O devido processo legal e a vedao s provas ilcitas
Por Alexandre de Moraes
A garantia fundamental ao devido processo legal, diferentemente do que ocorria nos textos constitucionais anteriores, foi incorporada ao texto da Constituio de 1988 e proclamada em seu inciso LV, do artigo 5, em face de sua indispensabilidade proteo dos direitos fundamentais, pois configura dupla proteo ao indivduo, atuando tanto no mbito material de proteo aos direitos civis e polticos, quanto no mbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condies com o Estado-persecutor e plenitude de defesa, visando salvaguardar suas liberdades pblicas e impedir o arbtrio do Estado. O devido processo legal garante no mbito do processo sancionatrio seja penal, administrativo ou eleitoral a vinculao estatal a padres normativos, que, consagrados pela Constituio e pelas leis, traduzem limitaes significativas ao poder do Estado. Esses padres so consagradores de verdadeiro crculo de proteo em torno da pessoa do ru que jamais se presume culpado , at que sobrevenha irrecorrvel sentena que, condicionada por parmetros tico-jurdicos, impe ao rgo acusador o nus integral da prova, ao mesmo tempo em que faculta ao acusado que jamais necessita demonstrar a sua inocncia o direito de defender-se e de questionar, criticamente, sob a gide do contraditrio, todos os elementos probatrios produzidos, como frmula de salvaguarda da liberdade individual (HC 73.338/RJ). A integral exigncia de nossa Corte Suprema aos padres normativos e parmetros tico-jurdicos na colheita de elementos probatrios igualmente observado pelo Tribunal Constitucional Federal Alemo, ao se referir ao devido processo legal como fundamental para evitar abusos estatais e construir a confiana do povo numa administrao imparcial da Justia (Deciso Beschluss do Primeiro Senado de 8 de janeiro de 1959 1 BvR 396/53). No so por outros motivos que, como corolrio ao devido processo legal, nos termos da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, so inadmissveis no processo as provas ilcitas, definidas como aquelas obtidas com infringncia ao direito material, entendendo-as como sendo aquelas colhidas em desrespeito aos direitos fundamentais e inviolabilidades pblicas (por exemplo, por meio de tortura psquica, desrespeito a intimidade e vida privada, desrespeito inviolabilidade domiciliar, quebra dos sigilos fiscal, bancrio e telefnico sem ordem judicial devidamente fundamentada), configurando-se importante garantia em relao ao persecutria do Estado. A inadmissibilidade da utilizao das provas ilcitas no tem o condo de gerar a nulidade de todo o processo, pois, a previso constitucional no afirma serem nulos os processos em que haja prova obtida por meios ilcitos (HC 69.912/RS, HC 74.152/SP, RHC 74.807-4/MT, HC 75.8926/RJ, HC 76.231/RJ); Entretanto, a consequncia da ilicitude da prova sua imediata nulidade e imprestabilidade como meio de prova, alm da contaminao de todas as provas que dela derivarem. O posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal absolutamente pacfico no sentido da adoo da doutrina do fruits of the poisonous tree (fruto da rvore envenenada), ou seja, pela opo da prevalncia da comunicabilidade da ilicitude das provas (Rextr. 251.445-4/GO). Nossa Suprema Corte consolidou esse importante entendimento sobre a derivao da ilicitude da prova e contaminao de todas as demais provas dela diretamente decorrentes (HC 73.461-SP, HC 73.510-0/SP, HC 84.417/RJ, HC 90.298/RS), afirmando que qualquer novo dado probatrio, ainda que produzido, de modo vlido, em momento subsequente, no pode apoiar-se, no pode ter fundamento causal nem derivar de prova comprometida pela mcula da ilicitude originria, pois a excluso da prova originariamente ilcita ou daquela afetada pelo vcio da ilicitude por derivao representa um dos meios mais expressivos destinados a conferir efetividade garantia do due process of law e a tornar mais intensa, pelo banimento da prova ilicitamente obtida, a tutela constitucional que preserva os direitos e prerrogativas que assistem a qualquer acusado em sede processual penal (HC 93.050/RJ), mantendo-se, porm, vlidos os demais elementos do acervo probatrio, que so autnomos (HC 89.032/SP). As provas ilcitas e as ilcitas por derivao, da mesma forma que no podem ser utilizadas no procedimento de origem, tambm no podem ser reapresentadas de maneira reflexa, indireta ou aproveitadas como provas emprestadas em quaisquer outros processos penais, civil, administrativos ou eleitorais, pois contaminadas com o vcio insanvel do desrespeito aos Direitos Fundamentais (HC 82.862/SP). A consagrao do Estado de Direito exige fiel observncia ao princpio do Devido Processo Legal, e, consequentemente, as provas ilcitas bem como todas aquelas delas derivadas so constitucionalmente inadmissveis, mesmo quando reconduzidas aos autos de forma indireta, ou ainda, utilizadas como provas emprestadas, devendo, pois, serem desentranhadas do processo, pois so imprestveis para a formao do convencimento do magistrado e atentatrias a plena eficcia dos direitos fundamentais. http://www.conjur.com.br/2014-abr-11/justica-comentada-devido-processo-legal-vedacao- provas-ilicitas
OIT. Manual de Capacitação e Informação Sobre Gênero, Raça, Pobreza e Emprego. Questão Racial, Pobreza e Emprego No Brasil. Tendências, Enfoques e Políticas de Promoção Da Igualdade PDF