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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP


CURSO DE DIREITO
PROFESSOR: LINDOMAR GEAN

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

MANAUS – AM
2009
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AS ORIGENS DA FILOSOFIA

O realismo começou certamente na Grécia; e começou discernindo entre as coisas.


O primeiro esforço filosófico do homem foi feito pelos gregos e começou sendo um esforço
para discernir entre aquilo que tem uma existência meramente aparente e aquilo que tem uma
existência real, uma existência em si, uma existência primordial, irredutível à outra.
O primeiro povo que filosofa na verdade é o povo grego. Outros povos, anteriores,
tiveram cultura, tiveram religião, tiveram sabedoria; mas não tiveram filosofia. Nesses
últimos noventa anos, sobretudo, a partir de Schopenhauer, encheram-nos a cabeça das
filosofias orientais, da filosofia hindu, da filosofia chinesa. Essas não são filosofias. São
concepções geralmente vagas sobre o universo e a vida. São religiões, são sabedorias
populares mais ou menos geniais, mais ou menos desenvolvidas; porém, filosofia não existe
na história da cultura humana, do pensamento humano, até os gregos.
Os gregos foram os inventores disso que se chama filosofia. Por quê? Porque
foram os inventores – no sentido de “descobrir” da palavra – os descobridores da razão, os
que pretenderam que com a razão, com o pensamento racional, se pode encontrar o que as
coisas são, se pode averiguar o último fundo das coisas. Então começaram a fazer uso de
intuições intelectuais e intuições racionais, metodicamente.
Antes deles fazia-se uma coisa parecida; porém, com toda classe de vislumbres,
de crenças, de elementos irracionais.
Os primeiros filósofos gregos que se propuseram o problema de “quem existe?”,
de “qual é o ser em si”, quando o propõem para si, é porque já superaram o estado do realismo
primitivo que enunciávamos dizendo: todas as coisas existem. O primeiro momento
filosófico, o primeiro esforço da reflexão consiste em discernir entre as coisas que existem em
si e as coisas que existem em outra, naquela primária e primeira.
Estes filósofos gregos procuram qual é ou quais são as coisas que têm uma
existência em si. Elas chamavam a isto o “princípio”, nos dois sentidos da palavra: como
começo e como fundamento de todas as coisas. O mais antigo filósofo grego de que se tem
notícia um pouco exata chamava-se Tales e era da cidade de Mileto. Este homem buscou
entre as coisas qual seria o princípio de todas as demais, qual seria a coisa à qual conferiria a
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dignidade de ser, de princípio, de ser em si, a existência em si, da qual todas as demais são
simples derivadas; e ele determinou que esta coisa era a água. Para Tales de Mileto a água é o
princípio de todas as coisas. De modo que todas as demais coisas têm um ser derivado,
secundário. Consistem em água. Mas a água, ela, que é? Como ele diz: o princípio de todo o
mais não consiste em nada; existe, com uma existência primordial, como princípio essencial,
fundamental, primário.
Outros filósofos dessa mesma época – do século VII antes de Jesus Cristo –
tomaram atitudes mais ou menos parecidas com a de Tales de Mileto. Por exemplo,
Anaximandro também acreditou que o princípio de todas as coisas era algo material; porém,
já teve uma idéia um pouco mais complicada que Tales; e determinou que este algo material,
princípio de todas as demais coisas, não era nenhuma determinada, mas uma espécie de
protocoisa, que era o que ele chamava em grego apeiron, indefinido, uma coisa indefinida
que não era nem água, nem terra, nem fogo, nem ar, nem pedra, mas antes tinha em si, por
assim dizer, em potência, a possibilidade de que dela, dessa apeiron, desse infinito ou
indefinido, se derivassem as demais coisas.
Outro filósofo que se chamou Anaxímenes foi também um desses filósofos
primitivos que buscaram uma coisa material como origem de todas as demais, como origem
dos demais princípios, como única existente em si e por si, da qual eram derivadas as demais.
Anaxímenes, para isso, tomou o ar.
É possível que haja havido mais tentativas de antiqüíssimos filósofos gregos que
procuraram alguma coisa material; mas estas tentativas foram rapidamente superadas. Foram-
no, primeiramente, na direção curiosa de não procurar uma, mas várias; de acreditar que o
princípio ou origem de todas as coisas não era uma só coisa, mas várias coisas. É de supor que
as críticas de que foram alvo Tales, Anaximandro e Anaxímenes contribuíssem a isso. A
dificuldade grande de fazer crer a alguém que o mármore pentélico, em Atenas, fosse
derivado da água; a dificuldade também de fazê-lo derivar do ar, de fazê-lo derivar de alguma
coisa determinada, fez provavelmente que fossem alvo de críticas acerbas essas derivações, e
então sobreveio a idéia de salvar as qualidades diferenciais das coisas, admitindo, não uma
origem única, mas uma origem plural; não uma só coisa, da qual fossem derivadas todas as
coisas, mas várias coisas; e assim, um antiqüíssimo filósofo, quase legendário, que se chamou
Empédocles, inventou a teoria de que eram quatro as coisas realmente existentes, das quais se
derivam todas as demais e que essas quatro coisas eram: a água, o ar, a terra, e o fogo, que ele
chamou “elementos”, isto é, aquilo com que se faz tudo o mais.
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Os quatros elementos de Empédocles atravessaram toda a história do pensamento


grego, entraram de roldão na física de Aristóteles, chegaram até a Idade Média e
desapareceram no começo da Renascença.

ESTUDANDO A CIÊNCIA 17/02/09

A ciência abrange praticamente todos os campos do conhecimento humano,


relacionados com fatos ou acontecimentos e agrupados por princípios que são as regras.
Trata-se do estudo, com critérios metodológicos, das relações existentes entre
causa e efeitos de um fenômeno qualquer, no qual o estudioso se propõe a demonstrar a
verdade dos fatos e suas aplicações práticas.
É uma forma de conhecimento sistemático, dos fenômenos da natureza, dos
fenômenos sociais, dos fenômenos biológicos, matemáticos, físicos e químicos, para se
chegar a um conjunto de conclusões verdadeiras, lógicas, exatas, demonstráveis por meio da
pesquisa e dos testes.
De acordo com os cientistas, qualquer assunto que possa ser estudado pelo homem
pela utilização do método científico e de outras regras especiais de pensamento pode ser
chamado de ciência.
No mundo acadêmico, fazer ciência é importante para todos porque é por meio
dela que se descobre e se inventa. Por intermédio da ciência e da tecnologia é que temos os
aparelhos de comunicação, o computador, fibras ópticas, meios de transportes complexos,
instrumentos cirúrgicos de alta precisão, equipamentos na área de engenharia, energia nuclear,
complexos sistemas de produção, foguetes, materiais bélicos, controle das pragas e aumento
da produtividade no setor agropecuário, dentre outros.
A ciência provocou no séc. XIX a Revolução Industrial, principalmente pela física
e a matemática, além de outros avanços no campo da psicanálise, das ciências sociais, da
biologia, da química.
Por meio das observações e do experimento, nós interferimos e alteramos a própria
natureza e o fenômeno observado.
Nos dias de hoje, muitas áreas da ciência se sobrepõem de tal forma que
estudiosos de áreas diferentes podem se dedicar a um mesmo tipo de problema com pontos de
vista distintos. Por exemplo, um psicanalista e um fisiologista podem perfeitamente bem
estudar as reações de um astronauta dentro de um ônibus espacial. Um poderá estudar as
formas relacionadas com alucinações, enganos, de visão e depressão e outras reações mentais,
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enquanto o outro estará interessado nos processos respiratórios, fluxo sangüíneo, perda de
massa óssea.
Em virtude da sobreposição de algumas áreas, tem sido muito difícil estabelecer
delimitações de onde começa uma ciência e onde termina a outra.
O próprio Popper1 analisa essas dificuldades em seu trabalho sobre a questão da
indução.
Do ponto de vista do conhecimento - gnosiologia - o conhecimento é o reflexo e a
reprodução do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do conhecimento participam
os sentidos, a razão e a intuição.
A grande dúvida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de
conhecimentos. 17/02/09
Com relação ao lugar e à importância dos sentidos, da razão e da intuição há
divergências de opiniões entre os maiores pensadores sobre o assunto e na história da
filosofia, aparecem diferentes doutrinas a respeito.
Vem do grego o termo ciência - scire - que designa conhecer. Significava, de uma
forma geral, para os gregos, todo o saber criticamente fundamentado. Dessa forma, todo o
resultado da indagação racional fazia parte integrante de um único saber e a ciência não se
distinguiria da filosofia.
Nos dias de hoje, a ciência distingue-se das outras formas de conhecimento
representando um nível intermediário entre o conhecimento vulgar - o ínfimo2 indicado - e o
mais elevado, que é a própria filosofia, exceção feita aos aspectos especiais qualificativos
como é o caso das ciências jurídicas, filosóficas e outras.
É discutível, mas a ciência já não tem o seu perfil ideal na filosofia, e sim na física,
na química, na biologia. Quanto mais um ramo de estudo se aproxima desta, tanto mais
merece a consideração da ciência.

COMPONENTES DA CIÊNCIA

As ciências possuem:
a) Objetivo ou finalidade - A ciência visa estabelecer a distinção das
características comuns ou das leis que regem as relações de causa e efeito dos fenômenos.

________________________
1. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1975. p. 27.
2. O mais baixo de todos. (Dicionário Aurélio).
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17/02/09
Função - A principal é o aperfeiçoamento do conhecimento em todas as áreas
para tornar a existência humana mais significativa.
Objeto - Subdividido em:
- Formais - Os objetos das ciências formais ou pura são os ideais. Seu método é a
dedução, e seu critério de verdade é a consistência ou não contradição de seus enunciados.
Todos os seus enunciados são analíticos, isto é, deduzidos de postulados ou teoremas.
- Factuais - Os objetos das ciências factuais ou aplicadas, são materiais, seu
método é a observação e a experimentação e, em segundo lugar, também a indução e seu
critério de verdade é a verificação. Os enunciados das ciências factuais são
predominantemente de síntese, embora haja também enunciados analíticos.

ASPECTOS LÓGICOS DA CIÊNCIA

A logicidade da ciência manifesta-se por meio de procedimentos e operações


intelectuais que:
a) Possibilitam a observação racional e controlam os fatos;
b) Permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos;
c) Contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela experimentação
ou pela observação;
d) Fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento dos
princípios e das leis.

Muitos estudiosos da Metodologia Científica procuram entender a ciência por


ângulos diferentes, mas todos caminham para um único objetivo que é a demonstração da
verdade por meio da observação e da experimentação.
A ciência é, portanto,
"Acumulação de conhecimentos sistemáticos";
"Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas
aplicações práticas";
"Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por
conseguinte, falível";
"Conhecimento certo do real pelas suas causas";
“Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem,
obtido pela investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva";
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"Conjunto de enunciados lógicos e dedutivamente justificados por outros


enunciados";
"Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas e
relacionadas com o objeto determinado";
"Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiências e fatos certos e
seguros";
"Estudo de problemas solúveis, mediante método científico”;
"Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo".

Ander-Egg3, no seu trabalho Introducción a las técnicas de investigación social,


afirma que a ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos
metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma
natureza, subdividindo-o em:
- conhecimento racional, isto é, que tem exigências de método e está constituído
por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, definições;
diferencia-se das sensações ou imagens que se refletem em um estado de ânimo, como o
conhecimento poético, e da compreensão imediata, sem que se busquem os fundamentos,
como é o caso do conhecimento intuitivo popular.
- certo ou provável, já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de
todo saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é provável, por mais elevada
que seja sua probabilidade.
- obtidos metodicamente, pois não se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana,
mas mediante regras lógica e procedimentos técnicos.
- sistematizadores, isto é, não se trata de conhecimentos dispersos e desconexos,
mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de idéias ou teorias.
- verificáveis, pelo fato de que as afirmações que não podem ser comprovadas ou
que não passam pelo exame da experiência não fazem parte do âmbito da ciência, que
necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela observação.
- relativas a objetos de uma mesma natureza, ou seja, objetos pertencentes a
determinada realidade, que guardam entre si certas características de homogeneidade.

________________________
3. ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7ª
ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. p. 15.
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CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS E RAMOS DE ESTUDOS

Não existe uma linguagem única para a classificação das ciências. A sua
classificação foi feita por diferentes pensadores e estudiosos do assunto. As propostas vêm
dos gregos, passa por Comte com o positivismo, Carnap, Wundt, Bunge e outros.
Baseando-nos em Bunge4, apresentamos a seguinte classificação das ciências e
ramos de estudo.
A geologia, meteorologia, oceanografia e astronomia também são agrupadas como
geociências.

FILOSOFIA (LÓGICA)
FORMAIS
(Puras) MATEMÁTICA

sintetiza e explica os fatos


e princípios descobertos
sobre o universo e seus
habitantes.

Física Nuclear, Mineralogia, Logís-


FÍSICA tica Militar, Petrografia, Geologia,
Computação, Engenharia, Astronomia.

Química Orgânica, Química


Inorgânica, Físico-Química,
NATURAIS QUÍMICA Farmácia e Bioquímica.

Botânica, Medicina, Zoologia,


FACTUAIS Veterinária, Agricultura, Tec.
BIOLOGIA
(Aplicadas) Alimentos, Enfermagem, Ecologia.
utiliza os fatos
e princípios
científicos Sociologia, Psicologia Social, Antropologia
para fazer SOCIAIS Cultural, Geografia, Direito, Administração,
Comunicação Social, Economia, História.
coisas úteis
aos homens.

__________________________
4. BUNGE, Mário. La Ciência, Su Método y Su Filosofia. Buenos Aires: Sigioveinte, 1974.
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As Ciências Formais ou Puras e as Ciências Factuais ou Aplicadas são


necessárias para levar os benefícios da pesquisa científica. A maioria dos estudiosos conhece
mais a respeito das Ciências Factuais do que das Ciências Puras, em virtude de manterem
mais contato com as conquistas das Ciências Aplicadas.

A TEORIA DO CONHECIMENTO 03/03/09

A teoria do conhecimento tem o seu início com a seguinte pergunta: Podemos ter
um conhecimento exato do mundo que nos cerca? Ou seja, trata-se de saber se o mundo é
conhecido tal qual é, ou de forma diferente do que aparenta ser?
Do ponto de vista científico - gnosiologia - o conhecimento é o reflexo e a
reprodução do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do conhecimento participam
os sentidos, a razão e a intuição.
A grande dúvida é saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos.
Com relação ao lugar e a importância dos sentidos, da razão e da intuição no conhecimento
da verdade há divergências de opiniões e na história da filosofia aparecem diferentes
doutrinas a respeito:
03/03/09
O EMPIRISMO

Sua origem vem do grego empeiria, que significa experiência. É uma doutrina
afirma que a única fonte de nossos conhecimentos é a experiência recebida e experimentada
pelos nossos sentidos. Seu principal axioma em latim é: NIHIL EST IN INTELLECTU QUOD
PRIUS NON FUERIT IN SENSU - Nada existe no intelecto que antes não tenha estado nos
sentidos.
De uma forma geral os empiristas como Locke, Hume, Condillac, Stuart Mill e
outros consideram que o conhecimento empírico, obtido através dos órgãos dos sentidos, é
suficiente para conhecer a verdade. Por ocasião do nosso nascimento, a nossa mente está
totalmente vazia, assemelhando-se a um buraco negro ou a uma folha em branco na qual,
com o passar do tempo, a experiência escreve.
De acordo com os pensadores, principalmente Locke, todos os nossos
conhecimentos, incluindo os mais gerais e abstratos, o sujeito cognoscente tira da experiência
a sua forma de ser.
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A razão não agrega nada de novo, porque se limita simplesmente a unir e ordenar
os diferentes dados da experiência. É suficiente a razão se afastar dos dados da experiência
para cair no erro, desligar-se da realidade.
O principal mérito do método empírico é o de assinalar com vigor a importância
da experiência na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral têm
razão ao afirmar que não existem idéias inatas, e de que antes da experiência não há e nem
pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior.
Entretanto, o ponto fraco dos empiristas é, sem dúvida, a subestimação do papel da
razão, do pensamento abstrato e a sua diferença qualitativa em relação ao conhecimento
empírico.
Os nossos sentidos nos dão somente o conhecimento dos fenômenos. A essência
das coisas, o número, só podem ser alcançados pela razão, pelo pensamento abstrato. Tanto
isso é verdadeiro que muita gente, muitos estudantes, possuem grande dificuldade para atingir
o raciocínio abstrato e não se desenvolvem. O mundo de hoje, séc. XXI, está a exigir o
raciocínio abstrato, muito mais do que nas épocas anteriores. A ciência e a tecnologia se
desenvolvem praticamente no mesmo ritmo e, às vezes, com vantagens para a tecnologia.

A RAZÃO

Doutrina que afirma que a razão humana, o pensamento abstrato, é a única fonte do
conhecimento. O termo vem do latim ratio = razão.
Ao contrário dos empiristas, os racionalistas afirmam que os nossos sentidos nos
enganam e nunca podem conduzir a um conhecimento verdadeiro, uma vez que o mundo da
experiência encontra-se em contínua mudança e transformação. É como o universo, em
constante mutação. Para os racionalistas, um conhecimento é verdadeiro somente quando é
logicamente necessário e universalmente válido. Esse conhecimento só pode ser alcançado
pela razão. O racionalismo começa com Platão e se estendem por Descartes, Espinosa,
Leibniz, Kant e outros.

____________________________
5. CAIARD, Edward. The Critical Philosophy of Immanuel Kant. Glasgow, 1889.
KULPE, Oswald. Immanuel Kant. Leipzig, 1908.
6. AXIOMA: do grego axiologos, do latim axioma. Premissa imediatamente evidente que se admite como
universalmente verdadeira sem exigência de demonstração. Máxima Sentença.
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De acordo com a Teoria das Idéias Inatas de Descartes ou das formas a priori de
Kant, os conceitos fundamentais do conhecimento são os inatos, ou seja, nascem conosco e,
nesse sentido, não procedem da experiência, são a priori, conforme Kant, anteriores à
experiência5.
O principal mérito do racionalismo, ao contrário do empirismo, consiste no fato de
reforçar a idéia do importante papel ativo e criador da razão, do pensamento abstrato, no
conhecimento da verdade e da essência das coisas.

O erro dos racionalistas está no fato de separarem a razão da experiência, de


desprezarem o papel dos sentidos, considerando apenas que a razão não depende de nada, não
depende da experiência, e pode por si própria conhecer a verdade.
Os racionalistas partem da consciência do homem adulto e culto, que adquiriu e
formou muitas idéias, axiomas e princípios da razão. Contudo, não observaram que essas
idéias, princípios e axiomas possuem a sua origem no empirismo.
Após serem repetidas milhares de vezes pelo pensamento, essas verdades objetivas
se tornaram evidentes e axiomáticas e criaram a impressão de serem, a priori, inatas,
congênitas e inerentes à razão humana6.

A INTUIÇÃO

A intuição, ao contrário do que se pensa, desempenha um papel muito importante


no campo da ciência, no conhecimento da verdade, embora Bergson e outros pensadores
tenham afirmado que é possível conhecer diretamente a verdade, o absoluto, sem auxílio dos
sentidos e da razão, por meio da faculdade irracional ou sobrenatural que é a intuição, com a
qual estariam dotadas, segundo ele, apenas as elites privilegiadas, eleitas por uma força
sobrenatural (Deus etc.)
Na história da filosofia, a intuição tem sido estudada há longo tempo, igualmente
desde Platão até os nossos dias, e a maioria das correntes do nosso século é intuicionista e
considera a intuição como órgão ou faculdade superior de conhecimento, que nos fornece
direta e imediatamente a verdade absoluta.
Entre essas escolas, podemos incluir:
a - Neotomismo, doutrina filosófica oficial da Igreja;
b - Intuicionismo, do filósofo francês Henry Bergson - 1859-1941;
c - Fenomenologia, do filósofo alemão Edmund Husserl - 1859-1938;
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d - Existencialismo, do também filósofo alemão Martin Heidegger - 18891977.

Atualmente, poucas correntes filosóficas não são intuicionistas como é o caso do


marxismo, pragmatismo e neopositivismo; entretanto, nenhuma delas nega a intuição como
espécie natural de conhecimento.
• Marxismo - Doutrina dos filósofos Karl Marx - 1818-1883 - e Friedrich
Engels - 1820-1895 - fundamentada no materialismo dialético, e que se
desenvolveu por meio das teorias de luta de classes e da elaboração do
relacionamento entre o capital e o trabalho, do qual resultou a criação da
Teoria da Tática da Revolução Proletária.
• Pragmatismo - do inglês pragmatism - Doutrina de Charles Sanders Peirce,
filósofo americano - 1839-4914 -, cuja tese fundamental é de que a idéia que
temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das idéias de todos os
efeitos imagináveis e atribuídos a nós a esse objeto, que possa ter efeito prático.
Para Peirce a verdade de uma proposição é uma relação totalmente interior à
experiência humana, e o conhecimento é um instrumento a serviço da ação,
tendo o pensamento caráter puramente finalístico. A verdade de uma
proposição consiste no fato de que ela seja útil, tenha alguma espécie de êxito
ou de satisfação. Peirce é o precursor da lógica e criador da semiótica - teoria
dos signos. Com Peirce, prossegue-se o campo de estudo da ciência da
comunicação.
• Neopositivismo - do francês positivisme - neopositivisme - Positivismo lógico -
movimento doutrinário do chamado "Círculo de Viena", fundado por Moritz
Schlick, filósofo alemão - 1882-1945 -, que reuniu os filósofos germânicos
Phillip Franck, Otto Neurath, Rudolf Carnap, Hans Reichen Bach e Ludwig
Wittgenstein, cujas teses são assinaladas pelo caráter cientificista e
expressamente antimetafísico, que associa a tradição empirista ao formalismo
lógico matemático.
A intuição é um modo de conhecimento que completa as demais espécies e modos
de conhecimentos - sensível e racional. A intuição é uma função especial da mente humana
que age pelo pensamento, independentemente da pessoa ser ou não letrada. E um fenômeno
psíquico natural que todos os seres humanos possuem, alguns em maior grau e outros em
menor grau, conforme certas condições - a pajelança, o misticismo e o esoterismo atuam
muito nessa área como forma de conduzir as pessoas.
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É uma forma de conhecimento obtida de maneira muito clara e de forma direta,


sem a intervenção do raciocínio, de uma só vez e não por meio de atos sucessivos. É um
conceito cartesiano, para o qual a intuição é proporcionada pelas idéias claras e distintas que
tornam o critério da verdade inteligível.
Vem do latim - in tuire = ver em, contemplar; intuitus = visão, contemplação;
intuitio = ato de ver, contemplar e corresponde a uma forma de conhecimento direto, uma
forma de visão imediata dos objetos e de suas relações com outros objetos, sem o uso de
raciocínio discursivo ou de base científica.
Para Kant, a Anschauung - visão é uma forma que os seres humanos possuem de
estabelecer relações com o mundo que os cerca. Kant admite na Crítica do juízo estético e
teleológico que a intuição estética possibilitaria a síntese entre o particular e o universal, a
apreensão do absoluto, na forma de intuição sensível e intelectual.

A DIVISÃO DA TEORIA DO CONHECIMENTO

A Teoria do Conhecimento preocupa-se em estudar os problemas fundamentais


do conhecimento e pode ser dividida em três áreas distintas:
1 - GNOSIOLOGIA - do grego gnosis = conhecimento e logos do latim = ciência,
estudo, tratado.
A gnosiologia preocupa-se em estudar a essência do conhecimento, uma forma
de conhecer a realidade, as origens ou fontes do conhecimento, as formas ou espécies da qual
se reveste o conhecimento, a validade do conhecimento em geral, ou seja, a verdade, e qual o
seu critério.
2 - EPISTEMOLOGIA - do grego episteme = ciência.
Estuda a validade do conhecimento científico, das ciências particulares.
3 - METODOLOGIA - do grego método, meta = ao longo de: hodós: via,
caminho, organização do pensamento.
Estuda os meios ou métodos de investigação do pensamento correto e do
pensamento verdadeiro que visa delimitar um determinado problema, analisar e desenvolver
observações, criticá-los e interpretá-los a partir das relações de causa e efeito. Encontrar os
fenômenos que são objetos de estudo, dando-lhes suporte científico para uma monografia
dissertação de mestrado ou tese de doutorado.
A Metodologia divide-se em:
a) Lógica Formal - que estuda os princípios formais do pensamento.
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Estuda o pensamento correto, ou seja, a coerência do pensamento consigo


mesmo.
b) Lógica Dialética - que estuda as condições subjetivas-objetivas do
conhecimento da realidade com o fim de alcançar a verdade objetiva. Analisa o pensamento
verdadeiro, isto é, a correspondência entre pensamento e objeto - a realidade objetiva.

O CONHECIMENTO FILOSÓFICO

A Filosofia - como qualquer outra forma de conhecer - tem por finalidade


geral estabelecer uma forma de compreensão e transformação da realidade. Acompanha
o ser humano desde o momento em que buscou um norte, uma orientação para a sua
prática. E isso, querendo ou não, sempre houve. Os grupamentos humanos, como
conjuntos, ou os indivíduos em particular, não vivem e sobrevivem sem alguma
orientação finalística. Não se vive sem ter algum ideal a ser atingido. A vida é uma
prática para atender a um determinado fim. Até mesmo, de forma inconsciente, somos
orientados por algum encaminhamento filosófico.
Se a Filosofia é um posicionamento crítico, conforme dissemos antes, cabe a
pergunta: como pode, até inconscientemente, a filosofia orientar alguma prática
humana? Ocorre que se não nos dedicamos a pensar, criticamente, a orientação para a
nossa prática, alguém, em algum lugar e situação, estará pensando por nós e, ao mesmo
tempo, decidindo, Neste caso, nós estaremos agindo a-criticamente. orientados por um
pensamento crítico de outros. Ou seja, submissos às decisões de outros. Normalmente,
estaremos sendo submissos às decisões dos poderes oficiais sobre as orientações que
devem nortear a vida social.
A Filosofia é, então, uma forma de conhecimento pela qual o ser humano
toma consciência de si, do sentido da sua história, do significado do projeto do futuro.
A ação consciente não se dá ao léu. Mas sim a partir dos pressupostos que
estabelecemos. Criamos pressupostos para a educação, para a ciência, para a política,
para a economia, para a arte etc. A Filosofia, pois, tem um campo próprio de reflexão
que não pertence a nenhum outro tipo de conhecimento. Seu objeto de reflexão são os
princípios norteadores de nossas ações. São as orientações que pautam o nosso exercício
nos diversos setores da prática humana.
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A título de exemplo, podemos citar a prática educacional. Ela não é, por


essência, uma prática neutra, isenta de uma orientação finalística. Poderá ocorrer - e
realmente ocorre - que professores desenvolvam o seu exercício profissional (dêem aulas,
orientem seus alunos etc.) como se estivessem fazendo alguma coisa neutra, sem
implicações filosóficas. Fazem-no desta forma, ingenuamente, desde que não estão
conscientes dos princípios filosóficos que orientam a sua prática, estarão agindo,
obrigatoriamente, por valores definidos e divulgados por outros (normalmente os
poderes constituídos) e assumidos a-criticamente. É a questão dos valores inconscientes
que orientam a ação.
O mesmo ocorre na prática moral - e em outras práticas humanas. Ou nos
conscientizamos dos valores pelos quais exercitamos nossos atos morais em sociedade ou
estaremos exercitando-os em função de decisões alheias, alienando nosso poder de
decisão e nossa consciência. A título de exemplo, podemos lembrar o consumismo, que é
o princípio norteador da sociedade capitalista na qual vivemos. "Produzir mais, para
vender mais e consumir mais", eis o lema moral de nossa sociedade. Ter, ter, ter... Nossa
prática tem sido orientada por este princípio, ainda que, na maior parte das vezes, sem
nossa aquiescência consciente.
Aqui a Filosofia se manifesta com um “tribunal de razão", um tribunal crítico
de julgamento dos valores que norteiam a prática social. A Filosofia é, em primeiro
lugar, uma reflexão crítica, por isso, traz para diante de si os valores de uma sociedade e
os analisa, buscando o seu sentido mais abrangente, a sua raiz, o seu fundamento. Ela se
pergunta qual é o significado de tal fenômeno ou situação, e porque é este e não outro
significado. Neste processo, ela criva os valores vigentes numa sociedade, confirmando
sua validade; negando-os, se for o caso, e reconstruindo-os, a seguir. Reconstrução, sim,
mas numa perspectiva nova, tentando sistematizar os anseios e desejos do grupamento
humano dentro do qual ela está sendo praticada.
A Filosofia é a detectadora crítica das aspirações do grupamento humano a
que serve, sistematizando-os lógica e coerentemente. Descobre os anseios no "fluído" da
vivência humana e os explicita de tal forma que serve de denúncia dos desvios existentes
e de anúncio do mundo que deve ser construído. Essa explicitação vai servir de
pressuposto para a ação subseqüente. Os valores que não servem mais são criticados e
descartados e novos valores são compostos, pois que nenhuma sociedade vive sem um
rumo que a norteie.
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A reflexão filosófica é, assim, uma reflexão situada que julga criticamente os


valores vigentes, propondo outros. Deste modo, ela nasce da história; sob a sua
influência, contudo, também a condiciona. É fruto de um tempo e um espaço definidos,
mas, desde que estabelecida, oferece, também, limites a contornos ao processo histórico
futuro.
O leigo em termos de filosofia profissional os cientistas era geral, os filósofos
profissionais, todos podem e devem exercitar esta meditação fundamental, que,
criticamente, estabelece os pressupostos do viver e do sobreviver em sociedade. O
homem da rua, os cientistas em seu labor cultural, os filósofos profissionais em seu
esforço de sistematização das aspirações do povo, todos, ao mesmo tempo, e cada um,
por seu turno, cooperam para a explicitação de uma concepção geral do mundo, da qual
deve decorrer uma forma de agir. Todos têm esta obrigação e compromisso, pois que
dela depende não só a contemplação do mundo, mas também a sua transformação.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Diversamente da Filosofia que se propõe como um tribunal de desvendamento


e julgamento dos valores de uma sociedade, a ciência tem por objetivo estudar e
esclarecer as ocorrências do universo enquanto acontecimentos factuais. O
conhecimento científico ocupa-se dos fenômenos da natureza (físicos, biológicos,
químicos...), dos objetos ideais (lógicos e matemáticos) e dos fenômenos culturais
(relações sociais, processos históricos, produção cultural etc.). São estes os três campos
do conhecimento científico, definidos teoricamente: ciências empírico-formais (Física,
Química, Biológica etc.), ciências formais (Lógica e Matemática), ciências hermenêuticas
(Sociologia, História, Etnologia etc.). O objeto de tratamento, pois, da Filosofia e da
ciência são diversos. Daí os seus campos e seus modos de abordar e produzir o
conhecimento serem diferentes.
O conhecimento científico nos é funcional para o desvendamento das
ocorrências factuais do universo. Ele nos oferece uma luz, um esclarecimento sobre os
meandros, aparentemente caóticos, presentes na multiplicidade das coisas. Com o
conhecimento científico adquirimos um instrumento de sobrevivência, pois através dele
obtemos uma forma de agir mais adequada e eficiente.
17

Como no âmbito da Filosofia, para a produção do conhecimento científico é


preciso um detour, um rodeio metodológico. O conhecimento científico não ocorre
espontaneamente, mas a partir de um certo esforço organizado e seqüente na busca de
um entendimento do mundo que não se apresenta, de imediato, na aparência das coisas.
Como acontece o entendimento das ocorrências factuais do universo? Ele se
processa através da suposição de um modelo de funcionamento da realidade. O
conhecimento científico está baseado na suposição de que é possível encontrar uma
"ordem" no mundo dos fatos, aparentemente, caóticos. Um modelo que coloque cada
coisa no seu lugar e nos dê o esclarecimento sobre o "bom" ou "mau" funcionamento
que observamos.
É a partir de um modelo, de uma "ordem" suposta que fazemos previsões
possíveis de seu modo de ser, de seu sentido, de sua inteligibilidade. Sem isto, não há
como encontrar o "fio de meada" que nos conduza ao objetivo que temos. A
inteligibilidade é o "salto" que damos, para além dos contornos observados e descritos,
tendo como suporte básico o modelo de entendimento. O cientista, quando questiona a
realidade, quase sempre sabe que sua hipótese vai se verificar como verdadeira, pois que
ela é plausível dentro da "ordem" de entendimento que possui.
Não foi exatamente isto que quis dizer Kant - o sintetizador do espírito da
ciência no Século XVIII?

Quando Galileu fez com que esferas, de pesos previamente determinados,


rolassem em plano inclinado; quando Torricelli atribuiu ao ar um peso que,
segundo seus cálculos, era igual ao peso de uma coluna de água definida; ou
quando, mais recentemente, Sthal transformou metais em cal e este, por sua
vez, em metais, subtraindo-lhe ou devolvendo-lhe algo, uma luz raiou para
todos os pesquisadores de física. Eles compreenderam que a razão só pode
compreender aquilo que ela mesma elaborou, segundo um plano prévio. A
razão deve ir à frente, com os princípios que regem o seu raciocínio, obrigando
a natureza a dar respostas ao que ela mesma propôs. Observações acidentais,
feitas sem nenhum plano prévio, não podem produzir uma lei, uma conexão
necessária, que é aquilo que a razão busca e necessita. A razão, deste modo,
será instruída pela natureza não como o aluno que ouve tudo aquilo que o
mestre quis dizer, mas como um juiz que obriga as testemunhas a responder as
perguntas que faz. (KANT, 1950)

E Kant completa este pensamento, dizendo: a Ciência da natureza, através


disso (da utilização de planos prévios), foi posta no caminho seguro de uma ciência, já que
muitos séculos nada mais havia sido que um simples tatear". (KANT, 1950)
18

Temos claro, então, que o conhecimento científico tem por finalidade


esclarecer as ocorrências da realidade. Mais: isso se dá a partir da utilização de um
modelo, uma matriz de análise da realidade, reconhecida ou suposta. Contudo, que
passos específicos temos que dar para processar a produção desse entendimento? No que
se segue, vamos tentar detalhar este caminho metodológico.
O conhecimento científico que produzimos se transforma em lei científica, ou
seja, um conhecimento certo que possibilita previsões do comportamento da realidade.
E, assim sendo, o conhecimento científico propicia uma ação muito mais eficaz, pois que
é previsível o que pode acontecer com a realidade e que ações podemos intencionalmente
exercitar sobre ela, tendo conhecimento dos, resultados que ela poderá manifestar.
A exemplo, sabemos que do Século XVI para cá, em todos os laboratórios do
mundo, este esquema metodológico vem sendo utilizado e aperfeiçoado. Contudo,
também fora das instituições o homem continuou a produzir o seu entendimento das
ocorrências factuais do universo, por vezes, com suficiente rigor. E, antes do
aparecimento do dito método experimental, como o ser humano produzia o seu
entendimento da realidade? Cremos que desta mesma forma, desde que este é um
mecanismo lógico do pensamento formalizado. Desde a Antigüidade, temos menções do
conhecimento das ocorrências deste mundo, ainda que, às vezes, de forma pejorativa.
Parmênides, entre os gregos pré-socráticos, falava do conhecimento das coisas mutáveis;
Platão, falava do conhecimento das coisas que são "sombras" da verdadeira realidade;
Aristóteles falou do conhecimento das coisas sensíveis. Como isso ocorria? Por este
mesmo detour, contudo sem admitir que o conhecimento das ocorrências da realidade
tivesse a primazia que tem hoje, tão-somente por questões históricas.

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS CONTRIBUIÇÕES DOS FILOSOFOS

1. A filosofia é a ciência, conhecimento das coisas pelas causas, pelas razões: a


saber, como ciência, nos diz que a coisa conhecida não só é assim, como nos aparece, mas
tem de ser necessariamente assim. E distingue-se do saber vulgar, da opinião, que nos diz que
as coisas conhecidas estão de uma determinada maneira, mas não dá a opinião, não ser estável
e segura, mesmo quando verdadeira. A filosofia, portanto, ainda que coincida, materialmente,
com o assim chamado bom senso comum – que pertence à opinião – dele formal e
essencialmente se diferencia, isto é pela sua certeza absoluta.
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Em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o
problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da
especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de Sócrates, que limitava a
pesquisa filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal
indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.
O mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os elementos puramente
racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a precisão, o método, a terminologia científica
que tanto caracterizam os escritos do sábio estagirita.

2. Discípulo de Xenófanes, é metafísico, talvez o mais profundo dos filósofos pré-


socráticos. Distingue duas ordens opostas de conhecimento: a sensitiva que nos leva à
“opinião”, enganadora e ilusória, e a intelectual, fundada na evidência dialética, que nos
conduz “à verdade”. Os sentidos percebem o mutável, o múltiplo, o contingente; a razão vê no
fundo de todas as coisas uma realidade única – o ente. Ora, o ente, não podendo vir do não
ente “ex nihilo nihil”, é uno, eterno, ingênito, imóvel, indivisível, imutável, homogêneo,
contínuo e esférico (esfera, figura perfeita). O mundo fenomenal não passa de uma ilusão.
Na sua cosmologia do aparente, ensina Parmênides que todas as coisas são
compostas de dois princípios – luz e trevas, calor e frio, isto é, de fogo e terra.
Além do defeito comum a todos os aprioristas de rejeitar a evidência experimental,
confunde Parmênides a ordem lógica com a ontológica, transportando os atributos
provenientes do estado de abstração de uma idéia à realidade por ela representada. Alteando-
se, porém, na esfera do inteligível até à idéia de ser, eleva-se muito acima de seus
predecessores e aplaina o caminho a uma metafísica mais segura.
3. O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das
idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o
Demiurgo e as almas, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade que
nesta matéria aparece.
O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente pela
idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela
necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento
conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível,
para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em
geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que
este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.
20

A Metafísica famosa, em catorze livros. É uma compilação feita depois da morte


de Aristóteles mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica geral e à
teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar que ela ocupa na coleção de Andrônico, que
a colocou depois da física.
A metafísica epicurista é rigorosamente materialista: quer dizer, resolve-se numa
física. Epicuro concebe os elementos últimos constitutivos da realidade como corpúsculos
inúmeros, eternos, imutáveis, invisíveis, homogêneos, indivisíveis, homogêneos, indivisíveis
(átomos), iguais qualitativamente e diversos quantitativamente – no tamanho, na figura, no
peso. Também segundo Epicuro, os átomos estão no espaço vazio, infinito, indispensável para
que seja possível o movimento e, conseqüentemente, a origem e a variedade das coisas.
Plotino - A sensação representa o primeiro grau do conhecimento humano, onde se
manifestam obscuros vestígios da verdade. Paira acima da sensibilidade, a razão, que atinge
as essências das coisas, mas é abstrata e mediata. À razão segue-se o intelecto, conhecimento
do espírito pensante, autoconsciência, intuitiva e imediata. O conhecimento humano termina
no êxtase, que é o último grau de conhecimento e identificação do espírito humano com o
Uno, Deus, aniquilamento da consciência humana na inconsciência divina.
Em relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é
provada, fundamentalmente, a priori, enquanto no espírito humano haveria uma presença
particular de Deus. Ao lado desta prova a priori, não nega Agostinho as provas a posteriori
da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas
as coisas. Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã:
Deus é poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que
era excluído pelo platonismo.
A metafísica tomista pode-se dividir em geral e especial. A metafísica geral - ou
ontologia - tem como objeto o ser em geral e as atribuições e leis relativas. A metafísica
especial estuda o ser em suas grandes especificações: Deus, o espírito, o mundo. Daí temos a
teologia racional - assim chamada, para distingui-la da teologia revelada; a psicologia
racional (racional, porquanto é filosofia e se deve distinguir da moderna psicologia empírica,
que é ciência experimental); a cosmologia ou filosofia da natureza (que estuda a natureza em
suas causas primeiras, ao passo que a ciência experimental estuda a natureza em suas causas
segundas).
Scot concede, em linha de fato, o empirismo do nosso conhecimento; não admite
em linha de direito, como exige o tomismo. E isso seria devido – segundo o doutor sutil – á
escravidão da alma com respeito ao corpo, decorrente do pecado. Pelo contrário, deveria a
21

alma, por sua natureza, conhecer diretamente as essências, não só as materiais mas também as
espirituais.
4. Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para
os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Nasceu Sócrates
em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira.
Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem
recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi
sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de
Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou
a sua instrução, sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da
época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para
bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do
homem, é a prática da virtude. A virtude adquiriu-se com a sabedoria ou, antes, com ela se
identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência
natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza
moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se
músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito,
assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade
significa racionalidade, ação racional.
5. O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual,
com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e,
em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito,
dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas
dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem
como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O
fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para
construir uma ética é necessária uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder
logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez,
totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o
sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical
intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo,
pragmatismo, ativismo.
22

6. Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as
execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou
e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente
desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em
palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade
da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com
arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido
tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio".
7. A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora,
de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates),
do outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório (Heráclito). Deve, logo,
existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos
mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se
Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas
abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as
coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato
perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na
esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de
Parmênides, sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de
toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.
Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em
dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele
não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião
verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento
sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o
conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um
conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um
conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas
estão assim, sem saber por que o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem
estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento
das coisas pelas causas.
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A filosofia, pois, segundo Aristóteles, dividir-se-ia em teorética, prática e poética,


abrangendo, destarte, todo o saber humano, racional. A teorética, por sua vez, divide-se em
física, matemática e filosofia primeira (metafísica e teologia); a filosofia prática divide-se em
ética e política; a poética em estética e técnica. Aristóteles é o criador da lógica, como ciência
especial, sobre a base socrático-platônica; é denominada por ele analítica e representa a
metodologia científica.
8. Aristóteles é o criador da lógica, como ciência especial, sobre a base socrático-
platônica; é denominada por ele analítica e representa a metodologia científica. O grande
estagirita explorou o mundo do pensamento em todas as suas direções. Pelo elenco dos
principais escritos que dele ainda nos restam, poder-se-á avaliar a sua prodigiosa atividade
literária". A primeira edição completa das obras de Aristóteles é a de Andronico de Rodes pela
metade do último século a.C. substancialmente autêntica, salvo uns apócrifos e umas
interpolações. Aqui classificamos as obras doutrinais de Aristóteles do modo seguinte, tendo
presente a edição de Andronico de Rodes.
9. As idéias terão aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém
mediante a divisão e a classificação, isto é, são ordenadas em sistema hierárquico, estando no
vértice a idéia do Bem, que é papel da dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a
multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a multiplicidade das
idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade
suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e
estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser.
Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser
verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e
atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual,
embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria
e transformar o caos em cosmos.
Trata Aristóteles os problemas lógicos e gnosiológicos no conjunto daqueles
escritos que tomaram mais tarde o nome de Órganon. Limitar-nos-emos mais especialmente
aos problemas gerais da lógica de Aristóteles, porque aí está a sua gnosiologia. Foi dito que,
em geral, a ciência, a filosofia - conforme Aristóteles, bem como segundo Platão - tem como
objeto o universal e o necessário; pois não pode haver ciência em torno do individual e do
contingente, conhecidos sensivelmente. Sob o ponto de vista metafísico, o objeto da ciência
aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência platônica. A ciência platônica e
aristotélica são, portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que se pode aprender precede a
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sensação e é independente dela. No sentido estrito, a filosofia aristotélica é dedução do


particular pelo universal, explicação do condicionado mediante a condição, porquanto o
primeiro elemento depende do segundo.
10. O objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência
platônica. A ciência platônica e aristotélica são, portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que
se pode aprender precede a sensação e é independente dela. o objeto da ciência aristotélica é a
forma, como idéia era o objeto da ciência platônica. A ciência platônica e aristotélica são,
portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que se pode aprender precede a sensação e é
independente dela.
Objeto essencial da lógica aristotélica é precisamente este processo de derivação
ideal, que corresponde a uma derivação real. A lógica aristotélica, portanto, bem como a
platônica, é essencialmente dedutiva, demonstrativa, apodíctica. O seu processo característico,
clássico, é o silogismo. Os elementos primeiros, os princípios supremos, as verdades
evidentes, consoante Platão, são fruto de uma visão imediata, intuição intelectual, em relação
com a sua doutrina do contato imediato da alma com as idéias - reminiscência. Segundo
Aristóteles, entretanto, de cujo sistema é banida toda forma de inatismo, também os elementos
primeiros do conhecimento - conceito e juízos - devem ser, de um modo e de outro, tirados da
experiência, da representação sensível, cuja verdade imediata ele defende, porquanto os
sentidos por si nunca nos enganam. O erro começa de uma falsa elaboração dos dados dos
sentidos: a sensação, como o conceito, é sempre verdadeira.
11. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e
a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.
A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora, de
um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do
outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório (Heráclito). Deve, logo, existir,
além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos
atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idéias. As
idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do
pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis
são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito e
universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na
esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de
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Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de
toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.
12. A metafísica aristolética é a ciência do ser como ser, ou dos princípios e das
causas do ser e dos seus atributos essenciais. Ela abrange ainda o ser imóvel e incorpóreo,
principio dos movimentos e das formas do mundo, bem como o mundo mutável e material,
mas em seus aspectos universais e necessários. Exporemos, portanto, antes de tudo, as
questões gerais da metafísica, para depois chegarmos àquela que foi chamada, mais tarde,
metafísica especial; tem esta como objeto o mundo que vem-a-ser – natureza e homem –
culmina no que não pode vir-a-ser, isto é, Deus. Pode o intelecto vê em a natureza das coisas -
intus legit - mais profundamente do que os sentidos, sobre os quais exerce a sua atividade. Na
espécie sensível - que representa o objeto material na sua individualidade, temporalidade,
espacialidade, etc., mas sem a matéria - o inteligível, o universal, a essência das coisas é
contida apenas implicitamente, potencialmente. Para que tal inteligível se torne explícito,
atual, é preciso extraí-lo, abstraí-lo, isto é, desindividualizá-lo das condições materiais. Tem-
se, deste modo, a espécie inteligível, representando precisamente o elemento essencial, a
forma universal das coisas. E se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da
metafísica aristolética: potência e ato, matéria e forma particular e universal, movido e motor.
A primeira e a última abraçam todo o ser, a segunda e a terceira toda o ser que está presente à
matéria.
13. A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristolética:
potência significa possibilidade, capacidade de ser, não-ser atual; e ato significa realidade,
perfeição, ser efetivo.
O princípio básico da ontologia tomista é a especificação do ser em potência e ato.
Ato significa realidade, perfeição; potência quer dizer não-realidade, imperfeição. Não
significa, porém, irrealidade absoluta, mas imperfeição relativa de mente e capacidade de
conseguir uma determinada perfeição, capacidade de concretizar-se. Tal passagem da
potência ao ato é o vir-a-ser, que depende do ser que é ato puro; este não muda e faz com que
tudo exista e venha-a-ser. Opõe-se ao ato puro a potência pura que, de per si, naturalmente é
irreal, é nada, mas pode tornar-se todas as coisas, e chama-se matéria.
14. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais,
formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de
que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem
abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e
defeituosas.
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Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na
esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de
Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri
O objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência
platônica. A ciência platônica e aristotélica é, portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que se
pode aprender precede a sensação e é independente dela. No sentido estrito, a filosofia
aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do condicionado mediante a
condição, porquanto o primeiro elemento depende do segundo.
15. Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião do
vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e
imutável. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que falta a
gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais ou menos, idênticas. O
conhecimento sensível deve ser superado por um outro conhecimento, o conhecimento
conceptual, porquanto no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se
elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O conhecimento sensível,
particular, mutável e relativo, não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua
característica a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode
o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que
estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus
opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.
Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em
dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele
não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião
verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento
sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o
conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um
conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um
conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas
estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar
necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das
coisas pelas causas.
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Quanto aos elementos primeiros do conhecimento racional, a saber, os conceitos, a


coisa parece simples: a indução nada mais é que a abstração do conceito, do inteligível, da
representação sensível, isto é, a "desindividualização" do universal do particular, em que o
universal é imanente. A formação do conceito é, a posteriori, tirada da experiência. Quanto ao
juízo, entretanto, em que unicamente temos ou não temos a verdade, e que é o elemento
constitutivo da ciência, a coisa parece mais complicada. Como é que se formam os princípios
da demonstração, os juízos imediatamente evidentes, donde temos a ciência? Aristóteles
reconhece que é impossível uma indução completa, isto é, uma resenha de todos os casos os
fenômenos particulares para poder tirar com certeza absoluta lei universal abrangendo todas
as essências. Então só resta possível uma indução incompleta, mas certíssima, no sentido de
que os elementos do juízo os conceitos são tirados da experiência, a posteriori, seu nexo,
porém, é a priori, analítico, colhido imediatamente pelo intelecto humano mediante a sua
evidência, necessidade objetiva.
O conhecimento humano tem dois momentos, sensível e intelectual, e o segundo
pressupõe o primeiro. O conhecimento sensível do objeto, que está fora de nós, realiza-se
mediante a assim chamada espécie sensível. Esta é a impressão, a imagem, a forma do objeto
material na alma, isto é, o objeto sem a matéria: como a impressão do sinete na cera, sem a
materialidade do sinete; a cor do ouro percebido pelo olho, sem a materialidade do ouro.
Todos os conhecimentos sensíveis são evidentes, intuitivos, e, por conseqüência,
todos os conhecimentos sensíveis são, por si, verdadeiros. Os chamados erros dos sentidos
nada mais são que falsas interpretações dos dados sensíveis, devidas ao intelecto. Pelo
contrário, no campo intelectual, poucos são os nossos conhecimentos evidentes. São
certamente evidentes os princípios primeiros (identidade, contradição, etc.). Os
conhecimentos não evidentes são reconduzidos à evidência mediante a demonstração, como já
dissemos. É neste processo demonstrativo que se pode insinuar o erro, consistindo em uma
falsa passagem na demonstração, e levando, destarte, à discrepância entre o intelecto e as
coisas.
Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao
conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de
conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física,
do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta
vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias
platônicas. No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os
princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades
28

eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de
Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido
teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia
platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não
bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito,
mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.
16. Compreende-se que este ceticismo importa na ruína da ciência, como valor
objetivo e universal. À ciência - que se impõe objetivamente ao intelecto humano e, pela sua
universalidade, é naturalmente comunicável – substituem os sofistas a retórica, isto é, a arte
de disputar, para ganhar os homens à própria idéia, aos próximos interesses, não como meios
e motivos racionais, pois não existem, mas palavras, o que vulgarmente se chama sofisma. O
ceticismo critica o conhecimento sensível, bem como o intelectual, e também a opinião. A
primeira escola cética serve-se, geralmente, do relativismo sofista; a segunda afirma-se de
modo original graças a Carnéades; a terceira, de tendência pirroniana, faz uso da dialética
eleática, da tese e da antítese.
17. Dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma base real, um objeto
próprio: as idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns conceitos da mente,
personalizados. Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião
verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as coisas particulares e
mutáveis, como as concebiam Heráclito e os sofistas. Deste mundo material e contingente,
portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível no máximo, um
conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira - que é precisamente o conhecimento
adequado à sua natureza inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e
racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão
- transcende inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos. Sua vasta obra
filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas as partes se
compõem, se correspondem, se confirmam. Os estóicos, todavia, fornecer alguma base à sua
ética do dever, e dar uma explicação à razão, que se manifesta no mundo, em especial no
homem, incoerentemente declaram racional o fogo – substância metafísica da realidade-,
atribuem-lhe arbitrariamente os atributos divinos da sabedoria e da providência, imaginam-
nos como espírito ordenador, razão da vida, fazendo emergir todas as qualidades da matéria,
como o sol faz brotar da semente a planta, segundo uma ordem teleológica.
18. Admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de
conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física,
29

do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta
vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias
platônicas. No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os
princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades
eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de
Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido
teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia
platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não
bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito,
mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.
19. Heráclito opõe-lhe a mutabilidade de todas as coisas, tudo se acha em perpétuo
fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo. E como de todos os elementos, o móvel
por excelência é o fogo, do fogo fez Heráclito o princípio fundamental de todas as coisas. É
ainda a preocupação dos antigos jônicos de determinar um elemento único, como origem
comum de todos os seres. O fogo é dotado de um princípio interno de atividade, em virtude do
qual se move continuamente, constituindo cada um dos estádios do seu perpétuo fluxo um
fenômeno natural. O mundo teve origem deste fogo primitivo que se identifica com a
divindade. Por um processo de “extinção” transformou-se em água e depois em terra. Por um
novo processo de “ascensão” a terra volta a ser água e a água torna a fogo. Assim a “luta”
separa os elementos, e a “concórdia” tende a reconduzi-los ao fogo donde provieram. Nestas
vicissitudes em que a luta vai demolindo o trabalho da concórdia, o triunfo final caberá à
concórdia. Mas então intervirá a divindade, construindo um novo mundo em que as duas
forças antagonistas entrarão de novo em ação.
O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado,
como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião
verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma
do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos
homens, etc.
O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do
não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser,
verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-ser da
experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial -
depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.
30

A doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente,


privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal
físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema
do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e
Redenção) para o mal moral (e físico).
20. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer
uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual. Esse conhecimento,
aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar
verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo ideal
é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo
imperfeito participa e a que aspira.
Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à
ontológica, terão conseqüentemente as características dos próprios conceitos: transcenderão a
experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela mesma ordem
lógica dos conceitos, que se obtém mediante a divisão e a classificação, isto é, são ordenadas
em sistema hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da dialética (lógica
real, ontológica) esclarecer. Como a multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias
respectivas, assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do
Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e
todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser
sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus
platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade
criadora.
O objeto próprio da filosofia, em que está a solução do seu problema, são as
essências imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universal e o necessário, as formas e
suas relações. Entretanto, as formas são imanentes na experiência, nos indivíduos, de que
constituem a essência. A filosofia aristotélica é, portanto, conceptual como a de Platão mas
parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de partida da dedução é tirado - mediante o
intelecto da experiência. A filosofia, pois, segundo Aristóteles, dividir-se-ia em teorética,
prática e poética, abrangendo, destarte, todo o saber humano, racional.
Boécio, na sua desventura, procura a paz, e a filosofia consola-o mostrando-lhe
como ele pode achar a tranqüilidade. Inspira-se, pelo pensamento e pela forma, no
neoplatonismo, não sem vestígios peripatéticos e estóicos.
31

O intelecto vê em a natureza das coisas - intus legit - mais profundamente do que


os sentidos, sobre os quais exerce a sua atividade. Na espécie sensível - que representa o
objeto material na sua individualidade, temporalidade, espacialidade, etc., mas sem a matéria -
o inteligível, o universal, a essência das coisas é contida apenas implicitamente,
potencialmente. Para que tal inteligível se torne explícito, atual, é preciso extraí-lo, abstraí-lo,
isto é, desindividualizá-lo das condições materiais. Tem-se, deste modo, a espécie inteligível,
representando precisamente o elemento essencial, a forma universal das coisas.
21. Segundo a psicologia platônica, a natureza do homem é racional, e, por
conseqüência, na razão realiza o homem a sua humanidade: a ação racional realiza o sumo
bem, que é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. Entretanto, esta natureza racional do
homem encontra no corpo: o intelecto encontra um obstáculo – que Platão explica mediante
um dualismo filosófico-religioso de alma e corpo: o intelecto encontra um obstáculo nos
sentidos, a vontade no impulso, e assim por diante. Então a realização da natureza humana
não consiste em uma disciplina racional da sensibilidade, mas na sua final supressão, na
separação da alma do corpo, na morte. Agir moralmente é agir racionalmente, e agir
racionalmente é filosofar, e filosofar é suprimir o sensível, morrer aos sentidos, ao corpo, ao
mundo, para o espírito, o inteligível, a idéia. Ser a razão a essência característica do homem,
realiza ele a sua natureza vivendo racionalmente e sendo disto consciente. E assim consegue a
felicidade mediante a virtude, que é precisamente uma atividade conforme à razão, isto é uma
atividade que pressupõe o conhecimento racional. Logo, o fim do homem é a felicidade, a que
é necessária a virtude, e a esta é necessária a razão.
A característica fundamental da moral aristotélica é, portanto, o racionalismo, visto
ser a virtude ação consciente segundo a razão, que exige o conhecimento absoluto, metafísico,
da natureza e do universo, natureza segundo a qual na qual o homem deve operar. No
pensamento dos estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o prazer, felicidade,
mas a virtude; não concebida como necessária condição para alcançar a felicidade, e sim
como sendo ela própria um bem imediato. Com o desenvolvimento do estoicismo, todavia, a
virtude acaba por se tornar meio para a felicidade da tranqüilidade, da serenidade, que nasce
da virtude negativa da apatia, da indiferença universal. A felicidade do homem virtuoso é a
libertação de toda perturbação, a tranqüilidade da alma, a independência interior, a autarquia.
A moral epicurista é uma moral hedonista. O fim supremo da vida é o prazer sensível: critério
único de moralidade é o sentimento.
O único bem é o prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser
recusado, a não ser por causa de conseqüência dolorosas, e nenhum sofrimento dever ser
32

aceito, a não ser em vista de um prazer, ou de um sofrimento menor. No epicurismo não se


trata, portanto, do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer
imediato, como pelo homem vulgar; trata-se do prazer mediato, refletido, avaliado pela razão,
escolhido prudentemente, sabiamente, filosoficamente. Depois da descida a emanação das
coisas do Uno – há a subida, a conversão do mundo para Deus. Efetua-se ela através do
homem, microcosmo, compêndio do universo. Nisto consiste a moral plotiniana, radicalmente
ascética: libertação, purificação da matéria, do corpo, do sentido. Os graus dessa libertação
são representados, em linha ascendente, pelas virtudes ética, dianoéticas – arte e filosofia-,
culminando no êxtase. Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser
limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se
considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem
realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem,
porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a
dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do
pecado original - é: poder não pecar; depois do pecado original é: não poder não pecar; nos
bem-aventurados será: não poder pecar. A vontade humana, portanto, já é impotente sem a
graça.
INTRODUÇÃO

A abordagem sobre a Ciência do Direito busca emergir dentro das concepções sobre
as Escolas Cientificas, a Ciência Pragmática do Direito e o Empirismo jurídico, onde nessa
interatividade do pensamento a intencionalidade é entender o discurso na sua totalidade.
As intervenções oriundas de cada tópico estão empreendidas de uma seqüência
lógica que envolve um delineamento sistematizado em cada momento que teve a sua
prevalência, onde os teóricos defendem os seus pensamentos academicistas enquanto outros
defendem idéias opostas ao pensamento vigente sobre as escolas que estão constituídas.
Para ter uma noção precisa desse contexto, é possível mencionar que todas essas
engrenagens de informações estão inseridas de forma concisa e contundente.

O DIREITO E A CIÊNCIA

Direito Positivo é o conjunto de normas jurídicas válidas num determinado país. A


compreensão desta definição requer a análise particularizada das expressões norma jurídica e
validade.
33

Norma jurídica é uma mensagem deôntica (dever ser) com sentido completo, ou
seja, só há falar em norma jurídica quando presente a seguinte situação: ocorrido o fato F, se
instaura a relação R entre duas ou mais pessoas. Através desta estrutura a norma jurídica,
veiculada por meio de lei (instrumento introdutório do sistema jurídico), impõe um
determinismo artificial. Por outro giro, modifica a realidade regulando as condutas
intersubjetivas (os problemas intra-subjetivos transbordam a seara do Direito), estabelecendo
um dever ser.
No mesmo diapasão, é de bom alvitre se ressaltar que a norma jurídica só cumpre
as vicissitudes de sua existência, desencadeando efeitos jurídicos, dado sua natureza
hipotética condicional, quando ocorre, no mundo fenomênico, os fatos descritos em sua
hipótese de incidência, verificando-se, então, o fenômeno da subsunção.
A validade da norma jurídica, por sua vez, a nosso ver, é corolário de sua relação
de pertinência com o sistema; o que ocorre quando produzida por órgão com legitimidade,
segundo procedimento previamente estabelecido e sobrevivendo ao confronto com normas
jurídicas que lhe são hierarquicamente superiores.
A Ciência do Direito, por outro lado, constitui estudo realizado acerca do Direito
Positivo. O cientista do direito se debruça sobre o plexo de normas jurídicas válidas (Direito
Positivo), descrevendo-as.
O Direito Positivo lança mão de uma linguagem prescritiva (prescreve condutas
intersubjetivas), a linguagem da Ciência do Direito é descritiva (descreve as normas
jurídicas).
O Direito Positivo admite contradições e lacunas, criando, ele próprio,
mecanismos para superá-las. Já a Ciência do Direito não convive com proposições
contraditórias, as quais, se ocorrerem, solapam o sistema científico.
Há outras distinções, entretanto, acreditamos que as ora apresentadas já são
suficientes para deixar bastante nítida a dissonância entre as duas realidades.

CONSIDERAÇÕES MÍNIMAS SOBRE DIREITO

Os juristas práticos, em geral, dão pouco valor às considerações filosóficas do


direito. Preocupam-se, mais e mais, em vencer suas causas, enclausurando-se no tecnicismo
jurídico. Em geral, rejeitam e reprovam os conhecimentos filosóficos, que consideram um
conhecimento inútil ou que serve apenas para boas conversas em salão. Porém, essa é uma
visão equivocada e ingênua. Neste início de novo século, estamos presenciando que, o
34

sucesso profissional somente será acompanhado pelo conhecimento em profundidade sobre a


ciência e, neste sentido, não há saber científico, sem filosofia.
Precisamos iniciar nossas considerações citando Kafka (1995, p. 230-232):

(...) Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo dirige-se a este


porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode
permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se
então não pode entrar mais tarde. ‘"É possível", diz o porteiro, "mas agora
não". Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta, e o porteiro
se posta ao lado, o homem se inclina para olhar o interior através da porta.
Quando nota isso, o porteiro ri e diz: "Se o atrai tanto, tente entrar apesar da
minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou apenas o último dos
porteiros. De sala para sala, porém, existem porteiros cada um mais
poderoso que o outro. Nem sempre eu posso suportar a visão do terceiro". O
Homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a
todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de
perto o porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo e a longa
barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a
permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao
lado da porta. Ali fica sentado dias e anos. Ele faz muitas tentativas para ser
admitido, e cansa o porteiro com os seus pedidos. Muitas vezes o porteiro
submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito da sua
terra e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que
costumam fazer grandes senhores, e no final repete-lhe que ainda não pode
deixá-lo entrar. O homem, que se havia equipado bem para a viagem, lança
mão de tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita
tudo, mas sempre dizendo: Eu só aceito para você não achar que deixou de
fazer alguma coisa".

Durante todos esses anos, o homem observa o porteiro quase sem


interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único
obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta o
acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo
mesmo. Torna-se infantil, e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio,
ficou conhecendo até as pulgas da sua gola de pele, pede a estas que o
ajudem a fazê-lo mudar de opinião. Finalmente, sua vista enfraquece e ele
não sabe se de fato está escurecendo em volta ou se apenas os olhos o
enganam. Contudo, agora reconhece no escuro um brilho que irrompe
inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida.
Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua
cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe
um aceno para que se aproxime, pois não pode mais endireitar o corpo
enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a
diferença de altura mudou muito em detrimento do homem. "O que é que
você ainda quer saber?", pergunta o porteiro, " você é insaciável". "Todos
aspiram a lei", diz o homem, "como se explica que, em tantos anos, ninguém
além de mim pediu para entrar?" O porteiro percebe que o homem está no
fim, e para ainda alcançar sua audição em declínio, ele berra: "Aqui ninguém
mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora
eu vou embora e fecho-a".

A Filosofia do Direito, portanto, indaga o direito sob os aspectos ontológicos


(conceito de direito), epistemológicos (conhecimento do direito e lógica jurídica) e
axiológicos (teoria da justiça).
35

A Filosofia é uma forma de pensamento. Não se trata de um conjunto de


conhecimento. Assim, a Filosofia do Direito, que nasce no bojo da Filosofia Pura, é uma
forma de pensar o Direito. É uma forma de indagar o Direito, como regra geral,
essencialmente público. Essas indagações nascem por volta de 600 a.C. com enfoque da
pessoa, do direito e da justiça. Como uma forma de congregar, aglutinar necessidades comuns
(liberdades) em volta de um núcleo de valores: a justiça.

DOS FUNDAMENTOS DO DIREITO

Como toda ciência, o direito também não está despojado de ideologias que
permeiam as suas proposições. O aparato jurídico parece estar permeado de conservadorismo
que se contrapõe à utopia. O direito se apresenta como racionalização de técnicas para
manutenção de uma ordem constituída. A lei, sob este aspecto, é parte do binômio poder x
repressão. Compreende-se, então, que o direito é um instrumento do Estado a serviço da
classe dominante e a justiça um simples valor político comprometida com a manutenção da
ordem. Neste particular, o judiciário reflete as contingências políticas porque é uma simples
instância.
A formação dos juristas parece não contemplar uma nova concepção do direito.
Apesar de todos os esforços e do sistema de avaliação do Ministério da Educação e das
incursões da OAB sobre a necessidade de melhoria da qualidade do ensino, vive-se uma crise
do ensino jurídico. Essa crise, apesar do discurso contrário, é alimentada pela política
governamental.
Flávio Galdino, discorrendo, em monografia premiada pela OAB sobre a situação
do ensino jurídico, diz que :

Os alunos, com vistas nas profissões parajurídicas, não pugnam por formação mais
completa e especializada, porque a generalista (menos exigente) lhes é mais
conveniente. Está instaurado um círculo vicioso que assegura a reprodução da crise
do ensino jurídico – a crise se perpetua por conveniência dos atores. Não nos
podemos enganar, o fato é que o mercado (e a sociedade m geral) rejeita os
produtos deste sistema, rejeita o profissional e a cultura que o produziu (p.166).

O autor dispara severa crítica aos professores, aos currículos e aos próprios
estudantes, afirmando que, em geral, o ensino é superficial e, por isso, com conseqüências
nefastas à sociedade. Apesar de a OAB não poder controlar o ensino, ela deve e pode adotar
muitas medidas com vistas à melhoria da qualidade de ensino.
Pasold, renomado professor e jurista catarinense, diz:
36

Infelizmente a maior parte dos cursos jurídicos no Brasil, no passado e no presente,


não tem privilegiado devidamente a questão da relação nuclear e ético-política
entre o bacharel em Direito e a consciência jurídica, quer na composição de seus
currículos plenos... por isto os bacharéis em Direito formam-se, em muitos casos,
como operadores jurídicos/técnicos competentes e como cidadãos responsáveis,
mas não se tornam juristas na sua plenitude ( p.55).

Wolkmer mostra como a trajetória da cultura jurídica no Brasil privilegiou a


compreensão de uma estrutura positivista com base nas hegemonias das oligarquias. E por
isso que, até o presente momento, as instituições formam operadores do direito portadores das
seguintes características:
a. proselitismo acrítico e formalismo retórico;
b. palavreado pomposo, ritualizado, sofisticado e quase incompreensível;
c. conhecimento ornamental, cultivo da erudição lingüística, valorização da
aparência;
d. divórcio entre os reclamos das camadas populares e ação para os bem dotados
financeiramente;
e. ensino que envolve a memorização de códigos e de leis ou procedimentos
processuais. Neste sentido, as disciplinas de direito civil; processual civil; penal e processual
penal, são consideradas pelos alunos como as mais importantes;
f. formação para a militância política, considerando que pelo palavreado
pomposo consegue-se convencer, especialmente as camadas analfabetas;
g. preservação das idéias ilustrativas, com imagem em Rui Barbosa.

Estas são algumas das ideologias subjacentes ao ensino jurídico, predisposto a


conservar e implementar as idéias de estabilidade, unicidade, positividade e racionalidade. As
teorias que sustentam e fundamentam o direito moderno são: o jusnaturalismo, o positivismo
e a teoria crítica. Esta última teve origem na escola de Frankfurt (1923) com Adorno,
Horkheimer, Marcuse, Habermas e outros. Na idade média prevaleceu o pluralismo jurídico e
na idade contemporânea o monismo jurídico. Hoje, há uma tentativa de retornar ao pluralismo
e, quem sabe, possamos compartilhar, como professor de filosofia do direito, de uma
caminhada pelo projeto de um direito emancipatório.
Boaventura de Sousa Santos concorda plenamente com essas idéias afirmado que
a garantia da confiança e da vida de paz na sociedade moderna depende o sistema jurídico
emancipatório e confiável. Todavia, a interpretação jurídica não pode ser feita de forma
mecânica e desprovida de valor.
37

A CONCEPÇÃO DO DIREITO NATURAL

O conceito fundamental do direito natural é o de que todo ser é dotado de uma


natureza e um fim. Aristóteles dizia que o ser humano é em ato e em potência. Ato enquanto é
presente e potência, enquanto possibilidades futuras. A passagem, para o homem, de ato para
potência é feita com inteligência e consciência. A sociedade, para tanto, deve se organizar, no
sentido de construir mecanismos especiais e uma ordem de princípios que dê condições ao
homem de realizar uma vida com sentido. É para isso que serve o sistema jurídico: garantir ao
homem uma organização social para uma vida plena individualmente.
Segundo Bobbio, foi Hobbes quem procurou construir um sistema jurídico
dedutivo, com seu postulado ético original: há uma lei natural básica, as outras são derivadas.
Entendia que, no estado de natureza o homem é lobo do homem, por isso há necessidade de
leis naturais derivadas. As lEis decorrem de uma necessidade natural e, daí, a renúncia parcial
da liberdade – um direito natural – em função do Estado encarregado de garantir a paz. O
Estado soberano não pode estar submetido a qualquer lei, porque ele é a fonte legisladora.
Ainda, segundo Hobbes,

A ação humana constitui-se a partir da ação moral e política. A obrigação


moral, para ele, precede e independe da obrigação civil e deriva das leis
naturais que prescrevem o cumprimento dos pactos. Assim, não devemos fazer
com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco, e se faz necessário
evitar a ingratidão, os insultos, o orgulho, enfim, tudo que prejudique a
concórdia; que o mal seja vingado sem crueldade, que haja moderação no uso
dos bens; que os bens sejam distribuídos eqüitativamente e que haja uso
comum daqueles que não podem ser divididos; havendo disputas, que se
recorra a um árbitro imparcial e desinteressado.

A premissa básica do direito natural é a de que a natureza humana determina os


princípios de organização. Não existe ciência isenta. Porém, existem evidências
condicionantes da natureza que orientam o modo de viver. Sob o ponto de vista ontológico, o
direito natural é o ser do direito, isto é, o direito legítimo. Sob o ponto de vista deontológico,
o direito natural é o conjunto de valores imutáveis que representam e se identificam com a
ética, por isso são universais. Neste sentido, o destino final do direito natural é a justiça. Para
que cometa justiça, o legislador deve ser um observador dos fatos sociais e um analista da
natureza humana. Para atingir a justiça deve-se apoiar nos princípios básicos do direito
natural.
38

A origem do direito natural está no próprio homem e sua natureza social na sua
conjugação entre experiência e razão, concebido, durante muito tempo como origem divina.
Hugo Grotius parece ser o pai do direito natural. Ele diz que o direito natural existiria, mesmo
que Deus não existisse, ou em existindo não cuidasse dos assuntos humanos.
As características principais do direito natural são aquelas que concebem o direito
como um conjunto de amplos princípios, pelos quais se compõe a ordem jurídica: direito à
vida, à liberdade, participação na vida social, união entre os seres para criação da prole,
igualdade de oportunidades, suprimento das necessidades básicas. No século XVIII
pretendeu-se criar códigos de direito natural porque este traz características de eternidade,
imutabilidade e universalidade.
Em geral, os estudiosos apontam que o jusnaturalismo tem as seguintes
características: universalidade, perpetuidade, imutabilidade, indispensabilidade,
indelebilidade, unidade, obrigatoriedade, necessidade e validez.
O jusnaturalismo, enquanto escola, foi consagrada por tratar dos princípios da
dignidade humana que, numa visão racionalista se dá entre os séculos XVI e XVIII (Grócio,
Hobbes, Spinoza, Puffendorf, Wolf, Rousseau e Kant). Para a jusnaturalismo, a natureza
humana é o fundamento do direito. O homem é racional e, como tal, deve explicar a
sociedade pela razão. Portanto, o contrato social é um modo de organização e os direitos
naturais devem ser observados.
Os motivos que justificam o jusnaturalismo dirigem-se à necessidade de
permanente aspiração da justiça. Compreende que o direito positivo é um instrumento do
Estado para servir ao homem para consagrar valores individuais e negativos. Faz a defesa do
direito pluralista e tem a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem que é
expressão do direito justo, perfeito e ideal.
Os críticos do direito natural dizem que seus princípios formam uma ordem apta a
legitimar o direito positivo. Todavia, os governantes não gostam de falar em direito natural.
Foi o que ocorreu com a Revolução Francesa que condenou as velhas instituições fundadas no
direito natural. O homo juridicus do direito natural é aquele que não se acomoda diante as
desigualdades, luta por uma ordem legítima, clama pela vida e pela liberdade e, se necessário,
faz revolução.
Todavia, sob o manto do seu discurso literário, pode ser um instrumento da
manutenção da ordem, porque prega um direito eterno e perene. Assim sendo, aqueles largos
e vastos princípios do direito natural, podem ser usados para ser vir os regimes injustos e
reacionários. Entretanto, os direitos do homem, que se constituem num conjunto e normas e
39

princípios, expressos em forma de declaração por organismos internacionais, têm a finalidade


de despertar a consciência dos povos quanto à necessidade de garantir e preservar os valores
fundamentais construídos pela história humana.

AS ESCOLAS CIENTÍFICAS

São várias as alternativas de estudo aqui, pois são inúmeras as escolas que
apresentam métodos e crenças para a obtenção do conhecimento.

O EMPIRISMO

No empirismo, a escola mais conhecida e radical é a do positivismo, representada


pelo pensador francês Augusto Comte (1798-1857). Essa escola afirma que o conhecimento
cientifico nasce do objeto. É neste que repousa a verdade cientifica, apresentando-se ao
sujeito como de fato é na realidade.
Aliás, diz essa escola, o real é objeto que dirige o conhecimento como um vetor ao
sujeito, que, sendo racional, basta estar preparado para escolher do objeto sua essência.
O positivismo, portanto, funda-se na cresça de que os objetos em si possuem um
vetor ao sujeito, que, só dependem de uma, cada vez melhor, maneira de observar do sujeito,
para serem realizadas.
E, de fato, o aperfeiçoamento do observador – o cientista – apenas se dá porqeu ele,
antes, extraíra dos objetos, pelo menos método, verdades que agora, pôr acúmulo de
conhecimento, lhe permitem observar melhor, e assim pôr diante.
Porém, nada muda a cresça, porquanto é lá, no objeto, que todas as verdades –
ocultas nas essências – já residiam. O que se altera com novas descobertas não são os objetos
– que sempre tiveram as mesmas essências -, mas a maneira de vê-los.
O cientista teria, assim, uma miopia que se ia curando, com o passar do tempo. Na
medida em que ele observa melhor os objetos e arquivava os conhecimentos daí resultantes,
estes se iam acumulando. E melhoravam sua visão. Mas os objetos ainda eram os mesmos.
Daí poder-se afirmar certas máximas do empirismo e, especialmente, do
positivismo: só é cientifico o conhecimento verificável empiricamente, é do objeto que deflui
o conhecimento; o objeto é transparente e o conhecimento cientifico deve descrevê-lo o
melhor possível; quanto mais exata a descrição do objeto, tanto mais avançado o
conhecimento cientifico.
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Um exemplo bastante vivo desse método positiva é o das pesquisas genéticas. Nelas
há uma pretensão de penetração cada vez mais profunda no real, de tal forma que dele se
extraiam as verdades buscadas – mas buscadas nele, objeto real, e a partir dele.
Vejam-se, no exemplo, os genes. Eles ficam situados dentro do núcleo das células
do corpo, nos chamados cromossomos. E esses genes são hoje identificados em nível
molecular como ácido desoxirribonucléico: o DNA.

O RACIONALISMO

Em posição exatamente oposta ao empirismo e positivismo está a escola


racionalista.
O conhecido filósofo francês Descartes (1596-1650), de frase não menos famosa –
“Penso, logo existo” -, é considerado o fundador do racionalismo moderno.
Os postulados do racionalismo têm aí, em Descartes, seu ponto de partida.
Em sua época (século XVII), ao separar corpo e mente, o dualismo cartesiano
pusera os filósofos diante da questão: se a mente é distinta do corpo e seus órgãos, e se são
estes que entram em contato com o mundo exterior, como ter certeza da existência do próprio
mundo exterior.
É importante para isso consignar o que Descarte deixa marcado desde o século
XVII com seu Discurso do método (de 1637), a obra da frase famosa.
Rejeitou ele a posição escolástica da unidade substancial do composto humano,
segundo a qual o corpo e a alma constituem um único ser e agem como um todo. Para
Descartes, o corpo e alma (ou mente), cada qual, são substancias completas, auto-suficientes e
sem relações imediatas recíprocas.
Acompanhemos seu pensamento: Descartes decidiria colocar tudo em dúvida para
ver se alguma proposição resista a esse esforço, quando deparou com o famosíssimo “Penso,
logo existo” (cogito, ergo sum). Nenhum objeto do pensamento resiste a essa objeção.
Contudo, o próprio ato de duvidar é indubitável. (É conveniente notar que Descarte não diz
“duvido, logo existo”, visto que para ele a duvida não importa como ato, mas como
conhecimento do fato de que duvida).
Assim, Descartes, observando que podia pôr tudo em dúvida, exceto o fato de que
(eu) era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, pata ser,
não necessita de nenhum lugar, nem depende de qualquer coisa material. De sorte que esse
eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é
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mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o
que é” (Discurso do método, cit., 4ª parte).
Com esses pressupostos foi-se firmando o racionalismo moderno, que afirma
residir no sujeito o fundamento do ato de conhecer, sendo o objeto mero ponto de referência.
O pensamento opera com idéias e não com coisas concretas; o objeto de
conhecimento é uma idéia construída pela razão.
Não há, verdade, no racionalismo – mas há no idealismo, como se verá, a seguir -,
um desprezo total ao chamado objeto concreto; o problema em relação a este é que é incapaz
de oferecer condições de certeza, ou, em outras palavras, os fatos não são fonte segura para o
conhecimento.
Um exemplo das incertezas que cercam os fatos pode ser dado por um trecho
famoso e crítico filme de Charles Chaplin, “Tempos Modernos”.
De pronto percebe-se apenas nos dois simples exemplos que os próprios usos da
palavra “direito” apontam um para o outro: direito aponta para justiça e esta para aquele. E é
por isso que se diz que os termos são análogos. Contudo, há outros usos que se apresentam,
como se disse, vagos, ambíguos, contraditórios.
Com efeito, direito é um ideal sonhado por certa sociedade e simultaneamente um
golpe que enterra esse ideal. É símbolo da ordem social e simultaneamente a bandeira da
agitação (estudantil, dos trabalhadores em greve etc.). O Direito garante a privacidade e a
intimidade e, também, ao mesmo tempo, a publicidade e a quebra da intimidade.
Só por esse exemplos percebe-se o grau de dificuldade que é o manejar do
conceito “direito”. Talvez por isso a chamada Ciência do Direito tenha acabado por
privilegiar um dos sentidos, dentro os vários possíveis.
Como, via de regra, as ciências em geral não têm muita dificuldade na descoberta
e fixação de seus objetos – por exemplo, a medicina não tem dúvida de que deve estudar o
corpo humano -, a Ciência do Direito pretende o mesmo.
Dessa forma, optou por estudar um dos sentidos possíveis do termo “direito”: o de
norma jurídica e, especialmente, o de norma jurídica escrita.
Assim é que, na atualidade, os cursos de Direito estão voltados quase totalmente
para o estudo da norma jurídica escrita, com método tipicamente dogmático.
Mas não parece ter sido uma escolha muito feliz – ainda que se possa entende-la -,
uma vez que as dificuldades de fixação de sentido que o termo “direito” revela ao
investigados, antes de serem um obstáculo, apontam para uma riqueza de significações que
merecem estudo aprofundado.
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Contudo, ao invés de buscar o obstáculo, penetrando em sua complexidade


fecunda, o cientista do Direito deu uma volta ao largo do problema e levou consigo o sentido
mais fácil de ser abordado.
Com isso, o que era de humano a impregnar o Direito acabou congelando-se no
conceito da norma jurídica escrita e perdendo-se no trabalho analítico do investigador.
É preciso resgatar a magnificência da dignidade humana, que é o fundamento
último que dá sustentação ao Direito, através da abertura das mentes que se dedicam ao
estudo do Direito, o que passa, necessariamente, por uma avaliação sincera dos métodos da
Ciência do Direito, dos institutos jurídicos existente, das condições sociais reais nas quais o
Direito está incluído, sobre as quais ele influi e das quais recebe influência.
Enfim, é preciso pensar abertamente na função social do Direito e no papel social
exercido pelos que o operam – todos: estudantes, professores, profissionais específicos:
advogados, juízes, procuradores de justiça, delegados etc. E isso começa no estudante, que
deve ser chamado a participar do debate, como aquele que está começando a pensar o Direito.
CIÊNCIA DOGMÁTICA DO DIREITO

Podemos distinguir dois movimentos importantes: um anterior à Ciência do


Direito atual e outro relativo à investigação contemporânea.
No primeiro caso, deve-se, inclusive, colocar como o faz o Prof. Tércio Sampaio
Ferras Jr. (A ciência do direito, cit., p.18), que o próprio termo “ciência do objeto” somente
passou a ser utilizado a partir do século XIX, por invenção da Escola Histórica alemã. Claro
que antes o Direito já era investigado e estudado, como se verá, mas não havia uma
preocupação exclusiva com o fato de se estar fazendo ou não ciência.
Na verdade, toda tentativa fortemente concentrada a partir desse momento da
história, de se fundar uma Ciência do Direito, tem como base toda uma evolução histórica,
que já havia preparado as condições para tal.
Contudo, em que pese às várias tentativas, a Ciência do Direito do século XX,
especialmente da segunda metade para cá, firmou-se como Ciência Dogmática do Direito,
apesar de sempre terem existido e de que ainda resistem focos que pretendem conceber uma
Ciência do Direito livre do dogmatismo.
De qualquer forma, adiante-se um ponto: vai-se começar a perceber uma relação
cada vez maior entre Ciência do Direito e Hermenêutica – como Teoria da Interpretação -, de
tal forma que passa a existir na atualidade grande aproximação ou, pelo menos, confusão
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entre ambas, ainda que isso não seja abertamente colocado pelas escolas de Direito, conforme
veremos.
Mas, antes dessas abordagens, vejamos aqui as características de algumas
tentativas de fundar a Ciência do Direito, para depois, examinando um desenvolvimento
histórico, investigamos a escola de Direito contemporânea.
A título apenas de exemplo, tratemos sucintamente de algumas escolas que
pretenderam encontrar métodos próprios e adequados, para isso fundarem a Ciência do
Direito.

A ESCOLA RACIONALISTA. O JUSNATURALISMO

Primeiramente, uma escola racionalista: o jusnaturalismo, que tem longa tradição,


vendo desde os filósofos gregos, passando pelos escolásticos, na Idade Média, pelos
racionalistas dos séculos XVII e XVIII, indo até as concepções modernas de Stammler e Del
Vecchio.
Pode-se dizer, em linhas gerais, que essa escola é fundada no pressuposto de que
existe uma lei natural, eterna e imutável; uma ordem preexistente, de origem divina ou
decorrente da natureza, ou, ainda, da natureza social do ser humano.
O método para conhecer essa ordenação prévia é o racional. A razão não chega a
trabalhar com realidades concretas.
É através da razão que, voltando-se para si mesma, investiga, para descobrir na
própria consciência, os princípios e as leis universais, válidos desde sempre.

O EMPIRISMO JURÍDICO

Acredita que o conhecimento do objeto, que pode ser a norma jurídica ou o fato
social, ou fenômeno jurídico produzido no meio social etc.
Vale uma observação relativa ao positivismo que na Ciência do Direito tem duplo
sentido: tanto é chamada de positivismo jurídico a corrente que – aos moldes de Augusto
Comte – a credita que o conhecimento nasce do fato, quanto tem o mesmo nome a corrente
que crê dar-se conhecimento pela norma jurídica.

ESCOLA DA EXEGESE
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Essa escola firmou conceitos e métodos de investigação que se tornaram perenes


e, ainda que camuflados ou ligeiramente alterados, vivem fortemente na Ciência Dogmática
do Direito contemporâneo.
Diga-se, de início, que o exegetismo não negou o Direito natural, pois admitia que
os códigos seriam elaborados de modo racional e, portanto, representariam a face humana do
Direito natural.
A legislação seria elaborada num sistema normativo codificado, visando a garantir
os direitos subjetivos do homem que, por sua vez, estavam pressupostos nas normas da
natureza. Os códigos seriam a concretização dos ideais jusnaturalistas.
Exegese, como se sabe, significa o comentário minucioso ou a interpretação de um
texto ou palavra.
A conhecida Escola da Exegese no Direito teve seu apogeu após a promulgação do
não menos famoso Código de Napoleão, em 1804. Esse código unificou o Direito Civil
francês e, tido como a expressão mais completa do Direito, tornou-se marco importante para o
surgimento da crença de que o Direito é o direito posto – a legislação.
Esse Direito elaborado trazia também a grande vantagem da segurança e da
certeza, já que tudo o que se buscava estava nos textos. Bastava interpreta-los.
A interpretação jurídica dos textos de leis ganhou, então, absoluta relevância. E, como todo
o Direito transformara-se no corpo escrito legislado, era ali mesmo que se buscariam as regras de
interpretação capazes de solucionar os problemas que surgissem.
A tese dos exegetas, da concentração da competência exclusiva para legislar no
Legislativo, reduziu o direito à lei. E também reduziu a função do intérprete e do julgador a
uma função mecânica, de lógica dedutiva.
Sendo a lei a única fonte das decisões jurídicas, a resolução de um problema
dar-se-ia, então, na conclusão de um silogismo, no qual a premissa maior seria a lei, a
premissa menor seria o enunciado do fato concreto apresentado como problema a se
solucionar, e a conclusão corresponderia à resolução do problema.
A função judicial teria, assim, uma concepção mecânica, como um processo
lógico-dedutivo de subsunção do fato concreto à determinação abstrata da lei.
Para desvendar a vontade do legislador, passou-se a investigar os trabalhos
legislativos preparatórios, os costumes anteriores, os costumes anteriores, a tradição histórica,
ou seja, para desvendar a vontade do legislador, o exegeta passou não apenas a conhecer a
letra da lei, mas também a desvendar seu espírito.
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Surgiu aí interpretação histórica, isto é, a possibilidade de investigar as


circunstâncias que antecederam a criação da lei.
Posteriormente, percebeu-se que as várias leis tinham de ser sistematizadas,
porquanto cada uma delas tinha seu lugar próprio, dentro do sistema legislativo, com
adequação e importância diferenciadas, sendo certo que, inclusive, algumas leis
preponderavam sobre outras.
A técnica adequada para realizar a exegese dessas leis, postas nessa variedade num
sistema, é a interpretação lógico-sistemática, que passou a ser realizada.
A Escola da Exegese exerceu poderosa influência não só na França mas também
na Alemanha, Itália etc., espalhando-se por todo o mundo ocidental.
O pensamento exegético entrou para apresentar como absoluto o velho direito,
petrificando-o, tentando impedir que o juiz trouxesse qualquer inovação e que o interpretasse
com flexibilidade, como da mesma forma o legislador não poderia fazer leis, alterando-o.

A ESCOLA HISTÓRICA

Foram os alemães Gustavo Hugo, Puchta e, especialmente, Savigny, este como


seu grande promotor, que no início do século XIX desenvolveram a Escola Histórica.
Opondo-se à Escola da Exegese, mas mantendo o mesmo método, a Escola
Histórica afirmava que o verdadeiro Direito residia nos usos e costumes e na tradição do
povo. É a história desse povo, como resultado de suas aspirações e necessidades, que forma o
Direito.
O legislador não cria o Direito. Apenas traduz em normas escritas o Direito vivo,
latente no espírito popular. Ao contrário da descoberta do espírito da lei, pregado pela Escola
da Exegese, procurava-se o espírito do povo.
A analogia feita pela Escola Histórica entre a formação do Direito e a da língua
ilustra a sua posição: a língua nasce na própria fala concreta, cabendo ao gramático depois
sistematiza-la, mas as regras gramaticais só podem ser genuínas e obrigatórias se baseadas na
língua viva popular.
Cabe aos Jurisconsultos sistematizar esses direitos. As normas jurídicas
identificadas e sistematizadas só serão válidas e eficazes se fiéis ao espírito do Direito
consuetudinário. Como a língua nasce sem a intervenção do gramático, o Direito nasce sem a
intervenção do legislador ou do jurisconsulto.
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A CIÊNCIA DOGMÁTICA DO DIREITO

O pensamento jurídico contemporâneo, na sua formação e esfera de influência,


extrapola em muitos os limites da escola de Direito, indo influir no meio social, através dos
operadores do Direito, indo influir no meio social, através dos operadores do Direito,
formados naquela escola.
O saber jurídico aponta amplo controle social, no qual se instrumentaliza o próprio
cientista jurídico, que passa a ser um técnico, cujo acesso ao Direito se faz somente pelo
manejo de ferramentas – regras de interpretação – sem as quais não tem como realizar seu
trabalho, que desempenha depois de aceitar os pontos de partido (dogmas) estabelecidos pela
escola jurídica.
Ou, em outras palavras, a ação do cientista (dogmático) do Direito se dá na
aceitação de dogmas e no cumprimento de regras técnicas previamente estabelecidas pela
Ciência Dogmática do Direito. Assim, o seu comportamento, para ser identificado como
“científico”, deve-se dar nos quadros de ação adredemente preparados pela escola de Direito
– com valores, modelos e regras próprias a serem cumpridas.
Pode-se afirmar, que o bom cientista dogmático do Direito é aquele que
incorporou os valores prévios e os modelos preexistentes, e é bom cumpridor de regras, que
ele maneja com vistas a orientar a ação dos outros.
A investigação de enfoque zetético tem função especulativa, levando questões que
podem ir em direção ao infinito, suspendendo o juízo e deixando em aberto resposta ao
problema levantado.
O enfoque zetético relativamente às doutrinas e opiniões põe-nas em dúvida,
desintegrando-as. A linguagem do trabalho zetético é caracterizada pelo uso descritivo, já que
sua preocupação é descrever algo. É o uso do verbo “ser”: que é algo?.
A dogmática caracteriza-se por pretender impor-se de cima para baixo, do mestre
ao aluno. Ela vai doutrinando e ensinando, de forma impositiva.
O enfoque dogmático se finda em opiniões, dentre as quais algumas são
ressalvadas como melhores ou como as corretas.

PROBLEMA DA CIENTIFICIDADE DO SABER JURÍDICO COMO QUESTÃO


EPISTEMOLÓGICO-JURÍDICA
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É, portanto, a filosofia do direito, enquanto epistemologia jurídica, que vai tratar


dos problemas da ciência do direito, procurando dirimi-los, delimitando o sentindo da
“ciência”, a especificidade do objeto e do método da especulação jurídico-científica,
refletindo sobre o caráter teórico, prático ou crítico da Jurisprudência, distinguindo a ciência
das outras que, igualmente, têm por material de pesquisa os fenômenos jurídicos, indagando
acerca da natureza cientifica do saber jurídico.
Várias são as teorias epistemológico-jurídicas, principalmente as do século
passado e do atual, endereçadas aos problemas da ciência do direito, inclusive ao atinente à
sua cientificidade.
A fim de nos orientarmos na grande selva das posições epistemológicas,
procuraremos esquematizá-los, ordenado-as, tendo em visa os problemas versados por elas.
Para isso tomamos por base, com algumas variações, a sugestão de Carlos Cossio, as
doutrinas epistemológicas que justificam teoricamente a ciência do direito ou que procuram
dar à investigação do direito um caráter cientifico, em seis direções fundamentais:
racionalismo metafísico ou jusnaturalistas, empirismo exegético, historicismo casuístico;
sociologismo eclético; racionalismo dogmático e ergologia existencial.

JUSNATURALISMO

“Desde as representações primitivas de uma ordem legal de origem divina, até a


moderna filosofia do direito natural de Stammler e Del Vecchio, passando pelos sofistas,
estóicos, padres da igreja, escolásticos, ilustrados e racionalistas dos séculos XVII e XVIII, a
longa tradição do jusnaturalismo se vem desenvolvendo, com uma inexistência e um domínio
ideológico que somente as idéias grandiosas e os pensamentos caucionados pelas motivações
mais exigentes poderiam alcançar”.
Na idade média, sob o império da patrística ou da escolástica,a teoria jusnaturalista
apresentava conteúdo teológico, pis os fundamentos do direito natural eram a inteligência e a
vontade divina, devido ao fato de a sociedade e a cultura estarem ligados pela vigência de um
credo religioso e pelo predomínio da fé.
A ciência do direito deve estudar as normas consideradas como obrigatórias.
As normas jurídicas são comandos dirigidos aos juízes e funcionários encarregados
da aplicação do direito. Medida legislativa que não contenha diretiva aos juízes e tribunais
deve ser considerada como um pronunciamento ideológico, moral, sem nenhuma relevância
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jurídica; logo, o estudo do direito vigente deve levar em conta a sua validade em relação aos
aplicadores da norma: juízes e funcionários.
Os conceitos jurídicos fundamentais devem ser interpretados como concepções da
realidade social, logo, sob o ponto de vista epistemológico, a ciência jurídica é uma ciência
social empírica, que procura interpretar a validade do direito, em termos de efetividade social,
isto é, de uma certa correspondência entre um conteúdo normativo ideal e os fenômenos
sociais. O conhecimento científico-jurídico deve, portanto, concentrar-se no factum externo da
efetividade. A ciência do direito dirige sua atenção ao conteúdo abstrato das diretivas para
descobrir o conteúdo ideal, ou seja, a ideologia que funciona como esquema de interpretação
para o direito em ação e para expor esta ideologia como um sistema. A ciência jurídica está
intimamente ligada à sociologia jurídica, porque se não verificar a função social do direito é
insatisfatória sob o ponto de vista do interesse em predizer as decisões jurídicas, visto que o
juiz não está apenas motivado por normas, mas também por fins sociais e pela captação
teorética das conexões sociais relevantes para a consecução daqueles fins.
A ciência jurídica visa o conhecimento da efetiva conduta humana, logo o fenômeno
jurídico deve ser descoberto do campo da psicologia e da sociologia. As asserções lógicas das
ciências jurídica sobre o direito vigente, isto é, as proposições doutrinárias, são uma
predicação de acontecimentos sociais futuros, que por serem indeterminados impossibilitam
que se formulem a seu respeito predicações isentas de ambigüidade. Como toda predicação é,
concomitantemente, um fator real que pode influir no curso dos acontecimentos e um ato
político, conseqüentemente, torna-se impossível estabelecer uma nítida distinção entre teoria e
política; por isso não se pode traçar uma linha divisória entre os enunciados cognoscitivos
referentes ao direito vigente e a atividade político-jurídica. Deveras, a partir da mútua
interação existente entre conhecimento e ação, entre ideologia e atitude, Ross desenvolve uma
teoria que considera, de modo unitário, ciência e política jurídicas.
O objeto da ciência do direito, para Kelsen, consiste nas normas jurídicas
determinantes da conduta humana ou a conduta humana enquanto conteúdo de normas, sendo
que norma pode também referir-se a “fatos e situações que não constituem a conduta humana,
mas desde que sejam condições ou efeitos de conduta humana. Uma norma de direito pode
determinar que, em caso de um cataclismo da natureza, aqueles que por ele não forem
imediatamente atingidos estão obrigados a prestar socorro às vítimas na medida do possível”.
Conforme o conhecimento jurídico-científico dirija-se às normas que devem ser aplicadas ou
aos atos de produção e aplicação, temos uma teoria estática e uma teoria dinâmica do direito.
49

Dentre as inúmeras contribuições impostas pela busca do conhecimento, faz valer


que as informações sobre a Ciência do Direito possuem um campo muito vasto e significativo
para a formação do acadêmico, que precisa depurar e assimilar essa gama de informações que
são essencial e fundamental para o exercício de sua profissional.
Logicamente que esses suportes teóricos possuem uma seqüência lógica como pré-
requisito indispensável no processo constitutivo das disciplinas do curso.
Posso afirmar com convicção que toda essa gama de conteúdos selecionados dos
diversos livros, teve por finalidade maior, fazer um encaixe significativo sobre os mais
variados juristas que dominam a linguagem acadêmica sobre a Ciência do Direito, as escolas
científicas e o empirismo jurídico.

REFERÊNCIAS

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