extra Jornal-laboratório do Curso de

Comunicação Social da Unisul

Tubarão | Ano 15 | Número 3 | Outubro de 2009

REPORTAGENS SOBRE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

 2 extra
Literatura também vem de berço
Vivian Sipriano
Toda criança e adolescente
tem direito à educação. Está lá
no artigo 53 do capítulo IV do
Estatuto da Criança e do
Adolescente. Algumas linhas
acima, diz também que é dever
dos pais educar os filhos. Ora,
se uma criança nasce sem
saber ler, quem fará esse meio
de campo entre ela e as letras?
A transição da oralidade para
a leitura se dará apenas se
aquele novo ser for
acostumado a ouvir, mesmo
antes de falar.
O que é oralidade se não a
transmissão oral dos
conhecimentos armazenados
na memória? Antes mesmo da
escrita, era assim que o saber
passava de pai para filho. Para
que a carga de ensinar não
recaia sobre os ombros da
escola, ou ainda do mundo
virtual, é importante que os
pais saibam o valor que têm as
suas presenças no início desse
processo.
Conheci um
extremamente dedicado à
jovem
leitura durante os anos da
faculdade - e assim o foi
durante toda a vida. O que é
difícil de acreditar é que ele
tenha sido tão desleixadamente
inserido no mundo das
bibliotecas. Lia e escrevia bem,
mas a falta de incentivo dentro
de casa o fez ter dificuldade
dobrada quando precisou
buscar recursos em si próprio,
assim que ingressou na vida
universitária. Ele, por si só,
mudou.
Esse é um exemplo do que
acontece com muitos jovens.
Se a necessidade fez com que
esse estudante repensasse a
freqüência com que lia, imagino
que brilhante não seria, se
tivesse começado a vida
escolar com bagagens literárias
adquiridas na infância.
extra
Fale com a gente!
ESPAÇO DO LEITOR
O Extra precisa da sua opinião
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EDITORIAL
EDITORIAL
O que a criança aprende na escola
Guilherme Simon
A primeira coisa que se faz com uma criança
depois que ela já sabe dizer o nome dos pais é
colocá-la na escola. A partir desse ponto,
aparece o professor, a quem elas vão perguntar
o que não perguntam aos pais.
Educar leva tempo e é difícil. É justo que haja
profissionais para tal tarefa. Mas o que se vê
nas salas de aula é uma relação superficial. A
escola não pode ser vista como uma empresa,
que precisa de objetivos e de gente que cumpra
esses objetivos com rapidez e competência. No
ensino privado este é um problema comum. Há
de se pensar no vestibular e na quantidade de
alunos.
Mas a realidade da criança brasileira é pior.
Puxemos na memória as reportagens sobre
escolas cujos tetos estão despencando, ou que
Cadê o elefante colorido?
Samira Pereira
Até que ponto a tecnologia pode
influenciar o comportamento das crianças?
As novidades eletrônicas desenvolvem ou
retardam o aprendizado? Essas indagações
são feitas por pais e especialistas, pois a
infância passa despercebida e muitas
brincadeiras são deixadas de lado. Onde
estão as cantigas de roda? E os castelos de
areia?
Muitos especialistas defendem o uso de
aparelhos eletrônicos na infância, desde que
usados de forma moderada e acompanhados
pelos pais. Nem sempre isso acontece. As
crianças passam horas na frente do
computador e esquecem de tudo ao seu redor.
Deixam de comer e de conversar com a família.
Quando não estimuladas a exercer outras
atividades, se acomodam em uma cadeira e
Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – da Unisul, Campus Tubarão
Textos e fotos: alunos do 6º Semestre/Prof. Cláudio Toldo | Edição: alunos do 7º Semestre/Prof. Ildo Silva | Opinião: alunos do 7º
Semestre/Profª. Darlete Cardoso | Diagramação, Planejamento Gráfico e Montagem da Capa: Alexandre Frazão, Chênia Cenci, Jabson
Müller, Samira Pereira e Vivian Sipriano, 7ª fase/Jornalismo | Foto da Capa: www.sxc.hu (reprodução livre) | Contracapa: Igor Pereira,
Eduardo Milioli Magagnin e Marina Cardoso Antunes, disciplina Produção Gráfica, professores Paulo Barrios e Diego Piovesan Medeiros
Coordenadora do Curso de Comunicação Social: Profª. Darlete Cardoso
Coordenador do Jornal-laboratório: Prof. Cláudio Toldo | Impressão: Gráfica Soller
os alunos assistem às aulas sentados no chão.
Diante da falta de estrutura, o trabalho do
professor é impraticável. Nem toda escola
pública tem buracos no teto, mas tem maus
professores. Há o problema da falta de
capacitação e dos baixos salários.
A criança que não aprende hoje será o político
ignorante de amanhã. Os problemas sociais, que
lemos em jornais como este, existem porque lhes
foi permitido desenvolver.
De um lado, temos o modelo de escola-
empresa, que adota a educação baseada no
resultado. De outro, a escola sem teto e sem
cadeira. É difícil pensar em leis de proteção às
crianças e adolescentes e em maneiras de
consertar erros enquanto não lhes for dada uma
educação fundamental de qualidade.
ficam. Provavelmente não conhecerão o
sentido literal da música que aprendi quando
tinha uns quatro anos. "Criança feliz,
quebrou o nariz. Foi pro hospital, tomar
sonrisal". Será um adulto sem infância, que
não passou pela fase mais alegre da vida.
Não sei porque tudo mudou tão rápido.
Só sei que viver a infância de forma intensa
faz bem. Sem computador ou vídeo-game.
Apenas com a doce inocência de uma criança
que faz da vida uma caixinha de brinquedos.
Criança que se diverte com coisas que
parecem bobas. Quando falo sobre isto, não
consigo deixar de pensar e repensar na irmã
adolescente que tenho em casa. Há algumas
semanas ela me pediu algo que me deixou
alegre e, ao mesmo tempo, triste. "Me ensina
a brincar de elefante colorido?"
Curso de Comunicação
Social
Outubro de 2009
Vaidade
infantil
Laís Mari Rabelo
Meninas e meninos, ou
mulheres e homens? A cada dia
que passa é difícil diferenciar uma
menina de 12 anos de uma jovem
de 18. É maquiagem, salto e até
depilação. Na Austrália, já existe
uma cera própria para remoção
dos pêlos, que nem devem existir
ainda. Será que os fabricantes
lembram que muitas vezes criamos
necessidades que na verdade são
apenas desejos, mas que esses
pequenos não conseguem
diferenciar.
O anúncio diz: o tratamento
perfeito para a pele da criança. Lá
vou eu achando que é um protetor
solar infantil, que não arde os
olhos. Errei: é um ultramoderno e
sofisticado creme hidratante com
aloe vera. Ao menos não é
antiidade! Porém, voltando alguns
anos, lembrei que eu também
gostava de me enfeitar quando
novinha. Só que eu usava os
cosméticos da minha mãe, que
perigo. Ainda bem que hoje as
mães podem ficar mais tranqüilas,
pois com uma regulamentação
rígida é possível garantir uma pele
saudável, mas também um rombo
no bolso dos pais. E olha que essa
é a nossa realidade. Afinal o Brasil
é o terceiro país que mais consome
cosméticos infantis.
Os pais e a mídia são os maiores
responsáveis. Tudo bem que não
é necessário competir com a
publicidade poderosa que esses
produtos carregam. Mas todo o
cuidado é pouco. Primeiro com a
própria pele da criança, depois com
o psicológico, que deve deixar
claro que comemorar o aniversário
no salão de beleza é apenas uma
brincadeira e não um ritual de
beleza que deve ser seguido à
risca.
 extra
Outubro de 2009
“Trabalho porque gosto”
Bianca Goulart
editado por Guilherme Simon
D e acordo com o Estatuto da
Criança e do Adolescente
(ECA), é proibido qualquer tipo de
trabalho a menores de 16, exceto na
condição de aprendiz, a partir de 14
anos. O adolescente, na faixa etária
entre 16 e 18 anos, pode trabalhar
desde que o trabalho não seja
perigoso, que interfira na educação,
ou que seja nocivo para a saúde ou
para o desenvolvimento físico,
mental, moral e social.
Segundo o Estatuto, a fase da
infância vai até os 12 anos
incompletos. Muitos jovens
começam a se interessar a trabalhar
a partir dos 13 anos. No entanto,
mesmo nesta idade e até os 16 anos
ainda é uma fase de risco, pois a
personalidade está terminando de
se formar e ainda não há estrutura
física para estar trabalhando.
Em algumas cidades o trabalho
na fase infantil e adolescente se dá
devido a uma questão cultural, e em
Araranguá não é diferente. No
interior do município, muitas
famílias que trabalham em lavouras
passam desde cedo seus
ensinamentos às suas gerações,
pois preferem que os filhos estejam
trabalhando a saber que estão sem
fazer nada pelas ruas.
Enizabel Vieira Santana,
agricultora, é mãe de Lucas, de 14
anos, e conta que o filho a
acompanhava na lavoura do fumo
desde cedo. “Ia lá buscava um boi
ou outro, alimentava as vacas,
buscava o fumo”, relata a mãe
sobre a prática do filho na roça. Até
há pouco tempo o menino ainda
trabalhava com isso, mas, como
ganhava pouco e o trabalho estava
ficando puxado, Lucas deixou o
serviço rural para trabalhar,
atualmente, em uma construção
como ajudante do pai, que é
pedreiro. Lucas estuda na parte da
manhã e trabalha no outro horário.
“Ele não gosta de estudar, prefere
não estudar e trabalhar”, comenta
Enizabel. A mãe fala que o dinheiro
que o filho ganha ajuda bastante,
assim ele pode comprar o que é
necessário para ele, além disso,
consegue manter o aparelho
dentário, pois só com a renda dos
pais não seria possível. Além de
ajudar na questão financeira, os pais
também se preocupam com os
filhos com relação às drogas. “Tem
muitos amigos dele que já estão
metidos com droga”, ressalta.
Um trabalho alternativo para os
jovens que moram no interior são
também as mercearias. No Lagoão,
Osvaldo Francisco, dono de uma
mercearia, sempre emprega garotos
que moram por perto. Na mercearia
já passaram em torno de 15 jovens
QUESTÃO LEGAL 3
Foto: Bianca Goulart
e, segundo ele, o objetivo principal
é contribuir para aprendizagem
desses garotos, ensinar à eles como
trabalhar.
Gabriel, 13 anos, é um dos atuais
ajudantes de Francisco na
mercearia. Ele trabalha pela manhã e
estuda no período da tarde. “Eu
gosto de trabalhar”, conta o
estudante. Ele diz que trabalha pelo
dinheiro, mas que também é melhor
estar ali do que ficar em casa sem
fazer nada. Para fazer suas tarefas
escolares ele utiliza o turno da noite
e conta que não há dificuldade
nenhuma nisso. “Todo homem deve
ter uma profissão”, é o que justifica
Edevaldo Goulart, pai do Gabriel. O
pai acredita que deixando seu filho
trabalhar desde já pode contribuir
para um melhor desenvolvimento
para a futura profissão.
O Governo Federal criou o
Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (Peti) para eliminar
todas as formas de trabalho infantil
no país, atendendo famílias cujas
crianças e adolescentes com idade
inferior a 16 anos se encontrem em
situação de trabalho. O programa Gabriel trabalha pela manhã numa
busca resgatar a cidadania, mercearia e à tarde estuda
promover o direito dessas crianças
e reaproximar esses jovens à escola,
à família e à comunidade.
O procedimento do conselho
tutelar, sempre que recebe Programas de assistência social
denúncias sobre trabalho infantil, é
Janaína Mengue Cardoso e auxiliar na qualidade de vida para integrar o jovem na sua
verificar a situação da família e,
editado por Vivian Sipriano as crianças e os adolescentes comunidade, porque muitas vezes
dependendo da condição sócio-
carentes, uma vez que eles não têm ele é excluído por ter cometido a
econômica, encaminhar essas
Considera-se criança, para os muita oportunidade para infração”, explica a coordenadora
famílias para a Secretaria do Bem
efeitos da lei, a pessoa de até 12 frequentar aulas de capoeira, por do projeto, Isabel Cargnin.
Estar Social do município. As
anos de idade incompletos, e exemplo,” avalia a coordenadora As atividades devem ser
crianças que estão em situação de
adolescente aquela entre 12 e 18 do Cras, Lílian Folchini. Os projetos realizadas em instituições sem fins
risco são encaminhadas ao Peti e,
anos de idade. Compondo o tripé são separados por nível de lucrativos e não podem ser
se a criança não estiver regularmente
da seguridade social ao lado da complexidade: básica, média e alta. humilhantes. Atualmente 50 adoles-
estudando, são encaminhadas
Previdência e da Saúde, a Dentro do proteção social centes são acompanhados pelo
novamente à escola. No Peti as
Assistência Social foi norteada pela básica é desenvolvido o Programa programa.
crianças participam de oficinas, além
Lei Orgânica da Assistência Social Adolescente Responsável (PAR), O programa Benefício de
de receberem um benefício
(LOAS) e compreendida como que oferece cursos profissionali- Prestação Continuada na Escola
financeiro no valor de R$ 25. Meio
política pública devida a quem dela zantes para crianças e adoles- (BPC na Escola) é um programa
período as crianças estudam e meio
necessitar. centes que estejam matriculados na federal implantado neste ano em
período freqüentam as oficinas. As
Em Tubarão, esta secretaria rede pública de ensino da cidade, Tubarão. Nele se trabalha com
crianças são de baixa renda.
desenvolve programas de caráter como secretariado, administração crianças e adolescentes com
No estacionamento do Hospital
sócio-educativos para atender aos e informática. “Para freqüentar o múltiplas deficiências, em que o
Regional de Araranguá, L.R.A., 15 cidadãos e/ou grupos que se projeto os participantes recebem atendimento tem que ser integral.
anos, vende cocada de segunda a encontram em situação de uma bolsa no valor de R$ 65,OO e “Muitas vezes a pessoa que cuida
sexta. O menino mora em Balneário vulnerabilidade e risco social, que transporte publico”, relata a do deficiente não pode se
Arroio do Silva, município vizinho, não necessariamente estão coordenadora Cléria Agostinho. locomover até a secretaria para
e se desloca durante a semana para atreladas a condição econômica Dentro do proteção social de pedir ou receber o auxílio, então
vender cocada com a sua cunhada dos indivíduos. média complexidade está o projeto trabalhamos com as agentes de
de 18 anos. Ele mora com a mãe, que Implantado no município no Caminhar, que atende crianças e saúde de cada bairro para fazer o
faz cocadas, o pai, pedreiro, e mais 3 ano passado, o Centro de adolescentes infratores, encami- cadastramento da família para que
irmãos mais novos do que ele. Pela Referência de Assistência Social nhados pelo juizado da vara da a assistência possa ir até a casa dela
manhã estuda e a tarde trabalha. (Cras) atende crianças, adolescen- família, infância e juventude, para ver quais são as suas necessi-
O jovem diz que não tem tes, adultos e idosos. Ali são cumprimento de medidas sócio- dades”, ressalta a coordenadora
vontade de brincar com os amigos desenvolvidos programas volta- educativas em meio aberto, com Lucília Maria Costa.
porque tem vontade de trabalhar. A prestação de serviços a comuni- Por fim, há o programa Família
dos principalmente para as famílias
dificuldade financeira faz com que dade, em liberdade assistida por no Acolhedora, de alta complexidade.
que participam do programa Bolsa
garotos como este se sintam máximo seis meses. “O adolescente O objetivo do programa é garantir
Família do Governo Federal. No
responsáveis em ajudar a família, por não poderá receber nenhuma um acolhimento provisório a
centro são desenvolvidas ativida-
isso já põem em mente desde cedo remuneração, porque ele esta crianças e adolescentes que
des como dança, capoeira, caratê,
de que o trabalho é necessário e que informática, atividades físicas e pagando o crime que cometeu em tiveram seus direitos violados e por
as demais coisas ficam em segundo culturais. serviços para a comunidade e o decisão judicial foram afastadas do
plano. “Nós temos o dever de atender principal objetivo do programa é convívio familiar.
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4 DEVER DOS PAIS
PAIS Outubro de 2009

Pequenos capitalistas do século 21 Foto: Laís Mari Rabelo

Laís Mari Rabelo
editado por Jabson Müller
A dificuldade dos pais em dizer
não, juntamente com a ausência
devido ao excesso de trabalho,
gera a ilusão de que dar tudo o
que os filhos pedem vai suprir o
tempo que não podem estar
presentes, e contribui para
aumentar o consumo infantil.
Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, o IBGE,
a quantidade média de filhos que
a mulher teria ao final de sua idade
reprodutiva vem caindo gradativa-
mente desde os anos 70, quando
cada mulher tinha em média 5,8
filhos, e caiu para 2,3 filhos no ano
2000.
Com menos filhos, porém com
poder aquisitivo maior, os pais
cedem ao poder da mídia e dos
pequenos com mais facilidade. Ana
Paula Amboni, mãe de duas filhas,
conta que na época que ganhou a
filha mais velha, hoje com 21 anos,
enfrentou muitas dificuldades e
não tinha condições de dar tudo o
que a filha precisava. Já com a mais
novinha que completou um mês no
começo de setembro, está
satisfazendo o desejo de mãe. "Fiz
quartinho novo, lembrancinha e
compro roupinhas todo mês", diz
Ana Paula.
Mesmo as mães mais
controladas em relação aos gastos,
como Gisele Saturnino, mãe de
Sophia, 10 meses, ressalta que
adora ver sua filha bem vestida.
Para o comércio e a indústria
de artigos destinados às crianças,
é tempo de lucratividade, pois o
setor movimenta média anual de
50 bilhões de reais, segundo o
instituto Alana (www.alana.
org.br). Rose Fontoura, gerente do
Criciúma Shopping, afirma que
25% da verba das atrações são
destinadas às crianças, e a
tendência é aumentar para o
próximo ano. O motivo é a resposta
que os pequenos dão aos apelos
da mídia e também à influência das
crianças em cerca de 80% das
decisões de compra, segundo a
pesquisa da TNS/InterScience em
outubro de 2003.
"É tudo pelo prazer de ser
criança", justifica Giane Sartor
Rodrigues, mãe de Leandro
Rodrigues. Ela lembra que a
educação mudou muito, e hoje os
pais entendem que os filhos
precisam aproveitar melhor essa
parte da vida. Além disso, a gama
de produtos à disposição do
público infantil é muito maior que
a 20 ou 30 anos atrás.
Para o comércio e a indústria, as
A criança é um ser humano
crianças são sinônimo de lucro
ainda em desenvolvimento e com
a personalidade em formação,
portanto bastante vulnerável aos às vezes vai além do que a família pena comprar ou não, já o caçula criançada, precisou extinguir a
apelos da publicidade. De acordo tem condições de comprar e que tenta persuadir de todas as propaganda de McLanche Feliz,
com o instituto Alana, crianças não traz nenhum tipo de benefício. maneiras". Graziela avalia que é uma caixinha que vem com a comida
entre 2 e 7 anos assistem em média Cada vez mais cedo as crianças já ainda quando pequenos que se e que trazia junto um brinquedo. O
12 comerciais por dia, enquanto as determinam o que desejam. A ensina, pois não adianta liberar o mimo foi tratado como propaganda
de 8 a 12 anos assistem até 21 gerente de loja infantil Eliana C. consumo enquanto pequenos e abusiva com grande apelo
comerciais por dia, sendo que Victor Moroni observa que desde depois tentar mudar. E revela: "é comercial destinado aos pequenos.
cerca de 50% são de produtos os 2 anos de idade são eles que no supermercado que o Pedro O estímulo ajudava a vender o
alimentícios, como guloseimas e decidem o que vão levar. E cabe mostra seu lado consumista". hambúrguer, prejudicial a saúde,
fast food. aos pais selecionar se devem Empresas do setor alimentício contribuindo para a obesidade
Gisele Lazarino Cunha, autora concordar ou não. Graziela Caldas, já se comprometeram em infantil. Anelise Paim Draessler,
do artigo Mídia Brasileira Criança mãe de João Victor Caldas, 12 anos, autorregulamentar a publicidade de advogada do Procon de Criciúma,
e Adolescente, afirma que a e Pedro Emanuel Caldas, de 3 anos, produtos que não contenham valor ressalta que "a propaganda
propaganda destinada ao público garante que é preciso impor limites. nutritivo e são dirigidas às crianças induzia as crianças a consumir um
infantil é altamente perigosa e "O mais velho já está acostumado menores de 12 anos. Já o produto nada saudável, e ainda
institui dentro delas o desejo com o ritmo de compras da família, McDonalds, uma das redes de fast com um custo alto para a condição
incontrolável de possuir algo que ou seja ele mesmo pesa se vale a food mais famosa e adorada pela econômica de muitos pais."
Foto: Karoline Nazário

Infância e vaidade
Combinação que pode não dar certo
Karoline Nazário
editado por Emanuel Machado
Meninas com idade entre dois e
nove anos se preparam para brilhar
na passarela. Ainda não sabem qual
profissão seguir na fase adulta, mas
se comportam como verdadeiras
modelos na hora do desfile. O
concurso que elegeu a Mini
Glamour Baby de Santa Catarina foi
realizado em Araranguá contando
com diversas atrações infantis e
doces. Cerca de 300 pessoas
estiveram no local.
A candidata Gabriela Sauer, 9
anos, conquistou o título. "Ela
gosta de estar na passarela. Tinha
Gabriela, de 9 anos, conquistou grande expectativa e hoje comemora
concurso de beleza infantil a conquista. Vamos apoiá-la caso
deseje seguir carreira", ressalta a
mãe, Kelly. A psicóloga Melissa
Boeira alerta que devemos analisar
a forma como o evento vai ser
realizado. "É normal enquanto não
compromete a saúde, pois quando
a vitória passa a ser a única fonte
de prazer acaba gerando um
sentimento de inutilidade na criança
não premiada".
As roupas influenciam o
comportamento das crianças e são
motivos de discussão. De um lado,
está a mãe tentando convencer o
filho a se vestir como criança, do
outro, o filho querendo roupas com
características mais adultas.
Segundo a proprietária de uma loja
infanto-juvenil, Mônica Olivo de
Almeida, as crianças procuram as
roupas de acordo com as fases da
vida que estão vivendo.
O hábito de se maquiar vem
desde cedo. Salões de beleza
recebem crianças com freqüência.
A cabeleireira Roxane Barreto
revela que os meninos cuidam mais
do cabelo do que as meninas.
"Eles pedem muito para fazer luzes
e dar formato com gel. Elas gostam
de manter o cabelo comprido".
A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) tem
registrado mais de 3,5 mil produtos
voltados para crianças. O Brasil é
hoje o terceiro maior mercado de
cosméticos infantis do mundo. De
acordo com dados da Associação
Brasileira da Indústria de Higiene
Pessoal Perfumaria e Cosméticos -
Abihpec, o segmento cresceu 10,6
% nos últimos treze anos e chegou
a faturar R$21,7 bilhões em 2008.
 extra
Outubro de 2009
Órfãos aprendem a
conviver com a dor
Renan Meinen
editado por Alexandre Frazão
A psicóloga Carolina Schuma-
cher é categórica no que diz respeito
à importância da figura materna e
paterna na criação de um menor. “Os
pais são indispensáveis para a vida
de uma criança”. Entretanto, nem
sempre é possível que esses laços
sejam mantidos, devido a fatalidades
ou ao abandono – físico, afetivo ou
moral – dos menores. Nesses casos,
a tutela da criança geralmente fica
com demais familiares ou instituições
de abrigo.
“É certo que a ausência dos pais
trará consequências para o
desenvolvimento psíquico da
criança, entretanto, não temos como
saber de antemão de que tipo
serão”, explica Carolina. A psicóloga
lembra ainda que mesmo os pais
presentes podem se tornar ausentes
na educação dos filhos. “Em ambos
os casos, o que irá determinar as
consequências dessa lacuna será ao
menos dois fatores: a forma como a
criança lida com a ausência e a forma
como o meio – família, cuidadores –
lida com essa criança”.
Do ponto de vista psicológico,
Carolina esclarece que os menores
que perderam os pais devido à
morte terão mais chances de
simbolizar a perda e elaborar um
processo de luto do que aqueles
que os perderam por questões de
violência doméstica ou de
abandono. “O abandono, acredito,
poderá desencadear traumas mais
significativos, uma vez que a criança
tenderá a se sentir culpada, em
algum momento, por ter sido deixada
por quem deveria desde sempre
Adotar não é algo tão difícil
Luiza Droese
editado por Guilherme Simon
Ao contrário do que a maioria
das pessoas pensa, adotar não é
algo tão complicado de se fazer
juridicamente. Participam do
processo de adoção o juiz da
Infância e da Juventude, o
promotor de Justiça e a psicóloga
Forense. Todos têm o objetivo de
preservar o bem-estar da criança/
adolescente e de avaliar qual o
melhor lar para ela. Em Tubarão,
15 crianças e adolescentes são
Pais presentes podem se tornar
ausentes na educação dos filhos
amá-la”, analisa.
Pamela, de 19 anos, viveu a perda
dos pais. O pai sofreu um acidente
vascular cerebral (AVC) e a mãe uma
parada cardiores-piratória. Quando
o primeiro faleceu, ela tinha 9 anos.
“Lembro que estava dormindo e,
quando acordei, ele estava sendo
carregado para um carro, para ser
levado ao hospital”. O caso da mãe,
que ocorreu quando Pamela tinha
12 anos, ainda é nítido na memória
dela. “Basta fechar os olhos. Minha
mãe sofreu a parada cardíaca na
minha frente e, antes de cair, ainda
me mandou um beijo, coisa que
nunca esquecerei”, relembra.
Pamela foi amparada pela família.
Mudou para outro estado e teve que
conviver agora com três “irmãos”.
Nem sempre isso ocorre. É o caso
de Júlia, de 9 anos, e de Giovana, de
10 anos. As duas foram
adotados por ano. O casal Carlos
e Nadir sempre teve o desejo de
ter filhos, mas ele é estéril. Eles
adotaram Gabriela, hoje com
quatro anos. “Ao adotar a Gabi
nós nos sentimos realizados e
pudemos ter a experiência que
sempre sonhamos: a de criar um
bebê e chamar de nosso”, diz o
casal. O processo durou
aproximadamente cinco meses e
foi consensual. “A Gabi se
adaptou bem. Hoje levamos uma
vida familiar completamente
normal”, completa.
A FAMÍLIA
FAMÍLIA
encaminhados pelo Ministério
Público (MP) a uma instituição que
abriga menores no Extremo Sul de
Santa Catarina. A psicóloga Maria
Regina Batista, que trabalha a quatro
anos no local, conta que existem 32
crianças nessas condições hoje na
casa. “Temos crianças entre 3 meses
e 17 anos. Quando elas são
encaminhadas para cá, geralmente
a família já está nocauteada. Os pais
estão perdidos”.
Júlia está na está na casa desde
outubro do ano passado. No abrigo,
conta que tem aulas de italiano, de
música e de educação física. Gosta
de todas. Além disso, fez “vários
amigos”. A menina, que sonha em
ser modelo, teve que ser separada
da mãe porque ela consumia drogas
demasiadamente. “Tenho saudade
dela”, revela Júlia. No entanto,
segundo a psicóloga Regina, a
As exigências dos casais
adotantes são o que fazem a
adoção demorar mais para
acontecer. Geralmente eles querem
crianças recém-nascidas, meninas
e de cor branca. Por esse motivo,
eles ficam na fila por muito tempo.
T. e F., que não quiseram se
identificar, tinham algumas
preferências. No entanto, quando
foram conhecer as crianças, se
apaixonaram por uma menina que
era o oposto do que o casal
preferia. S. é negra e, na época,
tinha três anos. “Logo que
Foto: www.sxc.hu (reprodução livre)
mulher não quer ver a filha.
Giovana está há sete meses no
abrigo. Foi acolhida porque os pais
foram presos por tráfico de drogas.
Visitou-os recentemente na prisão.
“Minha mãe me deu uma boneca,
que vem com dois sabonetezinhos,
e uma carta. Eu quero levar alguma
coisa para ela, mas não posso”. Ela
conta que está feliz porque o pai
ficou na mesma prisão que a mãe. A
Justiça iria colocá-lo em outra
instituição. Além disso, a pena dos
dois pode ser suavizada. A mãe de
Giovana pode sair em breve; já o pai,
um sujeito que Regina define como
“perigoso”, talvez saia alguns anos
antes dos nove previstos inicialmen-
te. A menina sonha em ser advogada
quando crescer. “Isso se deve à
vontade de tirar os pais da cadeia,
mesmo que seja um desejo
inconsciente”, explica Regina.
conhecemos a S. sabíamos que era
com ela que queríamos ficar. Nós
queríamos uma criança branca
para evitar questões de
preconceito, mas decidimos
passar por cima dessa barreira
porque realmente gostamos muito
dela. “Acreditamos que valia a
pena. E valeu”, diz o pai adotivo
da criança. Para quem deseja
adotar uma criança/adolescente,
há mais informações no site do
Poder Judiciário de Santa Catarina,
www.tj.sc.gov.br, no link Portal da
Infância e Juventude.
5
Sonho de
ser padre
Alissa Steilein
revisado por Emanuel Machado
João Augusto Michels entrou
para o seminário Nossa Senhora
de Fátima, de Tubarão, aos 17
anos. Os amigos Renato de Souza,
Jadson de Souza e Thiago
Mendes decidiram entrar quando
tinham 15. Eles sonham ser padres
desde criança. Ainda hoje,
adolescentes abrem mão de festas
e namoros, optando pelo
seminário. Existem 72 mil
seminaristas no mundo. Eduardo
da Rocha, 22, ingressou no
seminário quando entrava quem
quisesse. Hoje existe um processo
de adaptação para poder entrar.
Para se tornar padre, são 12
anos de estudos dentro do
seminário. Após terminarem o
ensino médio, os seminaristas
entram para a faculdade de
Filosofia. Diariamente, seguem
uma rotina de orações e estudos.
“Acordamos antes das 7h. Após
as orações, cumprimos nossos
deveres. À tarde temos aula no
seminário. À noite, assistimos a
missa e temos o tempo livre. A
partir das 22h30min é hora do
descanso”, diz Rocha. Entre as
aulas do seminário estão filosofia,
atualidades e português. Além
disso, os seminaristas se reúnem
com o padre responsável para
dividir os afazeres. Cuidam da
horta, dos aposentos da
instituição e fazer faxina.
A decisão de entrar para o
seminário partiu dos garotos, mas
contam que sentiram dificuldade
na adaptação. Já pensaram em
desistir. Segundo Renato, isso é
um momento de fraqueza, mas é
normal. Como em qualquer outra
carreira, há momentos de dúvida.
Embora sintam saudade, os pais
dos seminaristas sempre os
apoiam para que sigam o caminho.
Os garotos se mostram felizes pela
opção. “Não é porque estamos
aqui que deixamos de viver. Vamos
ao shopping, ao cinema e quando
estamos em casa vamos a festas,
sempre com a consciência de
nossas obrigações”, relata
Michels.
 6 IDADE DE RISCO
Histórias trágicas e futuros incertos
Jabson Muller
editado por Alexandre Frazão
Nenhuma criança ou adoles-
cente será objeto de qualquer
forma de negligência, discrimi-
nação, exploração, violência,
crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais. Esse trecho foi
retirado do Art. 5º do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Os
nomes dos personagens apresen-
tados nesses relatos são fictícios,
mas as histórias são retratos da
sociedade. Com 20 anos, Jaqueline,
mãe da pequena Jéssica, só quer
saber de namorar. Solteira, e sem
saber quem é o pai da filha, se
relaciona com diversos homens. A
casa onde mora serve de motel
para as noites de amor. A menina
apenas sorri quando vê a mãe
chegar com os “tios”.
Segundo Jussara, madrinha de
Jéssica, o abuso sexual com a
menina foi praticado pelo ex-
namorado da mãe. Mantendo
relações há dois meses com o
Ciaca: uma chance de felicidade
Alexandre Frazão
editado por Guilherme Simon
O Consórcio Intermunicipal de
Amparo à Criança e ao Adolescente
(Ciaca) é mantido por oito
municípios - Orleans, São Ludgero,
Braço do Norte, Rio Fortuna, Grão-
Pará, Santa Rosa de Lima, São
Martinho e Armazém. A entidade é
um lar temporário para crianças e
adolescentes em situação de risco
pessoal ou social, vítimas de maus
tratos, abandono, violência física,
negligência familiar e abuso sexual,
e atende até 16 menores.
Crianças como M., de 12 anos.
Ela cursa a 5ª série e está no Ciaca
há mais de um ano. “Minha vida
mudou desde que vim para cá”,
conta. A menina tem outros 13
irmãos. Uns, que estavam no
abrigo, foram adotados, outros
perderam-se nas drogas. Ela gosta
de dançar e tem muitos amigos na
casa.
O Ciaca tem 13 funcionários.
Braço do Norte, cidade-sede da
entidade, oferece outros três
profissionais: psicóloga, pedagoga
e uma espécie de mãe social. Para
Terezinha Machado, diretora da
casa, “a entidade tem papel
fundamental na sociedade, porque
tira menores das ruas e oferece
aprendizado”.
Quando uma criança chega à
casa, na maioria das vezes indicada
IDADE
homem, Jaqueline já se sentia à
vontade. Iludida, a mãe permitiu
por diversas vezes a presença da
filha quando o casal tomava
banho. A tia conta que a mãe
deixava a filha sozinha com ele no
banho, e nesse momento abusava
sexualmente da enteada.
Para o delegado da Polícia Civil
de Sombrio, André Coltro, é
impossível mensurar a quantidade
de fatos como estes, pois muitos
não são denunciados. Diz ainda
que os padrastos não são os
únicos autores de crimes como
este.
Teresa e quatro filhos sofrem
com a bebedeira de Pedro, o
marido. As brigas que se limitavam
a gritos e ofensas passaram para
socos e pontapés. Com medo do
marido, mas influenciada por um
vizinho, ela denunciou o homem.
Porém não adiantou, revoltado e
se sentindo afrontado, Pedro
obrigou a mulher a retirar a queixa
sobre as ameaças.
Certo dia chegou bêbado e
obrigou Teresa a manter relação
sexual. “Nós estávamos todos no
Atualmente, 16 crianças recebem
aprendizado dentro da entidade
pelo Ministério Público, recebe
tratamento especial. Segundo Vítor
Schilickmann, funcionário do
Ciaca, leva pouco tempo para que
ela se familiarize.
Para Ademir Gesing, presidente
do abrigo e prefeito de São
Ludgero, o Ciaca tende a melhorar
com a institucionalização da
mesmo quarto, ele chegou e veio
para cima de mim, me estuprou e
as crianças que estavam do lado
viram tudo. Os inocentes acorda-
ram e começaram a gritar”, conta.
Com o passar do tempo, Pedro
começou a abusar da filha. “Ele
vinha em casa à tarde, quando a
mãe não estava. Pedia para os
manos sair que ele queria falar
comigo”, comenta Carla, 7 anos.
“Ele dizia que ia me ensinar como
fazia com a mãe e ia me mostrar
como gostava de mim. Falava que
eu não podia contar nada, pois
ela ia pensar que ele gostava mais
de mim. E daí ela ia me bater e
mandar embora”, chorou, olhan-
do para suas bonecas.
Para o promotor público de
Sombrio, Henrique Laus Aieta, o
maior entrave está na conivência
da família por medo de uma
exposição.
Na escola, Carla chamou a
atenção da professora Beatriz pela
mudança de comportamento em
sala de aula. Percebendo a falta
de estrutura da mãe, denunciou o
caso para o Conselho Tutelar.
entidade. “Tínhamos apenas um
nome fantasia, agora teremos CNPJ,
o que vai aumentar a força da casa
perante à justiça e às autoridades
políticas”, ressalta.
De acordo com a coordenação,
crianças até três anos são
facilmente adotas. A dificuldade é
para quem tem mais de cinco anos.
Com os indícios de estupro, o
Ministério Público pediu o
afastamento do homem do lar.
Segundo Aieta, nesses casos,
a Justiça primeiro pede o
afastamento do suspeito, poste-
riormente atua de forma mais
repressiva na questão criminal,
para que os culpados sejam
penalizados. Para ele, o abuso
sexual vai trazer para a criança
danos irreparáveis para o seu
desenvolvimento físico e psíquico.
Esses danos podem trazer
consequências muito penosas
para sua vida, como o uso de
drogas, a gravidez precoce,
distúrbios de comportamento,
condutas anti-sociais e infecções
por doenças sexualmente trans-
missíveis.
Jaqueline perdeu a guarda da
filha e hoje a família não sabe onde
a menina está. O ex-namorado
levou cinco tiros de traficantes e
morreu. Jussara ganhou a guarda
de Jéssica, que agora cresce em
um lar feliz. Já Teresa agradece a
Deus por ter seu desafeto longe
dos filhos e de sua vida.
Foto: Alexandre Frazão
C., 15 anos, é a interna que está há
mais tempo na casa. No entanto,
continua esperando pela adoção.
“Ainda tenho esperança de ter uma
família”, diz .
As pessoas que têm interesse
em adotar internos do Ciaca devem
buscar informações no fórum de
cada comarca.
extra
Outubro de 2009
Crianças
e drogas
Stephanie Piava
editado por Laís Mari Rabelo
É grande o número de jovens
e crianças que usam drogas
ilícitas. E o contato acontece
cada vez mais cedo. Os usuários
de drogas ilícitas são
financiadores do tráfico. Há
alguns anos o tráfico só fazia
parte do cenário de grandes
centros como Rio de Janeiro e
São Paulo. Hoje, pequenas
cidades também vivem essa
realidade. São diversas as formas
utilizadas para entregar a
“mercadoria” ao usuário. A droga
pode estar escondida em um
simples bombom, dentro de um
livro, em tubos que são
introduzidos na vagina e no ânus
ou até mesmo dentro do saco de
pipocas comprado na frente de
escolas. Os usuários quando
descobertos pelos pais, buscam
sempre um argumento para
justificar o uso, além de minimizar
o problema.
“Eu experimentei maconha e
gostei. Ela me deixa relaxado, por
isso, uso todos os dias. Cocaína
e ecstasy só às vezes. Eu gosto
do que sinto quando uso”, revela
E.M., um adolescente de família
classe média de apenas 15 anos
que começou a usar maconha
quando um amigo o ofereceu.
“Eu usava só às vezes quando
ganhava de alguns colegas.
Depois passei a comprar.”
completa o jovem. Com o uso de
drogas, E.M. teve bruscas
mudanças no seu comporta-
mento. O rendimento escolar
caiu, começou a se isolar do
mundo, além de ficar mais
impaciente e agressivo.
A primeira a perceber as
alterações comportamentais do
garoto foi sua professora de
matemática, Eliana Lolli. Que
contatou os pais do garoto. O
primeiro passo depois da
descoberta foi conversar com o
filho, que não negou o uso, mas
recusou ir a um psicólogo. Os
pais decidiram então adotar
algumas medidas para tentar
controlar o filho e o estimular a
deixar as drogas. “Colocamos
limites. Ele deve fazer algumas
tarefas domésticas. Tem horários
para assistir televisão, jogar
vídeo-game, ficar na internet e
estudar. Diminuímos sua mesada
e controlamos seus gastos. Para
acompanhá-lo tirei férias”, afirma
Rita de Cássia.
 extra
Outubro de 2009 SEXU ALID
SEXUALID ADE
ALIDADE 7

Educação sexual deve começar mais cedo

Daniel Ghedin
editado por Alexandre Frazão
A psicóloga Patrícia Pozza, especialista
em Psicopedagogia, afirma que os namoros
atualmente começam mais cedo, mas conta
que hoje é menos explícito. Ela diz que
antigamente era comum que as meninas
casassem aos 13 anos e os meninos eram
levados a bordéis para terem sua iniciação
sexual com prostitutas por volta dos dez
anos.
Entretanto, Patrícia concorda que as
práticas desse comportamento não são mais
comuns na atual geração e diz que impor
regras, como por exemplo, o castigo para
retardar o processo na vida sexual não é o
melhor caminho. A psicóloga ainda alerta que
os jovens nem pensam em preservativos na
hora da relação sexual.
M.T., 17, conta que começou a sentir
atração pelo sexo oposto aos 12 anos. “Era
por um menino da escola. Fiquei apaixonada
na época. Pensei que jamais iria sentir aquela
sensação por outra pessoa”, confessa.
Atualmente namora L.R., 18, e fala que está
mais madura, apesar de não estar ainda na
maioridade. O namorado, bem humorado,
ironiza: “ainda bem que não era o amor da
vida dela mesmo, senão, não a conheceria”,
brinca.
Para a psicoterapeuta Rosane Romanha,
os pais devem dar conselhos e orientar seus
filhos sobre a vida na infância e
adolescência. “Primeiramente devemos
explicar sobre sexualidade, mostrando a
diferença entre comportamentos promís-
cuos, ou seja, vida sexual desregrada”,
explica. Complementa dizendo que os pais
precisam alertar os filhos sobre atitudes
preventivas em relação às doenças
sexualmente transmissíveis como HIV,
gonorreia e outras mais, além da gravidez
precoce.
A ginecologista e obstetra Mariana
Scheidt dá algumas dicas de como proceder
em algumas ocasiões envolvendo as
adolescentes, como quais os métodos
preventivos para não acontecer uma
gravidez precoce, o que fazer quando há
corrimentos vaginais, qual a idade
apropriada para as mães levarem seus filhos
ao especialista e quais as medidas a serem
tomadas quando se tem uma gravidez
precoce.
Pais devem orientar desde cedo
Para Mariana, quando a gravidez já está
os filhos sobre sexualidade e sexo
em andamento, a adolescente deve marcar
uma consulta com o médico imediatamente.
“Em primeiro lugar ela precisa procurar o
profissional que a oriente e inicie o seu pré-
natal”, enfatiza.
Ela revela que é perguntada
frequentemente sobre qual a idade
apropriada para as meninas se consultarem
pela primeira vez com o ginecologista e
obstetra. “A partir do momento que ela tiver
a primeira menstruação, deve ter a primeira
consulta para que sejam dadas as
orientações e explicações sobre seu corpo
e sexualidade”, esclarece.
Sobre o corrimento vaginal que as
adolescentes têm em sua vida menstrual,
Mariana afirma que normalmente todas têm
algum tipo de secreção vaginal. Para quem
não quer ter uma gravidez precoce, a
ginecologista aconselha a prevenção.
Desde cedo deve-se ter uma relação
aberta na família, abordando assuntos como
sexualidade e priorizando uma boa
explicação e orientação para a criança.
Os pais devem orientar quanto aos
perigos que o sexo possa trazer, não só uma
gravidez, mas todas as doenças sexualmente
transmissíveis.
“A orientação de uma profissional é
importante, portanto meninas na pré-
adolescência, mesmo antes da primeira
menstruação, devem ser orientadas por um
ginecologista, para explicações de como
funciona o seu corpo e orientação quanto à
prevenção de doenças e gravidez”, completa
a ginecologista e obstreta.
Foto: www.sxc.hu (reprodução livre)

Gravidez na adolescência ainda

representa um sério problema
Mariane Lidorio
editado por Emanuel Machado
A gravidez na adolescência está se
tornando cada vez mais comum. Na maioria
dos casos, um dos adolescentes abandona
a relação sem se importar com o que está
por vir. Segundo a enfermeira Gabriela de
Souza Dias, um dos motivos que
influenciam é a pressão dos amigos para
o início da vida sexual ativa. A psicóloga
Cláudia de Albuquerque contribui dizendo
que a falta de diálogo entre pais e filhos é
o mais prejudicial. A diretora da Escola de
Educação Básica Fernando José Cardoso
localizada em Gravatal, Vera Lúcia Fermino,
diz que a gravidez é um dos temas
abordados na 7ª e 8ª séries.
Rosângela da Silva, 35, ficou grávida
aos 14 anos. Nunca imaginou ser mãe com
aquela idade, nem sabia que durante a
relação sexual poderia engravidar. “Naquela
época não falavam sobre sexo, nem nas
escolas. Minhas irmãs brigavam, mas não
explicavam que eu esperava um bebê. Certo
dia, me senti mal. Meu namorado pediu para
que a mãe dele me levasse ao médico”,
lembra. Na outra semana, Rosângela foi
ganhar sua filha. Depois de alguns dias,
voltou a estudar. Levava o bebê para a
escola e as merendeiras cuidavam.
Segundo dados do Hospital Nossa
Senhora da Conceição de Tubarão, do
início de 2008 até final de julho desse ano,
443 jovens da região entre 15 e 20 anos
tiveram bebês. “A gravidez na
adolescência é considerada um risco, pois
a formação do corpo feminino só termina
aos 18 anos. Se o útero for imaturo pode
ocorrer o aborto”, explica a enfermeira.
A gravidez na adolescência é um
problema sério. Bebês de mães
adolescentes podem apresentar
problemas neurológicos, o que se associa
ao aprendizado da criança. Porém, através
do pré-natal, mãe e bebê recebem
atendimento e a possibilidade de diminuir
complicações.
Segundo Cláudia, o atendimento
psicológico permite um acompanhamento
dos medos, revoltas e anseios da
adolescente. Afinal, ela precisa lidar, ao
mesmo tempo, com as alterações
psicofisiológicas da adolescência
associadas à maternidade inesperada.
A coordenadora municipal do programa
Saúde da Mulher, Simone Comin, diz que
os anticoncepcionais e preservativos são
distribuídos em todas as unidades de saúde
do município. São entregues em lugar
reservado, garantindo a privacidade e a
orientação quanto ao uso do método. “O
desejo de ser mãe está presente na maioria
das mulheres, independente de serem
adolescentes ou adultas. Não podemos
afirmar que a gravidez precoce é sempre
indesejável, muitas vezes ela é inesperada,
o que é diferente”, avalia a psicóloga.
 8 ALIMENTAÇÃO
Obesidade também é
problema de criança
Emanuel Machado
editado por Laís Mari Rabelo
A obesidade não é um problema
apenas de adultos, cerca de 10% das
crianças brasileiras sofrem da
doença. Maus hábitos alimentares
e a falta de exercícios físicos são os
problemas mais comuns. A acadê-
mica de Nutrição da Universidade
do Sul de Santa Catarina (Unisul)
Frantieska Maia diz que os alimentos
industrializados ganham espaço na
alimentação de crianças e adoles-
centes por serem fáceis de preparar.
Dessa forma, abrem mão de frutas e
verduras que são ricas em fibras e
fundamentais na manutenção do
peso.
Aos 11 anos, a estudante
Thayná Machado tem 1,55 de altura
e pesa 60 Kg. Não chega a ser um
caso de obesidade, mas de
sobrepeso. Com apenas um ano de
idade, teve pneumonia e atribui o
excesso de peso que passou a ter
depois disso aos medicamentos
usados para curá-la, mas não nega
que exagera nas refeições. Sempre
que a mãe a repreende é motivo de
discussão, mas, quando Thayná vai
às comprar, lhe dá razão. “Não existe
algo mais frustrante do que entrar
em uma loja e ver que as roupas
mais bonitas não têm o meu
tamanho”, revela.
Vontade de emagrecer
Foram situações como essas
que fizeram a menina ter vontade
O que as crianças comem nas escolas
Cristian de Bona
editado por Laís Mari Rabelo
As crianças ficam cerca de
quatro horas na escola e possuem
um intervalo para o lanche.
Geralmente os pequenos são os
que mais se alimentam nos
colégios, isso porque os pais se
preocupam que o filho não fique
sem comer por muito tempo. Já o
adolescente tem maior liberdade de
comer conforme sua vontade, e os
pais não ficam cobrando para que
se alimentem.
“Sempre tem aquela preocu-
pação, principalmente quando são
crianças. A gente fica pensando se
comeram o lanche, mas quando
de emagrecer. Ao invés de passar o
dia todo na frente da televisão ou
do computador, ela está praticando
esportes, com o objetivo de perder
peso. Frantieska diz que qualquer
exercício aeróbico é válido, jogar
bola, andar de bicicleta ou caminhar.
O importante é que a criança deixe
de ser sedentária e faça alguma
atividade que contribua para a
queima de calorias.
Thayná estuda na 6º série da
Escola Básica Catequista Joana
Pendica, localizada no bairro Pouso
Alto do município de Gravatal. Dos
215 alunos matriculados nessa
escola, 10 estão com excesso de
peso. As cozinheiras garantem que
existe um cuidado especial com a
higiene, porém revelam que há
dificuldade de controlar a
quantidade que os alunos comem.
“Algumas mães preocupadas vem
conversar conosco, explicamos
que as refeições feitas na escola
são equilibradas e de qualidade.
Mas o controle da quantidade deve
ser um hábito também em casa”, diz
a cozinheira Maria Elenita Grasso.
Horta na escola
A escola possui uma horta, mas
antigamente os alunos não
valorizavam. Para conscientizá-los
da importância de verduras e
legumes, a professora Jaçanã dos
Santos Cardoso decidiu que os
alunos deveriam mantê-la. Entre
outros vegetais, cultivam alface,
cebola e repolho, tudo sem
ficam maiores, a gente já não se
preocupa tanto”, conta Adriana de
Liz, mãe de Isadora, de 7 anos.
O que comer?
Mas o que comer nas escolas?
Algumas instituições de ensino
servem apenas comida saudável,
como assados, sucos, bolos e
vitaminas, podendo tranquilizar os
pais dos pequenos que compram
lanche no local de estudo.
“Aqui no nosso colégio há
alguns anos substituímos o
cardápio, excluindo frituras,
refrigerantes, balas e chocolates
por lanches saudáveis e sem
conservantes”, explica a diretora do
ALIMENTAÇÃO
agrotóxicos. Dessa forma, é
possível deixar as refeições ainda
mais saudáveis. Como na escola
não há cantina, a única opção de
lanche é aquela oferecida no
refeitório. Para as cozinheiras, a
horta dá a oportunidade de ousar e
diversificar as refeições.
Em 2001, o governo do estado
de Santa Catarina proibiu o
comércio de guloseimas,
refrigerantes e frituras nas escolas
de educação básica. Atendendo à
legislação, a escola decidiu fechar
a cantina que havia. A orientadora
Vera Lúcia Teixeira diz que a lei
mudou a rotina dos funcionários.
colégio São Bento de Criciúma, Ana
Luiza Venturini.
Para os pequenos ainda não há
uma conscientização sobre o
perigo da má alimentação, por isso
alguns reclamam de não haver
salgadinhos e refrigerante para
vender.
Lanche liberado
Já a escola de educação básica
Heriberto Hülse vende qualquer
tipo de alimento, seja fritura,
refrigerante e balas, além de permitir
a saída dos alunos de ensino médio
no intervalo, para que possam ir até
o bar que fica próximo à escola. “Eu
nunca parei para pensar se comer
Imagem: Campanha Active Life Movement
Campanha da Active Life Movement
buscou concientizar pais e filhos
Passaram a valorizar mais o trabalho
das cozinheiras, assim como a
alimentação das crianças.
Problemas de saúde
A criança obesa enfrenta
problemas de saúde e ainda o
preconceito dos colegas e da
família. Thayná tem vontade de
participar das aulas de educação
física, mas é incomodada pelos
apelidos. A professora Osmarina
Garcia diz que os apelidos surgem
como defesa. Quando uma criança
magra é perturbada por uma
gordinha, vai querer xingá-la com o
muita fritura faz mal. Eu como o que
eu estiver afim”, conta Gislaine
Gomes, 15 anos.
“Mas se a escola servisse
apenas coisas boas, de certa forma
a gente iria ter que comer alimentos
saudáveis. Seria uma pressão boa”,
reconhece a estudante Gislaine
Gomes, 15 anos
Para a nutricionista Fabíola
Alves, o cuidado com as crianças é
fundamental. Os pais devem estar
atentos a tudo que os filhos
consomem e optar por enviar
lanches de casa é a melhor escolha.
“Não dá para proibir de comer as
besteiras, pois quando querem,
comem escondidos. Então o ideal é
administrar a quantidade”, explica
extra
Outubro de 2009
que lhe ofende mais.
A acadêmica de psicologia da
Unisul Susanne Faust da Silva
acredita que a obesidade pode
afetar o psicológico da criança a
ponto de gerar comportamentos
infantilizados. Outros problemas
são auto-estima abalada e a
dependência materna.
“A obesidade cria uma enorme
carga psicológica e está relacionada
a fatores como a percepção de si, a
ansiedade e o desenvolvimento
emocional da criança”, diz
Susanne. Ela acrescenta que o
aluno obeso ou com sobrepeso
merece atenção especial.
a nutricionista.
Controle em casa
Benta de Souza procura sempre
variar o lanche de Nicole, sua neta
de 6 anos. “Cuidamos para que ela
se alimente bem. Mas de vez em
quando, por conta da correria, ou
pra variar um pouco, permitimos
que ela compre o lanche lá (no
colégio). Não nos preocupamos
muito porque o colégio não serve
frituras nem doces”, enfatiza.
A maioria dos jovens do
colégio São Bento diz ser instruída
dos benefícios de uma alimentação
saudável, mas que não segue essa
linha na hora da fome.
 extra
Outubro de 2009
Esporte e infância: combinação que dá certo
Vanessa Buss
editado por Samira Pereira
Existem muitas crianças que praticam
algum tipo de esporte, seja em busca de algum
sonho ou para ter um momento de diversão.
Mas será que o esporte ajuda mesmo em seu
desenvolvimento?
A universitária Aline Machado, 19 anos,
tem um sonho muito comum entre os
brasileiros: ser feliz praticando seu esporte
favorito. Ela treina handebol desde os 9 anos
e hoje cursa a faculdade de Educação Física.
Todo sábado pela manhã tem um
compromisso com a sociedade, algo que pode
melhorar a vida de muitas crianças. Aline dá
aulas de handebol no bairro mais humilde de
Forquilhinha, na comunidade de Santa Cruz.
Quando os alunos chegam, fazem
alongamento e aquecimento. São
aproximadamente 20 crianças, meninos e
meninas que jogam juntos. "Quando estou
muito estressada, ao invés de descontar nos
outros, venho pro treino e jogo bola. O
handebol é uma terapia, me acalma e me deixa
feliz", conta Aline.
O projeto que ela participa é promovido
pelo Conselho Municipal de Esporte (CME).
De acordo com o secretário de Cultura,
Esporte e Turismo de Forquilhinha, Darcy
Gomes Ferreira, cerca de 400 crianças estão
o livre)
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Foto: w
ATIVIDADE FÍSICA
TIVIDADE
treinando alguma das cinco modalidades:
voleibol, handebol, futsal, futebol suíço e
xadrez.
A treinadora de Aline e também
professora de Educação Física, Vânia Vitório,
diz que o objetivo principal do esporte é a
inclusão social, além de levantar a auto-
estima dos atletas. Mas nem sempre é isto o
que ocorre. "Dos 7 aos 14 anos a
musculatura da criança é muito frágil. Quanto
mais tarde começar a treinar, melhor para o
corpo", diz Vânia. De acordo com a
professora, a idade ideal é de 15 anos ou
mais, porque os músculos já estão mais fortes
e formados.
A treinadora não ilude nenhum de seus
alunos dizendo que têm chances de ir para a
seleção. Ela fala que eles devem se apaixonar
pelo esporte e aproveitar o que ele traz de
bom, pois na hora do jogo a rivalidade é
grande, e o orgulho também. "Sonhar é bom,
mas é preciso manter os pés no chão", diz a
professora Vânia.
Em entrevista por e-mail com o jornalista
e publicitário Milton Neves, ele afirmou que
o esporte pode contribuir para manter os
jovens que ainda estão com cabeça em
formação longe de "encrencas". Ele ressalta
também que no mundo do futebol pelo menos
90% dos jogadores são oriundos de classes
baixas, e que muitos viveram por anos e anos
As brincadeiras de ontem e de hoje
Thiago Oliveira
editado por Lais Mari Rabelo
Pergunte para os seus pais do que eles
brincavam quando eram crianças. Ou melhor,
do que você brincava? A diferença de idade
entre as duas gerações pode ser grande, mas
as atividades praticadas nos dois casos não
eram muito diferentes.
A bola de gude, o peão e o ioiô deram
lugar ao Playstation, ao Wii e ao X-Box. Pular
elástico e casinha? As meninas do século 21
se divertem mais com o celular e a câmera
digital. Mas qual é o motivo de tanta mudança
no comportamento dos pequenos de hoje
para os de ontem?
As brincadeiras "antigas" fazem parte das
lembranças de muitas pessoas, mas
participam cada dia menos da vida das
crianças. É como se apenas o carrinho e a
boneca sobrevivessem ao mundo da
tecnologia. E mesmo assim eles tiveram que
se modernizar.
Elementos indispensáveis
Segundo a pedagoga Marli
dos Santos, as brinca-
deiras das gerações
em situações abaixo da linha da miséria. "Com
certeza eles subiram na vida graças ao
esporte, mas isso é 'ficção", diz Neves.
Ele conta que esses atletas representam
uma minoria das pessoas que ficam ricas por
passadas tinham elementos indispensáveis
para o crescimento e desenvolvimento das
crianças, mas não se pode apenas criticar as
novas formas de diversão.
"Todo o brincar é importante para a
criança, pois envolve aprender a realidade;
e a nossa realidade incorpora brinquedos
atualizados, brinquedos que antigamente
nem imaginávamos que iriam existir, e cada
qual guarda em si a sua relevância para o
desenvolvimento infantil. Nos brinquedos
antigos, a criança tinha a liberdade de brincar
com eles sozinha ou em grupo. Os
brinquedos atuais perdem essa característica
de sociabilidade e de exercício motor", afirma
Marli.
Para ela, as brincadeiras atuais têm os
prós e contras. "Os videogames e computa-
dores estimulam as crianças a desenvolve-
rem raciocínio lógico cada vez maior. Elas
precisam pensar no que fazer, e criar
estratégias, completa Marli.
Já as brincadeiras antigas possuem
apenas pontos positivos. Para Marlene da
Silva, também pedagoga, as brincadeiras de
ontem estimulam a oralidade e a integração
entre os colegas.
Amarelinha: jogo infantil muito
antigo e difundido por todo o Brasil
9
Foto: Vanessa Buss
Aline Machado treina cerca de 20
crianças nos sábados pela manhã
intermédio do esporte. "O esporte é muito
importante para o desenvolvimento das
crianças, tanto no ficar longe das drogas,
quanto na qualidade de saúde de quem
pratica", afirma o profissional.
Esquecidas em casa, as brincadeiras de
antigamente são lembradas quase que
apenas na escola. Isso porque elas requerem
espaço, e cada vez mais crianças moram em
apartamentos. É um direito estabelecido no
Estatuto da Criança e do Adolescente que as
cidades disponibilizem praças e espaços
onde as crianças possam brincar, mas esses
lugares não são seguros. "É claro que eu
preferia que o meu filho brincasse na rua do
que ficasse o dia todo na frente de um
computador, mas sem segurança eu não
posso fazer isso", diz Maurício Machado, pai
de Lucas, de 8 anos.
O advogado Raphael Ribeiro, de 31 anos,
passou toda a infância brincando na rua e
acha que é isto que falta para as crianças."Eu
cresci brincando de pega-pega, esconde-
esconde, imitando heróis. Com um pedaço
de madeira fazia uma espada e virava o He-
Man".
Saudosismo ou chatice
Os adultos enxergam as brincadeiras
antigas com muito saudosismo, enquanto as
crianças dizem que elas são "chatas", como
é o caso de Augusto Gonçalves, de seis anos.
"Eu gosto de jogar videogames, e joguinhos
na internet. Se eu pudesse brincava o dia
inteiro com eles", completa. Além do colégio,
ele é aluno de uma escolhinha de futebol,
apenas por ordem do pai.
Uma pesquisa do Instituto Unilever
constatou que 17% dos pais não brincam com
os filhos diariamente, e 84% acreditam que,
para estarem preparadas para a vida, as
crianças devem estudar mais do que brincar.
Diferente do que acontecia antigamente.
 10 SAÚDE extra
Outubro de 2009

Tecnologia e adolescência Foto: www.sxc.hu (reprodução livre)

Amanda Tesman
editado por Samira Pereira
Quantas horas seu filho passa
em frente às telas do computador
ou televisão? Um estudo mostrou
que crianças que utilizam muito
estas tecnologias podem apresen-
tar um aumento da pressão arterial.
Foram analisadas 111 pessoas
entre 3 e 8 anos, que permaneceram
mais de 1,5 horas diária em contato
com o vídeo. O resultado foi
publicado pelo periódico Archives
of Pediatrics and Adolescent
Medicine.
A pesquisa também examinou
as diferentes fontes de exposição
aos equipamentos. Dores de
cabeça, olhos secos e miopia são
alguns sintomas que o mau uso das
tecnologias pode causar. Foi
pensando nestes problemas que a
professora de artes plásticas,
Morgana Tesman, 32 anos,
resolveu monitorar o tempo que o
filho utiliza essas ferramentas.
Pedro Henrique, de 3 anos, só pode
jogar durante uma hora por dia.
A iniciativa de controlar a
criança surgiu quando ele tinha 2
anos. Os pais explicam que no
começo achavam bonitinho vê-lo
mexer no computador. Depois, com
o excesso, apareceu a preocupação.
Hoje, para poder brincar, ele tem que
obedecer algumas regras, como
pedir permissão para jogar e não
ultrapassar o tempo determinado.
A psicóloga Michele Foggiatto,
28 anos, cita que é importante dar
limites, principalmente na infância.
"Desde pequenos eles precisam
saber que existe hora para comer,
para fazer as tarefas, dormir e
brincar", afirma.
Dimitri Porto, 15 anos, passa
mais de seis horas por dia jogando.
Para ele, pesquisas na internet
servem somente para trabalhos
escolares. A mãe do jovem,
Marilene Porto, 42 anos, diz que
nunca tentou mudar o comporta-
mento do filho, já que isso nunca
afetou nos estudos. "Ele sempre
tira boas notas", revela.
Como medida de prevenção, os
pais de Pedro decidiram monitorar
não somente os horários, mas
também os jogos. "Não há como
negar que a violência influencia
nas atitudes dos pequenos", fala
Morgana.
A professora de língua inglesa,
Daiane Possoli, 25 anos, acentua
que a rede mundial de compu-
tadores, quando é bem empregada,
pode ajudar na aprendizagem. "Se
eles utilizam para ler jornal, blog,
até mesmo joguinhos ou diretório
que tem o inglês, ajuda muito",
destaca. Aqueles que só acessam
Uso excessivo do computador causa
aumento da pressão arterial
sites de relacionamentos ou salas atividades físicas e artísticas, como
de bate-papo tendem a se limitar. desenho, pintura, modelagem e
"É como assistir a desenho literatura são fundamentais para a
animado e novela na TV. A única formação de um ser humano. "A
coisa que modifica é o teclado e o tecnologia pode influenciar em
mouse no lugar do controle", nossa conduta sim, principalmente
comenta Daiane. É o caso de Luigi falando das crianças, pois eles são
Sartor, 13 anos, que utiliza a internet o que é ensinado, visto e escu-
para acessar o Orkut e MSN. "Só tado", observa. Hoje em dia não há
faço pesquisas quando os como ficar longe dessas ferramen-
professores mandam", confessa. tas, e com as crianças e adolescen-
Cabe aos pais a tarefa de transfor- tes, isso não seria diferente. Não
mar o momento de lazer em se deve ignorar a existência desses
aprendizagem. É importante que meios para eles, já que eles estão
monitorem os tipos de jogos e sites presentes em toda parte. Para tudo
que os filhos acessam. "O que tem que haver limites. "Se as
precisa ser feito é dar todo amor, pessoas ficam horas em frente a um
carinho e ensinar, explicar", videogame ou computador, como
acrescenta Michele. irá se relacionar com amigos
A psicóloga relata que o pessoalmente, como terá tempo de
indivíduo começa a estruturar sua conversar com seus pais, de
personalidade aproximadamente praticar esportes, de estudar para
aos quatro anos. Por isso, praticar as provas", indaga Morgana.
A criança e
a literatura
Emanuelle Querino
Editado por Vivian Sipriano
Ler é uma habilidade impor-
tante para a vida em sociedade e
fundamental para quem está
descobrindo o mundo. Através
dos livros as novas gerações
conhecem o que aconteceu no
passado e criam bases para
entender o presente. Mas as
crianças precisam de uma
linguagem especial para a
transmissão do conhecimento.
Uma forma muito utilizada na
educação infantil é a poesia.
Sonia Rosa é escritora, com
mais de 25 livros publicados para
leitores mirins. Ela acredita que
para incentivar o gosto pela leitura
o professor deve contar histórias
todos os dias. "Com o livro na
mão e partilhando sempre uma
história, pode-se promover leitura
da maneira mais prazerosa
possível", recomenda.
A professora Marinete da
Silva vai além. Trabalha com a
história ou a poesia e também com
os autores. Os alunos viram que
alguém escreveu a história e
despertam para a possibilidade de
escreverem também. Quando a
professora falou sobre Vinícius de
Moraes uma aluna perguntou
como ela o havia conhecido.
Dizendo que foi através de um
livro, o trabalho começou.
O hábito da leitura é
indispensável não somente na
idade adulta, mas desde a
infância. O lugar mais indicado
para despertar o gosto pela leitura
é na biblioteca.
Para a pedagoga Mariléia
Alves, em um ambiente familiar
não habituado a ler, a criança terá

Pais devem impor limites muitas dificuldades, principal-

Lorraine A. Corrêa
editado por Vivian Sipriano
A tecnologia se renova a cada
ano, e as novidades vão além do
que se poderia imaginar há vinte
anos. Para as crianças, a moda
agora são os jogos eletrônicos.
Também viraram febre a internet e
as redes sociais, como o Orkut.
Segundo a empresa de métricas
online Ibope Nielsen, são 24
milhões de usuários ativos no
Brasil.
A psicóloga Rosiane da Silva
recomenda que a família oriente
para os limites das atividades
eletrônicas através do diálogo.
"Os pais devem conversar com os
filhos para verificar se o conteúdo
é adequado para a faixa etária",
resume.
Essas recomendações são
seguidas por Marina Nascimento
Martins, uma menina de 11 anos
que adora conversar com os
amigos pela Internet. Quando não
está estudando ou brincando, ela
passa o tempo livre no MSN.
"Fora do computador, minhas
amigas e eu brincamos bastante",
conta.
Sua mãe, Eliane Teresinha
Leal, é diretora de uma escola no
município de Imbituba, litoral de
Santa Catarina, e já é experiente
em lidar com o comportamento
das crianças. Segundo ela, a
rotina da filha cumpre um controle
de horários. "Minha filha tem
consciência de que só deve
acessar a internet se não tiver
atividades escolares", afirma
Eliane. Periodicamente, a mãe
acessa MSN e Orkut da menina, e
se percebe algo estranho, logo
questiona.
Numa pequena escola de
Imbituba, professores lutam para
que a cultura do MSN não se
desenvolva nas crianças.
O Centro Educacional Evolu-
ção trabalha com alunos desde o
berçário até o 9º ano do Ensino
Fundamental, e para cada faixa
etária há um tipo de atividade
diferente, que busca interagir com
os meios de comunicação.
Evitar que as crianças sejam
prejudicadas pelas novas tecno-
logias não é tarefa fácil, por isso
os pais devem ficar de olho no
conteúdo. Felizmente, em casa ou
na escola, essas crianças apren-
dem a abusar dos meios de
comunicação para coisas boas. O
que elas têm em comum? Utilizam
a tecnologia a favor da educação.
mente para desenvolver esse
gosto. "Parecerá que tudo será
imposto pela escola, pela pro-
fessora. O incentivo deve come-
çar de casa, fazendo com que ela
tome gosto pela leitura, livre de
imposições", explica.
Ela ainda expõe que no
ambiente familiar, se você forne-
cer livros à criança, assim ela terá
o poder de escolha, pois normal-
mente os pais não cobram a leitura
como fazem os professores.
Assim, o incentivo à leitura não
cabe apenas à escola, é também
responsabilidade da família. Em
qualquer fase da vida de uma
criança, a influência dos pais é
definitiva na educação, seja ela
social ou cultural.
 extra
Outubro de 2009
Uma vida na companhia das drogas
Anderson Machado
editado por Guilherme Simon
Morro Santa Cruz, periferia de
Porto Alegre. Em um pequeno
barraco de 4 por 6 metros moravam
A.M., à epoca com 8 anos - hoje
com 15 -, os dois irmãos, também
menores de idade, mais os pais,
desempregados.
Aos 12 anos de idade, A. já saía
sozinho pelas ruas da cidade de
Porto Alegre. Com a mesma idade
experimentou pela primeira vez um
cigarro de maconha. Não foi difícil
encontrar quem vendesse a droga.
O garoto morava numa favela. A
experiência com a droga fez A. se
sentir o máximo. Não demorou
muito para que ele se juntasse a
outros garotos da "rodinha do
baseado".
Depois de poucos meses, veio
a primeira oportunidade de
emprego. Foi convidado por um
colega a conhecer a lomba do
pinheiro. No local foi apresentado
a um homem a quem chamavam de
"Patrão Louco". Esse seria seu
chefe por alguns meses. A tarefa
passada para A. era "simples":
"ficar em cima de uma laje, com
algumas buchas de maconha,
enquanto os traficantes realizavam
a venda de uma grande quantidade
da droga, a uns metros do ponto
onde ele estava".
Para A., que nunca havia
ganhado um tostão, até que o
pagamento era generoso. Ficou
combinado que A. receberia R$
10,00 por dia de trabalho. O
menino era obrigado a vender as
petecas que tinha por R$ 1,40 cada.
Outras propostas apareceram, no
entanto. Com a experiência, foi
trabalhar em uma "boca nova".
O novo patrão chamava-se
"Luiz", era mais exigente que o
primeiro. Mas, para o menino que
agora já tinha 13 anos de idade,
valia a pena. O lucro era certo e
cinco vezes maior do que oferecia
o "Patrão Louco". Agora
trabalhava à noite e não ficava mais
sozinho. Dois garotos de 13 e 15
anos eram seus novos colegas.
A. permaneceu no trabalho até
os 14 anos. Saiu quando "o tempo
fechou geral". Traficantes de uma
boca rival entraram em conflito com
a do "Luiz". Na troca de tiros, A.
conseguiu achar um lugar e ficar
abaixado enquanto alguns de seus
colegas eram baleados. Nessa
briga, o dono do ponto de tráfico
foi ferido nas mãos. Não demorou
muito e a brigada chegou ao local.
Como era menor de idade, A. bateu
em retirada e não apareceu mais
por ali.
A mãe de A. sofreu por conta
do envolvimento do filho com as
drogas e o tráfico. O relacionamen-
to com o marido - e pai do garoto -
também não andava muito bem.
Resolveu se separar e ir com os
três filhos para a casa de parentes
em Santa Catarina.
O crack
Em Araranguá, no bairro Alto
Feliz, eles alugaram uma casa. A
mãe de A. agora desempenha o
serviço de faxineira em casas de
famílias. Ela também se casou
novamente. O marido trabalha
como caminhoneiro. O menino já
fez 15 anos e conheceu alguns
amigos. Mas não largou as drogas.
Em três semanas identificou os
principais pontos de distribuição
de entorpecentes da cidade.
Depois de um mês no muni-
cípio, recebeu uma oferta para
ajudar a cuidar de uma "boca" no
bairro Guanabara, em Araranguá.
A. ficou uma semana no local e
percebeu que o lugar era de alto
RISCO SOCIAL
risco devido à presença constante
da polícia. Foi embora. O menino
também resolveu experimentar
crack.
Rapidamente iniciou a vida no
roubo e pequenos furtos na
própria casa dele. Seu padrasto
não exitou e o pôs para fora. Sua
mãe se desesperou e resolveu
ajudá-lo, o internando na clínica
para a recuperação de drogados
São Jorge, em Araranguá. A.M.
está internado há 3 meses no lugar.
Terapia e palestras
A vida do rapaz tem mudado
bastante com as disciplinas pelas
quais tem que passar no centro. FOTO
De acordo com o garoto, a maior
barreira enfrentada é a ansiedade,
manifestação da química que a
dependência do crack produz. A.
deixa um alerta. “Nunca ande
sozinho de noite e com pessoas
que você não conhece. Evite
lugares impróprios e ouça sua
mãe”, diz.
No centro de recuperação há
36 internos, entre 10 e 16 anos de
idade, todos do sexo masculino. A
maioria deles chegou até o local
através de mandados judiciais.
Geralmente são crianças e ado-
lescentes que viveram situação
parecida com a de A. Dentro da
clínica eles desenvolvem ativida-
des espirituais, ajudam a plantar e
cuidar de hortas, passam por
seções de terapia e recebem
palestra sobre drogas.
A enfermeira Jenifer da Silva
Pereira é a responsável pelo
acompanhamento do tratamento
clínico dos dependentes da Fazenda
São Jorge. Segundo ela, um interno
permanece aproxima-damente seis
meses no local, até a libertação total
das drogas. Nesse período cada
pessoa recebe também a orientação
psicológica, com o complemento de
medicamentos, quando
necessário. Jenifer explica,
também, que a internação tem
um custo mensal. O valor está
estipulado em R$900. Quem
chega ao centro por livre e
espontânea vontade é quem
tem que pagar. Caso seja por uma
decisão judicial, a conta é do
município onde mora o depen-
dente, contanto que a cidade
tenha convênio com a entidade.
A. não é um caso isolado
No conselho tutelar de
Araranguá, a maioria dos atendi-
mentos envolve crianças e adoles-
centes que estão no mundo das
drogas. O crack tem sido cada vez
mais consumido por essa faixa etária
e entre pessoas economicamente
carentes, principalmente por ser uma
droga "barata". Em média, dão
entrada na clínica seis adolescentes
por semana, o que corresponde a
90% das denúncias que são
efetuadas ao órgão, abrangendo
meninos e meninas que estão no
tráfico ou se drogando.
Para o presidente do conselho
tutelar de Araraanguá, Joélcio
Anastácio, os gestores públicos têm
se omitido quando o assunto é a
defesa das crianças e dos adoles-
centes. “É dever do Estado garantir
a educação, saúde e moradia para
essa gente. O Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA) tem sido visto
com muito preconceito ainda por
parte da sociedade, e principalmente,
pelas autoridades legalmente
constituídas”, observa Anastácio.
No entendimento do presidente
Ansiedade é um dos sintomas a ser
combatido nas clínicas de recuperação
11
da entidade, que é contra baixar a
maioridade penal para 16 anos, o
tráfico tem "adotado" essas crianças,
que na maioria são de baixa renda.
Quando os casos chegam até o
órgão, são comunicados à promotoria
pública. Depois, as crianças vão para
clínicas de recuperação ou "desafios
jovens".
Já na central de polícia as
ocorrências com a participação de
adolescentes nas drogas é cada vez
mais comum. De acordo com a
investigadora de polícia Ana Lúcia
Cruz, a "Favela do Ucca" e o bairro
Parque Alvorada são os lugares de
maior concentração de traficantes de
entorpecentes em Araranguá. Desde
o início do ano até o mês de setembro
ocorreram duas prisões. Ambos eram
menores e estavam fazendo o tráfico
de drogas no bairro Parque Alvorada.
Ainda de acordo com a investiga-
dora, somente no Ucca há quatro
famílias sob investigação, envolven-
do pelo menos oito crianças e sete
adolescentes. Todos os menores
participam junto com os familiares do
tráfico de crack no bairro.
Fotos: www.sxc.hu (reprodução livre)