Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
CRIAPASA
O Semanário dos Professores Nº 43 · 27 de Outubro de 2003
Centro
de Recursos
de Informação
e Apoio
Pedagógico
ASA suplemento
A Gestão da
Sala de Aula*
Apesar de tudo o que se possa escrever, a relação mais essencial que se estabelece no contexto
educativo é entre o professor e os seus alunos dentro da sala de aula. É sem dúvida uma relação
complexa visto representar uma perspectiva e personalidade diante de múltiplas e vice-versa.
Implica, portanto, uma invulgar capacidade de gestão de expectativas, emoções, carácteres, his-
toriais e esperanças.
O tema deste Suplemento impunha-se como forma de despertar os professores para formas de
melhor gerir a sala de aula e tudo o que ela contém.
Hoje sabemos muito mais sobre a actividade docente do que alguma vez soubemos. As investigações comprovam que
as acções dos professores na sala de aula têm duas vezes mais impacto no sucesso dos alunos que as melhorias de currí-
culo, a formação de professores e o envolvimento da comunidade. Sabemos também que uma das tarefas mais importantes
do professor é a gestão correcta da sala de aula.
Wang, Haertel e Walberg (1993) demonstraram a importância da boa gestão da sala de aula, analisando uma quantidade
impressionante de material para produzir uma listagem de 228 variáveis que afectam o sucesso dos alunos. De todas as
variáveis, a gestão da sala de aula é a que tem mais impacto no aproveitamento dos discentes. Esta conclusão faz sentido –
os alunos não conseguem aprender numa sala caótica e mal gerida.
Outros especialistas expandiram a investigação para compreender as dinâmicas da sala de aula. Stage e Quiroz mostraram
a importância do equilíbrio entre as acções do professores, demonstrando as consequências claras de um comportamento
inaceitável e das acções que reconheçam e elogiem comportamento aceitável.
Mesmo havendo várias componentes importantes para uma boa gestão da sala de aula, como a disposição da sala ou a
definição de regras, numa meta-análise recente, a mais de 100 estudos sobre o assunto, descobrimos que a qualidade da
relação entre o professor e os alunos é o alicerce de todos os outros componentes. De facto, verificou-se que os professo-
res que mantinham relações de qualidade com os seus alunos tinham 31 por cento menos problemas de indisciplina e insu-
bordinação que os outros docentes.
Quais são as características de uma relação professor-
-aluno eficaz? Primeiro vejamos que características não o Pelo contrário, uma eficaz relação professor-aluno é
são: um bom relacionamento professor-aluno não tem nada
a ver com a personalidade do professor ou se os alunos o caracterizada por comportamentos específicos do
encaram como um amigo. professor, como mostrar níveis adequados de
Pelo contrário, uma eficaz relação professor-aluno é autoridade, apresentar níveis apropriados de
caracterizada por comportamentos específicos do profes- cooperação e ter em atenção os alunos com
sor, como mostrar níveis adequados de autoridade, apre-
sentar níveis apropriados de cooperação e ter em atenção
necessidades educativas especiais.
os alunos com necessidades educativas especiais.
Autoridade
Em contraste com as conotações negativas associadas ao termo autoridade, como controlo estrito sobre a vontade de
outros, Wubbels define autoridade como a competência do professor para oferecer objectivos claros e orientações precisas
em relação ao comportamento e aos estudos do aluno.
Os estudos mostram que, quando interrogados sobre o tipo de comportamento que preferem num professor, este é o tipo
que a maioria prefere, em detrimento de professores mais permissivos.
Os professores podem mostrar autoridade adequada ao estabelecer expectativas claras de comportamento e aprendiza-
gem e mostrando uma atitude assertiva.
2 suplemento Outubro de 2003
correio da educação
A utilização de regras predeterminadas pode ajudar o professor a clarificar os objectivos, como este exemplo de um pro-
fessor de Matemática:
5 pontos – Compreendes as características das fracções e dos diferentes tipos. Podes descrever com precisão como é
que as fracções se relacionam com os decimais e as percentagens. Consegues converter as fracções em
decimais e explicar como o processo funciona. Sabes usar fracções para compreender e resolver diferentes
tipos de problemas.
4 pontos – Compreendes as características das fracções. Sabes como as fracções estão relacionadas com os decimais
e as percentagens. Consegues converter fracções em decimais.
3 pontos – Tens conhecimentos básicos da seguinte matéria, mas tens pequenas falhas num ou mais itens: as caracte-
rísticas das fracções; as relações entre fracções, decimais e percentagens; como converter fracções em deci-
mais.
2 pontos – Tens grandes problemas ou falhas em um ou mais dos seguintes itens: as características das fracções; as
relações das fracções, decimais e percentagens; como converter fracções em decimais.
1 pontos – Podes ter ouvido falar da seguinte matéria mas não compreendes o que significa: as características das frac-
ções; as relações das fracções, decimais e percentagens; como converter fracções em decimais.
A claridade de objectivos facultada por esta lista indica aos alunos que o professor pode orientá-los com segurança nos
conteúdos curriculares.
a capacidade de defender os próprios direitos de uma forma que impeça os outros de os ignorar ou ultrapassar (2003, p. 146)
Outubro de 2003 suplemento 3
correio da educação
O comportamento assertivo difere tanto do comportamento passivo como do agressivo e algumas das suas características
na sala de aula são:
– manter uma postura erecta, encarando os alunos mal-comportados mas mantendo uma distância suficiente para não
parecer ameaçador, e envergar uma expressão facial apropriada à mensagem a ser transmitida aos alunos;
– utilizar um tom de voz apropriado, claro e num timbre um pouco mais elevado mas emocionalmente neutro;
– persistir nas suas intenções até os alunos responderem com comportamento apropriado. Não ignore comportamentos
incorrectos nem se deixe levar pelas desculpas ou negações dos alunos, mas não deixe de escutar explicações legítimas.
Num estudo das estratégias de aula, os investigadores examinaram como os bons professores interagiam com vários
tipos de alunos e chegaram à conclusão que as melhores práticas não tratavam os alunos todos da mesma forma, mas
empregavam abordagens diferentes com diferentes tipos de alunos.
Estas relações específicas são o fundamento essencial para uma boa gestão da sala de aula e para o sucesso escolar
dos alunos.
A relação professor-aluno não deve ser deixada ao acaso ou ditada pelas personalidades dos intervenientes, mas estar
assente em estratégias baseadas em estudos científicos. A partir destas os professores podem influenciar a dinâmica da sua
sala de aula e construir boas relações com os alunos.
* Traduzido e adaptado de Robert Marzano e Jana Marzano, “The Key to Classroom Management”, in Educational Leadership (2003), vol. 61
n.° 1, ASCD, Alexandria.
Correio da Educação
Direcção: José Matias Alves; Coordenador de edição: Jorge Palinhos; Secretariado: Patrícia Barros
Redacção e secretariado: Av. da Boavista, 3265, sala 4.1 – 4100-138 Porto • Tel.: 226166030 • Fax: 226166034
Edição: CRIAP-ASA – Centro de Recursos de Informação e Apoio Pedagógico – ASA
Propriedade: ASA Editores, S.A. – Av. da Boavista, 3265, sala 4.1 – 4100-138 Porto; Tiragem: 1714 Exs.; Impressão: GRAFIASA
Depósito Legal: N.º 136 720/99; Assinaturas (36 números p/ ano): € 25; E-mail: ce@asa.pt