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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
2ª VARA FEDERAL

Processo n. 2006.82.00.006148-7
Ação Penal Pública
Autor: Ministério Público Federal
Réu: João Maria Valentino

S E N T E N Ç A1

PENAL. ESTELIONATO CONTRA A CAIXA ECONÔMICA


FEDERAL (CP, 171, §3º). TENTATIVA (CP, 14, II).
Agente que utiliza CTPS e RG falsificados para sacar FGTS
em nome de terceiro. Instado a comparecer na semana
seguinte, o agente é preso em flagrante delito. Crime
impossível não caracterizado: execução iniciada no primeiro
comparecimento, quando ainda não havia cerco policial que
tornasse impossível a consumação. Eventual experiência do
funcionário em sua função não inviabiliza de forma absoluta
os elementos objetivos do estelionato. Análise objetiva da
eficácia do meio. Procedência da pretensão punitiva.

RELATÓRIO

Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra João Maria Valentino, já devidamente
qualificado, dando-o a peça denunciativa como incurso no art. 171, §3º, c/c o art.
14, II, ambos do Código Penal brasileiro.

Consta da denúncia (f. 02-4) que o acusado, em 11/08/2006, adentrou


a agência CEF Manaíra Shopping, em João Pessoa/PB, de posse de uma CTPS e
uma carteira de identidade falsificadas – falsidades detectadas em razão de
divergências entre os documentos apresentados e os dados constantes do cadastro
da CAIXA relativos ao FGTS.

Tentando efetuar o saque dos valores, a constatação da fraude pelo


funcionário de nome Adalberto impediu sua consumação. Dito funcionário,
silenciando quanto à fraude, solicitou ao acusado a apresentação d cópias dos

1
Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
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documentos, orientando-o a retornar uma semana depois para retirar os valores


requeridos. Ato contínuo, o funcionário comunicou o fato às autoridades
competentes para sua apuração.

Assim, o acusado retornou à apontada agência em 18/08/2006 e, por


volta das 12h00min, tentou novamente sacar os valores do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) em nome de Carlos Costa de Oliveira, sendo em razão
disso preso em flagrante delito.

Em seu interrogatório policial, o acusado informou ter agido por


orientação de um sujeito do Ceará conhecido como “Mano”, que propusera ao réu
sacar os valores de FGTS usando documentos falsificados, recebendo pelo “serviço”
a quantia de R$ 700,00 (setecentos reais).

O MPF indicou três testemunhas para inquirição em juízo.

Denúncia recebida em 26/09/2006 (f. 82-4).

Interrogatório do acusado (f. 109-13). Nessa ocasião, o MPF requereu


que fosse oficiado à CAIXA para que encaminhasse aos autos cópias das imagens
do circuito interno de TV do dia 11/08/2006, especificamente do hall de entrada e
da área de solicitação de FGTS, sendo deferido o pedido.

Defesa prévia do acusado (f. 115-6), requerendo sua dispensa para


comparecimento aos autos do processo, bem como a inquirição de uma testemunha
desde já indicada. O MPF concordou com o pedido de dispensa (f. 121), tendo sido
deferido pelo juízo (f. 134).

O MPF requereu (f. 137-8) a realização de exame pericial sobre as


gravações de imagens do circuito interno de TV da CAIXA para apuração da
identidade de quem estaria acompanhando o acusado no dia do fato, tendo sido
deferido o pedido (f. 141).

Inquirição das testemunhas indicadas na denúncia: Carlos Eduardo


Batista Pimenta (f. 207-8), Adalberto Florentino de Castro Neto (f. 209-10) e
Manoel Joaquim da Silva (f. 211-2).

Testemunha indicada na defesa prévia dispensada (f. 235).

Em diligências, o MPF (f. 236) e a defesa (f. 246) nada requereram.

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Em alegações finais, o MPF (f. 244-7) pugnou pela condenação do


acusado, tendo a defesa (f. 253-9) sustentado a absolvição do réu.

Brevemente relatados.

DECIDO.

FUNDAMENTAÇÃO

Não há preliminares ou prejudiciais a decidir. Passo ao mérito.

Consta dos autos que o acusado teria tentado efetuar o saque de


valores referentes ao FGTS de terceira pessoa, utilizando, para isso, documentos
falsificados. Haveria, assim, tentado obter vantagem patrimonial indevida em
prejuízo de empresa pública federal através do emprego de meio fraudulento, fato
em tese previsto no art. 171, §3º, c/c o art. 14, II, do Código Penal brasileiro.

As provas constantes dos autos nos dão conta de que o acusado,


utilizando documentação falsificada, teria comparecido à agência da CEF no Manaíra
Shopping e solicitado o saque do FGTS em nome de Carlos Costa de Oliveira. As
divergências entre os dados dos documentos apresentados e as informações
constantes nos registros do FGTS na CEF alertaram o funcionário para a fraude. Em
vista disso, o funcionário solicitou ao acusado que retornasse uma semana depois,
viabilizando-lhe a prisão em flagrante.

É extreme de dúvida que os fatos narrados pelo MPF em sua denúncia


foram completamente demonstrados ao longo da instrução processual penal. O
comparecimento do acusado à agência da CEF, a solicitação de saque do FGTS em
nome de terceira pessoa, o porte e uso de documentos falsificados (caracterizando
o emprego da fraude) e a frustração do empreendimento criminoso foram
adequadamente demonstrados pelos documentos e testemunhos colhidos.

Em seu interrogatório, o acusado corroborou os fatos narrados na


denúncia, mas alegou não saber que os documentos por ele utilizados seriam
falsos. Disse que teria recebido os documentos de uma pessoa denominada “Mano”,
que teria conhecido em uma corrida em Natal/RN, no exercício de sua profissão de
taxista. “Mano” lhe teria proposto uma forma de ganhar dinheiro, qual seja, o
saque de valores do FGTS, pelo que receberia o acusado setecentos reais.
Inicialmente, “Mano” lhe dissera que o saque seria feito através de procuração, só
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posteriormente veio a ter conhecimento de que utilizaria documentos em vez de


uma procuração.

Afirmou ainda que o próprio “Mano” teria conduzido o acusado ao banco,


apresentando-o ao funcionário Adalberto como um cliente dele e como a pessoa
que iria receber aquele dinheiro. “Mano” teria dito conhecer Adalberto, mas não
sabia o acusado se Adalberto conhecia “Mano”. Registrou que ele, acusado, não
conhecia qualquer dos dois. Perguntado se teria se apresentado como “João Maria
Valentino” ou como “Carlos Costa de Oliveira”, afirmou que não chegou sequer a
falar, pois o próprio “Mano” teria se encarregado de conversar com Adalberto sobre
o saque do dinheiro.

Sobre os documentos, afirmou serem suas as fotografias neles


constantes, mas a assinatura ali aposta não é sua. “Mano” lhe teria pedido duas
fotos no dia anterior para preparar uma procuração e, embora o acusado tenha
achado estranho, de nada desconfiara. Afirma que não mais encontrara “Mano”,
nada sabendo que pudesse informar sobre seu paradeiro.

A testemunha Carlos Eduardo Batista Pimenta, inicialmente, confirmou a


veracidade dos fatos narrados na denúncia. Afirmou que, embora não estivesse em
serviço, efetuou a prisão do acusado após ter entrado em contato com a PF e ter
sido informado que APF’s estariam para chegar. O acusado teria apontado uma
pessoa de nome “Antônio” como o mentor intelectual da fraude, supostamente
residente em Goiana/PE. Confirmou que receberia setecentos reais pelo saque.

A testemunha Adalberto Florentino de Castro Neto afirmou que a


descrição contida na denúncia é fiel ao que realmente ocorreu, tendo apenas
algumas informações a acrescentar. Afirmou que o acusado compareceu à agência
com CTPS e documento de identidade muito novos, com mesma data de admissão,
tendo a CTPS apenas um carimbo de uma empresa que sabia a testemunha, por
sua experiência, estar falida há pelo menos quinze anos. Em vista disso, acreditou-
se diante de uma fraude. Fazendo as perguntas de praxe, percebeu que o acusado
se atrapalhava nas respostas. Após consultar seu gerente, pediu ao acusado que
retornasse na semana seguinte e, nesse tempo, a CEF apurou que realmente se
trataria de uma fraude.

A testemunha Manoel Joaquim da Silva também confirmou a veracidade


da narração contida na denúncia, corroborando os depoimentos já prestados pelas
duas testemunhas anteriores.

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A defesa argumenta em suas alegações finais que, do flagrante


esperado efetivamente ocorrido, teria decorrido a figura do “crime impossível”, uma
vez que o cerco policial tornara impossível a consumação do crime. Propõe uma
releitura da Súmula n. 145 do STF para afastar o critério da provocação ou espera e
adotar-se o critério da inviabilização da consumação para efeito de considerar-se
“crime impossível” o fato praticado.

Em linhas gerais, concordo inteiramente com todas as ponderações


teóricas trazidas pela defesa, especialmente com a consideração de que pouco
importa seja esperado ou provocado o flagrante: importa mesmo que o cerco
policial tenha tornado impossível a consumação do crime, protegendo de forma
absoluta o bem jurídico.

No caso dos autos, contudo, o cerco policial tornou impossível a


consumação do crime apenas no dia 18/08/2006 – não no dia 11 de agosto do
mesmo ano, quando esteve o acusado pela primeira vez na agência da CAIXA para
realizar o saque dos valores, momento em que praticou a conduta delitiva pela
primeira vez e deu real início à execução do crime.

Restou devidamente comprovado nos autos que o início da conduta


delitiva atribuída ao acusado – consistente no comparecimento à agência da CAIXA,
na solicitação do pagamento de FGTS em nome de terceiro e na apresentação de
documentos falsificados – se deu em 11/08/2006, quando ainda não havia cerco
policial, mas apenas um funcionário cuja experiência evitou a consumação do
crime.

Foi a ação desse funcionário que viabilizou o retorno do acusado à


agência da CAIXA e sua prisão. Entretanto, é de se considerar que, no momento da
prática da conduta, não se poderia afirmar ser absolutamente impossível
consumar-se o crime, dada a absoluta impropriedade do objeto. Quando o réu foi
preso em 18/08/2006, o crime já havia sido iniciado, atos executivos idôneos já
haviam sido praticados e só não houve consumação por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

A defesa sustenta ainda, na mesma linha, que sequer se poderia cogitar


de tentativa de estelionato uma vez que ninguém teria sido induzido ou mantido
em erro. Destaca a “experiência” do funcionário como um fator absolutamente
impeditivo da eficácia do meio empregado.

Ora, a questão da eficácia do meio não pode ser discutida em termos


subjetivos, mas objetivos. A falsidade poderia enganar um funcionário menos
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experiente? Se a resposta for afirmativa, é preciso concluir que somente ao acaso


se pode atribuir a ineficácia “in concreto” do meio empregado. Seria, portanto,
ineficácia relativa do meio, o que não exclui a tipicidade do fato na modalidade
tentada do tipo objetivado pela vontade.

Sendo assim, não tenho como acolher os fundamentos de defesa para


afastar o enquadramento típico do fato praticado. Torna-se livre de qualquer dúvida
a demonstração da materialidade e da autoria, bem como da adequação típica do
fato ao art. 171, §3º, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal.

Passo à fixação da pena.

FIXAÇÃO DA PENA

Examinando as condições judiciais do art. 59 do Código Penal, constatei


o seguinte: a culpabilidade, como juízo de reprovabilidade pessoal da conduta,
mostrou-se intensa e relevante; o réu não possui antecedentes criminais; a
conduta social e a personalidade, como elementos sem qualquer ligação com o
fato, não podem ser valorados contra o réu, sob pena de adotar-se um autêntico
direito penal do autor; o crime não foi praticado com motivação especial, nem em
circunstâncias especiais que imponham uma exasperação da reprimenda; não há
provas nos autos de conseqüências do crime que justifiquem valoração negativa;
finalmente, não é possível dizer que a “conduta da vítima” tenha influído na
infração.

Diante disso, e considerando os limites abstratos contidos no preceito


secundário do art. 171, caput, do CP, fixo a pena-base em 1 (um) ano e 3 (três)
meses de reclusão.

Aplica-se ao caso o §3º do art. 171 do CP, de modo que aumento a


pena em um terço, fixando-a em 1 (um) ano e 8 (oito) meses. Da mesma forma,
aplica-se a causa geral de redução da pena do art. 14, II, do CP (tentativa). Em
razão disso, reduzo a pena em 2/3 (dois terços), considerando que muito pouco
perto da consumação chegou o acusado, fixando-a em 6 (seis) meses e 20
(vinte) dias de reclusão, para cumprimento inicial em regime aberto, tornando-
a definitiva.

Considerando os mesmos fundamentos acima, bem como os limites


abstratos contidos no art. 49 do Código Penal, fixo a pena de multa em 10 (dez)
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dias-multa. Considerando os elementos contidos nos autos sobre a situação


econômica do réu, fixo o valor do dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário
mínimo vigente em agosto/2006, devidamente reajustado até o pagamento.

Considerando preenchidos os requisitos dos artigos 44 e seguintes do


Código Penal, e entendendo que a medida se mostra conveniente aos fins a que se
propõe, substituo a pena privativa de liberdade acima aplicada por uma pena
restritiva de direitos.

A pena restritiva de direitos consistirá em prestação de serviços à


comunidade ou a entidades públicas, na razão de uma hora de trabalho por dia de
pena privativa de liberdade aplicada, não podendo seu cumprimento se dar em
prazo inferior à metade do tempo da pena. O lugar, a forma e as condições de
cumprimento serão definidas pelo juízo das execuções penais.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 387 do CPP, julgo


procedente a pretensão punitiva do Estado para condenar o réu João Maria
Valentino como incurso no art. 171, §3º, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal
brasileiro.

Em razão disso, condeno-o ao cumprimento de uma pena privativa de


liberdade de 6 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, para cumprimento
inicial em regime aberto, bem como de uma pena de multa no valor de 10 (dez)
dias-multa, fixando o valor do dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário
mínimo vigente em agosto/2006, devidamente atualizado até o cumprimento.

Preenchidos os requisitos dos artigos 44 e seguintes do Código Penal, e


entendendo que a medida se mostra conveniente aos fins a que se propõe,
substituo a pena privativa de liberdade acima aplicada por uma pena restritiva de
direitos, nos termos e na forma descrita no item FIXAÇÃO DA PENA supra.

Transitada em julgado a presente sentença, após a devida certificação:


preencha-se e encaminhe-se o boletim individual do acusado ao IBGE; lance-lhe o
nome no rol dos culpados; oficie-se ao TRE/PB para os fins do art. 15, III, da
CF/88; remetam-se os autos ao juízo das execuções penais.

Custas ex lege.
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Sentença publicada em mãos do diretor de Secretaria da vara. Registre-


se no sistema informatizado. Intimem-se o acusado e seu defensor. Cientifique-se o
MPF.

João Pessoa, 25 de novembro de 2008.

Rogério Roberto Gonçalves de Abreu


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