Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
FILOSOFIA DA CIÊNCIA
MANAUS – AM
2009
2
AS ORIGENS DA FILOSOFIA
dignidade de ser, de princípio, de ser em si, a existência em si, da qual todas as demais são
simples derivadas; e ele determinou que esta coisa era a água. Para Tales de Mileto a água é o
princípio de todas as coisas. De modo que todas as demais coisas têm um ser derivado,
secundário. Consistem em água. Mas a água, ela, que é? Como ele diz: o princípio de todo o
mais não consiste em nada; existe, com uma existência primordial, como princípio essencial,
fundamental, primário.
Outros filósofos dessa mesma época – do século VII antes de Jesus Cristo –
tomaram atitudes mais ou menos parecidas com a de Tales de Mileto. Por exemplo,
Anaximandro também acreditou que o princípio de todas as coisas era algo material; porém,
já teve uma idéia um pouco mais complicada que Tales; e determinou que este algo material,
princípio de todas as demais coisas, não era nenhuma determinada, mas uma espécie de
protocoisa, que era o que ele chamava em grego apeiron, indefinido, uma coisa indefinida
que não era nem água, nem terra, nem fogo, nem ar, nem pedra, mas antes tinha em si, por
assim dizer, em potência, a possibilidade de que dela, dessa apeiron, desse infinito ou
indefinido, se derivassem as demais coisas.
Outro filósofo que se chamou Anaxímenes foi também um desses filósofos
primitivos que buscaram uma coisa material como origem de todas as demais, como origem
dos demais princípios, como única existente em si e por si, da qual eram derivadas as demais.
Anaxímenes, para isso, tomou o ar.
É possível que haja havido mais tentativas de antiqüíssimos filósofos gregos que
procuraram alguma coisa material; mas estas tentativas foram rapidamente superadas. Foram-
no, primeiramente, na direção curiosa de não procurar uma, mas várias; de acreditar que o
princípio ou origem de todas as coisas não era uma só coisa, mas várias coisas. É de supor que
as críticas de que foram alvo Tales, Anaximandro e Anaxímenes contribuíssem a isso. A
dificuldade grande de fazer crer a alguém que o mármore pentélico, em Atenas, fosse
derivado da água; a dificuldade também de fazê-lo derivar do ar, de fazê-lo derivar de alguma
coisa determinada, fez provavelmente que fossem alvo de críticas acerbas essas derivações, e
então sobreveio a idéia de salvar as qualidades diferenciais das coisas, admitindo, não uma
origem única, mas uma origem plural; não uma só coisa, da qual fossem derivadas todas as
coisas, mas várias coisas; e assim, um antiqüíssimo filósofo, quase legendário, que se chamou
Empédocles, inventou a teoria de que eram quatro as coisas realmente existentes, das quais se
derivam todas as demais e que essas quatro coisas eram: a água, o ar, a terra, e o fogo, que ele
chamou “elementos”, isto é, aquilo com que se faz tudo o mais.
4
enquanto o outro estará interessado nos processos respiratórios, fluxo sangüíneo, perda de
massa óssea.
Em virtude da sobreposição de algumas áreas, tem sido muito difícil estabelecer
delimitações de onde começa uma ciência e onde termina a outra.
O próprio Popper1 analisa essas dificuldades em seu trabalho sobre a questão da
indução.
Do ponto de vista do conhecimento - gnosiologia - o conhecimento é o reflexo e a
reprodução do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do conhecimento participam
os sentidos, a razão e a intuição.
A grande dúvida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de
conhecimentos. 17/02/09
Com relação ao lugar e à importância dos sentidos, da razão e da intuição há
divergências de opiniões entre os maiores pensadores sobre o assunto e na história da
filosofia, aparecem diferentes doutrinas a respeito.
Vem do grego o termo ciência - scire - que designa conhecer. Significava, de uma
forma geral, para os gregos, todo o saber criticamente fundamentado. Dessa forma, todo o
resultado da indagação racional fazia parte integrante de um único saber e a ciência não se
distinguiria da filosofia.
Nos dias de hoje, a ciência distingue-se das outras formas de conhecimento
representando um nível intermediário entre o conhecimento vulgar - o ínfimo2 indicado - e o
mais elevado, que é a própria filosofia, exceção feita aos aspectos especiais qualificativos
como é o caso das ciências jurídicas, filosóficas e outras.
É discutível, mas a ciência já não tem o seu perfil ideal na filosofia, e sim na física,
na química, na biologia. Quanto mais um ramo de estudo se aproxima desta, tanto mais
merece a consideração da ciência.
COMPONENTES DA CIÊNCIA
As ciências possuem:
a) Objetivo ou finalidade - A ciência visa estabelecer a distinção das
características comuns ou das leis que regem as relações de causa e efeito dos fenômenos.
________________________
1. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1975. p. 27.
2. O mais baixo de todos. (Dicionário Aurélio).
6
17/02/09
Função - A principal é o aperfeiçoamento do conhecimento em todas as áreas
para tornar a existência humana mais significativa.
Objeto - Subdividido em:
- Formais - Os objetos das ciências formais ou pura são os ideais. Seu método é a
dedução, e seu critério de verdade é a consistência ou não contradição de seus enunciados.
Todos os seus enunciados são analíticos, isto é, deduzidos de postulados ou teoremas.
- Factuais - Os objetos das ciências factuais ou aplicadas, são materiais, seu
método é a observação e a experimentação e, em segundo lugar, também a indução e seu
critério de verdade é a verificação. Os enunciados das ciências factuais são
predominantemente de síntese, embora haja também enunciados analíticos.
________________________
3. ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7ª
ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. p. 15.
8
Não existe uma linguagem única para a classificação das ciências. A sua
classificação foi feita por diferentes pensadores e estudiosos do assunto. As propostas vêm
dos gregos, passa por Comte com o positivismo, Carnap, Wundt, Bunge e outros.
Baseando-nos em Bunge4, apresentamos a seguinte classificação das ciências e
ramos de estudo.
A geologia, meteorologia, oceanografia e astronomia também são agrupadas como
geociências.
FILOSOFIA (LÓGICA)
FORMAIS
(Puras) MATEMÁTICA
__________________________
4. BUNGE, Mário. La Ciência, Su Método y Su Filosofia. Buenos Aires: Sigioveinte, 1974.
9
A teoria do conhecimento tem o seu início com a seguinte pergunta: Podemos ter
um conhecimento exato do mundo que nos cerca? Ou seja, trata-se de saber se o mundo é
conhecido tal qual é, ou de forma diferente do que aparenta ser?
Do ponto de vista científico - gnosiologia - o conhecimento é o reflexo e a
reprodução do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do conhecimento participam
os sentidos, a razão e a intuição.
A grande dúvida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos.
Com relação ao lugar e a importância dos sentidos, da razão e da intuição no conhecimento
da verdade há divergências de opiniões e na história da filosofia aparecem diferentes
doutrinas a respeito:
03/03/09
O EMPIRISMO
Sua origem vem do grego empeiria, que significa experiência. É uma doutrina
afirma que a única fonte de nossos conhecimentos é a experiência recebida e experimentada
pelos nossos sentidos. Seu principal axioma em latim é: NIHIL EST IN INTELLECTU QUOD
PRIUS NON FUERIT IN SENSU - Nada existe no intelecto que antes não tenha estado nos
sentidos.
De uma forma geral os empiristas como Locke, Hume, Condillac, Stuart Mill e
outros consideram que o conhecimento empírico, obtido através dos órgãos dos sentidos, é
suficiente para conhecer a verdade. Por ocasião do nosso nascimento, a nossa mente está
totalmente vazia, assemelhando-se a um buraco negro ou a uma folha em branco na qual,
com o passar do tempo, a experiência escreve.
De acordo com os pensadores, principalmente Locke, todos os nossos
conhecimentos, incluindo os mais gerais e abstratos, o sujeito cognoscente tira da experiência
a sua forma de ser.
10
A razão não agrega nada de novo, porque se limita simplesmente a unir e ordenar
os diferentes dados da experiência. É suficiente a razão se afastar dos dados da experiência
para cair no erro, desligar-se da realidade.
O principal mérito do método empírico é o de assinalar com vigor a importância
da experiência na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral têm
razão ao afirmar que não existem idéias inatas, e de que antes da experiência não há e nem
pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior.
Entretanto, o ponto fraco dos empiristas é, sem dúvida, a subestimação do papel da
razão, do pensamento abstrato e a sua diferença qualitativa em relação ao conhecimento
empírico.
Os nossos sentidos nos dão somente o conhecimento dos fenômenos. A essência
das coisas, o número, só podem ser alcançados pela razão, pelo pensamento abstrato. Tanto
isso é verdadeiro que muita gente, muitos estudantes, possuem grande dificuldade para atingir
o raciocínio abstrato e não se desenvolvem. O mundo de hoje, séc. XXI, está a exigir o
raciocínio abstrato, muito mais do que nas épocas anteriores. A ciência e a tecnologia se
desenvolvem praticamente no mesmo ritmo e, às vezes, com vantagens para a tecnologia.
A RAZÃO
Doutrina que afirma que a razão humana, o pensamento abstrato, é a única fonte do
conhecimento. O termo vem do latim ratio = razão.
Ao contrário dos empiristas, os racionalistas afirmam que os nossos sentidos nos
enganam e nunca podem conduzir a um conhecimento verdadeiro, uma vez que o mundo da
experiência encontra-se em contínua mudança e transformação. É como o universo, em
constante mutação. Para os racionalistas, um conhecimento é verdadeiro somente quando é
logicamente necessário e universalmente válido. Esse conhecimento só pode ser alcançado
pela razão. O racionalismo começa com Platão e se estendem por Descartes, Espinosa,
Leibniz, Kant e outros.
____________________________
5. CAIARD, Edward. The Critical Philosophy of Immanuel Kant. Glasgow, 1889.
KULPE, Oswald. Immanuel Kant. Leipzig, 1908.
6. AXIOMA: do grego axiologos, do latim axioma. Premissa imediatamente evidente que se admite como
universalmente verdadeira sem exigência de demonstração. Máxima Sentença.
11
De acordo com a Teoria das Idéias Inatas de Descartes ou das formas a priori de
Kant, os conceitos fundamentais do conhecimento são os inatos, ou seja, nascem conosco e,
nesse sentido, não procedem da experiência, são a priori, conforme Kant, anteriores à
experiência5.
O principal mérito do racionalismo, ao contrário do empirismo, consiste no fato de
reforçar a idéia do importante papel ativo e criador da razão, do pensamento abstrato, no
conhecimento da verdade e da essência das coisas.
A INTUIÇÃO
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o
problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da
especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de Sócrates, que limitava a
pesquisa filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal
indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.
O mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os elementos puramente
racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a precisão, o método, a terminologia científica
que tanto caracterizam os escritos do sábio estagirita.
alma, por sua natureza, conhecer diretamente as essências, não só as materiais mas também as
espirituais.
4. Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para
os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Nasceu Sócrates
em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira.
Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem
recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi
sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de
Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou
a sua instrução, sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da
época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para
bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do
homem, é a prática da virtude. A virtude adquiriu-se com a sabedoria ou, antes, com ela se
identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência
natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza
moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se
músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito,
assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade
significa racionalidade, ação racional.
5. O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual,
com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e,
em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito,
dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas
dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem
como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O
fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para
construir uma ética é necessária uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder
logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez,
totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o
sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical
intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo,
pragmatismo, ativismo.
22
6. Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as
execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou
e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente
desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em
palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade
da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com
arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido
tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio".
7. A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora,
de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates),
do outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório (Heráclito). Deve, logo,
existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos
mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se
Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas
abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as
coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato
perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na
esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de
Parmênides, sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de
toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.
Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em
dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele
não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião
verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento
sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o
conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um
conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um
conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas
estão assim, sem saber por que o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem
estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento
das coisas pelas causas.
23
Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de
toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.
12. A metafísica aristolética é a ciência do ser como ser, ou dos princípios e das
causas do ser e dos seus atributos essenciais. Ela abrange ainda o ser imóvel e incorpóreo,
principio dos movimentos e das formas do mundo, bem como o mundo mutável e material,
mas em seus aspectos universais e necessários. Exporemos, portanto, antes de tudo, as
questões gerais da metafísica, para depois chegarmos àquela que foi chamada, mais tarde,
metafísica especial; tem esta como objeto o mundo que vem-a-ser – natureza e homem –
culmina no que não pode vir-a-ser, isto é, Deus. Pode o intelecto vê em a natureza das coisas -
intus legit - mais profundamente do que os sentidos, sobre os quais exerce a sua atividade. Na
espécie sensível - que representa o objeto material na sua individualidade, temporalidade,
espacialidade, etc., mas sem a matéria - o inteligível, o universal, a essência das coisas é
contida apenas implicitamente, potencialmente. Para que tal inteligível se torne explícito,
atual, é preciso extraí-lo, abstraí-lo, isto é, desindividualizá-lo das condições materiais. Tem-
se, deste modo, a espécie inteligível, representando precisamente o elemento essencial, a
forma universal das coisas. E se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da
metafísica aristolética: potência e ato, matéria e forma particular e universal, movido e motor.
A primeira e a última abraçam todo o ser, a segunda e a terceira toda o ser que está presente à
matéria.
13. A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristolética:
potência significa possibilidade, capacidade de ser, não-ser atual; e ato significa realidade,
perfeição, ser efetivo.
O princípio básico da ontologia tomista é a especificação do ser em potência e ato.
Ato significa realidade, perfeição; potência quer dizer não-realidade, imperfeição. Não
significa, porém, irrealidade absoluta, mas imperfeição relativa de mente e capacidade de
conseguir uma determinada perfeição, capacidade de concretizar-se. Tal passagem da
potência ao ato é o vir-a-ser, que depende do ser que é ato puro; este não muda e faz com que
tudo exista e venha-a-ser. Opõe-se ao ato puro a potência pura que, de per si, naturalmente é
irreal, é nada, mas pode tornar-se todas as coisas, e chama-se matéria.
14. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais,
formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de
que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem
abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e
defeituosas.
26
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na
esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de
Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri
O objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência
platônica. A ciência platônica e aristotélica é, portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que se
pode aprender precede a sensação e é independente dela. No sentido estrito, a filosofia
aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do condicionado mediante a
condição, porquanto o primeiro elemento depende do segundo.
15. Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião do
vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e
imutável. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que falta a
gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais ou menos, idênticas. O
conhecimento sensível deve ser superado por um outro conhecimento, o conhecimento
conceptual, porquanto no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se
elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O conhecimento sensível,
particular, mutável e relativo, não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua
característica a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode
o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que
estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus
opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.
Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em
dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele
não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião
verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento
sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o
conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um
conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um
conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas
estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar
necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das
coisas pelas causas.
27
eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de
Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido
teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia
platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não
bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito,
mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.
16. Compreende-se que este ceticismo importa na ruína da ciência, como valor
objetivo e universal. À ciência - que se impõe objetivamente ao intelecto humano e, pela sua
universalidade, é naturalmente comunicável – substituem os sofistas a retórica, isto é, a arte
de disputar, para ganhar os homens à própria idéia, aos próximos interesses, não como meios
e motivos racionais, pois não existem, mas palavras, o que vulgarmente se chama sofisma. O
ceticismo critica o conhecimento sensível, bem como o intelectual, e também a opinião. A
primeira escola cética serve-se, geralmente, do relativismo sofista; a segunda afirma-se de
modo original graças a Carnéades; a terceira, de tendência pirroniana, faz uso da dialética
eleática, da tese e da antítese.
17. Dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma base real, um objeto
próprio: as idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns conceitos da mente,
personalizados. Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião
verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as coisas particulares e
mutáveis, como as concebiam Heráclito e os sofistas. Deste mundo material e contingente,
portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível no máximo, um
conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira - que é precisamente o conhecimento
adequado à sua natureza inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e
racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão
- transcende inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos. Sua vasta obra
filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas as partes se
compõem, se correspondem, se confirmam. Os estóicos, todavia, fornecer alguma base à sua
ética do dever, e dar uma explicação à razão, que se manifesta no mundo, em especial no
homem, incoerentemente declaram racional o fogo – substância metafísica da realidade-,
atribuem-lhe arbitrariamente os atributos divinos da sabedoria e da providência, imaginam-
nos como espírito ordenador, razão da vida, fazendo emergir todas as qualidades da matéria,
como o sol faz brotar da semente a planta, segundo uma ordem teleológica.
18. Admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de
conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física,
29
do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta
vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias
platônicas. No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os
princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades
eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de
Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido
teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia
platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não
bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito,
mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.
19. Heráclito opõe-lhe a mutabilidade de todas as coisas, tudo se acha em perpétuo
fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo. E como de todos os elementos, o móvel
por excelência é o fogo, do fogo fez Heráclito o princípio fundamental de todas as coisas. É
ainda a preocupação dos antigos jônicos de determinar um elemento único, como origem
comum de todos os seres. O fogo é dotado de um princípio interno de atividade, em virtude do
qual se move continuamente, constituindo cada um dos estádios do seu perpétuo fluxo um
fenômeno natural. O mundo teve origem deste fogo primitivo que se identifica com a
divindade. Por um processo de “extinção” transformou-se em água e depois em terra. Por um
novo processo de “ascensão” a terra volta a ser água e a água torna a fogo. Assim a “luta”
separa os elementos, e a “concórdia” tende a reconduzi-los ao fogo donde provieram. Nestas
vicissitudes em que a luta vai demolindo o trabalho da concórdia, o triunfo final caberá à
concórdia. Mas então intervirá a divindade, construindo um novo mundo em que as duas
forças antagonistas entrarão de novo em ação.
O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado,
como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião
verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma
do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos
homens, etc.
O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do
não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser,
verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-ser da
experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial -
depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.
30
A abordagem sobre a Ciência do Direito busca emergir dentro das concepções sobre
as Escolas Cientificas, a Ciência Pragmática do Direito e o Empirismo jurídico, onde nessa
interatividade do pensamento a intencionalidade é entender o discurso na sua totalidade.
As intervenções oriundas de cada tópico estão empreendidas de uma seqüência
lógica que envolve um delineamento sistematizado em cada momento que teve a sua
prevalência, onde os teóricos defendem os seus pensamentos academicistas enquanto outros
defendem idéias opostas ao pensamento vigente sobre as escolas que estão constituídas.
Para ter uma noção precisa desse contexto, é possível mencionar que todas essas
engrenagens de informações estão inseridas de forma concisa e contundente.
O DIREITO E A CIÊNCIA
Norma jurídica é uma mensagem deôntica (dever ser) com sentido completo, ou
seja, só há falar em norma jurídica quando presente a seguinte situação: ocorrido o fato F, se
instaura a relação R entre duas ou mais pessoas. Através desta estrutura a norma jurídica,
veiculada por meio de lei (instrumento introdutório do sistema jurídico), impõe um
determinismo artificial. Por outro giro, modifica a realidade regulando as condutas
intersubjetivas (os problemas intra-subjetivos transbordam a seara do Direito), estabelecendo
um dever ser.
No mesmo diapasão, é de bom alvitre se ressaltar que a norma jurídica só cumpre
as vicissitudes de sua existência, desencadeando efeitos jurídicos, dado sua natureza
hipotética condicional, quando ocorre, no mundo fenomênico, os fatos descritos em sua
hipótese de incidência, verificando-se, então, o fenômeno da subsunção.
A validade da norma jurídica, por sua vez, a nosso ver, é corolário de sua relação
de pertinência com o sistema; o que ocorre quando produzida por órgão com legitimidade,
segundo procedimento previamente estabelecido e sobrevivendo ao confronto com normas
jurídicas que lhe são hierarquicamente superiores.
A Ciência do Direito, por outro lado, constitui estudo realizado acerca do Direito
Positivo. O cientista do direito se debruça sobre o plexo de normas jurídicas válidas (Direito
Positivo), descrevendo-as.
O Direito Positivo lança mão de uma linguagem prescritiva (prescreve condutas
intersubjetivas), a linguagem da Ciência do Direito é descritiva (descreve as normas
jurídicas).
O Direito Positivo admite contradições e lacunas, criando, ele próprio,
mecanismos para superá-las. Já a Ciência do Direito não convive com proposições
contraditórias, as quais, se ocorrerem, solapam o sistema científico.
Há outras distinções, entretanto, acreditamos que as ora apresentadas já são
suficientes para deixar bastante nítida a dissonância entre as duas realidades.
Como toda ciência, o direito também não está despojado de ideologias que
permeiam as suas proposições. O aparato jurídico parece estar permeado de conservadorismo
que se contrapõe à utopia. O direito se apresenta como racionalização de técnicas para
manutenção de uma ordem constituída. A lei, sob este aspecto, é parte do binômio poder x
repressão. Compreende-se, então, que o direito é um instrumento do Estado a serviço da
classe dominante e a justiça um simples valor político comprometida com a manutenção da
ordem. Neste particular, o judiciário reflete as contingências políticas porque é uma simples
instância.
A formação dos juristas parece não contemplar uma nova concepção do direito.
Apesar de todos os esforços e do sistema de avaliação do Ministério da Educação e das
incursões da OAB sobre a necessidade de melhoria da qualidade do ensino, vive-se uma crise
do ensino jurídico. Essa crise, apesar do discurso contrário, é alimentada pela política
governamental.
Flávio Galdino, discorrendo, em monografia premiada pela OAB sobre a situação
do ensino jurídico, diz que :
Os alunos, com vistas nas profissões parajurídicas, não pugnam por formação mais
completa e especializada, porque a generalista (menos exigente) lhes é mais
conveniente. Está instaurado um círculo vicioso que assegura a reprodução da crise
do ensino jurídico – a crise se perpetua por conveniência dos atores. Não nos
podemos enganar, o fato é que o mercado (e a sociedade m geral) rejeita os
produtos deste sistema, rejeita o profissional e a cultura que o produziu (p.166).
O autor dispara severa crítica aos professores, aos currículos e aos próprios
estudantes, afirmando que, em geral, o ensino é superficial e, por isso, com conseqüências
nefastas à sociedade. Apesar de a OAB não poder controlar o ensino, ela deve e pode adotar
muitas medidas com vistas à melhoria da qualidade de ensino.
Pasold, renomado professor e jurista catarinense, diz:
36
A origem do direito natural está no próprio homem e sua natureza social na sua
conjugação entre experiência e razão, concebido, durante muito tempo como origem divina.
Hugo Grotius parece ser o pai do direito natural. Ele diz que o direito natural existiria, mesmo
que Deus não existisse, ou em existindo não cuidasse dos assuntos humanos.
As características principais do direito natural são aquelas que concebem o direito
como um conjunto de amplos princípios, pelos quais se compõe a ordem jurídica: direito à
vida, à liberdade, participação na vida social, união entre os seres para criação da prole,
igualdade de oportunidades, suprimento das necessidades básicas. No século XVIII
pretendeu-se criar códigos de direito natural porque este traz características de eternidade,
imutabilidade e universalidade.
Em geral, os estudiosos apontam que o jusnaturalismo tem as seguintes
características: universalidade, perpetuidade, imutabilidade, indispensabilidade,
indelebilidade, unidade, obrigatoriedade, necessidade e validez.
O jusnaturalismo, enquanto escola, foi consagrada por tratar dos princípios da
dignidade humana que, numa visão racionalista se dá entre os séculos XVI e XVIII (Grócio,
Hobbes, Spinoza, Puffendorf, Wolf, Rousseau e Kant). Para a jusnaturalismo, a natureza
humana é o fundamento do direito. O homem é racional e, como tal, deve explicar a
sociedade pela razão. Portanto, o contrato social é um modo de organização e os direitos
naturais devem ser observados.
Os motivos que justificam o jusnaturalismo dirigem-se à necessidade de
permanente aspiração da justiça. Compreende que o direito positivo é um instrumento do
Estado para servir ao homem para consagrar valores individuais e negativos. Faz a defesa do
direito pluralista e tem a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem que é
expressão do direito justo, perfeito e ideal.
Os críticos do direito natural dizem que seus princípios formam uma ordem apta a
legitimar o direito positivo. Todavia, os governantes não gostam de falar em direito natural.
Foi o que ocorreu com a Revolução Francesa que condenou as velhas instituições fundadas no
direito natural. O homo juridicus do direito natural é aquele que não se acomoda diante as
desigualdades, luta por uma ordem legítima, clama pela vida e pela liberdade e, se necessário,
faz revolução.
Todavia, sob o manto do seu discurso literário, pode ser um instrumento da
manutenção da ordem, porque prega um direito eterno e perene. Assim sendo, aqueles largos
e vastos princípios do direito natural, podem ser usados para ser vir os regimes injustos e
reacionários. Entretanto, os direitos do homem, que se constituem num conjunto e normas e
39
AS ESCOLAS CIENTÍFICAS
São várias as alternativas de estudo aqui, pois são inúmeras as escolas que
apresentam métodos e crenças para a obtenção do conhecimento.
O EMPIRISMO
Um exemplo bastante vivo desse método positiva é o das pesquisas genéticas. Nelas
há uma pretensão de penetração cada vez mais profunda no real, de tal forma que dele se
extraiam as verdades buscadas – mas buscadas nele, objeto real, e a partir dele.
Vejam-se, no exemplo, os genes. Eles ficam situados dentro do núcleo das células
do corpo, nos chamados cromossomos. E esses genes são hoje identificados em nível
molecular como ácido desoxirribonucléico: o DNA.
O RACIONALISMO
mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o
que é” (Discurso do método, cit., 4ª parte).
Com esses pressupostos foi-se firmando o racionalismo moderno, que afirma
residir no sujeito o fundamento do ato de conhecer, sendo o objeto mero ponto de referência.
O pensamento opera com idéias e não com coisas concretas; o objeto de
conhecimento é uma idéia construída pela razão.
Não há, verdade, no racionalismo – mas há no idealismo, como se verá, a seguir -,
um desprezo total ao chamado objeto concreto; o problema em relação a este é que é incapaz
de oferecer condições de certeza, ou, em outras palavras, os fatos não são fonte segura para o
conhecimento.
Um exemplo das incertezas que cercam os fatos pode ser dado por um trecho
famoso e crítico filme de Charles Chaplin, “Tempos Modernos”.
De pronto percebe-se apenas nos dois simples exemplos que os próprios usos da
palavra “direito” apontam um para o outro: direito aponta para justiça e esta para aquele. E é
por isso que se diz que os termos são análogos. Contudo, há outros usos que se apresentam,
como se disse, vagos, ambíguos, contraditórios.
Com efeito, direito é um ideal sonhado por certa sociedade e simultaneamente um
golpe que enterra esse ideal. É símbolo da ordem social e simultaneamente a bandeira da
agitação (estudantil, dos trabalhadores em greve etc.). O Direito garante a privacidade e a
intimidade e, também, ao mesmo tempo, a publicidade e a quebra da intimidade.
Só por esse exemplos percebe-se o grau de dificuldade que é o manejar do
conceito “direito”. Talvez por isso a chamada Ciência do Direito tenha acabado por
privilegiar um dos sentidos, dentro os vários possíveis.
Como, via de regra, as ciências em geral não têm muita dificuldade na descoberta
e fixação de seus objetos – por exemplo, a medicina não tem dúvida de que deve estudar o
corpo humano -, a Ciência do Direito pretende o mesmo.
Dessa forma, optou por estudar um dos sentidos possíveis do termo “direito”: o de
norma jurídica e, especialmente, o de norma jurídica escrita.
Assim é que, na atualidade, os cursos de Direito estão voltados quase totalmente
para o estudo da norma jurídica escrita, com método tipicamente dogmático.
Mas não parece ter sido uma escolha muito feliz – ainda que se possa entende-la -,
uma vez que as dificuldades de fixação de sentido que o termo “direito” revela ao
investigados, antes de serem um obstáculo, apontam para uma riqueza de significações que
merecem estudo aprofundado.
42
entre ambas, ainda que isso não seja abertamente colocado pelas escolas de Direito, conforme
veremos.
Mas, antes dessas abordagens, vejamos aqui as características de algumas
tentativas de fundar a Ciência do Direito, para depois, examinando um desenvolvimento
histórico, investigamos a escola de Direito contemporânea.
A título apenas de exemplo, tratemos sucintamente de algumas escolas que
pretenderam encontrar métodos próprios e adequados, para isso fundarem a Ciência do
Direito.
O EMPIRISMO JURÍDICO
Acredita que o conhecimento do objeto, que pode ser a norma jurídica ou o fato
social, ou fenômeno jurídico produzido no meio social etc.
Vale uma observação relativa ao positivismo que na Ciência do Direito tem duplo
sentido: tanto é chamada de positivismo jurídico a corrente que – aos moldes de Augusto
Comte – a credita que o conhecimento nasce do fato, quanto tem o mesmo nome a corrente
que crê dar-se conhecimento pela norma jurídica.
ESCOLA DA EXEGESE
44
A ESCOLA HISTÓRICA
JUSNATURALISMO
jurídica; logo, o estudo do direito vigente deve levar em conta a sua validade em relação aos
aplicadores da norma: juízes e funcionários.
Os conceitos jurídicos fundamentais devem ser interpretados como concepções da
realidade social, logo, sob o ponto de vista epistemológico, a ciência jurídica é uma ciência
social empírica, que procura interpretar a validade do direito, em termos de efetividade social,
isto é, de uma certa correspondência entre um conteúdo normativo ideal e os fenômenos
sociais. O conhecimento científico-jurídico deve, portanto, concentrar-se no factum externo da
efetividade. A ciência do direito dirige sua atenção ao conteúdo abstrato das diretivas para
descobrir o conteúdo ideal, ou seja, a ideologia que funciona como esquema de interpretação
para o direito em ação e para expor esta ideologia como um sistema. A ciência jurídica está
intimamente ligada à sociologia jurídica, porque se não verificar a função social do direito é
insatisfatória sob o ponto de vista do interesse em predizer as decisões jurídicas, visto que o
juiz não está apenas motivado por normas, mas também por fins sociais e pela captação
teorética das conexões sociais relevantes para a consecução daqueles fins.
A ciência jurídica visa o conhecimento da efetiva conduta humana, logo o fenômeno
jurídico deve ser descoberto do campo da psicologia e da sociologia. As asserções lógicas das
ciências jurídica sobre o direito vigente, isto é, as proposições doutrinárias, são uma
predicação de acontecimentos sociais futuros, que por serem indeterminados impossibilitam
que se formulem a seu respeito predicações isentas de ambigüidade. Como toda predicação é,
concomitantemente, um fator real que pode influir no curso dos acontecimentos e um ato
político, conseqüentemente, torna-se impossível estabelecer uma nítida distinção entre teoria e
política; por isso não se pode traçar uma linha divisória entre os enunciados cognoscitivos
referentes ao direito vigente e a atividade político-jurídica. Deveras, a partir da mútua
interação existente entre conhecimento e ação, entre ideologia e atitude, Ross desenvolve uma
teoria que considera, de modo unitário, ciência e política jurídicas.
O objeto da ciência do direito, para Kelsen, consiste nas normas jurídicas
determinantes da conduta humana ou a conduta humana enquanto conteúdo de normas, sendo
que norma pode também referir-se a “fatos e situações que não constituem a conduta humana,
mas desde que sejam condições ou efeitos de conduta humana. Uma norma de direito pode
determinar que, em caso de um cataclismo da natureza, aqueles que por ele não forem
imediatamente atingidos estão obrigados a prestar socorro às vítimas na medida do possível”.
Conforme o conhecimento jurídico-científico dirija-se às normas que devem ser aplicadas ou
aos atos de produção e aplicação, temos uma teoria estática e uma teoria dinâmica do direito.
49
REFERÊNCIAS
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do
direito. São Paulo: Atlas, 2001.
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. São Paulo: Max Limonad, 1997.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva,
1992.
50
IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 88 p.
KELSEN, Hans. A ilusão da justiça. Tradução de Sérgio Tellaroli. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. 654p.
OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcibíades. Bobbio e a filosofia dos juristas. Porto Alegre: Sérgio
Antônio Fabris Editor, 1994. 158p.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R Esteves. São
Paulo: Martins Fontes, 1997. 708p.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente. São Paulo: Cortez, 2000. 415p.
WARAT, Luís Alberto e PÊPE, Albano Marcos Bastos. Filosofia do Direito; uma
introdução crítica. São Paulo: Moderna Ltda, 1996.