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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

1. Instrumento pedagógico e de melhoria de melhoria.


Conceitos implicados e pertinência do Modelo
Logo nas páginas iniciais da apresentação do Modelo de Auto-Avaliação da BE, diz-
se, claramente, quais são “os objectivos essenciais que se pretendem alcançar: desenvolver
uma abordagem essencialmente qualitativa, orientada para uma análise dos processos e
dos resultados e numa perspectiva formativa, permitindo identificar as necessidades e os
pontos fracos com vista a melhorá-los”1.
Aliás, o texto de reflexão que nos é proposto como leitura obrigatória sublinha a
mesma ideia, por outras palavras. Referindo-se ao Modelo, afirma que, com ele, a RBE
pretende “facultar um instrumento pedagógico e de melhoria contínua que permita aos
órgãos directivos e aos coordenadores avaliar o trabalho da biblioteca escolar e o impacto
desse trabalho no funcionamento global da escola e nas aprendizagens dos alunos e
identificar as áreas de sucesso e aquelas que, por apresentarem resultados menores,
requerem maior investimento, determinando, nalguns casos, uma inflexão das práticas”2.
É neste contexto que o mesmo documento que serve de referência a esta reflexão
clarifica alguns conceitos e sublinha várias ideias-chave que presidiram à construção e
perspectivas de aplicação do Modelo, tais como:
• “Um conceito fundamental que se associa à avaliação [...] é a noção de valor.
O valor não é algo intrínseco às coisas mas tem sobretudo a ver com a
experiência e benefícios que se retira delas: se é importante a existência de
uma BE agradável e bem apetrechada, a esse facto deve estar associada
uma utilização consequente nos vários domínios que caracterizam a missão
da BE, capaz de produzir resultados que contribuam de forma efectiva para
os objectivos da escola em que se insere;
• Pretende-se avaliar a qualidade e a eficácia da BE e não o desempenho
individual do/a coordenador/a ou elementos da equipa da biblioteca, devendo
a auto-avaliação ser encarada como um processo pedagógico e regulador,
inerente à gestão e procura de uma melhoria contínua da BE3.

Falando dos perfis de desempenho, o Modelo volta a referir os propósitos da auto-


avaliação, nomeadamente “fomentar a reflexão construtiva e contribuir para a procura da
melhoria, através da identificação de estratégias que permitam atingir o nível seguinte. [...]
Convém sublinhar que a avaliação não constitui um fim, devendo ser entendida como um
processo que deverá conduzir à reflexão e deverá originar mudanças concretas na prática.
Os exemplos de acções para a melhoria e os próprios factores críticos de sucesso apontam

1
Modelo de Auto-Avaliação (2008), Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, p. 4.
2
Texto da Sessão 2, p. 1.
3
Modelo de Auto-Avaliação (2008), p. 4.
1
Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

pistas importantes, mas em cada caso a auto-avaliação, através da recolha de evidências,


ajudará cada BE a identificar o caminho que deve seguir com vista à melhoria do seu
desempenho. A auto-avaliação deverá contribuir para a elaboração do novo plano de
desenvolvimento, ao possibilitar a identificação mais clara dos pontos fracos e fortes, o que
orientará o estabelecimento de objectivos e prioridades, de acordo com uma perspectiva
realista face à BE e ao contexto em que se insere”4.
Trata-se, portanto, de uma forma inequívoca, de um instrumento pedagógico,
orientador das escolas, que integra os princípios definidos nos documentos fundacionais
que orientam o trabalho das bibliotecas escolares e rentabiliza o conhecimento que a
investigação na área tem desenvolvido.
Para a concretização deste novo paradigma, no actual contexto global de mudança,
parte-se de um novo conceito de BE e da sua missão, conferindo-lhe uma clara centralidade
na vida da escola/agrupamento e no processo da construção do conhecimento, do
desenvolvimento curricular, em suma, do sucesso educativo.
Subjacente a esta abordagem está uma perspectiva construtivista do conhecimento,
em que o aluno se apresenta como protagonista do seu percurso, uma atitude de
questionamento permanente, a modificação global das estruturas que obrigam ao
desenvolvimento de novas literacias e a uma aprendizagem contínua ao longo da vida e
ainda a “necessidade de gerir a mudança buscando evidências relatadas em diferentes
estudos acerca do impacto que as bibliotecas escolares têm na escola e quais os factores
que se assumem como críticos ao seu desenvolvimento”5.
Por tudo isto, ninguém duvidará da pertinência do Modelo, tendo em conta o
paradigma em que nos movemos, o salto qualitativa que todos os agentes educativos são
desafiados a concretizar nos alvores do séc. XXI e até o modelo de desenvolvimento
organizacional da escola que, cada vez mais, reclama uma melhoria da qualidade dos
serviços prestados pela BE.
M. B. Eisenberg e D. H. Miller, falando desta mudança do papel da BE e da liderança
que o professor bibliotecário é chamado a desempenhar, sublinham a importância do
pensamento e do planeamento estratégicos, enquanto ferramentas de gestão que nos
permitem passar da visão à realidade – “strategic management turns vision into reality”6.
E, a propósito do planeamento estratégico, os autores explicam em que deve consistir
a nova abordagem da BE enquanto organização: “A systems approach means looking at an
organization in terms of inputs, processes, and outputs. For example, inputs refer to the
building blocks of the library program - the staff, resources, information technology systems,

4
Ibidem, pp. 9-10.
5
Texto da Sessão, p. 2.
6
Michael B. Eisenberg with Danielle H. Miller, “This Man Wants to Change Your Job”, in School Library
Journal, 9/1/2002 (http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA240047.html, acedido em 03.11.2009).
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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

facilities, and budget. Outputs are the services, instruction, and resources that the program
provides to students and faculty. When describing their programs, librarians frequently focus
on the inputs when they should be promoting the outputs. Decision makers don't care so
much about inputs. They're more interested in the results what programs provide for
students”7.
Daí que, segundo os investigadores, a análise e o planeamento sejam fundamentais.
“The whole point is to make planning an ongoing process that requires continuous revision
and reevaluation. A rolling plan does not imply never reaching one's goals. In fact, you
should be able to look back at any period and determine whether your original objectives,
steps, and goals were attained”8.
Aqui está a razão de ser, a pertinência deste Modelo de Auto-Avaliação da BE.
Porque, de facto, importa validar práticas mediante a recolha de evidências, para, assim,
criar valor e garantir a centralidade da Biblioteca Escolar.
“Anecdotal information is not enough. The name of the game is accountability”9.

2. Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos


O Modelo, que se baseia no Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
Inglesas, organiza-se em quatro domínios e num conjunto de indicadores sobre os quais
assenta o trabalho da BE e que estão identificados em diferentes estudos internacionais
como cruciais ao desenvolvimento e qualidade das bibliotecas escolares. Nestes estudos é
visível o reconhecimento de que a BE é usada enquanto espaço equipado com um conjunto
significativo de recursos e de equipamentos (as condições externas, as condições físicas e a
qualidade da colecção são fundamentais) e como espaço formativo e de aprendizagem,
intrinsecamente relacionado com a escola, com o processo de ensino/ aprendizagem, com a
leitura e com as diferentes literacias.
Daí a seguinte estrutura do Modelo:
A. Apoio ao Desenvolvimento Curricular
A.1 Articulação curricular da BE com as estruturas pedagógicas e os
docentes
A.2 Desenvolvimento da literacia da informação
B. Leitura e Literacias
C. Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à Comunidade
D. Gestão da BE
D.1 Articulação da BE com a Escola/Agrupamento. Acesso e serviços
prestados pela BE

7
Ibidem.
8
Ibidem.
9
Ibidem.
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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

D.2 Condições humanas e materiais para a prestação dos serviços


D.3 Gestão da colecção

“Cada domínio/subdomínio é apresentado num quadro que inclui um conjunto de


indicadores temáticos (primeira coluna) que se concretizam em diversos factores críticos de
sucesso. Os indicadores apontam para as zonas nucleares de intervenção em cada domínio
e permitem a aplicação de elementos de medição que irão possibilitar uma apreciação sobre
a qualidade da BE. Os factores críticos de sucesso pretendem ser exemplos de situações,
ocorrências e acções que operacionalizam o respectivo indicador. A listagem (não
exaustiva) permite compreender melhor as formas de concretização do indicador, tendo
simultaneamente um valor informativo/formativo e constituindo um guia orientador para a
recolha de evidências. Para cada indicador são igualmente apontados possíveis
instrumentos para a recolha de evidências que irão suportar a avaliação. Finalmente, o
quadro apresenta, também para cada indicador, exemplos de acções para a melhoria, ou
seja, sugestões de acções a implementar no caso de ser necessário melhorar o
desempenho da BE em campos específicos”10.
Como se pode verificar, houve a preocupação de tornar facilmente perceptível não só
a estrutura do Modelo, mas também os processos implicados na sua implementação.
Apontando para as áreas nucleares em que se deverá processar o trabalho da/com a
BE e que têm sido identificadas como elementos determinantes e com um impacto positivo
no ensino e na aprendizagem, o Modelo permite dotar as escolas/ bibliotecas de um quadro
de referência e de um instrumento que lhes induz a melhoria contínua da qualidade e a
busca de uma perspectiva de inovação.
Obviamente que há aspectos que serão mais significativos do que outros, mas o papel
do professor bibliotecário é situá-lo no contexto organizacional da sua escola/agrupamento,
elegendo prioridades de intervenção, no âmbito de um pensamento estratégico flexível11.
Neste trabalho, é fundamental o desenvolvimento de práticas sistemáticas de recolha
de evidências de qualidade (pesquisa-acção) que proporcionem informação acerca de
determinada questão, a partir da qual seja possível proceder a uma avaliação e
interpretação que se traduzam num elenco de factores críticos de sucesso e num conjunto
de indicações quanto a possíveis acções prioritárias que conduzam à melhoria. Só assim as
BE’s se afirmarão como “organizações capazes de aprender e de crescer”12!

10
Modelo de Auto-Avaliação (2008), pp. 6-7.
11
“This year, for example, your school's focus may be on improving reading scores through coordinated
schoolwide efforts. This would likely call for an increased emphasis on your role as a reading advocate, while
maintaining or perhaps reducing activities related to information literacy instruction or information management.
Next year, however, the school may focus on integrating technology into classrooms, and the library program
will have to shift its emphasis accordingly” (Michael B. Eisenberg com Danielle H. Miller, art. cit.).
12
Texto Sessão, p. 6.
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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

Trata-se de uma nova cultura organizacional que implica um paradigma de


funcionamento completamente novo. É, por isso, natural que, numa primeira fase, desperte
um grande sentimento de insegurança e até de apreensão e de resistência, para além de
absorver imenso tempo e energias, uma vez que ainda não estão criadas rotinas, nem
estamos muito familiarizados com práticas avaliativas dos diversos serviços/estruturas da
escola. De facto, há uma imensidão de papéis, de inquéritos e de dados estatísticos que
importa trabalhar, para, quase sempre, se chegar a uma conclusão que já se conhecia, por
percepção intuitiva… E muito do nosso precioso tempo lá vai em “prejuízo” de outros
aspectos!
De qualquer forma, este é o caminho, conforme o sublinham vários especialistas, entre
eles, Ross Todd. Segundo este autor, “evidence-based practice means a shift in focus from
information inputs to knowledge and skills outputs, such as mastery of curriculum content,
critical thinking and knowledge-building competencies, mastery of complex technical skills for
accessing and evaluating information, and using information to construct deep knowledge.
EBP also includes outcomes that are related to reading comprehension and enrichment, as
well as to the attitudes and values associated with information use and learning”13.
Quer dizer, o segredo para que a BE marque a diferença e afirme o seu impacto nas
aprendizagens passa por este nova prática, centrando as atenções, não nos recursos
(colecção existente, recursos humanos, verba gasta com o funcionamento da BE...) e nos
processos, mas na mais-valia ou impacto positivo que estes trazem à escola e à
aprendizagem.
Ross Todd chega mesmo ao ponto de afirmar que “if school librarians can’t prove they
make a difference, they may cease to exist14”. Depois de sublinhar a necessidade das BE’s
se transformarem em centros potenciadores da construção do conhecimento e de
desenvolvimento de atitudes e de valores, aponta alguns aspectos essenciais neste
domínio:
 “The value of a school library can be measured. Learning outcomes, as well as
personal, social, and cultural growth, can be documented.
 Evidence of the school library’s crucial role in student achievement is not fully
understood, nor seen, nor acknowledged by many stakeholders.
 Accountability is an essential component of sustainable development of the school
library profession. Accountability, as a blueprint for professional integrity and
significant outcome, is a commitment to growth through examining progress and

13
Ross Todd, “The Evidence-Based Manifesto for School Librarians”, School Library Journal, 4/1/2008
(http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA6545434.html, acedido em 03.11.2009). Neste artigo, Todd
afirma que esta abordagem holística da prática baseada em evidências envolve três dimensões: “evidence for
practice, evidence in practice, and evidence of practice”.
14
Ibidem.
5
Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

practices. It brings alignment, innovation, collaboration, introspection, and


effectiveness.
 Sustainable development through accountability requires a move from rhetoric to
evidence, from a “tell me” framework to a “show me” framework, and from a
process framework to an outcomes framework.
 If we do not show value, we will not have a future. Evidence-based practice is not
about the survival of school librarians, it’s about the survival of our students. This is
the social justice and ethical imperative for evidence-based practice”15.

Bem sei que, em termos conceptuais, este discurso é consistente. De qualquer forma,
penso que enferma, em boa medida, da (pseudo)cultura de sucesso/êxito que marca pontos
no mundo ocidental. Aliás, estamos perante uma prática teorizada na América do Norte, Grã
Bretanha, Austrália e Nova Zelândia, berço, grosso modo, da alegada eficácia económica de
tão triste memória nos tempos recentes, apesar de, há apenas alguns anos atrás, tudo
estar, oficialmente, na melhor das situações, sob a liderança de gestores brilhantes, por
“dentro e por fora”…, com gigantescos prémios de produtividade.
Ao centrar a sua abordagem na medição do impacto, isto é, dos benefícios que os
utilizadores retiram do funcionamento da BE, seja a nível dos conhecimentos, seja ao nível
das atitudes e dos valores, penso que estamos a ser demasiado ambiciosos, como se fosse
possível quantificar e fragmentar tudo, mesmo em termos educativos.
A escola é uma organização sui generis que não pode ser confundida com uma
qualquer linha de montagem, em que tudo é mensurável e atribuível a determinado sector
de produção ou colaborador.
O desenvolvimento de atitudes e de valores e a promoção das literacias são tarefas
transversais a todos os actores educativos, entre os quais se inclui a BE. Querer quantificar
o seu contributo no que diz respeito às conquistas dos alunos em termos de competências
adquiridas num curto período de tempo é querer tratar como estanque aquilo que não o é. E,
quando se trata de atitudes e de valores, então o problema torna-se ainda mais complexo.
É claro que podemos fazer inquéritos e entrevistas aos utilizadores, reunir dados
através de múltiplos instrumentos de recolha de informação e concluir que, de acordo com
os elementos obtidos e as declarações e percepções produzidas, a BE desempenha um
papel muito importante no processo de da construção do conhecimento e de afirmação da
cidadania dos nossos alunos.
Deste modo, validamos “o que fazemos, como fazemos, onde estamos e até onde
queremos ir, mas sobretudo o papel e intervenção, as mais-valias que acrescentamos”16. E

15
Ibidem.
16
Texto da Sessão, p. 5.
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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

provamos que somos valorizados pela comunidade escolar que, eventualmente, até diz ter
uma boa imagem da BE. Mas devemos manter a noção da realidade e reconhecer que
somos “apenas” uma peça numa máquina complexa, em que muitos actores dão o seu
contributo para o produto final que é a formação dos alunos… E manter a consciência de
que o mais importante em todo este processo é a existência de uma atitude de verdade e de
vontade de melhoria da qualidade do serviço da BE. Porque, quanto a inquéritos e a recolha
de dados, tudo é manipulável, não faltam engenharias – até financeiras!

3. Integração/aplicação à realidade da Escola


Na implementação deste Modelo, é necessário, desde logo, que a BE esteja integrada
institucionalmente na Escola, através do reconhecimento nos seus documentos
estratégicos, e que exista um trabalho sistemático de articulação com as várias estruturas
pedagógicas e os docentes em geral – o que constitui um dos grandes constrangimentos e,
portanto, um desafio, uma vez que há poucos hábitos de trabalho cooperativo –, tendo em
vista o desenvolvimento de actividades educativas e de aprendizagem.
É ainda fundamental que exista uma equipa BE estável e multidisciplinar, constituída
por docentes motivados e com formação na área (o que é raro acontecer!), de tal forma que
se vá aprofundando uma determinada cultura e amadurecendo práticas e atitudes. E o
mesmo se diga em relação aos assistentes operacionais que, de uma forma permanente,
devem garantir apoio à BE.
No caso da minha Escola, este é, porventura, o aspecto mais crítico, juntamente com
a dimensão da BE que inclui duas salas em espaços distantes, para além de servir mais de
mil e duzentos alunos, do 1.º ciclo ao 12.º ano, incluindo CEF’s, PIEF, Cursos Profissionais
e Educação e Formação de Adultos. Tudo isto com um único professor bibliotecário e uma
equipa que muda de ano para ano e que, na esmagadora maioria dos casos, não faz a
mínima ideia das exigências e dos desafios que, actualmente, se colocam a uma BE. Esta
situação é tanto mais lamentável quanto é verdade que se gerou de há dois anos a esta
parte por imperativos legais resultantes do processo de fusão da então Escola Básica com a
Secundária/3.º ciclo. A Direcção continua a reconhecer o papel da BE e a querer valorizá-lo,
só que, entretanto, surgiram novos constrangimentos organizacionais e a verdade é que, em
termos de equipa, se regista uma perda.
Independentemente destas dificuldades, o Modelo prevê uma aplicação gradual, ao
longo de quatro anos, tendo em conta o contexto de cada escola. Anualmente, o professor
coordenador/bibliotecário selecciona, em articulação com a equipa e o Conselho
Pedagógico, o domínio a ser objecto de aplicação dos instrumentos, implementando a
seguinte dinâmica:
- “Identificação de um problema ou de um desafio;

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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

- Recolha de evidências;
- Interpretação da informação recolhida;
- Realização das mudanças necessárias;
- Recolha de novas evidências acerca do impacto dessas mudanças”17.
O ciclo completa-se ao fim de quatro anos e deve fornecer uma visão holística e global
da BE.
No final, a avaliação da qualidade do trabalho desenvolvido traduz-se num perfil de
desempenho, entre quatro possíveis: Excelente (4), Bom (3), Satisfatório (2) e Fraco (1). Na
minha opinião, estes perfis são demasiado redutores, porque é extremamente difícil situar,
com rigor, o desempenho da BE num único nível, tendo em conta que a qualidade do
trabalho ora se ajusta mais a um descritor ora a outro… Para além disso, o “Excelente” é de
tal maneira ambicioso e exigente que se torna, porventura, inatingível, o que significa que a
avaliação das BE’s, na sua esmagadora generalidade, nunca irá além do “Bom”.
De qualquer forma, é este o caminho para se construir uma cultura de avaliação e uma
atitude proactiva empenhada na recolha de informação de qualidade capaz de apoiar a
tomada de decisão.

4. Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas na sua aplicação


Subjacente a todo este processo está um pressuposto: o professor bibliotecário é um
super profissional, com reconhecida capacidade de liderança e competência aos níveis
pedagógico-didáctico, inovação e desenvolvimento curricular, biblioteconomia, novas
tecnologias, gestão, relações públicas, animação sócio-cultural, etc., etc..
O texto disponibilizado para esta sessão não poderia ser mais claro, ao elencar 14
competências – nem mais, nem menos! – que o professor bibliotecário deverá evidenciar
neste processo. Dado o rigor exaustivo da enumeração, aqui ficam, para memória futura:
a. “Ser um comunicador efectivo no seio da instituição;
b. Ser proactivo;
c. Saber exercer influência junto de professores e do órgão directivo;
d. Ser útil, relevante e considerado pelos outros membros da comunidade
educativa;
e. Ser observador e investigativo;
f. Ser capaz de ver o todo - “the big picture”;
g. Saber estabelecer prioridades;
h. Realizar uma abordagem construtiva aos problemas e à realidade;
i. Ser gestor de serviços de aprendizagem no seio da escola;

17
Ibidem, p. 9.

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Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

j. Saber gerir recursos no sentido lato do termo;


k. Ser promotor dos serviços e dos recursos;
l. Ser tutor, professor e um avaliador de recursos, com o objectivo de apoiar e
contribuir para as aprendizagens;
m. Saber gerir e avaliar de acordo com a missão e objectivos da escola.
n. Saber trabalhar com departamentos e colegas”18.

Assegurado este líder super profissional que terá de se rodear de uma equipa
qualificada, há que providenciar no sentido de a Direcção e de as estruturas educativas da
Escola conhecerem o Modelo de Auto-Avaliação e o acolherem como “um instrumento
agregador, capaz de unir a escola e a equipa em torno do valor da BE e do impacto que
pode ter na escola e nas aprendizagens”19.
Isto implica que a organização – é de uma Escola que estamos a falar – esteja
preparada para a aprendizagem contínua e que a equipa BE esteja motivada, sob “a
liderança forte do professor coordenador, que tem de mobilizar a escola para a necessidade
e implementação do processo avaliativo”20, explorando uma metodologia de sensibilização
que privilegie, entre outros aspectos:
1. “A mobilização da equipa para a necessidade de fazer diagnósticos/avaliar o
impacto e o valor da BE na escola que serve;
2. Jornadas formativas para a equipa e para outros na escola. Definição
precisa de conceitos e processos. Realização de um processo de
formação/acção.
3. A comunicação constante com o órgão directivo, justificando a necessidade
e o valor da implementação do processo de avaliação.
4. A apresentação e discussão do processo no Conselho Pedagógico.
5. Aproximação/diálogo com departamentos e professores. Criação e difusão
de informação/calendarização sobre o processo e sobre o contributo de
cada um no processo”21.

18
Texto da Sessão, p. 8. Eisenberg e Miller afirmam que o professor bibliotecário deve ter “Articulate a Vision
and Agenda”, “Be Strategic” e “Communicate Continuously” (cfr. Michael B. Eisenberg com Danielle H.
Miller, art. cit..
19
Texto da Sessão, p. 7.
20
Ibidem, p. 7.
21
Ibidem, p. 8.
Eisenberg e Miller sugerem ainda a criação de um “Conselho Consultivo da BE”: “A library advisory committee
reinforces the view that the library isn't the personal domain of the school librarian - it belongs to everyone in the
school community. A library advisory committee also provides a support base for the library program and
librarian. Not only do its members lend clout, but it also creates a mechanism for setting priorities,
troubleshooting, and long-term planning” (cfr. art. cit.).
9
Modelo de Auto-Avaliação das BE’s: validar práticas, construir valor

No âmbito desta opção estratégica de envolvimento e de gestão de cumplicidades


entre os diversos actores educativos, é evidente que os processos e os resultados devem
ser partilhados com o Director e discutidos nos órgãos de gestão pedagógica,
nomeadamente no Conselho Pedagógico a quem será apresentado o “Relatório Anual” para
o aprovar, emitindo recomendações.
Na “Breve Introdução” do “Relatório Anual” aplicado no último ano lectivo, diz-se
explicitamente que os resultados obtidos no processo de auto-avaliação devem “ser objecto
de análise colectiva e de reflexão na escola/agrupamento. […] Esse relatório deve dar uma
visão holística do funcionamento da biblioteca escolar e assumir-se como instrumento de
recolha e de difusão de resultados a ser apresentado junto dos órgãos de gestão e de
decisão pedagógica. Deve integrar o relatório anual de actividades da escola e originar uma
súmula a incorporar no relatório de avaliação da escola e deve orientar o coordenador na
entrevista a realizar pela Inspecção-Geral da Educação”22.
Trata-se, afinal, de prestar contas e de assumir plenamente as responsabilidades,
validando, com o rigor possível, o que funciona bem e identificando eventuais
constrangimentos.
A informação resultante do processo de auto-avaliação das bibliotecas escolares tem,
de facto, “um valor estratégico para a escola, com a qual a biblioteca escolar tem
intersecções e links directos, mas é também indispensável à tomada de decisões do
Programa que gere a instalação e o desenvolvimento da rede de bibliotecas escolares –
Programa RBE”23.
Por isso é que, como afirma Ross Todd, estamos perante uma questão de
sobrevivência das BE’s e dos professores bibliotecários. Porque, se não provarmos que
constituímos uma mais-valia que marca a diferença, não há razões para continuarmos a
existir.
É, portanto, necessário que todos nos empenhemos neste desígnio estratégico, com
paixão, entusiasmo, optimismo e energia. E que mobilizemos toda a comunidade escolar, de
uma forma concertada e em sintonia com as prioridades e os objectivos da Escola.
O caminho sustentado e seguro está delineado. Com uma enorme serenidade
pragmática, tendo em conta o ambiente interno (condições estruturais) e externo da nossa
biblioteca, há que começar a construí-lo, até porque, como diz o poeta António Machado, “o
caminho faz-se ao caminhar”…
“It’s time to get working!”24

Ponte da Barca, 07.11.2009


Luís Arezes

22
Bibliotecas Escolares: Modelo de Relatório de Auto-Avaliação, RBE (2009), p. 1.
23
Texto da Sessão, p. 12.
24
Ross Todd, art. cit..
10

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