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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Feitas as principais considerações acerca das mediações que interpelam os sujeitos,
revela-se necessário reiterar alguns pontos que ficaram soltos ao longo do caminho trilhado
até então. Mais do que catalogar definições estanques, cabe a nós assumir a mutabilidade de
nosso objeto de estudo: muitas das ponderações realizadas ao longo da monografia talvez
não sejam mais válidas com o decorrer do tempo. O mundo da mundialização da cultura
também é um mundo extremamente dinâmico, e é bem possível que futuramente surjam
novas demandas e novas mediações.
Sabemos que, paradoxalmente, a presente pesquisa tem como tentativa analisar
momentaneamente o objeto, como se ele estivesse estático e paralisado no tempo.
Assumimos este problema, mas ainda assim acreditamos que o esforço científico gera
também resultados positivos. Através da reformulação de propostas e teorias, podemos
auxiliar na elucidação dos fenômenos dessa modernidade-mundo que se manifesta em
novas vivências e identidades.
Sonia Bibe Luyten, ao escrever em 1991 sobre as dificuldades do mangá como
produto de exportação, disse:

Os quadrinhos japoneses, por sua vez, encontrariam algumas barreiras para saírem
além de suas fronteiras. A primeira delas é o conteúdo mesmo das histórias. Um
grande contingente da produção japonesa está demasiadamente voltado para o seu
público e retrata situações muito específicas para serem compreendidas fora do
país.(...) Acresce-se que as histórias estão repletas de elementos simbólicos e de
uma grande variedade de convenções, todas expressas não-verbalmente;
estabelecem uma comunicação muito íntima entre o artista e o leitor japonês. São
códigos de imagens já convencionados ao longo dos anos dentro da cultura
japonesa, os quais têm o mesmo peso das palavras. Desconhecendo-se as chaves
dessa linguagem, perde-se parte do conteúdo. O desenho de uma cerejeira em flor,
cujas pétalas são delicadamente levadas pelo vento, pode provocar, por exemplo,
diversas emoções aos olhos ocidentais, mas na tradição japonesa simbolizam a
fugacidade da vida. 1 p 175-176

Apesar de todas essas dificuldades, o mangá e os animês conseguiram superar as


barreiras culturais e viraram um importante produto de exportação japonês. Ao contrário do
que a autora escreveu em seu livro, não foi só nos países asiáticos que eles acabaram se
difundindo; seria incorreto também dizer que esse tipo de produção se popularizou no
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Brasil unicamente porque há uma grande quantidade de descendes orientais e japoneses no
país. Para elucidar o conflito aí existente, precisamos retomar o conceito de cultura do
primeiro capítulo: ela é, antes de tudo, um fenômeno coletivo de atribuição de significado
ao mundo e às ações. É dessa maneira que os significantes abrem-se em múltiplas direções,
conforme argumenta Martin Barbero:

Outra vertente teórica que é necessário integrar a esta reflexão é a nova concepção
de leitura, desenvolvida na América Latina particularmente nos trabalhos de
Beatriz Sarlo, nos quais leva adiante linhas de pensamento de Hans-Robert Jauss,
propondo uma abordagem dos diversos leitores sociais possíveis. Se entendemos
por leitura ‘a atividade por meio da qual os significados são organizados num
sentido’, resulta que na leitura – como no consumo – não existe apenas reprodução,
mas também produção, uma produção que questiona a centralidade atribuída ao
texto-rei e à mensagem entendida como lugar da verdade que circularia na
comunicação. (...) Um texto que já não será máquina unificadora da
heterogeneidade, um texto já não-cheio, e sim espaço globular perpassado por
diversas trajetórias de sentido. O que afinal restitui à leitura a legitimidade do
prazer. 2 p 302-303

E são justamente as mediações que, como elementos que reterritorializam a cultura,


auxiliam e interpelam os sujeitos no sentido de criar essa nova produção de sentido. Isso
não quer dizer, entretanto, que estamos relativizando a tudo e a todos, pois a cultura é um
fenômeno fundamentalmente social: juntamente com as histórias individuais dos fãs, são os
grupos a que eles pertencem que moldam seu imaginário e sua produção de sentido.
Assim como a língua japonesa dá lugar à língua portuguesa através da dublagem,
são as mediações que norteiam uma nova atribuição de sentido, que apesar de não catalogar
o significado original das folhas de cerejeira, podem transformá-las em uma nova forma de
reconhecimento.
Cristiane A. Sato complementa:

Os animês, agora um ‘produto de exportação’ japonês, assim como carros e


produtos eletrônicos, trazem características próprias que para serem usufruídas e
apreciadas em sua globalidade dependem cada vez mais de um profundo
conhecimento das tradições, crenças, hábitos e valores dos japoneses, mesmo
passando por adaptações para se adequarem ao público de outros países.
Involuntariamente e sem um planejamento prévio ou direcionado para esse
objetivo, os animês se tornaram um veículo rápido de divulgação da cultura
japonesa. 3 p.41

Se no início a animação era voltada exclusivamente para a sociedade japonesa, hoje


ela é um produto de exportação. Entretanto, não devemos pensar exclusivamente nas
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mudanças que aconteceram no âmbito da produção para que isso fosse possível; revela-se
necessário, antes de tudo, pensarmos também nas alterações que a recepção sofreu com o
passar do tempo: novas vivências e novos sujeitos.
E isso se concretiza sobretudo nos eventos temáticos: em um mesmo palco, desfilam
não só personagens de animês como Goku e Asuka, mas também alguns outros de séries e
seriados norte americanos e ocidentais. É esse hibridismo que revela as diversas dimensões
do espaço: a mistura de elementos de diversas culturas, a princípio opostas.
Não se trata de negar a existência de uma cultura nacional de raiz, e sim de
compreender que ela sozinha não é capaz de satisfazer a demandas de novos sujeitos
sociais. É nessa nova configuração que uma mesma pessoa pode jogar futebol e gostar de
animês; assistir a sitcons norte americanos e se divertir com aventuras de personagens de
cabelos espetados e roupas estranhas.
Se todos os recursos de linguagem da animação cavaleiros do zodíaco têm como
objetivo revelar um mundo irreal e fantasioso, todas as mediações também nos levam para
uma organização social que, apesar de tudo, remete-nos a esse universo de possibilidades
infinitas. Assim como disse Sônia Emília no final do segundo capítulo, o melhor de tudo é
ser criança; no fundo, ser adulto é uma tarefa extremamente complexa. Os deveres de uma
realidade cada vez mais exigente nos revelam um mundo em que a impotência aparenta ser
a principal característica dos seres humanos.
Para alguns, pode parecer simplesmente uma fuga apelar para uma outra realidade
na qual não se vive efetivamente. E as mediações não deixam de realizar também esse ato –
aproximar o universo imaginário e o mundo do espectador. Entretanto, acreditamos que,
ainda que uma fuga, essa viagem para o outro mundo trás como potencialidade a auto-
representação: o reconhecimento de novas demandas e a exigência da democratização do
espaço cultural. Evidentemente que não chegamos a esse ponto ainda; porém, talvez esse
seja um caminho a se trilhar.
A identidade, que para Lévi-Strauss e Renato Ortiz não pode ser catalogada e
definida, mas que é fundamental para a compreensão do mundo e de nós mesmos, revela-se
oculta em processos muitas vezes desvalorizados por aqueles que acreditam ter o
conhecimento prévio e universal da condição humana. Vimos como a televisão, muito mais
do que a internet e os grupos de discussão, tem importância para alguns admiradores das
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animações; vimos como os tokusatsu foram indispensáveis para a realização de um
primeiro contato entre os fãs e os animês; vimos como as músicas e os dubladores tem sua
importância para a criação e manutenção de laços de sociabilidade; vimos que o espaço dos
eventos temáticos, juntamente com os cosplayers, são de vital relevância para a construção
e manutenção de novas vivências e demandas; e vimos como todos esses elementos juntos
transportam os fãs para um outro universo de poderes e aventuras.
Os fanzines não podem ser considerados como uma mediação decisiva para a
constituição das identidades, pois foram pouco citados nas entrevistas. Da mesma maneira,
ao contrário do que supúnhamos, as mediações de consumo na realidade são inexistentes:
antes de ser um espaço de compras e aquisição de bens materiais, os eventos temáticos
indicam muito mais um ambiente de sociabilidade. Dessa forma, pôsteres, bonés, chaveiros
e outros bens de consumo não são tão relevantes para a constituição das identidades dos fãs.
A exceção fica para o mangá, que por ter uma ligação industrial e de linguagem com os
animês acaba tendo relevância no plano identitário.
Percebemos também como não podemos buscar uma identidade cristalizada para
todos os fãs das animações. São muitos os tipos de admiradores dos desenhos japoneses, e
muitas as demandas e pontos de vista. Apesar de existirem perspectivas em comum, não
podemos esquecer da relevância que a diversidade tem para entendermos nosso objeto de
estudo, antes múltiplo do que unitário como supúnhamos.
Insistimos que a presente pesquisa não se pretende universal e acabada; a ela, mais
esforços devem se somar para elucidar melhor o objeto de estudo.
Se antes o viajante era aquele que desbravava o desconhecido, elo de ligação entre
diferentes espaços, hoje ele apenas quer sair da rotina e do ritmo de trabalho. As culturas,
que a princípio seriam demarcadas e restritas, hoje atravessam as barreiras dos Estado-
Nações. É no mínimo curioso constatarmos que o espelho em que encontramos nossa
imagem pode ser de fabricação japonesa.
Apesar de todas as viagens que realizamos ao longo da história da humanidade, os
seres humanos continuam sendo o destino mais obscuro para os homens que se aventuram
pela descoberta do mundo e de si mesmos.

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BIBLIOGRAFIA

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Globalização. Rio de Janeiro: editora UFRJ, 1997.
LUYTEN, Sonia M. Bibe (org.) Cultura Pop Japonesa. São Paulo: Hedra, 2005.
LUYTEN, Sonia M. Bibe. Mangá: o Poder dos Quadrinhos Japoneses. São Paulo: Estação
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MARTIN BARBERO, Jesús. Dos Meios às Mediações. Rio de Janeiro: editora UFRJ,
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ORTIZ, Renato. Um Outro Território: Ensaios Sobre a Mundialização. São Paulo: Olho
D’Água, 2000.

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