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Este documento analisa a viabilidade do uso da Araucaria angustifolia em sistemas agroflorestais na região serrana do sul do Brasil. Os resultados mostram que a espécie pode ser usada para compor SAFs com produtividade comparável a culturas como o milho, gerando entre 600-7.000 kg/ha de pinhões. Entretanto, mais estudos são necessários para confirmar a hipótese, considerando fatores como densidade de plantio e consórcios com outras espécies.
Este documento analisa a viabilidade do uso da Araucaria angustifolia em sistemas agroflorestais na região serrana do sul do Brasil. Os resultados mostram que a espécie pode ser usada para compor SAFs com produtividade comparável a culturas como o milho, gerando entre 600-7.000 kg/ha de pinhões. Entretanto, mais estudos são necessários para confirmar a hipótese, considerando fatores como densidade de plantio e consórcios com outras espécies.
Este documento analisa a viabilidade do uso da Araucaria angustifolia em sistemas agroflorestais na região serrana do sul do Brasil. Os resultados mostram que a espécie pode ser usada para compor SAFs com produtividade comparável a culturas como o milho, gerando entre 600-7.000 kg/ha de pinhões. Entretanto, mais estudos são necessários para confirmar a hipótese, considerando fatores como densidade de plantio e consórcios com outras espécies.
1 Doutorando PPRGV/UFSC, professor da UTFPR/Dois Vizinhos, Bolsista PIQDTec, joel@utfpr.edu.br; 2 Universidade Federal do Pampa/Campus So Gabriel valdirstefenon@unipampa.edu.br; 3 Acadmico do curso de agronomia UFSC; 4 Professor do PPRGV/UFSC, nodari@cca.ufsc.br
RESUMO Este trabalho objetivou analisar a viabilidade socioambiental e econmica do uso do pinheiro brasileiro, Araucaria angustifolia, para compor sistemas agroflorestais (SAFs) na regio serrana do sul do Brasil, a qual dispe de limitada lista de espcies estudadas para uso neste sistema. Mediante o levantamento de dados de um cultivo de araucria e daqueles disponveis na literatura, projetou-se uma produo e procedeu-se a anlise, concluindo que pode ser possvel a utilizao desta espcie para compor desenhos de SAFs, porm mais estudos devem ser realizados para confirmao desta hiptese.
Palavras-chave: Pinheiro do Paran, planalto serrano, sistema agroflorestal.
1. INTRODUO A agrofloresta 1 uma prtica antiga, espalhada pelo mundo vinculada a cultivos dos povos tradicionais. Foi cunhada no processo de co-domesticao das espcies arbreas, partindo da proteo das florestas naturais e chegando ao cultivo de rvores (Wiersum, 1997). De acordo com Wiersum (2004), o conceito de agrofloresta desenvolveu-se por volta de 1970, e foi baseado em dois caminhos: (1) a incorporao de rvores nos sistemas de cultivo ou (2) a incluso de cultivos agrcolas nas florestas. O primeiro caminho foi o que mais contribuiu para o que conhecemos hoje como agrofloresta. O ICRAF (1999) define agrofloresta como um sistema dinmico de manejo dos recursos naturais que, atravs da integrao de rvores nas unidades de produo agrcola, diversifica e mantm a produo visando um crescente benefcio scio-econmico e ambiental para os agricultores. No entanto, Constantin (2005) afirma que as experincias com SAFs ainda so muito incipientes, o que pode ser creditado s incertezas que afetam os agricultores. Isto poderia ser amenizado por pesquisas que demonstrem quais as combinaes mais apropriadas para obter um equilbrio entre as viabilidades agronmicas, econmicas, ecolgicas e sociais. Essa a realidade no desenho de sistemas para as regies serranas do sul do Brasil onde o roll de espcies passveis de utilizao ainda pequeno ou pouco estudado, especialmente devido restrio do clima. Para esta regio, uma espcie nativa de mltiplas funes e que poderia ser utilizada a Araucaria angustifolia, o pinheiro brasileiro ou araucria (Figura 1). O pinheiro uma rvore de grande valor ecolgico, cultural e econmico. Dele, aproveitam-se principalmente as sementes, a resina e a madeira. uma planta predominantemente diica, ou seja, apresenta plantas produtoras de plen (chamadas machos) e plantas produtores de sementes (chamadas fmeas). Os estrbilos femininos (pinhas) demoram aproximadamente 24 meses para completar seu desenvolvimento, desde o incio da formao do boto floral at a maturao das sementes (pinhes). Uma planta fmea inicia a produo de semente em torno dos 15 anos de idade, com relatos de plantas iniciando a produo entre oito e 20 anos de idade. Quando adulta produz em mdia 40 pinhas por ano, contendo de 60 a 160 sementes cada uma, podendo atingir mais de 1 kg (Mantovani et al. 2004). Segundo dados da Federao das Indstrias de Estado de Santa Catarina (FIESC), este estado produz em torno de 1.185 toneladas de pinho por ano, correspondendo a 40,6% da produo nacional. A maior parte desta produo comercializada em supermercados a um preo muito maior que o valor pago ao produtor/coletor de pinhes. Parte dos pinhes vendida nas margens de rodovias, diretamente pelos produtores/coletores. A literatura especializada descreve dez variedades para o pinheiro brasileiro. Essas variedades so identificadas basicamente pela cor/forma das sementes e pela poca de maturao das mesmas. Assim, um plantio sistematizado de diferentes variedades permite a comercializao de pinho por um perodo mais longo de tempo. Alm disso, possvel consorciar o pinheiro brasileiro em SAFs com a erva-mate, a espinheira-santa, a bracatinga, assim como com rvores frutferas nativas como a
1 Para efeito deste ensaio, agrofloresta entende-se como sinnimo de sistema agroflorestal (SAFs). goiabeira-serrana, a pitangueira e a uvaieira. Geralmente o pinheiro brasileiro plantado com o intuito de explorar a madeira. Contudo, a produo de pinho pode tambm ser uma alternativa bastante rentvel. Segundo estimativas feitas por Guerra et al. (2002), em vinte anos, a produo de pinhes por um pinheiro em rea de savana parque, como no municpio de So Joaquim, renderia R$ 3.026,20. Derrubando-se esta rvore para explorao da madeira, a mesma renderia R$ 2.445,34. Isso mostra que, a longo prazo, a explorao de pinhes mais rentvel que a explorao da madeira. Como proposto por estes autores, um sistema integrado de produo de pinhes, pecuria, apicultura e beneficiamento dos produtos agrcolas na regio de Savana parque pode ser ecolgica, social e economicamente sustentvel. Na regio do Planalto Serrano brasileiro, algumas famlias rurais j esto empregando o pinheiro brasileiro em SAFs como estratgia econmica a mdio e longo prazo, se configurando tambm como uma alternativa agroecolgica de produo e conservao da natureza. Mas ainda existe o receio na sua utilizao em funo da sua pretensa demora em entrar em fase reprodutiva ou de outras restries para sua utilizao como as de ordem legal que dificultam seu aproveitamento. Desta forma, o objetivo deste trabalho fazer uma anlise da viabilidade socioambiental e econmica do uso desta espcie, mediante seleo de matrizes superiores, para compor sistemas agroflorestais na regio serrana do sul do Brasil.
2. METODOLOGIA Para levantar elementos que permitissem analisar o potencial de utilizao da araucria em SAFs, procedeu-se uma coleta de dados secundrios de bibliografia e dados empricos de crescimento oriundos de um plantio efetuado por um agricultor no municpio de So Joaquim SC. Esse agricultor selecionou uma pinha de uma planta, descrita como sendo da variedade Cajuv (sementes com maturao em junho e julho), com caractersticas de crescimento e produo de pinho superiores em comparao com as demais rvores da propriedade, e efetuou o plantio das 144 sementes no ano de 1975 em uma rea prxima, na mesma propriedade. Das 144 sementes plantadas, restaram somente 15 espcimes em 2008, os quais tiveram o sexo identificado e o volume aparente e incremento anual calculados. Com base nestes dados foram efetuadas simulaes de cultivo e analisadas as projees de produo.
3. RESULTADOS E REFLEXO Na amostragem efetuada foi encontrada uma proporo de 41,67% de plantas fmeas e de 58,33% de machos, o que est de acordo com o descrito na literatura, ou seja, uma proporo muito prxima de 1:1 (e.g. Mantovani et al. 2004). O volume aparente mdio por planta aos 33 anos foi de 1,324m 3
com desvio padro de 0,383 e o incremento mdio anual por planta foi de 0,0401m 3 com desvio padro de 0,0116. A planta matriz apresentou volume aparente de 10,45 m 3 . Com base nestas informaes foi efetuado um exerccio de extrapolao para vrias densidades de plantio que podem ser visualizados na tabela 1. Esses dados so semelhantes aos relatados por Webb et al. (1984), que afirmam ser o incremento volumtrico anual mdio da araucria entre 7 a 23 m/ha/ano. Certamente h de se considerar que a densidade afeta a taxa de crescimento, o que no foi levado em considerao para este estudo. Para a produo de pinhes, considerando uma densidade entre 100 e 400 plantas por ha, na proporo de plantas fmeas encontrada e para uma produtividade mdia entre 15 e 35 kg/planta/ano (parmetro conservador), o sistema poderia produzir entre 600 e 7.000 kg/ha aproximadamente (Tabela 1). Uma produo nestes patamares seria comparvel produtividade de qualquer cereal produzido naquela regio, e como afirmaram Guerra et al. (2002), seria muito mais compensador que produzir madeira. Outra possibilidade de manejo seria o abate de 50% das plantas macho. Se consideramos uma densidade de 200 plantas por ha e uma taxa de crescimento anual comparvel ao encontrada na populao estudada, obteramos pouco mais de 40 m 3 de volume aparente aos 20 anos, o que poderia se transformar em renda e abrir espao para cultivo de outras plantas. Ainda assim, necessrio considerar que poderia ser utilizado, dentro do sistema, um arranjo silvipastoril, que bem adaptado culturalmente regio, com a criao de gado bovino. Ou, alternativamente, utilizar um consrcio com outras espcies como a erva-mate e goiabeira-serrana, alm da criao de abelhas para produo de mel ou aluguel de colmias para os produtores de mas da regio.
4. RELAO DO TRABALHO COM A SUSTENTABILIDADE A Araucaria angustifolia uma espcie nativa do sul do Brasil de grande importncia ecolgica, econmica e cultural. Devido explorao no-sustentvel baseada na qualidade da madeira desta espcie, suas reservas naturais encontram-se exauridas e a espcie encontra-se atualmente classificada na categoria altamente ameaada na lista de espcies ameaadas da International Union for Conservation of Nature (http://www.iucnredlist.org/) e na Lista Oficial de Flora Ameaada de Extino do IBAMA (http://www.ibama.gov.br/flora/extincao.htm). Este estado de ameaa da araucria levou criao de leis nacionais impedindo o corte desta espcie. Apesar desta moratria reduzir a presso direta sobre os remanescentes de araucria, levaram tambm a uma demonificao desta espcie e o corte das plntulas responsveis pela regenerao natural das florestas tem se tornado uma prtica comum nas propriedades rurais da regio sul do Brasil. Assim, a utilizao da araucria como espcie produtiva de recurso no-madeireiro de valor agregado em SAFs possibilitar a conservao desta espcie em sua rea de ocorrncia natural, sem a resistncia encontrada devido proibio do corte, estimulando inclusive o seu plantio. Todavia, deve-se salientar a importncia de selecionar as matrizes para coleta de sementes visando implantao de plantios produtivos. Outro aspecto importante que deve ser mencionado o dilogo de saberes com os agricultores. A pesquisa formal com espcies arbreas como a araucria no desperta o interesse pela demora na obteno dos resultados, alm da falta do interesse de certos agentes econmicos. Assim, um conhecimento construdo e acumulado pelos agricultores ao longo de geraes pode ser um ponto de partida para a seleo e manejo adequados de uma espcie como a araucria. Alm disso, o uso da araucria para desenhar sistemas agroflorestais reflete as potencialidades e vantagens de espcies chave, multiuso e nativas do prprio ecossistema, tendo ainda uma funo ecolgica de extrema importncia, bem como um vnculo cultural forte com a populao local.
5. CONCLUSES E LIES APRENDIDAS Neste ensaio, reforamos a hiptese de que a araucria pode ser uma espcie til para a viabilizao de sistemas agroflorestais nas regies serranas do sul do Brasil, mediante seleo de gentipos superiores reconhecidos pelos agricultores. Alm disso, os dados obtidos mostram que estudos etnobotnicos tm um grande potencial no planejamento de SAFs utilizando Araucaria angustifolia nestes locais. No entanto, apesar das perspectivas promissoras das extrapolaes apresentadas, pesquisas mais aprofundadas so necessrias para confirmar a viabilidade socioambiental e, principalmente, econmica do uso da araucria em SAFs.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS Mantovani, A., Morellato, L. P. C.,Reis M. S. Fenologia reprodutiva e produo de sementes em Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze. Revista Brasil. Bot. V.27, p.787-796, 2004. CONSTANTIN, A.M. Quintais agroflorestais na viso dos agricultores de Imaru, SC. Programa de ps-graduao em agroecossistemas (Dissertao de mestrado) Florianpolis. Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. Guerra, M. P., Silveira, V., Reis, M. S., and Schneider, L. (2002) Explorao, manejo e conservao da araucria (Araucaria angustifolia). In: Sustentvel Mata Atlntica: a explorao de seus recursos florestais (Simes, L. L. and Lino, C. F., eds.), So Paulo: Editora SENAC, pp.85 101. ICRAF - International Centre for Research in Agroforestry. Agroforestry-the basics. 1999. Disponvel em <http://www.cgiar.org/icraf/ >. Acessado em 10/05/2000. WEBB, D.B.; WOOD, P.J.; SMITH, J.P.; HENMAN, G.S. A guide to species selection for tropical and sub-tropical plantations. Oxford: Commonwealth Forestry Institute, 1984. 256p. (Tropical Forestry Papers, 15). WIERSUM, K.F. Forest gardens as an intermediate land-use system in the natureculture continuum: Characteristics and future potential. Agroforestry Systems. v.61, p. 123-134, 2004. WIERSUM, K.F. From natural forest to tree crops, co-domestication of forests and tree species, an overview. Netherlands J. Agricultural Science. v.15, p.425-438, 1997.
7. TABELAS E FIGURAS
Tabela 1: Estimativas de volume aparente, incremento anual/ha e produo de pinho/ano para diferentes densidades de plantio, baseado na extrapolao dos dados obtidos na pesquisa. Nmero de plantas/ha Total em Volume aparente/ha* Incremento ao ano/ha* Produo de pinho/ha** 15 kg/planta 35 kg/planta 100 132,43 4,01 625 1.458 200 264,86 8,03 1.250 2.917 300 397,29 12,04 2.500 4.375 400 529,72 16,05 3.125 5.833 * Considerando incremento mdio anual de 0,041m 3 por rvore. ** Considerando 41,67% de fmeas. B A Figura 1: (A) Exemplar adulto de Araucaria angustifolia var. cajuv, presente em uma propriedade rural de So Joaquim no Planalto Serrano Catarinense, que foi utilizada como matriz; (B) Vista panormica de floresta de araucria, tpica do sul do Brasil. (Fonte: fotos dos autores).