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Este documento resume um capítulo de um livro que discute a dicotomia entre "brega e chique". A autora explica como estas classificações são fluidas e determinadas pelos interesses do capitalismo e manutenção das classes sociais. Ela também analisa a música "Atrévete-te" da banda porto-riquenha Calle 13, que mistura elementos bregas e chiques atraindo audiências de classes diferentes.
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Resenha Comentada Do Brega Ao Emergente. Nirlyn Seijas (1)
Este documento resume um capítulo de um livro que discute a dicotomia entre "brega e chique". A autora explica como estas classificações são fluidas e determinadas pelos interesses do capitalismo e manutenção das classes sociais. Ela também analisa a música "Atrévete-te" da banda porto-riquenha Calle 13, que mistura elementos bregas e chiques atraindo audiências de classes diferentes.
Este documento resume um capítulo de um livro que discute a dicotomia entre "brega e chique". A autora explica como estas classificações são fluidas e determinadas pelos interesses do capitalismo e manutenção das classes sociais. Ela também analisa a música "Atrévete-te" da banda porto-riquenha Calle 13, que mistura elementos bregas e chiques atraindo audiências de classes diferentes.
Resenha comentada do captulo 2 Gosto se discute do livro Do brega ao emergenteda Carmen Lucia.
Neste captulo a autora nos adentra na dicotoma entre brega e chique. Nos mostra como estas denominaes so mveis, so adaptveis e sua localizao dentro do senso esttico dos consumidores est determinada pelos interesses da elite, do capitalismo, da manuteno do poder e estratificao de classes. O texto est construdo focando na questo do consumo, apenas como estratgia econmica do capitalismo e focando na questo do gosto, como forma caracterstica da construo da identidade das classes sociais. Estes dois fatores determinam quando o brega transita pelo universo do chique e viceversa, e inclusive quando estas duas denominaes estticas esto conectadas e compartilhando o mesmo objeto, quer dizer, quando as coisas sero bregas e chiques ao mesmo tempo. Carmen Lucia explica que este trnsito pode representar a vontade de eliminao da oposio entre estes termos e a possibilidade de maior trnsito onde os produtos a serem consumidos so apenas produtos, dando uma maior heterogeneidad para as referncias e gostos das pessoas que consomem. Este pretesa abertura da mercadoria, faz nos lembrar aquele ditado usado na ditadura de direita do Pinochet no Chile, onde os representantes de seu governo acostumavam dizer estamos fazendo de Chile um lugar onde qualquer pessoa pode ser rica, mas no todos Diferentes exemplos podem nos aproximar a este tipo brega e chique. Existem vrios artistas que esto trabalhando nessa beira. Traremos particularmente um grupo de msica pop latina Calle 13 que no seu primeiro disco j se coloca no mercado como um grupo com extremo prazer pela msica popular regueton, rap, folklore, mas tambm com uma reconfigurao que chama ateno dos especialistas musicais que se fascinam pelo desenvolvimento, os arranjos, as letras e a encenao deste grupo em todas suas produes. Estes cantores so pessoas de classe mdia, da ilha de Puerto Rico, beirados pelas lgicas de consumo e colonialismo norteamericanos e beirados pelas lgicas estticas do popular nesta regio. O trabalho deles ao mesmo tempo inspirado e produzido com lgica do brega, mas tecido e projetado com lgicas do chique, ao mesmo tempo criticando e ridiculizando alguns aspectos em cada um deles. Poderia se dizer que um aposta poltica com voz de ironia e apropriao/reconhecimento das fontes. Falam bastante spanglish, gozam de cidadania americana e tambm da crise econmica constante no pas. O primeiro disco lanado teve esta msica como promocional, aqui incluimos o link do vdeo clip e a letra em espanhol e traduo ao portugus: https://www.youtube.com/watch?v=gcOknZbStOY Espanhol Portugus Atrvete Te, Te! Atrvete, te, te, te Salte del closet, te Escpate, qutate el esmalte Deja de taparte que nadie va a retratarte Levntate, ponte hyper Prndete, scale chispas al estrter Prndete en fuego como un lighter Sacdete el sudor como si fueras un wiper Que tu eres callejera, "Street Fighter"
Cambia esa cara de seria Esa cara de intelectual, de enciclopedia Que te voy a inyectar con la bacteria Pa' que des vuelta como machina de feria Seorita intelectual, ya se que tienes El rea abdominal que va a explotar Como fiesta patronal, que va a explotar Como palestino... Yo se que a ti te gusta el pop-rock latino Pero es que el reggaeton se te mete por los intestinos Por debajo de la falda como un submarino Y te saca lo de indio taino Ya tu sabes, en tapa-rabo, mama En el nombre de Ageybana No hay mas na', para na' que yo te vo'a mentir Yo se que yo tambin quiero consumir de tu perejil Y t viniste amaznica como Brasil T viniste a matarla como "Kill Bill" T viniste a beber cerveza de barril T sabes que t conmigo tienes refill
Atrvete, te, te, te Salte del closet, te Escpate, qutate el esmalte Deja de taparte que nadie va a retratarte Levntate, ponte hyper Prndete, scale chispas al estrter Prndete en fuego como un lighter Sacdete el sudor como si fueras un wiper Que tu eres callejera, "Street Fighter"
Atreva-se, Se! Atreva-se, se, se, se Saia do armrio Fuja, tire o esmalte Deixe de tapar-se que ningum vai retratar-lhe Levante-se, ponha-se hyper Prenda-se, tire faiscas do acelerador Prenda-se em fogo como um isqueiro Sacuda o suor como se fosse uma flanela Que voc rua, "Street Fighter"
Mude essa cara de sria Essa cara de intelectual, de enciclopdia Que vou te infectar com a bactria Para que d voltas como carrossel Senhorita intelectual, j sei que tem A rea abdominal que vai explodir Como festa patronal, que vai explodir Como palestino... Eu sei que voc gosta de pop-rock latino Mas que o reggaeton se enfia pelos intestinos Por baixo da saia como um submarino E lhe tira de indio taino Voc j sabe, em tapa-rabo, mama Em nome de Ageybana No h mais nada, para nada que eu vou mentir Eu sei que eu tambm quero consumir de sua salsa E voc veio amaznica como Brasil Voc veio mat-la como "Kill Bill" Voc veio beber cerveja de barril Voc sabe que comigo voc tem refil
Atreva-se, se, se, se Saia do armrio Fuja, tire o esmalte Deixe de tapar-se que ningum vai retratar-lhe Levante-se, ponha-se hyper Prenda-se, tire faiscas do acelerador Prenda-se em fogo como um isqueiro Sacuda o suor como se fosse uma flanela Que voc prostituta, "Street Fighter"
Hello, deixe o show Hello, deja el show Sbete la mini-falda Hasta la espalda Sbetela, deja el show, ms alta Que ahora vamo'a bailar por to'a la jarda Mira, nena, quieres un sipi? No importa si eres rapera o eres hippie Si eres de Bayamn o de Guaynabo City Conmigo no te pongas picky Esto es hasta abajo, cogele el tricky Esto es fcil, estoy es un mamey Que importa si te gusta Green Day? Que importa si te gusta Coldplay? Esto es directo, sin parar, one-way Yo te lo juro de que por ley Aqu to'a las boricuas saben karate Ellas cocinan con salsa de tomate Mojan el arroz con un poco de aguacate Pa' cosechar nalgas de 14 quilates
Atrvete, te, te, te Salte del closet, te Escpate, qutate el esmalte Deja de taparte que nadie va a retratarte Levntate, ponte hyper Prndete, scale chispas al estrter Prndete en fuego como un lighter Sacdete el sudor como si fueras un wiper Que tu eres callejera, "Street Fighter"
Atrvete, te, te, te Salte del closet, te Escpate, qutate el esmalte Deja de taparte que nadie va a retratarte Levntate, ponte hyper Prndete, scale chispas al estrter Prndete en fuego como un lighter Sacdete el sudor como si fueras un wiper Que tu eres callejera, "Street Fighter"
Suba a minissaia At a coluna Suba, deixe o show, mais alta Que agora vamos danar por toda a pista Olhe, boneca, quer um sipi? No importa se rapeira ou hippie Se de Bayamn ou de Guaynabo City Comigo no seja exigente Isto at embaixo, pegue o tricky Isto fcil, isto um mamey Que importa se gosta de Green Day? Que importa se gosta de Coldplay? Isto direito, sem parar, mo nica Eu lhe juro de que por lei Aqui todas as portorriquenhas sabem karat Elas cozinham com katchup Molham o arroz com um pouco de abacate Para conseguir ndegas de 14 quilates
Atreva-se, se, se, se Saia do armrio Fuja, tire o esmalte Deixe de tapar-se que ningum vai retratar-lhe Levante-se, ponha-se hyper Prenda-se, tire faiscas do acelerador Prenda-se em fogo como um isqueiro Sacuda o suor como se fosse uma flanela Que voc prostituta, "Street Fighter"
Atreva-se, se, se, se Saia do armrio Fuja, tire o esmalte Deixe de tapar-se que ningum vai retratar-lhe Levante-se, ponha-se hyper Prenda-se, tire faiscas do acelerador Prenda-se em fogo como um isqueiro Sacuda o suor como se fosse uma flanela Que voc prostituta, "Street Fighter"
Nesta msica reconhecemos instrumentos identificados de elite (Saxo, Congos que j foram tanto do movimento pop quanto do cult), a rtmica fusionada entre msica pop, jazz e regueton, o vdeo encenando uma obvia crtica ao modo de vida no sonho americano e revalorizando gostos e valores da vida no territrio latino, etc. A autora assinala que esta conjuno num mesmo objeto do brega e do chique, modifica o sentido permitindo a ampliao do consumo por parte de classes diferenciadas e beneficiando lgica capitalista de consumo por todos. Este terceiro objeto funciona pela abolio daquilo que seria prprio do gosto das categorias sociais e se apresenta como um objeto possvel de ser consumido por todos, ou pelo menos oferecidos para todos. Se ancorando na ideia da democratizao se elimina a ideia de identidade das clases. Desta forma, Calle 13 pertence tanto ao universo do chique como do brega, sendo valorizado pelas classes por elementos diferentes mas coincidindo no consumo deste produto: a classe alta aprecia a composio e lrica da fuso musical, a construo de poesa atravs da linguagem das culturas populares e revisitao esttica do humor, crtica social e protesta ideolgica, em quanto a classe baixa aprecia a musicalidade, o ritmo, o parecido a outros ritmos (regueton) que so prprios de seu territrio, tambm o protesto nas letras e a reinvindicao do gosto brega na frente no universo elite. claro que estas so hipteses levantadas intuitivamente pois no temos estudos que demostrem exatamente ou que umas e outras classes sociais percebem especficamente nos produtos que consomem. Sabemos que os estdios de marketing podem esconder vrias verdades sobretudo por reduzirem a construo do gosto. O captulo introduz a ideia especfica do que acontece quando o consumo de bens artsticos/culturais. Explica que este tipo de mercadoria especialmente vendida j determinando e focalizando o perfil do pblico que consome, partindo da premisa que s poder consumir aquele que conhea e domine os cdigos e sentidos dos signos que este tipo de produo apresenta. Se parte do presuposto que apenas alguns compreendem o contedo simblico de determinados produtos e por isto, o endereamento acontece logo no incio da distribuio, atingido de maneira direta o acesso de outras parcelas da populao a determinados contedos e conhecimentos. A autora cita o Grillo Dorfles quem testemunha que em pocas anterioes este fenmeno no acontecia da mesma forma pois o valor das obras era estabelecido em funo do objetivo da sua produo (motivo artstico) e no pela inventividade de sua forma de dizer (sua materialidade). Hoje a proposio da materialidade no o valor da obra, mas a forma desta inveno e isso precisa de um interlocutor capaz de conhecer o vocabulrio atravs do qual essa linguagem est transmitindo certo conhecimento. O problema que para transitar por este jogo de conhecimentos dos vocabularios se requer um tempo que a industria no espera, e por isto reproduz linguagens, cdigos e formas que possam ser amplamente consumidas sem precisar passar pela estruturao de um pensamento expert sobre cada uma destas obras, deixando ento aquelas manifestaes mais especializadas aos pblicos que tambm so especializados e conseguem acessar estas informaes, consum-las e resignific-las. Por tanto, a produo de obras com linguagens e materialidades especializadas, novas, no convencionais, contemporneas s fica circulando dentro do universo da elite cultural que no final das contas, pelo poder e acesso histrico que possui, supostamente compreende e aproveita este conhecimento produzido, o que deriva na manuteno do seu status. Poder-se-ia adicionar a ideia que, no final das contas, tambm acabam sendo os resignificadores, dinamizadores e assinaladores da chamadas artes contemporaneas e suas possibilidades. Isto constitui um circulo vicioso. Eles no consumem porque no entendem e no entendem porque no consumem. Meu amigo Robson Mol, faz alguns dias disse, as polticas pblicas baseada em editais promove uma falsa democracia que apenas promove e mantem a desigualdade social. Infelizmente, nesta tica, resta s classes no privilegiadas o consumo dos contedos superfluos, convencionais, tradicionais, que confirmam a ordem estabelecida, dificultando a possibilidade de resignificao e da sada do estado de entretenimento e lazer, que justo aquele atravs do qual mais dificil se aproximar a mudanas de estados de tempo, de lgicas e de estruturas. Apresentamos aqui dois exemplos radicalmente opostos deste tipo de produo: por um lado um fragmento da obra Piranha do artista mineiro Wagner Schwartz, na qual a composio material oferece questionamentos sobre possiveis forma de entender msica, dana, percepo, estado cnico, em vrios nveis (esttico, polticos, referenciais prpria linguagem, emotivos, simblicos) e por outro lado um fragmento da obra Lecuona do Grupo Corpo, onde encontramos uma repetio das lgicas hegemnicas sobre gnero, virtuosimo, leveza, romantismo, temticas possveis na dana, etc. Wagner Schwartz http://www.youtube.com/watch?v=gCyyYLxVmWY Grupo Corpo http://www.youtube.com/watch?v=R86vh-mWPdM Paradoxalmente, o primeiro se instala como inintelegvel e o segundo como palatvel, sendo que os cdigos para a leitura do segundo foram criados desde o renascimento e reforam uma ideologia extremente alinhada com os interesses do poder armonia, orden, leveza, e o segundo parte de uma pesquisa de movimento prxima a evocaes de sensaes e sentimento humanos contemporneos: angustia, apertamento, instabilidade, aflio, etc. A questo deste conhecimento dos cdigos que se apresentam como uma ferramenta para dominao, de prestgio, de poder, na qual todos os envolvidos ficam com a necessidade de posuir este certo conhecimento, sem importar quais so os criterios que determinam a escolha destes conhecimentos, a que ideologia respondem, etc pois o importante possuir o bom gosto, mesmo se no o sabendo profundamente do que estamos falando. Falando de criterios, a autora traz uma questo poltica importante e que conecta com o cometrio de Robson. A democracia ofecere os objetos de consumo para todos, porm no disponibiliza os critrios nem conhecimiento nem referncias pelos quais discernir sobre a coerncia de certos consumos. Desta forma, os critrios que determinam o que como chic ou brega so velados, deixando por fora as populaes com menos acesso a estes cdigos estticos e referenciais. Este fenmeno de falsa distribuio dentro da nossa democracia convm ao capitalismo, pois neutraliza nas elites a distribuio da produo simblica e artstica que est contida nestas mercadorias, aprofundando a falta de acesso a certas produes que estimulam a rebeldia, a conduta poltica e o re-posicionamento social, e portanto, a possibilidade de mudanas sociais e simblicas, sobretudo no que se refer a confudir/bagunar as classes sociais e suas potencias produtivas. Desta forma, a elite determina o que chic, no revela as razes por que o determina, e obriga a aceitar que chic sinnimo de status, de bom, de poderoso. Seguindo esta lgica, as classes mais baixas faro o possvel para obter coisas parecidas s que a elite possui, far de conta que sabe, repensar as formas, representar aquele chic num novo produto que ser, talvez, classificado de brega, ocupar espaos de visibilidade e criar formas que criar chic dentro do brega. Esta atitude que paradozalmente ingeniua e revolucionria. Aqui trazemos o exemplo de um cantora peruana, herdera da cultura das Cholas que so populaes mestias andinas que tem uma cultura acumulativa pois no eliminam a histria nem suas manifestaes, apenas agregam novos elementos. Usam vestido com estilo de 1800 da colonia (saia ampla, tranas nos cabelos, chapeuzinho mnimo colocado de lado, mantilha) e ao mesmo tempo dirigem negcios milhonrios, usam iphone, dirigem carros ltimos modelos, etc. Esta cantora, virou famosa, com menos de 10 anos, por uma msica com ritmo popular andino (morenada) que tem uma letra de duplo sentido, hoje milhonria e tem renome nacional e internacional no mundo brega, popular, de mau gosto. Vejam aqui um vdeo http://www.youtube.com/watch?v=944-mmnj4qA E outro exemplo de um msico paraense Felipe Cordeiro, quem ganha espao no universo cult com sua forte aproximao s cultura populares desta regio. No trabalho dele se discute justamente estas questes sobre cult, pop, brega e sobre como estas passagens podem ser desenhadas com uma fluidez transgresora. https://www.youtube.com/watch?v=g6_JQQs1FJE Neste trnsito a discusso sobre o que pertence elite, no mais uma discusso por quem possui apenas dinheiro. Hoje estamos vivendo um momento de questionamento profundo dos poderes, das classes e dos seus gostos, consumos, mobilizaes. O brega est se empoderando e deslocando o lugar do poder, est ocupando a mdia, est entrando na academia e est produzindo um estado de desconfiana no qual ainda no sabemos se mais uma estratgia do regime consumista que quer apenas reproduzir produtos para serem consumidos por cada vez mais pessoas, se verdadeiramente ingenuidade o que est por trs destes bregas que ocupam nossa produo simblica ou se uma profunda uma mudana dos valores, dos criterios e ao reposicionamento tanto das outras classes com respeito ao gosto, ao poder e ao conhecimento, quanto da elite com respeito ao seu novo lugar no mundo contemporneo.