0 évaluation0% ont trouvé ce document utile (0 vote)
134 vues10 pages
O presente estudo visa a analisar o fenômeno da criminalidade organizada, inserida no contexto da globalização, e as recentes alterações político-criminais no que tange ao tratamento das novas modalidades delitivas no Brasil. Apresenta-se um panorama da complexificação do crime e das dificuldades definitoriais a ela inerentes, especialmente em relação à definição de organização criminosa para fins de conferir segurança jurídica mínima ao sistema penal. Mais adiante, demonstra-se que a realidade do contexto regional impõe-se como um limite à incorporação irrefletida de modelos de repressão ao crime organizado. Por fim, a pesquisa analisa que a historicidade própria do fenômeno criminal impede uma conceituação estanque de organização criminosa e que, conquanto a crítica global não seja razoável, não é possível perder a capacidade de análise isenta, no caso concreto, das reais possibilidades que legitimam a disciplina.
Titre original
O discurso político-criminal sobre o crime organizado no Brasil
O presente estudo visa a analisar o fenômeno da criminalidade organizada, inserida no contexto da globalização, e as recentes alterações político-criminais no que tange ao tratamento das novas modalidades delitivas no Brasil. Apresenta-se um panorama da complexificação do crime e das dificuldades definitoriais a ela inerentes, especialmente em relação à definição de organização criminosa para fins de conferir segurança jurídica mínima ao sistema penal. Mais adiante, demonstra-se que a realidade do contexto regional impõe-se como um limite à incorporação irrefletida de modelos de repressão ao crime organizado. Por fim, a pesquisa analisa que a historicidade própria do fenômeno criminal impede uma conceituação estanque de organização criminosa e que, conquanto a crítica global não seja razoável, não é possível perder a capacidade de análise isenta, no caso concreto, das reais possibilidades que legitimam a disciplina.
O presente estudo visa a analisar o fenômeno da criminalidade organizada, inserida no contexto da globalização, e as recentes alterações político-criminais no que tange ao tratamento das novas modalidades delitivas no Brasil. Apresenta-se um panorama da complexificação do crime e das dificuldades definitoriais a ela inerentes, especialmente em relação à definição de organização criminosa para fins de conferir segurança jurídica mínima ao sistema penal. Mais adiante, demonstra-se que a realidade do contexto regional impõe-se como um limite à incorporação irrefletida de modelos de repressão ao crime organizado. Por fim, a pesquisa analisa que a historicidade própria do fenômeno criminal impede uma conceituação estanque de organização criminosa e que, conquanto a crítica global não seja razoável, não é possível perder a capacidade de análise isenta, no caso concreto, das reais possibilidades que legitimam a disciplina.
Direito & Justia v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 O discurso poltco-criminal sobre o crime organizado no Brasil The discourse of the criminal policy on organized crime in Brazil Carlo Velho Masi 1 Advogado criminal em Porto Alegre, RS RESUMO: O presente estudo visa a analisar o fenmeno da criminalidade organizada, inserida no contexto da globalizao, e as recentes alteraes poltico-criminais no que tange ao tratamento das novas modalidades delitivas no Brasil. Apresenta- se um panorama da complexifcao do crime e das difculdades defnitoriais a ela inerentes, especialmente em relao defnio de organizao criminosa para fns de conferir segurana jurdica mnima ao sistema penal. Mais adiante, demonstra-se que a realidade do contexto regional impe-se como um limite incorporao irrefetida de modelos de represso ao crime organizado. Por fm, a pesquisa analisa que a historicidade prpria do fenmeno criminal impede uma conceituao estanque de organizao criminosa e que, conquanto a crtica global no seja razovel, no possvel perder a capacidade de anlise isenta, no caso concreto, das reais possibilidades que legitimam a disciplina. Palavras-chave: Globalizao. Crime Organizado. Organizaes Criminosas. Poltica Criminal. ABSTRACT: This study aims to analyze the organized crime phenomenon within the context of globalization and the recent political changes regarding the treatment of the new criminal modalities in Brazil. It is presented an overview of the complexity of crime and the diffculties in its defnition, especially regarding the concept of criminal organization for providing a minimum legal certainty to the penal system. Further on, it is shown that the reality of the regional context is imposed as a limit to the thoughtless incorporation of models of repression to the organized crime. Finally, the research analyzes that the historicity of the criminal phenomenon prevents a stagnant conceptualization of criminal organization and that, while the global critics is not reasonable, it is not possible to lose the ability of a exempt analysis in the specifc case of the real possibilities that legitimate the discipline. Keywords: Globalization. Organized Crime. Criminal Organizations. Criminal Policy. 1 INTRODUO: A GLOBALIZAO E O DIREITO PENAL A globalizao defne os modelos sociais ps- industriais e hoje uma chave para a compreenso da criminalidade 2 . Suas potencialidades permitem que os grupos criminosos aproveitem as vantagens que o novo espao mundial oferece, com a criao de zonas de livre comrcio em algumas regies do mundo, nas quais se produz uma permeabilizao econmica das fronteiras nacionais e se reduz o controle. Esta mudana identifcada por Zaffaroni, quando se refere s atuais orientaes de Polcia Criminal 3 . A realidade do poder planetrio demasiadamente contraditria em comparao a momentos anteriores. O que antes foram delitos contra a economia nacional, como alteraes artifciais dos mercados, aproveitamento de informaes confdenciais, monoplios e oligoplios, e at mesmo delitos menos sofsticados, como extorses e fraudes, agora so condutas legtimas na economia mundial. Ante a ausncia de um poder regulador e criminalizante no plano internacional, trata-se de con- dutas impunes, com a particularidade de que se cometem em propores macroeconmicas. Impe-se a precisa concluso a que chega Alberto Silva Franco: A inexistncia de um Estado mundial ou de organismos internacionais sufcientemente fortes que disponham do ius puniendi e que possam, portanto, emitir normas penais de carter supranacional, a carncia de rgos com legitimao para o exerccio do ius persequendi e a falta de concretizao de tribunais penais internacionais agravam ainda mais as difculdades do enfrentamento dessa criminalidade gerada pela globalizao. Alm disso, o Estado-nao, derrudo na sua soberania e tornado mnimo pelo poder econmico global, no tem condies de oferecer respostas concretas e rpidas aos crimes dos poderosos, em relao aos quais h, no momento, um clima que se avizinha anomia 4 . 172 Masi, C. V. Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 Fala-se, ento, em crimes antiglobalizao, na medida em que determinadas tipifcaes impedem o natural avano das instituies capitalistas que pregam a autorregulao do Mercado 5 . Surge um comrcio de bens e servios ilegais que coexiste com o mercado legal, onde o crime adquire uma enorme capacidade de diversifcao, organizando-se estrutural e economicamente para explorar campos to diferentes quanto o jogo, o proxenetismo (lenocnio), a pedoflia, o trfco de pessoas, drogas, armas, veculos ou o furto de obras de arte. O abandono do controle cambial, com a dinamizao das trocas cambirias; a abertura dos sistemas fnanceiros, em razo das converses cambiais livres; o aumento da competitividade internacional, facilitando a aceitao dos agentes de transaes pouco discretas; e a informatizao do sistema so reformas fnanceiras que determinaram o aumento da complexidade das prticas ilcitas a partir da dcada de 90 do sc. XX 6 , com a lavagem de capitais 7 aparecendo como complemento natural e necessrio dessas atividades 8 . A criminalidade associada aos meios informticos e Internet (a chamada ciber delinquncia) seguramente o maior exemplo dessa evoluo. Nesta medida, plenamente verifcvel a vinculao do progresso tcnico com o desenvolvimento de novas formas de criminalidade organizada 9 . Os fenmenos da globalizao e da integrao econmica geraram a apario de uma nova concepo do delito, centrada particularmente nos elementos organizao, transnacionalidade e poder econmico, completamente distintos da ideia de delinquncia como fenmeno marginal. Do ponto de vista estrutural, as caractersticas mais signifcativas da criminalidade da globalizao so duas: por um lado, trata-se de uma criminalidade, em sentido amplo, organizada (a produzir resultados lesivos capazes de aparecer em separado, tanto no espao, como no tempo, da ao dos sujeitos mais relevantes do plano delitivo); de outro, seus crimes so criminologicamente categorizados como crimes dos poderosos (crimes of the powerfull), em contraposio aos crimes do Direito Penal clssico (crimes of the powerless) 10 . uma criminalidade de sujeitos infuentes, confgurada pela magnitude dos seus efeitos normalmente econmicos, mas tambm polticos e sociais , que ultrapassam fronteiras (internacionalizao 11 ) e tm capacidade de desestabilizao (lesividade) geral dos mercados e corrupo de funcionrios e governantes 12 . A nova criminalidade distingue-se, tambm, pela impossibilidade de sua referncia a uma pessoa ou a uma coisa individual, sendo completamente imaterial. Os interesses da sociedade contempornea remetem irrevogavelmente tutela dos denominados bens jurdicos supra e transindividuais, sociais, comunitrios, universais ou coletivos 13 , direcionando a proteo s empresas, ao mercado, segurana social, fnanceira, fscal, ao meio ambiente, dentre outros, com contornos imateriais e imprecisos, que passam a demandar, para a sua tutela, um modus operandi diferenciado, mxime diante das difculdades que suas caractersticas ensejam na delimitao da causalidade e do dano 14 . Um tipo de criminalidade que permite a separao tempo-espao entre a ao das pessoas que atuam no plano criminoso e a danosidade social. Tal criminalidade, desvinculada do espao geogrfco fechado de um Estado, espraia-se por vrios outros e distancia-se nitidamente dos padres de criminalidade que at ento tinham sido objeto de considerao penal 15 . Sua presena na economia limita a liberdade de acesso e a oportunidade de novos investimentos e de consumo, alm de alterar o funcionamento do mercado, da propriedade e do trabalho, o que acaba prejudicando o saudvel desenvolvimento econmico 16 . frequente a prtica do branqueamento de capitais, pois os benefcios obtidos com as atividades delitivas precisam ser reciclados, isto , despojados de sua origem criminosa, mediante sua introduo nos circuitos fnanceiros lcitos, at conseguir uma aparncia de legalidade 17 . As tcnicas e os procedimentos de lavagem de capitais demandam sofsticao, no sentido de poderem elidir a ao dos pases que os combatem, cambiando e evoluindo continuamente, medida que os organismos encarregados de sua represso vo identifcando e neutralizando as vias j existentes. Esse profssionalismo se justifca no sentido de minimizar os riscos da persecuo penal e maximizar as oportunidades. Por essas razes, a incriminao dos mecanismos pelos quais as organizaes criminosas 18 conseguem ocultar e investir considerveis somas de dinheiro obtidas por meio de suas atividades fgura hoje entre os mais atuais e problemticos temas do Direito Penal contemporneo 19 . 2 A COMPLEXIFICAO DO CRIME A moderna criminalidade empresarial pode ser caracterizada por um tipo de delito motivado altruisticamente. Enquanto na concepo tradicional o autor do fato criminoso quer benefciar a si mesmo ou a algum relativamente prximo a si, razo pela qual atua de forma interesseira ou egostica, na criminalidade econmica o perfl de autoria totalmente distinto. O O discurso poltco-criminal sobre o crime organizado no Brasil 173 Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 agente no quer mais (apenas) enriquecer ou benefciar a si mesmo ou a uma pessoa que lhe prxima; ele aspira uma vantagem para a empresa 20 , para a instituio ou organizao criminosa a qual pertence. As descries dos delitos do moderno Direito Penal so orientadas pela criminalidade absolutamente sem vtimas (crimes without victims) ou com vtimas rarefeitas 21 . No se exige mais dano comparvel com a modifcao do mundo exterior (crimes de dano), mas apenas a falta de cumprimento de uma tarefa imposta pelo Estado no caso concreto (crimes de perigo) 22 . O injusto nada mais do que o resultado de uma pura avaliao tcnica 23 . Por isso, Prittwitz explica que a periculosidade desta nova criminalidade advm no de uma conduta praticada isoladamente, mas de sua reiterao (efeito de acumulao), que provoca consequncias com perspectivas temporais muito mais amplas 24 . No combate criminalidade econmica, por exemplo, via regra est em jogo a punio de uma omisso. Uma leso aos deveres de fscalizao, organizao, informao e vigilncia (compliance) comumente ocorre porque estes no so cumpridos de maneira sufciente. Com isso, se a omisso se converte em categoria primria da responsabilidade penal, colocam-se questes absolutamente novas sobre o contedo do conceito de ao e sobre a relao entre o agir e o omitir 25 . Cabe frisar que a moderna criminalidade organizada no est necessariamente vinculada criminalidade econmica. Porm, existe uma imbricao, j que, na maioria das vezes, uma organizao criminosa atua na comisso dos delitos econmicos 26 , pois, via de regra, no mbito das sociedades empresrias, a associao de vrias pessoas ter fnalidade lcita prevista e autorizada em lei 27 . Assim, no contexto do chamado processo penal de emergncia 28 , em que vrias garantias processuais so mitigadas, em prol do combate a essas novas prticas criminosas 29 , j no mais possvel confrontar as demandas com instrumentos da dogmtica penal clssica, de origem liberal-iluminista 30 . 3 A CRIMINALIDADE ORGANIZADA E AS DIFICULDADES DEFINITORIAIS DAS ORGANIZAES CRIMINOSAS A criminalidade organizada geralmente diz respeito reunio de vrios membros de uma sociedade, que se associam e organizam sua atividade criminal como um projeto empresarial, formando o que se denomina de organizao criminosa. Precisa , ento, a constatao de Laura Ziga Rodrgues, para quem h muito poucos acordos sobre o que se entende por criminalidade organizada. As diversas perspectivas com que tem sido tradada demonstram que um fenmeno multiforme, complexo e sumamente cambiante que, portanto, difcil de apreender em concepes tericas e, ainda mais, em leis penais 31 . Em linhas gerais, organizao criminosa pode ser descrita como uma entidade coletiva ordenada em funo de estritos critrios de racionalidade em que cada um de seus membros realiza uma determinada funo, para qual se encontra especialmente capacitado, em razo de suas aptides ou possibilidades pessoais. Assim agindo, a organizao alcana caractersticas prprias de uma sociedade de profssionais do crime, na qual se manifesta um sistema de relaes especfcas, defnidas a partir de obrigaes e privilgios recprocos. Nessa linha, o conceito de crime organizado parece cumprir relevantes funes de legitimao do poder, especialmente nas reas da polcia (ampliando o poder capaz de mobilizar maiores recursos materiais e humanos), da justia (conferindo-lhe mais efcincia, mediante reduo de complicaes legais) e da poltica em geral (oferecendo aos polticos um tema de campanha capaz de produzir votos, aos partidos polticos a oportunidade de competirem entre si pela melhor estratgia contra o crime organizado e ao poder poltico o discurso sobre a ameaa real desse novo inimigo interno da democracia, capaz de justifcar restries aos princpios da legalidade, da culpabilidade e de outras garantias do devido processo legal no Estado Democrtico de Direito) 32 . Revela-se, pois, um discurso encobridor da in- capacidade poltica de reformas democrticas dos governos locais. A incompetncia poltica em face de problemas comunitrios estruturais de emprego, habitao, escolarizao, sade etc., seria compensada pela demonstrao de competncia administrativa na luta contra o crime organizado. H muito, o Brasil tem tentado esboar um conceito legislativo de organizao criminosa que seja vlido para todo o sistema e possa reduzir a insegurana jurdica no tratamento do tema. Por longo perodo, as referncias s organizaes criminosas dispostas na hoje revogada Lei n 9.034/95 33 foram complementadas, inclusive para fns de tipifcao pelo delito de lavagem de capitais 34 , por entendimento pretoriano, pelo conceito de grupo criminoso organizado, fornecido pela Conveno das Naes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Conveno de Palermo) 35 . O advento da Lei n 12.694/12, que instituiu o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdio para crimes praticados por organizaes criminosas, no resolveu sufcientemente a questo, pois esboou 174 Masi, C. V. Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 um conceito vlido to-somente para efeitos daquela legislao, que hoje j se encontra obsoleto 36 . Atualmente, parece que, em funo de revogao tcita 37 , sobrepe-se o conceito ventilado pela recente Lei n 12.850/13, segundo a qual Considera-se organizao criminosa a associao de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela diviso de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prtica de infraes penais cujas penas mximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de carter transnacional. A propsito, os mritos deste novo diploma legislativo ainda esto por ser melhor analisados em espao prprio, na medida em que disciplina diversos procedimentos investigativos, inserindo, defnitivamente, o Brasil no cenrio internacional de represso ao crime organizado, inclusive com expressa referncia s infraes penais previstas em tratado ou conveno internacional quando, iniciada a execuo no Pas, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; e s infraes penais praticadas por organizaes que ultrapassam as fronteiras territoriais brasileiras 38 , reconhecidas segundo normas de Direito Internacional. Alm de tipifcar o crime de promover, cons- tituir, fnanciar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organizao criminosa, a Lei n 12.850/13 prev como meios de obteno de prova a colaborao premiada; a captao ambiental de sinais eletromagnticos, pticos ou acsticos; a ao controlada; o acesso a registros de ligaes telefnicas e telemticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados pblicos ou privados e a informaes eleitorais ou comerciais; a interceptao de comunicaes telefnicas e telemticas, nos termos da legislao especfca; o afastamento dos sigilos fnanceiro, bancrio e fscal, nos termos da legislao especfca; a infltrao, por policiais, em atividade de investigao, na forma do art. 11; e a cooperao entre instituies e rgos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informaes de interesse da investigao ou da instruo criminal. Ainda, dentre outras importantes alteraes, a mencionada lei tipifca crimes ocorridos na investigao e na obteno da prova e faz uma paradigmtica alterao na redao e nomenclatura do antigo delito de quadrilha ou banco (art. 288 do Cdigo Penal), que passa a se chamar associao criminosa e tipifcar a conduta de Associarem-se 3 (trs) ou mais pessoas, para o fm especfco de cometer crimes. Essas medidas, aliadas s recentes alteraes da Lei de Lavagem de Capitais, promovidas pela Lei n 12.683/12 principalmente a revogao do rol de crimes antecedentes, tornando passvel a incriminao da ocultao ou dissimulao de bens direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infrao penal (legislao de 3 gerao) , e pelas alteraes que a Lei n 12.694/12 promoveram no Cdigo Penal e no Cdigo de Processo Penal no que se refere possibilidade de decretao da perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes no forem encontrados (isto , quando no forem produto direto do crime) ou quando se localizarem no exterior e quanto possibilidade de alienao antecipada de bens para preservao de seu valor sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deteriorao ou depreciao, ou quando houver difculdade para sua manuteno aproximam o pas um pouco mais da realidade. Nada obstante a discusso poltico-criminal retomada com a nova lei das organizaes criminosas, em termos acadmicos prevalece a controvrsia. que organizao criminosa no se trata de um conceito jurdico, e sim criminolgico, para o qual seria impossvel esgotar todas as manifestaes dos grupos ilcitos organizados numa nica defnio rgida e atemporal 39 . Como j exposto, o fenmeno da criminalidade organizada est em constante mudana, de acordos com as novas tecnologias que, a cada dia, so incorporadas ao espao negocial, tudo visando ao maior lucro possvel, com a reduo mxima dos riscos. Por isso, Zaffaroni defne o conceito como uma categoria frustrada, ou seja, um rtulo sem utilidade cientfca, carente de contedo jurdico-penal ou criminolgico. A defnio legal de crime organizado seria desnecessria, porque no designaria nada que j no estivesse contido no conceito de quadrilha ou bando (hoje associao criminosa), um tipo de crime contra a paz pblica, previsto em qualquer Cdigo Penal. Na verdade, os fenmenos atribudos ao crime organizado seriam explicveis pela prpria dinmica do mercado, atravs da constante criao de novas reas de produo, circulao e consumo ainda no disciplinadas pela lei (por exemplo, os jogos eletrnicos, o mercado da droga, etc.), ocupadas imediatamente por mltiplas empresas do mercado, cujo espectro de atividades seria constitudo por aes legais e aes ilegais que, no limite, so insuscetveis de separao entre si 40 . La mundializacin ha llegado, como no poda ser de otra forma, al mbito de la criminalidad, y la delincuencia organizada se ha desarrollado O discurso poltco-criminal sobre o crime organizado no Brasil 175 Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 estructuralmente con modernos criterios empresariales, adoptando en muchos casos formas de gestin, de implantacin y extensin en los diferentes Estados muy similar a las tcnicas empleadas por las mismas multinacionales 41 . 4 O CONTEXTO REGIONAL COMO LIMITE INCORPORAO DE MODELOS DE REPRESSO AO CRIME ORGANIZADO A delinquncia organizada sempre existiu paralelamente atividade lcita organizada, ambas em funo da tendncia do homem de planejar suas tarefas, sobretudo quando trabalha em grupo. Porm, nas sociedades contemporneas, a delinquncia orga- nizada em sentido especfco, ou qualitativamente organizada (em oposio delinquncia de baixo grau de organizao, inerente, de alguma forma, a qualquer classe de delinquncia coletiva ou associao delitiva), alcanou dimenses extremamente vastas 42 . Existem dois modelos de crime organizado hoje predominantes no mundo: aquele estruturado no polo americano e europeu do sistema capitalista globalizado, defnido como conspirao nacional de etnias estrangeiras; e aquele discurso italiano sobre crimine organizzato, que tem por objeto de estudo original a mfa siciliana 43 . O discurso americano de organized crime, originrio das instituies de controle social, nasce com a srie de programas econmicos que fcaram conhecidos como new deal, do governo de Franklin Roosevelt, entre 1933 e 1936, com o objetivo de estigmatizar grupos sociais tnicos (especialmente italianos), sob o argumento de que o comportamento criminoso no seria uma caracterstica da comunidade americana, mas de um submundo constitudo por estrangeiros, aqueles maus cidados que ameaavam destruir a comunidade dos bons cidados. Esse conceito xenfobo revelou sua utilidade, atravs de teorias criminolgicas fundadas na noo de subcultura e desorganizao social, defnindo o crime organizado como conspirao contra o povo e contra o governo americanos, promovida por organizaes nacionais secretas, centralizadas e hierarquizadas de grupos tnicos estrangeiros. Tal discurso foi imediatamente assumido por polticos e difundido pelos meios de comunicao de massa para justifcar campanhas de lei e ordem, efcazes como estratgias eleitorais de candidatos ao Congresso e Presidncia da Repblica. Extinto o mercado ilcito e os lucros fabulosos da criminalizao do lcool durante a chamada lei seca, o perigo atribudo ao organized crime deslocou o eixo para o trfco de drogas, um novo mercado ilcito com lucros fabulosos criados pela poltica de criminalizao das drogas, promovida a nvel planetrio pelo governo americano, sob o mesmo paradigma da conspirao contra o american way of life, agora com conexes internacionais. Ocorre que a prpria Criminologia americana sustenta que o conceito de crime organizado um mito. As atividades criminosas atribudas ao crime organizado teriam sido realizadas, em realidade, por grupos locais desarticulados, sem a organizao estrutural da conspirao difundida pelo controle social, por polticos e pela mdia americanos. Assim, novamente segundo Zaffaroni, trata-se de um pseu- doconceito, inventado pelo jornalismo e pelos polticos da primeira metade do sculo passado 44 . Por outro lado, as organizaes italianas de tipo mafoso, originalmente dirigidas represso de cam- poneses em luta contra o latifndio e que teriam evoludo para empreendimentos urbanos, atuando na rea da construo civil, do contrabando e da extorso sobre o comrcio e a indstria, assumiram progressivamente caractersticas fnanceiro-empresariais, com empresas no mercado legal e a insero no circuito fnanceiro internacional para lavagem do dinheiro do trfco de drogas. Essas organizaes so estruturas de poder informal constitudas para proteger a realizao de objetivos de lucro, geralmente mediante intermediao parasitria das relaes entre capital e trabalho (por exemplo, os sindicatos), entre produo e consumo (por exemplo, as redes de distribuio) ou entre Estado e cidado (por exemplo, os contratos para obras pblicas). O discurso criminolgico italiano til para mostrar que organizaes de tipo mafoso ou seja, de estruturas dotadas de organizao empresarial defnveis como quadrilhas ou bandos no seriam produtos anmalos das sociedades capitalistas, nem fenmenos patolgicos de sociedades intrinsecamente saudveis, mas produtos orgnicos do ecossistema social, expresses de desenvolvimento econmico defeituoso, ou excrescncias parasitrias danosas comunidade e organizao democrtica da vida. Seja como for, Juarez Cirino dos Santos adverte que o discurso italiano sobre a mfa no pode, simplesmente, ser transferido para outros contextos nacionais como o do Brasil , sem uma grave distoro conceitual ou deformao do objeto de estudo. Sucede que os limites de validade do discurso da criminologia italiana sobre organizaes de tipo mafoso so fxados pela rea dos dados da pesquisa cientfca respectiva, e qualquer discurso sobre fatos atribuveis a organizaes 176 Masi, C. V. Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 de tipo mafoso em outros pases precisa ser validado por pesquisas cientfcas prprias 45 . Essas redes detm um grande poder baseado numa estrutura organizada que permite aproveitar as fragilidades estruturais do sistema penal, provocando grandes danos sociais. Dispem de meios instrumentais e de moderna tecnologia, com um intrincado esquema de conexes com outros grupos criminosos e uma rede subterrnea de ligaes com os quadros ofciais da vida social, econmica e poltica da comunidade. Das organizaes criminosas, originam-se atos de extrema violncia, que expem um poder de corrupo de difcil visibilidade pelo uso de disfarces e simulaes. Luis Flvio Gomes identifca determinados atri- butos comuns que revelariam a existncia de uma associao ilcita organizada: hierarquia estrutural; planejamento empresarial; uso de meios tecnolgicos avanados; recrutamento de pessoas; diviso funcional das atividades; conexo estrutural ou funcional com o poder pblico ou com agentes do poder pblico; oferta de prestaes sociais 46 ; diviso territorial das atividades ilcitas; alto poder de intimidao 47 ; alta capacitao para a prtica de fraudes 48 ; e conexo local, regional, nacional ou internacional com outras organizaes criminosas. O autor sugere que trs desses atributos seriam sufcientes para qualifcar como organizada qualquer associao ilcita 49 . A infrao criminal cometida pelas organizaes criminosas no se esgota em si mesma, pois despoja- se de autonomia, para passar a ser um elemento a mais de um programa preestabelecido que se prolonga indefinidamente no tempo. Estabelece-se uma hierarquia que subordina as intervenes de cada um, mas, no marco da operao como um todo, a garantia do sucesso est justamente na organizao e confana nos integrantes do grupo. As modernas estruturas criminais no atuam de forma isolada; as organizaes criminais estruturam- se atravs de coordenao e subordinao, favorecendo o estabelecimento das chamadas redes corporativas de associaes criminais, que, dentre seus objetivos, prestam apoio logstico mtuo. H, inclusive, quem repute imprescindvel para a caracterizao de uma criminalidade dita organizada a conivncia de um agente pblico ou poltico que facilite ou ordene a atividade criminosa, sem a qual esta tornar-se-ia impossvel de ser realizada de maneira estruturada 50 . A resposta penal contra o chamado crime organizado tende a dirigir-se a um maior rigor repressivo, com a introduo de novas modalidades de prises cautelares, instituio de prmio ao acusado colaborador, criao de programas de proteo de testemunhas, inaugurando o assim denominado duplo binrio repressivo (Cdigo Penal para os crimes comuns e leis especiais para essa nova criminalidade) 51 . No Brasil, especifcamente, a Poltica Criminal ofcial contra o crime organizado foi responsvel pela introduo de diversos institutos ou mecanismos lesivos dos fundamentos constitucionais do Direito Penal e do Processo Penal, como a fgura do agente infltrado em quadrilhas ou organizaes e/ou associaes criminosas 52 ; a delao premial como negociao para extinguir ou reduzir a punibilidade de crimes por informaes sobre coautores ou partcipes de fatos criminosos, localizao da vtima e recuperao do produto do crime 53 ; a supresso da liberdade provisria 54 e do direito de apelar em liberdade 55 ; a instituio do regime fechado obrigatrio no incio do cumprimento da pena 56 ; e, fnalmente, a quebra do sigilo das comunicaes pela captao e interceptao de sinais eletromagnticos, ticos e acsticos 57 . bem verdade que, com a revogao da lei n 9.034/95, algumas incorrees fagrantes esto sendo revistas. Esses mecanismos, sem o controle judicial adequado e utilizados de maneira indiscriminada demonstram a fragilidade da adoo de discursos pr-fabricados em relao ao crime organizado. Se certo que o Brasil lida hoje com o crime organizado, deve-se verifcar se as mesmas tcnicas de tutela utilizadas em outros pases pode ser legitimamente implantada no sistema ptrio. crucial lembrar, neste ponto, que h pases que, inclusive, admitem a flexibilizao de direitos humanos bsicos (permitindo, exemplifcativamente, a tortura) quando se trata de apurar aes de grupos criminosos, muitas vezes automaticamente rotulados de terroristas. 5 CONSIDERAES FINAIS: A INVIABILIDADE DA CONCEITUAO ESTTICA DAS ORGANIZAES CRIMINOSAS Deve-se assinalar que o tipo de delitos praticados pelas organizaes criminosas evoluiu com o Direito Penal para os novos mbitos de incriminao. Porm, condutas delitivas clssicas, como furto, roubo, apropriao indbita, estelionato e trfco em geral, permanecem sendo as principais, agora com o incremento de tcnicas e tecnologias extremamente sofsticadas (v.g. clonagem de cartes de crdito, criao de softwares para obteno de senhas eletrnicas, oferta de produtos inexistentes em sites de compra, venda de produtos proibidos no mercado negro Black Market na deepweb, etc.), que O discurso poltco-criminal sobre o crime organizado no Brasil 177 Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 aumentam de maneira incalculvel o potencial lesivo dessas prticas. Na sociedade da mundializao, com as modernas tecnologias, aumenta-se consideravelmente o poten- cial leviso de outras condutas delitivas conhecidas tradicionalmente. Pode-se levar a cabo uma campanha de difamao contra um cidado honrado. Grupos que pretendem incitar o dio, a violncia e a discriminao de outros sujeitos, seja por razes tnicas, nacionais ou religiosas, aproveitam-se da capacidade de propagao da rede mundial de computadores para criar um caldo de cultivo hostil e perigoso para aqueles que se identifcam como diferentes. Conviver com o outro, neste cenrio, exacerbar os riscos a que estamos passveis. Transmitem-se vdeos com pretenses sdicas de desfrute do usurio que os contemple, cenas reais de tortura e mortes cruis de pessoas e animais. Utilizam-se menores para a elaborao de flmes pornogrfcos, incluindo tomadas sadomasoquistas. Distintos grupos terroristas e grupos armados de todo o Planeta trocam informaes sobre estratgias e informaes para levar a cabo os mais srdidos atentados contra a humanidade, utilizando mecanismos de comunicao modernos prprios das novas tecnologias 58 . Produzem-se, ento, comportamentos antes im- pensveis, por inexistentes. A internet passou a ser a principal ferramenta de delinquentes altamente especializados, conhecidos como hackers e crackers, que atuam valendo-se do anonimato que as vias de comunicao do espao ciberntico proporcionam, praticando condutas lesivas, tais como bullying, stalking, phishing, spamming, pedoflia, pirataria, etc., muitas delas identifcadas como crimes virtuais ou crimes cibernticos, que, por vezes, no possuem qualquer interesse econmico envolvido. A difculdade em lidar preventivamente com essas prticas est na prpria indeterminao do sujeito ativo. At mesmo Estados, sem que se possa identifcar o autor mediato, ou homem de trs (hinterman) 59 podem praticar violaes criminosas de direitos fundamentais e de direitos de outras naes. O caso mais notrio da atualidade a denncia de espionagem que autoridades brasileiras sofreram por parte da NSA (National Security Agency), rgo de inteligncia dos EUA. Logo, o Direito Penal v-se obrigado a lidar com essas novas condutas e defnitivamente no poder combat-las com as mesmas armas do sc. XVIII, que, se serviram ao enfrentamento dos delitos clssicos, lesivos diretamente ao ser humano e ao patrimnio, hoje demonstram sua fragilidade. O contexto reclama uma reinterpretao da dogmtica jurdico-penal clssica, a fm de determinar quais parmetros permanecem vlidos, quais esto irremediavelmente superados pelas prticas sociais e quais ainda valem a pena ser preservados e, se for o caso, defendidos com rigidez. Isso implica afastar a postura de crtica integral ao moderno desenvolvimento do Direito Penal, sem, contudo, perder a capacidade de anlise isenta, no caso concreto, das reais possibilidades que legitimam a disciplina. No se pode perder de vista, sobretudo, uma anlise conforme Constituio. Sendo assim, acreditamos que uma conceituao esttica de organizao criminosa, tal como a pretendida pelo legislador brasileiro, est fadada a representar mais um casusmo simblico momentneo, que ser em breve sufragado pelo prprio historicismo inerente ao natural desenvolvimento do fenmeno criminal. No Brasil, embora as pontuais reformas representem, em certa medida, alguma espcie de avano, apenas uma reestruturao global ( dizer, novo Cdigo Penal e novo Cdigo de Processo Penal) ser capaz de dar novas luzes ao enfrentamento do tema. REFERNCIAS ALBRECHT, Peter-Alexis. Kriminologie. Munique: C.H. Beck, 1999. BITENCOURT, Cezar Roberto. Organizao criminosa: no se aplica a majorante em lavagem de dinheiro. Disponvel em: <http:// www.conjur.com.br/2013-ago-26/cezar-bitencourt-nao-aplica- majorante-crime-lavagem-dinheiro>. Acesso em: 26 ago. 2013. BONFIM, Mrcia Monassi Mougenot; GARCIA, Gilberto Leme Marcos; LEMOS JNIOR, Arthur Pinto de. Doutrina e tratado defne organizao criminosa. Disponvel em: <http://www.conjur. com.br/2009-nov-26/conceito-organizacao-criminosa-definido- tipifcar-lavagem>. Acesso em: 11 abr. 2013. BORJA JIMNEZ, Emiliano. Globalizacin y concepciones del derecho penal. Estudios Penales y Criminolgicos, Santiago de Compostela, Espanha, USC, n. 29, p. 141-206, 2009. BUONICORE, Bruno Tadeu. Breves refexes criminolgicas sobre os delitos empresariais. Revista Sntese Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, Sntese, v. 13, n. 75, p. 77-80, ago./set. 2012. CALLEGARI, Andr Lus. Direito penal econmico e lavagem de dinheiro: aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. CERQUEIRA, tilo Antonio. Direito penal garantista & A nova criminalidade. Curitiba: Juru, 2002. CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal de emergncia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. COSTA JR., Paulo Jos da. Crimes do colarinho branco: comen- trios lei n. 7.492/86, com jurisprudncia; aspectos de direito constitucional e fnanceiro e anotaes lei n. 9.613/98, que in- crimina a lavagem de dinheiro. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. ESTELLITA, Heloisa. Criminalidade de empresa, quadrilha e organizao criminosa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Para uma dogmtica do direito penal secundrio. In: DAVILA, Fbio Roberto; SPORLEDER, Paulo Vincius. Direito penal secundrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. 178 Masi, C. V. Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 FRANCO, Alberto Silva. Globalizao e Criminalidade dos Poderosos. In: PODVAL, Roberto (Org.). Temas de direito penal econmico. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. GOMES, Luiz Flavio; CERVINI, Ral. Crime organizado: enfoques criminolgico, jurdico (Lei 9.034/95) e poltico-criminal. 2. ed. rev. atual. e ampl So Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. HASSEMER, Winfried. Caractersticas e Crises do Moderno Direito Penal. Revista Sntese de Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre, ano III, n. 18, p. 144-157, fev.mar. 2003. HERRERO, Csar Herrero. Criminologia. Parte general y especial. Madrid: Dykinson, 1997. JORNAL ESTADO DE SO PAULO. Maior investigao da histria do crime organizado denuncia 175 do PCC. Disponvel em: <http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,maior-investigacao- da-historia-do-crime-organizado-denuncia-175-do-pcc,1084346,0. htm>. Acesso em 16 out. 2013. MASI, Carlo Velho. O crime de evaso de divisas na era da globalizao. Porto Alegre: Pradense, 2013. NAM, Moiss. O ilcito. Trad. Srgio Lopes. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. PRITTWITZ, Cornelius. Sociedad de riesgo y Derecho penal. In: ZAPATERO, Luis Arroyo; NEUMANN, Ulfrid; MARTN, Adn Nieto. (Coord.). Critica y justifcacion del derecho penal en el cambio de siglo: el anlisis crtico de la escuela de Frankfurt. Cuenca, Espanha: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2003. p. 259-287. RINALDI, Stanislau. Crime organizado e poder poltico na Itlia In Anais do III Congresso Nacional do Movimento do Minis- trio Pblico Democrtico, Foz do Iguau, PR, 18-21 de maro de 1997. RODRIGUES, Anabela Miranda; MOTA, Jos Lus Lopes da. Para uma poltica criminal europeia: quadro e instrumentos jurdicos da cooperao judiciria em matria penal no espao da Unio Europeia. Coimbra: Coimbra Editora, 2002. ROTSCH, Thomas. Tempos Modernos: Ortodoxia e Heterodoxia no Direito Penal. In: DAVILA, Fabio Roberto (Org.). Direito Penal e Poltica Criminal no Terceiro Milnio: Perspectivas e Tendncias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. p. 68-81. ROXIN, Claus. La ciencia del derecho penal ante las tareas del futuro. In: MUOZ CONDE, Francisco (Coord.). La Ciencia del Derecho penal ante le Nuevo Milenio. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004. SCHUR, Edwin M. Crimes without Victims: Deviant Behavior and Public Policy Abortion, Homosexuality, Drug Addiction. Englewood Cliffs, NJ, EUA: Prentice-Hall, 1965. SILVA SNCHEZ, Jess-Mara. La expansin del derecho penal. Aspectos de la poltica criminal en las sociedades postindustriales. Madrid: Civitas, 1999. SILVA, Luciana Carneiro da. Perspectivas Poltico-criminais sob o Paradigma da Sociedade Mundial do Risco. Revista Liberdades, So Paulo, IBCCRIM, n. 5, p. 85-115, set./dez. 2010. SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Direito Penal econmico como Direito Penal de perigo. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. ZAFFARONI, Eugenio Ral. Crime Organizado: uma categorizao frustrada. Discursos Sediciosos: Crime Direito e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 45-67, jan./jun. 1996. ZAFFARONI, Eugenio Ral. Globalizacin y crimen organizado. Conferncia proferida na Primera Conferencia Mundial de Derecho Penal (AIDP) em 22 de novembro de 2007 em Guadalajara, Jalisco, Mxico. ZAFFARONI, Eugenio Ral. La Globalizacin y las Actuales Orientaciones de la Poltica Criminal. Direito e Cidadania, Praia, Cabo Verde, a. 3, n. 8, p. 71-96, 1999-2000. ZAFFARONI, Eugenio Ral. O inimigo no Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2007. ZIGA RODRGUEZ, Laura. Criminalidad organizada, derecho penal y sociedad. Apuntes para el anliseis. In: SANZ MULAS, Nieves (coord.). El desafo de la criminalidade organizada. Granada: Comares, 2006. NOTAS 1 Bacharel em Direito pela PUCRS. Especialista em Direito Penal e Poltica Criminal pela UFRGS. Mestre em Cincias Criminais pela PUCRS. Associado ao Instituto Brasileiro de Cincias Criminais (IBCCRIM), Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (IBRASPP) e Instituto Brasileiro de Direito Penal Econmico (IBDPE). 2 RODRIGUES, Anabela Miranda; MOTA, Jos Lus Lopes da. Para uma poltica criminal europeia: quadro e instrumentos jurdicos da cooperao judiciria em matria penal no espao da Unio Europeia. Coimbra: Coimbra Editora, 2002, p. 13. 3 ZAFFARONI, Eugenio Ral. La Globalizacin y las actuales orientaciones de la poltica criminal. Direito e Cidadania, Praia, Cabo Verde, a. 3, n. 8, p. 71-96, 1999-2000, p. 79. 4 FRANCO, Alberto Silva. Globalizao e Criminalidade dos Poderosos. In: PODVAL, Roberto (Org.). Temas de direito penal econmico. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 257. 5 MASI, Carlo Velho. O Crime de Evaso de Divisas na Era da Globalizao. Porto Alegre: Pradense, 2013, p. 130. 6 NAM, Moiss. O ilcito. Trad. Srgio Lopes. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 129-130. 7 Como bem recorda CALLEGARI, Andr Lus. Direito penal econmico e lavagem de dinheiro: aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 91, alm de afetar as relaes interpessoais e o patri- mnio individual, a delinquncia organizada e os processos de lavagem de dinheiro possuem objetivos e fnalidades especiais, distintos da criminali- dade tradicional, desenvolvendo em grande escala e com esprito empresa- rial uma srie de macro atuaes, algumas de carter supranacional, que ter- minam por infuenciar de maneira importante o prprio sistema econmico. 8 RODRIGUES, Anabela Miranda; MOTA, Jos Lus Lopes da. Para uma poltica criminal europeia: quadro e instrumentos jurdicos da cooperao judiciria em matria penal no espao da Unio Europeia. Coimbra: Coimbra Editora, 2002, p. 14. 9 SILVA SNCHEZ, Jess-Mara. La expansin del Derecho Penal: aspectos de la poltica criminal em las sociedades postindustriales. 2. ed. Madrid: Civitas, 2001. p. 28. 10 RODRIGUES, Anabela Miranda; MOTA, Jos Lus Lopes da. Para uma poltica criminal europeia: quadro e instrumentos jurdicos da cooperao judiciria em matria penal no espao da Unio Europeia. Coimbra: Coimbra Editora, 2002, p. 14. 11 RODRIGUES, Anabela Miranda; MOTA, Jos Lus Lopes da. Para uma poltica criminal europeia: quadro e instrumentos jurdicos da cooperao judiciria em matria penal no espao da Unio Europeia. Coimbra: Coimbra Editora, 2002, p. 13. 12 SILVA SNCHEZ, Jess-Mara. La expansin del derecho penal: Aspectos de la poltica criminal en las sociedades postindustriales. Madrid: Civitas, 1999, p. 69-71. 13 No sentido de que existem at mesmo bens jurdicos supranacionais, que exigem uma tutela tambm supranacional: ROXIN, Claus. La ciencia del derecho penal ante las tareas del futuro. In: MUOZ CONDE, Francisco (Coord.). La Ciencia del Derecho penal ante el Nuevo Milenio. Valencia: TirantloBlanch, 2004, p. 401-406. 14 SILVA, Luciana Carneiro da. Perspectivas Poltico-criminais sob o Paradigma da Sociedade Mundial do Risco. Revista Liberdades, So Paulo, IBCCRIM, n. 5, p. 85-115, set./dez. 2010, p. 100-101. 15 FRANCO, Alberto Silva. Globalizao e criminalidade dos poderosos. In: PODVAL, Roberto (Org.). Temas de direito penal econmico. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 257. O discurso poltco-criminal sobre o crime organizado no Brasil 179 Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 16 CALLEGARI, Andr Lus. Direito penal econmico e lavagem de dinheiro: aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 91 observa que Alm de afetar as relaes interpessoais e o patrimnio individual, a delinquncia organizada e os processos de lavagem de dinheiro possuem objetivos e fnalidades especiais, distintos da criminalidade tradicional, desenvolvendo em grande escala e com esprito empresarial uma srie de macro atuaes, algumas de carter supranacional, que terminam por infuenciar de maneira importante o prprio sistema econmico. 17 CALLEGARI, Andr Lus. Direito penal econmico e lavagem de dinheiro: aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 38. 18 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Direito Penal econmico como Direito Penal de perigo. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 58 relata que com origens remotas nas velhas famlias criminosas, mafosas, de origens italiana, japonesa, como a Yacuza, chinesa, como as trades, ou, ainda, russa, aps a queda do velho imprio, o crime organizado , na atualidade, fenmeno que bem refete a quebra das fronteiras nacionais. Em perodo anterior os vrios ramos ou famlias cingiam suas atividades a reas bem especfcas. Hoje no. Transformaram-se elas em um tema que abala as prprias estabilidades econmicas, polticas e sociais de vrios pases. 19 CERQUEIRA, tilo Antonio. Direito penal garantista & A nova criminalidade. Curitiba: Juru, 2002 realiza uma refexo sobre aos delineamentos da nova criminalidade no cenrio nacional no contexto do Direito penal fernandino (conjunto de leis penais especiais produzidas durante dos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso), da violncia decorrente de suas prticas e dos complexos mecanismos exigidos a seu imprescindvel controle, bem como da distino com a criminalidade tradicional ou massifcada. 20 ROTSCH, Thomas. Tempos Modernos: Ortodoxia e Heterodoxia no Direito Penal. In: DAVILA, Fabio Roberto (org.). Direito Penal e Poltica Criminal no Terceiro Milnio: Perspectivas e Tendncias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. p. 68-81, p. 77. 21 SCHUR, Edwin M. Crimes without Victims: Deviant Behavior and Public Policy Abortion, Homosexuality, Drug Addiction. Englewood Cliffs, NJ, EUA: Prentice-Hall, 1965. 22 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Para uma dogmtica do direito penal secundrio. In: DAVILA, Fbio Roberto; SPORLEDER, Paulo Vincius. Direito penal secundrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 42- 43. 23 HASSEMER, Winfried. Caractersticas e Crises do Moderno Direito Penal. Revista Sntese de Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre, ano III, n. 18, p. 144-157, fev..mar. 2003, p. 151. 24 PRITTWITZ, Cornelius. Sociedad de riesgo y Derecho penal. In: ZAPATERO, Luis Arroyo; NEUMANN, Ulfrid; MARTN, Adn Nieto. (Coord.). Critica y Justifcacion del Derecho Penal en el cambio de siglo: el anlisis crtico de la escuela de Frankfurt. Cuenca, Espanha: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2003. p. 259-287, p. 261 ss. 25 ROTSCH, Thomas. Tempos Modernos: Ortodoxia e Heterodoxia no Direito Penal. In: DAVILA, Fabio Roberto (org.). Direito Penal e Poltica Criminal no Terceiro Milnio: Perspectivas e Tendncias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. p. 68-81, p. 76. 26 CALLEGARI, Andr Lus. Direito penal econmico e lavagem de dinheiro: aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 27. 27 Veja-se o caput do art. 966 do Cdigo Civil brasileiro: Considera- se empresrio quem exerce profssionalmente atividade econmica organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios. 28 Ideia que est atrelada de urgncia (e, num certo sentido, de crise), a algo que, de forma repentina, surge de modo a desestabilizar o status quo ante e os padres normais de comportamento e possibilidade de manuteno das estruturas. Ademais, a expresso se atrela necessidade de uma resposta pronta e imediata, que deve durar enquanto o estado emergencial perdura (CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal de emergncia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 1-2). 29 COSTA JR., Paulo Jos da. Crimes do colarinho branco: comen- trios lei n. 7.492/86, com jurisprudncia; aspectos de direito constitucional e fnanceiro e anotaes lei n. 9.613/98, que incrimina a lavagem de dinheiro. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2002, p. 184. 30 BUONICORE, Bruno Tadeu. Breves Refexes Criminolgicas sobre os Delitos Empresariais. Revista Sntese Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre, Sntese, v. 13, n. 75, p. 77-80, ago./set. 2012, p. 77. 31 ZIGA RODRGUEZ, Laura. Criminalidad organizada, derecho penal y sociedad. Apuntes para el anliseis. In: SANZ MULAS, Nieves (coord.). El desafo de la criminalidade organizada. Granada: Comares, 2006, p. 39-68. 32 ALBRECHT, Peter-Alexis. Kriminologie. Munique: C.H. Beck, 1999, p. 385-386. 33 Que dispunha sobre a utilizao de meios operacionais para a preveno e represso de aes praticadas por organizaes criminosas. 34 Art. 1, VII (hoje revogado), da Lei n 9.613/98. 35 Promulgada pelo Decreto n 5.015/2004. Artigo 2. Para efeitos da presente Conveno, entende-se por: a) Grupo criminoso organizado - grupo estruturado de trs ou mais pessoas, existente h algum tempo e atuando concertadamente com o propsito de cometer uma ou mais infraes graves ou enunciadas na presente Conveno, com a inteno de obter, direta ou indiretamente, um benefcio econmico ou outro benefcio material. 36 Art. 2, Lei n 12.694/2012 Para os efeitos desta Lei, considera- se organizao criminosa a associao, de 3 (trs) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela diviso de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prtica de crimes cuja pena mxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de carter transnacional. 37 BITENCOURT, Cezar Roberto. Organizao Criminosa: No se aplica a majorante em lavagem de dinheiro. Disponvel em: <http://www.conjur. com.br/2013-ago-26/cezar-bitencourt-nao-aplica-majorante-crime- lavagem-dinheiro>. Acesso em: 26 ago. 2013. 38 Vejamos o caso da famosa organizao denominada Primeiro Comando da Capital (PCC), cujas investigaes determinaram que possui braos em outros pases da Amrica do Sul, como Paraguai e Bolvia. (JORNAL ESTADO DE SO PAULO. Maior investigao da histria do crime organizado denuncia 175 do PCC. Disponvel em: <http://www.estadao. com.br/noticias/cidades,maior-investigacao-da-historia-do-crime- organizado-denuncia-175-do-pcc,1084346,0.htm>. Acesso em 16 out. 2013. 39 ESTELLITA, Heloisa. Criminalidade de empresa, quadrilha e organizao criminosa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. No mesmo sentido: BONFIM, Mrcia MonassiMougenot; GARCIA, Gilberto Leme Marcos; LEMOS JNIOR, Arthur Pinto de. Doutrina e tratado defne organizao criminosa. Disponvel em: <http://www. conjur.com.br/2009-nov-26/conceito-organizacao-criminosa-defnido- tipifcar-lavagem>. Acesso em: 11 abr. 2013. 40 ZAFFARONI, Eugenio Ral. Crime Organizado: uma categorizao frustrada. Discursos Sediciosos: Crime Direito e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 45-67, jan./jun. 1996. 41 ZAFFARONI, Eugenio Ral.Globalizacin y crimen organizado. Conferncia proferida na Primera Conferencia Mundial de Derecho Penal (AIDP) em 22 de novembro de 2007 em Guadalajara, Jalisco, Mxico. 42 HERRERO, Csar Herrero. Criminologia: Parte general y especial. Madrid: Dykinson, 1997, p. 475 43 PALESTRA intitulada Crime Organizado, proferida no 1
Frum Latino-Americano de Poltica Criminal, promovido pelo IBCCRIM, de 14 a 17 de maio de 2002, em Ribeiro Preto, SP. 44 ZAFFARONI, Eugenio Ral. O inimigo no Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2007, p. 63. 45 PALESTRA intitulada Crime Organizado, proferida no 1
Frum Latino-Americano de Poltica Criminal, promovido pelo IBCCRIM, de 14 a 17 de maio de 2002, em Ribeiro Preto, SP. 46 s vezes, como decorrncia lgica da conexo estrutural ou funcional com o Poder Pblico, outras vezes como forma de se buscar algum tipo de legitimao popular para o crime organizado, pode-se constatar nessa atividade ilcita o clientelismo, que consiste em oferecer prestaes sociais no mbito da sade pblica, da segurana, dos transportes, alimentao, moradia, emprego certo, etc. Busca-se, pela tutela das camadas mais carentes, um certo apoio popular e, ao mesmo tempo, a substituio do Estado ofcial. Desse modo, cria-se um Estado paralelo, que passa a ser visto como necessrio, principalmente naqueles lugares onde no chegam as prestaes pblicas ofciais. 47 A capacidade de intimidao e subordinao caracteriza o mtodo mafoso, por excelncia, o qual tende a produzir impunidade, medo e silncio, resultando na existncia de cdigos internos de conduta, da aplicao de sanes extralegais, de julgamentos secretos e peremptrios, da violncia ostensiva, etc. 48 Essa a vertente do crime organizado do colarinho branco (criminalidade dourada), de pouca visibilidade ou ostentao, isto , escasso crime appeal. Por isso, do conceito de crime organizado pode tambm fazer parte a real capacidade de lesar o patrimnio pblico ou coletivo por meios fraudulentos (fraude difusa), capacidade essa derivada exatamente da associao complexa e organizada, da sofsticao dos 180 Masi, C. V. Direito & Justa, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 171-180, jul./dez. 2014 recursos tecnolgicos empregados, da conexo com os poderes pblicos, da eventual participao de agentes pblicos, da possibilidade de amplo acesso que conquistam as agncias pblicas, etc. 49 GOMES, Luiz Flavio; CERVINI, Ral. Crime organizado: enfoques criminolgico, jurdico (Lei 9.034/95) e poltico-criminal. 2. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 99-100. 50 PALESTRA intitulada Crime Organizado e sua Difcil Conceituao, proferida por Fabio Leandro Rods Ferreira no I Simpsio de Direito: As alteraes do ordenamento jurdico brasileiro, promovido pelo Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul. 51 RINALDI, Stanislau. Crime organizado e poder poltico na Itlia. In: Anais do III Congresso Nacional do Movimento do Ministrio Pblico Democrtico, Foz do Iguau, PR, 18-21 de maro de 1997. 52 Art. 2, V, da Lei 9.034/95 e art. 33, I, da Lei 10.049/02. 53 Art. 13 e 14 da Lei 9.807/99 e art. 6 da Lei 9.034/95. 54 Art. 7 da Lei 9.034/95. 55 Art. 9 da Lei 9.034/95. 56 Art. 10 da Lei 9.034/95. 57 Art. 2 da Lei 9.034/95. 58 BORJA JIMNEZ, Emiliano. Globalizacin y Concepciones del Derecho Penal. Estudios Penales y Criminolgicos, Santiago de Compostela, Espanha, USC, n. 29, p. 141-206, 2009, p. 163. 59 Alguns autores, como Jakobs, Baumann e Jescheck, entendem que o homem de trs (autor de escritrio) coautor, e no autor mediato. Outros, entendem que ele um mero instigador. Recebido em: 17/10/2013; aceito em: 18/10/2013.
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições