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O documento discute a fisiologia da contração muscular e da junção neuromuscular. Explica que a contração ocorre quando os filamentos de actina e miosina interagem, mediados por íons de cálcio. Descreve a organização das miofibrilas nas fibras musculares, formadas por filamentos entrelaçados de actina e miosina. Explora como os potenciais de ação nas terminações nervosas induzem a liberação de acetilcolina, iniciando a contração.
O documento discute a fisiologia da contração muscular e da junção neuromuscular. Explica que a contração ocorre quando os filamentos de actina e miosina interagem, mediados por íons de cálcio. Descreve a organização das miofibrilas nas fibras musculares, formadas por filamentos entrelaçados de actina e miosina. Explora como os potenciais de ação nas terminações nervosas induzem a liberação de acetilcolina, iniciando a contração.
O documento discute a fisiologia da contração muscular e da junção neuromuscular. Explica que a contração ocorre quando os filamentos de actina e miosina interagem, mediados por íons de cálcio. Descreve a organização das miofibrilas nas fibras musculares, formadas por filamentos entrelaçados de actina e miosina. Explora como os potenciais de ação nas terminações nervosas induzem a liberação de acetilcolina, iniciando a contração.
No texto anterior desta srie, foi discutido que os aparelhos de eletroterapia no invasiva agem despolarizando as fibras neurais, o que dispara potenciais de ao. Os potenciais de ao, por sua vez, podem induzir contraes musculares, caso o aparelho esteja regulado para esta finalidade. Neste texto, vamos explorar a fisiologia da contrao muscular e da juno neuromuscular. O mecanismo bsico da contrao o deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina, mediado por ons de clcio. Vamos falar especificamente das fibras musculares estriadas esquelticas, que so a grande maioria dos msculos envolvidos na produo da fala. A razo de esses msculos serem chamados de estriados ficar clara logo mais no texto. A razo de serem chamados de esquelticos deve-se ao fato desses msculos se unirem aos ossos do esqueleto atravs de tendes. Do macroscpico ao microscpico O corpo humano possui cerca de 600 msculos. Os msculos importantes para a fala esto localizados na cabea, no pescoo e no tronco. Geralmente so msculos pequenos e com rica inervao, o que confere maior preciso aos movimentos. Do msculo macroscpico at os filamentos proteicos da clula muscular, h uma organizao hierrquica. O msculo como um todo formado por diversos feixes musculares e envolvido por uma camada de tecido conjuntivo (chamada de epimsio). Os feixes musculares, por sua vez, so formados por clulas musculares e so envolvidos por outra camada de tecido conjuntivo (chamada de perimsio). As clulas musculares so tambm revestidas por tecido conjuntivo (chamado de endomsio). Veja aqui duas imagens histolgicas que ilustram muito bem as subdivises sucessivas do msculo. A clula muscular A clula muscular uma clula tpica no sentido de que apresenta as duas divises principais (citoplasma e ncleo) e tambm apresenta as organelas tpicas das clulas animais. Por outro lado, ela apresenta uma particularidade que a diferencia muito das demais clulas do organismo: as miofibrilas, que so filamentos proteicos capazes de contrao e relaxamento [1]. A clula muscular tem at nome especial: chamada de fibra muscular. Ela realmente faz jus ao nome fibra (no sentido de ser uma estrutura alongada e delgada), porque se prolonga por toda a extenso do msculo. Alm disso, toda fibra muscular inervada por uma e apenas uma terminao nervosa, a qual se insere no ponto mdio da fibra [1]. exatamente no ponto de insero das terminaes nervosas no msculo que devem ser fixados os eletrodos dos aparelhos de eletroterapia no invasiva. A fibra muscular estriada esqueltica chamada de estriada, porque, em corte longitudinal no microscpio, so visualizadas listras [1], como muito bem demonstra esta imagem histolgica. As estrias so originadas pelas bandas claras e escuras. As bandas claras so formadas por filamentos de actina [1]. So tambm chamadas de bandas I. A letra I vem de isotrpico, que significa que esta banda reflete a luz do microscpio de maneira uniforme. As bandas escuras so formadas por filamentos de actina e miosina [1]. So tambm chamadas de bandas A. A letra A vem de anisotrpico, que significa que esta banda reflete a luz do microscpio de maneira irregular. Dando suporte para os filamentos de actina e miosina, esto os discos Z, que so linhas escuras visualizadas no microscpio [1]. A letra Z vem de Zwischenscheibe, uma simptica palavra em alemo que quer dizer disco intercalado. Estes discos so formados por outras protenas. Eles cruzam a miofibrila em toda sua extenso e unem uma miofibrila outra [1]. por isso que as miofibrilas no ficam soltas no interior da fibra muscular. Veja aqui uma imagem histolgica que ilustra bem as bandas A e os discos Z. Veja aqui um desenho que ilustra as bandas I, as bandas A e os discos Z. A regio entre dois discos Z chamada de sarcmero (veja aqui um desenho). exatamente o sarcmero que ir encurtar na contrao muscular e ir alongar no relaxamento muscular [1]. A organizao dos filamentos de actina e de miosina em sarcmeros sucessivos ao longo da fibra muscular chamada de miofibrila (mio = msculo e fibrila = diminutivo de fibra). Ou seja, as miofibrilas so fibras muito pequenas que compem a fibra muscular. Cada fibra muscular possui muitas miofibrilas: o nmero varia entre centenas e milhares, dependendo do tamanho da clula [1]. Miosina e actina so molculas de protena. Filamentos de miosina Cada filamento formado por cerca de 200 molculas de miosina tipo II [1]. Veja o item C neste desenho. Cada molcula de miosina composta por seis cadeias polipeptdicas [1]. As duas cadeias mais pesadas se entrelaam como dupla hlice e formam a cauda da molcula. As quatro cadeias mais leves se entrelaam de duas em duas e formam as cabeas da molcula. Veja o item B neste desenho. No filamento de molculas de miosina, as diversas caudas se unem para formar o corpo do filamento. Parte das caudas (chamadas braos) e as cabeas das molculas pendem para fora do corpo: so as pontes cruzadas. As pontes cruzadas so flexveis em dois pontos: na articulao dos braos com o corpo e na articulao das cabeas com o brao. Os braos auxiliam no movimento das cabeas: para longe e para perto do corpo. So as cabeas dos filamentos de miosina que participam efetivamente do mecanismo de contrao muscular [1]. Antes de a contrao iniciar, as cabeas das pontes cruzadas ligam-se ao ATP. A atividade da enzima ATPase quebra o ATP, mas segura os produtos (ADP e fosfato) na cabea da molcula de miosina at a ligao com o stio ativo da molcula de actina G [1]. Filamentos de actina composto por actina e tambm por tropomiosina e troponina. O suporte principal so dois filamentos de actina F entrelaadas. Cada filamento de actina F composto por 13 molculas de actina G. Ligada a cada molcula de actina G est uma molcula de ADP. As molculas de ADP so os stios de ativao dos filamentos de actina, com os quais as pontes cruzadas dos filamentos de miosina iro ligar [1]. As bases dos filamentos de actina esto inseridas nos discos Z, enquanto as terminaes protruem para os dois sentidos e ficam entre as molculas de miosina [1]. As molculas de tropomiosina esto entrelaadas com os filamentos de actina F [1]. A tropomiosina fica sobreposta s molculas de ADP para impedir a interao entre os filamentos de actina e de miosina durante o repouso. Um filamento puro de actina, sem a presena de tropomiosina ou troponina, liga-se instantaneamente nas cabeas do filamento de miosina [1]. Cada molcula de tropomiosina cobre cerca de sete stios de ADP. A troponina est ligada ao final de cada molcula de tropomiosina. A molcula de troponina formada por trs subunidades: a troponina I tem afinidade com a actina, a troponina T tem afinidade com tropomiosina e a troponina C com ons de clcio. As subunidades I e T ajudam a dar estabilidade ao complexo actina-troponina-tropomiosina [1]. Veja aqui um desenho do filamento composto por actina, tropomiosina e troponina. Juno neuromuscular As fibras musculares esquelticas so inervadas por fibras neurais grandes e mielinizadas, que se originam no tronco enceflico (no caso dos nervos cranianos) e no corno anterior da medula espinhal (no caso dos outros nervos). Cada fibra neural se ramifica em sua poro final, inervando de trs at vrias centenas de fibras musculares. A fibra neural e as fibras musculares a ela interligadas formam uma unidade motora [2]. O nmero de fibras musculares por fibra neural depende da funo do msculo. Msculos pequenos (como os da laringe), que precisam contrair rapidamente e cujo controle deve ser fino, tm poucas fibras musculares em cada unidade motora. Msculos grandes, que no requerem controle fino, tm centenas de fibras musculares para cada fibra neural. No geral, a mdia de 100 fibras musculares para cada fibra neural [2]. A terminao da fibra neural se acopla fibra muscular no ponto mdio da fibra. a juno neuromuscular. Veja aqui uma imagem histolgica da juno. A partir do ponto mdio da fibra muscular, o potencial de ao trafega para os dois sentidos. H apenas uma juno neuromuscular por fibra muscular [2]. A terminao nervosa empurra a fibra muscular, mas permanece no lado externo da sua membrana. Esta a placa motora terminal [2]. A regio de invaginao na membrana chamada de vala sinptica. Na parte inferior da vala, h numerosas pregas na membrana da fibra muscular (so as fendas subneurais), as quais aumentam a rea de transmisso da sinapse [2]. Veja aqui um desenho da placa motora terminal. Quando um impulso nervoso atinge a juno neuromuscular, cerca de 125 vesculas se fundem com a membrana neural, liberando acetilcolina na fenda sinptica [2]. A concentrao de molculas de acetilcolina por vescula chega a 10.000. A membrana da fibra muscular possui receptores de acetilcolina em suas pregas subneurais. Esta sequncia de eventos leva em torno de 10 ms [2]. Os canais proteicos de acetilcolina apresentam cinco subunidades: duas alfas, uma beta, um delta e uma gama (veja aquium desenho). O canal permanece fechado at que duas molculas de acetilcolina se liguem s duas subunidades alfa [2]. Isso causa uma mudana conformacional que abre o canal. O canal carregado negativamente e grande o suficiente para tambm permitir a entrada de ons positivos como sdio, potssio e clcio. Os ons que mais entram so os ons de sdio, gerando uma mudana local no potencial de membrana da fibra muscular [2]. Inicia-se ento o potencial de ao na membrana da fibra muscular. At que haja acetilcolina no espao sinptico, h estimulao dos receptores de acetilcolina nas pregas subneurais da fibra muscular. Mas a acetilcolina em alguns milissegundos destruda pela enzima acetilcolinesterase, presente na vala sinptica [2]. Milissegundos so suficientes para excitar a fibra muscular. Existem algumas diferenas entre o potencial de ao da fibra neural e da muscular [2]. Na fibra neural, os eventos so mais rpidos. O potencial de ao dura at 5ms na fibra muscular e at 1ms na fibra neural. Na fibra muscular, a velocidade de conduo do impulso de cerca de 5m/s, enquanto de 100m/s em fibras neurais mielinizadas. Tbulos transversos e retculo sarcoplasmtico da fibra muscular Para que o potencial de ao origine de fato a contrao muscular, ele precisa ser transmitido para o interior da fibra muscular. Isso conseguido graas aos tbulos transversos [2]. Veja aqui um desenho: os tbulos transversos so representados em amarelo. Os tbulos transversos iniciam na membrana celular e cruzam toda a clula at o outro lado da membrana, ou seja, so prolongamentos internos da membrana da fibra muscular [2]. Os tbulos transversos se comunicam com o meio extracelular e contm fluido extracelular em seu lmen. So chamados de tranversos, porque se posicionam transversalmente s miofibrilas. Quando um potencial de ao se propaga pela membrana da fibra muscular, ele tambm se propaga pelos tbulos transversos at o interior da fibra muscular. Os tbulos transversos se comunicam com o retculo sarcoplasmtico. Veja aqui um desenho: o retculo sarcoplasmtico representado em verde. Assim, os potenciais de ao que trafegam pelos tbulos transversos, tambm chegam ao retculo sarcoplasmtico. Ocorre ento abertura dos canais de clcio do retculo e a liberao de ons de clcio [2]. Os canais permanecem abertos por alguns milissegundos. As paredes do retculo sarcoplasmtico possuem bombas de clcio que so continuamente ativas. esta bomba que remove os ons de clcio das miofibrilas e cessa a contrao muscular [2]. Mecanismo molecular da contrao muscular Agora podemos elencar a sequncia de eventos que desencadeia a contrao da fibra muscular estriada esqueltica [1, 2]. O potencial de ao se propaga por um motoneurnio, chegando at a terminao nervosa. Vesculas com acetilcolina so liberadas na fenda sinptica da placa motora terminal. A acetilcolina entra nos seus respectivos canais proteicos da fibra muscular, permitindo tambm a entrada de ons de sdio, os quais iniciam o potencial de ao na fibra muscular. O potencial de ao despolariza a membrana da fibra muscular e tambm trafega para interior da clula pelos tbulos transversos. A propagao do potencial de ao no interior da fibra muscular faz o retculo sarcoplasmtico liberar ons de clcio, os quais se ligam troponina C. Essa ligao provoca uma mudana conformacional no complexo actina-troponina-tropomiosina, arrastando a tropomiosina e descobrindo os stios de ativao das molculas de actina G. Quando so descobertos os stios de ativao, as pontes cruzadas das molculas de miosina se ligam instantaneamente a eles. Essa ligao tambm provoca uma mudana conformacional na posio da cabea das molculas de miosina, fazendo-a se inclinar em direo ao brao. Neste momento, o ADP e o fosfato que estavam armazenados na cabea da molcula de miosina so liberados. exatamente essa mudana conformacional na posio das cabeas e a energia liberada que fornecem a fora necessria para arrastar a molcula de actina G. A cabea da molcula de miosina logo recebe outra molcula de ATP. Essa nova ligao de ATP separa a cabea da molcula de miosina do stio de ativao da molcula de actina G. A enzima ATPase quebra a molcula de ATP em ADP e fosfato, o que faz a cabea da miosina voltar para sua posio habitual. Na posio habitual e possuindo novamente ADP e fosfato, a cabea da molcula de miosina se combina com o stio de ativao de outra molcula de actina G. A cabea se inclina novamente, arrastando ainda mais o filamento de actina F. Assim, so as cabeas das pontes cruzadas dos filamentos de miosina que literalmente puxam, molcula a molcula, o filamento de actina F em direo ao centro do filamento de miosina. Esta a contrao muscular. Quanto maior o nmero de pontes cruzadas em contato com as molculas de actina G, maior a fora da contrao. Veja no final desta pgina uma animao com o movimento das pontes cruzadas durante a contrao muscular. Como os filamentos de miosina progressivamente puxam os filamentos de actina, os discos Z ficam prximos aos filamentos de miosina. O sarcmero encurtado. Se a contrao for mxima, os filamentos de actina derivados de um disco Z chegam a se sobrepor aos filamentos de actina do prximo disco Z. por isso que msculo contrado e msculo encurtado so expresses sinnimas. Quando no h carga, a contrao muscular muito rpida: 100 ms so suficientes para a contrao total. Quando h carga, a velocidade de contrao inversamente proporcional massa da carga. Quando o potencial de ao acaba, os ons de clcio voltam ao retculo sarcoplasmtico devido s bombas. A remoo dos ons de clcio cessa a contrao muscular. O filamento de actina F no mais atrado pelas pontes cruzadas do filamento de miosina e retorna sua posio de repouso. Os discos Z se afastam dos filamentos de miosina. Os filamentos de actina oriundos de dois discos Z sucessivos no se sobrepem. O sarcmero est alongado. por isso que msculo relaxado e msculo alongado so expresses sinnimas. Veja nesta animao os processos de contrao e relaxamento muscular e o respectivo encurtamento e alongamento do sarcmero. Referncias [1] Guyton, A. C. & Hall, J. E. (1996). Contraction of skeletal muscle. In: Textbook of medical physiology (pp. 73-85). 9th ed. Philadelphia: W. B. Saunders Co. [2] Guyton, A. C. & Hall, J. E. (1996). Excitation of skeletal muscle: A. Neuromuscular transmission and B. Excitation-contraction coupling. In: Textbook of medical physiology (pp. 87-93). 9th ed. Philadelphia: W. B. Saunders Co.