O documento discute a filosofia de Heidegger e sua analítica existencial. Heidegger acreditava que a tradição filosófica ocidental esqueceu a questão do ser, focando apenas nos entes. Sua analítica existencial explora como o ser-aí (Dasein) existe no mundo e com outros, e como a angústia revela a natureza finita da existência humana.
O documento discute a filosofia de Heidegger e sua analítica existencial. Heidegger acreditava que a tradição filosófica ocidental esqueceu a questão do ser, focando apenas nos entes. Sua analítica existencial explora como o ser-aí (Dasein) existe no mundo e com outros, e como a angústia revela a natureza finita da existência humana.
O documento discute a filosofia de Heidegger e sua analítica existencial. Heidegger acreditava que a tradição filosófica ocidental esqueceu a questão do ser, focando apenas nos entes. Sua analítica existencial explora como o ser-aí (Dasein) existe no mundo e com outros, e como a angústia revela a natureza finita da existência humana.
A ANGSTIA, O NADA E A MORTE EM HEIDEGGER - MARCO AURLIO WERLE
O problema fundamental da filosofia de Heidegger a questo do Ser, desenvolvido
em Ser e tempo, no horizonte da existncia. O ponto de partida de Heidegger, que coloca o problema do ser, o esquecimento do ser, encontrado em toda a filosofia ocidental, comeando com Plato e se estendendo at Nietzsche. Desde os gregos, o pensamento no teria distinguido adequadamente a diferena entre ente e ser, ou seja, entre o que existe simplesmente como uma coisa e entre o que enquanto ser. Trata-se uma confuso entre o ntico (relativo ao ente) e o ontolgico (relativo ao ser), que perfez a diferena ontolgica. Investigar o ser do ente no o mesma coisa do que investigar a maneira como no ente se manifesta o ser, que neste caso o ser enquanto tal. certo que o ser s de d no ente, mas isso no significa que o ser pode ser reduzido no ente. O tema do ser tem de ser novamente levantado a partir de uma ontologia fundamental, e isto tomando como fio condutor o nico ente que tem a possibilidade de questionar o ser, que o homem. A questo do ser se coloca seno ao ente privilegiado que capaz de questionar o ser, que possui uma compreenso do ser. Este ente o homem, que Heidegger chama de "ser-a" (Dasein), o homem enquanto um ente que existe imediatamente em um mundo. Para investigar o Dasein enquanto possui sempre uma compreenso de ser impe-se uma analtica existencial, que tem como tarefa explorar a conexo das estruturas que definem a existncia do Dasein - os existenciais. O mtodo da analtica existencial buscado tanto na fenomenologia quanto na hermenutica, de modo este que se designa de mtodo fenomenolgico- hermenutico. A questo do ser do Dasein investigada segundo a mxima fenomenolgica do "ir s coisas elas mesmas" e a hermenutica da "interpretao no horizonte da compreenso". Um pressuposto fundamental da analtica existencial de que a existncia se manifesta ao Dasein sempre primeiramente concernente ao Dasein mesmo, sua compreenso que se coloca para o o ser-a antes de qualquer teorizao ou horizonte terico, num nvel pr-ontolgico. O ser-a imediatamente o homem e o mundo, em sua realidade finita imediata, entregue ao seu destino. O homem no uma mera coisa que reside inerte no mundo; pelo contrrio, na medida em que compreende o ser, o homem se coloca no campo da possibilidade, da transcendncia e elabora as possibilidades de sua existncia. A existncia do homem na maior parte das vezes existncia inautntica, ou seja, o homem no cotidiano se mantm numa situao de encobrimento do seu ser, possui uma interpretao errnea de sua prpria existncia, que se mantm para ele encoberta. A tarefa de Heidegger a de mostrar como no dia-a-dia da existncia domina amplamente um esquecimento do ser. O ser-a, o Dasein, imerso em sua existncia, um ser-no-mundo, que se encontra sempre situado num contexto de vivncia no mundo, e no est simplesmente lanado num espao apenas delimitado fsica ou naturalmente. O conceito de ser-no-mundo uma estrutura ontolgica fundamental do ser-a, que indica a inseparabilidade do homem e do mundo e igualmente do mundo em relao do homem. Estar em um mundo significa habitar o mundo, morar nele, deter-se nele, e no simplesmente encontra-se nele como uma coisa, um ente simplesmente dado. O Dasein est no mundo na forma dos existenciais, existindo num mundo e o habitando, se detendo nele. Uma primeira etapa da analtica existencial consiste, pois, em estabelecer o que o mundo, consiste em discutir o conceito de mundo. Heidegger estabelece o conceito de mundo em Ser e tempo como um certo mbito constitudo pelo Dasen, no sentido que o Dasein confere o carter de mundo, a sua mundanidade. O Dasein no apenas est no mundo, mas ele tem mundo, constitui o mundo como uma extenso dele mesmo na medida em que lida com os instrumentos que esto em torno dele. O que define o mundo para o Dasein passa pelo modo como o Dasein se relaciona de modo imediato com o mundo, ao trabalhar e operar com instrumentos de seu dia-a- dia. No o acesso terico que garante um ingresso ao mundo, pois o mundo sempre est a presente. No mundo, igualmente a relao do homem com o que est diante dele no do tipo coisal, e sim o que se apresenta a ele est mo dele, manual. Estes instrumentos ou manuais se definem, no como objetos meramente existentes enquanto dados empricos, e sim num horizonte de significados determinados pelo contexto e uso. A manualidade e o carter de instrumento definem o modo do ser dos entes do mundo. O passo seguinte da analtica existencial se define pela explorao do fato de que o Dasein vive em um mundo com outros entes que tm o modo de ser do Dasein. Trata- se de perguntar pelo quem o Dasein, na medida em que ele vive em um mundo em que tambm existem no apenas instrumentos e o objetos que o cercam, mas fundamentalmente outros entes com o modo de ser do Dasein, isto , outros seres humanos. A isso Heidegger chama de ser-com e estar-a-com. Com os outros homens o Dasein no se relaciona somente por meio do mero lidar, mas por maio da preocupao. Com os manuais eu me ocupo, ao passo que com os homens eu me pre-ocupo. Nos preocupamos pelo outro, assumimos o seu lugar, o substitumos em seu sofrimento ou nos entregamos sua preocupao, mas nos esquecemos de ns mesmos. A preocupao na existncia assume a forma de uma impessoalidade (Das Man), na qual os homens "preocupam"demasiadamente com o outro e com o que se pensa e se acha socialmente e se esquece do verdadeiro sentido de sua prpria existncia. A vida social o impero da gente, a ditadura do impessoal, o mbito em que se confunde o ns e o ningum, na medida em que se age de acordo com o que pensa em geral. A concepo bsica de Heidegger acerca da vida em sociedade que ela regida por uma noo obscura de convivncia, em que no h sujeitos e sim domina o imprio do impessoal, de uma sociabilidade truncada, em que nem o eu nem o ns se distinguem. Este impessoal ele mesmo sem rosto, uma espcie de ningum que comanda a vida individual e no poder identifica com este ou aquele ser humano. O terceiro passo da analtica existencial consiste em responder como facticamente se abre o mundo para o Dasein, independentemente se ele vive num mundo de coisas ou de hoens. A abertura primeira e fundamental de mundo se d para o Dasein por meio de uma estrutura tripla que envolve a disposio, a compreenso e a interpretao. O homem se encontra envolvido em mundo mundo, lanado em disposies anmicas que indicam a facticidade da responsabilidade de sua existncia. O ser humano assaltado por estados da alma (sentimentos) que abrem para ele irrefletidamente o mundo. Inserido numa disposio, o Dasein compreende o mundo, mas no conscientemente por meio de conceitos, e sim a compreenso ocorre porque o prprio Dasein est com-preendido numa situao de mundo. A compreenso projeta o homem em possibilidades de existncia, em que ele pode ou no assumir de modo pleno sua existncia. Smente ento d-se a interpretao do mundo no discurso e na linguagem. A compreenso do mundo antecede a interpretao. Estas trs possibilidades de abertura de mundo, embora constituintes no so, porm, assumidas de fato pelo homem, de modo que levam novamente a um enconbrimento do fenmeno originrio do Dasein, levam a uma queda, a uma decadncia do dia-a-dia e ao esquecimento da verdadeira essncia. Trata-se aqui dos fenmenos do falatrio, da curiosidade e da ambiguidade. O trao constitutivo, totalizante, que reside a totalidade do ser da existncia do homem se encontra no conceito de angstia. A angstia uma dimenso ontolgica, em que no sabemos diante de que nos angustiamos. No sendo nenhum objeto determinado, o que angustia o homem um nada. O problema da cincia, segundo Heidegger, que ela afirma que pesquisa apenas o ente e mais nada, ou seja, delimita seu campo de atuao para o que pode ser determinado logica e matematicamente na esfera do ente, excluindo o nada e, por conseguinte, o ser, que possui um parentesco com o nada no horizonte da diferena ontolgica. Para Heidegger, o nada se coloca por si mesmo na angstia, se revela nela e ao mesmo tempo a provoca. "O nada nadifica", ou seja, o modo de o nada se manifestar somente ocorre por meio do nada mesmo. O nada nos lana num constante nada, ele mesmo o sujeito de si. O ser tem em comum com o nada o fato de no se esgotar em nenhum ente determinado e no pode ser nunca definido. Toda a nossa existncia de repente perde seu sentido diante do nada. O homem est na suspenso na angstia e muitas vezes nem a perceve, alas, geralmente ela nos oferece uma estranha tranquilidade. Esta angstia tambm surge a toda hora, muito rara. O ser a que est sempre angustiado pode estar menos relacionado angstia fundamental do que o ser-a parece estar calmo. A angstia e o nada tomam todo o ser do Dasein fazendo com que o prprio ser-no- mundo seja abalado em suas bases e seja sentido em seus fundamento como angustiante. A angstia reside no puro fato de existir. O lado "positivo" do fenmeno da angstia que ele coloca pela primeira vez a existncia humana diante de si mesma. "S na angstia subsiste a possibilidade de uma abertura privilegiada na medida em que ela singulariza. Essa singularizao retira o ser-a de sua decadncia, e lhe revela a autenticidade e inautenticidade como possibilidades de seu ser". No conceito de angstia e, por conseguinte, no de preocupao, Heidegger localiza a verdadeira possibilidade da virada humana, a possibilidade de o homem sair da inautenticidade, na qual ele geralmente vive, e assumir a autenticidade. Por meio da preocupao, que revela a existncia como um tema para o Dasein, pode-se dizer que ele faz uma recapitulao de todo o seu existir e toma conscincia do carter essencialmente finito de sua existncia; do carter essencialmente temporal do ser e de que est entregue somente a ele mesmo e manifestao do ser. A angstia desperta para a morte, enquanto dado temporal mais significativo da existncia, e revela a finitude da existncia humana, o fato de que o homem tem um fim, que ele morre e que sua existncia acaba, ou seja, remete a um outro conceito fundamental de Heidegger: o ser-para-a-morte. A morte constitui uma limitao da unidade originria do ser-a, significa que o poder- ser contm a possibilidade do no-ser. O "fim" do ser-no-mundo a mort. A morte apenas tem sentido para quem existe e se pe como um dado fundamental da existncia mesma. Assumir o ser-para-a-morte no significa pensar constantemente na morte e sim encarar a morte como um problema que se manifesta na prpria existncia. A morte algo que podemos experimentar indiretamente, no outro que morre. A morte tem um aspecto paradoxal de apenas surgir quando no pode mais constituir um problema para o Dasein, a no ser que ele a assuma como a sua mais prpria essncia da prpria existncia. A tomada de conscincia do ser-para-a-morte leva a um questionamento de todo o ser, no sentido de que o ser-humano se coloca radicalmente diante de seu ser. O que a analtica da existncia de Heidegger nos apresenta a interdependncia mtua dos conceitos de medo, angstia, nada e morte. O papel destes conceitos consiste, pois, gerar no ser-humano, o ser-a, uma possibilidade para assumir sua autenticidade. Somente a partir destes fenmenos ocorre a virada na existencia humana, quando o homem tocado em seu ser pelo apelo do Ser. Seu despertar no se d por meio do que costumeiramente se designa de alegria ou felicidade. Pelo contrrio, para a tica heideggeriana vale sobretudo a finitude humana dos momentos de negatividade.