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Texto: CASTAÑEDA, Marina. O Machismo Invisível.

São Paulo: A Girafa Editora,


2006, pp. 27 a 51.

Capítulo 1: Alguns Mitos do Machismo

A autora elenca e desconstrói vários mitos acerca das diferenças entre homens e mulhe-
res, a fim de mostrar como a sociedade costuma justificar o machismo como forma de
construção da masculinidade. Para ela, enquanto as mulheres tornam-se mulheres de
modo simples, com certa naturalidade, os homens se constroem enquanto tais de modo
muito mais árduo, através de constantes provas ao longo de suas vidas.

É como se os homens devessem provar sua masculinidade reiteradamente, como e o


fato de pertencer ao sexo masculino não bastasse... Não são homens com a mesma na-
turalidade com que as mulheres são mulheres. Nessa assimetria básica se esconde
muitas chaves para o entendimento da complexa relação entre os sexos.

Nesse extra que os "verdadeiros homens" devem possuir encontraremos a essência


complexa do machismo.

... o machismo é "um ideal masculino que enfatiza a dominação sobre as mulheres, a
competição entre os homens, a exibição de agressividade, a sexualidade predadora e o
jogo duplo". (pp. 27-8)

Teorias essencialistas e teorias construtivistas

... diferentes respostas ... foram propostas a esse respeito. Essas teorias podem ser di-
vididas ... em duas categorias: algumas partem da biologia e argumentam que os ho-
mens são machistas por razões inatas e basicamente invariáveis ... muitas condutas
relacionadas ao machismo são "naturais" ao homem e emanam da própria anatomia.

Outras explicações do machismo ... baseiam-se em fatores sociais, econômicos e cultu-


rais para afirmar que o machismo não é inato, nem resulta da biologia: é aprendido. ...
Desse ponto de vista ... construtivista, o homem não nasce, faz-se, e o machismo é ape-
nas um entre outros tipos possíveis de masculinidade. (p. 28)
Este livro adota o enfoque construtivista. ... [A] visão essencialista ... baseia-se em ve-
lhos mitos e teorias pseudo-científicas sem fundamento real. Não obstante, persiste em
nossos costumes e em todos os nossos relacionamentos. É dela que se alimentam os
grandes mitos do machismo.

Os ritos de iniciação à masculinidade

Na maioria das sociedades conhecidas, ser "homem entre os homens" consistiu em de-
ter o poder político, ter muitas mulheres ou muitos filhos... Em muitas sociedades de
caça e coleta, ... os meninos ou adolescentes têm de passar por diversos ritos de inicia-
ção, que se configura como terríveis provas ... [O] verdadeiro homem oculta o medo e a
dor e resiste estoicamente a duras provas de virilidade. (p. 29)

... [O] homem será tanto mais homem quanto mais distanciado estiver do feminino.

[No] mundo ocidental industrializado ... deixamos de praticar tais ritos. ... Ser um ver-
dadeiro homem hoje não é o mesmo que antes. Mas o que seria, então? (p. 30)

Dominar as mulheres

Uma das definições de virilidade que os jovens da nossa época ... compartilham com
pais, avós e bisavós é a necessidade de dominar as mulheres para demonstrar sua
masculinidade. ... O que mudou ... foi a forma de fazê-lo. ... [Mas isso não reflete neces-
sariamente uma transformação nos homens, mas nas mulheres e na sociedade. O]
conjunto da sociedade deixou de aprovar ... as formas tradicionais do machismo e ...
muitos homens, atualmente, longe de gabar-se de serem machistas, preferem negar
que o são. (pp. 30-1)

A superestimação dos valores masculinos

O domínio do homem sobre a mulher ... [implica] também uma superestimação de


certos traços e aptidões considerados "masculinos ... [Existe] uma divisão da experiên-
cia humana em dois campos mutuamente excludentes: ... existem emoções, postos de
trabalho, funções familiares e sociais supostamente apropriados para o homem ou a
mulher, e os "masculinos" são considerados diferentes dos "femininos" e superiores a
eles. ... [Os] ritos de iniciação deixaram de ser necessários .. machismo atual substitu-
iu-os por um sistema equivalente de valores.

Nos países onde uma forte diferenciação entre os papéis sexuais é notória, prevalece a
moral sexual conservadora. (p. 31)

[Nas] sociedades em que reina maior igualdade social e econômica entre homens e
mulheres, pode-se contar com mais informações sobre a sexualidade e com mais acei-
tação dela.

O que está em jogo ... é a própria definição do que significa ser homem ou mulher. (p.
32)

A visão essencialista do machismo

Quais os seu fundamentos? A partir daqui, a autora começa a mostrar justificativas para
o machismo a partir de diferentes pontos de vista: biológico, etológico, etc.

O homem é mais forte que a mulher

A força física sempre foi o principal argumento a favorecer o homem em seu intento de
dominar as mulheres. ... Mas a diferença física entre os sexos está diminuindo. (p. 33)

...a força menor das mulheres nunca as impediu de realizar trabalhos pesados. ... [A]
menor força física das mulheres tornou-se cada vez menos relevante para as ativida-
des profissionais. A história do último século demonstra que as mulheres podem tra-
balhar em qualquer campo com um desempenho similar ao dos homens. (pp. 33-4)

O estudo dos animais

A idéia de certas características “naturais” nos homens fundamentou-se, durante boa


parte do século XX, na etologia ... Os pesquisadores ... observaram ... em diversas espé-
cies condutas e características que também são naturais entre os seres humanos. (p.
34)
É ocioso dizer que ... a maioria dos etólogos eram homens. ... Na segunda metade do
século XX, porém, as mulheres ... e também alguns homens .. começaram a questionar
o que se sabia sobre os hábitos dos animais selvagens. Viu-se então que o que parecia
“natural” não o é tanto assim, nem nos animais selvagens nem nos humanos. (pp 34-5)

[Os] machos ... nem sempre as dominam.

...muitos comportamentos sexuais supostamente “naturais resultam, na realidade, do


confinamento em espaços reduzidos como zoológicos, laboratórios ou reservas ecológi-
cas. (p. 35)

...algumas características consideradas inatas dependem ... das circunstâncias. ... não
há razão para transformar o comportamento animal em modelo ou justificativa para
os seres humanos; a grande obra da civilização consistiu exatamente em superar o que
poderia ser considerado instintivo ou “natural” na espécie.

Uma questão de cromossomos

...o desenvolvimento do feto masculino é mais complicado, e mais precário, que o do


feminino. (p. 36)

[A] tendência natural do embrião é ser do sexo feminino; para que o futuro bebê con-
verta-se num indivíduo do sexo masculino, é necessário que esse processo natural seja
inibido. ... “Seria possível dizer que, desde a concepção, o embrião masculino ‘luta’ para
não ser feminino”. ... O sexo frágil é o homem, não a mulher; portanto, é um erro justi-
ficar o machismo dizendo que os homens constituem o sexo forte. (p. 37)

Teorias hormonais da masculinidade

Outra explicação ... está relacionada aos hormônios. ...na década de 1920, houve ... [a]
descoberta ... de hormônios masculinos e femininos em ambos os sexos, ainda que em
quantidades diferentes. ...passou a ser necessário falar ... de diferenças relativas. (pp.
37-8)

Durante muito tempo ... pensou-se que a homossexualidade era provocada por um de-
sequilíbrio hormonal: excesso de estrógeno nos homens homossexuais e excesso de
testosterona nas lésbicas. ... Na década de 1970, essas especulações foram definitiva-
mente descartadas, simplesmente porque nunca puderam ser comprovadas.

Testosterona e agressividade

De acordo com esse enfoque, ... as características pessoais e as condutas sociais dos
homens devem-se à testosterona, e as das mulheres, à falta deste ou à presença de es-
trógeno. ...a agressividade “natural” do homem ... tem sua origem no alto índice de
testosterona ... quanto à passividade e à submissão das mulheres, decorrem ... de uma
carência de hormônios masculinos e de um alto nível de hormônios femininos. (p. 38)

... devido ao alto nível de androgênios... os homens têm mais necessidades sexuais, bus-
cam “conquistas” sexuais múltiplas e tomam mais iniciativas durante o ato sexual. As
mulheres, ao contrário, são passivas e sentem muito menos desejo sexual. (pp 38-9)

... pesquisas recentes não conseguiram estabelecer uma correlação entre testosterona e
agressividade ... o estresse e o medo abaixam os níveis de testosterona. (p. 39)

A falta de testosterona ... deixa intacto seu nível de agressividade.

[Os] hormônios não provocam condutas. Podem exacerbar uma predisposição psicoló-
gica ou um distúrbio físico, mas são menos importantes que o contexto, as circunstân-
cias e os hábitos na determinação de qualquer conduta. (p. 40)

Os homens têm mais necessidade de sexo

Outra idéia muito popular baseada nos hormônios sustenta que a sexualidade dos ho-
mens é mais forte e imperiosa que a das mulheres ... O fator responsável por isso, evi-
dentemente, seria a testosterona. Contudo, os homens que têm muita atividade sexual
não apresentam níveis de testosterona mais altos que seus pares menos afortunados. ...
O certo é que eles ... cultivam mais pensamentos e fantasias sexuais que elas. É prová-
vel que isso se deva à educação e à cultura generalizada: todos nós aprendemos que os
homens são mais ativos, nesse aspecto, que as mulheres, supostamente mais reserva-
das por natureza. (pp. 40-1)

Se estudarmos a anatomia do prazer, não há razão para supor que as mulheres são
menos aptas para o sexo do que os homens. Pelo contrário.

... enquanto existir a moral dupla, que se aplica quase universalmente a homens e mu-
lheres, não poderemos saber como é, na realidade, a sexualidade de quem quer que
seja. (p. 42)

O enfoque sociobiológico

A sociobiologia ... esforçou-se ... por encontrar explicações biológicas para todas as
condutas humanas.

[As] diferenças psicológicas entre homens e mulheres ... explicam-se por duas idéias
centrais. A primeira destaca as “estratégias reprodutivas” de homens e mulheres, que
se contrapõem irremediavelmente: ... a meta reprodutiva deles é espalhar seu sêmen
sempre que puderem, ... com o maior número possível de mulheres, a meta delas ... é
capturar um só homem e mantê-lo em casa para que este a ajude a criar os filhos. A
segunda ... apela para a evolução da espécie, durante a qual ... os homens especializa-
ram-se gradativamente como caçadores e guerreiros, enquanto as mulheres ficavam
em casa cuidando da prole.

O ponto de partida ... é a diferença entre os gametas femininos e masculinos ... que ..
serve como explicação para uma infinidade de características supostamente masculi-
nas e femininas. (p. 43)

[A] sociobiologia ... sem levar em conta a psicologia moderna, afirma também que o
propósito da sexualidade humana é a reprodução, isto é, a transmissão da informação
genética ao maior número possível de descendentes.

Homens polígamos, mulheres monógamas

[A] promiscuidade masculina é natural: os homens têm necessidade biológica de múl-


tiplas relações sexuais. São polígamos, e as mulheres, monógamas. (p. 44)
... para um homem que copula indiscriminadamente com muitas mulheres, a probabi-
lidade de ter um filho proveniente dessas relações é muito pequena: cerca de 1% a 2%
em cada ocasião ... Se tiver relações diárias com a mesma parceira, suas probabilida-
des serão mais ou menos similares. ...nenhum dos dois comportamentos — fidelidade e
promiscuidade — é mais vantajoso, do ponto de vista da reprodução.

A fidelidade não é ... um atributo natural das fêmeas — nem animais nem humanas. (p.
45)

Homens caçadores, mulheres donas de casa

A idéia de homens naturalmente caçadores e mulheres donas de casa corresponde mais


a uma ficção que à realidade histórica.

Críticas ao enfoque sociobiológico

O enfoque sociobiológico, ... em primeiro lugar, pressupõe que todas as condutas uni-
versais .. sejam inatas e naturais, e estão geneticamente programadas em nós. Contu-
do, ... o que é universal na espécie humana não é forçosamente inato. (p. 46)

Em segundo lugar, não existe nenhuma razão para tomar a natureza animal ... como
modelo para a conduta humana. A história da civilização consistiu precisamente em
superar o estado “natural” da espécie, se é que algum dia esse estado existiu. (pp. 46-7)

Em terceiro lugar, a diversidade dos esquemas reprodutivos ... não nos permite falar
de uma “natureza animal” universal. ... [A] relação entre homens e mulheres depende
muito mais da cultura que da biologia.

Em quarto lugar, a sociobiologia simplifica fenômenos psicológicos e sociais comple-


xos, reduzindo-os a uma causa única. ...a sexualidade humana envolve um grande nú-
mero de motivações, conscientes e inconscientes, que vão muito além da simples repro-
dução.

A justificação do machismo
[O] enfoque sociobiológico conquistou muitos seguidores em certas esferas acadêmicas,
científicas e políticas. Trata-se de uma perspectiva que combina esplendidamente com
o machismo, porque confere uma base pseudocientífica a suas expressões mais extre-
mas, como a promiscuidade, a possessividade, os ciúmes, o estupro... (p. 47)

Todas essas explicações essencialistas do machismo apresentam algumas característi-


cas comuns.

Primeiramente, implicam que os traços descritos são “naturais” e, portanto, inatos,


universais e irremediáveis. No entanto, veremos ... que as relações entre homens e
mulheres não têm nada de universal, que certos padrões generalizados não possuem o
mesmo significado e que muitos comportamentos humanos prevaleceram não por ra-
zões genéticas, mas históricas.

Em segundo lugar, uso de critérios biológicos ... sempre foi uma arma privilegiada dos
ultraconservadores, que pretendem manter o status quo da dominação. (p. 48)

Em terceiro lugar, a visão essencialista dos gêneros apresenta-os sempre como anta-
gônicos ou, no melhor dos casos, como “complementares”. [Haveria] uma natureza
masculina e outra feminina, essencialmente diferentes. ...trata-se de uma abordagem
pré-moderna da conduta humana, que foi invalidada e simplesmente não é aplicável
ao século XXI.

[A] visão essencialista aprisiona ambos os sexos em papéis polarizados. (p. 49)

A rejeição à diferença

Aqui, a autora cita um caso recebido por ela em seu consultório, de um menino de 4 anos
com gostos “de menina”: gostava de brincar de bonecas e se identificava com a Cindere-
la. O menino foi dado como homossexual pelos pais e também por alguns psicólogos. A
partir desse caso, Castañeda faz algumas considerações.

Primeiro: não existe nenhuma maneira de prognosticar a orientação sexual de um me-


nino.
Segundo: confusão de gênero não é o mesmo que orientação sexual.

Por fim, não existe maneira de saber se um menino será ou não homossexual... sabe-se
apenas que nada se pode fazer em relação a isso. (p. 50)

[A] mãe ... não se preocuparia em absoluto e ... até lhe agradaria ... uma menina ativa
livre. Mas não pensou nesses termos com respeito ao filho, porque a masculinidade
continua sendo rigidamente tradicional em nossa sociedade.

Parece-nos bom que as meninas evoluam, que possam crescer mais livres que antes;
mas os meninos permanecem enredados nos estereótipos de uma masculinidade ina-
movível, supostamente ditada pela biologia. (p. 51)

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