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Com efeito, percebe-se desde logo pela simples leitura, que trabalho, que pode
ser material ou espiritual, é toda ocupação útil, tratando-se de verdadeira
necessidade do ser humano, uma vez que é através dele que em geral se
obtém o alimento, a segurança, o bem-estar, numa palavra, a conservação do
próprio corpo, assim como é pelo trabalho que se consegue o desenvolvimento
da faculdade de pensar e, por conseguinte, o aperfeiçoamento da inteligência,
o que constitui indiscutível progresso.
Por outra parte, o texto não deixa margem à dúvida de que o homem que
possua bens suficientes para lhe assegurar a existência pode, quando muito,
estar isento do trabalho material; "não, porém, da obrigação de tornar-se útil,
conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou
a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse
de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é certo,
constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é a
obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de praticar o
bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito" (resposta à pergunta 679
de O Livro dos Espíritos, a obra fundamental da veneranda Doutrina Espírita).
A clareza é solar. Não obstante, e apenas para enfatizar, o ensinamento
demonstra de forma incontestável que cada um de nós tem, no mínimo, a
obrigação de tornar-se útil ao seu semelhante e de aperfeiçoar a sua
inteligência ou a dos outros, assim como deve ter a consciência de que esta
obrigação é tanto maior quanto mais ocasiões de praticar o Bem lhe
proporcionam os bens confiados, por adiantamento. E, neste passo, convém
relembrar que "fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser
caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu
concurso venha a ser necessário" (encontrável na resposta dada à questão
643 de O Livro dos Espíritos).
Por outro lado, e como é natural, o trabalho tem um limite: o das forças de cada
um, a nada sendo obrigado o ser humano, senão de acordo com elas, assim
como o texto prevê a hipótese de quem precise trabalhar e não possa,
sobretudo na velhice, apontando que o forte deve trabalhar para o fraco; se
este não tiver família, a sociedade deve fazer as vezes desta, tal como se pode
ver pelas respostas dadas à questão 685 de O Livro dos Espíritos, esta
extraordinária obra, que pode ser considerada uma verdadeira síntese do
conhecimento humano, além de ser um precioso manual de bem viver.
Por fim, nestas ligeiras observações, cumpre não perder de vista que somos
todos imortais, razão pela qual após a morte de nosso corpo físico
continuaremos a nossa jornada evolutiva pela eternidade, uma vez que o
Espírito, o ser pensante, o verdadeiro ser, sai do corpo mas não sai da vida.