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(Tarefa 2)
Ao longo destes anos, desde que se lançou a Rede de Bibliotecas Escolares no nosso
país, o principal instrumento de reflexão crítica, mais ou menos formal, sobre o trabalho
desenvolvido, em cada ano, por cada BE, tem sido o relatório final elaborado pelo
Coordenador, apresentado em Conselho Pedagógico e posteriormente enviado ao
Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares. Com esse documento concluía-se um
processo e encerrava-se um ciclo de trabalho. Não havia, na verdade, de uma Auto-
Avaliação, pois faltava a esse processo a definição de indicadores, factores críticos de
sucesso, evidências (e a sua necessária recolha) e de acções para melhoria dos pontos
fracos identificados. O relatório acabava, pois, por não trazer repercussões no
desenvolvimento dos trabalhos a levar a cabo nos anos seguintes. Sendo certo que o
Plano de Acção elaborado para cada triénio obrigasse à identificação de pontos fracos e
pontos fortes da BE, e à definição de acções a desenvolver para a melhoria da qualidade
dos serviços prestados, verificava-se uma tendência de continuidade nos procedimentos,
ao longo dos três anos. Mesmo quando se procurava alcançar um feedback do trabalho
realizado e da sua qualidade, o estudo efectuado ignorava habitualmente um elemento
essencial desse trabalho: o impacto da BE no processo de ensino-aprendizagem e na
dinâmica da escola/ comunidade. Ora, este é um aspecto nuclear na avaliação de uma
Biblioteca Escolar moderna e preparada para integrar e desenvolver uma escola de
excelência:
“A relação custo/ eficiência foi, nos últimos tempos, ultrapassada pela necessidade de
medir o impacto, os benefícios que os utilizadores retiram do seu contacto e uso dos
serviços.
Hoje, a avaliação centra-se, essencialmente, no impacto qualitativo da biblioteca, isto é, na
aferição das modificações positivas que o seu funcionamento tem nas atitudes, valores e
conhecimento dos utilizadores.
Interessa-nos aferir o sucesso do serviço, centrado, essencialmente, nos resultados, visto
como as consequências ou impactos dos serviços que prestamos junto dos utilizadores.
Trata-se, neste contexto, de aferir não a eficiência, mas a eficácia dos serviços – os
resultados que os serviços produziram”.
Extraído do texto da 3ª sessão, p. 4
[...] A noção de valor. O valor não é algo intrínseco às coisas mas tem sobretudo
a ver com a experiência e benefícios que se retira delas: se é importante a
existência de uma BE agradável e bem apetrechada, a esse facto deve estar
associada uma utilização consequente nos vários domínios que caracterizam a
missão da BE, capaz de produzir resultados que contribuam de forma efectiva
para os objectivos da escola em que se insere.
Na consciência de que a escola deve, hoje, reflectir sobre as suas prioridades e orientar os
seus esforços em função das metas que pretende atingir, a avaliação deve ser encarada
como uma parte integrante do processo de melhoria da escola, um processo que lhe
permite aprender com as práticas e demonstrar a eficácia do seu desempenho. Este é,
consequentemente, o espírito que preside à auto-avaliação da Biblioteca Escolar.
O presente Modelo de Auto-Avaliação reflecte, de facto, o carácter multifacetado da
BE e da sua realidade, das solicitações a que é chamada a Biblioteca na escola actual.
Os quatro domínios do modelo em análise complementam-se e convergem
simultaneamente num ponto único, que se persegue ao longo de quatro anos: um serviço
que optimiza o apoio ao desenvolvimento curricular, que trabalha intensamente as
leituras e literacias, que promove e dinamiza projectos, parcerias e actividades livres e
de abertura à comunidade, que assegura enfim uma gestão eficaz da Biblioteca
Escolar1. Estes quatro domínios, em constante interacção entre si e em diálogo com os
Projectos Educativo e Curricular da escola, dependem não só da acção da Equipa da BE,
mas também de um conjunto de factores internos e externos à escola, que condicionam
o seu desenvolvimento; factores como a maior ou menor adesão dos vários
Departamentos / Órgãos da escola e professores às sugestões e iniciativas da BE, ou a
realidade sócio-económica dos alunos e do meio envolvente. Mas, por muito favoráveis
que sejam as condições que sustêm a BE, haverá sempre aspectos a melhorar,
pormenores a ajustar, práticas a adequar… E só um processo de auto-avaliação exigente
permitirá pôr em evidência esses pontos fracos e garantir uma gestão lúcida, insatisfeita,
ambiciosa.
1
Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar, RBE, 2009.
Os domínios acima referidos parecem identificar-se com três grandes áreas, de
acordo com texto desta terceira sessão, já mencionado:
Gestão da BE
- Afectação de um professor bibliotecário qualificado e de uma equipa que assegure as
rotinas inerentes à gestão, que articule e trabalhe com a escola, professores e alunos.
- “Tenha o reconhecimento e apropriação por parte das escolas e das equipas e se assuma
como um instrumento agregador, capaz de unir a escola e a equipa em torno do valor da BE
e do impacto que pode ter na escola e nas aprendizagens.
- Tenha pontos de intersecção com a avaliação da escola e venha a ser objecto de avaliação
por parte da Inspecção Geral de Educação”.
Cabe recordar aqui uma reflexão de Ross J Todd, inserida num seu trabalho que
remonta a 20022, no qual o autor chama a atenção para o papel e a responsabilidade da
BE justamente na esfera das literacias da informação. Esse papel e essa
responsabilidade, embora geralmente aceites, levantam ainda dúvidas e perguntas, que
2
TODD, Ross J, School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based practice, 68th
IFLA Council and General Conference, Glasgow, 2002.
começam muitas vezes pela própria insegurança dos professores responsáveis: qual é
afinal o nosso papel? O que estamos ali a fazer? Para que serve uma Biblioteca Escolar?
Até que ponto contribui para melhorar os níveis de literacia e o sucesso escolar dos
alunos? Aonde queremos fazê-los chegar?
“Information literacy instruction is part of making actionable all the information and
knowledge that a school possesses or can access. But the critical question is: actionable for
what, and for whom? Why? School librarians need to be clear about what actually is their
motivating force for their instructional roles in schools. There are at least two ways of
looking at this: Doing and Being. The fundamental motive for the instructional role of the
school librarian has to go beyond enabling students to master a range of information
handling skills. This is DOING. And often it is perceived by teachers to be a library’s
doing, an add-on to an already crowded curriculum. There is no question that this is
important DOING. However, the development of an information literate student is integral
to BECOMING and BEING. This begs the question: by developing information literacy
skills, what do we want students to become? The destination is not an information literature
student, but rather, the development of a knowledgeable and knowing person, one who is
able to engage effectively with a rich and complex information world, and who is able to
develop new understandings, insights and ideas. This is what teachers would hope for. The
development and use of human knowing, the construction of understanding and meaning is
what learning is all about, and that defines the central role of the school librarian”.
3
Texto da 3ª Sessão, p. 9
A “recolha sistemática de informação” a que alude o texto citado refere-se às
evidências que revelam o quotidiano da BE. A quantidade e qualidade das evidências
recolhidas deverão dar a conhecer a prática diária e, em certos casos, deverão fornecer
informação acerca de determinado problema para o qual se procura melhoria ou
solução. Deste modo, a auto-avaliação da BE não poderá alhear-se da realidade da
escola; deverá antes integrar-se nos processos e na estrutura escolar no seu todo.
A disposição para a mudança de procedimentos configura, pois, uma novidade
fundamental que distingue o novo modelo de auto-avaliação como um modelo pró-
activo, em consonância com as principais estruturas da escola, atento à realidade interna
e externa da BE:
“O Modelo de avaliação está directamente ligado ao processo de planeamento da BE que
deve corresponder em timing, objectivos, propriedades e estratégias definidas pela escola/
agrupamento. As decisões a tomar devem, assim, basear-se nas evidências e informação
recolhidas, mas devem sempre ter em conta o ambiente interno (condições estruturais) e
externo da biblioteca: oportunidades e ameaças, prioridades da escola, adequação aos
objectivos e estratégias de ensino/ aprendizagem”.
Ângela Relvão
Modelo de Auto-Avaliação. Problemáticas e conceitos implicados (sessão 3)