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REVISÃO REVIEW
Globalização, pobreza e saúde*

Globalization, poverty and health

Paulo Marchiori Buss 1

Abstract This paper analyses the relationship Resumo O presente artigo analisa as relações
between globalization, poverty and health, defin- entre globalização, pobreza e saúde. Conceitua e
ing and presenting the main characteristics of apresenta as principais características da globali-
contemporary globalization. It also establishes the zação contemporânea. Também conceitua e apre-
characteristics of poverty today, both globally and senta as características da pobreza nos dias de
regionally. Reviewing articles and world reports, hoje, nos planos mundial e regional. Revisando
it presents a set of evidence on the relationships artigos e relatórios de amplitude mundial, apre-
between globalization and poverty, as well as their senta um conjunto de evidências sobre as relações
influence on health. Furthermore, it presents the entre globalização e pobreza e suas influências
opportunities offered by globalization, through a sobre o campo da saúde. Apresenta, ainda, as opor-
series of worldwide initiatives prompted by ac- tunidades trazidas pela globalização, através de
tions among countries under the aegis of the United uma série de iniciativas globais resultantes da ação
Nations in general and the WHO in particular, entre países, no âmbito das Nações Unidas como
in addition to intergovernmental alliances and um todo e na OMS, em particular, assim como de
coalitions and other civil society representatives. alianças e coalizões intergovernamentais e com
Key words Globalization, Poverty, Health, Glo- outros atores da sociedade civil.
bal health, International health Palavras-chave Globalização, Pobreza, Saúde,
Saúde global, Saúde internacional
*
Este artigo é uma
adaptação da Conferência
Leavell, apresentada no XI
World Congress of Public
Health da World Federation
of Public Health
Associations e VIII
Congresso Brasileiro de
Saúde Coletiva da
Associação Brasileira de
Pós-Graduação em Saúde
Coletiva, em 23/08/2006.
Fundação Oswaldo Cruz,
Presidência. Av. Brasil
4365, Manguinhos.
21041-900 Rio de Janeiro
RJ. buss@fiocruz.br
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Buss, P. M.

Introdução e nas comunicações, que praticamente anulou o


tempo e a distância”. Esta imensa aproximação
A saúde pública, como campo de conhecimento entre culturas e economias tão desiguais faz com
e de prática social, tem sido confrontada, ao lon- que “o globo seja agora a unidade operacional
go de sua já longa história, com enormes desa- básica, e unidades mais velhas como as ‘econo-
fios. O final do século XX e este início de milênio mias nacionais’, definidas pelas políticas de Esta-
nos recolocam dois desafiadores processos: a glo- dos territoriais fiquem reduzidas [apenas] a ‘di-
balização e a pobreza. Estes dois fenômenos in- ficuldades’ para as atividades transnacionais”.
fluenciam poderosamente o cotidiano da saúde A Comissão Mundial sobre as Dimensões
dos povos, compromisso primeiro e maior da Sociais da Globalização, instituída pela Organi-
saúde pública e dos sanitaristas, cabendo por isto zação Internacional do Trabalho2, insiste em que
procurar melhor entendê-los para adequada- o processo de globalização atual está produzindo
mente enfrentá-los. resultados desiguais entre os países e no interior
dos mesmos. Está criando riquezas, mas são dema-
siados os países e as pessoas que não participam dos
Globalização benefícios [...]. Muitos deles vivem no limbo da
economia informal, sem direitos reconhecidos e
A rigor, a “economia global”, no conceito de “pla- em países pobres, que subsistem de forma precária
netária”, existe desde finais do século XVI, época e a margem da economia global. Mesmo nos países
dos grandes descobrimentos e das viagens de com bons resultados econômicos muitos trabalha-
exploração dos europeus à África, Ásia e Améri- dores e comunidades têm sido prejudicados pelo
cas. A expansão colonialista da Europa teve re- processo de globalização.
percussões econômicas e sociais importantes, A Comissão alerta que “tais desigualdades
positivas e negativas, sobre os novos territórios globais são inaceitáveis do ponto de vista moral
alcançados, bem como sobre a própria socieda- e insustentáveis do ponto de vista político”. E in-
de européia. siste na “falta de eqüidade nas regras globais em
Para a maioria dos autores, a globalização é matéria de comércio e finanças e nas repercus-
um processo econômico, social e cultural que se sões desiguais que tem sobre os países ricos e
estabeleceu nas duas ou três últimas décadas do pobres”, assim como na “incapacidade das polí-
século XX, cujas principais características inclu- ticas internacionais atuais para dar resposta aos
em, em escala nunca antes alcançada: desafios impostos pela globalização”.
· crescimento do comércio internacional de O que se tem observado é que as medidas de
bens, produtos e serviços; abertura dos mercados e as considerações de ordem
· transnacionalização de mega-empresas; financeira e econômica prevalecem sobre as consi-
· livre circulação de capitais; derações sociais. A assistência oficial para o desen-
· privatização da economia e minimização do volvimento (AOD) não alcança sequer a quantia
papel dos governos e dos Estados-nação; mínima necessária para alcançar os Objetivos de
· queda de barreiras comerciais protecionis- Desenvolvimento do Milênio (ODM) e fazer frente
tas e regulação do comércio internacional, segun- aos crescentes problemas globais. Tampouco resulta
do as regras da Organização Mundial do Co- eficaz o sistema multilateral encarregado de conce-
mércio (OMC); ber e aplicar políticas internacionais. Sofre, em ge-
· facilidade de trânsito de pessoas e bens entre ral, de falta de coerência política e não é suficiente-
os diversos países do mundo; e mente democrático, transparente e responsável.
· expansão das possibilidades de comunica- Tais regras e políticas são conseqüência de
ção, pelo surgimento da chamada sociedade da um sistema de governança global configurado
informação e da grande facilidade de contato en- em grande medida por países e atores podero-
tre as pessoas devido ao aparecimento de diver- sos. Há um grave déficit democrático nos pró-
sos instrumentos e ferramentas, entre as quais a prios fundamentos do sistema. A maioria dos
internet. países em desenvolvimento segue tendo pouca
Inúmeros autores e organizações das Nações influência nas negociações globais sobras as re-
Unidas têm sido críticos deste processo. O ‘breve gras e na determinação das políticas das institui-
século XX’, denominação cunhada pelo historia- ções financeiras e econômicas chaves2, como de-
dor Eric Hobsbawm1 para descrever o século re- monstrou recentemente, por exemplo, o fracas-
cém-findo, trouxe, segundo o admirável autor, so da Rodada de Doha da Organização Mundial
uma extraordinária “revolução nos transportes do Comércio.
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Segundo Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Eco- micas para a América Latina e que estabeleceram
nomia em 2001, os vitoriosos da globalização as bases conceituais do processo de globalização
foram os países desenvolvidos, cuja poupança como o entendemos hoje, reconhece agora o im-
interna e preparo tecnológico, associados a um perativo de controlar o fluxo de capitais nos cha-
protecionismo feroz que, inclusive, contraria a mados mercados emergentes.
regra de ouro da abertura comercial [por eles A divisão internacional da produção e do tra-
mesmo preconizadas, mas apenas para os ou- balho que se delineou com a globalização trouxe,
tros], fizeram deles privilegiados destinatários da além dos maus resultados econômicos já apon-
riqueza produzida no mundo. tados, também impactos sociais, ambientais e
Mais recentemente, até mesmo o Banco Mun- sanitários importantes. No campo do trabalho,
dial, através do seu Relatório Mundial sobre De- verifica-se a exportação do desemprego dos paí-
senvolvimento 20063, rendeu-se às evidências de ses desenvolvidos para os países em desenvolvi-
que as forças de mercado e o livre comércio deci- mento, devido às tais políticas protecionistas e
didamente não resolverão a pobreza no mundo de subsídios agrícolas dos países mais ricos. As
ou sequer a minimizarão em níveis toleráveis. O atividades econômicas que trazem maiores ris-
Relatório afirma que “apenas a eqüidade é capaz cos ambientais e para os trabalhadores ou resul-
de aumentar a capacidade de reduzir a pobreza”. tam em resíduos perigosos, as chamadas ‘indús-
As dívidas externa e interna, o protecionismo trias sujas’, são também exportadas para países
à indústria e à agricultura por parte dos países mais pobres, cuja legislação de proteção ao am-
mais ricos e as barreiras comerciais aos produ- biente e ao trabalhador é mais tolerante.
tos primários e manufaturados da cesta de ex- De outro lado, o padrão insustentável de ur-
portação dos países em desenvolvimento estão banização, industrialização, consumo de energia
na raiz de uma imensa crise fiscal que os países e geração de resíduos dos países mais desenvol-
pobres enfrentam e na dívida social crescente que vidos, ricos e industrializados tem ação nefasta
têm com suas populações. Quase toda a arreca- sobre o ambiente em geral, incluindo o clima,
dação fiscal destes países e os sucessivos emprés- com o aquecimento global progressivo, como
timos internacionais, alcançáveis apenas por acor- enfaticamente demonstrou o assustador 4º Re-
dos sob severas condições com o FMI, servem latório do Painel Intergovernamental sobre Mu-
quase que exclusivamente para a rolagem de danças Climáticas (IPCC)7 de 2007. O resultado
imensas dívidas externas contraídas no passado, são prejuízos na produção de alimentos, deserti-
em condições adversas, muitas vezes sob gover- ficação, poluição do ar, solo, rios, águas interio-
nos não-democráticos e corruptos, dívidas estas res e oceanos, a perda de bosques e florestas e o
hoje submetidas a juros elevadíssimos, impos- prejuízo irrecuperável contra a biodiversidade.
tos unilateralmente pelo capital financeiro inter- Recentemente, especialistas da Universidade
nacional. Em conseqüência, os programas de das Nações Unidas alertaram que dentro de cin-
combate à pobreza e outros programas sociais co anos o mundo vai ter pelo menos 50 milhões
de muitos dos países em desenvolvimento aca- do que denominaram “refugiados ambientais”8;
bam desfinanciados e ineficazes4. ou seja, pessoas que abandonaram suas casas e/
Um dos elementos mais nocivos do processo ou suas terras por causas como furacões, mare-
de globalização são os brutais ataques do capital motos, terremotos, secas prolongadas, desflo-
especulativo internacional às economias nacionais restamento, desertificação e outras formas de
mais frágeis de países pobres e de renda média. A desastres naturais. Muitos deles serão “refugia-
ação do chamado hot money tem comprometido dos em seus próprios países”. A maioria destes
nefastamente os orçamentos sociais dos países fenômenos é atribuível às atividades econômicas
pobres, inclusive o da saúde. A circulação diária sem controle sobre o ambiente. As pessoas que
do capital especulativo não produtivo no mundo não morrem nestes desastres apresentam logo á
é de cerca de 1,8 trilhão de dólares 5. Estes capi- seguir saúde mais frágil e condições sociais e
tais, sem pátria e sem responsabilidades com as ambientais que favorecem a ocorrência de doen-
pessoas e os países, devem ser controlados por ças. Os “novos refugiados” constituem um dos
mecanismos nacionais e internacionais, como for- novos problemas de saúde pública, cuja respon-
ma de reparar sua nocividade global e local. Em sabilidade é dos governos nacionais e locais e, em
seu último livro, recém-lançado, até mesmo o eco- escala global, do sistema das Nações Unidas. Es-
nomista John Williamson6, que cunhou a expres- tão os sistemas de saúde preparados para orga-
são Consenso de Washington para denominar o nizar e prestar a atenção sanitária devida aos
conjunto de recomendações de reformas econô- mesmos?
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Contudo, as responsabilidades por esses pés- da população (448 milhões) têm as mesmas con-
simos resultados sociais e econômicos da globa- dições de pobreza. Na América Latina e Caribe,
lização devem ser imputados não apenas aos 222 milhões são pobres, dos quais 96 milhões
países desenvolvidos e às empresas e organiza- vivem na indigência, ou 18,6% da população10.
ções financeiras internacionais, mas também às Depois dos trabalhos críticos de Amartya Sen,
elites políticas e econômicas nacionais e a gover- Prêmio Nobel da Economia de 1998, entretanto,
nos de muitos países subdesenvolvidos com re- ficou claro que não se pode estabelecer uma linha
duzido compromisso social e, freqüentemente, de pobreza e aplicá-la a todos da mesma forma,
corruptos. sem tomar em conta as características e circuns-
A baixa qualidade da política e da governance tâncias pessoais. Sen11 assinalou que a análise da
de muitos governos de países em desenvolvimen- pobreza também deve concentrar-se na capaci-
to é causa de desperdício de recursos e de ineficá- dade da pessoa para aproveitar oportunidades,
cia e ineficiência das iniciativas de proteção ao assim como de fatores como saúde, nutrição e
ambiente e de promoção, prevenção e assistência educação, que refletem a capacidade básica para
à saúde, quando elas existem. No geral, as ações funcionar na sociedade. São em constatações
dos programas socioambientais e sanitários des- como estas que reside o potencial de ação da pro-
tes países são verticais e desarticuladas, freqüen- moção da saúde entre os pobres e as estratégias
temente sangrados pela corrupção. de empowerment individual e coletivo.
De outro lado, embora necessárias, a ajuda De outro lado, é preciso assinalar que são
externa e a facilitação para exportações dos paí- exatamente os pobres que vivem em piores con-
ses pobres (visando aumentar os saldos comer- dições sociais, ambientais e sanitárias, assim
ciais) são insuficientes para alavancar seu desen- como têm maior dificuldade no acesso aos servi-
volvimento. Isto porque os ganhos do comércio ços públicos em geral e de saúde em particular.
exterior não se distribuem eqüitativamente entre De fato, inúmeros estudos, em diversas partes
as populações mais pobres destes países, conti- do mundo, mostram que os que têm pior renda
nuando absolutamente concentrados em mãos são exatamente aqueles que, embora certamente
de muito poucos, em geral grandes empresas mais necessitados, têm também pior acesso a
nacionais ou transnacionais exportadoras. políticas públicas, habitações adequadas, água
Estas considerações convergem para impac- potável, saneamento, alimentos, educação, trans-
tos variáveis em indivíduos e grupos populacio- porte, lazer, emprego fixo e sem riscos, assim
nais que são excluídos dos benefícios da globali- como aos serviços de saúde. São as chamadas
zação e vulneráveis aos seus custos, ao mesmo iniqüidades sociais e de saúde.
tempo em que enfrentam sérias limitações quan-
to aos benefícios de políticas públicas no campo
da saúde. Pobreza e saúde

As iniqüidades em saúde existem entre países e


Globalização e pobreza regiões do mundo e entre ricos e pobres no inte-
rior dos países. A Tabela 1, por exemplo, mostra
A pobreza é um conceito multidimensional e uma os grandes diferenciais de saúde que se verificam
situação real de vida. Antes, o conceito se restrin- entre grupos de países reunidos por nível de de-
gia exclusivamente à renda auferida pelo indiví- senvolvimento, com evidentes prejuízos nos in-
duo: pobres são todos aqueles que vivem com dicadores selecionados para os países mais po-
menos de 1 dólar por dia, ajustado pelo poder bres e menos desenvolvidos.
aquisitivo do país ou região. Apesar de a riqueza A diferença na esperança de vida ao nascer
mundial – estimada atualmente em 24 trilhões alcança 27 anos entre os países mais ricos e mais
de dólares anuais – continuar aumentando, cer- pobres; a mortalidade infantil é de 100 por mil
ca de 1,2 bilhões de pessoas em todo o mundo nascidos vivos nos menos desenvolvidos e de ape-
vivem com menos de 1 dólar por dia, numa situ- nas 6 por mil nos países de alta renda; e a diferen-
ação classificada como de ‘extrema pobreza’, en- ça na mortalidade de menores de 5 anos é ainda
quanto nada menos que metade dos habitantes maior: 159 por mil nascidos vivos nos países me-
do mundo vivem com menos de dois dólares nos desenvolvidos e 6 por mil nos de renda alta.
por dia9. Na África Subsaariana, quase a metade As desigualdades em saúde entre pessoas po-
dos habitantes vivem com menos de 1 dólar por bres e ricas, no interior de países pobres, tam-
dia, enquanto na Ásia meridional cerca de 37% bém são acentuadas. Tais desigualdades ocor-
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Tabela 1. Expectativa de vida e taxas de mortalidade, por categoria de desenvolvimento do país.

Categoria de População Renda anual Expectativa Mortalidade Mortalidade abaixo


desenvolvimento (em milhões/ média (dólares de vida no infantil (mortes de cinco (mortes
1999) americanos) nascimento antes de 1 ano de antes de 5 anos de
(anos) idade por 1.000 idade por 1.000
nascimentos vivos) nascimentos vivos)
Países menos desenvolvidos 643 296 51 100 159
Outros países de baixa renda 1.777 538 59 80 120
Países de renda média-baixa 2.094 1.200 70 35 39
Países de renda média-alta 573 4.900 71 26 35
Países de renda alta 891 25.730 78 6 6
Memo: África subsaariana 642 500 51 92 151

Fonte: Human Development Report 2001.

rem tanto nos níveis de saúde e nutrição (morbi-


Gráfico 1. Desigualdades de saúde nos países menos
dade, descapacidades e mortalidade), como tam-
desenvolvidos.
bém no acesso aos serviços sociais e de saúde.
Estudando indicadores de saúde seleciona-
Média da proporção entre o índice do quintil
dos, nos países mais pobres do mundo (Gwati-
mais pobre e do quintil mais rico
kin et al apud Carr)12, mostraram (Gráfico 1) que
a mortalidade de crianças menores de 5 anos era 3,2
2.2 vezes mais alta no quintil mais pobre do que 2,2 1,9
no quintil mais rico da população; a desnutrição
em mulheres era 1,9 vezes mais elevada; e a pro-
porção de crianças com atraso no crescimento
era 3,2 vezes mais alta.
Mortalidade Mulheres Crianças com
No Brasil, meu país, como em muitas partes entre os de desnutridas atraso no
do mundo, estudos13 revelam que a mortalidade menos de (45 países) crescimento
infantil está relacionada com a renda das famíli- cinco anos (50 países)
as, o nível de educação da mãe, as condições do (56 países)
domicílio, o local em que vive e a situação social
da família da criança (Gráfico 2). Fonte: Gwatkin D et al. Initial Country-Level information
about socieconomics differences in health, nutrition and
Assim, entre os negros (a cor é um proxi da population. Washington, D.C.: World Bank; 2003.
situação social no Brasil), a mortalidade infantil
média é de 34 óbitos por 1.000 nascidos vivos,
contra 23 na população branca; entre os pobres
é 35, entre os ricos, 16; entre as mães com menos zes maior e a assistência capacitada durante o
de três anos de estudo é 40, contra 17 nas mães parto é 4,8 vezes maior entre os mais ricos.
com oito anos ou mais; na população rural é 35, São também muito expressivas as diferenças
contra 27 na população urbana; e num estado de gastos per capita em saúde entre países ricos e
pobre do Nordeste é 63 por mil, contra 16 por pobres, como se apresenta no Quadro 1. Os pa-
mil num estado mais rico do Sul13. íses menos desenvolvidos gastam em média 11
Os diferenciais entre ricos e pobres ocorrem dólares per capita por ano, contra 241 dólares
também no uso dos serviços de saúde (Gráfico em países de renda média alta e ao redor de 2.000
3). Em cerca de cinqüenta países pobres estuda- dólares em países de renda alta14.
dos13, entre 1992 e 2002, o uso da terapia de re- Em conclusão, estes dados nos mostram que
hidratação oral é 1,3 vezes maior entre ricos que a globalização tem empobrecido países e amplia-
entre pobres; as vacinas infantis, 2,3 vezes; a fre- do a pobreza, a exclusão e as iniqüidades econô-
qüência a três ou mais consultas de pré-natal é micas e sociais. Estas, por sua vez, repercutem
3,1 vezes maior no quintil mais rico; o uso de pesadamente sobre a saúde de indivíduos e da
métodos anticoncepcionais modernos é 4,4 ve- população como um todo.
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Buss, P. M.

Gráfico 2. Taxa de mortalidade infantil, Brasil, 2000.

70
Alagoas
63
60

50
Mãe com até 3
anos de estudo
40 40 Pobre Rural
Negro
35 35
34
30 Brasil= 29,7
27
23 Urbano
20 Branco
17 16
16
Mãe com 8 ou mais
Rico Rio Grande
10 anos de estudo
do Sul

0 Por anos de Por renda Por situação do Por Unidade da


Por raça estudo da mãe familiar domicílio Federação

Gráfico 3. Desigualdade no uso dos serviços de saúde, últimas pesquisas, 1992-2002

Proporção média entre ricos e pobres


4,8
4,4

3,1

2,3

1,3

Uso de Vacinas Uso de Usos de Assistência


terapia de infantis atendimento métodos capacitada
reidratação 50 países pré-natal (3 anticoncepcionais durante o
oral* visitas ou modernos parto
42 países mais) 47 países
53 países

Nota: Representa a média da proporção entre o quintil mais rico e o mais pobre, sem ponderações que levem em conta o tamanho
da população e excluindo-se os países que usam menos de 1%.
*
Porcentagem de crianças com diarréia nas semanas anteriores à pesquisa que tinham recebido sais de reidratação oral, outros
líquidos recomendados ou maior quantidade de líquido.
Fonte: Gwatkin D et al. Initial Country-Level information about socieconomics differences in health, nutrition and population.
Washington, D.C.: World Bank; 2003.
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aviária e do vírus da febre do Oeste do Nilo. Infec-
Quadro 1. Gasto per capita com saúde, por receita,
ções como Salmoneloses e E. coli têm sido fre-
1997.
qüentemente relacionadas com contaminação de
alimentos frescos ou industrializados que circu-
Gasto total per lam entre países.
Grupo de receita capita com
Entre as chamadas ‘antigas’ doenças, que apa-
saúde
recem em uma região e se espalham pelo mundo,
Os países menos 11 temos os casos do recente surto de poliomielite
desenvolvidos em cerca de quinze países da África e Oriente
Outros países de receita Médio, por falhas nas coberturas vacinais; a epi-
baixa (PNB per capita 23 demia de cólera que, nos últimos quarenta anos,
inferior a US$ 760 em 1998 afetou mais de 75 países e que causou, nos últi-
Países de receita média-baixa mos dois anos, só em Angola, cerca de cinqüenta
(PNB per capita superior a mil casos e dois mil óbitos; a febre amarela em
US$ 761 e inferior a US$ 93
países africanos; e novas formas de velhas doen-
3.090 em 1998)
ças, caso da tuberculose resistente a múltiplas dro-
Países de receita média-alta
gas. Agregue-se a tudo isto a crescente resistência
(PNB per capita superior a
US$ 3.091 e inferior a US$ 241 antimicrobiana de muitas outras espécies, o que
9.360 em 1998) facilita sua disseminação global.
Países de receita alta Outro fenômeno ligado à globalização é o
1.907 turismo sexual e suas conseqüências. Muitos
(PNB per capita superior a
US$ 9.361 em 1998) países do mundo subdesenvolvido dependem
Fonte: Organização Mundial da Saúde. Macroeconomics and economicamente do turismo internacional; en-
health: Investing in health for economic development. Geneva: tretanto, a indústria do turismo globalizado é
WHO, 2001.
inseparável do comércio sexual de crianças, ado-
lescentes e adultos de ambos os sexos. Muitos
destinos no mundo são hoje procurados pelas
Globalização e doença oportunidades do turismo sexual, entre eles, o
Brasil, países do Caribe e da Ásia e muitos países
Uma destacada faceta das conseqüências da glo- africanos. A globalização do comércio sexual
balização sobre a saúde é a possibilidade da trans- implica na disseminação de doenças sexualmen-
nacionalização das doenças transmissíveis, par- te transmissíveis e os danos mentais e afetivos
ticularmente as novas e as reemergentes. Com as resultantes do abuso sexual contra crianças, ado-
facilidades das viagens internacionais e a difusão lescentes e, mesmo, pessoas adultas.
do comércio em escala planetária, uma série de A ampliação das guerras e conflitos decor-
microorganismos podem ser rapidamente trans- rentes de disputas econômicas e territoriais entre
portados, através de pessoas, animais, insetos e países, assim como entre grupos e etnias no inte-
alimentos, de um país a outro e de um ponto a rior de Estados nacionais, é outra questão relaci-
outro do globo. Exemplos recentes são as difu- onada com o processo de globalização. Este fe-
sões da SARS, do vírus da dengue e da gripe aviá- nômeno tem produzido milhares de mortes, fe-
ria. A transmissão interpessoal das febres hemor- rimentos e incapacidades físicas, emocionais e
rágicas virais, como os casos recentes das febres mentais pós-conflitos, principalmente entre os
Marburg e Ébola, na África, apresentam grande jovens, que são suas principais vítimas. Mutila-
potencial epidêmico, facilitado pelos rápidos des- ções decorrentes de ferimentos, minas terrestres
locamentos em viagens aéreas internacionais, o ou por ação deliberada sobre prisioneiros, ex-
que aponta para a necessidade e a importância ploração e violações de mulheres por vingança e
do reforço das redes globais de diagnóstico e vi- genocídio de crianças e velhos estão entre os
gilância em saúde, operadas pela OMS e parcei- muitos crimes de guerra em anos recentes. O ter-
ros ao redor do mundo. rorismo de Estado e de grupos já se situa entre as
Um caso já clássico é a difusão do vírus da primeiras causas desta tétrica estatística.
AIDS, que surgiu possivelmente em região remo- Conseqüência substantiva das guerras e con-
ta da África e nos últimos vinte anos se espalhou flitos tem sido o desmantelamento da infra-es-
por todo o mundo. Até mesmo aves migratórias trutura, com destruição de serviços de saúde e
podem ser responsabilizadas pela difusão global saneamento, assim como do ambiente, afetando
de doenças infecciosas, como é o caso da gripe de forma indireta, mas contundente, a saúde de
1582
Buss, P. M.

populações inteiras. Verifica-se, ainda, que os conteúdos indesejáveis para audiências absolu-
orçamentos públicos são desviados de progra- tamente vulneráveis.
mas sociais, como educação e saúde, para o fi- Um paradoxo da globalização contemporâ-
nanciamento do aparato bélico, privando a po- nea é que, numa fase da história da humanidade
pulação destes recursos essenciais e piorando ain- em que as tecnologias agrícolas disponíveis pode-
da mais as condições de saúde. riam propiciar farta produção de alimentos, o
O século XX foi um dos períodos mais vio- fenômeno da fome esteja tão disseminado no
lentos da história da humanidade: cerca de 191 mundo e açoite partes do planeta na forma de
milhões de pessoas perderam a vida em conse- verdadeiro genocídio. A FAO17 alerta que a fome e
qüência direta ou indireta de conflitos, dos quais a desnutrição crônicas acometem hoje no mundo
mais da metade eram civis15. Os últimos anos do nada menos de 852 milhões de pessoas, matam
século XX e os primeiros anos do século XXI in- mais de cinco milhões de crianças a cada ano e
dicam, lamentavelmente, uma tendência ao cres- custam bilhões de dólares na forma de perda de
cimento destes eventos nefastos. produtividade e renda nacionais. Esta trágica esta-
A violência globalizada tem gerado a migra- tística completa-se com a informação de que nas-
ção forçosa de milhares de pessoas que fogem cem anualmente cerca de vinte milhões de bebês
das regiões de conflitos ou transformam-se em com baixo peso, conceptos estes resultantes, em
refugiados políticos. Inúmeros estudos mostram grande maioria, de mães também desnutridas.
que os grupos humanos deslocados pela força Na África Subsaariana, hoje a região do mun-
de seus redutos originais apresentam piores do mais afetada pela pobreza e suas conseqüên-
condições de saúde física e mental quando com- cias, a FAO17 estima que nada menos do que 33%
parados à sua situação original ou com a nova da população são considerados subnutridos,
vizinhança16. proporção que, na África Central, alcança nada
A globalização do tráfico de drogas ilícitas, menos do que 55%, enquanto no sul e no leste
como cocaína, heroína, marijuana e drogas quí- do continente chega a cerca de 40%. Além da aju-
micas sintéticas, expandiu imensamente seu uso da externa urgente para as brutais situações emer-
em quase todas as sociedades, com conseqüênci- genciais (como, pelo menos as do Níger e Mala-
as nefastas bem conhecidas sobre a saúde dos wi, quando escrevo este artigo), os especialistas
seus usuários. Ao tráfico internacional de drogas concordam que o enfrentamento do problema
associa-se o tráfico de armas. Esta combinação é só pode feito na forma de cooperação técnica e
explosiva, com conseqüências impressionantes, financeira, assim como investimentos em água,
como mostra o Informe Mundial sobre Violência sustentabilidade de ecossistemas e melhoria da
e Saúde15. capacidade das pessoas.
O que falar, então, das ‘drogas legalizadas’, Outra dimensão importante da globalização
como o álcool e o tabaco? Ainda hoje ‘glamoriza- sobre a saúde são as reformas setoriais orienta-
das’ pela propaganda enganosa, o uso dissemi- das ao mercado, preconizadas por organizações
nado de álcool e tabaco, em crescimento particu- internacionais18. Elas resultaram em mais iniqüi-
larmente entre os jovens, constitui-se num dos dades em saúde. Não há espaço para a saúde pú-
principais problemas de saúde pública contem- blica ou para a promoção da saúde nestas refor-
porânea. Embora o tabaco tenha recebido, cor- mas. Seu tema exclusivo é a atenção médica aos
retamente, o tratamento de ‘inimigo número 1 indivíduos e os esquemas de financiamento. O
da saúde pública mundial’ – tendo sido objeto, mesmo se pode dizer dos modelos importados
inclusive, de um tratado internacional para o seu de formação de recursos humanos, pouco ajus-
combate – em muitas sociedades tem sido desa- tados aos padrões culturais ou aos sistemas naci-
nimador ver a expansão de seu uso e a globaliza- onais de saúde. Por isto é imperativo que defen-
ção e concentração de sua poderosa indústria. damos a substituição destas propostas de refor-
O álcool tem sido tratado de forma mais to- mas por outras que busquem implementar siste-
lerante, inclusive no âmbito da OMS, não obs- mas públicos eqüitativos e solidários de saúde,
tante as nítidas evidências sobre seu vínculos com nos quais seja de fato tomada em conta a saúde da
muitas doenças crônicas e degenerativas, com os população e não os negócios com a doença.
acidentes de trânsito e com a violência interpes- Os sistemas de saúde dos países em desen-
soal. O conluio entre a indústria globalizada – volvimento são submetidos à forte pressão do
um dos maiores anunciantes – e a mídia interes- comércio internacional de insumos para a saúde
sada em vender seus espaços mantém ainda em (medicamentos, kits e reativos para diagnóstico,
destaque a propaganda enganosa do álcool, em equipamentos e outros insumos). O alto preço
1583

Ciência & Saúde Coletiva, 12(6):1575-1589, 2007


dos medicamentos, em grande parte decorrentes · 1996 – Conferência das Nações Unidas so-
de um sistema de proteção patentária que enxer- bre Assentamentos Humanos (Habitat II) (Is-
ga apenas os interesses das grandes empresas tambul)
privadas, é um impedimento importante ao aces- · 1996 – Cúpula Mundial das Nações Unidas
so dos países pobres e das populações mais po- sobre Alimentação (Roma)
bres dos países de renda média a medicamentos · 2000 – Cúpula do Milênio: Declaração e
e insumos essenciais para a saúde. Enquanto os Objetivos do Milênio (Nova York)
interesses do comércio e do lucro sobrepujarem · 2002 – Conferência Internacional sobre Fi-
os interesses da saúde dos mais pobres e a ‘gover- nanciamento do Desenvolvimento (Monterey)
nança global’ e os Estados nacionais não encon- · 2003 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvi-
trarem soluções para a questão do acesso a tais mento Sustentável (Johanesburgo)
insumos, posso afirmar que vivemos em tempos · 2005 - Cúpula Mundial sobre Objetivos do
de barbárie global. Milênio (Nova York)

Tais conferências geraram informes impor-


Oportunidades da globalização tantes, com recomendações expressivas, que, se
tomadas em conta e efetivamente implementa-
Contudo, podem-se também identificar sinais das pelos países e pela própria Nações Unidas,
positivos quanto à globalização. Se nos repor- poderiam já ter trazido expressivo progresso
tarmos à última metade do século XX, por exem- político, social, econômico, cultural e ambiental
plo, logo após a traumática experiência da II para o mundo como um todo. O grande proble-
Guerra Mundial, a criação do sistema das Na- ma é que elas expressam interesses políticos con-
ções Unidas, incluindo a Organização Mundial traditórios de países e outros atores relevantes
da Saúde, representava um passo à frente muito na cena internacional e têm, freqüentemente, fi-
importante para o diálogo internacional e a con- cado no papel, não passando de retórica inter-
vivência pacífica das nações, assim como para a nacionalista.
cooperação a favor do progresso de todos os No ano 2000, culminando a série de confe-
países e pessoas no mundo. Apesar de que hoje rências da década anterior, as Nações Unidas or-
existe uma grande decepção e mesmo desconfi- ganizaram a Cúpula do Milênio, na qual todos
ança com as Nações Unidas, razão pela qual, di- os Estados-membros firmaram um novo com-
versos Estados-membros, assim como organi- promisso mundial para o desenvolvimento, com
zações e pessoas têm exigido uma ampla refor- uma pretendida visão integral, a partir dos acor-
ma do sistema. dos derivados das conferências globais. A expres-
Na década de 90, estabeleceu-se uma orien- são política da Cúpula ficou estabelecida na De-
tação no interior do sistema das Nações Unidas claração do Milênio19.
para a realização de um conjunto de grandes con- Lembro-lhes os oito Objetivos de Desenvol-
ferências temáticas, lideradas pelas respectivas vimento do Milênio (ODM), que são apresenta-
organizações setoriais, “procurando preparar o dos abaixo:
mundo para o século XXI”. As grandes conferên- · Erradicar a pobreza extrema e a fome
cias realizadas estão relacionadas a seguir. · Garantir a universalização da educação pri-
mária
Conferências das Nações Unidas · Igualdade entre gêneros e autonomia da
na década de 90 mulher
· 1990 – Cúpula Mundial das Nações Unidas · Reduzir a mortalidade infantil
sobre a Criança (Nova York) · Melhorar a saúde materna
· 1992 – Conferência das Nações Unidas so- · Combater o HIV/AIDS, a malária e outras
bre Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) doenças
· 1993 – Conferência das Nações Unidas so- · Garantir a sustentabilidade ambiental
bre os Direitos Humanos (Viena) · Fomentar uma associação mundial para o
· 1994 – Conferência das Nações Unidas so- desenvolvimento
bre Populações e Desenvolvimento (Cairo) Como sabemos, eles foram desglosados em
· 1995 – Conferência das Nações Unidas so- dezoito metas e 48 indicadores. A saúde está di-
bre a Mulher (Pequim) retamente envolvida em pelo menos dezoito des-
· 1995 – Conferência das Nações Unidas so- tes indicadores, que devem ser melhorados com
bre o Desenvolvimento Social (Copenhague) relação aos valores que apresentavam em 199019.
1584
Buss, P. M.

Contudo, as conclusões da recente avaliação20 países em desenvolvimento, para gradualmente


sobre os ODMs, feita pela OMS em 2005, devem alcançar uma cobertura universal dos níveis mí-
servir-nos para profunda reflexão e ação: nimos de bem-estar. O objetivo 8 é “fomentar
· Mantida a situação observada nos últimos uma associação mundial para o desenvolvimen-
cinco anos, a maioria dos países mais pobres do to” e compreende, por um lado, uma série de com-
mundo não alcançará sequer as modestas metas promissos contraídos pelos países desenvolvidos
estabelecidas, de redução das mortalidades in- para apoiar os esforços dos países em desenvol-
fantil e de menores de cinco anos; tampouco se- vimento e, por outro, alguns elementos para ini-
rão alcançadas as metas de cobertura de crianças ciar a rota de correção das assimetrias internacio-
menores de um ano com a vacina do sarampo. nais em favor dos países mais pobres, incluindo a
· A mortalidade materna só está se reduzindo assistência oficial para o desenvolvimento e um
nos países que já tem taxas menores; nos de ta- sistema comercial e financeiro que permita resol-
xas mais altas observa-se uma estagnação dos ver os problemas de seu endividamento.
indicadores e até mesmo sua elevação. Os países mais ricos do mundo fixaram que,
· Alguns indicadores de oferta de serviços têm para atingir os Objetivos do Milênio, precisari-
tido evolução mais favorável: proporção de mu- am investir em ajuda externa a fatia irrisória de
lheres que recebem atenção no parto por pessoal apenas 0,7% de suas rendas internas. Entretan-
adequado; uso de mosquiteiros impregnados to, a porcentagem da riqueza interna que os paí-
por inseticida nas regiões de alta prevalência da ses mais abastados destinam aos países mais
malária; e cobertura do tratamento assistido para pobres caiu pela metade nos últimos quarenta
tuberculose. anos. Ela era de 0,48% entre 1960 e 1965. Hoje, é
Os primeiros sete objetivos incluem compro- de apenas 0,24%21 (Gráfico 4).
missos que deverão ser cumpridos por todos os É claro, portanto, que uma bandeira de luta

Gráfico 4. O governo gasta menos do que nunca em assistência. Assistência Oficial ao Desenvolvimento (AOD)
líquida como percentagem do PNB 1960-2003. Países da OCDE.
0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
1960 1963 1966 1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002

Fonte: Oxfam. Base de dados do Comitê de Assistência para o desenvolvimento (CAD).


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nos cenários nacionais e global é pelo aumento da O gasto militar per capita nos Estados Unidos
ajuda externa dos países desenvolvidos pelo me- foi de 1.217 dólares,enquanto não passou de 46
nos ao nível com que se comprometeram para dólares para ajuda externa, dos quais apenas 23%
alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do para os mais necessitados. Ou seja, para cada 25
Milênio. Esses objetivos modestos seriam alcan- dólares de gasto militar americano, apenas um
çados caso os países mais ricos investissem o equi- dólar é destinado à ajuda externa, do qual apenas
valente apenas oitenta dólares por habitante por 23 centavos para os mais necessitados. Na União
ano em programas de auxílio. Ressalte-se que tal Européia, os gastos militares foram de 358 dóla-
ajuda equivaleria a não mais do que um quinto res per capita para a defesa e 61 dólares para a
dos gastos dos ricos com defesa ou apenas a me- ajuda externa. Stiglitz e Bilmes, economistas e pro-
tade do que gastam em subsídio agrícolas. fessores em Colúmbia e Harvard, respectivamen-
À propósito, a comparação entre gastos mi- te, estimam que os gastos americanos apenas com
litares e ajuda oficial para o desenvolvimento é a Guerra do Iraque poderão alcançar mais de dois
chocante, conforme nos mostram os Economis- trilhões de dólares23 (Gráfico 6).
tas pela Paz e a Segurança22. O gasto militar no A Comissão sobre Macroeconomia e Saúde,
mundo, em 2003, foi de 956 bilhões de dólares, criada pela OMS no ano 2000, insiste na tese de
dos quais apenas os Estados Unidos gastaram que investimentos em saúde, ampliando a co-
417 bilhões de dólares. Para alcançar plenamente bertura com serviços essenciais de saúde desti-
os objetivos de desenvolvimento do milênio, se- nados aos pobres do mundo, através de um nú-
ria necessário gastar não mais do que 760 bilhões mero relativamente reduzido de intervenções es-
de dólares nos próximos dez anos, menos por- pecíficas, são imprescindíveis para fomentar o
tanto do que o mundo gasta com armas em ape- desenvolvimento econômico, reduzir a pobreza
nas um ano (Gráfico 5). e promover a segurança mundial24.

Gráfico 5. Gastos militares versus gastos sociais.


Objetivos de desenvolvimento
1000 Gasto militar (2003) do milênio (total)

900

800 $ 956 bilhões


Bilhões de dólares (milhares de milhões)

de dólares

700 Acesso
$ 760 universal à água
bilhões $ 210 bilhões
600

500 Gasto militar Reduzir a


Custo total dos mortalidade
mundial 2003
objetivos de infantil em dois
400 desenvolvimento terços
do milênio $ 250 bilhões
Gasto militar
300 USA 2003

200 Educação
$ 417 bilhões primária
universal
100 $ 300 bilhões

Fonte: Economistas por la Paz y la seguridad (EPS). Base de dados do Stockholm International Peace Research Institute.
1586
Buss, P. M.

Gráfico 6. Assistência versus gasto militar.

Estados Unidos União Européia


1400 1400

Dólares per cápita


Dólares per capita

1200 1200
1000 1000
800 800
600 600
400 400
200 200

Assistência ao Gasto Assistência ao Gasto


desenvolvimento Militar desenvolvimento Militar

Fonte: Economistas por la Paz y la Seguridad (EPS). Base de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A revista Science25 analisa o que chama ‘The mento regular de sua própria organização, a
New World of Global Health’, relacionando cerca OMS, o que é lamentável!
de nove iniciativas globais, de governos e/ou do- Voltando à Science25, alerta esta que não há a
adores privados, para enfrentar as principais necessária articulação entre os doadores, nem o
doenças transmissíveis prevalentes no mundo, devido preparo dos países que recebem as doa-
como AIDS, malária tuberculose e outras doen- ções – em recursos financeiros ou materiais –
ças ‘negligenciadas’. Tais iniciativas englobam fo- para bem aplicá-las. Na definição do Prof.
mento à pesquisa e desenvolvimento, aquisição e Bloom, diretor da Escola de Saúde Pública de
distribuição de vacinas, medicamentos e recur- Harvard, ‘não existe uma arquitetura adequada
sos para diagnóstico, tendo aplicado cerca de 35 para a saúde global’25. De outro lado, falta de
bilhões de dólares em países em desenvolvimen- adequada infra-estrutura sanitária dos sistemas
to nos últimos sete anos. Entre as maiores, en- de saúde, bem como de recursos humanos capa-
contram-se o Global Fund to Fight AIDS, Tuber- citados, impede que os recursos cheguem aos que
culosis and Malaria; a Global Alliance for Vacci- deles necessitam. A corrupção nos dois pólos
nes and Immunization (GAVI); e o President’s (doadores e receptores) também contribui para
Emergency Plan for AIDS Relief (PEPFAR) – este sangrar os recursos destinados para a saúde na
do governo americano. arena internacional.
A GAVI, por exemplo, reúne o Banco Mundi- Um recente e bem-sucedido exemplo de acor-
al, OMS, UNICEF e países desenvolvidos doa- do internacional com impacto global na área da
dores, fundações privadas (como a Fundação Bill promoção da saúde em enfermidades não trans-
e Melinda Gates) e outros parceiros. Esta aliança missíveis e fatores de risco é a Convenção-Qua-
estabeleceu um Fundo para Vacinas que apóia a dro sobre Controle do Tabaco, adotada em maio
imunização básica (DTP + pólio), assim como de 2005, na 56ª Assembléia das Nações Unidas e
contra hepatite B e HiB em setenta países com confirmada, em setembro do mesmo ano, na
PIB per capita abaixo de 1.000 dólares. Já foram Cúpula Presidencial de Nova York, que analisou
imunizadas com vacinação básica mais de seis e adotou outras 32 propostas como tratados in-
milhões de crianças26. Entretanto, não posso ternacionais28.
deixar de mencionar aqui o protesto de Ilona Na busca de alguma eqüidade econômica e
Kickbusch, na sua Leavell Lecture, em 200427, com da erradicação da pobreza, uma das proposi-
o qual concordo inteiramente, na qual afirma ções mais ousadas é o asseguramento de uma
considerar um escândalo na governance global renda mínima a todos os habitantes de um país,
da saúde que governos do mundo permitam que hoje denominada de renda de cidadania ou de
uma entidade filantrópica, como a Fundação Bill existência29. Economistas e políticos de renome
e Melinda Gates, tenha mais recursos para gastar defendem esta proposta, como Keynes, Tobin,
em saúde global, o que é louvável, do que o orça- Friedman, Galbraith e Moynihan e instituições
1587

Ciência & Saúde Coletiva, 12(6):1575-1589, 2007


como a Rede Européia da Renda Básica, sob a vas à remuneração das patentes que não nos pre-
liderança de Van Parijs29. Para que não pareça ços elevados dos medicamentos. É preciso vigi-
apenas uma formulação teórica ou utópica, de- lância da comunidade internacional e cobrança
vemos referir que, em diversos momentos do de atitudes politicamente coerentes e solidárias
século XX, a partir de 1930, países como Dina- das representações de nossos países nos próxi-
marca, Reino Unido, Alemanha Federal, Países mos ‘rounds’ que serão jogados na OMS e em
Baixos, Bélgica, Irlanda, Luxemburgo, França, outros fóruns internacionais.
Portugal e diversas províncias da Espanha já es- Em 2005, a OMS criou a Comissão Mundial
tabeleceram programas mais ou menos abran- sobre os Determinantes Sociais da Saúde, visan-
gentes de renda de cidadania, com resultados do gerar recomendações baseadas em evidências
muito positivos29. para a formulação de políticas e instrumentos glo-
Uma iniciativa talvez a caminho deste mode- bais e nacionais para atuar sobre os determinan-
lo, o Bolsa Família, está em curso no Brasil e tes fundamentais da saúde, que são eminentemen-
pode ser uma bandeira nacional e global em te sociais31. No Brasil, o presidente da República
muitos outros países para o enfrentamento con- criou uma comissão equivalente que, com muita
creto da pobreza e como mecanismo para “a su- honra, tenho a satisfação de coordenar32. Tenho
peração da privação da liberdade econômica, que grandes expectativas com os resultados desta co-
leva à perda da liberdade social”, no dizer de missão, cujo informe será examinado numa das
Amartya Sen11. próximas Assembléias Mundiais da Saúde e que
Para controlar a nociva circulação de capitais esperamos venha a gerar um pacto entre os paí-
especulativos, um mecanismo já está desenvolvi- ses para enfrentar, globalmente e ao nível de cada
do: a taxação das transações financeiras interna- país, os determinantes sociais da saúde.
cionais não produtivas e de curto prazo (hot A 59ª Assembléia Mundial de Saúde apro-
money) para criar um fundo mundial que visa vou, depois de anos de revisão, o novo Regula-
financiar prioridades globais (necessidades hu- mento Sanitário Internacional33, que terá vigên-
manas e ambientais básicas): aquecimento glo- cia a partir de junho de 2007. O RSI é um dos
bal, pobreza, fome e saúde. Este fundo poderia mais importantes instrumentos para o controle
alcançar entre cem e trezentos bilhões de dólares. das doenças infecto-parasitárias globalmente e
Uma iniciativa global está organizada, buscando nos países e um dos mais tradicionais tratados
apoios de todos os cidadãos do mundo para sua internacionais no campo da saúde pública. A ação
implementação, que necessita ser aprovada em uniforme, por um lado, e integrada e colaborati-
parlamentos nacionais e, depois, implementada va, por outro, permitida pelo RSI, é um exemplo
pela cooperação multilateral ou pelas Nações muito positivo da concertação internacional pos-
Unidas. A taxa recebe o nome de Tobin Tax, em sível de alcançar nas Nações Unidas como um
homenagem ao Prêmio Nobel James Tobin, de todo, e na OMS, em particular.
Yale, que a propôs pela primeira vez5. Fora da chamada ‘arena internacional oficial’,
A 59ª Assembléia Mundial da Saúde exami- devemos destacar iniciativas como o Movimen-
nou o Informe da Comissão sobre Direitos de to de Saúde dos Povos (MSP)34, coalizão de or-
Propriedade Intelectual, Inovação e Saúde Públi- ganizações da sociedade civil, organizações não-
ca30 e, após exaustivas discussões, aprovou a pro- governamentais, ativistas sociais, profissionais de
posta apresentada pelo Brasil e Quênia de prepa- saúde, acadêmicos e pesquisadores, criada por
rar um plano de médio e longo prazo para am- ocasião primeira Assembléia Mundial de Saúde
pliar os recursos para pesquisa sobre problemas dos Povos (AMSP), realizada em Bangladesh, em
de saúde que afetam desproporcionalmente os dezembro de 2000, com a participação de cerca
mais pobres e para tratar, de forma especial, os de 1.500 delegados de 75 países. A Declaração para
direitos de propriedade intelectual para os medi- a Saúde dos Povos tem sido o documento orien-
camentos e outros insumos utilizados para en- tador da ação desta coalizão. A AMSP tem bus-
frentar tais problemas. Na última Assembléia cado constituir-se em alternativa ou pelo menos
Mundial da Saúde (maio de 2007), também por complemento ao fórum oficial global, a Assem-
proposta do Brasil, conseguiu-se a surpreendente bléia Mundial da Saúde, da OMS e, por ocasião
aprovação de uma resolução que reafirma as da II AMPS, realizada em Cuenca, Equador, em
prerrogativas dos países quanto ao licenciamen- julho de 2005, lançou o Global Health Watch
to compulsório e outras salvaguardas sobre o 2005-2006 35, informe ‘alternativo’ ao World
Acordo Trips, obtidas em Doha, mas – e aqui Health Report da OMS e o Informe Alternativo
está a novidade – abre caminho para alternati- sobre la Salud en América Latina36.
1588
Buss, P. M.

Como as excelentes iniciativas antes mencio- cionais e locais específicas para o enfrentamento
nadas, observa-se uma profusão de outras inici- da expressão concreta que tomam, nestes pla-
ativas no mundo, de diversas naturezas e enfo- nos, a globalização, a pobreza e a situação de
ques, seja para aliviar a pobreza global ou de saúde-doença. A comunidade mundial de traba-
determinadas regiões ou países ou voltados para lhadores da saúde pública e inúmeras organiza-
segmentos particulares da população, como ções em todo o mundo têm dado demonstra-
mulheres e crianças, idosos, etc., seja para en- ções de compromisso e ação decidida.
frentar situações ou problemas particulares de É muito importante a mobilização de profis-
saúde – como fome, malária, AIDS, outras do- sionais de saúde em geral e de sanitaristas, em
enças negligenciadas, etc. Cabe aos profissionais particular, de todo o mundo na compreensão,
de saúde pública identificá-las e apoiá-las e criti- crítica e luta contra a globalização injusta, a po-
cá-las, global e localmente. breza e a exclusão, contra a corrida armamentis-
Na realidade, para transformar a equação ta e a violência, por um meio ambiente sustentá-
globalização pobreza e exclusão piora nas vel, pela eqüidade na saúde, pela paz e solidarie-
condições de saúde na equação globalização dade entre todos os povos do mundo, para que
eqüidade e inclusão saúde não existe uma alcancemos melhores condições de saúde e qua-
receita única. O que se tem certeza é que soluções lidade de vida não num futuro distante, mas hoje,
globais devem ser articuladas com iniciativas na- aqui e agora!
1589

Ciência & Saúde Coletiva, 12(6):1575-1589, 2007


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