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|— corecAo — ABC Do TURISMO - me EIOSYITALIDALDE .) y iT) li his Octavio de Lima Camargo SUMARIO APVCSCNEAGEO o...eeccceecceseseectsctereteeeees Introdugao 1, As leis nao escritas de um ritual. 15 2, Ua 6ticd.... eee 25 3, O interesse moderno pela hospitalidade . 37 4, Um campo de estudo....cccecccceene 49 5. As ciéncias da hospitalidade..........cccceeeeee 67 BMSderacOes findts seissassississsisisiveenieisinnes. 85 Mayenencias Gibliogrdficas exccsceserseessesscasevvsnssseavessve 91 SODVC 0 QUEOT ..seseesceseseessesseseesessesseetesteseereneesneeeenees 95 APRESENTACAO indmica e promissora, abrangente e eclética, a 4rea de Turismo surge como um verdadeiro manancial de oportunidades profissionais, exigindo de seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos técnicos © generalistas. E como estar por dentro de tantos assun- tos quando o tempo é curto e, muitas vezes, o dinheiro também? A necessidade estava ali, e do espirito inovador do amigo Marcos Mendonga, da MJ Livros — um apaixonado por livros e por turismo — nasceu a idéia pela qual lhe somos profundamente gratos: publicar uma colecdo de Utulos que tivesse por objetivo fixar conceitos e esclarecer dtividas sobre os principais tépicos da drea de uma forma rdpida, mas eficiente. Sucinta, mas interessante. Simples, mas. conclusiva. Nés demos asas a essa idéia e agora ela levanta véo com a Colegao ABC do Turismo. Em volumes com- pactos, linguagem facil e visual atraente, os estudantes de 8 © Colegéo ABC do Turismo Turismo e Hotelaria encontrarao contetidos de alta qua- lidade e informag6es atualizadas em textos elementares escritos por alguns dos mais conceituados profissionais do segmento. Nao ha nada igual no mercado. Agora é com vocé, leitor. O conhecimento esta aqui, pronto para ser absorvido com clareza, objetividade e, por que nao dizer, com muito prazer. Editora Aleph INTRODUCAO A FORCA DE UMA PALAVRA A apenas cinco anos, defrontei-me seriamente H com a questéo da hospitalidade. Digo seriamente porque, na verdade, quando trabalhei na elaboragéo de um projeto pedagégico de um curso de hotelaria, ainda em 1997, senti pela primeira vez 0 apelo do termo. Nao podia aceitar (nem posso hoje) que um curso de ba- charelado, atrelado a 4drea de humanidades, viesse a se transformar em mais uma das infinitas especializagées da administracdo. As ciéncias da gestéo trouxeram imensos beneficios para a humanidade. Estudioso do lazer, como sou, nunca me esqueco da assertiva de meu mestre Joffre Dumaze- dier: mais do que os movimentos sociais da época, mais do que a presséo dos grandes pensadores do século XIX, mais do que as lutas sangrentas dos trabalhadores, 10 ColegQo ABC do smo foram as ciéncias da gesto que libertaram o homem da escravidao do trabalho, mesmo que muitos trabalhadores (0s do topo e os da base) ainda permanecam nessa con- digo, Mesmo que este fosse 0 tinico beneficio aportado ‘ humanidade por essas ciéncias, a redugdo da jornada de trabalho de 3.500 horas do final do século xx para as atuais 1.800 horas (Brasil) ¢ 1.600 (paises desenvol- vidos) Jé seria um resultado gloriso. Pensei, entdo, & época, que a tinica safda para a ho- telaria seria vincular-se a um campo da prética social ~a vivencia dos tempos e espacos da cultura, da viagem, da ‘mudanga de paisagem, de ritmo e de estilo de vida, O da hotelaria.. por que no a hospitalidade? E 1A surgiu da minha pena (virtual) pela primeira ver a palavra hospitalidade. O que significava? Que desdobramentos 0 conceito trazia para 0 curso? Ainda nfo tinha respostas. Mas a palavra ld ficou, como que na espera de um futuro encontro, Melhor: na certeza de um futuro encontro. ‘No nosso mundo de imagens, no qual as palavras, principalmente escritas, parecem fadadas ao desapa- recimento, é bom que se tenha em mente a forga do “verbo®, mesmo além (ou aquém) de qualquer conviceao (ou veleidade) religiosa. © que hospitalidade? Quais as decorréncias de sua aceitacdo como instrumento do conhecimento cientifico? Nao sabia, Apenas sent 2% Cotgte ABC do irisme pre citar pontualmente, O texto é, pois, sintese de um percurso. Retine o essencial do que jd pensei e pesquisei sobre 0 tema, Se parece incompleto, inacabado, nada ‘mais justo, porque efetivamente 0 6. Remeto 0s leitores, pois, as obras coletivas produzidas pelo nosso grupo do mestrado.! Seu contetido est cividido em duas partes: a primeira, com trés capitulos, € dirigida a todos os interessados no tema, estudiosos ound, profisionais ou nfo. Comeca abor- dando ritual da hosptalidade e suas leis no escrtas. Em seguida, lida com os significados desse ritual, notadamente no plano ético, © terceiro aborda os principais centros de estudo da hospitalidade humana, ‘A segunda parte € ditigida aos estudiosos do assunto, Em dois capitulos fala-se do campo de estudos aberto pelo conceito e do recorte multidisciplinar necessério para esse estudo. texto resultante tem as dimensdes necessdrias um texto introdutério, até porque foi produzido para ‘uma colecdo cuja proposta é introduzir novos assuntos. Em breve, contudo, podemos e devemos esperar novas contribuigdes. Afinal, hoje oftenta mestrandos e quatorze doutores ocupam-se do assunto. Eo meu agradecimento 1, DIAS, Célia (Org). Hospitalidade: reflexdes e perspectives; DDENCKER & BUENO (Orgs). Hositalidade:cenriose oportunidades. Hospeatdade @ It poder heurstico da palavra, sua capacidade de desvendar tertitrios do conhecimento, ssa oportunidade surgiu em maio de 2001, quando fui convidado a participar de um programa de mestrado em... Hospitalidade, da Universidade Anhembi Morumbi, Finalmente! Entretanto, logo percebi que a concepezo do programa estava na mesma situaco. Apenas intufa e apostava na forca do conceito.Bibliografia? Praticamente nada! As primeiras pesquisas mostraram apenas dois con- textos de utilizacio do termo: no pensamento religioso e na propria hotelaria, No mundo académico, aparentemen- te tudo o que se conhecia era o pensamento de Jacques Derrida, mas a sua preocupagio, os migrantes, parecia cento muito distante de quem, como nés, na realidade se ocupava do turismo e da hotelaria. Na ocasifo, procurei o famoso Ensaio sobre « dédiva 0 dom, de Marcel Mauss. Dai ao pensamento do grupo de Alain Montandon, na Franca, ao texto de Lashley € Morrison (de cuja tradugéo a Editora Manole me con- fiou a revisio) e pouco a pouco comecaram a brotar as reflexes que deram origem a uma pesquisa sistemética, E se a cares aprovou a nossa proposta foi certamente porque nossas primeiras reflexes apontavam para um futuro promissor. Este livto retrata o meu esforgo particular na monta- ‘gem do referencial teérico desse programa de mestrado e também a contribuigéo dos colegas que procuro sem- Horptatiade ® 18 dirige-se, em primeiro lugar, para eles. Gostaria apenas de fazer um agradecimento particular & minha colega Célia Maria de Moraes Dias. Sua colaboracio neste traba- Iho foi decisiva, do inicio ao final (ié que, além de tudo, aceitou a incumbéncia de rever este texto). Ela sempre foi a minha maior incentivadora, Nao sei o que agrade- cer mais, se a sua generosidade ou a sua competéncia, ‘mas, a0 final, fico com ambas, j4 que apenas pessoas competentes podem ser generosas (pois sabem que as {dias nfo so como os bens materiais, que tém dono) a generosidade sem competéncia & mero exercicio de virtude. Foi muito importante, também, a validagdo do meu «esforgo por uma profissional do ramo hoteleiro de compe- téncia teérieae gerencal, a minha também colega Blizabeth ‘Wada. Suas palavras incentivadoras sempre me mostraram ‘que 0 meu esforgo de ampliar o referencial teérico dos ‘cursos de hotelaria estava no caminho certo. ‘Agradeco também aos demais colegas pelo incentivo. Esse os enuimero é porque todos eles tém um crédito por alguma idéia, algum caminho, A ordem alfabética é 0 recurso a quem nao quer cometer injustia: Ada Dencker, ‘Ant6nia Marisa Canton, Davis Gruber Sansolo, Hilério Pellzer, Lxicio Grinover, Marielys S. Bueno, Nilma Morcerf de Paula, Raul Amaral Rego, Rita Ariza da Cruz, Sénia Regina Bastos e Vladimir Améncio de Abret. © Colepte ABC do Tensme (Um agradecimento todo especial também aos meus alunos. Que serd da escola quando perceberem que aprendem mais entre eles do que com seus mestres? Se me limito a registrar 0 nome de apenas dois deles ~ Anténio Heriberto Cataléo e Flavio Souza Mascarenhas ~& porque de forma competente ajudaram-me na forma- tagio final deste texto, Mas cada pergunta feta em aula, cada observagio, cada diivida levantada por cada um deles na minha diseiplina (pretensiosamente denomi- nada Socioantropologia da Hospitalidade), todas esses aparentemente insignificantes incidentes do cotidiano docente mereceriam um destaque especial, se houvesse espago para tanto, 2 @ Coles Ne doom (Dar recebere retribuirsio também os rts deveres que le entenden como uma chave explicativa das relagdes sociais nas sociedades areaieas, O contato humano no se estabelece como uma troca, como um contrato. Comega ‘om uma dédiva que parte de alguém. A retribuigdo é ‘uma nova dédliva que implica um novo receber e retsibui, -gerando dons e contradons, num processo sem fim. [Nao deixa de ser relevante observar que a percepco dos estudiosos do tema da hospitalidade resvala inevi tavelmente (com excegio dos americanos, como se verd adiante) nese ensaio de Mauss. A nosso ver, tl aconte- ce por dois motives: em primeiro lugar, porque a quase totalidade dos fatose textos estudadas por ele de alguma forma sempre reportam ao processo de hospitalidade ‘humana, "Nao conhego quem receba que niio goste de ser recebido". A abertura deste antigo poema escandinavo & 6 primeiro dentre os muitos fatos da hospitalidade abser- ‘vados por Mauss Em segundo lugar, porque, nesse mesmo texto, a hos pitalidade ressalta de forma inequivoea como um ritual, com dois atores e o espago no qual uma marcagio precisa, no sentido teatral da palavra, se desenrola. Pressupde ~ € este 6 o fato determinante — uma continuidade. O héspede ‘numa cena converte-se em anfitr, numa segunda cena, € essa inversio de papéis prossegue sem fim. Neste sentido, a _hospitalidade € 0 ritual bésio do vinculo humano, aquele ‘que o perpetua nessa alterdncia de papéis 1. AS LEIS NAO ESCRITAS DE UM RITUAL ‘omo € por que uma pessoa oferece um presente a Ci snitr Como exter que disses aps o do ‘minio das praxes de mercado as pessoas ainda... ¢ dléem presentes? Hé alguma idéia embutida de contrato? (Ou é pratica altrusta? Questées certamente semelhantes, a esta foram o roteiro de base para Marcel Mauss no jé clssico Ensaio sobre a diva e 0 dom (1974), A dadiva nio um ato isolado, eis sua grande des- coberta, Inscreve-se num processo que compreende trés momentos que se repetem indefinidamente: dar, receber ceretribuir Como essa dindmica se instaura? Daf chegou Anovas questées: *+ qual &a regra de direito e de interesse que, nas so ciedades de tipo atrasado (sic) ou arcaico, faz com que o presente seja obrigatoriamente retibuido? + que forea ha na coisa dada que faz. com que o do- natério a retribua? Tal como a dévida que encama, a hospitalidade tam ‘bém é um fat socal total. O to de Marcel Mauss, Emile Durkneim,tnha eunhado a expresso fato social. No seu étod sociolégico, primeira egraé:"ofato socal éuma «coisa, algo delimitavl empircamente. Como fato soci total, Mauss avanga tum poco mais, referindo- sea fats, sempre delimitiveis empiricamente, mas que abarcam & totaldade da cultura, “que niosuprime o cardtr epeci- fico dos fenémenos, ue permanecem 20 mesmo tempo Juridicos, econdmicos, religiosos, e mesmo estétcos, rmorfolgicos[e que] consistena rede das inter-rlagbes funcionas etre todos estes panos"? “ratase, assim, a0 mesmo tempo, de uma realidade cempiricamente delimitavel como pritica e como valor a ser respeitado, como um coneeto descritivo de uma situagéo e como um conceito normativo, como um juieo de realidad e como um juzo de valor, como algo que é « 20 mesmo tempo como algo que deve sez. Este dever ser impliito na hosptalidade, embora nunca elevado & caegoria de lei jurdiea estaturada, continua indo © crientando formas de agir dos individuos. Dat decome a nogo de hospitaldade como um con- _Junté de leis ndo escrtas que regulam o ritual social e cua eben ao se mia aos. uss costs 5, 1. DURKHEIM, Emile. Asregras do método scoop. 94 2. MAUSS, Mare. Soap eanropolgia, p21) 18 © Colepe ABC doeriono ‘sociedades ditas arcaicas ou primitivas. Continuaram operar e até hoje se exprimem com toda forca nas soci: dades contemporiineas. Para Allain Caillé, esse fato social total é também um paradigma cientifico: ‘a superagio de uma boa parte dos impasses que embs- agam as ciéncas sodas, os debates da flosofia moral poltica e a propria vida politica, passam pelo ato de levar a sérioe por uma exploragio metédica de todas as Implicagies da descoberta efetuada por Mauss: a tipice ‘obrigagio de dar, eceber e retsibuir eonstitui o universal socioantropol6gico sobre o qual foram construidas as sociedades antgas e tadicionais? 0 dar-receber-retribuir pode permitir um melhor entendimento de fendmenos correlatos como a associa- fo, alideranca, a solidariedade humana. Este universal socioantropolégico a que se refere Caillé consiste, pois, de les nf escritas, cuja observincia coloca em marcha 0 ‘vineulo humano e cujaviolagSo remete os individuos eas sociedacles a0 campo oposto, da hostiidade. Quais so essas leis? Ao menos para efeito didético, poderfamos desmembrar a dindmica do dar-receber-re- tribuir nas seguintes leis: 3. CAILLA, Alain. Anuropologia do dom. . 9 20 © Coltgte ABC do ursmo 2*—A dadiva implica sacrificio. Oferecer uma dédiva ou hospitalidade ésacifcaralgo que e tem em favor do donatério ou do hdspede. Agradar ao héspede implica abrir mao de algo que se tem em favor dele, Esse algo pode ou no implica dspéndio de dinheiro, Pode ser apenas um cafezinho jf passado, Pode ser apenas tempo, moeda tao cara na vida moderna. anfitriéo que nos diz “Desculpe-me, mas é tudo 0 que eu tenho-para Ihe oferecer” aceita implicitamente essa lei. O sacrifici é, pois, um componente essencial da hospitalidade, 3*~ Tha dadiva traz implicito algum interesse (Quem dé algo sempre tem algum interese. Mas isso rio € tio facil de entender. Esse interesse pode ser nobre, ‘como ocorre na ajuda ao préximo em necessidade, um sentimento religioso ou simplesmente filantr6pico, ‘Mas, mesmo nesses casos, essa ago de dar é plena de ambigiidades ao longo de diferentes eixos: utilidade- sratuidade, ineresse-desinteresse, saber-desconhecer as leis subseqientes de receber e retribuir. Esse processo € ainda permeado por outra ambigtidade: o anfitriéo pergunta-se quem esté do outro lado, se 0 amigo, se 0 invasor ou o parasta;o héspede perguntase, de antemai se encontrard calor humano ou indiferenca ou interesses ‘excusos na diva recebida, i Hospaiaade 18 1+ ~A hospitalidade comeea com uma dadiva, Nem toda dédiva insere-se dentro da hospitalidade, ‘mas toda aco de hospitalidade comeca eom uma cdiva, “Recevoir, c'est donner’, explica Godbout jé no titulo de seu trabalho.* O que € ddiva? Analisemos a definigéo soctolégica proposta por Alain Caillé* “toda prestacio de servigos ou de bens efetuada sem garantia de retribuicao, « com 0 intuito de criar, manter ou reconstituir o vineulo social”. Como diretor da Revue dumavs.s‘, Caillé avan- «2, com sua definigéo, um elemento essencial da nocéo de dadiva (e de hospitalidade): mais do que portadora de signo, a dédiva é um signo. Mais do que o dom, a dédiva, ‘© que importa é o vinculo social (a ser) eriado. CConvidar alguém para it & sua casa, oferecer abrigo € comida a alguém em necessidade sto dadivas expressas por estos que se inserem dentro da din mica do dar-reeeber-re- tribuir. A déiva desencadeia o processo de hospitalidae, seja unio precedida de um convite ou de um pedido de ajuda, numa perspectiva de reforgo do vinculo socal, 4. GODBOUT, Jacques, Recevoir ‘et donne. Revue Communi. ation, p. 38. 5. CAILLE Alain, Op. itp. 142 6. MouverencAnté-Uttariste dans les Siences Sociales, Hospesidade @ 2 Essa lei no escita ndo abole o interesse, apenas exige {que ele nao se instrumentalize sob a forma de um negécio ‘que se quer fechar, ou simplesmente a troca do que se ofetece por um outro bem, principalmente o dinheiro, Néo abole gualmente a perspectiva de uma retribuicgo futura, apenas exige que se aja como se a retribuigao nao fosse necessiria, “Que gentil de ter lembrado!”. Quem no recorda esse dito ‘ao pleno de sentido de uma dona de casa que nos convida 20 receber as flores com que a regalamos? a “finalidade sem fim” de que fala Kant’ ou 0 “altra- {smo interessado” de que fala Calle, para quem grande equivoco das religides e desespero de tedlogos é buscar a dédiva sem interesse, hospi ae % he 48-0 dom deve ser recebido, aceite, Recusar um presente, uma honraria, uma lembranga 6 algo que ainda soa insultuoso mesmo em nossos dias. Nao aceitar a dédiva desencadeia 0 mecanismo oposto da hospitalidade, que é a hostilidade, palavra de mesma raiz etimol6gica. Nao ir ao encontro da méo que nos & estendida é mais do que recusaro vinculo social proposto. Significa agressao. A hostilidade é a outra face da hospitalidade. & um risco também para quem d4 como para quem recebe hos- 7. KANT, Emmanuel, nuhropoa ut pote deve prapmatiqe 8. CAILLE, Alain. Op. cit. Cap. 22 olen ABC do asm pitalidade. Afinal, lembra Caillé, iro encontro de alguém cera uma expressio contida no termo latino ad-gredior da qual resultou 0 nosso termo agressao. (ritual da hosptaldade j 6, em si, um antidoro contra a hostilidade, o que se pode traduair singelamente-n0 sor- 130 de acolhimento com o qual desarmamos alguém com. semblante pouco amigo a quem nos (0 sentido antropol6gico da etiqueta enquanto ritual de minimizagio da agressividade humana pode ser aqui sentido em toda a extensio. Estar altura dessassituagbes ‘o dominio do ritual socal. Aboa etiqueta (retiremos dessas reflexdes a nogdo de etiqueta enquanto férmula de alpinismo social ou de denotar uma condicio social supe- rior, presente em tantos mantais) proporciona as pessoas a possibilidade de manter o vinculo social. Mas pode-se dizer também que, no plano doméstico, a hospitalidade é mais fator de cimentagdo do que de esgarcamento do tecido social St~ Receber implica aceitar uma situacdo de inferioridade diante do deador. “A caracteristica principal (a hospitalidade) ¢ ser tum encontro no qual os protagonistas nao tém o mes- mo estatuto”,’ A hospitalidade & sempre assiméttica. 9. GODBOUT, Jacques. Op. tp 47. 26 Cotte ABC do Tomo Mas esse momento também traz riscos, O sacrificio, ‘mplicito na dadiva é agonistico, ou sej, insere-se dentro de um proceso competitive. Marcel Mauss dedica longas paginas & andlise do fendmeno do potlatch, vivido no seu paroxismo por tribos indigenas do noroeste do Canadé, fe que fazia com que duas tribos unidas por um vinculo, como 0 easamento de herdeiros, consumissem todas as, suas riquezas em festas que ofereciam e que eram obriga- ‘das a aceitar em retribuigéo em festas e que novamente retribuiam em eventos cada vez mais dispendiosos, a ponto de ao final dos dons e contradons estarem ambas as tribos na mais absoluta miséria Serd que ainda hoje esse riseo nao nos ronda? Quan- tas pessoas ndo gastam o que tém # 0 que nao tém para retribuir uma didiva de hospitalidade? Nao obstante, o mais importante a se ressaltar que a retribuigdo da didiva nio encerra o processo da hospitalidade humana. Ao contrério, neste sentido, a hospitalidade assume sua face mais nobre na moral humana, a de costurar, sedimentar e vivificar 0 tecido social e colocar em marcha esse processo sem fim que alimenta 0 vinculo humano, Hosptatade @ 23 Receber algo de presente resulta na consciéncia de uma situagéo clara de desvantagem, Quem recebe a dédiva deve manifestar alegria mesmo sentindo que assume ‘um débito para com aquele que doou. © donatéio fica a mercé do doador, Por isso, esse ato de receber nao 6 tdo simples e tantas dadivas séo, as vezes, recusadas. A dédiva traz implicito um débito. Tudo se passa como se o donatdrio recusasse niio a dédiva, mas a divida, a obrigagdo de retribuir im- plicita no gesto de receber. A tradicional férmula com que casais se despedem de uma ceriménia de hospitalidade, seja um jantar, seja ‘uma simples visita (‘na préxima vez, esperamos vooés em nossa casa”) demonstra que a tinica forma de livrar-se desse débito 6... retribuir. 6 Quem recebe, deve retribuir Retribuir é reinstaurar o dom, a davida. F reinstaurar © sacrificio, criar uma nova dédiva. Quando Edmundo Dantés, 0 protagonista do romance O Conde de Mon- fe Cristo, de Alexandre Dumas, nio aceita sequer um copo ddgua na casa do entao Conde de Morcerf (na verdade Fernando Mondego, o seu rival que o enviou a prisdio), deixa claro ao leitor que a aceitagdo da davida implicaria uma retribuigao de outra dadiva. Ele quer vinganga, apenas. Nao pode, assim, aceitar a hospitali- dade do seu inimigo. 2. UMA ETICA termo hospitalidade ¢ pleno de ambigiidades. A busea de um entendimento unfvoco do termo, comum as diferentes acepedes em que ¢ tomado e ‘que permita o enunciado de um conceito é, assim, cheia de armadilhas. Hospitalidade evoca a idéia de algo desejével, mas um tanto fora de moda: algo como uma atitude posiiva em ‘qualquer eéeigo ético, mas que, nas prateleiras do nosso Imagindvo, parece estar relegada a lado dos anigos livros de boas maneiras. Ha, assim, sempre um tom nostgieo que perpassa a compreenséo do termo, mas essa nostalgia apenas nos desvelao sentimento de pesar por sua perda. Assim, mais do que uma realidade observivel, hospitai- dade soa como algo que se perdeu, Serve as geracdes mais amtigas como um signo da decadéncia das novas ou do esgaryamento do vineulo social nas grandes cidades, em expressées como “hoje os ovens nem sabem conversa” 0 “a gente nem mais conhece os vizinhes". 26 cateotonte do re Escas expresses, jd analizadas, so, no entanto, portadoras de sentido. Nao hi como deixar de notar que a sociedade secularizada pés-revoluglo Industrial nao sabe 0 que fazer com os rituals herdados do passado, em especial com os rituais da hospitalidade. (© que as pessoas talver nao salbam, contudo, & que esse € um discurso que se repete de geragio em gera- cio desde a mais remota antiguidade. Quando Ulisse, fem stia penosa odisséia, achegava-se a tum novo porto, perguntando se ira ser objeto de hospitalidade ou de hhostlidade, ou quando os anjos biblicos recompensaram ‘genctosamente Abra pelo barquete que thes foi ofere- ‘ido com a gravidee tardla de sua mulher Sara, estavam implicitamente afirmando que a hospitalidade jé nd era a regra do convivio humano. Como entender a continuidsde ¢ permanéncia do situal da hospitalidade com suas leis nfo escritas? Como cexplicar essa nostalgia? Em algum momento da aventura ‘humana no planeta, a hospitalidade foi regra? Se os estudos de paleoetnologia! permitem alguma ilagio, € de se supor que ao final do paleolitico superior (antes, pois, de 8.000 a.C.) a entio reduzida populagso da Terra, nfo superior ao millo de pessoas, jé espalha- 1. Agu entendia come o extudo de poplagbespréiteieas ‘ou mesmo de povon ai que, no ni do seul, ainda se man- ‘Sham no eta de coeta e358. 28 © calpteate de etme (Osestudos do historiador Leroi-Gourhar e do etologia Konrad Lorenz! trazem uma reflexio complementar de grande valia para a compreensio do componente nos- télgico implicito na nogo corrente de hospitaidade. AS necessidades da agricultura e da pecusria durante 0 neo- litico (entre 8.000 e 3.500 a.C.) multipicaram oito veres ‘apopulagio do planeta. Nos sitios em que tal fendmeno se desenrolava, os pequenos grupos transformaramse pouco 1 pouco em cidades, determinando 0 inicio da histéria da civilizagao® e tomando problemético o contato entre grupos humanos.* Tal como também acontece entre os animais gregérios, a disputa pelo territério determina 0 inicio da agressio intra-especifiea, aquela que acontece entre seres de uma mesma espécie. Teritorium est terra plus terror, como bem nos lembra Montandon.? Com os silos de cereaiserebanhos a defender, o homem passou a set lobo do homem, explorando-o como mlo-de-obra ou. colgcando-o na condigdo de inimigo eventual ou real LEROLGOURHAN, Ande. 0 geo ea plea LORENZ, Konrad Os oo peas moras hoe liza. ‘No cust ember que cz vem do tin i (ad). 6. E nese sentido que se deve entender 0 guasedesabafo de oarad Lorena: € posse se hospital com one sons; il sto para com sels bites (Op ke. . 1). 7. MONTANDON, Asn Hospildade' cman ehoe. I: DENGKER & BUENO (Org). Hoptalidade: endo e oportunidad. p 133 SESSEEESEE IEEE eeee trees coon eee seen seen ss eeeseeee te ‘da em pequenos grupos por todo o territério do planeta hhoje habitado, era marcada pela intensa expectativa de ‘encontrar, receber e conhecer outros seres humanos € ‘quando tal fato se sucedia, o regorijo era ritualizado pelo sacrificio de bens diversos, ritual que, ao deixar de povoar ‘© pequeno universo sociolégico entio existente,passou a se chamar hospitalidade (Que fatos tio importantes teriam acontecido em seguda e promovido tal desarranjo da percepsao que fs seres humanos tinham de si mesmos, a ponto de a palavra hospitalidade ter aparecido simultaneamen- te, com 0 seu verso, de mesma origem etimolégica, a hostilidade? A explicagio mais conhecida 6a que permeia a quase totalidade da obra marxiana: a assertiva do determinis- ‘mo do meio de produgio sobre 0 modelo de Sociedade € sobre a cultura. Sem duivida, tal assertiva, abusivamente estendida para contextos sociais mais complexos, tem aul ‘sua evidéncia plena: a passagem do sistema coleta/eaca, «do paleolitico para o sistema agricultura/pecuéria do ne- olltico traz consigo a divisio social perversa do trabalho, a explorasio do homem pelo homem e o conflito/luta de classes? 2. MARX, Karl. Manure condos eos teas scotia. osptaidate © Nesse sentido, o Génesis da Biblia € quase um relato histérico, Ado e Eva expulsos do paraiso por terem comido do fruto da drvore do conhecimento ¢ assim presuncosamente terem roubado a prerrogative divina da criagéo; o primeiro agricultor Caim matando o pri- ‘meiro pastor Abel ~ numa clara referéncia aos primeiros confitos pelo uso do espaco que se estabeleceram entre as duas formas de produco ~ e fundando a primeira cidade, eis um relato curto que recobre cinco milénios dda nossa pré-histéria, ‘Nunca saberemos ao cert seas comunidades coletoras « cagadoras foram efetivamente a representagio dese paraiso que se perdeu. Leoi-Gourhan, contudo, éincisivo neste ponto de sua reflex: na passagem peas sociedades agriols, esta tendéncia lementar dos povosprimitivs (a agressioresulkando apenas na aquisicio alimenta) sofreu uma aparente distor (.] uma sue assimilagio entre a cca seu dup, a guerra De qualquer forma, a nostalgia da solidariedade que se imaginava ter existido em uma época na qual nin- ‘guém acumulava mais do que os seus poucos pertences deve ter adocado as lembrancas ¢fermentado os relatos 8, LEROLGOURHAN, Ant. Op cp. 16, corais que chegaram aos primeiros escritores dos séculos we wa. (data dos escritos de Homero e Hesfodo na, Grécia e dos primeiros escritos biblicos). Esses textos alam de uma humanidade arrogante e insensata que ‘rocou a felicidade (0 paraiso) pelo roubo dos segredos dos deuses (do fogo por Prometeu ¢ do fruto da drvore do conhecimento por Ado) e que por isso fol castigada, com a perda do paraiso.” ‘A nostalgia da hosptalidade ¢, pois, também, a nos- talgia de uma inocéneia perdida e, nio por acaso, 0 uso dla expresso hospitalidade soa, para mutes, como algo Infant, proptio de povos ingénuos e de seres que ainda no contam com a autoconfianca necessria para enfrentar ‘um mundo doravante hostl, Aqui, também, a ontogénese repete @ filogénese. Da mesma forma, como o mundo foi se tornando desconfiado e cruel e 0s povos inventaram. instituigbese priticas para conviver nesse melo, a historia, da vida do individu também é 0 progressivo abandono da, ingenuidade que em tudo acredita em favor de uma atitude Rane, 7. UERO, Danza, Na sala com Danae. Hoptaidate © 57 direito de i-e-vir. 0 estudo dessa dimensio reclama 0 ‘concurso das ciéncias do urbanismo. Uma cidade tem seus rituals de recepgao, sendo asinalizaglo viria ¢ o uso do solo os principals cbdigos. Uma cidade que se 2 rapida- ‘mente é mais acolhedora do que uma cidade que se furra mpiedosamente ao olhare a0 passeio do vistante. 0s costumes e tradigdes locais (em especial, a espe cifcidade de lingua e de acento lingistico) so elementos ‘importantes dessa dimenséo da hospitalidade. A hospitali- dade vitual da cidade é outro campo de preocupagio, assim como a educago dos indviduos para a hospitalidade. Esta categoria da hosptalidade exige também um exa- re ertico dos atuais modelos de Plano de Desenvolvimento ‘Turstico, sob a dtica dos moradores da cidade que recebe ‘eno da cidade-destino, 0 RECEBER COMERCIAL b Ext ¢0 momento do esudo da dferenciagoente 0 hospitaliro,aquele que recebe por prazere “sates 0 héspede, modelo pico das sokedades pés industria, e o anfitio prfissional, pico das socedades modemnas ‘¢ péemaemas, que nfo necesariamente recebe por razer, mas Segue as leis de saisfagio do héspede. Os rmanais de hotlria dedicam longes captaios beep, nas, sm dvida, os profsionais da dea teiam muito a ganar com a compreensio dos signficados mais pro- fundos da erqueta. ff 55 © colsoazc coin A hospitalidade remunerada equaliza psicologica- mente o estatuto da telacdo anfitriéo-héspede? # uma questdo diffe, pois se, de um lado, na hospitalidade profissional, o hdspede exige, pois, afinal, ele é0 clien- te, que, segundo as praxes da qualidade, € 0 centro, 0 principio e o fim do processo, da outre lado, no ha ‘como entender a permanéncia do hdbito da gorieta sem. supor a permanéneia desse estatuto de superioridade do anfitriao. O RECEBER VIRTUAL ‘As pessoas chegam e vio de nossas vidas tanto pre sencial como virtualmente (telefone, e-mail, ete). A inter-relagao pessoal mediada eletonicamente (celulares e-mails) suscita também uma cada vez mais necesséria “netiqueta”. Por outro lado, a midiologia aplicada A hospitalidade tem aqui seu terreno férti de estudo:folhetos,cartazes, folderes e a cada vez mais onipresente internet com A HOSPEDAGEM DOMESTICA Proporcionar abrigo e seguranga ao héspede € um longo capitulo das diferentes dimensoes da hosptalidade. Alguns temas emergem: a tersitoralizagio do héspede, ‘5 normas da generosidade, o estético como estratégia 60 cote ABE de ems ‘centro de uma aldeia africana ou de um lugarejo qualquer do ainda enorme mundo rural brasileiro, junto com valo- res e mercadorias chegam estilos de vida glamourizados, que fazem sonhar adolescentes e jovens que se lancamm a aventuras enormes para ter acesso a esses mundos. Ain- da se vive (sobretudo as diretas potticas, em especial a ‘europeia) a ilusdo de manter apenas um dos luxos, odas mercadoriase valores... A problemtica da violéncia urbana, fagelo da hospi talidade, também merece uma reflexdo distante da reagio histérica da midia.” A HOSPEDAGEM COMERCIAL Aqui € 0 dominio dos recintos em que esse abrigo & seguranga a0 héspede so proporcionados com base na remuneragiio do servigo. Esta € 2 4rea em que se impée ‘ estudo dos meios de hospedagem em geral, como ho- tis, hospitals, resorts terrestres ou flutuantes (cruzeiros Aviais e martimos), ete. A HOSPEDAGEM VIRTUAL, © espago virtual privado ou publica? © estatuto é importante notadamente quando Estados se julgam no 11, BURKE, Peter. ae da comer oe de integragio, 0 héspede ¢ a vida em familia, a virtude a hospitalidade. Uma tipologia de anftrdes e héspedes também pode seruma rea de estudos nesta dimensio, como foi tentado Por Lashley e Morrison®. ‘A HOSPEDAGEM PUBLICA © iéspede que chega a uma cidade, antes de ter 0 abrigo de um hotel ou de casa de parente/amigo, tem © abrigo da cidade. Centros de Informacio,albergues para, {quem nfo dispée de outro abrigo terminais de transporte ‘como recurso para uma noite s80 temas que se impéem nesta dimensio, Adimensto pablica da hospedagem é também politica afeta tanto uma destinagio turistica qualquer, como ‘uma eidade e um pais, Essa hospitalidade incondicional, de que fala Derrida, € um dos desafios do milénio da slobalizagio. J nfo ha mais ingénuos que acreditem. que esse processo pode ser unilateral - 0 de transferir :mereadoriase valores (e valores como meteadorias) dos ‘centros mais cesenvolvides para os mais periféricos. Do 10, Osatoresfelam de ospallade pads, soda comer, ‘as nos mesmes sentidos que ebuines 2s instndas domain, ble prfsiona. Borpeastees @ 61 direito de imerferi nas comunicacées viruais,seja por ‘motivo de prevengéo do terrorismo ou da moral A partir do momento em que uma autoridade publica {..1 s¢ outorga ou se reconhece com o dizeco de con- twos, de supervisionar, de proibir os intercAmbios que os ncecambiantesjulgam prvados[..] todo e qualquer elemento da hospitaldade fica subverido.” ‘A hospedagem de sites, os direitos e deveres a isso relacionados, sio também tema da hospedagem virtual. © ALIMENTAR DOMESTICO (© momento de receber em casa para uma refeigio altera as rotinas de uma casa e coloca em relevo a ne cessidade de estudo dos rtuais de asseioe higiene, bem como das diferentes culindias. ‘Acallndria pode ser entendida como a tonalidade local ‘de um movimento homogéneo de todos os povos que é ‘oda concliagao de exigéncias e expectativas prévias do ‘olbar, do palada e do olfato com as matérias primas ¢ 0 Inow-how de tansformagio disponivel. Numa refeicio ‘lissica, por exempl, iniciase com os dcdos, passa-se 12, DERRIDA, Jacques. A hospalidade ¢ as novasteonolgis, oral de Bras, 2jun. 2001, (2 © camptoase go toios ao salgado ¢ termina-se com o doce.* Todas as variagbes ‘que conciliem essa premissa com alteragdes capazes de satisfazer ao héspede sto parte da culinéria local 0 ALIMENTAR PUBLICO ‘Uma culinéria consoldada localmenteeria um padréo gastrondmico. 0 estudo da gastronomia em hospitaidade ‘eve fugir das limitagbes dos estuds de nutrigéo —aten- tos basicamente& alimentatio adequada, bem como dos estudos de gastronomia - que buseam a estética alimen tar, buscando uma dimensio nova e importantissima, da refeigao como comunicagio e socialidade humanas. essa forma, 0 alimentar piblico envolve a fre- ‘qiéncia a terminais atacadistas de alimentos, feiras livres, ete., que sempre criam fluxos de individuos interessados em sentir-se sociais também pela forma de se alimentar, Por esse mesmo motivo, hi que se colocar em xeque © progressive isolamento do inividuo que se alimenta 13, LEROL-COURHAN, Andeé.O get € a pur; BRILAT SSAVARIN, Jean Andel, Afllga do gate, AMAT, Jean-Marie VINCENT, Jean-Diler. our une eee pidge dg. 14. MAFFESOLL Micel Mes, epg de comune: DIAS, (ala (Org) Hoptaldade:elesbes perspectis,p.121-136. 66 cagto ase aero O ENTRETER DOMESTICO Festas de aniversério, de casamento, de batizado sio "ituais domeésticos ou que se realizam em ambientes que constituem extensiio de espacos domésticas, como sabes, de festas, butts, etc, © estudo desses novos rituals e dos significados socio- légios e psicoldgicos que desvelam deve necessariamente ineluir 0 rico campo da comunicacéo interpessoal que se Drocessa na conversacio. Nao ¢ por acaso que recentemente 0s historiadores da cultura™ passaram a estudar a arte da conversagio, que parece desaparecida com a intensa presenga dos meios de comunicagio de massa © aspecto lidico da “inalidade sem fim" presente ‘na conversagao é, sem divida, um ingrediente importante ® pouco estudado do lazer cotidiano e da hospitalidade formal e informal, O ENTRETER PUBLICO ste item remete diretamente aos equipamentos urbanos de lazer e de eventos e és respectivas politicas 15. MILLON, Alan. art det coneaation; BURKE, Fetes. Op. «le; BLAS, Norbert. procs ila: uma stra dos oxtumes {ZELDIN, Theodore. Camera, 16, KANT, Hnmanvel Antropol‘ pant dee pragma, orptatate @ 8 sozinho ou o individuo que se alimenta trabalhando. As cléncias da hospitalidade devem se perguntar sobre © significado da progressiva destruiclo dos rituais do bem ‘comer associados ao bem viver, © ALIMENTAR PROFISSIONAL ize habitualmente que um padio gastronémico se instala em decerminade lugar quando a qualidade da alimentago fornecida em ambientes profisionais (res- ‘taurantes) & de qualidade superior Aquela que se realiza em ambientes domésticos ou quando as cozinhelras sao substltufdas pelos chef. 0 estudo dessa passagem, do ponto de vista sociol6- sico — quando sair de casa para comer tomase um ritual {de visibilidade social, econdmico ~ deve de alguma forma incorporar a preecupagio com 0 mercado de trabalho de restauracio e a transformagéo de antigas ocupagées Servis slamourizadas e remuneradas sob as denominagbes de mares, hostess, ches, ete © ALIMENTAR VIRTUAL AA gastronomia virtual, programas e sites que tratam aalimentagio associada ao exercicio, as orientagées que assumem, integram as preocupagbes deste campo. Hospacitase ‘urbanas, Aqui mais uma ver se ressalta a importincia de parques e areas livres, centros culturais, eentros es: portivos, museus, clubes recreativos, etc, menos para ‘0 desfrute turstico e mais para a qualidade de vida da populagio residente. No caso dos eventos, hi que se consideréslos dentro de uma contextualizagao hist6rica capaz de retitar os es: tudos da exclusiva 6rbita operacional ede gestao na qual esto confinados, com a contribuicio de autores como Duvignaud”, Cox" ¢ entre outros. O ENTRETER PROFISSIONAL Este item remete aos servigas pagos de entreteni- ‘mento, com um destaque especial para o lazer noturno f todas as questdes que este envolve, Nao se diga aqui que as questées sfo apenas operacionais, do tipo “como animar bares?” ou “qual aprogramagéo notuma adequada, ‘uma cidade?” entretér profissional remetea questdes que precisam, ser resgatadas dos cestos de lio em que sao jogadas por falta de interesse ou coragem de abordé-as. O entrete nimento tra & luz algo até hoje rotulado mais ou menos ‘como uma patologia da hosplealidade, E, da mesma forma, 17, DUVIGNAUD, Jean, Fst clean 18, COX, Harvey. A fst do fos, 66 © alee AB doTesme como 0 estudo da hospitalidade nfo pode deixar de estudar ‘ fenémeno da “sorta”, nao pode deixar de relletr sobre as relagbes entre sexo e hospitalidade, hospitalidade e dro- gas, Nao temo direito ao menos de exclu de sua pauta os ‘modemnos formatos hoteleiros da prdtica da prostiuigéo. O ENTRETER VIRTUAL Do século xx aos dias atuas, iniciou-se e desenvolveu- se 0 entretenimento virtual: dos primeiros romances aos folhetins dos jornais, passando pelo ridio, pela televisio, pelos games, pela internet, hoje o entretenimento virtual 0 campo mais poderoso do lazer, do ponto de vista econémico, Envolve, aproximadamente, mais de 40% da totalidade do tempo livre dos individuos, ‘As implicagGes do fato sto relevantes para a hospita- lidade em geral, na medida em que tanto os profissionais do lazer urbano, como do turismo, da hotelaria ou dos eventos lutam exatamente para tirar 0 individuo do casu- lo doméstico onde, em maior grau, este entretenimento miditico 0 prende. 68 © caegte a Go etme J ésobejamenteestudada a circunstincia ideol6gica que presidiw& énfase hoje atribufda pelos 6rgios educacionais, centrais do Pais aos campos aplicados do conhecimento ‘em detrimento das ciéncias puras, sobretud das ci sociais humanas-*Jé se conhece o sufieiemte, sem neces- sidade de nisso insist, o significado ideolégico de uma universidade mais préxima co mercado e mais distante da reflexdo especulativa. Essa énfase na ciénciaaplicada, de infcio assentada na légica de controle politico pela loin esatura gual se negra a superstar (isis pl case juris), expresso do modo de produto. A ideolgia nunca verdadero sede lic on ontbiic, E sempre fala (sn conseitc’. Condo, pode ser progress ou esconri Seen representa oalidade das foresprodutvs, ua deol proses sha, Se mantén as relates de dominagio, reacionéria(GRAMITZ, M. Méthode des sciences sociales. In: DGOTMAN, Ane, Lest de hospi sa sus ondemanes sce de Pct de Cue. 120-121). Fntenda-se agi ecg, no seu tendo flosfco mae clement, como a vio doreda provoeada pla posgio especial, do agente no campo decisive seusinereses,Ivocandooconteto ieotaco estamos 0 mesmo tempo perguntand: quem ners a decito? 2 CAMARGO, Laz 0. L. Nows tecnologia de eomuicaic emocraci ultra o eologin dt maderiagSo? In: FADUL, Ana ‘Maria (Org). Novae tcnlois de onsale: mpttes poles, cura Socioesntmios: DEMO, Pro. equ ¢ cnr de ‘onhedineta: metodlogacetfin no camino de Haden. 5. AS CIENCIAS DA HOSPITALIDADE arece inegével que a explosio meteérica de cursos ligados aos diversos ramos aplicados da ciéncia, nos campos, entre outros, da saide (medicina, enferma- gem, terapia ocupacional, nutrigdo, dietética, fisicultura, etc), da educagio (educagio fisica, educagdo artstca, ceducagio ambiental, et.), da administragdo de empresas (bancéria, escolar, ete), fi determinada nao apenas pela importdnciacienifea dos novos conhecimentos, mas tam- ‘bém porque um context ieol6gio! adequado favoreceu, ‘estimulou e utilizou esses novos conhecimentos presu- midos ou reais segundo sua prépria lei thes conferiu seu prestigio. ‘No pensemento marsista, a kdeologia € ums concepyio da gee, portato, um strato da speresrtia, As freasproduivas| mais © mode de produgi (a estrwtura socal, @organizacao da pro- Priedads, fangs soca, Ita de lasses) consttuem 3 chamsda Hosptaidate #08 ditadara militar que se implanton no Brasil na écada de 1960 ~ para a qual as cdncas pura come a socologia, a antropologiae itria exam fntes de valores de cones- tagio so regime que se implantava~ posteriormente reve orespalde de um modelo de desenvolvimento econémico aque necesstava de apoio da Universidade para o seu in- cremento, A ideologia pote, assim, sucedeuaideolonia econémic, ao menos no primero plano da andi, que para muitos anlisasambasesveram sempre juntas. ‘lds, ign se que este fendmenoacompanhaopréprio nascimento das diferentes ciéncias. A Economia firmou-se como ciéncia apenas depois que a sociedade refutou as nor- ‘masdeinbigSo do ler e do capital presenes no coragio do sistema escostico. Se a Histria forse organizando nos panos de estudo do ensino primar, secundéro ou ners como dscpinaacadémice, no foi somente em fungao de motivos cientificos, mas em fungio da dialé- tica ideokégica dos Estados nacionais frente a Igreja.e dos Estados nacionats ents. Este trajto apices integralmente aquilo que se observa a longo do desenvolvimento dos curses ligados so entreteimento,Emblematicamentesurgidos em 1968, ‘95 cursos de comunicagio (jornalismo, editoracao, biblio- teconomia, rio, te, publcdede, cinema, eat, et) respondiam nio apenas ao conftsestdants ocordes em tomo das faculdades de filosfi ciéncis ocnis da st como ao desabrochar da economia da comunicacG0 70 © caste A fo Brame de massa no Pais, agora em escala industria’, que pos- teriormente diversificou-se agregando as éreas de lazer, turismo e hotearia, A cada novo desdobramento, a cada disiplina que se instala, a mesma dindmica se intaura. A nova discplina a ciéncia aplicada passa a ter, também, uma ago ideo- Jegica propria. Tem que disputar terreno com as demas; ‘mais ainda, somente pode erescer reivindieando parte dos ‘campos e dos objetos de estudio que vinham sendo eul- rados por dsciplinas jé estabelecidas e, nesse sentido, rio apenas deve dstinguir-se e emancipar-se delas ~ dai © novo nome ~ como também tentaré submett-as. Tl 3. Cabeaqu una explo sobre as regs ente a campos ‘dacomtnicagoe do eurctniment, Oz egress ds execs com neato (sbremo es Joma) sentemse poue a vonage quad catalogads dentro do campo do etreteniment, Fariam menos emnstangidot se eonfomsder& edi de que oar das pesos ‘nnn quae tala vivid der ds casas eden das eae, meade dee tempo de lazer é censor mck de comming de massa em ger (rio, pla, jot, eis, "umes™ leaks, ee) Jv @ oprtnide de me deter mas longemene eta ane (Camargo, LOL dus parao tase p. 132189). Bn crc, sind, entender melhor poe scons de ame, lazer hotell surpem nos deparamentoe de comunieaio das Unt ‘esade, mis até meso do que nos depetamentos de ais 0, como eriago dentro de ea meradegis onda ea come srs Men dentro da gtnese dos problemas Gobet ole 12 coe ate do ems no acontece como uma forma de acumular saber aos saberes tradicionais, mas quase sempre como ruptura.® A Economia teve de abrir caminho em conflito com a moral, {que pretendia pér limites nas leis do luero do capita, ‘em fungéo da nova situagio dos Estados colonialistas; 42 Sociologia desvinculou-se da Filosofia; a Pricologia ‘opés-se & Teologia e a Filosofia; a Histérla entrou em ccompeticio ndo somente com a Histéria da Igreja, mas também com a Sociologia, ‘No campo das ciéncias aplicadas, a ruptura é secun- dria, parecendo mais evidente a dispata encarnigada pelo espaco de agi e pela importéncia no contexto aca- démico. A hospitalidade, a recém-chegada 20 universo das ciéncias aplicadas, repete a mesma saga das lutas anteriores de competigo com outras diseiplinas pela conguista de status como instituigio académica com ireito proprio (denominagho, financiamento, cétedras, ddepartamentos, hordrios nos planos de ensino). Natu ralmente, as diseiplinas mais préximas tm toda razio em temer que essa nova disciplina invada abusivamente as suas prdptias searas tentando abocanhar um naco de problemas cientifieos e (0 que 6 mais importante) de espago académico, A prépria reflexdo aqui entabulada pode ser eolocada nessa perspectiva, [5 GRAWITZ, Madeleine. Méthodes ds seas sas. p92 € 0 inicio do processo que desemboca na tentativa de ‘imperialismo» de tanta diseiplinas pariculares novaste ‘que é0 prinlpioativo dos smos correspondentes (sociolo-

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