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mesma cor, do que entre pessoas de cores diferentes, sintetiza a artista. O discurso
igualitrio o que torna a obra mais incrvel, no s por ser uma frase bonita, mas
por criar na relao com o trabalho uma contradio em vrias instncias que nos faz
atravessar oceanos e recolonizar a obra.
Explico-me: ao apoiar parte do trabalho na cultura indgena com o menor
peso que seja Adriana Varejo vem suscitar algumas questes importantes: nesta
lista do IBGE haviam cores que remetessem aos ndios? No. Pois, esta situao de
excluso nos faz lembrar que os povos ndgenas esto no lado dos mais prejudicados
na histria da colonizao brasileira. O contato com o homem branco s resultou em
morte e aculturao o que obviamente no quer dizer que a miscigenao (no
sentido de cruzamento gentico) seja algo ruim. que a poesia do discurso igualitrio
se dissolve quando nos damos conta de que os ndios so os que tem menos a
defender em favor da miscigenao sabe-se que para eles, existem os ndios e os
no-ndios o branco, o negro e o moreno continuam sendo estrangeiros,
sequelas de um perodo colonizador. Portanto, apropriar-se da pintura indgena para
pintar o rosto de uma branca sem sequer usar uma cor referente aos ndios s ajuda a
desconstruir o discurso. E com efeito.
A poesia passa ento a se inscrever sobre a ironia. So diversas: Alm dos 33
quadros serem autorretratos de uma branca de cabelos lisos, estes autorretratos
foram encomendados a chineses, que remetem imediatamente mo-de-obra barata
e explorao neocolonialista. E outra: 33 quadros um nmero no to aleatrio,
quando lembramos que 33 foi a idade com que morreu Jesus, o cara que trataria todo
mundo igual.
Cada uma das constataes acima dariam horas de discusso, e justamente
a que est a beleza de Polvo. Adriana Varejo na verdade pode estar resgatando o
mito da democracia racial, nascido do livro Casa Grande e Senzala de Gilberto
Freyre, convidando todos a refletir sobre essa rica e contraditria multiculturalidade
brasileira que nem sequer conhemos.