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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba
Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Supervisão de Edição: Celi Camargo (celi.camargo@uniube.br) • • • Projeto Gráfico: André Azevedo (andre.azevedo@uniube.br) • • • Diretor do Curso
de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima (edpl@uol.com.br) • • • Coordenadora da habilitação em Jornalismo: Alzira Borges da Silva (alzira.silva@uniube.br) • • • Coordenadora da habilitação em
Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle • • • Professores Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela (norah.vela@uniube.br), Vicente Higino de Moura (vicente.moura@uniube.br) e Edmundo
Heráclito (heraclit@triang.com.br) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Distribuição: Assessoria de Imprensa • • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da
Universidade de Uberaba: Newton Mamede (ombudsman@uniube.br) • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Jornal da Manhã Internet: http://www.revelacaoonline.uniube.br
••• Contatos: Universidade de Uberaba - Depto. de Comunicação Social - Bloco L - Av. Nenê Sabino 1801 - Bairro Universitário - Uberaba/MG - CEP 38.055-500
As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
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Universitário está cheio
de gente boa
Bares e armazéns reúnem figuras
tradicionais do bairro
Fernando Machado frisar. Ele nasceu no interior da Bahia,
4º período de Jornalismo trabalhou em diversos garimpos, em Mato
Grosso, Minas e em seu estado natal.
O “Armazem Lázaro e Soares”, de Grande filósofo que é, e garimpeiro que foi,
propriedade do senhor João Batista Lázaro diz que o homem não deve ter o mérito pelas
e sua esposa, Irene Batista Lázaro, lidera as coisas que inventou, e sim a terra, que foi de
Márcia dos Santos trabalha há três anos com estudantes
vendas na área, já que está ali desde o onde ele tirou essas mesmas coisas. “Não existe
primeiro dia de dezembro de 1984. “Seu” esse negócio de dizer que o homem é superior
Batista sustenta a mulher e filhos com a ao pássaro ou outro animal: é tudo uma coisa
renda do comércio. Ele só”, filosofa.
Serviços domésticos
vende de tudo, de
lingüiça de porco à Parte baixa do bairro
guarda-chuva; de óleo de abriga camada mais pobre maior fica no bar
Quando cai a
noite, o movimento complementam renda
cozinha à vara de pescar,
e é graças a este comércio
que ele mantém os filhos
que sofre com investidas
duras das polícias
do PC e no
Pacheco, ocasio-
nando congesti-
de moradoras
na universidade. Em onamentos que Trabalhadoras chegam a assumir papel de
frente, Samuel e esposa administram o bar obrigam os ônibus a mudar a rota, em
que Laércio cuidou antes dos problemas de função do grande número de pessoas e mães de estudantes recém-chegados
saúde. Mais abaixo está o bar do Zezinho, automóveis na rua. Os vendedores de As mulheres, negras e brancas, moças e Márcia dos Santos Silva trabalha há três
figura simpática, e o bar do Léo, onde lanche competem entre si na conquista senhoras, que fazem a via-crucis nas ruas anos com os estudantes. Sua vizinha, Maria
homens jogam cartas, bebem, dizem pelas vendas, e já houve ali ameaças do bairro universitário levando roupas sujas das Graças Silva, está no ramo há mais
grandes verdades sem perceber e mentem que, felizmente, não passaram disso. A e as trazendo limpas e passadas, sob o sol tempo, cerca de uma década. Nesse período,
sendo sinceros. Seu Andrade é uma das parte baixa do bairro abriga a camada fulminante, saem normalmente da parte dona Maria aprendeu a cuidar dos
figuras que aparecem por ali, chama a mais pobre, que procura emprego mais mais baixa do bairro e se destinam às casas estudantes, fazendo as vezes de mãe quando
atenção pela sabedoria e vigor dos seus “94 acima e sofre com investidas duras das dos estudantes. As senhoras executam a preciso. As duas já viram alunos, ou patrões,
anos e seis meses”, como se preocupa em polícias. tarefa de coração, mas também, e concluírem seus cursos e deixarem a
fotos: Fernando Machado principalmente, por terem que se cidade. Alguns, inclusive,
submeter à falta de condições quando vêm à Uberaba não
que a aposentadoria impõe se esquecem delas e
aos mais velhos no País. passam para deixar um
Em função dos muitos abraço.
estudantes universitários Cerca de oito mil
que lhes proporcionam pessoas estão matricu-
alguma renda nas lides ladas nos cursos da
domésticas, elas conse- Universidade de Ube-
guem recursos para o raba, grande parte deste
próprio lar. Encurraladas pelo total está no bairro Santa
sistema, muitas delas já Maria, ou “bairro Univer-
trabalharam a vida toda, desde sitário” como é conhecido,
meninas, e, no entanto, têm Universitários são alvo movimentando a economia do
negada a ajuda dos governos, principal das mensagens local e de toda a cidade. São
e garantida a discriminação de carros de som os estudantes, principalmente,
social. A maneira que que movimentam os prédios
encontram para se virar é tomando conta – de aluguel, as mercearias e os botecos do
muitas vezes assumindo o papel de mães – de lugar. São eles também o alvo principal das
recém-chegados desabilitados de tomarem mensagens dos carros de som que chegam
conta de si próprios na cozinha ou na a cruzar as mesmas ruas com propagandas
organização da casa. Daí nascem tantas relações diferentes, deixando os moradores
de afeto quanto processos trabalhistas, e até atordoados com a poluição sonora.
João Batista Lázaro e sua esposa, Irene Batista Lázaro, inauguraram o armazém em dezembro de 1984 relações amorosas.
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Músicas de março fecham o verão
Música Popular Brasileira muda as noites de quarta-feira em Uberaba fotos: divulgação
Alessandra Mendonça show do mineiro Paulinho Pedra americano”, e “Como nossos banda 14 Bis com a qual gravou oito
6º período de jornalismo Azul. Ele é um mineiro que pais”, música que também se discos, fez parceria com o compositor e
nasceu no Vale do tornou conhecida na cantor Beto Guedes e participou
As noites das três últimas Jequitinhonha na interpretação de na produção de discos de
quartas-feiras deste mês tem cidade de Pedra Elis Regina. O Milton Nascimento.
uma harmonia especial no ar, Azul, daí o cantor ficou Segundo a subgerente
com um som bem brasileiro. nome artístico. conhecido na de marketing do
O Shopping Uberaba está Além de cantor, época da dita- Shopping, Mayla Amorim
promovendo shows com os compositor e dura militar por Tupinambá, está confi-
cantores da música popular violonista é, suas canções que ante no retorno desta
brasileira visando com isto também, escritor. Belchior é o falavam de paz e promoção cultural, que
atrair um maior movimento O cantor Bel- levavam à reflexão. conforme destacou, além de
para as suas lojas e, ao mesmo chior é o próximo
próximo da lista O compositor e alavancar o movimento no
tempo, oferecer uma opção Paulinho Pedra da lista, se apre- cantor Flávio Ven- Flávio Venturini Shopping, está propor-
cultural. Azul abriu a sentando nesta quarta-feira. Ele turini encerra a programação encerra evento cionando, de graça, para
A “Quarta-cultural” foi se consagrou com as músicas cultural de março, no próximo no dia 27 público uma opção de lazer
Quarta-cultural
aberta no último dia 13 com o “Apenas um rapaz latino dia 27. Ele foi integrante da e cultura.
Antropologia:
ousar para reinventar Uberaba sedia
a humanidade XVII Emed
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cultural.
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Dos dias 28 a 31 de março Uberaba vai Os trabalhos do dia 29, sexta-feira , se-
sediar, pela primeira vez, o XVII Emed (En- rão abertos às 9h30 com o debate sobre a
Juvenal Arduini contro Mineiro dos Estudantes de Direito), “Cultura política, o processo de formação
no Campus II da Universidade de política e a pratica da escolha eleitoral”. Os
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tão abertas e vão até o dia 22, As inscrições políticos Roberto Aguiar,
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para o aluno que optar pela ali- pacto. À tarde, a partir das
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bancária, que está diponível na sede do Dalo til como um movimento social e uma luta
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(Diretório Acadêmico Leopoldino de Oli- pela mobilização” será exposto pela profes-
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Lívia juliana
Alexandre (Montanha)
1º período de Publicidade
Olívia Carvalho
“No que pude ver até agora é
1º período de Fisioterapia
furada, pois depois da “facul”
“O crédito é uma forma que o
você tem que pagar juros e ainda
governo tem para ajudar os
corre o risco de não conseguir
estudantes. Eu acho que ele é
trabalhar para pagar as parcelas.”
viável e se eu conseguir ira ajudar
pois a mensalidade não é nada
barata.”
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fotos: André Azevedo
A estratégia da
dominação
Trote universitário favorece lógica de opressão social
André Azevedo Naturalmente, isso não quer dizer que
1º período de Jornalismo superamos todas as tradições abomináveis.
Persiste com certa vitalidade neste século uma
Na idade média havia uma forte tradição tradição retrógrada que talvez seja a semente
de festas carnavalescas que deixavam claro o da justificativa moral de nosso lamentável
ridículo da vaidade e das pretensões de desejo de dominação social. Trata-se do “trote
superioridade. Esses eventos populares universitário”. Para alcançar uma hipótese
ocupavam um lugar muito importante na vida sobre a lógica que o fundamenta, faz-se
Eduardo Fonseca, Carlos Eduardo, Luís Carlos e Andrezza Sawan, 1º período de Biomedicina: “Quando o trote é
do homem medieval, pois os rituais cômicos necessário a análise de alguns pontos.
saudável, é uma maneira legal dos estudantes se conhecerem. Mas aquelas humilhações são um preconceito,
nivelavam os estratos sociais e igualavam a porque eles acham que por terem graduação maior têm o direito de fazer o que quiser com os calouros. Isso
comunidade, independente dos ofícios de cada As três justificativas acaba dificultando a aproximação”
um. Um exemplo era a “festa dos bobos”, na Há três afirmações básicas em que
qual as pessoas saíam pelas ruas praticando veteranos se ancoram para justificar o trote. fique impregnado no comportamento. O regras. Um jogo onde as normas são
bobagens e maluquices com a participação ativa Primeiro: É tradição. Todos fazem e sempre psicanalista Joost Merloo explica, no livro elaboradas para o desfrute exclusivo do mais
da igreja. O antropólogo José Carlos Rodrigues, foi feito. Segundo: é uma brincadeira. Faz- Lavagem Cerebral: o Rapto do Espírito, que forte – ou mais graduado – não é legítimo, e
no livro O Corpo na História, assim descreve se por diversão. Terceiro: Promove a essa é a fórmula básica do condicionamento o mais fraco – ou o menos graduado –deve
essa festividade: “Nela, em lugar de incenso, integração entre calouros e veteranos. Vamos político das massas. Aí está a grande protestar com veemência. Sartre dizia ser
os padres usavam excrementos; em vez de analisar uma a uma. dificuldade encontrada pelos progressistas detestável a vítima que respeita seu carrasco.
benzer com água-benta, abençoava-se com Sobre o trote ser uma tradição, podemos para dissuadir os conservadores que Evidentemente, há calouros que se sujeitam
urina. Terminada a missa, saía-se em uma dividir as opiniões do debate, portanto, da defendem a manutenção do trote. Como aos constrangimentos do trote, mas isso
espécie de cortejo, durante o qual os sacerdotes seguinte maneira: existe quem queira mantê- observou o escritor irlandês Jonathan Swift, vamos analisar mais a frente.
eram transportados em uma carroça carregada la – os conservadores – e quem deseje aboli- “você não pode dissuadir alguém pelo A questão da integração entre calouros e
de excrementos, onde afundavam as mãos para la para deixar nascer outro comportamento – raciocínio de uma convicção a qual ele não veteranos esbarra na fronteira onde essa
retirar porções que atiravam sobre a população os progressistas. Naturalmente, é difícil foi levado pelo raciocínio”. Um conceito, argumentação pretende superar. Veteranos
– cometimento que alternavam com o gesto de desvendar a psicologia de uma tradição contudo, é ponto pacífico para as duas afirmam que as humilhações impostas são
urinar escancarada e debochadamente por cima enquanto ela ainda está vigente, tendências divergentes: uma uma maneira de unir os estudantes. Mas esta
das pessoas”. pois o que se torna hábito é sociedade avança na medida união, como se vê, carrega um discurso muito
Nós, contemporâneos do século XXI, feito de forma automática em que tradições obsoletas claro: é perfeitamente realizável, desde que
evidentemente encaramos essa tradição como e os motivos que a sus- desmoronam para que todos se coloquem nos seus “devidos
o contrário de tudo aquilo que pode ser tido tentam ficam escon- novos conceitos pre- lugares”, ou seja, o veterano entende que sua
como “razoável”. O autor admite que essa didos sob sua solidez. encham seu espaço e, graduação de número mais alto
tradição materializa até mesmo o inverso do Percebemos, entre- aos poucos, solidifi- automaticamente justifica a dominação ao
que pensamos ser “humano”. Apesar disso, tanto, que há forte quem-se em uma calouro de graduação de número mais baixo.
argumenta que é um erro compreender inquietação sobre a nova tradição. Portanto, sente-se no “direito natural” de, por
costumes do passado através de observação legitimidade dessa A afirmação que o causa desta numeração, esculhambá-lo à
baseada na mentalidade atual: o contexto era tradição. Porém, esse trote é uma brincadei- vontade. A integração é feita na medida em
outro e a relação que o homem medieval desconforto é expresso ra, uma coisa divertida, que o calouro aceita a submissão como um
mantinha com os excrementos, o lixo e a em um debate muito também mostra-se admi- fenômeno lógico; o rebaixamento servil está
morte era diferente da que temos hoje. A pobre entre conservadores ravelmente falsa. Uma diretamente relacionado à seu “baixo grau de
putrefação, o lixo, os cadáveres – que hoje e progressistas: estes não brincadeira presume instrução”. Nessa mentalidade, os calouros
nos causam repulsão e espanto – eram querem o trote “porque conivência explícita entre que não aceitam ser diminuídos estão sendo
entendidos como parte natural do ciclo da não!” e aqueles o querem os participantes. Se um contra a harmonia da integração. Como se
vida e morte, e a visão carnavalesca do “porque sim!”. Marco Aurélio e Adriano Rezende, visitantes não aceita, não é mais vê, é trágica a primeira lição aprendida na
mundo transformava o ameaçador em Os defensores dessa no Campus: “Com certeza o bicho que sofreu diversão: é coerção, ou, universidade: os que sabem mais têm o direito
trote vai querer ‘catar’seu calouro do
“inofensivo, alegre e luminoso”. tradição não são capazes futuro”. Kellen Vieira, 1º ano de Psicologia: na linguagem infantil, natural de subjugar os que sabem menos.
Mesmo assim, os procedimentos sanitários de conceituá-la profunda- “Nosso trote foi só festa. Acho que não há uma “brincadeira besta”.
e o ideal de higiene – que só tornaram-se mente, pois não há ligação com a idéia de dominação” A atual geração de Trote sem fim
universais no século passado – representam qualquer reflexão sobre a calouros está se mos- Vamos dar mais um passo no raciocínio.
uma grande conquista do homem prática. Essa conduta lembra a técnica do trando mais resistente ao trote. Percebe-se O que podemos perceber, com muita clareza,
contemporâneo. É difícil admitir, no século reflexo condicionado, do fisiologista russo que brincadeirinhas estúpidas estão gerando é que a lógica que sustenta o trote – a
XXI, uma tradição festiva caracterizada por Ivan Pavlov. Sem nos perdermos em detalhes, antipatias mais ou menos profundas. dominação de um sujeito “mais instruído”
esparramos de urina e excrementos nos foliões; o procedimento básico experimentado por Existe, porém, o caso do jogo, onde um sobre outro “menos instruído” – começa nos
não porque na época fosse “errado”, mas Pavlov é repetir mecanicamente os temas e dos adversários ganha e o outro primeiros dias de universidade mas não acaba
porque, definitivamente, não faz parte do atual sugestões de forma que o conceito – qualquer necessariamente perde. Entretanto, o na formatura. O sujeito que sofre e depois aplica
estágio cultural da dita civilização ocidental. que seja – alcance ares de verdade natural e pressuposto é que ambos concordam com as o trote durante todo o período universitário
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termina o curso impregnado dessa “verdade ao contrário, mostra-se bastante saudável:
da lógica
natural” e continua aplicando o trote nos pretendia igualar os estratos sociais. É mais falha
calouros da vida. Um professor que humilha ou menos o que significava nas origens o
os estudantes em sala de aula continua carnaval brasileiro (hoje, sabemos que
aplicando o trote, pois raciocina que a graduação caracteriza-se como mais um ritual
A
concluída lhe dá o direito natural de subjugar segregador: ricos no camarote e pobres do Premissa incorreta baseada em consideração
os “ignorantes” que ainda não a concluíram. É lado de fora). A tradição do trote, ao contrário parcial invalida a estrutura do raciocínio
a tradição. Um chefe que inferniza a vida de daquela festa medieval, simboliza a
sua secretária com ameaças estapafúrdias é o manutenção perversa das diferenças sociais, Qual é o raciocínio que sustenta a lidar com questões subjetivas da experiência
universitário que continua aplicando o trote no no caso, calcada em grau de instrução. legitimidade do trote? “Quem tem grau de humana. Ele escreve uma parábola em que
calouro. É divertido. Um professor doutor que Entre os defensores do trote, podemos instrução de número mais alto tem o direito um homem mostra um sabiá e o faz cantar
ofende uma zeladora está exercendo os direitos perceber uma forte contradição entre o natural de subjugar quem não tem”. Essa lógica para um grupo de eruditos. Os doutores assim
carrega, entretanto, uma falha primordial que respondem: “Não foi pego com as redes
que lhe conferem a titulação. É a integração. discurso e a prática. Muitos veteranos
deixa claro a inconsistência da afirmação que a regulamentares; não é real; não sabemos o
Isso explicaria o fato de muitos favoráveis à tradição afirmam
fundamenta: a questão do “grau de instrução que é um sabiá; não sabemos o que é um canto
calouros aceitarem as opressões que, apesar de concordar mais alto”. Vamos analisar esse problema. de um sabiá...” A ciência é capaz de dissecar
do trote, como foi colocado com a reflexão exposta O modelo de desenvolvimento da um pássaro para entender seu funcionamento
anterior-mente. Na neste ensaio, são civilização ocidental levou a sociedade a orgânico, mas não tem ferramentas para
sociedade brasileira, contra a opressão engendrar instituições que organizassem o compreender a beleza de seu canto.
caracterizada por social. O escritor conhecimento científico e outorgassem Isso significa que aquele professor doutor
diferenças sociais Henry Thoreau, no diplomas legais para comprovar a aquisição hipotético que ofende a zeladora pode saber
profundas que invia- livro A dessa modalidade de saber. Esses documentos hermenêutica, mas pode também, ao mesmo
bilizam o acesso à Desobediência Civil, são oficialmente aceitos como a garantia de tempo, ser um perfeito ignorante nas sutilezas
educação da maior parte da analisa essa questão competência para o exercício das profissões do amor. Dominar a dialética, mas mostrar-
população, o universitário é de forma bastante urbanas, cada vez mais se um semi-analfabeto
um calouro privilegiado. De didática: “Existem complexas. As instituições afetivo de padrões
certa forma, muitos preferem milhares de pessoas que outorgam esses diplo- Centenas de dimensões da emocionais imaturos.
ser coniventes porque isso que se opõem teorica- mas são, como sabemos, Compreender Kant mas
a escola e a universidade.
inteligência humana não não sentir nada com um
fortaleceria a tradição e mente à escravidão e à
justificaria a dominação Marcela Aidar e Nara Oliveira, 5º período de guerra, e que, no Prossigamos. são contempladas pela solo de bandolim de um
futura. Aqueles milhões de Psicologia: “Se o trote fizesse o que propõe,
seria válido. Mas não é isso que acontece. O
entanto, efetivamente Entretanto, a socie- sociedade com diplomas chorinho. A coragem, a
seres humanos que – nós calouro fica com medo do curso. Todos têm nada fazem para dar- dade não foi capaz, ou não paciência, a solidarie-
sabemos disso – nunca direito de não aceitar coerções que firam o lhes um fim; (...) O que sentiu necessidade de criar de competência dade, a sensibilidade e a
conseguirão concluir sequer direito individual. Implantamos a calourada devemos fazer, de instituições que medissem tolerância são formas de
o 1º grau, serão os eternos solidária, onde novatos doam alimentos e qualquer maneira, é os conhecimentos que o método científico não sabedoria que, se não recebem diploma de
tem competência para fazer. A civilização competência, existem como fenômenos da
calouros desse exército de recebem explicações sobre o curso. No Brasil
verificar se não nos
as pessoas que se sentem melhor que as industrial privilegiou o ensino técnico que a sus- inteligência humana – quem vai negar? –
veteranos. Ê bicho burro! outras sempre dão um jeito de manter o estamos prestando ao
tentação de seu modelo exigia. As experiências independentes do reconhecimento oficial.
Limpa isso aí de novo senão status. É uma maneira de exercer o poder” mal que condenamos”, subjetivas e multipolares que caracterizam a Portanto, se o modelo científico tradicional
vai ser demitido agora escreve. Alguns vete- sabedoria popular não obtiveram prestígio não é capaz de enxergar e quantificar a
mesmo! E olha que estou sendo bonzinho! ranos, mesmo depois de ler trechos desta oficial porque não reafirmam, necessariamente, efervescência da sabedoria de vida popular, e
Quem mandou ser analfabeto? O trote argumentação, insistem em justificar suas a lógica da produção industrial: a vida em sua se não há uma instituição oficial que legitime
sofrido no ingresso à universidade seria uma ações afirmando que o trote é uma plenitude, como sabemos, é muito, muito maior oficialmente esse conhecimento, não é possível,
pequena contribuição a pagar para manter a brincadeira, uma forma de integração, e e se expressa através de incontáveis primeiro, tecer uma graduação de valor; e
lógica de dominação que, para um estudante que os calouros devem aceitar a tradição, manifestações que não estão nem um pouco segundo, compará-los. Logo, a afirmação “grau
de nível universitário, é altamente favorável. etc. O educador Paulo Freire escreve, no ligadas a questão econômica. de instrução mais alto” na lógica da dominação
Se aquela tradição medieval parece-nos, livro Pedagogia do Oprimido, citando Portanto, centenas de dimensões da fica automaticamente comprometida por causa
no mínimo, anti-higiênica, sua simbologia, Simone de Beauvoir, que “na verdade, o inteligência humana não são contempladas pela de sua parcialidade inerente. Nem é mais
que pretendem os opressores ‘é transformar sociedade com os diplomas de competência. necessário analisar se quem é mais “instruído”
a mentalidade dos oprimidos e não a Mas se a civilização ocidental não foi capaz de tem mesmo o direito de subjugar quem é menos,
situação que os oprime’, e isto para que, desenvolver instituições para medir esses pois a própria medida de “instrução” ainda não
melhor adaptando-os a esta situação, conhecimentos, não quer dizer que eles não foi resolvida. Torna-se óbvio, portanto, a
melhor os domine”. existem. A questão é que sua complexidade está questão ideológica do problema, pois a
O trote poderia ser entendido, portanto, além da habilidade descritiva da ciência. afirmação só tem sentido na medida em que
como a ponta do iceberg, um mero sintoma O educador Rubem Alves construiu uma somente o conhecimento científico é levado em
dessa lógica que afirma o direito do mais de suas luminosas metáforas sobre a consideração, e a sabedoria popular é
forte ditar regras desfavoráveis ao mais incapacidade do conhecimento científico em estrategicamente desprezada. (A.A.)
fraco. Será mesmo? Ou será que o trote é
justamente o ritual que provoca no jovem Estudantes discutem limites da ciência
esse comportamento? Será o trote o alimento
dessa mentalidade, digerido pela faixa etária Felizmente, os ventos renovadores dessas luzes”. Como se sabe, desde a antiguidade o
que se caracteriza pelo processo de discussões já chegaram na universidade. Alunos termo luz funciona como metáfora de
solidificação do caráter: adolescentes de 17 do 1º período do curso de Comunicação Social conhecimento. Dessa forma, o “aluno” é visto
e 18 anos? Será que a derradeira função da Universidade de Uberaba, sob orientação da como um sujeito sem conhecimentos. Sabemos
social do trote é reafirmar e garantir o direito professora Maria de Fátima Ferreira, por que isso não é verdade, pois a experiência de
exemplo, estudam os limites da metodologia vida de cada pessoa fornece conhecimentos
natural de dominação da minoria de nível
positivista e a utilização da pesquisa qualitativa fundamentais que não são ensinados em
universitário sobre a maioria sem
nas ciências sociais como forma de captar a instituições. Iolanda lembra também que o
escolarização? subjetividade do ser humano. Iolanda Rodrigues professor não leva conhecimento ao estudante:
Tenho uma hipótese escondida na manga. Nunes, professora das licenciaturas, lembra que leva informação. É o estudante quem raciocina
Se um professor doutor esculhambar com as Mas prefiro não dar as cartas e deixar a a palavra “aluno” carrega essa visão tradicional e traça as relações entre as informações
zeladoras Solange Beatriz ou Deija Oliveira, estará questão em aberto como um convite ao
seguindo a mesma lógica que fundamenta o trote em sua etimologia. Segundo a professora, o recebidas para, então, deixar brotar o
debate para o leitor. vocábulo origina-se do grego e significa “sem conhecimento. (A.A.)
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fotos: reprodução
Estudo viabiliza
saída para o lixo
Unitecne coloca no mercado tecnologia de ponta para
o aproveitamento de resíduos orgânicos e minerais
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fotos: Wagner Ghizzoni Júnior
O barulho
mora ao lado
Poluição sonora causa diversos
distúrbios ao organismo
Wagner Ghizzoni Júnior têm equipes para preservar o meio-ambiente
6º período de Jornalismo em geral”. Ele ressalta, no entanto, que a
secretaria não dispõe de dados sobre os
A poluição sonora é mais fácil de se índices de poluição sonora na cidade.
produzir, em relação a poluição visual, mas
causa efeitos que podem ser mais Reclamações
devastadores. Além da surdez causada pela As denúncias sobre excesso de barulho
exposição excessiva à ruídos altos, ela causa podem ser feitas para a Seplam sem que o Os veículos são grandes poluidores sonoros
também irritação, cansaço, úlcera, insônia denunciante necessite se identificar. Quando
e até alterações no sangue, na urina e a Secretaria de Meio Ambiente recebe uma que interdita o lugar,” conta Walter. que isolam o som. Os aeroportos devem ser
aumento no colesterol. reclamação, uma equipe vai até o local medir Em Uberaba foram poucos os casos de longes dos locais populosos. Quanto ao barulho
O chefe da Seção de Fiscalização, o nível de ruído com um decibilímetro. A fechamento de estabelecimentos devido a em um local específico, já existem muitos
Preservação e Conservação Ambiental da Associação Brasileira de Normas Técnicas poluição sonora. A Boate Hippodrome, no meios de isolar esse problema invisível.
Secretaria Municipal de Planejamento e de (ABNT) exige que a medição seja feita no Bairro Boa Vista, foi um dos casos. “O dono Proteções acústicas em caixas de som ou outros
Meio Ambiente de Uberaba, Walter local que produz o ruído e no lugar afetado. não tinha o dinheiro para deixar tudo normal. produtores de ruídos, amortecedores mecânicos
Ambrósio da Silva, explica que poluição Num lar, o nível de ruído deve ser menor Normalmente as pessoas tomam as devidas para evitar a vibração – como no caso dos
sonora é qualquer som que cause que 45 decibéis nos dormitórios e no máximo providências. Um buffet gastou 140 mil reais compressores da pista fria –, fibras de carbono,
perturbação ao sossego público ou produza 60 no restante da casa. para deixar tudo dentro dos conformes”, diz. amortecedores de cortiça – para ambientes
efeitos fisiológicos e psicológicos negativos Se constatado que o ruído realmente é Walter lembra que a preocupação da pequenos como escritórios – e até improvisos.
no ser humano. “Não é só uma boate que acima do permitido, o infrator deve tomar as Secretaria de Meio Ambiente é apenas com a As serralherias, por exemplo, podem revestir
produz poluição sonora. Aquela velha chata providências cabíveis. “Nossa primeira poluição, e não com os trabalhadores. “Se uma as paredes com cartelas de ovo para quebrar
falando sem parar, fazendo você perder a medida é conversar amigavelmente e dar um fábrica produz muito barulho e os empregados as ondas do som. “Há métodos simples,
concentração e diminuindo sua produção, prazo para a normalização. A pessoa assina não tem protetor auricular, não é problema como direcionamento das caixas de som.
é uma poluidora”, exemplifica. um Termo de Compromisso Ambiental. Se nosso. Pode deixar o trabalhador surdo, o Uma deve apontar para a outra, para haver
Uma pessoa exposta a barulho intenso por voltarmos ao local e ver que o problema ainda vizinho não”, explica bem-humorado. uma confluência dos sons e diminuir o
mais de meia hora tem uma perda temporária não foi solucionado, mas a pessoa está com impacto,” ensina.
de uma parte da audição. Se ficar muito tempo, boa vontade, então damos um novo prazo. Recursos contra o ruído
a audição pode ser afetada para sempre. Agora, se o sujeito estiver sem vontade de Uma das formas de evitar o ruído nas Matéria republicada devido à
consertar o erro, entregamos tudo pra justiça, cidades é conservar e ampliar as áreas verdes, problema de impressão da edição anterior
Medindo o ruído
O nível de ruído de um lugar é medido
em decibéis. O sistema decibel é uma escala
logarítmica. Dez decibéis produzem 10 vezes
mais energia que um decibel. Vinte decibéis
produzem 100 vezes mais energia, 30
VOCE SABIA?
decibéis 1000 vezes mais e assim por diante. • A cidade mais barulhenta do
Neste sistema entende-se que um ruído de 0 mundo é Rio de Janeiro, com uma média
a 60 decibéis é aceitável, de 60 a 100 provoca de 85 decibéis. A voz humana normal
um incômodo e acima de 100 é prejudicial. tem mais ou menos 60 decibéis. Uma
As fábricas e indústrias estão entre os britadeira ou um ônibus produz 100
lugares mais barulhentos. Não é permitida decibéis.
a exposição a níveis de ruído acima de 115
decibéis para indivíduos que não estejam • A resolução 448/71 do Conselho
adequadamente protegidos por protetores. Nacional de Trânsito determina o nível
Existem leis que determinam o máximo de máximo de 84 decibéis para veículos
tempo que um trabalhador pode ficar em de passeio e motos, e de 89 decibéis
lugares com muito ruído. A jornada de para veículos de carga, ônibus e
trabalho de uma telefonista, por exemplo, é máquinas de tração agrícula. Os ruídos
de seis horas diárias. de buzinas e aparelhos similares em
De acordo com Walter, pelo menos as vias urbanas devem atingir o nível
fábricas dos Distritos Industriais de Uberaba máximo de 104 decibéis.
não têm este problema. “As indústrias daqui
têm uma consciência ecológica e algumas Boate fechada por desrespeitar normas. Sorte dos vizinhos, que não conseguiam dormir
18 a 24 de março de 2002 9
Uma árvore
Tapira sob a Árvore é símbolo da cidade
e fonte inspiradora de
fazendo história
(Waldomiro Rosa de Oliveira)
Wander Márcio de Rezende onde se escondiam manadas de bovinos, terminava em festa com queimas de fogos despertar o interesse de empresas
3º período de Jornalismo equinos e muares que eram criados e leilões e hoje faz parte da tradição religiosa extrativistas. A Valep, atual Fosfértil, se
livremente pastando pelas terras ainda no mês de outubro. instalou na região para a exploração de
“A história de uma terra pertence aos virgem. A anta ou tapir, alvo predileto de A história registra também a fosfato, gerando empregos e renda para
filhos desta terra, porque terra sem história caçadores, eram habitantes comuns e em importância do escravo Lázaro que ao ser o município. O desenvolvimento da
é povo sem cultura” grande número na região. Surgiu daí, o libertado construiu uma casa coberta de cidade começou a deslanchar. Outras
A frase é do senhor Waldomiro Rosa de nome da cidade “Tapira”. sapê, próxima onde hoje está a Matriz de áreas ganharam importância como o
Oliveira, um entre os cinco mil moradores Além dos animais, a região era São Sebatião. Esta igreja foi construída turismo ecológico. As cachoeiras da
de Tapira. A cidade, situada no Alto privilegiada também pelos recursos com a ajuda da população, mas o seu região de Tapira são pontos de visitação
Paranaíba, completou no naturais. Uma fonte de água formato original foi desfigurado turística.
primeiro dia deste mês, 39 sulfurosa brotava das depois da reforma. O Santo, O desenvolvimento eco-
anos de emancipação. pedras do local cha- pelo menos, continuou nômico da cidade conta ainda
Com 70 anos de mado Pilões. Foi lá sendo o padroeiro da com a pecuária, cujo
idade, “Seu” que a família fun- cidade. destaque vai para a criação
Waldomiro, como é dadora de Tapira, os Em 1908 Tapira se de carneiros; agricultura,
conhecido, sonha Assunção e Souza, chamava São Sebastião com a produção de milho,
em publicar a construíram um das Antas, povoado batata, soja e café. A pro-
história de sua curral cercando a pertencente à Paróquia do dução de flores é exportada
cidade e para isto a fonte e para onde os Desemboque. Somente em para outros mercados.
falta de graduação, animais de estimação 1923 é que o povoado foi
segundo ele, não é eram levados. A fé, denominado de Tapira, Ipê florido
empecilho. “A falta de segundo Waldomiro tornando-se distrito do Um ipê no alto do
recurso é que é o Rosa, era marca município de Araxá. De Igreja foi construída com morro, banha com sua cor
problema”, lamenta. registrada da família Araxá, Tapira passou a ajuda da população dourada a pequena
Antes mesmo do pioneira. Em 1870, Pedro pertencer ao município de Tapira. A árvore é
município ser emanci- Seu Waldomiro sonha em Assunção e Souza Sacramento, cidade em que símbolo da cidade e fonte
pado, ainda quando era levantou um cruzeiro de o território do distrito estaria mais ligada. A inspiradora de versos e prosas. E foi nesta
apenas um distrito, o Seu
publicar a história da cidade madeira em um morro independência de Tapira chegou no dia 30 árvore centenária que o Seu Waldomiro
Waldomiro Rosa já próximo de onde hoje está de dezembro de 1962. Rosa se inspirou. Para ele, e demais
habitava as redondezas. Conforme contou, situada a cidade de Tapira. “Nos primeiros moradores, se as antas não viessem primeiro
até os meados do século passado, Tapira domingos de cada mês era rezado o terço Economia para dar origem ao nome Tapira, a cidade
era tomada por matas espessas e sombrias, de Nossa Senhora”, contou. A reza O solo rico em minério não tardou a se chamaria Ipê Florido.
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Ciências Aeronáuticas,
que profissão é essa? fotos: Adriana Amaral Guardieiro
Fabiano Oliveira