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ARTIGO

ACIDENTES TERMORREGULAT~RIOSASSOCIADOS AO
CARLOR E A ATIVIDADE FISICA

João Carlos Bouzas Marins *

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar os principais
problemas termorregulatórios associados ao calor, auxiliando o profissional
de Educação Física a identificar de forma precoce os sinais característicos
dos distúrbios do stress oriundos das inter-relações calor e umidade
ambienta1 com o exercício físico, bem como os riscos associados a uma
situação de não-atendimento. São abordadas ainda as ações necessárias para
se proceder em casos de emergência, mostrando-se um guia profilático para
evitar o aparecimento de tais distúrbios e, assim, conseguir com que o
praticante possa conciliar suas atividades físicas mesmo em um ambiente
de desconforto térmico ligado ao calor, da forma mais segura possível.
Palavras-chave: atividade física, acidentes termorregulatórios, calor.

A prática de atividades físicas em nosso país é um fenômeno social


inquestionável. Milhões de pessoas realizam exercícios físicos nos mais
diversos locais, como em academias, clubes, parques recreativos e na beira
da praia, de forma orientada ou não, objetivando rendimento, ou
aprimoramento da condição física, ou estética, ou simplesmente como mais
uma forma de lazer. Contudo, essa população de praticantes é exposta,
durante boa parte do ano, a uma condição térmica desfavorável,
característica do Brasil, que são temperatura e umidade elevadas. Esses
fatores, quando associados ao exercício físico e a outras condições
facilitadoras, podem, quando combinados, promover distúrbios
termorregulatórios associados ao calor, que poderão alterar o aspecto de
saúde que o exercício deve promover.
Os acidentes termorregulatórios ocorrem com razoável freqüência,
independentemente do fato de o praticante ser atleta ou não. Evidentemente,
os problemas termorregulatórios ligados ao calor, em atletas, têm
divulgação maior por parte dos veículos de comunicação; assim, diversos
casos de atletas que tiveram que abandonar as provas, ou terminaram em
condições de limites físicos, foram amplamente informados pela mídia
esportiva.

* Professor do Departamento de Educação Física - Universidade Federal de Viçosa.


R. rnin. Educ. Fís., Viçosa, 6(1): 5-17, 1998 5
É responsabilidade dos profissionais que atuam no meio esportivo
aprender a identificar e providenciar um atendimento de emergência quando
do aparecimento de um problema termorregulativo associado ao calor,
assim como estabelecer medidas preventivas que visem minimizar ao
máximo o stress provocado pelo calor ambiental, de forma a permitir ao
praticante de atividade física desenvolver seu exercício na maior segurança
possível.
O objetivo deste artigo é propiciar conhecimentos básicos ao
profissional de Educação Física sobre a forma de identificar, socorrer e
prevenir problemas termorregulatórios associados ao calor.

Perigo de uma inadequada regulação térmica


Durante o exercício físico, boa parte da energia química degradada
nos processos bioenergéticos é convertida em calor, e o restante, em energia
mecânica. O calor metabólico gerado deverá ser dissipado para o meio
externo, para que não ocorra elevação da temperatura corporal em níveis
perigosos. O organismo responde através de adaptações circulatórias,
aumentando o fluxo sanguíneo cutâneo, na tentativa de reduzir a
temperatura do sangue, além de aumentar a secreção de suor, para que,
através da evaporação, também ocorra redução da temperatura corporal.
Atletas que competem em esportes de endurance estão mais sujeitos
a uma falha da regulação térmica, podendo induzir problemas
termorregulatórios, associada ao exercício.
Alguns indivíduos não toleram bem o calor e experimentam um
mal-estar, caracterizado por fadiga extrema, transtornos mentais e redução
no rendimento. Esses sintomas poderão ser ainda agravados se estes
indivíduos se exercitarem em condições de calor e não tomarem cuidados
especiais.
Existem alguns sintomas do stress provocado pelo calor, como: (1)
câimbras, (2) síncope, (3) exaustão pela depletação de água (desidratação),
(4) exaustão pela depletação de sal e (5) intermação. No Quadro 1 são
apresentadas as principais características dos distúrbios termorregulatórios
associados ao calor.

Quadro 1 - Principais características dos distúrbios termorregulatórios


associados ao calor
Distúrbio I Caracteristica 1 Fonte
Espasmos ( Espasmos ou contrações da musculatura em I A.C.S.M.
ou abdominal, sendo (1994)
observados em indivíduos
ao trabalho no calor. Não é
necessário que a temperatura corporal esteja
elevada, podendo ser causada por deficiência
I salinica. I
continua

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Síncope Fraqueza generalizada, FC rápida e fraca, McARDLE et
quadro de hipotensão arterial, palidez, perda a]. (1992)
momentânea de consciência, elevação da
temperatura central e cutânea, porém não em
níveis perigosos, distúrbios visuais e fadiga
física. Este fenômeno é normalmente
encontrado em indivíduos não aclimatados.
Desidratação Redução da capacidade de produzir suor, McARDLE e1
hi pertônica perda elevada de peso corporal (perda de al. (1992)
líquidos corporais), sede, elevação da
temperatura cutânea e central, redução da
coordenação, escurecimento da urina e
fraqueza física. Esta condição poderá surgir
independentemente, estando o indivíduo
aclimatado ou não.
Exaustão por Dor de cabeça, fadiga, náuseas, vertigens e FOX et al.
depletração câimbras musculares, normalmente (199 1)
de sal associados a condição de vômito ou diarréia.
Intermação - Falha do sistema de refrigeração corporal Shepard, citado
Hipertermia pela sudorese, com conseqüente elevação da por DIRIX
emergencial temperatura corporal e central em níveis ( 1 988), e Cobb
perigosos para a vida, apresentando os e Huderson,
seguintes sinais: taquicardia, debilidade citados por
muscular, cefaléia, incoordenação de MELLION
movimentos, vômito, diarréias, alucinações, (1997)
irracionalidade, alterações transitórias no
E.C.G.., convulsões, coma e morte.

As câimbras induzidas pelo calor ocorrem e m pessoas normalmente


não aclimatadas, devido a uina perda elevada d e sais, resultante de uma
transpiração abundante. Elas são caracterizadas por espasmos inusculares ou
contrações musculares constantes, sem, contudo, haver a necessidade dc
uina elevação da temperatura corporal. Como o surgimento da câiinbr,
apresenta uma íntima relação com a privação de líquido (LAMB, 1987), su:
prevenção inclui constante hidratação antes, durante e ap6s a prática d,
atividade física.
GEISTEIN (1 990), acoinpanliando o coinportainento dos corredore
na maratona d e Toronto, Canadá (1988), verificou vários casos d e síncop~
induzida pelo calor, tendo estes corredores apresentado as sepuinte
características: tonteira, ataxia, dor de cabeça, náuseas. vômitos, calafrio
câimbras, sinais d e desidratação, redução das f~inçõescerebrais, tempcratur
reta1 acima d e 41 O C e hipotensão arterial.
Para ASTRAND e RODAHL (1987), a síncope do calor surgt
devido a uma distribuição desfavorável d o sangue, ou seja, na tentativa d o
corpo de eliminar a inaior quantidade d e calor possível, ocorre um
deslocamento em nível periférico (vasodilatação) d e grande quantidade de
sangue, resultando assim em uma redução d a P.A. e uma diminuição d o

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suprimento de 0 2 em nível de cérebro, o que induz os transtornos mentais,
podendo chegar a inconsciência. Este mecanismo poderá ser ainda mais
agravado caso o indivíduo esteja desidratado.
Um dos comprometimentos mais frequentes associados ao stress
térmico do calor é o aparecimento de uma quadro de desidratação. Na
tentativa de reduzir a temperatura central elevada, o organismo produz suor,
para que este possa evaporar (I litro de suor evaporado dissipa 580 Kcal),
refrigerando o sangue que percorre as áreas mais externas, proporcionando
por sua vez a redução da temperatura central, e evitando que esta atinja
valores elevados, entre 41 e 42°C (VILLEGAS et a]., 1995).
O

As atividades físicas com grande período de duração podem


produzir facilmente um quadro de desidratação 110 praticante,
principalmente se outras variáveis estiverem associadas, como ausência de
hidratação durante o exercício, vestimenta inadequada, falta de aclimatação,
exercício de alta intensidade e, principalmente, o binômio temperatura e
umidade elevada (Villegas, citado por BECERRO e GOMES, 1996).
O exercício físico produz uma condição de desidratação hipertônica,
isto é, decorrente do fato de o suor apresentar menor coiicentração de
solutos do que o sangue; assim, o suor é uma solução mais diluída, impondo
progressivo aumento da concentração do sangue conforme aumenta o estado
de desidratação, tornando-o mais viscoso (MARINS, 1993).
Uma importante resposta orgânica de uma condição de desidratação
é a sede; porém, quando surge este estímulo, considera-se uma desidratação
já presente em torno de 2 % do peso corporal, o que já proporciona
potencial redução de performance (GREENLEAF, 1992). Este mesmo autor
apresenta, no Quadro 2, uma relação entre % de perda de peso corporal e
resposta orgânica.

Quadro 2 - Relação entre % de redução de peso corporal e resposta orgânica

% de redução de Resposta orgânica


peso corporal
1 Limiar da sede, limiar para os
I decréscimo da capacidade física.
2 )Sede intensa, pouco apetite, vago desconforto e
I sentimento de opressão.
3 I Aumento da hemoconcentração,
redução da produção
urinária, boca seca.
4 Redução de 20 - 30% da capacidade física
5 Dificuldade de concentração, dor de cabeça, impaciência
e sonolência.
6 Severo decréscimo na regulação da temperatura em
exercício, aumento da taxa respiratiria, formigamento e
insensibilidade nas extremidades.
7 ] Surgimento do colapso, se combinar ao calor e exercício. 1
Fonte: GREENLEAF (1 992).

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Objetivando evitar o apareciinento de um quadro de desidratação, é
consenso no meio científico de que é necessária uma liidratação durante
todo o decorrer da prova. Uma recoinendação genérica estabelece um
oferecimento de 200 a 250 ml, a baixa temperatura (8"-13"C), ein intervalos
de 15 minutos (MARINS, 1996). Entretanto, existe um coiijunto de
variáveis intervenientes que iiiodificain a elaboração de um melhor
planejamento da forma de se liidratar. Sobre o assunto, MARINS (1995)
apresenta uin artigo sobre procedimeiitos para a elaboração de uma
estratégia correta de liidratação, ein que é possível obter informações inais
detalhadas sobre o tema.
O quarto distúrbio terinorregulativo associado ao calor é a exaustão
por depletação de sal (hiponatremia), provocada por uma redução dos
valores de norinalidade da Na no plasina de 140 mmol 11 (COSTILL e
MILLER, 1980).
A freqüência de uin quadro de liiponatremia é inenor quando
comparada as câiinbras e a desidratação (MOREIRA, 1996); contudo, se o
exercício físico for realizado por um longo período de teinpo, como provas
de inaratona e triatloii. é possível seu aparecimento. Esta relação (tempo de
exercício x hiponatremia) foi estudada por Hiller, citado por VILLEGAS
(1995), o qual afirma que, ein exercícios coin menos de 4 horas de duração,
são raros os casos; poréin, ein situações de 8 horas ou inais, a liiponatremia
se encontrará instalada na maioria dos casos.
A Iiiponatreinia poderá tainbéin estar presente ein competições com
vários dias seguidos, coino provas de ciclismo da Volta da Espanlia e França
QU na Ainerican Race Cup. Neste caso, o stress crôiiico de perda de suor por
uin período loiigo de coinpetição em vários dias, somado as condições
ainbieiitais desfavoráveis coino calor e umidade, podendo ainda existir
baixa ingestão de Na durante a dieta, implica de forma decisiva o
apareciinento desta coinplicação.
VILLEGAS (1995) apresenta estudos de Gisolfi et al. e Armstrong
et al., que apontam os seguintes fatores causadores de um quadro de
liiponatremia:
(I) Ingestão de grandes quantidudes de líquidos hipotônicos durante e após
finalizada a conlpetição, o que origina, por sua vez, a diluição do sódio
plusmático e, ainda, a saída do Na para o espaço extracelular da luz
intestinal, onde existem grandes quantidades de líquido acumuladas por
incapacidade de absorção de líquidos no ~ntestinodelgado.
(2) Aumento excessivo do volume de produção de sudorese e du
concentração do Na no mesmo.
(3) Incremento desproporcional da secreção da arginincl vasopresina, o que
proporciona grande retenção de água.
(4) Regulação deficiente do volunze e tonicidade dos Iíquidos
extracelulares, provocuda pela,falha de qualquer dos mecunismos descritos.
Sobre a profilaxia de uin quadro de hiponatremia, MARINS (1993)
relata que, na ausência de sudorese, uina pessoa iiornial requer muito pouco
sal; esta cota diária é atendida com uina dieta normal, utilizando sal de
cozinlia. A quantidade diária de Lima pessoa normal corresponde a 200 ing
de sódio (aproxiinadainente 0,5 g de sal), ou ainda inenos. Ein condições de
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intensa sudorese provocada por exercício, KATCH e McARDLE (1996)
afirmam que a perda de Na poderá ser perfeitamente recomposta através de
uma dieta normal ou com ligeiro incremento da cota de ingestão de sal de
cozinha.
Em situações de grande quantidade de produção de sudorese,
GOLDBERGER (1978) recomenda a ingestão de uma solução que possua
uma proporção de 500 ml de água e 0,5 g de sódio, ou seja, uina solução a
0.1% .
A presença de Na nas bebidas carboidratadas tem como objetivo
principal facilitar o mecanismo de co-transporte Na-glicose em nível
intestinal, assim como contribuir para a manutenção de um volume
plasmático ideal (VILLEGAS, 1995).
O consumo de tabletes de sal durante o exercício é um
procedimento totalmente contra-indicado, que poderá aumentar o estado de
desidratação, facilitando o surgimento de um quadro mais grave, como a
intermação (FOX et al., 1991).
A intermação é o principal e mais grave problema termorregulativo
associado ao calor, pois coloca em risco a yida do indivíduo ou, ainda, induz
sérios comprometimentos neurológicos. E caracterizada por uma elevação
da temperatura central a valores próximos a 42°C (Felipe, citado por
BECERRO e GOMES, 1996).
AZEVEDO e TSANACLIS (1996) destacam, em um quadro de
intermação, alterações neurológicas como alucinações, convulsões,
confusão, agitação, delírio, estupor e coma. Outros sinais também são
observados pelos mesmos autores, que incluem alterações gastrointestinais,
como náuseas e vômitos, diarréia, hepatopatia, além de complicações renais.
E consenso entre os pesquisadores de que o aparecimento de iim
quadro de intermação deverá ter urn atendimento médico especializado o
mais rápido possível, além de ações de iiiiediata execução, como
apresentado no Quadro 3.
Apesar de, fisiologicamente, os atletas, de inaneira geral,
apresentarem rnellior resposta adaptativa ao stress oriundo do calor, é
frequente observar indivíduos em condição competitiva ou de treinamento
desenvolvendo algum tipo de distúrbio terinorregulativo associado ao calor.
Este fenômeno é provocado por diversos fatores, sendo eles: (a) horários de
treinamento ou competições inadequados; (b) por serem altamente
motivados, acabam por superar seus limites físicos; (c) tipo de vestiinenta
da modalidade, que impõe dificuldade na dissipação do calor, (d) falta de
conhecimento da necessidade de urna correta estratégia de Iiidratação, (e)
proibição de regras na modalidade que perinitain uina Iiidratação durante a
competição, (f) ingestão de tabletes de sal e (g) desidratação forçada
propositalmente. Estas condições, isoladas ou coinbinadas, fazein coin que
os atletas sejam uin grupo que necessita de ateiição especial, a fiin de
aprimorar a condição de performaiice.
Um boin exernplo de atleta coin problemas terinorregulatórios ern
situação competitiva foi durante a Maratona feiniiiiiia dos Jogos Olíinpicos
de 1984, quando tima das corredoras finalizou a prova ein seu liinite físico:

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a imagem foi transmitida para todo o mundo pela televisão, expondo a
vontade de superação da atleta, apesar da precariedade física.
Problemas de hipertermia com indivíduos não-atletas normalmente
estão relacionados com ações inadequadas por total falta de informação, que
podem, dependendo da situação, com fatores associados ou não, induzir o
praticante a um acidente fatal. A seguir serão apresentadas situações que
ocorrem frequentemente com indivíduos sedentários, as quais podem
induzir um acidente termorregulativo.
A prática de atividades físicas em horários inadequados (horário
central do dia), no momento em que a temperatura encontra-se mais
elevada, impõe elevada exposição a radiação, aumentando ainda mais o
ganho de calor e propiciando incremento da taxa de sudorese, que, como
conseqüência, acelera o aparecimento de um quadro de desidratação.
Uma segunda condição facilitadora de hipertermia em indivíduos
não-atletas é o uso de roupas impermeáveis, casacos ou plásticos por parte
do praticante, com o objetivo de "suar em demasia", visando assim
conseguir um pseudo-emagrecimento. Na verdade, o que ocorre é a
formação de uma barreira entre a pele e o ar, impondo dificuldade no
processo de evaporação e conseqüente dificuldade na perda de calor
corporal, forçando assim uma maior produção de suor, que propiciará o
aparecimento da desidratação de forma mais precoce, sendo ainda
observada uma substaiicial elevação da temperatura central.
A ausência do consumo de soluções líquidas durante a prática de
exercícios físicos é frequentemente praticada em indivíduos não-atletas,
motivados pela crença em "tabus" que afirmam que consumir líquidos
durante o exercício trará problemas gástricos, ou, ainda, associam o
consumo de água com a condição de obesidade. Este tipo de situação
imporá uma contínua perda hídrica que, dependendo da taxa de sudorese e
do tempo total de atividade desempenhada, poderá induzir um quadro de
desidratação.
Uma quarta situação de quadro de hipertermia em indivídos não-
atletas é o elevado teinpo de exposição em sauna, que normalmente é
observado em indivíduos que pretendem "emagracer rapidamente".
Evidentemente esta ação também induzirá uma perda hídrica substancial,
podendo provocar uma elevação da temperatura central.
A coinbiiiação entre as quatro situações apresentadas anteriormente
pode acelerar o aparecimento de uma condição de desidratação e, como
conseqüência, de problemas termorregulatórios associados ao calor. Um
exemplo prático de tal combinação pode ser visto no mês de fevereiro, no
Rio de Janeiro, as 13 horas, na praia de Copacabana, em que diversas
pessoas fazem seu exercício sem consumo regular de líquidos e, ainda,
usando uma vestimenta impermeável.
Ainda no contexto de situações que ocorrem no "dia-a-dia",
eiicontrarnos em finais de semana grupos que se reúnem para promover um
churrasco associado ao futebol (perda hídrica devido a atividade física),
realizado em horário inadequado (horário central), somando-se ao consumo
de álcool (elemento que proporciona desidratação por via urinária),
adicionando-se ainda sessões de sauna. Esta combinação de ações negativas
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no que tange a termorregulação, coadjuvadas com outros fatores, poderá
desencadear comprometimentos cardíacos sérios.
A seguir serão apresentados procedimentos de atuação, caso sejam
identificados problemas termorregulatórios associados ao calor.
1.1. Formas de atuação para problemas termorregulatórios promovidos
pelo calor

Como foi apresentado anteriormente, os problemas


termorregulatórios associados ao calor podem apresentar um quadro
simples, como as câimbras, ou situações mais graves, em que o risco de
comprometimento em nível nervoso ou, ainda, de vida se faz presente, como
no caso da intermação. Um atendimento rápido e preciso por parte do
socorrista poderá em muito minimizar estes efeitos dos problemas
termorregulatórios. No Quadro 3 são apresentados os procedimentos básicos
que um socorrista deverá proceder no caso de um acidente provocado pelo
calor.

.
Ouadro 3 - Procedimentos de atendimento nos casos de distúrbios ter-
morregulatórios no calor
Distúrbio I Característica I Fonte
Espasmos mus- [ Interrupção do exercício, iniciar uma reposição ( LAMB (1987)
culares involun- ( hidrica com água e eletrólitos e alongamento da 1
tários - Câimbra musculatura comprometida.
Síncope Interrupção do exercício, sendo a vitima deslocada SHEPAARD et al.
para um IocaI mais fresco; deitar a vitima citadoporDIRIX
preferencialmente com os pés acima do nível do (1988),
coraçãoo ingerir líquidos preferen-cialmente gelados, A.C.S.M. (1994),
aplicar esponjas com água gelada ou salpicar água e IGCD (1 993)
/
abanar a vitima, além de remoção da roupa pesada. 1
Desidratação I
As mesmas orientações do item anterior, incluindo a ( A.C.S.M. (1994)
hipertônica I
retirada de roupa que dificulte o processo de 1
1 evaporação.
Exaustão I
por As mesmas orientações do item anterior, incluindo a [ FOX et al. (1991)
I
depletação de reposição de sódio; recomenda-se a reidratação com I
sal uma solução que contenha eletrólitos.
Intermação - Interrupção imediata do exercício, retirada da riiaior McAKDLE et al.
i-iipertermia quantidade de roupa possível da vitima, fric+ões (1992) e
emergencial com álcool, imersão corporal em água fria, ou ASTRAND e
compressas geladas nas axilas, virilha c testa, RODAHL (1987)
mantendo-se até que a temperatura corporal atinja
39OC. Providenciar um atendimento médico de
1
einergência.
- Obs.: não olèrecer líquidos sc a 1 itima1
( aprcsentar um quadro de náusea ou vomito.
A.C.S.M. = American College Sport Medici~ie e L.G.C.D.
'
= Institutc
Gatorade de Ciências do ~ e ~ o s e .
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1.2. Ações preventivas para problemas termorregulatórios associados
ao calor
Toda vez que surge um problema termorregulativo associado ao
calor, por mais simples que ele seja, sempre irá prejudicar a qualidade da
atividade física, além de agredir as funções orgânicas. Dessa maneira, é
recomendada uma série de procedimentos que visam evitar o aparecimento
de uma situação indesejável.
Uma abordagem interessante de prevenção ao surgimento do quadro
de choque térmico ocorreu durante a realização da 1988 USA Cup Youth
Soccer Tournament no Estado de Minesota, onde é característica a
temperatura elevada. Com a participação de 4.000 atletas na faixa etária
entre 9 e 19 anos, verificou-se grande incidência de casos de choque térmico
nos dois primeiros dias de competição, alertando os organizadores e
médicos. Para reduzir o quadro que se apresentava nos dias restantes, foram
feitas alterações na mudança de horário e duração dos jogos e no aumento
no intervalo das partidas, permitindo maior número de substituições, além
de uma hidratação mais apurada. Estes procedimentos atuaram de forma
positiva, reduzindo drasticamente o número de atletas que sofreram
problemas termorreguladores (Figura 1) (ELIAS et al., 1991).

Dias de Competicão

Figura 1 - Casos de problemas termorreguladore5 em jogadores antes (1 e 2


dias de coinpetição) e depois (3 dias em diante) das modificações
preventivas, durante a 1988 USA. Cup Youth Soccer Tournament
(EL1P.S et al., 1991).

Algumas recomendações genéricas podem ser estabelecidas, como a


vestiineiita sempre de cor clara e folgada, para facilitar a circulação do ar.
Para os atletas que são submetidos a uma carga física de exposição ao sol
maior, é aconselhável treinar com a menor vestimenta possível, visaiido
aumentar a áfea de superfície da pele com maiores condições de realizar a
evaporação. E recoinendado ainda se evitar o uso de boné em condições de
calor, pois a cabeça representa uin dos principais pontos de perda de calor; o
uso do boné cria uma barreira a mais na dissipação do calor corporal. Caso
seja necessária a proteção dos olhos, recomenda-se o uso de viseir-as.
McP.RDLE et al. (1 992) citain uin trabalho de Dill et al. (1977), no
qual é relatado que as inulheres apresentam limiar de transpiração superior
ao dos hoinens, aumentando a participação dos mecanismos físicos para
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perda de calor (coiivecção, condução e radiação) em detrimento da
evaporação. Dessa forma, um procedimento indicado para mulheres é iniciar
a atividade física com a pele elou vestimenta já molhada, a fim de que a
perda de calor ocorra pelo processo de evaporação, porém sem recrutar o
estoque hídrico interno.
Visando nomatizar as ações preventivas no que tange a problemas
termorregulatórios associados ao calor, o A.C.S.M. (1994) estabeleceu
algumas recomendações com o objetivo de minimizar os riscos da prática de
exercícios no calor, sendo elas:
"01. Permitir que haja tempo para aclimatação ao calor, habitualmente I0
a 14 dias.
02. Exercícios durante aparte mais fresca do dia.
03. Plano de ingestão de líquidos antes, durante e após os exercícios no
calor e mesmo durante corridas ... As quantidades recomendadas são de
400 a 500 ml antes e 300 ml a cada 20 minutos de atividade.
04. Moderação da intensidade de treinamento (nela monitorização da
freqüência cardíaca).
05. Monitorização diaria do peso corporal. Perdas agudas devem-se a
água. Se as perdas forem maiores do que 3% do peso, deverão ser repostas
por ingestão antes da próxima sessão de treinamento.
06. A reposição de sal é essencial. A reposição adequada de eletrólitos é
proporcionada através do uso liberal de sal nos alimentos e uma dieta
balanceada. O uso de tabletes de sal não é aconselhável. "

Os problemas termorregulatórios associados ao calor podem


produzir uma redução da performance ou, ainda, gerar condições de um
quadro de risco de vida para o praticante.
A prática de exercícios físicos, mesmo no calor, deverá ser
acompanhada por uma série de procedimentos preventivos, como perfeita
aclimatação, vestimenta adequada, realização da atividade em horários
extremos do dia, constante hidratação, preferencialmente a base de água,
com uma relação de I litro por hora, controle da freqüência cardíaca,
acompanhamento diário do peso corporal total, visando acompanhar os
efeitos da desidratação e verificar se a reposição hídrica está sendo
suficiente; a realização de uma dieta equilibrada é um ponto fundamental
para uma perfeita reposição dos eletrólitos, principalmente de sódio.
O consumo de tabletes de sal durante o exercício físico é um
procedimento totalmente incorreto, pois aumenta o quadro de desidratação,
facilitando o surgiinento da interinação.
De maneira geral, o procedimento de ateiidiinento de uma vitima
com problemas de Iiipertermia está associado a interrupção da atividade
física, reposição Iiídrica e refrigeração da pele, levando-se a vítima para um
local mais fresco, além de providenciar aplicação de espoi~jasou água
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gelada em todo o corpo. Caso seja identificado um caso de intermação,
deve-se atuar de forma rápida e segura (Quadro 3), além de providenciar o
atendimento médico o mais rápido possível.
A aplicação de conceitos básicos apresentados neste artigo permitirá
ao profissional de Educação Física desenvolver ações que visem prevenir ou
atuar de forma mais segura em relação aos probleinas termorregulatórios
ligados ao calor, aprimorando assim sua qualidade de trabalho e impondo,
conseqüentemente, menor risco de acidentes deste tipo aos seus orientados.

ABSTRACT
The present article has as objective to present the main
thermoregulation problems associated to the heat. It is intended this study
will help the professional of'Physica1 Education identlfy in a precocious
way the characteristic signs stress disturbances originating from the
interrelations heat/environmental humidiiy and the physical exercise, as
well as the risks associated to a no-attendance situation. It is still
approached the necessary actions to proceed in cases of emergency, being
shown prophylactic guide to avoid ~ h appearing
e of such disturbances. It is
expected the apprentice can reconcile its physical activities even in an
uncomfortable thermal atmosphere linked to the heat, in the possible safest
way.
Key words: physical activiiy, thermoregulation accidents, heat.

ASTRAND, P. O. e RODAHL, K. Tratado de Fisiologia do Exercício.


Rio de Janeiro: Guanabara. 1987.

AZEVEDO, H. C. e TSANACLIS, A. Hipertermia de esforço. Âmbito


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