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Boletim da Educação no Brasil, 2009 (versão resumida)

Apresentação
Entender os principais aspectos da educação no Brasil se tornou importante para profissionais das mais
variadas áreas de atuação. Seja para orientar escolhas na vida pessoal ou no trabalho, seja para compreender
como o país se insere no contexto internacional, pais, gestores públicos, economistas e empresários
precisam e querem conhecer os indicadores do ensino no país. Quais são os resultados dos alunos? Estamos
avançando? A mão de obra chega ao mercado de trabalho bem qualificada? Quanto investimos nas escolas?

O Boletim da Educação no Brasil: Saindo da inércia? foi elaborado justamente para responder a essas
perguntas. O objetivo é apresentar a um público leigo informações atualizadas e confiáveis sobre a situação
da educação no Brasil.

Inspirado nos documentos utilizados nas escolas para avaliar os alunos, o Boletim dá notas a nove temas,
divididos em dois grupos: Diagnóstico e Perspectivas. No primeiro, são apresentados os indicadores de
matrícula, permanência, desempenho dos alunos e equidade. Na segunda parte, são analisados os avanços na
implementação de políticas públicas em cinco áreas consideradas indispensáveis para o desenvolvimento da
educação. São elas: padrões educacionais, sistemas de avaliação, autoridade e responsabilidade no nível da
escola, carreira docente e investimento em educação básica.

Elaborado pela Fundação Lemann, organização sem fins lucrativos, voltada para a melhoria da educação
pública no país, o Boletim da Educação no Brasil faz parte de uma iniciativa do Programa de Promoção da
Reforma Educativa na América Latina e Caribe (Preal), que já publicou mais de 25 boletins da educação na
região.

Nesta versão resumida, encontram-se as notas atribuídas a cada tema e os principais dados e comentários
apresentados no documento. A íntegra da publicação está disponível em www.fundacaolemann.org.br.

O panorama é preocupante. Esperamos que com as informações em mãos, seja mais fácil fazer pressão pelas
mudanças necessárias – e urgentes.
O boletim da educação no Brasil
Disciplina Conceito Tendência Comentários
Matrículas Aumentaram sensivelmente, mas ainda há
B muitas crianças e jovens fora da escola,
especialmente no ensino médio

Permanência Apesar de frequentar a escola por alguns anos,


C os estudantes não conseguem completar 12
anos de estudo

Desempenho Os alunos não aprendem o esperado para sua


D idade e estão em clara desvantagem de
aprendizado em comparações internacionais

Equidade As desigualdades de acesso diminuíram, mas


as oportunidades de educação de qualidade
C
ainda não são distribuídas de forma equitativa
para toda a população

Padrões Existem referências curriculares, mas ainda


educacionais não há padrões claros e detalhados que
D
garantam um mínimo de qualidade em todas
as salas de aula

Sistemas de São bastante avançados em relação a muitos


avaliação países, mas seus resultados ainda não são
B
usados para melhorar a qualidade da sala de
aula

Autoridade e Houve descentralização no atendimento, mas


responsabilid C as escolas ainda não podem decidir sobre
ade variáveis cruciais para o serviço que oferecem

Carreira A escolarização dos professores aumentou,


docente mas a qualidade dos cursos de formação ainda
D
é precária. Como consequência, os professores
não estão preparados para a sala de aula

Investimento Os recursos públicos disponíveis mostram que


em educação C educação ainda não é prioridade para os
básica brasileiros

Conceitos: Tendência:
A – Excelente Melhorando
B – Bom Sem tendência definida
C – Regular Piorando
D – Insatisfatório
1. Diagnóstico: como estão os indicadores de matrícula, permanência, desempenho e
equidade

1.1. Matrículas: Aumentaram em todos os níveis, mas o ensino médio ainda é um desafio

- Começamos a universalização da educação atrasados e ainda não terminamos. Entre 1970 e 2007,
foram criadas mais de 29 milhões de vagas da creche ao ensino médio, sendo dezesseis milhões somente no
ensino fundamental (Gráfico 1). Apesar do avanço, ainda hoje, menos da metade dos jovens entre 15 e 17
anos estão matriculados no ensino médio (Gráfico 2).

Gráfico 1: Evolução do número de matrículas, por nível de ensino (1970-2007)

Fonte: Anuários
Estatísticos
IBGE e INEP/MEC.

Gráfico 2: Evolução das taxas líquidas de matrícula, por nível de ensino (1992-2008)

Fonte: Pesquisa
Nacional por Amostra
de Domicílios/IBGE.
Estimativa do Instituto
de Estudos do
Trabalho e Sociedade
(IETS).
1.2. Permanência: As crianças e jovens saem da escola antes de completar 12 anos de estudo

- O nível de escolaridade da população brasileira ainda é muito baixo. Em 2007, os brasileiros tinham
uma taxa média de escolarização de sete anos – aquém dos oito anos garantidos pela Constituição e muito
abaixo da referência internacional, que estima doze anos de estudos como um requisito mínimo para o
acesso a bons empregos. Mesmo as gerações mais jovens ainda não conseguiram alcançar o patamar
desejado. O grupo etário com maior escolaridade no Brasil (de 20 a 24 anos) concluiu, na média, apenas nove
anos de estudo (Gráfico 3).

Gráfico 3: Escolaridade média da população, por faixa etária (2007)

Fonte: Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios/IBGE.

- A mão de obra que ingressa no mercado de trabalho está em clara desvantagem em relação à de
outros países. Embora tenha havido avanços quando se compara a escolarização de duas gerações
brasileiras, ainda estamos para trás na comparação internacional (Gráficos 4A e 4B ).

Gráfico 4A: Percentual da população economicamente ativa com pelo menos ensino médio completo: comparação entre
duas gerações – países selecionados (2005)

Fonte: Education at a
Glance 2007/OCDE.
Gráfico 4B: Percentual da população economicamente ativa com pelo menos ensino superior completo: comparação
entre duas gerações – países selecionados (2005)

Fonte: Education at a
Glance 2007/OCDE.

- Muitas crianças e jovens abandonam a escola antes de completar o ensino fundamental e médio. A
partir dos 12 anos, os estudantes brasileiros iniciam um processo de abandono da vida escolar que se
acelera a partir dos 16 anos, idade legal para acesso formal ao mercado de trabalho. (Gráfico 5)

Gráfico 5: Percentual da população que frequenta a escola, por idade (2007)

Fonte: Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios/IBGE.
Estimativa de Ruben Klein
em “A Crise de Audiência no
Ensino Médio”, 2008.
1.3. Desempenho: O Brasil é a 8ª economia do mundo, mas está entre os piores nos rankings de
educação

- Comparados aos estudantes dos países mais desenvolvidos, os alunos brasileiros têm resultados
pífios. Desde 2000, o Brasil participa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) da
OCDE, que testa jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências. Na edição de 2006, o Brasil se
classificou em 49º lugar entre os 56 países participantes na prova de leitura. Em matemática e ciências, o
país se saiu ainda pior: ficou em 54º e 52º, respectivamente, entre 57 países. Em leitura, a maioria dos jovens
brasileiros que fez o PISA em 2006 foi classificada no nível mais baixo de proficiência (nível 1 ou abaixo) . Há
dez vezes mais alunos brasileiros neste nível de proficiência que finlandeses ou coreanos (Gráfico 6). Chegar
à adolescência sem dominar uma das habilidades básicas da vida moderna limita a capacidade dessas
pessoas de continuar estudando e competir por bons empregos.

Gráfico 6: Percentual de estudantes nos níveis mais baixos de proficiência em leitura no PISA – países selecionados
(2006)

Fonte: PISA 2006/OCDE.

- Uma comparação apenas com países da América Latina e com alunos mais novos também mostra
um péssimo cenário. Um recente estudo da UNESCO (SERCE - Segundo Estudo Regional Comparativo e
Explicativo) avaliou o desempenho de alunos de terceiras e sextas séries do ensino fundamental de dezesseis
países da América Latina em linguagem, matemática e ciências. Na maioria dos países da região, com exceção
de Cuba, os resultados mostram uma alta concentração de alunos nos níveis menos avançados de
competência (Gráfico 7).
Gráfico 7. Percentual de estudantes da 3ª série do ensino fundamental nos níveis mais baixos de proficiência em leitura
no SERCE – vários países (2007)

Fonte: SERCE-
LLECE/
Unesco

- Mesmo as avaliações nacionais mostram que os alunos aprendem muito pouco do que se espera,
qualquer que seja o nível de ensino. O governo brasileiro estabeleceu alguns parâmetros de proficiência
esperada para o final de cada um dos ciclos de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do
ensino médio). No 3º ano do ensino médio, os alunos ainda não aprenderam as habilidades esperadas para a
8ª série do ensino fundamental (Gráfico 8).

Gráfico 8: Evolução da média de proficiência em leitura no SAEB, para 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série
do ensino médio (1995-2007)

Fonte: INEP/MEC.
1.4. Equidade: As oportunidades de educação ainda não são iguais para todos

- O acesso dos mais pobres à escola cresceu, mas as taxas de escolarização ainda são muito diferentes
na comparação entre os dois extremos de renda do país. No ensino médio, por exemplo, estão na escola
75% dos jovens do quintil mais rico e apenas 25% de seus pares do quintil mais pobre (Gráficos 9A e 9B).

Gráfico 9A: Evolução do percentual de alunos frequentando a escola, por nível de ensino, segundo a renda (1995)

Gráfico 9B: Evolução do percentual de alunos frequentando a escola, por nível de ensino, segundo a renda (2005)

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios/IBGE (1995 e 2005). Elaborado pelo
Núcleo de Estudo de Políticas Públicas (NEPP)
da UNICAMP.

- A baixa qualidade da educação se estende a todas as faixas de renda. Mesmo os brasileiros de nível
socioeconômico mais alto tiveram desempenho na prova de leitura do PISA muito inferior aos dos
estudantes mais pobres de países como Irlanda, Canadá, Finlândia e Coreia. (Gráfico 10).

Gráfico 10: Diferença de desempenho em leitura no PISA, segundo a renda – países selecionados (2006)

Nota: Para cada um dos países,


o ponto superior indica a média
de desempenho para os jovens
do quintil superior de renda. O
ponto inferior indica a média
para os jovens do quintil
inferior. A distância entre os
pontos marca a desigualdade
entre esses dois extremos. O
ponto central é a média do país.
O gráfico está em ordem
crescente segundo a diferença
entre os dois extremos.

Fonte: PISA 2006/OCDE.


- Raça e gênero também podem ser limitantes das oportunidades educacionais. No Brasil, as pessoas
de raça branca ou amarela, independente da renda, têm maiores chances de avançar academicamente que os
de raças negra ou indígena. Mesmo entre os mais ricos, apenas três de cada dez indivíduos da raça negra,
parda ou indígena tiveram acesso ao ensino superior, enquanto entre os brancos na mesma faixa de renda,
essa relação sobe para cinco em cada dez. (Gráfico 11). Da mesma forma, em todas as faixas de renda, um
maior contingente de mulheres jovens consegue atingir níveis mais elevados de escolaridade que os homens
(Gráfico 12).

Gráfico 11. Escolarização da população de 18 a 24 anos, segundo raça e renda (2006)

Gráfico 12: Escolarização da população de 18 a 24 anos, segundo gênero e renda (2006)

Fonte: Gráficos
elaborados por
Rafael Neves, a
partir dos dados da
Pesquisa Nacional
por Amostra de
Domicílios/IBGE.
2. Perspectivas de melhoria: as políticas públicas que precisamos implementar para o país
avançar rápido

2.1. Padrões educacionais: o Brasil começa a desenvolvê-los, mas sua implementação ainda
esbarra em resistências e fragilidade técnica

Em qualquer processo no qual se queira obter resultados concretos é fundamental a existência de padrões.
Com eles, é possível alinhar expectativas, medir e comparar resultados.

Nas atividades de educação não é diferente. Portanto, um sistema de ensino que busque qualidade e
equidade deve estabelecer padrões educacionais. Existem pelo menos três tipos de padrão indispensáveis
para o desenvolvimento do ensino. A tabela a seguir traz uma definição de cada um deles e descreve o atual
cenário brasileiro:

TIPO DEFINIÇÃO SITUAÇÃO NO BRASIL


Padrões Indicam as habilidades e Já existem parâmetros
curriculares competências que os nacionais, mas, no nível das
estudantes devem dominar escolas, ainda não há padrões
em cada etapa escolar. claros sobre o que deve ser
ensinado em cada ciclo, em
cada área do conhecimento.
Padrões de Definem os níveis de Alguns pesquisadores e
desempenho proficiência adequados para organizações do setor
cada área de conhecimento, educacional já descreveram,
em cada uma das etapas de individualmente, o que
ensino. entendem como desempenho
mínimo e satisfatório dos
alunos. Mas, não existe ainda
uma definição oficial deste
padrão.

Padrões de Determinam os recursos Embora a legislação mencione a


oportunidades de técnicos, financeiros e necessidade de garantir
aprendizagem humanos necessários para “padrões mínimos de
que todos os alunos possam qualidade” estes jamais foram
atingir o desempenho definidos e, portanto, nunca
esperado. chegaram às escolas e redes de
ensino.

O resultado é que, de modo geral, ainda faltam padrões para controlar a qualidade da sala de aula. A
dificuldade de estabelecê-los prejudica principalmente os mais pobres, que contam com menos referências
sobre o que cobrar das escolas e das autoridades.
2.2. Sistemas de avaliação: o país conta um sólido sistema de monitoramento da educação,
mas ele ainda é pouco utilizado pelas escolas

- O Brasil desenvolveu sistemas de avaliação regulares, comparáveis no tempo e tecnicamente


sólidos. Atualmente, o país coleta regularmente, através de diversas avaliações, informações sobre o
desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, seu perfil socioeconômico, características dos
professores e das escolas. Além disso, são feitos censos de vários tipos para todos os níveis e modalidades de
ensino. Este conjunto de dados permite um entendimento aprofundado dos determinantes do processo de
aprendizagem e facilita o desenho e avaliação das políticas públicas do setor. A divulgação dos dados na
internet, de forma clara e simples, dá acesso ao público em geral à informação. É possível consultar
resultados e indicadores no nível de cada escola. A cultura de transparência que está nascendo é bastante
positiva.

- A criação de um índice de fácil leitura mobilizou o país no acompanhamento do progresso da


educação. O Ministério da Educação criou um indicador de qualidade da educação que combina as
informações de desempenho dos alunos em uma avaliação (Prova Brasil) com as de fluxo escolar (taxa de
aprovação), em uma escala de fácil compreensão (zero a dez). É o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb). Para cada escola, estado e município do país, foi definida uma meta a ser atingida até 2021. A
cada dois anos, o governo realiza uma ampla campanha de divulgação dos dados, evidenciando quem
conseguiu atingir suas metas parciais e dando visibilidade à evolução do desempenho. Com isso, mobiliza a
atenção da população em torno da melhoria do índice. A meta brasileira é atingir a nota 6,0 em 2021.
Segundo o MEC, isso significaria se equiparar ao atual padrão dos países desenvolvidos, membros da OCDE.
Em 2007, o Ideb nacional foi de 4,2 e 3,8 para o primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental,
respectivamente, e 3,5 para o ensino médio.

- Apesar dos avanços, a análise dos resultados das avaliações ainda não é utilizada pelas escolas para
melhorar a aprendizagem. As informações obtidas nas avaliações ainda não são plenamente utilizadas no
nível das escolas para a tomada de decisões pedagógicas e para a construção e ajustes de currículos. Existe
ainda uma grande dificuldade de traduzir os resultados de desempenho dos alunos para professores e
gestores escolares, de maneira a evidenciar as lacunas de aprendizagem. E, no entanto, para gerar mudanças
nas escolas e salas de aula, é essencial que estes profissionais sejam capazes de identificar os problemas que
estão levando seus alunos a não dominarem determinadas habilidades e competências e, a partir daí,
reformular suas práticas de ensino.

- A cultura de participação em avaliações internacionais também vem se consolidando.


Complementarmente às avaliações nacionais, o Brasil engajou-se em um esforço internacional de
monitoramento do desenvolvimento da educação, participando, desde a primeira edição, tanto do PISA,
quanto do LLECE. Este tipo de comparação permite que a sociedade brasileira se mobilize não só em torno
de seu próprio progresso educacional, mas que consiga se manter conectada aos avanços de outras nações. A
adesão aos exames internacionais também dá maior transparência e credibilidade aos dados divulgados
nacionalmente sobre educação.
2.3. Autoridade e responsabilidade: a maioria das escolas não tem poder de decisão e não se
responsabiliza por seus resultados

- Autonomia escolar é necessariamente um equilíbrio de forças entre poder e responsabilização. Uma


vez que as escolas são, em última instância, as responsáveis pela oferta da educação, decisões que afetam a
qualidade do que acontece na sala de aula deveriam ser tomadas pelos seus gestores e equipe. Se por um
lado é importante que as escolas tenham maior poder de decisão, por outro, para exercer esta autonomia
com competência, elas precisam dispor de capacidade técnica e se responsabilizar por seus resultados
perante a comunidade.

- No Brasil, as escolas têm pouca autoridade para tomar decisões cruciais sobre seu funcionamento.
Escolhas que definem o rumo de cada escola ainda são centralizadas nas esferas administrativas: Governo
Federal, estados e municípios. As escolas não têm autonomia para tomar as decisões mais importantes
associadas à qualidade do ensino e ao efetivo aprendizado dos alunos, como a atribuição de aulas, as opções
pedagógicas e a alocação dos recursos humanos e materiais. Os diretores, de modo geral, têm pouco ou
nenhum poder sobre a composição de suas equipes ou sobre a escolha das características de formação
continuada para seus profissionais, por exemplo. As escolas não contam com orçamentos relevantes para
seus projetos, mas ficam com o ônus de administrar parcos recursos ligados à sua manutenção corriqueira. A
maior parte dos diretores de escola no Brasil ainda é selecionada por interesses políticos.

- Para as escolas se responsabilizarem por seus resultados, além de rankings, é preciso apoio técnico
e financeiro. No Brasil, este processo de “empoderamento” ainda é dificultado por uma conjunção de
fatores, que esvaziam as escolas do necessário senso de autoridade e responsabilidade: limitações legais,
pouca tradição de participação das famílias, falta de qualificação técnica do corpo docente e sobrecarga de
atribuições não pedagógicas do diretor. Para que isso mude, os dirigentes municipais e estaduais de
educação devem ser parceiros e apoiadores dos diretores de suas redes. Alguns programas do Governo
Federal também podem oferecer recursos e capacitação diretamente às escolas e aos municípios.

2.4 Carreira docente: o ensino de qualidade depende de melhorias na qualificação dos


professores e da gestão competente de suas carreiras

- Atualmente, a profissão do magistério é muito pouco atrativa no Brasil para jovens em início de
carreira. Os salários ainda baixos, a progressão profissional limitada e o pouco prestígio social afastam os
melhores alunos da docência. Grande parte dos estudantes que decidem seguir esta carreira partem de uma
educação básica muito ruim: os dados do ENEM mostram que 30% dos que ingressam nos cursos de
pedagogia e licenciatura estão entre os piores alunos do ensino médio.

- A escolaridade dos professores brasileiros aumentou recentemente, mas nem todos completaram o
ensino superior ou têm formação na disciplina que ministram. Entre 1997 e 2007, o percentual de
professores de 1ª a 4ª série com formação universitária passou de 19% para 61% (Gráfico 13). Apesar desse
avanço, quase um terço dos professores de ensino fundamental tem apenas o ensino médio completo, a
maioria deles concentrados nas regiões mais pobres do país. No Norte e Nordeste quase a metade dos
professores da educação básica ainda não chegou ao ensino superior. Mesmo quando graduados, muitos
professores não têm formação específica na disciplina que efetivamente lecionam. No ensino médio, menos
de 40% dos professores de física, química, artes e inglês são formados na disciplina que ministram (Gráfico
14).

Gráfico 13 – Distribuição dos professores de 1ª a 4ª séries, por nível de escolaridade (1991- 2007)

Fonte: INEP/MEC.

Gráfico 14 - Proporção de professores do ensino médio, segundo a disciplina que lecionam e a área de formação na
graduação (2007)

Nota: “Mesmo curso”


indica que o professor
se formou na mesma
disciplina que leciona;
“áreas afins” indica que
o docente se formou
em áreas
próximas/equivalentes
à disciplina que
ministra.

Fonte: Estudo
exploratório sobre o
professor brasileiro,
2007 – INEP/MEC.

- O diploma de curso superior não implica necessariamente em um profissional adequadamente


preparado para enfrentar os desafios de uma escola. Um levantamento recente da Fundação Carlos
Chagas (2008) mostra que, no Brasil, os cursos de formação docente, em sua grande maioria, são
desvinculados da prática: apenas 28% das disciplinas do currículo de Pedagogia – curso que forma os
professores de 1ª a 4ª séries – tratam sobre o “quê” e o “como” ensinar. Por outro lado, 40% das disciplinas
tratam de fundamentos teóricos da educação, como, por exemplo, sociologia e filosofia da educação.

- A remuneração melhorou, mas ainda não é competitiva para atrair os melhores. O salário médio dos
docentes da rede pública foi o que mais cresceu no período de 1995 a 2006, comparado ao de outras
ocupações do setor público e privado (Gráfico 15). Apesar disso, ele ainda é mais baixo que a remuneração
média das demais profissões que requerem ensino superior. No contexto internacional, os professores de
educação básica brasileiros estão em desvantagem em relação aos países da América Latina com renda per
capita próxima à brasileira (Gráfico 16).

Gráfico 15 - Aumento percentual acumulado das médias salariais para profissionais com formação em nível superior
(1995 a 2006)

Fonte: Moriconi
(2008), a partir de
dados da
PNAD/IBGE.

Gráfico 16: Remuneração mensal média de professores, em dólares com paridade de poder de compra – América Latina
(2005)

Nota: *somente
zonas urbanas

Fonte:
Morduchowicz
e Duro (2007).
- Os planos de carreira devem ter como foco a melhoria do aprendizado dos alunos e um maior
equilíbrio entre direitos e deveres dos profissionais da educação. No Brasil, a legislação que
regulamenta a gestão da carreira dos profissionais do magistério público prevê, entre outras coisas, a
entrada na profissão exclusivamente por concurso, a promoção baseada na titulação e tempo de serviço e a
estabilidade na função. Tais práticas dificultam a valorização dos melhores professores, além de criar
obstáculos para o afastamento daqueles cujo perfil profissional não condiz com as atividades de ensino. Para
assegurar o direito de aprender dos alunos, portanto, é preciso implementar mudanças na carreira docente.
Atualmente, propostas de reforma nesse sentido incluem: políticas de pagamento de bônus aos docentes de
acordo com seus resultados e estabelecimento de planos de carreira que mantenham os bons professores em
sala de aula com perspectivas de ascensão salarial e novas atribuições profissionais.

2.5 Investimento em educação: os gastos públicos no setor mostram que o ensino básico ainda
não é prioridade

- O gasto público com educação aumentou recentemente. Desde que União, estados e municípios foram
obrigados por lei a investir percentuais fixos de sua receita de impostos na educação, os gastos no setor
cresceram. Além da vinculação orçamentária, foi criado um sistema de equalização, que garante um patamar
nacional mínimo de gasto por aluno para cada uma das etapas do ensino básico. Assim, proporcionalmente à
sua produção de riqueza (Produto Interno Bruto – PIB) o Brasil passou a gastar com educação básica, uma
porcentagem não muito diferente da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). (Gráfico 17)

Gráfico 17. Evolução do gasto com educação básica como percentual do PIB – países selecionados (1995-2006)

Nota: os países
estão ordenados
pelo percentual de
investimento de
2006.

Fonte: Education at
a Glance 2009 /
OCDE.
- Os gastos com ensino superior ainda são desproporcionais aos gastos com educação básica. Do total
de gastos com educação, 85% vão para a educação básica e 15% para educação superior. Em termos de gasto
por aluno, entretanto, há uma enorme desproporção (Gráfico 18). Em 2007, o valor investido por aluno no
ensino superior (R$12.322) foi seis vezes maior do que o investido na educação básica (R$2.005).

Gráfico 18. Gasto anual por aluno e por nível de ensino em Educação em relação ao PIB percapita – países selecionados
(2005)

Notas: Para Itália, os dados


são de 2004; para a
Espanha, as duas etapas de
ensino fundamental foram
somadas; e para o Brasil e
Chile, os dados são de 2006.

Fonte: Education at a
Glance 2008/OCDE.

- O mínimo garantido para a educação ainda não reflete uma efetiva priorização da educação básica
para todos. Apesar do aumento nos gastos educacionais, tanto em valores reais como em proporção à
riqueza do país, o gasto por aluno, principalmente na educação básica, ainda é baixo se comparado aos
países desenvolvidos e mesmo aos da região, como o México e o Chile (Gráfico 19).

Gráfico 19. Gasto anual por estudante, segundo o nível de ensino – países selecionados (2005)

Nota: Os países estão


ordenados pelo
investimento por aluno no
ensino fundamental
* apenas investimentos
públicos para todos os
níveis de ensino

Fonte: Education at a
Glance, 2008/OCDE.
- O Brasil tem condições de investir mais e melhor em educação. A carga tributária do Brasil está bem
próxima à de outros países usados como comparação neste documento (a média nos países da OCDE é de
36% e no Brasil, de 35%). Uma comparação entre México e Brasil é interessante: com uma carga tributária
menor que a brasileira (20% contra 35%), com um PIB menor (US$1,1 contra US$1,6 trilhão) e um
percentual de pessoas em idade escolar maior (31%) que o Brasil (27%), o México gasta mais por aluno na
educação básica que Brasil. Não é surpresa, portanto, que a pontuação em leitura dos alunos mexicanos no
PISA 2006 tenha sido de 410 pontos, contra 393 dos brasileiros, para uma média dos países da OCDE de 492.
(Gráfico 20). Além disso, contrariando a legislação vigente, o Brasil ainda não definiu quais são os recursos
necessários para o estabelecimento de um “padrão mínimo de qualidade”. Sem esse parâmetro, o
investimento nem sempre é direcionado para os insumos e processos que, de fato, são capazes de promover
um impacto positivo no desempenho dos estudantes.

Gráfico 20: Percentual de carga tributária sobre o PIB e percentual da população em idade escolar – países selecionados
(2007)

Fonte: Secretaria da
Receita Federal/MF -
Education at a Glance
2009/OECD

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