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O documento discute quatro vertentes para analisar o poder nas organizações: econômico-política, simbólica, psicológica e radical-crítica. A vertente econômico-política é detalhada, analisando as visões de Marx, Weber e Galbraith sobre como o poder é derivado da propriedade e dos meios de produção.
O documento discute quatro vertentes para analisar o poder nas organizações: econômico-política, simbólica, psicológica e radical-crítica. A vertente econômico-política é detalhada, analisando as visões de Marx, Weber e Galbraith sobre como o poder é derivado da propriedade e dos meios de produção.
O documento discute quatro vertentes para analisar o poder nas organizações: econômico-política, simbólica, psicológica e radical-crítica. A vertente econômico-política é detalhada, analisando as visões de Marx, Weber e Galbraith sobre como o poder é derivado da propriedade e dos meios de produção.
O Poder nas Organizaes: Vertentes de Anlise Nelson Gomes dos Santos Filho[1]
Resumo Este artigo originou-se de pesquisa bibliogrfica destinada a compreender os diversos paradigmas de anlise a respeito do Poder nas organizaes. Dessa pesquisa, verificou-se ser possvel enquadrar a viso dos principais autores em quatro vertentes de anlise: econmico-poltica, simblica, psicolgica e radical-crtica. A classificao que ora apresentada, longe de buscar ser definitiva, permite uma melhor visualizao da complexidade do tema e da sua importncia no campo dos estudos organizacionais.
A questo do poder: vertentes de anlise Assim como ocorre com a Liderana, o Poder tambm um tema organizacional bastante discutido, observado sob diversas vertentes, haja vista as inmeras formas pelas quais ele pode manifestar-se numa organizao. De uma forma bastante genrica, podemos entend-lo como capacidade de um indivduo para obter domnio ou controle sobre outros. Tem sua origem na filosofia poltica, na busca da compreenso das relaes que se desenvolvem nos grupos sociais: h necessidade do controle e limitao da liberdade do indivduo para que o grupo possa alcanar de forma coesa e harmnica os seus objetivos. Sua anlise nas organizaes, enquanto grupos humanos que interagem politicamente na busca da satisfao dos seus interesses, feita de variadas formas pelos autores, ao longo dos anos, tornando-o um tema complexo e multifacetado. Assim, para permitir uma melhor compreenso, pode-se classificar os diversos autores em quatro vertentes bsicas: simblica, psicolgica, radical-crtica e econmico-politica. Essa classificao, entretanto, no tem a pretenso de ser plenamente abrangente ou definitiva, estando limitada pesquisa bibliogrfica desenvolvida.
O poder na vertente econmico-poltica Dentro dessa perspectiva econmico-poltica, so aqui apresentados os pensamentos de Karl Marx, Max Weber e J ohn Galbraith. Para Marx (apud. HARDY,2001), o poder se origina a partir de interesses que surgem nas relaes de produo, e que envolvem a propriedade e o controle dos meios de produo. Marx procura explicar os fenmenos histricos a partir de fatores materiais (econmicos e tcnicos), o que foi denominado de materialismo histrico. Segundo essa perspectiva, a sociedade construda em dois nveis: o primeiro, a infra-estrutura, constitui a base econmica e abarca as relaes do homem com a natureza e com os outros homens no sentido de produzir a prpria existncia; o segundo, a superestrutura, constitui a base poltico-ideolgica representada pelo Estado e todos os aparelhos ideolgicos (religio, educao, cincia, etc). Desta forma, a infra-estrutura determina a superestrutura, ou seja, a base econmica refora a influncia do pensamento da classe dominante sobre o Estado e os aparelhos ideolgicos, o que garante o status quo dos dominantes. Analisando essa dinmica sob uma tica mais microscpica, Marx nos diz que as relaes basilares de qualquer sociedade humana so as relaes de produo, ou seja, a forma como os homens usam recursos, tcnicas e se organizam por meio da diviso do trabalho social. A determinadas relaes de produo se relacionam os modos de produo, que representam as formas pelas quais as foras produtivas se organizam em determinadas relaes de produo. Por exemplo, no modo de produo feudal a base econmica era a posse da terra e a relao de produo ocorria entre o servo e o senhor feudal, o qual cobrava ao primeiro trabalho e taxas pelo uso da terra e dos bens. No modo de produo capitalista, a base econmica a posse do capital, e por conseguinte dos meios de produo, sendo a relao de produo entre o capitalista e o operrio. Estes, como no possuem o capital, so obrigados a vender o que dispem para garantir sua sobrevivncia, no caso a fora de trabalho, criatividade e capacidade. Transferindo esses conceitos para o mbito da organizao, o trabalhador contrata com o seu patro um emprego, pelo qual recebe uma remunerao. Apesar de contratado, o que por premissa pressupe um acordo voluntrio entre as partes, o que ocorre na verdade, conforme Marx, a submisso do trabalhador vontade do patro para que assim possa garantir sua sobrevivncia. Surge, ento, um conflito de interesses entre esses dois grupos: o trabalhador (proletrio) que aspira por uma remunerao mais justa e o patro (burgus) que deseja um aumento dos seus lucros (mais-valia). Esse conflito, que Marx denominou de luta de classes, mantido sempre em equilbrio em favor dos que detm o capital, pois essa posse que lhes garante o poder dentro da organizao (pela dependncia dos trabalhadores) e tambm fora dela (pelo controle da superestrutura). Weber, apesar de entender o poder como derivado do domnio sobre a propriedade e os meios de produo, supera a perspectiva maniquesta de Marx considerando as relaes de produo e as relaes na produo. dele a definio de poder que mais atende ao senso comum: o poder significa a possibilidade de fazer triunfar no seio de uma relao social a sua prpria vontade mesmo contra resistncias, qualquer que seja a base em que se baseia tal possibilidade (Weber, apud. Boudon). Retomando a questo das relaes na produo, a viso weberiana considera que o trabalhador, ao ser contratado por uma empresa, possui certo grau de criatividade e conhecimento de sua atividade especfica, o que lhe permite conduzir os relacionamentos sociais conforme seus interesses, mesmo sob a ordem dominante da estrutura da empresa. Desta forma, os membros da organizao possuem um maior ou menor grau de controle sobre as atividades, o que lhes permite o exerccio do poder tanto em prol quanto contra os interesses da organizao. Nessa tica, o poder tem fonte na posse da propriedade como tambm no conhecimento sobre a atividade e sobre a organizao. Assim, Weber amplia a perspectiva estabelecida por Marx conferindo ao conceito de poder uma caracterstica relacional-intencional. Relacional porque o poder se estabelece no seio das relaes sociais, de forma bilateral, uma via de duas mos, relao dominao-aceitao, e no de forma unilateral e determinstica como quis Marx. Tambm intencional porque visa atender a uma inteno, a prevalncia de uma vontade sobre a vontade de outrem, mesmo que haja resistncias. E tocando nesse aspecto da resistncia dominao, tambm de Weber a tipologia da legitimidade, que pode ser entendida como a aceitao, e portanto validao, do exerccio do poder pelos agentes a ele submetidos, pois que dado como certo e adequado. O poder legtimo aceito como tal pela maioria, o que leva supresso, ao menos temporria, das resistncias sem a necessidade do uso de instrumentos de coero. A tipologia criada por Weber classifica a legitimidade em trs diferentes tipos, conforme a sua base fundamental: legitimidade tradicional: fundamenta-se nas crenas consuetudinrias, na tradio. Predominam as caractersticas patriarcais e patrimonialistas, onde o poder exercido por aqueles que tradicionalmente so escolhidos para tal; legitimidade racional-legal: baseia-se numa estrutura racional-legal, tambm denominada de burocrtica. Racional porque presume o uso adequado dos meios apenas para o alcance dos fins desejados. Legal porque o poder est regulado por normas escritas, o que lhe impe limites, impedindo a arbitrariedade; legitimidade carismtica: baseia-se em caractersticas pessoais exibidas por uma pessoa ou grupo, capazes de gerar nos demais a certeza de que o poder ser exercido em prol do atingimento de um objetivo coletivo. Mais recentemente, Galbraith (1999) aproveita os pensamentos de Marx e Weber e cria uma nova vertente de pensamento para explicar como o poder exercido e o que permite acesso ao seu exerccio. Ele lana as bases do que denominou de anatomia do poder. Para Galbraith, h trs instrumentos ou formas de utilizao do poder; h tambm trs outras instituies ou atributos que conferem a algum o direito de usar esse poder. Quanto aos trs instrumentos, ou formas de utilizao, ele cita: poder condigno: obtm a sujeio da outra parte pela potencial capacidade de lhe impor uma conseqncia consideravelmente desagradvel ou dolorosa pela no sujeio. o poder gerado pela recompensa negativa advinda do ato no conforme ao esperado; poder compensatrio: ao contrrio do anterior, obtm a sujeio a partir de uma recompensa positiva ao ato conforme. A recompensa pecuniria nas organizaes a forma mais comum de expresso desse poder; poder condicionado: exercido quando, atravs da persuaso, educao ou compromisso voluntrio, consegue-se submeter o indivduo ou grupo vontade alheia. Paralelamente a estes trs instrumentos do poder esto o que ele denomina de fontes do poder, tambm em nmero de trs. So elas: a personalidade, ou liderana na linguagem comum, que consiste nos atributos pessoais que podem dar acesso a um dos instrumentos do poder; a propriedade ou riqueza, a posse sobre o capital e/ou bens de produo; a organizao, entendida aqui como grupo de pessoas unidas para alcanar um propsito definido; H, segundo Galbraith, uma relao primria entre as fontes e os instrumentos do poder. A personalidade se associa mais ao poder condicionado, a propriedade ao poder compensatrio e a organizao ao poder condigno. Entretanto, essa associao no exclusiva, ou seja, na verdade o que ocorre uma combinao entre as fontes de poder, com predominncia de uma delas, gerando determinado instrumento de poder. Por exemplo, analisando o caso de uma empresa fictcia poder-se-ia ter simultaneamente o poder compensatrio gerado pelo seu capital, o poder condicionado gerado pela influncia de uma cpula diretiva ou o poder condigno gerado pelo rigor de suas normas internas. Em dado momento um desses instrumentos pode predominar, a depender de como a empresa pretende se conduzir na situao especfica, predominncia essa que pode perdurar por maior ou menor tempo.
QUADRO 1: ANLISE DO PODER, SEGUNDO GALBRAITH. INSTRUMENTO DE PODER BASE CONCEITUAL RELAO PRIMRIA COM AS FONTES CONDIGNO Imposio de conseqncia desagradvel ou dolorosa. A organizao COMPENSATRIO Sujeio a partir de uma recompensa positiva. A propriedade ou riqueza CONDICIONADO Persuaso, educao ou compromisso voluntrio A personalidade Adaptado de Galbraith, 1999. Interessante aqui a anlise que o autor faz sobre a organizao como fonte de poder. Ele considera que a organizao, para ganhar estrutura, necessita que seus integrantes se submetam ao seu objetivo, que em tese um objetivo comum. Fica claro que essa submisso se dar em maior ou menor grau a depender do nvel em que esse objetivo seja efetivamente comum aos integrantes. O importante a destacar que o grau de coeso interna que determina o poder da organizao para alcanar os seus objetivos e de submeter, para a conquista destes, outros grupos externos a ela. Galbraith denominou isso de simetria bimodal: s obtm submisso externa aos seus propsitos quando conquista submisso interna (Galbraith, 1999). Alm desse aspecto, o autor salientou dois outros que afetam o potencial da organizao enquanto fonte de poder: o acesso eficaz e simultneo aos trs instrumentos do poder (condigno, compensatrio e condicionado) e a quantidade e diversidade de metas s quais se busca submisso.
O poder na vertente simblica Bourdieu (2000), a partir da anlise dos sistemas simblicos, estabelece o conceito de poder simblico. Para o autor, os sistemas simblicos (arte, religio, lngua, etc.) so instrumentos de conhecimento e de construo do mundo dos objetos, como formas simblicas, atribuindo-lhe um significado comum. So, portanto, estruturas estruturantes. Por outro lado, para que possuam essa capacidade estruturante, os sistemas simblicos necessitam tambm de uma estrutura, ou seja, tambm so estruturados. O exemplo tpico o da lngua, que para se tornar uma linguagem prtica e utilizvel deve possuir uma estrutura lgica que permita a absoro e a transmisso das idias entre emissor e receptor. Os sistemas simblicos so, portanto, estruturas estruturantes e estruturadas. Desta forma, os sistemas simblicos detm o poder de estabelecer uma ordem gnosiolgica, de moldarem uma interpretao comum e homognea aos fenmenos, o que Durkheim (apud. Bourdieu, 2000) denomina de conformismo lgico: uma concepo homognea do tempo, do espao, do nmero, da causa, que torna possvel a concordncia entre inteligncias. E esse poder, ao ser capturado por um determinado grupo social para manter a sua dominao sobre outro, assume uma funo poltica, o que caracteriza o poder simblico. Conforme explica Bourdieu: enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicao e de conhecimento que os sistemas simblicos cumprem a sua funo poltica de instrumentos de imposio ou de legitimao da dominao, que contribuem para assegurar a dominao de uma classe sobre a outra (violncia simblica) dando reforo da sua prpria fora s relaes de fora que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expresso de Weber, para a domesticao dos dominados. As diferentes classes e fraes de classes esto envolvidas numa luta propriamente simblica para imporem a definio do mundo social mais conforme aos seus interesses...
O pensamento de Bourdieu coaduna e absorve o conceito de Gramsci sobre ideologia, entendida como o significado mais alto de uma concepo de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econmica, em todas as manifestaes de vida individuais e coletivas. Conforme o pensamento gramsciano, a ideologia tem uma funo positiva, diferente do que postulava Marx, de atuar como aglomerante na estrutura social, o que no limite poder conferir hegemonia a determinado grupo, que se tornar dominante. Isso o que fundamenta o seu conceito de guerra de posio, baseada na conquista do aparelhos de hegemonia civil. Conforme o prprio autor argumenta (apud Coutinho, 1999): Um grupo social pode e mesmo deve se tornar dirigente (hegemnico) j antes de conquistar o poder governamental ( essa uma das condies principais para a prpria conquista do poder); depois, quando exerce o poder, e mesmo que o conserve firmemente nas mos, torna-se dominante, mas deve continuar a ser tambm dirigente... A tica de Bourdieu abre espao para um ponto interessante de anlise: o sistema simblico como instrumento de legitimidade. Pfeffer (apud Clegg), investigando nessa linha, identificou o uso do poder com esse sentido ao estudar os resultados do poder, distinguindo-os em conseqncias substantivas (comportamentais) e sentimentais (atitudinais). As primeiras resultam de consideraes acerca da dependncia de recursos, enquanto que as segundas referem-se ao sentimento que os indivduos guardam acerca do resultado. Segundo o autor, esse sentimento afetado principalmente por aspectos simblicos do poder, tais como uso da linguagem poltica, smbolos e rituais. Desta forma, ele considera que o poder simblico atua mais no nvel da legitimao que na produo de resultados substantivos.
O poder na vertente psicolgica Pags (1987), de forma inovadora, explica o poder exercido pelas organizaes atravs das relaes inconscientes que ocorrem entre estas e o indivduo. Pags percebe a organizao como um conjunto dinmico de respostas a contradies. Em outras palavras, a capacidade de uma organizao levar pessoas a produzirem reside no fato de ser ela um ente capaz de oferecer respostas a contradies que se iniciam no sistema scio-poltico e acabam por se interiorizar no inconsciente do indivduo. Esse deslocamento das contradies, do exterior para o interior, ocorre em dois momentos: num primeiro momento, as contradies advindas do sistema social, prprias do modo de produo capitalista, que conforme Marx resultaria num conflito de classes, so absorvidas pela organizao e transformadas em contradies internas a ela, e que se materializam nos conflitos existentes na sua prpria poltica de atuao coexistncia de coero e vantagens . Em um segundo momento, as contradies da organizao so absorvidas pelo indivduo, sendo introjetadas no seu inconsciente atravs do processo de identificao deste com a organizao. A relao coero-vantagens se transforma na relao angstia-prazer, o que faz dos indivduos escravos da organizao porque esta oferece uma soluo para seus conflitos. Segundo o mesmo autor, esse processo de transformao das contradies se apia em trs processos fundamentais: mediao: ocorre quando a organizao consegue conciliar as restries que impe aos indivduos com as vantagens que lhes oferece, mantendo os conflitos sob controle. O conflito scio-poltico entre classes transformado em conflito interno da poltica organizacional, para o qual j existe uma soluo a oferta de vantagens. introjeo: por estar submetido a estmulos contraditrios, dos quais no compreende a origem e aos quais no pode reagir, o indivduo absorve as contradies ao nvel do inconsciente, passando ento a viver uma contradio psicolgica, uma relao amor-dio consigo prprio e com a empresa. consolidao ideolgica: o indivduo encontra na ideologia produzida pela empresa um amparo para o seu conflito psicolgico, permanecendo preso a ele, o que impede a ocorrncia do conflito externo. Desta forma, a mediao surge como a principal caracterstica do que Pags denominou de organizaes hipermodernas, ou seja, aquelas que apresentam um desenvolvimento fantstico de seus processos de mediao, sua extenso a novas zonas (instncias), sua interconexo cada vez mais ramificada e sua constituio em sistemas cada vez mais coerentes. a organizao que consegue se antecipar aos conflitos, antes que estes se transformem em conflitos coletivos. Essa mediao pode ocorrer sob diferentes formas: no nvel econmico, sob a forma de recompensas salariais, possibilidades de carreira, aceitao de diferenas tnicas ou de gnero; no nvel poltico, por meio das tcnicas de administrao a distncia; no nvel ideolgico, atravs da produo de uma ideologia dominante; no nvel psicolgico, atravs do surgimento da relao prazer- angstia. Assim, Pags aponta como caractersticas da organizao hipermoderna: desenvolvimento de mediaes econmicas; desenvolvimento de um sistema decisrio de autonomia controlada a distncia; desenvolvimento da organizao como lugar de produo ideolgica, que legitima as prticas da empresa; desenvolvimento da dominao psicolgica da organizao sobre seus trabalhadores.
O poder na vertente radical crtica Os estudos de Michel Foucault (1979) acerca do poder divergem do que escrevem outros autores, estabelecendo uma vertente inusitada, com ticas nem sempre aceitas sem controvrsia. Foucault considera que o poder no um objeto natural, no pode ser tratado como mercadoria, como algo que se possui, perde ou compartilha. No existe para ele uma natureza do poder, uma essncia definida por certas caractersticas. Ao contrrio, Foucault considera o poder como uma prtica social, constituda historicamente, est associado a prticas, tcnicas e procedimentos, portanto, s surge quando exercitado: o poder relacional. Questes como quem tem poder? ou ainda onde reside o poder? so suprimidas em prol da anlise de como se desenvolve o poder?, qual a sua processualstica? Isso leva o autor a desvincular o estudo do poder do entendimento da estrutura do Estado, visto como detentor mximo do poder. Para Foucault, o poder no est concentrado em apenas um ponto da estrutura social, mas, sim, diludo entre os pontos dessa estrutura, da qual nada escapa, e manifestando-se nos momentos em que se faz necessrio. Existe, portanto, uma associao implcita entre poder e conflito. Focault tambm vai de encontro concepo negativa do poder, visto como algo que reprime, coage, exclui. Pelo contrrio, o autor advoga uma concepo positiva do poder, como algo que tem como objeto o corpo humano, no para cerce-lo mas para aprimor-lo. O poder no se explica pela sua funo repressiva: seu objetivo no tornar os homens improdutivos e sim control-los para que possam alcanar o mximo desenvolvimento de suas potencialidades, para que se lhes aumente a utilidade econmica, evitando os inconvenientes da insurreio. Machado (1979) alerta para o fato de que necessrio cuidado na generalizao das anlise de Foucault, pois seus estudos sobre o poder se do a partir de pesquisas sobre a histria da penalidade e as relaes de poder sobre indivduos presos, o que resultava em tecnologias especficas de controle. Essas tecnologias no eram exclusivas das prises, mas se aplicavam tambm a outras organizaes como a escola ou o exrcito. Em outras palavras, est se falando do poder disciplinar, mtodos que permitem o controle minucioso das operaes do corpo, que asseguram a sujeio constante de suas foras e lhes impem uma relao de docilidade-utilidade. Como caractersticas bsicas desse tipo de poder, temos: um tipo de organizao do espao e do tempo, pois insere os corpos dos indivduos em espaos pr-determinados, submentendo-os a um controle de tempo que permita maior produtividade e eficcia; vigilncia como principal instrumento de controle; no uma vigilncia fragmentada ou descontnua, mas uma vigilncia ostensiva, percebida claramente pelos indivduos e que alcance todos os limites do espao; disciplina implica um registro contnuo de conhecimento, ou seja, conhecimento e poder so indissociveis. Este ltimo ponto representa um marco no trabalho de Foucault. Ele vai de encontro idia de que o conhecimento neutro e isento de tendenciosidade. Conforme ele mesmo referencia: O exerccio do poder em si mesmo cria e faz emergir novos objetos do conhecimento e acumula novos corpos de informao(...) o exerccio do poder perpetuamente cria conhecimento e, por outro lado, o conhecimento constantemente induz efeitos do poder (...) no possvel para o poder ser exercido sem conhecimento, impossvel ao conhecimento deixar de gerar poder (Foucault, apud Davel). Esse pensamento vai reforar a sua tese de que o poder no negativo, mas positivo porque produz verdade e conhecimento, bem como tambm consistente com o poder diludo na estrutura social que o autor apregoa, j que quem tem conhecimento tem poder. Esta forma de anlise se torna bastante interessante quando nos voltamos para o estudo das organizaes contemporneas e do surgimento da figura do trabalhador do conhecimento.
Concluso Este estudo destina-se a subsidiar uma reflexo sobre a amplitude do tema Poder e sua influncia para o desempenho das organizaes. Apesar do tecnicismo que muitas vezes tem norteado a ao dos gerentes organizacionais, o campo da Administrao despertou para o fato de que o verdadeiro diferencial das organizaes contemporneas est nas PESSOAS e que, portanto, a compreenso do fator humano e das inter-relaes sociais geradas na dinmica organizacional fundamentalmente necessria. Questes como a arquitetura das redes de poder, a utilizao do poder pelos lderes ou o desvio de poder exteriorizado atravs do assdio moral ou sexual tm sido discutidas por pesquisadores e consultores em busca de respostas para os problemas organizacionais. Desta forma, mais que um exerccio terico, o estudo deste tema fundamental para que os gerentes possam alcanar o seu principal mister: atingir objetivos atravs (e com) das pessoas!! Referncias Bibliogrficas: BERGAMINI, C. W. Liderana: administrao do sentido. So Paulo: Atlas, 1994. BOUDON, Raymond (dir.). Tratado de sociologia. Rio de J aneiro: J orge Zahar, 1995. BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. 3. ed. Rio de J aneiro: Bertrand Brasil, 2000. COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: UM estudo sobre o seu pensamento poltico. Rio de J aneiro: Civilizao brasileira, 1999. DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia C. (orgs). Gesto com pessoas e subjetividade. So Paulo : Atlas, 2001. FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de J aneiro: Graal, 1979. FREITAS, Maria Ester de. Cultura organizacional: formao, tipologias e impactos. So Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991. GALBRAITH, J . K. Anatomia do poder. 4. ed. So Paulo: Pioneira, 1999. HARDY C.; CLEGG, S. Alguns ousam cham-lo de poder. In: CLEGG, Stewart et alli. Handbook de estudos organizacionais. So Paulo: Atlas, 2001 MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de J aneiro: Graal, 1979. MOTTA, Paulo Roberto. Transformao organizacional: a teoria e a prtica de inovar. Rio de J aneiro: Qualitymark, 1999. PAGS, Max et al. O poder das organizaes. So Paulo: Atlas, 1987. SCHEIN, Edgar. Organizational culture and leadership. San Francisco: J ossey-Bass, 1988.