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Este exame tem a duração de 2h, com meia hora de tolerância, sendo constituído por 20 alíneas de 1 valor cada.
A hélice alfa é um dos tipos de estrutura secundária que um polipéptido pode adquirir, ao enrolar-se
sob a forma de (tal como o nome indica) uma hélice. Esta estrutura surge como resultado do
estabelecimento de pontes de hidrogénio entre o grupo carboxilo de um resíduo de aminoácido e o
grupo amina do resíduo do aminoácido localizado quatro resíduos a seguir. (AWTB)
1B – Porque motivo é frequente encontrar uma ou mais hélices alfa nas proteínas transmembranares?
A estrutura das hélices alfa é favorável à neutralização das ligações peptídicas estabelecidas entre os
resíduos de aminoácidos do polipéptido. Deste modo, e se os aminoácidos presentes na hélice alfa
forem apolares, essa zona da proteína tem reunidas as condições de apolaridade que lhe permitem
localizar-se na zona apolar da bicamada fosfolipídica, sem interferir com as cadeias de ácidos gordos
dos fosfolípidos nem com o colesterol aí presente. (AWTB)
2 – Na década de 1960 foi definido o “dogma central da Biologia Molecular”, segundo o qual DNA dá
origem a RNA e RNA dá origem a proteína. Comente este conceito com base nos conhecimentos
actuais.
Com base nos conhecimentos actuais, tendo em conta que foi descoberta a transcriptase reversa em
retrovírus, o dogma enunciado está ultrapassado. Assim, com a utilização esta enzima, é possível obter
DNA (cDNA) a partir de RNA que lhe serve de molde.
Para além desta enzima a descoberta do mecanismo de splicing alternativo permitiu ultrapassar a ideia
de que 1 DNA origina 1 RNA que por sua vez origina 1 proteína, passando a compreender-se como um
só RNA poderia originar diferentes proteínas. (DB)
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3 – Considere uma célula humana em proliferação.
3A – Indique as várias fases do ciclo celular, descrevendo os principais processos que ocorrem em
cada uma delas.
Podemos dividir o ciclo celular em duas grandes fases: interfase e fase mitótica. Em interfase temos,
sequencialmente, a fase G1, em que ocorre a síntese de biomoléculas, assim como crescimento celular; segue-se
a fase S em que ocorre a replicação do DNA(e onde cada cromossoma passa assim a ser constituído por 2
cromatídeos-irmãos); posteriormente, na fase G2, a célula continua a crescer e ocorre igualmente síntese de
proteínas. Depois da interfase ocorre a fase mitótica, onde se dá a divisão celular. Esta fase subdivide-se em 4
fases principais: profase (onde se dá a desagregação do invólucro nuclear, condensação da cromatina, migração
dos centrossomas para os pólos da célula e início da formação do fuso mitótico), metafase (os microtúbulos do
fuso mitótico ligam-se às proteínas do cinetocoro dos cromossomas, alinhando-os numa placa equatorial),
anafase (ascensão polar dos cromatídeos-irmãos, que se separam, migrando cada um para pólos opostos da
célula, fenómeno responsável pela distribuição equitativa dos cromossomas pelas duas células-filhas) e telofase
(reformar-se o invólucro nuclear em volta dos cromatídeos-irmãos, agora separados, e desagrega-se o fuso
mitótico). Por fim, dá-se a citocinese, na qual se forma um anel contráctil de filamentos de actina e miosina II,
responsável pela separação da membrana, originando-se assim duas células-filhas. (H.A.C.C.)
3B – Que motivos podem impedir uma célula de completar o seu ciclo celular?
A ausência de factores de crescimento (G1), lesões no DNA (G1, S e G2), replicação incompleta do
DNA (S e G2) e alinhamento incorrecto dos cromossomas (M) são os principais motivos que levam os
mecanismos de controlo (checkpoints) a bloquear o ciclo celular, impedindo a célula de completar o
seu ciclo. (H.A.C.C.)
3C – Indique um destino possível de uma célula que entrou em ciclo mas que não pode completar a
divisão. Justifique.
Uma das razões para a célula não completar a divisão poderá ser a existência da danos ao nível do
DNA. Se esses danos não conseguirem ser reparados, a célula poderá prosseguir para apoptose, por
forma a evitar-se que a mutação ocorrida seja transmitida às células-filhas. Neste caso, o DNA na
molécula de DNA é detectado pela proteína ATM, que irá fosforilar a proteína Chk2 e, juntas, irão
fosforilar a p53, estabilizando e aumentando a sua concentração celular. A p53 fosforilada vai
estimular a transcrição da p21 que inibirá o ciclo celular por inactivação do complexo ciclina E/Cdk2.
Caso não se consiga repara o dano, a p53 estimulará então a transcrição, desta vez, de proteínas pro-
apoptóticas (como, por exemplo, PUMA e Noxa) que irão levar à libertação do citocromo c das
mitocôndrias e à activação das caspases, promovendo a apoptose. (A.W.T.S.)
4 – Comente a seguinte frase: “Ao injectar o núcleo de uma célula de cenoura num ovo de rã cujo
núcleo foi previamente removido, consegue-se reprogramar o ovo de modo a dar origem a uma
cenoura.”
O processo descrito refere-se à prática da clonagem de um ser vivo a partir do genoma contido
no núcleo de uma célula somática. No entanto, este processo apenas tem sido aplicado com sucesso
quando o núcleo da célula somática é injectado num ovo da mesma espécie. Se o núcleo do ovo da rã
for removido, e for injectado um núcleo de uma célula de cenoura, a célula resultante terá o DNA
genómico proveniente da célula de cenoura. Como a informação genética presente no ovo é do genoma
da cenoura, as células resultantes da divisão deste ovo vão ter características de cenoura. No entanto,
irão faltar nestas células os cloroplastos, organitos que tal como as mitocôndrias têm DNA próprio. Por
outro lado, as mitocôndrias presentes nestas células são as da rã, porque o que foi substituído foi
apenas o núcleo e não o citoplasma, tendo esta célula o DNA mitocondrial da rã. Assim, é pouco
provável que o embrião resultante deste ovo seja viável. (Adaptado de MCGBF).
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5 – Durante a replicação do DNA no núcleo das células humanas:
6 – Comente a seguinte frase: “Nas células humanas, os microtúbulos exercem funções apenas durante
a mitose.”
7 – Qual a vantagem evolutiva de existirem longos intrões nos genes dos organismos mais complexos?
Os longos intrões existentes nos genes são importantes para a geração de maior variabilidade genética
entre indivíduos, o que se reflecte numa vantagem evolutiva. As mutações que ocorrem no interior dos
intrões de um gene, desde que não afectem as sequências consenso que são reconhecidas pelo
spliceossome, não vão afectar a síntese da proteína codificada por esse gene, uma vez que os intrões
são sequências não codificantes que são removidas pelo splicing antes da formação do mRNA. Assim
essas mutações não vão ter consequências fenotípicas para o indivíduo e vão propagar-se ao longo das
gerações, podendo originar polimorfismos.
Os intrões têm várias funções vantajosas: introduzem diversidade, promovem o “alternative splicing” –
em genes com vários exões, a combinação de diferentes exões conduz à formação de diferentes
proteínas com diferentes domínios – logo, diferentes funções e localizações - , e o “exon shuffling” –
exões de diferentes genes combinam-se formando novas proteínas, o que é facilitado quando os intrões
são longos. A introdução de variabilidade está ligada à evolução.
(ATCS) (ALAC)
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8 – Um aluno de engenharia biomédica pretende construir um sensor de temperatura com base numa
membrana celular. Qual o fundamento para esta ideia?
A membrana celular separa o meio intracelular do meio extracelular, pelo que é determinante na
integridade das células.
Sabe-se que a membrana celular é extremamente sensível a alterações de temperatura, havendo
alterações, nomeadamente, da sua fluidez e permeabilidade (aliás, daí ser essencial a existência do
colesterol para controlar essa fluidez). De um modo geral, com aumento de temperatura acima da
temperatura normal a que uma determinada célula está exposta, aumenta a energia cinética das
moléculas e, portanto, a fluidez; o contrário se passa com a descida da temperatura. Este seria o
fundamento básico para a construção de um sensor de temperatura com base numa membrana
celular.(AVV)
9 – Considere uma molécula de estrogénio e uma molécula de factor de crescimento derivado das
plaquetas (PDGF).
9C – Indique um exemplo de célula que responde ao estrogénio e um exemplo de célula que responde
ao PDGF.
Células que respondem aos estrogénios - células da glândula mamária, do endométrio, dos ovários.
Células que respondem ao PDGF- fibroblastos, células da musculatura lisa vascular, células da glia.
As semelhanças entre os mecanismos de acção destas duas moléculas são: o facto de ambas serem
moléculas sinalizadoras que se ligam a receptores específicos, condicionando a expressão de genes
alvo, por mecanismos diferentes, que acabam por activar a proliferação celular.
As diferenças são o facto dos estrogénios se ligarem a receptores intracelulares de células alvo,
formando um complexo capaz de estimular directamente a transcrição por activação da HAT-
acetiltransferase das histonas, enquanto o PDGF se liga às células alvo por um receptor
transmembranar com actividade de proteína tirosina-cinase provocando uma cascata de fosforilações
que culminam na activação de factores de transcrição específicos de genes que promovem a entrada em
fase S. (ICME)
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10 – Nas células humanas as proteínas são degradadas e recicladas por proteases.
10A – Indique 3 tipos distintos de proteases humanas e refira a sua localização na célula.
De entre as várias proteases humanas, posso destacar as caspases, existentes no citosol; a peptidase de
sinal, existente no retículo endoplasmático e o proteossoma existente no citosol. (DJNM)
10B – Dê um exemplo de proteína degradada por cada uma das proteases referidas.
As caspases degradam, por exemplo as lâminas nucleares; a peptidase de sinal degrada o sinal das
proteínas sintetizadas no retículo endoplasmático, como por exemplo a insulina; e o proteossoma
degrada, entre outras, a ciclina B (do complexo MPF).
11A – Que teste laboratorial é necessário para o diagnóstico definitivo desta doença? Justifique.
11B – Que indicadores imunológicos prevê serem anormais nas análises sanguíneas deste paciente?
Justifique.
Já que o paciente possui uma mutação no gene RAG1, que codifica a enzima RAG1, está
comprometido um processo essencial para a maturação dos linfócitos. A RAG1 e a RAG2 constituem
um dímero que será responsável pelos rearranjos V(D)J tanto dos TCR (receptores dos linfócitos T)
como dos BCR (receptores dos linfócitos B) que perante determinados estímulos são secretados
originando as imunoglobinas. Os genes que codificam estes receptores estão inactivos na maioria das
células do organismo, uma vez que as enzimas RAG apenas são expressas em linfócitos. As VRM dos
TCR e dos BCR necessitam da junção de diferentes segmentos (V, J e D no caso da cadeia gerada dos
BCR e das cadeias beta e sigma nos TCR). Assim, os genes que codificam os receptores só são
activados se ocorrer o rearranjo V(D)J, porque de outro modo o promotor e o enhancer ficam
demasiado separados para que o gene possa estar activo. É de notar que as enzimas RAG reconhecem
as sequências RSS para proceder ao mecanismo de corte e aglutinação de diferentes segmentos. Assim,
conclui-se que tanto a maturação de linfócitos B como de linfócitos T está impedida, portanto as
análises sanguíneas mostraram um número anormal de linfócitos B e T, bem como quase a ausência de
imunoglobulinas em circulação. Este paciente sofre, assim, de uma grave imunodeficiência. (AVV)
= FIM =
Nota: As respostas apresentadas foram seleccionados entre as melhores respostas
apresentadas no exame.