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1. O documento discute as formações imaginárias que determinam as interações entre alunos e professores em salas de aula.
2. Foi aplicado um questionário para alunos com baixo nível de proficiência em língua materna para investigar como suas percepções sobre si mesmos, os professores e o conhecimento escolar afetam seu discurso.
3. As respostas indicaram que as imagens construídas sobre esses fatores influenciam fortemente as ações e palavras dos alunos no contexto escolar.
1. O documento discute as formações imaginárias que determinam as interações entre alunos e professores em salas de aula.
2. Foi aplicado um questionário para alunos com baixo nível de proficiência em língua materna para investigar como suas percepções sobre si mesmos, os professores e o conhecimento escolar afetam seu discurso.
3. As respostas indicaram que as imagens construídas sobre esses fatores influenciam fortemente as ações e palavras dos alunos no contexto escolar.
1. O documento discute as formações imaginárias que determinam as interações entre alunos e professores em salas de aula.
2. Foi aplicado um questionário para alunos com baixo nível de proficiência em língua materna para investigar como suas percepções sobre si mesmos, os professores e o conhecimento escolar afetam seu discurso.
3. As respostas indicaram que as imagens construídas sobre esses fatores influenciam fortemente as ações e palavras dos alunos no contexto escolar.
AS FORMAES IMAGINRIAS EM INTERAES NAS SALAS DE AULA
1
Fabiana Cristina Teixeira de Toledo FERNANDES 2
Secretaria Municipal de Educao de So Jos dos Campos/ Secretaria Estadual de Educao do Estado de So Paulo
Resumo Esta pesquisa aborda o imaginrio discursivo (Pcheux, 1969), pertinente Anlise do Discurso de linha francesa, bem como anlise do corpus constitudo a partir de um questionrio que verificou a representao que os sujeitos envolvidos no trabalho tm de conhecimento escolar, funcionalidade desse conhecimento e interaes sociais ocorridas em sala de aula. Sujeitos esses que esto inscritos no ltimo ano do Ensino Fundamental e que apresentaram nvel zero em um teste de proficincia em lngua materna. Por meio da anlise do questionrio aplicado a esses alunos, verificou-se que o imaginrio afeta as aes e os dizeres de sujeitos no processo de elaborao discursiva.
O presente texto reflete sobre as formaes imaginrias que determinam os dizeres de alunos que no apresentam proficincia em lngua materna. Esses dizeres podem enunciar as possveis causas dessa deficincia. Na sala de aula, so estabelecidas relaes entre professores, alunos e referente conhecimento advindo da escola que deve ser apreendido pelos alunos e transmitido pelos professores. Portanto, a imagem que esses alunos fazem de si, do interlocutor e do referente intervm nas condies de produo de seu discurso, uma vez
1 Pesquisa orientada pela Professora Doutora Elzira Yoko Uyeno. 2 Mestre em Lingstica Aplicada pela Universidade de Taubat. 2 que as projees dos lugares sociais ocupados pelos sujeitos condicionam suas atitudes e seu discurso (Pcheux, 1969). Para dar conta de atingir o objetivo da pesquisa investigar a formao imaginria que condiciona o processo de elaborao discursiva, no que tange s interaes em sala de aula, ao conhecimento escolar e funcionalidade desse conhecimento, foi aplicado um questionrio por meio do qual possvel detectar a subjetividade dos sujeitos.
2 Formaes imaginrias nas interaes em sala de aula
O sujeito atribui imagens do destinatrio, do referente e de si. Essas imagens condicionam o processo de elaborao discursiva, as quais remetem a mecanismos de funcionamento da linguagem: relaes de sentido, relao de fora e antecipao condicionados pelas formaes imaginrias (Pcheux,1969). A relao de sentido postula que no h discurso original - todo discurso faz parte de um processo: determinado por dizeres prvios e aponta para dizeres no ditos. No mecanismo da antecipao, o sujeito coloca-se no lugar do destinatrio e, dessa maneira, pode prever o efeito de suas palavras. O locutor regula seu discurso conforme os efeitos que tenciona reproduzir no interlocutor (Orlandi, 2005). Na relao de foras, o sentido das palavras regulado de acordo com o lugar social ocupado pelo sujeito-falante (Orlandi, op cit.). Nessa perspectiva, a posio social ocupada pelo sujeito falante inerente ao seu dizer. Certos dizeres dominam outros dizeres, segundo a representao que se faz do lugar social ocupado por aquele que enuncia variao de dominncia das palavras (Pcheux, 1969/1993). A partir dos mecanismos de funcionamento da linguagem, pode-se concluir que no so os lugares empricos, ocupados pelos sujeitos, que determinam os dizeres, mas a representao que o sujeito faz de si, do outro, do outro em relao a si e do referente. Portanto, o sujeito, quando enuncia, mobiliza um funcionamento discursivo, que remete s formaes imaginrias. A representao que o sujeito faz desse interlocutor direciona a produo de seu discurso (Orlandi, 2005). Na instituio escolar, a interao entre professor e aluno se faz segundo o que o locutor (A) imagina quem seja o interlocutor (B); o interlocutor (B) imagina quem 3 seja o interlocutor (A) e o que ambos, locutor (A) e interlocutor (B) imaginam o que seja o objeto de interao, o referente (R). Transportando para uma situao de sala de aula, os protagonistas da relao pedaggica reproduzem dizeres, cuja origem se acha perdida e so constitutivos de uma memria discursiva. Assim, o que se observa na sala de aula uma interao determinada por um jogo imaginrio (Uyeno,1995), segundo o qual professores e alunos reproduzem as aes e os dizeres prprios da ocupao desses lugares. Segundo esse jogo, cabe ao professor (A), enquanto aquele que sabe, ensinar a disciplina (R) ao aluno (B), enquanto aquele que no sabe. Mais especificamente, os dizeres e as aes do professor (A) se fazem segundo o que ele imagina que seja ele mesmo; professor AI(A); o que seja aluno B AI(B) e o que seja o referente AI(R). Os dizeres e as aes do aluno, por sua vez, fazem-se segundo o que ele imagina o que seja ele mesmo (aluno) BI(B), o que seja professor A BI(A) e o que seja o referente AI(R). Nesta seo da pesquisa, transpe-se o esquema de Uyeno (1995) para as interaes em sala de aula em relao ao imaginrio discursivo do aluno analfabeto ou iletrado em relao ao referente: conhecimento escolar leitura e escrita. Considerando as imagens construdas pelo aluno sobre si mesmo, sobre o referente importncia da escola e sobre o discurso dos pais em relao importncia da escola, h que se considerar os outros desdobramentos da escola - conhecimento escolar: alfabetizao (leitura e escrita).
A) IMAGENS CONSTRUDAS PELO ALUNO ANALFABETO OU ILETRADO - CONHECIMENTO ESCOLAR E PROGRESSO CONTINUADA
1) A imagem que A faz de si mesmo: IA(A) 2) A imagem que A faz do referente 3 : IA(R) 3) A imagem que A faz de si que faz do referente: IA(A(R)) 4) A imagem que A faz que B 4 faz do referente: IA(B(R)) 5) A imagem que A faz que B faz que A faz do referente: IA(B(A(R))).
. As interaes em sala de aula, bem como atitude dos alunos em relao aos conhecimentos escolares decorrem das relaes imaginrias, ou seja, das imagens que o aluno tem de si, dos professores e do conhecimento advindo da escola, bem como do sistema de ensino.
3 Configurao do corpus da pesquisa e perfil dos alunos participantes
O funcionamento discursivo das enunciaes dos alunos participantes em relao s imagens que se processam nas interaes em sala de aula ocorreu por meio de um questionrio, cujas respostas foram coletadas s seguintes perguntas: 1) O que voc acha das pessoas que no sabem ler nem escrever? 2) Em que medida o que voc estudou auxilia sua vida? Os registros escritos em resposta ao questionrio que compem o corpus da pesquisa foram coletados na mesma sala em que os alunos assistem s aulas. Para configurao do corpus, foram selecionadas as produes, cujos autores no apresentaram proficincia em lngua materna. Os sujeitos da pesquisa encontram-se inscritos no ltimo ano do Ensino Fundamental, tm idade superior a quatorze anos de idade e freqentam a escola por, pelo menos, oito anos. Esses sujeitos foram nomeados por A1, A2 e A3.
4 Interaes em sala de aula e conhecimento escolar
Buscou-se encontrar, nas formulaes de alunos concluintes do nvel de ensino fundamental, as representaes que fazem do conhecimento provindo da escola se auxilia ou no no cotidiano fora da instituio e das relaes sociais que se processam na sala.
4.1 Utilidade dos conhecimentos escolares
A questo seguinte buscou encontrar, na materialidade lingstica dos sujeitos analisados, a representao dos alunos em relao utilidade dos 5 conhecimentos disseminados pela escola. Responderam seguinte questo: Em que medida o que voc estudou auxilia sua vida?
(E1) A1- Na verdade eu aprendi a falar palavro na escola, mas fazer o que, no aprendi, s isso, ler no foi e escrever tambm no, s verbos, contas diferentes e estudo do corpo humano.
Ao utilizar a expresso na verdade, A1 demonstra desejar deslocar uma imagem que as pessoas tm da escola - lugar autorizado socialmente para a aquisio de conhecimentos em leitura e escrita. Imagem esta construda ideologicamente. A1 revela sua resistncia aos discursos que tentam dociliz-lo (Foucault,1985): discursos da famlia, da prpria escola e da comunidade que postulam que a escola o lugar onde se aprendem coisas boas, e o sujeito declara que aprendeu a falar palavro - na verdade aprendi a falar palavro. Resiste a todos esses discursos formadores de si, calando, silenciando as outras vozes que postulam a importncia do conhecimento escolar. Por meio da expresso na verdade, eu aprendi a falar palavro, ele declara que o que aprendeu no condiz com a representao que se faz do que seja Escola. Em seu imaginrio discursivo, a escola o lugar onde no se aprende palavro, mas A1, contrariando todas as regras impostas pelo sistema escolar, aprendeu. Posteriormente, no uso da expresso mas fazer o qu percebe-se que a imagem que o sujeito faz do que seja aprendizado escolar no corresponde com o que ele declara ter aprendido. A argumentao promovida pela conjuno adversativa mas em favor do papel ideolgico da escola em detrimento de seu no-aprendizado, legitima o assujeitamento ideolgico em relao escola. A afirmao de que ler no foi, escrever tambm no foi percebe-se em seu imaginrio discursivo a importncia que atribui a aprender a ler e escrever na escola, ou seja, a representao que o sujeito faz de conhecimento escolar relacionado s habilidades de leitura e de escrita. Portanto, segundo a imagem que faz do que seja conhecimento significativo prprio da escola, ele no aprendeu a ler e nem a escrever, mas aprendeu palavro, e no deveria t-lo feito. Quando o sujeito diz no aprendi s isso em que o pronome demonstrativo isso faz referncia a palavro e continua: aprendi s verbos, contas diferentes e estudo do corpo humano, ele reconhece que esses contedos tanto 6 quanto aprender a falar palavro no lhe foram teis. No imaginrio discursivo de A1, aprender palavres, verbos, contas e estudar o corpo humano no participam do conceito formulado para si do que seja significativo aprender na escola. Para A1, o mais importante, que ler e escrever, ele no aprendeu.
(E2) A2 cewsao deficudade
No discurso de A2, percebe-se a representao que ele faz de si em relao ao referente. Ele revela sentir dificuldades em relao ao conhecimento escolar e comprova essas dificuldades por meio da palavra cewsao (sensao). Na representao que faz de si em relao ao referente, A2 revela-se impotente. A anlise revelou que o sujeito A1 reconhece a importncia da leitura e da escrita na formao escolar. No entanto, revelou uma no-ligao entre o que se aprende na escola e a utilidade desse conhecimento. A2 revelou sua impotncia diante dos conhecimentos advindos da escola, uma vez que revelou que tem uma sensao de dificuldade - cewsao deficudade.
4.2 Importncia da leitura e da escrita
Esta seo de anlise apresenta a imagem (Pcheux, 1969) que os alunos fazem da habilidade de leitura e escrita. A questo que lhes foi formulada foi: O que acha das pessoas que no sabem ler nem escrever?
( E3) A3- No sei. Eu acho chato todo mundo fazendo menos eu. A professora que dava aula para mim me xingava na terceira srie. A depois eu vim pra c. Quero aprender a ler e a escrever ainda.
Percebe-se que, na construo da imagem que o sujeito faz do que seja saber ler e escrever, ele se inclui no grupo das pessoas que no lem e no escrevem por meio da expresso no sei. Certamente, por essa razo que ele declara no saber o que os outros pensam sobre os que no sabem ler nem escrever. Ao enunciar eu acho chato todo mundo fazendo menos eu, A3 confessa se sentir diminudo em relao aos demais colegas por eles conseguirem desenvolver as atividades e ele ser incapaz de fazer o mesmo. Assim, a imagem que faz de si e, por 7 conseguinte, daquele que no l e no escreve, na sala de aula, de algum que se sente excludo da rotina que se processa no interior da sala de aula. Quando A3 diz a professora que dava aula pra mim me xingava na terceira srie revela sua interpretao da possvel causa de sua inabilidade em leitura e escrita. Parece acreditar que a professora da terceira srie a responsvel por sua no- proficincia em lngua materna, acusando a professora de t-lo achincalhado e isso poderia ter prejudicado seu aprendizado. Quando do uso advrbio de tempo ainda, A3 apresenta a imagem que tem de si em relao ao referente, uma vez que pensa que j deveria estar sabendo ler e escrever de acordo com a situao na qual se encontra e tem esperana de ainda poder adquirir essa habilidade. Percebe-se que A3 revela seu desejo de aprender, o desejo de complementao da falta que o constitui.
(E4) A1 Um bando de vagabundos, pois vai para a escola para fazer o qu, pra ficar tirando com a cara dos professores.
A imagem que o A1 revela ter dos alunos que no sabem ler nem escrever de indolentes, nomeando-os de vagabundos. Em nossa formao social, esse lxico designa algum que no trabalha ou no gosta de trabalhar. Acredita que os prprios alunos que no lem e no escrevem so os responsveis pela ineficcia de seu aprendizado e j possuem um objetivo pr-determinado ao irem escola, objetivo este antagnico ao objetivo ideologicamente disseminado em nossa formao social que o de que se vai escola para aprender. Na representao desse sujeito, ocorre uma desconstruo da imagem tradicional do professor como o agente responsvel pelo desenvolvimento do aluno. Em seu dizer, pode-se detectar uma inverso na hierarquia existente nas representaes que se fazem de sala de aula, segundo as quais o dizer do professor reconhecidamente superior ao do aluno, devido ao seu papel social interdiscursos reproduzidos na sociedade. Dessa forma, a relao de dominncia (Pcheux,1969) do dizer do professor enfraquecida pela atitude desses alunos que vo para a escola pra tirar com a cara dos professores, ou seja, esses alunos vo escola para desafiar seus professores, no lhes dar importncia, desconsiderar suas informaes e cujo papel social de formador legitimado pelo Estado. Nesse sentido, o sujeito revela a imagem que faz de si em relao ao referente que o seu aprendizado, bem como imagem que faz do outro, que o 8 professor e a imagem que faz de si, apresentando seu objetivo principal quando vai para a escola.
(E5) A2: pewso devicudade para eles.
No discurso de A2, percebe-se a representao que faz das pessoas que no sabem ler nem escrever. Por meio da elocuo pewso devifudade para eles, A2 revela a representao que faz de quem no sabe ler nem escrever. No excerto (2), a representao que faz de si em relao ao referente - conhecimento escolar - tambm expresso por meio da palavra dificuldade. Sendo assim, a representao que A2 faz de conhecimento escolar e das pessoas que no sabem ler nem escrever so semelhantes, expressa por meio da palavra divifudade.
A1 revela a representao que tem das pessoas que no sabem ler nem escrever, no entanto, no se inclui entre esses alunos. A anlise da representao que os sujeitos fazem das pessoas que no sabem ler nem escrever revela que A2 e A3 incluem- se entre os alunos que apresentam dificuldades na leitura e na escrita. A2 e A3 constituem aqueles que foram escola apenas literalmente, no sentido de terem freqentado, mas no no sentido historicamente constitudo de terem passado pelo processo de educao formal.
5 Consideraes finais
A partir da anlise dos discursos dos sujeitos envolvidos na pesquisa, pode-se concluir que a representao que se faz das interaes em sala de aula e da utilidade do conhecimento provindo da escola determina as aes e os dizeres. Alunos e professores atribuem-se mutuamente imagens, as quais determinam os dizeres numa relao cotidiana, cujo enfoque o ensino-aprendizagem. Os professores so os agentes autorizados socialmente para transmitir conhecimentos e os alunos so os receptores desses conhecimentos. Nos dizeres dos sujeitos, a imagem que os sujeitos tm de si em relao ao referente conhecimento escolar de dificuldade, impotncia, rebeldia e excluso. Excluso essa, contraditria ao discurso institucional que postula que a educao inclusiva e de qualidade para todos. A imagem que os sujeitos fazem do interlocutor professor aquele que no ensinou ou que tem suas palavras 9 enfraquecidas pelas aes de alunos que no aprenderam a ler e escrever. A imagem que fazem dos alunos que no sabem ler nem escrever de indolentes, aqueles que desconstroem o papel social do professor e desmistificam a funo social da escola ensinar. Sendo assim, a imagem que fazem de conhecimento escolar, dos alunos que no aprenderam a ler e escrever e dos professores determina seus dizeres e suas aes em relao escola. Quando, por meio dessa instituio, o aluno no aprende a ler e a escrever, a funo social da instituio escolar torna-se enfraquecida. No cotidiano da escola, a imagem que o aluno faz da importncia da leitura e da escrita, bem como da relao professor-aluno determina sua atitude em relao ao contedo trabalhado, ao exerccio autnomo ou inexistente da leitura e da escrita, credibilidade do conhecimento transmitido pelo professor e ao julgamento da instituio escolar como locus autorizado socialmente para a aquisio de conhecimentos. Isso significa que a representao que o aluno faz da instituio escolar e seus desdobramentos determina o aprendizado ou a resistncia (Foucault,1985), a autonomia ou a subservincia, o compromisso ou o desinteresse, o letramento ou o analfabetismo.
REFERNCIAS
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