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ASSOMBRAÇÕES

Maria do Carmo Andrade


Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br

A assombração é definida como: “objeto fantástico ou fantasma que


assombra, que causa terror; alma do outro mundo, aparição; susto causado
pelo encontro ou aparição de coisas sobrenaturais; terror procedente de causa
inexplicável”.

Quando se fala em assombração, todos têm uma história fantástica ou


misteriosa para contar. São experiências vivenciadas ou testemunhadas por
alguém conhecido, por um familiar ou pelo próprio narrador, transmitidas
oralmente, muitas vezes sem possibilidades de comprovação, principalmente
porque são experiências individuais. São revelações, avisos, aparições de
alguém que já morreu.

Pode-se dizer que assombração é um assunto fascinante e envolvente.


Quem, em algum momento da vida, não parou para ouvir, algumas vezes até
contar, uma arrepiante história de assombração? São casos de almas penadas
que habitam casarões antigos; são pessoas que aparentemente estão vivas,
caminhando, conversando e de repente desaparecem ao chegar em frente ao
cemitério; barulho de louça quebrando, quando se vai verificar, a louça está
intacta; choro angustiante de criança, onde não há ninguém; cadeiras que
balançam como se tivesse alguém sentado; arrastados de chinelos ao longo
da casa; arrastados de correntes (dizem que eram os negros torturados na
época da escravidão); bibliotecas onde ilustres leitores que já morreram
voltam para leitura ou consulta; pessoas que estão sem paz, por terem
escondido bens, e voltam para revelar onde está a botija (tesouro enterrado)
e outros casos mais.

Muitas dessas histórias já fazem parte do folclore brasileiro, algumas


são histórias próprias da zona rural, outras são mais urbanas, outras estão
diretamente ligadas ao local, à determinada casa. São as casas ou ruas mal-
assombradas. Outros fantasmas são característicos de determinadas
situações. O Recife tem um rico repertório de histórias de assombrações,
muitas estão eternizadas em livros, como Assombrações do Recife velho, do
escritor e sociólogo Gilberto Freyre, como as histórias da Cruz do Patrão.

A Cruz do Patrão é o lugar considerado mais assombrado do Recife.


Trata-se de uma coluna de alvenaria que foi erguida no século XVII, entre o
Forte do Brum e o do Buraco, para servir de baliza para os barcos que
atracavam. Nesse lugar, enterravam os negros que morriam durante a viagem
da África para o Brasil. Maria Graham, cronista inglesa, declara em seus
relatos ter visto partes de corpos em volta dessa coluna. As histórias de
assombrações na Cruz do Patrão, são muito conhecidas. Há casos de causar
arrepios.

Um caso de assombração arrepiante é o da “Mulher do Algodão” que,


embora tenha acontecido no Rio de Janeiro, foi manchete de jornais e ficou
conhecida em boa parte do Brasil, tendo, inclusive, sido objeto de reportagem
do Diario de Pernambuco de agosto de 1978. Era o fantasma de uma mulher
que aparecia com algodão na boca, nariz e ouvidos, geralmente nos banheiros
dos colégios, aterrorizando as crianças, na década de setenta. Diziam que a
mulher do algodão havia morrido atropelada e um filho dela teria morrido no
banheiro da escola, onde passou um dia inteiro trancado, de castigo.

As histórias misteriosas, de assombrações e fantasmas, não


aconteciam apenas no passado, elas sempre existiram e provavelmente
continuarão a existir. Conta-se aqui um caso, relativamente recente, podendo
ser intitulado de “A confraternização”.

Um determinado setor da Fundação Joaquim Nabuco, contava com seis


funcionários. Um deles, aliás muito querido pelos colegas, havia morrido no
mês de abril. Em dezembro do mesmo ano, os outros colegas do setor
resolveram fazer a confraternização de final de ano, como era de costume, no
mesmo restaurante que iam quando o colega estava vivo. Sentaram-se à
mesa, de seis lugares, sendo que desta vez uma cadeira ficou desocupada.
Comeram, beberam, fizeram brinde ao colega ausente e até tomaram umas a
mais em nome do falecido.

Finalmente, solicitaram a conta, já dividida pelo número de pessoas,


como era hábito entre eles. Três deles fizeram o pagamento com cheque e
dois com cartão de crédito. Os que pagaram com cartão, tiveram suas contas
um pouco majoradas em relação aos três que pagaram com cheque e pediram
explicação ao garçom que logo voltou com a resposta: “a conta foi dividida
pelos seis que estavam na mesa e como só recebemos três cheques e dois
cartões, a parte que ficou (a sexta parte) da conta foi dividida para os dois
cartões”.

Na hora todos pensaram a mesma coisa, ou seja, que o colega falecido


estivera o tempo todo participando da confraternização ali na mesa com eles,
pelo menos na visão da pessoa que “fechou” a conta. Um dos colegas, ainda
disse em tom de brincadeira: “Puxa cara, a gente não se incomoda de pagar,
mas por favor avisa antes!”
Recife, 14 de dezembro de 2005.
(Atualizado em 9 de setembro de 2009).

FONTES CONSULTADAS:

FREYRE, Gilberto. Assombrações do Recife velho: algumas notas históricas e outras tantas folclóricas em
torno do sobrenatural no passado recifense. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970.

HOUAISS, Antônio (Dir.). Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Rio de Janeiro: Larousse
do Brasil, 1979.

RECIFE assombrado. Disponível em: <www.o recifeassombrado.com.br>. Acesso em: 5 dez. 2005.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: ANDRADE, Maria do Carmo. Assombrações. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim
Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
GILBERTO FREYRE

Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br

Sociólogo, antropólogo e escritor, Gilberto de Mello Freyre nasceu no


Recife, Pernambuco, no dia 15 de março de 1900, na antiga Estrada dos Aflitos
(atual Avenida Rosa e Silva), filho do professor e juiz de direito Alfredo Freyre e
de Francisca de Mello Freyre.
Gilreath, no Recife (1908-1917), onde participou ativamente da sua
sociedade literária, sendo redator-chefe do jornal O Lábaro, editado por aquela
instituição de ensino.
Em 1918, viajou para os Estados Unidos, onde fez seus estudos
universitários: bacharelado em Artes Liberais, com especialização em Ciências
Políticas e Sociais, na Universidade de Baylor e mestrado e doutorado em
Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais, na Universidade de Columbia, onde
defendeu a tese Vida social no Brasil em meados do século XIX.
Viajou para vários países europeus, retornando ao Brasil, em 1923,
preferindo continuar morando na sua terra natal, o Recife, em vez de ir para o
sul do País.
Considerado um pioneiro da Sociologia no Brasil, foi um dos idealizadores
do I Congresso Brasileiro de Regionalismo, do qual resultou a publicação
Manifesto regionalista de 1926, contrário à Semana de Arte Moderna de 1922 e
valorizando o regionalismo nordestino em confronto com as manifestações da
"cultura européia".
De 1927 a 1930, foi chefe de gabinete do então governador de
Pernambuco, Estácio Coimbra.
Em 1933, publicou seu livro mais conhecido Casa-grande & senzala, que
iria depois ser publicada por vários países como Argentina (1942); Estados
Unidos (1946); França (1952); Portugal (1957); Alemanha e Itália (1965);
Venezuela (1977); Hungria e Polônia (1985), entre outros.
Foi eleito deputado federal constituinte, em 1946. Quando deputado, foi
autor do projeto que criou o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje
Fundação Joaquim Nabuco.
Além de escritor, foi também pintor e jornalista. Dirigiu os jornais
recifenses A Província e o Diario de Pernambuco. Colaborou com a revista O
Cruzeiro (Rio de Janeiro) e vários periódicos estrangeiros.
Foi membro do Conselho Federal de Cultura desde a sua criação, diretor do
Centro Regional de Pesquisas Educacionais e presidente do conselho-diretor da
Fundação Joaquim Nabuco.
Recebeu vários prêmios literários e o título de Doutor Honoris Causa de
diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Da Rainha Elizabeth II, da
Inglaterra, recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico.
É autor de dezenas de livros, entre os quais, Casa-grande & senzala
(1933), obra considerada fundamental para a compreensão da formação social
brasileira; Sobrados e mucambos (1936); Nordeste (1937); O mundo que o
português criou (1940); Ingleses no Brasil (1948); Aventura e rotina (1953);
Ordem e progresso (1959); Vida, forma e cor (1962); Homem, cultura e trópico
(1962); Oliveira Lima, Dom Quixote Gordo (1968); Além do apenas moderno
(1973); Tempo de aprendiz (1979); Rurbanização: que é? (1982); Apipucos:
que há num nome? (1983); Insurgências e ressurgências (1983); Modos de
homem e modas de mulher (1987); Ferro e civilização no Brasil (1988).
Morreu no Recife, no dia 18 de julho de 1987, sendo sepultado no
Cemitério de Santo Amaro.
Recife, 19 de agosto de 2003.
(Atualizado em 28 de agosto de 2009).

FONTES CONSULTADAS:

FONSECA, Edson Nery da. Cronologia da vida e da obra com índice onomástico, temático e biblionímico.
Ciência & Trópico, Recife, v. 15, n. 2, p. 233-286, 1987.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: GASPAR, Lúcia. Gilberto Freyre. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

CRUZ DO PATRÃO

Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br

A Cruz do Patrão, construída no istmo que liga o Recife à Olinda, está


localizada ao norte do Forte do Brum a ao sul da Fortaleza do Buraco, edificada
pelos holandeses no século XVII e já desaparecida. Trata-se de uma pesada e
alta coluna dórica, feita de alvenaria, com seis metros de altura e dois de
diâmetro, tendo em cima uma cruz de pedra.

A cruz original era de madeira e, segundo Pereira da Costa, o


monumento teria sido construído, no início do século XIX, possivelmente em
1814, para servir de baliza às embarcações que entravam no porto do Recife.
O nome indica patrão-mor, mestre de barco.

Segundo a tradição, o local é tido como mal-assombrado, porque era


onde se enterravam escravos que morriam ao chegar da África. Por ser um
lugar ermo, nas suas proximidades ocorriam, também, vários assassinatos e
fuzilamentos.

As pessoas que iam do Recife à Olinda à noite, evitavam passar por perto
da Cruz do Patrão, pois havia uma crença que se o fizessem, ouviriam gemidos
angustiantes, veriam almas penadas ou seriam perseguidos por espíritos
maléficos.

Gilberto Freyre, no seu livro Guia prático, histórico e sentimental da


cidade do Recife, diz que na época colonial, no local onde hoje se encontra a
Cruz, os negros se reuniam para fazer catimbó e que certa vez apareceu o
diabo, pegou uma "negra de toutiço gordo e sumiu com ela no meio d´água.
Tudo isso, entre estouros e no meio de muita catinga de enxofre".

Maria Graham, uma inglesa que visitou o Recife, conta no livro de


viagens que escreveu sobre o Brasil do século XIX, que viu no local cadáveres
mal enterrados, com pés e pernas sobre a terra.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a 2ª Companhia Independente de


Guardas foi encarregada de fazer a proteção do porto contra os alemãs. Os
soldados temiam guarnecer a Cruz, muito mais pelos mal-assombros do lugar
do que pelos possíveis invasores.
Recife, 10 de setembro de 20003.
(Atualizado em 24 de agosto de 2009).

FONTES CONSULTADAS:

A CRUZ do Patrão. Suplemento Cultural D. O. PE, Recife, ano 16, p. 10, abr. 2002.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições
históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. p. 36-37.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: GASPAR, Lúcia. Cruz do Patrão. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
FORTE DO BRUM

O Forte do Bom Jesus, conhecido hoje


como o Forte do Brum, foi construído
pelos donatários da capitania de
Pernambuco, no século XVI, para
segurança e proteção da barra do porto
e da povoação do Recife.
Nesta época, a Capitania de Pernambuco
era alvo de cobiça e ataques de piratas
ingleses e franceses, por ter sido uma das capitanias do domínio da coroa portuguesa que
mais prosperou e que produzia e comercializava produtos nativos como o pau-brasil, algodão
e açúcar.
O ataque mais temido ocorreu por volta de 1595, comandado por James Lancaster, que
ocupou o Recife por 34 dias. Neste mesmo período os piratas franceses aliaram-se a ele,
reforçando mais ainda a pilhagem para carregamento de madeira do pau-brasil, jóias,
prataria e alfaias.
Em 1629, em decorrência de constantes ataques, Matias de Albuquerque, então governador
da Capitania de Pernambuco pela segunda vez, deu inicio à construção de um novo forte,
denominado de Forte Diogo Pais, financiado por Diogo Pais, homem nobre e rico da
Capitania.
Porém, devido à Invasão Holandesa, ocorrida em 1630, o forte não pôde ser concluído e foi
invadido pelos holandeses ainda nos alicerces. Junto com ele mais dois fortes foram
tomados, o de São Jorge e o de São Francisco.
Dias depois da invasão o comandante da tropa invasora, Diederik van Waerdemburch, deu
continuidade à construção de um novo forte utilizando-se dos alicerces do Forte Diogo Pais,
que recebeu o nome de Forte de Bryne, em homenagem a Johan de Bryne, que na ocasião
presidia o Conselho Político de Olinda.
Erguido em uma posição estratégica, que oferecia vantagens defensivas, o Forte do Brum,
foi equipado com sete canhões de metais, sendo dois canhões de 24 libras, um de dezoito,
um de dezesseis e um de dez libras, além de duas bombardas.
Com a expulsão dos holandeses, em 1654, o Forte retorna à administração da Capitania de
Pernambuco e mais uma vez passa por reformas. No projeto de reconstrução, foi edificada
uma capela sob a invocação de São João Batista do Brum, que determinou a sua nova
denominação: Forte de São João Batista do Brum.
O Forte do Brum é um monumento que testemunhou inúmeros acontecimentos históricos,
invasões, revoluções, registrados em Pernambuco, no Brasil e no mundo.
Por ser considerado um marco que guarda há séculos a
longa história da Capitania de Pernambuco, e pelo seu
relevante valor histórico, o Forte do Brum, foi tombado
pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional.
No dia 19 de dezembro de 1985, o Governo Federal,
através da Portaria Ministerial n. 1240, autorizou a
criação do Museu Militar do Forte do Brum (MMFB), em
homenagem ao soldado nordestino. O Museu foi
inaugurado no dia 05 de janeiro de 1987, como um
espaço de visitação turística e também um local para estudo e reflexão.
Recife, 15 de julho de 2003.

FONTE CONSULTADA:

ALBUQUERQUE, Marcos. Museu Militar do Forte do Brum. Recife: D. Arte Publicidade, [s.d.].

ROCHA, Leduar de Assis. Forte do Brum: patrimônio histórico nacional. Recife: [s.n., s.d].

COMO CITAR ESTE TEXTO:


Fonte: MACHADO, Regina Coeli Vieira. Forte do Brume. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim
Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Assombrações em Recife e Olinda são


atrativos turísticos

13 de outubro de 2006

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Thiago Neves

O Recife está entre as cidades mais mal-assombradas do Brasil.


Prova disso é que em 1951 o sociólogo Giberto Freyre, impressionado com a forte relação que
a cidade mantinha com o sobrenatural, escreveu o livro Assombrações do Recife Velho, no
qual narra histórias de aparições inexplicáveis e contatos com seres de outro mundo. Em seus
469 anos, a "Veneza Brasileira", guarda mistérios e lendas macabras, fruto de seu passado,
ora judaico-holandês, ora ibérico-católico. Há, inclusive, um roteiro turístico para aqueles que
desejam ver de perto os lugares citados por Freyre. A próxima saída do grupo está marcada
para a sexta-feira 13, em outubro.
O projeto Lendas do Recife tem como objetivo fazer os participantes percorrerem as ruas, à
noite, para conhecer as histórias dos lugares mais assombrados da cidade, como o Teatro de
Santa Isabel e a Mansão do Visconde. Tudo isso intercalado por lendas que povoam a
imaginação dos pernambucanos até hoje. Para dar mais realismo ao passeio são utilizados
atores e iluminação cênica. A Secretaria de Turismo pretende realizar o projeto
trimestralmente. A última edição do evento contou com mais de 1,5 mil pessoas.

Nos casarões e sobrados do Recife Antigo e Olinda, bem como nos bairros mais tradicionais, a
exemplo de Casa Forte e o Poço da Panela, ecoam histórias horripilantes que fazem parte do
imaginário popular há séculos. Alguns moradores mais antigos garantem que lendas como A
Perna Cabeluda, o Papa-Figo e o Boca-de-Ouro, narradas no livro de Freyre, são verdadeiras.

No istmo que ligava o Recife à Olinda, há uma cruz de pedra, erguida não se sabe exatamente
quando, conhecida como a Cruz do Patrão. Sabe-se que negros pagãos eram enterrados perto
dali e as penas de fuzilamento, impostas aos militares, eram executadas no local. Durante
anos, pescadores evitaram passar por lá. Eles acreditavam que era possível ouvir gemidos à
noite. Almas penadas perseguiriam quem ousasse passar por aquele lugar.

Nem a sede do governo de Pernambuco escapa das assombrações. Segundo Gilberto Freyre,
o Palácio do Campo das Princesas, erguido em 1841, abriga um vulto "escuro e alto", que
costuma aparecer no salão nobre. As aparições do espectro estão sempre relacionadas ao
prenúncio de alguma desgraça. Na revolução de 30, por exemplo, quando o Recife foi palco de
uma sangrenta batalha que deixou o palácio parcialmente destruído, um dos funcionários
confidenciou a Freyre que o vulto visitava o prédio com freqüência. "Apareceu antes do
cozinheiro espalhar veneno na fritada, e há meses vinha aparecendo como se quisesse dizer
alguma coisa de muito importante", sugere o livro.

Todas as histórias e os causos envolvendo o sobrenatural, que acontecem na cidade, estão


catalogados no site O Recife Assombrado, um verdadeiro portal para coisas do além. Nele é
possível encontrar depoimentos assustadores, fotos, vídeos, roteiros de lugares mal-
assombrados, além de contos macabros, como o da "Dama do Cruzamento", enviado por uma
"leitora anônima".
Caminhos para o Além
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Foto:

A leitora Elisângela Dias me mandou um caso intrigante que se passou uma das
muitas estradas sinistras que existem no Nordeste...

Um amigo contou uma história que me deixou muito arrepiada. Meu amigo chama-se
Aaron ele morou por alguns anos no Ceará, mas precisamente na Cidade de Milagres,
onde ocorreu essa história. Ele me contou que estava uma noite em um posto de
gasolina com o padrasto dele, quando presenciou um acontecimento medonho.

Dizem que próximo a esse posto existe uma curva muito perigosa, chamada de “Curva
da Malhada”, lugar onde aconteciam muitos acidentes. Aaron me falou que perto do
local existem muitos crucifixos, mostrando onde os caminhoneiros apressados ou
desavisados cumpriam seu destino. Foi lá que aconteceu o que vou relatar agora.

Como disse, meu amigo estava com o padrasto no posto quando chegou um
caminhoneiro desesperado. Aaron me disse que nunca tinha visto um homem em tal
estado, muito tão nervoso e trêmulo, tanto que as pessoas que estavam no posto tiveram
que segurar o copo com água e açúcar que deram ao pobre homem, pois ele não tinha a
mínima condição de segurá-lo.

Quando se acalmou, o homem contou que tinha passado por uma experiência horrível.
Ele vinha nas imediações da curva, quando viu uma moça na estrada pedindo carona,
coisa que não era muito rara naquele local, já que passavam muitas pessoas por lá. O
motorista só estranhou o fato de ser uma mulher, mas parou e deu carona a ela.

Quando ia chegando à curva, o caminhoneiro queria acelerar um pouco, mas a mulher


ficou assustada pediu e insistentemente que ele não corresse. Ameaçou até sair do
caminhão! Ele obedeceu ao pedido daquela desconhecida e diminuiu a marcha. Ao
passar pela curva, o motorista perguntou onde a mulher iria descer, então ela
respondeu:

- Em qualquer lugar, pois só vim aqui para te salvar da morte.

E desapareceu!

Ninguém sabe como o motorista conseguiu chegar até o posto de gasolina onde se
reuniam os caminhoneiros. Acho que daquele dia em diante, ele passou a tomar mais
cuidado ao passar pela tal curva...

Já Rodolfo Lira registrou para gente uma lenda muito conhecida nas
nossas estradas:

Numa noite escura e chuvosa, um patrulheiro estava de plantão num posto de uma das
rodovias brasileiras (as chamadas BRs) a fim de parar os carros e fazer as abordagens
comuns à profissão de Policial Rodoviário. Ao avistar os faróis de um carro, fez sinal
com sua lanterna vermelha, indicando o acostamento, para que o automóvel parasse,
entretanto os jovens ocupantes - aparentemente bêbados - com o som ligado num alto
volume, ignoraram completamente a ordem do patrulheiro e seguiram em frente. Ele,
então, subiu em sua moto e iniciou uma perseguição àquele veículo, sendo seguido por
mais dois colegas em uma viatura para dar-lhe apoio.

Depois de alguns minutos tentando alcançar o carro, ao entrar numa curva muita
fechada, reconhecidamente perigosa - e ainda mais devido à chuva que deixou a pista
muito escorregadia -, a moto do patrulheiro derrapou e ele, diante dos olhos dos seus
companheiros, caiu. Seu corpo chocou-se com o chão, com tamanha velocidade e força,
que o seu capacete se desprendeu, fazendo com que sua cabeça batesse violentamente
contra o asfalto, por vários metros, deixando-o completamente desfigurado e bastante
ferido.

Os dois patrulheiros, logicamente, desistiram da perseguição e imediatamente,


socorreram o colega, mesmo sob o pavor daquela visão horrenda. Mas, infelizmente, o
pobre homem não resistiu e faleceu a caminho do hospital.

Hoje, contam os motoristas e principalmente os caminhoneiros - que circulam naquela


rodovia com maior frequcia - que, naquela curva, especialmente nas noites mais
chuvosas e sombrias, os viajantes desavisados são surpreendidos pela visão de um
patrulheiro rodoviário tendo ao lado sua moto. Ele sinaliza com uma lanterna vermelha
para que diminuam a velocidade e, quando obedecem à ordem, e se aproximam do
policial, testemunha - com horror indescritível - o rosto do policial se esvair em
sangue...
E você, prezado leitor, vai pensar duas antes de seguir numa viagem pelas estradas
à noite, não é?

Cruz do Patrão Poço da Panela

Arquivo Público Açude do Prata

Hospital Pedro II Mangue da Torre

Garagem da CTU Avenida Malaquias

Praça Chora Menino Teatro de Santa Isabel

Afogados Rio Capibaribe

Encanta-Moça
__

Cruz do Patrão
Sem dúvida, o lugar mais assombrado do Recife chama-se Cruz do Patrão. Fica onde antes
existia um istmo que ligava o Recife a Olinda, às margens do Rio Beberibe. É uma coluna de
alvenaria, erigida não se sabe precisamente quando, entre as fortalezas do Brum e do
Buraco. Servia de baliza para os barcos que chegavam para atracar. E tornou-se ponto de
encontro com almas penadas...
Pode ter sido construída a mando do patrão-mor do porto, cargo que já existia em 1654.
Sabe-se que, além de marco de navegação, a Cruz tinha outras funções. Lá eram enterrados
os negros pagãos mortos durante as viagens nos navios vindos da África. A areia da maré
facilitava esses sepultamentos improvisados. Ficou célebre relato da inglesa Maria Graham,
que viu pedaços de corpos em volta do marco .
Certamente os espíritos dos escravos arrancados de sua terra natal para perecer na jornada
rumo ao cativeiro ainda vagueiam pela noite, presos pelos grilhões da injustiça. Até o século
XIX, no local também eram fuzilados os militares condenados à pena capital, como o soldado
João Luís dos Santos, do 1º Batalhão de Fuzileiros. Ele sucumbiu diante da saraivada de
balas desferida pelos seus companheiros de farda em quatro de maio de 1850, na presença
de "numerosa porção de povo", como registrou na época o Diário de Pernambuco.
Segundo o escritor Franklin Távora, autor de “O Cabeleira”, acreditava-se que todo aquele
que passasse pelas imediações da Cruz do Patrão à noite veria almas penadas ou seria
perseguido por terríveis espíritos. Muitos dos que o fizeram desapareceram sem deixar
traços. No livro "O Esqueleto", o romancista Carneiro Vilela transformou aquele sítio lúgubre
em cenário para o encontro do personagem Felipe com sua noiva Lívia. O detalhe é que a
reunião romântica se deu depois da morte da moça.
E no local ocorreram fatos trágicos que superam a perversidade concebida pela ficção.
Conta-se de um estudante foi encontrado assassinado junto à Cruz. Culpou-se um soldado,
que foi preso e mandado para Fernando de Noronha. Tempos depois descobriu-se que o
culpado seria outro indivíduo, que cometera o crime animado por um “espírito infernal”. Mas
a revelação chegou tarde: soldado acabou morrendo na prisão da ilha.
Por essas e outras, muita gente preferia o caminho mais longo entre Olinda e Recife,
evitando passar pelo istmo guardado pela a Cruz do Patrão. Isso tornava o lugar um ponto
ideal para reuniões de feiticeiros praticantes das artes mágicas vindas do continente
africano. Os encontros aconteciam principalmente nas noites de São João. Conforme relatos
da época, um desses festejos teve como ápice o aparecimento do próprio Exu , figura com
olhos de fogo e preto feito carvão. O espírito dirigiu suas atenções a uma moça que
participava do culto e a perseguiu até o rio Beberibe, onde ela se atirou.
De acordo com Franklin Távora, o relator desse bizarro episódio, “enganado pela vista dos
mangues, o demônio atirou-se após a fugitiva, julgando entrar em uma floresta. Assim
porém que o corpo ígneo se pôs em contato com as águas frias houve uma súbita explosão
destruiu o furioso animal. O estampido ribombou como descarga elétrica. Nuvem de fumo
espesso, que tresandou a enxofre, cobriu a face do Beberibe. No outro dia, na baixa-mar ,
apareceu no lugar onde a negra tinha afundado, não o seu corpo, mas a coroa preta que
indicou aí por diante aos feiticeiros a vingança do espírito das trevas”.
No século XX, a Cruz ainda fez outras vítimas.Veja, por exemplo esta nota publicada pelo
jornal A Província em 15 de setembro de 1929, sob o título "Na Cruz do Patrão, um marítimo
morreu afogado"
"Na Aldeia do Brum, bairro do Recife, residia Cyriaco de Almeida Catanho, remador da
praticagem da barra. Pela manhã de ontem, cerca de seis horas, aquele marítimo deixou a
sua residência indo banhar-se na Cruz do Patrão, local onde várias pessoas têm morrido
afogadas (grifo nosso). Em certa altura do banho, alguns companheiros de Cyriaco Catanho
que se encontravam nas proximidades da Cruz do Patrão observaram ele pedir socorro. É
que a sua vida perigava. Trataram de dar os socorros solicitados. Infelizmente, porém, estes
não deram o resultado esperado. Cyriaco Catanho havia se submergido. Comunicado o fato à
Polícia Marítima, foram iniciadas as pesquisas para o fim de ser encontrado o cadáver. A
polícia do Primeiro Distrito também tomou conhecimento da ocorrência. O morto era casado
e deixou um filho de dois meses de idade."
A Cruz do Patrão resistiu ao tempo, às investidas da maresia, à falta de cuidado que o
homem tem com suas antigas construções . E, no novo milênio cristão, ela permanece,
impávida, adornado com a sua beleza austera a área do Porto do Recife. Pode ser vista por
quem passa na Ponte do Limoeiro, embora poucos saibam o que ela representa. O
esquecimento a que está submetida seria obra dos espíritos malignos e alma penadas que
habitam o lugar? Ou seria conseqüência do nosso descaso com os monumentos que
preservam muito da história da cidade?
quivo Público
rédio fica na Rua do Imperador, número 371, bairro de Santo Antônio. Foi construído para ser a Casa de Câmera e Cadeia do Re
1731. Lá, ficou preso o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, executado com um tiro em 13 de janeiro de 1825, depois de se tor
dos líderes da Confederação do Equador, o movimento liberal que lutou contra o imperador Dom Pedro I. Em 1945, o prédio se torn
ede do Arquivo Público Estadual, responsável pela preservação de documentos históricos e periódicos, que hoje podem ser consulta
estudantes e pesquisadores.
s as paredes daquele tradicional edifício não guardam só a memória de Pernambuco. Alí também existem mistérios que estão longe
a explicação. Testemunhas falam de ocorrências insólitas, de encontros com figuras vestindo roupas antigas. E há quem diga qu
írito do mais famoso mártir pernambucano ainda espera por justiça e, por isso, não desistiu de assombrar o velho edifí
eriências sobrenaturais registradas numa reportagem publicada no Diário de Pernambuco em outubro de 1992, escrita pela jornal
dra Correia:
m de milhares de livros, o Arquivo Público Estadual possui curiosas historinhas de espectros. Um pesquisador menos avisado pode,
mplo, dar de cara com Frei Caneca entre as estantes do lugar. O que aconteceu com Marli Rangel, funcionária do Arquivo há 15 ano
li estava na seção de periódicos quando viu um homem de preto, sorrindo para ela. Resolveu descer para saber de quem se tratav
statou que não havia ninguém. “Quase morri do coração”.
mpos depois a bibliotecária viu uma fotografia num livro e reconheceu Frei Caneca na figura “muito simpática” de dias atrás. “Não
nica a ver almas por aqui”.
a versão confirmada pelo sargento Francisco de Assis Ferreira, segurança do arquivo há dois anos. Ele afirma que o lugar tem mu
tasmas: os que abrem as portas, os que quebram copos sem motivos aparentes e antigos prisioneiros.No passado o local foi a cad
lica da cidade.
a noite, o sargento Assis lembra, foi até o banheiro do Arquivo buscar um balde d’água, quando enxergou um vulto. Ao se aproxim
cebeu que se tratava de um negro acorrentado. “Na hora notei que não era desse mundo”. Até hoje o segurança não se refez
to. “Fico apavorado quando lembro”.

Hospital Pedro II
Quem passa pela rua dos Coelhos - no bairro de mesmo nome - e vê aquele prédio velho e
imponente, nem pode imaginar as histórias envolvendo as assombrações que lá moram. O
Hospital Pedro II foi fundado em 1861. Atualmente não funciona mais como unidade
hospitalar. Apenas abriga órgãos administrativos da Secretaria Estadual de Saúde. Mas,
durante décadas, serviu como hospital das clínicas, onde jovens médicos residentes se
dedicaram a aprender o ofício curar pessoas. E foram estes iniciantes que mais
testemunharam aparições e fenômenos sobrenaturais no local. Os longos e escuros
corredores eram passagem obrigatória para se chegar à emergência. À noite, estranhos
barulhos eram ouvidos, sem que se identificasse o que os estava provocando.
Um dos mais intrigantes casos envolveu justamente três jovens recém-formados que faziam
residência naquele hospital. Numa noite alta, os três residentes estavam de plantão, quando
foram chamados à emergência, pois uma senhora lá estava a ponto de morrer. Um deles foi
na frente, enquanto os outros dois foram buscar as caixas com instrumentos de primeiros
socorros. E no longo corredor, viram quando seu colega esbarrou violentamente em uma
senhora que vinha em sentido contrário e caiu ao chão. Acharam extremamente deselegante
da parte do amigo o fato de que o mesmo nem sequer pediu desculpas à pobre senhora. Ao
comentarem o fato com o rapaz, ouviram o comentário surpreso: "Senhora? Que senhora?
Eu tropecei e caí sozinho, não esbarrei em nenhuma senhora!".
Havia já alguns tipos conhecidos. Uma mulher de branco, um velho acompanhado de uma
criança, um rapaz risonho e vários outros "moradores" das dependências do hospital. Mas
nenhum outro fantasma causava mais medo do que uma misteriosa freira. Conta-se que
sempre que a religiosa do além aparecia, algum paciente morria na mesma noite. Ela viria
para visitar, dar um alento, ou mesmo para preparar a passagem do doente desta para
melhor.
Hoje em dia já não são vistas tantas assombrações no prédio antigo, mas o hospital ainda
guarda aquela mesma aura macabra que sempre o caracterizou. Os funcionários
administrativos que lá trabalham ainda ouvem sons estranhos, ruídos, passos, risadas. Por
via das dúvidas, o expediente só vai até as 6 da tarde. Ninguém se aventura a ficar dentro
do edifício até altas horas da noite. O plantão noturno é feito só pelas almas penadas.
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Garagem da CTU
Até a década de 90, funcionava neste prédio, no bairro de Santo Amaro, a garagem da
Companhia de Transportes Urbanos do Recife (CTU), empresa municipal reponsável pelos
ônibus elétricos que circulavam na cidade. Os motoristas e cobradores que chegavam com os
coletivos ao galpão depois da meia-noite muita vezes foram supreendidos pela seguinte
figura: uma belíssima loura que os convidavam para um "passeio".
Os experientes fugiam assustados diante da proposta tentadora. Os novatos sempre
aceitavam o convite e se davam mal: eram levados para o Cemitério de Santo Amaro - que
fica vizinho à garagem - onde a mulher os mostrava o túmulo onde "residia" e depois
desaparecia no ar, como se fosse fumaça.
A CTU foi privatizada, os ônibus elétricos foram aposentados e a garagem, desativada. Mas,
segundo testemunhas, a loura não desiste. Ainda pode ser vista caminhando nas redondezas
do cemitério, à procura de algum desavisado que ela possa chamar para dar uma "voltinha".
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Praça Chora Menino


No bairro da Boa Vista, centro do Recife, fica a Praça Chora Menino. Próxima ao Colégio
Salesiano, à Praça do Derby e às ruas do Progresso e das Ninfas, é hoje uma simples
confluência de vias. Mas sua fama e nome datam do século XIX. No ano de 1831, Recife
enfrentou a revolta violenta de uma tropa insubordinada que tinha como obrigação a guarda
do lugar.
Soldados e civis a ela associados saquearam a cidade, cometendo todo tipo de atrocidades e
assassinando centenas de moradores, entre eles muitas crianças. Essa revolta ficou
conhecida como Setembrizada. As ruas ficaram repletas de corpos, e muitos deles foram
enterrados no local onde hoje fica a praça Chora Menino.
O nome vem de relatos que começaram a circular tempos depois da Setembrizada: dizia-se
que quem passasse altas horas da noite perto da praça ouvia sempre choro de menino.
Certamente tentou-se dar explicações "científicas" para o fato, de brincadeiras de estudantes
a um tipo de sapo cujo coaxar seria semelhante ao choro de uma criança.
Mas quem ouviu o estranho lamento nega-se a aceitar tais teorias tão pouco consistentes: o
pranto fantasmagórico, por certo, não tem semelhança com sons emitidos pelos viventes.

Afogados
O bairro é um dos mais tradicionais do Recife. Lugar de intenso comércio e muitas
residências, tem um amigável clima suburbano, com moradores que se conhecem e se
cumprimentam todos os dias. Lá os altos prédios não substituíram as casas com quintais
amplos. À primeira vista, ninguém é capaz dizer que, à noite, Afogados é visitado por
estranhos espíritos e espantosas assombrações.
O nome do local já tem uma origem macabra. Segundo o pesquisdor pernambucano
Leonardo Dantas Silva - no livro Arruando Pelo Recife - ali existia um afluente do Capibaribe
chamado Rio dos Afogados “onde , em 17 de fevereiro de 1531, sete marinheiros da
expedição de Martin Afonso de Souza vieram a perecer”. A via mais importante do bairro é a
Estrada dos Remédios, que tem 2.423 metros e foi aberta em 1850. Na metade do século
XX, a maior parte dos habitantes de Afogados se concentrava na Vila dos Remédios, um
conjunto residencial às margens daquela estrada, que na época era cercada de árvores
sombrias. Nessas sombras se escondiam vultos misteriosos que provocavam tremendos
sustos nos passantes, principalmente os que seguiam de madrugada para a feira livre
realizada semanalmente na área. Eles ouviam apavorantes sussurros e chegavam a ser
perseguidos difusas aparições.
No começo da década de 60, uma assombração em particular trouxe medo à vida dos
moradores de Afogados. Era uma bela mulher, de cabelos escuros, vestida com roupas
decotadas e chamativas que caminhava sozinha pelas ruas do bairro nas horas mortas. Sem
pudor, se insinuava para todo tipo de homem que cruzasse o seu caminho - jovem ou velho,
solteiro ou casado, pobre ou rico. Quando o desavisado caia em seus encantos, era levado
para um beco escuro. Ao se entregar às cariciais da moça, a vítima descobria que estava
abraçado a uma caveira! Os corajosos ainda saíam correndo em pânico. Os covardes só
eram encontrados pela manhã, desacordados.
A mulher fantasma perpetrou tantos ataques que os homens começaram a evitar andar à
noite pelas calçadas do bairro. Mas alguns, lamentavelmente, não podiam evitar correr esse
risco. Ficou famoso o caso de um senhor de seus cinqüenta e poucos anos que teve um
encontro nada agradável com a fêmea espectral. Ele era civil, mas trabalhava como
motorista numa instalação militar. As horas extras eram freqüentes e, depois dessas
jornadas esticadas de trabalho, voltava para casa com passos apressados.
Numa dessas noites, quando Afogados estava coberto por um manto de silêncio e trevas, o
motorista seguia seu trajeto costumeiro e percebeu que a tal mulher o espreitava numa
esquina. Ele fingiu que não viu e procurou andar mais rápido. Mas a assombração foi em seu
encalço e, por mais que o sujeito acelerasse, ela se aproximava com passadas leves e
ligeiras que só uma alma penada pode dar. O pobre homem chegou esbaforido ao portão de
casa, mas aliviado por achar que estava em segurança.
Puro engano. Ele tinha atravessado o jardim e tentava nervoso achar a chave para abrir a
porta da frente, quando percebeu que a mulher também tinha chegado ao portão. Ela o
atravessou sem precisar abri-lo e veio rebolando em direção ao apavorado motorista que, a
essa altura, já tinha deixado o chaveiro cair no chão. Ficou a poucos centímetros do
camarada e revelou a ele uma face de caveira. A transformação veio acompanhada de um
nauseante odor de cadáver. O motorista soltou um grito desesperado e desmaiou. Foi
socorrido pela esposa que logo suspeitou de um ataque cardíaco. O problema dele era outro:
medo na sua forma mais terrível. O coitado não foi o mesmo depois desse episódio. Tornou-
se meio acabrunhado, desconfiado de tudo e sempre temeroso de sair de casa à noite.
Na Década de 60, os moradores de Afogados atribuíam as constantes aparições de
fantasmas a uma suposta profanação cometida no local. Corria um boato de que o mercado
público do bairro, um dos mais movimentados do Recife, tinha sido construído sobre um
antigo cemitério (talvez aquele onde foram enterrados os tripulantes mortos na expedição de
Martin Afonso de Souza). A hipótese nunca foi comprovada, mas também não foi
desmentida. O fato é que quem passava por perto do mercado sentia um cheiro de coisa
podre que nem o mais poderoso detergente conseguia eliminar do prédio.
Ainda segundo alguns habitantes do lugar, esse desrespeito aos mortos facilitava o
aparecimento de espíritos zombeteiros como o “Zé Pilintra”, entidade identificada nas rodas
de magia africana. Os rapazes que voltavam de festas à noite costumavam se deparar com
essa figura: chapéu na cabeça, roupa branca, jeito de malandro. Quando se aproximava do
grupo, soltava uma estridente gargalhada. Não ficava um sujeito de coragem para contar o
resto da história.
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Encanta-Moça
Localidade próxima ao Pina, na zona sul do Recife. O nome romântico tem origem numa
história macabra. Rezam as crônicas que uma iaiá branca, moça rica e bonita de tempo dos
grandes engenhos estava passeando à noite naquela localidade quando se viu perseguida
por um exu , o diabo dos cultos afro-brasileiros. Para escapar, ela teria desaparecido
encantado-se nos mangues.
Outra versão da lenda revela que a iaiá fugia não de um exu, mas de seu marido
ciumento,que cismara que ela o traia com um escravo. Na fuga ela encantou-se nos
mangues, talvez tendo virado alamoa. Seja qual for a versão mais correta, o fato é moça
encantada virou assombração. Nas noites de lua cheia ela aparece nua para atrair os homens
desavisados que ousam circular por aquelas imediações nas horas mortas.
A vítima sente uma atração irresistível pela aparição desnuda, mas, quando se aproxima, vê
o seu objeto de desejo desaparecer em meio à bruma fina da madrugada. Para esse pobre
coitado só resta a certeza apavorante de ter encontrado um legítimo fantasma. E não foram
poucos os que passaram por essa experiência no Encanta-Moça.
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Poço da Panela
Encravado entre o bairro de Casa Forte - um dos mais nobres da cidade - e o rio Capibaribe
fica um dos pontos de maior concentração de fantasmas e assombrações do Recife. No
arraial do Poço da Panela reina um clima nostálgico, quase como se o tempo ainda fosse os
das sinhazinhas, escravos e senhores de engenho que mandavam em Pernambuco no século
XIX. Lá predominam os casarões, as ruas calçadas com pedras irregulares, as árvores velhas
e frondosas que peneiram a luz produzindo tenebrosas sombras mesmo com sol a pino.
Enfim, um cenário mais do que propício para surgimento de fenômenos sobrenaturais.
O nome do arruado tem origem curiosa. Segundo conta o historiador Sebastião Vasconcelos
Galvão no seu “Diccionário Histórico de Pernambuco” – publicado em 1910 – no século XVIII
os moradores do lugar tinham dificuldade em conseguir água potável, que tinham que ser
trazida das localidades vizinhas: um grande transtorno para quem vivia no tempo das
carroças. Mas, para alívio de todos, uma nascente foi encontrada perto do vilarejo. Os
homens se apressaram em escavar para melhor aproveitar água potável e uma panela de
barro com fundo aberto foi posta no local para garantir a sustentação das bordas.
A água, por sinal, tem outra ligação com a história daquela comunidade. Ainda conforme
Vasconcelos Galvão, em 1746 surgiu no Recife uma misteriosa epidemia de febre que, no
entendimento dos médicos de então, deveria ser combatida com banhos no Capibaribe. O
Poço da Panela tornou-se área preferida pelos pacientes vitimados pela doença. As águas do
rio naquelas margens ganharam fama de milagrosas.
As décadas se passaram, o rio ficou poluído pelos esgotos, mas as águas do Capibaribe
funcionaram com um bálsamo protegendo o Poço da Panela contra o urbanismo
modernizante do século XX. O agrupamento de casas em torno da Igreja de Nossa Senhora
da Saúde permaneceu com jeito de cidadezinha do interior. Muitos dos casarões do bairro
mantiveram a sua imponência,como lembranças sólidas de um tempo de fartura. Sobre
muitos deles, são contadas histórias bizarras. De luzes fantasmagóricas vistas à noite pelas
janelas, de barulhos estrondosos em quartos onde ninguém está presente, de botijas
escondidas nas paredes e apontadas em sonho por almas penadas.
Os vizinhos de uma das propriedades da área, por exemplo, costumavam ouvir murmúrios e
gemidos assustadores. O lugar, que não tinha morador, ganhou fama de assombrado. Dizia-
se que as manifestações eram provocada pelo fantasma de um zelador surdo-mudo vítima
de um crime misterioso. O fato é que ninguém queria se aproximar do Sítio do Môco.
Nas janelas das casas são vistas luzes misteriosas. Há quem diga que, na década de 80, a
moradora de um desses casarões quase se dá mal ao encontrar o esconderijo de um suposto
tesouro indicado por espírito atormentado.Vestido de branco, ele teria se comunicada com a
mulher durante o sono, dizendo que ela poderia ficar com o dinheiro maldito que o prendia
ao mundo dos vivos, mas recomendado que nada fosse dito a qualquer outra pessoa sobre o
assunto.
Desobediente, a boquirrota pediu o auxílio do marido para desenterrar a dinheirama, que
deveria estar a poucos metros de profundidade perto de uma árvore grande do quintal.
Quando o pobre coitado começou a escavar, foi atacado por um animal invisível, talvez um
cachorro fantasma que seria o guardião do tesouro. Foram muitos arranhões tratados com
litros de mercúrio cromo. E ouro, que é bom, nada. Triste de quem desrespeita as
recomendações dos não-viventes
Os moradores mais antigos do Poço da Panela relatam muitas outras aparições fantásticas.
Num dos sobrados abandonados da vizinhança, por exemplo, à noite é visto pela janela um
misterioso homem de vestido de preto que parece rezar diante de uma vela. Ninguém até
hoje se atreveu a entrar no casarão nesse momento para perguntar o motivo de tantas
preces. Estaria o fantasma pagando uma dura penitência por um pecado capital cometido em
vida? Quem teria coragem de perguntar? Todavia, Alguns dos malassombros do Poço da
Panela, no entanto, não são apenas visagens difusas das quais é possível fugir com
facilidade.
No século XIX, morava no local o advogado e político José Mariano, fundador do jornal "A
Província", que se tornou um importante personagem da história de Pernambuco por causa
da sua luta pela pelo fim da escravidão. No século XX, aboliciolista ele foi homenageado pela
prefeitura com um monumento perto da igreja do bairro. O busto do ilustre pernambucano
foi posto sobre uma coluna de pedra e, em frente dessa, foi posta uma estátua completa de
um negro de peito nu, tendo nos pulsos correntes quebradas: símbolo da vitória diante da
opressão.
Alguns moradores do Poço da Panela, no entanto, testemunham que em certa noites,
quando todas as casas estão com a suas portas e janelas fechadas, a estátua de bronze
ganha vida e caminha pelas ruas com passos arrastados. Os que já presenciaram esse
passeio absurdo se arrependem de ter deixado a segurança de seus lares nas horas
dominadas pelo silêncio e pela escuridão. Afinal, o Poço da Panela é território livre para o
sobrenatural.
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Açude do Prata
Muitos relatos sobrenaturais do Recife datam dos idos do século XVII, época do domínio dos
flamengos e também da chegada de muitos judeus, que depois seriam perseguidos e
julgados pela Inquisição. Não são poucas as lendas de tesouros enterrados, vigiados por
espíritos inquietos que ora guardam, avaros, seus antigos pertences, ora revelam-nos para
corajosos exploradores que ousem seguir suas pistas.
Um dos mais fascinantes relatos é o da judia Branca Dias. Fina e rica, a proeminente mulher
vivia tranqüila no Recife até que a sombra da Inquisição baixou sobre os cristãos novos
deste arrabalde. Branca Dias sabia que se aproximava a sua condenação, não por sua crença
ou heresias, mas por ser dona de uma magnífica coleção de objetos de prata.
À primeira menção de que a Inquisição viria pegá-la, Branca Dias juntou todos os seus
objetos e, com a ajuda de uma criada, levou-os a um riacho, para os lados de Dois Irmãos,
onde os atirou. Todos os temores dela se concretizaram: foi levada para Portugal, julgada e
condenada à morte.
Seria tudo isso mais uma página dos anais da Inquisição não fosse um detalhe. Alguns anos
depois começaram a correr histórias de que uma aparição estava afastando as pessoas que
passavam por um riacho num subúrbio do Recife. Logo ligou-se a aparição aos fatos do auto
de inquérito de Branca Dias: o fantasma nada mais estaria fazendo que guardar seu tesouro.
O curso d’água ficou conhecido como Riacho do Prata, ou Riacho da Prata.
A lenda foi ganhando repercussão com alguns desaparecimentos ocorridos no Riacho do
Prata. Uma das histórias, porém, selou a fama da lenda. Conta-se que, numa época em que
os recifenses buscavam proteção dos céus e dos santos com banhos à meia-noite em rios,
açudes e riachos, especialmente no período das festas juninas, uma moça foi com sua
mucama às águas do Prata para pedir um esposo. Chegando lá, fez com que a mucama, de
nome Luzia, ficasse esperando à distância enquanto ela ia tirar a sorte.
Aproximou-se do riacho e debruçou-se, perigosamente, sobre as águas. De repente a
mucama teve um pressentimento e ia gritar :“Iaiá não se debruce mais” quando, antes dela
a moça gritou “Me acuda Luzia! Me acuda que ela quer me levar!” Quando a mucama correu,
nada mais restava de sua sinhazinha. Fora, certamente levada pelo fantasma de Branca
Dias. Até hoje muitos falam que, nas noites de lua vêem-se duas moças nuas no meio do
Riacho do Prata. Uma seria a mãe d’água Branca Dias, a outra seria a sinhazinha que sumiu
na noite de São João.

Mangue da Torre
re os muitos fantasmas que assombram o Capibaribe, um provoca arrepios nos moradores do bairro da Torre - mais especificame
que residem em edifícios próximos aos manguezais que existem nas margens daquele trecho do rio mais importante da cap
nambucana. Eles deram o nome de "Pai do Mangue" ao horripilante fantasma.
ugar é bem conhecido dos recifenses. Na margem do rio que fica do lado da Torre, há um ponto onde barqueiros fazem a travessia
soas que precisam chegar ao outro lado, no cais do bairro da Jaqueira. Isso durante o dia. Quando cai a noite, o local fica desert
mbrio. É aí que vizinhança percebe a presença sinistra do Pai do Mangue.
em que ele se faz notar com uma risada estridente e cavernosa, "como se fosse a gargalhada de uma bruxa, que vai levar sua alm
elam alguns. Não se pode definir a origem do som misterioso - ecoa como se viesse dos meio do arbustos que crescem por alí.
ômeno se repete sempre por volta da meia-noite.
sa hora, quase todos os moradores da área se enconhem em seus apartamentos, assustados com o ruído sobrenatural. Uns pouco
atreveram a tentar descobrir de onde vem a tal gargalha. Na maioria das vezes, nada viram e voltaram apavorados.
s um grupo de rapazes, que ousou fazer a investigação na noite de uma sexta-feira 13, testemunhou a aparição de uma estra
ra por entre emaranhado de galhos e folhas típico da vegetação rasteira do mangue. Segundo eles, era um senhor negro, de cabe
ncos e roupas claras - uma figura que lembrava um pescador. A expressão no rosto era de poucos amigos. Durante alguns segund
chegou a perseguir a turma, para depois desaparecer na escuridão, como que por encanto.
em seria o Pai do Mangue? Os moradores daquelas bandas já desistiram de querer desvendar esse mistério e procuram conviver
com o tal fantasma.
Avenida Malaquias
Num arborizado subúrbio do Recife, perto do Parque da Jaqueira e da secular estação de
bondes de Ponte d’Uchôa, temos a Avenida Malaquias, uma das vias públicas mais antigas do
Bairro dos Aflitos. Hoje uma rua residencial com bastante movimento. Mas houve um tempo
em que era mais deserta, bastante perigosa e, segundo testemunhas, mal-assombrada.
Naqueles tempos, antes da luz elétrica, a iluminação pública era feita com lampiões a gás e
muitos acendedores de lampião correram ao ver vultos brancos passando ou mesmo bichos
correndo; talvez lobisomens, quem sabe mulas-de-padre, que assolavam o Recife de
outrora.
Conta-se que um acendedor, ao cumprir sua rotina matinal de apagar os lampiões, escutou
uma voz fanhosa junto a seu ouvido pedindo: “não me deixe no escuro”. Nunca mais o
acendedor voltou a trabalhar lá. O episódio foi registrado no livro "Assombrações do Recife
Velho", de Gilberto Freyre. A Avenida Malaquias da época era uma rua de poucas casas e
vários crimes. Muitos assassinatos ali tiveram lugar, tendo se tornado célebre a morte do
chefe da estação de Ponte d’Uchôa. Talvez os meliantes fossem os únicos a não temer as
coisas do além.
Mesmo as poucas residências que lá existiam não passavam incólumes às manifestações.
Portas abrindo, janelas batendo, vozes e até sons de charretes fantasmas assombravam os
moradores. Com o passar do anos, as luzes do século XX foram afastando fantasmas e
abusões. Duas avenidas movimentadas limitam hoje a antiga via. O som mais ouvido no
local agora é burburinho provocado pelas mocinhas e rapagões que saem do Colégio das
Damas. Mas quem passa pelas frondosas árvores em horas mortas ainda sente calafrios ao
vislumbrar duas ou três velhas casas que teimam em lembrar aos tempos modernos qual a
verdadeira identidade da Avenida Malaquias. Leia este trecho de uma reportagem publicada
no Diário de Pernambuco em 23 de junho de 2002:
O vigilante Armando Severino da Silva, que trabalha no edifício de número 103 da avenida
Malaquias, jura que ouve assobios e gritos durante a madrugada e relata que teve contato
com uma das assombrações. "Ano passado, por volta das três horas da manhã, um senhor
chegou no prédio me pedindo um casaco. Disse a ele que iria verificar se alguém tinha. Por
um segundo, quando me virei, o homem havia desaparecido". Armando confessa que já está
acostumado com os vultos e gemidos.
E você, se acostumaria a uma vizinhaça como essa?
Teatro de Santa Isabel
No coração do Recife, em frente à Praça da República, ao lado dos Palácios do Governo e da
Justiça, fica o imponente prédio do Teatro de Santa Isabel, um primor da arquitetura
neoclássica do século XIX. Foi construído pelo engenheiro francês Louis Lérger Vauthier entre
1841 e 1850 e, por dentro, tem espaço para quase novecentos espectadores. Além de ser
palco de concertos e espetáculos grandiosos, no passado o teatro também foi cenário de
debates cívicos, como os que marcaram a campanha abolicionista, e serviu de tribuna para a
eloqüência de personalidades do porte de Joaquim Nabuco, Castro Alves e Tobias Barreto.
Mas, por trás de uma fachada imponente, cheia de significados para a história de
Pernambuco, o Teatro de Santa Isabel esconde mistérios insondáveis. Nos camarins, na
platéia, nos corredores e camarotes, desfilam visagens e são ouvidos sons arrepiantes que
se confundem com as muitas lembranças guardadas no prédio. Em seu livro Assombrações
do Recife Velho, o escritor e sociólogo Gilberto Freyre descreve alguns desses
acontecimentos inexplicáveis:
"O que se murmura entre os empregados antigos e discretos do Santa Isabel é que em
noites burocraticamente silenciosas se ouvem, no ilustre recinto, ruídos e aplausos, palmas,
gritos de entusiasmo de uma multidão apenas psíquica. Mas sem que se possa precisar a que
ou a quem são os seus aplausos de bocas e mãos que não aparecem."
E acrescenta o Mestre de Apipucos:
"Há também quem afirme ter visto no interior do Santa Isabel, em noite de silêncio e rotina,
a figura de austera senhora do Recife, há longos anos morta e sepultada em Santo Amaro".
E as aparições na tradicional casa de espetáculos não deram trégua ao longo das décadas,
embora tenham perdido muito do charme e da elegância. Na reportagem intitulada "...mas
que eles existe, existem", publicada no Diário de Pernambuco do dia primeiro de outubro de
1992, a jornalista Sandra Correia registra o seguinte caso:
"...Lourdes Medeiros, faxineira do Teatro de Santa Isabel, reluta em falar no assunto. 'Dizem
que sou louca'. Numa determinada ocasião, Lourdes ficou presa no banheiro do teatro com
uma mulher alta e loura, com algodão na boca e nas narinas. 'Queria sair e ela estava na
porta'. Nem mesmo gritar resolveria: 'perdi a voz'".
Desde os anos 90, o Santa Isabel vinha passando por um interminável processo de
restauração. Mas o teatro já foi reaberto. Agora, lá são apresentados espetáculos de todo o
tipo. Contudo, testemunhas anônimas que circulam no antigo prédio à noite garantem:
quando o público e os artistas se retiram, permanece em cartaz "ópera bufa" dos
malassombros e almas penadas no espaço emoldurado por belíssimas cortinas.

Rio Capibaribe
Na chamada “Veneza Americana”, as assombrações também estão sob as águas.
Principalmente sob as águas escuras do Capibaribe, o maior rio da capital pernambucana. Ele
nasce como um riacho em Poção, no Agreste do estado, torna-se caudaloso ao longo do seu
curso e vem seguindo o seu destino até o Oceano Atlântico, passado por vários bairros do
subúrbio do Recife – entre eles, o Poço da Panela. No centro da cidade, o velho rio
predomina na paisagem urbana: durante é como um límpido espelho que reflete a
arquitetura dos prédios antigos. Á noite torna-se misterioso quando reproduz o brilho das
luzes artificiais ou da lua cheia.Apesar de sua beleza, o Capibaribe sempre provocou temor
entre os recifenses.
A tradição popular fala que, naquelas águas, habitam fantasmas pecaminosos. Almas
penadas de suicidas que usaram o rio como rota de fuga deste mundo cruel. Permanecem,
no entanto, no limbo. No escuro da noite, seus vultos de expressões angustiadas podem ser
visto por quem se aproxima das margens mais desertas. Naquelas águas também pereceram
banhistas desavisados que não resistiram à força das correntezas. Seus corpos eram
encontrados quilômetros adiante, inchados e roídos pelos peixes. Seus espectros
esbranquiçados ainda aparecem para pedir socorro aos viventes.
No Capibaribe atuou ainda um fantasma zombeteiro conhecido por Vira-roupas. Segundo o
sociólogo Gilberto Freyre, ele atormentava as lavadeiras que ganhavam a vida às margens
do rio. Era especialista em “roubar às trouxas das pobres mulheres camisas finas de
doutores, toalhas de casas lordes, lenços caros de iaiazinhas.” Do Vira-roupas não se tem
ouvido relatos recentes, já que ninguém mais usa o rio para lavar nada. Mas a assombração
talvez ainda esteja por lá, a espera de uma vítima desprevenida.
Na década de 70, o Capibaribe transformou-se num verdadeiro monstro aos olhos dos
moradores da cidade. Durante os períodos de chuva, o rio transbordava trazendo destruição
e, muitas vezes, morte. Em 1975, ocorreu a maior de todas as inundações. Quando as águas
baixaram e os recifenses começavam a voltar para suas casas, deu-se um dos episódio mais
insólitos da história pernambucana. O boato de que a barragem de Tapacurá havia estourado
levou a população a concluir que o Capibaribe viria com mais força e cobriria toda a cidade.
Instaurou-se o pânico generalizado e as pessoas corriam em desespero pelas ruas: uma
cena dantesca que parecia antecipar o fim-do-mundo ou imitar o cinema catástrofe
americano que estava em voga na época.
O boato foi desmentido, as enchentes foram contidas nos anos seguintes e o Capibaribe
permanece adormecido desde então. Mas não é exagero dizer que “O cão sem plumas” –
como o rio foi chamado pelo poeta João Cabral de Melo Neto – merece respeito e reverência.

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