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Hostilidade sistemática aos professores e utilização da violência

administrativa e simbólica contra eles

O governo, nas pessoas do Senhor Primeiro Ministro e da Senhora Ministra


da Educação, resolveram fazer aquilo a que chamam uma reforma da Escola
assente numa estratégia de hostilização sistemática dos professores
recorrendo a dois instrumentos: a máquina administrativa e a violência
simbólica. O uso da violência simbólica é extremamente refinado mas
atingiu um tal grau de destrutividade que hoje os professores já não podem
calar a sua revolta e exigem respeito pela sua dignidade. A acção da
Senhora Ministra da Educação, apoiada pelo Senhor Primeiro Ministro, feriu
gravemente a dignidade da pessoa humana na pessoa dos professores. Há
uma atitude sistemática por parte da Senhora Ministra da Educação que se
pode classificar de terrorismo psicológico: é preciso obrigar os professores a
ajoelhar custe o que custar, há que destruir nos professores a estima de si-
próprios, e para alcançar esse objectivo transforma-se a máquina
administrativa em guilhotina para condenar todos os aqueles que ousam
discordar da política da educação deste governo. Trata-se do exercício
teocrático do poder, tipo Ancien Régime, negando a universalidade da
razão. Não importa o retrocesso histórico; importa sim satisfazer o
narcisismo cego e imaturo instalando e consolidando uma atmosfera de
suspeita, de insegurança e de medo que envenena a própria convivência
entre cidadãos.

Isto é tão grave que na actual situação em que a vida quotidiana de muitos
portugueses é marcada pela insegurança face ao dia de amanhã, o
Primeiro-Ministro e a Ministra da Educação usando a arma da intimidação e
exigindo uma obediência cega e uma confiança incondicionada por parte
dos professores enquanto funcionários do Estado, criam situações de
verdadeira alienação em muitas pessoas. Hoje há alguns professores e
Conselhos Executivos de Escolas que têm medo das consequências de
dizerem o que pensam: - se discordarem podem perder o lugar,
comprometer a carreira ou mesmo, se hesitarem ou não cumprirem as
ordens socialistas, podem ter a sorte daqueles que o poder socialista quer
decapitar no cadafalso administrativo. Há mesmo quem se «precipite», e
para agradar ao poder vigente já inclui alíneas de carácter fascizante na
grelha de avaliação dos professores. Perante a crescente onda de
contestação, os governantes não se interrogam sobre as razões de ser de
tal facto (bem as conhecem!), usam a estratégia da supressão da memória:
apagar os factos como se nada tivesse acontecido. Mas não podemos
esquecer que hoje como ontem há pessoas cuja insegurança de vida (no
quadro referencial de definição do sentido de vida próprio de cada um) é tal
que, pensando nos familiares que de si dependem e pensando em si
próprio, podem não resistir à força da pressão e manipulação do exercício
perverso do poder hierárquico politicamente controlado, e tornar-se
torcionários administrativos (como os torcionários nazis ou os torcionários

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da Pide; evidentemente não usando a violência física; porém a violência
administrativa é suficiente para destruir uma vida e trazer aquela falsa paz
de que o Partido Socialista tanto necessita para implementar a sua
apropriação absoluta do aparelho de Estado). É absolutamente condenável
este ambiente de desconfiança, medo e suspeita em que vive actualmente
o país, por causa da cegueira obscurantista do Senhor Primeiro Ministro e da
Senhora Ministra da Educação que alicerçam o seu poder na intimidação,
condenam a alteridade, promovem a delação e a vingança como
instrumentos de convivência social. Esquecem-se de que o poder político
que exercem não os torna donos da vida nem da consciência dos cidadãos.
Esquecem que o exercício do direito de crítica é uma pedagogia da
cidadania.

Muitas das medidas que a Senhora Ministra da Educação implementou para


as nossas escolas criam a ilusão de uma reforma, mas apenas absorvem as
energias e tempo dos professores com actividades administrativas e
preenchimento de papéis até à obsessão, descurando a importância
decisiva dos conteúdos do saber e desvalorizando o tempo de trabalho
efectivo com os alunos. O tão apregoado «choque tecnológico» não pode
fazer esquecer que, como diz Oliveira Lima Filho, «o computador é um
imbecil com a velocidade da luz». Não se nega a importância da aceleração
progressiva das conquistas tecnológicas, porquanto as máquinas fazem
muito do trabalho que os humanos faziam submetidos aos limites de
resistência e aos limites do ritmo do nosso organismo. É verdade que a
técnica nos traz ganhos de tempo e energia; mas não há técnica que
acelere a reflexão, não há técnica que dispense o tempo necessário para o
desenvolvimento da interioridade de cada um. Esquecendo que os
professores são pessoas que trabalham com pessoas, estamos a fazer da
escola uma fábrica de “deficientes artificiais”. Fazendo das estatísticas a
medida única e exclusiva das nossas análises da problemática da educação,
estamos a esquecer que as estatísticas são um, apenas um meio entre
outros, e a recalcar a incontornável dimensão de subjectividade constitutiva
da dignidade do ser humano.

Como é possível que a Senhora Ministra da Educação se relacione com os


professores e com os Sindicatos de professores dentro de um
enquadramento interlocutório que ela antecipadamente delimita instituindo
o espaço da interlocução com estruturas que definem o período operatório
concreto do desenvolvimento intelectual, social e de juízo moral
(correspondente ao nível etário entre os 7 e os 11 anos de idade)? A
gravidade desta atitude, que não tem outra legitimidade senão a da força
do cargo, é que ela só reconhece espaço de afirmação à heteronomia,
tratando os professores como crianças que nunca deveriam sair do estádio
intermédio do desenvolvimento em que ela entende devem estar
acontonados para não prejudicarem a sua acção. Muito concretamente a
contradição na qual a Senhora Ministra está entrincheirada é a própria
negação dos objectivos da educação: - a educação é a passagem da
heteronomia à autonomia na harmonia de todas as dimensões da

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personalidade, mas a política do Ministério da Educação consiste em negar
o exercício da autonomia que é, em si mesma, o telos da actividade
educativa.

Há um amadurecimento das pessoas, dos grupos, das instituições que exige


tempo, esforço, trabalho metódico e contínuo. Não se pode recuperar num
dia o atraso de um mês. Seria como o doente que tem de tomar um
antibiótico todos os dias; não o fez, e para recuperar o tempo perdido
resolve tomar todos os comprimidos do frasco num dia. Põe em risco a sua
vida em vez de recuperar. A temporalidade das instituições não tem o ritmo
da temporalidade dos grupos, nem tem o ritmo da temporalidade dos
indivíduos. Esquecer isto é enveredar por caminhos de destrutividade cujas
consequências não se podem evitar e uma delas é justamente a de
obstaculizar a verdadeira transformação da realidade.

Somos professores, conscientes dos desafios da hora presente. Não


podemos admitir que, a tudo o que acima foi referido, se acrescente a
atitude superficial daqueles que criticam os professores, não de forma
fundamentada e rigorosa mas adoptando atitude análoga à dos críticos da
filosofia na Alemanha do século XIX e que Hegel referiu magistralmente:

«Em relação a todas as ciências, artes, aptidões e ofícios vigora a convicção


de que, para possuí-los, é preciso um múltiplo esforço de aprendizagem e
exercício. Ao invés, no que se refere à filosofia, parece dominar agora o
preconceito: se quem tem olhos e dedos e a quem se dá couro e
ferramentas, nem por isso se torna capaz de fazer sapatos, cada um
entende filosofar imediatamente e apreciar a filosofia, porque possui na sua
razão natural a medida para isso, como se não possuísse igualmente no seu
pé a medida de um sapato. Parece que a posse da filosofia se coloca
justamente na carência de conhecimentos e de estudo e que aquela acaba
onde estes começam.» HEGEL - Fenomenologia do Espírito. Prefácio.

E ainda:

«Na medida em que a filosofia só reivindica o pensamento para a forma


própria do seu empreendimento, e na medida em que todo o homem por
natureza pode pensar, surge, em virtude desta abstracção (…) o contrário
daquilo que foi mencionado agora mesmo como queixa a propósito da
ininteligibilidade da filosofia. Esta ciência experimentou muitas vezes o
desprezo no sentido em que mesmo as pessoas que nunca se preocuparam
com ela, exprimem a ideia presunçosa de que entendem logo à primeira
vista aquilo de que se trata em filosofia e são capazes (…) de filosofar e de
emitir juízos sobre ela. Reconhece-se que é preciso ter estudado as outras

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ciências para as conhecer, e que é apenas em virtude de um tal
conhecimento que se está autorizado a fazer um juízo sobre elas.
Reconhece-se que para fabricar um sapato, é preciso ter aprendido e ter-se
exercitado nisso, embora cada um possua no seu pé a medida de referência
para isso, e possua mãos e, nelas, a aptidão natural para a tarefa exigida.
Somente para o próprio acto de filosofar é que um tal estudo e um tal
esforço não seriam exigidos.» HEGEL - Enciclopédia das ciências filosóficas.
I – A ciência da lógica, §5.

Muitos falam da Educação, da Escola e dos professores com uma


inconsciência e por vezes mesmo com uma altivez que podem enganar os
incautos, mas não resistem a uma análise aprofundada e que tenha como
ponto de partida uma atitude de boa fé.

É lamentável que o governo do Partido Socialista, pela mão do seu Primeiro-


Ministro, da Senhora Ministra da Educação e da sua equipa tenham
resolvido fazer da Educação o lugar de uma luta política com armas que
negam a boa educação e que negam a Educação.

Porto, 2 de Março de 2008

José Jorge Teixeira Mendonça

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