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Vítima do bullying pela internet voltou a ter paz quando seu pai foi até a
antiga escola e ameaçou chamar a polícia. ‘O colégio não tinha tomado
nenhuma atitude até então’. ¹1
A partir da teoria de Stuart Hall, entende-se que a identidade adota no senso comum a
ideia de uniformidade, ou seja, uma igualdade que mais poderia ser chamada de mesmidade.
Sobre isso, ele explica:
Na linguagem do senso comum, a identificação é construída a partir do
reconhecimento de alguma origem comum, ou de características que são
partilhadas com outros grupos ou pessoas, ou ainda a partir de um mesmo
ideal” (Hall, 2000, p. 103).
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Texto retirado do site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18676.html
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Embora a diferença possa ser um bom argumento para a hierarquização, penso que a
discussão da diferença não é unívoca, e, neste caso especificamente, não possui só o sentido
de “arma ideológica”. Há outras leituras sobre este tema que não deixam de ser válidas e
legítimas. Isto porque, em torno das discussões sobre diferença e igualdade, cujo debate
parece inserir uma rivalidade entre os dois termos, caberia explicarmos mais objetivamente o
uso destes termos de forma mais concreta e contextualizada. Obviamente, a diferença é, em
certos aspectos, uma produção resultante das relações de poder e o discurso da diferença
possui meandros que podem fazer com que os conservadores colonialistas, a burguesia
industrial e a própria direita dos dias atuais, como cita Pierucci, tenham se utilizado e ainda se
utilizem da defesa da diferença para atribuir valor. Porém, afirmar que a defesa da diferença e
que a projeção e valorização das diferenças são objetivos das elites e dos representantes da
direita para, entre outras coisas, propiciar o ambiente necessário para a dominação, é entregar
o discurso da diferença nas mãos de grupos conservadores e burgueses. A diferença pode ser
vista sob um outro campo de análise que não seja o da alienação, mas sim o do
reconhecimento do que pode ser chamado de diferente. Conforme pergunta Tomaz Tadeu da
Silva, “será que as questões da identidade e da diferença se esgotam nessa posição liberal?”.
(Silva, 2000, p. 73)
Ainda em relação aos conceitos de igualdade e diferença, seria bom refletirmos
também sobre a conceituação e o uso destes termos, presentes, de forma consonante, em nossa
Constituição. O princípio da isonomia está presente no art. 5º de nossa Constituição e diz:
Art. 5º. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
(Brasil, 2002, p. 15).
Como se vê, o próprio artigo considera que há naturezas tais que precisam ser
reconhecidas. Além do mais, o enunciado do artigo quinto expressa que somos todos iguais,
ainda que com nossas diferenças. Entende-se por isso que muitas vezes é preciso que sejam
feitas discriminações para que se consiga essa igualdade formal, já que a material (situação
econômica, social, intelectual, física etc. igual para todos) implica outras articulações menos
abstratas, ou melhor, mais concretas e complexas. Essas discriminações, portanto, tornam-se
necessárias no sentido de trazer para discussão os variados problemas inerentes a cada grupo
social, buscando solucionar tais problemas de acordo com suas necessidades. Até mesmo o
conservador jurista Rui Barbosa tem uma citação que muito bem se aplica aqui:
A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos
desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social,
proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da
igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, R. Oração aos moços. Edição popular anotada por Adriano da Gama Kury. – 5.
ed. – Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 1999. Disponível em:
<http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Orac
ao_aos_mocos.pdf/ >. Acessado em: 14 out. 2009.
Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/SF/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.ht
m/>. Acessado em: 15 out. 2009.
HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
MOREIRA, A. F. B. Educação & Sociedade, ano XXIII, nº 79, Agosto/2002.
PIERUCCI, A. F. Ciladas da diferença. São Paulo, SP: 34, 1999.
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