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Tecnologia e Porto do Açu - Uma análise socioeconômica

Rodrigo Losso Luz


Thiago Freitas de Guimarães Ferraz

Escola Politécnica/COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


Caixa Postal 68.529 – 21.945-97 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
losso@poli.ufrj.br thiagofgf@hotmail.com

Abstract. The technology is presented as the main development and progress


factor. In the current paradigm, it is welfare and, with science, is the way to
gather value to the most different kinds of products, being the key to the
competitiveness and to the social and economic development of an area.
Knowing so, it will be analyzed the Porto do Açu case, where the installation
of national and international enterprises in the enormous mineral complex
promises not only to transform the area into a strategic flowing off point, but
also to modify the whole surrounding place economically and socially,
allowing the local development, where had never been a place of government
concerning focus, be transformed into a great city. It will be also analyzed
whether the model is according to the current informational paradigm and
whether it is the right way to follow to achieve a real social impact increasing
life value.

Resumo. A tecnologia tem se apresentado como o principal fator de


progresso e desenvolvimento. No nosso paradigma, é tida como um bem
social e, juntamente à ciência, é o meio para a agregação de valores aos mais
variados produtos, tornando-se chave para a competitividade e para o
desenvolvimento social e econômico de uma região. Seguindo essa premissa,
analisaremos o caso do Porto do Açu, onde a instalação de empresas
nacionais e internacionais no enorme complexo mineral promete não só
transformar a região em um ponto de escoamento estratégico de produção,
mas também modificar todo o espaço que o rodeia econômica e socialmente,
possibilitando desenvolvimento local de uma região antes considerada sem
muita importância pelo Estado em uma grande cidade. Analisar-se-á se o
modelo está de acordo com o paradigma informacional vigente, e se é esse o
caminho para que realmente alcancemos um verdadeiro impacto social com
elevação do padrão de vida desses cidadãos.
"Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das
telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria
inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos
informacionais de todos os tipos. [...]". – Pierre Lévy – As tecnologias da Inteligência- O futuro
do pensamento na era da informática.

A tecnologia está certamente trazendo novidades para a sociedade de um modo geral e,


em particular, para a comunidade de informações. Seus impactos podem ser
caracterizados por novas formas de comunicação, como teleconferências, conferência
por computador, correio eletrônico etc., pela aproximação da ciência com a tecnologia,
pela redução dos tempos e por uma maior eficiência dos processos de comunicação.
Também é devida ao aumento da capacidade intelectual do homem, com aumento de
capacidade de processamento e de comunicação; a Tecnologia está transformando os
sistemas tradicionais de manipulação da informação. Não se deve esquecer, porém, que
o objetivo maior da tecnologia é servir ao homem, que deve manter o papel de
responsável pela tomada de decisões: cabe ao profissional da informação assegurar que
a tecnologia seja empregada a serviço da comunidade e da forma mais apropriada a cada
situação. Como diria Lévy, a tecnologia não é boa, nem má – depende do contexto,
costume, ponto de vista –, nem neutra – é condicionante, uma vez que ela única e direta,
abrindo e fechando leques de possibilidades de utilização da mesma. Diz ele que não se
trata de avaliar os ''impactos'', mas de descobrir o irreversível a que tais usos
tecnológicos nos conduziriam, colocando-o em um contexto social amplo, em parte
determinado pela técnica, em parte pelo próprio contexto social, evidenciando-se sua
correlação foco do artigo.

Embora possa parecer que, para a maioria das pessoas, as grandes transformações pelas
quais passamos sejam frutos quase exclusivos das técnicas, podemos dizer que há quase
um consenso sobre o fato de que os impactos existentes na relação sociedade-cultura
são recíprocos e dinâmicos. Indubitavelmente, a técnica impacta muito fortemente na
sociedade contemporânea, mas esse fato, quiçá inebriante, não pode mascarar a
interdependência da realidade entre a tecnologia e sociedade.

Após a Revolução Industrial, a economia contemporânea foi moldada e, por


conseguinte, moldou a sociedade na era capitalista. Após esse marco histórico, a
concorrência aumenta progressivamente, acentuando a internacionalização dos
mercados. Com a redução de impedimentos ao comércio externo e aumento do fluxo de
capitais, hoje, no mercado financeiro, circulam cerca de 35 trilhões de dólares em
negócios derivativos. Essa internacionalização progressiva, devida à magnitude do
aumento da competitividade, põe em cadeia todo o ciclo de globalização.

Diversas são as formas de estudo de um impactante modelo em uma conjuntura


econômica local. Um exemplo concreto e de grande influência no meio para o qual
voltaremos esse artigo é o caso do projeto do Porto do Açu. Desenvolvido pela LLX,
empresa do grupo EBX, o Super Porto do Açu é um terminal privativo de uso misto,
que está sendo agora instalado em São João da Barra, no norte fluminense, próximo à
maior área de produção de petróleo e gás do Brasil.

Em virtude da grandiloqüência do projeto, é evidente que trará muita modificação. O


que são essas modificações? São boas? Para quem são? São imaginados milhares de
benefícios que o projeto traria. Até onde esse projeto seria de fato o de que o Brasil
precisa? E até que ponto ele segue os moldes do paradigma vigente?

Super Porto do Açu

Com sua construção iniciada em outubro de 2007 e área de 7,8 mil hectares, será uma
alternativa para o escoamento da produção dos estados do Centro-Oeste e Sudeste do
país, que atualmente sofrem com a falta de acessos logísticos. Terá grande profundidade
(18,5 metros) e capacidade de receber navios de grandes portes (220 mil toneladas).
Possuirá uma retro área para armazenamento dos produtos que serão movimentados,
além de um complexo industrial contíguo: a área industrial abrangerá uma
termoelétrica, siderúrgicas, usinas de pelotização de minério etc. A meta é exportar 63,3
milhões de toneladas de minério de ferro ao ano, além de 11,2 milhões de toneladas ao
ano de produtos siderúrgicos.

Lá, implantar-se-á uma unidade termelétrica de 2.100 MW que atenderá a todo o


complexo, inclusive as empresas instaladas na área industrial com o fornecimento de
energia confiável e direto. O início da operação do Super Porto do Açu está previsto
para 2011; cerca de 1.500 pessoas trabalham na construção do porto, e metade reside em
Campos ou em São João da Barra. Enfim, um projeto de grande complexidade.

O empreendimento já atrai empresas de vários setores econômicos, interessadas nas


condições logísticas privilegiadas (siderurgia, indústria automotiva e metal-mecânica
etc.). A LLX desenvolve 40 programas ambientais e sociais na região; além disso, a
LLX apoia projetos ligados à saúde das comunidades locais, por meio de investimentos
para a melhoria de postos de saúde das comunidades de São João da Barra.

O Super Porto do Açu é um complexo industrial que promete a instalação de várias


empresas, sobretudo chinesas, cujos aspectos conseguintes retrataremos em breve. No
entanto, desafortunadamente, não haverá um polo de pesquisa e de desenvolvimento na
aplicação dessa matéria que lhe agregue valor intelectual; essas empresas usufruirão da
matéria prima que abunda na região por ser uma área estratégica de seu escoamento.
Até onde esse complexo será favorável aos interesses brasileiros em longo prazo? Há,
também, uma interação polêmica do Estado com a iniciativa privada: o projeto, 100%
privado, é festejado pelo Governo Federal, Estadual e Municipal. O Estado está
desapropriando muitas terras na região de São João da Barra. Até onde essa interação é
positiva? De acordo com o que disse em entrevista (apêndice) o professor, mestre,
MBA, Ph.D Sérgio B. Villas-Boas, essa interação do Estado com o capital particular
sempre existirá. A partir do momento que uma iniciativa privada paga seus respectivos
impostos, ela está interagindo com o Estado; no entanto, para um projeto nessa devida
escala, as interações serão maiores, o que não é nada insensato. Ele diz que a idéia é:
“Suponhamos, eu te dou uma terra agora, deixo você trabalhando lá e daqui a pouco
você vai ter que pagar no imposto para mim. É um tipo de investimento que o Estado
faz. Eu te dou agora e você vai ter que dar depois para mim, essa é a idéia mais ou
menos do Estado, que é razoável.”

Entrevistando o morador e trabalhador local Denis Tolêdo (apêndice) sobre essa


interação, em especial na desapropriação de terras por parte estatal, foi afirmado que
existem, de fato, muitas terras improdutivas, ou que produzem pouco, e outras
produzem e até vendem muitos produtos agropecuários para o Rio e mercados locais.
Porém, segundo Denis, a questão da desapropriação não é quem produz ou não em suas
terras, mas, sim, de essas pessoas terem que sair de suas propriedades por um preço que
o Estado acha justo. Em suma, acha injusta a desapropriação de um povo que sempre foi
esquecido pelas autoridades.

Outro fator discutido é a respeito da vinda dos milhares de chineses para a região.
Questiona-se sobre a instalação deles no local, se haveria algum programa para que
melhorasse a adequação sócio-cultural dos mesmos ao meio e sua integração à
sociedade ou, até mesmo, sobre o que aconteceria com eles após o término do projeto.
Villas-Boas que, ademais, estudou e escreveu livros sobre a cultura e escrita chinesa
além de ter morado no Japão e entender bastante da cultura oriental, cogita a
possibilidade da manutenção dos chineses aqui, mas em uma visão imprevisível.
Moradores entrevistados, Denis Tolêdo e Ademir Moore (apêndice) acham que a
qualquer cultura que venha de fora interferirá na cultura local, mas não que seja um
problema, pois influenciarão da mesma forma em sua cultura. Dizem que qualquer
empresa que vá para a região é benéfica, independentemente da origem, afirmando que
grandes empresas gerariam grandes negócios.

Com a necessidade de abrigar as várias empresas e empregados, serão precisos esforços


na área de infra-estrutura da cidade. A CEDAE já está com um projeto de ampliação do
sistema de distribuição de água. O Setor de Transporte do Governo também já está
pensando em um projeto de melhora das ruas e das estradas que dão acesso à cidade; a
LLX prevê a construção de casas, hotéis e as condições necessárias para abrigar o
projeto. No entanto, isso ainda não está sendo percebido, até agora, pelos moradores e
trabalhadores: Ademir não acredita que esses esforços sejam realizados para a cidade e
que o município deve crescer ao redor da Praia do Açu; Denis disse que não se vê nada
se movimentando em direção à infra-estrutura até o momento.

Com a obra, é-se dito que serão criados 50 mil empregos, sendo que na cidade há
apenas 30 mil habitantes ou se existem projetos de capacitação. Villas-Boas definiu essa
situação como um problema bom e refletiu que deveríamos mesmos é nos preocupar
com o problema inverso. "Se eu estou com um empreendimento e ele requer mais gente
do que a cidade tem no momento, isso é um problema. As pessoas terão que comer,
transportar (sic), morar, mas é um problema bom. De uma maneira geral, fora o
exagero e a falta de planejamento que poderá haver, mas de uma maneira geral, ter
muita coisa par fazer dentro de uma atividade econômica considerada legal, de estar
dentro da lei, é um problema bom. [...] O problema oposto é muito pior. Tenho 30 mil
empregos e 50 mil pessoas, aí os caras ficam desesperados”. Em enquete realizada em
uma comunidade virtual, a questão de geração de empregos é primordial para a
satisfação dos moradores. À pergunta “Qual sua opinião sobre o Porto do Açu?”, 41%
respondeu que achava muito bom, uma vez que traria emprego, acompanhada de regular
(25%), bom (23%), ruim (7%) e péssimo (2%).
O social

Foi dito no resumo deste artigo que a tecnologia “é tida como um bem social” . Como
já dizia Pierre Lévy “a tecnologia não é boa , nem ruim, nem neutra”, ela dependerá do
contexto no qual a empregamos. Para que nesse caso do Porto do Açu ela não seja vista
como vilã, é preciso de que algumas premissas sejam cumpridas e que o Estado aja
como moderador e preze prioritariamente pelo bem social desses cidadãos.

É dito pela LLX que o projeto geraria mais de 50mil empregos em São João da Barra.
Porém, uma questão que é levantada pelos moradores consiste na veracidade dessa
afirmação. Segundo Denis, os moradores não têm a qualificação necessária para agarrar
os melhores empregos. É oferecido apenas um curso de capacitação para trabalhos
menores como operário e mecânico. O mesmo é defendido por Villas-Boas que propõe
a seguinte questão. Será que é realmente esse tipo de emprego que ocasionará uma
mudança da realidade local? Se, ao contrário, houvesse um esforço do Estado na área
acadêmica de criar uma mão-de-obra mais especializada e que fosse capaz de atuar nos
processos que exigem maior valor intelectual, maiores e melhores empregos seriam
destinados a esses moradores, não sendo este totalmente agarrado pelos chineses ou por
capital humano externo. Como disse Manuel Castells em uma entrevista para
elpais.com, "sem educação a tecnologia não serve para nada".

O projeto também estima o crescimento populacional de mais de 200 mil habitantes em


10 anos. Vemos que o abrigo dessa conseqüência tecnológica impacta a sociedade de
forma impiedosa e, se uma infra-estrutura de qualidade não for oferecida de suporte a
essa região, teremos em breve uma cidade fruto do descaso, onde, sem um forte poder
moderador do estado, é possível que após a construção do Porto haja desemprego e,
com o crescimento populacional desenfreado, o surgimento de favelas e caos urbano se
não houver o projeto logicístico necessário para a cidade.

Vemos, assim, que o Estado exerce papel fundamental nesse relacionamento da cidade
com o projeto. É evidente que uma obra desse porte necessite de todo o suporte de infra-
estrutura para que a região o agüente e também para que não aconteça - o que foi
apontando por um dos moradores de entrevista - o mesmo que houve com a cidade de
Macaé. Lá houve também um grande projeto, porém não ocorreu elevação do padrão de
vida destes cidadãos, muito pelo contrario, após seu término parece que o compromisso
social também teve fim e hoje vemos uma cidade com alto índice de violência,
desemprego e favelização.

Vale do Silício do Mineral?

É indiscutível que um projeto desta proporção e grandiosidade seja algo que deva ser
apoiado e usado como exemplo de ousadia empreendedora no Brasil. Sofremos com a
falta dessa ousadia e, quando um empresário toma todos os riscos de resolver investir
em algo que envolve tanta gente e uma produção de larga escala, o mesmo deve ser
reconhecido.

Este projeto consiste na instalação de tecnologia que vem de fora (como exemplo, a
grande siderúrgica chinesa), na manipulação e no escoamento de produtos primários. É
algo que promove o desenvolvimento nacional economicamente falando? Sim; porém,
esse caminho nos equipara aos países de primeiro mundo? Garante aumento pesado de
empregos de qualidade e salários justos?

Ivan Marques nos fala sobre os tipos de investidura econômica, e tenta abrir nossos
olhos para a investidura de “virtualização” dos produtos. A parte da produção que
engloba projeto, concepção, marca, a parte que geralmente se concentra nos países sede,
é onde ocorre a maior parte do valor agregado ao produto, além de concentrar a maior
parte de mão de obra especializada e maior numero de empregos. É evidenciada em seu
livro a acentuada diferença do contingente empregado nos países sedes e nas filiais
destas. Conclui-se que a riqueza concentra-se onde a “virtualização” ocorre, e onde o
produto ganha forma.

No caso do Porto do Açu, se vê o tratamento de produtos minerais, que são importantes


para a economia, mas que, porém, não deve ser o único foco nacional. O ferro que
exportamos será utilizado lá fora na concepção de produtos mais elaborados, como
carros, máquinas. Produtos onde exige implicação pesada de informação e que agregam
maior valor. Como disse em entrevista o PhD em Engenharia de controle e conhecedor
da cultura chinesa Sérgio Villas-Boas “A gente exporta para china e outros países o
nosso produto primário, eles o modificam e o transforma em uma mercadoria com
muito mais valor agregado para nós inclusive. Essa não é uma relação de troca que
esteja em longo prazo de nosso interesse”.

A relação com a China graças à forte globalização das etapas produtivas do mundo
atual é um ótimo começo para nos relacionarmos economicamente com esse país de
crescimento grandioso. Porém, não devemos somente importar sua tecnologia e
produzi-las aqui, devemos também realizar o papel de exportadora de tecnologia, para
que ambas as partes saiam ganhando.

Ao adotar essa postura de “virtualização” e além de criar um pólo industrial, incorporar


um pólo acadêmico de pesquisa e desenvolvimento sobre os produtos, em vez de
oferecer pequenos empregos com baixa capacitação à região de São João da Barra,
poderia se estar sendo gerada uma massa de mão-de-obra qualificada, com elevação dos
salários e forte desenvolvimento local.

Ao aliar o forte investimento do capital privado, compromisso do estado, criação de um


pólo acadêmico que dê suporte técnico ao complexo integrando a parte de pesquisa e
desenvolvimento ao projeto, todos estes atores integrados exercendo essa interação
virtuosa, seria possível, porque não, enxergar no complexo industrial do Super Porto do
Açu, um Vale do Silício Mineral. Onde, com o desenvolvimento local, todos os
empregos, até os de baixa capacitação como cabeleireiros, têm seus salários elevados,
devido ao desenvolvimento econômico e social gerado graças a essa elevação do padrão
de vida de seus moradores, o padrão Vale do Silício de Primeiro Mundo, cujo sucesso já
conhecemos de longa data.
Referências bibliográficas:

- Pierre Lévy – As tecnologias da Inteligência- O futuro do pensamento na era da


informática. São Paulo: Editora 34, 2004, 13a. Edição.
- Marques, Ivan da Costa - O Brasil e a abertura dos mercados.
http://jornalsportnews.blogspot.com/2009/07/espera-dos-chineses-sao-joao-ja-
estuda.html
http://blogrobertobarbosa.blogspot.com/
http://atrolha.blogspot.com/2009/08/imobiliaria-governo-do-estado-sa.html
http://maurafraga.blogspot.com/2009/07/eike-atrai-chineses-para-o-rio-e-es.html
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=27717549
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=161148
http://www.ebx.com.br/
http://www.governo.rj.gov.br
http://www.llx.com.br/
http://www.faced.ufba.br/~menandro/textos/texto_tamara.pdf
http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/123/40/
http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna_col.asp?panorama=170&tipo=C
http://www.slideshare.net/lmbg/tecnologia-e-sociedade
http://www.espacoacademico.com.br/048/48rattner.htm

- Entrevista com Sérgio B. Villas Boas


Denis Tolêdo
Ademir Moore
Apêndice

Entrevista com o Sérgio B. Villas-Boas.

# MBA in Competitive Inteligence and Knowledge Management by CRIE (2000).


# Ph.D. in Control Engineer, by Chiba University, Japan (1998).
# Master in Electrical Engineer, emphasys in control, by COPPE-PEE (1991).
# Electronic Engineer byUFRJ-DEL (1987).
# Electronic Technician by CEFET-RJ (1981).

Professor, o senhor vinha falando e mostrando interesse sobre o projeto e, dessa


forma, gostaria de saber do senhor quais são, em sua opinião, as maiores implicações
sociais com a vinda dos milhares de empregados do complexo industrial, inclusive os
chineses.

Esse é um bom tema. Não sou um especialista, mas tenho conhecimento da imprensa.
Projeto Grande, privado, grande empreendedor privado, envolve infra-estrutura,
aspectos internacionais, questões judiciais, deslocar pessoas, só pode ser feito por
profissionais da área financeira, política, sociais. Acredito profundamente na livre
iniciativa. Gosto de ver empreendedores de tamanho grande se movimentando nessa
maneira. O projeto é muito bom, inclusive por estar se relacionando com a China, que é
outro país que tá mostrando de sobra como é importância e não é fácil se comunicar
com o oriente. Então, respeito muito a pessoa que tem a capacidade de ser ativa e
interesse por uma coisa desse tamanho.

Gostaria de saber, também, da sua opinião no que diz respeito à obrigatoriedade do


ensinamento do mandarim nas escolas públicas. Isso seria suficiente na integração
dos chineses à realidade local?

Escrevi um livro de chinês, de introdução ao chinês. Eu sei um pouco de mandarim,


suficiente para escrever aquele livro, gostaria de saber muito mais do que sei, mas o
suficiente para escrever o livro, que fiz juntamente ao Rubens Nemitz, que se dedica
integralmente. Que já fez inúmeros serviços para empresários, Eike Baptista. Ele faz
muita coisa e gera serviços. Eu fui ao Japão, depois fiquei trabalhando 5 anos em
editoração, quando envolve-se com letras orientais. Achava interessante. Gostava
porque a China está em processo de crescimento já há um tempo, mas ainda tem muito
que, então a hora pra estudar a China é agora, então achei o momento necessário que
houvesse uma maneira de introdução, não que falte, mas um material em português,
bem escrito. Quando eu fui para o Japão, em 1993, você começa a estudar um monte de
coisa e você tem aquela sensação que por mais que você estude um monte de coisa, fica
parecendo que lhe falta mais e mais, algo que só quem passa, sabe o que é, um completo
0 a esquerda. Eu comecei a ter um conhecimento melhor do japonês quando comecei a
estudar a história, aí que vi, estudando a história do idioma, como funcionava. Não é
possível que aquilo não tivesse uma razão de ser. Aí, sim, comecei a entender melhor.
Claro que ainda falta muito, mas foi um grande avanço.

A primeira coisa a fazer é dar um pequeno insight cultural básico para que não sabe
absolutamente nada. Imagina que um chinês chegue e não consiga distinguir você de
um boliviano. É o fim da picada. É o mínimo. Se o cara sabe pelo menos que o Brasil é
o único, por exemplo, país da América do Sul português, que vem de Portugal, que a
Bolívia é um país que tem índio ainda, até Brasil tem índio, que não sabe falar
português, que no RJ tem Carnaval, Bumba meu boi é do Norte, o Sul tem outros tipos
de imigrantes. O meu livro é sobre isso, não dá para abri-lo e sair falando fluentemente,
mas passa uma noção. Mas o que acontece é que a gente não sabe nada. Confundir
chinês de um japonês é quase tão grosseiro quando não distinguir um brasileiro de um
boliviano. Por que eles têm 2 alfabetos? Quais são os principais dialetos que eles falam?
Por que tem 4 bancos centrais. Por que 6 categoriais de ideograma, 4 tons de vogal
(pelo menos um dos dialetos). Damos a visão do país de uma visão geral. A partir do
momento que se começa a observar que estamos nos aproximando cada vez mais da
china, a gente tem que começar a ter uma noção básica da cultura deles e faz muita
diferença. Chegar lá sabendo nada e sabendo pouco faz muita diferença.

O que acho que vai acontecer na prática é o seguinte: quem for mais atirado, mais
capaz, vai aprender direito. Vai ter uma pequena quantidade de pessoas que fala bem
chinês e português para resolver problemas de comunicação. Mas isso é um objetivo
muito audacioso. Vai ter que ter outra camada que fala mal, mas que quebra vários
galhos. Você não percebe, mas você pode facilmente insultar uma pessoa se você não
entende os padrões culturais dele. E você cria uma série de atritos com isso, você
precisa conhecer códigos das pessoas, precisa criar um relacionamento razoável. A
China sempre teve uma tendência a ficar meio isolada do mundo. O ocidente teve duas
guerras do ópio e uma mundial e a china não soube se defender e apanhou muito com
essas guerras. Agora, eu sinto que é como se fosse uma vingança. "Agora eu entendi
como o mundo funciona, é hora de massacrar". Não vão esperar, vão dominar tudo,
impiedosamente. Não é errado, eles estão fazendo um jogo econômico. O que temos
que fazer é entender isso e fazer o que temos que fazer. Eles estão com essa punjância
toda. Eles existem e nós temos que relacionar com ele.

É dito que gerará 50 mil empregos na cidade. Acredita que a cidade possui condições
de absorção desses empregos, conhece algum projeto de capacitação?

Vou responder pergunta por pergunta, se você me permite. Se você tiver que criar uma
empresa, e tiver um milhão de clientes na sua empresa, você acha isso um problema?
Não, né? Não, mas é! Isso é o que eu chamo de um problema bom. Se eu pego uma
empresa e tem muito cliente, é um problema, mas um problema bom, porque a empresa
não tem condição de atender uma quantidade muito grande de cliente, ele vai ter que
fazer alguma coisa pra resolver o problema. Se eu estou com um empreendimento e ele
requer mais gente do que a cidade tem no momento, isso é um problema. As pessoas
vão ter que comer, transportar, morar, mas é um problema bom porque de uma maneira
geral, fora o exagero, fora a falta de planejamento que poderá haver, mas de uma
maneira geral, ter muita coisa par fazer dentro de uma atividade econômica considerada
legal, de estar dentro da lei, é um problema bom. Esse problema bom pode vir a ser um
problema grave, pois pode criar outras estampas de conflitos. Mas, de maneira geral,
pode ser resolvido. Tem-se dinheiro, precisa-se contratar 50 mil pessoas, mas estou com
um bilhão aqui disponível para isso, vamos resolver o problema. O problema oposto é
muito pior. Tenho 30 mil empregos e 50 mil pessoas, aí os caras ficam desesperados.
Começam a criar um monte de problemas... Fome etc, vai fazer o que se não tem
emprego? É um problema, mas é um problema bom.

Nós do setor tecnológico, encontraríamos oportunidade com a obra, direta ou


indiretamente? Você acredita que essa instalação trará mais emprego ao Brasil de
forma geral?

Com certeza absoluta. Direta ou indireta. Contudo, não tem ninguém bobo no mundo.
Pra bom entendedor, nunca teve. É muito fácil você só pegar as oportunidades ruins. Os
empregos não têm todos a mesma qualidade. Tem empregos e empregos. O cara que tá
no nível do Eike Baptista está querendo viabilizar o plano principal e não está errado
nisso. Então, pode muito bem acontecer de num grande negócio, o chinês falar "Não,
então eu te dou isso que você quer, então, em compensação, eu vou botar no contrato
que eu vou fazer todo o serviço de tecnologia de informação baseada em uma empresa
chinesa." Podem fazer isso. Aí resta para cá os empregos 'ruins'. Servir cafezinho para
os caras que tão trabalhando para eles. Isso é emprego? É. Mas não é a qualidade que se
está procurando. No emprego de qualidade, ninguém dá nada para ninguém no mundo.
Ninguém nunca deu nada para ninguém no mundo. Estamos exatamente iguais como
sempre estivemos. Se você quer emprego de TI, você tem que lutar por isso. Tem que
lutar sempre. Lutar mesmo. Não tem nenhuma garantia, a priori, de que ficaremos com
os empregos de boa qualidade. A gente vai ficar com algum tipo de emprego. E como
todo mundo é agressivo em todos os sentidos, todo mundo quer pegar os melhores
empregos para si próprio, a gente pode tanto como ficar como não ficar, não sei. Agora,
o Eike Batista é brasileiro. Ele sabe que emprego de TI está relacionado à inteligência
do negócio, talvez, por esse motivo, queira ficar com esses empregos para pessoas mais
solidárias a ele. Se ele ficar colocando pessoas chinesas que não se comunicam muito
bem com ele, ele vai perder o controle de tudo. Então pode ser a gente consiga resolver
o problema dos empregos de boa qualidade por uma razão econômica. Mas tudo é
negociado, ninguém dá nada para ninguém. Nunca deu. Mas, em geral, você ter
atividade econômica é a fonte original das oportunidades.

Acha que a forte integração entre Estado e iniciativa privada será fundamental para
o êxito do projeto? O Estado mostra grande interesse no desenvolvimento da região
com a instalação do complexo. Acredita que o Estado manterá esse compromisso?

Essa pergunta é uma pergunta ideológica. Você se dá conta disso? Você poderia repetir?

Se essa integração entre estado e a iniciativa privada é fundamental ao êxito, pois o


estado está demonstrando muito interesse no projeto; estão dando as aulas de
mandarim, projetos na CEDAE de aumentar a água local, sistemas de transporte em
desenvolvimento. Não se sabe se isso está se dando apenas no início do projeto e vai
terminar quando o projeto acabar. Assim como aconteceu em Macaé. Havia um
super projeto, o estado garantiu as necessidades de infra-estrutura, mas, quando o
projeto acabou, eles não mantiveram compromisso, as pessoas que tinha emprego no
projeto ficaram sem emprego, ocorreu favelização, as mazelas das cidades grandes.
Quando se está construindo, você tem um tipo de serviço que é temporário, que pode ser
temporário até por um período longo. O cara que constrói não é o mesmo cara que
opera. Se esses caras são chineses, eu sei que tem chinês lá construindo, eles poderiam
botar "você é chinês e você só tem visto para trabalhar no projeto e depois terá que ir
embora." Se você botar 50 mil chineses aqui, depois você vai fazer o que com eles? Isso
é um projeto político e vou dar meu palpite como brasileiro. Acho que não deveria
aceitar. Todos os países hoje em dia, quando aceitam imigrantes, eles fazem antes uma
análise da qualidade da pessoa. Pessoa de baixa qualificação, em geral, não é
considerada de boa qualidade para efeitos de melhoria da sociedade. A própria
existência do chinês como indivíduo que vai trabalhar já é bastante discutível.

O que o senhor acha que acontecerá com os chineses depois do término do projeto?

Eu não sei o que vai acontecer porque eu não estudei o projeto em detalhe, mas posso
imaginar. Vai trabalhar 3 anos aqui, gosta daqui e depois vai ficar pedindo para ficar. Aí
vai se fazer o quê? Onde irão morar etc. Isso é um problema que envolve o estado, pois
você mexe com a terra, você mexe com tudo, você está envolvendo a sociedade como
um todo. E até que ponto o Estado tem que se relacionar com a empresa privada? O
Estado sempre se relacionou. E o estado vai sempre acabar se relacionando com a
iniciativa privada mesmo que indiretamente. Quando ele te cobra imposto, ele está se
relacionando contigo. Nesse caso, o relacionamento é grande porque o projeto é maior.

O Estado está também desapropriando muita terra...

Muita terra. Mas isso sempre aconteceu, projetos que tem um tamanho vão gerar um
emprego, que vão gerar uma receita para o estado depois... A ideia é a seguinte: Eu
estou uma terra agora, deixo você trabalhando e daqui a pouco você vai ter que pagar no
imposto para mim. É um tipo de investimento que o Estado faz. Eu te dou agora e você
vai ter que dar depois para mim, essa é a idéia mais ou menos do Estado, que é razoável.
Um empreendimento muito grande já tem muito problema, se ele ficar pagando preço
de mercado capitalizado no que vai usar, vai ter uma hora que ele vai largar tudo. Aí
não tem condição.

Você acredita no futuro desse projeto?

Acredito. Você não vê empresários se movimentar nessa proporção para depois


perderam uma tonelada de dinheiro. Gente profissional, quando se mexe, se mexe para
ganhar. O cara avalia todos os riscos antes de tomar as decisões e quando as toma, está
com vontade de fazer o projeto até o final. Só tem valor se for feito no completo. E é
gigantesco o projeto. Acho que dá para fazer pelo perfil dele, assim como fez outros. É
um empresário grande, ligado a pessoas boas, um projeto que faz sentido, eu acho que
vai.

Compararia a um Vale do Silício mineral?

O projeto é bom e está muito relacionado à área de mineração. Como o Brasil se


posiciona em atividades muito primárias, é bom, mas não é aquela coisa. Eu tenho
interesse, acho mais bonito, quando o Brasil consegue exportar produtos que para
produzir é requerido que existam neurônios, aí que é bonito, que é o que todo mundo
sempre quis fazer. Podemos chamar isso de exportar valor agregado. A gente exporta
para china e outros países o nosso produto primário, eles o modificam e o transforma
em uma mercadoria com muito mais valor agregado para nós inclusive. Essa não é uma
relação de troca que esteja a longo prazo de nosso interesse. No entanto, tem-se que
aproveitar as oportunidades que tem. O Brasil tem ferro e agora todo mundo quer ferro,
vai fazer o que? Deixar o ferro pra lá e deixar gente com fome aqui? Primeiro você
vende o ferro para poder desenvolver, depois que você tiver com aquilo funcionando
você inventa outra coisa para fazer. Um belo dia você começa já não vendendo mais
ferro, mas só ferro processado ou aço. Mas tem que prestar atenção, porque não tem
ninguém bobo no mundo, nem nunca teve.

Em uma negociação, você não leva o que merece; você leva o que consegue.
Entrevista com Denis Freitas Tolêdo, morador e trabalhador da região.

1) O que acha do desapropriamento pelo governo das terras de proprietários


rurais para ceder ao projeto da LLX?

Vamos aos fatos: muitas terras são improdutivas, ou produzem pouco, e outras
produzem e até vendem muitos produtos agro-pecuário para o Rio e mercados locais,
isso é um fato, mas a questão não é quem produz ou não, mas sim essas pessoas terem
que sair de suas propriedades por um preço que o Estado acha justo. Pergunto eu, quem
tem uma propriedade, que por ventura seja avaliada em R$ 100 mil, é muito dinheiro?!
Não é, essas pessoas não irão comprar nem um terreno aqui por perto com esse valor,
muito menos reconstruir suas vidas da maneira que vivem hoje. Acho injusto a
desapropriação de um povo que sempre foi esquecido pelas autoridades, penso que
quem quiser vender, arrendar, que o faça pelo preço que achar conveniente e justo, e
que essa negociação seja feita diretamente com a LLX e/ou outras empresas
interessadas, que por interesse grandioso, darão um preço bem mais condizente com o
tamanho de propriedade. Sou estritamente contra essa desapropriação!

2) O que acha dessa forte interação Governo x Empresa Privada? É vantajosa à


cidade? Ou só para a empresa e os governadores?

Bem, nem o próprio Estado Brasileiro tem conseguido as licenças necessárias para
grandes obras como a LLX tem conseguido, esse é apenas um ponto, o outro é a
aproximação demasiada da prefeita da cidade e do governador do Estado com o
empresário responsável pelo empreendimento, isso assusta um pouco, principalmente
sendo nós brasileiros carentes de governantes sérios e que estejam do lado do povão. A
LLX em fazer algumas doações (como tem feito de viaturas para PM, posto de saúde do
Açu...) acabam ajudando a administração pública, mas sabemos que ela nada perde com
isso, pelo contrário, quer ganhar a morosidade da população à custa de redução em suas
contribuições (impostos) aos governos, poucos sabem disso. E mais o posto ampliado
não é a certeza de bom atendimento, uma vez que muitas vezes esse atendimento é
inexistente. Então, respondendo a sua pergunta, em nosso país os interesses quando são
reais, valem mais para os “grandões”, os políticos e empresários saem ganhando sempre
muito mais que a própria população.

3) O que pensa sobre a instalação e a tentativa de integração dos chineses à cidade?


Essa integração, em sua opinião, é ruim? Trará perda de identidade cultural à
região?

Qualquer cultura que venha a se instalar numa cidade, seja ela do próprio país, ou que
venha de outro interfere sim na cultura local, mas não acho que seja um problema essa
questão, pois da mesma maneira que seremos “afetados”, também iremos influenciar a
cultura deles. No mundo globalizado isso é comum...

4) Com a necessidade de abrigar as várias empresas e empregados, serão precisos


esforços na área de infra-estrutura da cidade. A CEDAE já calcula um projeto de
ampliação do sistema de distribuição de água. O Setor de Transporte do governo
já pensa em um projeto de melhora das ruas e das estradas que dão acesso à
cidade. A LLX prevê a construção de casas, hotéis e as condições necessárias para
abrigar o projeto. Você acredita que esses esforços serão realizados? Concorda, de
fato, que a cidade tem o potencial de virar uma grande cidade?

Os investimentos e planos são muitos pelo poder público, porém até o presente
momento não vemos nada. Ah, sim, vemos, a arrecadação de impostos e tributos ta
prefeitura evoluir muito, mas sem qualquer retorno em serviços de qualidade a
população local, não temos sequer um hospital de médio porte, com UTI e
equipamentos para exames, ao contrário de outros municípios, como Quissamã e outros,
à maior parte de nossos problemas temos que recorrer a cidade vizinha Campos. Para se
ter uma idéia, a atual administração pública tenta colocar um programa simples, de
internet “gratuita”, desde o primeiro ano de mandato e até agora o que conseguiu é
fazer um monte de gente comprar os equipamentos que não estão funcionando ou que
funcional muito precariamente, isso é apenas um exemplo bobo do que a falta de gestão
consegue NÃO FAZER. Não acredito que sejam feitos esses investimentos, não temos
no momento uma gestão eficiente.

Visto que temos tantos problemas em todas as áreas de infra-estrutura (hospital,


estradas, saneamento...), tenho certeza de que a nossa cidade não se encontra preparada
para tamanho investimento e nem que a nossa população esteja capacitada para disputar
bons cargos em empresas de grande e médio porte.

5) A cidade tem condições de absorver os empregos gerados pela obra? Ou seja,


realmente a cidade será beneficiada pelos 50 mil empregos prometidos?

Essa resposta é obvia, claro que não, até porque nem temos esse número de habitantes, e
mesmo se tivéssemos não estariam todos desempregados. Sem a intervenção do poder
público já vemos a nossa cidade evoluir vagarosamente de forma desorganizada. Não
temos sequer uma valorização do comércio local, a ARG, por exemplo, compra a maior
parte de seus insumos do Estado de Minas Gerais, quase nada compra-se aqui em nosso
Estado e si quer em São João da Barra.

6) A criação desse pólo mineral em São João da Barra, com a instalação da


iniciativa privada, investimento do Estado, integração com as universidades
(discurso da LLX), pode-se equiparar a cidade a um Vale do Silício mineral. Como
encara essa forma de visão do futuro?

Desconheço essa questão, mas em relação aos discursos da LLX são lindos, porém ao
serem indagados sobre os problemas ambientais e de implementação desses discursos
(projetos), ninguém quer responder, eu mesmo já fiz várias perguntas nesse sentido e até
agora ninguém respondeu. Questões como armazenamento ao ar livre desse minério, do
carvão e os fortes ventos da nossa região, poluição gerada pela termoelétrica movida a
carvão mineral, entre outros, só dizem que os impactos serão mínimos, agora explicar
como uma termoelétrica movida a carvão não vai aumentar a poluição no meio
ambiente, isso ninguém consegue responder, ou melhor omitem demasiadamente! O
futuro é incerto para todos nós, mas quando construímos uma base sólida, temos muito
mais chances de crescermos melhor, e até agora essas bases não foram fincadas em
nossa amada cidade.
7) Após o término da obra, como você vê o futuro da cidade? Terá mais
desemprego? Favelização graças ao grande crescimento populacional? Ruas com
alto tráfego? Enfim, as mazelas de uma cidade grande.

Já sofremos há muito tempo com o despreparo dos nossos governantes em controlar o


crescimento de nossa cidade, exemplo disso são as praias mal estruturadas, quando os
turistas vêem, muitas vezes no período de verão falta água, energia elétrica de má
qualidade, sem programas que atendam a demanda de diversão, praias sem banheiros,
orlas mal planejadas, e construções inadequadas, sem qualquer padrão, crescimento
desordenado, com ruas sem pavimentação e saneamento, etc... Perdemos inclusive, no
ano passado repasses para o saneamento, porque a nossa cidade foi avaliada de forma
negativa nessa questão, nesse ano perdemos alguns repasses que viam direto para
escolas municipais, por conta da falta de prestação de contas ao Ministério da Educação.
Saúde, caos absoluto, e não tem desculpa a não ser pela ingerência e irresponsabilidade
da atual gestão. Esses são apenas uns problemas que passamos agora, com uma
população de cerca de 30.000 habitantes, agora imagina quando formos 200 mil???

8) O Projeto teve inicio em 2007, já se tem notado alguma melhora na cidade?

Irei responder essa questão, com a atual visão que tenho. A especulação imobiliária
aumentou muito, porém, por conta dessa questão da desapropriação, pelo menos na
região do Quinto Distrito gerou muitas incertezas também, ninguém compra e vende
imóveis com a certeza que no futuro irão ficar aqui. Isso atrapalha consideravelmente
essa questão. Uma outra coisa que observei durante esse período foi o aumento dos
aluguéis, mas que vem perdendo espaço por conta da falta de infra-estrutura, ao menos
aqui na Praia do Açu, a maioria dos engenheiros, por exemplo, que preferiam aqui por
conta da proximidade com o porto, mas por faltar, bancos, estradas, diversão, e até sinal
de telefonia móvel e internet, foram aos poucos embora e estamos agora com alguns
chamados “peões”, que estão muitos insatisfeitos com a localidade também. No geral,
ao menos aqui no Açu, não percebemos um crescimento fantástico! E também não
temos condições e nem estamos preparados para todo esse crescimento prometido.

Obs.: Respondo como morador e comerciante essa questão.


9) Há um debate do projeto entre vocês? Os moradores dividem, em maioria, a
mesma opinião?

Infelizmente não há um debate amplo a respeito desse empreendimento, quando existe


algum tipo de reunião é, em sua maioria, para a LLX mostrar o projeto ou a expansão
do mesmo, ninguém nos pergunta se somos a favor ou contra a nada, o projeto é
apresentado e só não permitidas algumas perguntas, não havendo um debate amplo e
colocação de todos os pontos, sejam eles positivos (que são amplamente discutidos) e os
negativos (que quando são colocados, normalmente são de forma superficial e sem
debates maiores), e esses, por sua vez, são os pontos onde a população mais faz
perguntas, mas infelizmente normalmente não são respondidas, eles anotam as
perguntas, para depois responder, mas não respondem, desconversam, ou empurram as
respostas para órgãos da prefeitura, que quase sempre não comparecem as reuniões, que
quando vão, na maioria das vezes não respondem também.

A maioria acha que as condições de vida irão piorar, mas tem muitas dúvidas a esse
respeito, pois são, em sua maioria, comunidades pequenas e pacatas, com aumento de
movimento só no período de alta temporada (verão), outros acham que vai melhorar,
principalmente em relação aos empregos, mas esses não conseguem enxergar um futuro
onde o porto começará a operar e as construções serão em um ritmo menor, não estão
preparados para buscar aperfeiçoamento em suas áreas e crescerem na mesma
velocidade com que será exigido.

Sinta-se livre para fazer qualquer comentário ou algo fora às perguntas que ache
pertinente sobre o projeto ou o que lhe convier, como preocupações etc.

Bem, quero terminar dizendo que sou absolutamente a favor do progresso, desde que o
mesmo seja sustentável, hoje contamos com um orçamento anual que ultrapassa a casa
dos R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais) e não temos uma cidade onde
vivemos bem, o nosso IDH, os índices que medem a qualidade da educação e outras
áreas são todos baixos para o tamanho da cidade com esses imensos recursos, e os
investimentos feitos causam pouco retorno à população. A realidade é que não estamos
nem um pouco preparados para tamanho investimento e pior, além de não estarmos
preparados, não estamos sendo preparado, o que figura ser mais grave ainda. A nossa
prefeitura acha que com alguns cursinhos estão ajudando a população, já é um começo,
mas muito tímido, outras cidades e distritos já contam com unidades avançadas de
faculdades e cursos técnicos, nós estamos aquém dessas... Nossos alunos poderiam está
cursando o Ensino Médio e algum técnico voltado para o Complexo portuário, mas isso
não ocorre.

Os maiores beneficiados com o porto, por enquanto são os políticos e os empresários


que viram a investir aqui, pois a população só tem dúvidas e incertezas...

Gostaria de relatar que tudo está andando muito bem e que teremos um futuro
maravilhoso, mas nossos políticos só sabem usar o Porto como plataforma política (“fui
eu quem trouxe, o porto ta desenvolvendo parcerias...”, eles adoram dizer essas coisas) e
esquecem que antes desse empreendimento chegar éramos uma cidade turística e para
mantermos esse título são necessários muitos investimentos.

Nossa população é carente de educação, cultura e informação, mas é muito acolhedora e


solidária, sendo às vezes ingênua, e com isso muitos estão se aproveitando para
apresentar uma coisa e fazer outra.

Como todo empreendimento de grande porte esse porto trará coisas boas e ruins, só
espero que as pessoas responsáveis por tamanha responsabilidade tenham a consciência
a respeito desses desafios e os enfrente de frente e não continuem fazendo o que estão
fazendo, tentando dizer que tudo está correndo bem, afinal temos que aprender com os
erros dos outros e assim tentar evitá-los e/ou amortizá-los ao máximo.
Entrevista com Ademir Moore, morador e trabalhador na região.

1) O que acha do desapropriamento pelo governo das terras de proprietários


rurais para ceder ao projeto da LLX?

Penso que a desapropriação poderia até acontecer, desde que fossem pagos os
valores jutos pela tera desapropriada. Parece que não é assim que esta acontecendo.

2) O que acha dessa forte interação Governo x Empresa Privada? É vantajosa à


cidade? Ou só para a empresa e os governadores?

Com o advento da criação do Porto do Açú, acho bastante interessante a interação


empresa/governo. Quanto a ser vantajosa para cidade, é muito cedo para sabermos.
Lógicamente bastante vantajosa para a empresa. Quanto aos governadores, não sei...

3) O que pensa sobre a instalação e a tentativa de integração dos chineses à cidade?


Essa integração, em sua opinião, é ruim? Trará perda de identidade cultural à
região?

Penso que a vinda de qualquer empresa para a região será extremamente benéfica,
independente da origem. Afinal, grandes empresas geram empregos, que é o que o povo
está precisando. Necessário se faz, que as empresas que aqui se instalem, tenham a
obrigação de promover cursos técnicos para capacitar os munícipes.

4) Com a necessidade de abrigar as várias empresas e empregados, serão precisos


esforços na área de infra-estrutura da cidade. A CEDAE já calcula um projeto de
ampliação do sistema de distribuição de água. O Setor de Transporte do governo
já pensa em um projeto de melhora das ruas e das estradas que dão acesso à
cidade. A LLX prevê a construção de casas, hotéis e as condições necessárias para
abrigar o projeto. Você acredita que esses esforços serão realizados? Concorda, de
fato, que a cidade tem o potencial de virar uma grande cidade?

Sinceramente não acredito... Principalmente aqui no 1º distrito. O município deve


crescer em redor da praia do Açú. Espaço prá isso existe de sobra, desde que paguem a
valor justo aos seus proprietários.

5) A cidade tem condições de absorver os empregos gerados pela obra? Ou seja,


realmente a cidade será beneficiada pelos 50mil empregos prometidos?

Necessário seria a criação de cursos diversos para capacitar a comunidade. Sem isso,
certamente esse bolsão de emrpegos traria muita gente de outros munípios e estados.

6) A criação desse pólo mineral em São João da Barra, com a instalação da


iniciativa privada, investimento do Estado, integração com as universidades
(discurso da LLX), pode-se equiparar a cidade a um Vale do Silício mineral. Como
encara essa forma de visão do futuro?

Não sei se chegaria a ser considerada um vale do silício mineral. Água temos bastante...
Se tudo for feito com o máximo respeito ao meio ambiente, acredito que o município
crescerá muito. Assim, nossos netos terão a oportunidade de trabalhar aqui mesmo. Não
sendo obrigados a procurarem outros municípios e até mesmo outros estados para
sobreviverem.

7) Após o término da obra, como você vê o futuro da cidade? Terá mais


desemprego? Favelização graças ao grande crescimento populacional? Ruas com
alto tráfego? Enfim, as mazelas de uma cidade grande.

Como disse anteriormente, se o governo tiver a preocupação em capacitar os munícipes,


certamente não faltarão empregos. A favelização só ocorrerá se vierem pessoas de
outros locais para trabalharem aqui na região. Sabemos que,se porventura perderem
seus empregos, tentarão aqui sobreviver de alguma forma e aí, fatalmente, serão criadas
as favelas. Não acredito em tráfego intenso aqui na sede do município, como disse
anteriormente, o município crescerá em torno do porto.

8) O Projeto teve inicio em 2007, já se tem notado alguma melhora na cidade?

A cidade não está suportando em diversos setores o aumento populacional que está
ocorrendo. Um terreno que se comprava por dez, quinze mil reais, hoje está custando
acimade quarenta mil. Aluguel de residência está custando um verdadeiro absurdo. Mas
a cidade continua com saúde, educação e segurança em estado precário.

9) Há um debate do projeto entre vocês? Os moradores dividem, em maioria, a


mesma opinião?

Infelizmente não ocorrem debates aqui na cidade. A maior parte dos moradores depende
da prefeitura e dos políticos para sobreviver, o que faz com que omitam seus
pensamentos. Infelizmente!

Sinta-se livre para fazer qualquer comentário ou algo fora às perguntas que ache
pertinente sobre o projeto ou o que lhe convier, como preocupações etc.

Preocupa perceber que o poder público nada está fazendo pela saúde, educação,
segurança, meio ambiente e etc... Acho que querem ver o município crescer com a
mesma infra-estrutura que existe hoje.
Enquete, em aberto, feito em comunidade do Orkut:
(http://www.orkut.com.br/Main#CommPollResults?cmm=27717549&pid=1073820949&pct=1218890208)

Qual é sua opinião sobre o Porto do Açu?

(41%) MUITO BOM, pois trará empregos;

(23%) BOM, a região precisava de obras de investimentos;

(25%) REGULAR, pois trará empregos, porém violência etc.

(7%) RUIM, a natureza sofrerá péssimas conseqüências;

(2%) PÉSSIMO, não vai empregar gente da região;


Referências bibliográficas:

- Pierre Lévy – As tecnologias da Inteligência- O futuro do pensamento na era da


informática. São Paulo: Editora 34, 2004, 13a. Edição.
- Marques, Ivan da Costa - O Brasil e a abertura dos mercados.
http://jornalsportnews.blogspot.com/2009/07/espera-dos-chineses-sao-joao-ja-
estuda.html
http://blogrobertobarbosa.blogspot.com/
http://atrolha.blogspot.com/2009/08/imobiliaria-governo-do-estado-sa.html
http://maurafraga.blogspot.com/2009/07/eike-atrai-chineses-para-o-rio-e-es.html
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=27717549
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=161148
http://www.ebx.com.br/
http://www.governo.rj.gov.br
http://www.llx.com.br/
http://www.faced.ufba.br/~menandro/textos/texto_tamara.pdf
http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/123/40/
http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna_col.asp?panorama=170&tipo=C
http://www.slideshare.net/lmbg/tecnologia-e-sociedade
http://www.espacoacademico.com.br/048/48rattner.htm
http://blogdaformacao.wordpress.com/2008/04/22/sem-educacao-a-tecnologia-nao-
serve-para-nada/
- Entrevista com Sérgio B. Villas Boas
Denis Tolêdo
Ademir Moore

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