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Visitada por cerca de 21 mil gestores entre 10 e 12 de novembro, a ExpoManagement repetiu os números
grandiosos em sua oitava edição: 4,5 mil executivos assistiram às palestras do auditório principal, as
palestras do ciclo paralelo lotaram e tiveram filas, e o índice de satisfação com todas elas –186 no total,
com duração de 190 horas– variou entre 83% e 92,5%. A exposição contou com 110 empresas, e estandes
como o LifeStyle chegaram a contabilizar 7,4 mil visitantes nos três dias. A ExpoManagement, que ainda
fez uma emocionante homenagem ao campeão olímpico de natação César Cielo, se confirmou, assim,
e cada vez mais, como o maior encontro de executivos do mundo.
130 Introdução: Mapa errado x mapa certo
134 Macroeconomia: 1ª crise da globalização
139 Estratégia: Novos tempos, novas prioridades
146 Marketing: O buzz acima de tudo
Fotos: Lola Studio
1ª crise da
Esse novo sistema econômico foi posto em xeque e precisará mudar
de maneira radical se quiser sobreviver, analisaram o prêmio Nobel
de Economia Joseph Stiglitz e o ex-embaixador e ex-ministro do
Desenvolvimento Sérgio Amaral, entre outros palestrantes
“
A tensão não necessariamente de fato, seu principal conselho é muito interessante
leva a guerras. A tensão pode levar para os tempos que vivemos: “Ame o risco, quando você
a festas.” Essa frase foi dita no pal- pode perder pouco, e odeie o risco, quando você pode
co principal da ExpoManagement perder muito”. Taleb exemplificou isso com a distribui-
2008 por Nassim Nicholas Taleb, ção de uma carteira de investimentos: deve-se aplicar
talvez o maior especialista mundial 20% do capital em investimentos de alto risco e ser bem
da atualidade em probabilidade e conservador com os 80% restantes. Outra recomendação
gestão de riscos e autor do best-seller valiosa de Taleb foi a de que se faça seguro.
A Lógica do Cisne Negro: o Impacto do Essas duas ferramentas oferecidas pelo expert em
Altamente Improvável. Seu contexto gestão de riscos podem mesmo ser úteis para os gesto-
era o do nascimento da internet, res de empresas navegarem durante o que vem sendo
fruto da tensão da Guerra Fria. considerado a primeira crise mundial da globalização.
Taleb lembrava que o embrião da E serviram de contraponto prático para quem assistiu,
rede mundial de computadores na ExpoManagement, à palestra de Joseph Stiglitz,
foi desenvolvido como um proje- ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2001,
to de inovação militar do governo conselheiro do presidente eleito dos Estados Unidos,
Reagan para enfraquecer os russos Barack Obama, professor de economia da Columbia
na década de 1980 –no âmbito da University, e, talvez sua principal qualificação no mo-
Defense Advanced Research Pro- mento, um dos primeiros a prever a crise publicamente
jects Agency (Darpa). E a internet –no Fórum Econômico Mundial de 2005 e mediante
provou, de fato, ser uma espécie de o incômodo geral de sua plateia.
festa que vem mudando o mundo. De maneira simplificada, Stiglitz atribuiu a crise a
Será que a mensagem sublimi- quatro fatos: os consumidores norte-americanos não
nar de Taleb foi de que o mesmo souberam viver com seus próprios meios, o modelo de
pode acontecer com a atual crise, negócio das empresas foi o da securitização e sob uma
a primeira de proporções mundiais governança pouco transparente, os Estados Unidos ex-
na era da globalização? Afinal, sabe- portaram seus papéis “tóxicos” para o mundo inteiro, e
-se de longa data, onde há crise, há os governos e bancos centrais falharam na regulamenta-
oportunidade. Não, ele não disse ção de tudo isso. Em sua palestra, Jim Collins resumiria
isso textualmente, mas sua pales- tais fatores a “falta de disciplina, não falta de inovação”.
tra versou sobre como aproveitar as O resultado, de qualquer modo, foi essa crise grave
oportunidades de agora e gerenciar –“agora é uma crise sobretudo social nos Estados Uni-
os riscos que lhes são inerentes. E, dos”– e ela vem atravessando fronteiras. Ele lamentou
Carlo Ferreri
“Há 12 anos, respondíamos por 0,27% da produção mun-
dial. Hoje, chegamos a 2%. Pode parecer pouco, mas a
diferença é muito grande”, explicou Bertero.
Legislação ambiental avançada e nível de conscien-
tização crescente nessa área. pessoas do próprio país. A China Antônio Carlos
Porto Gonçalves
Projeção de cerca de 25 grandes multinacionais bra- vem estimulando a volta de seus cé- estimou que o
sileiras em meados do século 21. rebros, mas o Brasil não tem nada Brasil possa
crescer entre 2,5%
Logicamente, a lista de desvantagens e calcanha- disso.” Culturalmente também há e 3% em 2009
res-de-aquiles brasileiros também é longa, segundo o um fator limitante evidente, segun-
professor da FGV-EAESP, encabeçada pelos problemas do o especialista: o brasileiro ainda
educacionais e pela ainda pronunciada desigualdade está acostumado a ser “do Terceiro
social –10% da população responde por 47% do PIB e Mundo”, talvez um resquício do tal
o Estado de São Paulo responde por 40% da arrecada- “complexo de vira-lata”, definido
ção de impostos do Brasil. Um ponto nevrálgico dessa por Nelson Rodrigues, e justamen-
segunda lista, de acordo com Bertero, é a falta de uma te reflexo da situação mundial no
política de retenção e atração de talentos. “A Alema- pós-guerra.
nha concedeu 70 mil vistos a matemáticos indianos, Mas como a crise global afeta a
porque o desenvolvimento seria inviável apenas com situação do Brasil no mundo? Sér-
Novos tempos,
novas prioridades
Diversos palestrantes se revezaram, no palco principal
e nos paralelos, para garantir que os paradigmas das estratégias
empresariais estão sendo subvertidos
Ninguém sabe dizer exatamente como começou.
Foi com o preço do petróleo indo às alturas? Ou quando
o mundo descobriu a mudança climática, a poluição
da água e a do ar? Talvez na percepção da onipresença
de elementos tóxicos às pessoas. E, mesmo agora, com
a queda da cotação do barril de óleo cru, todos sabem
que, mais dia, menos dia, ele voltará a subir. A maior
probabilidade de um horizonte com fim e a crescente
vulnerabilização da sociedade são hoje como feridas
expostas. E a economia mundial vai ter de mudar para
que cicatrizem. Entre os principais motores dessa mu-
dança –vejam só a responsabilidade– estão as empresas,
que, para isso, dependem de suas estratégias.
Não é de surpreender, portanto, que, no palco prin-
cipal da ExpoManagement 2008, a estratégia empre-
sarial é que estivesse na berlinda. Foi o professor de
gestão canadense Henry Mintzberg, autor de um dos
livros seminais sobre o assunto, Safári de Estratégia, e
conhecido por não ter papas na língua, quem atirou a
primeira pedra: “As estratégias não são implementadas
e todos culpam a implementação. Mas isso acontece
porque os gestores estão fora de lugar”. Segundo Mintz
berg, o problema começa nos desenhos organizacio- a isso de reorganização”, criticou Henry Mintzberg
nais dominantes, quase todos errados –pirâmides, afirmou que os
Mintzberg. gestores estão
cadeias verticais, cadeias horizontais, hubs, diagramas O que fazer, então? O professor fora do lugar e
em forma de círculos concêntricos polares... Neles, o que, por isso,
canadense usou duas imagens para não conseguem
gestor fica no topo –o que, na verdade, o deixa fora da definir o diagrama ideal da orga- implementar
as estratégias
organização– ou no centro –onde centraliza demais. nização, ambos tirados do mundo
“O pior é que as empresas vivem redesenhando a or- natural: a vaca e a teia de aranha.
ganização, sem perceber que tudo que fazem é trocar O diagrama vaca, porque suas di-
nomes de cargos e as pessoas a ocupá-los. E chamam ferentes partes trabalham juntas
A estratégia da ecovantagem
T oda vez que a imagem de um hippie
barbudo ou um escoteiro vier a sua
mente, lembre-se de Jeff Immelt, o CEO
poder e influência (no eixo vertical) e quanto
estão no foco atual da empresa (no eixo
horizontal). Assim, no quadrante do alto à es-
da General Electric que criou a iniciativa querda ficam os stakeholders subestimados
Ecoimagination. Ele não se limitou a (fortes em influência, mas pouco focados
pensar no aumento do interesse do pú- pela empresa, como funcionários, bancos,
blico pelos problemas ambientais ou nas seguradoras e compradores B2B), no qua-
mudanças regulatórias como fatores que drante do alto à direita os stakeholders mui-
obrigariam sua empresa a tomar iniciati- to importantes que já recebem o nível certo
vas de preservação ambiental. Ele viu no de atenção (mídia, ONGs e consumidores
meio ambiente uma escolha estratégica que reclamam, entre outros), no quadrante
e você pode –deve– fazer isso também. de baixo à esquerda os stakeholders menos
Daniel Esty, especialista em estratégia importantes que recebem o nível certo de
ambiental corporativa da Yale University e atenção (como organismos setoriais e
autor de vasta pesquisa sobre o assunto concorrentes) e no último quadrante os Daniel Esty apresentou uma matriz para
lidar com os stakeholders
que resultou no best-seller O Verde que superestimados (acionistas e determinados
Vale Ouro, detalhou os quatro passos de consumidores finais). que as iniciativas ambientais fracassam
uma estratégia de ecovantagem no palco 3. Aproveitar as ecovantagens, que são em muitas empresas. Em outros casos,
principal da ExpoManagement 2008: menores custos (por tabela, maior produti- as empresas não entendem o mercado
1. Realizar uma análise AUDIO do meio vidade), redução dos riscos, maior receita –como a Ford, que fez uma fábrica “verde”,
ambiente. Esse é um acrônimo das palavras de vendas e maior participação no mercado mas não um carro “verde” à moda da Toyo-
“aspectos” (breve descrição da situação), (com entrada em mercados verdes e novos ta– ou trabalham com o único pressuposto
“upstream” (como a cadeia de fornecimento espaços nos mercados convencionais) e de que produto verde é sinônimo de preço
se posiciona nisso), “downstream” (como a valorização de ativos intangíveis, como a alto. Ele ainda relatou a “guerra verde” que
rede de distribuição, até o consumidor, se marca. Elas são especialmente atraentes vem ocorrendo na Inglaterra entre as vare-
posiciona), “issues” (quais são as grandes para as empresas em momentos de crise jistas Tesco e Marks & Spencer, cada uma
questões, no sentido de desafios a vencer) e recessão, enfatizou Esty, ao contrário do prometendo neutralizar emissões de gases
e “oportunidades”. Monta-se uma tabela em pensamento dominante. de efeito estufa mais que a outra. Não seria
que se descrevem esses pontos em rela- 4. Implementar as melhores práticas de surpresa se esse tipo de guerra começasse
ção às dez principais questões ambientais gestão ambiental, com métricas e análises a “pipocar” em outros países daqui a um tem-
(e mais alguma específica de um setor baseadas em dados, auditorias da cadeia po, mesmo no Brasil, uma vez que, para Esty,
de atividade): mudança climática, energia, de fornecimento, design verde e ecoe- as empresas brasileiras estão entre as mais
água, biodiversidade, produtos quími ficiência (com minimização do consumo focadas do mundo em iniciativas ambientais.
cos/tóxicos, poluição do ar, lixo, camada energético e otimização logística). O professor de Yale apontou algumas que
de ozônio, oceanos, desmatamento. Daniel Esty enfatizou para a plateia da adotaram, em certa medida, estratégias de
2. Desenhar uma matriz que mapeie os Expo que a falta de estratégia é uma das ecovantagem, como Braskem, Banco Real,
stakeholders cruzando dois aspectos: seu principais razões, se não a principal, por Natura, Vale e Embraco.
Carlo Ferreri
nas empresas. ga. “Para isso acontecer, o contexto deve
Para que tudo isso aconteça, no entan- favorecer que as questões venham à tona”,
to, as pessoas precisam ser colocadas no completou. Contextos em que “as pessoas
centro do processo, o que exige tempo, que sabem calam” não são nada favoráveis, Rivadávia Alvarenga disse que a gestão do
conhecimento é gestão do contexto
muito tempo. Só que, com o foco no curto por exemplo.
prazo predominante no Brasil, esse tempo Algumas empresas já têm investido de informações pela internet e uma equipe
não parece estar disponível nas empresas, seu tempo nessa gestão de contexto. O de projeto pode colocar suas dúvidas para
como afirmou Rivadávia Alvarenga, profes- professor da FDC contou que trabalhou todas as filiais da empresa. Em um dos ca-
sor da Fundação Dom Cabral (FDC), em durante oito anos com a Copersucar para sos, um engenheiro da Holanda já tinha uma
sua palestra sobre esse desafio estratégico tornar seu contexto favorável à troca de solução para o problema de uma equipe e
na ExpoManagement 2008. “Mas também informações e conhecimentos. “Foi criado em dois dias o projeto entrou novamente
não dá para ter certeza disso: de repente, lá dentro o Centro de Tecnologia Canavieira no cronograma, gerando uma economia
a partir de amanhã todo mundo começa a (CTC), com locais de encontro próprios equivalente a US$ 330 milhões e livrando
compartilhar o que sabe.” para fomentar a troca. No CTC, os erros o grupo de uma multa pelo atraso.”
Como convém a um bom mineiro, costumam ser estimulados, porque podem Uma questão que sempre se coloca
Alvarenga citou Carlos Drummond de virar algo útil. “Por exemplo, um adubo que para as empresas é a de como mensurar
Andrade para iniciar sua conversa com não deu certo se transformou em plástico ganhos a partir da gestão do conhecimen-
a plateia no estande da FDC, na Expo. biodegradável.” to. Atualmente, explicou Alvarenga, elas
Contou que certa vez uma prima disse ao Alvarenga ofereceu ainda o exemplo da têm usado mais técnicas como Balanced
poeta que precisava lhe contar um segredo, Siemens, onde o processo de gestão de Scorecard (BSc) e menos de intellectual
pedindo que não o revelasse a ninguém. conhecimento levou 13 anos para ser im- capital ou human resources administration
Respondeu o poeta: “Mas se o segredo é plantado. “Hoje eles têm uma rede de troca (HRA).
U m erro estratégico grave, sempre cometido pelas em- estilo de vida talvez) baseado na colaboração. O criador
presas, é segmentar mercados por tipos de produtos dessa tecnologia e, por tabela, grande responsável pelo
ou de clientes. Quem afirmou isso na ExpoManagement foi o fenômeno socioeconômico e cultural Wiki, o visionário
especialista em estratégia Clayton Christensen. E ele explicou: Jimmy Wales, contou, no palco da ExpoManagement
“As pessoas buscam produtos e serviços que as ajudem a 2008, a história da família Wiki, que reúne a Wikipedia
executar tarefas de sua vida. Portanto, a segmentação precisa –hoje com 2,5 milhões de artigos em inglês e versões
ser por tarefa”. em 21 idiomas–, o ambiente Wikia, no qual usuários
O exemplo que ele apresentou foi dos mais saborosos: o podem construir comunidades e compartilhar desde
milk-shake. Um tempo atrás, uma rede de fast-food norte- livros até artigos, e a ferramenta de busca Search Wikia,
-americana investigou a tarefa que as pessoas tentavam exe- ainda em desenvolvimento,
cutar quando compravam milk-shake em seus restaurantes. De acordo com Wales, as empresas estão certas ao
Primeiro, perceberam que a bebida era bastante vendida
divisar no ambiente Wiki grande oportunidade de
como café da manhã. Depois, que muitos compradores eram
gerar inovações. Elas podem desenvolver seus próprios
moradores de subúrbios que faziam longas viagens para chegar
wikis –por meio do MediaWiki, o software que roda a
ao trabalho e, por isso, tinham pressa para pegar o produto
enciclopédia– e estimular funcionários de todas as
e o consumiam enquanto dirigiam seus carros. Aí se deram
conta: esses consumidores precisavam de algo que lhes fosse
áreas a dividir conhecimento, discutir caminhos e
entregue rapidamente e que durasse –e os distraísse– durante inovar. Segundo Wales, o ambiente wiki está preparado
toda a viagem. Para cumprir tal tarefa, portanto, fizeram um até para garantir que as discussões sejam “pacíficas e
milk-shake mais espesso que passou a ser vendido em máquina construtivas”.
do lado de fora da loja. O modelo de colaboração aberta também foi de-
fendido, na ExpoManagement, por Scott McNealy,
presidente do conselho de administração da Sun Mi- quando foi privatizada, ela estava Jeff Fettig admitiu
que a Whirlpool não
crosystems, uma das empresas que mais abraçou a causa prestes a falir –faturava o equiva- era uma empresa
do “open source” ou “fonte aberta”. Sua linguagem Java lente a US$ 250 milhões anuais inovadora e contou
como ela começou
é exemplo disso, assim como seu OpenOffice, suíte de apenas e registrava um prejuízo de a sê-lo nos últimos
aplicativos para escritório multiplataforma que funcio- US$ 330 milhões; agora, só nos nove anos
na em qualquer máquina e sistema, cuja versão 3.0 foi nove primeiros meses de 2008, fa-
lançada em outubro de 2008 e que teve 4 milhões de turou US$ 7,6 bilhões.
downloads na primeira semana no ar. Impossibilitado Quem subiu ao palco para des-
de comparecer ao evento, McNealy enviou um depoi- crever o turnaround foi quem o
mento em vídeo em que apresentou as cinco razões para liderou: Maurício Botelho, CEO
que as empresas passem a trabalhar com colaboração da Embraer entre 1995 e 2007 e
aberta e gratuita: atualmente presidente de seu con-
1. Custo zero para aquisição de clientes. selho de administração. As dire-
2. Aumento da interoperabilidade. trizes da virada foram detalhadas,
3. Maior alavancagem de pesquisa e desenvolvimento. desde o foco no cliente –no fundo,
4. Maior segurança. foco na tarefa que o cliente quer
5. Menores barreiras para existir no mercado. executar– e não na engenharia até
a motivação e valorização das pes-
Quando a estratégia é o turnaround soas, passando pela liderança pelo
Em épocas de crise, muitas vezes a estratégia ino- exemplo e com transparência, pela
vadora requer, antes, uma estratégia de turnaround, comunicação clara e verdadeira. E,
para que a empresa saia do sufoco dos números. Foi claro, muito importante: a capaci-
esse exemplo que a Embraer, fabricante de aviões dade de estabelecer prioridades.
brasileira que hoje lidera o mercado mundial de ae- O que não deixa de ser uma forma
ronaves de 91 a 120 assentos com market share de 57%, de definir estratégia também, não
levou à plateia da ExpoManagement 2008. Em 1994, é verdade?
O buzz acima
Enquanto, no palco principal da ExpoManagement, Philip Kotler enfatizava
o leque de tecnologias à disposição do marketing, nas palestras paralelas o
marketing olho no olho ganhava as atenções
Um mundo onde o consumidor qual se chegará com o novo mapa esboçado na Expo-
é cada vez mais poderoso e sua aten- Management 2008.
ção se dispersa em um gigantesco Ainda bem que estava no palco principal da Expo-
leque de opções de consumo acaba Management um dos pensadores da área com visão
sendo, naturalmente, um mundo mais abrangente do assunto. Philip Kotler, estudado por
marcado por uma guerra de marke- dez entre dez profissionais de marketing, mostrou-se
ting. Resta às empresas procurarem cada vez mais interessado nas armas digitais, na ver-
Philip Kotler dade. Uma de suas principais mensagens versou sobre
enfatizou a
as melhores armas para o combate,
importância de armas essas que deem conta não a necessidade de as empresas reavaliarem seu mix de
prestar atenção marketing para incorporar adequadamente as novas
às ferramentas
apenas das batalhas atuais, mas das
digitais futuras, no front pós-industrial ao mídias digitais –desde os já conhecidos sites, e-mails,
banners e pop-ups até webcasts, podcasts, videocasts, blogs e
marketing mobile, passando por sites de relacionamento,
mensagens instantâneas e buzz estimulado.
Ao buzz estimulado Kotler dedicou um “capítulo à
parte” de sua palestra. Segundo ele, alguns empresários
e executivos se dedicam a ser eles mesmos os buzzers de
seu negócio, como é o caso de Richard Branson, do
Virgin Group. Mas há muitos outros tantos potenciais
profissionais de buzz, dentro das próprias empresas,
entre clientes, fornecedores e parceiros, e estes devem
ser encontrados e estimulados. Os melhores perfis a
identificar são, por exemplo, os mavens (especialistas,
geralmente informais, em determinado assunto com
motivação para falar sobre isso e explicar), os conecto-
res (pessoas com grande capacidade interpessoal que
frequentam diferentes grupos sociais) e os vendedores
(persuasivos, ajudam muito a criar interesse viral).
Além disso, há buzzers profissionais, como os da
empresa BzzAgent.com, nos Estados Unidos, que po-
dem ser contratados. Embora isso entre no perigoso
território do stealth marketing, ou marketing disfarçado,
o que é ainda mais perigoso na era da transparência,
a Bzz tem algumas regras que diminuem a eventual
fragilidade ética desse tipo de abordagem: só aceita
Olho no olho
Richard Vinic, coordenador dos cursos de pós-gra
duação em gestão de marketing e serviços e adminis-
tração de marketing da FAAP, discutiu a importância
do que chama de “marketing olho no olho” no ciclo de
palestras paralelas. Vinic não desconsiderou a impor-
tância das tecnologias de comunicação, mas sugeriu
que os gestores de empresa se inspirem nas cidades
do interior, onde as pessoas ainda se encontram para meiro encontro com o novo chefe, Richard Vinic,
coordenador da
tomar chope, conversar, ser humanas... Muita gente este lhe pediu o endereço de e-mail. pós-graduação
hoje restringe seu círculo de relações às comunidades Ele não tinha e não foi contratado de marketing da
FAAP, recomendou
virtuais, agravando o estresse. A tecnologia, para Vinic, por isso. No dia seguinte, resolveu o marketing olho
deve servir para ajudar a pessoa a ganhar tempo para ir ao mercado municipal comprar no olho para
contrabalançar a
aprimorar a prática do marketing olho no olho, mas frutas para vender no farol. Foi tão exaustão emocional
não para substituir o contato pessoal. Vinic contou três bem-sucedido que em pouco tempo causada pela
tecnologia
casos em que esse marketing se aplicou: abriu uma banca de frutas, que se
Olhe a concorrência! Um executivo de marketing transformou em uma rede e virou
norte-americano chamou um jardineiro para aparar a referência. O e-mail o teria impe-
grama de seu jardim e se surpreendeu com o garoto, dido de enxergar seu verdadeiro
que tinha apenas 16 anos. Depois de terminar o serviço, talento. Essa foi uma história real,
o jardineiro pediu para usar o telefone. O jardineiro ocorrida no Brasil.
ligou para uma cliente e ofereceu seus serviços e, diante Olhe com carinho para seus clien-
da aparente recusa, propôs até reduzir o valor. Quando tes! Joe Girard, considerado pelo
desligou o telefone, o executivo lhe perguntou o que Guinness Book o maior vendedor
acontecera e o menino disse que se fez passar por ou- de carros do mundo, praticamen-
tro jardineiro para testar o grau de satisfação de uma te implorava para que os clientes
cliente e que ela se mantivera fiel a ele. comprassem dele. Quando fechava
Olhe (com cuidado) a tecnologia! Um homem estava a venda, dizia a cada um: “Eu amo
desesperado à procura de emprego e, por sua baixa você!”. A explicação, segundo ele,
qualificação, não conseguia nada. Viu então uma oferta é que o processo de venda é como
para faxineiro e candidatou-se. Foi aprovado e, no pri- um casamento.
Cartógrafos e
Se agora o bom líder deve desenhar o novo mapa da empresa e
implementá-lo, o melhor exemplo de líder da ExpoManagement esteve
na figura de Muhammad Yunus, fundador e gestor do grupo Grameen
Em busca da
A urgência de priorizar as pessoas mais uma vez ficou claríssima
nos palcos da ExpoManagement 2008, nas vozes de vários
palestrantes. Mas, se essa decisão cabe às empresas, há outra,
tão importante quanto, que é responsabilidade de cada indivíduo:
a construção da grandeza pessoal
“First who, then what.” “Primeiro você depende de seu parceiro para chegar ao topo
quem, depois o quê.” A frase é pode- da montanha e para fazê-lo em segurança. Por isso,
rosa, quase um slogan, e foi repetida um dos principais conselhos que Collins deu à atenta
com muita ênfase no palco principal plateia de executivos em sua videoconferência foi o
da ExpoManagement 2008 por Jim de responder a uma pergunta fundamental: “Imagine
Colllins, autor de Feitas para Durar e que a empresa que você está dirigindo é um ônibus.
Good to Great, dois livros paradigmá- Quantos assentos em seu ônibus são ocupados pelas
Para Stephen
ticos da gestão atual. Para Collins, pessoas certas?”.
Covey, as pessoas o paralelo entre as empresas e o Essa resposta cabe aos líderes e aos gestores de pes-
se autogerenciam alpinismo é cada vez mais evidente soas. E, cada vez mais, às próprias pessoas, responsáveis
e todos prestam
contas a todos no que tange à razão do sucesso: por si mesmas individualmente. Foi o que esclareceu,
em outra palestra da ExpoManagement, Stephen Covey,
autoridade em desempenho humano e autor de outro
livros emblemáticos, como Os Sete Hábitos das Pessoas
Altamente Eficazes e O Oitavo Hábito. Ele afirmou que, de
agora em diante, a cultura organizacional é a grande
responsável pelos resultados e, assim, as pessoas se
autogerenciam e todos prestam contas a todos. Isso
tem uma série de implicações práticas: as sessões de
avaliação chefe-funcionário tradicionais ficam ultrapas-
sadas, a informação transparente se torna obrigatória
e o chefe passa, de certa maneira, a poder ser demitido
por seus subordinados.
Covey e Collins, especialistas, ofereceram suas re-
ceitas de autogerenciamento ou, nas palavras de Covey,
“receitas de criação de grandeza pessoal”.
A receita de Covey consiste de seus já famosos sete
hábitos –ser proativo, começar com os objetivos em
mente, priorizar o mais importante, pensar ganha-
-ganha, tentar primeiro compreender para depois ser
compreendido, criar sinergia, manter-se atualizado– e
mais três conselhos valiosos:
para elas –inclusive com o desafio isso está dando sinais. As organizações demandam
extra de gerir quatro diferentes super-homens e mulheres-maravilha –só está faltando
gerações simultaneamente, identi- mesmo pedir que voem. Mas até que ponto as empresas
ficando seus valores e estabelecen- estão virando ‘super’ para acompanhar essa demanda?”,
do os limites necessários para elas. resumiu o gerente da FDC.
Segundo Anderson Para tanto, os discursos da área de
de Souza Sant’Anna,
da FDC, as
gestão de pessoas devem partir cada Efeitos sobre o corpo
empresas têm vez mais de uma visão estratégica, Realmente o corpo está dando sinais. Segundo
demandado
super-homens e
segundo Sant’Anna. a palestra da nutricionista Cláudia Stéfani Marcílio,
mulheres-maravilha “A crise atual é uma crise de gerente de projetos da Divisão de Pesquisas do Hos-
como gestores,
mas não oferecem
excessos, em todos os sentidos. E pital Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo,
a contrapartida nosso corpo não evoluiu tanto, por desde o início dos anos 1990, o número de mortes por
acidentes se mantém, as causadas por doenças infec-
toparasitárias diminuem e as derivadas de doenças
cardiovasculares, como infarto e acidente vascular
cerebral (AVC), aumentam consistentemente. E os
países em desenvolvimento são os mais afetados: 45,6%
das mortes são causadas por esse tipo de doença. “Os
dados estão tomando a proporção de uma epidemia
em todo o mundo, mas está havendo igualmente uma
negligência generalizada”, explicou a especialista.
O grande problema das doenças cardiovasculares
é que a prevenção exige esforços individuais, ou seja,
é a pessoa que precisa decidir mudar radicalmente de
hábitos alimentares e atividade física.