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CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM E


ORGANIZAÇÃO DE REDES DE COOPERATIVAS
DE CATADORES:
OPORTUNIDADES E ELEMENTOS CRÍTICOS
PARA A CONSTRUÇÃO DE TECNOLOGIA
SOCIAL DE COMBATE À POBREZA E
INCLUSÃO SOCIAL NO ESTADO DA BAHIA

RELATÓRIO FINAL
FAPESB

Prof. João Damásio (Coord.)


GERI/UFBA
Centro de Referência de Catadores de Materiais Recicláveis
PANGEA

Salvador, novembro de 2008

UFBa
2

Este trabalho não teria sido


possível sem o apoio da
FAPESB de seus técnicos e
FAPESB,
consultores, aos quais a Equipe
Executora agradece.
3

EQUIPE EXECUTORA

Coordenação
• João Damásio - Coordenação Geral
• Antonio Bunchaft - Supervisor
• Adherbal de Almeida Regis - Adjunto da Supervisão

Pesquisadores Seniores
• Luiz Gustavo Delmont – Coordenador da Pesquisa Direta

• Lúcio Flávio da Silva Freitas – Pesquisador

• Roberto Maximiniano - Pesquisador

• Gracil Márcia Gonçalves Moreira – Pesquisadora

Auxiliares de Pesquisa
• Júlia Trindade Alves Cunha
• Taise Luz Miranda
• George Souza Santos Almeida
• Ana Cristina Sacramento de Jesus
4

AGRADECIMENTOS

A Equipe Executora agradece ao apoio da FAPESB –


particularmente por entender que este trabalho ganharia em
qualidade com a extensão do seu prazo de conclusão em um ano,
sem ônus financeiros adicionais. A inclusão da PARTE C deste
trabalho, sobre a REDE CATA RIO – originalmente não prevista –
com certeza enriquece a busca por Tecnologias de Inclusão
Social através da Comercialização Conjunta de materiais
recicláveis.

Os agradecimentos ao PANGEA, ao Centro de Referência de


Catadores de Materiais Recicláveis e às cooperativas baianas
da REDE CATABAHIA são obrigatórios: os inestimáveis serviços
prestados foram vitais para a realização deste trabalho, e
permitiram um grau de detalhamento da operação da REDE
CATABAHIA – apresentado na PARTE D -- que seria de outra forma
indisponível.

A Fundação AVINA disponibilizou recursos adicionais que


tornaram possíveis os levantamentos diretos e as análises
apresentadas nas PARTES A e B deste trabalho, respectivamente
sobre a REDE CATA SAMPA e o SISTEMA CAS. Estes apoios
trouxeram riqueza de detalhes ao trabalho, e a Equipe
Executora é muito grata por isso.

Finalmente, os agradecimentos devem ser dirigidos à


Petrobrás, ao Banco do Brasil e à Fundação Banco do Brasil que
– através de financiamentos pontuais – possibilitaram os
levantamentos diretos das trinta e três unidades de catadores
de materiais recicláveis do Rio de Janeiro, que resultaram na
proposta da REDE CATA RIO, constante da PARTE C deste
trabalho.
5

RESUMO
A produção de bens através do reuso e da reciclagem já demonstrou ser uma prática
economicamente eficiente, tecnologicamente viável e ambientalmente correta. Além disso,
apresenta-se como um potente instrumento de redução da pobreza e de inclusão social. A
principal barreira à comercialização dos materiais coletados pelos catadores diretamente para
as indústrias recicladoras – além da correta triagem – é a escala e a regularidade do
suprimento para atender à demanda. As Redes de Comercialização introduzem estratégicas
logísticas e organizativas no curto-prazo, amplamente capazes de gerar ganhos em eficiências,
com razoável poder de difusão, e com potencial para melhorar o padrão de vida dos catadores
filiados a cooperativas e associações ligadas a essas Redes. Uma Rede de Comercialização
possibilita que certos tipos de materiais que são coletados por cooperativas que não
apresentam escala produtiva sejam vendidos a preços melhores. Uma Rede de
Comercialização junta os esforços de diferentes cooperativas e é, de fato, uma eficiente
estratégia de negócios para enfrentar um mercado concentrado povoado por intermediários.
Este trabalho é seccionado em quatro partes: a PARTE A apresenta a análise da REDE
CATA SAMPA; a PARTE B trata da iniciativa empresarial do SISTEMA CAS paraguaio; a
PARTE C descreve a proposta da REDE CATA RIO; e a PARTE D analisa o
funcionamento da REDE CATABAHIA.

PALAVRAS-CHAVE: Reciclagem, Resíduos Urbanos, Cooperativas, Redes de


Comercialização, Materiais Recicláveis.

ABSTRACT
The production of goods through re-use and recycling has already shown to be a
technologically feasible, environmentally correct and economically efficient practice. Besides,
it is a potent instrument of social inclusion and poverty reduction. The main bottleneck to the
direct sales of materials from catadores to the recycling industries – besides correct selection
– is scale and regularity in delivery to attend demand. Trading Networks introduce
organizational and logistic strategies in the short-run, fully able to generate gains in
efficiencies, with reasonable diffusion power, and with a potential for improvement of the life
standards of catadores affiliated to cooperatives and associations. A Trading Network allows
that certain types of materials which are collected in cooperatives which do not display a
productive scale to be sold at better prices. A Trading Network puts together the efforts of
different cooperatives and, in fact, is actually an efficient management strategy to face a
concentrated market filled by middlemen. This work is sectioned in four parts: PART A deals
with the analysis of CATA SAMPA Trading Network; PART B deals with the
entrepreneurship of Paraguayan CAS SYSTEM; PART C deals with the proposal of CATA
RIO Trading Network; and PART D analyses the functioning of CATABAHIA Trading
Network.

KEY WORDS: Recycling, Urban Waste, Cooperatives, Trading Network, Recyclable


Materials
6

ÍNDICE GERAL

EQUIPE EXECUTORA 3
AGRADECIMENTOS 4
RESUMO - ABSTRACTS 5

INTRODUÇÃO GERAL – ESTRUTURA DO TRABALHO 12

PARTE A: A REDE CATA SAMPA 29

SEÇÃO A.1: INTRODUÇÃO À PARTE A 29

A.1.1. COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA 31


A.1.2. ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPA 34
A.1.3. O FUNCIONAMENTO DA CENTRAL DA REDE CATA SAMPA 36

SEÇÃO A.2: ANÁLISE DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZA- 44


ÇÃO DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA

A.2.1. PRODUÇÃO FÍSICA DAS COOPERATIVAS DA 44


REDE CATA SAMPA
A.2.2. VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS PELAS 52
COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA
A.2.3. AVALIAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO CONJUNTA: VOLUME E 58
VALORES DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS NA REDE CATA SAMPA

SEÇÃO A.3: RETIRADAS DO GALPÃO A PARTIR DO 66


PROCESSAMENTO DE GRANDES GERADORES, COLETA
SELETIVA, FEIRAS E EVENTOS

SEÇÃO A.4: EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS COOPERATIVAS 70


DA REDE CATA SAMPA

SEÇÃO A.5: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS COOPERA- 74


TIVAS DA REDE CATA SAMPA

SEÇÃO A.6: GANHOS DE EFICIÊNCIA NA REDE CATA 78


SAMPA E EFICIÊNCIA GLOBAL

SEÇÃO A.7: ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA 86


7

FÍSICA – CATA SAMPA

SEÇÃO A.8: ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA 96


ECONÔMICA – CATA SAMPA

SEÇÃO A.9: A EFICIÊNCIA DE MERCADO DAS COOPERA- 109


TIVAS DA REDE CATA SAMPA

PARTE B: UMA ESTRUTURA EMPRESARIAL – O 112


PROJETO ALTERVIDA

SEÇÃO B.1: INTRODUÇÃO À PARTE B 112

SEÇÃO B.2: A VISITA A ASSUNÇÃO E A COLETA DE 117


DADOS

SEÇÃO B.3: A ÓTICA DO CAS CENTRAL 118

B.3.1. PREÇOS DE COMPRAS E PREÇOS DE VENDAS DE 118


MATERIAIS RECICLÁVEIS
B.3.2. PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS ADQUIRIDOS 123
PELO CAS CENTRAL
B.3.3. AS RECEITAS LÍQUIDAS E OS LUCROS BRUTOS DO CAS 132
CENTRAL
B.3.4. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA DO CAS 147
CENTRAL

SEÇÃO B.4: A ÓTICA DOS CATADORES 149

B.4.1. AS RECEITAS DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁ- 149


VEIS
B.4.1.1. CARRINHEIROS 151
B.4.1.2. OS CATADORES NOS GRANDES GERADORES 152
B.4.1.3. CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES 154
B.4.1.4. CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E CATADORES DO 157
VERTEDERO: MÉDIAS PONDERADAS
B.4.2. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA DOS 158
TRÊS GRUPOS DE CATADORES

SEÇÃO B.5: A ÓTICA DO SISTEMA CAS 160


8

B.5.1. A NATUREZA DO “SISTEMA CAS” 160


B.5.2. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA DO 161
SISTEMA CAS
B.5.3. ANÁLISE COMPARATIVA DAS EFICIÊNCIAS DOS SEGMEN- 167
TOS DO SISTEMA CAS

SEÇÃO B.6: OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES 171

PARTE C: A REDE CATA RIO 176

SEÇÃO C.1: INTRODUÇÃO À PARTE C 176

SEÇÃO C.2: A AMOSTRA DAS UNIDADES DE CATADORES 178


DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

C.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DAS UNIDADES DE 178


CATADORES
C.2.2. AS 33 UNIDADES DE CATADORES DA AMOSTRA DO 180
UNIVERSO AMOSTRAL PESQUISADO
C.2.3. AS UNIDADES DO UNIVERSO AMOSTRAL NÃO-PESQUISADO 185

SEÇÃO C.3: AS UNIDADES DE CATADORES AGRUPADAS E 187


SUAS EFICIÊNCIAS RELATIVAS

C.3.1. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA 187


C.3.2. ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA 193
C.3.3. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA FÍSICA NA PRODUÇÃO DE 198
MATERIAIS RECICLÁVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.3.4. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO DE 202
MATERIAIS RECICLÁVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.3.5. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE MERCADO NA PRODUÇÃO DE 206
MATERIAIS RECICLÁVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.3.6. SUMÁRIO DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA 212

SEÇÃO C.4: OS ENTREPOSTOS DA REDE CATA RIO: 213


COMPOSIÇÃO E LOCALIZAÇÃO

C.4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 213


C.4.2. ASPECTOS ESTRATÉGICOS SOBRE OS ENTREPOSTOS E A 214
CENTRAL CATA RIO
C.4.3. O ENTREPOSTO DAS DOCAS 218
C.4.4. O ENTREPOSTO NORTE 228
9

C.4.5. O ENTREPOSTO DUTRA 242


C.4.6. O NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ 255
C.4.7. SUMÁRIO DOS QUATRO ENTREPOSTOS DA REDE CATA RIO 262

SEÇÃO C.5: ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS 265


E PERSPECTIVAS DE LOGÍSTICA DA CENTRAL CATA RIO

C.5.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 265


C.5.2. AS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS QUATRO ENTREPOSTOS 269
C.5.3. PERSPECTIVAS DE LOGÍSTICA DA CENTRAL CATA RIO 272

SEÇÃO C.6. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS 278


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DOS QUATRO
ENTREPOSTOS E DA CENTRAL CATA RIO

C.6.1. CARACTERIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS 278


POTENCIAIS ANALISADOS
C.6.2. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS DECORRENTES DA 280
IMPLANTAÇÃO DO ENTREPOSTO DAS DOCAS
C.6.3. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS DECORRENTES DA 288
IMPLANTAÇÃO DO ENTREPOSTO NORTE
C.6.4. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS DECORRENTES DA 294
IMPLANTAÇÃO DO ENTREPOSTO DUTRA
C.6.5. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS DECORRENTES DA 300
IMPLANTAÇÃO DO NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ

SEÇÃO C.7. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS RELATIVAS 306


DOS QUATRO ENTREPOSTOS

C.7.1. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS FÍSICAS DOS ENTREPOSTOS: 306


DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.7.2. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS 311
ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.7.3. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS DE MERCADO DOS 316
ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS
C.7.4. SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS: BENEFÍCIOS POTENCIAIS 322
CONJUNTOS

PARTE D: PERSPECTIVAS DA REDE CATABAHIA 328

SEÇÃO D.1. INTRODUÇÃO À PARTE D 328

SEÇÃO D.2. HISTÓRICO DA REDE CATABAHIA 330


10

SEÇÃO D.3. ESTRATÉGIA ADOTADA PELO PROJETO 334


CATABAHIA

D.3.1. CAPACITAÇÃO 335


D.3.1.1. CONTEÚDO DA CAPACITAÇÃO 335
D.3.1.2. ASPECTOS PEDAGÓGICOS E PARTICIPATIVOS 336
D.3.2. INCUBAÇÃO 337
D.3.2.1. INCUBADORAS NA REDE CATABAHIA 337
D.3.2.2. LINHAS ESTRATÉGICAS DA INCUBAÇÃO 338
D.3.2.2.1. ASSISTÊNCIA SOCIAL INTEGRADA 338
D.3.2.2.2. COLETA SELETIVA E LOGÍSTICA 339
D.3.2.2.3. TRIAGEM DE MATERIAIS, COMERCIALIZAÇÃO E 340
ADMINISTRAÇÃO
D.3.2.2.4. COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL 341

SEÇÃO D.4. ANALISE INDIVIDUAL DAS COOPERATIVAS 342

D.4.1. COOPERATIVA DE CATADORES E RECICLADORES DE 343


ALAGOINHAS - CORAL
D.4.2. COOPERATIVA DE CATADORES DE ITAIRÓ 347
D.4.3. COOPERATIVA DE CATADORES DA UNIDADE DE CANABRAVA 352
- COOPERBRAVA
D.4.4. COOPERATIVA DE CATADORES DE JEQUIÉ - COOPERJE 355
D.4.5. COOPERATIVA DE CATADORES AGENTES ECOLÓGICOS DE 359
CANABRAVA - CAEC
D.4.6. COOPERATIVA DE BADAMEIROS DE FEIRA DE SANTANA - 367
COOBAFS
D.4.7. COOPERATIVA DOS CATADORES RECICLA CONQUISTA – 370
VITÓRIA DA CONQUISTA
D.4.8. COOPERATIVA DE RECICLAGEM E COMPOSTAGEM DA COSTA 375
DOS COQUEIROS - VERDECOOP

SEÇÃO D.5. RESULTADOS SUMARIZADOS 376

D.5.1. ASSISTÊNCIA SOCIAL 377


D.5.2. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E RELACIONAMENTO EM 377
GRUPO
D.5.3. ASSISTÊNCIA À SAÚDE 378
D.5.4. ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL 378
D.5.5. PROMOÇÃO DA CIDADANIA 379
D.5.6. COLETA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS 380
D.5.7. COMERCIALIZAÇÃO CONJUNTA 382
D.5.8. COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL 384
D.5.9. PONTOS DE DIVULGAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO 385
11

D.5.10. PALESTRA E OFICINAS COM EXIBIÇÕES AUDIOVISUAIS 385


D.5.11. ABORDAGEM DOMICILIAR E SETORIAL 386
D.5.12. VISITA MONITORADA 386
D.5.13. CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO DE MATERIAIS 386
RECICLÁVEIS
D.5.14. REDE DE MULTIPLICADORES E FÓRUNS LIXO E 387
CIDADANIA
D.5.15. ÔNIBUS ITINERANTE E TEATRO 387

SEÇÃO D.6. RESULTADOS AMBIENTAIS 388

SEÇÃO D.7. IMPACTOS NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS 390


PÚBLICAS

SEÇÃO D.8. PERSPECTIVAS FUTURAS DA REDE 392


CATABAHIA

D.8.1. SUSTENTABILIDADE 392

REFERÊNCIAS 395
12

INTRODUÇÃO GERAL – ESTRUTURA DO


TRABALHO

A pobreza e a desigualdade social ocupam um lugar central


nos debates acerca da recente experiência do desenvolvimento
brasileiro, seus aspectos futuros e as opções disponíveis de
políticas públicas.

Um fato marcante é que, comparado a outros países, o


Brasil se destaca em termos de desigualdade, representando
uma parcela significativa da pobreza da América Latina.
Segundo dados do IPEA, existem atualmente no Brasil cerca de
56,9 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza,
isto é, aproximadamente 31% da população e cerca de 24,7
milhões de pessoas abaixo da linha da indigência.

Seguindo uma metodologia diferente, o Programa Fome Zero


do Governo Federal divulga um resultado onde 58 milhões de
pessoas estão vivendo em condições abaixo da linha da
pobreza.

A inclusão sócio-econômica, ao incorporar grupos


populacionais menos favorecidos à dinâmica produtiva, além de
constituir-se por si num objetivo fundamental a ser
alcançado, está intimamente associada a ações pró-ativas de
geração de emprego e renda.

Dessa forma -- se não bastassem considerações de caráter


ético -- a decisão de construir uma sociedade socialmente
justa e coesa se impõe até mesmo por cálculo econômico, de
modo que as ações voltadas para o desenvolvimento econômico e
para o desenvolvimento social não sejam antagônicas entre si,
mas, sobretudo, complementares.

A catação de materiais recicláveis é um fenômeno típico


de países em desenvolvimento variando de cidade para cidade
em intensidade e complexidade, geralmente congregando
péssimas condições de trabalho, falta de apoio do poder
público e desprezo da população (MOTTA, 2002).

O quadro de desemprego no país vem aumentando o


contingente de pessoas inseridas em atividades informais --
destacada a de catação de materiais recicláveis -- que vem se
configurando nos centros urbanos, como uma das atividades que
recebe um significativo contingente de pessoas inseridas em
13

situação de pobreza crítica. Registram-se hoje cerca de


800.000 catadores em todo o país (estimativa da ONG CARITAS)
e cerca de 25.000 catadores na Bahia (estimativa da ONG
PANGEA). Cabe ressaltar que tais catadores, na sua maioria,
são advindos dos lixões das cidades, trabalhando nas piores
condições possíveis, muitas vezes dividindo espaços com
animais disseminadores de vetores patogênicos.

A reciclagem do lixo urbano apresenta relevâncias


ambientais, econômicas e sociais, com implicações que se
desdobram em diversas esferas: na organização espacial; na
preservação e economia de energia; na geração de empregos; no
desenvolvimento de produtos; nas finanças públicas; no
saneamento básico; na proteção da saúde pública; e na geração
de renda e redução do desperdício de recursos ambientais.

De fato, a atividade de catação destaca-se por ter


matéria-prima abundante; por ser uma atividade rudimentar -
sem necessidade de conhecimento técnico apurado - e por ter
um mercado dinâmico, mesmo em tempos de constrangimento
macroeconômico.

A simples observação dos números da reciclagem na Bahia


dá a dimensão do potencial dessa atividade. Limitando-se, a
título de exemplo, à recuperação e reciclagem do plástico, no
ano de 1999 eram 25 empresas instaladas no Estado, capazes de
reciclar um total de 14.332 toneladas de plásticos por ano.
Tal mercado já movimentava um total de 20 milhões de reais
por ano e gerava 605 empregos formais diretos.

Contudo, esta população de catadores encontra-se


desorganizada, trabalhando em péssimas condições, em situação
de pobreza crítica, lidando diariamente com o lixo sem a
utilização de equipamentos de proteção, vivendo assim
expostos a diversas doenças. Também patente é a exploração de
seu trabalho, sua renda média não ultrapassa os U$ 30 mensais
-- índice considerado pela ONU como de pobreza extrema.

Diante deste contexto algumas ações estruturantes vêm


modificando esta situação no Brasil e em particular no estado
da Bahia:

a) Criação do Comitê Interministerial de Inclusão


Social e Econômica dos Catadores de Materiais
Recicláveis: através desta iniciativa o Governo
Federal, em 2003, coloca questão do catador como
sujeito de política pública. O Movimento Nacional
14

dos Catadores integra o comitê. Desde então,


observa-se uma redefinição da política pública em
prol do catador com abertura de programas e
projetos junto a Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Ministério do Meio
Ambiente, Ministério da Ciência e tecnologia,
Fundação Banco do Brasil, PETROBRÁS, BNDES,
Fundação AVINA, Banco Interamericano de
Desenvolvimento, entre outras agências nacionais e
internacionais de fomento;
b) Implementação do Programa Reciclar para Crescer:
programa da Secretaria Estadual de Combate à
Pobreza e as Desigualdades Sociais explicitamente
reconhece e afirma a atividade da reciclagem como
uma estratégia de combate à pobreza e inclusão
social dos catadores. Vem apoiando iniciativas de
organização dos catadores no Estado da Bahia;
c) Criação do Movimento dos Catadores de Materiais
Recicláveis no Estado da Bahia: foi realizado nos
dias 06 e 07 de fevereiro de 2004 o I Encontro de
Catadores de Materiais Recicláveis do Estado da
Bahia, fruto da parceria entre o Movimento
Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e o
PANGEA - Centro de Estudos Socioambientais
(secretaria estadual do movimento na Bahia). Nos
dias 01 e 02 de setembro de 2005 o encontro foi
reeditado, o II Encontro de Catadores de Materiais
Recicláveis do Estado da Bahia aprofundou
propostas de busca da organização dos catadores em
redes de comercialização como alternativa para a
melhoria dos preços praticados;
d) Constituição da REDE CATABAHIA, originalmente
formada por cooperativas de catadores de Salvador,
Feira de Santana, Vitória da Conquista, Jequié,
Itapetinga e Itororó. A REDE CATABAHIA
responsabiliza-se incubação de cooperativas;
capacitação em gestão cooperativa; educação
ambiental; e sistema de logística da coleta
seletiva visando à arrecadação do material nos
diversos municípios. Destaca-se a comercialização
conjunta e em escala dos materiais triados,
ultrapassando os atravessadores e negociando
diretamente com a indústria recicladora,
permitindo a realização de melhores preços. A REDE
CATABAHIA é uma iniciativa da ONG PANGEA, com
patrocínio da PETROBRÁS e apoio do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
15

Assim, o estudo da implementação de cooperativas de


reciclagem de resíduos sólidos como forma de geração de
postos de trabalho surge como forma de integrar tais
desenvolvimentos sociais e econômicos e ao mesmo tempo
retirar uma parcela dessas pessoas em condição marginalizada,
reintegrando-as à sociedade.

O estudo da viabilidade econômica e a implantação de


cooperativas de reciclagem de resíduos sólidos urbanos --
como forma de geração de postos de trabalho -- destaca-se
presentemente como estratégia para integrar o desenvolvimento
econômico e social, recuperando à sociedade uma parcela dos
catadores de materiais recicláveis informais no Brasil.
Estudos desenvolvidos pelo GERI/UFBa em parceria com a ONG
PANGEA, demonstram que tais cooperativas apresentam baixo
custo de implementação e um dos menores custos de criação de
postos de trabalho.

Ademais, o processo cooperado da catação e reciclagem de


resíduos sólidos urbanos possui um forte caráter de auto-
sustentabilidade, gerando -- após sua implementação -- reais
condições de combate à pobreza e de efetiva inclusão social,
constituindo empregos formais, assegurando renda para estes
catadores, resgatando sua dignidade e, mais importante ainda,
viabilizando a mobilidade social de uma categoria miserável.

Para que existam ganhos de eficiência econômica e melhor


utilização dos materiais recicláveis – são necessárias
informações prévias sobre o comportamento da produção total
vis-à-vis as crescentes quantidades de recicláveis, por tipo
de materiais, bem como uma caracterização mais detalhada dos
atores envolvidos nesse processo.

Apesar da atividade de catação representar uma


potencialidade no combate à pobreza, a melhor delineação de
políticas públicas relacionadas à atividade de catação de
materiais recicláveis exige quesitos informacionais até então
indisponíveis.

Em outras palavras, faltam dados e informações que possam


indicar em quais ramos da cadeia da reciclagem é possível
obter maior agregação de valor e qual é o padrão tecnológico
adequado, visando inserir as redes de comercialização num
processo mais verticalizado.
16

Observa-se um conjunto de pontos de estrangulamento que


criam obstáculos para que esse processo possa tornar-se uma
política pública ampla e eficaz, a saber:

a) Faltam estudos que permitam a mensuração dos


impactos sócio-econômicos e ambientais da atividade dos
catadores, base da cadeia de reciclagem;
b) Ausência de informações que possam revelar
como se realiza e qual a dimensão da apropriação do
excedente gerado especificamente na cadeia da coleta do
reciclável, onde se concentram os catadores e os
atravessadores;

c) Inexistem medidas confiáveis de quantificação


dos custos locais e regionais para a criação de uma
política de geração de postos de trabalho nesse
segmento;

Sem essas informações torna-se impossível conhecer as


escalas operacionais de eficiências adequadas. Como montar
uma organização de catadores, diante dessas indagações?

Algumas questões básicas e muito importantes merecem uma


resposta: Qual é o tamanho ótimo de uma planta de
beneficiamento de materiais recicláveis? Qual é o numero
ótimo de prensas e outros equipamentos adequados para esta
planta? Qual é o número de catadores associados que podem
estar inseridos nesta planta? Quais são os fluxos adequados
de beneficiamento da produção que permitem otimizar o
processo produtivo e transformar mercadoria em dinheiro no
mais curto espaço de tempo possível? Qual é a relação
capital/trabalho ótima numa planta de catadores compatível
com os melhores níveis de eficiências? Como podem ser
mensurados os níveis de eficiência física, econômica e de
mercado de uma planta de materiais recicláveis?

As questões supracitadas foram alvo de estudo do grupo


1
GERI (Grupo de Estudos de Relações Intersetoriais) da UFBa
(Universidade Federal da Bahia) – sob a coordenação do Prof.
João Damásio -- e envolveu a articulação entre o saber
acadêmico e científico, e a experiência de cooperativas e
associações de catadores em 22 Estados da Federação de todas
as Regiões do Brasil.

1
O GERI foi criado em 1983 e é registrado desde 1985 como um grupo de pesquisas consolidado pelo CNPq
- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É um grupo de pesquisas da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia – Salvador – Brasil.
17

O estudo foi realizado em parceria com o “Centro de


Referência de Catadores de Materiais Recicláveis” ligado à
ONG PANGEA (Salvador-Bahia) e encomendado/financiado pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS2.

As respostas às questões acima aludidas apontaram para


uma direção segura: a criação de um módulo de unidade básica
de cooperativa de catadores que -- embora adaptável às
diferentes e específicas condições locais, culturais e
regionais específicas – servisse de parâmetro padrão de
referência, quando levados em consideração os pré-requisitos
para a elevada produtividade e a alta eficiência.

O módulo de unidade básica procurou criar as condições de


rompimento do círculo vicioso de ineficiências no
3
processamento de materiais recicláveis .

Com referência a esses módulos básicos, foi então


proposto um investimento total de cerca de R$ 169 milhões4
com o objetivo de equipar 244 cooperativas e associações de
catadores em 22 Estados Federais Brasileiros.

O estudo referido, desenvolvido em 2005-6, construiu e


propôs linhas mestras e blueprints –
agregando referencial e sustentação
teórica -- que permitiram ao governo
brasileiro, através do Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social -
BNDES - tomar a inciativa de lançar
um amplo programa de investimentos em capital físico para as
cooperativas brasileiras de catadores.

Pela primeira vez na história do banco foi publicado um


edital nacional aberto às organizações de catadores de
materiais recicláveis, com o objetivo de apoiar
financeiramente a capitalização de suas cooperativas, na
forma de equipamentos e instrumentos de trabalho.

O site do BNDES:

http://www.bndes.gov.br/linhas/catadores.asp

2
“Análise do Custo de Geração de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o Segmento dos Catadores
de Materiais Recicláveis” elaborado pelo Prof. Dr. João Damásio para o PANGEA/ Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2006. O estudo encontra-se no prelo, para publicação,
com prefácio do Ministro Patrus Ananias, do MDS.
3
Favor referir-se a op.cit. pp. 87-112.
4
Cerca de US$ 105 milhões à taxa de câmbio corrente.
18

anuncia um fundo social de “Apoio a Projetos de Catadores de


Materiais Recicláveis” onde cita textualmente o seguinte:

“A participação do BNDES nas ações Federais


voltadas para esse segmento iniciou-se em 2007, com a
publicação do ‘I Ciclo de Apoio a Projetos de
Estruturação Produtiva de Cooperativas’ no âmbito da
iniciativa ‘Apoio a Projetos de Catadores de
Materiais Recicláveis’. Foram apresentados 127
projetos, das quais 67 foram julgadas elegíveis para
fins de enquadramento. Dentre estes, foram
enquadrados 44 projetos, dos quais 34 foram
5
aprovados, no valor de R$ 23 milhões . Estima-se que
estas operações resultarão em incremento de cerca de
2.300 postos de trabalho nas cooperativas e de 45% na
renda médias dos cooperados”.6

5
Cerca de US$ 14.375.000,00 à taxa de câmbio corrente.
6
Grifo nosso, JD.
19

FONTE: Capturado da Internet no endereço fornecido. 2008


20

“O apoio do BNDES ao segmento foi estruturado com


base no estudo intitulado"Análise do Custo de Geração
de Postos de Trabalho na Economia
Urbana para o Segmento dos Catadores
de Materiais Recicláveis"7, em que
foram tipificadas as cooperativas e
as associações de catadores e
proposto um módulo de unidade básica
de investimentos para cada tipo, de acordo com seu
estágio de desenvolvimento, visando a geração de
novos postos de trabalho e aumento de eficiência no
segmento”.

Esses foram os números do ano passado, 2007. Este ano o


processo está aberto novamente para submissão de propostas,
para uma potencial concessão de valores semelhantes. Vale a
pena lembrar que esses recursos não são destinados na forma
de empréstimos: são recursos de investimento social,
executados a partir dos lucros do próprio banco.

Contudo, é a partir da análise ao longo de toda cadeia


produtiva – e da comercialização – do material reciclável que
são identificadas as barreiras e oportunidades de que depende
o potencial presumido de geração de emprego e renda na
atividade de catação de resíduos urbanos.

A capacidade de identificar os principais atores das


cadeias e sub-cadeias produtivas na comercialização de
materiais recicláveis, por sua natureza e tipo, é uma
necessidade inicial. Essa etapa leva à compreensão das
diferentes formas de produção, de apropriação de valores, e
dos ganhos relativos ao longo da cadeia – para uma dada
logística na coleção, distribuição e triagem de cada um dos
materiais recicláveis – e finalmente, às características das
estruturas de mercado existentes.

O maior impedimento para que os catadores consigam vender


diretamente materiais recicláveis para a indústria
recicladora reside, além da triagem adequada, em conseguir
ter escala e regularidade de fornecimento.

A indústria não pode conviver com quantidades reduzidas e


irregularidade de fornecimento, sob pena de comprometer o seu
processo produtivo. O controle de qualidade do material

7
Damásio, João (2006) - op.cit.
21

reciclável exige volume, limpeza, acondicionamento correto e


pontualidade.

Muitos catadores -- por não possuírem essas informações


disponíveis em suas cooperativas e associações -- são
desorganizados economicamente e trabalham, em sua grande
maioria, de forma isolada. Coletam os recicláveis na rua e no
lixão, e vendem os materiais não-triados em pequenas
quantidades a cada dia8, de forma atomizada, para a vantagem
das estruturas de intermediação.

Os atravessadores e sucateiros estabelecem com os


catadores uma relação de trabalho que é precária e indigna,
comprando os materiais coletados a preços irrisórios -- a
exemplo do papelão e do PET que no Estado da Bahia é vendido
respectivamente pelos catadores a R$ 0,07/kg e R$ 0,15/kg e
posteriormente revendido pelos atravessadores a R$0,25/ kg e
R$ 1,00 para a indústria recicladora.

Ao se encontrarem desprovidos de capital -- instrumentos


de trabalho, capacitação, organização social e econômica --
os catadores são submetidos a uma lógica perversa de
exploração por parte de uma cadeia de atravessadores de
materiais recicláveis, cuja base é informal -- mas que
progressivamente vai se formalizando -- até alcançar cadeias
dinâmicas da economia da reciclagem globalizada, como o setor
do plástico, PET, alumínio e papel.

Esse quadro fomenta uma situação de estrutural


dependência e endividamento por parte dos catadores,
apropriando um excedente fundamental do trabalho realizado
pelos mesmos.

Mas, mesmo quando adquirem alguns equipamentos, organi-


zando-se em cooperativas ou associações, o volume por eles
coletado ainda costuma ser pequeno, o que ainda os retêm como
reféns da intermediação comercial. Não obtêm escala para
atender a indústria.

Nessas circunstâncias, os catadores precisam adquirir


novas escalas em novos patamares: a venda conjunta de
materiais recicláveis em Redes de Comercialização.

8
O horizonte diário de sobrevivência implica na venda cotidiana do material reciclável, o que impede a
formação de estoque, subjuga o catador e reduz o preço dos materiais coletados.
22

As Redes de Comercialização9 introduzem novas estratégias


logísticas e organizacionais no curto-prazo, amplamente capaz
de gerar ganhos em eficiência, com razoável poder de difusão,
e com o potencial de melhorar o padrão de vida dos catadores
filiados a cooperativas e associações ligadas a essas Redes.

Em uma Rede de Comercialização entram cooperativas que


são estruturalmente diferentes: são colocadas lado a lado
cooperativas de elevada eficiência e grupos de catadores que
ainda povoam as ruas e lixões, e que apresentam eficiências
extremamente baixas.

Uma Rede de Comercialização possibilita que certos tipos


de materiais que são coletados por cooperativas que não
apresentam escala produtiva sejam vendidos a preços melhores.
O seu principal objetivo é agrupar – e em alguns casos
estocar -- materiais recicláveis até que sejam obtidos os
volumes necessários para atender às especificações de demanda
das indústrias.

Em todos os casos, é evidente que os retornos são maiores


do que aqueles que seriam obtidos pela comercialização
individual, descentralizada. Nesse sentido, uma Rede de
Comercialização é uma agregação de valores, que junta os
esforços de diferentes cooperativas e é, de fato, uma
eficiente estratégia de negócios para enfrentar um mercado
concentrado povoado por intermediários.

Não deve ser surpreendente que, apesar de haver exceções,


os maiores ganhos em eficiência econômica obtidos através da
Comercialização em Rede são apresentados pelas cooperativas
menores e menos estruturadas. Elas são as que mais lucram,
pelas externalidades positivas do arranjo mercantil desse
procedimento.

O aprendizado das características de uma Rede de


Comercialização passa a ser uma estratégia empresarial para
os catadores. Constitui-se numa central de inteligência que
articula as pequenas, médias e grandes organizações de
catadores para uma comercialização simultânea e sistemática.

Se as Redes de Comercialização forem suficientemente


eficientes para alcançar grandes volumes mensais e

9
A REDE CATABAHIA foi a primeira Rede de Comercialização no Brasil. Para uma discussão mais
detalhada de uma Rede de Comercialização funcionando em São Paulo, favor referir-se à PARTE A deste
estudo. Para um diagnóstico e proposta de uma Rede de Comercialização na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, referir-se à PARTE C deste estudo.
23

regularidade de fornecimento, podem ultrapassar as estruturas


de intermediação, e vender diretamente para a indústria
recicladora, obtendo melhores preços para o mesmo volume de
materiais.

A compreensão e diagnóstico sobre a constituição e o


funcionamento de uma rede de comercialização também conseguem
possibilitar a análise do mercado consumidor de reciclados de
forma regional e/ou nacional. Ao viabilizar a construção de
um sistema de informações sobre tendências atuais e futuras
das cadeias e sub-cadeias produtivas, possibilita observar os
movimentos de médio e de longo prazo – agregando informações
sobre posicionamentos estratégicos das organizações dos
catadores.

Porém, mesmo as Redes de Comercialização de cooperativas


de catadores ainda não são capazes de construir estoques
produtivos para enfrentar sazonalidades do mercado, até
porque, em geral, não têm as informações necessárias para
compreender como se dá a formação de estoque no mercado por
sub-cadeias, quais são e como operam as categorias de análise
que incidem na formação e na variação do preço ao longo do
tempo.10

Ainda existe uma grande ausência de dados e de


informações que pudessem indicar em quais segmentos das sub-
cadeias de reciclagem seria possível agregar os maiores
valores, e quais seriam os níveis tecnológicos adequados, de
forma a inserir as Redes de Comercialização em um processo
mais verticalizado. Podem ser observados diversos gargalos
que se tornam obstáculos para que esse procedimento se torne
uma política pública ampla e eficiente.

As Redes de Comercialização para cooperativas de


catadores de materiais recicláveis são um fenômeno de menos
de três anos em toda a América Latina, ainda singulares,
restritas quase ao Brasil, com muita dose de experimentação e
pouco conhecidas academicamente.

Isto implica em que a construção de um conhecimento


articulado a esta experiência prática, significa um
deslocamento do posicionamento estratégico dos catadores na
cadeia produtiva, de meros fornecedores individuais, para

10
O preço da Nafta no mercado internacional impacta na resina virgem do PET que em certas situações pode
ser mais barata do que a resina reciclagem, por mais paradoxal que seja.
24

organizações econômicas regionais e nacionais de fornecimento


de matéria prima para a indústria.11

Uma melhor compreensão das cadeias e sub-cadeias


produtivas do processo de reciclagem e a adoção de medidas
que apóiem a organização de Redes de Comercialização para
cooperativas e associações de catadores, certamente abrirá
novas oportunidades para a acumulação de conhecimento crítico
para a estruturação de uma tecnologia social de combate à
pobreza, favorecendo a inclusão social.

Ademais, proposições de fortalecimento institucional e


consolidação de tecnologias de gestão em rede das
cooperativas de catadores, garantindo a auto-sustentabilidade
das mesmas, configuram-se em elementos chave para o sucesso
de medidas que visem a inclusão social da população que hoje
vive à margem do setor produtivo, retirando do lixo seu
sustento.

A proposta desta pesquisa visa o preenchimento de algumas


dessas lacunas.

Desta forma, o principal objetivo do presente estudo é


diagnosticar e analisar elementos críticos e oportunidades do
mercado de reciclagem e de coleta de materiais recicláveis –
a partir de experiências concretas e de dados primários.

A coleção de experiências bem e mal sucedidas visa


construir subsídios técnicos indispensáveis para a formulação
de políticas públicas de Redes de Comercialização Conjunta
como tecnologia social – que, por sua vez, viabiliza a
inclusão sócio-econômica e proporciona a organização e
valorização integrada dos materiais recicláveis coletados
pelos catadores de rua e de lixão.

O material reciclável tem como característica geral pouco


peso e muito volume. Pagar para carregar ar é muito freqüente
nas operações de coleta seletiva.

11
A REDE CATABAHIA, abordada na pesquisa deste projeto, é a primeira rede nacional que inaugurou esta
estratégia, sendo referência para o Brasil. Foi considerada em 2007, pelas Nações Unidas, como uma das 50
melhores experiências visando alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do MILÊNIO -- na categoria do
combate à miséria. Como experiência que é, acumulou um conjunto de práticas, que obteve sucesso. Trata-se
aqui de analisar a experiência, enfatizar a natureza da comercialização conjunta, sistematizá-las junto com
um conjunto de outras práticas e técnicas, visando constituir um modelo de agregação de valor em benefício
da inclusão social.
25

A densidade na distribuição do material reciclável num


território se deve a três elementos fundamentais, a saber: a
renda da comunidade que habita aquele território; a população
daquela região/cidade; e a presença de grandes empresas.

Quanto mais elevada a renda de uma comunidade, maior é a


proporção entre materiais recicláveis e o lixo orgânico
produzido nesse território. Da mesma forma, maior também será
o valor econômico per capita contido nos resíduos domésticos.
Qualquer catador de rua, organizado ou não, sabe disso -- o
que pode ser observado pela sua efetiva distribuição
territorial.

Quanto maior for a população de uma região e/ou cidade,


maior é a densidade territorial de resíduos existentes. O
número de catadores nesse território tende a acompanhar essa
densidade. O conhecimento do território e a forma de
escoamento do material reciclável são necessidades logísticas
essenciais à eficiência da atividade.

Quanto mais empresas existirem numa cidade/região maior


será a densidade de resíduos concentrada em pequenos espaços
territoriais. A negociação do acesso aos resíduos dos grandes
produtores de materiais recicláveis12 -- e a adequação da
coleta e triagem in loco desses materiais -- é uma informação
necessária para possibilitar o aumento das eficiências
físicas e econômicas.

A modelagem correta de captação de materiais recicláveis


-- através da distribuição num território de um determinado
conjunto numérico de entrepostos estrategicamente
localizados, até chegar a um galpão central -- é conhecimento
empírico muitas vezes não sistematizado, nem articulado aos
modelos formais existentes.

A modelagem correta para um consorciamento articulado


para transbordo entre carrinhos de coleta através de tração
humana e caminhões de recolhimento – com o objetivo de obter
o maior volume de materiais recicláveis com menor custo
econômico possível -- é também conhecimento empírico ainda
não-sistematizado, nem agregado a modelos formais.

Atualmente, os registros de montagem de sistemas de


captação de materiais recicláveis que levem em conta ao mesmo
tempo as variáveis de peso e volume são essencialmente

12
Supermercados, Shopping Centers, Cadeias Varejistas, Hotéis, Restaurantes e algumas indústrias.
26

erráticos. Isso é devido principalmente à irregularidade


temporal na distribuição dos resíduos urbanos quanto às
variáveis territoriais e níveis de renda da região
considerada. Aqui, novamente, o conhecimento empírico
adquirido joga um papel determinante na eficiência da
atividade.

Até o momento, modelos matemáticos de consorciamento para


fins logísticos através de rotinas computacionais -- que
considerem variáveis como centrais / entrepostos / galpões
e os transbordos entre carrinhos de coleta de tração humana e
caminhões de recolhimento – em geral produziram resultados
erráticos e pouco confiáveis.

Como dito acima, o conhecimento empírico das variações


sazonais específicas -- e mesmo dos períodos do dia
favoráveis à coleta -- são determinantes para o sucesso da
logística e de um desempenho eficiente13.

As questões apresentadas demonstram a importância de


reunir mais informações sobre o processo dinâmico de
valoração de preços dos materiais recicláveis, em
circunstâncias onde a logística tenha papel relevante.

A ausência dessas informações acarreta ineficiência e a


elevação de custos para os catadores de materiais recicláveis
-- seja pela simples adoção de sistemas desarticulados de
coleta, seja pela utilização ineficiente de caminhões de
transbordo.

Os pontos acima elencados ensejam a necessidade de


construir um informações estruturadas sobre qual modelos de
arranjo de circuitos logísticos de coleta seletiva sejam
economicamente sustentáveis e operacionalmente viáveis para
situações diversificadas, onde as variáveis supracitadas têm
intensidades diferentes em cada território, em cada época do
ano e até em cada hora do dia.

O presente estudo é estruturado em 4 partes, aqui


denotadas pelas letras maiúsculas do alfabeto latino A, B, C
e D:

A PARTE A ocupa-se com um estudo diagnóstico da REDE CATA


SAMPA, uma Rede de Comercialização Conjunta que foi

13
Portanto, em acordo com a referência ao “desenvolvimento das capacidades locais de inovação, [e]
modernização da infra-estrutura de disseminação da informação” - BID-Program Profile-Knowledge
Economy (KE) Program-Feb, 2008 – item 2.7. Nossa tradução, JD.
27

constituída na Região Metropolitana de São Paulo por dezenove


cooperativas de catadores de materiais recicláveis em
2006/07. O estudo dessa rede tornou-se fundamental para os
objetivos deste trabalho por ensejar a oportunidade de
estudar comparativamente os ganhos em eficiências e em
receitas obtidos pela comercialização conjunta. Um aporte de
recursos da Fundação AVINA viabilizou a inclusão desta etapa
neste trabalho.

A PARTE B foi diretamente inspirada pelo trabalho de


Márcio Magera14, que propõe e defende a empresarialização das
cooperativas de catadores de materiais recicláveis – por ele
consideradas ineficientes e incapazes de obter adequados
níveis de produtividade. A virtual inexistência de
experiências empresariais bem sucedidas nesse segmento no
Brasil – aonde a maior parte das organizações de catadores
tem a figura jurídica de cooperativas ou associações
independentes – tornou necessário o levantamento de dados em
uma experiência aparentemente bem sucedida que conta com
financiamento do BID. Na PARTE B é apresentada a avaliação da
experiência empresarial da ALTERVIDA em Assunção, Paraguai.
Seus resultados são comparados com os obtidos pela REDE CATA
SAMPA e os efeitos de inclusão social são justapostos. O
mesmo aporte de recursos da Fundação AVINA também viabilizou
a inclusão desta etapa neste trabalho.

A PARTE C analisa e propõe uma vasta Rede de


Comercialização Conjunta, composta por quatro Entrepostos e
uma Central de Logística e Administração. Quando entrar em
funcionamento poderá incorporar cerca de setenta e sete
organizações de catadores de materiais recicláveis
localizadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A
análise das eficiências produtivas e de mercado dessas
unidades possibilitou uma visão macroscópica que certamente
será útil, no futuro, para compor uma mais ampla estrutura de
comercialização em rede para o Estado da Bahia. Esta etapa
foi viabilizada por aporte de recursos do Banco do Brasil e
de sua Fundação, além da PETROBRÁS.

Finalmente, a PARTE D trata diretamente das cooperativas


que hoje constituem a REDE CATABAHIA. Essa rede é formada
pela organização intermunicipal de dez plantas de
cooperativas baianas de catadores de materiais recicláveis.
Visa à implantação de um organismo específico para o
desempenho de atividades relacionadas à coleta e

14
Cf. Magera, M. “ Os Empresários do Lixo – Um Paradoxo da Modernidade” – Editora Átomo – 2005.
28

comercialização de materiais recicláveis, gerando novos


postos de trabalho e definindo estratégias mais eficientes de
inserção no mercado. A REDE CATABAHIA focaliza suas ações em
projetos de geração de condições de competitividade para as
cooperativas de catadores através da Comercialização Conjunta
de materiais recicláveis.
29

PARTE A: A REDE CATA SAMPA

A.1. INTRODUÇÃO À PARTE A

Durante a execução do presente trabalho, surgiu a


oportunidade de efetuar o diagnóstico de uma rede de
Comercialização Conjunta que começava a ser estruturada na
Região Metropolitana de São Paulo, a REDE CATA SAMPA. Esta
rede foi explicitamente inspirada nos moldes da REDE
CATABAHIA – já pré-existente – mas exibia uma densidade de
volumes de materiais recicláveis que apenas o conglomerado
paulistano produz. Tornou-se evidente que analisar e entender
os procedimentos implementados pela REDE CATA SAMPA seria
instrumental para aumentar a robustez do presente trabalho,
dando origem a esta PARTE A.

A REDE CATA SAMPA foi criada em 2006 com o objetivo de


congregar cooperativas e associações de catadores de
materiais recicláveis na Região Metropolitana de São Paulo.
Hoje conta com 17 cooperativas/associações/grupos-em-
formação, além da chamada “Central”, um galpão no bairro do
Glicério, que joga o papel de racionalizador logístico, apoio
técnico, processamento e estocagem de materiais recicláveis.

Realizar este diagnóstico não foi uma tarefa simples!


Durante oito semanas foram efetuadas diversas campanhas de
levantamento de dados primários, via preenchimento direto de
questionários, entrevistas e envio eletrônico de dados
adicionais. Assim, partiu-se de um número inicialmente avaliado
em nove cooperativas/associações dentro da rede — as mais ativas
– para logo elevá-lo para onze, com a inclusão da Coopamare e do
galpão da REDE CATA SAMPA. Num segundo momento foram agregadas
mais duas cooperativas (CooperGlicério e CooperSantos), o que
exigiu uma nova rodada de levantamento de dados. Finalmente, ao
ficar mais bem explicitados os mecanismos de “comercialização
conjunta” e de “retiradas” a partir do processamento de
materiais de grandes fornecedores no galpão da central e/ou
provenientes de “feiras” e eventos, foram agregadas mais quatro
grupos-em-formação, ainda não propriamente constituídos como
cooperativas.15

15
Para facilitar a referência, todos essas cooperativas, associações e grupos-em-formação serão genericamente
chamados de “cooperativas” neste diagnóstico, apenas com o efeito de evitar cansativa circunlocução.
30

A tarefa de levantamento de dados no mês-base deste estudo


(agosto de 2007) foi ainda prejudicada pela própria existência
da Rede e da comercialização conjunta, uma vez que algumas
informações traziam “dupla contagem” em relação aos dados
fornecidos pela Central, ao passo que outras chegavam com a
comercialização conjunta já deduzida. Várias rodadas de
compatibilização das informações primárias foram necessárias
para que fosse possível emergir um conjunto de dados conexos e
depurados. Adicionalmente, o mecanismo das “retiradas” –
proporcionais ao número de trabalhadores-horas empenhados por
cada uma das cooperativas nas diversas empreitadas – contribuiu
para turvar um pouco mais o quadro: neste caso, como veremos
mais detalhadamente adiante, optou-se por considerar a proporção
de “retiradas” de cada cooperativa em um período mais amplo,
tomando-se aqui a média destinada a cada cooperativa no período
julho/agosto/setembro de 2007.
Dessa forma, embora o longo período de levantamento de
dados, crítica, depuração e adição de novos dados tenha sido
muito mais longo do que o inicialmente estimado, cremos que
tenha sido finalmente possível a observação analítica de um
quadro que manifesta de forma clara, a beleza e a
complexidade dessa empreitada coletiva que resulta da REDE
CATA SAMPA.
31

A.1.1. COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA

As dezessete cooperativas que hoje constituem a REDE CATA


SAMPA são muito diversas entre si: vão desde organizações de
alta eficiência, como é o caso da Coopamare, até grupos-de-
rua, não-formalizados em etapas de organização e que
apresentam baixíssima eficiência.

QUADRO A.1.1: DADOS GERAIS: NÚMERO DE COOPERADOS, PRODUÇAO


FÍSICA E VENDAS TOTAIS DAS COOPERATIVAS – Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

No QUADRO A.1.1 acima e nas FIGURAS A.1.1, A.1.2 e A.1.3


a seguir são apresentados os dados relativos aos números de
cooperados; gravimetria do volume físico produzido; e do
valor global das vendas de cada cooperativa para o mês de
agosto de 2007:
32

FIGURA A.1.1: NÚMERO DE COOPERADOS POR COOPERATIVA – REDE


CATA SAMPA – Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

É importante notar aqui que a “cooperativa” #18 -- aqui


representada como “REDE CATA SAMPA” -- refere-se ao galpão da
Central no Glicério, e os seus dados correspondem aos
processamentos que são coletivamente apropriados como
“retiradas”. O seu número de cooperados é, portanto, uma
média de catadores ativos no galpão no mês de agosto de 2007.
Por razões metodológicas que permitam a comparação e
avaliação relativas, a Central será aqui tratada como uma
“cooperativa”. Entretanto é necessário sempre lembrar que NÃO
se trata de uma cooperativa como as demais, uma vez que seus
resultados são repartidos entre cooperativas participantes da
REDE CATA SAMPA.
33

FIGURA A.1.2: PRODUÇÃO FÍSICA DAS COOPERATIVAS – REDE CATA


SAMPA – Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A primeira constatação é a considerável desproporção


entre a Coopamare e as demais cooperativas da rede. Por ser
maior e muito mais eficiente que as demais, a agregação de
seus dados sempre introduzirá um viés para mais que será, no
mais das vezes, neutralizado pela comparação dos dados
obtidos com a sua exclusão. Isto será observado sempre que o
viés seja notável, como veremos adiante.

Ademais, a Coopamare não participa da comercialização


conjunta e suas retiradas em receitas, a partir do material
processado no galpão, corresponde a apenas 5,3% do total
rateado e a 2% do seu faturamento bruto.

Esta participação marginal da Coopamare em relação às


atividades desenvolvidas pela rede será evidente nas seções
subseqüentes.
34

FIGURA A.1.3: VALOR DAS VENDAS DAS COOPERATIVAS – REDE CATA


SAMPA – Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A.1.2. ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPA

A REDE CATA SAMPA é estruturada ao redor de DUAS


atividades: a Comercialização Conjunta, e o processamento de
materiais arrecadados em grandes geradores, coleta seletiva,
feiras e eventos.
A Comercialização Conjunta permite que alguns tipos de
materiais sejam arrecadados em diversas cooperativas que não
tem escala produtiva que permita preços melhores: o objetivo
é reunir – e se for o caso estocar – materiais recicláveis
até que seja obtido o volume necessário para atender às
demandas em níveis de comercialização superiores aos que
seriam obtidos pela comercialização individual
descentralizada. Nesse sentido, a comercialização conjunta
une os esforços das diversas cooperativas e de fato é uma
forma eficiente de fazer frente a um mercado concentrado e
povoado por atravessadores.
35

O processamento de materiais arrecadados em grandes


geradores, coleta seletiva e feiras e eventos é feito no
galpão da Central do Glicério. As cooperativas interessadas

FIGURA A.1.4: ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA

em participar nos resultados, enviam catadores para cada


empreitada, e o número de horas dedicadas às tarefas comuns
por seus cooperados serve de parâmetro de referência para a
36

partilha dos recursos obtidos – descontados 5% relativos aos


custos operacionais, que revertem à própria Central.

A FIGURA A.1.4 acima procura descrever essa estrutura. As


linhas azuis ligadas ao círculo demonstram as cooperativas
que são beneficiadas pela comercialização conjunta. As linhas
vermelhas indicam que existe alguma participação das
cooperativas respectivas nas “retiradas” a partir do
processamento de materiais arrecadados em grandes geradores e
feiras e eventos.

As cores que preenchem os retângulos de cada cooperativa


indicam as suas eficiências relativas, e serão mais bem
qualificadas na análise que se segue nas próximas seções.
Entretanto, tomamos a liberdade de já explicitá-las desde
logo, com o objetivo de denotar os diferentes níveis de
eficiências globais relativas entre as cooperativas da REDE
CATA SAMPA.

Notar que a cooperativa #13 CooperSantos ainda não


participa de nenhuma dessas duas atividades da rede, embora
conste que ela é efetivamente coligada a ela.

A.1.3. O FUNCIONAMENTO DA CENTRAL DA


REDE CATA SAMPA

A metodologia de funcionamento do galpão da Central da


REDE CATA SAMPA foi detalhadamente fornecida pela sua
Assessoria de Logística.16 Quanto à comercialização conjunta:

“A venda conjunta no galpão não ocorre com datas pré-


estabelecidas. A comercialização no galpão ocorre somente
quando se acumula uma quantidade interessante de material,
suficiente para ser retirada ou entregue ao comprador. Essa
quantidade varia de material para material, mas segue essa
regra: papelão/papel branco/aparas plásticas - 5 ton.; copinho
plástico - 2 a 3 ton.; PEAD/PP - 2 ton.; tetrapak - 10 a 12
ton. Os 5% são deduzidos após a venda dos materiais e antes do
repasse às bases. Os custos com esta operação não são
deduzidos da mesma, mas, os 5% teriam, teoricamente, esse
papel. A dedução dos 5% ocorre sobre a receita bruta da
comercialização, ou seja, da venda ocorre o desconto dos 5% na
maioria dos casos, exceto quando se trata de Feiras e Eventos.

16
Os dados nesta seção são citados diretamente da correspondência com João Ruschel, Assessor de Logística
da REDE CATA SAMPA e aqui reproduzidos.
37

Neste caso, da venda dos materiais arrecadados são deduzidas


as despesas operacionais (combustível, transporte,
alimentação, pedágio, estacionamento, etc.), deduzido 5% e o
restante é distribuído às cooperativas que participaram do
processo, proporcionalmente às horas gastas por cada um de
seus integrantes.”

O envio de catadores de cooperativas da REDE CATA SAMPA


para o galpão parece ser voluntário, embora não tenha sido
possível estabelecer com clareza a natureza dos critérios que
norteiam a escalação dos nomes que são enviados, nem sequer
como o número de catadores de cada cooperativa à disposição
do galpão é determinado. Nas palavras da Assessoria de
Logística:

“Quando falamos nas cooperativas que enviam cooperados


para o galpão, temos duas situações:
a) Quando ocorrem Feiras e Eventos, algumas cooperativas,
normalmente de 6 a 8 bases, costumam enviar pessoas para
contribuir. As bases que normalmente não enviam pessoas não o
fazem por localizarem-se muito distante das Feiras, o que
encarece muito o transporte das pessoas, toma muito tempo e
desgasta fisicamente, e outras não enviam pessoas por acabarem
se prejudicando em suas atividades cotidianas (poucas
pessoas);
b) Quando as bases trazem materiais ao galpão para
prensagem, algumas enviam, ou não, pessoas para realizar este
trabalho (fazer os fardos). Ultimamente, a maioria das bases
que enviam materiais ao galpão não tem encaminhado pessoas.
Neste caso, a equipe do galpão [...] realiza este trabalho e a
base dona do material, abre mão, além dos 5% da Rede, mais 10%
por não ter beneficiado seus materiais com sua própria mão-de-
obra.
Quem normalmente envia pessoas para Feiras ou para prensar
materiais é:
- #01 Cooperalto (participa de Feiras);
- #03 Coures (participa de Feiras);
- #07 Cruma (participa de Feiras);
- #04 Cora (participa de Feiras);
- #02 Chico Mendes (participa de Feiras);
- #10 Fênix (participa de Feiras e prensa materiais no
Galpão);
- #09 Cruffi (participa de Feiras e prensa materiais no
Galpão);
- #05 Jacupia (participa de Feiras e prensa materiais no
Galpão);
- #14 Sempre Verde (participa de Feiras e prensa materiais
no Galpão);
- #15 Ame (prensa materiais no Galpão);
- #16 Camare (prensa materiais no Galpão);
- #18 Coopersampa (prensa materiais no Galpão).
38

Quem não tem enviado pessoas ao galpão, ou a Feiras, é:


- #13 Coopersantos;
- #06 Ares;
- #08 Coofemar;
- #11 Coopamare;
- #12 Cooperglicério;
- #17 Magnália Dei.”

Aparentemente a declaração acima reflete uma posição de


momento, uma vez que os dados de repartição das retiradas
referentes aos meses de julho, agosto e setembro de 2007 –
enviados pela mesma Assessoria de Logística – incluem a #06
Ares, a #08 Coofemar, a #11 Coopamare, e a #11 CooperGlicério
entre as participantes, e excluem a #14 Sempre Verde, a #15
Ame e a #16 Camare. Em outras palavras, os dados numéricos
encaminhados após repetidas consultas não correspondem às
descrições acima. Optou-se por aceitar os dados numéricos
como descritivos e representativos do que se passou no
período referido, e as declarações acima como uma avaliação
momentânea da disponibilização de pessoal das cooperativas da
rede no trabalho do galpão. Esta opção metodológica indica
que podem existir flutuações sensíveis no médio prazo entre
as efetivas fatias que são destinadas na forma de “retiradas”
a cada uma das cooperativas que participam da REDE CATA
SAMPA.

Para este trabalho, seguiremos a descrição para as formas


de participação das cooperativas na REDE CATA SAMPA
apresentada no QUADRO A.1.2:17

17
Parece ser possível que esses tipos de participação possam ser alterados em períodos diferentes, porém esta
foi a configuração que a equipe executora conseguiu levantar a partir dos dados recolhidos no período da
pesquisa direta.
39

QUADRO A.1.2: PARTICIPAÇÃO DAS COOPERATIVAS NAS REDE CATA


SAMPA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Quanto às dinâmica e logística internas à rede,


reproduzimos abaixo a descrição mais detalhada fornecida pela
administração da REDE CATA SAMPA:

“METODOLOGIA E ESTRUTURA DO GALPÃO E EQUIPE COOPERSAMPA

I) Introdução

A equipe e o galpão Coopersampa atendem a quatro tipos


diferentes de modalidade, que são:

1) Grandes Geradores;
2) Coleta Seletiva;
3) Comercialização Conjunta;
4) Fortalecimento a Grupos Pouco Estruturados.

Abaixo, veremos, de forma breve, um pouco sobre cada


modalidade.
40

II) Tipos de Modalidades

1) Grandes Geradores

A modalidade Grandes Geradores pode ser compreendida


observando-se, de forma geral, dois aspectos:

a) Como o conjunto de atividades e esforços despendidos por


dois ou mais grupos, envolvidos diretamente no processo de
coleta e beneficiamento (triagem e enfardamento) de materiais
recicláveis;
b) Como o processo de coleta e beneficiamento de materiais
recicláveis oriundos de fontes com grande capacidade de
geração de resíduos, onde grande capacidade pode ser entendida
como um volume médio de, no mínimo, uma tonelada por dia, por
gerador.

Com base nestas descrições, podemos classificar como


Grandes Geradores as seguintes possibilidades:

i) Feiras e eventos de grande porte;


ii) Grandes empresas privadas, de diversos setores,
produtivos ou não, como, por exemplo, indústria e varejo;
iii) Entidades públicas de grande porte;
iv) Condomínios, desde que atendam a pelo menos um dos
requisitos acima descritos.

2) Coleta Seletiva

Pode ser compreendida como o processo de coleta e


beneficiamento de materiais recicláveis, onde o mesmo grupo de
catadores realiza, de forma constante, esse trabalho.
Nesse contexto, podemos considerar como geradores as
seguintes possibilidades:

a) Condomínios que não atendam a nenhum dos requisitos aos


Grandes Geradores;
b) Residências;
c) Programas municipais que gerem postos de trabalho aos
catadores locais.
41

3) Comercialização Conjunta

Trata-se do resultado prático da união de diversas


cooperativas que, agregando seus materiais recicláveis e
tratando-os com padrões semelhantes de qualidade, conseguem
vendê-los diretamente à indústria (início do ciclo produtivo),
por um valor mais solidário e justo.
A Comercialização Conjunta pode ocorrer de duas formas:

a) Com estocagem no galpão Coopersampa – as


cooperativas/associações vinculadas à REDE CATA SAMPA têm seus
materiais beneficiados e estocados no galpão para uma
comercialização futura, agregando materiais de bases diversas,
até que se obtenha o volume mínimo necessário;
b) Sem estocagem – as vendas podem ocorrer diretamente das
bases envolvidas na REDE CATA SAMPA, onde o(s) próprio(s)
comprador(es) pode(m) ser responsabilizar pela retirada dos
recicláveis.

4) Fortalecimento a Grupos Pouco Estruturados

O galpão Coopersampa tem como uma de suas principais


finalidades o fortalecimento das bases vinculadas à REDE CATA
SAMPA através:

a) Da disponibilidade da estrutura do galpão Coopersampa,


com bancadas de triagem, “bags”, prensas, área de estocagem,
entre outros benefícios;
b) Da disponibilidade de veículos para o transporte de
materiais recicláveis para beneficiamento ou mesmo
comercialização dos mesmos;
c) Do auxílio de uma equipe técnica contratada pelo Projeto
Cata Sampa, onde são disponibilizadas formações e o suporte na
execução de tarefas específicas.

Considerações Finais

É fundamental mencionarmos dois itens:

a) O instrumento jurídico que regulará as normas e relações


inerentes ao galpão e à equipe Coopersampa é o Instituto de
Base Orgânica Cata Sampa, devidamente constituído;
Está prevista a adoção de iniciativas educativo-sociais,
como Programas de Inclusão Digital, capacitações gerais e
formações diversas, que buscam propiciar o desenvolvimento dos
catadores, comunidade local e sociedade em geral.”
42

FIGURA A.1.5: ESTRUTURA DA ÁREA DE LOGÍSTICA DA REDE CATA


SAMPA

ESTRUTURA DA ÁREA DE LOGÍSTICA

R O B E R T O

WILSON (KULA) LILIAN

JOÃO RUSCHEL
(TÉC. LOGÍSTICA)

ANTÔNIO CLAÚDIO JOÃO CARLOS MARCOS


(MOTORISTA) (MOTORISTA) (MOTORISTA)

FONTE: CATASAMPA 2007

FIGURA A.1.6: ESTRUTURA DO GALPÃO CATA SAMPA

ESTRUTURA DO GALPÃO COOPERSAMPA

COORD.
COMERCIALIZAÇÃO LOGÍSTICA
GERAL

SECRETÁRIA AUX. CONTÁBIL

COORD. OPERAC.

MOTORISTAS SEGURANÇAS

COOPERADOS EQUIPE
COOPERSAMPA

FONTE: CATASAMPA 2007


43

FIGURA A.1.7: FLUXOGRAMA DE ENTRADA, BENEFICIAMENTO,


ESTOQUE E SAÍDA DE MATERIAIS – REDE CATA SAMPA
FLUXOGRAMA DE ENTRADA, BENEFICIAMENTO, SECRETÁRIA COORD. EQUIPE AUX.
MOTORISTAS COOPERADOS COMPRADOR
ESTOQUE E SAÍDA DE MATERIAIS / ADM. OPERAC. COMERCIALIZ. CONTÁBIL
1) CONTATO PARA UTILIZAÇÃO DO GALPÃO

2) COLETA DOS MATERIAIS

3) TRANSPORTE DOS MATERIAIS AO GALPÃO

4) CHEGADA DO MATERIAL

5) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE ENTRADA

6) O MATERIAL É ENCAMINHADO À PESAGEM

7) A PESAGEM É RELACIONADA NO CONTROLE DE ENTRADA

8) O MATERIAL É ENCAMINHADO AO PRÉ-ARMAZENAMENTO

9) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE PRÉ-ARMAZENAGEM

10) O MATERIAL É ENCAMINHADO À TRIAGEM

11) O MATERIAL SEPARADO É ENCAMINHADO À PRENSAGEM

12) O MATERIAL É PRENSADO

13) O MATERIAL É ENCAMINHADO À PESAGEM

14) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE FARDOS

15) O MATERIAL É INSPECIONADO

16) O MATERIAL RETORNA À TRIAGEM

17) O MATERIAL RETORNA À PRENSAGEM

18) O CONTROLE DE FARDOS É CORRIGIDO, SE NECESSÁRIO

19) O MATERIAL É ENCAMINHADO AO ESTOQUE

20) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE ESTOQUE

21) O MATERIAL É COMERCIALIZADO

22) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE COMERCIALIZAÇÃO

23) O MATERIAL SERÁ RETIRADO NO GALPÃO

24) O MATERIAL SERÁ ENTREGUE AO COMPRADOR

25) O MATERIAL É RELACIONADO NO CONTROLE DE SAÍDA

26) SAÍDA DO MATERIAL

27) REPASSE DOS RECURSOS

28) O CONTROLE DE REPASSE DE RECURSOS É PREENCHIDO

29) OS CONTROLES SÃO ARQUIVADOS


LEGENDA : OPERAÇÃO INSPEÇÃO TRANSPORTE
FONTE: CATASAMPA 2007
44

A.2. ANÁLISE DA PRODUÇÃO E


COMERCIALIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DA
REDE CATA SAMPA

Nesta seção serão apresentadas as análises da produção e


comercialização das cooperativas da REDE CATA SAMPA, do ponto
de vista da avaliação gravimétrica das produções físicas de
materiais recicláveis, seguida da estimativa dos valores de
comercialização bruta desses materiais. Em todos os casos são
destacados vinte grupos de materiais recicláveis e os
montantes desses comercializados com a rede, fora da rede e
os valores totais produzidos e comercializados.

A.2.1) PRODUÇÃO FÍSICA DAS COOPERATIVAS DA


REDE CATA SAMPA

Nos QUADROS A.2.1 a A.2.6 a seguir são tabulados os


valores da gravimetria em Kg referentes às produções físicas
de cada uma das cooperativas da REDE CATA SAMPA:
45

QUADRO A.2.1: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (I) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


46

QUADRO A.2.2: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (II) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Observar que, em cada caso, são explicitados os


percentuais do que é comercializado através da REDE CATA
SAMPA e o que é comercializado localmente, de forma
descentralizada.
47

QUADRO A.2.3: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (III) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


48

QUADRO A.2.4: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (IV) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


49

QUADRO A.2.5: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (V) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


50

QUADRO A.2.6: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (VI) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


51

O QUADRO A.2.7 abaixo sumariza a produção física total


dos grupos de vinte materiais recicláveis comercializados na
rede, fora da rede e o total geral.

Observa-se que Vidro, Ferro, Metais Não-Ferrosos e


Plástico Misto, e Outros Materiais Não-Discriminados não são
comercializados de forma conjunta pela REDE CATA SAMPA.

Os demais materiais são parcialmente comercializados


através da Rede e localmente. Notar que seis grupos de
materiais recicláveis têm mais de dois terços de sua
comercialização efetuada através da REDE CATA SAMPA.

Em termos globais a comercialização conjunta corresponde


a 22% do volume físico gravimétrico comercializados pelas
cooperativas da rede.

QUADRO A.2.7: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO


E FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


52

A.2.2) VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS


PELAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA

Nos QUADROS A.2.8 a A.2.16 a seguir são tabulados os


valores dos materiais comercializados pelas cooperativas da
REDE CATA SAMPA. Deve ser observado que na última coluna
(sombreada em rosa) de cada cooperativa estão listados
valores que seriam obtidos pela comercialização local – com
os preços individuais explicitamente declarados – caso a
comercialização conjunta não existisse. Os percentuais
apresentados na base dessas colunas deve ser interpretado
como “ganho de escala” na comercialização conjunta auferido
por cada cooperativa. Notar também que certos produtos são
comercializados apenas na presença da rede, pois as
cooperativas não teriam volumes nem mecanismos para efetivar
a comercialização dos respectivos materiais recicláveis.

QUADRO A.2.8: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (I) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


53

QUADRO A.2.9: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (II) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.10: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (III) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


54

QUADRO A.2.11: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (IV) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.12: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (V) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


55

QUADRO A.2.13: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (VI) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.14: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (VII) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


56

QUADRO A.2.15: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (VIII) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.16: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (IX) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


57

O QUADRO A.2.17 abaixo sumariza os valores globais da


comercialização de materiais recicláveis das cooperativas
dentro e fora da REDE CATA SAMPA. Em valores correntes (R$)
percebe-se que o percentual comercializado através da rede
atinge 28 pontos percentuais, levando a um ganho de escala de
cerca de 16% no agregado.

QUADRO A.2.17: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Embora esses valores possam parecer relativamente


pequenos, é necessário entender que a não-participação da
comercialização conjunta da Coopamare e de duas outras
cooperativas menores viesam criticamente esses dados
percentuais para baixo, como vemos no QUADRO A.2.18 abaixo.

Observa-se que o percentual dos valores da comerciali-


zação conjunta sobe para 38% quando excluída a Coopamare; e a
42% quando também excluídas a Chico Mendes e a CooperSantos:
58

QUADRO A.2.18: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) – Excluídas as que não fazem
comercialização conjunta - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A.2.3) AVALIAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO CONJUNTA:


VOLUME E VALORES DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS NA
REDE CATA SAMPA

Na seção anterior foi possível observar que os níveis de


participação das cooperativas na comercialização conjunta é
bastante desuniforme.

Em um extremo situam-se as cooperativas que não


participam da comercialização conjunta – ou que o fazem de
uma maneira muito marginal.

É compreensível que cooperativas como a #13 CooperSantos


(que não participa) e a #3 Coures (que tem apenas 2% de suas
vendas na rede) tenham dificuldades de integração à rede
pelas distâncias envolvidas entre as suas sedes e o galpão da
Central do Glicério. Afinal a primeira situa-se em Santos e a
segunda em Suzano – não mais propriamente na Região
Metropolitana de São Paulo. As distâncias envolvidas ainda
dificultam o transporte dos materiais e podem inviabilizar
uma logística eficiente.

Mas é possível calcular – dados os diferenciais de preços


dos materiais recicláveis obtidos pela comercialização local
e a conjunta – que a CooperSantos poderia obter um ganho de
até 42% através da rede, e a Coures realizar um benefício até
130% maior.
59

Entretanto, parece mais difícil explicar a ausência de


comercialização em rede da #02 Chico Mendes e da #11
Coopamare, ambas situadas na cidade de São Paulo: a primeira
poderia ter uma vantagem até 25% maior, e mesmo a Coopamare –
a maior e mais eficiente de todas elas – teria um potencial
de ganhos até 20% maior, caso aderissem à comercialização
conjunta.

QUADRO A.2.19: GANHOS COM A COMERCIALIZAÇÃO NA REDE


CATA SAMPA – Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

No outro extremo, pode ser observado no QUADRO A.2.19,


que algumas cooperativas vêm obtendo ganhos percentuais
consideráveis com a comercialização conjunta: #15 Ame (67%);
#06 Ares (54%); #16 Camare (52%); #14 SempreVerde (51%)— a
maioria de grupos-em-formação e cooperativas ainda pouco
estruturadas.

Assim, podemos tirar uma conclusão preliminar que a


comercialização conjunta vem sendo capaz de dar escala e
preços melhores para cooperativas menos estruturadas e
60

equipadas – ao mesmo tempo em que até grandes cooperativas


como a Coopamare teriam a ganhar com o comércio em rede.

O QUADRO A.2.20 e as FIGURAS A.2.1 e A.2.2 ilustram e


sumarizam as participações de todas as cooperativas da REDE
CATA SAMPA na comercialização conjunta:

QUADRO A.2.20: Quantidades e Valores de Materiais


Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA -
JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


61

FIGURA A.2.1: GRAVIMETRIA DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS


DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


62

FIGURA A.2.2: VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A presença da Coopamare na tabulação agregada – e sua


ausência na comercialização conjunta – viesam os valores e
dificulta a visualização dos gráficos.

A fim de evidenciar melhor o papel da comercialização


conjunta entre as cooperativas menores e menos eficientes,
reproduzimos os mesmos dados sem a Coopamare no QUADRO A.2.21
e nas FIGURAS A.2.3 e A.2.5. As FIGURAS A.2.4 e A.2.5
explicitam comparativos da dispersão entre comercialização
dentro e fora da REDE CATA SAMPA para volumes e valores: pode
ser observado que ainda existem degraus de ampliação da
comercialização conjunta a serem conquistados, dadas as
assimétricas inserções das cooperativas nesse processo.
63

QUADRO A.2.21: Quantidades e Valores de Materiais


Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA -
JUL/AGO/SET 2007 – SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


64

FIGURA A.2.3: GRAVIMETRIA DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS


DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007 – SEM A
COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

FIGURA A.2.4: COMPARATIVO DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS


DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007 – SEM A
COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


65

FIGURA A.2.5: VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E


FORA DA REDE - em R$ - JUL/AGO/SET 2007 – SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

FIGURA A.2.6: COMPARATIVO DOS VALORES DOS MATERIAIS


COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET
2007 – SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


66

A.3. RETIRADAS DO GALPÃO A PARTIR DO


PROCESSAMENTO DE GRANDES GERADORES,
COLETA SELETIVA, FEIRAS E EVENTOS.

Deve ter ficado bastante claro a partir da leitura da


seção anterior que a “cooperativa” #18 REDE CATA SAMPA – que
é a representação do galpão da Central aqui adotada – é a
mais inserida na comercialização conjunta, uma vez que é a
sua promotora quanto à logística e quanto às vendas para a
indústria.

Como vimos também, o funcionamento do processamento no


galpão recruta catadores de diversas cooperativas da rede,
contabiliza as horas dedicadas ao trabalho coletivo por cada
um deles, e reverte 95% do apurado (no caso mais geral) às
cooperativas fornecedoras da mão-de-obra na forma de
“retiradas”. Essas retiradas são, em princípio, proporcionais
às horas dedicadas pelos catadores de cada cooperativa à
produção conjunta.
A obtenção de dados coerentes sobre essas retiradas não
foi uma tarefa trivial, uma vez que este processo ainda se
encontra em fase de implantação plena -- e aparentemente
apresentando consideráveis flutuações em volume e valores
produzidos e revertidos às cooperativas. É verdade que FEIRAS
e EVENTOS podem ter ocorrência errática e ocasional, porém os
materiais recicláveis procedentes de grandes geradores e da
coleta seletiva devem prover considerável volume previsível
que contribuísse eventualmente para a estabilização relativa
desses procedimentos, aumentando o grau de sistematização das
retiradas de cada cooperativa.

Isto dito, para os efeitos deste diagnóstico optou-se por


obter uma média das retiradas no período julho / agosto /
setembro de 2007, para que fossem evitadas flutuações
extremas. Ainda assim, deve-se ter em mente que os valores
aqui apresentados são, por assim dizer, episódicos – como
ainda parecem ser todos os valores de retiradas nesta fase de
implantação da REDE CATA SAMPA. Desta forma, os dados
apresentados a seguir devem ser vistos mais como uma
“descrição fotográfica” de momento, do que uma estrutura
ossificada de distribuição de resultados.

Com base nos dados apresentados pela Assessoria de


Logística da REDE CATA SAMPA foi possível estimar a
67

participação média das cooperativas nas “retiradas”. O QUADRO


A.3.1 descreve esses percentuais:

QUADRO A.3.1: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DAS COOPERATIVAS NAS


RETIRADAS DA CENTRAL – REDE CATA SAMPA –
JULHO/AGOSTO/SETEMBRO DE 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Como pode ser imediatamente visto, as cooperativas #07


Cruma, #09 Cruffi e #12 CooperGlicério mantiveram elevadas
participações nas atividades do galpão da Central, sendo a
primeira beneficiada por mais de um quinto de todas as
retiradas.

Com base nesses percentuais, torna-se possível a


construção de uma estimativa do faturamento bruto de cada uma
das cooperativas no período. O QUADRO A.3.2 descreve as
origens e montantes obtidos a partir de cada uma das
atividades na REDE CATA SAMPA, enquanto o QUADRO A.3.3 avalia
os GANHOS obtidos com a comercialização conjunta, com
retiradas e ganhos totais com a REDE CATA SAMPA.
68

QUADRO A.3.2: Faturamento Total: Valores de Materiais


Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA – e
Retiradas de Feiras e Galpão - AGO 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.3.3: Avaliação Percentual dos Ganhos: Valores de


Materiais Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA –
e Retiradas de Feiras e Galpão - AGO 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


69

De forma semelhante ao que foi observado na comerciali-


zação conjunta, pode-se perceber que a inclusão das retiradas
exacerba as disparidades dos efeitos positivos da existência
da REDE CATA SAMPA sobre as diferentes cooperativas.

De uma forma geral, parece que a rede exerce um efeito


positivo, mais visível sobre as cooperativas menos
aparelhadas e mais desorganizadas, e isto soa desejável. A
FIGURA A.3.1 descreve os “ganhos globais” quando rebatidos
sobre os valores auferidos sem a REDE CATA SAMPA:

FIGURA A.3.1: GANHOS GLOBAIS PROPORCIONADOS PELA REDE CATA


SAMPA - AGO 2007 – EM R$

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


70

A.4. EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS


COOPERATIVAS DA
REDE CATA SAMPA

Um critério muito caro à análise econômica é o critério


de eficiência. Existem muitas maneiras de se procurar medir a
eficiência de um processo produtivo ou de uma organização.
Uma das mais comuns é a utilização da relação
(produto)/(trabalho) – tanto em termos físicos, como em
termos de valoração (R$) – a fim de permitir que sejam
avaliados eventuais diferenciais na produção per capita, ou
seja, por trabalhador cooperado.

Essa é uma medida da produtividade média, ou


eficiência que passa a ser utilizada nesse trabalho.18 Nesta
seção são apresentados os dados sobre a eficiência física, e
na próxima seção as estimativas sobre a eficiência econômica.

As eficiências físicas das cooperativas da REDE CATA


SAMPA – ou suas produtividades médias da produção física per
capita, ou seja, por cooperado, medidas em Kg/mês – são
apresentadas no QUADRO A.4.1. Sombreados em amarelo estão os
valores SEM a rede, e suas ordenações; em verde os valores
COM a rede e as novas ordenações relativas, além dos
percentuais de “ganhos” obtidos pela existência da rede.

18
Aqui é adotada a mesma conceituação apresentada no trabalho de Damásio, J. “ANÁLISE DO
CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O
SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.
71

QUADRO A.4.1: Eficiências Físicas das Cooperativas da REDE


CATA SAMPA - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


A visualização das alterações na ordenação relativa das
cooperativas segundo as suas eficiências físicas SEM a rede e
COM a rede é razoavelmente difícil de ser apreendida no
QUADRO A.4.1. Assim, reordenando as cooperativas de acordo
com suas eficiências físicas decrescentes finais COM a rede,
obtemos os dados apresentados no QUADRO A.4.2, onde os
movimentos relativos podem ser mais bem apreciados:

QUADRO A.4.2: Eficiências Físicas das Cooperativas da REDE


CATA SAMPA - AGO/2007 - REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


72

As alterações nas eficiências físicas – que afetam as


ordenações relativas SEM e COM a REDE CATA SAMPA – podem ser
ainda melhor percebidas observando a FIGURA A.4.1. Deve ser
entendido que a variação nas ordenações relativas das
eficiências físicas são resultantes dos efeitos de ganhos
muito diferenciados obtidos pelas cooperativas em suas
participações na rede. Basta lembrar que caso os ganhos
fossem uniformemente distribuídos entre as cooperativas, a
ordenação original não teria sido alterada.

Na próxima seção, com as evidências geradas pelas


ordenações das eficiências econômicas, o quadro ficará mais
explícito.
73

FIGURA A.4.1: Eficiências Físicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 -
REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


74

A.5. EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS


COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA

As eficiências econômicas – ou retornos brutos médios –


são calculados pelos valores comercializados das produções
físicas per capita, ou seja, por cooperado, medidos em
R$/mês. O QUADRO A.5.1 apresenta os valores desses
indicadores de eficiência econômica para as cooperativas da
REDE CATA SAMPA.

Para tornar a leitura desse QUADRO mais imediata, é


necessário lembrar que agora as eficiências econômicas
relativas são afetadas DUAS VEZES em suas ordenações, a
partir de suas posições originais SEM a rede!

As colunas sombreadas em amarelo representam as


respectivas eficiências econômicas das cooperativas SEM a
REDE CATA SAMPA. As colunas sombreadas em verde – após
contabilização dos ganhos pela comercialização conjunta –
representam as eficiências econômicas e suas variações em
ordenações relativas COM a rede. Finalmente, após a adição
das retiradas do galpão da Central, chega-se às colunas
sombreadas em rosa, representando as eficiências econômicas
finais, em uma nova reordenação relativa.

Novamente, como no caso das eficiências físicas, o QUADRO


A.5.2 reapresenta os mesmos valores, agora reordenados
segundo os valores decrescentes de suas eficiências
econômicas finais.

A FIGURA A.5.1 descreve esses movimentos de variação das


eficiências econômicas e de suas ordenações relativas nas
três etapas: sem a rede; com a comercialização conjunta; e a
versão final, após a incorporação das retiradas.
75

QUADRO A.5.1: Eficiências Econômicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


76

QUADRO A.5.2: Eficiências Econômicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 -
REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


77

FIGURA A.5.1: Eficiências Econômicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 -
REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


78

A.6. GANHOS DE EFICIÊNCIA NA REDE CATA


SAMPA E EFICIÊNCIA GLOBAL

Conforme apresentado nas Seções A.4 e A.5 anteriores,


observamos que a presença da REDE CATA SAMPA de fato adiciona
logística, economias de escala e racionalidade ao processo de
comercialização que são traduzidos em ganhos de eficiência
para as cooperativas. Também foi observado que esses ganhos
são muito diferentes entre as cooperativas da rede, e o
QUADRO A.6.1 resume esses ganhos, além de suas ordenações
relativas:

QUADRO A.6.1: Ganhos de Eficiência das Cooperativas da REDE


CATA SAMPA pela Comercialização Conjunta e Central - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Da mesma maneira que nas seções precedentes, o QUADRO


A.6.2 reproduz os dados acima segundo uma reordenação das
eficiências econômicas finais em ordem decrescente.
79

QUADRO A.6.2: Ganhos de Eficiência das Cooperativas da REDE


CATA SAMPA pela Comercialização Conjunta e Central - AGO/2007
– REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A FIGURA A.6.1 reordena as cooperativas da REDE CATA


SAMPA segundo os ganhos em eficiência econômica final, após a
inclusão da comercialização conjunta e das retiradas do
galpão da Central do Glicério.

Observa-se que, embora haja exceções, os maiores ganhos


em eficiência econômica tendem a ser auferidos pelas
cooperativas menores e/ou menos estruturadas. Em particular,
observa-se que a Coopamare – a mais organizada e eficiente
cooperativa de catadores de materiais recicláveis da cidade
de São Paulo – quase não é beneficiada pela existência da
REDE CATA SAMPA – até agora – sendo ainda uma incógnita saber
se algum dia ela será devidamente integrada.

Do ponto de vista formal isto parece ser um contra-senso,


uma vez que a plena entrada da Coopamare na rede traria
benefícios amplos tanto para ela mesma, como para as demais
cooperativas da rede – uma vez que existe espaço para
adicionais economias de escala e ganhos sinergéticos.
80

FIGURA A.6.1: Ganhos de Eficiência das Cooperativas da REDE CATA SAMPA pela
Comercialização Conjunta e Central - AGO/2007 – REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


81

Isto visto, cabe agora uma pergunta retórica: mas, se as


cooperativas são beneficiadas pelos aumentos de suas
eficiências físicas e econômicas (embora diferencialmente),
alterando as suas respectivas ordenações relativas, o que é
que isto significa em relação à categorização de suas
eficiências absolutas? Em outras palavras, já sabemos que as
eficiências físicas e econômicas são alteradas, mas, o que
isto altera a situação original dessas cooperativas? Em
geral, melhoram as suas posições, já sabemos, mas permanecem
ineficientes? Ou serão capazes de apresentar saltos de
produtividades que as façam mudar de categorias de
eficiência?

É evidente que para tentar dar uma resposta minimamente


satisfatória a essas perguntas, NÃO podemos apenas continuar
a tomar como referências tão-somente as próprias cooperativas
da REDE CATA SAMPA – já que isto simplesmente resultaria em
raciocínio circular, passível de falseamento empírico.
Tampouco é o caso de buscar a introdução de análises
estatísticas mais rebuscadas, uma vez que a comercialização
conjunta e os mecanismos de retiradas introduzem
capilaridades entre as cooperativas que impedem que sejam
tratadas como unidades isoladas e auto-suficientes.

Por outro lado, é justamente a existência dessas


capilaridades que trazem à luz o mérito da REDE CATA SAMPA...

A atitude que permite uma saída desse raciocínio circular


é tomar como quadro-de-fundo (framework) alguma amostra de
cooperativas de catadores de materiais recicláveis que fosse
representativa do quadro nacional, sobre o qual então fossem
sobrepostas as cooperativas da REDE CATA SAMPA, em suas
etapas de ganhos de eficiência. Se isso fosse feito, então
seria possível não apenas categorizar os respectivos ganhos
de eficiência, como também seria possível estimar as
eficiências globais e eventuais mudanças de categorização.

Para lançar um pouco de luz a essas questões, utilizamos as


mesmas vinte cooperativas desidentificadas, amostradas em um
estudo anterior.19 Naquele estudo foram estudadas três
cooperativas de alta produtividade global; oito cooperativas
de média produtividade global; e nove cooperativas de baixa
produtividade global. O QUADRO A.6.3 apresenta o cruzamento

19
Favor consultar Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE
TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.
82

QUADRO A.6.3: Eficiência Comparativa das Cooperativas da REDE


CATA SAMPA - Ordenação - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


83

dos dados daquele estudo com as dezessete cooperativas da


REDE CATA SAMPA.

Na primeira coluna estão situadas as vinte cooperativas


da amostra daquele estudo, identificadas por abreviaturas
como COOP 01 a COOP 20, e estratificadas segundo as suas
eficiências globais em alta eficiência global (faixa
horizontal sombreada em azul; média eficiência global
(sombreado verde); e baixa eficiência global (sombreado
amarelo). Observar que a análise multivariada aqui aplicada
agrupou a COOP 01 – naquele estudo considerada como de baixa
eficiência global, a uma nova categoria que se tornou
necessária: a área horizontal sombreada em rosa, significando
cooperativas de baixíssima eficiência global.

A segunda coluna apresenta as vinte cooperativas daquela


amostra agrupadas estatisticamente com as dezoito
cooperativas da REDE CATA SAMPA, sem a consideração dos
ganhos da rede. Observamos que no grupo de alta eficiência
global encontramos as COOP 18 a 20 (do estudo anterior) mais
a #11 Coopamare e a #18 REDE CATA SAMPA (o galpão da Central)
– que de resto apresenta a mais alta produtividade global
dentre todas – aliás, como deveríamos esperar que fosse,
graças às características favoráveis peculiares (grandes
fornecedores, coleta seletiva, feiras, eventos). No grupo de
média eficiência global situam-se as COOP 10 a 17 e as
cooperativas (em ordem decrescente) #02 Chico Mendes e #03
Coures. No grupo de baixa eficiência global colocam-se as
COOP 02 a 09 e as cooperativas #06 Ares; #05 Jacupia; #04
Cora; #12 CooperGlicério; #07 Cruma; #13 CooperSantos; #08
Cofemar; #09 Cruffi; e #01 Cooperalto. Finalmente, no último
grupo, de baixíssima eficiência global, encontramos a COOP
01, além das cooperativas #17 Magnália Dei; #10 Fênix; #15
Ame; #16 Camare; e #14 SempreVerde. Essa filiação a grupos de
eficiência global será a utilizada daqui por diante para
proceder às análises agregadas. Em outras palavras, apenas
uma cooperativa (a Coopamare) mais a Central serão
consideradas de alta eficiência global; duas outras de média
eficiência global; nove cooperativas de baixa eficiência
global; e cinco de baixíssima eficiência global.

Com o quadro das vinte cooperativas do estudo anterior


mantido estático, as duas últimas colunas explicitam os
movimentos relativos “para cima” das cooperativas da REDE
CATA SAMPA, na medida em que são computados os “ganhos de
eficiências” físicas e econômicas obtidos pela
comercialização conjunta e pelas retiradas do galpão.
84

Pode ser agora observados, em toda a sua extensão, os


benefícios gerados pela REDE CATA SAMPA às suas cooperativas:
a última coluna mostra como algumas delas foram “promovidas”
entre categorias, resultando no seguinte quadro final: três
(inclusive o galpão) entre as de alta eficiência global;
cinco entre as de média eficiência global; sete de baixa
eficiência global; e três ainda entre as de baixíssima
eficiência global.

O QUADRO A.6.4 procura explicitar esses “movimentos de


ganhos de eficiência global” com a utilização das mesmas
cores do QUADRO A.6.3.

QUADRO A.6.4: Eficiência Global das Cooperativas da REDE CATA


SAMPA - Ordenação - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Esses resultados parecem explicitar de forma cabal que a


REDE CATA SAMPA -- na forma em que foi concebida, e na forma
em que atuou no período no qual foram coletados os dados – de
85

fato contribui de forma positiva para o aumento da eficiência


das cooperativas filiadas. Ademais, destaca-se o fato que, em
geral, as cooperativas que mais ganham são justamente as que
estão com eficiências inferiores.

Embora não se defenda que a correta aquisição de equipa-


mentos e instalações que dotem cada uma dessas cooperativas
da infra-estrutura necessária para a sua relativa autonomi-
zação seja substituída pela rede20, é necessário reconhecer
que a REDE CATA SAMPA introduz uma estratégia organizativa e
logística de curto prazo, plenamente capaz de gerar ganhos de
eficiência, com razoável poder de difusão, e com potencial de
melhorar a qualidade de vida dos catadores filiados às suas
cooperativas.

20
O que significaria abandonar as premissas do estudo anterior. Entretanto, trata-se aqui de reafirmá-lo!
86

A.7. ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA


FÍSICA – CATA SAMPA

Nesta seção procederemos à agregação dos grupos de


cooperativas conforme as suas eficiências globais, de forma a
entender como são analisados comparativamente os grupos
segundo suas distintas eficiências físicas.

O QUADRO A.7.1 apresenta a agregação das cooperativas de alta


eficiência global, conforme descrito anteriormente. Cabe,
entretanto, lembrar que a #18 REDE CATA SAMPA entra aqui como
“coringa”, apenas para que esteja explicitado o efeito de
eficiência que é transmitido via capilaridade por toda a
rede, em maior ou menor proporção.

QUADRO A.7.1: Grupos de Eficiência Física das Cooperativas da


REDE CATA SAMPA - AGO/2007 – Alta Eficiência

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


87

O grupo de média eficiência global é apresentado em sua


agregação no QUADRO A.7.2:

QUADRO A.7.2: Grupos de Eficiência Física das Cooperativas da


REDE CATA SAMPA - AGO/2007 – Média Eficiência

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Os QUADROS A.7.3 e A.7.4 apresentam as cooperativas que


foram agregadas no grupo de baixa eficiência global. O QUADRO
A.7.5 agrupa as cooperativas que originalmente apresentaram
baixíssima eficiência global.

A seguir é apresentado o QUADRO A.7.6, que sumariza os


grupos de eficiência física na produção de materiais
recicláveis na REDE CATA SAMPA.
88

QUADRO A.7.3: Grupos de Eficiência Física das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 –
Baixa Eficiência (I)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


89

QUADRO A.7.4: Grupos de Eficiência Física das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 –
Baixa Eficiência (II)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


90

QUADRO A.7.5: Grupos de Eficiência Física das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 –
Baixíssima Eficiência

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


91

QUADRO A.7.6: SUMÁRIO DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA FÍSICA NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS (KG)-
Cooperativas da REDE CATA SAMPA - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


92

A consulta ao QUADRO A.7.6, evidencia que o viés


introduzido ao agregar a cooperativa #18 REDE CATA SAMPA ao
grupo de alta eficiência mascara o fato da #11 Coopamare não
manter comercialização conjunta na rede. Assim, a verdadeira
participação do grupo de alta eficiência é nula! Se
adicionarmos o fato de que o grupo de média eficiência
participa com apenas 1% do total de sua produção física na
comercialização conjunta, concluímos que as cooperativas que
de fato são atingidas – e beneficiadas – com a logística da
venda coletiva de materiais recicláveis são as dos grupos de
baixa eficiência (27% do material produzido) e de baixíssima
eficiência (30% do total produzido). Assim, a rede parece
definitivamente ser direcionada para as cooperativas de menor
eficiência global da REDE CATA SAMPA.

Ao analisar os níveis de eficiência física no QUADRO


A.7.8 – onde os dados da produção per capita (KG por
cooperado) são explicitados – podemos estabelecer uma análise
comparativa da produção de materiais por grupos de eficiência
física.

Notar que o QUADRO A.7.7 – que deve ser lido com


referência ao QUADRO A.7.8, ao qual se refere – sumariza os
valores desses índices:

QUADRO A.7.7: COMPARATIVO DOS ÍNDICES PER CAPITA DE


EFICIÊNCIA DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: EFICIÊNCIA
FÍSICA
Nome =>
MATERIAL Kg per Baixíssima Baixa Eficiência Alta
capita Eficiência Eficiência Média Eficiência

AZUL: > 2x
0 2 5 9
média
PRETO: acima
1 14 6 5
da média
VERMELHO:
17 4 3 0
abaixo da média
NÃO PRODUZ 2 0 6 4
FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA
93

A FIGURA A.7.1 apresenta um comparativo da eficiência


física nos totais comercializados, discriminados por grupos
de vinte materiais recicláveis.
94

QUADRO A.7.8: COMPARATIVO DE MATERIAIS DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA FÍSICA (KG/COOP)-


Cooperativas da REDE CATA SAMPA – JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


95

FIGURA A.7.1: Comparativo da Eficiência Física nos Totais Comercializados (KG/COOP)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


96

A.8. ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA


ECONÔMICA – CATA SAMPA

A exemplo do que foi apresentado na seção anterior, nesta


seção procederemos à agregação dos grupos de cooperativas
conforme as suas eficiências globais, de forma a entender
como são analisados comparativamente os grupos segundo suas
distintas eficiências econômicas.

O QUADRO A.8.1 apresenta a agregação das cooperativas de


alta eficiência. O QUADRO A.8.2 agrega as cooperativas de
média eficiência. As cooperativas de baixa eficiência são
descritas nos QUADROS A.8.3 e A.8.4, enquanto as de
baixíssima eficiência são explicitadas nos QUADROS A.8.5 e
A.8.6.

Os sumários dos valores da produção e comercialização de


materiais são tabulados nos QUADROS A.8.7 e A.8.8.
97

QUADRO A.8.1: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Alta Eficiência

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


98

QUADRO A.8.2: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Média Eficiência

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


99

QUADRO A.8.3: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Baixa Eficiência (I)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


100

QUADRO A.8.4: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Baixa Eficiência (II)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


101

QUADRO A.8.5: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Baixíssima Eficiência (I)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


102

QUADRO A.8.6: Grupos de Eficiência Econômica das Cooperativas da REDE CATA SAMPA -
AGO/2007 – Baixíssima Eficiência (II)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


103

QUADRO A.8.7: SUMÁRIO DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA: VALOR DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS (R$)-
Cooperativas da REDE CATA SAMPA - JUL/AGO/SET 2007 (I)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


104

QUADRO A.8.8: SUMÁRIO DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA: VALOR DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS (R$)-
Cooperativas da REDE CATA SAMPA - JUL/AGO/SET 2007 (II)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


105

Aqui também, a consulta aos QUADROS A.8.7 e A.8.8


demonstra que, considerando que a Coopamare não mantém
comercialização conjunta na rede a participação do grupo de
alta eficiência é nula. O grupo de média eficiência mantém
apenas 1% do total do valor econômico de sua produção na
comercialização conjunta. Novamente, as cooperativas que de
fato são atingidas – e beneficiadas – com a logística da
venda coletiva de materiais recicláveis são as dos grupos de
baixa eficiência (33% do material produzido) e de baixíssima
eficiência (42% do total produzido), valores mais elevados do
que os estimados a partir da produção física. As cooperativas
de menores eficiências globais da REDE CATA SAMPA são de fato
as que mais retiram proveito da comercialização conjunta.

Ao analisar os níveis de eficiência econômica nos QUADROS


A.8.10 e A.8.11 – onde os dados do faturamento bruto per
capita (R$ por cooperado) são explicitados – também podemos
estabelecer uma análise comparativa da produção de materiais
por grupos de eficiência econômica.

Aqui, outra vez, favor notar que o QUADRO A.8.9 abaixo


deve ser lido com referência aos QUADROS A.8.10 e A.8.11, ao
quais se refere, e que sumariza os valores desses índices:

QUADRO A.8.9: COMPARATIVO DOS ÍNDICES PER CAPITA DE


EFICIÊNCIA DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: EFICIÊNCIA
ECONÔMICA
Nome =>
MATERIAL Kg per Baixíssima Baixa Eficiência Alta
capita Eficiência Eficiência Média Eficiência

AZUL: > 2x
0 4 4 10
média
PRETO: acima
1 12 5 4
da média
VERMELHO:
17 4 5 1
abaixo da média
NÃO PRODUZ 2 0 6 4
FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A FIGURA A.8.1 apresenta um comparativo da eficiência


econômica nos totais comercializados, discriminados por
grupos de vinte materiais recicláveis.
106

QUADRO A.8.10: COMPARATIVO DE MATERIAIS DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA (R$/COOP)-


Cooperativas da REDE CATA SAMPA – JUL/AGO/SET 2007 – (I)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


107

QUADRO A.8.11: COMPARATIVO DE MATERIAIS DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA (R$/COOP)-


Cooperativas da REDE CATA SAMPA – JUL/AGO/SET 2007 – (II)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


108

FIGURA A.8.1: Comparativo da Eficiência Econômica nos Totais Comercializados (KG/COOP)

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


109

A.9. A EFICIÊNCIA DE MERCADO DAS


COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA

Nesta seção é definido um outro índice de eficiência: o


índice de eficiência de mercado.

A eficiência de mercado representa a capacidade da


cooperativa em colocar os seus produtos recicláveis de forma
vantajosa no mercado. Pouco adianta um volume per capita de
coleta elevado, se não existe escala para fazer frente ao
intermediário21, ou se os canais de comercialização estão
obstruídos por questões estruturais como logística e
transporte. Como veremos, a existência da REDE CATA SAMPA
procura exatamente atacar esses pontos de estrangulamento,
provendo logística e transporte e possibilitando estocagem
para a obtenção de melhores preços de comercialização –
procurando evitar o atravessador e vendendo diretamente para
a indústria.

Os índices de eficiência de mercado, nada mais são do que


a razão entre os índices de eficiência econômica e os índices
de eficiência física22. Assim definido, este índice tem um
sabor de “preço médio”, embora na maioria das vezes não o
seja, por tratarem-se de agregados de materiais diferentes.23

A consulta ao QUADRO A.9.1 evidencia o papel redentor que


a comercialização conjunta traz para o conjunto das
cooperativas da REDE CATA SAMPA: a venda coletiva faz com que
na maioria dos grupos de materiais sejam obtidos preços
melhores do que quando ocorre a comercialização local.

Ainda assim -- como estamos trabalhando com grupos de


materiais recicláveis -- seria desejável uma explicitação
mais detalhada dos materiais componentes de cada grupo, de
forma a esclarecer algumas flutuações ainda subjacentes. Um
estudo mais detalhado, com mais longo prazo de gestação pode
ser instrumental em melhor esclarecer estes aspectos.
21
Estamos genericamente chamando de “intermediários” a uma não rara estrutura de comercialização em
forma de pirâmide, voltada à apropriação de parte do excedente diferencial gerado na cadeia da reciclagem.
22
É evidente que o mesmo valor seria obtido pela simples divisão entre o montante obtida pela
comercialização da produção em reais pelo valor da produção física em Kg.
23
Favor conferir com Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE
TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.
110

QUADRO A.9.1: COMPARATIVO DE MATERIAIS: EFICIÊNCIA DE MERCADO (R$)- Cooperativas da REDE


CATA SAMPA – JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA


111

Por fim, o QUADRO A.9.2 desnuda os efeitos positivos da


comercialização conjunta sobre a eficiência de mercado: os
índices nas colunas (C) são quase que sistematicamente
superiores aos das colunas (L) – em especial para os grupos
de baixa e baixíssima eficiências – espargindo seus efeitos
para as colunas (T), e demonstrando de forma cabal e clara
como a venda coletiva afeta diretamente a eficiência de
mercado total nas cooperativas da Rede.

QUADRO A.9.2:COMPARATIVO DOS ÍNDICES PER CAPITA DE EFICIÊNCIA


DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS:EFICIÊNCIA DE MERCADO:
VENDAS CONJUNTAS(C), VENDAS LOCAIS(L) e TOTAL DAS VENDAS(T)
Nome =>
MATERIAL Kg per Baixíssima
Baixa Eficiência Eficiência Média Alta Eficiência
capita Eficiência

VENDAS C L T C L T C L T C L T
AZUL: > 2x
0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0
média
PRETO: acima
14 2 12 15 13 14 1 6 6 9 8 10
da média
VERMELHO:
0 11 6 0 7 6 0 7 7 0 4 5
abaixo da média
NÃO PRODUZ 6 7 2 5 0 0 19 6 6 11 8 5
FONTE: CATASAMPA 2007 – Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA
112

PARTE B: UMA ESTRUTURA EMPRESARIAL -


O PROJETO ALTERVIDA

B.1. INTRODUÇÃO À PARTE B


A PARTE B do presente estudo foi diretamente inspirada
pelo trabalho de Márcio Magera24, que propõe e defende a
empresarialização das cooperativas de catadores de materiais
recicláveis – por ele consideradas ineficientes e incapazes
de obter adequados níveis de produtividade.

A virtual inexistência de experiências empresariais bem


sucedidas nesse segmento no Brasil – aonde a maior parte das
organizações de catadores tem a figura jurídica de
cooperativas ou associações independentes – tornou necessário
o levantamento de dados em uma experiência aparentemente bem
sucedida que conta com financiamento do BID.

Aqui é apresentada a avaliação da experiência empresarial


da ALTERVIDA em Assunção, Paraguai. Seus resultados são
comparados com os obtidos pela REDE CATA SAMPA e os efeitos
de inclusão social são justapostos. O mesmo aporte de
recursos da Fundação AVINA também viabilizou a inclusão desta
etapa neste trabalho.

O CAS (Centro de Acopio y Segregación) surgiu do Projeto


PROCICLA, como iniciativa da ALTERVIDA.25Desde a sua concepção
-- como pode ser observado pela leitura dos materiais
relativos ao projeto – tomou como ponto de partida a compra
de materiais recicláveis de catadores não-empregados pelo
CAS. Nesse sentido – embora a discussão sobre atividade
cooperada seja recorrente, mesmo entre funcionários da
ALTERVIDA/CAS – é importante ressaltar desde logo que os
quarenta catadores que hoje têm função operacional no CAS não
são cooperados nem há qualquer proposta de transformar o CAS
em uma cooperativa em futuro previsível.

Isto dito, é bom lembrar que no Plano de Negócios é


explicitamente frisado que:

24
Cf. Magera, M. “ Os Empresários do Lixo – Um Paradoxo da Modernidade” – Editora Átomo – 2005.
25
Consultar “CAS Plan de Negocios” – PROCICLA – ALTERVIDA – Novembro de 2006
113

“ A forma jurídica que o CAS adotará é a de uma Sociedade Anônima, já que


deve gerar lucros e alcançar a rentabilidade necessária para fazer frente aos
compromissos financeiros.”26

Uma Sociedade Anônima NÃO é uma cooperativa e não há


porque insistir em confundir o que hoje ocorre com os
processos operados no CAS com uma atividade de trabalho
cooperativo. Assim, desde a sua criação, NÃO houve a intenção
de transformar o CAS em unidade cooperada. Dessa forma, não
se pode criticar a forma jurídica adotada pelo CAS por NÃO
ser cooperada: o móvel de sua criação sempre foi o lucro
privado, como qualquer outra empresa competitiva do mercado
capitalista. Uma análise imparcial e não-viesada necessita
então estar voltada para a viabilidade econômica da atividade
de reciclagem desenvolvida pelo CAS, explicitando a sua
inserção no mercado e avaliando as implicações de sua entrada
em operação.

O surpreendente, entretanto, é que o CAS sequer foi


constituído como uma Sociedade Anônima – ao contrário do
explicitamente afirmado no citado Plano de Negócios! De
acordo com o que pode ser levantado pela equipe de
pesquisadores que visitou o projeto em Assunção, o CAS é uma
ficção jurídica, sem figura legal própria, apenas um nome-de-
fantasia utilizado pela própria ALTERVIDA. Embora apresente
uma contabilidade em separado, a sua movimentação financeira
é legalmente interna à ALTERVIDA e não pode dela ser
juridicamente separada.

Assim, a tarefa de entender e avaliar a viabilidade


econômica do CAS termina por se confundir com o manejo de
recursos da ALTERVIDA – legítima figura jurídica proprietária
do CAS. Como este diagnóstico não se propõe – e nem pode se
propor – a fazer uma auditoria das contas da ALTERVIDA,
torna-se impossível discernir as aplicações financeiras
efetivamente destinadas ao CAS daquelas que são
operacionalmente voltadas para as demais atividades da
ALTERVIDA. Em outras palavras, não existe uma contabilidade
legalmente independente do CAS, porque NÃO existe um CAS como
pessoa jurídica. Tampouco existe um processo ou planejamento
que permita entender quando e como o CAS irá se transformar
um uma pessoa jurídica independente da ALTERVIDA.

26
Op.cit p.3 – Nossa tradução.
114

Assim, nessas linhas iniciais buscou-se dirimir dúvidas


em relação a duas questões que deverão nortear o restante das
análises que se seguirão:

a) O cooperativismo está fora de questão: o objetivo do


projeto PROCICLA é o lucro privado;
b) O CAS não existe juridicamente, senão como apêndice
operacional da ALTERVIDA. Isso significa que – embora
sejam apresentadas contas específicas como
representativas do CAS – não existe contabilidade
legal individualizada e independente. O princípio e o
fim dos procedimentos legais e financeiros estão na
ALTERVIDA e não no CAS.

Diante desse aparente paradoxo – uma vez que o PROCICLA é


apresentado como “criador de riqueza de sensível impacto na
sociedade na qual se desenvolve”27, cabe perguntar para quem
será criada essa riqueza, e de que forma ela será alocada.

Para superar este impasse – cuja motivação parece


evidente – neste diagnóstico apenas trataremos o CAS como
unidade produtiva, procurando entender a sua inserção na
atividade de catação e reciclagem de materiais. Ademais,
serão genericamente chamados de “catadores” todos as pessoas
dedicadas a atividades de catação, separação, prensagem,
compra e venda de materiais recicláveis que não sejam
profissionalmente ocupadas em tarefas administrativas e de
direção. Esta observação se faz necessária, pois no CAS
nenhum catador tem qualquer função no processo decisório e
administrativo. São apenas empregados, pagos por trabalho
semanal despendido, sem relação funcional estável e sem
qualquer participação nos resultados da produção.

Com o objetivo de nortear esta análise, optou-se por


destacar três óticas distintas:

I) A Ótica do CAS CENTRAL. Nessa ótica, o CAS será


analisado como Central de aquisições, processamento e
revenda de materiais recicláveis procedentes de três
tipos de fornecedores: os carrinheiros que recolhem o
que foi possível obter até hoje na forma de “coleta
seletiva” em ruas e bairros escolhidos de Assunção;
os catadores ligados à coletas de Grandes Geradores;
e os catadores que recolhem o material que chega ao
“Vertedero” – onde caminhões despejam o lixo urbano

27
Op Cit p. 4
115

recolhido e destinado ao aterro sanitário municipal.


Nessa ótica, o CAS será temporariamente entendido
como entidade autônoma (o que, já foi dito, não
é)atuando como interface entre grupos de catadores e
a indústria. A intermediação será analisada de forma
a explicitar as fontes de valorização e lucros
obtidos a partir da centralização de materiais
recicláveis. Esta ótica permite entender a origem e
dimensão dos excedentes apropriados na Central;
II) A Ótica dos Catadores. Nessa ótica avaliaremos cada
um dos “fornecedores” como unidades autônomas de
catação -- submetidos a uma lógica de subordinação
que os mantém presos a um círculo vicioso -- sem
perspectivas de vantagens financeiras, ou progressão
social. Esta ótica permite avaliar a situação
específica de cada tipo de “fornecedor”;
III) A Ótica do SISTEMA CAS. Nessa ótica todo o processo
de catação ligado direta ou indiretamente ao CAS será
analisado em conjunto, como um sistema interligado. É
também a ótica que permitirá visualizar a canalização
dos recursos financeiros obtidos a partir da catação
de materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA
sob título de “amortização da dívida”. Aqui,
novamente será necessário retornar à realidade, na
qual o CAS não é pessoa jurídica independente da
ALTERVIDA, havendo sobreposição de contabilidade.

A FIGURA B.1.1 na página seguinte será seqüencialmente


utilizada como referência e sumariza essas três óticas.
116

FIGURA B.1.1: ORGANOGRAMA DO PROCICLA/ALTERVIDA: CAS CENTRAL, FORNECEDORES E SISTEMA CAS

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


117

B.2. A VISITA A ASSUNÇÃO E A


COLETA DE DADOS

A visita a Assunção foi extremamente intensa e produtiva.


Houve um planejamento hábil por parte da ALTERVIDA, que foi
iniciado por uma apresentação do projeto PROCICLA, feita
pessoalmente pelo Diretor Jorge Abatte. Ele e sua gerente
Cármen Moreira responderam gentilmente às questões e
perguntas propostas com educação, rapidez e eficiência. Na
tarde do primeiro dia, o questionário já previamente
preenchido foi projetado e discutido ponto-a-ponto. Ao final
de um dia, já possuíamos os principais dados do CAS, como
Central.

Durante a visita ao CAS, a pronta participação de dois


funcionários da ALTERVIDA, Victor e Alberto, tornou possível
o entendimento de detalhes de funcionamento do projeto.
Ademais, foi permitido o acesso a informações que
viabilizaram a estimativa das proporções de materiais
recicláveis originados nos três tipos de “fornecedores”:
carrinheiros; grandes geradores; e catadores do Vertedero.

Ao final do segundo dia, novamente com a presença do


Diretor Jorge Abatte, duas questões ficaram bastante claras:
a) que existem tensões internas legítimas sobre a atual e
eventual situação jurídica do CAS; b)que – nas palavras do
mesmo Diretor – o CAS “nunca será uma cooperativa”.

Embora dois “grandes geradores” tenham sido visitados,


não foi possível efetuar uma visita ao Vertedero – sob o
argumento que a entrada era controlada pela Prefeitura de
Assunção.

Após o retorno ao Brasil, Cármen, Victor e Alberto


prontamente responderam a solicitações de dados adicionais e
esclarecimentos.

Deve ficar claro que questões relativas à destinação dos


recursos apropriados por doação ou empréstimos à ALTERVIDA em
nome do projeto CAS/PROCICLA pelo BID, USAID e Prefeitura –
embora mencionados – jamais puderam ser devidamente
equacionadas. Não havia mandato para proceder à auditoria da
ALTERVIDA – nem isso seria possível. Por ser impossível, esta
avaliação financeira deixou de ser parte dos objetivos deste
diagnóstico. Em outras palavras: recursos do BID a fundo-
118

perdido parecem ser assuntos internos da ALTERVIDA. Por outro


lado, recursos tomados simultaneamente por empréstimos ao
BID, são atribuídos formalmente ao CAS – que assume
internamente o papel de prover os recursos para a amortização
da dívida.28

B.3. A ÓTICA DO CAS CENTRAL

B.3.1. PREÇOS DE COMPRAS E PREÇOS DE VENDAS DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS

Como afirmado anteriormente, esta ótica permite entender


o CAS como uma Central, comprando de catadores e vendendo a
indústrias. No processo, é apropriada a valorização referente
à diferença de preços entre compra e venda.

No QUADRO B.3.1 são apresentados esses valores. Os níveis


de agregação são os resultantes dos dados apresentados pela
ALTERVIDA como resposta ao instrumento de pesquisa direta.

Comparando os valores em Guaranis, observa-se que o lucro


bruto médio ponderado é de 90%, variando de um mínimo de 61%
na compra, processamento e comercialização do PET Óleo até
287% na reciclagem de garrafas.

28
“Hay que pagar la deuda!” foi repetido inúmeras vezes como um mantra...
119

QUADRO B.3.1: COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

A FIGURA B.3.1 expressa esses diferenciais de preços em


um gráfico de percentuais, onde é possível avaliar essas
disparidades em base comum:
120

FIGURA B.3.1: COMPARATIVO DE PREÇOS DE COMPRA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS DE CATADORES E VENDAS À INDÚSTRIA – Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Entretanto, os montantes absolutos só podem ser avaliados


quando somos apresentados aos dados constantes DO QUADRO
B.3.2, que explicita os valores de custos de materiais
recicláveis adquiridos de catadores; as receitas brutas e
líquidas do CAS CENTRAL; e as mesmas taxas de lucros brutos
obtidas anteriormente. Os dados monetários expressos em
Guaranis foram também convertidos para Reais pelo câmbio dos
dias da visita: R$1,00 = Gs 2.550,00.

A FIGURA B.3.2 apresenta esses mesmos dados na forma de


gráfico de barras.
121

QUADRO B.3.2: MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO –


Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


122

FIGURA B.3.2: MATERIAL ADQUIRIDO PELO CAS CENTRAL E LUCROS NA COMERCIALIZAÇÃO –


Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


123

B.3.2. PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS


RECICLÁVEIS ADQUIRIDOS PELO
CAS CENTRAL

Após haver sido tornado claro que o CAS era antes de tudo
uma central de aquisição, processamento e venda de materiais
recicláveis, tornou-se indispensável obter informações quanto
à procedência desses materiais. Não apenas essas informações
não constavam dos questionários (organizados para servirem de
instrumentos de pesquisa diretas sobre cooperativas de
catadores que coletam eles mesmos os materiais...) como logo
ficou claro que o próprio pessoal técnico do CAS não dispunha
de informações que fossem perfeitamente compatíveis com os
dados anteriormente fornecidos no questionário.

A alternativa metodológica adotada foi efetuar o


levantamento das procedências de materiais recicláveis nas
quatro semanas imediatamente prévias às datas da visita a
Assunção (de meados de Julho a meados de Agosto de 2007),
utilizando os percentuais relativos como ponderadores para
aplicação sobre os dados dos questionários. Dessa forma foram
obtidas as estimativas sobre as procedências dos materiais
recicláveis do CAS, como central de aquisição.
124

QUADRO B.3.3: PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SEGUNDO


ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO 2007 - KG

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Os QUADROS B.3.3 e B.3.4 reúnem os dados agregados


referentes às procedências dos materiais recicláveis nas
quatro semanas a que nos referimos, e seus respectivos
percentuais.

QUADRO B.3.4: PERCENTUAIS DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – DADOS PARA 4 SEMANAS – JUL/AGO
2007 - %

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


125

A partir desses dados foi possível obter as estimativas


descritas NO QUADRO B.3.5, com as totalizações originária dos
questionários. Notar que – a partir dos dados sobre as
procedências dos materiais recicláveis – tornou-se possível
passar a tratar de 12 grupos de materiais, ao invés dos 8
grupos anteriormente apresentados.

Adicionalmente, a disparidade encontrada entre os QUADROS


B.3.3 e B.3.5 é de cerca de 4% para menos, plenamente
justificada pela comparação de totais de 28 dias com totais
de 30 dias. Assim, os percentuais foram considerados robustos
o suficiente para gerar estimativas com alto nível de
confiabilidade estatística.

O QUADRO B.3.6 sumariza os dados estimados para os 12


grupos de materiais recicláveis, além de seus preços de
compra e venda por parte do CAS CENTRAL.

QUADRO B.3.5: ESTIMATIVA DA PROCEDÊNCIA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS SEGUNDO ORIGEM – AGO 2007 – KG/Mes

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


126

QUADRO B.3.6: ESTIMATIVA DOS PREÇOS MÉDIOS E PROCEDÊNCIA DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS – AGO 2007 – KG/Mês e Gs

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Os QUADROS B.3.7 e B.3.8 apresentam os valores agregados


pagos a fornecedores pelo CAS Central, em Guaranis e em
Reais:

QUADRO B.3.7: ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A


FORNECEDORES Gs – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


127

QUADRO B.3.8: ESTIMATIVA MENSAL DE VALORES PAGOS A


FORNECEDORES R$ - Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Os QUADROS B.3.9 e B.3.10 apresentam as receitas brutas do


CAS Central após as vendas dos materiais recicláveis
processados, em Guaranis e Reais, respectivamente:
128

QUADRO B.3.9: Receita Bruta do CAS Central – Estimativa


Mensal Gs – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA - 2007

QUADRO B.3.10: Receita Bruta do CAS Central – Estimativa


Mensal R$ – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


129

São apresentadas as estimativas das receitas líquidas do


CAS Central nos QUADROS B.3.11 e B.3.12, em Guaranis e Reais,
respectivamente:

QUADRO B.3.11: Receita Líquida do CAS Central – Estimativa


Mensal – Gs – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


130

QUADRO B.3.12: Receita Líquida do CAS Central – Estimativa


Mensal – R$- Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Com o objetivo de calcular os rendimentos gerados por


cada grupo de materiais procedentes de cada fornecedor, são
apresentados os resultados sumarizados para o CAS Central nos
QUADROS B.3.13 e B.3.14, em Guaranis e Reais,
respectivamente:
131

QUADRO B.3.13: Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal –


Gs - Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

QUADRO B.3.14: Sumário do CAS Central – Estimativa Mensal –


R$
Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


132

B.3.3. AS RECEITAS LÍQUIDAS E OS LUCROS


BRUTOS DO CAS CENTRAL

A FIGURA B.3.3 permite a expressão visual da valorização


de materiais no CAS Central, a partir dos recicláveis
provenientes de cada tipo de fornecedor. Observa-se que –
longe de ser marginal, o CAS Central age como intermediário
entre os catadores e a indústria, concentrando materiais e
recursos e apropriando os excedentes de forma privada. Não há
efeito redistributivo dos valores assim amealhados.

Nesse sentido, não há diferenças significativas entre as


atividades do CAS Central e os atravessadores tipicamente
encontrados nesses mercados – senão pela organização e
capacitação de seus gerentes e dirigentes.
133

FIGURA B.3.3: COMPARATIVO DE VALORES PAGOS NA COMPRA DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CATADORES E RECEITAS LÍQUIDAS – CAS
CENTRAL – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

As FIGURAS B.3.4 e B.3.5 apresentam os comparativos por


gravimetria e das receitas dos catadores que fornecem os
materiais recicláveis ao CAS Central, através de suas vendas
a preços aviltados. Notar que os catadores ocupados junto aos
grandes geradores e os carrinheiros que operam os resultados
da coleta seletiva são responsáveis por cerca de 24% do
volume gravimétrico e recebem apenas 19% do que é gasto em
compra de materiais recicláveis pelo CAS Central.
134

FIGURA B.3.4: COMPARATIVO PERCENTUAL DA GRAVIMETRIA DA


PRODUÇÃO FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS
RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

FIGURA B.3.5: COMPARATIVO PERCENTUAL DAS RECEITAS BRUTAS DOS


CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS
CENTRAL – KG/MÊS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA -


2007

É fácil depreender que o grosso do volume físico (76%) e


do valor pago pelo CAS Central (81%) provém, em sua maioria,
135

dos catadores do Vertedero, embora outros catadores


eventualmente também ofereçam materiais de forma menos
sistemática. Para os efeitos deste diagnóstico chamaremos de
“Catadores do Vertedero” ao conjunto de catadores de baixo
nível de organização que utilizam o Vertedero do Aterro
Sanitário de Assunção como fonte principal da catação de
materiais recicláveis. Como observado no Plano de Negócios do
CAS, esses catadores “são pessoas de alta necessidade
(pobreza) e vendem [os materiais] por qualquer dinheiro”29.

Assim, os altíssimos níveis de lucratividade do CAS –


entendido aqui como uma Central de intermediação e de
apropriação privada de excedentes – não devem surpreender. O
mesmo Plano de Negócios afirma que “o rendimento [...] do
mesmo é muito superior ao de qualquer outra oportunidade de
aplicação financeira”30.

O QUADRO B.3.15 apresenta as estimativas de taxas de


lucros

29
Op.Cit. p.7. “Alta necesidad (pobreza) de su gente venden al que le da la plata” – Nossa tradução.
30
Op.Cit. p.3. Nossa tradução.
136

QUADRO B.3.15: Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa


Mensal por Material e Fornecedor – Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

brutos mensais por grupos de materiais recicláveis e por tipo


de catadores-fornecedores, além dos lucros brutos médios em
cada categoria.

Observa-se que, de longe, os catadores-carrinheiros são


os mais explorados (152% de lucros brutos médios), pois
dependem de forma mais intensa de seu único comprador – o CAS
– também proprietário dos carrinhos por eles utilizados.

Porém mesmo os demais grupos de catadores geram


excedentes consideráveis: 78% para os catadores que operam
junto aos grandes geradores; e cerca de 82% para os catadores
do Vertedero. A FIGURA B.3.6 destaca esses valores:
137

FIGURA B.3.6: LUCRO BRUTO DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA DE


MATERIAIS(%)- Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Com base nos doze grupos de materiais que estamos


analisando, pode-se agora estimar as médias ponderadas de
lucratividades brutas por tipo de materiais recicláveis, do
ponto de vista do CAS Central, como comprador e vendedor. O
QUADRO B.3.16 resume esses valores, e a FIGURA B.3.7 os
representa em suas grandezas percentuais respectivas:
138

QUADRO B.3.16: Lucro Bruto do CAS CENTRAL - % - Estimativa


Mensal por Tipo de Material Reciclável – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

FIGURA B.3.7: LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL POR GRUPOS DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


139

Torna-se, aqui, interessante analisar mais detalhadamente


as procedências e a natureza das receitas líquidas do CAS
Central, de forma a explicitar suas origens e proporções
relativas.

Retornemos, por um instante, à estimativa da procedência


dos materiais recicláveis do CAS Central, mas agora sob o
ponto de vista dos percentuais da gravimetria de cada tipo de
material e cada tipo de catador-fornecedor. Essas
porcentagens estão calculadas NO QUADRO B.3.17.

QUADRO B.3.17: Estimativa da Procedência dos Materiais


Recicláveis do CAS CENTRAL - % da Gravimetria – Ago/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

A FIGURA B.3.8 na página seguinte ilustra os valores


deste QUADRO de difícil visualização:
140

FIGURA B.3.8: PROCEDÊNCIA DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS DO CAS CENTRAL - % DA GRAVIMETRIA –


AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


141

A partir dos dados do QUADRO B.3.17 torna-se possível


analisar as receitas líquidas do CAS Central do ponto de
vista da composição dos diversos grupos de materiais e de
suas procedências. Esses valores estão expressos NO QUADRO
B.3.18:

QUADRO B.3.18: Receita Líquida do CAS CENTRAL - % -


Estimativa Mensal por Tipo de Fornecedor – Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Nas páginas seguintes, as FIGURAS B.3.9, B.3.10, e


B.3.11, exibem os percentuais das receitas líquidas do CAS
originadas de cada fração de catadores.

Observa-se que os carrinheiros são os únicos a catar


quantidades significativas de garrafas de vidro e de bolsas
de ráfia – através da coleta seletiva. Como seria de se
esperar, a contribuição distintiva dos grandes geradores para
a receita líquida do CAS é proveniente do papelão e do vidro,
embora componham uma parte própria significativa de
PET/Plásticos. Este material, entretanto é o carro-chefe dos
catadores do Vertedero, e – como veremos a seguir – é o
principal elemento componente das receitas líquidas (e do
lucro bruto) do CAS Central.
142

FIGURA B.3.9: RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA


DE MATERIAIS - CARRINHEIROS(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

FIGURA B.3.10: RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA


DE MATERIAIS – GRANDES GERADORES(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


143

FIGURA B.3.11: RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA


DE MATERIAIS – CATADORES DO VERTEDORO E OUTROS CATADORES(%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

As percentagens das médias ponderadas das receitas


líquidas provenientes da intermediação executada pelo CAS em
cada um dos grupos de materiais recicláveis são apresentadas
NO QUADRO B.3.12. Mais de um terço da receita líquida – no
conjunto dos catadores-fornecedores – é proveniente da
comercialização de PET/Plásticos (35%). Mais de um quarto da
receita líquida provém da comercialização de metais (26%).
Polietileno e PET Óleo são responsáveis por outros 21% da
receita líquida, enquanto papéis e papelão respondem por
apenas 5% dessa receita. Garrafas e bolsas -- provenientes
principalmente da coleta seletiva – são responsáveis por 12%,
em boa parte pelo alto nível de exploração dos diferenciais
de preços sobre os carrinheiros.
144

FIGURA B.3.12: RECEITA LÍQUIDA DO CAS CENTRAL POR PROCEDÊNCIA


DE MATERIAIS – MÉDIA PONDERADA (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Pode-se agora explicitar as origens das receitas líquidas


do CAS Central, por tipo de material reciclável e por
catador-fornecedor, de forma que sua totalização resulte em
100% da receita líquida. Esses dados constam DO QUADRO
B.3.19, a seguir:
145

QUADRO B.3.19: Origens das Receitas Líquidas do CAS CENTRAL -


Estimativa por Tipo de Fornecedor e Grupo de Material
Reciclável - % - Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

A FIGURA B.3.13, na página seguinte, mostra a segmentação


das receitas líquidas do CAS Central, por grupos de materiais
e por procedência, em termos percentuais aditivos a 100%. É
assim possível traçar o significado das parcelas de
excedentes extraídas do processo de intermediação e
subordinação exercido pelo CAS Central sobre os três
segmentos de catadores.
146

FIGURA B.3.13: ORIGENS DAS RECEITAS LÍQUIDAS DO CAS CENTRAL(%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


147

B.3.4. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA


ECONÔMICA DO CAS CENTRAL

Em particular, devido à sua posição centralizadora na


compra, processamento e revenda de materiais recicláveis –
jogando o efetivo papel de atravessador nesse mercado – o CAS
Central, à primeira vista, exibe impressionantes níveis de
eficiências físicas e econômicas.

Por um lado, a entrada em operação de uma unidade


organizada inserida entre os catadores e a indústria,
colabora com a petrificação dos diferenciais de preços entre
os materiais recolhidos pelos catadores e vendidos ao CAS, e
os materiais processados vendidos pelo CAS à indústria.

Nesse sentido, a existência do CAS expande e perpetua


esses diferenciais, contribuindo ativamente para perpetuar as
condições de exclusão social dos efetivos catadores de
materiais recicláveis de Assunção. Assim, o CAS Central
assume o seu papel de atravessador dos atravessadores, por
demonstrar invejável capacidade de atuação na extração de
lucros nessa atividade, ao mesmo tempo em que mantém uma
retórica de integração social31. Esse discurso esvazia-se na
medida em que se constata que no CAS – e ao seu redor – os
catadores não são protagonistas em nenhum sentido. São, isto
sim, descartáveis, na medida em que deixem de cumprir os seus
papéis dentro da lógica de valorização privada de capitais
aplicados na reciclagem de materiais.

Por outro lado, o fato do CAS Central não gerar materiais


recicláveis de maneira autônoma, faz com que os custos de
aquisição sejam deduzidos de suas receitas brutas32. Os
valores das receitas líquidas são aqueles sobre os quais a
eficiência econômica deve ser inicialmente avaliada.

31
O mesmo Plano de Negócios do CAS afirma “o alto impacto social em um meio com pouco
desenvolvimento real. Assim pode-se concluir que além de rentável, é sustentável, criador de riqueza de
sensível impacto na sociedade na qual se desenvolve” – Op.cit. p. 4. Basta lembrar que – ao contrário da
maioria das cooperativas de catadores de materiais recicláveis existentes no Brasil, os catadores-vendedores
nada recebem além dos preços aviltados pelos materiais comprados pelo CAS. Nem sequer os quarentas
catadores do próprio CAS têm direito a refeições diárias gratuitas em seu local de trabalho (!).
32
É curioso que – por seu discreto distanciamento do coletivo dos catadores – o CAS tenha que despender
recursos financeiros para remunerar os catadores ligados tanto aos grandes geradores quanto à coleta seletiva
executada por carrinheiros, aos quais fornecem os carrinhos, e dos quase são os únicos e cativos compradores.
Esse dispêndio acaba por excluir os catadores de quaisquer participações sobre os lucros da atividade, porém
exige que esses dispêndios sejam deduzidos da receita bruta.
148

O QUADRO B.3.20 exibe as eficiências do CAS – na ótica de


central compradora e revendedora de materiais recicláveis –
tanto para valores de suas receitas brutas, como para valores
de suas receitas líquidas:

QUADRO B.3.20: EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DO CAS CENTRAL


– VALORES BRUTOS E LÍQUIDOS DAS RECEITAS - AGOSTO de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Como os catadores ocupados no CAS Central são apenas 40,


tanto a produtividade física como a produtividade econômica
são espantosas, por serem resultados per capita! Em valores
brutos resultam em eficiências superiores à mais eficiente
dentre todas as vinte cooperativas amostradas na Brasil em
outro trabalho executado pelo PANGEA33. Mesmo em valores de
suas receitas líquidas, suas eficiências são superiores às
demais dezenove cooperativas amostradas no mesmo trabalho,
sendo ultrapassada apenas pela mais produtiva e eficiente das
cooperativas brasileiras de catadores de materiais
recicláveis. Mas – como argumentaremos mais tarde – esses
valores são ilusórios, e obtidos por prestidigitação e
ocultação dos sujeitos ativos no processo de catação, que
acabam sendo, um tanto ardilosamente, retirados do
denominador dos cálculos de eficiência per capita...

Retornaremos ao assunto quando da apresentação da ótica


do SISTEMA CAS34.

Passemos agora à breve discussão da Ótica dos Catadores.

33
Favor consultar Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA
ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no
prelo.
34
Expressão cunhada para evitar que seja tomada pelo Projeto PROCICLA, objeto interno `a ALTERVIDA.
149

B.4. A ÓTICA DOS CATADORES

Nessa ótica avaliaremos cada um dos “fornecedores” como


se fossem unidades autônomas de catação. Esta ótica permite
avaliar a situação específica de cada tipo de “fornecedor”
com instâncias de articulação relativamente autônomas e
diferenciadas – embora com o vínculo comum de estarem
condicionados aos preços de compra oferecidos pelo CAS. Essa
vinculação acaba por submetê-los a uma lógica de subordinação
que os mantém presos a um círculo vicioso -- sem perspectivas
de vantagens financeiras, ou progressão social.

B.4.1. AS RECEITAS DOS CATADORES DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS

Com essa perspectiva de observação, o que é custo para o


CAS, é entendido como receita pelos catadores de cada uma
dessas instâncias.

Os QUADROS B.4.1 e B.4.2 apresentam, respectivamente, os


valores das receitas mensais dos catadores que fornecem
materiais recicláveis ao CAS, e as proporções nas quais cada
grupo de materiais contribui com suas receitas.
150

QUADRO B.4.1: RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES QUE FORNECEM


MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – R$ - Agosto/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

QUADRO B.4.2: COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES


QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –(%)-
Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


151

B.4.1.1. CARRINHEIROS

Os aqui chamados de “carrinheiros” compõem um grupo de


apenas onze pessoas, literalmente “recrutadas” pelo CAS para
operar um sistema de coleta seletiva, ainda pouco eficiente,
parcialmente implementado a partir de 13 bairros da cidade de
Assunção. Nesta primeira etapa, em etapa piloto, o CAS
trabalha em seis bairros, que são: Recoleta; Mcal.
Estigarribia; Tembetary; Villa Morra; Los Laureles e San
Cristóbal35. Embora dependam crucialmente do CAS, pelo
fornecimento dos carrinhos e, por isso mesmo, pela compra dos
materiais coletados, esses carrinheiros não são considerados
funcionários do CAS, e não têm qualquer vantagem adicional.

As FIGURAS B.4.1 e B.4.2 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores carrinheiros que fornecem
materiais recicláveis para o CAS:

FIGURA B.4.1: ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO


FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA
O CAS CENTRAL – CARRINHEIROS (%)- Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

35
Op.cit. p.3
152

FIGURA B.4.2: COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES


QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CARRINHEIROS (%)- Agosto de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA


- 2007

B.4.1.2. OS CATADORES NOS GRANDES GERADORES

Apesar da gerência do CAS haver declarado que recebem


materiais recicláveis de onze “grandes geradores”, apenas
sete deles constam das relações de materiais efetivamente
processados pela unidade: o Shopping; a Unilever; a Polpar; a
Mimbi; a Abasto; a Coyote; e a Comico. Oito catadores estão
ligados permanentemente às atividades de catação dos
materiais desses grandes geradores e são remunerados de
acordo com o volume de material recolhido.

Pela própria natureza de sua operação, são de fato


funcionalmente atrelados à existência do CAS. Porém, não
mantém com o CAS qualquer vínculo de natureza empregatícia,
nem auferem quaisquer outras vantagens adicionais. Por essa
especificidade, dependem da natureza e dos volumes dos
materiais recicláveis recolhidos a partir dos grandes
geradores. Por esse fato, podem ser, com essas
especificidades, diferenciados como grupo de catadores com
funções peculiares.
153

As FIGURAS B.4.3 e B.4.4 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento nos
grandes geradores que fornecem materiais recicláveis para o
CAS:

FIGURA B.4.3: ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO


FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA
O CAS CENTRAL – GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


154

FIGURA B.4.4: COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES


QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CATADORES NOS GRANDES GERADORES (%)- AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

B.4.1.3. CATADORES DO VERTEDERO E


OUTROS CATADORES

Nesta denominação encontram-se 95 catadores de materiais


recicláveis que recolhem os seus materiais principalmente no
Vertedero da Cateúra. Esses catadores foram selecionados
dentre um universo que é situado entre 500 e 600 pessoas que
atuam no Vertedero e seus arredores. É relatado que na época
da inauguração do CAS, até 400 catadores buscaram
cadastramento para vender materiais. Diante de uma forte
oferta – muito superior à capacidade de processamento hoje
instalada no CAS – foram selecionados os atuais 95 catadores.

Não existe qualquer tipo de estabilidade ou de


compromisso entre o CAS e os catadores, que são tratados
individualmente, independentemente do fato de serem ligados
ou filiados a alguma associação ou cooperativa de catadores.
Assim, o fato de reputadamente existirem cinco associações /
155

cooperativas de catadores, as relações se dão ao nível


pessoal, e jamais ao nível institucional36.

Como nenhuma das associações / cooperativas ligadas à


coleta no vertedouro ou imediações possui qualquer espaço
físico próprio ou equipamento, a venda direta à indústria é
difícil, senão impossível. Os catadores que atuam nessas
condições não são obrigatoriamente atrelados ao CAS, já que –
pelo menos em tese – podem optar por vender os seus materiais
recicláveis a outros atravessadores. Porém, o CAS utiliza a
sua proximidade física ao Vertedero da Cateúra como
diferencial locacional, oferecendo vantagens de acesso e
beneficiando-se de vantagens preferenciais: os catadores que
têm os seus produtos comprados pelo CAS julgam-se favorecidos
e recompensados...

Assim, esses 95 catadores acabam por permanecer


relativamente incorporados à lógica de funcionamento do CAS,
que, entretanto, não guarda com eles qualquer compromisso
formal de compra em volumes ou prazos determinados.

As FIGURAS B.4.5 e B.4.6 apresentam, respectivamente, as


estimativas percentuais das composições físicas e das
receitas mensais dos catadores ligados ao recolhimento de
materiais recicláveis no Vertedero da Cateúra – ou seus
arredores – e que são fornecedores do CAS:

36
Entre as associações identificadas, encontram-se a COSIGAPAR (Comité sindical de ganchero particular);
a ASOTRAVERMU (Asociación de Trabajadores de Vertedero Municipal) e a ASOGAPAR (Asociación de
Ganchero Particular). É alegado que, embora trabalhem todas em mesmos lugares, com horários semelhantes,
o que as distingue seria o acesso a determinados caminhões de coleta de lixo urbano e/ou suburbano.
156

FIGURA B.4.5: ESTIMATIVA PERCENTUAL DA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO


FÍSICA DOS CATADORES QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA
O CAS CENTRAL – CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


157

FIGURA B.4.6: COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES


QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL –
CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

B.4.1.4. CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E


CATADORES DO VERTEDERO:
MÉDIAS PONDERADAS

Agora é possível – na ótica dos catadores de materiais


recicláveis – calcular as médias ponderadas para a composição
das receitas mensais dos catadores que vendem para o CAS. A
FIGURA B.4.7 descreve essa composição:
158

FIGURA B.4.7: COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS MENSAIS DOS CATADORES


QUE FORNECEM MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA O CAS CENTRAL – MÉDIA
PONDERADA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES (%)

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

B.4.2. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA


ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS DE CATADORES

A partir dos dados de produção física e de receitas


auferidas calculados e apresentados nas seções anteriores,
torna-se possível estimar as eficiências físicas e econômicas
de cada um dos três grupos de catadores-fornecedores do CAS.

O QUADRO B.4.3 apresenta esses resultados:


159

QUADRO B.4.3: EFICIÊNCIAS FÍSICA E ECONÔMICA DOS TRÊS GRUPOS


DE CATADORES – CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E VERTEDERO -
AGOSTO de 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

Deste QUADRO, pode-se concluir, sem surpresa, que todos


os três grupos de catadores apresentam baixíssimas
eficiências econômicas – embora tenham médias eficiências
físicas. Salta aos olhos o fato que poderiam apresentar
melhores eficiências econômicas caso apresentassem melhores
eficiências de mercado.37

Porém, suas eficiências econômicas são baixíssimas pelas


mesmas razões que as eficiências econômicas do CAS Central
(apresentadas na seção anterior) são altíssimas! Uma
conclusão NÃO É independente da outra, uma vez que uma causa
a outra, ao mesmo tempo em que é conseqüência da outra.

Em outras palavras: as eficiências econômicas dos três


grupos de catadores são baixas para permitir que a eficiência
econômica do CAS seja alta: um aumento na eficiência
econômica de qualquer desses três grupos, inevitavelmente
implicaria em uma redução da eficiência econômica do CAS!

Esta constatação apenas ressalta o artificialismo


utilizado nas duas óticas anteriormente apresentadas: nem o
CAS CENTRAL é independente dos grupos de catadores; nem esses
catadores podem ser vistos como independentes do CAS CENTRAL.
Suas eficiências físicas e econômicas são atreladas de forma
inextrincável, e a oposição de seus comportamentos apenas
evidencia a natureza exploratória da atividade do CAS. Ao
privatizar os benefícios do processamento e venda dos
37
Observe-se que os cálculos das respectivas eficiências de mercado – nesse caso – resultariam em
tautológico raciocínio circular, uma vez que a estrutura do CAS mantém esses três grupos de catadores
atrelados a preços vis para a compra de seus materiais recicláveis.
160

materiais recicláveis, e ao contribuir para ossificar a


distribuição muito desigual dos rendimentos dessa atividade,
o CAS só poderá ser inteiramente apreciado se tomarmos o
conjunto das atividades de catadores-fornecedores-
processamento-venda à indústria como um todo consistente.
Isto significa a conceituação do SISTEMA CAS, que passamos a
discutir brevemente na seção seguinte.

B.5. A ÓTICA DO SISTEMA CAS.

Nessa ótica todo o processo de catação ligado direta ou


indiretamente ao CAS será analisado em conjunto, como um
sistema interligado, o “SISTEMA CAS”. Assim, as eficiências
físicas e econômicas serão calculadas de forma conjunta –
aliás, como ocorreria se a opção institucional de organização
jurídica fosse a cooperada.

Esta também é a ótica que permitirá visualizar a


canalização dos recursos financeiros obtidos a partir da
catação de materiais recicláveis e sua destinação à ALTERVIDA
sob título de “amortização da dívida”. Aqui, novamente será
necessário retornar à realidade, na qual o CAS sequer é
pessoa jurídica independente da ALTERVIDA, havendo
sobreposição de contabilidade.

B.5.1. A NATUREZA DO “SISTEMA CAS”

O SISTEMA CAS é composto por um total de 154 catadores –


segregados em quatro grupos diferentes:

• 40 catadores ocupados no CAS CENTRAL;


• 11 catadores-carrinheiros atrelados à coleta seletiva;
• 08 catadores atrelados aos grandes geradores; e
• 95 catadores selecionados no Vertedero e arredores.

Qualquer análise que deixe de considerar esse complexo de


instâncias articuladas, será incapaz de capturar o conjunto
do processo de trabalho humano que é capaz de recolher,
processar e comercializar 127.135 Kg de materiais recicláveis
mensalmente, ao valor agregado de R$ 53.359,22.
161

Fracionar a análise, sem dúvida esclarece as partes e


componentes, mas deixar de compreender a sua totalidade, além
de contribuir para fraudar e obscurecer a natureza do
processo em sua dinâmica, e em suas partes constitutivas.

Assim procedendo, os custos de aquisições de materiais


embutem-se – pela consideração das produtividades físicas e
econômicas do conjunto dos trabalhadores envolvidos direta e
indiretamente nas atividades do CAS. Como conseqüência, a
receita líquida do CAS – tão importante para o cálculo da
rentabilidade e dos lucros brutos do empreendimento – precisa
ser substituída pela receita bruta, nos cálculos das
eficiências econômicas do SISTEMA CAS.

B.5.2. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA


ECONÔMICA DO SISTEMA CAS

Antes que possamos apresentar os resultados dos cálculos


das eficiências física e econômica do SISTEMA CAS, é
necessário fazer uma observação:

Com respeito à eficiência econômica: uma coisa é calculá-


la considerando a valoração per capita bruta, sem penalizá-la
com encargos e amortizações. Outra coisa é introduzir uma
dedução compulsória sobre todo o valor da produção bruta, a
título de amortização da dívida contraída com o BID.

Somos informados que no momento um montante equivalente a


US$ 800 semanais38 são transferidos à ALTERVIDA a título de
amortização dessa dívida. Na prática – diante da inexistência
de figura jurídica de um CAS independente da ALTERVIDA – isto
significa apenas transferência interna de caixa dentro da
própria empresa. Mas este fato, obviamente, influencia nos
valores economicamente disponíveis para os cálculos da
eficiência econômica.

Para evitar dúvidas e ambigüidades, optou-se por


apresentar ambos os cálculos: a) no primeiro caso, a
eficiência econômica foi calculada a partir do SISTEMA CAS
conjunto, a partir dos valores brutos da produção, sem
qualquer dedução39; b) no segundo caso, a eficiência econômica

38
Algo como US$ 3.200 mensais, ou, ao câmbio da época, uns R$ 6.400,00 por mês.
39
Aliás, como é tradicionalmente feito nos cálculos de eficiências econômicas apresentadas em outros
trabalhos das equipes do GERI/UFBA e do PANGEA
162

foi calculada a partir dos valores brutos da produção,


deduzidos dos R$ 6.400,00 mensais, retirados a título de
amortização da dívida contraída com o BID.40 As eficiências
físicas são idênticas em ambos os casos.

Deve-se repetir que nenhuma consideração pode ser feita a


respeito dos recursos transferidos a fundo-perdido pelo mesmo
BID à ALTERVIDA por conta do Projeto PROCICLA41; dos recursos
alocados pela USAID42; ou dos montantes transferidos pela
Prefeitura de Assunção43. Nenhuma destinação dessas alocações
é conhecida nem suas formas de aplicações, financeiras ou
não. Assim, tampouco qualquer benefício é adicionado ao
cálculo da eficiência econômica do SISTEMA CAS. Se benefícios
existem, eles devem estar incorporados ao patrimônio da
ALTERVIDA que – embora juridicamente ligada ao CAS, e dele
indistinguível – é considerada como externa ao SISTEMA CAS,
para efeito desses cálculos.

Não é necessário voltar a declarar que esclarecimentos


adicionais a este respeito exigiriam uma auditoria das contas
do Projeto PROCICLA no âmbito da ALTERVIDA – tarefa que
extrapola os limitados objetivos deste diagnóstico e de muito
excede as competências da equipe executora.

O QUADRO B.5.1 apresenta os resultados dos cálculos


efetuados para as eficiências físicas e econômicas do SISTEMA
CAS, respectivamente SEM, e COM a dedução da parcela de
“amortização da dívida” com o BID.

QUADRO B.5.1: EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DO


SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007

40
Declarada como sendo US$ 238.000,00.
41
Esta parcela não-reembolsável é declarada como equivalente a US$ 300.000,00.
42
Não foi possível obter os valores não-reembolsáveis transferidos pela USAID à ALTERVIDA.
43
Tampouco foi possível obter dados definitivos sobre os montantes desta contribuição, assim como de outros
possíveis financiadores cujas logomarcas aparecem nos folders do Projeto PROCICLA.
163

Esses valores para as eficiências físicas e econômicas


colocam ambas as situações em enquadramento de atividades de
baixas eficiências, muito ao contrário do que foram os
resultados obtidos na análise do CAS CENTRAL. E este é
efetivamente o caso do conjunto das atividades de catação,
processamento e venda de materiais recicláveis para a
indústria, no bojo do Projeto PROCICLA, de responsabilidade
da ALTERVIDA. O projeto, entretanto, é extremamente rentável
– do ponto de vista da lucratividade privada – como já foi
demonstrado anteriormente.

O QUADRO B.5.2 coteja as diferentes eficiências físicas e


econômicas dos diversos segmentos nos quais se pode seccionar
o conjunto das atividades do SISTEMA CAS:

*01 - CAS CENTRAL - Valores Brutos


*02 - CAS CENTRAL - Valores Líquidos
*03 - Carrinheiros
*04 - Grandes Geradores
*05 - Catadores do Vertedero
*06 - TOTAL FORNECEDORES
*07 - SISTEMA CAS CONJUNTO - V. Brutos
*08 - SISTEMA CAS CONJUNTO – V. Brutos
Após Amortização da Dívida

As FIGURAS B.5.1 e B.5.2, respectivamente, justapõem as


eficiências físicas e as eficiências econômicas desses oito
segmentos, diferencialmente conceituados.
164

QUADRO B.5.2: EFICIÊNCIAS FÍSICAS E EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DO


SISTEMA CAS – AGOSTO DE 2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


165

FIGURA B.5.1: EFICIÊNCIAS FÍSICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(KG/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


166

FIGURA B.5.2: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS SECÇÕES DO SISTEMA CAS(R$/CATADOR)-AGOSTO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe - PANGEA - 2007


167

B.5.3. ANÁLISE COMPARATIVA DAS


EFICIÊNCIAS DOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS

Com o que foi exposto nas seções anteriores, pode-se


entender – fazendo agora o raciocínio inverso -- como é
possível partir de um sistema de baixas produtividades física
e econômica (itens *07 e *08 DO QUADRO B.5.2); segmentar o
conjunto dos catadores envolvidos em três grupos, excluídos
dos cálculos pela compra de seus materiais a preços vis
(itens *03, *04, *05 e a sua totalização no item *06); e
finalmente exibir níveis altíssimos de produtividades física
e econômica, ao considerar como base apenas os 40 catadores
remunerados de forma proto-assalariada na central do CAS
(itens *01 e *02 da mesmo QUADRO).

É evidente que a razão subjacente para que esses fatos


possam ter lugar – à parte certo grau de prestidigitação
contábil – reside no isolamento dos benefícios gerados no
processo, mais coerente com uma lógica de apropriação privada
do que com a repartição solidária dos resultados.

Resta, entretanto, estabelecer uma relação comparativa


com outras unidades de catadores de materiais recicláveis
existentes, e já estudadas – e que fossem capazes de prover
um pano-de-fundo para que o que se passa no SISTEMA CAS possa
ser mais bem evidenciado.

No âmbito do Centro de Referência do Catador de Material


Reciclável do PANGEA, existem dois estudos prévios que podem
servir a esta função: a) O estudo amostral executado em 2006
para o conjunto das cooperativas / associações de catadores
brasileiras ligadas ao Movimento Nacional de Catadores de
Materiais Recicláveis44, e; b) O recém concluído estudo sobre
as cooperativas paulistas ligadas à REDE CATA SAMPA45.

Com base nesses dois estudos, torna-se possível aquilatar


as eficiências globais comparadas das diversas segmentações
do SISTEMA CAS, e que podem ser mais bem apreciadas.

44
Damásio, J. “ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA
PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS” – PANGEA 2006 – no prelo.

45
“RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO PROJETO REDE CATA SAMPA, SÃO
PAULO, BRASIL” – Salvador – Novembro de 2007.
168

O QUADRO B.5.3 apresenta as eficiências globais, de forma


comparativa, das diversas secções do SISTEMA CAS, cotejando-
as com aquelas das 20 cooperativas da amostra representativa
do Brasil.

QUADRO B.5.3: EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA


CAS EM RELAÇÃO À AMOSTRA BRASIL(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA


*Consultar Damásio(2006)

Observa-se que – ao apresentar-se como unidade isolada, o


CAS CENTRAL – tanto em sua versão com valores das receitas
169

brutas, quanto em sua versão com valores das receitas


líquidas – exibe uma altíssima eficiência global (itens *01 e
*02).

Os segmentos dos catadores-fornecedores situam-se na zona


de baixa eficiência – particularmente pela baixíssima
eficiência de mercado que lhes é imposta pelo CAS CENTRAL
(itens *03, *04, *05, e sua totalização *06).

Ao ser integrado aos seus catadores-fornecedores, o CAS


CENTRAL passa a demonstrar a verdadeira eficiência global do
sistema: cai da faixa de alta e altíssimas eficiências,
ultrapassa toda a faixa de média eficiência, e vem alocar-se
em plena faixa de baixa eficiência (itens *07 e *08). Em
particular, os valores obtidos para o SISTEMA CAS conjunto --
analisado após a retirada dos valores para a amortização da
dívida com o BID, item *08 – coloca-se acima apenas da
eficiência dos catadores do Vertedero, item *05 ( e de sete
das vinte cooperativas da amostra-Brasil) e abaixo até mesmo
da produtividade do conjunto dos segmentos catadores-
fornecedores, item *06.

Efetuando-se a comparação com outra base de dados – a das


cooperativas paulistas associadas à REDE CATA SAMPA – são
obtidos os dados constantes DO QUADRO B.5.4.

De forma semelhante ao anteriormente descrito, o CAS


CENTRAL em sua contabilidade de receitas brutas (item *01)
demonstra uma eficiência global superior mesmo à da Central
da REDE CATA SAMPA. Mesmo ao serem consideradas apenas as
suas receitas líquidas (item *02)– descontando os pagamentos
efetuados aos catadores-fornecedores – a sua eficiência
global permanece na faixa de alta eficiência, abaixo apenas
da Central da REDE CATA SAMPA e da Coopamare.

Porém, como já sabemos, essas são avaliações ilusórias da


eficiência global do CAS, adequadas apenas para ilustrar a
capacidade de extrair excedentes privatizáveis da atividade
de catação de materiais recicláveis. Nessas mensurações são
eliminadas quaisquer possibilidades de capilaridade dos
rendimentos, na forma que a REDE CATA SAMPA procurou
instituir -- seja via dos mecanismos da comercialização
conjunta, seja via das participações nas retiradas de
resultados obtidos a partir dos grandes geradores, feiras e
eventos.
170

Pelo lado dos catadores-fornecedores, observa-se que os


segmentos dos catadores alocados aos grandes geradores (item
*04) e os carrinheiros (item *03) inserem-se na faixa de
baixa produtividade global, abaixo da CooperGlicério e da
Cruffi e imediatamente acima da CORA.

QUADRO B.5.4: EFICIÊNCIA COMPARATIVA DAS SECÇÕES DO SISTEMA


CAS EM RELAÇÃO À REDE CATA SAMPA(*) – ORDENAÇÃO – AGO/2007

FONTE: ALTERVIDA – Pesquisa Direta – Cálculos da Equipe – PANGEA


*Consultar PANGEA(2007)
171

Os catadores do Vertedero (item *05) aproximam-se


perigosamente da faixa de baixíssima produtividade -- acima
apenas da AME, ainda na faixa de baixa produtividade, mas
abaixo de todas as demais.

O SISTEMA CAS em seu conjunto, após a dedução das


amortizações da dívida com o BID (item *08) insere-se em
faixa de produtividade global baixa, abaixo da CORA, e acima
da CooperSantos.

Acreditamos que as comparações de eficiências globais


relativas, que foram acima apresentadas, resumem o verdadeiro
estatuto da CAS – unidade central do Projeto PROCICLA – em
suas articulações sistêmicas com as atividades de catação,
processamento e comercialização de materiais recicláveis em
Assunção.

B.6. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES

 As baixas eficiências do SISTEMA CAS são – antes de tudo


– atribuíveis aos seus baixos níveis de investimento em
produtividade operacional. Isto é evidenciado pela
pequena disponibilidade de equipamentos – até mesmo na
planta da unidade central do CAS. Isto parece
injustificável, diante dos montantes que são citados
como tendo sidos investidos no processo. No CAS existe
apenas uma prensa46, assim mesmo declaradamente tomada
por “emprestada” e não-legalmente de propriedade do CAS
/ ALTERVIDA. O responsável pela contabilidade paralela
do CAS declara explicitamente que uma prensa adicional
reduziria em muito os custos operacionais, uma vez que
“as luzes não precisariam ficar acesas a noite inteira
para permitir a prensagem do material a tempo: os custos
com o consumo de energia elétrica diminuiriam muito”
(!!). Imaginar que uma unidade de catação que gera um
excedente mensal de US$ 3.400 – apenas a parcela da
amortização, desconsiderados outros excedentes -- não
disponha de recursos para a aquisição de uma prensa
adicional a sete ou oito mil dólares – e que aumentaria
a sua eficiência financeira – beira as raias do ridículo
e do surreal.
 Não existem argumentos razoáveis para explicar o porquê
da não existência de uma cozinha comunitária no CAS, que

46
Uma prensa nova pode ser adquirida por valores entre US$ 7.000,00 e US$ 8.000,00.
172

permitisse aos catadores efetuar as suas refeições no


local do trabalho, reduzindo os seus custos pessoais.
Apenas a mais tacanha mentalidade de “privatização das
vantagens” e “distribuição das desvantagens” pode
explicar este fato. É urgente a criação e instalação de
cozinha-comunitária no CAS, extensiva aos catadores
efetivamente ligados à atividade.
 Apenas dois dos quatros barracões previstos no projeto
foram construídos. Mesmo assim, um deles está ocupado
com uma estrutura de salas para o pessoal
administrativo, deixando pouca área útil para o
processamento de materiais. Um terceiro barracão existe
apenas em forma estrutural -- coberto de forma precária
-- utilizado como espaço emergencial. Pergunta-se: por
que os investimentos necessários para a construção de
espaços adequados não foram efetuados a partir dos
recursos obtidos pelo Projeto PROCICLA juntos às
entidades que o apoiaram financeiramente? Não sabemos, e
é claro que apenas uma auditoria das contas da ALTERVIDA
responderia a essa questão. Novamente lembrar – e
pedimos desculpas pela repetição – que o CAS não tem
personalidade jurídica própria.
 Mesmo admitindo-se que seja correto retirar mensalmente
dos valores líquidos gerados pelo CAS uma parcela
referente à amortização da dívida com o BID; e mesmo
admitindo que essas parcelas de fato remunerem o BID e
amortizem a citada dívida. Resta, entretanto uma
pergunta: como obviamente essa amortização está sendo
efetuada a partir do trabalho coletivo dos catadores do
SISTEMA CAS – ou pelo menos a partir do trabalho dos 40
catadores diretamente ocupados no CAS CENTRAL – ao final
dessa amortização quem serão os proprietários efetivos
da unidade de processamento, enfim, do CAS? Parece-nos
que a resposta é óbvia: não serão os catadores. Nem os
quarenta trabalhadores que hoje atuam na central (e que,
afinal, nem têm estabilidade), nem muito menos os 114
catadores-fornecedores. A unidade certamente permanecerá
na propriedade jurídica da ALTERVIDA, privada, a não ser
que imediatamente sejam apresentadas propostas que
demonstrem as formas de transferência dessa propriedade
aos catadores. Ou – o que nos parece mais de acordo com
o espírito que hoje norteia a implementação do Projeto
PROCICLA – que sejam explicitamente abandonados a
“retórica social” e o “discurso de integração com os
catadores” e seja declarada a natureza de
“empreendimento privado” desse projeto. Assim, o
verdadeiro papel de “atravessador eficiente” que a
173

implantação da unidade do CAS vem implementando tornar-


se-ia explícita, e poderia ser mais bem avaliada pelas
entidades de financiamento.
 Na unidade do CAS existem funcionários administrativos
formalmente contratados que legitimamente esperam estar
contribuindo para a construção de uma atividade de fato
cooperada. Isto ficou bastante claro e patente durante
as conversas mantidas no período de nossa visita. Como a
direção da ALTERVIDA lhes parece distante e inatingível,
mantêm a “esperança” de que um dia o CAS vire uma
cooperativa. Não estão a par, no entanto, de qualquer
iniciativa ou proposta que lhes indique essa direção.
Declaram que se soubessem que isso jamais acontecerá,
deixariam a unidade. E a equipe que efetuou o trabalho
direto foi testemunha – ao lado do Dr. Eduardo Rotella –
de trocas conflituosas de opiniões a respeito, entre a
direção da ALTERVIDA e esses funcionários. A tensão
interna entre esses “esperançosos sinceros” e a
pragmática direção centralizadora da ALTERVIDA
aparentemente continuará presente por algum tempo.
 A unidade central do CAS está localizada em um terreno
de 1.500 m2, cedido pela prefeitura de Assunção, situado
SOBRE o aterro sanitário da Cateúra. Isto significa que
não há como obter água pura a partir de poços
artesianos, uma vez que os lençóis freáticos da região
estão profundamente contaminados pelo “chorume” do lixo
ali depositado – e mais recentemente enterrado – por
décadas de utilização. A necessidade de adquirir água a
partir da rede pública de Assunção aumenta os custos e
limita a expansão de atividades água-intensiva no
processamento de alguns materiais recicláveis. Ademais,
existe a preocupação local – fundada ou não – que os
barracões possam eventualmente sofrer abalos em suas
fundações, pelas especiais características do terreno
sobre as quais foram os mesmos erigidos. A própria
existência de “fossas sépticas” fica comprometida.
 A única unidade de transporte de materiais recicláveis
reputadamente adquirida como parte do investimento em
equipamentos para o CAS é uma camioneta de cabine dupla
– declarada como comprada de “segunda-mão” - mais
adequada para passeios em fins-de-semana do que para o
eficiente transporte de materiais. Como a propriedade do
veículo está registrada na ALTERVIDA, a equipe tampouco
se sentiu habilitada para tecer comentários adicionais a
respeito...
 Os quarenta catadores ocupados na unidade central do CAS
não falam. As seguidas tentativas, da equipe que esteve
174

em Assunção, de estabelecer um diálogo com eles foram


frustradas. Olhares fugidios, respostas monossilábicas e
disposição em encerrar logo a conversa. Talvez seja
timidez. Talvez seja o contato com o “estrangeiro”.
Talvez a convicção de não serem protagonistas. Talvez a
sensação de não serem interlocutores legítimos. Talvez
seja outra coisa qualquer...
 A presença da unidade do CAS -- com sua situação
privilegiada junto ao VERTEDERO da Cateúra -- em nada
contribui para minorar a exclusão social dos catadores,
ou para eliminar ou atenuar a exploração que os
intermediários e atravessadores do mercado de materiais
recicláveis de Assunção exercem sobre os catadores. Pelo
contrário: a presença do CAS – e a sua eventual
ampliação e estabilização nos moldes jurídicos e
operacionais no qual hoje se encontra – significa a
formalização de uma eficiente atividade de exploração e
marginalização dos catadores de materiais recicláveis de
Assunção. Na verdade, parece ser provável que os únicos
agentes que de fato sintam quaisquer impactos pela
presença do CAS sejam as indústrias (efeitos positivos,
pela melhor qualidade do material recebido, e pela
regularidade das entregas); e os demais atravessadores
de Assunção (efeitos negativos) pela presença de um novo
concorrente mais eficiente, o CAS. Do ponto de vista dos
catadores de Assunção, o efeito de curto prazo é
majoritariamente neutro: não melhora nem piora a sua
situação atual. Porém, do ponto de vista prospectivo, o
efeito é amplamente negativo, pois significará a
eliminação da possibilidade de mobilidade social e do
escape ao círculo vicioso da pobreza e exclusão.
 Recomenda-se que futuros aportes financeiros destinados
ao Projeto PROCICLA sejam devidamente analisados quanto
à sua efetiva destinação. A perdurar a identidade
jurídica entre o CAS e a ALTERVIDA – e a curiosa
mescla/separação de valores não-retornáveis e
amortizações de dívidas assumidas – parece uma fonte de
risco destinar novos aportes47. É óbvio que a unidade
operacional do CAS necessita maior volume de
investimentos em equipamentos, e que pelo menos uma
prensa adicional é imediatamente vital. Porém, antes de
efetuar aporte adicional, cabe indagar sobre as
destinações efetivas de aportes anteriores, que
definitivamente não são fisicamente evidenciados na

47
Há que distinguir entre aportes earmarked e aqueles de destinação geral.
175

estrutura física operativa do CAS, na forma em que ele


hoje existe.
 Para os efeitos do presente trabalho, esta análise
apresentada na PARTE B explicita que a alternativa do
estabelecimento de empresas privadas como vetores de
reciclagem de materiais pode ser, sim, muito lucrativo.
Mas NÃO É – em qualquer ótica que se procure apreciar –
um instrumento de integração, de inclusão social e muito
menos de combate à pobreza! Não se trata aqui de questão
ideológica, tampouco. Os dados numéricos obtidos na
PARTE A deste trabalho – resultantes de análise de uma
Rede de Comercialização Conjunta legitimamente composta
por cooperativas – quando cotejados com os resultados
desta PARTE B – a experiência empresarial do SISTEMA CAS
da ALTERVIDA – remetem a uma única conclusão: para a
obtenção de efeitos duradouros de integração e inclusão
social a privatização dos excedentes da reciclagem de
materiais tem efeitos deletérios. Isto será levado em
conta na discussão da REDE CATABAHIA a ser apresentada
na PARTE D abaixo.
176

PARTE C: A REDE CATA RIO

C.1. INTRODUÇÃO À PARTE C

A gestação do presente trabalho foi suficientemente longa


para que pudessem ser observadas diversas mudanças no
comportamento operacional de conjuntos de cooperativas de
catadores de materiais recicláveis no Brasil.

A PARTE A deste trabalho deteve-se sobre a experiência


paulistana, na construção de uma Rede de Comercialização
Conjunta – composta por dezenove cooperativas – na região
metropolitana de São Paulo, a REDE CATA SAMPA. Na análise da
dinâmica dessa rede, foram apreendidas algumas importantes
lições – já amplamente discutidas então.

No segundo semestre de 2007 – quando estava próxima a


data de conclusão do presente trabalho – um novo desafio
tornou-se patente: como diagnosticar e propor uma complexa
logística regional para a Comercialização Conjunta de
materiais recicláveis na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro?

Como fazê-lo de forma a que esta rede fosse ampliável


regionalmente de maneira a comportar a futura dinâmica
induzida pela iminente implantação do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro, em Itaboraí? Como compor um conjunto de
unidades de catadores de materiais recicláveis – com
organizações jurídicas muito diversas – em uma rede coerente
e logisticamente eficiente?

Como preservar o processo decisório representativo de até


setenta e sete cooperativas, associações, ONGs, unidades
assistencialistas, grupos de bairros e donas-de-casa, lado-a-
lado com alguns pequenos grupos privados empresariais?

Diante do desafio, tornou-se logo patente que o presente


trabalho apenas teria a ganhar em qualidade ao incluir as
propostas que agora constituem a PARTE C.

Tornou-se inevitável solicitar à FAPESB um aditivo para


extensão em um ano do prazo de conclusão – sem quaisquer ônus
financeiros adicionais – para que houvesse tempo físico que
177

permitisse a gestação dessas propostas. Hoje fica claro que


esta foi a opção correta!

No que se segue são apresentadas propostas para a


constituição de uma ampla Rede de Comercialização Conjunta de
materiais recicláveis centrada no Estado do Rio de Janeiro, a
partir da região metropolitana de sua capital.

A fim de permitir vantagens logísticas e operacionais,


que compusesse racionalmente os interesses de setenta e sete
unidades de catadores de materiais recicláveis, optou-se por
sugerir a implementação de quatro Entrepostos regionais,
coordenados por uma Central administrativa – constituindo a
REDE CATA RIO. O projeto de implantação dessa rede conta com
o decisivo apoio financeiro de instituições que, no momento,
solicitam discrição.

Foram estudadas e explicitadas as vantagens relativas de


cada uma das unidades de catadores amostradas e demonstradas
as viabilidades econômicas da Comercialização Conjunta de
materiais recicláveis.

Espera-se que as lições apreendidas nesta PARTE C possam


ser instrumentais para a futura ampliação da REDE CATABAHIA,
através da constituição de Entrepostos regionais e
estabelecimento de uma Central comum no estado da Bahia – a
exemplo da iniciativa fluminense, aqui descrita.
178

C.2. A AMOSTRA DAS UNIDADES DE CATADORES


DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

C.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DAS


UNIDADES DE CATADORES

Para construir uma amostra das unidades de


catadores/associações – e outras formas de organização -- de
catadores de materiais recicláveis na Região Metropolitana do
Rio de Janeiro, foram adotados alguns critérios48:

a) Quanto à forma das suas caracterizações jurídicas


– foi adotado o termo comum “UNIDADE” como forma
geral de referência para todos os casos. Trata-se
apenas de simplificação terminológica, não
indicando uma opção preferencial por uma ou outra
forma de organização;
b) Existem organizações de catadores que possuem
várias unidades operacionais -- de forma
geograficamente dispersas -- funcionando com
variáveis graus de autonomia, muitas vezes
elevado. Para os efeitos deste trabalho, cada
unidade foi singularizada, de maneira a ser ela
própria caracterizada individualmente. Isto visou
captar o grau de heterogeneidade existente entre
“matriz” e unidades “periféricas”, que, de resto,
é aparente em um grande número de casos. Deve,
entretanto ficar claro desde logo, que alguma
externalidade positiva dessa relação passa a não
ser captada – entretanto sem prejuízo para os
objetivos deste trabalho;
c) Dados os limitados recursos para proceder a um
extenso levantamento de dados primários – e dada a
exigüidade do tempo no qual foi executado este
trabalho (seis meses), optou-se por efetuar uma
amostragem intencional estratificada não-

48
Os critérios aqui adotados são espelhados naqueles utilizados na elaboração do trabalho “Análise do Custo
de Geração de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o Segmento dos Catadores de Materiais
Recicláveis” elaborado pelo Prof. Dr. João Damásio para o PANGEA/ Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS) em 2006. O referido estudo encontra-se no prelo, para publicação, com prefácio do
Ministro Patrus Ananias, do MDS.
179

aleatória, procurando obter uma distribuição


territorial e dimensional – quanto ao tamanho das
unidades pesquisadas – razoavelmente proporcional
em relação ao Universo presumido de setenta e
sete49 unidades de catadores de materiais
recicláveis.
d) Essa estratificação levou em consideração
 os portes relativos das unidades;
 as eficiências diferenciais das unidades,
evidenciadas pelos seus estágios de organização;
 os volumes físicos de equipamentos das unidades,
de forma a preservar a diversidade na amostra;
 a sua localização espacial dentro da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro;
 a presença ou não de entidades mantenedoras,
incubadoras ou financiadoras, de forma a obter a
necessária heterogeneidade.
 Outros fatores presentes incluem a
impossibilidade de acesso a unidades, devido a
restrições policiais (Rocinha, Maré); recusa
peremptória em participar do levantamento de
dados; ou a presença de valores quantitativos que
não resistiram à crítica estatística. Entretanto
esses foram casos minoritários, que não afetam
significativamente a robustez dos dados
primários, como será evidenciado.
e) Durante dezesseis semanas foram efetuadas diversas
campanhas de levantamento de dados primários, via
preenchimento direto de questionários, entrevistas
e envio eletrônico de dados adicionais. Assim,
partiu-se de um número inicialmente avaliado em
vinte unidades de catadores/associações dentro da
rede — as mais visíveis e ativas – para logo
elevá-lo para vinte e oito, e finalmente o número
final de unidades pesquisadas: trinta e três, em
um Universo de setenta e sete.

49
O Universo é referido como sendo composto por setenta e sete unidades de catadores de materiais
recicláveis. Entretanto, como o índice de mortalidade e de surgimento dessas unidades pode ser elevado em
regiões periféricas, é possível que algumas dessas unidades tenham se tornado inoperantes durante a
realização deste estudo, assim como é possível que outras hajam sido criadas. A implementação da Rede Cata
Rio deverá devotar recursos para diagnosticar e cadastrar todas as unidades operantes.
180

C.2.2. AS 33 UNIDADES DE CATADORES DO


UNIVERSO AMOSTRAL PESQUISADO

Com base nessa disposição de critérios, são apresentados


a seguir os valores descritivos do conjunto amostral
utilizado, referentes às 33 unidades pesquisadas. Nesse
quadro – assim como nos demais quadros apresentados ao longo
deste trabalho – devem ser observadas as seguintes
convenções:

a) Número de CATADORES: Indica o número de catadores


efetivamente declarados em atividade – formalizados, ou
não -- pelas administrações das unidades de catadores;
b) PRODUÇÃO Kg: Representa a magnitude em peso média do
volume mensal de material reciclado efetivamente
recolhido, triado, enfardado e comercializado pelas
respectivas unidades de catadores;
c) VALOR DA PRODUÇÃO R$50: Representa o valor obtido pela
venda média do volume mensal de material reciclado
efetivamente recolhido, triado, enfardado e
comercializado pelas respectivas unidades de catadores;

As trinta e três unidades, que hoje compõem o Universo


amostral pesquisado, são muito diversas entre si: vão desde
organizações de alta eficiência até grupos-de-rua -- não-
formalizados e em etapas de organização -- que apresentam
baixíssima eficiência. O QUADRO C.2.1, na página seguinte
apresenta esses resultados. Notar que os números de ordem
originalmente atribuídos apenas indicam a precedência de
retorno dos questionários.

Os dados apresentados nesse QUADRO 1.1 são descritos


graficamente na FIGURAS C.2.1, C.2.2 e C.2.3.

O exame dos dados do quadro e das figuras explicita a


ampla diversidade das unidades de catadores de materiais
recicláveis presente no Universo amostral pesquisado. É
importante notar que não existe uma ordenação única dessas
unidades, seja com referência ao número de catadores
envolvidos no processo, seja no valor bruto da produção

50
O faturamento bruto médio mensal corrente das respectivas unidades de catadores muitas vezes é
idêntico ao da PRODUÇÃO R$/mês, porém – naquelas unidades de catadores de maior grau de organização
– também espelham valores adicionais percebidos pela venda de materiais processados. Na RM do Rio de
Janeiro essa prática ainda é bastante episódica.
181

física, seja ainda nas receitas brutas decorrentes da venda


dos materiais recicláveis coletados e processados.

QUADRO C.2.1: DADOS GERAIS: NÚMERO DE CATADORES, VENDAS


TOTAIS E PRODUÇAO FÍSICA DAS UNIDADES PESQUISADAS – AGO 2008

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


SA
R RA

0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
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C A
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FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008 EC
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FIGURA C.2.1: NÚMERO DE CATADORES POR UNIDADE – JUN/JUL/AGO 2008

O P
P A
C M IS R
O
O TA
PA
M
A
182
183

FIGURA C.2.2: PRODUÇÃO FÍSICA DAS UNIDADES DE CATADORES (Kg) – JUN/JUL/AGO 2008

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


184

FIGURA C.2.3: VALOR DAS RECEITAS DAS UNIDADES DE CATADORES (R$) – JUN/JUL/AGO 2008

VA L OR DA S R E C E IT A S DA S UNIDA DE S (R $)
J UN/J UL /A G O 2008

R $ 100.000,00

R $ 90.000,00

R $ 80.000,00

R $ 70.000,00

R $ 60.000,00

R $ 50.000,00

R $ 40.000,00

R $ 30.000,00
R $ 20.000,00

R $ 10.000,00

R$ -

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A

O
P
O
R

R
G

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


185

C.2.3. AS UNIDADES DO UNIVERSO AMOSTRAL


NÃO-PESQUISADO

Como já foi mencionado anteriormente, foram identificadas


setenta e sete unidades de catadores de materiais recicláveis
na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Trinta e três
dessas unidades foram incluídas na amostra intencional
estratificada apresentada na seção anterior.

As quarenta e quatro unidades não incluídas na pesquisa


quantitativa são, entretanto, relevantes do ponto de vista da
constituição de uma rede de entrepostos e central de
comercialização e transformação de materiais recicláveis.

Embora as adesões de quaisquer unidades de catadores à


rede sejam obviamente opcionais – quer tenham ou não sido
incluídas na amostra do presente trabalho -- o conhecimento
prévio de suas existências é decisivo para as adequadas
alocações nos sistemas de entrepostos, do ponto de vista
logístico.

As unidades não-pesquisadas foram geo-referenciadas pelos


seus endereços declarados, o que possibilitou estabelecer
suas afinidades geográficas e logísticas. De fato -- no que
se segue -- as unidades não-pesquisadas foram preliminarmente
alocadas aos entrepostos de maior viabilidade logística, em
cada caso, apesar dos cálculos apresentados referirem-se ao
Universo amostrado.

Deve ser destacado que uma melhor caracterização dessas


unidades não-amostradas é essencial para as suas efetivas
inclusões e devem ser objeto de investigação adicional, em
paralelo às ações de implementação dos entrepostos, da rede
de comercialização, e da central de transformação.

O QUADRO C.2.2 apresenta os nomes dessas unidades de


catadores de materiais recicláveis não incluídas na amostra.
Novamente os seus números de ordem são incidentais, e não
devem ser interpretados de qualquer forma.
186

QUADRO C.2.2: UNIDADES DE CATADORES NÃO-INCLUÍDAS NA


AMOSTRA, PORÉM ALOCADAS AOS ENTREPOSTOS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


187

C.3. AS UNIDADES DE CATADORES AGRUPADAS E SUAS


EFICIÊNCIAS RELATIVAS

C.3.1. EFICIÊNCIA FÍSICA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA

O melhor critério para tipificar o desempenho das


unidades de catadores e agregar as unidades de catadores da
amostra NÃO É o seu tamanho, expresso no numero de
trabalhadores efetivamente envolvidos no processo de
reciclagem. Pode-se imaginar uma unidade com poucos
catadores, mas com equipamentos e instalações adequadas, que
apresente um melhor desempenho do que uma outra unidade com
muitos membros, porém desassistida de equipamentos e
instalações minimamente funcionais.51

Um critério muito caro à análise econômica é o critério


de eficiência. Existem muitas maneiras de se procurar medir a
eficiência de um processo produtivo ou de uma organização.
Uma das mais comuns é a utilização da relação
(produto)/(trabalho) – tanto em termos físicos, como em
termos de valoração (R$) – a fim de permitir que sejam
avaliados eventuais diferenciais na produção per capita, ou
seja, por trabalhador envolvido. O QUADRO C.3.1 apresenta
esses valores para as unidades da amostra.

Essa é uma medida da produtividade média, ou


eficiência que passa a ser utilizada nesse trabalho. Assim,
foi formulado um critério que buscou classificar as unidades
de catadores da amostra por dois critérios:

a) A eficiência física – ou produtividade média – da


produção física per capita, ou seja, por catador,
medida em Kg/mês. A FIGURA C.3.1 apresenta os valores
desse indicador de eficiência física para as unidades
de catadores da amostra.
b) Outro indicador de eficiência é o de eficiência
econômica – ou retorno bruto médio – calculado pelo
valor comercializado da produção física per capita, ou
seja, por catador, medido em R$/mês. A FIGURA C.3.2
apresenta os valores desse indicador de eficiência
física para as unidades de catadores da amostra.

51
Cf. op. cit. p. 22-3. No que se segue, os conceitos aqui adotados são idênticos aos utilizados no trabalho
citado.
188

QUADRO C.3.1: PRODUTIVIDADES FÍSICAS E ECONÔMICAS DAS


UNIDADES DA AMOSTRA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Embora sejam correlacionados, esses dois critérios não


são coincidentes, uma vez que as condições objetivas dos
processos de comercialização dos materiais recicláveis variam
muito, de unidade para unidade de catadores, de bairro para
bairro, de cidade para cidade, além de terem a haver com o
poder de barganha de cada organização em seu mercado local de
venda. A observação das FIGURAS C.3.1 e C.3.2 explicita que
os critérios de eficiência física e de eficiência econômica
189

não geram uma mesma ordenação das unidades de catadores, uma


vez utilizados.
191

FIGURA C.3.1: ORDENAÇÃO DAS UNIDADES POR PRODUTIVIDADES FÍSICAS (Kg/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


192

FIGURA C.3.2: ORDENAÇÃO DAS UNIDADES POR PRODUTIVIDADES ECONÔMICAS (R$/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


193

C.3.2. ANÁLISE DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA

A ordenação conjunta das unidades de catadores por


produtividades combinadas não é um problema trivial: exige
técnicas de estatísticas multivariadas para a adequada
composição de critérios desiguais.

Utilizando as técnicas da Análise Fatorial e a observação


do Discriminante Canônico dos dados, foi possível chegar a
uma ordenação conjunta das produtividades combinadas das
unidades de catadores de materiais recicláveis no Universo
amostrado na Região Metropolitana da cidade do Rio de
Janeiro. Esses resultados são apresentados – já na ordenação
de produtividades combinadas – no QUADRO C.3.2, a seguir:
194

QUADRO C.3.2: ORDENAÇÃO DAS UNIDADES POR PRODUTIVIDADES


COMBINADAS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A partir dos dados do QUADRO C.3.2, torna-se possível


detectar agrupamentos específicos – por critérios de
produtividades combinadas – que permitem segmentar as
unidades de catadores recicláveis da amostra em quatro grupos
distintos de eficiências combinadas52. O QUADRO C.3.3
apresenta esses quatro grupos de eficiência:

52
Cf. op. cit. pp.78-86. As unidades da presente amostra foram adicionalmente cotejadas às unidades do
estudo original – devidamente ajustadas pela inflação – de forma a evitar distorções paramétricas regionais.
195

QUADRO C.3.3: GRUPOS DE EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Neste QUADRO C.3.3, é utilizada uma convenção de cores


para identificar a qual grupo de eficiência cada unidade de
catadores pertence originalmente:

AZUL : As unidades possuem altas eficiências combinadas.

VERDE : As unidades possuem médias eficiências


combinadas.

AMARELO : As unidades possuem baixas eficiências


combinadas.
196

ROSA : As unidades possuem baixíssimas eficiências


combinadas.

Essa convenção será utilizada neste presente trabalho


sempre que sejam feitas referências a grupos de eficiências,
ou quando cada respectiva unidade seja alocada a algum dos
entrepostos.

A seguir são apresentados nos QUADROS C.3.4, C.3.5,


C.3.6 e C.3.7 os grupos de eficiência existentes na amostra
das unidades de catadores da Região Metropolitana da cidade
do Rio de Janeiro:

QUADRO C.3.4: UNIDADES DE CATADORES DE ALTA EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

QUADRO C.3.5: UNIDADES DE CATADORES DE MÉDIA EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


197

QUADRO C.3.6: UNIDADES DE CATADORES DE BAIXA EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

QUADRO C.3.7: UNIDADES DE CATADORES DE BAIXÍSSIMA


EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


198

C.3.3. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA FÍSICA NA


PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS:
DETALHAMENTO POR PRODUTOS

Durante o levantamento primário, feito através de


questionários, foram obtidos dados sobre a produção e a venda
de 89 materiais recicláveis.

Para que esses dados pudessem ser tratados de uma maneira


mais sistemática e visível, esses 89 materiais foram
agrupados em 21 categorias de materiais recicláveis. Essas
categorias são as mesmas utilizadas anteriormente em
trabalhos executados pela equipe técnica do PANGEA, com a
exceção do Óleo de Cozinha que – devido ao seu crescente
papel como insumo para a fabricação de biocombustíveis – foi
desagregado da categoria Outros Materiais.

O QUADRO C.3.8 descreve as produtividades físicas médias


nos diversos grupos de eficiência, segmentadas por categorias
de materiais. Observar a legenda – que será utilizada sempre
que QUADROS desse tipo sejam apresentados – que permite
avaliar imediatamente os resultados.

Os valores médios das produtividades físicas para cada


categoria de materiais estão apresentados na última coluna.
Nas demais colunas – comparativamente aos valores da média –
aparecem em vermelho os valores abaixo da média; em preto os
valores acima da média; e em azul os valores que sejam pelo
menos o dobro da média.
199

QUADRO C.3.8: EFICIÊNCIAS FÍSICAS POR MATERIAIS (Kg/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Essa convenção permitirá perceber de imediato o que


ocorre em termos de produtividade média per capita de cada
caso.

O QUADRO C.3.9 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de produtividades físicas das categorias de materiais,
em cada grupo de eficiência.

LEGENDA
ABAIXO DA MÉDIA
ACIMA DA MÉDIA
MAIS DO QUE O
DOBRO DA MÉDIA
200

QUADRO C.3.9: QUADRO DE EFICIÊNCIAS FÍSICAS RELATIVAS


Alta Média Baixa Baixíssima
Kg por catador Eficiência Eficiência Eficiência Eficiência
Física Física Física Física
AZUL: > 2x média 11 3 3 0
PRETO: acima da
7 9 8 0
média
VERMELHO:
1 7 7 18
abaixo da média
NÃO PRODUZ 2 2 3 3
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

NESSE QUADRO fica evidente que o grupo de unidades de


catadores de alta eficiência consegue ter vantagens em ONZE
materiais cujas produtividades são mais do que duas vezes
superiores á média, seja pela sua diversificação, seja pelos
maiores volumes comercializados – contra três, três e zero
dos outros três grupos. Percebe-se assim, que a eficiência
física é fortemente disseminada, e não apenas concentrada em
poucos materiais.

O grupo de baixíssima eficiência, em geral, concentra-se


em alguns poucos materiais, e mesmo assim, não consegue uma
produtividade física muito elevada em nenhum deles –
permanecendo sistematicamente abaixo da média.

Os grupos de médias e baixas eficiências até conseguem


sair-se com altos e baixos, mas ainda distantes da maior
produtividade física. Ambos apresentam apenas 3 materiais com
alta produtividade em relação à média e 7 materiais abaixo da
média.

Embora a visualização não seja simples, a FIGURA C.3.3


apresenta os valores comparados das eficiências físicas por
categorias de materiais, nos quatro grupos de eficiência –
nos quais foram agregadas as unidades de catadores da RM do
Rio de Janeiro.
201

FIGURA C.3.3: COMPARATIVO DAS EFICIÊNCIAS FÍSICAS NOS TOTAIS COMERCIALIZADOS (Kg/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


202

C.3.4. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA NA


PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS:
DETALHAMENTO POR PRODUTOS

O QUADRO C.3.10 descreve as produtividades econômicas


médias nos diversos grupos de eficiência, segmentadas por
categorias de materiais.

Da mesma forma, os valores médios das produtividades


econômicas para cada categoria de materiais estão
apresentados na última coluna. Nas demais colunas –
comparativamente aos valores da média – aparecem em vermelho
os valores abaixo da média; em preto os valores acima da
média; e em azul os valores que sejam pelo menos o dobro da
média.

QUADRO C.3.10: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS POR MATERIAIS (R$/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


203

O QUADRO C.3.11 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de produtividades econômicas das categorias de
materiais, em cada grupo de eficiência.

QUADRO C.3.11: QUADRO DE EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS RELATIVAS


Alta Média Baixa Baixíssima
R$ por catador Eficiência Eficiência Eficiência Eficiência
Econômica Econômica Econômica Econômica
AZUL: > 2x média 12 2 3 0
PRETO: acima da
6 8 6 0
média
VERMELHO:
1 10 9 18
abaixo da média
NÃO PRODUZ 2 2 3 3
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Vê-se que após a comercialização da produção, o grupo de


alta eficiência melhora ainda mais a sua posição relativa,
ficando os grupos de médias e baixas eficiências ainda
piores.

Como traduzir isto em termos simples? Bem, a análise dos


índices de eficiência da produção desagregada demonstra que
as unidades de catadores do grupo de alta eficiência não
apenas consegue uma produtividade física muito maior do que a
média, mas que – no processo de comercialização – obtém
vantagens adicionais.

No outro extremo, as unidades de baixa produtividade não


apenas têm baixo índice de eficiência na produção física de
materiais, como perdem duplamente no processo de
comercialização.

A FIGURA C.3.4 apresenta os valores comparados das


eficiências econômicas por categorias de materiais, nos
quatro grupos de eficiência – nos quais foram agregadas as
unidades de catadores da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro.
205

FIGURA C.3.4: COMPARATIVO DAS EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS NOS TOTAIS COMERCIALIZADOS (R$/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


206

C.3.5. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE MERCADO NA


PRODUÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS:
DETALHAMENTO POR PRODUTOS

Com base nos resultados das seções anteriores,


sumarizamos assim: as unidades de catadores de alta
eficiência tendem a ser fisicamente eficientes de forma
ampla, em toda uma gama de materiais recicláveis distintos.

As unidades de catadores de médias e baixas eficiências


parecem até obter um desempenho razoável – do ponto de vista
da produtividade física, em geral com baixos índices de
capitalização – mas perdem boa parte desses ganhos de
eficiência no processo de comercialização – o que leva a
índices de eficiência econômica inferiores.

No outro extremo, as unidades de catadores de baixíssima


eficiência perdem duplamente: apresentam baixos índices
gerais de produtividade física – pela evidente
descapitalização de seu processo de produção -- e perdem
ainda mais no processo de comercialização.

Faz-se necessária a introdução de um conceito adicional:


a eficiência de mercado. A eficiência de mercado tem
justamente a haver com a capacidade da unidade de catadores
de obter melhores valores pelas mesmas quantidades do mesmo
material reciclável. A eficiência de mercado é expressa pelo
preço médio obtido por cada material reciclável na etapa da
comercialização.

A eficiência de mercado representa a capacidade da


unidade de catadores em colocar os seus produtos recicláveis
de forma vantajosa no mercado. Pouco adianta um volume per
capita de coleta elevado, se não existe escala para fazer
frente ao intermediário53, ou se os canais de comercialização
estão obstruídos por questões estruturais como logística e
transporte.

Os índices de eficiência de mercado, nada mais são do que


a razão entre os índices de eficiência econômica e os índices

53
Estamos genericamente chamando de “intermediários” a uma não rara estrutura de comercialização em
forma de pirâmide, voltada à apropriação de parte do excedente diferencial gerado na cadeia da reciclagem.
207

de eficiência física54. Assim definido, este índice tem um


sabor de “preço médio”, embora na maioria das vezes não o
seja, por tratarem-se de agregados de materiais diferentes.

O QUADRO C.3.12 descreve as eficiências de mercado médias


nos diversos grupos de eficiência, segmentadas por categorias
de materiais.

Da mesma forma, os valores médios das eficiências de


mercado para cada categoria de materiais estão apresentados
na última coluna. Nas demais colunas – comparativamente aos
valores da média – aparecem em vermelho os valores abaixo da
média; em preto os valores acima da média; e em azul os
valores que sejam pelo menos o dobro da média.

QUADRO C.3.12: EFICIÊNCIAS DE MERCADO POR MATERIAIS (R$/Kg)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

54
É evidente que o mesmo valor seria obtido pela simples divisão entre o montante obtida pela
comercialização da produção em reais pelo valor da produção física em Kg.
208

O QUADRO C.3.13 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de eficiência de mercado das categorias de materiais,
em cada grupo de eficiência.

QUADRO C.3.13: QUADRO DE EFICIÊNCIAS DE MERCADO RELATIVAS


Alta Média Baixa Baixíssima
R$ por Kg Eficiência Eficiência Eficiência Eficiência
de Mercado de Mercado de Mercado de Mercado
AZUL: > 2x média 0 0 0 0
PRETO: acima da
14 7 8 6
média
VERMELHO:
5 11 10 12
abaixo da média
NÃO PRODUZ 2 2 3 3
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Nota-se que as unidades de catadores do grupo de alta


eficiência vendem 14 das 21 categorias de materiais que
produz (67%) a preços acima da média; cifra atingida por,
respectivamente 7, 8 e 6 das 21 categorias de materiais das
unidades de média, baixa e baixíssima eficiências --
correspondentes a (33%), (38%) e (29%).

Mais incisivo ainda: nenhum grupo de eficiência consegue


comercializar os seus produtos por valores superiores ao
dobro da média – privilégio esse ainda monopolizado, no Rio
de Janeiro, pelos intermediários existentes no mercado de
produtos recicláveis.

Compreende-se assim, que uma elevada eficiência na


produtividade física é necessária, mas não suficiente para
garantir uma elevada eficiência na produtividade econômica.

Pode-se dizer que a eficiência econômica é o produto da


eficiência física pela eficiência de mercado55. E esta última
só é adquirida com volume de produção, logística, transporte,
instalações e equipamentos adequados – o que apenas uma
minoria das unidades de catadores de materiais recicláveis a
Região Metropolitana do Rio de Janeiro dispõe hoje.

55
Na verdade, por definição: (eficiência econômica) = (eficiência física) x (eficiência de mercado).
209

A FIGURA C.3.5 apresenta os valores comparados das


eficiências de mercado por categorias de materiais, nos
quatro grupos de eficiência – nos quais foram agregadas as
unidades de catadores da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro.
211

FIGURA C.3.5: COMPARATIVO DAS EFICIÊNCIAS DE MERCADO NOS TOTAIS COMERCIALIZADOS (R$/Kg)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


212

C.3.6. SUMÁRIO DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA

Cumpre-se assim, o objetivo desta Seção: o de demonstrar


que as unidades de catadores de materiais recicláveis são
operacionalmente muito diferentes, e que o principal fator
que as diferencia não é o seu tamanho, seu número de
catadores, ou a sua localização espacial.

De fato, o que foi demonstrado nesta seção é que a


eficiência é o fator que gera essas importantes diferenças.
Os conceitos de eficiência física, eficiência econômica e
eficiência de mercado foram apresentados, analisados e
testados – e corroboraram o seu papel segmentador.

O QUADRO C.3.14 sumariza os resultados para os quatro


grupos de eficiência nas unidades de catadores de materiais
recicláveis na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

QUADRO C.3.14: MÉDIAS DOS GRUPOS DE EFICIÊNCIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


213

C.4. OS ENTREPOSTOS DA REDE CATA RIO:


COMPOSIÇÃO E LOCALIZAÇÃO

C.4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antes de proceder à análise propositiva, faz-se


necessária uma observação importante: o tema central deste
trabalho refere-se à constituição de uma Rede de
Comercialização Conjunta e de Transformação de Materiais
Recicláveis, a REDE CATA RIO. Concentra-se – através da
ordenação logística e espacial -- em procurar agregação de
unidades de catadores de maneira a obter volumes, escalas e
qualidades que permitam o incremento das eficiências de
mercado conjuntas – de início no seio de cada Entreposto, e
depois no âmbito de toda a Central.

Com a elevação das eficiências de mercado – através da


Rede de Comercialização Conjunta -- obviamente surgirá um
acréscimo nas eficiências econômicas! E esses incrementos nas
eficiências econômicas são os resultados mais expressivos que
a implementação dos Entrepostos e da Central da REDE CATA RIO
vão demonstrar. E todas as unidades de catadores da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro que aderirem à Rede devem ser
beneficiadas.

Entretanto, cabe lembrar que as eficiências econômicas


são diretamente atingidas pelas variadas eficiências físicas
hoje existentes nas unidades de catadores. Essas eficiências
físicas só podem ser aumentadas através do aumento de
organização e capitalização em instalações e equipamentos
dessas unidades – fator que o presente trabalho NÃO TRATA,
especificamente56.

Embora seja evidente que investimentos adicionais sejam


necessários em consideráveis montantes para a efetiva
elevação das eficiências físicas médias das unidades de
catadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, nenhuma
consideração conjunta desses investimentos será aqui tratada.
Os investimentos aqui propostos referem-se à implementação
das infra-estruturas dos Galpões dos Entrepostos e à

56
A questão da capitalização das unidades de catadores de materiais recicláveis foi explicitamente
considerada em um trabalho anterior, que serviu de referência para a criação da linha do BNDES de
financiamentos a fundos-perdidos beneficiando essas unidades. Favor Cf. op. cit.
214

viabilização da CENTRAL CATA RIO -- tratando apenas


pontualmente de investimentos em equipamentos em unidades
específicas ligadas a esses Entrepostos.

C.4.2. ASPECTOS ESTRATÉGICOS SOBRE OS


ENTREPOSTOS E A CENTRAL CATA RIO

É necessário ressaltar que as análises de eficiências até


aqui apresentadas NÃO PODEM ser os únicos critérios para a
determinação das composições e das localizações dos
Entrepostos e da Central da REDE CATA RIO.

Os aspectos logísticos e a necessidade de obtenção de


volume, escala e qualidade são decisivos na correta alocação
das unidades visando o bem sucedido estabelecimento de uma
Rede de Comercialização de Materiais Recicláveis na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro.

Por outro lado, uma visão perspectiva mais ampla é


necessária -- a partir de considerações estratégicas de médio
e de longo prazos – decorrentes da implantação do COMPERJ, o
Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro em Itaboraí. Diante
da discussão do Plano Diretor do COMPERJ, explicita-se o seu
caráter decisivo na transformação e agregação de valor aos
derivados do refino do petróleo resultantes das explorações
já existentes – e das recentes divulgações das chamadas
reservas do pré-sal.

Nessa perspectiva mais ampla – do ponto de vista regional


– e mais extensa – do ponto de vista temporal – a
implementação da REDE CATA RIO revela a sua oportunidade
estratégica de forma mais decisiva! A reciclagem de materiais
-- em particular os petroquímicos -- ensejará economias de
escala, de recursos e de energia; promoverá a inclusão social
em escala considerável; e encorajará práticas ambientalmente
mais eficientes -- não apenas na Região Metropolitana, mas em
todo o Estado do Rio de Janeiro e regiões adjacentes.

Foi com essa perspectiva estratégica mais ampla que as


considerações logísticas foram efetuadas, assim como a
determinação das localizações e composições dos Entrepostos
da REDE CATA RIO.

Vale ressaltar que durante a realização do presente


trabalho foram colocados à disposição da Rede de
215

Comercialização das unidades de catadores, ora em gestação,


TRÊS galpões já existentes: um galpão na região das docas do
porto do Rio de Janeiro; um galpão na região norte do Rio de
Janeiro, entre a Ilha do Governador e Duque de Caxias; e um
terceiro galpão no município de Itaboraí. Assim, a
localização física de três Entrepostos foi condicionada à
disponibilidade prévia das instalações existentes.

Este fato auspicioso, por um lado reduz consideravelmente


os custos de implantação da REDE, ao mesmo tempo em que torna
o seu processo de implementação mais imediato.

Por outro lado, restringe espacialmente as contingências


logísticas, criando a necessidade estratégica da criação de
um outro Entreposto ao longo da rodovia Presidente Dutra, nas
proximidades de Belfort Roxo, Mesquita ou Nilópolis.

Após essas considerações, são aqui propostos QUATRO


ENTREPOSTOS, para a REDE CATA RIO assim descritos:

A) ENTREPOSTO DAS DOCAS: Este Entreposto será


fisicamente situado em galpão existente do armazém
das docas do porto do Rio de Janeiro, na Avenida
Rodrigues Alves. Sua composição compreende as
unidades de catadores existentes no Centro; dos
bairros ao longo da Av. Getúlio Vargas; e de toda
a Região Sul até o início da Barra da Tijuca, ao
redor da Lagoa do Joá. Os seus acessos serão
efetuados pelos túneis Dois Irmãos, Santa Bárbara
e Rebouças; Elevado Paulo de Frontim e Estrada
Lagoa-Barra; Avenida Beira-Mar, Avenida Francisco
Otaviano, e início da Av. Brasil; além de outras
artérias.
B) ENTREPOSTO NORTE: Este Entreposto – aqui
preliminarmente chamado de NORTE por falta de nome
mais adequado – será fisicamente situado em galpão
existente disponibilizado na rua do Alho, ao norte
da entrada da Ilha do Governador, nas proximidades
de Duque de Caxias. Sua composição compreende as
unidades de catadores existentes nas imediações;
ao longo da Linha Vermelha; ao longo da linha
Amarela, inclusive trechos da Barra da Tijuca,
Taquara, Vargem Grande e Vargem Pequena; e as
unidades situadas ao longo da rodovia Washington
Luís; além de outras artérias. A inclusão das
unidades situadas ao sul – viabilizada pela Linha
Amarela tornou-se logisticamente necessária pela
216

inexistência de escala produtiva nessas unidades


que justificasse a criação de um Entreposto
adicional.
C) ENTREPOSTO DUTRA: Este Entreposto deve ser
fisicamente situado ao longo da rodovia Presidente
Dutra -- em terreno e galpão ainda não disponíveis
– nas imediações dos municípios de Belfort Roxo,
Mesquita ou Nilópolis. Entretanto a sua
importância estratégica não pode ser desprezada:
servirá futuramente de eixo de recepção de
produtos provenientes da BR-116 e da BR-101 SUL,
além dos subúrbios mais distantes a sudoeste da
cidade do Rio de Janeiro. Eventualmente pode ainda
ser importante na destinação da reciclagem de
produtos não-petroquímicos de toda a REDE CATA RIO
(Vidro, Papéis e Papelão; Metais) junto a
indústrias com preços mais favoráveis no eixo Rio-
São Paulo. Os custos de sua implementação devem
ser amplamente compensados pela sua localização
estratégica! Sua composição inicial compreende as
unidades de catadores situadas nas imediações da
rodovia Presidente Dutra, inclusive Nova Iguaçu,
Queimados, Seropédica e Paracambi; ao longo da Av.
Brasil, até Bangu, Santíssimo, Itaguaí e Campo
Grande.
D) NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: Este Entreposto
será fisicamente situado em galpão existente no
município de Itaboraí. Aqui, fala-se em NÚCLEO
porque o número de unidades de catadores
pesquisadas na amostra da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro a ele ligadas é ainda reduzido. A
incorporação de unidades de catadores situadas
fora da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
deve dar ao Entreposto os volumes e as escalas
necessárias para o seu efetivo desempenho. A
presença de um Entreposto no município de Itaboraí
é estratégica por duas razões: a) a proximidade
com a Central de Comercialização e de
Transformação a ser localizada nas imediações do
COMPERJ, também no município de Itaboraí; b) a sua
localização privilegiada, do ponto de vista
logístico, para servir de eixo de integração com
as unidades do fundo da Baía da Guanabara; da
Região Serrana; da Região dos Lagos; e das
unidades dos municípios ao longo da BR-101 Norte.
Sua composição inicial será constituída pelas
unidades de catadores de Niterói, São Gonçalo e
217

Magé – devendo ser ampliada após estudos


adicionais em 2009, que permitam avaliar mais
adequadamente as unidades adicionais da região
mais ampla a serem fortalecidas e agregadas.

A criação física da CENTRAL CATA RIO de Comercialização


Conjunta e Transformação nas imediações do COMPERJ, no
município de Itaboraí, deve ser precedida pela constituição
administrativa formal de sua operação, de forma a tornar o
processo de implementação eficiente e racional.

Em termos esquemáticos preliminares, a REDE CATA RIO é


apresentada na FIGURA C.4.1. Nessa figura podem ser vistos os
quatro Entrepostos acima descritos; a Central (representada
por uma estrela); e futuros Entrepostos hipotéticos que
eventualmente favoreçam a expansão da Rede.
218

FIGURA C.4.1: LOGÍSTICA ESQUEMÁTICA SIMPLIFICADA DA


REDE CATA RIO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Nas seções seguintes serão apresentadas as propostas para


os Entrepostos acima descritos sumariamente.

C.4.3. O ENTREPOSTO DAS DOCAS

Como mencionado na Seção C.4.2, esse Entreposto será


fisicamente situado em galpão existente do armazém das docas
do porto do Rio de Janeiro, na Avenida Rodrigues Alves. Sua
composição compreende as unidades de catadores existentes no
Centro; dos bairros ao longo da Av. Getúlio Vargas; e de toda
a Região Sul até o início da Barra da Tijuca, ao redor da
Lagoa do Joá. Os seus acessos serão efetuados pelos túneis
219

Dois Irmãos, Santa Bárbara e Rebouças; Elevado Paulo de


Frontim e Estrada Lagoa-Barra; Avenida Beira-Mar, Avenida
Francisco Otaviano, e início da Av. Brasil; além de outras
artérias.

O QUADRO C.4.1 apresenta a composição das onze unidades


de catadores correspondentes a esse Entreposto. Notar que,
novamente, aqui foi seguida a convenção de cores
anteriormente apresentada onde:

AZUL : As unidades possuem altas eficiências combinadas.


VERDE : As unidades possuem médias eficiências
combinadas.
AMARELO : As unidades possuem baixas eficiências
Combinadas (não presente neste Entreposto)
ROSA : As unidades possuem baixíssimas eficiências
combinadas.

QUADRO C.4.1: ENTREPOSTO DAS DOCAS: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A FIGURA C.4.2 apresenta essas unidades de catadores geo-


referenciadas no Google Earth, assim como a localização do
ENTREPOSTO DAS DOCAS. Notar que a cor rosa foi substituída no
geo-referenciamento pela cor vermelha, de mais fácil
visualização.
220

FIGURA C.4.2: ENTREPOSTO DAS DOCAS: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

O QUADRO C.4.2 apresenta as mesmas unidades de catadores


ligadas ao ENTREPOSTO DAS DOCAS e as entidades a que são
respectivamente ligadas:

QUADRO C.4.2: ENTREPOSTO DAS DOCAS: ENTIDADES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Os QUADROS C.4.3 e C.4.4 apresentam os volumes


gravimétricos da produção física bruta mensal (em Kg) –
desagregados pelas 21 categorias de materiais para as onze
unidades de catadores de materiais recicláveis alocadas ao
ENTREPOSTO DAS DOCAS.
221

Os QUADROS C.4.5 e C.4.6 apresentam os valores das


receitas mensais obtidas pela venda dos materiais recicláveis
(em R$)– também desagregada pelas 21 categorias de materiais
para essas mesmas unidades.
222

QUADRO C.4.3: ENTREPOSTO DAS DOCAS: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


223

QUADRO C.4.4: ENTREPOSTO DAS DOCAS: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


224

QUADRO C.4.5: ENTREPOSTO DAS DOCAS: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


225

QUADRO C.4.6: ENTREPOSTO DAS DOCAS: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


226

A inclusão adicional das unidades de catadores de


materiais recicláveis pertencentes ao Universo amostral não-
pesquisado permite a visualização mais amplificada da área de
influência do ENTREPOSTO DAS DOCAS.

O QUADRO C.4.7 apresenta a relação completa das unidades


alocadas a esse Entreposto. Com a adição dessas sete
unidades, o número total de unidades passa de onze para
dezoito. Entretanto, os valores utilizados para caracterizar
o Entreposto continuam a ser referenciados apenas às unidades
pertencentes ao Universo amostral pesquisado.

Para evitar quaisquer alusões às suas respectivas


produtividades e eficiências, optou-se por apresentá-las com
a cor LARANJA.

QUADRO C.4.7: ENTREPOSTO DAS DOCAS COMPLETO: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A FIGURA C.4.3 apresenta as unidades de catadores ligadas


ao ENTREPOSTO DAS DOCAS completo, com o respectivo geo-
referenciamento das unidades pesquisadas, e das unidades não-
pesquisadas. Essas últimas também aqui aparecem em cor
LARANJA.
227

FIGURA C.4.3: ENTREPOSTO DAS DOCAS COMPLETO: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


228

C.4.4. O ENTREPOSTO NORTE

Como mencionado na Seção C.4.2, este Entreposto – aqui


preliminarmente chamado de NORTE por falta de nome mais
adequado – será fisicamente situado em galpão existente
disponibilizado na rua do Alho, ao norte da entrada da Ilha
do Governador, nas proximidades de Duque de Caxias.

Sua composição compreende as unidades de catadores


existentes nas imediações; ao longo da Linha Vermelha; ao
longo da linha Amarela, inclusive trechos da Barra da Tijuca,
Taquara, Vargem Grande e Vargem Pequena; e as unidades
situadas ao longo da rodovia Washington Luís; além de outras
artérias.

A inclusão das unidades situadas ao sul – viabilizada


pela Linha Amarela tornou-se logisticamente necessária pela
inexistência de escala produtiva nessas unidades que
justificasse a criação de um Entreposto adicional.

O QUADRO C.4.8 apresenta a composição das doze unidades


de catadores correspondentes a esse Entreposto. Notar que,
novamente, aqui foi seguida a convenção de cores
anteriormente apresentada onde:

AZUL : As unidades possuem altas eficiências combinadas.


VERDE : As unidades possuem médias eficiências
combinadas.
AMARELO : As unidades possuem baixas eficiências
combinadas.
ROSA : As unidades possuem baixíssimas eficiências
combinadas.
229

QUADRO C.4.8: ENTREPOSTO NORTE: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A FIGURA C.4.4 apresenta essas unidades de catadores geo-


referenciadas no Google Earth, assim como a localização do
ENTREPOSTO NORTE. Notar que aqui também a cor rosa foi
substituída no geo-referenciamento pela cor vermelha, de mais
fácil visualização.
230

FIGURA C.4.4: ENTREPOSTO NORTE: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

O QUADRO C.4.9 apresenta as mesmas unidades de catadores


ligadas ao ENTREPOSTO NORTE e as entidades a que são
respectivamente ligadas:
231

QUADRO C.4.9: ENTREPOSTO NORTE: ENTIDADES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Os QUADROS C.4.10 e C.4.11 apresentam os volumes


gravimétricos da produção física bruta mensal (em Kg) –
desagregados pelas 21 categorias de materiais para as doze
unidades de catadores de materiais recicláveis alocadas ao
ENTREPOSTO NORTE.

Os QUADROS C.4.12 e C.4.13 apresentam os valores das


receitas mensais obtidas pela venda dos materiais recicláveis
(em R$)– também desagregada pelas 21 categorias de materiais
para essas mesmas unidades.
233

QUADRO C.4.10: ENTREPOSTO NORTE: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


234

QUADRO C.4.11: ENTREPOSTO NORTE: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


235

QUADRO C.4.12: ENTREPOSTO NORTE: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


236

QUADRO C.4.13: ENTREPOSTO NORTE: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


237

A inclusão adicional das unidades de catadores de


materiais recicláveis pertencentes ao Universo amostral não-
pesquisado permite a visualização mais amplificada da área de
influência do ENTREPOSTO NORTE.

O QUADRO C.4.14 apresenta a relação completa das unidades


alocadas a esse Entreposto. Com a adição dessas vinte e uma
unidades, o número total de unidades passa de doze para
trinta e três. Entretanto, os valores utilizados para
caracterizar o Entreposto continuam a ser referenciados
apenas às unidades pertencentes ao Universo amostral
pesquisado.

Para evitar quaisquer alusões às suas respectivas


produtividades e eficiências, novamente optou-se por
apresentá-las com a cor LARANJA.
238

QUADRO C.4.14: ENTREPOSTO NORTE COMPLETO: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A FIGURA C.4.5 apresenta as unidades de catadores ligadas


ao ENTREPOSTO NORTE completo, com o respectivo geo-
referenciamento das unidades pesquisadas, e das unidades não-
pesquisadas. Essas últimas também aqui aparecem em cor
LARANJA. Observar que para facilitar o enquadramento o Norte
magnético foi inclinado cerca de 45o à esquerda.
239

FIGURA C.4.5: ENTREPOSTO NORTE COMPLETO: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

Adicionalmente são apresentados mais dois detalhamentos


das posições geo-referenciadas das unidades de catadores
componentes do ENTREPOSTO NORTE. A FIGURA C.4.6 possibilita
uma visão mais próxima das unidades nas vizinhanças do galpão
do Entreposto. A FIGURA C.4.7 explicita as unidades de
catadores que estarão ligadas ao ENTREPOSTO NORTE através da
LINHA AMARELA.
240

FIGURA C.4.6: ENTREPOSTO NORTE COMPLETO: VIZINHANÇAS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


241

FIGURA C.4.7: ENTREPOSTO NORTE COMPLETO: LINHA AMARELA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


242

C.4.5. O ENTREPOSTO DUTRA

Como mencionado na Seção C.4.2, esse Entreposto deve ser


fisicamente situado ao longo da rodovia Presidente Dutra --
em terreno e galpão ainda não disponíveis – nas imediações
dos municípios de Belfort Roxo, Mesquita ou Nilópolis.

Entretanto a sua importância estratégica não pode ser


desprezada: servirá futuramente de eixo de recepção de
produtos provenientes da BR-116 e da BR-101 SUL, além dos
subúrbios mais distantes a sudoeste da cidade do Rio de
Janeiro.

Eventualmente pode ainda ser importante na destinação da


reciclagem de produtos não-petroquímicos de toda a REDE CATA
RIO (Vidro, Papéis e Papelão; Metais) junto a indústrias com
preços mais favoráveis no eixo Rio-São Paulo.

Os custos de sua implementação devem ser amplamente


compensados pela sua localização estratégica! Sua composição
inicial compreende as unidades de catadores situadas nas
imediações da rodovia Presidente Dutra, inclusive Belfort
Roxo, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, Seropédica
e Paracambi; e ao longo da Av. Brasil, até Bangu, Santíssimo,
Itaguaí e Campo Grande.

O QUADRO C.4.15 apresenta a composição das oito unidades


de catadores correspondentes a esse Entreposto. Notar que,
novamente, aqui foi seguida a convenção de cores
anteriormente apresentada onde:

AZUL : As unidades possuem altas eficiências combinadas


(não presente neste Entreposto).
VERDE : As unidades possuem médias eficiências
combinadas.
AMARELO : As unidades possuem baixas eficiências
combinadas.
ROSA : As unidades possuem baixíssimas eficiências
combinadas.
243

QUADRO C.4.15: ENTREPOSTO DUTRA: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

A FIGURA C.4.8 apresenta essas unidades de catadores geo-


referenciadas no Google Earth, assim como a localização
aproximada desejável do galpão do ENTREPOSTO DUTRA. Notar que
aqui também a cor rosa foi substituída no geo-referenciamento
pela cor vermelha, de mais fácil visualização.
244

FIGURA C.4.8: ENTREPOSTO DUTRA: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008

O QUADRO C.4.16 apresenta as mesmas unidades de catadores


ligadas ao ENTREPOSTO DUTRA e as entidades a que são
respectivamente ligadas:

QUADRO C.4.16: ENTREPOSTO DUTRA: ENTIDADES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA - 2008


245

Os QUADROS C.4.17 e C.4.18 apresentam os volumes


gravimétricos da produção física bruta mensal (em Kg) –
desagregados pelas 21 categorias de materiais para as oito
unidades de catadores de materiais recicláveis alocadas ao
ENTREPOSTO DUTRA.

Os QUADROS C.4.19 e C.4.20 apresentam os valores das


receitas mensais obtidas pela venda dos materiais recicláveis
(em R$)– também desagregada pelas 21 categorias de materiais
para essas mesmas unidades.
247

QUADRO C.4.17: ENTREPOSTO DUTRA: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


248

QUADRO C.4.18: ENTREPOSTO DUTRA: PRODUÇÃO FÍSICA DE MATERIAIS (Kg) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


249

QUADRO C.4.19: ENTREPOSTO DUTRA: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 1 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


250

QUADRO C.4.20: ENTREPOSTO DUTRA: RECEITAS DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$) – 2 de 2

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


251

A inclusão adicional das unidades de catadores de


materiais recicláveis pertencentes ao Universo amostral não-
pesquisado permite a visualização mais amplificada da área de
influência do ENTREPOSTO DUTRA.

O QUADRO C.4.21 apresenta a relação completa das unidades


alocadas a esse Entreposto. Com a adição dessas treze
unidades, o número total de unidades passa de oito para vinte
e um. Entretanto, os valores utilizados para caracterizar o
Entreposto continuam a ser referenciados apenas às unidades
pertencentes ao Universo amostral pesquisado.

Para evitar quaisquer alusões às suas respectivas


produtividades e eficiências, novamente optou-se por
apresentá-las com a cor LARANJA.

QUADRO C.4.21: ENTREPOSTO DUTRA COMPLETO: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A FIGURA C.4.9 apresenta as unidades de catadores ligadas


ao ENTREPOSTO DUTRA completo, com o respectivo geo-
referenciamento das unidades pesquisadas, e das unidades não-
pesquisadas. Essas últimas também aqui aparecem em cor
LARANJA. Observar que para facilitar o enquadramento o Norte
magnético foi novamente inclinado cerca de 45o à esquerda.
252

FIGURA C.4.9: ENTREPOSTO DUTRA COMPLETO: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

As FIGURAS C.4.10 e C.4.11 fornecem perspectivas


regionais mais amplas que explicitam a importância logística
e estratégica do ENTREPOSTO DUTRA. Nessas figuras percebe-se
o papel futuro que esse Entreposto poderá desempenhar ao
articular o encaminhamento de materiais recicláveis de
unidades de catadores regionalmente dispostas. Ao Norte da
via Dutra, nos municípios de Vassouras e Barra do Piraí e
arredores; ao longo da via Dutra, Volta Redonda, Barra Mansa
e Resende; ao Sul, via BR-101 SUL e sua junção à via Dutra,
Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati.

O pleno funcionamento do ENTREPOSTO DUTRA permitirá


adicionalmente que ele funcione como estação de transbordo
para a eficiente destinação de materiais diferentes –
particularmente não-petroquímicos – para reciclagem
industrial no eixo Rio-São Paulo. Por outro lado -- se seu
porte e eficiência eventualmente comportarem – poderá também
se converter em nó de adensamento de materiais petroquímicos
recicláveis destinados à CENTRAL CATA RIO em Itaboraí, via
Dutra, trecho da Avenida Brasil, Ponte Rio-Niterói e BR-101-
NORTE.
253

FIGURA C.4.10: ENTREPOSTO DUTRA COMPLETO: PERSPECTIVA


REGIONAL

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


254

FIGURA C.4.11: ENTREPOSTO DUTRA COMPLETO: PERSPECTIVA


REGIONAL AMPLIADA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


255

C.4.6. O NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ

Como mencionado na Seção C.4.2, esse Entreposto será


fisicamente situado em galpão existente no município de
Itaboraí.

Aqui, fala-se em NÚCLEO porque o número de unidades de


catadores pesquisadas na amostra da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro a ele ligadas é ainda reduzido. A incorporação
de unidades de catadores situadas fora da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro deve dar ao Entreposto os
volumes e as escalas necessárias para o seu efetivo
desempenho.

A presença de um Entreposto no município de Itaboraí é


estratégica por duas razões:

a) a proximidade com a Central de Comercialização e


de Transformação a ser localizada nas imediações
do COMPERJ, também no município de Itaboraí;
b) a sua localização privilegiada, do ponto de vista
logístico, para servir de eixo de integração com
as unidades do fundo da Baía da Guanabara; da
Região Serrana; da Região dos Lagos; e das
unidades dos municípios ao longo da BR-101 Norte.

A sua composição inicial será constituída pelas unidades


de catadores de Niterói, São Gonçalo e Magé – devendo ser
ampliada após estudos adicionais em 2009, que permitam
avaliar mais adequadamente as unidades adicionais da região
mais ampla a serem fortalecidas e agregadas.

O QUADRO C.4.22 apresenta a composição das duas unidades


de catadores correspondentes ao Núcleo do Entreposto de
Itaboraí. Notar que, novamente, aqui foi seguida a convenção
de cores anteriormente apresentada onde:

AZUL : As unidades possuem altas eficiências combinadas


(não presentes neste Entreposto).
VERDE : As unidades possuem médias eficiências
combinadas.
AMARELO : As unidades possuem baixas eficiências
combinadas.
ROSA : As unidades possuem baixíssimas eficiências
Combinadas (não presentes neste Entreposto).
256

QUADRO C.4.22: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ:


COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A FIGURA C.4.12 apresenta essas unidades de catadores


geo-referenciadas no Google Earth, assim como a localização
do galpão do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ.

FIGURA C.4.12: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

O QUADRO C.4.23 apresenta as mesmas unidades de catadores


ligadas ao ENTREPOSTO DUTRA e as entidades a que são
respectivamente ligadas:
257

QUADRO C.4.23: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: ENTIDADES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

O QUADRO C.4.24 apresenta os volumes gravimétricos da


produção física bruta mensal (em Kg) – desagregados pelas 21
categorias de materiais para as duas unidades de catadores de
materiais recicláveis alocadas ao NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE
ITABORAÍ.

O QUADRO C.4.25 apresenta os valores das receitas mensais


obtidas pela venda dos materiais recicláveis (em R$)– também
desagregada pelas 21 categorias de materiais para essas
mesmas unidades.
258

QUADRO C.4.24: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: PRODUÇÃO


FÍSICA DE MATERIAIS (Kg)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


259

QUADRO C.4.25: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: RECEITAS


DESAGREGADAS POR MATERIAIS (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A inclusão adicional das unidades de catadores de


materiais recicláveis pertencentes ao Universo amostral não-
pesquisado permite a visualização mais amplificada da área de
influência do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ.

O QUADRO C.4.26 apresenta a relação completa das unidades


alocadas a esse Entreposto. Com a adição dessas três
unidades, o número total inicial de unidades passa de duas
para cinco. Entretanto, os valores utilizados para
caracterizar o Entreposto continuam a ser referenciados
260

apenas às unidades pertencentes ao Universo amostral


pesquisado.

QUADRO C.4.26: NÚCLEO INICIAL DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ


COMPLETO: COMPOSIÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A FIGURA C.4.13 apresenta as unidades de catadores


ligadas ao NÚCLEO INICIAL DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ completo,
com o respectivo geo-referenciamento das unidades
pesquisadas, e das unidades não-pesquisadas. Essas últimas
também aqui aparecem em cor LARANJA. Observar que a figura
também inclui uma representação não geo-referenciada da
CENTRAL CATA RIO, em área desejavelmente próxima ao COMPERJ,
no município de Itaboraí.
261

FIGURA C.4.13: NÚCLEO INICIAL DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ


COMPLETO: LOCALIZAÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Durante o ano de 2009 deve ser executado um levantamento


e análise das unidades de catadores de materiais recicláveis
presentes na área de influência do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE
ITABORAÍ – fora da Região Metropolitana da cidade do Rio de
Janeiro -- de forma que o futuro ENTREPOSTO DE ITABORAÍ possa
ser devidamente composto.

Parece evidente que o ENTREPOSTO DE ITABORAÍ poderá jogar


um papel estratégico instrumental na logística e
racionalização dos fluxos de materiais recicláveis oriundos
de:

a) unidades situadas ao longo da BR-116 na região


serrana do estado do Rio de Janeiro, incluindo
Teresópolis, Guapimirim e chegando a Magé, no
fundo da Baía da Guanabara;
b) unidades na região serrana ao redor de Nova
Friburgo, Muri e Mauá, através da RJ-116;
c) unidades na região dos Lagos, desde Rio das
Ostras, até Maricá, passando por Araruama, Cabo
262

Frio, Búzios, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo


e Saquarema.
d) Unidades do norte fluminense ao redor da BR-101
NORTE.

A FIGURA C.4.14 apresenta uma visão possível do futuro


ENTREPOSTO DE ITABORAÍ, com a agregação de unidades
adicionais representadas em VIOLETA. A efetiva caracterização
dessas unidades, seus números e as eficiências de suas
atividades só serão de fato conhecidas ao término do
levantamento aqui proposto.

FIGURA C.4.14: ENTREPOSTO DE ITABORAÍ COMPLETO: PERSPECTIVA


REGIONAL

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

C.4.7. SUMÁRIO DOS QUATRO ENTREPOSTOS


DA REDE CATA RIO

Nesta breve seção são apresentados os dados dos quatro


ENTREPOSTOS sugeridos neste estudo para a implantação da REDE
CATA RIO.
263

Os QUADROS C.4.27 e C.4.28, respectivamente, apresentam


os volumes gravimétricos da Produção (em Kg) e os valores das
Receitas (em R$) dos quatro Entrepostos, além de suas
totalizações. Essas tabelas são desagregadas nas 21
categorias de materiais recicláveis anteriormente
apresentadas.

O QUADRO C.4.29, por sua vez, sumariza os dados globais


de cada ENTREPOSTO, lado a lado com suas respectivas
produtividades médias físicas e econômicas.

QUADRO C.4.27: SUMÁRIO DOS 4 ENTREPOSTOS: PRODUÇÃO FÍSICA(Kg)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


264

QUADRO C.4.28: SUMÁRIO DOS 4 ENTREPOSTOS: RECEITAS TOTAIS(R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

QUADRO C.4.29: SUMÁRIO DOS 4 ENTREPOSTOS: PRODUTIVIDADES MÉDIAS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


265

C.5. ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS


E PERSPECTIVAS DE LOGÍSTICA
DA REDE CATA RIO

C.5.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Após as proposições apresentadas nas seções anteriores,


faz-se oportuno discutir preliminarmente alguns aspectos
relacionados às áreas de influência dos Entrepostos e à
perspectiva da logística de curto e médio prazos da REDE CATA
RIO e sua CENTRAL.

Parte-se da seguinte constatação estratégica diacrônica:

a) Se, por um lado, a criação da REDE DE


COMERCIALIZAÇÃO CONJUNTA é, sem dúvida, um
mecanismo organizativo que potencializa em curto
prazo os rendimentos das unidades de catadores --
fortalecendo-as e contribuindo para a disseminação
de boas práticas administrativas e produtivas;
b) Por outro lado, as ações encaminhadas no presente
devem levar em consideração os focos estratégicos
de médio prazo – diante da implantação e operação
do COMPERJ. A presença do Complexo Petroquímico
viabilizará a plena capacidade da CENTRAL CATA RIO
-- então não mais apenas uma racionalizadora da
comercialização conjunta -- como o eixo da
transformação e pré-industrialização de parte
crescente dos materiais recicláveis recolhidos
pelas unidades de catadores associadas.

Nessa perspectiva, fica claro que as ações tomadas nos


anos de 2009 e 2010 serão não somente remediais, de curto
prazo, mas decisivas na estratégia de médio prazo. Os efeitos
de longo prazo estarão, sem dúvida, condicionados e
delimitados pelas opções e oportunidades que surgirem ao
longo do caminho nos próximos dez anos.

Cabe lembrar que existem alguns empecilhos formais,


legais e estruturais, cuja resolução pode alterar
profundamente alguns pontos de estrangulamento no quadro
logístico mais geral. Como exemplo citamos:
266

I) Hoje o transporte e o transbordo de materiais


recicláveis entre unidades seria essencialmente
executado através de caminhões trafegando por
ruas, avenidas e rodovias. Isto, de imediato
significa que o desempenho de uma Rede de
Comercialização Conjunta estará sempre subordinado
à dependência dos preços dos combustíveis. A
adoção de um sistema multi-modal de transporte de
materiais recicláveis – com a utilização de
ferrovias e barcaças – pode, eventualmente,
proporcionar economias de escala e maior
estabilidade na operação e nos níveis das receitas
líquidas;
II) Ainda com referência a transporte e transbordo de
materiais, cabe lembrar que é considerada no Plano
Diretor do COMPERJ, a possibilidade de implantação
de uma linha de metrô do Rio de Janeiro – passando
por sob a Baía da Guanabara – e atingindo os
municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Por
ousada que seja a proposta – e considerados os
tempos e custos envolvidos – esta seria uma
alternativa apenas considerável no longo prazo.
Nesse caso, não se deve descartar a possibilidade
da introdução de um transbordo noturno em altas
velocidades, em carros especiais do metrô, e a
custos baixíssimos entre o Centro do Rio de
Janeiro e a CENTRAL CATA RIO em Itaboraí;
III) A atual legislação ainda não isenta de impostos
diversos os transportes interestaduais e alguns
tipos de processamento de materiais recicláveis.
Isto dificulta e encarece o transbordo de
materiais recicláveis, por exemplo, do sul de
Minas Gerais – na região de Juiz de Fora e
Leopoldina – para a CENTRAL CATA RIO. Também cria
empecilhos para a eventual incorporação de
unidades do sul do Espírito Santo e possivelmente
afetaria a capacidade da própria CENTRAL em
comercializar recicláveis não-petroquímicos a
preços mais competitivos junto a indústrias de
outros estados;
IV) Diante de imprecisões na Lei Federal que
regulamente a matéria, devem ser envidados
esforços junto aos poderes públicos estadual e
municipais para garantir que seja interrompido o
processo de destinação de materiais recicláveis
para os Aterros Sanitários, sem que sejam
previamente efetuadas a separação e a coleção
267

seletiva do lixo urbano bruto. As práticas atuais


levam à consideráveis perdas no potencial de
volumes brutos de materiais recicláveis, hoje
enterrados com custos para o erário público.
Entretanto, a superação deste tipo de
estrangulamento pode eventualmente criar conflitos
com as diversas empresas terceirizadas na coleta
do lixo urbano, vale ressaltar;
V) A importação e a exportação de determinados tipos
de materiais recicláveis podem ser um tópico
logístico adicional não levado explicitamente em
conta neste trabalho. Existem dificuldades
tarifárias e estruturais a superar. A eventual
incorporação de fluxos procedentes do -- e
direcionados ao -- mercado externo pode ser fator
importante de ganhos de produtividades;

Explicitadas essas dificuldades logísticas de curto


prazo, procedamos à discussão sumária dos procedimentos
operacionais de implantação da REDE CATA RIO:

 No curtíssimo prazo devem ser estabelecidos


dois Entrepostos: os ENTREPOSTOS DAS DOCAS e
NORTE. As unidades presentes em suas áreas de
influência são numerosas e potencialmente
provêem os volumes de materiais necessários
para obter economias de escala adequadas. Os
galpões destinados a estes Entrepostos estão
disponíveis, e os valores de investimentos
imediatos em equipamentos e instalações são
pontuais e relativamente pequenos.
 Também no curtíssimo prazo, estabelecer a
estrutura administrativa da CENTRAL CATA RIO,
que, provisoriamente será alojada em
escritório na cidade do Rio de Janeiro. Esta
CENTRAL atuará na coordenação logística e
operacional da comercialização conjunta e na
implementação dos quatro Entrepostos aqui
mencionados.
 Iniciar de imediato a procura de um local
adequado para a implantação do ENTREPOSTO
DUTRA. Caso não seja encontrado galpão
disponível nas imediações sugeridas, avaliar
a oportunidade de obter doação de terreno
público que seja destinado à construção da
infraestrutura física do Entreposto. O
268

estabelecimento definitivo do ENTREPOSTO


DUTRA depende do tempo que for envolvido para
solucionar esses entraves e dos volumes de
investimentos disponíveis. Vale, entretanto
lembrar outra vez, a característica
estratégica da existência desse Entreposto.
 O ENTREPOSTO DE ITABORAÍ, no ano de 2009,
será singularmente um NÚCLEO – consideradas
apenas as unidades de catadores da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro situadas em
sua área de influência. Investimentos devem
ser feitos para equipar o galpão existente e
para fortalecer as unidades que compõem esse
NÚCLEO. Durante o ano de 2009 deverá ser
efetuado levantamento analítico amplo e
exaustivo das unidades de catadores de
materiais recicláveis – já existentes ou em
formação – fora da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro, mas dentro de sua área de
influência. Não é necessário salientar
novamente a importância estratégica do
ENTREPOSTO DE ITABORAÍ.
 As disposições acima fornecem um panorama
temporal sumário das etapas de implantação
dos quatro ENTREPOSTOS e da CENTRAL CATA RIO.
Na seção C.6 serão discutidos os benefícios
dessa implantação em dois momentos: i) após a
implantação de cada Entreposto, considerados
apenas os ganhos em eficiência de mercado e
eficiência econômica de suas próprias
unidades de catadores; ii) após a implantação
dos quatro Entrepostos e da plena operação da
CENTRAL CATA RIO no processo de
comercialização conjunta, então considerados
todos os ganhos conjuntos em eficiências.
 No médio prazo devem ser estabelecidos os
critérios e os custos para a implantação de
ENTREPOSTOS adicionais, situados em outras
áreas do estado do Rio de Janeiro, e,
possivelmente, em regiões de outros estados
que sejam adjacentes, e que demonstrem
vantagens logísticas em serem agregadas à
REDE CATA RIO. O estabelecimento de relações
formais e comerciais com outras redes de
comercialização de materiais recicláveis já
existentes deve ser considerado.
269

C.5.2. AS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS


QUATRO ENTREPOSTOS

As áreas de influência de cada um dos Entrepostos aqui


discutidos podem ser vistas na FIGURA C.5.1. A área de
influência do ENTREPOSTO DAS DOCAS aqui aparece em azul; a
área de influência do ENTREPOSTO NORTE em amarelo; a área de
influência do ENTREPOSTO DUTRA em verde; e a área de
influência do ENTREPOSTO DE ITABORAÍ em vermelho57. Observar
que para facilitar o enquadramento o Norte magnético foi
inclinado cerca de 45o à esquerda.

FIGURA C.5.1: ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS: REGIÃO DA


BAÍA DA GUANABARA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Essas mesmas áreas de influência podem ser vistas na


FIGURA C.5.2, onde foram acrescentadas as principais artérias
de transporte rodoviário da região considerada.

57
Os tons das cores utilizadas foram diferentes dos anteriormente convencionados para evidenciar eficiências
diferenciais, embora possam haver objeções.
270

FIGURA C.5.2: ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS: REGIÃO DA


BAÍA DA GUANABARA – PRINCIPAIS ARTÉRIAS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

As FIGURAS C.5.3 e C.5.4 incluem os galpões dos


Entrepostos. A primeira figura limita-se a uma visão mais
próxima do lado sul da Baía da Guanabara, incluindo a maior
parte do município do Rio de Janeiro e os três Entrepostos
situados nessa área geográfica. A segunda figura fornece uma
visão mais ampla da situação espacial dos quatro Entrepostos.

Deve ser observado que a área de influência do ENTREPOSTO


DAS DOCAS é seguramente a menor em Km2, porém é a mais
densamente habitada e a de maior poder aquisitivo –
importando em maior volume de materiais recicláveis em seus
lixos urbanos. Adicionalmente, a sua localização junto ao
porto do Rio de Janeiro pode abrir futuras perspectivas de
transbordos por meio aquático.

A área de influência do ENTREPOSTO NORTE é francamente ao


longo de um eixo norte-sul, grosso modo, ao longo da rodovia
Washington Luís, trecho da Avenida Brasil e Linha Amarela ao
sul. Notar que -- até que o ENTREPOSTO DE ITABORAÍ seja
definitivamente estabelecido -- o ENTREPOSTO NORTE pode
ancorar temporariamente as unidades da Região Serrana.
271

FIGURA C.5.3: ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS:


LOCALIZAÇÃO DOS GALPÕES DAS DOCAS, NORTE E DUTRA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

O ENTREPOSTO DUTRA tem a sua área de influência definida


ao longo da rodovia Presidente Dutra, mas potencialmente
também deve ancorar as unidades próximas à Avenida Brasil na
direção da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Essas últimas
unidades de catadores podem temporariamente ser abrigadas no
ENTREPOSTO NORTE, se for o caso, diante do tempo necessário
para a definitiva implantação do ENTREPOSTO DUTRA.

O ENTREPOSTO DE ITABORAÍ – dada a sua relativa distância


com os demais Entrepostos – tem a vocação de abranger uma
área de influência superior à representada na FIGURA C.5.4.
Esse potencial deverá ser demonstrado pela incorporação de
unidades de catadores de regiões relativamente densas em
população, porém dispersas do ponto vista espacial.
272

FIGURA C.5.4: ÁREAS DE INFLUÊNCIA DOS ENTREPOSTOS:


LOCALIZAÇÃO DOS QUATRO GALPÕES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

C.5.3. PERSPECTIVAS DE LOGÍSTICA DA


CENTRAL CATA RIO

A logística é um instrumento de planejamento estratégico


que necessita ser adaptada às circunstâncias objetivas e
revisada periodicamente. Desta forma é prematura a elaboração
detalhada de ações que visem implementar canais de
escoamento; estações de transbordo diferenciadas por
materiais; ou a incorporação de mecanismos de controle que
proporcionem a regularização dos fluxos e a manutenção de
estoques.

Entretanto, algumas perspectivas de logística para a


atuação da CENTRAL CATA RIO e dos seus quatro Entrepostos
iniciais são visíveis.

Em um primeiro momento – com a constituição do ENTREPOSTO


DAS DOCAS e do ENTREPOSTO NORTE – a comercialização conjunta
273

deve ter o seu início. Num segundo momento -- com a


implantação do ENTREPOSTO DE ITABORAÍ -- novos fluxos de
materiais são viabilizados. A FIGURA C.5.5 representa esses
fluxos.

FIGURA C.5.5: PERSPECTIVAS DA LOGÍSTICA REGIONAL: ENTREPOSTO


DE ITABORAÍ

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A FIGURA C.5.6 apresenta uma perspectiva da logística


regional, apresentando os quatro galpões, além da CENTRAL
CATA RIO, já implantada. Os fluxos de materiais recicláveis -
- representados através de setas vermelhas e azuis claras –
seguem as principais artérias da região.
274

FIGURA C.5.6: PERSPECTIVAS DA LOGÍSTICA REGIONAL: REDE CATA


RIO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

A consolidação da REDE CATA RIO possibilitará a sua


eventual ampliação através da implantação de novos
Entrepostos Regionais, ampliando a sua área de influência. A
FIGURA C.5.7 ilustra uma possível ampliação dessa área de
atuação, através da adição de mais seis Entrepostos no Estado
do Rio de Janeiro e de um Entreposto na região Sul do estado
de Minas Gerais.
275

FIGURA C.5.7: PERSPECTIVAS DA LOGÍSTICA REGIONAL DA REDE CATA


RIO AMPLIADA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Nessa perspectiva de ampliação da REDE CATA RIO a médio e


a longo prazos, a logística esquemática básica da rede em
plena operação pode ser representada pela FIGURA C.5.8.
Observar os papéis estratégicos que os Entrepostos Dutra e de
Itaboraí passam a jogar nessa situação:

a) O ENTREPOSTO DUTRA passa a ser o eixo de


integração com os Entrepostos ou unidades de
catadores ao longo da via Dutra e da BR-101-Sul;
b) O ENTREPOSTO DE ITABORAÍ passa a ser o eixo de
integração com os Entrepostos ou unidades da
região dos Lagos, da região Serrana e do Norte
Fluminense.
277

FIGURA C.5.8: LOGÍSTICA ESQUEMÁTICA SIMPLIFICADA DA REDE CATA RIO AMPLIADA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


278

C.6. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DOS QUATRO
ENTREPOSTOS E DA CENTRAL CATA RIO

C.6.1. CARACTERIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS


ECONÔMICOS POTENCIAIS ANALISADOS

A implementação de uma estrutura complexa como o conjunto


de quatro Entrepostos e da CENTRAL CATA RIO trará uma
infinidade de benefícios organizativos e administrativos ao
processo de reciclagem de materiais. Os impactos sociais e
ambientais também são consideráveis.

Nesta Seção, são tratados os benefícios potenciais de


natureza econômica que serão decorrentes da implantação dos
Entrepostos e da Central de Comercialização Conjunta.
Entretanto, faz-se necessário explicitar a metodologia de
mensuração desses impactos econômicos potenciais.

Em primeiro lugar, é necessário entender como as três


eficiências – anteriormente discutidas na Seção C.3 -- estão
interligadas. A FIGURA C.6.1 explicita de maneira objetiva
esta relação.

FIGURA C.6.1: RELAÇÃO ENTRE AS EFICIÊNCIAS

FONTE: OP. CIT. – GERI/PANGEA – 2006

Fica evidente que a eficiências econômicas dependem


diretamente das eficiências físicas e das eficiências de
mercado.
279

Assim, quaisquer acréscimos nas eficiências físicas ou


nas eficiências de mercado serão diretamente refletidos sobre
as eficiências econômicas.

Em geral, uma unidade de catadores isolada só tem meios


de procurar aumentar as suas eficiências econômicas através
do aumento de suas eficiências físicas. Mesmo isso é
dificultoso e custoso, pois implica na capitalização da
unidade para viabilizar a aquisição de equipamentos e
instalações. Sem financiamento externo – preferivelmente a
fundo perdido – torna-se impossível o incremento em
eficiências físicas, dada a incapacidade de efetuar poupanças
e acumulações internas. Ademais, as necessidades específicas
de investimentos em equipamentos e instalações (galpões,
prensas, balanças, carrinhos ou caminhões) são requisitos
individuais de cada unidade de catadores.

Entretanto – pela característica oligopsônica do mercado


de materiais recicláveis, povoada por intermediários
escalonados – mesmo o aumento nas eficiências físicas
encontram obstáculos na comercialização, por inexistência de
escala e capacidade de estocagem. Em outras palavras, as
eficiências de mercado são relativamente inelásticas ao
aumento das produtividades físicas.

É evidente que, com os acréscimos obtidos nas eficiências


físicas, uma unidade de catadores também alcança ganhos em
suas eficiências econômicas. Mas esses ganhos acabam sendo
limitados pela impossibilidade de alteração significativa nas
suas eficiências de mercado.

Uma Rede de Comercialização Conjunta – a exemplo da REDE


CATA RIO – rompe com essas limitações sobre as eficiências de
mercado, amplificando suas escalas e volumes e gerando
capacidade de estocagem de alguns materiais. De certa forma,
a implantação da rede -- embora não dispensando investimentos
no aumento das produtividades físicas de cada unidade –
inverte o processo: rompe os obstáculos existentes pela
concentração do mercado de recicláveis. Assim -- ainda que as
eficiências físicas das unidades de catadores associadas à
Rede de Comercialização Conjunta permaneçam as mesmas --
surgem ganhos em eficiências econômicas derivados dos
acréscimos obtidos nas eficiências de mercado.

É evidente que o ideal é a simultânea melhoria nas


eficiências físicas e de mercado, gerando impactos bastante
relevantes sobre as eficiências econômicas globais.
280

Entretanto – como já mencionado anteriormente – os


investimentos em acréscimos de produtividades físicas ainda
permanecem dependentes de suas alocações específicas e
pontuais.

Assim, diante das considerações acima, nesta Seção serão


examinados apenas os benefícios em eficiências econômicas
derivados de ganhos em eficiências de mercado, obtidas:

a) por ocasião da entrada em operação de cada


Entreposto, consideradas apenas as unidades de
catadores componentes de cada Entreposto;
b) por ocasião da entrada em plena operação da
Central de Comercialização Conjunta, composta
pelos quatro Entrepostos, sob a coordenação
administrativa da CENTRAL CATA RIO.

Nos próximos itens desta Seção, serão analisados esses


benefícios econômicos potenciais decorrentes da implantação
de cada um dos quatro Entrepostos.

C.6.2. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DO
ENTREPOSTO DAS DOCAS

O QUADRO C.6.1 apresenta os benefícios econômicos


potenciais auferidos por cada uma das unidades de catadores
componentes do ENTREPOSTO DAS DOCAS. Na primeira coluna estão
as receitas atualmente auferidas por cada unidade de
catadores deste Entreposto. A segunda e a terceira colunas
avaliam os benefícios auferidos pela entrada em operação do
Entreposto. A quarta e a quinta colunas evidencia os
benefícios adicionais a serem alcançados com a plena operação
da Central de Comercialização Conjunta CATA RIO. A última
coluna apresenta os benefícios econômicos totais, em pontos
percentuais.

A FIGURA C.6.2 evidencia os benefícios comparativos em


receitas (R$) obtidos por cada uma das unidades ligada ao
ENTREPOSTO DAS DOCAS com a sua entrada em operação; com a
entrada em operação da Central de Comercialização; e os
benefícios potenciais totais. A FIGURA C.6.3 apresenta os
281

mesmos benefícios acrescidos, avaliados em pontos


percentuais.
282

QUADRO C.6.1: ENTREPOSTO DAS DOCAS: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


283

FIGURA C.6.2: ENTREPOSTO DAS DOCAS: COMPARATIVO DE RECEITAS (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


284

FIGURA C.6.3: ENTREPOSTO DAS DOCAS: ACRÉSCIMO DE RECEITAS (%)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


285

Do ponto de vista dos catadores de materiais recicláveis


ligados a cada uma das unidades do ENTREPOSTO DAS DOCAS cabe
avaliar os benefícios potenciais de sua implantação sobre o
faturamento per capita. Na maior parte dos casos, esse valor
coincide com a receita bruta por catador, indicador da
eficiência econômica.

O QUADRO C.6.2 apresenta esses benefícios potenciais em


termos monetários correntes (R$) nas duas últimas colunas: a
primeira decorrente da implantação do Entreposto e a segunda
após a plena operação da Central de Comercialização. A FIGURA
C.6.4 possibilita avaliar esses benefícios de forma gráfica.

QUADRO C.6.2: ENTREPOSTO DAS DOCAS: BENEFÍCIOS POTENCIAIS


POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


287

FIGURA C.6.4: ENTREPOSTO DAS DOCAS: COMPARATIVO DE BENEFÍCIOS POTENCIAIS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


288

C.6.3. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DO
ENTREPOSTO NORTE

O QUADRO C.6.3 apresenta os benefícios econômicos


potenciais auferidos por cada uma das unidades de catadores
componentes do ENTREPOSTO NORTE. Na primeira coluna estão as
receitas atualmente auferidas por cada unidade de catadores
deste Entreposto. A segunda e a terceira colunas avaliam os
benefícios auferidos pela entrada em operação do Entreposto.
A quarta e a quinta colunas evidenciam os benefícios
adicionais a serem alcançados com a plena operação da Central
de Comercialização Conjunta CATA RIO. A última coluna
apresenta os benefícios econômicos totais, em pontos
percentuais.

A FIGURA C.6.5 evidencia os benefícios comparativos em


receitas (R$) obtidos por cada uma das unidades ligada ao
ENTREPOSTO NORTE com a sua entrada em operação; com a entrada
em operação da Central de Comercialização; e os benefícios
potenciais totais. A FIGURA C.6.6 apresenta os mesmos
benefícios acrescidos, avaliados em pontos percentuais.
289

QUADRO C.6.3: ENTREPOSTO NORTE: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


290

FIGURA C.6.5: ENTREPOSTO NORTE: COMPARATIVO DE RECEITAS (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


291

FIGURA C.6.6: ENTREPOSTO NORTE: ACRÉSCIMO DE RECEITAS (%)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


292

Do ponto de vista dos catadores de materiais recicláveis


ligados a cada uma das unidades do ENTREPOSTO NORTE cabe
avaliar os benefícios potenciais de sua implantação sobre o
faturamento per capita. Na maior parte dos casos, esse valor
coincide com a receita bruta por catador, indicador da
eficiência econômica.

O QUADRO C.6.4 apresenta esses benefícios potenciais em


termos monetários correntes (R$) nas duas últimas colunas: a
primeira decorrente da implantação do Entreposto e a segunda
após a plena operação da Central de Comercialização. A FIGURA
C.6.7 possibilita avaliar esses benefícios de forma gráfica.

QUADRO C.6.4: ENTREPOSTO NORTE: BENEFÍCIOS POTENCIAIS


POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


293

FIGURA C.6.7: ENTREPOSTO NORTE: COMPARATIVO DE BENEFÍCIOS POTENCIAIS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


294

C.6.4. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DO
ENTREPOSTO DUTRA

O QUADRO C.6.5 apresenta os benefícios econômicos


potenciais auferidos por cada uma das unidades de catadores
componentes do ENTREPOSTO DUTRA. Na primeira coluna estão as
receitas atualmente auferidas por cada unidade de catadores
deste Entreposto. A segunda e a terceira colunas avaliam os
benefícios auferidos pela entrada em operação do Entreposto.
A quarta e a quinta colunas evidenciam os benefícios
adicionais a serem alcançados com a plena operação da Central
de Comercialização Conjunta CATA RIO. A última coluna
apresenta os benefícios econômicos totais, em pontos
percentuais.

A FIGURA C.6.8 evidencia os benefícios comparativos em


receitas (R$) obtidos por cada uma das unidades ligada ao
ENTREPOSTO DUTRA com a sua entrada em operação; com a entrada
em operação da Central de Comercialização; e os benefícios
potenciais totais. A FIGURA C.6.9 apresenta os mesmos
benefícios acrescidos, avaliados em pontos percentuais.
295

QUADRO C.6.5: ENTREPOSTO DUTRA: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


296

FIGURA C.6.8: ENTREPOSTO DUTRA: COMPARATIVO DE RECEITAS (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


297

FIGURA C.6.9: ENTREPOSTO DUTRA: ACRÉSCIMO DE RECEITAS (%)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


298

Do ponto de vista dos catadores de materiais recicláveis


ligados a cada uma das unidades do ENTREPOSTO DUTRA cabe
avaliar os benefícios potenciais de sua implantação sobre o
faturamento per capita. Na maior parte dos casos, esse valor
coincide com a receita bruta por catador, indicador da
eficiência econômica.

O QUADRO C.6.6 apresenta esses benefícios potenciais em


termos monetários correntes (R$) nas duas últimas colunas: a
primeira decorrente da implantação do Entreposto e a segunda
após a plena operação da Central de Comercialização. A FIGURA
C.6.10 possibilita avaliar esses benefícios de forma gráfica.

QUADRO C.6.6: ENTREPOSTO DUTRA: BENEFÍCIOS POTENCIAIS


POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


299

FIGURA C.6.10: ENTREPOSTO DUTRA: COMPARATIVO DE BENEFÍCIOS POTENCIAIS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


300

C.6.5. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS


DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO DO NÚCLEO DO
ENTREPOSTO DE ITABORAÍ

O QUADRO C.6.7 apresenta os benefícios econômicos


potenciais auferidos por cada uma das unidades de catadores
componentes do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ. Na primeira
coluna estão as receitas atualmente auferidas por cada
unidade de catadores deste Entreposto. A segunda e a terceira
colunas avaliam os benefícios auferidos pela entrada em
operação do Entreposto. A quarta e a quinta colunas
evidenciam os benefícios adicionais a serem alcançados com a
plena operação da Central de Comercialização Conjunta CATA
RIO. A última coluna apresenta os benefícios econômicos
totais, em pontos percentuais.

A FIGURA C.6.11 evidencia os benefícios comparativos em


receitas (R$) obtidos por cada uma das unidades ligada ao
NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ com a sua entrada em
operação; com a entrada em operação da Central de
Comercialização; e os benefícios potenciais totais. A FIGURA
C.6.12 apresenta os mesmos benefícios acrescidos, avaliados
em pontos percentuais.
301

QUADRO C.6.7: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


302

QUADRO C.6.11: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: BENEFÍCIOS ECONÔMICOS POTENCIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


303

FIGURA C.6.12: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: ACRÉSCIMO DE RECEITAS (%)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


304

Do ponto de vista dos catadores de materiais recicláveis


ligados a cada uma das unidades do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE
ITABORAÍ cabe avaliar os benefícios potenciais de sua
implantação sobre o faturamento per capita. Na maior parte
dos casos, esse valor coincide com a receita bruta por
catador, indicador da eficiência econômica.

O QUADRO C.6.8 apresenta esses benefícios potenciais em


termos monetários correntes (R$) nas duas últimas colunas: a
primeira decorrente da implantação do Entreposto e a segunda
após a plena operação da Central de Comercialização. A FIGURA
C.6.13 possibilita avaliar esses benefícios de forma gráfica.

QUADRO C.6.8: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: BENEFÍCIOS


POTENCIAIS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


305

FIGURA C.6.13: NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ: COMPARATIVO DE


BENEFÍCIOS POTENCIAIS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


306

C.7. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS RELATIVAS


DOS QUATRO ENTREPOSTOS

C.7.1. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS FÍSICAS DOS


ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS

Como mencionado na Seção C.5 as eficiências físicas dos


Entrepostos só serão alteradas através de investimentos
pontuais em algumas unidades de catadores. A desejável
alteração nas produtividades físicas de todas as unidades é
substancialmente dispendiosa – dado o volume da capitalização
necessário -- e necessita de alguns anos para a sua completa
e adequada implementação. Assim, somente a médio e longo
prazos será possível esperar significativos ganhos em
eficiências físicas para a maioria das unidades de catadores.

Torna-se assim, bastante importante analisar as


eficiências físicas que seriam hoje existentes caso os
Entrepostos fossem resultantes da agregação justaposta das
unidades de catadores da amostra pesquisada, conforme
anteriormente discutido.

O QUADRO C.7.1 apresenta as eficiências físicas dos


Entrepostos assim constituídos. Observa-se que os produtos
são desagregados nas 21 categorias de materiais e que os
volumes gravimétricos são expressos per capita, ou seja, por
catador envolvido em cada unidade.

Novamente foi adotada a legenda que permite interpretar


os resultados rapidamente. Os valores médios das eficiências
físicas para cada categoria de materiais estão apresentados
na última coluna. Nas demais colunas – comparativamente aos
valores da média – aparecem em vermelho os valores abaixo da
média; em preto os valores acima da média; e em azul os
valores que sejam pelo menos o dobro da média.

Como anteriormente, essa convenção permitirá perceber de


imediato o que ocorre em termos de produtividade média per
capita de cada caso.
307

QUADRO C.7.1: EFICIÊNCIAS FÍSICAS DOS ENTREPOSTOS: MATERIAIS – (Kg/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


308

O QUADRO C.7.2 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de eficiências físicas das categorias de materiais, em
cada Entreposto, comparadas com a média geral.

LEGENDA
ABAIXO DA MÉDIA
ACIMA DA MÉDIA
MAIS DO QUE O
DOBRO DA MÉDIA

QUADRO C.7.2: EFICIÊNCIAS FÍSICAS DOS ENTREPOSTOS:


QUADRO DE EFICIÊNCIAS RELATIVAS (Kg/Cat)
EFICIÊNCIAS
FÍSICAS DOCAS NORTE DUTRA ITABORAÍ
Kg/Catador
AZUL: > 2x média 0 4 3 5
PRETO: acima da
10 9 1 2
média
VERMELHO:
8 7 15 9
abaixo da média
NÃO PRODUZ 3 1 2 5
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Comparando os resultados das duas tabelas acima


apresentadas, observa-se que embora o ENTREPOSTO DAS DOCAS
apresente a maior eficiência física média agregada (consulte
o QUADRO C.7.1, por favor), ele não demonstra nenhuma
eficiência que corresponda ao dobro das médias das
produtividades dos materiais, quando desagregados. O
resultado é obtido pela maior constância em produtividades
acima das médias em 10 das 21 categorias de materiais.

O ENTREPOSTO NORTE, de perfil bem diferente, atinge


resultados desagregados ainda superiores. Isto faz desses
dois Entrepostos as âncoras iniciais da REDE CATA RIO.

O ENTREPOSTO DUTRA demonstra eficiências físicas quase


que sistematicamente abaixo das médias e suas altas
produtividades ocorrem em materiais menos tradicionais. Isto
309

evidencia a necessidade de destinar recursos pontuais às


unidades do ENTREPOSTO DUTRA de forma a contribuir para a sua
melhor eficiência física.

O NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ apresenta valores


extremos concentrando-se em um menor número de materiais.
Tratando-se de um núcleo com apenas duas unidades iniciais,
alguns desses valores podem ser representativos de apoio
pontual similar, visando o aumento de sua eficiência física.

A FIGURA C.7.1 retrata esses diferenciais expressivos


hoje existentes nas eficiências físicas entre os Entrepostos,
quando os seus produtos são desagregados em 21 categorias de
materiais.

Nesse sentido, a instalação dos Entrepostos e a


constituição da Rede de Comercialização Conjunta podem ter um
efeito de dispersão de técnicas e práticas que melhorem a
eficiência física média conjunta. Esse resultado, entretanto,
dependerá crucialmente da forma em que cada Entreposto seja
administrado e do processo de decisão interno adotados58.

58
Por exemplo, através da co-utilização de equipamentos e/ou meios de transporte de materiais recicláveis.
310

FIGURA C.7.1: EFICIÊNCIAS FÍSICAS DOS ENTREPOSTOS: GRÁFICO COMPARATIVO POR MATERIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


311

C.7.2. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS


ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS

A eficiência econômica será a mais diretamente afetada


pela implantação dos Entrepostos e pela criação da CENTRAL
CATA RIO. A melhoria das eficiências econômicas das unidades
de catadores nessas duas etapas dar-se-á primordialmente
através do aumento, em curto prazo, de suas respectivas
eficiências de mercado.

Com o objetivo de servir de base para comparações, torna-


se oportuno analisar as eficiências econômicas que seriam
hoje existentes caso os Entrepostos fossem resultantes da
agregação justaposta das unidades de catadores da amostra
pesquisada, conforme anteriormente discutido.

O QUADRO C.7.3 apresenta as eficiências econômicas dos


Entrepostos assim constituídos. Observa-se que os produtos
são desagregados nas 21 categorias de materiais e que os
valores são expressos per capita, ou seja, por catador
envolvido em cada unidade.

Novamente foi adotada a legenda que permite interpretar


os resultados rapidamente. Os valores médios das eficiências
econômicas para cada categoria de materiais estão
apresentados na última coluna. Nas demais colunas –
comparativamente aos valores da média – aparecem em vermelho
os valores abaixo da média; em preto os valores acima da
média; e em azul os valores que sejam pelo menos o dobro da
média.

Como anteriormente, essa convenção permitirá perceber de


imediato o que ocorre em termos de produtividade média per
capita de cada caso.
312

QUADRO C.7.3: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS ENTREPOSTOS: MATERIAIS – (R$/Cat)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


313

O QUADRO C.7.4 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de eficiências econômicas das categorias de materiais,
em cada Entreposto, comparadas com a média geral.

LEGENDA
ABAIXO DA MÉDIA
ACIMA DA MÉDIA
MAIS DO QUE O
DOBRO DA MÉDIA

QUADRO C.7.4: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS ENTREPOSTOS:


QUADRO DE EFICIÊNCIAS RELATIVAS (R$/Cat)
EFICIÊNCIAS
ECONÔMICAS DOCAS NORTE DUTRA ITABORAÍ
R$/Catador
AZUL: > 2x média 0 5 2 3
PRETO: acima da
7 9 2 4
média
VERMELHO:
11 6 14 9
abaixo da média
NÃO PRODUZ 3 1 3 5
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Comparando os resultados das duas tabelas acima


apresentadas, observa-se que o ENTREPOSTO DAS DOCAS apresenta
uma eficiência econômica média agregada bastante abaixo do
demonstrado em sua eficiência física (consulte os QUADROS
C.7.1 e C.7.3, por favor). Novamente ele não demonstra
nenhuma entrada que corresponda ao dobro das médias das
eficiências econômicas, quando desagregados os materiais. Na
verdade este Entreposto demonstra uma eficiência econômica
abaixo das médias em 11 das 21 categorias de materiais,
demonstrando grandes dificuldades de comercialização a preços
adequados.

O ENTREPOSTO NORTE, atinge bons níveis de eficiências


econômicas para diversos produtos, demonstrando sair-se bem
melhor em termos de comercialização em condições mais
314

favoráveis. Ainda assim, esses dois Entrepostos apresentam as


maiores eficiências econômicas dentre todos os quatro.
Novamente, o ENTREPOSTO DUTRA demonstra eficiências
econômicas sistematicamente abaixo das médias e suas altas
produtividades ocorrem em materiais menos tradicionais.

Similarmente, embora demonstrando uma eficiência


econômica média próxima à do ENTREPOSTO DAS DOCAS, o NÚCLEO
DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ apresenta valores extremos
concentrando-se em um menor número de materiais. Tratando-se
de um núcleo com apenas duas unidades iniciais, alguns desses
valores podem ser episódicos, merecendo uma nova avaliação
quando da constituição final do ENTREPOSTO DE ITABORAÍ.

A FIGURA C.7.2 retrata diferenciais hoje existentes


também expressivos nas eficiências econômicas entre os
Entrepostos, quando os seus produtos são desagregados em 21
categorias de materiais.

Como já foi referido na Seção C.6 – e será demonstrado


mais adiante -- a instalação dos Entrepostos e a constituição
da Rede de Comercialização Conjunta terão efeitos
considerável sobre as eficiências econômicas das unidades dos
Entrepostos, em cada uma dessas etapas.
315

FIGURA C.7.2: EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS DOS ENTREPOSTOS: GRÁFICO COMPARATIVO POR MATERIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


316

C.7.3. ANÁLISE DAS EFICIÊNCIAS DE MERCADO DOS


ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS

A eficiência de mercado será a mais diretamente afetada


pela implantação dos Entrepostos e pela criação da CENTRAL
CATA RIO. A melhoria das eficiências econômicas das unidades
de catadores nessas duas etapas dar-se-á primordialmente
através do aumento, em curto prazo, de suas respectivas
eficiências de mercado.

Isto significa que as variações percentuais dos ganhos em


eficiências econômicas serão idênticas aos das variações das
eficiências de mercado59. Por essa razão as alterações nas
eficiências de mercado podem ser diretamente observadas nas
variações das eficiências econômicas.

Com o objetivo de servir de base para a avaliação dos


benefícios da Rede de Comercialização Conjunta, torna-se
oportuno analisar as eficiências de mercado que seriam hoje
existentes caso os Entrepostos fossem resultantes da
agregação justaposta das unidades de catadores da amostra
pesquisada, conforme anteriormente discutido.

O QUADRO C.7.5 apresenta as eficiências de mercado dos


Entrepostos assim constituídos. Observa-se que os produtos
são desagregados nas 21 categorias de materiais e que os
valores são expressos per capita, ou seja, por catador
envolvido em cada unidade.

59
Na ausência de variações significativas nas eficiências físicas, é claro. Caso haja variações nas eficiências
físicas os benefícios nas eficiências econômicas e de mercado diferirão.
317

QUADRO C.7.5: EFICIÊNCIAS DE MERCADO DOS ENTREPOSTOS: MATERIAIS – (R$/Kg)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


319

O QUADRO C.7.6 sumariza o número de ocorrências de cada


nível de eficiências de mercado das categorias de materiais,
em cada Entreposto, comparadas com a média geral.

LEGENDA
ABAIXO DA MÉDIA
ACIMA DA MÉDIA
MAIS DO QUE O
DOBRO DA MÉDIA

QUADRO C.7.6: EFICIÊNCIAS DE MERCADO DOS ENTREPOSTOS:


QUADRO DE EFICIÊNCIAS RELATIVAS (R$/Kg)
EFICIÊNCIAS DE
MERCADO DOCAS NORTE DUTRA ITABORAÍ
R$/Kg
AZUL: > 2x média 0 1 0 1
PRETO: acima da
9 14 5 6
média
VERMELHO:
9 5 13 9
abaixo da média
NÃO PRODUZ 3 1 3 5
FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008

Observa-se que, com a provável exceção de alguns poucos


produtos comercializados pelo ENTREPOSTO NORTE e pelas
unidades componentes do NÚCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORAÍ, as
eficiências de mercado apresentadas são bastante baixas. Mais
do que isso, a maioria dos produtos de todos os Entrepostos é
comercializada de forma muito diferencial, gerando
disparidade de eficiências de mercado consideráveis.

São justamente esses diferenciais de eficiências de


mercado que potencialmente podem ser uniformizados, gerando
os ganhos de eficiências econômicas nas etapas de
constituição dos Entrepostos, e na entrada em plena operação
da Central de Comercialização Conjunta.

A FIGURA C.7.3 retrata diferenciais hoje existentes


bastante expressivos nas eficiências de mercado entre os
320

Entrepostos, quando os seus produtos são desagregados em 21


categorias de materiais.
321

FIGURA C.7.3: EFICIÊNCIAS DE MERCADO DOS ENTREPOSTOS: GRÁFICO COMPARATIVO POR MATERIAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


322

C.7.4. SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS:


BENEFÍCIOS POTENCIAIS CONJUNTOS

Neste item serão sumarizadas as informações geradas nos


itens anteriores desta seção, compondo-os com os resultados
da Seção C.6.

O QUADRO C.7.4 sumariza os benefícios potenciais


conjuntos dos Entrepostos.

As FIGURAS C.7.4 e C.7.5 apresentam os benefícios


potenciais em receitas brutas, respectivamente em valores
monetários correntes e em termos percentuais. Em ambos os
casos existem dois degraus: o primeiro degrau representa os
benefícios potenciais advindos da implantação dos
entrepostos; o segundo degrau representa os benefícios
potenciais totais após a operacionalização da Central de
Comercialização Conjunta.

O QUADRO C.7.5 sumariza, para os Entrepostos, os


benefícios potenciais médios por catador das unidades desses
Entrepostos.

Fechando a Seção C.7, a FIGURA C.7.6 permite visualizar,


em termos percentuais, os acréscimos de benefícios potenciais
médios por catador das unidades componentes de cada
Entreposto.
323

QUADRO C.7.4: SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS: BENEFÍCIOS POTENCIAIS CONJUNTOS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


324

FIGURA C.7.4: SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS: COMPARATIVO DE RECEITAS TOTAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


325

FIGURA C.7.5: SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS: ACRÉSCIMOS MÉDIOS DE RECEITAS –


(%)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


326

QUADRO C.7.5: SUMÁRIO DOS ENTREPOSTOS: BENEFÍCIOS POTENCIAIS MÉDIOS POR CATADOR (R$)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


327

FIGURA C.7.6: ACRÉSCIMOS DE BENEFÍCIOS POTENCIAIS MÉDIOS POR CATADOR

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2008


328

PARTE D: PERSPECTIVAS DA REDE


CATABAHIA

D.1. INTRODUÇÃO À PARTE D

Após as análises apresentadas nas PARTES A, B e C deste


estudo duas conclusões destacam-se:

a) Redes de Comercialização Conjunta de


organizações de catadores de materiais
recicláveis aumentam radicalmente suas
eficiências de mercado, com efeito direto
sobre todas as eficiências econômicas. Este é
um fator de agregação de valor que
potencializa a inserção social desse segmento
social. Assim, as Redes de Comercialização
Conjunta são um instrumento estratégico de
Tecnologia Social;
b) Formas cooperadas de organização jurídica das
unidades dos catadores não são necessariamente
menos eficientes do que formas empresariais de
estruturação. Pelo contrário: cooperativas de
catadores de materiais recicláveis são mais
afeitas à inclusão social de seus membros, uma
vez que os excedentes gerados são distribuídos
-- na maioria dos casos – através de um
sistema de pontos correspondentes ao trabalho
efetuado. A PARTE B deste trabalho explicitou
uma iniciativa empresarial eficiente, que,
entretanto, marginaliza o conjunto dos
catadores ligados à atividade, privatizando os
lucros. Cabe aqui uma decisão importante, caso
a atividade seja concebida como tecnologia
social de inclusão.

As lições acumuladas nas três PARTES anteriores devem


servir de referência para o avanço da Comercialização
Conjunta na Bahia – para a REDE CATABAHIA em particular, e
para o conjunto dos trabalhadores deste segmento da atividade
de reciclagem no estado.

Parece evidente que a cooperação entre cooperativas de


catadores de materiais recicláveis é muito superior à
329

concorrência entre elas, seja por disputa de territórios,


seja por especificidades geográficas, seja por elementos
advindos do processo de constituição de suas organizações.

O mercado de reciclagem é povoado por um grande número de


intermediários – estratificados e oligopsônicos – e apenas a
adesão a uma proposta de unificação de seus recursos poderá
superar o atual vazamento de parcela considerável dos
excedentes gerados pela atividade. E, argumenta-se aqui, uma
Rede de Comercialização Conjunta de materiais recicláveis é
um primeiro passo gigantesco nessa direção.

A partir da experiência da REDE CATABAHIA, observou-se


que com o expressivo volume de material reciclável coletado –
conforme o tipo de resíduo -- bastaria a inserção de uma
tecnologia de baixa relação capital/trabalho para gerar uma
agregação de valor significativa -- tendo como conseqüência
estratégica o aumento da participação dos catadores no
excedente gerado na cadeia da reciclagem.

A REDE CATABAHIA tem a primazia de ter sido a primeira


Rede de Comercialização Conjunta de materiais recicláveis
provenientes de cooperativas de catadores no Brasil. Por esta
razão, dedica-se nesta parte do trabalho, uma atenção
particular à sua constituição e evolução no tempo –
detalhando mais precisamente as unidades que hoje a compõem.60

Com esse objetivo, esta PARTE D visa avaliar e


diagnosticar a atual situação das dez plantas de cooperativas
da REDE CATABAHIA nos municípios de Salvador, Feira de
Santana, Vitória da Conquista, Jequié, Itapetinga, Itororó,
Lauro de Freitas, Alagoinhas, Entre Rios e Mata de São João.

Procura-se combinar uma variedade de evidências


qualitativas e quantitativas que permitam montar um quadro
descritivo das condições objetivas dos processos de trabalho
dos catadores de materiais recicláveis da REDE CATABAHIA,
identificando e qualificando o desempenho do trabalho
cooperativo de coleta e reciclagem e/ou avaliando as
possibilidades de replicação de sua implantação, caso ele
ainda não exista de forma organizada.

60
A evolução da comercialização conjunta na Bahia pode depender de um amplo concerto de interesses das
cooperativas de catadores hoje existentes no Estado da Bahia, sob a luz dos diagnóstico e propostas
apresentados neste trabalho.
330

Através da aplicação de questionários e outros


levantamentos em pesquisa direta in loco junto aos catadores
e suas unidades foram agregadas informações sócio-econômicas
que permitem avaliar a estrutura organizativa das
cooperativas de catadores de materiais recicláveis da REDE
CATABAHIA. Foram objetos da análise aqui apresentada, DEZ
cooperativas de catadores que, em seu total, somam 870
cooperados, dos quais 65% são mulheres.

A Seção D.2. apresenta uma descrição acerca do surgimento


da REDE CATABAHIA, suas origens e contexto histórico.

Na Seção D.3. são apresentadas as estratégias adotadas


para a incubação e capacitação dos cooperados das unidades
da REDE CATABAHIA.

A Seção D.4. é destinada a analisar individualmente as


cooperativas da REDE CATABAHIA em seus mais variados
aspectos. Referem-se às visitas realizadas em cada uma das
organizações durante a execução deste trabalho.

As Seções seguintes – D.5. e D.6. -- são destinadas a


apresentar os resultados sociais, econômicos e ambientais das
cooperativas da REDE CATABAHIA.

A Seção D.7. apresenta os impactos ma constituição de


políticas públicas para a inclusão produtiva dos catadores da
REDE CATABAHIA.

Na Seção D.8. são divulgadas as perspectivas logísticas


propostas para a REDE CATABAHIA.

D.2. HISTÓRICO DA REDE CATABAHIA

Foi durante as décadas de 70 e 80 que a cidade de


Salvador começou a destinar o lixo urbano produzido por seus
cidadãos no lixão que se situava no bairro de Canabrava.
Durante vinte anos, essa área foi degradada pela inadequada
disposição do lixo, com reflexos negativos em seu entorno,
principalmente nas questões referentes ao meio-ambiente e à
qualidade de vida da comunidade que ali residia.

O local passou a ser conhecido como o “Lixão de


Canabrava”, onde a presença de catadores -- então chamados de
badameiros – chegou a cerca de 1.000 pessoas, entre adultos e
331

crianças, que sobreviviam dessa atividade em condições


precárias e de indigência.

Uma das principais características deste tipo de


atividade – ainda tão comum na Bahia e no Brasil -- é o seu
alto grau de insalubridade, pois os catadores de lixões estão
expostos a diversas doenças e riscos associados ao contato
com resíduos urbanos.

Nesse tipo de trabalho, quando realizados em lixões, são


comuns situações onde crianças e adultos alimentam-se de
frutas e de produtos descartados por estarem fora do prazo de
validade que foram descarregados nos aterros e lixões. A
presença próxima à maquinaria utilizada para o aterramento do
lixo (caçambas e tratores) expõe todos a risco de morte,
havendo registros de graves acidentes, inclusive fatais.

Tendo em vista que a presença dos lixões traz consigo


graves problemas ambientais em qualquer lugar no mundo, no
ano de 2001, a LIMPURB (Empresa de Limpeza Urbana do
Salvador) extinguiu o Lixão de Canabrava, passando a
direcionar todo o lixo coletado de Salvador para a região do
CIA - Aeroporto, onde foi instalado o Aterro Metropolitano do
Centro. O processo de extinção do lixão trouxe como
conseqüência o fim da única forma de sobrevivência para
centenas de catadores que ali sobreviviam.

No ano de 2002, a ONG PANGEA passou a desenvolver


contatos com os catadores do antigo Lixão de Canabrava para
construir uma proposta de inclusão social e econômica dessas
pessoas.

O objetivo desta proposta foi constituir uma cooperativa


de catadores como forma de eliminar os atravessadores e
realizar a venda direta dos materiais recicláveis de forma
agregada, melhorando a renda, a auto-estima e a qualidade de
vida desses catadores.

Foi neste cenário que foi fundada – em 29 de maio de 2003


- a Cooperativa de Agentes Ecológicos de Canabrava (CAEC),
com a missão de promover a inclusão social e econômica de uma
população marginalizada socialmente, composta principalmente
por antigos catadores que moravam e literalmente catavam seu
sustento no antigo Lixão de Canabrava. O objetivo era
contribuir para resgatar a dignidade desses trabalhadores,
promovendo a melhoria da qualidade de vida e, paralelamente,
promover ações em prol do meio ambiente urbano de Salvador.
332

Nos anos seguintes, 2003 e 2004, o PANGEA e a CAEC


tomaram um conjunto de iniciativas voltadas para o
intercâmbio de experiências de organizações de catadores,
encaminhando lideranças de catadores de Salvador para Belo
Horizonte (no Festival Nacional Lixo e Cidadania) e
Pernambuco (Encontro Estadual dos Catadores, organização do
movimento dos catadores na Região Nordeste), bem como
percorreram algumas cidades do Estado da Bahia.

Essas visitas serviram para mobilizar os catadores de


lixões e de rua para o I Encontro Estadual dos Catadores de
Material Reciclável, que ocorreu nos dias 06 e 07 de
fevereiro de 2004 na sede da cooperativa CAEC, sediada em
Salvador.

Nesse encontro foram discutidos os principais problemas


que afligiam os catadores da Bahia e quais os melhores
caminhos para superá-los. A partir dessa experiência, deu-se
início à estruturação do projeto REDE CATABAHIA, formada
através da organização intermunicipal das cooperativas de
catadores da Bahia, visando à implantação de um organismo
específico para o desempenho de atividades relacionadas à
comercialização de materiais recicláveis e à geração de
condições de competitividade para as cooperativas.

Destaca-se nesse ano a valiosa parceria efetuada com a


PETROBRÁS, através do programa PETROBRÁS Fome Zero. Foi no
ano de 2004 que a CAEC ganhou seu primeiro prêmio de Melhor
Cooperativa do Nordeste, fornecido pelo Compromisso
Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE).

A passagem do ano 2004 para o ano 2005 é marcada pela


estruturação do projeto REDE CATABAHIA. A estratégia adotada,
concebida para ser efetuada em etapas, previu um conjunto de
metas que garantissem resultados econômicos, ambientais e
sociais sustentáveis -- tanto para as cooperativas quanto
para os catadores ao longo do decurso do projeto. As seis
principais metas delineadas foram:

I) Realização de rápido diagnóstico participativo


sobre o circuito econômico-social dos
materiais recicláveis nos municípios da Bahia;
II) Implantação, fortalecimento e incubação de
cooperativas de catadores de material
recicláveis nos municípios;
333

III) Capacitação dos catadores em Habilidades


Básicas, Específicas e de Gestão;
IV) Promoção de Assistência Social e Segurança
Alimentar e Nutricional aos cooperados e
familiares;
V) Operacionalização de uma rede de coleta
seletiva de materiais recicláveis nos
municípios selecionados;
VI) Implantação de uma Rede de Comercialização
Solidária de materiais recicláveis nos dez
municípios baianos operadas pelas cooperati-
vas.

A primeira etapa do projeto, em 2005 -- mesmo ano em que


se iniciou o patrocínio da PETROBRÁS -- ocorreu com a união
das cooperativas COOBAFS; Recicla Conquista; ITAIRÓ; e CAEC;
que, respectivamente, representam os municípios de Feira de
Santana; Vitória da Conquista; Itapetinga / Itororó; e
Salvador, em torno da REDE CATABAHIA.

Ao final do referido ano, tais cooperativas possuíam em


conjunto aproximadamente 340 catadores, que motivaram cerca
de 250.000 pessoas a iniciar campanhas de coleta seletiva e
mobilização social para o Meio Ambiente.

A REDE CATABAHIA consolidou-se em 2006, atingindo em seu


segundo ano de funcionamento cerca de 540 agentes ecológicos.
Esse salto no número de cooperados está associado ao ingresso
de outras quatro cooperativas na Rede: a CORAL de Alagoinhas;
a COOPERJE de Jequié; a CAEC no município de Lauro de
Freitas; e a VERDECOOP de Entre Rios. Ao final deste ano
foram mobilizadas cerca de 500.000 pessoas em campanhas
sócio-educativas em defesa do meio ambiente e em favor da
coleta seletiva. Foi nesse ano que a CAEC e a REDE CATABAHIA
foram premiadas e selecionadas como modelos de cooperativismo
inclusivo social, econômico e ambiental.

Logo no início de 2007 cerca de 40 novos cooperados


ingressaram na Rede através da adesão da cooperativa
COOPERBRAVA. O foco do projeto, nesse momento, estava voltado
para estruturação da Comercialização Conjunta. Em agosto de
2007, a REDE CATABAHIA já contava um total de 870 catadores,
distribuídos em nove cooperativas, representando dez
municípios da Bahia. Com a mais recente adesão da VERDECOOP –
e a ampliação das cooperativas da REDE CATABAHIA, esse número
já ultrapassa a casa dos mil cooperados.
334

D.3. ESTRATÉGIA ADOTADA PELO PROJETO DA


REDE CATABAHIA

O Projeto da REDE CATABAHIA previa na sua implantação


duas dimensões distintas, porém articuladas entre si: a
capacitação e a incubação.

A capacitação visa qualificar os catadores, preparando-os


para a redefinição do próprio papel na sociedade -- donos de
seus próprios negócios, articuladores e protagonistas de suas
vidas.

A incubação das cooperativas se materializa através de


ações de assistência técnica de caráter multidisciplinar,
voltadas para as áreas temáticas da gestão cooperativa;
educação ambiental; triagem de materiais recicláveis;
logística; e agregação de valor. Além de aulas de
alfabetização, fazem parte dessa atividade, oficinas de
cidadania e apoio sócio-educativo aos cooperados e seus
familiares, fomentando o protagonismo dos catadores e visando
alcançar a auto-sustentabilidade do empreendimento do ponto
de vista econômico e social.

A capacitação e a incubação fazem parte do mesmo


processo, não podendo seus respectivos conteúdos estar
dissociadas um do outro. Portanto, não devem ser entendidos
como partes isoladas, mas sim articuladas e integradas entre
si.

A capacitação, nesse processo, é elemento transversal que


esteve presente ao longo de todo o projeto, ou seja, exercida
de forma intensiva e cotidiana. Ela funciona principalmente
como um despertar de conhecimentos gerais, específicos, e de
valorização da identidade, que são aprofundados e
concretizados no processo de incubação. A capacitação atua na
construção da identidade coletiva da cooperativa -- variável
muitas vezes sub-dimensionada -- porém decisiva para a auto-
sustentabilidade social e econômica do grupo.
335

D.3.1 CAPACITAÇÃO

D.3.1.1. CONTEÚDO DA CAPACITAÇÃO

O Projeto da REDE CATABAHIA trabalhou a Capacitação em


três áreas temáticas centrais: Habilidade Básica (HB);
Habilidade Específica (HE); e Habilidade de Gestão (HG) --
totalizando 140 horas de formação.

O módulo Habilidades Básicas (HB) contemplou em seu


conteúdo os seguintes temas: cidadania; auto-estima;
segurança no trabalho; higiene; saúde; ética; capacidade de
liderança; aprimoramento da compreensão da linguagem oral e
escrita; e desenvolvimento do raciocínio lógico.

O módulo de Habilidade Específica (HE) teve como conteúdo


a tecnologia disponível para o trabalho do grupo. A
Habilidade Específica foi dividida em duas etapas. A primeira
etapa trabalhou as técnicas de coleta seletiva dos materiais
recicláveis; a educação ambiental como componente estratégica
para o processo de doação dos materiais recicláveis por parte
da população; e a montagem de um plano operacional da coleta
nos bairros. A segunda etapa trabalhou com os modos de
beneficiamento dos materiais recicláveis, em especial as
técnicas de enfardamento e agregação de valor.

O módulo de Habilidade de Gestão (HG) foi desenvolvido em


dois blocos. O primeiro bloco tratou da Psicologia Social
Comunitária e o segundo debruçou-se sobre a natureza do
Cooperativismo. O bloco de Psicologia Social Comunitária teve
como objetivo preparar o grupo para a absorção dos conteúdos
do módulo sobre cooperativismo, fortalecendo a relação entre
os treinandos; o compromisso inter-grupal; e, principalmente,
criando as condições para a construção de uma identidade
coletiva -- aspecto fundamental para a efetividade do projeto
no médio e longo prazo. O segundo bloco diz respeito às
temáticas do cooperativismo e gestão de negócios;
comercialização; formação de preços; técnicas de
administração; e análise do mercado.

A carga horária por participante foi assim distribuída:

 Habilidade Básica: 30 horas.


 Habilidade Específica: 30 horas
 Habilidade de Gestão: 80 horas
336

D.3.1.2. ASPECTOS PEDAGÓGICOS E PARTICIPATIVOS

A proposta metodológica empregada considerou um dos


objetivos do projeto, ou seja, gerar trabalho e renda para
adultos, com fins de se organizarem nos moldes de uma
cooperativa.

A base da proposta cooperativista da REDE CATABAHIA é


expressamente o ser humano e não o lucro – que se afirma
baseada na participação democrática e igualitária de cada um
dos cooperativados. Esses deixam de ser empregados e/ou
desempregados -- quase sempre envolvidos em atividades
informais na perspectiva da luta diária pela sobrevivência --
para serem, como sujeito coletivo, donos de seus próprios
negócios.

Tendo em vista as características acima apontadas, a


proposta pedagógica da procurou trabalhar através do enfoque
construtivista - interacionista, baseado na contribuição
teórica de Piaget e Vygotsky, que consideram o treinando como
centro do seu próprio percurso em direção ao conhecimento.

Seguindo esta perspectiva declarada pela REDE CATABAHIA,


o desenvolvimento cognitivo e emocional se realiza através da
relação entre sujeito e objeto de estudo, ou seja, na
interação social, pois o organismo e o meio exercem
influência recíproca, o que gera conflitos que – por sua vez
-- geram mudanças e elaborações conduzindo à aquisição de
novos conhecimentos, que -- apreendido nestes termos --
estará de acordo com a real necessidade dos educandos. Para
isso, no entanto, respeitou-se, também, a maturação e os
ritmos individuais de cada um, possibilitando, assim, os
avanços necessários para o crescimento e aprendizagem mútua.

Neste sentido é que a proposta curricular e pedagógica da


REDE CATABAHIA abordou e valorizou os temas de auto-estima,
cidadania e ética, como base para erigir as fundações da
cooperativa. A construção de uma proposta cooperativista
implica, fundamentalmente, numa mudança de atitude, de
comportamento, o que significa uma nova postura de educação.

Para alcançarmos na prática os resultados esperados, da


REDE CATABAHIA propôs uma metodologia participativa,
possibilitando ao treinando demonstrar todas as suas emoções
e sentimentos. Ao ouvir, falar, dialogar -- através de
337

dinâmicas e trabalhos de grupo, discussões e análises de


situações relacionadas ao cotidiano e a vida social – é
privilegiada, desta forma, a reflexão sobre o exercício da
cidadania. Assim, a relação instrutor-treinando se constitui
numa relação horizontal, na qual o instrutor tem o papel de
mediador, catalisador, que oferece constantes desequilíbrios
(situações problemas) aos alunos visando o estímulo e a busca
destes na superação das dificuldades apresentadas;
descobrindo as respostas; ou seja, o novo conhecimento a ser
adquirido.

Considerando que o trabalho pedagógico deve ser realizado


no equilíbrio e na harmonia do desenvolvimento de cada ser
humano -- e ciente de que as mudanças sociais e econômicas
interferem na formação de valores -- a proposta pedagógica da
REDE CATABAHIA propiciou o aguçamento do senso crítico, da
criatividade e a expressividade dos treinandos para que atuem
na sociedade de maneira sábia e justa, transformando a
realidade existente e atual em dias melhores.

D.3.2 INCUBAÇÃO

D.3.2.1. INCUBADORAS NA REDE CATABAHIA

Segundo a filosofia da REDE CATABAHIA a incubação deve


ser entendida como um processo que assume complexidades
diferentes ao longo do tempo. Se no primeiro ano a incubação
pode estar centrada na viabilização de renda mínima para os
cooperados, no segundo ou terceiro ano pode estar focada na
organização de serviços mais especializados como o de
logística reversa; industrialização; agregação de valor,
dentre outros -- que requerem atualizações no conteúdo da
incubação.

Outro entendimento necessário que a REDE CATABAHIA tem da


incubação é que ela é um processo que assume ritmos
concomitantes ao longo do tempo: o ritmo que o negócio requer
nem sempre é o ritmo que os associados da cooperativa são
capazes de assumir. Este dilema foi e é decisivo quando a
entidade incubadora tem um prazo estabelecido pelo projeto
para apresentar resultados. Como solucionar este dilema?

Para dar respostas à questão supracitada a entidade


incubadora tem que assumir a complexidade dos dois desafios:
338

a gestão da empresa na velocidade que o negócio/projeto


requer e a necessidade de que os gestores-associados da
cooperativa absorvam o conhecimento e se tornem capazes de
gerenciar o processo ao longo de um determinado tempo

Para assumir a complexidade dos dois desafios, algumas


medidas são decisivas. A incubação de uma cooperativa envolve
a gestão operacional do empreendimento junto com os
cooperados, acompanhando o seu dia a dia. Já a gestão
operacional está nas dimensões do administrativo-financeiro;
do comercial; da logística; e da assistência social integrada
-- áreas que demandam um acompanhamento especializado e
próximo.

Na REDE CATABAHIA é de fundamental importância que o


profissional possa estar lotado fisicamente nas unidades das
cooperativas, pois é nesse processo diário – no contato entre
o técnico e o cooperado -- que se realiza a formação
continuada junto aos seus filiados, onde, portanto, são
criadas as condições de auto-sustentabilidade.

É dessa relação, eminentemente presencial e profissional,


que são criadas as condições da substituição progressiva,
onde aquelas tarefas que antes eram executadas pelo
profissional incubador, passam a ser executadas
preponderantemente pelo cooperado–diretor -- até serem
criadas as condições para o repasse completo da gestão na
velocidade que o negócio requer.

Assim, na ótica da REDE CATABAHIA a relação da incubadora


com os cooperados é uma relação dialética, que prevê
horizontalidade, parceria, co-responsabilidade e clara
diferença de papéis. Estas características são fundamentais
para o processo de substituição progressiva e, portanto, da
auto-sustentabilidade social e econômica da cooperativa.

D.3.2.2. LINHAS ESTRATÉGICAS DA INCUBAÇÃO


D.3.2.2.1. ASSISTÊNCIA SOCIAL INTEGRADA

A Assistência Social dada ao Projeto da REDE CATABAHIA


está fundamentada numa concepção de totalidade sintética do
sujeito, compreende que o ser humano na sua trajetória de
desenvolvimento e amadurecimento necessita desenvolver sua
capacidade de interação consigo mesmo e com o meio que o
circunda.
339

Para isso, é necessária a construção de um ambiente


institucional que oportunize o fortalecimento do respeito aos
direitos humanos, capacitando os catadores para o exercício
da cidadania.

Tendo em vista a construção desse espaço, o setor realiza


tanto o atendimento individualizado quanto abordagem grupal.
No primeiro caso são utilizados instrumentos como triagem,
entrevistas, encaminhamentos e visitas domiciliares. No
segundo caso são realizadas oficinas, palestras e grupos
informativos -- tendo como finalidade a orientação e o
desenvolvimento sócio-cultural e terapêutico.

Na REDE CATABAHIA o Serviço Social também busca um


trabalho conjunto na prevenção, formação e re-inserção social
do catador, realizando visitas às instituições -- empresas
públicas e privadas -- para o reconhecimento dos recursos da
comunidade que serão disponibilizados para o grupo. Dessa
forma as ações do Serviço Social estão estruturadas em
núcleos de atuação que contemplam os principais objetivos do
setor: o desenvolvimento pessoal e profissional do catador e
a sua relação com o grupo; a assistência às necessidades
básicas do grupo tais como saúde, educação e cidadania; além
do suporte institucional, através das parcerias.

D.3.2.2.2. COLETA SELETIVA E LOGÍSTICA

 Análise da composição gravimétrica do lixo orgânico e


reciclável

Para analisar qual é de fato a produção de materiais


recicláveis e construir cenários de viabilidade financeira e
operacional da coleta para as cooperativas de catadores nos
municípios, foi fundamental para as cooperativas da REDE
CATABAHIA realizar a caracterização qualitativa e
quantitativa dos resíduos sólidos gerados, sendo este um
importante instrumento de planejamento.

O objetivo desta atividade foi a de obtenção dos valores


de contribuição de materiais recicláveis por dia, da
densidade aparente (kg/m³) e dos percentuais da composição
gravimétrica dos resíduos gerados (matéria orgânica,
materiais recicláveis e rejeitos), objetivando o planejamento
da infra-estrutura e logística necessária para a implantação
da coleta seletiva nos municípios.
340

A caracterização qualitativa dos resíduos constituiu-se


na determinação dos materiais presentes no lixo e do
percentual em que os mesmos ocorrem. Refere-se às
porcentagens das várias frações do lixo, tais como papel (e
os diferentes tipos de papel), papelão, plástico, PET, metal
ferroso, metal não-ferroso, vidro, matéria orgânica e outros.

A caracterização quantitativa dos resíduos constitui-se


na quantificação de lixo gerado num período de tempo
especificado, tendo como importância fundamental o
planejamento de todo sistema de gerenciamento do lixo,
principalmente no dimensionamento de instalações e
equipamentos necessários para implantação da coleta seletiva.

 Análise dos Fluxos dos Resíduos Recicláveis em


Condomínios ou Empresa

Na REDE CATABAHIA a análise reconstrói o circuito do lixo


orgânico e reciclável (em seus diferentes tipos) desde as
fontes geradoras até o destino final, observando a forma de
descarte por condomínios, bairros, indústrias ou empresas
potenciais doadoras de material reciclável e os sucessivos
sistemas de acondicionamento até chegar ao destino final. A
partir desta trajetória era proposta uma forma ótima de
captação e acondicionamento dos recicláveis, definindo
quantidades de coletores, entre outros equipamentos
necessários para cada unidade geradora.

 Elaboração e Implantação do Plano de Coleta

A partir dos dados coletados em cada unidade da REDE


CATABAHIA são organizados planos operacionais de coleta
seletiva definindo roteiros e estabelecida a periodicidade da
coleta, entre outros aspectos.

D.3.2.2.3. TRIAGEM DE MATERIAIS, COMERCIALIZAÇÃO E


ADMINISTRAÇÃO

No centro de triagem das cooperativas da REDE CATABAHIA,


os materiais oriundos da coleta seletiva são selecionados
segundo as tipologias: papel, papelão, plástico PET, ferro,
alumínio dentre outros; e, posteriormente, prensados e
comercializados.

É realizada especialização de funções entre os catadores


e gradual modificação das modalidades de trabalho no Centro
de Triagem, buscando aumentar a produtividade interna,
341

agregar valor ao processo de separação e transformar o


resíduo reciclado em mercadoria no mais rápido tempo
possível.

São realizadas, também, ações de cadastramento dos


compradores de materiais recicláveis, visando à venda direta
para as indústrias de reciclagem, o que gera melhores preços
de comercialização -- já que antes os catadores revendiam
seus materiais para atravessadores e intermediários.

O treinamento técnico – gerencial é diário fazendo com


que ao lado da equipe técnica do projeto os diretores da
cooperativa na área administrativa-financeira pudessem
apreender e progressivamente absorver novas competências
gerenciais e comerciais, abrindo portas para o processo de
desincubação da cooperativa.

D.3.2.2.4. COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Além de gerar renda e de melhorar as condições de


trabalho e vida dos catadores e de seus familiares, o Projeto
REDE CATABAHIA envolve também ações ambientais nos municípios
onde atua. O objetivo é estimular a responsabilidade social e
ambiental e a mudanças de hábitos com relação ao lixo,
propondo a separação dos materiais recicláveis e a
conseqüente adoção da Coleta Seletiva.

O Projeto busca a adesão de moradores, alunos,


educadores, empresários, funcionários e formadores de opinião
através de visitas domiciliares, palestras, grupos de
discussão e apresentações de teatro. Através do diálogo com a
comunidade e da identificação de voluntários, são propostas
atividades que integrem cidadania e ecologia, voltadas para a
formação e informação da população.

O Programa de Educação Ambiental apóia o sistema de


Coleta Seletiva implantado e operado pelas cooperativas de
catadores, divulgando nas comunidades a importante função
desenvolvida pelos agentes ecológicos, valorizando seu papel
e, ao mesmo tempo, incentivando a população a efetuar a
separação do lixo produzido em suas casas, escolas e
escritórios. Para isso, foi elaborado material de divulgação
voltado especificamente para a temática abordada: coleta
seletiva do lixo, cidadania, inclusão social e preservação
ambiental.
342

Esses instrumentos apóiam as ações de informação


promovidas pelo projeto, além de servir de consulta para
estudantes e educadores. O material de divulgação é claro,
prático e didático, com informações que proporcionam a
separação adequada do material reciclável recolhido pelas
cooperativas. As peças divulgam também o destino dos resíduos
arrecadados e o caráter social do projeto.

D.4. ANALISE INDIVIDUAL DAS COOPERATIVAS

Esta etapa constituiu na visita in loco, isto é, todas as


cooperativas integrantes da REDE CATABAHIA foram visitadas e
fotografadas com o objetivo de validar as informações
recebidas nos questionários aplicados. Assim, foram visitados
dez empreendimentos cooperados que totalizaram,
juridicamente, oito cooperativas de catadores. Essa diferença
se faz, pois a cooperativa CAEC possui três unidades
operacionais: a sede no bairro de Pirajá; e duas filiais, no
bairro da Calçada; e no município de Lauro de Freitas.

QUADRO D.4.1: COOPERATIVAS VISITADAS E SUAS LOCALIZAÇÕES

FONTE: PESQUISA DIRETA – Dados trabalhados pelo projeto – PANGEA – 2007


343

D.4.1. COOPERATIVA DE CATADORES E RECICLADORES


DE ALAGOINHAS - CORAL

D.4.1.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

A cooperativa CORAL possui um galpão grande, parcialmente


coberto, cedido pela prefeitura, onde são operadas as prensas
para enfardamento, o elevador de carga e a balança. Possui 20
carrinhos de catadores e 2 computadores.

A CORAL recebe apoio do governo municipal através do


galpão cedido e do custeio do combustível do caminhão, da
água e energia utilizada pela cooperativa.

Todo o processo de gestão é efetuado pelos próprios


cooperados, de forma transparente e participativa. São
utilizadas planilhas financeiras para registro de todo
material prensado e destinado à comercialização.

No processo de triagem é utilizada uma bancada, na qual


os cooperados, de forma estruturada, separam os materiais
conforme o tipo e a cor dos resíduos recebidos.

A cooperativa possui parceria com o SUS para marcação de


exames e participa do Programa MOVA da PETROBRÁS para
alfabetização e educação básica. Os cooperados têm
desempenhado suas funções em condições adequadas de higiene.

Com relação à segurança, há a necessidade dos cooperados


utilizarem de forma correta os EPIs – eles os possuem, mas
nem sempre os utilizam de forma adequada. A cooperativa
relata que a chegada da ONG PANGEA foi de extrema relevância
para o aumento da coleta seletiva e a melhoria em sua
produtividade.

D.4.1.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

Todo o material recebido pela cooperativa é proveniente


de coleta seletiva efetuada na fonte geradora dos resíduos.
Essa característica permite aos cooperados o aproveitamento
completo dos materiais doados, não apresentando problemas com
saneamento ambiental nem problemas com materiais que
344

necessitam de procedimentos especiais. O único problema


destacado é o galpão que não é integralmente coberto, ficando
parte dos materiais expostos às intempéries.

Para que a coleta seletiva fosse feita diretamente na


fonte geradora, garantindo assim a participação da população,
foi efetuado com os catadores ações de sensibilização
ambiental para que atuem junto à comunidade de Alagoinhas. A
CORAL ressalta que apesar de estar coletando em 15 bairros do
município, a abrangência ainda é pequena, podendo ser
ampliada.

Os catadores obtiveram cursos de capacitação para a


implementação de tais iniciativas no momento do ingresso à
REDE CATABAHIA.

D.4.1.3. DIMENSÃO SOCIAL

A cooperativa é membro titular do Conselho Municipal de


Assistência Social. Existe também o apoio do PANGEA, e das
Universidades e faculdade locais.

Não existe nenhum programa de geração de emprego ou renda


na cooperativa e não existe compra de materiais recicláveis
de outros catadores.

As ações efetuadas pela CORAL trouxeram uma boa relação


com a comunidade onde o projeto está inserido, tanto que todo
o material é coletado principalmente em residências. As
únicas atividades complementares e de formação são
implementadas pela REDE CATABAHIA através de seus parceiros.

D.4.1.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

Desde o início da cooperativa existe o processo de


controle dos materiais comercializados.

Um ponto positivo é que mesmo com oscilações de demanda a


CORAL se mantém estável, pois possui local para armazenamento
e estocagem de materiais. A regularidade no volume de
material coletado sofre oscilações.
345

A cooperativa não possui problemas com a comercialização


dos materiais recicláveis (única fonte de renda), pois está
perto dos demandantes desses materiais e também está na fase
de venda conjunta com outras cooperativas integrantes da REDE
CATABAHIA.

Existe a presença de atravessadores, principalmente em


relação aos mercados de papel e papelão, mas já estão
tentando a venda conjunta para acabar com a figura do
intermediário.

D.4.1.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.1.1: COOPERADOS UNIFORMIZADOS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


346

FOTO D.4.1.2: CAMINHÃO DA COOPERATIVA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.1.3: VISTA INTERNA DO GALPÃO E DOS CARRINHOS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


347

FOTO D.4.1.4: VISTA DA BALANÇA E DO CONTROLE DE PRODUÇÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

D.4.2. COOPERATIVA DE CATADORES DE ITAIRÓ

A ITAIRÓ é uma cooperativa de catadores que fica


localizada em Itapetinga, no interior do Estado da Bahia, mas
que também recolhe os seus materiais em Itororó.

D.4.2.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

Os galpões onde funcionam a cooperativa foram cedidos


pelas prefeituras locais através de comodato. A cooperativa
possui prensas, caminhão, balanças, carrinhos de catadores,
fragmentadora de papel, computadores e acesso a internet.

O processo de gestão é efetuado pelos próprios


cooperados, de forma transparente e participativa, através de
348

seus conselhos. Todo o material prensado e destinado à


comercialização é registrado em demonstrativos contábeis.

O processo de triagem é efetuado com o auxilio de mesas,


onde os cooperados separam os materiais conforme o tipo e a
cor dos recicláveis recebidos.

Os cooperados estão participando do programa educacional


MOVA BRASIL, em parceira com a PETROBRÁS e o Governo Federal.
Em relação à saúde dos cooperados está sendo preparado um
mutirão em parceira com a 14ª DIRES, do município. Os
cooperados têm desempenhado suas funções em condições
adequadas de higiene e segurança. Todos utilizam de forma
adequada os EPIs e os uniformes.

D.4.2.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

O material que a cooperativa utiliza é proveniente de


coleta seletiva efetuada principalmente em residências, não
gerando resíduos perigosos. A quantidade de rejeitos não-
aproveitados é quase nula, sendo destinado aos locais de
descarte existente no município, não apresentando problemas
com saneamento ambiental.

No momento de ingresso na REDE CATABAHIA os catadores


receberam cursos de capacitação para a implementação de ações
de sensibilização e educação ambiental, garantindo assim a
participação da população. Tal iniciativa teve apoio das
prefeituras locais de Itapetinga e Itororó.

Está em fase de estudo a ampliação da abrangência da


cooperativa para mais bairros dos municípios. O galpão da
cooperativa é integralmente coberto e possui tamanho adequado
para as atividades, sendo todos os materiais armazenados de
forma segura.

D.4.2.3. DIMENSÃO SOCIAL

A cooperativa ITAIRÓ é apoiada técnica e financeiramente


pela REDE CATABAHIA através da sua incubadora, o PANGEA.

A prática de compra de materiais recicláveis de outros


catadores é proibida pelo Estatuto e pelo Regimento Interno
349

da cooperativa. As ações efetuadas pela ITAIRÓ trouxeram uma


boa relação com a comunidade onde o projeto está inserido,
pois se verifica o aumento da participação da população na
coleta seletiva.

Outra parceira bastante importante -- como grande doadora


de materiais recicláveis -- é a empresa Azaléia, que fica
situada em Itapetinga. As atividades complementares e de
formação são implementadas pela REDE CATABAHIA.

D.4.2.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

Desde o início das atividades da cooperativa ITAIRÓ


existe o controle dos materiais comercializados, apresentando
regularidade no volume de material coletado. Diante de
oscilações de demanda por materiais recicláveis, a
organização se mantém estável, pois possui local adequado
para armazenamento e estocagem dos materiais já enfardados.

A cooperativa não possui problemas com a comercialização


dos materiais recicláveis, sua única fonte de renda, pois
esta já está na fase de venda conjunta dos materiais
recicláveis com outras cooperativas integrantes da REDE
CATABAHIA. Existe a presença de atravessadores, mas estes não
afetam o andamento da cooperativa.
350

D.4.2.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.2.1: COOPERADOS UNIFORMIZADOS E FRAGMENTADORA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.2.2: ENTRADA DA COOPERATIVA


351

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.2.3: SALA DE TREINAMENTO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.2.4: CAMINHÃO DA COOPERATIVA


352

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

D.4.3. COOPERATIVA DE CATADORES DA UNIDADE DE


CANABRAVA - COOPERBRAVA

A COOPERBRAVA é uma cooperativa de catadores localizada


no município de Salvador, no bairro de Canabrava.

D.4.3.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

O galpão bem como os atuais equipamentos da cooperativa


foram cedidos pela LIMPURB – Empresa de Limpeza Urbana de
Salvador. A cooperativa possui uma prensa, uma esteira que
precisa de manutenção, um caminhão de pequeno porte e uma
balança.

Os cooperados efetuam a própria gestão da cooperativa,


registrando o material prensado e destinado à comercialização
em planilhas financeiras acessíveis aos demais cooperados.

Os cooperados da COOPERBRAVA têm recebido serviços de


educação e saúde, fornecidos pela REDE CATABAHIA e pelo
353

PANGEA. Os cooperados têm desempenhado suas funções em


condições adequadas de higiene.

Em relação à segurança, há a necessidade da colocação de


extintores de incêndio no local. Os cooperados possuem os
EPIs, mas ainda não os utilizam de forma plenamente adequada.

A COOPERBRAVA foi incorporada ao programa de incubação de


cooperativas do PANGEA e recentemente ingressou na REDE
CATABAHIA.

D.4.3.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

A totalidade do material trabalhado pela cooperativa é


proveniente de coleta seletiva efetuada nas fontes geradoras
dos materiais recicláveis. Dessa forma os materiais
apresentam pouca quantidade de rejeitos, sendo aproveitados
quase em sua totalidade. Assim não apresentam resíduos que
necessitem de cuidados especiais, não apresentando problemas
ambientais. Todo o material é armazenado de forma segura.

Estão sendo efetuadas ações de sensibilização e educação


ambiental em sua área de abrangência, no bairro de Canabrava,
seus arredores, e demais bairros próximos em Salvador.

Os catadores obtiveram recentemente cursos de capacitação


para a implementação de tais iniciativas no momento do
ingresso à REDE CATABAHIA.

D.4.3.3. DIMENSÃO SOCIAL

O PANGEA apóia técnica e financeiramente os catadores


essa cooperativa.

A coleta e a venda de materiais recicláveis é a única


fonte de renda da cooperativa. As ações efetuadas pela
COOPERBRAVA trouxeram uma boa relação com a comunidade onde o
projeto está inserido, e todo o material trabalhado é
proveniente de coleta seletiva. As demais atividades
complementares e de formação são implementadas pelo PANGEA,
como instituição incubadora.
354

D.4.3.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

O processo de implantação do controle dos materiais


comercializados é recente, a partir do momento em que a
cooperativa passou a ser incubada pelo PANGEA.

A COOPERBRAVA declara ter tido menos problemas com


relação às oscilações de demanda associados à
comercialização/logística, desde a sua recente entrada na
REDE CATABAHIA. Não existe a presença de atravessadores.

D.4.3.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.3.1: GALPÃO E DO LOCAL DE TRIAGEM

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.3.2: CATADORES DA COOPERBRAVA


355

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

D.4.4. COOPERATIVA DE CATADORES DE JEQUIÉ -


COOPERJE

A COOPERJE é uma cooperativa de catadores localizada no


município de Jequié, no interior da Bahia.

D.4.4.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

A cooperativa possui os equipamentos e infraestrutura


adequadas, com galpão; ecopontos dispostos pelo município
para auxílio na coleta; caminhão; prensas; balança; esteira
elétrica; entre outros -- que são utilizados para
recebimento, triagem, prensagem e estocagem dos materiais
recicláveis.

Têm recebido apoio da prefeitura principalmente no espaço


que foi cedido. Todo o processo de gestão é efetuado pelos
próprios cooperados, de forma transparente e participativa.

O material prensado e destinado à comercialização é


registrado em livros-caixa, planilhas financeiras e através
de recibos de movimentação bancários -- que são
356

periodicamente apresentados pela tesoureira e pela comissão


de venda aos cooperados.

Atualmente o processo de triagem é realizado através de


mesas, mas já está em fase de instalação uma esteira
elétrica, fazendo com que o processo se torne extremamente
sofisticado se comparado aos de outras cooperativas.

Existe uma parceria com a Secretaria de Saúde do


município, que disponibiliza atendimento médico e
odontológico aos cooperados.

No quesito segurança a COOPERJE está adequada, inclusive


com a utilização dos EPIs por parte dos cooperados.

A cooperativa se orgulha de ter surgido da luta de um


grupo que vivia catando dentro do antigo lixão, mas que agora
possui sua sede própria e condições dignas de trabalho.

D.4.4.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

A totalidade do material trabalhado pela cooperativa é


proveniente de coleta seletiva efetuada nas fontes geradoras
dos materiais recicláveis. Essa característica permite aos
cooperados o aproveitamento completo dos materiais doados,
não apresentando problemas com saneamento ambiental nem
problemas com materiais que necessitam de procedimentos
especiais. A pequena quantidade de rejeitos é coletada pela
prefeitura municipal.

Os materiais da cooperativa são armazenados de forma


segura e higiênica. Para que a coleta seletiva fosse feita
diretamente na fonte geradora -- garantindo assim a
participação da população -- foram efetuadas pelos próprios
catadores ações de sensibilização ambiental junto à
comunidade onde atuam no município de Jequié.

D.4.4.3. DIMENSÃO SOCIAL

Existe a presença de iniciativas que apóiam a cooperativa


através da doação de seus resíduos. O PANGEA apóia técnica e
financeiramente a associação.
357

Não existe a compra de materiais recicláveis de outros


catadores. Os cooperados também são apoiados pelos programas
federais como o Bolsa Família.

As ações efetuadas pela COOPERJE trouxeram uma boa


relação com a comunidade onde o projeto está inserido,
garantindo assim a doação dos materiais recicláveis.

Como ocorre nas demais cooperativa da REDE CATABAHIA, as


atividades complementares e de formação foram implementadas
pelo PANGEA.

D.4.3.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

A prática do controle dos materiais comercializados é


efetuada desde a estruturação da cooperativa. Isso
possibilita averiguar a regularidade no volume coletado.
Ainda assim existem problemas relacionados às oscilações da
demanda associados à comercialização/logística, que por vezes
prejudica a venda dos materiais recicláveis. Isso tem sido
corrigido pelo processo progressivo de integração da COOPERJE
à REDE CATABAHIA. A catação e a venda de materiais é a única
forma de sobrevivência da cooperativa. Não existe a presença
de atravessadores.

D.4.4.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.4.1: CAMINHÃO UTILIZADO PELA COOPERATIVA


358

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.4.2: VISTA INTERNA DO GALPÃO – ÁREA DE TRIAGEM


359

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.4.3: VISTA EXTERNA E LATERAL DA COOPERATIVA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.4.4: VISTA EXTERNA E FRONTAL DA COOPERATIVA


360

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

D.4.5. COOPERATIVA DE CATADORES AGENTES


ECOLÓGICOS DE CANABRAVA - CAEC

A CAEC é a cooperativa central da REDE CATABAHIA, sendo


referência para as demais.61 Tem localizações em dois bairros
distintos de Salvador e possui também uma filial no município
de Lauro de Freitas.

D.4.5.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

A área atual de 11.000 m² onde funciona a sede da CAEC é


própria. Possui galpões grandes, área administrativa dotada
de cozinha e banheiros, salas de reunião e de alfabetização
digital.

A cooperativa possui prensas, caminhões e balanças.


Possui também um galpão no bairro da Calçada em Salvador e
outro no município de Lauro de Freitas cedido pela prefeitura
local.
61
Enquanto o presente Relatório Final estava sendo redigido (24/10/2008), a CAEC recebeu o primeiro
lugar no PRÊMIO VALORES DO BRASIL, concedido em comemoração aos 200 anos do Banco do
Brasil. A premiação foi matéria extensivamente coberta pela revista ISTO É da semana subseqüente.
361

Todo o processo de gestão é efetuado pelos próprios


cooperados com auxílio de técnicos do PANGEA -- de forma
transparente e participativa -- sendo todo o material
prensado e destinado à comercialização registrado em livros-
caixa e planilhas de produção.

Os cooperados da CAEC possuem oferta de serviços de saúde


com periodicidade semanal. Com relação à segurança pessoal,
todos os cooperados tem utilizado de forma correta os EPIs.

A CAEC se orgulha de ter recebido diversos prêmios como


modelo de cooperativa de catadores de materiais recicláveis,
entre os quais o de ter sido selecionada pela Organização das
Nações Unidas como uma das 50 melhores práticas compreendida
entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM na
categoria combate à miséria.

D.4.5.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

A maior parte do material trabalhado pela cooperativa é


proveniente de coleta seletiva efetuada em grandes geradores
de recicláveis, como rede de supermercados, grandes empresas,
órgãos federais e em condomínios residenciais.

Assim os resíduos apresentam como principal


característica o baixo volume de rejeitos, propiciando
condições adequadas de higiene, principalmente no local de
trabalho.

A mobilização e a educação ambiental são pontos fortes da


CAEC, garantindo assim a participação das empresas e da
população em toda região metropolitana de Salvador. Os
catadores recebem periodicamente cursos de capacitação para a
implementação de tais iniciativas.

Os materiais recicláveis ficam estocados de forma


bastante segura, existindo espaços específicos para tal.

D.4.5.3. DIMENSÃO SOCIAL


362

Existe a presença do MNCR62 e do PANGEA – que apóia


técnica e financeiramente a cooperativa.

A compra de materiais recicláveis de outros cooperados


são práticas proibidas pelo Estatuto e Regimento Interno,
sendo passíveis de punição.

As ações efetuadas pela CAEC trouxeram uma boa relação


com a comunidade onde o projeto está inserido. Seguindo a
metodologia da proposta de Comercialização Conjunta, as
atividades complementares e de formação foram implementadas
pelo PANGEA no âmbito do Projeto REDE CATABAHIA.

D.4.5.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

O controle dos materiais comercializados é uma prática


realizada desde o início da cooperativa, apresentando
regularidade no volume coletado.

Não foram constatados problemas de oscilações de demanda


nem da comercialização dos materiais recicláveis. A catação e
venda de materiais é a única forma de remuneração dos
catadores.

D.4.5.5. FOTOGRAFIAS

62
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR. Este Movimento fundamenta-se
na proposta de articulação entre proteção ambiental e cidadania, reciclando resíduos e vidas, através do
desenvolvimento de projetos de inclusão social que resgatem a auto-estima e permitam a criação de
mecanismos geradores de renda e trabalho para os catadores das mais diversas regiões do país. Dentre as
bandeiras levantadas pelo Movimento, destaca-se a sua ênfase no fortalecimento de políticas específicas para
o tratamento de resíduos sólidos e a necessidade de organização e das associações e cooperativas existentes,
fomentando a criação de novas unidades.
363

FOTO D.4.5.1: CAEC SEDE - FACHADA DO ESCRITÓRIO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.2: CAEC SEDE - SALA DE ALFABETIZAÇÃO DIGITAL

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.3: CAEC SEDE - SALA DE ASSEMBLÉIA E REFEITÓRIO


364

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.4: CAEC SEDE - GALPÃO DE TRIAGEM E PRENSAGEM DE


PAPEL E PAPELÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.5: CAEC SEDE - GALPÃO DE TRIAGEM E PRENSAGEM DOS


PLÁSTICOS
365

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.6: CAEC SEDE - PÁTIO EXTERNO DE RECEBIMENTO DE


MATERIAIS RECICLÁVEIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


FOTO D.4.5.7: CAEC LAURO DE FREITAS – CATADORES UNIFORMIZADOS
366

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.8: CAEC LAURO DE FREITAS – PRENSAGEM DE PAPELÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.9: CAEC LAURO DE FREITAS – CATADORES TRABALHANDO


367

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.5.10: CAEC LAURO DE FREITAS – FACAHADA DO GALPÃO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


368

D.4.6. COOPERATIVA DE BADAMEIROS DE FEIRA DE


SANTANA - COOBAFS

A COOBAFS é uma associação de catadores localizada no


município de Feira de Santana, Bahia.

D.4.6.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

A área atual onde funciona a COOBAFS foi cedida através


de comodato pela prefeitura de Feira de Santana. A
cooperativa possui prensas, caminhão médio, balanças e
carrinhos de catadores.

Todo o processo de gestão é efetuado pelos próprios


cooperados com auxílio de técnicos do PANGEA, de forma
transparente e participativa. O material prensado e destinado
à comercialização é registrado em livros-caixa, notas fiscais
de venda e movimentação bancária. O Conselho de Vendas e
Conselho Administrativo da cooperativa coordena e
supervisiona todo o procedimento.

Os cooperados da COOBAFS têm recebido ofertas de serviços


de educação e saúde, através do programa MOVA BRASIL e do
Posto Móvel de Saúde do município. Os catadores desta
cooperativa utilizam os EPIs de forma adequada.

D.4.6.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

Como os materiais recicláveis trabalhados pela


cooperativa são recebidos e doados através dos programas de
coleta seletiva, eles não apresentam problemas de saneamento
ambiental. Isso permite aos cooperados trabalharem em
condições adequadas de higiene e saúde. O rejeito que é
inadequado à reciclagem é coletado pelo sistema municipal de
limpeza.

Os cooperados foram capacitados, no âmbito da REDE


CATABAHIA, para efetuarem as ações de educação e mobilização
de forma que a coleta seletiva fosse feita diretamente nas
fontes geradoras -- fundamentais para garantir o acesso aos
materiais recicláveis.
369

A área de abrangência da cooperativa é a região de Feira


de Santana. Os materiais são armazenados de forma segura nos
galpões da COOBAFS.

D.4.6.3. DIMENSÃO SOCIAL

Existe a presença do MNCR, da Fundação Banco do Brasil e


do PANGEA, que apóiam a iniciativa com doações e
fortalecimento das ações de educação ambiental. A REDE
CATABAHIA apóia técnica e financeiramente a cooperativa
através da incubação.

Não existe a prática de compra materiais recicláveis de


outros catadores. As ações efetuadas pela COOBAFS trouxeram
uma boa relação com a comunidade onde o projeto está
inserido, tanto que todo o material é coletado principalmente
em residências. As atividades complementares e de formação
foram implementadas pela REDE CATABAHIA através do PANGEA.

D.4.6.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

Desde o início a cooperativa sempre prezou pelo controle


dos materiais comercializados, apresentando regularidade no
volume coletado.

As oscilações de demanda e a logística de comercialização


não representam dificuldades, pois a cooperativa já tem
vendido seus materiais juntamente com a REDE CATABAHIA.

A catação e venda de materiais é a única forma de


sobrevivência da cooperativa. Não existe a presença de
atravessadores.
370

D.4.6.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.6.1: FACHADA EXTERNA DA COOPERATIVA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.6.2: CAMINHÃO UTILIZADO PELA COOPERATIVA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


371

FOTO D.4.6.3: ENFARDAMENTO E PESAGEM DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

D.4.7. COOPERATIVA DOS CATADORES RECICLA


CONQUISTA – VITÓRIA DA CONQUISTA

A RECICLA CONQUISTA é uma cooperativa de catadores


localizada no município de Vitória da Conquista, Bahia.

D.4.7.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

Atualmente a RECICLA CONQUISTA possui um galpão de porte


médio -- cedido pela prefeitura local como forma de apoio e
subsídio -- prensas, carrinhos de catadores, caminhão,
balanças e demais equipamentos necessários para realizar seu
trabalho de forma digna.

Os cooperados -- em parceria com técnicos do PANGEA --


efetuam e controlam todo o processo de gestão e
comercialização da cooperativa de forma transparente e
participativa.
372

A comercialização dos materiais recicláveis bem como a


movimentação financeira é registrada em planilhas de receitas
e de produção.

O processo de triagem é bastante simplificado, sendo


processado sobre mesas.

Os cooperados da RECICLA CONQUISTA têm recebido serviços


de educação e saúde, mantidos destacadamente pela prefeitura
local.

Desempenham suas funções em locais adequados de higiene e


segurança, inclusive com a utilização de forma correta dos
EPIs.

D.4.7.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

A coleta seletiva é a principal fonte de insumos da


cooperativa. Esses materiais recicláveis, por serem triados
já na fonte geradora, possuem alto teor de limpeza, sendo
quase todo aproveitado. A quantidade de rejeitos é mínima e
não existe a necessidade de procedimentos especiais com
resíduos perigosos.

A cooperativa possui condições adequadas de higiene e


saúde no local de trabalho. Para que a coleta seletiva seja
feita de forma melhor -- diretamente na fonte geradora,
garantindo assim a participação da população -- foi efetuado
pelos próprios catadores ações de sensibilização ambiental
junto à comunidade onde atuam na região de Vitória da
Conquista.

Os catadores receberam cursos de capacitação para a


implementação de tais iniciativas no momento do ingresso na
REDE CATABAHIA.

D.4.7.3. DIMENSÃO SOCIAL

A Cooperativa RECICLA CONQUISTA possui um trabalho em


conjunto com o Núcleo de Economia Popular Solidária do
Município. Existe a presença de outras instituições e
organizações que apóiam a iniciativa com a doação de seus
materiais recicláveis e fortalecimento das ações de educação
373

ambiental. O PANGEA apóia técnica e financeiramente a


cooperativa através da atuação da REDE CATABAHIA.

A coleta e a comercialização de materiais recicláveis é a


única fonte de renda dos cooperados, portanto não existe a
compra de materiais recicláveis de outros catadores.

As ações efetuadas pela RECICLA CONQUISTA trouxeram uma


boa relação com a comunidade onde o projeto está inserido,
tanto que todo o material é coletado principalmente em
residências e comércios locais.

As atividades complementares e de formação, alfabetização


e cooperativismo, foram implementadas pelo PANGEA.

D.4.7.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

Desde o início a cooperativa sempre prezou pelo controle


dos materiais comercializados, apresentando regularidade no
volume coletado. Não apresenta problemas relacionados à
comercialização nem com oscilações de demanda, garantindo um
fluxo continuo de materiais recicláveis. Existe a presença de
atravessadores.
374

D.4.7.5. FOTOGRAFIAS

FOTO D.4.7.1: ENFARDAMENTO E PESAGEM

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.7.2: TRIAGEM E SEPARAÇÃO DOS MATERIAIS RECICLÁVEIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


375

FOTO D.4.7.3: ÁREA INTERNA – PRENSA HIDRÁULICA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

FOTO D.4.7.4: COLETA SELETIVA PORTA A PORTA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007


376

D.4.8. COOPERATIVA DE RECICLAGEM E COMPOSTAGEM


DA COSTA DOS COQUEIROS - VERDECOOP

A VERDECOOP é uma cooperativa de catadores localizada no


município de Entre Rios, na chamada costa dos coqueiros
situada no Litoral Norte da Bahia.

D.4.8.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COOPERATIVA

A VERDECOOP está presentemente atuando com um galpão,


prensas, carrinhos de catadores, caminhão, balanças e demais
equipamentos necessários para realizar seu trabalho de forma
digna.

Os catadores declaram que antes do recente ingresso da


VERDECOOP na REDE CATABAHIA os cooperados realizavam de forma
precária o controle de gestão da unidade. Atualmente estão
sendo assessorados pelos técnicos do PANGEA e passaram a
realizar o controle diário através de planilhas financeiras,
de receitas e de produção, e de notas fiscais.

Os cooperados da VERDECOOP ainda não recebem serviços de


educação e saúde. Estão desempenhando suas funções em locais
semi-adequados de higiene e segurança, com a utilização de
EPIs. A REDE CATABAHIA procura sanar essas questões através
do incentivo a parcerias.

D.4.8.2. DIMENSÃO AMBIENTAL

A VERDECOOP efetua não só a coleta seletiva nos hotéis da


Costa do Sauípe e no município de Entre Rios, mas também a
coleta convencional de todos os materiais recicláveis do
complexo. Assim, esses resíduos possuem alto teor de matéria
orgânica e de rejeitos e, por conseqüência, geram material
que é destinado ao programa de compostagem que existe na
unidade; e rejeitos não recicláveis que são enviados para
destinação final. Não existe a necessidade de procedimentos
especiais com resíduos perigosos.
377

A cooperativa possui condições semi-adequadas de higiene


e saúde no local de trabalho devido, principalmente, a
trabalharem com matéria orgânica procedentes do lixo.

O alcance geográfico é considerado pela cooperativa como


satisfatório, não necessitando ampliar a abrangência da
coleta. Todos os materiais recicláveis são armazenados de
forma correta.

D.4.8.3. DIMENSÃO SOCIAL

Não foi constatada a compra de materiais recicláveis de


outros cooperados. A VERDECOOP têm conseguido uma boa relação
com a comunidade e com o complexo hoteleiro onde o projeto
está inserido. Foi constata a presença de algumas atividades
complementares e de formação.

D.4.8.4. DIMENSÃO ECONÔMICA

A cooperativa possui histórico de comercialização de seus


materiais recicláveis desde o início de suas atividades.
Pelos registros pode ser constatado que a VERDECOOP não
possui flexibilidade para atender oscilações de demanda --
isto se configurando como um problema a ser resolvido.

Por outro lado não apresenta problemas relacionados à


comercialização, garantindo um fluxo contínuo e adequado de
materiais recicláveis. A catação e venda de materiais não é a
única fonte de renda dos cooperados. Eles efetuam outros
serviços como a coleta convencional de todos os resíduos do
complexo hoteleiro da Costa do Sauípe. Existe a presença de
atravessadores.

D.5. RESULTADOS SUMARIZADOS

A implantação da REDE CATABAHIA obteve resultados


extremamente relevantes para o processo de alteração do
quadro social das cooperativas dos catadores a ela
associadas, e na melhoria da qualidade do meio ambiente
urbano no Estado da Bahia.
378

D.5.1. ASSISTÊNCIA SOCIAL

A REDE CATABAHIA desenvolve um conjunto de atividades


para o benefício dos cooperados em seu âmbito:

 Ações de assistência sócio-sanitária, em


parceria com os agentes sanitários de saúde
dos municípios, para o público dos catadores
e familiares;
 Retirada de crianças dos lixões, incorporado-
as em programas municipais de assistência
social;
 Alfabetização, resultando em redução do
índice de analfabetismo dos catadores em 30%;
 Inclusão dos catadores nos programas Bolsa
Família em forte articulação com o Ministério
do Desenvolvimento Social;
 Incentivo ao aumento da auto-estima dos
catadores;
 Regularização dos documentos -- identidade,
CPF, Certidão de Nascimento e outros
documentos -- de todos os catadores/agentes
ecológicos envolvidos nas ações, tornando-os
cidadãos para o Estado Brasileiro.

D.5.2. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E


RELACIONAMENTO EM GRUPO

A REDE CATABAHIA declara que o objetivo dessas ações é


estimular -- através da aplicação integrada dos processos de
Serviço Social e da utilização de técnicas subsidiárias -- a
integração dos cooperados às suas respectivas cooperativas,
proporcionando condições adequadas e satisfatórias para o
desenvolvimento das atividades laborais.

São desenvolvidas atividades sócio-educativas, tais como


seminários, palestras, debates, oficinas e encontros,
relacionados à questão do catador que buscam ampliar o
universo informacional e de ação participativa dos
cooperados.
379

Com isso, os cooperados são capacitados para enfrentar de


forma mais eficaz seus problemas sociais, pessoais e de
relacionamento com o meio social e para participar -- de
acordo com suas aspirações e capacidades -- das atividades da
cooperativa.

D.5.3. ASSISTÊNCIA À SAÚDE.

Np âmbito da REDE CATABAHIA foram implementadas ações de


melhoria da saúde do catador. Na Cooperativa CAEC, em
Salvador, foi implantado um Serviço Médico com consultório,
onde um médico clínico realiza atendimento preventivo
semanal. Além disso, são viabilizadas vacinações sistemáticas
dos cooperados em parceria com órgãos municipais competentes
e acompanhamento fisioterápico para o grupo e seus
familiares.

Diariamente são servidas refeições nas cooperativas da


REDE CATABAHIA. As refeições são preparadas pelas equipes das
cozinhas -- formadas por cooperados capacitados através de
cursos como o de reaproveitamento de alimentos, oferecido
pelo SESI – Serviço Social da Indústria -- às cooperativas.

No momento, as cozinhas das cooperativas estão sendo


reestruturadas seguindo as orientações sanitárias e
nutricionais. Além disso, as cooperativas possuem parceria
com programas locais de segurança alimentar, a exemplo do
Programa Municipal Prato Amigo, em Salvador, que realiza
doações periódicas de alimentos perecíveis à Cooperativa
CAEC.

Essas e outras ações têm possibilitado uma redução nos


casos de afastamento dos cooperados das suas atividades
laborais por motivos de saúde, o que agrega um ganho real na
produtividade do grupo e conseqüente aumento da renda
individual.

D.5.4. ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL

A sustentabilidade de um empreendimento solidário está


diretamente relacionado ao grau de escolaridade dos seus
integrantes e a capacidade dos mesmos em estarem sintonizados
com as novas tecnologias de comunicação.
380

Foram criadas turmas para o curso de alfabetização de


adultos em parceria com o Programa Mesa Brasil -- iniciativa
do Governo Federal através da PETROBRÁS -- nos municípios
onde o Projeto REDE CATABAHIA atua.

Outra ação de capacitação dos catadores são os cursos de


formação específica para os membros do Conselho de Ética,
Conselho Administrativo e Coordenadores de Equipe das
Cooperativas. As aulas têm como foco trabalhar os temas e
conteúdos centrais de cada uma dessas instâncias, além de
promover a capacidade de liderança desses membros,
responsáveis por grande parte das decisões internas da
cooperativa.

Foram implantados nas cooperativas Centros de Inclusão


Digital que dispõem de computadores conectados à Internet --
para acesso livre dos cooperados -- e são periodicamente
oferecidos cursos ministrados por professores de informática.
Os cursos contemplam do nível básico ao avançado e organiza
as turmas conforme a demanda de novas capacitações
direcionados aos catadores recém incluídos nas cooperativas
dos diferentes municípios.

D.5.5. PROMOÇÃO DA CIDADANIA.

No intuito de assessorar o catador quanto aos seus


direitos e garantias como cidadão -- e da sua importância
dentro da sociedade -- o núcleo do Serviço Social da REDE
CATABAHIA realiza o levantamento e a regularização de
documentos de todos os cooperados que ingressam nas
cooperativas num prazo estimado de um mês. Todos os
cooperados foram inscritos nos Programas Bolsa Família e
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI.

Em outro Projeto do Governo Federal, o Programa de


Habitação da Caixa Econômica Federal, prevê a construção de
casas populares em Salvador através de financiamento do banco
com parcelas acessíveis e juros irrisórios. Assim o sonho da
casa própria, até então distante para muitos dos catadores,
fica mais próximo de se tornar realidade.
381

D.5.6. COLETA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

A coleta de materiais recicláveis, ao incorporar grupos


populacionais menos favorecidos à dinâmica produtiva, além de
ser um objetivo fundamental a ser alcançado pela REDE
CATABAHIA, está intimamente associada a ações de geração de
emprego e renda.

A FIGURA D.5.1 apresenta a evolução do número de


cooperados da REDE CATABAHIA desde sua existência. Como pode
ser verificado, em agosto de 2003 - período da fundação da
Cooperativa CAEC - existiam 49 cooperados, todos provenientes
do antigo lixão de Canabrava. Em setembro de 2007 estavam
atuando no sistema cooperativista da Rede 867 pessoas,
divididas entre as nove organizações de catadores. Esse
total, se comparado à quantidade inicial de 79, representa um
crescimento de 1.106% do número de postos de trabalho.

FIGURA D.5.1: EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE COOPERADOS DA


REDE CATABAHIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

Essa quantidade de cooperados proporciona atualmente uma


coleta média mensal de 840.000 quilos de resíduos sólidos
urbanos recicláveis, isto é, 4.206% a mais do que no início
382

da cooperativa, que era de apenas 19.800 quilos. A FIGURA


D.5.2 ilustra esse crescimento.

FIGURA D.5.2: EVOLUÇÃO DO VOLUME DA COLETA DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS DA REDE CATABAHIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

Essa evolução do volume coletado possui uma forte


correlação com o número de cooperados e com os investimentos
em máquinas e equipamentos. Devemos destacar também, para
justificar esse crescimento, a quantidade e qualidade das
parcerias firmadas pela cooperativas da rede, sejam elas o
setor privado, a sociedade civil ou o poder público, sem os
quais não seria possível obter tais números.

Desde o início do Projeto REDE CATABAHIA foram coletados


aproximadamente 12.555 toneladas de resíduos, dos quais 596
de vidro, 3.033 de plástico, 7.705 de papel e papelão,
1.150 de metais e 69 de alumínio. A FIGURA D.5.3 reflete a
composição gravimétrica do material coletado.
383

FIGURA D.5.3: COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA PERCENTUAL DO MATERIAL


RECICLÁVEL COLETADO

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

Esses são os principais materiais recicláveis coletados


pelas cooperativas da REDE CATABAHIA, mas não os únicos.

Ademais, a composição gravimétrica exposta na figura


acima possui uma importância direta na vida dos cooperados e
da sociedade como um todo, pois cada tipo de material possui
um valor de venda diferente, impactando diretamente no
faturamento das cooperativas, e o total de materiais
recicláveis coletados e vendidos representam economia de
recursos naturais.

D.5.7. COMERCIALIZAÇÃO CONJUNTA

A organização em cooperativas provoca uma mudança radical


no papel do catador na cadeia da reciclagem: de um papel
marginal, inserido numa condição de pobreza crítica; para o
papel de catador de material reciclável, reconhecido como
agente ecológico pela sociedade -- protagonista ativo nas
discussões sobre a cadeia da reciclagem e o meio ambiente --
384

com níveis de renda significativamente melhores. Isso ocorre,


dentre outros motivos, devido à eliminação dos atravessadores
dessa cadeia, que obtêm lucro através da super-exploração da
mão-de-obra dos catadores. Dessa forma são assegurados preços
melhores, aumentando assim a renda dos catadores.

A Comercialização Conjunta, introduzida pela REDE


CATABAHIA, é capaz de eliminar os excedentes dos
intermediários, aumentando as receitas brutas e líquidas – ao
mesmo tempo em que reduz os custos operacionais devido ao
aumento de eficiência logística. A FIGURA D.5.4 reproduz a
evolução no tempo dessas categorias.

FIGURA D.5.4: EVOLUÇÃO DA RECEITA BRUTA, LÍQUIDA E DAS


DESPESAS OPERACIONAIS

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

Na verdade, ocorreu uma diminuição da parcela referente


as despesas: antes ela representava parte considerável do
faturamento, agora representa cerca de um quinto do total.
Isto significa a incorporação integral dos custos da
cooperativa, sinal de sustentabilidade econômica.

Esse fato representa para as cooperativas da REDE


CATABAHIA, para os cooperados, e para os parceiros do
projeto, um dos maiores ganhos promovidos pelo programa de
385

incubação realizado pelo PANGEA. Ao internalizar esses custos


às cooperativas -- sem inviabilizar suas operações -- elas
atingem o ponto de auto-sustentação econômica.

Vale ressaltar que no caso de uma cooperativa, o valor da


receita líquida equivale à renda a ser distribuído entre os
cooperados. Essa renda média líquida por cooperado, durante o
período de incubação do projeto, cresceu 555%.

Cabe nesse momento efetuar uma breve explicação acerca


dessa renda média líquida por cooperado, pois a mesma é ainda
mais representativa do que parece ser.

O primeiro ponto refere-se ao sistema de pagamentos


adotado pelos próprios cooperados da REDE CATABAHIA. Esse
sistema é efetuado por horas trabalhadas, assim, cada
cooperado recebe de acordo com sua produtividade.

O segundo vincula-se à renda média, na qual não estão


embutidos os custos referentes à alimentação e os custos de
vales-transportes, ambos fornecidos a todos os cooperados da
REDE CATABAHIA por suas próprias cooperativas.

Um terceiro ponto a ser assinalado é a ação de


assistência social integrada que o projeto realizou e que já
se encontra integrada institucionalmente às cooperativas da
rede. Esta componente é responsável pelo desenvolvimento de
ações de alfabetização; captação de doação de alimentos,
livros e vestuário para os cooperados e seus filhos;
acompanhamento e inclusão das famílias nos programas de
transferência de renda do Governo Federal, como o bolsa-
família. Todas essas ações contribuem para o aumento da renda
familiar efetiva. Enfim, trata-se de recursos (monetários e
não-monetários) que constituem um capital social fundamental,
base para constituição de uma rede de assistência social
solidária aos cooperados e seus familiares, muito difícil de
ser reproduzida fora deste contexto.

D.5.8. COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nas cooperativas ligadas à REDE CATABAHIA foram


elaboradas atividades diferenciadas de mobilização para a
educação ambiental dos diferentes atores envolvidos, aonde
foram consideradas categorias de estratificação, tais como
386

residência, trabalho ou instituição de ensino, além da faixa


etária e foco da ação.

As ações de comunicação, educação ambiental e mobilização


têm como objetivo sensibilizar as pessoas para a formação de
grupos comunitários voltados para valorização da reciclagem
nas suas comunidades.

D.5.9. PONTOS DE DIVULGAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO

Nos estandes de divulgação da Coleta Seletiva Solidária


são distribuídos panfletos e cartilhas estimulando a
população a realizar a separação e trazer os materiais
recicláveis para os Ecopontos espalhados pelas cidades.

Assim o Estande é um Ponto de divulgação, educação


ambiental e esclarecimento quanto aos procedimentos para a
Coleta Seletiva desenvolvida na comunidade.

D.5.10. PALESTRAS E OFICINAS COM EXIBIÇÕES


AUDIOVISUAIS.

Ministradas por técnicos do PANGEA, as palestras contam


com a participação dos catadores que sempre contribuem com
explanações referentes ao histórico de catação e suas novas
experiências na Cooperativa -- além da exibição do vídeo
institucional do Projeto e outras produções audiovisuais de
cunho educativo.

Outra dinâmica muito utilizada é a Oficina de Recicláveis


-- uma apresentação mais descontraída do Projeto, com a
participação do público em uma atividade de separação dos
recicláveis e classificação dos mesmos por tipo. O público é
convidado a “por a mão na massa” e praticar no ato a Coleta
Seletiva.
387

D.5.11. ABORDAGEM DOMICILIAR E SETORIAL

Consiste na realização de visitas nas residências (porta


em porta) e aos setores das empresas e instituições, bem como
às unidades comerciais de shoppings e centros empresariais.

A abordagem é realizada pelos catadores que distribuem


materiais explicativos e esclarecem como proceder na
separação dos materiais recicláveis. Esta atividade é uma
oportunidade das pessoas conhecerem os beneficiados diretos
do Projeto.

D.5.12. VISITAS MONITORADAS

A proposta é proporcionar aos cidadãos uma visita ao


Centro de Triagem das cooperativas de catadores da REDE
CATABAHIA. Assim, as populações dos municípios podem observar
as etapas de beneficiamento de todo material reciclável que
chega ao Centro e o sistema de auto-gestão da Cooperativa.

A relevância dessa atividade se dá, principalmente, pelo


interesse das pessoas em conhecer o destino final do resíduo
reciclável produzido e separado por elas em seus domicílios,
escritórios e escolas. Traz também a oportunidade de contato
com os catadores e suas experiências de vida e trabalho.

D.5.13. CAMPANHAS DE ARRECADAÇÃO DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS

As Campanhas de Arrecadação de Materiais Recicláveis


baseiam-se na mobilização dos cidadãos, através de
instituições de bairro, ensino e comerciais, para que tragam
de suas casas garrafas plásticas, latinhas, revistas e
jornais.

Dessa forma são estimuladas extensivamente a separação


dos materiais recicláveis num curto espaço de tempo --
momento no qual muitas pessoas que nunca praticaram a
separação se dispõem a fazê-la – esperando que esta se torne
uma prática habitual incorporada ao cotidiano do público
participante.
388

D.5.14. REDE DE MULTIPLICADORES E FÓRUNS LIXO


E CIDADANIA

Nos municípios onde atua, o Projeto REDE CATABAHIA


estimula a participação voluntária da população em grupos de
discussão com objetivo que formar multiplicadores --
interessados em incentivar e conhecer melhor a gestão
municipal dos resíduos e a realidade dos catadores de
materiais recicláveis.

Dessa forma, o projeto contribuiu para a constituição dos


Fóruns Lixo e Cidadania nos municípios de Feira de Santana e
Vitória da Conquista, além de participar do Fórum Estadual
Lixo e Cidadania.

D.5.15. ÔNIBUS ITINERANTE E TEATRO AMBULANTE

Em Salvador, o Projeto REDE CATABAHIA incrementou suas


ações de Educação Ambiental e Mobilização Social através da
Parceria com o Projeto Teatro Ambulante. O Teatro Ambulante
consiste na estrutura móvel de ônibus preparado para
apresentações de teatro, dança e música, proporcionando ampla
divulgação da campanha de Coleta Seletiva nas comunidades.

Divertida e didática, a peça “Caminhando e Catando” pode


ser encenada em diferentes ambientes: condomínios, shoppings,
supermercados e escolas. O texto emociona ao contar a
história de vida dos ex-badameiros, hoje fundadores das
cooperativas, e explica passo-a-passo os procedimentos para
a Coleta Seletiva.

O Projeto REDE CATABAHIA mobiliza mais de 400


instituições, entre associações de bairro, escolas,
universidades, indústrias, empresas, centros comerciais,
atingindo um público total de 1 milhão de pessoas com as
atividades de Educação Ambiental e Mobilização Social nos
municípios aonde atua.
389

D.6. RESULTADOS AMBIENTAIS

Um dos maiores problemas enfrentados atualmente pelas


cidades, causado principalmente pelo enorme crescimento
populacional, é o relacionado à qualidade do meio ambiente,
mais precisamente no que se refere à geração, coleta e
destino final do lixo.

Um ganho ambiental de extrema relevância, contudo de


difícil medição econômica, é a diminuição da emissão de
poluentes na atmosfera e água decorrente da reutilização de
matéria prima. O quadro abaixo resume essas informações.

O QUADRO D.6.1 abaixo demonstra o potencial de redução da


poluição da água e do ar nos processos de produção a partir
da utilização de resíduos reciclados.

QUADRO D.6.1: REDUÇÃO DA POLUIÇÃO ATRAVÉS DA RECICLAGEM


REDUÇÃO DA
RESÍDUOS POLUIÇÃO
AGUA AR
Lata de Alumínio 97% 95%
Vidro 50% 20%
Papel 35% 74%
Lata de Aço 76% 85%
Fonte: Powelson, 1992, apud Calderoni, 2003, pg. 265.

A implantação de sistemas de coleta seletiva traz


benefícios diretos para os municípios, pois aumenta a vida
útil dos aterros sanitários, reduz a contaminação do solo, ar
e água e a proliferação de vetores transmissores de doenças.

Além disso, sabemos que as reservas de matérias primas --


sejam elas minérios ou petróleo -- são finitas. Em paralelo a
este fato, vive-se hoje sob a iminência de crises de
fornecimento de energia elétrica.

Portanto a reciclagem de materiais pode ensejar


considerável economia de energia: por exemplo, o papel
produzido a partir da reciclagem permite redução de 71% da
energia total necessária para a sua produção a partir da
celulose; o plástico 78,7%; o alumínio 95%; o aço 74% e o
vidro 13%.
390

Diante desse contexto o Projeto REDE CATABAHIA, além de


gerar trabalho e renda e promover com isso a inclusão social,
vem contribuindo sensivelmente para a redução desses impactos
no meio ambiente.

O volume de materiais coletados seletivamente e


encaminhados para a reciclagem pelas cooperativas de
catadores da Rede tem apresentado uma expressiva economia de
recursos naturais, energia elétrica e água tratada.

Os dados subseqüentes, apresentados na FIGURA D.6.1,


apresentam uma estimativa do total de materiais recicláveis
coletados no período de três anos, classificados por tipo --
Alumínio, Papel, Plástico, Metal e Vidro – durante os anos de
atuação da REDE CATABAHIA.

FIGURA D.6.1: VOLUME DE MATERIAIS RECICLÁVEIS COLETADOS (KG)

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

O QUADRO D.6.2 abaixo representa as economias de recursos


naturais promovidas pela coleta seletiva efetuada pelas
Cooperativas de Catadores da REDE CATABAHIA nos respectivos
municípios, considerando-se que os materiais recicláveis
foram utilizados como insumos introduzidos novamente na
cadeia produtiva dos produtos industrializados.
391

QUADRO D.6.2: ECONOMIA DE RECURSOS NATURAIS DO PROJETO


REDE CATABAHIA

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

É importante lembrar que esses resultados são frutos de


parcerias fundamentais, desde o patrocínio da PETROBRÁS, até
a mobilização de centenas de empresas e milhares de pessoas
em todos os municípios que aderiram ao sistema de coleta
seletiva proposto pelo projeto CATA BAHIA, bem como do
esforço e do trabalho de cada catador que diariamente realiza
com dignidade o seu trabalho em benefício ao meio ambiente.

D.7. IMPACTOS NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS


PÚBLICAS

O Projeto REDE CATABAHIA foi marco importante para a


construção de políticas públicas de inclusão social dos
catadores, tornando-se referência nacional deste segmento.
Nesse sentido, o Projeto REDE CATABAHIA obteve reconhecimento
através da conquista de premiações importantes, dentre as
quais cabe destacar: 3° Prêmio CEBDS de Desenvolvimento
Sustentável (2007); Concurso Nacional Ministério das Cidades
- Secretaria de Saneamento Ambiental, Selecionado dentre as
Experiências mais bem sucedidas em Educação Ambiental para o
Saneamento (2006); Prêmio da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES/BA com o 1º Lugar
Excelência em Gestão dos Resíduos Sólidos (2006);

Além disso, a CAEC- Cooperativa de Catadores, que faz


parte do Projeto REDE CATABAHIA, foi selecionada para
integrar a publicação da ONU “50 Jeitos Brasileiros de Mudar
392

o Mundo” -- organizada pelo PNUD e publicada em 2007. A mesma


cooperativa recebeu o Prêmio CEMPRE – Compromisso Empresarial
para a Reciclagem – Categoria Comunidade como Melhor do
Nordeste em 2004.

A FIGURA D.7 sumariza esses prêmios.

FIGURA D.7: PRÊMIOS RECEBIDOS PELA REDE CATABAHIA E PELA CAEC

FONTE: PESQUISA DIRETA – Equipe do Projeto – PANGEA – 2007

Em termos nacionais, a REDE CATABAHIA tornou-se


referência para o desenvolvimento e reprodução desta
experiência em outros estados do Brasil. A experiência da
REDE CATABAHIA é considerada referencial para a política
federal de apoio aos catadores.

Do ponto de vista da organização dos catadores de


materiais recicláveis, o Projeto REDE CATABAHIA foi
fundamental para a realização do I e II Encontro de Catadores
de Materiais Recicláveis do Estado da Bahia, que congregou
mais de 1.500 catadores do estado, tendo a presença de
representantes de Prefeituras, Governo do Estado e Governo
Federal.
393

Existem hoje cerca de 1 milhão de catadores no Brasil


(CEMPRE). Trata-se de uma estratégia de sobrevivência que
pode ser observada em toda a América Latina, África e Ásia.
Exemplo como o do Projeto REDE CATABAHIA podem orientar a
construção de políticas multilaterais de combate à pobreza em
diversos continentes, auxiliando na construção de um mundo
mais justo e sustentável e um meio ambiente melhor para todos
nós.

D.8. PERSPECTIVAS FUTURAS DA


REDE CATABAHIA

D.8.1. SUSTENTABILIDADE

Por possuir experiência como incubadora de projetos


focados no meio ambiente e na geração de renda, através da
implantação de cooperativas de trabalho, a coordenação
executiva da REDE CATABAHIA foi atribuída ao PANGEA, que
avalia de forma sistemática a situação atual da REDE e sua
articulação com demais atores envolvidos.

Em todas as esferas - econômica, social, e institucional


- este projeto apresenta um forte caráter sustentável, na
medida em que apresenta indicadores e ações que asseguram a
sua longevidade e seus benefícios. Dentre eles podemos
destacar:

 O faturamento obtido pela REDE CATABAHIA com


a Comercialização Conjunta dos materiais
reciclados é obtido pelo aumento das
eficiências de mercado das cooperativas
associadas – a exemplo do encontrado na REDE
CATA SAMPA e REDE CATA RIO, apresentadas e
discutidas nas PARTES A e C deste trabalho;
 Como se tratam de cooperativas – e não de
empresas provadas -- os faturamentos líquidos
provenientes das vendas dos materiais
recicláveis coletados são revertidos
diretamente para cotização entre os
cooperados;
 Todos os catadores integrados diretamente à
REDE CATABAHIA foram incluídos socialmente,
pois estes são, em sua maioria, provenientes
394

de lixões e das ruas -- uma população


discriminada e marginalizada socialmente;
 Paralelamente podemos citar também o combate
ao analfabetismo (67 pessoas); ao trabalho
infantil (crianças são retiradas dos lixões e
matriculadas em escolas); melhoria da saúde
dos cooperados (100% das cooperativas possuem
visitas médicas); e provimento de refeições
para todos os cooperados;
 Organização dos cooperados, anteriormente
atuavam de forma marginalizada -- trabalhando
sozinhos ou para intermediários -- e hoje
possuem uma organização em forma de rede,
dando visibilidade e criando uma nova
categoria de trabalhadores na economia;
 A construção de um amplo arco de parcerias,
que inclui o poder público; a sociedade
civil; a iniciativa privada; organismos
internacionais; universidades, institutos e
fundações privadas;
 As instituições que se apresentam como
parceiras no desenvolvimento da REDE
CATABAHIA, tem contado com o apoio de
diversos outros organismos da sociedade no
exercício de atividades relacionadas ao
resgate de cidadania de membros excluídos,
utilizando como instrumento básico de
inclusão projetos geradores de trabalho e
renda, aliados a preservação das condições
ambientais e culturais;
 Muitos desses parceiros -- organizados em
rede e através da mobilização social atuante
-- garantem a doação dos materiais
recicláveis para as cooperativas, principal
meio de sobrevivência das mesmas;
 Na REDE CATABAHIA a ação de incubação de
cooperativas consistiu primordialmente no
fornecimento de assistência técnica aos
cooperados visando repassar os conhecimentos
técnicos para que a cooperativa possa ser
auto-suficiente após o término do projeto;
 Fica demonstrado que o processo cooperado da
catação e reciclagem de resíduos sólidos
urbanos possui um forte caráter de auto-
sustentabilidade -- gerando reais condições
de combate à pobreza; promoção da inclusão
social; constituindo empregos formais e
395

assegurando renda para esses catadores; e,


mais importante ainda, resgatando suas
dignidades;
 Os catadores cumprem, de fato, o papel de
verdadeiros agentes de desenvolvimento
ambiental sustentável, com todos os
benefícios que essa prática encerra.
Destacam-se aí os ganhos relativos à saúde
pública e qualidade de vida nos grandes
centros urbanos;
 As proposições de fortalecimento
institucional e consolidação de tecnologias
sociais de gestão de Redes de Comercialização
Conjunta das cooperativas de catadores
configura-se em elementos chave para o
sucesso do processo de reciclagem de
materiais, aliados ao resgate e inclusão
social deste segmento marginalizado.
 A REDE CATABAHIA proporcionou um diagnóstico
adequado das oportunidades de combate à
pobreza e inclusão social, oferecidas pelo
mercado da reciclagem e de coleta de
materiais recicláveis no estado da Bahia
396

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