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1. O documento discute a oração "Os Louvores a Deus Altíssimo" de São Francisco.
2. A oração surgiu após a experiência mística de São Francisco receber os estigmas no Monte Alverne.
3. A oração é dividida em três partes e consiste em uma série de exclamações louvando os atributos de Deus.
1. O documento discute a oração "Os Louvores a Deus Altíssimo" de São Francisco.
2. A oração surgiu após a experiência mística de São Francisco receber os estigmas no Monte Alverne.
3. A oração é dividida em três partes e consiste em uma série de exclamações louvando os atributos de Deus.
1. O documento discute a oração "Os Louvores a Deus Altíssimo" de São Francisco.
2. A oração surgiu após a experiência mística de São Francisco receber os estigmas no Monte Alverne.
3. A oração é dividida em três partes e consiste em uma série de exclamações louvando os atributos de Deus.
Tema: Os Louvores a Deus Altssimo e a Bno a Frei Leo: Um Itinerrio de So Damio ao Alverne
Campo Largo 2013
SUMRIO
1 Introduo .................................................................................................................................. 3 2 Os Louvores e Sua Origem ......................................................................................................... 4 3 A Prefigurao: So Damio ....................................................................................................... 6 4 A Realidade: O Alverne ............................................................................................................... 7 4 O Mistrio: Os Louvores a Deus Altssimo ................................................................................. 8 4.1 A Glorificao da Trindade ...................................................................................................... 9 4.2 Deus, Nossa Riqueza ............................................................................................................... 9 4.3 Deus, Nossa Vida Eterna ....................................................................................................... 11 4.4 Deus, Nossa Bno .............................................................................................................. 13 Concluso .................................................................................................................................... 14 Apndice: Louvai, louvai Ao Senhor! .......................................................................................... 15 Bibliografia .................................................................................................................................. 16
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1 INTRODUO O Crux ave, spes unica, hoc Passionis tempore! piis adauge gratiam, reisque dele crimina.
Toda a vida crist sempre foi e ser marcada pelo cruz de Jesus Cristo. Diversos santos, de diversos modos e graus participaram desse caminho, que aparentemente se apresenta como uma maldio, mas que , na verdade, o grande smbolo da salvao querida e desejada por Deus. So Francisco, de modo particular, nutriu um grande afeto e admirao por to grande mistrio. To grande foi o seu desejo, que tanto o incio como o fim de sua caminhada foram marcados pela cruz. Do Cristo do Crucifixo de So Damio ele recebeu o seu chamado, a sua misso e do Cristo em forma de Serafim Alado ele recebeu os estigmas no Alverne. O Santo Serfico um grande exemplo de que o amor, o verdadeiro amor se no passa pela cruz no amor. O amor de So Francisco ao Amor Crucificado era to grande aps o Alverne que transbordou numa orao de puro louvor a Deus, inundada da pura renncia de si mesmo: Os Louvores a Deus Altssimo. Essa orao, que por alguns autores comparada ao Te Deum de Santo Ambrsio e Santo Agostinho, um perene agradecimento de So Francisco s maravilhas de Deus operadas em sua vida como tambm uma resposta revelao de Deus: Eu sou aquele que (Ex 3,14). O presente trabalho pretende expor uma reflexo sobre o contedo desta orao, comparando as diversas tradues, os textos originais em latim, como tambm a matriz bblica da qual foi extrada, em especial a bno inspirada no livro dos Nmeros.
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2 OS LOUVORES E SUA ORIGEM Este hino de grande riqueza surge de uma experincia singular da vida de So Francisco: a estigmatizao no Alverne. Tambm foi incentivo para Francisco o desejo de Fr. Leo de ter um escrito de So Francisco junto a si como narra Celano (cf. 2 Cel 49). Sua possvel datao segundo Fr. Kajetan Esser (cf. 1976, p. 41-45) seria 1224, ou seja, logo aps o Alverne. Sua estrutura relembra, como foi dito anteriormente, o Te Deum. O Te Deum composto de trs partes: Na primeira, ressalta-se a glorificao da Santssima Trindade por todos os seres racionais: os Anjos e os Santos prosternam-se em adorao diante desse augusto Mistrio. A segunda uma exaltao de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, o Redentor. Por fim, a terceira contm uma veemente splica: "Fazei-nos ser contados, Senhor Vos suplicamos, em meio a Vossos santos na Vossa eterna glria". Aqui termina o hino propriamente dito. O que se segue um apndice, composto de versculos extrados de diversos salmos, acrescentado posteriormente ao texto original. Tambm os Louvores, segundo Theo Zweerman, podem ser divididos em trs partes: Parte 1 Tu es sanctus Dominus Deus solus, qui facis mirabilia (Ps 74,15). Tu es fortis, Tu es magnus (cfr. Ps 85,10), Tu es altissimus, Tu es rex omnipotens, Tu pater sancte (Joa 17,11), rex caeli et terrae (cfr. Mt 11,25). Tu es trinus et unus Dominus Deus deorum (cfr. Ps 135,2), Tu es bonum, omne bonum, summum bonum, Dominus Deus vivus et verus (cfr. 1 Thes 1, 9). Parte 2 5
Tu es amor, caritas; Tu es sapientia, Tu es humilitas, Tu es patientia (Ps 70,5), Tu es pulchritudo, Tu es mansuetudo; Tu es securitas, Tu es quietas, tu es gaudium, Tu es spes nostra et laetitia, Tu es iustitia, Tu es temperantia, Tu es omnia divitia nostra ad sufficientiam. Parte 3 Tu es pulchritudo, Tu es mansuetudo, Tu es protector (Ps 30,5), Tu es custos et defensor noster; Tu es fortitudo (cfr. Ps 42,2), Tu es refrigerium. 6 Tu es spes nostra, Tu es fides nostra, Tu es caritas nostra, Tu es tota dulcedo nostra, Tu es es vita aeterna nostra Magnus et admirabilis Dominus, Deus omnipotens, misericors Salvator. de se notar que esta orao tem por palavra-chave principal a ausncia de referncia ao eu. uma orao de pura oblao a Deus como diz Leonhard Lehmann: A orao est purificada de toda referncia ao eu, dom perfeito de si, puro olhar para o outro(1997, p. 162). 6
Talvez a grande palavra chave est na repetio Tu es como resposta ao Ego sum da Revelao Divina de Deus Moiss. Muitas tradues traduzem o Tu latino por Vs, talvez porque, para Francisco, a sua relao naquele momento era to prxima a Deus, de tamanha intimidade que ele pde chamar Deus por Tu e para as geraes atuais ainda no tenha se chegado a tal grau de intimidade que preferimos chamar Deus de Vs tal qual acontece com os relatos bblicos de Jesus Cristo ensinando o Pai Nosso e de nossas verses usuais da mesma orao. Seu estilo literrio se caracteriza por um estilo de ladainha, porm, sem a resposta de splica ora pro nobis o que demonstra sua pureza e excelncia de oblao. Por fim essa orao nasce da experincia de Deus feita por Francisco [que] foi to rica e profunda que transbordou nesta srie de exclamaes dirigidas ao Vs fascinante de Deus (Lehmann, 1997, p. 162) A anlise da orao se dar da seguinte maneira: Proceder-se- com uma anlise do contexto em que ela surgiu, usando a trade prefigurao, realidade e mistrio. O encontro com o Crucificado em So Damio (Prefigurao), o encontro com o Serafim Alado no Alverne ( Realidade) e os Louvores a Deus Altssimo (Mistrio).
3 A PREFIGURAO: SO DAMIO
O Encontro de So Francisco com o Crucifixo de So Damio pode ser encarado como uma prefigurao daquilo que haveria de ocorrer. Francisco encontra o Cristo crucificado, mas glorioso com olhos abertos e luminosos, ou seja, como quem reina. Este Cristo est cercado de diversas pessoas que percorreram esse caminho da Cruz, participaram da Cruz e o prprio Cristo chama Francisco a percorrer tambm essa estrada. Para o primeiro bigrafo de Francisco esse fato de So Damio tem profunda ligao com o cume do itinerrio de Francisco no Alverne: 7
Desde ento, grava-se na sua santa alma a compaixo do Crucificado e , como se pode julgar piedosamente, no corao dele so impressos mais profundamente os estigmas da venervel paixo, embora ainda no na carne ( 2 Cel 10) A estigmatizao de Francisco e os Louvores foram preparados, ou, prefigurados pelo episdio em So Damio, o qual Francisco com grande prontido de esprito comeou a cultivar dentro de seu corao e a partir daquele momento vrios foram os episdios que fizeram , pouco a pouco, florescer a grande graa da perfeito unio com Nosso Senhor Jesus Cristo por meio de sua cruz, aquela pela qual remistes o mundo (Test 5).
4 A REALIDADE: O ALVERNE A prefigurao das chagas impressas no corao de Francisco toma realidade no Alverne. Neste episdio Francisco est todo voltado para Deus, na busca de sentir aquilo que o prprio Cristo sentiu na cruz. A prefigurao de So Damio se torna realidade na vida de Francisco no Monte Alverne. Ali Francisco tomado do puro amor serfico e, abrasado por este amor, chega ao pice da primazia de Deus em sua vida. Na sua carta por ocasio dos 750 anos da estigmatizao de So Francisco assim se expressa Fr. Costantino Koser, OFM acerca do sentido mais profundo do Alverne: O que aconteceu no Alverne durante o ms de setembro de 1224, e as Chagas impressas na carne de nosso Pai So Francisco, significa e manifesta mais que tudo que Deus Senhor. Deus se apoderou do Homenzinho de Assis e nele agiu como quis. Esta realidade eterna e irremovvel de que Deus Senhor o fundamento de tudo em nossa vida natural e na vida da graa: sem ela, tudo obscuro; com ela, tudo luz. So Francisco assim entendeu o senhorio de Deus e o aceitou com jbilo e reconhecimento: fez desta realidade o ponto de referncia constante de tudo em sua vida. Nunca mais do que no Alverne. 1
Este senhorio de Cristo se deu de modo mais latente e manifesto no Alverne, mas foi um desenvolvimente orgnico durante toda a vida de
1 KOSER, Fr. Constantino. Carta Encclica por ocasio dos 750 anos da estigmatizao de So Francisco. Acessado em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=21142 8
Francisco. Ele, o senhorio, foi encontrando modos de se manifestar na vida de Francisco, como nos diz Koser na supracitada carta: O Senhorio de Deus na vida de So Francisco no comeou a ser aceito e vivido por ele no Alverne, a resposta do Pobrezinho no comeou ali. O Senhorio de Deus de sempre, a resposta do filho de Bernardone comeara a ser mais intensa em Spoleto 20 anos antes, O Alverne 1224 significa um vrtice insuperado. 2
Esse vrtice insuperado de arrebatamento mstico vivido por Francisco uma experincia da qual toda descrio por palavras sempre ficar aqum da realidade, pois somente a quem dado o sentir e conhecer possvel penetrar em to grande mistrio. [...] Isto, porm, algo mstico e secretssimo que ningum conhece, seno quem o recebe [Ap 2,17]; nem o recebe, seno quem o deseja; nem o deseja, seno quem est inflamado profundamente pelo fogo do Esprito Santo, que Jesus Cristo enviou terra. Por isso o Apstolo [1Cr 2,10s.] diz que esta sabedoria mstica foi revelado pelo Esprito Santo. (Boaventura, 2012, p. 98) Desta graa que Francisco experimentou que surge os Louvores a Deus Altssimo, que para ns hoje se apresenta como mistrio deste magno encontro de Francisco com o seu amado, o Amor Crucificado.
4 O MISTRIO: OS LOUVORES A DEUS ALTSSIMO Por fim chegamos ao grande cerne de nossa reflexo. Esta orao representa a expresso de um homem apaixonado por Deus que acabara de ter uma experincia sem precedentes. Acerca de tal escrito assim diz Fr. Constantino Koser: A Chartula a smula de uma experincia de Deus muito singular, nica. Cada qual de suas expresses merece longa meditao e deve ser transportada para a vida concreta todos os dias. Importa pensar o que significa cada qual das palavras numa experincia to viva como foi a de So Francisco, to intensa, to profunda, to sincera, to veraz na expresso, a tal ponto que ainda a mais alta expresso potica fica devendo realidade experimentada. Importa meditar e viver na mesma direo, para caminhar e chegar a vrtices cada vez mais elevados. At que este hino se transforme, tambm em nossa vida, em expresso sincera de toda a verdade de nossa existncia
2 Ibidem. 9
De fato, poderia-se e deveria-se meditar cada linha desta orao, mas o faremos segundo a diviso de Zweerman, dando destaque a ideia central do bloco. 4.1 A GLORIFICAO DA TRINDADE Francisco inicia os Louvores dizendo que Deus o Santo; Ele toda a santidade, aquele que faz maravilhas; ele invoca o ttulo de Altssimo que havia utilizado em sua orao diante do Crucifixo de So Damio; este Deus inacessvel, Rei pelos sculos dos sculos, mas que Pai amoroso que est prximo de seus filhos. Enfim as invocaes dessa primeira parte chegam ao seu pice numa das expresses mais bonitas e arrebatadas das oraes de louvor de So Francisco e de seu amor ao Deus. de se notar que em todas as oraes de So Francisco tm uma referncia Trindade. O ponto de partida, segunda a lgica, no a Unidade mas a Trindade de Deus. A Unidade o estupendo ponto de chegada. No o Um que se divide em Trs mas Trs que convergem no Um (REFATTO apud LEHMANN, 1997, p. 166) Esse o ponto alto, onde a incompreensibilidade de Deus se manifeta de modo mais latente no mistrio da Trindade que seguida pela trplice invocao da bondade de Deus recordando a trplice invocao da santidade de Deus no livro de Isaas (cf. Is 6,3). Na ltima invocao Deus chamado vivo e verdadeiro. Essa constatao parte da experincia de Francisco. Aps ter percorrido o caminho de Jesus, o caminho da Cruz at o pice do Alverne, Francisco se recorda do Evangelho onde Jesus se diz caminho, verdade e vida (cf. Jo 14,6) e expressa que sua experincia de cruz o havia conduzido a experimentar a verdade e a vida, o prprio Senhor Jesus. 4.2 DEUS, NOSSA RIQUEZA Francisco agora passa a atribuir ao prprio Deus diversas virtudes comeando pelo principal caracterstica de Deus, nomeada duas vezes, o amor (cf. 1Jo 4,8). O santo de Assis, diante da inefabilidade de Deus, busca dizer 10
algo do seu amado ainda que aqum. A sabedoria de Deus j era nomeada no Antigo Testamento, mas quando Francisco invoca a humildade de Deus que s nos revelada a partir do Novo Testamento com a Encarnao do Filho Dileto de Deus, Jesus Cristo Senhor Nosso. A partir disso temos que Deus em sua humildade se doa de diversos modos, os quais Francisco nomeia nesta parte, e isto nos introduz dentro do mistrio de que Deus Tudo. Por isso Francisco dizia com entusiasmo: Meu Deus e Meu Tudo. A pobreza franciscana encontra aqui seu fundamento mais radical, na confisso de que Deus a plenitude da riqueza. Esta a a mais profunda motivao teolgica para a pobreza (LEHMANN, 1997, p. 170). Francisco, assim como todos os homens, tem uma sede insacivel a qual somente Deus capaz de saciar. A alma deseja a Deus como a terra sedenta de gua diz o salmista e, no Alverne esse desejo de Francisco foi saciado pelo amor transbordante de Deus que verte como um rio cristalino da Cruz. O desejo que consome os msticos e amantes sempre o de despojar-se de sua identidade egocntrica e unir-se de forma permanente com o Bem- Amado, em uma maneira de ser em que o eu e o tu, apesar de no obliterados, deixam de ser entidades fixas. No sou mais eu quem vive; mas o Cristo quem vive em mim. O abismo da separao (das individualidades) se fecha quando transcendemos o ego. Uma consumao a ser desejada devotamente, mas algo que, ao mesmo tempo, causa horror ao ego e doloroso pressentimento. diferena de Francisco, a maioria de ns recua, sistematicamente, no exato momento em que a satisfao do nosso desejo de plena unio nos oferecido. 3
Essa deciso de Francisco em atravessar esse abismo o conduziu a consumao de seu itinerrio, a cruz havia chegado ao seu pice e agora ele s podia dar um passo adiante, rumo a ressurreio.
3 Freeman, Dom Laurence. Os estigmas de Francisco de Assis e o segredo da suprema. Acessado em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=21171 11
4.3 DEUS, NOSSA VIDA ETERNA Chegando ao final desta orao percebe-se que Francisco retoma os atributos beleza e mansido e traz quatro atributos que denotam Deus como o Guardio de cada um de ns. Francisco naquele momento se sente totalmente seguro em Deus. Cristo na Cruz rezava Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?(Sl 22, 2) no pice de sua paixo, mas tal como o salmo continua, Ele tinha a certeza de que sua sorte estava guardada em Deus. Assim reza o salmo: Tu, porm, Iahweh, no fiques longe! Fora minha, vem socorrer-me depressa! Salva minha vida da espada, meu nico ser da pata do co! Salva-me da goela do leo, dos chifres do bfalo minha pobre vida! Vou anunciar teu nome aos meus irmos, louvar-te no meio da assemblia: Vs que temeis a Iahweh, louvai-o! Glorificai-o, descendncia toda de Jac! Temei-o, descendncia toda de Israel! Sim, pois ele no desprezou, no desdenhou a pobreza do pobre, nem lhe ocultou sua face, mas ouviu-o, quando a ele gritou. De ti vem meu louvor na grande assemblia, cumprirei meus votos frente queles que o temem. Os pobres comero e ficaro saciados, louvaro a Iahweh aqueles que o buscam: Que vosso corao viva para sempre! Todos os confins da terra se lembraro e voltaro a Iahweh; todas as famlias das naes diante dele se prostraro. Pois a Iahweh pertence a realeza: ele governa as naes. Sim, s diante dele todos os poderosos da terra se prostraro, perante ele se curvaro todos os que descem ao p; e por quem no vive mais, sua descendncia o servir e anunciar o Senhor gerao que vir, contando a sua justia ao povo que vai nascer: ele a realizou! (Sl 22, 20ss) Na Paixo do Senhor o que havia comeado aparentemente com uma splica de abandono termina com um belssimo canto de louvor a Deus. Isto Francisco tambm vivenciou, experimentou. Tudo parecia estar caminhando para um grande equvoco dentro da Ordem, mas no Alverne Francisco compreende que tudo est sob a guarda do Altssimo. Com efeito, Francisco logo em seguida recorda seu desejo no incio de seu caminho e percebe que o pedido havia sido sumamente atendido. Na Orao diante do Crucifixo de So Damio Francisco pede uma f reta, uma esperana firme e uma caridade perfeita, e no Alverne Francisco recebe Aquele ao qual as virtudes devem conduzir. Francisco recebe em seu corao o prprio Amor Encarnado que toda a nossa f e esperana. 12
E aqui novamente Francisco poderia dizer que o amargo se converteu em doura de corpo e de alma. Toda dor, angstia, amargura que Francisco possa ter vivenciado em sua vida se converte, nesse momento, na doura do encontro com o Esposo. Isso o inunda de tal modo que Francisco chega a ltima atribuio a Deus: Tu s a nossa vida eterna. Foi para isto que Francisco caminhou, viveu, sofreu, alegrou-se, chorou, sorriu, acolheu e etc., para a vida eterna que o prprio Cristo pois este o testemunho das Escrituras: Ora, a vida eterna esta: que eles te conheam a ti, o nico Deus verdadeiro , e aquele que enviaste, Jesus Cristo (Jo 17,3). O objetivo nico de Francisco a unio total com o prprio Deus; com efeito a cruz caminho e no o objetivo. A Cruz, no entanto, no a meta, caminho. No fomos feitos para a Cruz, fomos feitos para a Pscoa da Ressurreio. Na mstica da Cruz na mstica do sofrimento, da austeridade, do martrio por vezes, se esquece esta verdade. primeira vista se tem a impresso de que tambm So Francisco a esqueceu um pouco. No entanto, basta lembrar a importncia que deu alegria, basta lembrar a alegria com que viveu e que props aos seus irmos, para compreender que tambm para ele a Cruz era caminho e no meta derradeira. Basta lembrar o trnsito de So Francisco para compreender quanto estava centrado na Pscoa da Ressurreio. grande vantagem para ns, hoje, que esta verdade da relao da Cruz Pscoa foi posta novamente na devida luz e est sendo proclamada com fora. Importa que seja proclamada ainda com mais fora, vivida com mais fidelidade, sentida com mais intensidade e realizada com mais alegria. No se trata apenas duma ressurreio futura, no se trata apenas duma esperana, mas de uma realidade j presente e ativa, j realizada em nossa vida pelo mistrio do batismo. J estamos misteriosamente na Pscoa da Ressurreio. Mas ao mesmo tempo a esta nossa Pscoa da Ressurreio falta a realizao subjetiva em nossa vida: j estamos e ainda no estamos. Entre estes dois termos est o nosso caminho da Cruz. 4
Tambm So Boaventura ao meditar a experincia de Francisco no Alverne chega a semelhante concluso: Quem volta totalmente sua face para este propiciatrio e olha com f, esperana e caridade, com devoo, admirao e gozo, com venerao, louvor e jbilo, a Jesus Cristo suspenso na cruz, este celebra a Pscoa com Ele, isto a passagem (2011, p. 96) Por fim, Francisco faz uma trplice invocao: Senhor, Deus, Salvador. Francisco coloca a grandeza de Deus diante de uma profunda admirao; sua
4 KOSER, Fr. Constantino. Carta Encclica por ocasio dos 750 anos da estigmatizao de So Francisco. Acessado em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=21142 13
onipotncia em conjunto com sua misericrdia que constitui Deus como nosso nico Salvador. 4.4 DEUS, NOSSA BNO O arrebatamento do Alverne, a imerso mstica de Francisco na estigmatizao culmina num gesto belo, a Bno a um irmo necessitado. Francisco que se encontrava todo voltado para Deus, todo em Deus por isso mesmo consegue perceber a angstia e sofrimento de seu irmo. O Cristo do Crucifixo de So Damio, glorioso e radiante de luz, longe de cegar Francisco, abre seus olhos, amplia seus horizontes, torna-o sensvel como o Divino Mestre. Esta bno a Frei Leo tem sua fonte no livro dos Nmeros, na bno com a qual Aaro deveria abenoar o povo de Israel. Esta bno contm uma trplice invocao ao Senhor, na qual os Santos Padre viram uma referncia Trindade. Tal qual nos Louvores, Francisco se refere ao Senhor; Ele quem abenoa, Ele a prpria bno. Mas acrescenta o tu do irmo nesta relao, porm deixando de lado, no esquecimento, o eu. A graa que Francisco recebeu to abundante que ele necessita transmit-la a Frei Leo. Essa bno personalizada, reforada com o sinal do Tau quer comunicar a Frei Leo o amor divino; quer transmitir, neste momento de trevas em que Frei Leo se encontra, a iluminao de Deus que Francisco pediu no incio de sua converso em So Damio e recebeu em sua plenitude no Alverne.
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CONCLUSO Ao fim destas reflexes, e olhando todas as consideraes feitas vemos quo grande e inefvel Deus em seu amor. Buscou-se recolher algumas migalhas (cf. Mc 7,28) da graa divina comunicada a Francisco no Alverne, usando dos vestgios que o prprio Francisco deixou em seus Louvores e Bno. Pode-se concluir, mesmo que de modo parcial, que na experincia mstica do Alverne de Francisco h algo de ativo, talvez recordando que a palavra que seria mais recorrente para designar tal evento, contemplao, tem em si a palavra ao. Francisco se dirige ao amado no Alverne, com lgrimas e gemidos e a resposta vem no desejo mais profundo de Francisco: sentir o que Jesus sentiu na Cruz; isto s foi possvel no Alverne porque durante toda a vida Francisco buscou ter os mesmos sentimentos do Divino Mestre (cf. Fl 2,5). Esta relao de Francisco com Deus alargou de tal modo sua alma, que ele prorrompe em louvores a Deus por seus inmeros benefcios e busca comunicar este inefvel mistrio por meio de sua bno. Ao concluir seu Itinerarium Mentis in Deum So Boaventura trata que para compreender minimamento tais mistrios preciso inquirir graa e no cincia; ao desejo e no inteligncia; ao gemido da orao e no aos estudos dos livros; ao esposo e no ao mestre; a Deus e no aos homens; s trevas e no claridade (2011, p.100). Portanto, a compreenso de tal mistrio depende unicamente a quem a graa d a conhecer e dentro dessa experincia aquilo que pode ser descrito sempre estar aqum da realidade, tal como dista o cu da terra. 15
APNDICE: LOUVAI, LOUVAI AO SENHOR! Olhar para esta orao de Francisco e perceber a maturidade de vida humana e religiosa na qual ele se encontrava me questiona: Ser que estou disposto a percorrer tal busca? Ser que tenho coragem de abraar o Cristo Crucificado at os extremos desse ato? Muito me impressiona essa orao e toda as suas circunstncias, mas o que mais me constrange a felicidade com a qual Francisco percorreu este caminho. Me constrange porque muitas vezes o desanimo e as dificuldade conseguem arrancar de mim a alegria que a vida franciscana me proporciona. Isto talvez se deva a minha ambivalncia, mas me conforta em saber que a bno a Frei Leo, tambm hoje para ns um estmulo nos momentos de trevas. como se Francisco nos dissesse: Vamos adiante, eu estou contigo irmo e, mais ainda, Deus caminha conosco! Pude assim, de certo modo, rever a minha caminhada, revisitar momentos felizes de modo a perceber que em meio as trevas sempre brilha uma luz, onde habita Deus, nosso refgio e esperana. Santa Clara diz para no perdemos de vista o ponto de partida. Francisco sempre teve isto muito claro e estou buscando manter diante dos meus olhos o chamado que Deus me fez para jamais me esquecer da esperana que a Vida Envaglica nos concede e me separar do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo Nosso Senhor. Que a graa de Deus jamais me falte e que eu consiga cada vez dirigir os afetos de minha alma na direo daquele que me amou e por mim se entregou por meio de uma orao simples e pura. Enfim que se concretize cada vez mais na minha vida as palavras com as quais o Sacerdote nos despede na Santa Missa: Glorificai o Senhor com vossas vidas. Amm, Aleluia, Maranatha. 16
BIBLIOGRAFIA ESSER, Fr. Kajetan. Die Opuscula des hl.Franciskus von Assisi. 1976 Lehmann, Leonhard. Francisco, mestre de orao, Centro Franciscano de Espiritualidade, Piracicaba, 1997. BOAVENTURA, So. Itinerrio da menta para Deus. Petrpolis,RJ:Vozes 2011