SEDUFSM

S I N D I C AT O
DEZEMBRO DE 2009
ANDES
NACIONAL
Publicação Mensal

Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

Uso abusivo de
gratificações
arrochou salário
Em 1989, as gratificações representavam 22% da composição do salário docente. 20 anos
depois, as gratificações passaram a representar, em média, 63% da remuneração do professor.
Entre as consequências disso estão o arrocho salarial e a destruição da carreira. A conclusão é de
um estudo feito pelo professor do departamento de Ciências Econômicas da UFSM, Ricardo
Rondinel, que publicamos nesta edição do Jornal da SEDUFSM. Conforme o trabalho de
Rondinel, que também é diretor da seção sindical, o principal prejudicado nessa política
salarial do governo é o aposentado. Págs. 04 e 05

Música engajada em

As comemorações dos 20 anos discussão

Extra-classe, pág. 11
FRITZ NUNES

Fotos: RENATO SEERIG

Debatedores na última edição do

Cultura na SEDUFSM de 2009

Ainda nesta edição:

Público prestigiou Orquestra na Igreja do Rosário Fabiane Costas (c) distribui revista dos 20 anos
Sindicato encaminha
O mês de novembro marcou as duas décadas de fundação da SEDUFSM. novas ações judiciais
Dentre as atividades em comemoração à data, a apresentação da Orquestra Pág. 03
Sinfônica na Igreja do Rosário e o lançamento da revista comemorativa.
Extra-classe, pág. 10 Carreira docente:
debate entra na pauta
Pág. 06

AN DES-SN - N osso únic o e le gít im o re pre se nt a nt e

02 DEZEMBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

EDITORIAL Clauber

Que 2010 seja melhor

Em um período de final de ano, em que todos parecem
preocupados com as festas, com os presentes do Papai
Noel, é complicado passar uma idéia pessimista sobre o
contexto em que se vive. No entanto, em que pese o espírito
natalino, não podemos tirar os nossos pés do chão. O ano
está finalizando com mais uma bomba para os servidores
federais: a aprovação pelo Senado, de um projeto gestado
na bancada do governo federal, que visa limitar ainda
mais o teto de gastos com o funcionalismo público.
Mas, essa não é a única notícia ruim para o serviço
público. No caso da universidade, ainda se vive a
expectativa de que seja anunciada a regulamentação da
Dedicação Exclusiva (DE) e a criação da classe de
professor Sênior, o que pode nivelar o salário da categoria
por baixo, beneficiando apenas quem está no topo da
carreira. Se as alterações forem nesse sentido, os
aposentados são aqueles que mais perderão. Como, aliás,
já vêm perdendo há muito tempo, conforme estudo
elaborado pelo professor de Economia da UFSM, Ricardo
Rondinel, e publicado nesta edição. PONTO A PONTO
O que se pode fazer então? Sem dúvida alguma, o
esforço de um trabalho coletivo ainda é a melhor Eucaliptos, celulose e a farsa FRITZ NUNES
alternativa. Um fato positivo precisa ser lembrado no ano
que finaliza. O registro sindical do ANDES-SN, que havia Na terça, 22 de dezembro, foi lançado em Pelotas, no
sido suspenso arbitrariamente em 2003, foi restabelecido. Instituto Simões Lopes Neto, o livro “Lavouras de destruição:
O Sindicato Nacional se mantém sindicato, mesmo com a A (im)posição do consenso”. Um dos autores é o professor de
Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas,
pressão de entidades paralelas. A ameaça de
Althen Teixeira Filho (foto). A obra reúne autores da Argentina,
estrangulamento financeiro de muitas seções sindicais, Uruguai, Brasil, Alemanha e Áustria, abordando temas que vão
como a SEDUFSM, já não paira mais no ar. E isso é um desde a transgenia, passando por monocultivos, alcançar
alento muito positivo. também a bioética, aspectos legais, políticos e, contando ainda,
Ainda não encontramos solução para a pouca com o tema musical de Pedro Munhoz. São 18 capítulos,
participação da categoria. Também não temos solução perfazendo mais de 700 páginas. O material também será
para barrar muitos projetos de um governo com alto digital e com distribuição gratuita na internet. Sobre o mesmo
índice de popularidade e com um extenso apoio tema, só que no dia 18 de dezembro, foi lançado em Porto
parlamentar. Entretanto, o fato de termos a nossa Alegre, a versão em português do livro “A farsa da celulose”.
trincheira de luta, o ANDES, com sua força plena, já nos é Nas 228 páginas, o jornalista uruguaio, Victor Baccheta,
muito satisfatório. E é através do sindicato que a luta analisa a entrada e o impacto da celulose e dos monocultivos de
coletiva, de resistência aos ataques, pode ser organizada. eucalipto no Uruguai e no Cone Sul.
No ano em que a SEDUFSM completou 20 anos, nossa
saudação a todos que constroem a história de vida da Docentes da UFRGS
entidade e o desejo de que, em 2010, a esperança e a
felicidade estejam de mãos dadas. Em assembleia geral realizada no dia 15 de dezembro, na Faculdade de Educação do
campus central, os docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
aprovaram a reorganização da Seção Sindical do ANDES-SN na instituição, com apenas
uma abstenção e nenhum voto contrário. A assembleia decidiu também ratificar o
EXPEDIENTE Regimento Interno da Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS e, ainda, eleger e
empossar uma diretoria provisória para a entidade. A Diretoria Provisória é presidida pelo
A diretoria da SEDUFSM é composta por : Presidente em exercício: Fabiane A. docente Carlos Alberto Gonçalves. O vice-presidente é Robert Ponge, o 1º secretário é
Tonetto Costas (Dep. Fundamentos da Educação – CE); Vice-Presidente- Júlio Joacir Thadeu Nascimento Medeiros, o 2º secretário é Paulo Francisco Slomp, o 1º
Ricardo Quevedo dos Santos (Dep. História – CCSH); Secretário-Geral: Rondon
Martin Souza de Castro (Dep. Ciências da Comunicação - CCSH); Primeiro tesoureiro é Mário Brauner e o 2º tesoureiro é Tiarajú Loureiro. O mandato da Diretoria
secretário - Maristela da Silva Souza (Dep. Desportos Individuais - CEFD); provisória terá a duração de um ano, devendo em seis meses ser convocada uma
Tesoureiro-geral – Hugo Blois (Dep. Arquitetura – CT); Primeiro tesoureiro- Assembleia Geral para analisar o processo de reorganização da Seção Sindical.
Cícero Urbanetto Nogueira (Colégio Politécnico); Primeiro suplente: Hélio Neis
( Aposentado); Segundo suplente: Ricardo Rondinel ( Dep. Ciências Econômicas -
CCSH)
Jornalista responsável: Fritz R. F. Nunes (MTb nº 8033)
Relações Públicas: Vilma Luciane Ochoa
29º Congresso do ANDES
Arquivista: Cláudia Rodrigues
Demais funcionários: Claudionéia Petry, Márcio Prevedello e Sandra Freitas O mês de janeiro inicia com atividades quentes. Ao invés de no mês de fevereiro, como ocorre
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda normalmente, o Congresso do ANDES (29º) acontecerá de 26 a 31 de janeiro, no Centro de
Ilustrações: Clauber Sousa e Reinaldo Pedroso
Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS) Tiragem: 1.500 exemplares
Convenções da Universidade Federal do Pará, em Belém. O tema do evento máximo do
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem Sindicato Nacional é “Contrarreforma universitária, ataques à carreira e ao trabalho docente:
as assina. Sugestões, críticas, opiniões podem ser enviadas via fone(fax) desafios do ANDES-SN na luta em defesa da Universidade Pública”. Para Sandra Moreira,
(55)3222.5765 ou pelo e-mail sedufsm@terra.com.br diretora-geral da ADUFPA, entidade que já completou 30 anos e responsável por sediar o
Informações também podem ser buscadas no site do sindicato:
www.sedufsm.com.br Congresso, as expectativas são as melhores em relação ao evento. Segundo ela, uma das missões
A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa importantes dos delegados presentes será a construção de uma nova proposta de carreira para os
Maria(RS). docentes do ensino superior.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES DEZEMBRO 2009 03

RADAR
FRITZ NUNES

Coordenadores da assembleia docente: Rondon de Castro, Heverton Padilha (advogado) e Fabiane Costas

Novas ações judiciais serão encaminhadas

Na assembleia ocorrida do dia 15 de dezembro, na
sala 2164, do prédio do CCSH no campus da UFSM,
os docentes aprovaram de forma unânime o
encaminhamento de cinco novas ações judiciais pelo
sindicato, em caráter coletivo, abrangendo toda a
categoria. O teor e motivações das ações foram
explicados pelo assessor jurídico da SEDUFSM, que
integra o escritório Wagner Advogados Associados,
Heverton Padilha.
As ações que serão encaminhadas são:
- Ação judicial para pagamento de diferenças
remuneratórias decorrentes da incorporação da
GAE ao vencimento básico.
As mudanças trazidas pela Lei 11.784 de 2008 na
remuneração dos docentes do ensino superior, além de
substituírem a Gratificação Temporária do Magistério
Superior - GTMS pela Gratificação Especifica do
Magistério Superior - GEMAS e pela Retribuição por
Titulação – RT, a partir de fevereiro deste ano, também
determinaram a extinção da Gratificação de Atividade
Executiva – GAE, instituída pela Lei Delegada nº 13
de 1992. A parcela relativa à GAE foi incorporada ao
vencimento básico, mas a incorporação ocorreu a
menor em alguns casos.
O que se verifica em muitas situações, dependendo
do regime de trabalho, nível e classe no qual o docente
está enquadrado, é que não houve a incorporação do
total anteriormente pago a título de GAE, ou seja,
160% do vencimento básico. Conforme Heverton
Padilha, existem diferentes percentuais de perdas, que
variam em alguns casos, de 2,7% a 34,38%. A ação
judicial visa obter uma reparação diante desse
prejuízo financeiro.
- Ação judicial visando afastar a vedação imposta
pela Administração quanto à marcação de férias
para professores afastados.
O setor de Recursos Humanos da UFSM vem
impondo restrições aos servidores que se encontram
licenciados ou afastados, e que adquirem direito ao
gozo de férias. Isso ocorre em função de uma Portaria
Normativa da Secretaria de Recursos Humanos (SRH
nº 02 de 14.10.1998).
A portaria acaba por restringir o direito de férias
para os professores afastados para pós-graduação, o
que não encontra respaldo legal, portanto, passível de
contestação judicial.
- Mandado de Injunção que visa à definição de um
índice de correção monetária dos vencimentos dos
servidores tendo em vista a falta de reajuste geral nos
vencimentos.
A Constituição determina, em seu artigo 37, inciso
X, a ocorrência de uma revisão geral da remuneração
dos servidores públicos, que deve ser efetuada pelo
Poder Executivo. Essa regra, no entanto, não tem sido
acatada no serviço público federal. Apesar de o
Supremo Tribunal Federal (STF) se mostrar contrária
ao pagamento de uma indenização pelos anos que se
passaram sem que houvesse ocorrido uma revisão
geral nos vencimentos, conforme o assessor jurídico
da SEDUFSM, tem havido concordância dentro desse
tribunal de que o governo federal tem descumprido
essa revisão, ferindo o dispositivo constitucional.
Uma forma de os servidores exigirem esse reajuste
seria através do encaminhamento de um Mandado de
Injunção diretamente no STF.
- Ação judicial que visa à correção monetária do
valor pago a título de auxílio-alimentação.
O decreto que regulamenta o pagamento do auxílio-
alimentação desde 2001 prevê a fixação mensal do seu
valor e afirma seu caráter indenizatório. Mesmo
assim, o benefício não é reajustado desde 2004,
encontrando-se flagrantemente com seu valor
defasado e descumprindo a legislação. Por isso, o
propósito da ação judicial é garantir a correção do
benefício e também o recebimento das diferenças
correspondentes aos últimos cinco anos em que o
valor não foi corrigido.
- Ação judicial visando à correção monetária do
auxílio creche.
O valor do auxílio-creche deveria ser fixado e
atualizado considerando-se os valores das
mensalidades escolares em cada local do país. Mesmo
havendo a previsão do reajuste, este não ocorre desde
1995. No entendimento da assessoria jurídica, o
governo, além de estar descumprindo disposição
legal, que determina o reajuste, está desvirtuando a
finalidade do benefício, pois ao longo deste período
houve significativa variação do valor das
mensalidades escolares e os valores que vêm sendo
pagos não se prestam a compensar as despesas dos
servidores com a escola para crianças de 0 a 6 anos.
O objetivo da ação é fazer com que o benefício passe
a ser pago aos servidores ativos em valores corrigidos,
bem como que sejam pagas as diferenças decorrentes
da correção em relação aos últimos cinco anos para
aqueles que receberam o auxílio. É importante
ressaltar que no caso das diferenças, a demanda pode
abranger também os inativos que, quando em
atividade, receberam o auxílio de forma defasada.

Sindicato pede cumprimento de decisão do STF

A SEDUFSM encaminhou ofício, no último dia 26 de novembro, ao pró-reitor
de Recursos Humanos da UFSM, João Pillar Pacheco de Campos, solicitando o
cumprimento do Mandado de Injunção nº 880, impetrado pelo ANDES-SN
junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte Máxima do país decidiu
favoravelmente ao pleito que reconheceu aos servidores federais representados
pelo Sindicato Nacional o direito à contagem diferenciada do tempo de serviço
prestado em condições especiais após a entrada em vigor da Lei nº 8.112/90.
Conforme a seção sindical, por ocasião do julgamento de Mandado de
Injunção análogo ao que foi referido, a Secretaria de Recursos Humanos do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, órgão administrador do
Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal, por meio da Coordenação-
Geral de Elaboração, Sistematização e Aplicação de Normas emitiu a Nota-
Técnica nº 21/09, esclarecendo o procedimento a ser adotado pelo órgão de
recursos humanos do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Assim, o que o sindicato reivindica é que o setor de recursos humanos da
UFSM adote as providências necessárias ao imediato cumprimento da referida
decisão, bem como passe a cumpri-la, haja vista que transitou em julgado em
14/08/2009. A SEDUFSM aguarda uma resposta oficial.
 04 DEZEMBRO/2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

ESPECIAL

Variação real da remuneração dos Docentes

Carreira docente do Magistério Superior
Comparativo de 1989 a 2009
20 anos de avanços e recuos GRÁFICO 1 Regime de trabalho de 20 horas
Arquivo/SEDUFSM Especialista Mestre Doutor
Classes Níveis Graduação Aperfeiçoamento
Você, leitor e associado, acom- Titular U -36% -36% -34% -29% -21%
panha a seguir um estudo Associado 4 -9%
realizado pelo professor Ricardo Associado 3 -13%
Rondinel, do curso de Economia Associado 2 -15%
da UFSM, que analisa os avanços Associado 1 -15%
do plano de carreira dos docen- Adjunto 4 -29% -29% -30% -27% -21%
tes, mas também, as perdas Adjunto 3 -27% -27% -28% -25% -19%
ocorridas ao longo dos últimos 20 Adjunto 2 -24% -25% -26% -23% -17%
anos. Além de atuar em sala de Adjunto 1 -22% -23% -24% -21% -15%
aula, Rondinel é atual diretor da Assistente 4 -18% -18% -20% -16%
SEDUFSM, entidade que já Assistente 3 -15% -16% -17% -14%
presidiu entre os anos de 1994 e Assistente 2 -13% -13% -15% -11%
Rondinel detecta a destruição da carreira 1996.
docente Assistente 1 -10% -11% -12% -9%
Auxiliar 4 -5% -5% -8%

Plano Único de Classificação e Auxiliar

Auxiliar
3
2
-2%
0%
-3%
-1%
-5%
-3%
Retribuição de Cargos e Empregos Auxiliar 1 4% 3% 0%

A carreira dos docentes das exclusiva ganhava 40% mais que GRÁFICO 2 Regime de trabalho de 40 horas
Universidades Federais data de 1987. aquele em quarenta horas. Ainda
Naquela época houve a unificação, formavam parte do Vencimento Básico Classes Níveis Graduação Aperfeiçoamento Especialista Mestre Doutor
numa só carreira, dos docentes das os percentuais por Titulação na base de Titular U -49% -49% -47% -42% -28%
Autarquias Federais, como é o caso da 5% para Aperfeiçoamento, 10% para Associado 4 -39% -19%
UFSM, e das fundações, um exemplo Especialização, 15% para Mestrado e
Associado 3 -40% -20%
disto no Estado seria a Fundação 25% para Doutorado. A carreira de
Universidade de Rio Grande. Magistério Superior compreendia Associado 2 -41% -20%
O Plano de Carreira de 1987 tem três quatro classes: Titular, Adjunto, Associado 1 -41% -21%
regimes de trabalho, a saber, vinte Assistente e Auxiliar. Adjunto 4 -44% -45% -42% -40% -27%
horas, quarenta horas e Dedicação O plano previa ainda degraus (steps) Adjunto 3 -43% -43% -41% -39% -25%
Exclusiva. dentro da mesma classe equivalentes a Adjunto 2 -41% -42% -39% -37% -22%
Nesse plano a base de todos os 5%. Entre o nível final de uma classe e Adjunto 1 -40% -40% -38% -36% -20%
salários, componentes da carreira, era o inicial da classe seguinte, haveria um
Assistente 4 -36% -37% -35% -32%
o piso salarial fixado para um docente acréscimo de 10%. Ainda entre o
na classe de Professor Auxiliar I, professor Adjunto 4 e Titular haveria Assistente 3 -34% -36% -34% -31%
graduado, em 20 horas. O teto salarial um ganho adicional de 25%. Assim a Assistente 2 -32% -34% -33% -29%
correspondia ao salário de um docente curva salarial, a relação entre o Assistente 1 -31% -32% -32% -27%
na Classe de Professor Titular, Doutor, vencimento de um professor titular, Auxiliar 4 -27% -28% -30%
em Dedicação Exclusiva. graduado, e o piso salarial seria de Auxiliar 3 -25% -26% -28%
Existia uma relação, fixada em Lei, 136%. A partir destas regras muitos Auxiliar 2 -22% -24% -26%
entre a remuneração dos três regimes profissionais qualificados foram
de trabalho. O docente em 40 horas atraídos às Universidades Federais, Auxiliar 1 -20% -22% -24%
ganhava 100% a mais que aquele em que entraram nelas através de
vinte horas. Já o docente em dedicação concursos públicos de provas e títulos. GRÁFICO 3 Regime de trabalho de dedicação exclusiva
Classes Níveis Graduação Aperfeiçoamento Especialista Mestre Doutor

Período inflacionário e o arrocho Titular

Associado
U
4
-48%
-39%
-47% -46% -32% -4%
13%
salarial através das gratificações Associado 3 -42% 10%
Associado 2 -45% 7%
De 1987 para 1988 a inflação passou de 400% ao ano para quase 1.000%.
Em 1989 e 1990 a inflação anual foi de 1.900% e 1.600% respectivamente. Associado 1 -46% 5%
Nesse contexto de aceleração inflacionária os salários chegaram a ter uma Adjunto 4 -49% -49% -46% -33% -17%
reposição mensal de perdas que chegaram a quase 100% no início dos anos Adjunto 3 -48% -48% -45% -32% -16%
1990. Adjunto 2 -46% -47% -44% -31% -14%
A inflação, que é o aumento contínuo e generalizado dos preços, provocava Adjunto 1 -45% -45% -43% -29% -11%
uma perda do poder de compra dos trabalhadores. Para repor as perdas Assistente 4 -42% -43% -40% -27%
inflacionárias bastava dar um reajuste único e linear igual para todos, o que
Assistente 3 -41% -41% -39% -25%
manteria a estrutura das carreiras. Entretanto os “expertos” assessores do
governo descobriram que criando “gratificações” poderiam “gastar menos” Assistente 2 -39% -40% -37% -22%
com o funcionalismo. Assim, ao invés de reajustes salariais foram sendo Assistente 1 -37% -38% -36% -20%
criadas, através de sucessivos instrumentos legais, novas gratificações. O Auxiliar 4 -34% -35% -32%
objetivo claro das gratificações era diminuir os gastos com o funcionalismo, Auxiliar 3 -32% -33% -31%
sem respeitar as Carreiras, no caso da dos Docentes, aprovada após quase três Auxiliar 2 -31% -32% -29%
meses de greve em 1987.
Auxiliar 1 -29% -30% -27%
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES DEZEMBRO/2009 05

ESPECIAL

Aumento da importância das gratificações

A pauta de reivindicações do ANDES- Sindicato Nacional sempre defendeu
uma reposição de perdas inflacionárias igual para todos os servidores públicos
civis e militares. De acordo com este principio, a reposição igualitária manteria a
estrutura, a hierarquia, e ao final um contrato de trabalho estável com regras
fixadas em Lei. Em face da aceleração do processo inflacionário, os sucessivos
governos nos últimos 20 anos foram impondo gratificações.
Em 1989, quando foi criada a SEDUFSM, já existia uma gratificação que em
média equivalia a 22% dos vencimentos. Transcorridos mais de 20 anos, as
gratificações representam, em média, 63% da remuneração dos docentes em
dedicação exclusiva, onde está a maioria da categoria.
Em 20 anos, as gratificações triplicaram sua importância na composição da
remuneração. O abuso do instrumento das gratificações praticamente
acabou com a carreira docente e implementou um arrocho salarial sem
precedentes, ferindo direitos da grande maioria dos docentes e
prejudicando, principalmente, os docentes aposentados.
Entre as gratificações mais importantes podemos mencionar:
1) A Gratificação de Atividade Executiva, GAE, equivalente a 160% dos
vencimentos básicos, criada em 1992;
2) A Gratificação de Estímulo à Docência, GED, criada em 1998, em
valores diferenciados para ativos e aposentados;
3) A Gratificação do Magistério Superior, GEMAS, criada em 2009 para

A destruição da carreira
substituir, em parte, a GAE;
4) A Retribuição por Titulação, RT, expressa como gratificação em valores
nominais. Com a criação da RT, os percentuais por Titulação vigentes em janeiro

e o arrocho salarial
de 2009, e que eram parte de nosso vencimento básico foram extintos. As duas
últimas alterações foram impostas à categoria docente a partir de um acordo
assinado entre o Governo Federal e o Proifes.
A conseqüência da política salarial de criação de gratificações provocou um
Composição dos docentes do magistério arrocho salarial em que alguns ganharam muito pouco e a grande maioria perdeu
superior - UFSM muito. Um dos resultados dos meus estudos está na tabela que tem como título
Graduação Especialista Mestre Doutor “Variação real da remuneração dos docentes de 1989 a 2009”. Uma variação
Ativos 3% 5% 27% 65% positiva significa um ganho em relação à inflação e uma negativa uma perda
Aposentados 24% 23% 33% 21% salarial real.
Os principais prejudicados foram os docentes em regime de trabalho de
quarenta horas. Hoje em média um docente em quarenta horas
Participaçao relativa da Titulação em relação aos outros componentes da remuneração ganha apenas 50% a mais que o docente em 20 horas, quando
Periodo Regime de trabalho Aperfeiçoam. Especialista Mestre Doutor deveria ser 100% a mais. Há um desestímulo total a esse regime
20 horas 4% 7% 11% 18% de trabalho (gráfico número 2).
Janeiro de 1990 40 horas 4% 8% 11% 19% No regime de trabalho de 20 horas apenas o auxiliar 1 apresenta
Dedicação Exclusiva 4% 8% 12% 19% valores positivos. Em contraposição neste regime o professor
Titular apresenta somente valores negativos (gráfico número 1).
Regime de trabalho Aperfeiçoam. Especialista Mestre Doutor No regime de trabalho de dedicação exclusiva, todos os valores
20 horas 4% 6% 18% 40% são negativos à exceção daqueles percentuais da nova classe de
Fevereiro de 2009 40 horas 3% 9% 24% 66% professor Associado (gráfico número 3).
Dedicação Exclusiva 4% 13% 47% 119% O que foi feito com a matriz salarial é um achatamento no
sentido vertical e um alongamento no sentido vertical da
matriz. A curva salarial referida anteriormente, no regime de
Percentuais de titulação em vigor até Janeiro de 2009 Dedicação Exclusiva foi achatada de 136%, em 1987, para 66%, em 2009.
Isso abriu espaço para a criação da classe de professor Associado e a
Regime de trabalho Aperfeiçoam. Especialista Mestre Doutor
transformação do professor Titular em uma espécie de rainha da Inglaterra.
20 horas 7,5% 18% 37,5% 75%
Desculpem a expressão, mas atualmente a diferença entre Associado 4 e
40 horas 7,5% 18% 37,5% 75%
Titular é de apenas 6%, enquanto a diferença entre Adjunto 4 e Associado 1 é
Dedicação Exclusiva 7,5% 18% 37,5% 75%
de 27%. Deve-se considerar que o acesso à classe de Professor Titular se dá
por Concurso Público de provas e títulos.

Aposentados, os grandes perdedores

Sem dúvida, os professores aposentados foram os grandes perdedores nesses 20 anos. Aproximadamente 47% dos aposentados são graduados ou têm cursos
de especialização. Estes tiveram perdas muito elevadas conforme mostrado nas tabelas. Como esta categoria jamais poderá ter acesso à classe de professor
Associado, as perdas são ainda maiores. Considerando que hoje as gratificações representam quase dois terços da remuneração, as vantagens pessoais, como
os adicionais de tempo de serviço e insalubridade, também estão achatadas. A valorização da titulação, sobretudo nos níveis de mestrado e doutorado, também
prejudicou os aposentados, pois eles não têm mais como ter acesso a esses títulos, agora mais valorizados. A valorização da titulação de doutorado é
importante. Não haverá futuro na Universidade sem pós-graduação. Entretanto, essa valorização não poderia ter sido feita em cima do arrocho, sobretudo dos
aposentados e dos docentes mais antigos na instituição. Isso é quebra de contrato. Sem respeito aos contratos e às leis jamais haverá avanços na democracia.
06 DEZEMBRO 2009
OPINIÃO
Qual deve ser a prioridade
do próximo reitor? (* )
Fotos: RENATO SEERIG
Nilton Bertoldo, 65 anos,
professor do departamento
de Ginecologia e Obstetrícia
do Centro de Ciências da
Saúde.
“Em primeiro lugar, mesmo
sendo polêmico, acho que tem
que dar continuidade ao
REUNI (programa de
expansão e reestruturação das
IFES). Temos um déficit enorme de cientistas no
país, então, é preciso investir em mais
universidades para romper o modelo em que
vivemos, que ainda é colonial, agrário, baseado em
monoculturas, exportação e superávit primário.
Baseado nesse pressuposto, eu acho que a próxima
Administração também teria que equipar de uma
maneira muito forte o hospital universitário, pois
em algumas áreas, está deixando muito a desejar”.
Dartanhan Figueiredo, 59
anos, professor aposentado
do departamento de Física.
“A prioridade deve ser a
extensão universitária.
Conseguir mostrar a toda a
sociedade os diferenciais que
possui a Universidade Federal
de Santa Maria. Apresentar os
projetos desenvolvidos pela
instituição e, que, por sua vez, fazem parte de um
processo maior que possibilita o desenvolvimento
integrado do ensino, da pesquisa e da extensão”.
Loiva Chansis, 45 anos,
funcionária da UFSM,
integrante da coordenação
do sindicato dos servidores
(ASSUFSM).
“O grande desafio da próxima
reitoria é discutir autonomia
com financiamento. A gente
está vendo um processo de
expansão da universidade,
mas, infelizmente, ainda há uma carência muito
grande de infra-estrutura e de recursos. Por isso,
penso que o grande desafio é conciliar esse
processo de expansão imposto pelo governo com a
necessidade de dar melhores condições tanto aos
docentes, como aos técnico-administrativos e até
mesmo na questão de política estudantil. E somente
alcançado autonomia com financiamento é que nós
poderemos atender as grandes demandas da
universidade”.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
Carreira docente, debate nacional
FRITZ NUNES
na base, até para que a
diretoria tenha mais força
para discutir com o governo e
viabilizar suas posições”,
afirma.
Para o diretor sindical, o
seminário de Brasília
amadureceu as discussões já
iniciadas em Montes Claros
(MG) e em Santa Maria (RS),
definindo os princípios gerais
para a proposta de carreira
que o ANDES-SN defenderá
perante o governo federal.
Entre essas propostas estão
o ingresso por concurso
público, a exigência de
Hélcio Braga, no debate sobre carreira em Santa Maria titulação para progressão de
O governo federal quer baratear o acesso dos classe, a paridade entre docentes da ativa e
professores à carreira do magistério superior, além aposentados e a indissociabilidade entre ensino,
de estendê-la indevidamente. Essa é a principal pesquisa e extensão. “De uma forma geral,
conclusão a que chegaram os representantes de 28 podemos dizer que nossa proposta de carreira se
Seções Sindicais do ANDES-SN que participaram constitui a partir de dois eixos norteadores: a
do Encontro Nacional de Carreira, de 20 a 22 de titulação e o tempo de serviço. E temos também a
novembro, na sede do Sindicato Nacional, em orientação, que corrobora o trabalho que já vem
Brasília. sendo desenvolvido pela diretoria, de que essa
De acordo com o 1º vice-presidente da Regional discussão é muito importante e, por isso, não deve
Leste do ANDES-SN e um dos coordenadores do ser discutido à toque de caixa, com pressa”, resume
GT Carreira, Hélcio Queiroz Braga, o que o Hélcio.
governo propõe é que os docentes comecem na Segundo ele, os princípios gerais definidos
carreira com um salário bem pequeno e demorem durante o seminário são suficientes para balizar as
pelo menos 30 anos para atingir o último patamar negociações com o governo. “Não aceitaremos,
previsto. “O quadro é de imposição de mais por exemplo, a introdução de uma nova classe na
trabalho para os servidores públicos. O tema da carreira, como o governo propõe, porque isso
carreira é muito importante para o movimento prejudicará a paridade entre docentes da ativa e dos
docente e exige o aprofundamento das discussões aposentados”, destaca ele.
Dúvidas locais
Na assembleia promovida pela SEDUFSM, no destacou que muitas vezes os documentos
dia 15 de dezembro, o tema da carreira docente divulgados pelo Sindicato Nacional no site da
também foi levantado pelo professor Alcides entidade expressam posições individuais, de
Adornes, do departamento de Física. Visivel- representantes de seções sindicais, manifestadas
mente indignado, ele criticou o ANDES-SN, que, em reuniões de grupos de trabalho, e neste caso
na avaliação dele, estaria sendo conivente específico não expressavam o pensamento
com as recentes mudanças na carreira “A do ANDES-SN. Disse ainda que a
do professor, que privilegiam os discussão sobre um projeto de
doutores e relegam os demais a um
discussão carreira novo, que substitua o atual,
segundo plano. sobre carreira que vem sendo destroçado pelos
Utilizando-se de documentos, ainda está em sucessivos governos, não está
muitos deles do ano de 2007, fechada. “A discussão está em
resultantes de discussões em grupo
andamento” andamento e nós podemos
Fabiane Costas, presidente
de trabalho e não finalizadas, influenciar”, enfatizou Fabiane.
da SEDUFSM
Adornes argumentou que o Sindicato Por sua vez, o professor Rondon de
Nacional estaria defendendo a progres- Castro, secretário-geral da SEDUFSM,
são apenas por titulação. O docente também afirmou que entendia a “indignação” de
solicitou que a SEDUFSM enviasse um “comu- Alcides Adornes, mas pediu a ele que ponderasse
nicado” aos professores que possuem condições que nada ainda é definitivo. Lembrou que as
de se aposentar, que não o façam agora, pois alterações na carreira têm sido feita de cima para
sofreriam prejuízo salarial. baixo, sem o consentimento do ANDES. O diretor
A presidente da SEDUFSM, professora Fabiane do sindicato também convidou o professor do
Costas, que juntamente com o professor Rondon departamento de Matemática a se integrar nas
de Castro, coordenava a plenária, afirmou enten- discussões do sindicato referente à carreira, espe-
der a preocupação de Alcides Adornes, mas cial-mente para o próximo congresso do ANDES.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES DEZEMBRO 2009 07

ANDES debate reserva de vagas

Raíza Rocha/ADUNEB
Claudia Durans, do GT Etnias do ANDES-SN e
Kabengele Munanga
O Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES-
SN) realizou dias 11, 12 e 13 de dezembro, em
Salvador, na Universidade Estadual da Bahia
(UNEB), o Seminário Nacional sobre Ações
Afirmativas e Reserva de Vagas. A atividade foi
uma deliberação do último Congresso do Sindicato
e visava qualificar o debate sobre as políticas de
acesso e permanência nas Universidades brasileiras
oferecendo subsídios para que o próximo
Congresso do ANDES possa deliberar sobre o tema.
Na mesa de abertura do evento esteve presente
como conferencista o professor Kabengele Munan-
ga, natural do Congo e que ministra aulas na
Carlos Maciel, 24 anos,
estudante de Geografia e
Universidade de São Paulo (USP) desde a década de Ciências Sociais, membro da
80. Para Munanga, a implementação das cotas nas coordenação do DCE.
universidades públicas é uma realidade e, portanto, “A principal prioridade do
não se trata apenas de um debate teórico. “Estamos
reitor deve ser em relação à
na UNEB, uma das universidades pioneiras em
adotar o sistema de cotas. Mais de 80 universidades questão da assistência
já adotaram esse sistema e, hoje, concretamente, as estudantil. Hoje está
universidades que possuem reserva de vagas já ocorrendo uma ampliação do
formaram mais alunos negros que desde a sua número de vagas, mas há uma
fundação”, afirmou o professor. demanda crescente, por
COTAS- No segundo dia do seminário, o tema foi exemplo, em relação à moradia estudantil.
“As cotas na universidade em debate”. Participaram
Preocupa também a questão do aumento da
das discussões o professor Valdélio Silva, da
UNEB, que é um estudioso sobre quilombos con- demanda pelo RU (Restaurante Universitário) e a
temporâneos, e Júlio César, do Grupo de Trabalho questão das bolsas estudantis fornecidas pela
de Negros e Negras da Conlutas. Júlio César reafir- PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis). São
mou a importância da construção do movimento questões que precisam ser priorizadas pelo novo
Raça e Classe da Conlutas em uma conjuntura de reitor”.
cooptação do movimento negro pelo Estado e pelos
governos. Ressaltou, ainda, a política de cotas como
uma das estratégias de reparação, mas que não pode
Wilton Orlando Trapp, 63
ser um fim em si mesmo.
Para aqueles que são contras as cotas, um dos anos, professor aposentado
argumentos utilizados é que o racismo no Brasil não do Centro de Educação.
seria institucionalizado e, portanto, não se deveria “A nova Administração deve
institucionalizar as cotas. Ou, ainda, que não seria ter como prioridade
possível verificar os beneficiados por essa política possibilitar o acesso irrestrito
em virtude do país ser mestiço ou, então, que não
a qualquer membro da
poderíamos comprovar a existência do racismo. No
entanto, para os palestrantes, tais argumentos carre- comunidade acadêmica, a
gam a concepção de negar a própria existência do todos os espaços, projetos,
racismo no país. “A descriminação pela cor da pele convênios e acordos
pode ser verificado cotidianamente, como mostra realizados com as fundações
também os índices estatísticos”, disse Valdélio. de apoio ao longo do tempo”.
(Fonte: Raiza Rocha, jornalista da ADUNEB)
(*) A data marcada para a posse do novo reitor da UFSM,

Justiça ainda não reconhece Proifes professor Felipe Müller, é o dia 8 de janeiro de 2010.

Uma decisão judicial proferida no dia 27 de novembro validou a assembleia promovido pelo Fórum
de Professores (Proifes), no dia 6 de setembro de 2008, em que centenas de docentes foram impedidos
de adentrar o prédio da CUT, em São Paulo. Entretanto, na mesma decisão, o juiz Luiz Fausto
Marinho de Medeiros, da 16ª Vara da Justiça do Trabalho do Distrito Federal, não entrou no mérito
ELES DISSERAM
sobre a legimitidade do Proifes em querer assumir-se como sindicato dos professores nas federais.
O Sindicato Nacional vai recorrer da decisão diante das aberrações dos procedimentos de obstrução “Ciro é oportunista e gazeteiro. Aliás, não entendo
adotados na ocasião, que retiram daquele evento qualquer legitimidade. Embora contrário ao pleito como não foi cassado até hoje por excesso de faltas”.
principal do autor (ANDES-SN), o juiz indeferiu a solicitação do Proifes de que o documento relativo
ao ato do ministro Carlos Lupi de restabelecimento do registro sindical do ANDES-SN, conforme
(Deputado Eduardo Cunha, do PMDB-RJ, respondendo a
publicado em 5 de junho de 2009, fosse retirado do processo. De modo análogo, não acolheu a taques do deputado Ciro Gomes, do PSB-CE. Folha de
solicitação do Proifes de considerar a demanda do sindicato-autor como "litigância de má fé", entre São Paulo, caderno Brasil, 17.12.2009)
outros motivos, pelo entendimento de que a suspensão temporária do registro sindical da entidade
nacional nunca significou sua inexistência ou cassação.
Em sua sentença, Fausto Medeiros também assinala que, em sua análise, somente se refere à “Estamos limitando os gastos com pessoal para que
validade da assembleia, e que sua decisão não significa o reconhecimento da legitimidade do Proifes, sobre mais dinheiro para investimentos”. (Senador
diante da necessidade de haver julgamento administrativo da impugnação feita pelo ANDES-SN ao Romero Jucá, do PMDB-RR, que é líder do governo no
pedido de registro sindical em trâmite junto ao Ministério do Trabalho e do Emprego. (Fonte:
ANDES-SN) Senado. Folha de São Paulo, caderno Dinheiro,
17.12.2009)

Teto salarial “Devemos estar preparados para responder à

Os servidores públicos federais pretendem reagir
na Câmara dos Deputados ao projeto de lei
aprovado no Senado, dia 16 de dezembro, que fixa
limites de gastos públicos com a folha de
pagamento dos funcionários públicos da União. De
autoria do líder do governo no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR), o Projeto de Lei Complementar
(PLS) nº 611/2007 estabelece que o aumento real da
folha — quando se desconta a inflação — não pode
ultrapassar 2,5% em um ano. Com o respaldo da
área econômica e política do governo, a medida
altera a Lei de Responsabilidade Fiscal para impor
limites ao aumento das despesas com pessoal. autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao
O secretário-geral da Confederação Nacional do
Sindicato dos Servidores Públicos Federais discurso que perigosamente tenta dividir o País ao
(Condsef), Josenilton Costa, disse ontem que, quan- meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres.”
do a proposta chegar à Câmara, organizará os sindi-
catos e as entidades representativas dos trabalha- (Governador de Minas Gerais, Aécio Neves, explicando
dores para barrar a aprovação da matéria. Para Ro- desistência da pré-candidatura a Presidente da
mero Jucá, a proposta busca estabelecer um “padrão
de gastos” do governo que, segundo ele, reestru-
República e alfinetando a candidatura do PT. Jornal Zero
turou a maioria das carreiras do funcionalismo. “Se Hora, 18.12.2009)
não tiver um freio, deixa o governante à mercê das
pressões”, afirmou. (Fonte: Correio Braziliense)
 08 DEZEMBRO/2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
COM A PALAVRA
Rosa Maria Marques PERGUNTAS&RESPOSTAS
Pergunta - Na sua avaliação,
“Atraso” do
como a economia brasileira se saiu
no contexto da crise econômica
mundial mais recente? O discurso
da “marolinha” tinha algum funda-
mento ou as conseqüências foram e
país impediu
ainda podem ser bastante corrosi-
vas?
Resposta- Os resultados da econo-
mia brasileira foram dentro do espera-
do, de acordo com as projeções dos
principais institutos de pesquisa do
crise mais grave
país. Um cres-
cimento de
0,12%, segun-
do as mais
recentes pre-
visões, mostra que o país não ficou
A gaúcha Rosa Maria Marques vive em São Paulo há um bom tempo. Formada incólume da crise que hoje assola as
em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), economias no mundo. O desempenho
atualmente é titular da cadeira de Economia na Pontifícia Universidade só não foi pior porque o governo usou
Católica de São Paulo (PUC). Mestre em Economia pela PUC, possui doutorado de todos os recursos disponíveis para
pela Fundação Getúlio Vargas (SP) e pós-doutorado na Université Pierre impedir que a produção de alguns seto-
Mendès France, em Grenoble (França). Entre os livros que publicou e res caísse para níveis insustentáveis.
organizou, destaca-se O Brasil sob a nova ordem – a economia brasileira Assim, a indústria automobilística
contemporânea – uma análise dos governos Collor a Lula. Rosa Maria esteve pôde compensar a queda da demanda
em Santa Maria, no dia 23 de outubro, para participar do debate “A privatização de suas exportações com o crescimen-
do Estado brasileiro”, dentro da programação do V Encontro de Grupos de to da demanda interna, o que foi pos-
Trabalho do ANDES-SN, em Santa Maria. A professora da PUC participou das sível dada à imensa renúncia fiscal
discussões juntamente com Luiz Carlos Gonçalves Lucas, que é professor promovida pelo governo, que deixou
do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de de arrecadar alguns bilhões
Pelotas (UFPel). Em entrevista ao Jornal da SEDUFSM, Rosa a título de imposto sobre os
Maria diz que se o Brasil teve efeitos negativos menos perversos produtos industrializados.
com a crise econômica mundial, isso se deve ao fato de o
governo ter usado “todos os recursos disponíveis para impedir
que a produção de alguns setores caísse”. Acompanhe a seguir
a entrevista em que ela fala sobre temas como a ofensiva contra
o MST, a influência do bolsa família sobre o processo eleitoral
no país e a falta de políticas governamentais que combatam as
causas estruturantes da pobreza.
Foots: RENATO SEERIG
O mesmo ocorreu em relação com a pro-
dução da chamada linha branca. Ao
lado disso, não foi desprezível o incen-
tivo que o governo deu à indústria da
construção civil, criando linhas de cré-
dito para a compra de casa própria, por
exemplo. Além disso, o governo utili-
zou vários instrumentos para aumentar
os recursos destinados ao crédito (au-
mento da disponibilidade do BNDES,
do Banco do Brasil e da Caixa Federal;
redução do compulsório dos bancos jun-
to ao Banco Central), o que foi combi-
nado à redução da taxa de juros.
Ao contrário do que aconteceu em
outros países e exatamente porque o
Brasil não havia destruído, em seu pro-
cesso de adequação aos princípios do
neoliberalismo e à dominância finan-
ceira, instituições como o BNDES e o
Banco do Brasil, mas também porque
não havia criado um mercado de capi-
tais expressivo e não tinha ampliado
significativamente a ação dos fundos
de pensão para além dos fundos fecha-
dos, o país não teve quebradeira em cas-
cata, da esfera financeira à economia
real. Pode-se dizer, então, que o relati-
vo “atraso” do país em relação ao que
até bem pouco tempo era considerado
moderno, foi o que permitiu que a crise
não tivesse maior impacto sobre a eco-
nomia brasileira.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES DEZEMBRO/2009 09

P - Havia uma corrente de econo- mero assistencialismo, outros de to que se manteve vivo após a eleição tes. A tentativa de criminalizar o MST
mistas prevendo que o Brasil e até que gera distribuição de renda. de Lula. E afirmo isso sem deixar de tem como objetivo calar a voz do único
mesmo a China “quebrariam” após a Qual a sua avaliação? considerar a resistência de algumas movimento que se mantém vivo no
crise econômica. Esse quadro caótico R- Em estudo publicado na Revista categorias, tais como os servidores momento atual.
já pode ser descartado? de Economia Política, em janeiro de públicos em sua luta contra a reforma
R - Se fosse para quebrar, o que certa- 2009, eu e outros colegas demonstra- previdenciária, e o fato de várias cate- P - Em relação ao pré-sal, a sra.
mente é recurso de retórica, eles que- mos o papel que o Programa Bolsa gorias tentarem, por fora de seus sin- acredita que estão corretas as avalia-
brariam durante a crise e não depois. Família teve nos resultados do segun- dicatos e centrais sindicais, continuar ções de que será uma poupança
Para o ano de 2010, o desempenho do turno, das últimas eleições. Para a lutar por seus interesses. É por isso importante para as finanças do
dependerá de como a econo- se ter uma idéia, mais de 1/4 que o MST tem recebido o mais Brasil?
mia mundial, especial- (26,3%) da população bra- amplo apoio de intelectuais, de pro- R- Não tenho conhecimento sobre o
mente a China, irá se “Mais sileira é beneficiária des- gressistas de toda ordem e de militan- assunto para responder.
comportar. As últimas de um quarto se programa. E não há
informações relativas dúvida que o recebi-
à economia chinesa dos brasileiros mento de renda, via
indicam que seu cres- se beneficia do transferência gover-
cimento está abaixo namental, alterou a
do esperado, o que deve bolsa família” realidade das mais de
prejudicar a economia 11 milhões de famílias
brasileira. E isso porque difi- que a recebem. Apesar dis-
cilmente o governo terá condi- so, a crítica que se faz ocorre em
ções de manter os estímulos que foram dois níveis: primeiro, no campo da
dados para a sustentação da demanda proteção social, a transferência não se
interna. constitui um direito, por isso é um
Programa; segundo, nada foi feito
P - Como a sra. avalia a decisão do para alterar os determinantes da
governo de cobrar IOF sobre o capi- pobreza. E a pobreza neste país tem
tal aplicado em Bolsas de Valores no determinantes estruturais.
Brasil?
R- Essa medida já devia ter sito toma- P - Há uma ofensiva contra o
da há muito tempo. Ela é uma medida Movimento Sem-Terra,
de salvaguarda, que taxa os capitais que inclusive com uma propos-
aqui chegam apenas para se valerem da ta de CPI para investigar o
rentabilidade das aplicações aqui prati- repasse de recursos públicos
cadas, isto é, que não investem na eco- ao MST. Qual a sua avaliação
nomia brasileira. O país não precisa se sobre o tema da reforma agrá-
valer de capitais estrangeiros especula- ria no país?
tivos, principalmente numa situação de R- A questão da terra no
crise. Brasil, concentrada na mão
de alguns poucos, é um dos
P - O próximo ano é de eleições. A determinantes da enorme
sra. acredita que o tema econômico pobreza nele existente.
vai ser preponderante nas dis- Nenhum governo até hoje
cussões? se propôs a ir contra
R- Sim, mas o governo os interesses das oli-
terá como “cacife” o
“A garquias agrárias e
fato de que a crise, no concentração este governo não é
país, foi menor do que
a imaginada pelas pes-
da terra é um dos diferente. As promes-
sas de Lula ficaram
soas. Em outras pala- determinantes no papel, pois não
vras, frente ao que a houve nenhum
mídia divulgava e
da pobreza” avanço em rela-
divulga de outros países, a ção à reforma
maioria esperava algo seme- agrária durante os
lhante no país. Como falei, aqui não anos de seus dois
houve quebradeira, houve redução da mandatos. O
produção e demissões, o que já é extre- m o v i m e n t o
mamente negativo. pela terra, cuja
luta o MST é
P - O bolsa família é um tema den- sua expressão
tro das políticas sociais que divide opi- maior, é prova-
niões. Alguns estudiosos dizem que é velmente o único movimen-
 10 DEZEMBRO 2009
EXTRA-CLASSE
Os 20 anos que
fizeram história
O mês de novembro, período marcado pelas
comemorações de 20 anos de fundação da SEDUFSM, foi
repleto de atividades. O pontapé inicial na programação foi
no dia 5 de novembro, quando o sindicato recebeu
homenagem da Câmara de Vereadores, em sessão solene. A
proposição foi do vereador Jorge Trindade, o Jorjão, do PT,
mas acatada pela unanimidade dos parlamentares.
No dia 26 do mesmo mês, a atividade alusiva ao
aniversário foi a apresentação da Orquestra Sinfônica de
Santa Maria, na Igreja do Rosário, próximo ao centro da
Orquestra na comunidade
Igreja do Rosário lotada com show da
Orquestra Sinfônica
Pelo quarto ano seguido, no mês de
aniversário da SEDUFSM, a Orquestra
Sinfônica de Santa Maria fez uma
apresentação para a comunidade. Em 2009,
o evento aconteceu na quinta, 26 de
novembro, na Igreja Nossa Senhora do
Rosário. A apresentação dos músicos, que
foram regidos pelo maestro Ênio Guerra,
iniciou às 8 da noite, e, apesar do calor, teve
lotação esgotada da igreja, abrangendo um
público de aproximadamente 300 pessoas.
A apresentação, além de comemorar os 20
anos do sindicato dos docentes da UFSM,
entidade fundada em 7 de novembro de
1989, homenageou também a própria
igreja, que completou 50 anos no mês de
outubro.
No texto lido durante o transcorrer do
evento, a diretoria da seção sindical
enfatizou que “atividades culturais como a
apresentação da orquestra representam um
retorno que o sindicato oferece à sociedade
na qual está inserido”. Foi lembrada ainda a
importância da parceria entre a SEDUFSM
e a Orquestra Sinfônica, que data desde o
ano de 2006. De lá para cá já foram quatro
apresentações às comunidades que têm
pouco acesso à música erudita.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
cidade. A proposta era de um concerto da orquestra na praça
Saldanha Marinho no sábado, 7 de novembro, mas devido
ao mau tempo, houve adiamento e, finalmente, com a
apresentação ocorrendo em local fechado, mas
privilegiando uma comunidade próxima ao centro.
A finalização da programação de 20 anos foi na segunda,
30 de novembro. Neste dia, foi lançada a revista
comemorativa às duas décadas da SEDUFSM cujo título
foi “Os 20 anos que valeram a pena”. Acompanhe um
resumo desses acontecimentos.
Homenagem da Câmara
Fotos: RENATO SEERIG
Solenidade de homenagem na Câmara
com diversas autoridades
Fazer parte da história da SEDUFSM é
motivo de orgulho e de responsabilidade.
Assim definiu o desafio de dirigir o sindicato,
a atual presidente da entidade, Fabiane
Costas, durante a homenagem pelos 20 anos
da entidade, prestada pela Câmara de Verea-
dores, no dia 5 de novembro. Em seu
discurso, Fabiane Costas destacou o fato de
que o atual grupo dirigente da seção sindical
assumiu em 2008 com o registro sindical do
ANDES-SN suspenso, que depois de muita
pressão e luta, foi revertido em junho deste
ano.
A presidente do sindicato alertou ainda para
ameaças que pairam no horizonte como a
proposta de alteração da carreira docente.
Segundo ela, o que se avizinha distorce total-
mente o que é preconizado pelo ANDES, que
se baliza no tripé ensino, pesquisa e extensão.
Quem também usou o espaço da tribuna da
Câmara foi o professor Ricardo Rondinel.
Atual diretor da SEDUFSM, Rondinel
presidiu a entidade entre os anos de 1994 e
1996. Em seu discurso, o professor destacou
que a fundação do sindicato foi a
“concretização de um sonho” em 7 de
novembro de 1989. O início contou com 100
filiados e hoje são cerca de 1.200.
Revista comemorativa dos 20 anos
Revista fechou comemorações
Brinde aos 20 anos de história com
ex-presidentes e atuais diretores
O encerramento das atividades de comemoração dos
20 anos da SEDUFSM foi marcado por grande
emoção na segunda, 30 de novembro. O ato público,
no auditório do sindicato, contou com a presença de
ex-diretores, ex-presidentes e conselheiros da
entidade. Dentre os ex-presidentes, os professores
Clovis Guterres, Ricardo Rondinel, Francisco Freitas,
Jadir Lemos, Carlos Pires e Diorge Konrad. Diretores
de gestões anteriores, como Marian Moro, Rejane dos
Santos, Wilton Trapp, Adriano Figueiró, também
prestigiaram o evento, que foi marcado pelo
lançamento da revista comemorativa às duas décadas
de existência e por um coquetel de confraternização.
Cerca de 50 pessoas estiveram presentes, entre os
quais, dirigentes da ASSUFSM, DCE, Sinpro,
Sinprosm. Prestigiaram ainda a atividade: Ramiro
Dutra ( representando o vereador Marion Mortari –
PP), o reitor da UFSM (representado pelo professor
André Ramos Soares), Roberto Montagner
(Coordenadoria de Comunicação Social da UFSM),
professora Inara Rodrigues (Unifra), Celso Carmelo
de Moraes (primeiro assessor jurídico da SEDUFSM).
A presidente da Seção Sindical dos Docentes da
UFSM, Fabiane Costas, ressaltou a importância de
todos aqueles que ajudaram a fazer a história do
sindicato, saudando de forma especial, o professor
Clovis Guterres, qualificado por ela como seu
“mestre”.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES DEZEMBRO 2009 11

EXTRA-CLASSE

Aonde foi parar a música engajada?

Fotos: FRITZ NUNES
o professor do curso de Música da
UFSM, Oscar Daniel Morales, o pro-
fessor de Música nas Universidades de
Santa Cruz do Sul (Unisc) e Cruz Alta
(Unicruz), Edu Pacheco, e o músico da
“Band On the run”, Renato Molina. A
coordenação ficou a cargo do professor
do curso de Comunicação Social da
UFSM, Rondon de Castro. Cerca de 20
pessoas prestigiaram a atividade.
O professor Daniel Morales, do curso
de Música da UFSM, que tem história
junto ao Movimento Nativista do Rio
Grande do Sul, hoje é bastante crítico
em relação a esse estilo. “No passado já
tivemos orgulho de dizer que éramos
nativistas e não tradicionalistas, mas
hoje, infelizmente, no nativismo pros-
pera a reprodução de um mesmo qua-
dro. A mesmice tomou conta. Muitas
Público assistiu a cinco videoclipes com músicas "engajadas" das músicas se limitam a descrever o
Para alguns pontos de vista, o que engajada? Será porque as pessoas não gaúcho tomando mate”, argumenta de
muitos artistas querem é mudar a sua querem mais protestar? Essas são forma ácida. Para Morales, a música
estética para entrar no mercado de apenas algumas das idéias discutidas na engajada politicamente praticamente
consumo, “vendendo um pouco da alma segunda, 14 de dezembro, durante a 40ª desapareceu. “Será que somos acomo-
ao diabo”. Sob outra forma de ver a ques- edição do Cultura na SEDUFSM. dados, vendemos um pouco da nossa
tão, o que seria preciso é repensar o No último evento cultural de 2009, a alma ao mercado ou somos reféns da
formato da arte que se faz. Por que não proposta foi discutir “Música engajada indústria cultural”, questiona ele.
existe espaço para a música de protesto, ou alienante?”. Participaram do debate REBELDIA- Mesmo não preten-
dendo apresentar respostas definitivas a
tantas dúvidas, o professor Daniel
Morales vê como uma das causas da falta
de compromisso da arte musical com a
transforma-
ção, a ausência
nas pessoas de
um “espírito
rebelde” aos
moldes do que
existia no final
dos anos 60 e
meados dos
anos 70. “Ha-
via uma re-
beldia posi-
tiva, transfor- Daniel Morales: Nativismo
madora”, diz virou uma "mesmice"
ele.
Para o professor, a educação tem papel
importante em todo esse processo.
Citando o videoclipe que havia sido
apresentado antes de iniciar o debate, da
banda Pink Floyd (Another brick in the
wall), Morales destacou que “se
continuamos formando apenas tijolos
para compor um muro, pessoas de
pensamento uniforme, iguais, o que se
pode esperar?”, questionou.

Mudança de contexto
A música engajada tem eco nos dias atuais? A interrogação é Playlist
de Edu Pacheco, que além de professor de música, coordena o
departamento pedagógico do projeto CUICA – Cultura, Antes de ocorrer o debate sobre “música engajada ou alienante?”, o
Inclusão, Cidadania e Artes. Para ele, é preciso pensar não público assistiu a cinco videoclipes que apresentaram alguns exemplos, em
apenas se existe espaço para a música engajada na atualidade, momentos históricos distintos, de músicas com apelo social ou político.
mas principalmente saber se as pessoas querem protestar. 1) John Lennon – Give peace a chance (1970);
Pacheco diz que não tem dúvida de que existem motivos para 2) Pink Floyd- Another Brick in the wall (1979);
as pessoas fazerem crítica, protestarem. Contudo, enfatiza que 3) Plebe Rude- Até quando esperar (1985);
o contexto que se vive hoje é muito diferente dos anos 60, 70 e
4) Mercedes Sosa- Cuando tienga la tierra (show em Manágua, em 1983);
80. Naquele período, explica ele, vivíamos regimes ditatoriais
em quase toda a América Latina. Hoje, destaca, temos um Edu Pacheco: é 5) O Rappa- A minha alma (1999)
governo com uma popularidade imensa. preciso construir
uma "arte nova"
Pacheco também argumenta que quando se fala em música
engajada ou de protesto, não se pode pensar apenas na letra. Ele cita um dos clipes
apresentados antes do debate, do grupo Rappa (A minha alma). Segundo ele, a letra e REINALDO PEDROSO
o clipe mostram moradores de favelas, negros, em conflito com a polícia. Mas, em
que isso colaborou para a transformação da realidade, questiona o professor.

A mídia e a banalidade - Certeza

absoluta,
“Sou analógico de carteirinha”. O que é digital tem seu
valor, mas ainda engatinha, discursou Renato Molina. Além uma
de técnico de áudio da Rádio Universidade de Santa Maria, mulher não será
Molina já passou por algumas bandas de rock da cidade, entre
as quais, a “Nocet” e, atualmente, integra o projeto que reuniu eleita
os apaixonados por Beatles e formaram em 2005 a “Band On presidenta.
the run”. Ele justifica seu discurso dizendo que foi a partir da
era digital que as coisas foram se banalizando e foram
perdidos os parâmetros. “Hoje não sabemos mais o que é bom
e o que é ruim. Quem dita o padrão estético é a mídia”, critica.
Renato Molina: Caminhando na linha de argumentação do professor Daniel
educação é a Morales, Renato Molina também pensa que um dos
base de tudo
problemas básicos de tudo é a educação. “Não estamos
educando pessoas para raciocinar ou transgredir”, destaca.
Respondendo a uma questão do público sobre “colonialismo cultural”, Daniel
Morales enfatizou que falta aos brasileiros “formação e informação”, pois estaríamos
“de costas para a América Latina”. Já Edu Pacheco, em suas conclusões sobre o tema
do debate, se há espaço para a música engajada, ressalta que, num contexto diferente
como o que vivemos, é preciso construir uma “arte nova”. Para sermos “transgres-
sores” temos que pensar de forma conjunta “conteúdo, forma e espaço”, destacou.
 12 DEZEMBRO 2009 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

ARTIGO DICA CULTURAL

Dossiê Mortos e CD/DV D

MTV APRESENTA
Desaparecidos Políticos CASUARINA
Aconteceu no auditório da Ditadura. Lutaram pela demo-
SEDUFSM, no dia 26 de no- cracia e foram mortos pela
vembro, o debate/lançamento intolerância de um regi-
santa-mariense da nova edi- me que não contente
ção do Dossiê Ditadura com o exílio, com a
Mortos e Desaparecidos Polí- tortura, o banimento,
ticos no Brasil (1964-1985), as cassações e outras
livro organizado pela Comis- formas de violência,
são Nacional dos Familiares e assassinou parte de
Desaparecidos Políticos no uma geração que
Brasil. O evento contou lutava por um
com a participação de Brasil distante Quem ouviu? Rejane Miranda (*)
Criméia de Almeida e da dependência Gravadora: Sony /BMG
Suzana Lisboa. imperialista e das Preço: entre R$ 20 e R$ 24
Criméia participou da formas seculares
Site: www.casuarina.com.br
Guerrilha do Araguaia, de opressão em
militando no Partido Co- nosso País.
munista do Brasil (PC do No debate tam- O Casuarina, assim como
B), enquanto Suzana, mili- bém foi discutido o árvore que lhe dá nome, cresceu
tante da Ação Libertadora porque do acesso rápido no cenário do samba.
Nacional (ALN), foi esposa aos arquivos oficiais Criado em 2001, é hoje um dos
de Luiz Eurico Lisboa, ainda ser dificultado principais grupos brasileiros,
irmão do cantor e composi- no Brasil. Nesse sen- inovando nos arranjos e
tor Nei Lisboa, que militou tido, o "Dossiê" é caprichando na escolha do
na clandestinidade, sendo uma fonte extraordi- repertório, composto por músicas
morto em São Paulo. Antes nária pois conta com autorais e releituras Formado por
disso, Luiz Eurico teve passa- informações coletadas por Daniel Montes( violão 7 cordas),
gem por Santa Maria, estu- meio de pesquisas, conversas e Gabriel Azevedo ( percussão e
dando economia na UFSM. troca de correspondência com voz), João Cavalcanti(percussão e
Ambas pertencem à Comis- parentes, amigos e ex-presos voz), João Fernando( bandolim e
são de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. políticos, realizado pelas famílias (muitos delas também voz) e Rafael Freire( cavaquinho e
O evento teve a coordenação de mesa de Enrique Padrós vítimas da violência) que ainda durante o Ditadura inicia- voz),o Casuarina chega ao
(do Departamento de História – UFRGS) e Diorge Konrad ram a busca de informações sobre as circunstâncias dos terceiro disco com o registro de
(do Departamento de História – UFSM), sendo organizado crimes. A missão era não somente esclarecer os aconteci- um show gravado em maio deste
pelo Departamento de História da UFSM e com o apoio do mentos, localizar restos mortais e identificar os responsá- ano para a MTV , na Fundição
Departamento de História/UFRGS e da Comissão de veis, mas principalmente preservar a memória do que ocor- Progresso, no bairro boêmio da
Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa - reu e, assim, contribuir para a difusão de uma cultura de Lapa. O show deu origem ao CD e
RS. defesa dos direitos humanos. DVD e contou com a participação
Na ocasião, tanto Criméia como Suzana fize- Trata-se de um levantamento exaustivo e
de alguns bambas como Roberto
ram um relato sobre a produção do livro, bem abrangente, não definitivo, na busca por
“Trata-se Silva, Wilson Moreira, grupo
como parte da luta dos familiares dos desapa- esclarecimentos nunca cessados sobre a
Moinho, além de parcerias com
recidos para encontrar seu entes queridos. de um vida de 436 mortos e desaparecidos, além
Frejat e Moska. O talento e a ginga
Além disso, as militantes e dirigentes nacio- levantamento de corrigir várias das versões anteriores.
destes jovens músicos propõem
nais do movimento, a pedido do público que É a 2ª edição revista, ampliada e atuali-
exaustivo e um diálogo sempre necessário
lotou o auditório da SEDUFSM, também zada, que teve a Organização de Criméia
abrangente” entre a velha guarda e as novas
fizeram um relato de suas trajetórias políticas de Almeida, Janaina de Almeida Teles,
gerações de sambistas. E esta
tanto da luta contra a Ditadura Civil-Militar Suzana K. Lisboa e Maria Amélia Teles.
proposta coloca em evidência o
Brasileira pós-1964, bem como de suas ativida- Publicada pela Imprensa Oficial do Estado de
des na Comissão de Familiares. São Paulo/Comissão de Familiares de Mortos e
mais brasileiro dos ritmos
O livro é um denso e pungente relato de 772 páginas, nas Desaparecidos Políticos/IEVE - Instituto de Estudos sobre contribuindo para a afirmação da
quais são descritas a vida, a militância e as circunstâncias a Violência do Estado. Possui 772 páginas e custa R$ nossa cultura musical.
prováveis e confirmadas das mortes de centenas de militan- 60,00 na Imprensa Oficial de SP e R$ 30,00 diretamente (* Jornalista, produz e apresen-
tes políticos brasileiros que não se dobraram perante a com os familiares. ta de segunda à sexta-feira, das
11h05 ao meio-dia, na Rádio Uni-
versidade o programa Fazendo
Diorge Alceno Konrad Arte. www.ufsm.br/fazendoarte)
Professor do departamento de História da UFSM