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COMENTÁRIO

Contributo para uma identificação


dos elementos de crítica a um “PowerPoint”

por
Elísio Gala
COMENTÁRIO
Este comentário nasce da tentativa pessoal de encontrar informação que me conduza ao
esclarecimento de uma pergunta e me aproxime do âmago de uma interrogação. Diferencio a pergunta
da interrogação, uma vez que para as perguntas há geralmente respostas. Ao invés, as interrogações
jamais encontram um ponto limite. Encontrá-lo seria a própria negação do ininterrupto movimento que
é interrogar.
Avançando de imediato para a pergunta, formula-se ela do seguinte modo: - Como fazer uma crítica
o mais justa possível de uma apresentação em PowerPoint? Para responder a esta pergunta, a
bibliografia consultada1 orientou-me sobretudo para o que pode definir “um bom PowerPoint”, quer
em termos de design, quer em termos de evitar o que os autores consultados denominam de “pecados
fatais” ou “erros comuns” destas apresentações.
No que respeita ao design de um PowerPoint convém não fazer juízos em termos de certo ou errado,
mas sim de apropriado ou inapropriado a um determinado contexto. Muito depende de como o
contexto visual é inserido no contexto da apresentação, e em que medida os seus conteúdos e
objectivos são de primordial importância. Sem o claro conhecimento do lugar, circunstância, conteúdo
e contexto de uma apresentação (o que pretendemos com ela: entreter, informar, persuadir, vender?)
difícil se torna qualificá-la como apropriada ou inapropriada.
Fundamentais nesta sempre difícil qualificação cujo lema poderia ser “menos é mais”, são também
a simplicidade (sem cair no simplismo), a clareza e a consistência.
A simplicidade, seja enquanto meio para uma maior clareza, seja enquanto consequência dos
esforços desenvolvidos para atingir as necessidades de clareza e sentido da nossa audiência é uma
eliminação de tudo quanto é supérfluo (ex.: diversidade de tipos de letra – quando muito dois tipos, um
para os títulos, outro para os conteúdos –, grande número de gráficos ou imagens por slide,
informação, palavras e slides em excesso – talvez 10 a 12 sejam suficientes). Onde uma nova
interrogação desponta é em saber quais são para um indivíduo ou grupo as suas necessidades mínimas
ou máximas?
Para bem da clareza convém: evitar qualquer tipo de efeitos visuais ou sonoros, que mais contribua
para distrair do que para manter uma audiência atenta; em vês de dar títulos aos slides, importa definir
o assunto em apresentação com clareza mediante uma frase declarativa; evitar clichés visuais seja em
termos de escolha dos modelos e padrões dos slides, seja na escolha das imagens de clipart
disponibilizadas; evitar parágrafos, citações e frases completas; abandonar o eu em benefício do nós,
garantindo que todos os elementos de qualquer slide (fotos, diagramas, gráficos, letras) ilustrem, mais
do que decorem e tenham a dimensão necessária para que sejam facilmente vistos (no caso das letras
convém que a sua dimensão seja no mínimo 40 para que quem está no fundo de uma sala consiga ler);
evitar combinações de cores pouco usuais ou em que o contraste das letras com o fundo dificulte a
leitura.
No que se refere à consistência, convém manter os mesmos padrões de cores, letras e gráficos.
São estes os conselhos que encontrei para a elaboração de um PowerPoint. A partir deles torna-se já
possível elaborar algum comentário crítico sobre os trabalhos apresentados neste contexto. O problema
que aqui se levanta é que apesar do carácter ubíquo da utilização desta “ferramenta” para realizar
apresentações, ela é limitada. Nada nos permite inferir da capacidade de quem a usou para a
comunicação de ideias de um modo preciso e completo
Aqui chegados, com o nosso PowerPoint construído, dando-se início à apresentação, importa não
cometer outros “pecados” e cair noutros “erros”, quais sejam: o excesso de confiança na tecnologia

1
Reynolds, Garr, “What is Good PowerPoint Design?”, in Presentation Zen, presentationzen.blogs.com.; “PowerPoint Slide Presentation Skills Tips”, in
About.com.; Sommerville, Joseph, “The Seven Deadly Sins on PowerPoint Presentations”, in About.com; Russell, Wendy, “10 Most Common
Presentation Mistakes. Avoid These Predictable Presentation Mistakes”, in About.com.
(que nos leva a não ter preparados e disponíveis meios alternativos de apresentação, tais como CD-
Rom, pens, transparências a cores, projectores); a pouca preparação sobre a matéria em causa; falar –
ou pior, ler – para ou a partir do ecrã e não para a audiência.
Uma apresentação em PowerPoint não substitui a informação substantiva e em profundidade
patente nos pressupostos causais, na estrutura analítica e no raciocínio manifestados pelo apresentador.
O que é da conveniência de quem apresenta, não é necessariamente da conveniência de quem ouve,
uma vez que implicou uma enorme redução da informação que poderia substantivar a comunicação. A
aproximação centrada na tecnologia, valoriza as capacidades desta; ao invés, a aproximação centrada
em quem aprende, focaliza-se no modo como as pessoas processam a informação.
É neste contexto que surgem as interrogações de alguns investigadores sobre a natureza do estilo
cognitivo associada ao uso do PowerPoint.2 Segundo Tufte caracteriza-se, entre outros aspectos, por:
- ser limitado quanto a evidências e pensamento;
- ter um padrão muito hierarquizado de organização informativa, fraccionando narrativa e factos;
- dar uma rápida sequência a uma informação mínima;
- abusar de decoração conspícua;
- estar mais centrado no formato do que no conteúdo;
- possuir uma atitude comercial que tudo transforma numa venda de saldos.
George Miller defendeu no artigo abaixo referenciado a tese segundo a qual a maior parte das
pessoas tem a capacidade para relembrar apenas sete “pedaços” de informação sem sentido e sem
relação. Pondo por outras palavras, conseguem memorizar informação sem sentido desde que não
tenha mais de sete componentes. Segundo Tufte, o que esta tese vem reforçar é sobretudo a
importância de colocar toda a informação em contexto, de modo a que se possa “estender” o alcance
da memória para além dos pequenos amontoados de informação. O PowerPoint pode e deve ser usado,
na medida em que sustente o modo natural – isto é, cognitivo – de aprendizagem.
Importa distinguir dois objectivos ao fazer uma apresentação em PowerPoint: a apresentação de
informação à audiência, relegando para segundo plano o facto de a mesma ser ou não processada por
quem assiste; a orientação cognitiva, cujo objectivo é ajudar a audiência a processar nas suas memórias
uma informação adequada. O que verdadeiramente importa numa apresentação de PowerPoint, como
no uso de qualquer meio de comunicação é a orientação do processo cognitivo.
Um dos autores referenciados neste trabalho, Richard Mayer considera a este propósito, existirem
alguns princípios para a elaboração das mensagens educativas usadas em multimédia (em que o
PowerPoint obviamente se inclui). Os princípios são os seguintes:
- da multimédia: aprende-se melhor com palavras e imagens do que só com palavras;
- da coerência: aprende-se melhor quando material irrelevante é excluído;
- da contiguidade: aprende-se melhor quando palavras e imagens correspondentes são apresentadas
ao mesmo tempo ou próximas no ecrã;
- da modalidade: aprende-se melhor a partir de animação com texto falado do que escrito;
- da “sinalização”: aprende-se melhor quando a informação está organizada com ideias gerais e
cabeçalhos claros;
- da personalização: aprende-se melhor com um estilo dialogante do que formal.
Para a compreensão destes princípios a distinção entre media (sistemas de divulgação de
informação – livros, computadores, apresentações PowerPoint) e métodos (educativos usados para
ajudar as pessoas a aprender) é fundamental. O meio (media) de apresentação não cria aprendizagem,
mas o método da apresentação afecta ou influi na aprendizagem. Assim sendo, o Powerpoint não cria
aprendizagem, mas o método usado para apresentar a informação no PowerPoint afecta a
aprendizagem. É por esta razão que se pode afirmar que os métodos educativos que trabalham com
papel ou através de “e-learning” são capazes de alcançar os mesmos objectivos que uma apresentação
em PowerPoint.
2
Cf. a propósito Edward Tufte, Professor Emérito em Yale, qualificado pelo New York Times como “The Leonardo da Vinci
of Data” e autor entre outras obras de The Cognitive Style of PowerPoint (ver http://www.edwardtufte.com); George Miller,
“The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information”.
Psychological Review, 63 (1956), 81-87. (ver em http://www.well.com/user/smalin/.html); entrevista a Richard E. Mayer
(Doutor em Psicologia na Universidade da Califórnia e prolífico autor no campo da Psicologia Educacional, autor entre
outras obras de Multimedia Learning) por Cliff Atkinson (consultor de gestão especializado em assuntos relativos ao uso do
PowerPoint em termos organizacionais): “The Cognitive Load of PowerPoint: Q&A with Richard E. Mayer” (ver
www.sociablemedia.com).
Os cientistas cognitivos ao estudarem o sistema de processamento de informação humano,
chegaram a três importantes conclusões que são particularmente relevantes para os utilizadores de
PowerPoint: a primeira é a de que as pessoas possuem canais separados de processamento de
informação visual e verbal; a segunda é a de que as pessoas apenas prestam atenção a pouca
informação em cada canal ao mesmo tempo; a terceira é a de que as pessoas percebem a informação
apresentada quando tem em conta as suas implicações. E isto só ocorre com selecção, organização e
integração da informação apresentada.
A atenção ao que foi dito, há-de determinar uma efectivamente boa apresentação de PowerPoint.

Elísio Gala

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