsto no n.º 4 do artigo anterior, o prazo estabelecido no
número anterior só começa a correr na data em que se mostrem supridas as deficiências
verificadas.
3 - A comissão parlamentar competente pode propor que a petição seja
submetida à apreciação do Provedor de Direitos Humanos e Justiça, devendo, neste
caso, o Presidente do Parlamento Nacional enviar-lhe o respectivo relatório para os
efeitos previstos no n.º 2 do artigo 27º da Constituição.

Artigo 244º
Apreciação de petição pelo Plenário
1 - A decisão sobre se determinada petição deve ser apreciada em Plenário
depende de deliberação da comissão parlamentar competente em razão da matéria.
2 - Elaborado o respectivo relatório pela comissão parlamentar competente, é o
mesmo enviado ao Presidente, que o agenda para apreciação em Plenário.
3 – No debate intervêm apenas um Deputado de cada bancada parlamentar e
os Deputados únicos representantes de partido político ou coligação partidária,
dispondo cada um deles de cinco minutos.

Artigo 245º
Comunicação ao autor ou autores da petição
O Presidente comunica, por escrito, ao autor ou, havendo vários, ao primeiro dos
autores da petição o relatório da comissão parlamentar competente e as diligências
subsequentes que tenham sido adoptadas.

Secção VII
Inquéritos parlamentares

Artigo 246º
Objecto dos inquéritos parlamentares
1 - Os inquéritos parlamentares destinam-se a averiguar do cumprimento da
Constituição e das leis e a apreciar os actos do Governo e da Administração Pública.

264
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - Os inquéritos parlamentares são realizados através da constituição de


comissões parlamentares eventuais especialmente constituídas para cada caso
específico, através de resolução do Parlamento.

Artigo 247º
Constituição da comissão parlamentar de inquérito e realização do inquérito
1 - A iniciativa da constituição das comissões parlamentares eventuais de inquérito
e a realização do inquérito processam-se nos termos previstos no presente artigo e na lei.
2 - As comissões parlamentares eventuais de inquérito são criadas mediante
proposta de pelo menos quinze Deputados ou uma bancada parlamentar e a sua
composição deve reflectir o princípio da proporcionalidade dos Deputados que
compõem as bancadas parlamentares.
3 - A iniciativa de constituição de comissão parlamentar eventual de inquérito
carece de aprovação por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.
4 – O Presidente deve, antes de agendar o debate da iniciativa, confirmar junto
do Procurador-Geral da República que não existe qualquer processo pendente em
tribunal sobre a matéria objecto do inquérito proposto, só submetendo a iniciativa a
discussão no caso de obter tal confirmação.
5 – No debate sobre a iniciativa intervêm apenas um dos proponentes da
iniciativa, o Primeiro-Ministro ou outro membro do Governo, um Deputado de cada
bancada parlamentar e os Deputados únicos representantes de partido político ou
coligação partidária, dispondo cada um deles do tempo máximo de dez minutos.
6 - A resolução que crie comissão parlamentar eventual de inquérito deve conter
uma justificação de motivos, a definição do objecto do inquérito, o número dos
Deputados que constituem a comissão e o prazo para emitir o respectivo relatório, que
pode ser prorrogado a pedido daquela.

Artigo 248º
Funcionamento e poderes das comissões parlamentares de inquérito
1 – O Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, fixa o número
de membros que devem compor comissão parlamentar eventual de inquérito, dá-lhes
posse e determina o prazo da realização do inquérito, quando a resolução que tenha
criado a comissão não o tenha feito expressamente.
2 – As comissões parlamentares de inquérito gozam dos poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais e dos demais poderes e direitos previstos na lei.

CAPÍTULO VI
PROCESSOS RELATIVOS A OUTROS ÓRGÃOS

Secção I
Processos relativos ao Presidente da República

265
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Subsecção I
Investidura e posse do Presidente da República

Artigo 249º
Reunião do Parlamento Nacional
1 - O Parlamento Nacional reúne especialmente, em Plenário, para a investidura e
posse do Presidente da República, nos termos do artigo 77º da Constituição.
2 - Se o Parlamento Nacional não estiver em funcionamento efectivo, deve o
Plenário ser convocado para o efeito pela Comissão Permanente ou, na falta desta, pelo
Presidente do Parlamento Nacional.

Artigo 250º
Formalidades a observar
1 - Aberta a reunião plenária, o Presidente do Parlamento Nacional interrompe-a
para receber o Presidente da República eleito e os convidados.
2 - Reaberta a reunião, o Presidente do Parlamento Nacional manda ler a acta do
apuramento dos resultados nacionais da eleição pelo Secretário da Mesa.
3 - O Presidente da República eleito é investido pelo Presidente do Parlamento
Nacional e toma posse em cerimónia pública, perante os Deputados e os representantes
dos outros órgãos de soberania, prestando a declaração de juramento estabelecida no
n.º 3 do artigo 77º da Constituição, após o que se executa o Hino Nacional.
4 - O auto de posse é assinado pelo Presidente da República e pelo Presidente do
Parlamento Nacional.

Artigo 251º
Actos solenes subsequentes
1 - Após a assinatura do auto de posse, o Presidente do Parlamento Nacional
saúda o novo Presidente da República.
2 – De seguida, o Presidente da República dirige mensagem ao Parlamento
Nacional e à Nação.
3 - Após as palavras do Presidente da República, o Presidente do Parlamento
Nacional declara encerrada a reunião plenária, sendo de novo executado o Hino
Nacional.

Subsecção II
Assentimento para a ausência do Presidente da República do território nacional

Artigo 252º
Iniciativa

266
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

1 - O Presidente da República solicita assentimento ao Parlamento Nacional para


se ausentar do território nacional por meio de mensagem escrita, conforme o disposto no
artigo 80.º da Constituição.
2 – Se o Parlamento Nacional não estiver em funcionamento efectivo, o
assentimento é apreciado e, se for o caso, dado pela Comissão Permanente.
3 – A mensagem a que se refere o n.o 1 é distribuída a todos os Deputados antes
do início da reunião destinada à sua apreciação.

Artigo 253º
Discussão sobre o assentimento à ausência
O debate sobre o assentimento à ausência, em reunião plenária ou da Comissão
Permanente, consoante os casos, tem por base a mensagem do Presidente da República
e nele têm direito a intervir, pelo tempo máximo de três minutos, um Deputado de cada
bancada parlamentar e os Deputados únicos representantes de partido político ou
coligação partidária.

Artigo 254º
Forma do acto de assentimento à ausência
A deliberação do Parlamento Nacional toma a forma de resolução.

Subsecção III
Renúncia do Presidente da República

Artigo 255º
Reunião do Parlamento Nacional em caso de renúncia do Presidente da República
1 - No caso de renúncia do Presidente da República, o Parlamento Nacional
reúne-se para tomar conhecimento da mensagem prevista no artigo 81.º da
Constituição, no prazo de quarenta e oito horas a contar da recepção da mensagem.
2 - Não há lugar a debate.

Subsecção IV
Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais do Presidente da República

Artigo 256º
Iniciativa
1 - Para efeitos do previsto no n.º 2 do artigo 79º da Constituição, a iniciativa do
processo compete ao Parlamento Nacional, mediante proposta de um quinto e
deliberação aprovada por maioria de dois terços de todos os Deputados em
efectividade de funções.
2 - O Parlamento Nacional deve constituir uma comissão parlamentar eventual
especial a fim de elaborar relatório no prazo que lhe for fixado.

267
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 257º
Discussão e votação
1 - Recebido o relatório a que se refere o n.o 2 do artigo anterior, o Presidente do
Parlamento Nacional marca, dentro das quarenta e oito horas susbsequentes, reunião
extraordinária do Plenário para dele se ocupar.
2 - No termo do debate, ao qual se aplica, com as devidas adaptações, o
disposto no artigo 155º, o Presidente do Parlamento Nacional coloca à votação, por
escrutínio secreto, a iniciativa, que deve ser aprovada por maioria de dois terços dos
Deputados em efectividade de funções.
3 - O levantamento da imunidade do Presidente da República em conformidade
com o disposto nos n.os 3 e 7 do artigo 79.º da Constituição é igualmente efectuado por
iniciativa do Parlamento Nacional, através de resolução.

Secção II
Efectivação da responsabilidade criminal de membros do Governo

Artigo 258º
Discussão e votação sobre suspensão e imunidades de membros do Governo
1 - As necessárias deliberações do Parlamento Nacional previstas nos artigos 113.º
e 114.º da Constituição, que revestem a forma de resolução, são tomadas por escrutínio
secreto e maioria absoluta dos Deputados presentes, precedendo parecer de comissão
parlamentar especialmente constituída para o efeito.
2 – Ao respectivo processo de discussão e votação aplica-se, com as necessárias
adaptações, o disposto no n.o 2 do artigo 256º e no artigo anterior.

Secção III
Designação de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional

Artigo 259º
Eleição de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional
1 - O Parlamento Nacional elege, nos termos estabelecidos na Constituição ou na
lei, os titulares dos cargos exteriores ao Parlamento Nacional cuja designação lhe
compita, revestindo a proclamação dos titulares eleitos a forma final de resolução.
2 - Na falta de disposições constitucionais ou legais directamente aplicáveis,
observa-se o disposto nos artigos seguintes.

Artigo 260º
Apresentação de candidaturas
1- As candidaturas são apresentadas por um mínimo de cinco e um máximo de
quinze Deputados ou por qualquer bancada parlamentar.

268
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

2 - A apresentação é feita perante o Presidente até ao termo da penúltima


reunião anterior àquela em que tiver lugar a eleição, acompanhada do curriculum vitae
do candidato e da correspondente declaração de aceitação de candidatura.

Artigo 261º
Sufrágio na eleição de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional
1 - Considera-se eleito o candidato que obtiver mais de metade dos votos
validamente expressos.
2 - Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, procede-se a
segundo sufrágio, ao qual concorrerão apenas os dois candidatos mais votados cuja
candidatura não tenha sido retirada.

Artigo 262º
Sistema de representação proporcional
Sempre que tenha de se aplicar o sistema de representação proporcional, a
eleição é por lista completa, adoptando-se o método da média mais alta de Hondt.

Artigo 263º
Reabertura do processo
No caso de não apresentação de candidaturas ou não eleição de candidatos, o
processo é reaberto no prazo máximo de trinta dias.

TÍTULO VII
REPRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL DENTRO E FORA DO TERRITÓRIO NACIONAL

Artigo 264º
Disposição geral
As relações institucionais do Parlamento Nacional com os restantes órgãos de
soberania nacionais, parlamentos de outros países e outras entidades ou instituições
nacionais, internacionais ou estrangeiras processam-se:
a) Por intermédio do Presidente, que representa, em geral, o Parlamento Nacional;
b) Através de delegações parlamentares a eventos no território nacional ou no
estrangeiro, com missões determinadas;
c) Mediante os grupos parlamentares de amizade.

Artigo 265º
Protocolo e ordem de precedências
As regras de protocolo e ordem de precedências de Deputados para efeitos de
participação em eventos solenes ou representação institucional, dentro ou fora do
Parlamento Nacional, são fixadas por resolução, que deverá conjugá-las com as normas
que rejam o protocolo do Estado.

269
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 266º
Delegações parlamentares
1 – As delegações parlamentares são, em princípio, plurais.
2 - Os Deputados que devam compor determinada delegação parlamentar são
indicados, por despacho escrito, pelo Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes
Parlamentares, cabendo aos líderes parlamentares propor os respectivos Deputados que
devam integrar a delegação.
3 – A composição das delegações parlamentares deve incluir Deputados de todas
as bancadas parlamentares e, sempre que possível, Deputados únicos representantes de
partidos políticos ou coligações partidárias e Deputados independentes.
4 – Não sendo possível compor delegação parlamentar nos termos do número
anterior, a respectiva composição é determinada pela Conferência dos Líderes
Parlamentares, respeitando-se o princípio da proporcionalidade da representatividade
dos partidos políticos ou coligações partidárias com assento parlamentar, de modo a
que sejam indicados os Deputados das bancadas parlamentares com maior
representatividade em número suficiente a preencher a delegação parlamentar fixada.
5 – Quando não se justifique a representação de todas ou, nos termos do número
anterior, parte das bancadas parlamentares, devem ser indicados para formar a
delegação parlamentar um Deputado da maioria parlamentar que apoie o Governo e
um Deputado da oposição.
6 – Em casos excepcionais, por consenso estabelecido na Conferência dos Líderes
Parlamentares ou no Plenário, a representação do Parlamento Nacional pode ser
assegurada por um só Deputado.
7 – Em qualquer das situações previstas nos números anteriores, podem ser
designados membros da Mesa, incluindo o Presidente, para formar delegações
parlamentares.
8 – A chefia das delegações parlamentares deve, em regra, ser atribuída,
alternadamente, a Deputados das três maiores bancadas parlamentares.
9 – As delegações parlamentares são acompanhadas por um ou mais funcionários
parlamentares ou assessores contratados para o efeito, consoante as suas áreas de
especialidade, na medida das possibilidades em recursos humanos do Parlamento
Nacional e das necessidades concretas da missão que esteja em causa.
10 – O despacho escrito a que se refere o n.o 2 deve mencionar o objectivo da
missão em que a delegação parlamentar fique investida, assim como indicar os seus
membros e quem a chefia.
11 – Finda a respectiva missão, a delegação parlamentar elabora relatório das
actividades desenvolvidas, assinado por quem a haja chefiado e pelo respectivo relator,
e apresenta-o, no prazo máximo de sessenta dias, ao Presidente, para este o submeter à
apreciação do Plenário e promover a sua publicação no Jornal do Parlamento Nacional.

270
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

12 - Ultrapassado o prazo previsto no número anterior sem que o relatório nele


referido tenha sido apresentado, ficam os Deputados responsáveis pela falha impedidos
de integrar missões ao estrangeiro até à apresentação do relatório em falta.
13 – Os princípios do regime das delegações parlamentares constante dos
números anteriores são regulamentados por resolução.

Artigo 267º
Grupos parlamentares de amizade
1 – Os grupos parlamentares de amizade são organismos, constituídos por
Deputados do Parlamento Nacional, vocacionados para o diálogo e a cooperação com
os parlamentos de países amigos de Timor-Leste.
2 – Os grupos parlamentares de amizade promovem as acções necessárias à
intensificação das relações entre os Deputados do Parlamento Nacional e parlamentares
de outros Estados, designadamente:
a) Intercâmbio geral de conhecimentos e experiências;
b) Estudo das relações bilaterais e do seu enquadramento nas alianças, instituições
ou organizações de que os Estados envolvidos façam parte ou em que participem;
c) Divulgação e promoção de interesses e objectivos comuns nos domínios
político, económico, social e cultural;
d) Troca de informações e consultas mútuas tendo em vista a eventual articulação
de posições em organismos internacionais de natureza interparlamentar, sem prejuízo da
plena autonomia de cada grupo nacional;
e) Reflexão conjunta sobre problemas envolvendo os Estados amigos e os seus
nacionais e busca de soluções que relevem da competência legislativa de cada um;
f) Valorização do papel, histórico e actual, das comunidades de emigrantes
respectivos porventura existentes.
3 – O Plenário define, através de resolução, as restantes matérias relativas aos
grupos parlamentares de amizade, nomeadamente o seu âmbito de actuação, a sua
designação, os seus poderes e órgãos, a sua composição, a sua organização e
funcionamento, as actividades a desenvolver por si e as respectivas fontes de
financiamento.

Artigo 268º
Elenco dos grupos parlamentares de amizade
1 – O elenco dos grupos parlamentares de amizade é fixado, no início da
legislatura, por deliberação do Plenário, sob proposta do Presidente, ouvida a
Conferência dos Líderes Parlamentares.
2 – Quanto se justifique, o Plenário delibera, igualmente sob proposta do
Presidente, ouvida a Conferência dos Líderes Parlamentares, a constituição de outros
grupos parlamentares de amizade para além dos constituídos nos termos do n.o 1.

271
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Artigo 269º
Secretariado dos grupos parlamentares de amizade
Os grupos parlamentares de amizade são apoiados, administrativa e
tecnicamente, pelos funcionários do Parlamento Nacional e assessorias adequadas, na
medida das possibilidades em recursos humanos do Parlamento Nacional.

TÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AO REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

Artigo 270º
Princípios gerais da organização e actividade parlamentar
São princípios gerais da organização do Parlamento Nacional e da actividade
parlamentar, processual ou difusa, os da:
a) Proporcionalidade na distribuição dos tempos de uso da palavra em debates
parlamentares e na composição de órgãos parlamentares colegiais em função da
representatividade das bancadas parlamentares e Deputados independentes ou únicos
representantes de partido político ou coligação partidária;
b) Afastamento por consenso ou unanimidade da aplicação de normas
regimentais meramente disciplinadoras ou organizativas;
c) Prevalência de norma especial sobre norma geral;
d) Aplicação supletiva das normas que regem o processo legislativo comum aos
processos legislativos e de resolução especiais e a outros processos especiais de natureza
não legislativa;
e) Recurso à analogia e aos princípios gerais de Direito para integração de
lacunas;
f) Nulidade de deliberação de órgão parlamentar colegial tomada
tumultuosamente ou com inobservância de quórum ou maioria constitucional ou
legalmente exigidos.

Artigo 271º
Interpretação de normas e integração de lacunas do Regimento
1 - Compete à Mesa interpretar o Regimento e integrar as suas lacunas.
2 - Constituem Direito subsidiário, a observar na integração de lacunas do
Regimento, para além do que se prevê na alínea e) do artigo anterior:
a) As práticas, usos e costumes pacificamente aceites nos parlamentos nacionais
baseados no modelo de assembleia representativa eleita por sufrágio directo, periódico
e universal;
b) A legislação geral da Administração Pública e os princípios gerais de Direito
Administrativo, quanto à organização e funcionamento dos órgãos parlamentares e à
tramitação de procedimentos administrativos;

272
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

c) A legislação respeitante ao processo civil e ao processo penal e os príncipios


gerais de Direito Processual, no que diz respeito à tramitação dos processos legislativos,
comum e especiais, e dos restantes processos relativos às funções electiva, política e
fiscalizadora da competência do Parlamento Nacional.
3 – Das decisões da Mesa sobre a interpretação do Regimento e a integração das
suas lacunas cabe reclamação, assim como recurso para o Plenário.

Artigo 272º
Alterações ao Regimento
1 – O Regimento pode ser alterado pelo Parlamento Nacional, através de projecto
de regimento, por iniciativa de qualquer Deputado.
2 – Os projectos de regimento devem obedecer aos requisitos previstos nas alíneas
a), b), c) e e) do n.o 1 do artigo 137º.
3 – Admitido qualquer projecto de regimento, o Presidente ordena a sua
distribuição a todos os deputados e envia o texto à comissão parlamentar competente
para a sua apreciação inicial.
4 – O texto, concluída a sua apreciação inicial, é discutido e votado, na
generalidade e na especialidade, na mesma comissão parlamentar, que, uma vez
integradas todas as alterações aprovadas, envia o texto global ao Presidente, a fim de
ser sujeito a votação final global.
5 - O novo Regimento só é aprovado se obtiver o voto favorável da maioria
absoluta dos Deputados presentes.
6 – A comissão parlamentar competente procede à redacção final do texto.
7 – O Regimento, com as alterações inscritas no lugar próprio, é objecto de nova
publicação no Jornal da República.
8 – Aplicam-se supletivamente à discussão e votação dos projectos de regimento
as regras que regem o processo legislativo comum.

TÍTULO IX
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Artigo 273º
Contagem dos prazos regimentais
1 - Salvo norma especial em contrário, os prazos previstos no Regimento são
contados em dias seguidos.
2 - No cômputo dos prazos não se inclui o dia da prática do acto, começando o
prazo a contar a partir do dia seguinte.
3 - Quando o termo de um prazo coincidir com sábado, domingo ou feriado,
aquele transfere-se para o dia útil imediatamente seguinte.

Artigo 274º

273
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

Transcrição integral dos registos sonoros das reuniões plenárias


Enquanto não existirem meios humanos e técnicos capazes de assegurar o
cumprimento do disposto no n.o 2 do artigo 74º, os serviços de apoio competentes e a
Mesa garantem a elaboração de súmulas das reuniões plenárias, contendo, pelo menos,
os elementos constantes do n.o 1 do artigo 74º.

Artigo 275º
Bancadas parlamentares unipessoais existentes
Mantêm a sua existência, durante a legislatura em curso à data da publicação do
presente Regimento, as bancadas parlamentares constituídas com um só Deputado,
contra o disposto no n.o 2 do artigo 21º.

Artigo 276º
Norma revogatória
São revogados:
a) O Regimento do Parlamento Nacional publicado no Jornal da República, Série I,
n.o 2, 1º Suplemento, de 11 de Junho de 2003;
b) A Resolução do Parlamento Nacional n.o 11/2007, de 6 de Agosto (Altera o
artigo 29.o do Regimento).

Artigo 277º
Entrada em vigor
O presente Regimento entra em vigor no dia 15 de Setembro de 2009.

274
COOPERAÇÃO PARLAMENTAR LUSO-TIMORENSE

______________________________________________________________________________

ÍNDICE DO ANTEPROJECTO DE NOVO REGIMENTO DO PARLAMENTO NACIONAL

Título I: Disposições gerais


Título II: Mandato Parlamentar, Deputados e Bancadas Parlamentares
Capítulo I: Mandato parlamentar
Capítulo II: Poderes dos Deputados
Capítulo III: Direitos, deveres, incompatibilidades e impedimentos dos Deputados
Capítulo IV: Bancadas parlamentares e Deputados não agrupados
Título III: Organização e funcionamento do Parlamento Nacional
Capítulo I: Disposições genéricas
Capítulo II: Presidente
Capítulo III: Mesa
Capítulo IV: Conferência dos Representantes das Bancadas Parlamentares
Capítulo V: Plenário
Capítulo VI: Comissão Permanente
Capítulo VII: Comissões parlamentares
Secção I: Regras gerais
Secção II: Comissões parlamentares permanentes
Secção III: Comissões parlamentares eventuais
Título IV: Funcionamento dos órgãos parlamentares colegiais
Capítulo I: Disposições comuns
Capítulo II: Reuniões
Secção I: Trabalhos do Plenário
Secção II: Trabalhos das comissões e subcomissões parlamentares
Título V: Publicidade dos actos e da actividade do Parlamento Nacional
Título VI: Formas de processo
Capítulo I: Disposições introdutórias
Capítulo II: Processos legislativos e de resolução
Secção I: Processo legislativo comum
Subsecção I: Iniciativa processual
Subsecção II: Apreciação inicial
Subsecção III: Discussão e votação na generalidade
Subsecção IV: Discussão e votação na especialidade
Subsecção V: Votação final global
Subsecção VI: Redacção final
Subsecção VII: Promulgação e reapreciação de decretos do Parlamento Nacional
Secção II: Processos legislativos e de resolução especiais
Subsecção I: Autorização e confirmação da declaração do estado de sítio ou do estado de emergência e apreciação da sua aplicação
Subsecção II: Autorização para declarar a guerra ou fazer a paz
Subsecção III: Autorizações legislativas
Subsecção IV: Plano e Orçamento Geral do Estado
Capítulo III: Apreciação de actos legislativos do Governo
Capítulo IV: Apreciação de instrumentos de Direito Internacional
Capítulo V: Processos de orientação e fiscalização política
Secção I: Apreciação do Programa do Governo
Secção II: Voto de confiança
Secção III: Moções de censura
Secção IV: Debates com o Governo
Secção V: Perguntas e requerimentos escritos
Secção VI: Petições
Secção VII: Inquéritos parlamentares
Capítulo VI: Processos relativos a outros órgãos
Secção I: Processos relativos ao Presidente da República
Subsecção I: Investidura e posse do Presidente da República
Subsecção II: Assentimento para a ausência do Presidente da República do território nacional
Subsecção III: Renúncia do Presidente da República
Subsecção IV: Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais do Presidente da República
Secção II: Efectivação da responsabilidade criminal de membros do Governo
Secção III: Designação de titulares de cargos exteriores ao Parlamento Nacional
Título VII: Representação institucional dentro e fora do território nacional
Título VIII: Disposições relativas ao Regimento do Parlamento Nacional
Título IX: Disposições finais e transitórias

275

Vous aimerez peut-être aussi