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Zolá Pozzobon 1
O véu e a espada
As guerras através dos tempos ZOLÁ POZZOBON
2003
Ficha catalográfica
POZZOBON, Zolá (1925) O VÉU E A ESPADA / POZZOBON Rio de Janeiro, janeiro de 2003
246 páginas Editora Ágora da Ilha - ISBN 7576 História (das guerras da humanidade)
História das civilizações CDD - 900 CDD - 909
ZOLÁ POZZOBON. É
PROIBIDA A REPRODU-
JANEIRO,
JANEIRO DE DE
2003
estudiosos da História e da Guerra, tão antiga esta quanto aquela; A meus colegas
militares, que participaram de conflitos armados ou dedicaram suas vidas a estudá-
los, a fim de manter a pátria livre de suas horríveis conseqüências; Às vítimas de
todas as guerras, sejam militares nos campos de batalha ou inocentes civis nas
cidades e vilas, para que a civilização humana possa um dia, com a ajuda de Deus,
conter as ambições de poder e de domínio de governantes de todos os matizes
políticos que têm levado a humanidade, por motivos fúteis ou tresloucados, a
sacrificar milhões de nossos semelhantes.
Aos
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Zolá Pozzobon 5
Apresentação
Tendo sido assíduo leitor de assuntos militares, mesmo antes de entrar para o
Exército, prossegui durante minha carreira a compulsar quase todos os livros que
surgiam sobre o assunto. A partir de outubro de 1998, venho escrevendo uma série
de artigos para o jornal O Correio sob o título de “As guerras e seus mistérios”.
Com o passar do tempo, tive a idéia de compilar tais artigos e acrescentar outros,
tudo dentro de uma certa ordem cronológica. Assim, faço desfilar, desde a remota
Antigüidade até os dias que correm, a maioria dos embates político-militares e
suas profundas implicações. São capítulos condensados, nos quais se destacam
causas e conseqüências dos conflitos, atuação dos políticos e chefes militares e
aspectos curiosos que poucos livros salientam. Algumas vezes, tendo em vista
situar determinada campanha ou operação militar, descrevo em largos traços o
quadro que as envolve, embora já tenha a ele me referido em outro capítulo. Não se
trata, pois, de simples repetição de cenários. Em O véu e a espada encontrareis a
a disputa milenar entre palestinos e judeus até a atualidade; a atuação de grandes
chefes militares; guerreiros vencendo enormes distâncias e travando inúmeras
batalhas para darem vasão a sua ânsia de poder; sonhos e pesadelos que agitaram
nações e continentes; as portas do inferno abrindo-se sobre a terra, através das
quais abateram-se as hecatombes das I e II guerras mundiais e o apocalipse
nuclear, e, finalmente, a terceirização da guerra, através de conflitos
localizados e telecomandados pelas grandes potências. Não serão encontradas
descrições de batalhas, o que demandaria uma coleção de livros e o trabalho
conjunto de pesquisadores e historiadores. Talvez sirva esta obra de motivação
para que se estude o fenômeno “guerra” ligado às questões políticas e econômicas,
e não apenas o desenvolvimentos das operações militares em terra, no mar e no ar,
parte esta mais afeita aos militares, embora de interesse de todos os que são
influenciados por seus efeitos. rotua O
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Índice
Davi e Golias. ........................................................ 13
A Palestina e o
Sionismo .............................................................. Os
árabes ...........................................................................
.......... Oriente
Médio ............................................................................
... Oriente X
Ocidente ....................................................................... O
inevitável estado da Palestina ...................................................
Guerra do Yom
Kippur .................................................................. 15 17 19
21 23 27
Os guerreiros ......................................................... 47
Belisário, o
bizantino ......................................................................
49 O flagelo de
Deus .......................................................................... 53
Djebel al-Tarik (A Montanha de Tarik) ............................................
55 O véu e a
espada ..........................................................................
59 A grande
cavalgada .......................................................................
63 Avalanche
turca ............................................................................
. 65 Um só no céu, um só na
terra! ....................................................... 73 Ivan, O Terrível
.............................................................................. 75
Sonhos e pesadelos............................................... 77
Frederico e a artilharia
montada .................................................... 79 Herói de muitas
batalhas! .............................................................. 83
Conflito Norte X
Sul ....................................................................... 87
Sonho de um império
tropical......................................................... 91
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A ascenção do Império do Sol Nascente ....................................... 99
Uma blitzkrieg sem panzer e sem stukas! ................................... 101
Vermelho (Êxodo 14, 26-31) Após saírem daquele país, sustentaram os judeus
inúmeras lutas contra os reis dos territórios por onde passavam, até chegarem à
terra prometida. Josué, “como a Lua”, conquistou Canaã, onde iriam se fixar os
israelitas. É muito conhecido o relato sobre a queda de Jericó, cujos muros teriam
ruído após toques de trombetas, isto é, “caíram de maduros”. A história dos juízes
e reis de Israel é um desfile de pugnas contra seus vizinhos. É bastante difundida
a vida de Davi e suas lutas contra os filisteus – hoje, palestinos – e outros
povos. O rei da Babilônia combateu Jerusalém e todas as cidades da Judéia e
conduziu seus habitantes ao cativeiro, onde eles permaneceram por largos anos. No
tempo de Cristo, estava o país sob o domínio de César. Quando do julgamento do
Mestre, diante de Pilatos, ao perguntar este ao povo a quem devia soltar, se a
Cristo, que se dizia rei, ou a Barrabás, um ativista subversivo que lutava contra
os romanos, os príncipes dos sacerdotes atiçaram o populacho a gritar: “Barrabás.
Barrabás!” Em 66 d. C. começou a rebelião judaica contra a ocupação romana, dando-
se o verdadeiro início à Diáspora. No ano 70 d. C., o imperador romano Tito abafou
uma grande revolta dos judeus e destruiu Jerusalém. Patriotas zelotas, e talvez
sobreviventes dos essênios, ocuparam a fortaleza e cidade de Massada, próxima ao
mar Morto, e aí se sacrificaram até o último combatente, resistindo ao assédio da
10ª Legião Romana, sob comando de Flávio Silva. (73 d. C.) Tomando-se por base o
Período Neolítico, ou da Pedra Polida, há cerca de 10 mil anos, embora as
primeiras atividades humanas já tenham se manifestado muito antes, no Paleolítico,
a era mais antiga da pré-história, sustentam os estudiosos que a humanidade
conheceu somente 200 anos de paz, mesmo assim, entrecortados por conflitos
limitados, a pipocarem aqui e ali. E se dissermos que a Guerra é.anterior a tudo
isso? S
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Então houve no céu uma grande batalha: Miguel, “quem como Deus” e seus anjos
pelejaram contra o Dragão e o Dragão com seus anjos pelejaram contra ele. Porém,
estes não prevaleceram, nem seu lugar se achou mais no céu. E foi precipitado
aquele grande Dragão, aquela antiga serpente que se chama o Diabo e Satanás que
seduz a todo o mundo. Sim, foi precipitado na terra e precipitados com ele seus
anjos. (Apocalipse 12, 7-9)
O evangelista Lucas, que não era judeu, e sim grego, conta-nos ter Jesus enviado
72 de seus discípulos a anunciarem a boa-nova do Reino de Deus. Ao retornarem de
suas jornadas, através dos lugarejos da Palestina, deram-lhe conta do trabalho:
Mestre, até os demônios se submetiam, em virtude de teu nome. (Lucas, 10, 17)
Respondeu-lhes, então Jesus: Eu via cair do céu a Satanás como um relâmpago.
(Lucas, 10,18) Para os cristãos fica difícil admitir que Cristo estivesse fazendo
piada ao responder aos 72 dedicados discípulos. Muitos leitores poderão não
concordar com os trechos bíblicos aqui citados, argumentando que a linguagem
oriental é simbólica e rica em parábolas. A própria Igreja admite que os autores
de boa parte dos livros do Antigo Testamento tenham recorrido ao simbolismo para
transmitir a grandeza da Criação e advertir os homens contra a prática do mal,
levando-os a não confiarem inteiramente em si mesmos, mas a recorrerem a Javé, o
Deus único que não aceita ídolos. Tema estranho nos dias que correm é falar em
anjos bons e anjos maus a sociedades acostumadas às evidências científicas. Essas
mesmas sociedades, porém, estão à busca constante de novos ídolos, acreditam em
astrologia, astral, magias de todo o tipo, guiam-se por horóscopos e quiromancia,
invocam espíritos de mortos e outras entidades do Além, quer para benefício de si
próprias, quer para atraírem o mal a seus desafetos. Na melhor das hipóteses, como
a guerra é um fenômeno da História terrena, e, quem sabe, cósmica, devemos admitir
que é um mistério. Embora possa ser analisada de diversos ângulos, não deixa de
apresentar qualidades estranhas e imponderáveis. Uma conquista conduz a outra e a
dinâmica do guerreiro leva-o a perseguir a glória insaciável, que sempre está além
do horizonte. Um dos maiores mistérios que desafia o homem pós-moderno é
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O véu e a espada
a questão de o Universo ser ou não povoado, pois a lógica nos conduz a admitir tal
possibilidade. Para grande parte das pessoas, seria muito mais emocionante e
sensacional deparar com ET’s e homúnculos cabeçudos vindos de Marte ou de outro
sítio no espaço, do que com anjos (mensageiros de Deus). Vivemos rodeados de
mistérios, a começar pela vida e a morte, o interior da matéria e das partículas,
a dimensão “infinita” do Universo, a origem do homem, seu destino último e por aí
a fora. O autor.
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Davi e Golias
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A Palestina e o Sionismo
A PALESTINA - Pequena faixa de terra situada entre o Líbano ao Norte, o Rio Jordão
e o Mar Morto a Leste, o deserto do Sinai ao Sul e o Mar Mediterrâneo a Oeste. Sua
história remonta a 3.500 anos a. C. Era habitada por cananeus, amorreus, hititas,
moabitas, fenícios e filisteus. Por volta do ano 2.000 a. C., um grupo de origem
judaica (semita), sob a chefia de Abraão, deixou Ur, na Caldéia (atual Sul do
Iraque), e se dirigiu à Palestina. Ao tempo em que José, descendente de Abraão, se
tornou ministro do faraó, os judeus da Palestina, tangidos pela fome,
transferiram-se para o Egito, onde se multiplicaram. Cerca de oito séculos depois,
forçados pelas autoridades, deixaram o país e, como nômades, erraram 40 anos pelo
deserto. A ferro e fogo, conquistaram diversas cidades da Palestina (Canaã). Aí
permaneceram os judeus por 13 séculos, travando contínuas lutas com outros povos.
A terra parcialmente conquistada ficou sendo conhecida como “Filistina”, ou terra
dos filisteus. No século VI a. C. foram os judeus exilados durante 70 anos por
Nabucodonosor, na Babilônia. No ano 135 d. C., o imperador Adriano expulsou-os da
Palestina e eles passaram a viver na Diáspora (dispersão dos judeus pelo mundo).
Sucederam-se persas, gregos e romanos no domínio daquele território, até a vez dos
árabes, que, a partir de 637 da Era Cristã, misturaram-se com os habitantes
originais, formando o povo palestino. Este completou, em 1917, 18 séculos de
ocupação. O SIONISMO – Esta palavra deriva de Sion, uma das colinas de Jerusalém,
sobre a qual se eleva a maior parte da cidade. Assim é conhecido o movimento em
busca de “um lar”, iniciado no século XIX, quando os judeus viviam ainda dispersos
em vários países.
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Não constituíam mais uma raça, mas se tornaram o fruto de algumas miscigenações.
Também tinham adotado outras religiões. Porém, guardavam identidade e
solidariedade, que os distinguiam. As perseguições de que foram alvo recrudesceram
neles o caráter separatista. Seu legado cultural e espititual baseava-se na
Bíblia. Quanto ao futuro, após várias tendências de estabelecerem uma pátria fora
do antigo território, prevaleceu a idéia do jornalista austríaco Theodoro Herzl
(1860-1904), cujo objetivo era transformar a Palestina, onde vivia 1% de judeus e
99 % de árabes, em um Estado judeu, embora aquela área fizesse parte, então, do
Império Otomano. Após a I Grande Guerra, a Palestina constituiu um mandato
britânico. Terminada a II Guerra Mundial, muitos judeus que para lá haviam
imigrado promoveram toda a sorte de agitações e mesmo terrorismo contra a
administração inglesa. Os judeus acabaram alcançando a proclamação, pela ONU, de
um Estado judeu, em 1947. Na ocasião, era Secretário-Geral da organização o
diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. O novo país tomou o nome de Israel. A partir
daí, teria início uma série de confrontações militares entre tal país, os estados
árabes vizinhos e o povo palestino.
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Os árabes
Os árabes - Quando, no século VII, os árabes começaram sua expansão, iriam
encontrar civilizações milenares, das quais haveriam de auferir importantes
conhecimentos, mas também acrescentariam contribuições científicas, artísticas,
filosóficas, literárias e religiosas. É de se listar o poeta Abu Nauas; os
filósofos Al-Ghazali, AlMaari, Al-Hariri; os místicos Al-Hallaj e Ibn Al-Farid;
escritores como Al Jahez; historiadores como Ibn Khaldum e outros expoentes. O
império abácida chegou a estender-se da Espanha às Índias e suas cortes eram
esplendorosas. Em 830, o califa AlMamum estabeleceu em Bagdá a Casa da Sabedoria
(academia científica, observatório e biblioteca). Quando a cidade foi destruída
pelos mongóis, tinha 16 bibliotecas públicas. A cidade ibérica de Córdoba (cerca
de um milhão de habitantes), ocupada pelos árabes, apresentava, por volta do ano
1.000, setenta bibliotecas, com meio milhão de volumes. Os bárbaros - Assim como a
Europa sofreu a invasão dos bárbaros (godos, visigodos, ostrogodos etc.), a partir
do século XII o mundo árabe foi assolado por incursões de hordas sinistras,
oriundas do centro da Ásia: Gengis Khan e os tártaros, Tamerlão e os mongóis,
Osman e seus turcomanos. Os primeiros estabeleceram o império mais extenso do
mundo: do Mar Negro ao Mar da China. Seu objetivo era apossar-se, destruir e
matar. Com referência a Tamerlão, conta-se que os habitantes da cidade cercada de
Siuas, para obterem clemência, enviaram-lhe uma comitiva de mil crianças, as quais
foram literalmente esmagadas sob patas de cavalos. Quanto aos turcomanos, os
assassinatos começavam em
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casa: Salim I massacrou dois irmãos e vários primos. Salim II executou dois filhos
e Amurat III eliminou cinco irmãos. Os dois primeiros impérios passaram
rapidamente, mas os otomanos permaneceram no Oriente Médio por oito séculos,
perpetrando crueldades sem paralelo e promovendo o obscurantismo. Somente no fim
da I Guerra Mundial iria aquela região, com ajuda da Europa, libertar-se do
domínio otomano.
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Oriente Médio
O Oriente Médio é um trecho da superfície do globo, cuja maior parte das terras se
situa no continente asiático (na Ásia Menor) e no nordeste da África (Egito).
Encontram-se aí a Turquia, Israel, Irã, inúmeros países árabes, entre os quais se
destaca, pela extensão, a Arábia Saudita. Sua forma é maciça, com ramificações em
penínsulas, istmos, arquipélagos e conta com mares e golfos. São bastante
conhecidos nomes como Suez, Mar Mediterrâneo, Dardanelos, Mar Negro, Mar Vermelho
e Golfo Pérsico. Encontram-se grandes elevações, principalmente ao norte, onde
seus cumes são cobertos por neves eternas, montanhas pitorescas e férteis, como no
Líbano e em parte da Palestina, extensas planícies, qual a da Mesopotâmia, regada
pelos rios Tigre e Eufrates, e alongados vales, em que se salienta o vale do Nilo,
no Egito. Todos esses acidentes geográficos constituem o chamado Crescente Fértil.
E mais os enormes desertos, como o Saara e outros, na Judéia, Jordânia, Sinai e
Arábia. É o berço do Islã, do Judaísmo e do Cristianismo. Verdadeira encruzilhada
entre a Europa, Ásia e África, a região abriga a maior bacia petrolífera do mundo,
daí advindo sua enorme importância política, econômica e estratégica. As mais
antigas civilizações de que se tem notícia surgiram nessa grande encruzilhada,
também conhecida como Oriente Próximo: - Na Mesopotâmia, os assírios e a
esplendorosa Nínive, que, segundo cronistas antigos, exigia três jornadas para
cobrir sua extensão. A biblioteca do rei contava com quatro mil volumes, escritos
em caracteres cuneiformes. - Os babilônios, pouco mais ao sul, e sua capital
Babilônia, a
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Oriente X Ocidente
Ao fim da I Grande Guerra, de libertadores os países europeus passaram a
colonizadores e encararam o Oriente Médio como presa de guerra. Embora tenham
levado para lá alguns benefícios de sua civilização, mostraram-se arrogantes,
autoritários e jamais procuraram compreender a mentalidade daquelas populações.
Tal atitude despertou um só desejo nos povos da área: libertação dos novos
opressores. Após a II Guerra Mundial, os denominados “mandatos” chegaram ao fim.
Porém, os europeus iriam deixar o Oriente Médio como verdadeiro campo minado,
devido à perfídia com que promoveram as divisões territoriais e organizaram as
unidades políticas da região. Esse campo haveria de explodir, como explodiu e
explode até hoje. O Sionismo foi o grande instrumento de agressão na área,
particularmente ao mundo árabe. Como resultado, desencadeou-se a violência e
radicalizou-se o Islã. No Irã, foi o xá Reza Pavlevi, de governo pró-Ocidente,
derrubado pelo fanatismo do aiatolá Khomeiny. Na Bagdá das “mil e uma noites”,
onde o poeta Abu Nauas celebrava a vida, instalouse o regime de Saddan Hussein,
ávido de poder e nutrido pelo ressentimento contra a “generosa” política do
Ocidente que, “de maneira tão hábil”, havia lançado a cizânia do ódio na região.
Os ocidentais e o Sionismo continuam agredindo os direitos e os interesses dos
povos do Oriente Médio, e mantêm seu domínio através do controle dos mananciais de
petróleo. Fosse o Kuwait um país agrícola, os EUA e seus “comparsas” não teriam
desencadeado a Guerra do Golfo. Os valores dos povos do Oriente Médio não são
exatamente iguais aos dos países do Ocidente, mas devem ser respeitados.
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A chave do futuro para a região está com a Europa e os EUA, por serem mais fortes
e ricos. A ONU não deve ser instrumento de interesses de grupos, mas promover a
justiça e o equilíbrio.
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Alexandre da Macedônia
Alexandre é nome utilizado por papas e imperadores. A personalidade que vamos
comentar neste trabalho refere-se a Alexandre Magno ou O Grande, nascido em Pella,
na então Macedônia e hoje Grécia, em 356 a. C.. Era filho de Filipe II e de
Olímpia, filha do rei Neoptolemus do Épiro, princesa supersticiosa e arrogante, de
quem o marido se divorciou. Filipe iniciou a hegemonia da Macedônia sobre os
demais Estados gregos. Não obstante atacado por Demóstenes, nas célebres
Filípicas, conseguiu, em quatro “guerras santas”, dominar toda a península,
vencendo finalmente a resistência grega em Atenas e Tebas, na famosa batalha de
Queronéia (338 a. C.). Seu filho Alexandre tinha, então, 18 anos. e participou da
refrega, tornando-se herói. Sendo seu pai assassinado quando se preparava para
atacar os persas, Alexandre tornou-se rei aos 20 anos. Em 335 a. C., foi aclamado,
no congresso pan-helênico de Corinto, generalíssimo das forças gregas. Alexandre é
considerado o mais famoso chefe militar da antigüidade, comandando os gregos na
conquista do império persa. À frente de uma força de 35 mil infantes, cinco mil
cavalarianos e uma frota de 169 trirremes (embarcações com três pavimentos dotados
de remos), atingiu o Helesponto (estreito de Dardanelos) em 334. Sua primeira
vitória em território asiático foi às margens do rio Granico. Ocupou várias
localidades, entre elas a região litorânea e a Frígia (centro-ocidental da Ásia
Menor), com sua capital Górdio. Nessa cidade havia um nó complicado que, segundo a
tradição, daria o império da Ásia a quem o desembaraçasse. Então, Alexandre o
desfez. Em 333, atingiram os greco-macedônios a planície de Isso, que dá acesso à
Síria. Aí, feriu-se nova batalha, saindo-se Ale-
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xandre vitorioso. Dirigindo-se à Fenícia, arrasou Tiro (322), por lhe ter
oferecido resistência. Mais ao sul, Gaza foi também vencida e arrasada. Sua fama
correu na frente e, ao atingir o Egito, foi recebido como descendente dos faraós.
Com o título que alcançou - filho de Amon - teve a popularidade aumentada. No
delta do Nilo fundou Alexandria. Ao tempo dos Ptolomeus, chegou a cidade a contar
com 900 mil habitantes. Ligou-se à ilha Faros, na qual se erguia o célebre farol,
uma das sete maravilhas da antigüidade. Tornou-se bastante conhecida sua famosa
biblioteca, bem como a escola neoplatônica, na qual buscava-se a harmonia entre as
idéias do Oriente e do Ocidente. Alexandre venceu Dario III na famosa batalha de
Gaugamela (331), impropriamente chamada de Arbela, à margem esquerda do alto rio
Tigre, no então território da Assíria. Em uma manobra muito estudada na história
militar, Alexandre desbaratou as tropas adversárias, cinco vezes superiores em
número. Então, não viu mais limites para sua ambição expansionista. Rumou para o
Oriente e atingiu o Indus. Derrotou o rei Poros e ocupou suas terras. Aí, a
expedição dividiu-se em duas componentes: uma embarcou na frota e, navegando pelo
Oceano Indico e o Golfo Pérsico, atingiu a Mesopotâmia; a outra regressou por
terra, comandada pelo próprio Alexandre. Em 334, encontrava-se este em Babilônia.
Dez anos de campanha e o mundo civilizado havia sofrido grande mudança. Dedicou-se
o grande general a organizar o império conquistado. Seu escopo era realizar a
união entre vencedores e vencidos. Mais velho fosse, dir-lhe-ia a experiência que
tal era impossível, pois, como já apreciamos em páginas anteriores, o ser humano
não aceita o domínio alienígena por todo o tempo e como fato consumado. Fundou
muitas cidades, sobretudo no Irã, a fim de garantir o caminho terrestre para a
Índia. Adotou uma política de tolerância quanto à religião, às leis e aos costumes
dos orientais. Escolheu persas como colaboradores, dando-lhes postos importantes
no exército e no governo dos territórios. Seus ambiciosos projetos foram
interrompidos pela morte, que o colheu na Babilônia, através de febre violenta, em
323. Foi enterrado em Alexandria, onde, em 1977, se encontrou o que se presume ser
seu sarcófago - não de ouro, como rezava a lenda, mas de alabastro. Deixado “ao
mais bravo”, rapidamente desmembrou-se o império de Alexandre em diversos Estados
- os reinos helenísticos. Sob o ponto de vista político, foi sua obra
inconsistente, pois abalou a urbes grega, com suas instituições seculares, e
arrasou velhos im-
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hajam destacado expedições para a Ibéria e contra Siracusa. É bem verdade que a
coluna de Publio Cornelius haveria de ameaçar Cartago e obrigar Aníbal a socorrê-
la. A 150 Km a sudoeste da cidade de Zama, feriu-se uma batalha decisiva (202). As
forças de Aníbal, extenuadas pelos intermináveis deslocamentos desde a Itália até
a atual Tunísia, atravessando a Gália, a Ibéria, o Estreito de Gibraltar, os
territórios do atual Marrocos e da Argélia, foram fragorosamente derrotadas e
tiveram de aceitar duríssimas condições de paz: renúncia à Ibéria, entrega da
esquadra (com exceção de 10 trirremes), indenização de 10 mil talentos, proibição
de fazer a guerra fora do continente e seus assuntos exteriores passariam a ser
controlados pelos romanos. Aníbal refugiou-se na Síria, junto de Antíoco, e depois
na Bitínia, com Prusias, onde cometeu suicídio para não se entregar ao implacável
inimigo (183 a. C.). 3ª Guerra Púnica (149-146 a. C.) Apesar da enorme redução de
seu poderio militar, Cartago procurou, com pertinácia, recuperar-se rapidamente, e
já no século II a. C. eram pujantes seu comércio e economia, a ponto de causar
preocupação a Roma. Marcius Porcius Cato (Catão), estadista e escritor romano, foi
questor, edil, pretor, cônsul e, finalmente, censor, título este que ficou
incorporado historicamente a seu nome. Em memoráveis discursos, dedicou-se a
atacar o comportamento dos jovens da nobreza romana e à pregação da guerra contra
Cartago, repetindo constantemente a frase: Delenda est Carthago - Cartago precisa
ser destruída! Massinissa, que comandara a cavalaria romana na batalha de Zama,
recebendo como prêmio por sua vitória toda a Numídia, de que se fez rei, entrou em
hostilidades com os cartagineses. Estes dispuseram-se a entregar reféns e a
desarmar-se. Roma, porém, exigiu a migração em massa dos habitantes de Cartago
para o interior. Optando pela luta, foi a cidade cercada durante três anos.
Iniciado o assalto à localidade, em 146 a. C., resistiu a todo o transe, de casa
em casa. De uma população inicial de 250 mil habitantes, restaram 50 mil, vendidos
como escravos. A cidade foi arrasada, não restando pedra sobre pedra, e o sítio
(conforme relato histórico) condenado à desolação perpétua. Até seu nome sumiu: o
antigo território passou a constituir a província romana da África. A sudoeste de
Túnis, no vale do rio Miliane, encontram-se as ruínas do aqueduto romano entre o
monte Zaghvan e Cartago, cujas ruínas constituem ponto de atração turística, o que
desmente o relato histórico de não ter restado pedra sobre pedra!
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Rodes, a fim de estudar retórica com Molon. Durante a viagem, foi aprisionado por
piratas e todo o tempo os tratou desdenhosamente, prometendo crucificá-los assim
que fosse libertado, o que realmente cumpriu à risca. Então, envolveu-se em
intrigas políticas, dívidas e vida dissoluta. Mas demonstrava apreço pelas
tradições democráticas e promovia divertimentos públicos. Tornando-se popular, foi
eleito pontifex maximus em 63 a. C., ano da conspiração de Catilina, na qual
possivelmente esteve envolvido Catilina era um aristocrata romano que fomentou
conjuração contra o Senado, a qual foi denunciada por Cícero, através das
Catilinárias, constituídas de quatro célebres e violentos discursos, conseguindo
frustar a conjuração. Em 60 a. C., junto com Pompeu e Crasso, formou César o
primeiro triunvirato, sendo virtualmente abolido o governo constitucional. Obteve
ele por cinco anos, prorrogados mais tarde, a nomeação para o governo das Gálias.
Então, revelou sua enorme capacidade militar através de brilhantes campanhas, em
que consolidou o poder de Roma, eliminando as ameaças dos germânicos. Conquistou a
Inglaterra (o que, mais tarde, nem Napoleão nem Hitler conseguiram). Venceu
confederação de tribos hostis, aprisionou o chefe gaulês Vercingetorix, montou a
administração da província conquistada, fixou o montante de tributo anual e
mostrou-se relativamente magnânimo. Não, porém, em relação ao chefe aprisionado,
que foi levado em correntes para Roma, a fim de ser exibido durante a entrada
triunfal de César. Mas sua posição tornava-se crítica na capital. Crasso morrera e
Pompeu fez passar uma lei possibilitando a substituição do comando da Gália e
permitindo que, como cidadão privado, César fosse processado por seus atos
inconstitucionais. O comandante das Gálias procurou negociar com Pompeu e, havendo
falhado no intento, marchou à frente de uma legião, atravessou o Rubicão, na
fronteira italiana, exclamando: Alea jacta est. - A sorte está lançada! Havia uma
superstição pela qual tornava-se amaldiçoado o exército que transpusesse aquele
pequeno rio. César ignorou tal crendice. Pompeu arregimentou algumas tropas na
Itália e, em Brundísio, embarcou para o Oriente, onde seu prestígio era maior. A
Espanha ficara em mãos de seus lugares-tenentes e para lá rumou César, dizendo que
ali combateria um exército sem general para, mais tarde, no leste, combater um
general sem exército! Em ambas as campanhas saiu-se vitorioso e também derrotou
Pompeu na batalha de Farsália, na Grécia, no ano de 48 a. C.. Pompeu dispunha de
40 mil homens, enquanto César, 25 mil, com grande inferioridade de cavalaria. A
vitória foi devida ao comando direto de César, ao
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passo que Pompeu abandonou o campo de batalha, perdendo a iniciativa. Foi um dos
mais completos êxitos da história militar, em que César perdeu somente 300
combatentes, enquanto o adversário amargou o prejuízo de 15 mil mortos e 24 mil
prisioneiros. Conta a tradição que, após essa vitória, César foi ao Egito, onde
permaneceu nove meses e ficou seduzido por Cleópatra. Seguiu depois para a Ásia
Menor, onde defrontou-se com Farnaces, filho de Mitrídades, 0 Grande. Sobre tal
batalha, teria dito: Cheguei, vi e venci! Voltou à Itália para abafar um levante
das legiões. Tornou a cruzar o Mediterrâneo, derrotando em Tapsos um exército
republicano, em que a maioria dos chefes pereceu (46 a. C.). Entre 26 e 29 de
julho, celebrou em Roma um triunfo quádruplo e recebeu a ditadura por 10 anos. Em
novembro, foi à Espanha e derrotou os filhos de Pompeu em Munda. É interessante
observar não haver dados que revelem qualquer derrota ou insucesso militar de
César. Foi vitorioso toda a vida! Ao voltar a Roma, foi assassinado por membros de
um conluio chefiado por Brutus, no Senado, aos pés da estátua de Pompeu.
Mortalmente ferido, teria César dito a Bruto, antes de morrer: Até tu, Brutus, meu
filho? Além de seu grande talento militar, foi César o primeiro chefe romano a
executar em larga escala planos de colonização ultramarina, a unificar o sistema
de governo local na Itália e a defender o princípio de que o império devia ser
governado e não meramente explorado. A palavra César ligou-se historicamente ao
sentido de imperador. Dela, os alemães tiraram o termo Kaiser, e os russos, Czar.
Cesarismo tem o sentido de governo despótico, ditadura, autocracia. Cinco
localidades adotaram o nome de Cesaréia, na antigüidade: - Cesaréia da Capadócia
(região situada entre a Armênia e a Frígia, na Ásia Menor), às margens do rio
Halis. - Cidade da antiga Palestina, hoje em Israel, construída por Herodes e
residência dos procuradores romanos. - Cidade da Fenícia (Cesaréia do Líbano) -
Cidade situada na África do Norte, capital da Mauritânia Cesariana, hoje Argélia.
- Fortaleza à margem do rio Orontes, que os muçulmanos batizaram de Chaizar. A
cesariana, ou cesária, intervenção cirúrgica pela qual se extrai o feto da
cavidade uterina por via abdominal, teria recebido essa designação devido à crença
de que César nascera desta maneira.
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Os guerreiros
Zolá Pozzobon
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Belisário, o bizantino
A cidade de Bizâncio foi fundada pelos gregos antigos, na margem esquerda do
Estreito do Bósforo, a meio caminho entre o Mediterrâneo e o mar Negro.
Encruzilhada obrigatória do comércio com a Anatólia e o resto da Ásia, prosperou
rapidamente.
O véu e a espada
sa, tinha espírito lúcido, firmeza, coragem e calma, exercendo grande influência
em todas as áreas da vida do império. Dois setores de atividades caracterizam o
reinado de Justiniano: intensa produção intelectual e artística (Corpus Iuris
Civilis e a Basílica de Santa Sofia - Hagia Sophia) e vigorosa política exterior.
Tanto defendeu o império quanto procurou ampliá-lo, isto é, restabelecer o antigo
Império Romano do Ocidente. Passou, então, à preparação de suas forças. Precisava
de generais competentes e teve a sorte de contar com Belisário e Narsés. Aquele (o
primeiro na Ilíria, em 505, e o outro em Constantinopla, em 565) exercia um
comando na fronteira da Pérsia (528) quando a elevação de Justiniano fez dele o
primeiro general do império. Como Comandante em Chefe do Exército da Ásia, venceu
os persas em Dara (530). No ano seguinte, entretanto, foi derrotado em Callínicum,
sem perder o prestígio, pois aproveitou a oportunidade que surgiu em seguida de
salvar o trono, reprimindo com energia a rebelião de Nika (532). Diante de tal
êxito, foi considerado imprescindível para levar a cabo os ambiciosos plano do
imperador. Os Vândalos eram uma tribo germânica que atravessou a Europa, tomou e
saqueou Roma e fixou-se na África do norte (século V). Justiniano atribuiu a
Belisário a missão de conquistar a região submetida aos germânicos. Em sete meses
de campanha, com apenas duas batalhas, este destruiu o reino de Gelimer, que foi
levado prisioneiro à presença de Justiniano (533/34). Como prêmio, Belisário foi
nomeado cônsul. Logo depois, dirigiu-se à Sicília e a ocupou (535). Passou para a
península italiana e conquistou Roma e Nápoles. Suas forças, porém, estavam
desgastadas e seus efetivos reduzidos. Então, Vittiger, novo rei dos ostrogodos,
cercou Belisário em Roma. Este resistiu ao cerco durante um ano, de março de 537 a
março de 538. Além das preocupações com a defesa da cidade, ainda achou tempo de
depor o papa Silvério, conforme o desejava a imperatriz Teodora. Os ostrogodos
levantaram o cerco e retiraram-se. O bizantino marchou sobre Ravena e a conquistou
em 540, apesar da má vontade de seus generais. Então, foi chamado por Justiniano
para deter a marcha de Cosroes, na Ásia, saindo-se vitorioso (541/42). Embora
tenha passado por um período de desfavor por parte de Justiniano (intrigas?), foi
novamente designado para outra importante missão: conter os ostrogodos de Totila,
na Itália. Para lá rumou em 544. Apesar de seu valor como general, nada pôde
fazer, pois as forças de que dispunha eram muito inferiores em poder de combate.
Roma foi submetida e o general pediu demissão, recolhendose a Constantinopla, onde
comandou a Guarda Imperial. A sorte,
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O flagelo de Deus
A denominação de hunos é atribuída a pelo menos quatro povos de origem ainda
obscura: 1) os hunos que, de 372 a. C. a 453 d. C. invadiram o império bizantino e
se mostraram mais agressivos sob o comando de Átila; 2) os húngaros ou magiares,
que atravessaram os Cárpatos em direção à Hungria, em 898 d. C., e aí se
miscigenaram; 3) os hunos brancos ou eftalitas, já conhecidos dos bizantinos e que
perturbaram o Império Persa, de 420 a 557 d. C., e 4) os hunos invasores da Índia,
na mesma época. Nos primeiros séculos da era cristã, guerreiros hunos, ou Hsiung-
nu, impeliram os chineses para oeste. Parte deles permanecia na Transoxiana e no
Afeganistão e outros avançaram até os montes Urais. O que caracteriza todos os
ramos desse povo é o nomadismo, a têmpera guerreira e o vigor físico. Na Europa
ocidental, os primeiros a absorver os choques dos hunos foram os alanos e, a
seguir, os ostrogodos. Os visigodos tiveram de se desalojar de suas posições
diante da pressão dos invasores. Átila, rei dos hunos (406 - 453 d. C.), foi seu
chefe mais célebre. Passou os oito primeiros anos de seu reinado lutando contra
outras tribos bárbaras, até tornar-se dominador supremo na Europa central. Fazendo
alianças, tornou-se senhor incontestável dos territórios que se estendem entre o
mar Cáspio e o rio Reno. Durante anos, assolou os Bálcãs e ameaçou Constantinopla.
Tendo subido ao trono de Bizâncio o imperador Marciano, voltou-se este com energia
contra os hunos, os quais volveram para o Ocidente, atravessaram o Reno e
saquearam a maior parte da Gália belga, onde foi atribuído a seu chefe Átila o
cognome de Flagelo de Deus. Como os conquistadores não sabem parar, dirigiu-se ele
para
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O véu e a espada
o sul e sitiou Orléans, sendo esta cidade salva pelo exército romano-godo,
chefiado por Aécio e Teodorico. A seguir, travou-se a batalha dos Campos
Cataláunicos (Chalons-sur-Marne), embate decisivo na história do Ocidente. Após um
dia de luta insana, sofrendo ambas as partes baixas proibitivas, foram os hunos
derrotados. Átila retirou-se para a Panônia. Porém, não se deu por vencido.
Voltou-se para a Itália, onde tomou e destruiu Aquiléia, principal cidade da
Venetia, bem como Concórdia, Altinum e Patávia (Pádua). Os sobreviventes destas
localidades buscaram refúgio nas lagunas do mar Adriático e assim fundaram Veneza.
Continuando sua trajetória de devastação, saqueou Milão e as cidades da Lombardia
ocidental. Então, deu-se um fato que assinalou a história do Ocidente europeu: o
papa Leão I mandou a Átila uma embaixada e a seguir foi encontrar-se com ele em
Mântua. Não se sabe que conversa o sumo pontífice passou no rei dos hunos, o caso
é que este consentiu em se retirar para o norte dos Alpes mediante o recebimento
de um tributo. O famoso Flagelo de Deus morreu subitamente, em 453, na noite
seguinte a um banquete, em que comemorava seu casamento com uma jovem chamada
íldico.
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O véu e a espada
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O véu e a espada
As Cruzadas foram expedições militares empreendidas pelos cristãos da Europa
Ocidental, durante a Idade Média, no período de 1096 a 1291, com o manifesto
objetivo de libertar o Santo Sepulcro e os lugares santos do domínio muçulmano.
Foram múltiplas as causas que desencadearam tais movimentos: intolerância
religiosa dos turcos seldjúcidas; expansão turca na Ásia Menor; desejo do papado
de reunificar a cristandade, abalada pelo cisma do Oriente (1054); a existência de
uma classe militar – a Cavalaria – cuja finalidade máxima era a defesa da fé; o
aumento da população européia; a atração pela luta; o desejo de conquista de
terras e riquezas orientais... No Concílio de Clermont (1095), após a pregação da
Cruzada pelo próprio papa Urbano II, em que o pontífice usou as palavras do
Evangelho “Renuncia a ti mesmo, toma tua cruz e segueme”, a multidão manifestou-se
ruidosamente a favor, aos gritos de “Deus o quer”. Foram tomadas medidas iniciais,
como a suspensão de guerras privadas entre os Estados cristãos, concessão de
graças especiais e privilégios para quem empunhasse as armas em defesa da cruz e
diretrizes para concentração de forças em Constantinopla, de onde partiria a
ofensiva contra os muçulmanos. É de se imaginar o entusiasmo que se espalhou pela
Europa, a partir de tal pronunciamento, motivado não só pelo espírito místico que
dominava a civilização da época, como também pela perspectiva de amealhar fortuna.
As Cruzadas constituíram uma verdadeira Guerra Santa, fenômeno que se tem
manifestado algumas vezes na História e de que é exemplo a Jihad dos muçulmanos,
ao tempo da construção do Império Árabe, como modernamente, nas lutas de
palestinos contra israelenses.
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O véu e a espada
onde caiu prisioneiro e pagou resgate. Durante nova campanha, morreu em Túnis
(127), vítima da peste. Os cristãos deram-se conta, então, de que as cruzadas eram
uma idéia do passado. A célebre Ordem dos Templários era constituída mais por
banqueiros do que por monges-soldados e a força do Islã não foi debilitada. Como
conclusão, podemos dizer que tais movimentos tiveram um significado histórico: o
enriquecimento da cultura do Ocidente pelo contato com a do Oriente; conhecimento
da ciência e da filosofia greco-islamita; costumes de galanteria; heroísmo;
aquisição de novas técnicas de combate; desenvolvimento do nacionalismo nascente;
enfraquecimento do feudalismo etc.. Quanto à parte econômica: cultivo de novas
espécies agrícolas; novos instrumentos e processos de fabricação; desenvolvimento
da vida urbana; expansão do comércio com a Ásia; implantação do sistema bancário;
expansão comercial de Gênova e Veneza.... Com referência ao significado
espiritual: surgimento de idéias heréticas na Europa Ocidental; incapacidade dos
papas em dirigir temporalmente a cristandade (o que não era de fato sua
incumbência); conservação de Constantinopla sob domínio cristão por mais quatro
séculos.....
Zolá Pozzobon
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A grande cavalgada
No fim do século XII, a Mongólia e o Gobi foram divididos entre as tribos turco-
mongólicas e tunguesas. Consta que os turcos queraítas eram um povo cristão
nestoriano (*), cujo rei foi ligado ao famoso Preste João, personagem das
histórias de Marco Polo, chefe de um vasto império no Extremo Oriente, ao qual D.
João II de Portugal enviou duas expedições no século XV, uma sob o comando de
Bartolomeu Dias e outra chefiada por Pero de Covilhã. Naquelas paragens quase
desconhecidas e pouco estudadas por nós, ocidentais, surgiu, por volta de 1162,
Gengis Khan (**) chefe militar fundador do império mongol. Seu nome era
inicialmente Temudjin, e revelou desde cedo inteligência e tino militar. Mais
tarde, apoiado por Toghril, khan dos queraítas, logrou ser reconhecido chefe e
adotou o nome de Gengis Khan, o maior de todos os governantes mongóis. Apoiado
pelos queraítas, lançou-se contra os tártaros, em 1198. Entrementes, Djamuca, que
fora seu amigo, reuniu chefes de vários grupos mongóis e se fez proclamar khan
universal, supremo título turco-mongol. Em 1202, Gengis Khan derrotou os tártaros
e, mais tarde, os queraítas, cujo chefe foi morto quando batia em retirada.
Djamuca (em 1204 ou 1208) foi preso e morto. Recebeu então Gengis Khan a submissão
dos merquites, oirates e quirguises. A Mongólia estava unificada sob sua
autoridade. Ele iniciou a organização do Estado e do exército e atacou (em 1204?)
o clã tibetano dos Hia, dominando-os depois de cinco anos de luta. Decidiu a
guerra contra o império dos Chin, vindo a capital, Pequim, a cair, em cerca de
1215. Voltou-se para oeste, venceu os caraquitãs, anexou seus territórios e virou-
se contra o império turco dos Khwarizm, dominando suas terras: a Transoxiana, o
Afeganistão e a maior parte do atual Irã.
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O véu e a espada
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Avalanche turca
Fundado sobre as ruínas do Estado seldjúcida da Anatólia (séculos XIII e XIV) e,
mais tarde, de novo, sobre a derrocada do Estado bizantino, o império otomano
viria a ser, depois da queda de Constantinopla (1453), a maior potência do mundo
muçulmano e uma das maiores da Europa e do Oriente Próximo. A partir de 1229,
Ósman, ou Ótman, de onde se origina o nome de seu império – otomano – príncipe
sábio e patriarcal, iniciou o processo de independência de um pequeno Estado na
Anatólia (Ásia Menor). Descendia ele da tribo Kayl, pertencente à federação dos
turcomanos, os quais formaram no século VI de nossa era um império, ocupando a
Ásia do norte, desde o mar Negro até a Coréia. Ósman expandiu seu território,
lutando com sucesso contra os comandantes dos castelos-fortalezas bizantinos mais
ou menos autônomos. Seu filho Órcan tomou Brussa, quando então seu pai morreu.
Criou antes dos europeus a infantaria regular (pyiade) e fez cunhar a primeira
moeda otomana. Conquistou Nicéia (na Grécia) e transformou a igreja onde fora
proclamado o Símbolo dos Apóstolos em mesquita (1330). Com a queda de Nicomédia, a
Ásia bizantina ficou reduzida a Escutari e Filadélfia. Órcan tornou-se genro do
imperador João VI. Ao abdicar este, Solimão Paxá, filho de Órcan, apoderou-se de
Galípoli e de outras localidades. Morreu pouco antes do pai, ao cair do cavalo,
interrompendo-se sua série de conquistas. Murad I cercou-se de generais
competentes e ele próprio conquistou Angorá (Ancara). Diante da ameaça de invasão,
coligaramse os sérvios, os húngaros e outras nações balcânicas, mas os
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O véu e a espada
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artístico, influenciado pelo estilo rococó de Luis XIV e notabilizado pelo poeta
Nedim. Mamud I sustentou guerra com a Pérsia, conquistando a Geórgia (1732) e
saindo-se vitorioso no ano seguinte sobre o famoso usurpador persa Nadir Xá. Pela
paz de Belgrado, terminou a guerra contra a Rússia e a Áustria. Mustafá III levou
o país novamente à guerra com a Rússia. A esquadra turca foi destruída em Tchesmé
pelo almirante Orlof. O reinado de Abdul-Hamid I foi assinalado por uma série de
acontecimentos adversos à causa turca. O país foi obrigado a aceitar a
independência da Criméia; perdeu Kertch e outras cidades importantes para os
russos e evacuou a Geórgia. Em 1787, em nova guerra contra Catarina da Rússia,
perdeu Otchakov, a última cidade ocupada pelos turcos no litoral do mar Negro.
O véu e a espada
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Quando um animal de grande porte está ferido, as hienas se aproximam e todas elas,
para abocanhar pedaços de carne, dão suas mordidas. Assim, ferido o Grande império
Otomano, perdendo aqui e ali partes de seus membros, aproximaram-se os predadores
internacionais, não para libertarem povos oprimidos, mas para também os oprimirem.
A Itália apoderou-se da Tripolitânia (1911). A Bulgária aliou-se à Servia e à
Grécia e tal coligação atacou os turcos. Os búlgaros só foram detidos a 30 Km de
Istambul. Tendo assinado os Preliminares de Londres (1913), os turcos mantiveram
no continente europeu apenas uma pequena faixa de terra (Galípoli). Na I Guerra
Mundial, por temor às ambições russas, alinhouse a Turquia aos alemães. O coronel
Mustafá Kemal defendeu valorosamente os Dardanelos contra a aventura aliada de
conquistar Galípoli. Em Kutelamara, na frente iraquiana, foi capturado o general
inglês Townsend. Por sua vez, Enver Paxá fracassou na tentativa de conquistar Suez
e ainda sofreu a derrota de Sarikamish, face aos russos. A revolução bolchevista
de 1917 salvou os turcos de um desastre na frente russa e o general inglês Allenby
apoderou-se da Palestina. Ao assinar o armistício de Mudros (1918), a Turquia já
perdera a Arábia, a Palestina e a Síria. Então, depois de chegarem a um Estado
mínimo, embora de não exíguas dimensões, sentiram as lideranças turcas a
necessidade de estabelecer uma grande reforma. Autorizava uma das cláusulas do
armistício que os aliados poderiam ocupar pontos do território turco, em proveito
da própria segurança do país (1919). Porém, cometeram a asneira política de apoiar
um desembarque grego em Esmirna. Mustafá Kemal conseguiu fazer-se designar
comandante do III Exército e desembarcou a 19 de maio em Sansum, organizou a
resistência nacional e formou em Ancara a grande assembléia nacional da Turquia.,
que votou a primeira constituição do “Novo Estado” turco. Mustafá continuou a
“guerra da independência”, para anular o tratado que atribuía Esmirna aos gregos e
dava autonomia à Armênia. Após as duas batalhas de Inonu e a vitória decisiva de
Mustafá em Sacaria, foram os gregos empurrados até o mar. A paz definitiva foi
assinada em Lausanne (1923), por Ismet Paxá. Procedeu-se à série de reformas que
fizeram da Turquia um Estado moderno. Hoje, debate-se o país com o problema dos
curdos, que habi-
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O véu e a espada
tam o território turco, além de outras áreas no Iraque, Síria e Irã, todo esse
povo aspirando a constituir-se em um país independente.
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Um só no céu, um só na terra!
Coxo de nascimento (1336), embora fosse turco, proclamouse descendente e
continuador do mongol Gengis Khan. Construiu um império e escolheu Samarkand (no
atual Uzbequistão) para sua sede. Intolerante e fanático, converteu-se ao
islamismo e anunciou a quem estava ou não obrigado a ouvi-lo nada menos que a
conquista do mundo, seguindo uma reflexão muito simples: “Deus sendo um, não podia
haver senão um rei em toda a terra”, e a este trono candidatou-se. Tal foi Timur-
Lang, ou Timur, O Coxo - (Tamerlão). Uma de suas primeiras campanhas foi contra o
sultão Bayezid. Enfrentaram-se os dois poderosos exércitos em Ancara (antiga
Encira ou Angorá, no planalto da Anatólia, a 1000 metros de altitude). Os turcos
foram derrotados e Bayezid feito prisioneiro. Conta-se que foi enjaulado em uma
gaiola de ferro e levado assim a passear pelas cidades, como um animal de circo,
exposto à zombaria do populacho. Timur conquistou a maior parte do Afeganistão,
atacou diversas regiões da Rússia, apoderando-se de Azov. Invadiu a Pérsia e a
Índia, tendo alcançado Delhi. Bagdá foi duas vezes por ele devastada, em 1392 e em
1401. Apesar de todas essas violências, a ele é creditada a grande obra de
unificação da Ásia Central. Sob a dinastia dos timúridas, quando a capital do
império foi transferida para Herat, houve um período de paz e prosperidade (1404 a
1507). A capital tornou-se grande centro da civilização islâmica. Porém, em 1507,
os uzbeques de Mohamed Khan Shabani apoderaram-se de Herat. A última campanha do
conquistador foi contra a China, cujo domínio ambicionava. Entretanto, não
conseguiu ultimar sua con-
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O véu e a espada
quista, uma vez que morreu em marcha contra esse império do Extremo Oriente. Ele
queria ser o controlador da “estrada da seda”, por onde se fazia o comércio de
Pequim até o mar Negro. Tendo neutralizado a expansão turca, concluem alguns
historiadores que o império de Tamerlão retardou a derrocada da Idade Média na
Europa. Convém assinalar que a unificação de tal império foi um grande fator de
importância econômica, uma vez que favoreceu e estimulou o intercâmbio comercial
entre o Ocidente e o Oriente. Por algum tempo, a conquista mongólica impôs a paz à
Ásia Central.
Zolá Pozzobon
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Ivan, O Terrível
O nome Ivan é tão ligado à Rússia que, em diversos países, muitas pessoas, ao se
referirem a algum russo, dizem: “O Ivan chegou”, ou “Hoje conversei com Ivan”
etc.. Ivan IV, O Terrível (Ivan Vassilievitch – 1530 - 1584), foi o primeiro czar
da Rússia. Fez um governo cruel (mais de três mil execuções). (Mas um santo, se
comparado com Stalin, responsável por milhões de vítimas!). Era filho de Vassili
(Basílio) III e de Helena Glinskaia. Ainda criança, foi proclamado grão-duque e
assumiu a chefia do governo em 1547. Sua infância foi influenciada pelo ambiente
de violências e intrigas entre clãs rivais que disputavam o comando político. A
partir de 1542, o metropolita de Moscou e chefe da Igreja Ortodoxa russa, Makari,
induziu-o a adotar a concepção do direito divino dos reis. Ele foi coroado em 1547
como primeiro czar e, dois anos depois, reunia-se a primeira Zemski Sobor
(assembléia). Usava oficialmente o título de Grande Soberano, Czar e Grão-príncipe
de toda a Rússia. As reformas por ele adotadas fortaleceram o Estado e concederam
certa autonomia a citadinos e campesinos. Estendeu o poder moscovita além das
terras russas. Dominou a bacia do rio Volga e iniciou sua colonização. Com a
tomada de Kazan, indicou o caminho para a conquista da Sibéria. Ao apossar-se de
Astrakan, penetrou no mar Cáspio, mas interferiu na esfera de influência do
Império Otomano. Estabeleceu relações com a Pérsia e os Estados da Ásia Central.
Foi o primeiro governante russo a procurar contato com o Ocidente. A fim de forçar
uma saída para o mar Báltico, enfrentou a Polônia, Lituânia e Livônia, envolvendo-
se na chamada Guerra da Livônia (155883), onde foi derrotado. Ocupou-se então em
expandir seu reino
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O véu e a espada
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Sonhos e pesadelos
Zolá Pozzobon
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O véu e a espada
militar, a artilharia montada (em 1759), que só surgiu na França por ocasião da
Revolução Francesa. Em 29 de agosto de 1756, Frederico transpôs a fronteira da
Saxônia, iniciando a guerra. Mesmo encontrando dificuldades, avançou até a Boêmia,
derrotando a seguir os austríacos na Batalha de Praga (1757). Pouco depois,
desvantagens militares abateram-se sobre ele, que experimentou a derrota em
Leimeritz, agravada pela vitória dos franceses sobre os ingleses no norte da
Europa. Entretanto, ainda em 1757, obteve a grande vitória de Rossbach contra os
franceses e a de Leuthen contra os austríacos. No ano seguinte, vanguardas russas
começaram a se aproximar de Berlim, mas foram repelidas e recuaram para Landsberg
e Königsberg. Feriu-se a Batalha de Hochkirch, em que Frederico foi surpreendido
pelo ataque dos austríacos, sob o comando de Zieten, e obrigado a retirar-se até
Dresden. Embora numerosas, as reservas militares de Frederico começaram a mostrar
sinais de esgotamento. Entrementes, William Pitt, primeiro- ministro da
Inglaterra, prestou grande auxílio à causa da Prússia. Com a ascensão de George
III, no entanto, cessou a ajuda. Nova derrota experimentou o chefe prussiano,
desta vez face às forças austro-russas, comandadas pelo príncipe Ferdinando, em
Maxen e Minden (1759), restando-lhe o consolo das vitórias inglesas no Canadá e o
aumento de sua popularidade na Grã-Bretanha. Em 1760, iniciou sua ofensiva sobre a
Silésia, onde derrotou russos e austríacos. Pouco depois, travaria em Torgau sua
última grande batalha, em que ambos os lados – prussianos e austríacos – sofreram
pesadas baixas. Dominado pela exaustão, Frederico II, O Grande, foi declinando
sensivelmente o ritmo da guerra. Com a morte da czarina Elisabeth (1762), subiu ao
trono Pedro III, que propôs a paz. Através do Tratado de São Petersburgo, a
Pomerânia foi devolvida a Frederico. Mas a paz definitiva só foi firmada em 1763,
em Hubertusburg. Pelas cláusulas, a Áustria perdia a Silésia e a Polônia era
dividida pela primeira vez, sendo ocupada pela Prússia, Rússia e Áustria. - O
monarca Frederico II, O Grande, déspota esclarecido, foi notável administrador e
chefe militar. - Sua aliança com a Inglaterra trouxe-lhe vantagens indiretas, ou
seja, o engajamento dos franceses com forças daquele país, aliviando, assim, a
participação da França contra Frederico na Europa. - Obteve vitórias e sofreu
derrotas e não poderia ter sempre
Zolá Pozzobon
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bom êxito contra forças coligadas de cinco países. - Ao fim da Guerra dos Sete
Anos, entre outras conseqüências surgiu a primeira divisão da Polônia, fato que
iria se repetir na história do continente, a última vez em 1939, quando Hitler
mandou invadir aquele país, ficando a Alemanha com a parte oeste de seu território
e a URSS, com a porção leste.
Zolá Pozzobon
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Simón Bolívar
Tantas foram suas andanças que contam ter seu cavalo bebido das águas da maioria
dos rios sul-americanos, desde o Orinoco até o Prata!
Era de família ilustre e abastada. Foi investido do título de “Libertador” pelos
congressos dos países pelos quais lutou; fundou a Grã-Colômbia, que reunia Nova
Granada, Venezuela e o reino de Quito. Outrossim, assumiu o poder no Peru e seu
nome designa um país, a Bolívia. Seus inúmeros feitos constituem um gigantesco
mural de glória e tragédia, vitórias e derrotas. Seus escritos, discursos,
proclamações e correspondência formam preciosa herança política da América
espanhola. Grande observador e analista, previu com exatidão
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O véu e a espada
as variadas lutas que se haveriam de travar pela liberdade. Sua aguda inteligência
levava-o bem à frente de seu tempo. Embora acerbamente criticado (quando os
invejosos deixaram de se manifestar?) tanto em vida como depois de morto, foi e é
reconhecido como um dos maiores expoentes da era revolucionária que inflamou a
América Latina em fins do século XVIII e início do XIX. Simón Bolívar estudou e
casou na Espanha. Ao voltar à América, sua esposa foi colhida pela febre amarela,
obrigando-o a voltar ao velho continente. Em Paris, assistiu à coroação de
Napoleão I. A seu professor, o pedagogo Simón Carreño Rodriguez, a quem acompanhou
em viagem à Europa, prometeu solenemente em 1805, no Monte Aventino (Roma),
libertar sua terra do jugo espanhol. No ano seguinte, na Venezuela, ligou-se a
grupos liberais e participou da junta do governo que veio a substituir a
autoridade espanhola na colônia. Este foi o primeiro governo a se estabelecer na
América Latina sem ingerência da metrópole. Fez-se amigo de seu compatriota
Francisco Miranda, que lutara com Washington na guerra da independência americana,
fora general nas hostes de Napoleão e liderou a tentativa revolucionária de 1806.
Quando Miranda foi alçado a generalíssimo, Bolívar encarregou-se da defesa de
Puerto Cabello. Devido à traição de um oficial, fracassou a revolta, sendo seu
chefe aprisionado. Como refugiado, Simón Bolívar publicou o primeiro dos
documentos que constituem o acervo literário das revoluções hispanoamericanas.
Assumiu o comando dos rebeldes de Nova Granada (Colômbia), os quais haviam-se
revoltado a 20 de julho de 1810. Realizou sua primeira campanha militar: marchou
cerca de 1200 quilômetros, venceu seis batalhas e entrou em Caracas (1813), sendo
aí proclamado “El Libertador”. É oportuno registrar que nessa admirável campanha
contou com a ajuda de um revolucionário brasileiro, o general José Inácio de Abreu
e Lima. No ano seguinte, a sorte virou: sofreu várias derrotas diante dos
espanhóis e dos llaneros do ex-pirata Boves, e deixou a Venezuela. De volta à
Colômbia, decidiu assaltar Bogotá, sem êxito, contudo, pois fora batido em Santa
Marta. Abandonando o comando, partiu para a Jamaica. Aí, em 1815, lançou a famosa
Carta da Jamaica, cujas idéias centrais eram: - Projeto de um Estado constituído
pela Venezuela, Nova Granada e Quito, sob forma republicana e com executivo forte.
- União dos povos americanos, cujo centro seria o Panamá. Cumpre assinalar que
Bolívar não defendia a adoção do regime democrático, pois entendia que as
populações americanas ainda
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não haviam alcançado maturidade para a prática da democracia. Por essa época, a
aventura da independência em relação ao jugo espanhol parecia fadada ao fracasso:
Quito, América Central e Chile foram reconquistados pelas forças de Madri, além do
que acontecera na Venezuela e Colômbia, como vimos. Se buscarmos as causas de tais
derrotas, vamos localizá-las principalmente na fragmentação política do continente
e nas rivalidades pessoais que neutralizavam os esforços e paralisavam as
vontades. Além disso, elementos da Igreja Católica e da elite criolla não apoiaram
a luta, pois temiam uma revolução social atrelada aos movimentos de independência.
Acresça-se o fato de os revoltosos não terem marinha, o isolamento de seus
diversos focos, dadas as grandes distâncias e as dificuldades de comunicação. As
improvisadas forças rebeldes não podiam, de início, enfrentar soldados
profissionais bem adestrados. Só com o tempo haveria de se modificar tal panorama.
Depois da derrota de Napoleão, em 1815, e da restauração da dinastia dos Bourbon
na Espanha, viu-se a Inglaterra livre para explorar a situação reinante na América
espanhola, apoiando, em proveito próprio, diplomática e materialmente, a causa dos
rebeldes. A própria matriz, seguindo uma política de repressão brutal e
desastrada, com execuções e confiscos, provocou a oposição geral. Depois de alguns
anos de luta, já estavam generais revoltosos e massas nativas experimentados na
arte de guerrear, adaptados ao terreno e às condições locais. A eclosão de
levantes quase simultâneos em vários pontos iria dificultar a repressão, cujas
forças teriam de se deslocar de suas bases. Com apoio dos ingleses, Bolívar voltou
à América do Sul e, a partir de 1818, passou a dominar a foz do Orinoco. Do
próprio bolso contratou mercenários ingleses e irlandeses para reforçarem os
contingentes de índios das terras altas, formando, assim, um exército bastante
heterogêneo. Em 1819, realizou-se uma convenção constituinte em Angostura (Bolívar
de hoje, na Venezuela), com delegados de Casanare (Colômbia) e províncias
venezuelanas. Não obstante as hábeis táticas de Morillo, comandante espanhol,
conseguiram os revoltosos atravessar os Andes, derrotar os espanhóis em Boyacá (em
7 de agosto de 1819) e libertar Nova Granada. No ano seguinte era fundada a
Colômbia. A seguir, Bolívar marchou para a Venezuela, venceu o adversário na
batalha de Carabobo e conquistou Caracas, fundando a Terceira República
venezuelana (1821). Após 1812, expandindo-se o ideal de emancipação em Quito,
Bolívar cavalgou para o sul, a partir de Nova Granada, e José de
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San Martin (Argentina) marchou para o norte, encontrando-se os dois famosos chefes
em território equatoriano. Na cidade de Guayaquil há um monumento comemorativo de
tal evento. Em 1822, o general Antônio José Sucre, no comando de tropas
equatorianas, venezuelanas, colombianas, argentinas, chilenas, bolivianas e
peruanas derrotou espetacularmente os espanhóis, na batalha de Pichincha. Quito,
que então se integrou à República de la Gran-Colômbia, por sugestão de Bolívar,
passou a constituir seu Departamento Sul. Em 1830, porém, separou-se e tornou-se a
República do Equador. San Martin, um dos artífices da libertação do Peru, após ter
ocupado o porto de Pisco e entrado em Lima, sentiu que não dispunha de recursos
militares suficientes para atacar os espanhóis no interior do Vice-reinado do
Peru. Solicitou ajuda de Bolívar, já ocupado com a libertação do norte do
continente. O general argentino, percebendo que sua solicitação não era atendida,
retirou-se para o sul. Então, foi a vez de os peruanos recorrerem a Bolívar, que
assumiu o poder no país. Feriram-se as batalhas de Junin (6 de agosto de 1824) e
Ayacucho (9 de dezembro de 1824), em que os espanhóis foram definitivamente
derrotados. Bolívar governou o Peru até seu retorno à Colômbia. Em 1823, uma
expedição chefiada por Andrés Santa Cruz ocupou a área entre La Paz e Oruro. No
ano seguinte, a chegada do general Antônio José de Sucre provocou levante geral
contra o domínio espanhol, promovendo esse chefe um congresso de delegados em
Chuquisaca. Tornou-se, então, o Alto Peru uma república independente, com o nome
de Bolívia, em honra ao grande Bolívar. Este redigiu a constituição do país,
ratificada em 1826, e Sucre foi eleito presidente. Fernando VII, ao restaurar seu
poder absoluto na Espanha em 1823, sonhou em restabelecer os domínios na América.
Mas, para os EUA e Inglaterra, era de grande interesse a fragmentação da América
Colonial, pois ia ao encontro de sua política antimonopolista e lhes permitiria a
ampliação de mercados. A Inglaterra deixou claro que usaria seu poder naval para
bloquear expedições militares à América. Seguindo tal atitude, os EUA proclamaram
a Doutrina Monroe (A América para os americanos). Bolívar batalhava pela unidade
continental da América Ibérica, porém seus sonhos se esboroaram com o fracasso do
Congresso do Panamá (1826), convocado por sua iniciativa, a que compareceram
representantes da maioria dos países recém-emancipados. Para tal desfecho negativo
contribuíram eficazmente os interesses do capitalismo britânico, que forçou a
ausência de países como o Brasil, o Chile e a Argentina.
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por Venâncio Flores. Não foi difícil ao governo de Montevidéu convencer Solano
López de que Brasil e Argentina estavam por trás de Flores, inspirando-lhe os atos
de rebelião e auxiliando-o militarmente. Solano López resolveu intervir no cenário
do Prata, fazendo gestões junto à Argentina e ao Brasil. Falava em tom incisivo a
respeito da ameaça a que estavam submetidos os países da região e,
particularmente, os interesses do Paraguai. Sentia-se bastante forte em relação ao
Brasil e à Argentina para tentar impor sua vontade pelas armas. As relações entre
Paraguai e Argentina tornaram-se extremamente tensas e, no que tange ao Brasil,
desembocaram em atos de hostilidade militar. Devido à rebelião de Venâncio Flores,
acabou nosso país envolvendo-se nos assuntos internos do Uruguai. Tal fato deu
pretexto a que Solano López invadisse o Mato Grosso em dezembro de 1864,
iniciando-se, assim, uma guerra que duraria cerca de seis anos, o maior conflito
armado da história sul-americana.
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Solano López nasceu e criou-se no seio da ditadura, regime adotado no país desde
sua independência até há pouco. Rico, orgulhoso e autoritário, ainda jovem
desempenhou a função de ministro plenipotenciário na França, como já vimos, onde
experimentou o luxo e a ostentação da corte de Napoleão III. Aprendeu a admirar os
métodos políticos adotados no continente europeu e observou a facilidade com que
se retalhavam países, incorporavam-se províncias e modificavam-se os mapas das
nações. Voltou à sua terra cheio de idéias e projetos. Preparou uma força armada
bastante significativa para a época, superior a de seus futuros oponentes. Contava
com população dócil e de limitado nível cultural, voltada para a satisfação de
suas necessidades básicas. O guarani era patriota e leal a seus superiores. Parece
mais que temerário, por parte de López, ter concebido um plano político-militar
que iria envolver três países adversários: Brasil, Argentina e Uruguai. Atacou o
primeiro no Mato Grosso. Atravessou o território de Corrientes, pertencente à
Argentina, para chegar ao Rio Grande do Sul, onde realizou a efêmera conquista de
Uruguaiana. Além disso, pretendia dominar o Uruguai e debruçar-se sobre o estuário
do Prata. O paraguaio não avaliou a potencialidade do Brasil, que tinha capacidade
de multiplicar seus efetivos humanos e economia capaz de adquirir armas e
equipamentos militares rapidamente, bem como carrear seus recursos para o teatro
de operações, não obstante as consideráveis distâncias. Outrossim, lançou-se o
Paraguai à luta com forças navais muito inferiores às da Tríplice Aliança, quando
era necessária uma nítida superioridade nas águas fluviais para apoiar as forças
invasoras, a exemplo do que hoje significa ter superioridade aérea na ofensiva. A
invasão do Mato Grosso foi desnecessária e inócua: bastava uma cobertura, para
então concentrar o esforço na frente sul. A grande ação retardadora de Solano
López, levada a efeito desde o Passo da Pátria até Assunção, aliada às
dificuldades do terreno, muito bem aproveitado pelos guaranis, conseguiu prolongar
a guerra. Talvez alimentasse o ditador a esperança de concentrar novos recursos e
reverter a marcha dos acontecimentos, o que seria difícil. Com a queda de
Assunção, estava selada a sorte do conflito. Há uma literatura atual sobre a
Guerra do Paraguai em que os autores atribuem ao Brasil a prática de genocídio
contra o país vizinho. Não concordamos com tais versões. O Império Brasileiro foi
agredido pelo Paraguai e teve partes de suas terras invadidas, no Mato Grosso e no
Rio Grande do Sul. Nosso país
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ano. Diante de tal abalo militar e tendo de enfrentar a revolta interna de 1905, a
Rússia aceitou a mediação dos EUA, que já começavam a se preocupar com a ascenção
do Império do Sol Nascente. O Japão também aceitou-a, uma vez que suas finanças
estavam quase arruinadas. Pelo Tratado de Portsmouth, cedeu a Rússia ao Japão o
sul da ilha de Sakalina e transferiu-lhe o arrendamento do Liaotung, além de
concordar com a expansão japonesa na Coréia. Depois de evacuada pelas duas
potências, foi a Mandchúria devolvida à China. - O Japão firmou-se, desde então,
como potência naval. - Alcançou prestígio entre as chamadas grandes potências. -
Pela primeira vez, uma potência asiática saía vitoriosa contra outra européia, o
que despertou sentimentos nacionalistas em todo o continente.
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onal dos franceses a tal ponto que a França declarou guerra à Prússia. Tal fato
prestava-se aos objetivos de Bismarck: os alemães do sul, até então refratários à
unificação com o norte, abraçaram a causa prussiana. O chanceler germânico estava
preparado política e militarmente para fazer face a mais este embate. Contava com
os excelentes generais Moltke e Roon no comando das forças alemãs. Moltke chefiara
o exército prussiano contra os dinamarqueses (1866) e estabelecera um sistema de
comando e de estado-maior que foi imitado por todos os poderes continentais
europeus e também pelo Japão. A 4 de agosto de 1870, irromperam os germânicos na
Alsácia e derrotaram uma divisão francesa em Weissenburg. O principal exército do
marechal Patrice Mac Mahon foi forçado a retirar-se da região. Cinco dias depois,
outro exército alemão invadiu a Lorena, sendo então nomeado o general Bazaine para
comandar os franceses. Após sangrentas batalhas naquele mês, Bazaine retraiu-se
para a região do Metz. As forças francesas, às quais se incorporou o próprio
imperador Napoleão III, ficaram imobilizadas em Sedan, numa posição indefensável,
perto da fronteira belga, cercadas pelos alemães. A 2 de setembro, o marechal Mac
Mahon e toda a sua tropa renderam-se. Cerca de quatro semanas bastaram para
definir a guerra, que poderia ter seu fim em Sedan. A França, porém, não aceitou a
derrota. Proclamada de novo a República, organizou-se uma luta heróica, em
condições muito adversas. Em 28 de setembro, a fortaleza de Strasburgo rendeu-se
aos alemães. Bazaine foi derrotado em Metz. Na batalha de Josnes (de 7 a 10 de
dezembro de 1870), amargaram os franceses nova e pesada derrota. Teve início em
janeiro de 1871 o ataque a Paris. A fome grassava em toda a cidade e a resistência
seria impossível. A pedido dos franceses, foi ajustado o armistício. No palácio de
Versailles, o rei da Prússia foi coroado imperador da Alemanha. A França obrigou-
se a abandonar a Alsácia e parte da Lorena e a pagar uma indenização de 5 bilhões
de francos. À medida que fossem pagos, as tropas alemãs evacuariam os territórios
ocupados. Tal situação provocou enorme ressentimento entre os franceses, que
passaram a nutrir a idéia de revanche. Tal mágoa teria vazão na Primeira Guerra
Mundial, num conflito que conduziu a Europa e o mundo à guerra de 1939 a 1945.
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dições propícias, como veio a acontecer com a Alemanha nazista. - Estava preparado
o cenário para a II Guerra Mundial. A II GUERRA MUNDIAL teve como marco inicial a
invasão alemã da Polônia, em 1 de setembro de 1939, e prosseguiu na Europa até a
queda da Alemanha (em 7 de maio de 1945) e, no Pacífico, com a rendição dos
japoneses, em 2 de setembro de 1945. Muitas das conseqüências da grande guerra
anterior constituem as causas do segundo conflito mundial. Entretanto, houve
acontecimentos mais próximos que aceleraram a eclosão dessa hecatombe. Hitler
tornou-se chanceler da Alemanha em 1933, dando início à desintegração do aparente
equilíbrio europeu. Decretou imediatamente o rearmamento do país e o serviço
militar obrigatório. Tais ações e as que se seguiram estavam inspiradas nos
princípios escritos por ele em Mein kampf, sua “bíblia política”, que, na época,
não chamou maior atenção. Tendo Benito Mussolini assumido o poder na Itália,
estabelecido um protetorado na Albânia (1926) e conquistado a Etiópia em 1935, o
Führer aproximou-se dele, formando o eixo Roma-Berlim. A débil e apática Liga das
Nações não foi capaz de proteger a Áustria da crescente dominação alemã. A crise
da Etiópia motivou Hitler a remilitarizar a Renânia, com apenas três batalhões. A
partir daí, os pequenos Estados europeus passaram a temer por sua segurança, não
mais acreditando na proteção das grandes potências ocidentais (França e
Inglaterra) e, assim, declararam-se neutros e assumiram posições conciliadoras
para com a Alemanha. No entanto, a crise não se limitou à Europa. O Japão invadiu
a Mandchúria (1931) e iniciou a conquista do norte da China. Para proteger-se
contra a URSS, acertou um pacto anticomunista com a Alemanha, ao qual aderiu a
Itália, daí surgindo o eixo RomaBerlim-Tóquio. Aproveitando-se da crise provocada
pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Hitler anexou a Áustria (Anchluss) e
depois estabeleceu um protetorado sobre a Boêmia-Morávia (na Tchocoslováquia), em
março de 1939. A partir daí, França e Inglaterra passaram a esperar o pior e
começaram seus preparativos para a guerra. A Alemanha concertou um pacto de não-
agressão com a URSS. Após a negativa da Polônia de enviar ministro
plenipotenciário a Berlim para tratar de assuntos territoriais com o Führer, este
determinou a invasão daquele país. Dois dias depois, França e Grã-Bretanha
declararam guerra ao III Reich.
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A ousadia de Hitler
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Nessa primeira demonstração de ousadia, Hitler não teve êxito, mas suas ambições
políticas eram muito grandes para que ele se deixasse abater pelo revés.
Então, escreveu o primeiro volume de Mein kampf (Minha luta), em que expôs
cruamente suas idéias e prognósticos da futura ação política. Anistiado,
reestruturou o partido. Em 1929, alcançava audiência em quase toda a nação.
Através da imprensa, proclamava sua fé no soerguimento da Alemanha. Em 1930, seu
partido nazista já era o segundo do país. As idéias políticas básicas de Hitler
penetraram no ambiente da classe média de Viena. Exaltava a raça ariana (para os
modernos teóricos do racismo alemão, seria uma raça pura, descendente dos árias,
sem ascendência judaica). Ele era o Führer (o guia), encarnação do volk (povo),
unidade natural da espécie humana pura. Os judeus, para ele os maiores inimigos do
nazismo e do povo alemão, constituíam aquilo que mais temia e odiava. Quando a II
Guerra Mundial acabou, verificou-se ter sido concretizado de forma macabra o ódio
de Hitler e de seus seguidores, que executaram nos campos de concentração cerca de
seis milhões de judeus, constituindo a “solução final” encontrada pelo nazismo
para o problema judeu e a implantação da “nova ordem” na Europa. Convidado, em
1933, pelo presidente, marechal Hindenburg, para chanceler da Alemanha, o ex-cabo
estabeleceu um regime ditatorial absoluto no país. Em fevereiro, os nazistas
incendiaram o Reichstag e atribuíram o crime aos comunistas, buscando desculpa
para anular as garantias de liberdade. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda,
passou a exercer o controle sobre os órgãos de notícias, promovendo as idéias de
Hitler e orientando a opinião pública.
Mal tornou-se chanceler, Hitler assumiu plenos poderes, com o controle da imprensa
e da população. Sua ousadia impulsionava-o à ação imediata, a pôr em prática o que
escrevera em Mein kampf.
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país, em 1 de setembro de 1939. Parecia que os Aliados também iriam tolerar este
novo lance. Mas para tudo há um basta! Após terem mandado ultimato ao governo
alemão, exigindo a retirada das forças atacantes, e não obtendo resposta, França e
Inglaterra declararam-se em estado de beligerância com o III Reich. O ataque
germânico foi seguido pela invasão da Polônia, de leste para oeste, por tropas
soviéticas, o que também havia sido concertado no pacto de não-agressão.
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Nesta época eu freqüentava o ginásio dos Irmãos Maristas, em Porto Alegre, quando
o diretor do estabelecimento reuniu os alunos e comunicou-nos o que ocorria na
Europa Ocidental: cerca de um milhão de franceses, ingleses e belgas estavam
cercados e foram separados do restante das forças que defendiam a França.
Desvendara-se o mistério. A trapalhada do piloto alemão que aterrissou na Bélgica
resultou na aplicação do Plano Schlieffen modificado, cujos esboços estavam de
posse dos ocidentais!
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vários grupos de caça, à base de dois a três navios, considerados capazes de fazer
frente à um cruzador de bolso. Depois de afundar outro barco na rota do Cabo, o
Graf Spee desapareceu por um mês. Seus adversários ampliaram a vigilância marítima
até o Índico. A 15 de novembro, ele pôs a pique um petroleiro britânico no canal
de Moçambique. Para disfarçar sua presença naquele oceano, seu comandante –
Langsdorff – rumou para uma área bem ao sul do Cabo e entrou no Atlântico
novamente. Eram desproporcionais a força naval germânica na área (os ingleses
desconfiavam da presença do Scheer, cruzador gêmeo do Graf Spee) e as medidas
defensivas tomadas pelo Almirantado britânico, o que se tornava um tanto
vexatório. Apareceu o Graf Spee mais uma vez na rota Cabo – Freetown, onde afundou
o Doric Star e outros dois navios, em 2 e 7 de dezembro de 1939, sucessivamente.
As imediações do Rio da Prata e do Rio de Janeiro constituíam áreas bastante
freqüentadas por navios mercantes, que poderiam servir ao esforço de guerra da
Grã-Bretanha e que, por isso mesmo, atrairiam a “cobiça” do Graf Spee. Nessa
região, os ingleses procuraram concentrar os cruzadores Cumberland (ainda em
reparos nas Falklands), Exeter, Ajax e Achilles. A 13 de dezembro foi avistada a
fumaça do corsário alemão, que se aproximava do Rio da Prata. Embora o comandante
Langdorff julgasse constituir-se o inimigo de um cruzador e dois
contratorpedeiros, deparou-se com três cruzadores. Em vez de manter-se à distãncia
e tirar proveito do alcance de sua artilharia, resolveu investir contra o Exeter.
Então, o Graf Spee foi atingido pelo fogo dos três adversários, mas derrubou a
torre B do Exeter, destruiu-lhe as comunicações e o pôs fora de combate por algum
tempo. Ocupado em defender-se contra os outros dois, aliviou a situação no navio
inimigo atingido, e passou a receber tiros de três diferentes direções. Lançando
uma cortina de fumaça, Langsdorff rumou aparentemente para o Rio da Prata. Logo
depois, mudou de curso, voltou a atacar o Exeter, o qual foi reduzido ao silêncio
e afastou-se para reparos. A batalha passou a se desenvolver à base de dois
cruzadores ingleses versus um alemão. Então, as duas torres de popa do Ajax foram
derrubadas e o Achilles danificado. O comandante inglês Howard, praticamente sem
munição pesada, afastou-se, encoberto pela fumaça. O Spee rumou para Montevidéu,
buscando reparos e suprimentos. Transferiu os feridos para o navio de
acompanhamento Altmark e fez relatórios ao Führer. Na noite de 14 de dezembro, o
Cumberland, que estivera nas
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O Bismarck
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ao conflito. Marcado pela guerra, era introspectivo, não bebia, não fumava nem
dançava. Lançou-se à política, atormentado pelo caos advindo da humilhante derrota
da Alemanha, que ameaçava a própria existência do país. Hess temia a subversão
comunista e chegou a confrontar-se com seus adeptos em Munique, sofrendo ferimento
na perna, o que lhe atiçou o ódio contra o bolchevismo. Na universidade, já
alimentava sentimentos anti-semitas. Defendia a união nacional, sob a autoridade
de um homem forte. Conheceu, então, Adolf Hitler, mentor do recém-criado Partido
Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista), no qual
ingressou, tornando-se seu 16º membro. Rudolf Hess sofreu a influência do Prof.
Karl Haushofer e de suas lições de geopolítica e passou a imaginar a união da
Inglaterra com a Alemanha, povos anglo-saxões, de “raça superior”, aptos a
governarem o mundo. Achava que o Reich precisava de mais espaço vital
(Lebensraum). Em 1923, Hitler não conseguiu êxito em seu putsch (golpe de Estado)
em uma cervejaria de Munique, tendo sido preso. Hess, após haver fugido para a
Áustria, ofereceu-se para acompanhar Hitler na prisão de Landsberg. Aí, tornou-se
secretário do Führer, datilografando o que este lhe ditava, vindo constituir-se
tal trabalho no famoso livro Mein kampf, em que o chefe nazista delineou seu
projeto de regeneração da Alemanha. Após ter Hitler assumido o cargo de Chanceler,
Hess fez parte de seu círculo mais íntimo de colaboradores. No entanto, tendo-se
iniciado a guerra em 1939 e deslocando-se as atenções para as vitórias militares,
começou a sentir-se posto de lado. Hermann Goering e Martin Bormann passaram à sua
frente na linha de sucessão do partido. Ao que parece, devido a isso, Rudolf Hess
tentou realizar algo para recuperar a posição de mais destacado conselheiro de
Hitler. Influenciado pelo brilhante filho do Prof. Haushofer, Albrecht, concluiu
que a Alemanha devia fazer a paz com a Inglaterra, a fim de que todo o poderio
militar alemão pudesse ser lançado contra a URSS de Stalin, que constituía o
verdadeiro perigo. Entretanto, Albrecht Haushofer era veladamente anti-nazista. Ao
mesmo tempo em que se ofereceu a Hess para contatar o duque de Hamilton, advertiu-
o de que os britânicos dificilmente chegariam a um acordo com Hitler. É pouco
difundido o fato de que Goering, após ter a Alemanha invadido a Polônia, em 1939,
se ofereceu para voar até a Inglaterra, a fim de explicar a situação. Porém,
Hitler não nutria a menor
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esperança de êxito no intento. Rudolf Hess esperava acolhimento amistoso por parte
do duque de Hamilton, o qual havia almoçado em sua casa durante os Jogos Olímpicos
de 1936, na Alemanha. Então, realizou um vôo clandestino até a Escócia e ali
saltou de pára-quedas. Entretanto, foi recebido friamente, após ter sido
aprisionado. Mesmo assim, Hess ter-lhe-ia exposto as condições de paz de Hitler:
Os dois países não mais se envolveriam em guerras um com o outro e a Grã-Bretanha
não se mostraria contrária à hegemonia germânica no continente europeu..” Ele
desejava ser recebido por Churchill, mas foi ignorado e mantido em prisão. É
possível ter Hitler aguardado algum sinal positivo quanto às “negociações” de Hess
com as autoridades britânicas. Porém, devido ao mutismo destas, mandou publicar a
notícia de que Rudolf Hess sofria de desequilíbrio mental e consultava
hipnotizadores e astrólogos. Entretanto, o alto comando nazista temia que ele
revelasse aos ingleses a Operação Barba Roxa. Tanto no continente como nas ilhas,
era grande a perplexidade diante de acontecimento tão fora do comum. Stalin, no
entanto, convenceu-se de que Churchill negociava com Hitler e acreditou terem suas
suspeitas se confirmado quando o Reich atacou a URSS, em 22 de junho de 1941. A
recusa dos ingleses em levarem a sério as propostas do emissário e em recebê-lo
como herói da paz contribuíram para piorar o estado psicológico de Hess. Uns
diziam que ele era paranóico; outros, que não passava de uma farsa, e houve grupos
que advogavam a idéia de que ele não poderia ser mantido preso na GrãBretanha,
pois fora desfraldar a bandeira branca. Entretanto, entregálo de volta à Alemanha
representaria perigo de vida para ele. Após a guerra, durante seu julgamento em
Nürenberg, no “Tribunal do Vencedores”, Hess manteve-se mudo e fingiu sofrer de
amnésia, ou sofria mesmo. Permaneceu quatro décadas na prisão de Spandau, em
Berlim. Mostrava-se introvertido, hipocondríaco e sofria de perturbações
gastrointestinais. Após 28 anos no cárcere, ele concordou em receber a curta
visita de sua mulher e do filho. Houve tentativas para abreviar a prisão de Hess,
depois de tanto tempo de sofrimento. Contudo, os russos não concordavam, por
acreditarem que ele fora um dos mentores da destruição de incontáveis vidas na
URSS. Hudolf Hess permaneceu em Spandau de 1946 até sua morte, em 1987. A outrora
poderosa sombra do Führer desapareceu para sempre.
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U - 47
O tenente Günther Prien, comandante do submarino alemão U-47, afundou, em 1939, o
Royal Oak, portaaviões britânico lançado em 1938
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algo muito estranho. Quando o comandante do U-23 fez emergir seu barco, verificou
ter torpedeado nada mais nada menos que uma rocha imóvel, contra a qual as águas
agitadas se quebravam em abundante espuma. Além disso, o comandante mandou
irradiar à sua base a seguinte mensagem: “Rocha torpedeada, porém, não afundada.”
Ao regressar a Kiel, a tripulação foi recebida com festas. Indagando o motivo, ao
comandante dirigiu-se o próprio Doenitz, que lhe perguntou como tinha sido o
afundamento do “Nelson”, ao que este respondeu jamais tê-lo visto. O almirante
conferiu a mensagem recebida: “Nelson torpedeado, porém não afundado.” A
explicação do incidente estava numa troca de letras: rocha, em alemão, é felsen, e
a recepção registrou Nelson! Só mais tarde seria o Nelson realmente afundado por
outro submarino! Cerca de 12 ases distinguiram-se como comandantes de submarinos
alemães, a quem foram creditados afundamentos de 411 barcos inimigos, perfazendo
um total de 2.460.000 toneladas. O número de rochas atingidas ficou mesmo em uma!
O almirante Doenitz planejou levar a cabo um audacioso ataque à base naval
britânica de Scapa Flow, nas ilhas Orcadas. Durante a I Guerra Mundial, já haviam
os alemães, por duas vezes, tentado penetrar naquele refúgio, sem êxito. Através
de fotografias aéreas, verificou-se ser o estreito canal de Kirk a entrada menos
defendida. Para tal missão, foi escolhido o U-47, capitaneado pelo tenente Gunther
Prien, experiente e audaz comandante de submarinos. Em 13 de novembro de 1939, às
22 horas, teve início a operação, com noite calma e sem luar e as marés
favoráveis. Navegando na superfície, Prien deslizou seu barco através do estreito
de Kirk para o interior da baía de Scapa Flow. O submersível passou quase roçando
em cascos de navios afundados que bloqueavam a entrada. O comandante rumou para
sudoeste, onde constava achar-se a maior parte dos navios britânicos. Porém, não
avistou ali qualquer coisa. A frota inglesa havia-se feito ao mar no dia anterior.
Prien dirigiu-se para o norte da baía e distinguiu as silhuetas de dois grandes
navios de guerra. Escolheu um como alvo, identificando-o como o Royal Oak.
Disparou contra ele uma salva de cinco torpedos. Ao ouvirem a explosão, os
oficiais do porta-aviões julgaram tratar-se de uma explosão interna, seguros que
estavam da impossibilidade de penetração de submarinos inimigos. Como não houve
reação, Prien tomou nova posição e desencadeou outro ataque contra o Royal Oak, em
que pereceram o contra-almirante Blagrove e 786 oficiais e marinheiros. Acele-
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rando ao máximo seus motores, o U-47 escapou sem ser visto pelos destróieres
inimigos, atravessou o canal de Kirk e ganhou o mar aberto. A façanha acabara de
ser cumprida! Além da destruição do Royal Oak em Scapa Flow, Gunther Prien afundou
no Atlântico 32 navios, num total de 203.000 toneladas! Seguem-se alguns
princípios operacionais recomendados por comandantes de submarinos alemães de
então: - Em toda a operação de submarinos, é de vital importância contar com
vigias competentes. - A organização do pessoal deve ser a melhor possível:
qualquer peça frouxa pode significar a destruição do barco e a morte da
tripulação. - A vigilância deve ser sobre o mar e no céu: a aviação constitui
elemento cada vez mais importante na segurança dos comboios inimigos. - Os navios
isolados que não ostentam pavilhão neutro nem distintivo da Cruz Vermelha e que
pareçam beligerantes devem ser afundados por canhoneio, para economizar torpedos.
- Deve-se ajudar os náufragos sempre que se dispuser de tempo e não houver ameaça
para o submarino. - Ataques contra comboios devem ser realizados de preferência à
noite. - Ao avistar um comboio de dia, segui-lo e manobrar, para tomar posição de
ataque favorável após o cair da noite. - Salvas de torpedos à grande distância não
oferecem garantia e êxito e representam desperdício de munição. - Às vezes, é
necessário disparar, irrompendo através da cortina anti-submarina da escolta e
mesmo dentro das colunas do comboio.
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Numa conferência em 14 desse mês, Hitler traçou a linha de conduta a ser observada
pelas forças alemãs para com os soldados e o povo russo. Segundo o general Keitel,
do estado maior pessoal do Führer, este defendia a tese de que aquela seria uma
batalha decisiva entre as duas ideologias – nazismo e comunismo – e que todos os
métodos, mesmo os não usuais nos termos da legislação internacional, deviam ser
empregados. Conforme depoimento do general Guderian, comandante de um Grupo
Panzer, encarregado, junto com outras grandes unidades, da conquista de Moscou,
enquanto o território russo permaneceu sob controle administrativo do Exército, as
populações do interior – camponeses e aldeões – em pleno desenvolvimento da
batalha saíam ao encontro dos germânicos e lhes ofereciam bandejas com pães,
manteiga e ovos, num gesto de acolhida aos libertadores contra o férreo regime
comunista. Em pouco tempo, conseguiram os agentes das SS – Escalão de Segurança –
mudar o quadro e destruir a simpatia pelos alemães, praticando violências contra a
população civil e, assim, provocando a criação das guerrilhas russas. Em agosto,
diante da possibilidade de conseguir enorme êxito contra o inimigo na região de
Kiev e, baseado em seus argumentos de que era absolutamente necessário dominar a
Ucrânia, celeiro de suprimentos para os alemães, mudou Hitler sua prioridade da
conquista de Moscou, grande centro de comunicações, ferrovias e rodovias
soviéticas. Tal fato, certamente, atrasou as operações contra a capital da URSS.
Quando foi retomado o esforço principal nessa direção, já estava presente o
“General Inverno”. As vanguardas alemãs chegaram à periferia de Moscou, porém, o
grosso da tropa estava extenuado para realizar ataque de monta, com objetivo de
conquistar a cidade, sob condições climáticas adversas. Foram extremamente
rigorosas as nevascas que se abateram sobre a URSS, no inverno de 41/42 e
seguintes, com temperaturas de -40º C, cobrindo cidades e campinas com um manto
branco que se congelava facilmente. Devido a que o plano engendrado contava com a
conquista dos objetivos principais até o início do inverno, não foram as tropas
alemãs devidamente preparadas para lutar nessas condições e tiveram de improvisar
toda a série de abrigos e vestuários. Famílias alemãs fizeram coleta de roupas
grossas e as enviaram para a frente oriental, a fim de minorar o sofrimento dos
combatentes. Milhares foram atingidos por gangrena e hipotermia. Embora os alemães
tenham alcançado retumbantes vitórias na frente oriental, cercando e aprisionando
milhares de russos, como na Batalha de Kiev, encaminhavam os sovietes sempre novos
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Lebensraum
Inegáveis traços
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a Luftwaffe? Consta que Goering lhe havia garantido liquidar com o exército
expedicionário britânico mediante bombardeio aéreo. A retirada foi feita, entre
outras, em centenas de embarcações de pequeno porte, as quais puderam furtar-se
aos efeitos das bombas. O problema maior foi que, para satisfazer a vaidade de
Goering, o ditador alemão deixou de aprisionar mais de 300 mil homens, que
representavam tudo o que a Grã-Bretanha dispunha de imediato para defender as
ilhas e continuar lutando. Pode-se dizer que ali a sorte da guerra sofreu forte
inflexão a favor dos britânicos. Por volta de agosto de 1941, quando a Wehrmacht
já havia conquistado importantes objetivos na URSS, o alto comando germânico
tratava de tomar uma decisão importante, ou seja, quanto ao esforço principal da
ofensiva. A maioria dos generais optava pelo setor central, como fora decidido de
início, por onde a progressão levaria a Moscou, centro primordial das
comunicações, ferrovias e rodovias soviéticas, bem como importante parque
industrial. Sua conquista teria enorme efeito psicológico, não somente sobre o
povo russo, mas para todo o mundo. Os soldados alemães aguardavam com entusiasmo a
ocasião de desfilar na Praça Vermelha, à vista do Kremlin e da catedral de São
Basílio. Além disso, era o objetivo mais direto, suscetível de ser alcançado antes
da chegada do inverno. Entretanto, em reunião dos comandantes com o Führer,
argumentou este que “seus generais nada conheciam sobre os aspectos econômicos da
guerra”; que o Reich necessitava das matérias-primas e da produção agrícola da
Ucrânia, pelo que se impunha, de imediato, mudar o esforço, tendo em vista a
conquista de Kiev e neutralizar a Criméia, aquele “porta-aviões russo, preparado
para atacar a indústria petrolífera da Rumênia”. Tratavam-se de operações de
vulto, que demandavam tempo e enormes recursos. Quando, finalmente, foi dirigido o
esforço principal na direção de Moscou, já se abatiam sobre a frente oriental os
primeiros sinais de uma estação que seria particularmente rigorosa, como o foi o
inverno de 41/42. Patrulhas alemãs atingiram alguns subúrbios de Moscou, porém, o
grosso da tropa não estava em condições de se apossar da grande capital. Os
combatentes permaneceram ao relento ou em bivaques, estabeleceram-se
defensivamente e aguardaram novas ordens. Os alemães jamais entrariam em Moscou! A
30 de abril de 1942, Hitler e Mussolini reuniram-se em Berchtesgaden (Baviera) e
concordaram em incrementar as operações ofensivas no norte da África. Para tanto,
deveria a ilha de Malta ser de imediato conquistada. A seguir, teria então lugar a
Operação Hércules, contra o Egito.
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mais curta. Rommel concordara com tal raciocínio por certo tempo. Porém, consta
que Hitler e seu Estado Maior receberam informações de que a Normandia fora
escolhida para a principal frente de batalha. As dúvidas persistiram, pois era
mais lógico o assalto nas proximidades de Calais. Quando ocorreu a invasão, a 6 de
junho de 1944, nas praias da Normandia, o Führer obstinou-se na idéia de que o
principal esforço do inimigo não seria lá, e sim mais a nordeste (Calais). Quando
as reservas blindadas, reunidas a certa profundidade, iniciaram seus deslocamentos
para realizarem contra-ataques, foram furiosamente hostilizadas pela força aérea
aliada, pois constituíam alvos de vulto e demandavam certo tempo até entrarem em
contato com o inimigo. Rommel solicitou a liberação das tropas Panzer que estavam
empenhadas diretamente ao Führer, e este não o atendeu, com o argumento de que
necessitava delas para enfrentar a “verdadeira invasão”. Quando tais tropas foram
liberadas, já era tarde demais para reverter o quadro. Pára-quedistas da 82a e
101a Divisão Aeroterrestre norte-americanas foram lançadas à retaguarda dos
defensores, realizando a destruição de vias de comunicação e postos de comando
inimigos. Apesar de os alemães terem lutado com obstinação, em 11 de junho haviam
os Aliados estabelecido uma frente contínua e seus caças começaram a operar de
pistas avançadas no continente. No dia 17, numa conferência entre Hitler, Rudstedt
e Rommel, os dois militares fizeram ver a ele ser uma loucura sangrar o Exército
alemão até à morte na Normandia, e recomendaram um retraimento, a fim de travar
uma batalha defensiva mais móvel, à retaguarda. Suas recomendações foram
repelidas. Exatamente um mês depois caças de mergulho britânicos feriram
gravemente Rommel. Rundstedt foi substtuído por Von Kluge. No dia 20, não teve
êxito o atentado contra Hitler, em Rastenburg, na frente oriental, perpetrado pelo
coronel conde von Staufenberg. A libertação dos países ocupados, a penetração em
território alemão e a chegada dos russos em Berlim eram uma questão de tempo. No
dia 6 de maio de 1945 as hostilidades na Europa chegavam ao fim.
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Os pára-quedistas
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operação, general Montgomery. Este não levou a sério tal fato e decidiu executar o
plano. - A tropa aerotransportada é altamente vulnerável a blindados, o a que foi
visível no quase aniquilamento da 1 Div. Aet. inglesa. - O terreno utilizado pelas
forças Garden apresentava praticamente uma única via de acesso, cortada por
inúmeros canais e rios, sobre os quais se estendiam 16 pontes, sendo duas de
capital importância, todas a serem conquistadas e mantidas. Assim, o tempo
estimado para tais operações ultrapassou de muito as estimativas, sendo que a 1a
Div. Aet. inglesa não conquistou seus objetivos, teve de retrair e ser acolhida
pelas forças terrestres. - As comunicações funcionaram mal e, em conseqüência:
houa ve perda de contato entre o comandante da 1 Div. Aet. inglesa e seus
comandados por 48 horas; impossibilidade de apoio aéreo em favor das forças de
junção; dificuldade de ligação terra-avião, devido a freqüências diferentes,
afetando o ressuprimento aéreo. a - As ZL e Z At. da 1 Div. Aet. inglesa foram
localizadas de 9 a 13 km de distância dos objetivos escolhidas. - Não foi cogitado
o aproveitamento da resistência holandesa que, entre outros apoios, poderia
fornecer preciosas informações. - No primeiro dia da operação, os alemães
capturaram todo o planejamento da Operação Market Garden, encontrado em um
planador que caíra, o que possibilitou aos defensores anteciparem-se e tomarem
medidas contra as operações adversárias. - O lançamento diurno prejudicou a
surpresa e permitiu ao inimigo identificar as manobras dos pára-quedistas aliados.
“Esta missão não pode ser bem sucedida. Estou achando esta ponte longe demais.”
(Palavras do general de Divisão Sosabowski, comandante da 1a Brigada Pára-quedista
polonesa, ante a dificuldade de conquistar o objetivo atribuído à sua grande
unidade).
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Roosevelt sabia?
Sem declaração de guerra, na madrugada de 22 de junho de 1941 as forças germânicas
atacaram a URSS, na maior ofensiva da História, obtendo êxitos espetaculares desde
o início da operação. Ao final do ano, atingiram a linha Leningrado – proximidades
de Moscou – Sebastopol. Os nazistas queriam converter a luta numa “Guerra da
Europa contra o comunismo” ou “Luta do destino no Leste”. Enquanto isso, o
presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, pressionava o governo japonês para
que retirasse suas tropas da Indochina. Outrossim, tanto os EUA quanto a Grã-
Bretanha estabeleceram barreiras para os produtos japoneses e embargo às
exportações de petróleo para o Japão. Este país, através de intensa propaganda,
objetivava apoiar a conquista de espaço e a legitimidade de sua supremacia no
Extremo Oriente, com o lema “Ásia para os asiáticos”, despertando ressentimentos
antieuropeus e mobilizando o povo contra os colonizadores brancos, particularmente
holandeses, ingleses e ianques. A 26 de novembro foi assinalada uma esquadra
japonesa navegando em direção ao Havaí, arquipélago da Polinésia, situado no
Pacífico Central e tido, por sua posição estratégica, como “encruzilhada do
Pacífico”. Localizava-se ali a base naval norte-americana de Pearl Harbor. Em 7 de
dezembro, o mundo ficou sabendo, estupefato, que a guerra havia irrompido no
Oriente: os nipônicos, a partir de portaaviões, realizaram violentos ataques
aéreos contra Pearl Harbor, apanhando os incrédulos norte-americanos de surpresa.
Foram afundados ou sofreram pesadas avarias seis encouraçados, bem como outros
navios de guerra, ficando seriamente comprometidas as instalações portuárias. A 11
de dezembro, Alemanha e
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do alto escalão do Reich. Entre seus comandados contava com especialistas das mais
diversas atividades. Formou equipes técnicas de combate que atuaram em muitas
frentes. Assim sendo, formou-se na Alemanha a idéia de que missões difíceis e
arriscadas deviam ser atribuídas a Skorzeny, o qual “daria conta do recado”! O
Ocidente travou conhecimento, pela primeira vez, com a figura de Skorzeny através
da audaciosa libertação de Benito Mussolini, em 12 de setembro de 1943. A entrada
da Itália na guerra não trouxera aos peninsulares a não ser dissabores. No norte
da África, fora Grazziani derrotado pelos britânicos, após terem as forças
italianas penetrado no Egito. Obrigado a retrair, abandonou toda a Cirenaica,
quando tropas alemãs desembarcaram na Tripolitânea, sob o comando de Rommel, para
apoiar os italianos. Após longos movimentos de vai-vém no deserto, com
significativas vitórias e derrotas de ambos os lados, o inglês Montgomery lançou
potente ofensiva, com grande superioridade de meios, sobre as combalidas unidades
do Eixo, carentes de toda a sorte de apoios. O desembarque dos norte-americanos na
Argélia e a ofensiva aliada contra a Tunísia, último reduto dos italo-germânicos
na África do Norte, selou a sorte destes, os quais capitularam (130 mil alemães e
120 mil italianos foram feitos prisioneiros). Além disso, a Itália perdeu suas
colônias da África Oriental. Já a 28 de outubro de 1940 decidira o Duce lançar-se
contra a Grécia, a partir da Albânia, com tropas insuficientes e pouco adequadas,
num terreno de difícil progressão e enfrentando os rigores de um inverno
prematuro. Os alemães viram-se na contingência de desviar tropas Panzer destinadas
à ofensiva contra a URSS a fim de evitar que os Bálcãs fossem ocupados pelos
ingleses. A 10 de julho de 1943, iniciaram os anglo-americanos a Operação Husky,
invadindo a Sicília. Diante de tais revezes, era insustentável a posição de
Mussolini à frente do governo italiano. A 24 daquele mês, o Grande Conselho
Fascista, reunido em Roma, votou uma resolução, aprovada pelo rei Vítor Emanuel
III, destituindo O Duce. O monarca mandou prendê-lo e, em seu lugar, nomeou o
marechal Pietro Badoglio como chefe do governo. Assim, foi Mussolini conduzido em
segredo para uma prisão no norte da Itália. Mas Hitler desejava libertar seu
colega e determinou que fosse localizado o esconderijo. Mandou chamar o então
capitão Skorzeny e o encarregou de trazer Mussolini para a Alemanha. Skorzeny
escolheu um pequeno grupo de aguerridos pára-quedistas SS, fez um cuidadoso estudo
de situação, provido de mapas e fotografias aéreas, e, em 12 de setembro de 1943,
aterrissou com
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sua equipe na região do Gran Sasso, nos Montes Abruzzi, onde Mussolini se
encontrava prisioneiro em um pequeno hotel. O terreno era precário e não se
prestava à descida, porém o piloto mostrou-se extremamente habilidoso. A surpresa
foi total. Em poucos minutos os SS dominaram a guarda e o Duce foi conduzido às
pressas para bordo do avião, viajando em companhia de Skorzeny e seus SS. Três
dias depois Mussolini assumiu o governo da chamada República de Saló, junto ao
lago Guarda. ************************** Em 1944, uma unidade sob o comando de
Skorzeny, composta por representantes do Exército, Marinha, Força Aérea e Waffen
SS, foi acrescida de uma seção de “armas especiais”. Tendo a Itália, novamente sob
a direção de Mussolini, continuado a lutar ao lado dos alemães, tomaram estes
conhecimento das atividades da X Flotilha MAS, sob o comando do príncipe Valério
Borghese. Tal organização contava com pequenos barcos explosivos que navegavam a
toda a velocidade em direção a alvos escolhidos. Pouco antes do choque, o piloto
era ejetado para fora da embarcação. Também dispunha de torpedos tripulados por
dois homens, os quais se salvavam de forma semelhante à anterior. Assim, foram
desfechados dois bem sucedidos ataques contra navios britânicos ancorados em
Alexandria e Gibraltar, fatos só difundidos após a fim da guerra. Não parava por
aí a inventiva da X Flotilha MAS. Grupos de mergulhadores aproximavam-se de navios
inimigos e aderiam cargas explosivas em seus cascos. Foram os homens de Skorzeny
quem inventaram os “pés-de-pato”, aumentando a velocidade do nadador. Chegou-se a
calcular em 50 mil toneladas a carga de navios mercantes adversários postos a
pique por um certo capitão H.. Pilotando “torpedos humanos” aperfeiçoados, homens
do batalhão de Skorzeny realizaram um ataque na área da cabeça-deponte de Anzio,
avariando um cruzador, uma lancha-torpedeira e afundando mais de 30 mil toneladas
de navios de transportes. ***************************** No verão e outono de 1944,
algumas missões de destaque foram cumpridas pelas unidades de Skorzeny. Uma ação
conjunta com a Marinha causou surpresa. Durante a operação “MarketGarden” (emprego
em larga escala de tropas aeroterrestres angloamericanas nos Países Baixos),
conquistaram os pára-quedistas aliados uma importante cabeça-de-ponte em Niemegen,
sobre o
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disponíveis há mais tempo, uma vez que sua construção terminara praticamente em
1942. Por que não foram empregados antes? Mais um capítulo da história de guerra
da Alemanha enquadrada na expressão: “Demasiado tarde!” *********************** Em
outubro de 1944, encontrava-se Skorzeny no “Covil do Lobo” (Quartel-General de
Hitler na frente oriental). O Führer encarregou-o de nova missão, à qual deu a
maior importância. Explicoulhe tudo nos menores detalhes. Tratava-se da “Ofensiva
das Ardenas”, pela qual a Alemanha pretendia reverter a situação no Ocidente. O
papel de Skorzeny seria empregar sua tropa como destacamento de vanguarda, ocupar
vários pontos-chaves do Mosa, entre Liège e Namur, desorientar as sinalizações de
transportes e avisos nas rodovias, espalhar boatos, interromper os meios de
comunicações. Enfim, causar a maior confusão a comandos e tropas adversárias. Os
alemães atuariam envergando uniformes ingleses e americanos. Empolgado pela nova
incumbência, pôs-se Skorzeny febrilmente a campo, na faina de escolher e preparar
homens e equipamentos adequados à natureza da missão. Foram selecionados militares
e mesmo civis que soubessem falar inglês, tanto com sotaque da Inglaterra quanto
dos EUA. Os selecionados tiveram de se familiarizar com expressões idiomáticas,
conhecimentos sobre o cotidiano da vida nos dois países inimigos, apelidos de seus
comandantes etc. e foram munidos de armamento portátil, cigarros e outros objetos
de uso de americanos e ingleses. Estudaram cartas, mapas e fotografias aéreas da
região das Ardenas. A tropa manteve-se confinada na área de treinamento, tendo em
vista preservar o sigilo. Nos primeiros dias de dezembro, Hitler deslocou seu QG
da Prússia Oriental para Ziegenberg, no Ocidente. A Wehrmacht atacaria partindo do
Eifel em direção ao Mosa, ao sul de Liège, a fim de abrir uma brecha na frente
aliada. Em seguida, atravessaria aquele rio e atacaria com duas pontas de lança
blindadas sobre Bruxelas e Antuérpia, realizando uma ruptura estratégica. Os
grupamentos inimigos, ao norte da ruptura, seriam então cercados e destruídos. As
operações tiveram início no dia 16, com as condições atmosféricas favoráveis à
cobertura de movimentos e impeditivas quanto ao emprego de meios aéreos, devido à
forte neblina reinante. As tropas especializadas de Skorzeny haviam-se infiltrado
Zolá Pozzobon
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nas linhas inimigas e iniciado seu trabalho de sabotagem. A ofensiva foi conduzida
por dois grupamentos: na faixa sul, o V Exército Panzer (gal. Manteuffel) e, na
faixa norte, o VI Exército Panzer (gal. Sepp Dietrich), mais forte em blindados,
realizando o esforço principal. Na cobertura do flanco sul, o VII Exército (gal.
Brandenberger), carente em meios de mobilidade. A partir da madrugada daquele
dia16, Manteuffel conseguiu profunda penetração nas posições adversárias,
atingindo as 116a e 2a Divisões Panzer pontos próximos à margem do Mosa. O VI
Exército Panzer enfrentou congestão nas estradas estreitas e cobertas de gelo, o
que prejudicou o ímpeto da progressão. Devido às dificuldades surgidas no flanco
sul (VII Exército), Manteuffel teve de deslocar frações blindadas para lá, ficando
assim sacrificada a realização da ruptura em grande estilo. Em vez de escolherem
então objetivos mais modestos, tanto Hitler quanto o Alto Comando aferraram-se ao
plano inicial. No entanto, com a melhoria das condições atmosféricas, entraram em
ação as forças aérea aliadas, atingindo profundamente as colunas blindadas alemãs,
já sem a proteção da Luftwaffe, que se encontrava esgotada. E quanto às tropas de
Skorzeny? Causaram a maior confusão entre os Aliados, desorientando unidades em
marcha, prestando falsas informações, levando tropas amigas a se enfrentarem e
provocando sensação de incerteza e insegurança. Muitos foram mortos, feridos ou
aprisionados e outros conseguiram se retrair para as linhas alemãs, entre estes, o
próprio Skorzeny. ************************ Outras importantes missões foram
confiadas a Skorzeny e suas tropas especiais, como a Operação Panzerfaust, em
outubro de 44, com o objetivo de evitar que a Hungria fizesse acordo com os russos
e, assim, expusesse as tropas alemãs estacionadas naquele país. Outrossim, as
operações junto à cabeça-de-ponte do rio Oder, no início de 1945, em que as tropas
russas sofreram sensíveis baixas e foram bastante retardadas. Conta Skorzeny que a
chamada “Divisão Schwedt” era integrada por homens de várias origens, entre os
quais uma companhia de cossacos e um regimento romeno. Nas fileiras dos batalhões
de caçadores lutavam noruegueses, dinamarqueses, holandeses, belgas e franceses.
***********************
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Furtos de guerra
Durante as campanhas militares, é muito comum os vencedores apropriarem-se das
riquezas dos vencidos, não somente no que diz respeito a território, como também a
obras de arte, tesouros, reservas financeiras e moedas. Na Antigüidade, os
derrotados tudo perdiam, inclusive boa parte de suas populações era transformada
em escravos. Quando Napoleão invadiu o Egito (1798), os franceses apoderaram-se de
inúmeras riquezas históricas que remontavam ao tempo dos faraós. Mais tarde,
durante a ocupação inglesa daquele país, iniciada em 1882, aproveitaram os
dominadores a oportunidade para transformar museus da Inglaterra em grandes
repositórios de estátuas, cerâmica, múmias, sarcófagos e preciosos documentos
escritos em hieróglifos, tudo afanado do Egito, sem falar nas apropriações
privadas por parte de inúmeros súditos de sua majestade britânica. Há poucos meses
atrás (estamos em outubro de 1998), tratava o noticiário internacional das
riquezas surrupiadas pelos nazistas aos judeus alemães e depositadas em bancos
suíços. Estes dispuseram-se a devolver grandes somas às vítimas ou seus
descendentes, embora a comunidade judaica ainda reclame novos ressarcimentos. Se,
por um lado, os nazistas lesaram os judeus, bem como se apoderaram de inúmeras
obras de arte, particularmente oriundas da Grécia (muitas encontradas na coleção
privada de Hermann Goering), é bem verdade que a Alemanha também sofreu o saque de
suas riquezas, embora procurasse escondê-las de todos os modos, à medida em que o
fim da II Guerra Mundial se aproximava, com seu espectro de destruição e derrota.
Em fevereiro de 1945, durante um grande bombardeio aliado
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dos para caminhões, algo desapareceu. Atribui-se a Hans Alfred Von Rosenberg-
Lipinski a retenção de moedas e caixas contendo tesouros. Outros seguiram-lhe o
exemplo, como Emil Januszewski, do Reichsbank, que acabou se suicidando ao ser
descoberto quando tentaram acender a lareira de um alojamento de oficiais e
descobriram que a chaminé estava entupida com barras de ouro. O Dr Funk e outros
altos oficiais nazistas não revelaram aos Aliados a localização do restante das
reservas de ouro. Após quatro anos de rigorosa investigação, especialistas
americanos relataram que cerca de US$ 46,5 milhões em ouro e US$ 12 milhões em
papel-moeda (tudo nos valores de hoje) haviam desaparecido. Não só os alemães se
aproveitaram da confusão para enriquecer, como também numerosos soldados
americanos mostraram terem “dedos leves”, o que verificou o general Patton com
muito desgosto, pois era homem honesto e até escrupuloso em matéria de dinheiro.
Em 1990, o mundo soube que valiosas obras de arte alemãs, inclusive inúmeros
exemplares medievais, estavam inexplicavelmente sendo comercializadas pelos
herdeiros de um desconhecido veterano de guerra do Texas, o Sr. Joe T. Meador.
Entre tais obras encontrava-se um manuscrito dos quatro Evangelhos, do século IX,
encadernado a ouro e prata, com iluminuras de 1.100 anos, proveniente de uma
igreja de Quedlinburg, Alemanha. Subitamente, o manuscrito foi vendido na Suíça
por US$ 3 milhões! O verdadeiro valor desta “jóia”, escrita 600 anos antes da
publicação da Bíblia de Gutenberg, é de cerca de US$ 30 milhões. O tesouro
escondido por Meador, no Texas, ainda incluía outro manuscrito de 1513; peças em
forma de coração ou de salvas; um valioso frasco de cristal de rocha, que se dizia
conter uma mecha dos cabelos de Nossa Senhora; um crucifixo de ouro e prata; um
pente do século XII, que pertenceu a Henrique I, e inúmeros outros objetos de
grande significado histórico e religioso. O audacioso texano foi autor de um dos
maiores roubos de objetos de arte do século XX, ultrapassando de longe Hermann
Goering, o famoso comandante da Luftwaffe. Certa vez ele confessou a um amigo que
se debatia entre sentimentos de culpa e a satisfação que lhe proporcionava a
beleza daquelas obras! Os herdeiros do ladrão americano concordaram em renunciar à
totalidade do tesouro contra o pagamento de US$ 2,75 milhões, superando em um
milhão a primeira importância já recebida pelos Evangelhos! Para Meador e seus
herdeiros, o crime compensou!
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toda a frente. Em fins de dezembro, caiu Seul novamente, agora capturada por
chineses e norte-coreanos. Em fevereiro de 1951, a China foi condenada pela
Assembléia Geral da ONU como potência agressora. A resposta chinesa foi o
lançamento de nova ofensiva. No entanto, as tropas da ONU retomaram Seul em março
e cruzaram novamente o Paralelo 38o. Diante desse vai-e-vem, o general Mac Arthur
advogou levar a guerra ao território chinês, com o que discordou o presidente dos
EUA, Harry Truman, que o substituiu pelo gal. Matthew Ridgway, sendo este depois
substituído por Mark Clark. Em julho de 1951, iniciaram-se em Panmunjom
conversações de trégua que se prolongaram por dois anos (até junho de 1953). No
mês seguinte, foi assinado o armistício. Em abril de 1954, representantes dos
países que haviam tomado parte na luta reuniram-se em Genebra, em busca de uma
solução definitiva para o problema coreano. Não chegaram a acertar qualquer
acordo, baseado em eleições livres, sob supervisão da ONU. Pontos de análise: 1) A
Guerra da Coréia foi um choque de fronteira, em que se enfrentaram comunismo e
capitalismo ocidental, não diretamente num conflito geral entre os mentores das
duas facções, mas através de terceirização de combatentes. 2) O conflito assumiu
grandes proporções. Estima-se em dois milhões o número de soldados mortos em
combate ou em conseqüência da guerra, entre norte-coreanos e chineses. Houve muita
destruição no território da península e milhares de civis coreanos perderam a
vida. 3) A sugestão do general Mac Arthur de levar a luta ao território chinês, já
que Pequim enviara 500 mil combatentes para invadirem a Coréia do Sul, foi fruto
de raciocínio puramente militar. As conseqüências políticas, caso tal decisão
fosse adotada, poderiam representar o envolvimento dos EUA e de seus aliados em um
confronto direto com a China, o que o presidente Truman evitou, muito
acertadamente.
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O apocalipse nuclear
Nos primeiros dias de março de 1945, 334 bombardeiros americanos B-29 atacaram
Tóquio, destruindo 267.171 prédios. Morreram 84 mil civis e 40 mil ficaram
feridos. Foram arrasados 41 km2 da cidade. Em 22 de junho de 45, a guarnição
japonesa que defendia a llha de Okinawa rendeu-se, face ao desembarque americano.
Dois dias depois, tropas australianas ocuparam a região petrolífera situada no
norte de Bornéu. Teve inicio, a 10 de julho, a grande ofensiva aérea anglo-
americana contra o Japão. Os chineses, com seu território invadido pelos nipônicos
desde a década de 30, começaram uma franca reação o contra o invasor e se
apossaram da base aérea de Kweilin, no sul da China. O presidente dos EUA, Harry
Truman, (substituto de Roosevelt) e o Alto Comando já percebiam a necessidade de
invadir o arquipélago japonês, porém, o custo da gigantesca operação seria
elevado, tanto em material quanto ao número de vítimas. Os cálculos estimavam em
mais de um rnilhão de mortos e feridos, entre os americanos atacantes e os
nipônicos na defensiva. Mas os ianques possuíam um trunfo para evitarem a
concretização de tão terrível perspectiva. Os homens da ciência haviam apreendido
a dominar o processo da fissão nuclear. Os materiais necessários para isso eram o
isótopo do urânio, denominado urânio 235, e o plutônio. A descoberta da fissão do
urânio (divisão do átomo), capaz de liberar grande energia, foi anunciada em
janeiro de 1939 por dois cientistas alemães, Otto Hahn e F. Strassmann. No outono
daquele ano, Albert Einstein persuadiu o presidente dos EUA, Franklin D.
Roosevelt, a priorizar os estudos e experiências, cujo resultado foi a invenção e
o fabrico da bomba atômica. Tal empreendimento contou com a participação dos
governos dos EUA, Grã-Bretanha e Canadá, bem como de
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O véu e a espada
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Tempos modernos
Os Aliados agora reúnem-se sob a bandeira da Otan e não lutam mais por
territórios, mas sim por mercados consumidores
Zolá Pozzobon
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O esquálido x o atleta
O Vietnã está situado na parte oriental da península da Indochina. Resultou da
reunificação (1976) do Vietnã do Norte, com cerca de 158 mil Km2 e capital em
Hanói, e do Vietnã do Sul (173 mil Km2), capital em Saigon. A população contava,
no início da década de 80, com 53 milhões de habitantes. A última cidade denomina-
se hoje Ho Chi Min e Hanói é a capital. Ao norte, destacam-se o delta aluvial do
Rio Vermelho e uma grande região montanhosa. A zona central compõe-se de pequenas
planícies isoladas e dominadas pelos contrafortes da cadeia Anamita. No sul,
distingue-se o delta do Rio Mekong. O clima do país é tropical, com monções de
verão. O contato com a Europa começou através dos navegadores portugueses e
espanhóis, no século XVI. Seguiram-se mercadores ingleses e holandeses e
missionários franceses. Os gauleses conquistaram o país na segunda metade do
século XIX, sob Napoleão III. Em 1925, Ho Chi Minh fundou a Liga Revolucionária da
Juventude Vietnamita. Ao norte, era de caráter comunista o movimento de
independência. No sul, de aspecto semi-religioso. Durante a II Guerra Mundial, o
país foi ocupado pelos japoneses. Em 1946, a França reconheceu a independência do
Norte, no
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O véu e a espada
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Fúria na Mesopotâmia
Situado na histórica Mesopotâmia, limita-se o Iraque ao norte com a Turquia, a
leste com o Irã, a sudeste com o Golfo Pérsico, ao sul com o Kuwait e Arábia
Saudita e a oeste com a Jordânia e a Síria. Estende-se por cerca de 435 mil Km2 e
a população é estimada em 18 milhões de habitantes. É elevado o índice de
analfabetismo: 75%. A capital é Bagdá, às margens do Rio Tigre. O território
apresenta uma vasta planície disposta entre planaltos assimétricos. A oeste e
noroeste, as terras elevam-se gradualmente. A oeste do Vale do Eufrates, surge, em
certos pontos, uma escarpa (Iraque) bem discernível. Administrativamente, o
território comprende 16 províncias. Assim como o Egito é um dom do Nilo, o Iraque
o é de seus caudalosos rios Tigre e Eufrates, que correm no sentido noroeste–
sudeste e se lançam no golfo, depois de se juntarem no Shat Al Arab. Na planície,
o clima é árido e quente. Na região mais elevada do Curdistão e da Assíria, a
precipitação atinge 1.000 mm. A cobertura vegetal não é significativa. A vegetação
é do tipo estépico, com herbáceas, bem como espinheiros e arbustos. A maioria da
população é constituída por árabes, no centro, oeste e sul do país. No norte e
leste, predominam os curdos. A religião oficial é a muçulmana, sendo 75% do rito
xiita. Quase a metade da população vive da pecuária e da agricultura. O país é o
maior produtor de tâmaras do mundo, mas sua riqueza é o petróleo. A História do
Iraque remonta à antiguidade e está ligada à Assíria, Babilônia, Mesopotâmia e
Pérsia. É de se destacar que, da cidade de Ur, na Caldéia (ao sul), saiu Abraão,
patriarca considerado o pai do povo judeu. A entrada da Turquia na I Guerra
Mundial levou o Reino Unido a
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soberania sobre o país, sendo mesmo iminente a invasão, impedida, porém, pela
ajuda militar britânica. Em 1990 começaram a surgir indícios de que Saddan Hussein
mandaria suas tropas invadir o Kuwait. Em 15 de julho daquele ano, o ministro das
Relações Exteriores iraquiano, Tarik Aziz, enviou carta ao Secretário Geral da
Liga Árabe acusando o Kuwait de roubar petróleo do campo petrolífero de Rumália,
junto à fronteira do Iraque. No dia 18 o Gabinete do Kuwait examinou a demanda
iraquiana de ressarcimento de US$ 2,4 bilhões pelo petróleo de Rumália. No dia 25,
Hussein disse à embaixadora dos EUA em seu país, April Glaspie: “Sua sociedade é
tal que não pode aceitar 10 mil mortos numa batalha.” Glaspie teria respondido que
os EUA ainda não haviam formado uma opinião sobre a disputa de fronteira entre
Iraque e Kuwait, no entanto, advertiu que o emprego da força seria um erro. A 31,
tiveram início as conversações entre Iraque e Kuwait em Jeddah, quando Saddan
exigiu que lhe fosse entregue a área contestada (Rumália) e o pagamento de US$ 10
bilhões. A seguir, o Iraque concentrou 100 mil homens na fronteira e retirou-se
das conversações com o Kuwait. No dia 2 de agosto, os iraquianos iniciaram a
invasão ao país vizinho, a partir das 4 horas da manhã. Pela Resolução 660, o
Conselho de Segurança da ONU condenou a invasão e pediu a retirada imediata das
forças, mas o Iraque proclamou o Kuwait como sua 19ª província. Os EUA iniciaram
intensa campanha diplomática, tendo em vista formar uma coalizão de forças para
atuar no Oriente Médio e obrigar o Iraque a voltar atrás, mesmo pelo emprego da
força. Simultaneamente iniciaram a mobilização e a concentração de efetivos
militares na Arábia Saudita, no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico. Em 29 de
novembro, o Conselho de Segurança da ONU concedeu prazo ao Iraque até o dia 15 de
janeiro próximo para cumprir todas as resoluções prévias. A partir daí, as forças
da coalizão estavam autorizadas a empregar a força, se necessário. Dois dias
depois de vencido o ultimato, às 02h30min. em Bagdá, teve início a operação
Tempestade no Deserto, com maciços ataques aéreos e de mísseis contra objetivos no
Kuwait e no Iraque. Mísseis iraquianos foram lançados contra Israel e Arábia
Saudita. A 30 de janeiro carros de combate e tropas iraquianas penetraram na
Arábia Saudita até a cidade de Khafjie, onde foram contra-atacados e repelidos.
Mais de 50 poços petrolíferos no Kuwait estavam em chamas. Poucos dias depois,
passavam de 150 os poços incendiados. No dia 23 de fevereiro, às 4 horas, teve
início a ofensiva terrestre.
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39 países forneceram forças para formarem a coalizão contra o Iraque. É óbvio que
as mais numerosas e representativas foram as dos EUA: mais de 527 mil homens;
1.200 carros de combate e 2.200 viaturas blindadas; 100 navios de guerra,
incluindo o Missouri e o Wisconsin e os porta-aviões Midway, Ranger, Saratoga,
John Kennedy, America e Theodore Roosevelt; mais de 1.800 aeronaves de combate e
1.700 helicópteros. Do lado iraquiano, forças desdobradas para a defesa do Kuwait
ocupado: 550 mil soldados e, na fronteira com a Turquia, três divisões; unidades
de defesa interna e antiaéreas no interior do país. Podese admitir que o Iraque
tenha mobilizado um milhão de homens, entretanto, convém ressaltar que somente as
forças da Guarda Republicana (150 mil homens) estavam em condições de tentar
enfrentar os exércitos profissionais presentes no teatro de operações. As forças
terrestres, comandadas pelo general Schwartzkopf, foram se desdobrando no terreno
de forma a indicarem seu futuro emprego. Revistas especializadas expuseram a idéia
de que o esforço principal da coalizão não se realizaria em território kuwaitiano
e, sim, a oeste, através do Iraque, num movimento envolvente. Assim, parece
incompreensível que Saddan Hussein não levasse tais “dicas” em consideração. Eis o
dispositivo adotado pelos EUA e seus aliados, de leste para oeste: no litoral, os
fuzileiros navais, com cerca de duas divisões. Força árabe multinacional:
egípcios, sauditas, kuwaitianos e sírios. I Divisão de Cavalaria, Divisão
britânica, VII e XVIII batalhões do Exército dos EUA e Divisão francesa. No que se
refere aos iraquianos: defesa da fronteira do Kuwait com uma linha de frente
(forças mobilizadas), protegidas com obstáculos contra carros e pessoal. À
retaguarda, forças em reserva (com valor de combate relativo), para contra-ataques
imediatos. Mais atrás, as divisões de elite da Guarda Republicana, para as reações
de caráter estratégico. Observou-se um descuido mais do que tolerável quanto ao
guarnecimento da fronteira entre o Iraque e a Arábia Saudita (oeste). As operações
a oeste foram realizadas com facilidade, dado o descuido iraquiano quanto ao
setor: os franceses, com o caminho livre, manobraram no primeiro dia (24 fev.),
penetrando 70 quilômetros no deserto, até Al Salman, sem encontrar oponentes. A
82ª Divisão Aeroterrestre organizou, por via aérea, pontos de suprimento de
combustível e munições, mais ou menos na metade da distância entre a fronteira e
Nassiriyah. Com tal apoio logístico, as forças de oeste puderam prosseguir
rapidamente. No que tange às operações no território do Kuwait: os fuzileiros
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Falkland x Malvinas
Em pleno Atlântico Sul, a 400 km do ponto mais próximo da costa patagônica
(Argentina), há um arquipélago com cerca de 200 ilhas cujo nome depende de quem se
julga com direito a sua posse: os britânicos chamam-nas de Falkland e os
argentinos, de Malvinas. Sua latitude é de 50º Sul. Está Euforia argentina na
guerra contra a Inglaterra situada a 6.115 km da ilha da Ascensão e a 13.005 km do
Reino Unido. Ocupa excepcional posição estratégica, permitindo o controle das
passagens marítimas entre o Atlântico e o Pacífico, está próxima da rota entre o
Índico e o Atlântico e, junto com as ilhas Geórgia, Órcadas e Sandwich, todas do
sul, constitui como que uma linha de sentinelas ao norte da Antártida, riquíssimo
continente adormecido em torno do Pólo Sul. São duas as ilhas principais: Soledad,
a leste, e Gran Malvina, a oeste, separadas pelo estreito de San Carlos. Naquela
encontra-se Port Stanley, ou Puerto Argentino, a capital. O clima é frio e úmido,
com ventos persistentes de oeste. As principais exportações são lã, couros e
peles. São reais as possibilidades de exploração do “krill”, da pesca, de nódulos
minerais do leito marinho e de petróleo. As ilhas foram descobertas em 9 de agosto
de 1592 pelo navegador inglês John Davis. O primeiro desembarque, porém, data de
1690, sob o comando do capitão John Strong, que as denominou
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de Falkland. Tiveram outros nomes, como Anican, Bélgica, Australis, Neuves de St.
Louis, conforme os viajantes que as visitavam, inclusive os de Malovines (de onde
a denominação de Malvinas), devido a pescadores de St. Malo (França), que
freqüentavam suas águas desde o início do séc. XVIII e que nelas se estabeleceram.
Em 1764, L. A. de Bougainville fundou Port Louis, que, por tratado entre a França
e a Espanha, foi cedido a esta, com o nome de Puerto de la Soledad. No ano
seguinte, os ingleses fundaram um forte em Port Egmont, na ilha de Saunders, a
noroeste do arquipélago, e reclamaram todas as ilhas para a Coroa. Tornando-se
independente, a Argentina tomou Puerto de la Soledad (1820), até que os ingleses
expulsaram seus ocupantes, em 1833. Desde então, a Argentina passou a reivindicar
a posse das ilhas, sem resultado. Em 1981, governava o país a junta militar
liderada pelo general Galtieri. Era precária a situação interna, a qual poderia
desembocar em grave crise política, econômica e social, já apresentando sintomas
de sublevação do povo. Com o Chile, agravava-se o caso do canal de Beagle. Havia
correntes que temiam o “expansionismo brasileiro”. E a questão das Malvinas era
uma reivindicação sempre presente na memória dos argentinos. O argumento da
soberania sobre as ilhas era legítimo, tanto sob o ponto de vista histórico quanto
geo-político, uma vez que o arquipélago se posta em frente à província da
Patagônia. O governo militar precisava obter condições psicológicas que
favorecessem a estabilidade interna. Apoiada em tais realidades, lançou-se a Junta
à conquista das Malvinas. Em 2 de abril de 1982, forças argentinas atacaram-nas de
surpresa, pela madrugada, e as conquistaram. O governador Rex Hunt e seus
auxiliares foram presos e deportados. Assim, teve início a guerra no Atlântico
Sul, que deterioraria as relações da América Latina com a Europa e os EUA e
haveria de causar a morte de quase mil jovens argentinos e ingleses. Os sul-
americanos, situados à distância dos principais teatros em que se desenvolveram as
últimas guerras, verificaram que estas também podiam estourar em seus “quintais”,
e isso, de uma hora para outra. O apoio popular argentino foi imediato, a chama do
patriotismo espalhou-se por toda a nação e as dificuldades foram esquecidas. A
ocupação mostrou-se fácil, devido à surpresa e ao reduzido poder de reação local.
Uma vez alcançado o objetivo inicial, tratava-se de manter a posse das ilhas. O
governo argentino contava negociar com o
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Bactriana
Báctria era uma antiga região da Ásia (no Afeganistão), onde viveu Zoroastro. Foi
conquistada por Alexandre, o Grande, em 329 a. C., tornou-se independente com a
criação do Reino da Bactriana, no século III a. C., sobreviveu até o século V d.
C., quando foi devastado pelos hunos.
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nando com a necessidade de fazer face à chamada “Guerra nas Estrelas”, à época uma
falácia de Ronald Reagan, e a fraqueza do comunismo como sistema econômico, muito
bom para “distribuir riquezas que não produzia”, levou Gorbachev a realizar
intempestivamente reformas sociais e econômicas, as chamadas Glasnost e
Perestroika, que abalaram profundamente a estrutura do Estado soviético, o qual
acabou ruindo. Suas 15 repúblicas federadas separaram-se. A Rússia, a maior delas,
hoje faz parte, “cambaleante”, da União dos Estados Independentes. Como castelo de
cartas, desmanchou-se o Pacto de Varsóvia. O muro de Berlim foi derrubado e as
duas Alemanhas unificaram-se. A União Européia e o Euro são novas realidades. A
Otan é uma incógnita que ameaça intervir em toda parte, se necessário for, para
manter a política do G-7.
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A Índia está situada no sul da Ásia. Limita-se ao norte por Jammu e Caxemira,
China, Nepal e Butão; a nordeste por Bangladesh e Birmânia; a noroeste pelo
Paquistão; a sudeste pelo Golfo de Bengala; ao sul pelo Oceano Índico e a sudoeste
pelo Mar da Arábia. Possui cerca de 3.280.000 km2 e sua população está chegando a
um bilhão de habitantes. Ao norte, fica a cordilheira do Himalaia, o “teto do
mundo”. Em algumas regiões há grande diversidade racial. Em outras, certa
uniformidade. Embora o censo de 1951 tenha registrado 845 línguas e dialetos, há
quatro grupos lingüísticos principais. Cerca
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pessoal de Jinnah pôde enfrentar o problema de gerir duas áreas tão diversas, sob
todos os pontos de vista, quanto às do Paquistão Oriental e Ocidental, separadas
pela cunha territorial da Índia. Entre 1951 e 1958, o novo país manteve boas
relações e procurou melhorar sua convivência com a Índia. Mas quando os chineses
realizaram incursões armadas na sua fronteira, a Índia recebeu apoio de potências
ocidentais, o que provocou protestos do Paquistão. Em 1965, feriu-se um conflito
de grandes proporções entre Índia e Paquistão, como conseqüência de disputas de
fronteira (Caxemira), que foi encerrado por gestões da ONU. Quando os problemas de
manter o domínio sobre a área se tornaram maiores do que as vantagens ligadas à
permanência de sua administração, os ingleses se retiraram, fazendo a partilha das
Índias, que abrangiam todo o território ocupado por súditos hindus e
paquistaneses. Assim, surgiram dois Estados: Índia e Paquistão, incluindo este
porções ocidentais e orientais separadas. Tal medida provocou enorme movimento de
populações (vide a Índia), genocídios e total descontentamento. Dificilmente
qualquer país colonialista conseguiria criar maior confusão administrativa, após
dominar e explorar uma região, do que o fez o Reino Unido, em relação ao sul da
Ásia. Londres deve ter adotado o lema: “Après moi, le deluge!” (“Depois de mim , o
dilúvio!”). Surgindo movimento autonomista no Paquistão Oriental (Bangladesh), o
governo central em Islamabad enviou forças militares àquela região. Assim, eclodiu
a guerra civil, com grandes perdas para ambos os lados. Com apoio da Índia
(dividir para governar!), o Paquistão Oriental saiu vitorioso e independente. De
uns tempos para cá, Índia e Paquistão vêm desenvolvendo a pesquisa do átomo,
inclusive no que tange a explosões nucleares. Ambos realizaram vários experimentos
nessa área. Há pouco, assistimos pela TV explosões realizadas pelos dois países.
As principais potências mundiais externaram sua preocupação a respeito. Os
respectivos chefes de Estado rivais encontraram-se mais de uma vez, buscando
solução aceitável que afaste a ameaça nuclear. No início de julho de 1999
recrudesceram as ações militares indo-paquistanesas na disputada região da
Caxemira. Confrontação entre países nucleares pode trazer conseqüências
imprevisíveis para os contendores, a região e o resto do mundo!
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