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1) O laudo pericial analisou um sinistro ocorrido em uma residência devido a fortes chuvas, que causaram o rompimento dos muros e inundação da casa.
2) Foi identificado que intervenções humanas, como o aterramento de um terreno baldio e a obstrução de uma rua, impediram o fluxo normal das águas da chuva e causaram o acúmulo que levou ao sinistro.
3) Conclui-se que a precipitação intensa, associada aos problemas de drenagem causados pelas
1) O laudo pericial analisou um sinistro ocorrido em uma residência devido a fortes chuvas, que causaram o rompimento dos muros e inundação da casa.
2) Foi identificado que intervenções humanas, como o aterramento de um terreno baldio e a obstrução de uma rua, impediram o fluxo normal das águas da chuva e causaram o acúmulo que levou ao sinistro.
3) Conclui-se que a precipitação intensa, associada aos problemas de drenagem causados pelas
1) O laudo pericial analisou um sinistro ocorrido em uma residência devido a fortes chuvas, que causaram o rompimento dos muros e inundação da casa.
2) Foi identificado que intervenções humanas, como o aterramento de um terreno baldio e a obstrução de uma rua, impediram o fluxo normal das águas da chuva e causaram o acúmulo que levou ao sinistro.
3) Conclui-se que a precipitação intensa, associada aos problemas de drenagem causados pelas
JOO PESSOA, PB 2006 Gegrafos Autnomos Associados Ms. Maria Jos Vicente de Barros CREA n 8047-D/PB fone: (83) 8825 7938 Ms Pablo Rodrigues Rosa Gegrafo CREA n 8036-D/PB fone: (83) 8852 7729 Bel Conrad Rodrigues Rosa Gegrafo CREA n 8264-D/PB fone: (83) 8856 4933
1 SUMRIO
Prembulo............................................................................................................ 02 Histrico.............................................................................................................. 03 Do objetivo pericial............................................................................................. 04 Dos exames......................................................................................................... 04 Da descrio................................................................................................................. 04 Dos vestgios materiais................................................................................................. 05 Do exame relativo vizinhana................................................................................... 05 Dos exames laboratoriais............................................................................................. 05 Das consideraes tcnico-periciais.................................................................... 06 Concluso............................................................................................................. 07 Anexos.................................................................................................................. 08
2 PREMBULO
A Ilm
Prof. Renata Paes Barros Cmara, face ao ocorrido na madrugada entre os dias 22 e 23 de abril (de sbado para domingo) de 2006, quando sua residncia foi acometida de um sinistro (FIG 01 e 02) como resultado da magnitude da precipitao abundante que houve na referida data, nos contatou imediatamente a fim de compreender o motivo e as causas que levaram a esse sinistro que foi amplamente divulgado pela imprensa local em nvel de TV, rdio e jornais de circulao estadual. A carta da Prof Renata datada de 20 de maio de 2006 nos solicita a leitura tcnica com rigor pericial, do comportamento (da paisagem) geogrfico(a) no tocante principalmente ao relevo, vegetao e escoamento superficial oriundo das precipitaes.
3 HISTRICO
A residncia da Prof. Renata est localizada na Rua Joaquim Francisco Veloso Galvo, n1569 do Bairro Pedro Gondim da cidade de Joo Pessoa, PB (FIG 03). A construo da residncia ocorreu na dcada de noventa. Na poca de sua construo, j haviam outras residncias nas proximidades, tendo o loteamento sido aprovado pela Prefeitura municipal. Nesse perodo de construo foi observada a drenagem do terreno e como forma de proteo foi construda uma vala nas proximidades do muro visando a drenagem da gua do terreno, ainda baldio, para outra rua de forma que alcanasse seu curso indo desaguar na Lagoa do Boi S. Ao comprar a referida casa em 2003, a mesma passou pelo crivo dos tcnicos engenheiros da Caixa Econmica Federal para que o FGTS da atual proprietria fosse utilizado na aquisio do imvel. Em 2005, visando uma maior segurana para o imvel, a proprietria procedeu a uma reforma, quando reforou as estruturas dos muros para que os mesmos pudessem ser elevados. O reforo do muro tambm levou em considerao a enxurrada que descia no perodo chuvoso de forma que o mesmo foi reforado na sua base de sustentao, recomendada pelo engenheiro Eduardo Alves de Vasconcelos, CREA 7086 D/PB, visando a proteo da casa. Residindo na casa desde o incio de 2003 a famlia presenciou vrios invernos com ndices elevados de precipitao como ocorrido em 2004 mas no entanto no haviam tido problemas com a gua pluvial, apenas pequenos transtornos logo resolvidos a partir de um terraceamento do terreno baldio que fica ao lado da casa, que constitui o lote de esquina. Entretanto, em incio de 2006 a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa, atravs da Secretaria de Infraestrutura realizou uma limpeza do lote (FIG 04), o que acabou desfazendo o desvio da gua feito, atravs das curvas de nvel, pelos moradores 1 . Vale ressaltar que os moradores que fizeram o terraceamento em nome do Sr Evandro Eloy de Almeida j haviam requerido Prefeitura providncias quanto a problemas causados pelas chuvas nas casas decorrentes da falta de drenagem, conforme documento protocolado na Secretaria de Infraestrutura em agosto de 2005 (ANEXO). Como agravante um cidado montou uma barraca de churrasquinho fechando a Rua Jos Faustino Cavalcanti 2 (FIG 05) impedindo o escoamento das guas provenientes das
1 Informaes corroboradas pelo Relatrio da Prefeitura assinado pela engenheira Vnia da Fonseca Franca. 2 Idem.
4 vrias ruas que desguam no local para a Rua Joaquim Francisco Veloso Galvo caminho adequado para o mesmo. Para ocupar esta rea o mesmo cidado procedeu a um aterramento com entulhos que devido a alta precipitao e conseqente enxurrada desceram bloqueando a passagem anteriormente feita pela proprietria para o escoamento da enxurrada, transformando o muro da citada residncia em uma verdadeira barragem. O fato que na madrugada entre os dias 22 e 23 de abril (de sbado para domingo) de 2006 houve intensa precipitao pluvial e acumulao de gua na base do muro que acarretou na derrubada dos muros e inundao da casa, trazendo grandes prejuzos financeiros e emocionais para a famlia que viveu o drama.
DO OBJETIVO PERICIAL
O presente laudo teve por objetivo realizar uma leitura regional da paisagem, cuja casa da Prof Renata Paes de Barros Cmara est localizada, visando identificar os possveis elementos que contriburam significativamente para a ocorrncia do sinistro.
DOS EXAMES
Da descrio do local
Para melhor entendimento do ocorrido necessrio compreender de forma dedutiva o espao regional representado pela bacia hidrogrfica onde ocorreu o sinistro (FIG. 06). Toma-se como sinistro o evento que provocou danos 3 edificao sendo que esta tem como funo o abrigo e a segurana familiar da solicitante. A microbacia hidrogrfica j profundamente antropizada por processos de impermeabilizao oriundas das edificaes pblicas e privadas, cujo gargalo dessa microbacia fica exatamente onde se encontra a residncia que ofereceu um barramento
3 Dano um termo definido no Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda como S.m. 3 - Estrago, deteriorao, danificao. J o Cdigo Civil, luz de nossa interpretao, como sendo tambm o resultado da omisso que pode resultar em um Ato Ilcito. Assim conceitua Ato Ilcito o art. 159 do referido Cdigo Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia, ou imprudncia, violar direito, ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Leso, segundo a obra de referncia supra citada, S.f. (...)3.Dano, prejuzo. Degradao (op. cit) S.f. 2. Deteriorao, desgaste, estrago.
5 impedindo a passagem da gua (FIG. 07). Devemos aqui anunciar que dentro da geomorfologia (disciplina cientfica que estuda o modelado terrestre), a bacia hidrogrfica uma unidade geogrfica cujo relevo que comandado pela diferena entre os nveis mais elevados em relao aos mais baixos, e a bacia, cuja drenagem busca os nveis de menos energia, logo ela (a microbacia) sempre orienta essa drenagem para um curso dgua principal, que no caso da rea do acidente foi o afunilamento dado pelas edificaes residenciais e impediram o fluxo do curso.
Dos vestgios materiais
Nas inspees feitas no local, verificou-se os sinais (marcas) da gua acumulada no muro adjacente ao que foi derrubado pela enxurrada, bem como os entulhos e metralhas carregados do terreno baldio carregados pela fora da gua que entupiram a passagem da gua pela canaleta. A vegetao (plantao de milho) do terreno do vizinho do lado esquerdo da casa rebaixada ao cho denota a fora da tromba dgua ao romper os muros (FIG. 08). Partes dos muros foram distribudos por todo o trajeto que a gua passou, o que denota a fora da enxurrada.
Do exame relativo vizinhana
A observao da vizinhana do local em estudo revelou que o que o canal principal de transporte das guas pluviais foi interrompido pelas edificaes (FIG. 06 e 07), pois a chuva quando precipitada numa bacia hidrogrfica busca os nveis de menor energia. Ainda nessas mesmas Figuras fica tambm exposta a rea de menor energia que estabelecida como sendo uma rea bastante ocupada por vegetao mais densa, que desse ponto em diante as guas descem com menor velocidade, pois o nvel topogrfico j nos permite indicar que seja uma rea de acumulao de sedimentos por isso a vegetao densa. Porm ao ser traado o permetro da provvel microbacia hidrogrfica na Figura 06, no foi considerada de maneira mais ampla, a rea referente quadra em que se encontra sem edificaes, ou seja, apenas cinco edificaes compem o conjunto de edificaes nessa quadra, contando com a edificao que sofreu o sinistro.
6 Dos exames laboratoriais
Em laboratrio foi elaborado um MNT - Modelo Numrico de Terreno (FIG 09 e 10) a partir de Ortofotocarta na escala 1:2000 de 1978 com eqidistncia entre as curvas de nvel de um metro. Esse modelo visou a representao e melhor visualizao da bacia hidrogrfica em que est localizada a residncia. Observa-se a partir da Figura 09 que a residncia ocupa uma rea de vertente entre as cotas de 20 e 22 metros acima do nvel do mar. J a Figura 10 denota o direcionamento do escoamento superficial.
DAS CONSIDERAES TCNICO-PERICIAIS
Numa primeira observao o que ficou ntido foi a presena do elemento climtico pluviosidade, que no dia 22 de abril de 2006 se apresentou com elevada magnitude, visto que a concentrao da precipitao no final da madrugada (dia 23 de abril) e incio da manh (informaes orais fornecidas pelos moradores vizinhos) foi de elevada intensidade. A precipitao no intervalo de doze horas foi acumulado, concentrando-se em um volume de 43mm (dados do LES 4 ) o que inevitavelmente resulta em se estabelecer uma enxurrada 5 , visto que o relevo na rea inclinado permitindo a ocorrncia de concentrao torrencial 6 (FIG. 11). Nesse primeiro momento, de relevncia anunciar os conceitos que representam fenmenos climticos como pluviosidade, e aqueles decorrentes tanto da precipitao como tambm do relevo como enxurrada e torrente. No tocante ao relevo faz-se necessrio destacar outros elementos que a esto contidos, pois o relevo assim como o clima, ou mesmo a hidrografia e a comunidade bitica, podendo ser vistos como conjuntos individuais, mas acabam por interagir de forma sistmica. Um agindo sobre o(s) outro(s), mantendo o dinamismo que h sobre a superfcie terrestre. O relevo a geometria da superfcie terrestre podendo ser rugosa ou de forma plana, assim sendo esses so conceitos que representam desnveis da linha de horizonte. Os
4 LES Laboratrio de Energia Solar da Universidade Federal da Paraba. 5 Enxurrada segundo o que est definido no Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda como o volume de gua que corre com grande fora e resultante de grandes chuvas. No entanto a obra de referncia mais especializada de Antonio Teixeira Guerra assim define gua que escoa na superfcie da crosta com velocidade capaz de ocasionar grandes estragos para os grupos humanos. 6 Torrente conforme a obra de referncia Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda como sendo o curso de gua temporrio e violento originrio das enxurradas.
7 elementos que constituem o relevo numa escala maior e que mais vem interessar para o fato ocorrido so as vertentes, vales que esto inseridos na bacia hidrogrfica; pontos esses que de uma forma ou de outra dizem respeito a maior ou menor concentrao de energia; sendo tambm pontos dissipadores dessa energia. Diante das provas fotogrficas, podemos afirmar que a interrupo do canal de escoamento pluvial foi ocasionado pelas edificaes residenciais, pois com o calamento da rua Coronel Francisco Lopes Filho, a gua pluvial deveria ser redirecionada para a rua Prof. Joaquim Francisco Veloso Galvo, no entanto o meio-fio foi retirado (FIG 12) permitindo que a enxurrada torrencial mantivesse o rumo e a direo da poca antecedente ao loteamento, ou seja, o curso natural do escoamento superficial. A rua Jos Faustino Cavalcanti foi sobreposta por uma edificao comercial o que tambm corroborou para a manuteno do rumo e direo da enxurrada torrencial.
CONCLUSO
A partir do aceite pela prefeitura municipal no que se refere implantao e implementao do parcelamento do solo urbano para fins de loteamentos e conseqentemente a construo de edificaes, esse fato deve-se observao do comportamento dos elementos naturais para que seja praticamente anulada qualquer possibilidade de desastres por conta de condies tcnicas, no entanto, considerando que:
a) a edificao em tela, est regulamentada pela prefeitura e com seus impostos em dia; b) a limpeza do terreno no edificado retirando a vegetao que sempre age como um dissipador de energia; c) a no observao da retirada da edificao referente ao meio fio que interrompia a direo e o rumo das guas pluviais, dando-lhe nova direo para a avenida Esprito Santo; d) a negligncia sobre a ocupao irregular da edificao comercial que superps a continuao da rua Jos Faustino Cavalcanti; e) a residncia sinistrada no tinha a funo de conter ou dissipar a energia pluvial.
Retira toda e qualquer responsabilidade dos proprietrios da residncia no nus gerado pelo desastre que provocou danos materiais e psicolgicos nos moradores da residncia e na vizinhana.
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ANEXOS
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Figura 01: Destroos aps a passagem das guas Data: 23 de abril de 2006
Parte do muro sobre o telhado da edificao Marca da gua acumulada durante o momento torrencial Tampo da Pia deslocada pela fora da gua Figura 1.1: Detalhe denotando a fora da gua.
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Figura 02: Muro e colunas (com ferros) abatidos pela fora da gua Data: 23 de abril de 2006
Figura 2.1: Escombros deixados aps a passagem da enxurrada no outro lado da casa Data: o dia do desastre
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Figura 03: Localizao da rea de ocorrncia do sinistro.
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Figura 04: Terreno baldio onde os moradores fizeram o terraceamento desfeito pela prefeitura na ocasio da limpeza realizada.
Casa atingida pelo sinistro Placa indicando a limpeza
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Figura 05: Impedimento da passagem da gua pela Rua Jos Faustino Cavalcanti a partir de construo.
Barraca de Churrasco implantada na Rua Jos Faustino Cavalcanti
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Figura 06: rea provvel de captao de gua que desce pela vertente indo parar no muro da casa
- rea provvel de captao da gua da chuva.
- Solo totalmente impermeabilizado o que permite o escoamento da gua na superfcie. Gargalo Figura 6.1: Local de concentrao da gua trazida pela enxurrada
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Figura 07: Ponto de estrangulamento
Rua prof. Joaquim Francisco Veloso Galvo Residncia que foi acometida pelo sinistro Ponto de estrangulamento do escoamento superficial rea de menor energia: recepo de guas
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Figura 08: Vista do outro lado da casa
Detalhe da plantao de milho Local onde vieram parar os pedaos do muro Direo e caminho da tromba dgua depois que derrubou o primeiro e segundo muro
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Figura 09: Modelo Numrico de Terreno da vertente de localizao da casa onde ocorreu o sinistro
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Figura 10: Modelo Numrico de Terreno da vertente de localizao da casa onde ocorreu o sinistro denotando o direcionamento do fluxo.
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Figura 11: Fluxo dgua oriundo da enxurrada como agente provocador das torrentes
Torrente provocada pela enxurrada
Figura 11.2: Detalhe do fluxo dgua ao final da rua xxx Figura 11.1: Detalhe do fluxo dgua a partir da rua XXX
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Figura 12: Caminho das guas pluviais na poca do acidente
Figura 12.1: Fluxo dgua Figura 12.2: Local por onde a gua passou Figura 12.3: Fluxo dgua