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INGENIUM

II Série | Número 99 | Maio/Junho 2007

II Série | Número 99 | 3
Maio / Junho 2007

Director Fernando Santo | Director-Adjunto Victor Gonçalves de Brito a engenharia portuguesa em revista

A ENGENHARIA
NA SAÚDE

PRIMEIRO DESTAQUE
PLANO ENTREVISTA CASO Uma Apresentação
Defesa da Floresta Eng.º João Wemans DE ESTUDO Geral dos
é Prioridade Os Engenheiros Inovação Eurocódigos
INGENIUM

Nacional fazem bem à saúde? in-house Estruturais


Página 6 Página 22 Página 28 Página 68
INGENIUM
II SÉRIE N.º 99 - MAIO/JUNHO 2007

Propriedade: Ingenium Edições, Lda.


Director: Fernando Santo
´
SUMARIO
Director-Adjunto: Victor Gonçalves de Brito
Conselho Editorial:
Ema Paula Montenegro Ferreira Coelho, António Manuel Aires Messias, Aires
5 EDITORIAL
Barbosa Pereira Ferreira, Pedro Alexandre Marques Bernardo, João Carlos A Intervenção da Engenharia no sistema de saúde
Moura Bordado, Paulo de Lima Correia, Ana Maria Barros Duarte Fonseca,
Miguel de Castro Simões Ferreira Neto, António Emídio Moreiras dos Santos, 18
Maria Manuela X. Basto de Oliveira, Mário Rui Gomes, Helena Farrall, Luis 6 PRIMEIRO PLANO
Manuel Leite Ramos, Maria Helena Terêncio, António Carrasquinho de Freitas, TEMA
Armando Alberto Betencourt Ribeiro, Paulo Alexandre L. Botelho Moniz DE CAPA 6 Defesa da Floresta é Prioridade Nacional
Redacção, Produção Gráfica e Publicidade: Ingenium Edições, Lda. 9 Universidades portuguesas entre as melhores do espaço
Sede Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa Onde pára a engenharia? ibero-americano
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 352 46 32
E-mail: gabinete.comunicacao@ordemdosengenheiros.pt
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 - 4000-425 Porto 10 NOTÍCIAS
Tel.: 22 207 13 00 - Fax: 22 200 28 76
Região Centro Rua Antero de Quental, 107 - 3000 Coimbra
Tel.: 239 855 190 - Fax: 239 823 267
22 12 BREVES
Região Sul Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 313 26 90
Região Açores Rua do Mello, 23, 2.º - 9500-091 Ponta Delgada ENTREVISTA 14 REGIÕES
Tel.: 296 628 018 - Fax: 296 628 019
Região Madeira Rua da Alegria, 23, 2.º - 9000-040 Funchal
Tel.: 291 742 502 - Fax: 291 743 479 Eng.º João Wemans, 28 CASO DE ESTUDO
Impressão: Heska Portuguesa
Director Geral das Instalações Inovação in-house
e Equipamentos da Saúde
Publicação Bimestral
“Os Engenheiros 32 INOVAÇÃO
Tiragem: 44.000 exemplares
fazem bem à Saúde?” Pequenas inovações que fazem a diferença
Registo no ICS n.º 105659 | NIPC: 504 238 175
Depósito Legal n.º 2679/86 | ISSN 0870-5968
34 COLÉGIOS
Ordem dos Engenheiros

Bastonário: Fernando Santo 66 56 COMUNICAÇÃO


Vice-Presidentes: Sebastião Feyo de Azevedo, 56 Os mitos urbanos da floresta: a “floresta natural”
Victor Manuel Gonçalves de Brito
Conselho Directivo Nacional: Fernando Santo (Bastonário), Sebastião DESTAQUE 62 Reforço de Terrenos com Resinas Expansivas
Feyo de Azevedo (Vice-Presidente Nacional), Victor Manuel Gonçalves de
Brito (Vice-Presidente Nacional), Gerardo José Saraiva Menezes (Presidente Um caso de Obra: Edifício Monumental de “Punta Della Dogana”,
CDRN), Fernando Manuel de Almeida Santos (Secretário CDRN), Celestino
Flórido Quaresma (Presidente CDRC), Valdemar Ferreira Rosas (Secretário
Ordem atenta em Veneza
CDRC), António José Coelho dos Santos (Presidente CDRS), Maria Filomena à legislação profissional
de Jesus Ferreira (Secretário CDRS).
Conselho de Admissão e Qualificação: João Lopes Porto (Civil),
66 DESTAQUE
Fernando António Baptista Branco (Civil), Carlos Eduardo da Costa Salema 68 Uma apresentação Geral dos Eurocódigos Estruturais
(Electrotécnica), Rui Leuschner Fernandes (Electrotécnica), Pedro Francisco
Cunha Coimbra (Mecânica), Luís António de Andrade Ferreira (Mecânica),
Fernando Plácido Ferreira Real (Geológica e Minas), Nuno Feodor Grossmann 72 72 ANÁLISE
(Geológica e Minas), Emílio José Pereira Rosa (Química), Fernando Manuel
Ramôa Cardoso Ribeiro (Química), Jorge Manuel Delgado Beirão Reis (Naval), 76 Integração de Requisitos Administrativos Prévios à Execução
António Balcão Fernandes Reis (Naval), Octávio M. Borges Alexandrino ANÁLISE
(Geográfica), João Catalão Fernandes (Geográfica), Pedro Augusto Lynce de de Projectos Ferroviários
Faria (Agronómica), Luís Alberto Santos Pereira (Agronómica), Ângelo Manuel
Carvalho Oliveira (Florestal), Maria Margarida B. B. Tavares Tomé (Florestal), Localização do Novo 80 Informação Geográfica Institucional na Internet – GeoPortais do
Luís Filipe Malheiros (Metalúrgica e de Materiais), António José Nogueira
Aeroporto de Lisboa Instituto Geográfico Português e do Instituto Geográfico do Exército
Esteves (Metalúrgica e de Materiais), José Manuel Nunes Salvador Tribolet
(Informática), Pedro João Valente Dias Guerreiro (Informática), Tomás Augusto 82 Revisão de Projectos
Barros Ramos (Ambiente), Arménio de Figueiredo (Ambiente).
Presidentes dos Conselhos Nacionais de Colégios: Hipólito José Campos 86 Arsenal do Alfeite – Um organismo do Estado ao serviço
de Sousa (Civil), Francisco de La Fuente Sanches (Electrotécnica), Manuel
Carlos Gameiro da Silva (Mecânica), Júlio Henrique Ramos Ferreira e Silva 84 da manutenção dos navios da Armada, Uma unidade industrial
(Geológica e Minas), António Manuel Rogado Salvador Pinheiro (Química),
José Manuel Antunes Mendes Gordo (Naval), JAna Maria de Barros Duarte
relevante no porto de Lisboa
Fonseca (Geográfica), Miguel de Castro Simões Ferreira Neto (Agronómica), ANÁLISE
Pedro César Ochôa de Carvalho (Florestal), Rui Pedro de Carneiro Vieira de 90 OPINIÃO
Castro (Metalúrgica e Materiais), João Bernardo de Sena Esteves Falcão e
Cunha (Informática), António José Guerreiro de Brito (Ambiente).
Revisão do Plano Rodoviário O Regulamento Geral do Ruído: Algumas Notas
Região Norte
Conselho Directivo: Gerardo José Sampaio da Silva Saraiva de Menezes Nacional – PRN 2000 92 INGENIUM
(Presidente), Maria Teresa Costa Pereira da Silva Ponce de Leão (Vice-
Presidente), Fernando Manuel de Almeida Santos (Secretário), Carlos Pedro
de Castro Fernandes Alves (Tesoureiro). Revista “Ingenium” – Estatuto Editorial
Vogais: António Acácio Matos de Almeida, António Carlos Sepúlveda Machado
e Moura, Joaquim Ferreira Guedes.
Ingenium Edições, Lda. – Demonstração de Resultados Líquidos
Região Centro 96
Conselho Directivo: Celestino Flórido Quaresma (Presidente), Maria Helena 94 CONSELHO JURISDICIONAL
Pêgo Terêncio M. Antunes (Vice-Presidente), Valdemar Ferreira Rosas CONSULTÓRIO
(Secretário), Rosa Isabel Brito de Oliveira Garcia (Tesoureira).
JURÍDICO Jurisprudência Disciplinar
Vogais: Filipe Jorge Monteiro Bandeira, Altino de Jesus Roque Loureiro,
Cristina Maria dos Santos Gaudêncio Baptista.
Região Sul Abate de Veículos 100 LEGISLAÇÃO
Conselho Directivo: António José Coelho dos Santos (Presidente), António
José Carrasquinho de Freitas (Vice-Presidente), Maria Filomena de Jesus em Fim de Vida
Ferreira (Secretária), Maria Helena Kol de Melo Rodrigues (Tesoureira). 108 CRÓNICA
Vogais: João Fernando Caetano Gonçalves, Alberto Figueiredo Krohn da Silva,
Carlos Alberto Machado.
Fluidos fora da lei?
Secção Regional dos Açores
Conselho Directivo: Paulo Alexandre Luís Botelho Moniz (Presidente), Victor
104 112 INTERNET
Manuel Patrício Corrêa Mendes (Secretário), Manuel Rui Viveiros Cordeiro
(Tesoureiro).
Vogais: Manuel Hintze Almeida Gil Lobão, José António Silva Brum. HISTÓRIA 113 LIVROS EM DESTAQUE
Secção Regional da Madeira
Conselho Directivo: Armando Alberto Bettencourt Simões Ribeiro (Presidente),
Victor Cunha Gonçalves (Secretário), Rui Jorge Dias Velosa (Tesoureiro). 114 AGENDA
Vogais: Francisco Miguel Pereira Ferreira, Elizabeth de Olival Pereira. Origem e criação do LNEC

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EDITORIAL

Foto: Paulo Neto


A Intervenção da Engenharia
no sistema de saúde
a última metade do século XX a engenharia nica e engenharia da saúde, tendo por base a forma-

N sofreu um impressionante desenvolvimento,


transformando o conhecimento científico em
bens e serviços que contribuíram para o progresso
ção, a preparação científica e os conhecimentos nas
disciplinas que caracterizam as áreas de engenharia.
A Ordem dos Engenheiros deve prestar atenção a
Fernando Santo
da humanidade. estas novas formações, o que justificou a sua esco-
lha como tema principal desta edição, sem esque-
Nesta edição da “Ingenium” destacamos a presença cermos uma diversidade de outros artigos de rele-
da engenharia no sistema de saúde, uma das áreas vante interesse profissional. Estamos de acordo
indispensáveis à qualidade de vida, em que todos
com a necessidade
somos consumidores exigentes, preocupados com o O Governo tem desenvolvido uma intensa activi-
futuro. A engenharia tem sido um dos parceiros mais dade legislativa em matérias que envolvem a enge- de uma Lei-quadro que
discretos, mas eficazes, num sistema multidiscipli- nharia, destacando-se as Propostas de Lei para revi- defina as regras para
nar que deverá assegurar as melhores condições de são do célebre Decreto 73/73, do Regime Jurídico criar novas associações,
prevenção da doença, do seu tratamento e de mini- da Urbanização e da Edificação (DL 555/99) e, mais
mas não aceitamos
mização dos seus efeitos. recentemente, uma Proposta para regular as asso-
ciações públicas profissionais. que esse motivo seja
A engenharia começou por ser mais visível na con- aproveitado para limitar
cepção dos projectos, na construção de instalações Todos estes Projectos de Lei já foram aprovados pela a independência e
e na sua manutenção e conservação mas, com o de- Assembleia da República, na generalidade, a que se
autonomia das Ordens,
senvolvimento tecnológico, surgiram novos equipa- seguirá a discussão na especialidade, onde ainda se
mentos que passaram a facilitar o trabalho dos pro- admitem alterações. transformando-as
fissionais de saúde e a qualidade dos serviços pres- numa “Conservatória
tados, através de meios auxiliares de diagnóstico e Nesta edição fazemos uma breve síntese destes di- de registo profissional”.
de tratamento. plomas, destacando-se o que pretende regular as As-
sociações Públicas Profissionais, que merece de todas
O aumento da procura e a necessidade de conter os as Ordens uma forte contestação.
custos, tornou mais complexa a gestão das unidades
hospitalares, o que intensificou o recurso à engenha- Estamos de acordo com a necessidade de uma Lei-
ria de sistemas de informação e de processos, diver- -quadro que defina as regras para criar novas asso-
sificando a presença da engenharia. ciações, mas não aceitamos que esse motivo seja
aproveitado para limitar a independência e autono-
O mercado da saúde, nas suas diferentes formas, mia das Ordens, transformando-as numa “Conser-
está em franca expansão nas sociedades mais desen- vatória de registo profissional”.
volvidas, com os países da OCDE a gastarem cerca
de 10% do seu PIB, enquanto que nos EUA já se Sabemos que quem preparou este diploma, em ter-
atingiu 15%. mos jurídicos, sempre atacou as Ordens Profissionais
de forma dogmática e, nesta perspectiva, o Projecto
Em Portugal, após a implementação do Sistema Na- de Lei atinge os seus objectivos mais obscuros.
cional de Saúde, em 1979, assistimos, gradualmente
e nos últimos anos, ao aparecimento de sistemas pri- Esperamos que os deputados da Assembleia da Re-
vados, através de seguros de saúde e, mais recente- pública corrijam esta visão totalitária da intervenção
mente, de unidades hospitalares privadas. do Estado, reconhecendo e dignificando o contri-
buto que as associações públicas profissionais têm
Como resposta aos novos desafios, diversas escolas dado à sociedade.
superiores de engenharia iniciaram licenciaturas e
mestrados em engenharia biomédica, engenharia clí- Umas Boas Férias.

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PRIMEIRO PLANO

Defesa da Floresta
é Prioridade Nacional
Os incêndios que consumiram o país em 2003, e logo depois em 2005, foram os mais
destruidores dos últimos 26 anos (1980 a 2006). A área cruzada pelo fogo nesses dois períodos
obrigou a uma reflexão séria sobre o estado da floresta, a sua organização e os meios de
intervenção de que o país dispunha. Deste enquadramento nasceu, pelas mãos do Governo,
o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, aprovado em Maio de 2006.
A “Ingenium” quis perceber o que está a ser feito no terreno, como está o país em termos de
organização das suas forças de intervenção e como está a floresta a ser preparada para resistir
a esta calamidade. Para tal, contou com a colaboração do Eng.º Paulo Mateus, Subdirector
Geral dos Recursos Florestais e, dentro deste organismo, responsável pela área da Defesa das
Florestas contra Incêndios.

Texto Marta Parrado


Ano
Floresta Ardida Espaços Florestais De acordo com a Resolução do Conselho de
(%) Ardidos (%)
Ministros n.º 65/2006, que aprova o Plano,
1995 2,6 3,1
Plano Nacional de Defesa 1996 0,9 1,6
os grandes objectivos estratégicos do Go-
da Floresta contra Incêndios 1997 0,3 0,6 verno assentam na “redução da área ardida,
O Governo assumiu, desde Maio do ano pas- 1998 1,7 2,9 em termos de superfície florestal, para va-
sado, a defesa da floresta contra os incêndios 1999 0,9 1,3 lores equiparáveis à média dos países da bacia
2000 2,0 3,0
como uma prioridade nacional, consciente mediterrânica, a eliminação dos grandes in-
2001 1,4 2,1
que está da ameaça que os incêndios flores- 2002 1,9 2,3
cêndios, a redução do número de incêndios
tais constituem à preservação da floresta por- 2003 8,5 7,9 com área superior a 1 ha e a redução do nú-
tuguesa e, consequentemente, à sustentabi- 2004 1,7 2,4 mero de reacendimentos”.
lidade económica e social do país. Para tal, 2005 6,4 6,3 Para a concretização destes desideratos, foram
traçou o Plano Nacional de Defesa da Flo- 2006 1,1 1,4 estabelecidos cinco eixos estratégicos de ac-
Fonte: www.dgrf.min-agricultura.pt
resta Contra Incêndios, a cartilha pela qual tuação: aumento da resiliência do território
todas as forças de intervenção nesta área de- será faseada, apresentando-se 2012 e 2018 aos incêndios florestais; redução da incidên-
verão reger as suas actuações durante os pró- como as duas metas de implementação das cia dos incêndios; melhoria da eficácia do ata-
ximos 11 anos. A aplicação deste desígnio políticas preconizadas. que e da gestão dos incêndios; recuperação e
reabilitação dos ecossistemas; e adaptação de
Incêndios Florestais – Portugal – Totais Nacionais uma estrutura orgânica e funcional eficaz.

Prevenção, vigilância e combate


As responsabilidades de implantação das me-
didas estabelecidas no Plano estão cometi-
das a três entidades diferentes. A Direcção
Geral dos Recursos Florestais (DGRF) trata
da prevenção estrutural, a Guarda Nacional
Republicana (GNR) da vigilância, detecção
e fiscalização, e a Autoridade Nacional de
Protecção Civil (ANPC), ex Serviço Nacio-
nal de Bombeiros e Protecção Civil, assume
a liderança ao nível do combate.
Relativamente à prevenção estrutural, o Eng.º
Paulo Mateus explicou-nos os dois níveis de
intervenção existentes. Um assenta na sensi-
Fonte: www.dgrf.min-agricultura.pt bilização e alteração comportamental da po-

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PRIMEIRO PLANO
“Temos os planos possíveis”
Os planos municipais já foram realizados e apro- que é tão necessário para este ano, está apro-
vados? Quem são os responsáveis pela sua elabo- vado, mas com a obrigatoriedade de ser re-
ração? formulado até Outubro deste ano.
Já foram realizados e foram aprovados 232
planos de um total de 278 municípios (do Essas reformulações não se cingirão a incorpo-
continente). Os planos são da comissão mu- rar a nova legislação, ao invés de constituírem a
nicipal. Na sua grande maioria, foram elabo- oportunidade para ultrapassar as fraquezas exis-
rados por técnicos dos gabinetes técnicos tentes?
que apoiam a comissão municipal de defesa Existe uma grande desactualização forma-
da floresta contra incêndios. Nalguns casos, tiva da parte dos funcionários do Ministério
a comissão decidiu dar a elaboração dos pla- e também da parte de quem estaria apto a
nos a entidades privadas, a empresas. elaborar os planos. Isto porque, nesta temá-
tica da defesa da floresta contra incêndios,
E essas comissões municipais são compostas por estamos a dar os primeiros passos. É preciso
Eng.º Paulo Mateus, quem? formação fora e dentro do Ministério, e é
Subdirector Geral dos Recursos Florestais Quem preside é o presidente da Câmara. isso que temos vindo a fazer desde o ano
Temos um representante da Direcção Geral passado: capacitar tecnicamente as pessoas
pulação relativamente às florestas, cujo su- dos Recursos Florestais, um técnico, na maio- que avaliam e as que elaboram os planos.
cesso incorpora o ritmo traduzido pela velha ria dos casos um chefe de divisão, engenheiro Este ano, até Outubro, teremos tempo para
máxima “água mole em pedra dura tanto bate florestal; um representante do Instituto da trabalhar esta vertente tão necessária, que é
até que fura”. A segunda vertente prende-se Conservação da Natureza e da Biodiversi- a formação das pessoas.
com a construção da rede primária, desenvol- dade; da GNR; um técnico das associações
vida no âmbito das comissões municipais das florestais; um representante dos bombeiros, Qual é a vantagem de aprovar planos que, mani-
florestas contra incêndios, e que envolve a outro do exército, eventualmente também festamente, não são bons, para pedir, de imediato,
elaboração de planos municipais para todo o da PSP, nos casos em que exista. No fundo, a sua reformulação?
território do continente, objectivo já concre- todas as forças vivas estão representadas na Os planos, por muito maus que sejam, dão
tizado. Este patamar está ainda ligado à im- comissão. indicações de avanço, de caminho, pelo que
plementação de medidas de gestão de com- considero ser pior andarmos à deriva, não
bustível, ou seja, a delimitação de “zonas que Quem avalia a qualidade dos planos? termos nenhum plano, do que termos um
permitam criar descontinuidade de combus- O plano é apresentado à comissão munici- plano que não é o melhor. Além do mais,
tível ao nível da paisagem, possibilitando con- pal e é aprovado, ou não, pela comissão. De- uma das peças do plano é a parte operacio-
ter o fogo em áreas mais pequenas”, apresenta pois é enviado para a Direcção Geral para, nal, que é necessária para o Verão, pelo que
o responsável, adiantando também a utiliza- aí sim, obter a aprovação final. toda a informação que daí possa advir é fun-
ção, em maior escala, da técnica do fogo con- damental: informação relativa a quem vigia
trolado, uma prática que tem sido utilizada Considera que os planos têm qualidade? o quê, qual a área que cada equipa de com-
precisamente nas grandes faixas de gestão de Da avaliação que fizemos, verificámos que bate salvaguarda, os contactos das máquinas
combustível. um conjunto grande de planos merecia uma de rasto que existem no concelho, etc., trata-
Quanto às outras instâncias, embora atri- reformulação, por não estarem, a nosso ver, -se de informações que são muito básicas,
buindo “o seu a seu dono”, o Eng.º Paulo Ma- enquanto especialistas na área, com as espe- mas que são fundamentais e que não exis-
teus identifica avanços vários nos últimos cificações necessárias para que fossem os tiam. Claro que quando falamos de matérias
tempos. melhores planos. Mas à semelhança do que mais específicas, como seja a carta de risco,
“Ao nível da vigilância, houve a incorporação aconteceu com os PDM, também este é um as deficiências agravam-se. E a esse nível
da guarda-florestal na GNR. A incorporação processo adaptativo, evolutivo. Os planos temos que incidir mais, nomeadamente atra-
foi muito pacífica e tem dado resultados, foram aprovados, sem excepção, com uma vés de formação adequada. Acabámos por
sendo mais evidente ao nível da investigação, condicionante que a legislação permite: apoia- perceber que estávamos a pedir às pessoas,
visto estarem mais pessoas disponíveis. Por dos numa possibilidade da portaria que saiu interna e externamente, um plano que não
outro lado, sabemos que está a decorrer um no final do ano passado, que obriga à refor- tinham capacidade de fazer. Arranjámos uma
concurso para a implementação de postos de mulação de todos os planos até Outubro forma legislativa para prorrogar no tempo a
vigia de melhor qualidade, uma vez que os deste ano, porque entretanto foi produzida elaboração de um plano melhor. Neste mo-
existentes estão obsoletos”. O Subdirector legislação que é necessário incorporar, dis- mento temos os planos possíveis, que são
semos às comissões municipais que o plano, adaptáveis e que irão melhorar bastante. ■

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 7


PRIMEIRO PLANO
da DGRF recomenda, assim, ao nível da vi- adequados para intervenção. No fundo, o
gilância fixa, que “se olhe para o território e papel deste técnico é assessorar o coman-
se verifique se os postos de vigia estão nos dante no sentido de lhe apontar oportuni-
sítios certos. Não estando, será necessário re- dades que vão surgindo no terreno.
localizá-los, uma vez que as áreas florestais “No ano passado tivemos vários exemplos
foram evoluindo”. excepcionais, sendo um deles no Parque da
Relativamente à vigilância móvel “a GNR Serra do Gerês, onde foi conseguido conter
está a dotar-se de mecanismos informáticos o incêndio através da utilização de maquina-
que irão beneficiar muito a capacidade de ria pesada e do chamado contra-fogo. Assim,
coordenação dos vários meios e dos vários o que se perspectivava ser um incêndio de
agentes no terreno”. milhares de hectares, ficou pelos 180 ha”.
Quanto ao combate, o Plano Nacional insti- Este ano vão ser constituídas 4 equipas, com-
tuiu um reforço significativo ao nível da 1.ª postas, no total, por 8 técnicos estrangeiros
intervenção, nomeadamente no aumento, for- e 8 portugueses, todos engenheiros, cuja in-
mação e reciclagem dos elementos da GNR tervenção será solicitada pela ANPC em si-
que integram o Grupo de Intervenção de Pro- tuações de incêndios descontrolados e que
tecção e Socorro (GIPS), na sua vertente ter- são situações de grande risco.
restre e helitransportada, e cuja coordenação, “Essas pessoas encontram-se disponíveis,
na vertente de combate, pertence à ANPC. equipadas com os melhores meios que temos
Ainda nesta linha, foram criadas cerca de 60 de apoio à decisão e serão alocadas aos pio-
equipas de bombeiros profissionais, segundo res cenários”, explica o responsável.
nos revelou o nosso interlocutor. “Já no ano passado tivemos o apoio da Ar-
Outra evolução de importância extrema foi gentina e da Catalunha, e este ano vamos
a assumpção de um comando único no “tea- continuar com esse apoio. Isto porque, ape-
tro das operações”, independentemente das que tem que ser desenvolvido e que está a sar de Portugal já dispor de muita gente cre-
forças que estejam a actuar. Trata-se de uma ser desenvolvido, uma vez que não temos pa- denciada em fogo controlado, há poucas pes-
responsabilidade assumida pela ANPC, pro- rado de dar formação”, adianta o Eng.º Paulo soas com à-vontade e experiência suficientes
tagonizada no terreno pelo seu comandante Mateus. para poderem realizar uma função deste gé-
de operações (COS), um bombeiro, devi- nero”. Como tal, a DGRF tem promovido
damente formado e credenciado para assu- Participação dos engenheiros formação nesta área, com o apoio de enti-
mir a gestão de uma situação de incêndio. florestais é reforçada dades estrangeiras, tendo nela participado,
A necessidade de mais engenheiros flores- inclusivamente, comandantes de bombeiros,
Formação para todos tais no domínio da defesa da floresta é, para uma realidade importante que permite um
A defesa da floresta contra incêndios é uma o responsável da DGRF, inquestionável, bom acolhimento no terreno e a utilização
área recente dentro da política das florestas, tendo as mais-valias proporcionadas por estes de uma linguagem comum. “Aliás, já há um
à qual não tem sido atribuída a importância profissionais sido percebidas e a sua inter- subcomandante de bombeiros do Norte, que
devida, pelo que a formação dos diferentes venção, enquanto analistas de incêndio, so- é engenheiro florestal e que é um dos espe-
operadores que nela trabalham, sejam inter- licitada pela Secretaria de Estado da Protec- cialistas, um dos analistas”.
nos ou externos ao Ministério, é insufici- ção Civil. Esta intervenção teve início em A presença dos profissionais de engenharia
ente. 2006, embora de forma discreta. Contudo, é valorizada noutras valências, nomeada-
Esta constatação é feita pelo Subdirector da o Eng.º Paulo Mateus reconhece que os re- mente ao nível dos planos de gestão flores-
DGRF, que traça uma linha vertical em ter- sultados foram excepcionais, “ao ponto de tal (PGF), já iniciados, pelo menos para as
mos da necessidade de formação dos recur- comandantes de bombeiros nos dizerem que áreas baldias. Os técnicos envolvidos na sua
sos humanos que trabalham neste sector, não queriam trabalhar sem o apoio de uma elaboração são, de acordo com o Subdirec-
tanto ao nível do engenheiro florestal como equipa daquele género”. tor Geral da DGRF, todos engenheiros flo-
do sapador. Um analista florestal é, em traços gerais, um restais. Os PGF “são planos interdisciplina-
“Sentimos que os técnicos que aqui têm tra- engenheiro florestal, credenciado em fogo res dentro da engenharia florestal, pelo que
balhado ao longo dos anos não se capacitaram controlado, que tem o conhecimento do só uma pessoa com uma visão de conjunto,
como deviam em defesa da floresta contra comportamento do fogo e que, aliando esses como é o engenheiro florestal, pode ser capaz
incêndios, pelo que precisam de formação conhecimentos aos que a sua formação lhe de desenvolver aquilo que é um projecto de
nesta área. E sentimos essa falha ao nível dos proporciona, poderá dizer com algum rigor engenharia florestal por excelência”, asse-
gabinetes técnicos, dos nossos próprios téc- o caminho que o fogo tenderá a tomar, o gura. “E quando o projecto de engenharia
nicos que fazem acompanhamento das co- tempo que demorará a chegar a determina- florestal é feito por um engenheiro florestal
missões, e também dos técnicos das associa- dos objectivos, as oportunidades e onde se e não por outro interveniente, nós notamos
ções florestais. Há um trabalho muito grande encontram para controlá-lo, os meios mais na qualidade”, remata. ■

8 INGENIUM | Maio/Junho 2007


PRIMEIRO PLANO
Universidades portuguesas entre
as melhores do espaço ibero-americano
produção científica de cerca de 750 uni- versidade de Aveiro que se destacou na área Analisando o ranking parcial das áreas disci-

A versidades e institutos de investigação


do espaço ibero-americano (Portugal,
Espanha, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia,
da Ciência e Tecnologia de Materiais.

Quanto à Universidade do Porto, a área mais


plinares com ligação à engenharia, a Univer-
sidade Técnica de Lisboa mantém o lugar de
topo na Engenharia Mecânica, Naval e Aero-
Cuba, México, Peru e Venezuela) foi ava- bem classificada é a Química, com um ter- náutica, desce para uma segunda posição em
liada recentemente pela rede Universia, da ceiro lugar, de entre as várias centenas dis- Engenharia Civil e Arquitectura e para o ter-
qual resultou um ranking, divulgado em Maio poníveis, e com uma quarta posição em En- ceiro lugar nas áreas de Engenharia Eléctrica,
deste ano, que coloca várias instituições por- genharia Mecânica, Naval e Aeronáutica (ver Electrónica e Automática e de Tecnologia
tuguesas em lugares de destaque. quadro1). Electrónica e das Comunicações.

Considerando a produção científica produ- QUADRO 1 – Síntese 2005: Universidades portuguesas no RI3 no último ano de avaliação
zida no último ano avaliado, 2005, os Totais
Posição UP UTL UL UAv. UC UNL UM
Gerais do Ranking Ibero-americano de Ins- GERAL 11.º 19.º 26.º 31.º 33.º 39.º 61.º
tituições de Investigação (RI3) atribui à Uni- Produção citável 13.º 16.º 28.º 27.º 33.º 37.º 55.º
versidade do Porto (UP) o 11.º lugar, o que Produção ponderada 20.º 16.º 27.º 39.º 33.º 42.º 75.º
corresponde a uma 10.ª posição quando con- Factor impacto médio ponderado 280.º 248.º 357.º 77.º 423.º 246.º 273.º
tabilizadas somente as universidades. Ciências da Computação e Tecnologia Informática 7.º 6.º 31.º 28.º 18.º 32.º 35.º
Engenharia Mecânica, Naval e Aeronáutica 4.º 1.º 70.º 9.º 12.º n.c. 24.º
Tecnologia Química 3.º 7.º 69.º 12.º 34.º 28.º 27.º
À frente da Universidade do Porto encon- Engenharia Civil e Arquitectura 10.º 1.º 52.º 13.º 11.º 55.º 25.º
tram-se instituições de Espanha, Brasil, Mé- Ciência e Tecnologia de Materiais 13.º 10.º 44.º 2.º 26.º 27.º 6.º
xico, Argentina e Chile, sendo o número um Engenharia Eléctrica, Electrónica e Automática 10.º 2.º 49.º 13.º 27.º 51.º 89.º
conquistado pelo CSIC de Madrid, o se- Tecnologia Electrónica e das Comunicações 18.º 2.º 54.º 15.º 40.º 49.º 143.º

gundo lugar pela Universidade de São Paulo


e a terceira posição pela Universidade de Resultados dos últimos 15 anos
Barcelona. Contudo, no ranking que considera a pro- Quanto à Universidade do Porto, a sua área
dução científica agregada dos últimos 15 anos forte continua a ser a Química, embora com
Neste mesmo mapa, a Universidade Técnica avaliados (ver quadro 2), ou seja, de 1991 a uma ligeira descida.
de Lisboa (UTL) é a instituição portuguesa 2005, a Universidade do Porto ocupa a 20.ª
que se segue, com um 19.º lugar, sendo atri- posição, seguida pela Universidade Técnica Os diferentes indicadores para associar a
buída a 26.ª posição à Universidade de Lis- de Lisboa (21.ª), Universidade de Lisboa cada instituição uma determinada produção
boa (UL), a 31.ª à Universidade de Aveiro (28.ª), Universidade de Coimbra (34.ª), Uni- ou um factor de impacto, baseiam-se na
(UAv.), o 33.º lugar à Universidade de Coim- versidade Nova de Lisboa (48.ª), Universi- quantidade de documentos recolhidos nas
bra (UC), o 39.º à Universidade Nova de dade de Aveiro (62.ª) e Universidade do revistas indexadas e nas bases de dados Thom-
Lisboa (UNL) e o 61.º à Universidade do Minho (84.ª). son Scientific-ISI. ■
Minho (UM).

Nas várias áreas de engenharia avaliadas, é pos- QUADRO 2 – Síntese 1991/2005: Universidades portuguesas no RI3 nos últimos 15 anos
sível verificar que também aqui as instituições Posição UP UTL UL UC UNL UAv. UM
portuguesas dão cartas. A Universidade Téc- GERAL 20.º 21.º 28.º 34.º 48.º 62.º 84.º
nica de Lisboa sobe ao pódio com o primeiro Produção citável 22.º 18.º 27.º 34.º 47.º 50.º 78.º
lugar em Engenharia Mecânica, Naval e Eero- Produção ponderada 20.º 16.º 27.º 33.º 42.º 39.º 75.º
náutica e em Engenharia Civil e Arquitectura; Factor impacto médio ponderado 280.º 248.º 357.º 423.º 246.º 77.º 273.º
Ciências da Computação e Tecnologia Informática 10.º 5.º 29.º 18.º 25.º 40.º 41.º
e com a segunda posição em Engenharia Eléc-
Engenharia Mecânica, Naval e Aeronáutica 9.º 1.º 59.º 10.º 87.º 18.º 28.º
trica, Electrónica e Automática e em Tecno- Tecnologia Química 5.º 6.º 60.º 32.º 42.º 30.º 29.º
logia Electrónica e das Comunicações. Engenharia Civil e Arquitectura 12.º 2.º 41.º 11.º 52.º 45.º 42.º
Ciência e Tecnologia de Materiais 17.º 11.º 36.º 20.º 28.º 8.º 15.º
Existe ainda outra segunda posição ocupada Engenharia Eléctrica, Electrónica e Automática 28.º 3.º 62.º 26.º 64.º 24.º 72.º
Tecnologia Electrónica e das Comunicações 32.º 3.º 59.º 29.º 56.º 22.º 77.º
por uma instituição nacional, trata-se da Uni-

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 9


NOTÍCIAS

Ordens Profissionais reuniram


com Presidente da Assembleia da República
O
Conselho Nacional das Ordens Profissio-
nais (CNOP) foi recebido, no dia 27 de
Junho, pelo Presidente da Assembleia da
República (AR), Dr. Jaime Gama, para apre-
sentação dos pontos de vista das Ordens sobre
o Projecto de Lei para regular as Associações
Públicas Profissionais (tema destacado na pág.
66 desta edição da “Ingenium”).
Nesta reunião, o Dr. Jaime Gama fez-se acom-
panhar pelo Dr. Vitor Ramalho, que preside à
Comissão de Trabalho e Segurança Social da
AR, Comissão por onde esta matéria terá se-
guimento e agendamento para a discussão na
especialidade. da República atribuiu a um recente pedido de são que lhes foi conferida por delegação de po-
Durante o encontro, o Eng.º Fernando Santo, constituição de mais uma Ordem Profissional, der público pela Assembleia da República.
Presidente do CNOP e Bastonário da Ordem a que se juntaram outros já a aguardar agen- Foi ainda solicitada a possibilidade das Ordens
dos Engenheiros, transmitiu aos representantes damento pelo governo ou na AR, o despoletar serem ouvidas, através do CNOP nas posições
da AR que “não está em causa a existência de da situação. Assim, perante as dúvidas susci- comuns ou separadamente em aspectos espe-
uma Lei-quadro, sendo até desejável, mas o tadas na apreciação, foi entendido não fazer cíficos de cada uma delas, logo que seja agen-
que não podemos aceitar é que, a propósito sentido autorizar a constituição de mais Ordens dada a discussão na especialidade. Solicitação,
deste enquadramento, se retirem às Ordens Pro- sem que uma Lei-quadro fosse aprovada. esta, que mereceu o acordo e opinião muito
fissionais a autonomia, a independência e o di- Contudo, o CNOP salientou, junto do Dr. Jaime favorável da parte do Presidente da AR.
reito de regular as respectivas profissões, na de- Gama e do Dr. Vitor Ramalho, a existência de Para além deste encontro, à data de fecho
fesa do interesse público”. aspectos no projecto de Lei-quadro que, a não desta edição estavam pedidas audiências a
Perante os argumentos apresentados pelos Bas- serem corrigidos, colocarão problemas sérios a todos os Grupos Parlamentares e ao Primeiro-
tonários presentes, o Presidente da Assembleia algumas das Ordens no cumprimento da mis- -ministro.

O
instrumento legislativo que regula a apli- pedidos de licenciamento ou autorização de edi-

Certificação cação do Sistema Nacional de Certificação


Energética e da Qualidade do Ar Interior
ficação sejam apresentados à entidade compe-
tente a partir de 1 de Julho de 2008”.
(SCE) foi publicado, em Diário da República, no A terceira e última fase começa a vigorar no dia
energética passado dia 15 de Junho.
Trata-se da Portaria n.º 461/2007, que surge
1 de Janeiro de 2009, alargando a aplicação
do SCE a todos os edifícios, incluindo os exis-

de edifícios na sequência dos Decretos-lei n.os 78, 79 e


80/2006, de 4 de Abril de 2006, respeitantes
tentes, quando sujeitos a transacção ou arrenda-
mento.
à melhoria do desempenho energético e da qua- Os novos regulamentos trazem novidades em
obrigatória lidade do ar interior dos edifícios, elaborados
para fazer cumprir a Directiva Comunitária n.º
relação às exigências de construção, sendo disso
exemplo a obrigatoriedade da instalação de pai-
2002/91/CE. néis solares térmicos nas novas construções.
A presente Portaria define a calendarização da Para além das exigências no que respeita à efi-
entrada em vigor das exigências estabelecidas, ciência energética, os regulamentos estabelecem
tendo por objectivo “permitir a aplicação plena requisitos em termos de qualidade do ar interior,
do sistema de certificação a edifícios das dife- manutenção e monitorização do funcionamento
rentes tipologias, dimensões e afins, o que deve dos sistemas de climatização, inspecção perió-
acontecer até 1 de Janeiro de 2009”, para o dica de caldeiras e equipamentos de ar condi-
que estipula uma implementação faseada, divi- cionado. A atribuição dos certificados de efici-
dida por três etapas. ência energética aos edifícios será da responsa-
A primeira fase tem início em 1 de Julho de bilidade de peritos qualificados, com formação
2007, sendo a sua aplicação respeitante aos específica nesta área. Sendo que, segundo a lei,
novos edifícios de habitação, com uma área útil a função de perito qualificado pode ser exercida
superior a 1000 m2, e de serviços, cujos pedi- a título individual ou ao serviço de organismos
dos de licenciamento ou autorização de edifica- privados ou públicos, desde que reconhecidos
ção sejam apresentados à entidade competente pela ADENE, e pelas Ordens dos Engenheiros,
a partir daquela data. dos Arquitectos e pela Associação Nacional dos
A segunda fase abrange “todos os edifícios novos, Engenheiros Técnicos (ANET), no âmbito do pro-
independentemente da sua área ou fim, cujos tocolo celebrado entre estas entidades.

10 INGENIUM | Maio/Junho 2007


NOTÍCIAS

Engenheiros civis de 36 países lutam contra a corrupção

O
Conselho Mundial dos Engenheiros Civis a corrupção na Engenharia e na Construção”, pa-
(WCCE) realizou, no passado mês de trocinado pela Sociedade Americana de En-
Maio, a sua segunda Assembleia no genharia Civil (ASCE) e pela WFEO. Em
Zimbabué. resultado do Congresso, 50 engenhei-
Participaram 11 membros nacionais ros de África assinaram o Manifesto
e 2 internacionais, que representam de combate à corrupção.
36 países da Europa e da África, Durante o Conselho Mundial foi
tendo estado presente um repre- também aprovada a criação da
sentante da Ordem dos Enge- Academia Mundial dos Engenhei-
nheiros, do Colégio de Engenha- ros Civis (WACE), com o objec-
ria Civil. tivo de promover a colaboração
Um dos temas dominantes da dos engenheiros civis do sector
Assembleia foi a questão da ética académico no fortalecimento da
e da luta contra a corrupção no profissão. Está prevista a sua for-
mundo da engenharia civil, em malização para Dezembro de 2008,
particular nos países em vias de por ocasião da Assembleia do WCCE
desenvolvimento, em relação ao qual em Brasília.
foram planeadas alianças e congrega- Relativamente à eleição do presidente
dos esforços. do WCCE, a escolha recaiu sobre o Dr.
O presidente do WCCE, Engenheiro José Eng.º Emílio Colón, do Colégio de Engenhei-
Medem, que preside ao Grupo de Trabalho ros de Porto Rico. O Eng.º Colón assumirá
Anti-Corrupção da Federação Mundial a presidência durante a Conferência In-
de Associações de Engenharia (WFEO), ternacional sobre Sismos e Tsunamis,
promoveu a assinatura do “Mani- que se realiza em Istambul, em
festo do Engenheiro: Luta contra Junho de 2009.

Primeiro-ministro traça prioridades Portugal e CE assinam QREN


para a Presidência da UE para período 2007/2013

A O
Presidência Portuguesa da União Europeia tem início no primeiro Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) já foi aprovado
dia de Julho e irá estender-se até final de 2007. pela Comissão Europeia. O QREN, que estará em vigor entre 2007 e
Recentemente, o Primeiro-ministro José Sócrates traçou as prio- 2013, é o último quadro de apoio a Portugal e envolverá, no total,
ridades numa intervenção na Assembleia da República, estruturando- mais de 40 mil milhões de euros.
-as em torno de três eixos fundamentais: a reforma dos Tratados, uma O Conselho de Ministros já aprovou também, recentemente, o modelo de
agenda de modernização das economias e das sociedades europeias governação do QREN, bem como os respectivos programas operacionais.
e o reforço do papel da Europa no mundo. Este modelo de governação tem por objectivo estabelecer a estrutura orgâ-
No que respeita à reforma dos tratados, segundo o Primeiro-ministro, nica relativa ao exercício de funções de monitorização, auditoria e controlo,
“o principal desafio consiste em retomar o processo de reforma dos certificação, gestão, aconselhamento estratégico, acompanhamento e ava-
Tratados”, tendo em conta que a natureza dos Tratados mudou, tor- liação da aplicação do QREN.
nando-se num tratado sem natureza constitucional. O diploma estipula ainda que a governação do QREN e dos Planos Opera-
Em relação à agenda de modernização da economia e da sociedade cionais (PO) é exercida:
europeia, José Sócrates salientou que a “Estratégia de Lisboa” estará a) Ao nível governamental, através da coordenação ministerial e da direc-
outra vez no centro das preocupações. “O que vamos fazer é contri- ção política, que compreende, entre outras competências, a coordenação
buir para um novo ciclo da ‘Agenda de Lisboa’, que será aprovado na global do QREN e dos PO e o estabelecimento de orientações relativas à
Primavera de 2008. (…) Mas prepararemos esse novo ciclo man- monitorização estratégica, operacional e financeira;
tendo o equilíbrio entre as três componentes da Agenda: a econó- b) Ao nível técnico, através da coordenação e monitorização estratégica, da
mica, a social e a ambiental”. coordenação e monitorização operacional e financeira, da auditoria e con-
O reforço do papel da Europa no Mundo é outros dos eixos mais im- trolo, da certificação, da gestão, do aconselhamento estratégico, do acom-
portantes a ter em conta. “O actual momento internacional impõe es- panhamento e da avaliação.
peciais responsabilidade à União Europeia. A Europa precisa de ter Uma das novidades do modelo do QREN será a gestão dos programas ope-
um protagonismo mais activo na cena internacional”. No entender do racionais temáticos, que passa a ser assegurada por uma comissão direc-
líder nacional, há três iniciativas no domínio da política externa eu- tiva, presidida por um gestor.
ropeia ao nível das quais a presidência portuguesa quer deixar a sua Como gestores desta equipa foram nomeados Nelson de Sousa (programa
marca: a Cimeira com o Brasil, as conferências Euromediterrânicas operacional sobre factores de competitividade), Helena Azevedo (valoriza-
e a Cimeira com África. ção territorial) e Rui Fiolhais (potencial humano).

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 11


Breves

FEUP lidera MARINE


NASA apresenta
provas do degelo Faculdade de Enge-
A nharia da Universi-
dade do Porto (FEUP)
está a liderar o projecto europeu MA-
RINE - Maritime Incident Research and Innovation
Network, que tem por objectivo a dinamização de uma
rede, que agregue diferentes organizações, capaz de promover a
identificação e demonstração de tecnologias que endereçam esta
problemática. Segundo o website da FEUP, as actividades do pro-
jecto envolvem o estudo e a demonstração de tecnologias e capaci-
NASA anunciou que encontrou as primeiras provas claras do de- dades avançadas para o suporte das diversas fases de um incidente
A gelo da Antártida, que resulta do aumento das temperaturas e
que, a prazo, levará à subida do nível da água do mar.
marítimo: identificação, prevenção e protecção, preparação, resposta,
recobro.
Entre 2005 e Março de 2007 não tinham sido detectadas novas que- O projecto é liderado pela Faculdade de Engenharia da Universidade
das de gelo. Desta vez foi detectado que o gelo derreteu em várias do Porto e tem a duração de 18 meses, num orçamento total de 734
regiões, incluindo em zonas do interior de elevadas latitudes e alti- mil euros, financiado em 55% pelo programa INTERREG IIIB, e
tude, onde se acreditava que o degelo fosse pouco provável. tem como parceiros as seguintes entidades: Administração dos Por-
Este degelo, que foi classificado como o mais significativo até hoje, tos do Douro e Leixões (PT); Instituto de Estudios Maritimos (ES);
poderá afectar áreas do tamanho da Califórnia. Para chegar a esta Fundácion Universidad da Coruña (ES); École Nationale Supérieure
conclusão, uma equipa de cientistas da NASA mediu a acumulação d’Ingénieurs (FR); Brest Pilotage (FR); University of Limerick (IR);
de neve e de gelo na Antártida e Gronelândia, desde Julho de 1999 INOVAMAIS (PT) (parceiro associado); DHV Tecnopor (PT) (par-
até Julho de 2005. ceiro associado).

Plantas regadas Automóveis


com água salgada sustentáveis
m trabalho dirigido pelo inves-
luso/galegos
U tigador espanhol, Armand Al-
bert, sugere a hipótese do apare- O Centro para a Excelência e
Inovação na Indústria Auto-
cimento de plantas transgénicas móvel (CEIIA) e o Centro Tec-
que possam ser regadas com água nológico de Automación de Ga-
salgada. Segundo um artigo publi- licia (CTAG) vão desenvolver
cado por este investigador, do Ins- um carro que terá um processo
tituto de Química e Física Roca- de fabrico e motor “limpos”. Para
solano do Centro Superior de In- tal, vão contar com parcerias com
vestigações Científicas, na revista a Universidade do Minho, a Uni-
Novo terminal de cruzeiros em construção
“Molecular Cell”, o facto das plan- versidade do Porto e o Instituto
tas serem capazes de desenvolver s trabalhos de reabilitação e reforço do cais entre Santa Apolónia Superior Técnico.
mecanismos de defesa contra
agressões, como a elevada salini-
O e o Jardim do Tabaco já foram iniciados. Esta primeira fase da
obra, cifrada em 14 milhões de euros, é da responsabilidade do con-
dade do solo, a falta de água ou sórcio composto pela Seth e a Somague Engenharia.
de nutrientes no solo, pode levar A construção do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia representa,
à criação de plantas ajustadas a no total, um investimento de 45 milhões de euros e conta com uma
este tipo de “perturbações”. comparticipação comunitária de 40 por cento.
No entender desta equipa de in- A actual fase da obra compreende a reabilitação do actual cais entre
vestigação, a sua descoberta po- o terminal de Santa Apolónia e a Doca da Marinha e a construção
derá vir a permitir que, por exem- de uma nova estrutura avançada.
plo, mediante a criação de relva Uma nova gare marítima, uma unidade hoteleira, um espaço comer- Este projecto pioneiro na área da
transgénica, os campos de golfe cial e silos para estacionamento automóvel serão construídos numa engenharia irá desenvolver-se du-
em zonas onde existe escassez de fase posterior. Para ultimar o projecto, toda a envolvente da gare rante os próximos três anos e tem
água doce possam ser regados será requalificada e também serão criadas novas acessibilidade para por objectivo a criação de veícu-
com água salgada. veículos e peões. los automóveis sustentáveis.

12 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Breves
filial portuguesa da Nokia Siemens Networks abriu um novo la-
Nokia Siemens
tem novo centro
A boratório de Investigação de Desenvolvimento em Aveiro que se
destina à gestão de serviços de redes de telecomunicações para clien-
I&D em Aveiro tes internacionais.
A empregar inicialmente 100 engenheiros, o laboratório apresenta
expectativas de crescimento a curto prazo para 150. A criação desta
nova entidade de I&D vem na sequência do aprofundamento da par-
ceria que a empresa tem com a PT Inovação e com o Instituto de
Telecomunicações de Aveiro.
De salientar que a Nokia Siemens Networks é uma nova empresa
Sede da Nokia Siemens Networks em Espoo, Finlândia
resultante da fusão entre as gigantes alemã e finlandesa.

Metano Processos de fabrico do aço


tem nova forma menos poluentes
de armazenamento
ngenheiros de duas entidades
Cisco abre centro
de operações
E do ensino superior de Kansas
City, no Estados Unidos da Amé- m grande projecto europeu identificou locais em todo o mundo
em Portugal rica, criaram “briquettes” de car-
bono com complexos nano poros
U que poderiam vir a fornecer a biomassa necessária para que os
processos de fabrico de aço se tornem menos poluentes. Segundo
Cisco Systems, uma das maio- que são capazes de armazenar gás este projecto, plantações de eucalipto a uma escala industrial podem
A res empresas mundiais na área
das infra-estruturas e equipamen-
natural com uma densidade nunca
antes conseguida, ou seja, com
vir a ser a resposta para este problema.
Conseguir reduzir para metade as emissões de CO2 resultantes da
tos de comunicações, escolheu 180 vezes mais que o seu volume, indústria do aço através do desenvolvimento de processos inovado-
Lisboa para basear o seu centro com um sétimo da pressão con- res é o objectivo do European Ultra Low CO2 Steelmaking (ULCOS),
de operações de vendas para toda vencional necessária nos tanques um projecto encabeçado pelo Centro de Investigação Agrícola Fran-
a Europa. convencionais de gás natural. cês para o desenvolvimento Internacional (CIRAD).
Em suma, este centro vai criar Esta descoberta é, no entender Nos últimos dois anos, o projecto tem estado a fazer o levantamento
uma equipa virtual para apoio às dos seus responsáveis, um grande das capacidades de pesquisa e desenvolvimento de 47 parceiros em
vendas da Cisco na Europa, irá passo para que seja possível que 15 países europeus que incluem: fabricantes de aço, construtores,
suportar oito línguas, sendo pe- cada vez mais automóveis dos fornecedores de matérias-primas, laboratórios de investigação e uni-
dido que os seus colaboradores EUA possam utilizar o metano, versidades.
dominem na perfeição entre duas um combustível produzido facil- A substituição de combustíveis fósseis por biomassa, proveniente de
a três. mente e mais “limpo” que os de- plantações florestais dos trópicos, é o tema central do projecto. Os
Uma das grandes apostas deste rivados do petróleo. dois pontos base do projecto são a disponibilidade de biomassa pro-
projecto centra-se na inclusão so- A tecnologia está a ser testada veniente das plantações referidas e o desenvolvimento de mais e
cial de trabalhadores normalmente em veículos do Kansas City Office menos poluentes processos que permitam a conversão da biomassa
discriminados. of Environmental Quality. em carvão, que é um componente vital para a indústria do aço.

Mais de sete mil construtoras fechadas


Instituto de Mercados de tivas da construção em Portugal,
O Obras Públicas, Particulares
e do Imobiliário (IMOPPI) re-
citados pelo Jornal de Notícias,
mostram ainda que o número
tirou, nos três primeiros meses de empresas legalmente habili-
de 2007, mais de sete mil alva- tadas com alvará passou de 26.743,
rás a construtoras, o que repre- em Janeiro de 2007, para 19.490,
senta uma diminuição de 27,1 em Março, devido à reavaliação
por cento no número de empre- obrigatória dos alvarás e às acti-
sas habilitadas a operar no sec- vidades inspectoras do IMOPPI.
tor da construção, entre Janeiro De salientar que o número de
e Março do corrente ano. Os dados, provenientes de um relatório empresas que ficaram sem alvará é ainda provisório, dado que estas
da FEPICOP, federação que agrega as três associações representa- poderão recorrer da decisão.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 13


Regiões

Júlio Barreiros Martins homenageado


A cerimónia, organizada pelo Conselho Directivo
da Região Norte da Ordem dos Engenheiros e pelo
Departamento de Engenharia Civil da Universi-
dade do Minho, contou com a presença de vários
familiares, amigos, colegas de profissão e ex-alunos Segurança,
do homenageado.
Entre os vários convidados destacaram-se o Basto-
Higiene e Saúde
nário da Ordem dos Engenheiros, Eng.º Fernando do Trabalho
Santo, e o Presidente do Conselho Directivo da
Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Região Norte da Ordem dos Engenheiros, Eng.º
debatidas
O Minho recebeu, no dia 21 de Abril, uma ho-
menagem ao Professor Doutor Júlio Barreiros Mar-
Gerardo Saraiva de Meneses, que falaram um pouco
sobre o homenageado e a sua vivência com este.
em Congresso
tins, que coincidiu com o lançamento da biografia A sessão terminou com um almoço comemorativo
Internacional
de um dos grandes nomes da Engenharia Civil, a dos 25 anos do Departamento de Engenharia Civil ealizou-se nos dias 31 de Maio
nível nacional, intitulada “Memórias”. da Universidade do Minho. R e 1 de Junho, na Alfândega
do Porto, o 7.º Congresso Inter-
nacional de Segurança, Higiene e
4.º Encontro de Membros Eleitos da Região Norte Saúde do Trabalho, numa organi-
rem estratégias que visem me- zação conjunta da Ordem dos En-
lhorar e enfatizar tanto a activi- genheiros – Região Norte, da Ins-
dade da Ordem dos Engenhei- pecção-Geral do Trabalho e da
ros, como a própria profissão de Associação Portuguesa de Segu-
Engenheiro perante a sociedade rança e Higiene do Trabalho. Com
civil. um modelo diferente do dos anos
A finalização dos trabalhos esteve anteriores, o Congresso contou
a cargo do Vice-Presidente da com várias sessões paralelas, per-
Câmara Municipal de Valença mitindo aos participantes escolhe-
do Minho, e de Don Ing. Edel- rem as sessões que mais interesse
s Membros eleitos da Re- tos e do Colegio Oficial de Inge- miro Rua (decano de Colegio de lhes despertaram. Para além das
O gião da Norte celebraram o
4.º encontro anual nos dias 25 e
nieros Industriales da Galiza, que
se reuniram com os Coordena-
Ingenieros de Caminos, Canales
y Puertos – Espanha), que pro-
sessões, também foi possível visua-
lizar alguns trabalhos em poster e
26 de Maio, em Valença do Minho dores dos Colégios de Engenha- feriu uma palestra sobre “A En- visitar os stands das empresas pa-
e Cerveira, discutindo sinergias ria Civil e Electrotécnica, tendo genharia e o Impacto Transfron- trocinadoras. Baseadas em temas
com os pares galegos e debatendo debatido, em conjunto, os cami- teiriço”. como Questões legais e de traba-
a actividade da Ordem dos En- nhos a seguir para melhorar e au- Houve ainda tempo para uma vi- lho, Casos de estudo/boas práti-
genheiros e a profissão de Enge- mentar a cooperação transfron- sita à cidade de Valença, passando cas, Amianto, Educação e Forma-
nheiro. teiriça. pelas obras da muralha e por vá- ção para a Segurança e Saúde do
Nesse sentido, no primeiro dia O auditório da Biblioteca Muni- rios monumentos da cidade, ex- Trabalho, as sessões paralelas con-
do encontro foram recebidos os cipal de Valença do Minho foi o plicados pelo arquivista da Câ- taram com a presença de vários
membros do Colegio de Ingenie- local escolhido pelos membros mara Municipal de Valença do oradores nacionais e internacio-
ros de Caminos, Canales y Puer- eleitos para reunirem e debate- Minho. nais, entre eles, Fraga de Oliveira
(IGT), Carla Fugas (Metropoli-
tano de Lisboa), Jófilo Lima Jú-
nior (Fundacentro - Brasil), Seiji
Machida (OIT Genebra) e Ber-
nard Godefroy (AISS - Constru-
ção). O evento, que contou com
a participação de mais de 450 con-
gressistas, encerrou com a pre-
sença do Ministro do Trabalho,
Dr. Vieira da Silva, acompanhado
por cada um dos representantes
das entidades organizadoras.

14 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Regiões
terá uma extensão total de 39,9 km. A Ponte
Visita Técnica às Obras da Nova Travessia sobre o Rio Tejo e os Viadutos de Aces-
Rodoviária do Tejo, ACE, no Carregado so totalizam uma extensão de cerca de 12
km.
A anteceder a visita teve lugar uma apre-
sentação do projecto, seguindo-se a visita
à obra da margem sul, a visita à ponte por
embarcação, terminando com a visita às
obras do viaduto norte.

o dia 24 de Maio, a Região Centro da Cons promoveram uma visita técnica à nova
N Ordem dos Engenheiros e o Instituto
de Investigação e Desenvolvimento Tecno-
Travessia Rodoviária do Tejo, ACE, no Car-
regado, que se insere na A10 – Auto-estrada
lógico em Ciências da Construção – ITe- Bucelas/Carregado (A1) / IC 3 (A13) e que

cidade de Leiria recebeu a IX edição do


A Encontro Regional do Engenheiro no dia
26 de Maio, um evento organizado pelo Con-
IX Encontro Regional do Engenheiro
carreira nos domínios profissional, cultural e foi entregue ao Bastonário, pelo Presidente
selho Directivo da Região Centro, com a co- de relacionamento com a sociedade. da Região Centro, uma Medalha em Prata
laboração da Delegação Distrital de Leiria. Para além das intervenções institucionais do alusiva aos 50 Anos, tendo a efeméride sido
Delegado Distrital de Leiria, Eng.º Carlos Al- ainda celebrada com os tradicionais parabéns
berto Marques, do Presidente do Conselho e bolo de aniversário.
Directivo, Eng.º Celestino Quaresma, do Pre-
sidente da Mesa da Assembleia, Eng.º Adolfo Melhores Estágios da Região Centro,
Roque, e do Bastonário da Ordem dos Enge- em 2006, por Especialidade
nheiros, Eng.º Fernando Santo, foi também
Ambiente
proferida uma palestra pelo empresário Vic-
Vera Filipa Lopes Francisco (Formal)
tor Oliveira intitulada “Engenharia e Aven- Maria João Ribeiro do Sul (Curricular)
tura na Base do Sucesso Empresarial”. Civil
Como já vem sendo hábito, na sessão solene David Martins Geraldo Taborda (Formal)
do encontro foram homenageados os mem- Diogo Simões Lucas Pires (Curricular)
bros inscritos na Região Centro que comple- Electrotécnica
taram 25 anos de inscrição e reconhecidos Valter Rui Carraco Canas (Formal)
Gilberto Martins Moreira (Curricular)
os melhores estágios, por especialidade, con-
Geológica e Minas
cluídos no ano de 2006. Procedeu-se, ainda,
Lúcia Maria Varela Matos (Formal)
à entrega do Prémio Conselho Directivo da Sérgio dos Anjos Lopes (Curricular)
Região Centro, que tem por objectivo reco- Mecânica
nhecer e evidenciar a actividade desenvolvida Teresa Alexandra Gonçalves Guimarães (Formal)
por Engenheiros inscritos na Região quando O 50.º Aniversário da Região Centro da Francisco José Oliveira Carvalhão (Curricular)
considerada de mérito excepcional. Este ano Ordem dos Engenheiros, que se comemora Química
foi distinguido o Engenheiro Mecânico Filipe este ano, foi também assinalado durante o Vera Lúcia Batista Ferraz da Silva (Formal)
Inês Duarte Andrade (Curricular)
José Mendes Juanico, tendo em conta a sua IX Encontro Regional do Engenheiro. Assim,

tra-se principalmente vocacio-


Assinatura de Protocolos nado para a Engenharia Civil e a
actividade de construção, e tem
com o Banco Santander Totta e o IteCons o intuito de efectivar a coopera-
a senda de conseguir as me- der Totta e com o Instituto de vantagens para os membros da ção com mira no desenvolvimento
N lhores condições para os seus
membros, a Região Centro assi-
Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico em Ciências da Cons-
Região Centro da Ordem dos En-
genheiros, na constituição de pro-
técnico desta área, na promoção
da formação e noutras activida-
nou, no passado dia 26 de Maio, trução – ITeCons. O primeiro dutos e serviços do Banco San- des de valorização profissional
protocolos com o Banco Santan- tem por objectivo estabelecer tander Totta. O segundo encon- para os membros da Ordem.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 15


Regiões
os visitantes tiveram oportuni-
Engenharia em debate nas Jornadas tecnológicas dade de contactar com empresas
ecorreram, entre 7 e 11 de biente, Química, Informática, Geo- focadas, pela primeira vez, quase de diferentes áreas de interven-
D Maio, no Campus de Capa-
rica, as Jornadas Tecnológicas da
lógica, Civil, Mecânica, de Mate-
riais, Electrotécnica e de Com-
todas as áreas científicas leccio-
nadas e alvo de investigação nesta
ção, ficando a conhecer melhor a
actividade empresarial, políticas
Faculdade de Ciência e Tecno- putadores e Engenharia e Gestão instituição de ensino, tendo sido de selecção e recrutamento, car-
logia da Universidade Nova de Industrial desta Faculdade, resul- apresentados e debatidos temas reiras, perfis e competências va-
Lisboa (JORTEC), que juntaram tou numa interessante mostra das como Grid-Computing e Digital lorizadas pelos empregadores. Para
palestras sobre diversas áreas da várias áreas de engenharia minis- Media, Indústria Automóvel, Ener- a comissão organizadora das jor-
engenharia. tradas nesta instituição académica. gias, Nanotecnologia, Empreen- nadas, “o balanço final foi bastante
A iniciativa, da responsabilidade O evento contou com oradores dedorismo, Indústria Cosmética positivo, tendo-se verificado uma
da Associação dos Estudantes da convidados, oriundos não só da e BAT´s. Em simultâneo, decor- boa adesão dos estudantes, quer
FCT/UNL em conjunto com os Faculdade, como do mundo em- reu ainda a Jobshop – Feira de às palestras, quer às iniciativas da
alunos das Engenharias do Am- presarial. Nas várias sessões, foram Emprego, Estágios e Bolsas, onde Feira de Emprego”.

Ordem dos Engenheiros, re- sobre esta associação profissional


A presentada pela Região Sul,
participou, novamente, entre 15
IST recebe 19.ª Jobshop
ção da Associação de Estudantes empresas de engenharia e tecno-
e sobre as condições necessárias
para a inscrição como membro.
e 17 de Maio, na Jobshop – Feira do IST. A edição deste ano con- logia. Entre alunos, professores e A Jobshop foi, mais uma vez, um
de Engenharia e Tecnologia do tou com mais de 30 stands, onde outros visitantes, muitos foram local de encontro entre estudan-
Instituto Superior Técnico, orga- estiveram representadas algumas os que se dirigiram ao espaço da tes, o mundo empresarial e o mer-
nizada pela 19.ª vez pela Direc- das melhores e mais prestigiadas Ordem, à procura de informações cado de trabalho.

res e Madeira), cuja data de nas-


17.ª edição do Prémio Inovação Jovem Engenheiro cimento seja igual ou posterior a
Região Sul organiza mais uma jectivo contribuir para a elabora- 1 de Janeiro de 1977.
A edição do Prémio Inovação
Jovem Engenheiro, encontrando-
ção e divulgação de trabalhos ino-
vadores nos diversos ramos da
Os trabalhos, individuais ou de
co-autoria, podem ser submeti-
se as inscrições abertas até 3 de Engenharia, galardoando aqueles dos a concurso até ao próximo
Dezembro. que se evidenciem, entre outros dia 3 de Dezembro, data em que
A importância da inovação e o critérios de avaliação, pelo seu termina o prazo de entrega das
seu reconhecimento como factor Ordem dos Engenheiros a apre- carácter inovador e aplicabilidade candidaturas. Mais informações
competitivo decisivo na econo- sentar os seus trabalhos inovado- prática. sobre as condições de candidatura
mia actual, motiva mais uma vez res, premiando a criatividade e O Prémio destina-se a todos os poderão ser obtidas através da
o Conselho Directivo da Região competência técnica de que são membros da Ordem, estagiários consulta do Regulamento do Pré-
Sul, que há 17 anos leva a cabo detentores os jovens engenheiros ou efectivos, inscritos em qual- mio, o qual se encontra disponí-
esta iniciativa, a encorajar e in- portugueses. quer das regiões (Norte, Centro vel no Portal do Engenheiro (www.
centivar os jovens membros da Este prémio tem ainda por ob- e Sul) ou secções regionais (Aço- ordemengenheiros.pt).

programada uma formação na área do Di-


Acções de formação na Madeira reito do Urbanismo, preparada em colabo-
“Cálculo de Cargas Térmicas e sobre o beiros da Madeira, a Delegação da Madeira ração com a Delegação da Madeira da Ordem
O RSECE – Regulamento dos Sistemas
Energéticos de Climatização em Edifícios” e
da Ordem dos Arquitectos e a Engifire.
No seguimento do plano de formação deli-
dos Arquitectos, e que terá como prelectora
a Professora Doutora Fernanda Paula Oli-
o “Novo Regulamento Nacional da Segurança neado, decorreu ainda durante o 1.º Semes- veira, da Faculdade de Direito da Universi-
Contra Incêndios em Edifícios” foram as te- tre, de 18 a 22 de Junho, o curso de Projec- dade de Coimbra.
máticas das duas acções de formação organi- tista em Energia Solar Térmica, organizado Também em Julho, nos dias 6, 7 e 13, 14,
zadas pela Secção Regional da Madeira, no conjuntamente com o INETI, tendo a tota- está prevista uma acção sobre Acústica e Iso-
âmbito do seu plano de formação para o 1.º lidade das vagas ficado preenchidas. No en- lamento Sonoro em Edifícios, organizada em
Semestre de 2007. tanto, a Secção Regional está a receber ins- parceria com a Escola Superior de Tecnolo-
A primeira acção foi organizada conjunta- crições para mais uma sessão subordinada a gia de Setúbal.
mente com a Escola Superior de Tecnologia este tema, dado que já está prevista uma se- Todas as informações sobre as acções de for-
de Setúbal, teve de ser repetida dado o ele- gunda acção deste curso para o 2.º Semestre mação promovidas pela Secção Regional da
vado número de inscritos, e a segunda com deste ano. Madeira poderão ser consultadas no Portal do
o Serviço Regional de Protecção Civil e Bom- Para os próximos dias 5 e 6 de Julho está Engenheiro (www.ordemengenheiros.pt).

16 INGENIUM | Maio/Junho 2007


TEMA DE CAPA
Onde pára a engenharia?
A engenharia está “escondida” em muitos Se pensarmos numa unidade hospitalar, a mento pesado a aparelhos médicos, passando
aspectos do nosso dia-a-dia. A saúde é mais engenharia está presente logo na concepção pelo desenvolvimento de software clínico,
um deles. Ela está quase em todos os pontos do próprio edifício. Com o aumentar da entre outros.
de um hospital e vai muito para além do mais complexidade dos meios de diagnóstico e
óbvio, como a construção. Procurámos tratamento, os desafios para a construção de ENGENHARIA OMNIPRESENTE
encontrá-la e mostrar-lhe o que a engenharia unidades flexíveis, que sejam adaptáveis aos O Eng.º Durão Carvalho comenta que “o
está a fazer pela saúde dos portugueses. constantes e novos desafios que a área da papel dos engenheiros começa no planea-
saúde traz, são enormes. Basta termos em mento dos recursos necessários à prestação
Texto Ana Pinto Martinho conta que, por exemplo, em caso de uma de cuidados de saúde, feito em equipas plu-
catástrofe natural, os hospitais são dos edi- ridisciplinares com profissionais de saúde.
fícios que têm de estar melhor preparados
uando pensamos em hospitais, vêm- para a superar, já que são dos mais necessá-

Q -nos à cabeça médicos, enfermeiros,


radiologistas, analistas, entre outros,
mas raramente vislumbramos, na nossa mente,
rios e cruciais em ocasiões de risco.
Em conversa com responsáveis do Hospital
de Santa Maria e do Hospital da Luz, duas
engenheiros. No entanto, a engenharia, nos unidades bastante diferentes, a “Ingenium”
seus mais variados aspectos, assume uma ex- procurou saber de que forma a engenharia
trema importância em quase todas as áreas está presente nos hospitais e na área da saúde,
da saúde. em geral.
Hospital de Santa Maria
A “Ingenium” procurou encontrar “pistas” Como salienta a Eng.ª Isabel Vaz, Adminis-
sobre a presença da engenharia na saúde e, tradora da Espírito Santo Saúde e do Hos- Passa pela programação das instalações, na
para isso, fomos falar com os responsáveis de pital da Luz, a engenharia está presente em qual o peso da engenharia é relevante e de-
dois hospitais portugueses, um inaugurado áreas que vão desde “a concepção dos pro- pende da experiência profissional dos parti-
este ano e outro que iniciou a sua actividade jectos de edifícios hospitalares, à sua manu- cipantes”. No seu entender, o projecto e a
nos anos 50. Para além disso, trilhámos os tenção e respectiva gestão do life cycle cost, execução de obras constituem actividades
caminhos das universidades, procurando en- a gestão operacional e engenharia de proces- que, incontornavelmente, são executadas
contrar novas combinações entre engenharia sos, engenharia de sistemas de informação, por engenheiros cuja experiência na área é
e saúde no ensino, e encontrámos em Por- redes de dados e comunicações, a lista é in- indispensável ao sucesso dos Projectos. E sa-
tugal alguns locais onde se leccionam cursos findável”. A engenharia anda ainda de mãos lienta que, “também no reequipamento das
ou se oferece outro tipo de formação supe- dadas com a medicina ao nível da inovação unidades de saúde, o papel do engenheiro é
rior nesta área. de nova tecnologia médica, desde o equipa- fundamental porque, pela sua formação, está

Hospital da Luz

Hospital de Santa Maria

em condições de compreender os equipa-


mentos, quer nos seus princípios físicos, quer
nos seus aspectos técnicos construtivos”.
Outra das actividades a ter em conta é a ma-
nutenção de um património tão variado e com-
plexo que exige uma formação de banda muito
larga e, simultaneamente, especializações di-
versas, “o que só é possível com uma adequada
organização e estruturação dos serviços de ma-

18 INGENIUM | Maio/Junho 2007


TEMA DE CAPA
nutenção onde se reúnem e coordenam os di-
versos perfis profissionais dos engenheiros”,
afirma o responsável pelo Serviço de Enge-
nharia do Hospital de Santa Maria.
No Hospital da Luz, a engenharia esteve pre-
sente logo na sua concepção, onde, segundo
a Eng.ª Isabel Vaz, foram utilizadas soluções
inovadoras em Portugal ao nível do isola- Hospital da Luz
mento sísmico de base do edifício. “Em ter-
mos da concepção ao nível da arquitectura Três destes engenheiros desempenham fun- de diagnóstico, na área da investigação ou
interior do edifício e sua compartimentação, ções dirigentes e a sua formação é mecânica, outros, tem vindo a criar a necessidade de
esteve sempre presente a racionalidade fun- electrotécnica, em sistemas de potência, e um novo conjunto de profissionais que arti-
cional num exercício de optimização dos pro- electrónica. Uma engenheira mecânica de- culem as linguagens da saúde e da tecnolo-
cessos hospitalares”, comenta. As instalações dica-se à área de AVAC, uma engenheira li- gia, da medicina e da engenharia.
cenciada em engenharia de saúde e outra mes-
trada também em engenharia de saúde estão
afectas à manutenção de equipamento mé-
dico-cirúrgico. Dois engenheiros civis enqua-
dram o sector de projectos e obras. Encontra-
-se em curso a contratação de um engenheiro
para a gestão da manutenção interna. No total,
o serviço conta com 80 colaboradores, com
Hospital de Santa Maria diversas formações, que desempenham fun- Universidade Católica Portuguesa
ções técnicas, administrativas e operárias.
especiais, em particular nas áreas da enge- No caso do Hospital da Luz, a equipa interna
nharia mecânica e electrotécnica, “assumi- conta com 15 Engenheiros que trabalham
ram uma importância ímpar na concepção nas áreas de manutenção, gestão operacio-
do hospital pela complexidade da instalação nal, logística e sistemas de informação. A
de tecnologia médica muito sofisticada, como, alta Direcção do Hospital ao nível do Con-
por exemplo, os aceleradores lineares para selho de Administração conta com dois En-
radioterapia, o equipamento de radiologia, genheiros Químicos, e duas das cinco direc-
angiografia e de medicina nuclear, bem como ções de primeira linha do hospital têm à
os blocos operatórios onde foram instaladas frente Engenheiros, nomeadamente a Direc- Segundo conta à “Ingenium” o Eng.º Manuel
as mais recentes tecnologias ao nível da in- ção de Operações e a Direcção de Organi- Barata Marques, Director da Faculdade de
tegração da imagem, instalação de soluções zação e Sistemas de Informação. No entanto, Engenharia da Universidade Católica Portu-
integradas de tomografia axial computorizada em equipas em regime de outsourcing tra- guesa, um estudo promovido por esta insti-
e ressonância magnética intraoperatórias e balham mais cerca de 40 engenheiros no tuição em 2006 (Pascoal et al, 2006), reali-
navegação guiada por imagem, entre outras”, hospital, essencialmente nas áreas de siste- zado em colaboração com cinco outras enti-
enumera a Eng.ª Isabel Vaz. “Sendo um hos- mas de informação e manutenção de infra- dades portuguesas de ensino superior, reve-
pital ‘full digital’, assumiu também singular -estruturas e equipamentos. lou um aumento exponencial na oferta de
importância a engenharia de sistemas de in- A Eng.ª Isabel Vaz salienta que o peso da formação na área de Engenharia aplicada à
formação que, em conjunto com a engenha- manutenção dos espaços e infra-estruturas saúde, crescendo de 1 programa de estudo
ria electrotécnica, colaboraram na concepção dos edifícios representa, no total do orça- em 1992 para 25 programas de estudo em
da rede infra-estruturada de dados e comu- mento do Hospital, cerca de 4%, incluindo 2006, considerando todos os graus de ensino
nicações e da arquitectura do sistema de in- também a manutenção de equipamentos (pré-graduado e pós-graduado). Segundo este
formação do hospital”, conclui. médicos e de sistemas de informação. responsável, o aumento revela a multiplici-
Para o Eng.º Durão Carvalho, a manutenção dade de formações, sendo que, a par do au-
ENGENHEIROS NOS HOSPITAIS hospitalar não constitui um custo a eliminar mento das ofertas de formação, não tem sur-
O Hospital de Santa Maria tem, neste mo- mas um factor de produção cuja eficiência gido evidência da reestruturação do corpo
mento, no seu quadro, oito engenheiros a urge aumentar. docente com vista à integração de profissio-
trabalhar no Serviço de Instalações e Equi- nais especializados que assegurem os requi-
pamentos, embora, segundo o Eng.º Durão ENGENHARIA E SAÚDE sitos de uma formação de qualidade. Ou seja,
Carvalho, haja uma actividade deficiente- JUNTAS NA FORMAÇÃO docentes e investigadores doutorados nas
mente desempenhada pela saída de um dos A introdução de tecnologias cada vez mais áreas em que é oferecida a formação, com
Engenheiros. complexas na área da saúde, seja nos meios evidente experiência em ambiente clínico.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 19


TEMA DE CAPA
“Outro aspecto que ressalta deste trabalho é Universidade
a ausência de estudos que visem estimar as do Minho
reais necessidades de mercado em termos
do número de graduados necessários para
responder às solicitações do mercado de em-
prego, que norteiem a criação de ofertas de
formação na área em questão, em Portugal”,
acrescenta.
A “Ingenium” falou com quatro entidades
que oferecem cursos na área da engenharia
da saúde. Procurou saber qual a oferta, a
razão da criação destes cursos e quais as suas
saídas profissionais. tação e elevada participação sido revelado- oferecida pelo Instituto Superior Técnico
res do interesse suscitado pela área. desde o ano lectivo de 2001-2002, e o Mes-
PORQUÊ CRIAR CURSOS NESTA ÁREA Na Universidade do Minho, a criação da li- trado Integrado em Engenharia Biomédica
O reconhecimento da necessidade de for- cenciatura em Engenharia Biomédica foi pro- que lhe sucedeu em 2006-2007 na aplica-
mar pessoas nesta área é um dos principais posta em 2001, mas, segundo o Professor ção da legislação do processo de Bolonha,
drivers para a criação dos cursos em todas Manuel Mota, Vice-Reitor da Universidade têm por objectivo principal a formação de
as entidades abordadas pela “Ingenium”. O profissionais de Engenharia, na sua interface
Eng.º Manuel Barata Marques assume que multidisciplinar com as ciências e tecnolo-
o “projecto académico da FEUCP para o gias biológicas e biomédicas. “Pretende-se
sector da saúde teve como objectivo primor- que esses profissionais sejam capazes de res-
dial a formação de engenheiros aptos a in- ponder criativamente à necessidade de con-
tervir no mercado de trabalho, dando res- textualizar vários ramos da Engenharia, con-
posta às suas reais necessidades”. A criação vergindo-os para o desenvolvimento das ci-
dos cursos da FEUCP “visou ainda promo- ências e tecnologias biomédicas”, comenta
ver a preparação de licenciados e mestres a Professora Teresa Peña, Coordenadora do
em Engenharia Biomédica, Engenharia Clí- Mestrado Integrado em Engenharia Biomé-
nica e Engenharia da Saúde aptos a contri- dica do IST. O ciclo de estudos desta insti-
buir para a criação de conhecimento e de- tuição tem a particularidade de ter a orga-
senvolvimento tecnológico no sector da saúde, nização científica e pedagógica alicerçada
estimulando o empreendedorismo”. numa escola de engenharia e numa facul-
Instituto Superior Técnico
Pioneira na oferta de formação académica dade de medicina, Faculdade de Medicina
graduada e pós-graduada em áreas de inter- do Minho e Director do Centro de Enge- da Universidade de Lisboa, com uma parti-
face Engenharia/Medicina, o primeiro curso nharia Biológica desta universidade, questões cipação de 80% de docentes do IST e 20%
de mestrado em Engenharia da Saúde teve burocráticas fizeram deslizar a admissão dos da FM/UL ao longo de todo o currículo.
início no ano lectivo de 1999/2000, tendo, primeiros alunos no ano lectivo de 2002/2003. “Dada a falta de tradição, até ao momento,
segundo o director do FEUCP, a sua acei- Os primeiros finalistas sairão formados no de contacto e interacção entre engenheiros
corrente ano de 2007. e médicos, esta característica é muito im-
A Licenciatura em Engenharia Biomédica, portante e inovadora. A ligação entre Enge-
(R)EVOLUÇÃO

A evolução das necessidades dos hospitais ao equipamentos de grande dimensão à medida da tica, com pouco mais de 20 anos de vida, baseia-
longo dos tempos tem vindo a ser cada vez mais electrónica da época. Actualmente, na vigilância e se na ressonância entre a frequência de precessão
acelerada. O Hospital de Santa Maria é um exem- suporte de funções vitais surge uma enorme pa- dos protões dos tecidos e uma rádio frequência
plo da necessidade de adaptação às novas reali- nóplia de equipamentos cada vez mais sofistica- de excitação, continuando ainda a ser objecto de
dades, pois foi inaugurado na década de 50. De dos, tais como aparelhos de anestesia, de moni- investigação.
lá para cá muita coisa mudou. Aqui fica uma pe- torização de parâmetros fisiológicos variados, de Os ultra-sons, cujo desenvolvimento e variedade
quena resenha destas mudanças, contada pelo desfibrilhação, etc.. No diagnóstico para medição de aplicações tem sido elevadíssimo, são utiliza-
Eng.º Durão Carvalho. de parâmetros físicos e eléctricos das funções car- dos nas técnicas ecográficas. Nas áreas da medi-
“À data da construção do Hospital de Santa Maria, díaca, respiratória e neurológica, encontram-se cina nuclear e da radioterapia, são utilizados, res-
os equipamentos eram de natureza electromecâ- equipamentos cada vez mais compactos. No diag- pectivamente, as gama câmaras e os aceleradores
nica. No diagnóstico, o RX ocupava lugar quase nóstico por imagem, a radiação X continua a ter lineares.
único, a par das análises clínicas, com equipamen- uma importância relevante com aquisição digital, Com esta muito breve e incompleta descrição das
tos mono parâmetro, e na electrofisiologia, o elec- quer nos equipamentos convencionais, quer na to- tecnologias utilizadas na saúde, fica óbvia a impor-
trocardiograma e o electroencefalograma, com mografia computorizada. A ressonância magné- tância da engenharia nesta área de actividade”.

20 INGENIUM | Maio/Junho 2007


TEMA DE CAPA
nharia e Medicina, que queremos promover, liza a sua formação de ponte entre os cam-
FORMAÇÃO
permite integrar aspectos fundamentais e pos da engenharia e da medicina. As posi-
aplicações concretas da engenharia nos meios ções governamentais relacionam-se com tes- Faculdade de Engenharia
de investigação, diagnóstico e terapia das ci- tes e com o estabelecimento de critérios de da Universidade Católica Portuguesa
ências médicas”, acrescenta a responsável. segurança e qualidade, bem como com ava- Licenciatura em Engenharia Biomédica
liação tecnológica. Nos hospitais, exercem Mestrado em Engenharia Biomédica
APLICAÇÃO PROFISSIONAL funções de consultoria, visando a selecção e Mestrado em Engenharia Clínica
Até 2005/2006 não existiam engenheiros a utilização de equipamento médico, e su- Mestrado em Engenharia da Saúde
biomédicos com formação de raiz nessa área, pervisionam o seu desempenho e manuten- (tempo parcial)
no mercado de trabalho português. Por esse ção. Podem ainda adaptar, desenvolver e in- Doutoramento em Engenharia Biomédica
motivo, para caracterizar o mercado de tra- dividualizar equipamento para cuidados de Doutoramento em Engenharia Clínica
balho aberto à Engenharia Biomédica, Te- saúde e investigação. Na indústria, os enge- Doutoramento em Engenharia da Saúde

resa Peña recorreu a projecções correspon- nheiros biomédicos criam projectos e parti- Pós-graduação em Sistemas de
Informação para a Saúde
dentes às saídas profissionais reportadas pela cipam na concepção e teste de novos pro-
Faculdade de Engenharia
Biomedical Engineering Society, que possi- dutos. Nas unidades de investigação, super-
da Universidade do Porto
bilita o acesso a dados organizados. visionam laboratórios e equipamentos e co-
Mestrado em Engenharia Biomédica
De acordo com a mesma fonte, os engenhei- laboram directamente com médicos, em
Mestrado em Engenharia de Segurança
ros biomédicos trabalham em universidades, temas ligados à fisiologia e à imagiologia, ao
e Higiene Ocupacionais
na indústria, em hospitais e em agências go- diagnóstico e à regeneração de funções. Os Mestrado Integrado em Bioengenharia
vernamentais de regulação dos sistemas de engenheiros biomédicos podem ainda ser Especialização em Engenharia Biomédica
saúde. Desempenham, em geral, uma fun- consultores técnicos de departamentos co- Instituto Superior Técnico
ção de coordenação ou de interface, que uti- merciais. Mestrado Integrado em Engenharia
Segundo o Eng.º Manuel Barata Marques, a Biomédica
ENGENHARIA DE PROCESSOS formação em Engenharia Clínica oferece Programa Doutoral em Engenharia
Biomédica
Um hospital pode ser encarado como uma uni- dois processos, o processo de saúde individual Universidade do Minho
dade fabril, pois os actos de saúde seguem basi- e o processo de saúde pública. Mestrado Integrado em Engenharia
camente os mesmos passos. O Eng.º José Tribo- “Há um conjunto de unidades de saúde e é atra- Biomédica
let falou com a “Ingenium” acerca da importância vés delas que sou processado. Elas têm os pro-
da Engenharia de processos e de como a visão cessos de tratamento em si e os processos de
competências que permitem actuar em di-
da engenharia é importante na área da saúde. suporte. Concentrando-nos nos processos de
versas áreas, envolvendo: aquisição, utiliza-
À frente de alguns projectos ligados à área da tratamento. Um acto de saúde repete sempre o
ção, manutenção, controlo de qualidade e
saúde no âmbito do Departamento de Informá- mesmo padrão”, esclarece.
optimização das tecnologias de diagnóstico,
tica do Instituto Superior Técnico e do INESC, o Nos Hospitais Universitários de Coimbra um grupo
terapêutica, reabilitação e suporte à vida;
Engenheiro comenta que uma unidade de saúde coordenado pelo Engenheiro aprofundou estas
é como uma máquina, e o desafio que se põe é questões que depois foram extrapoladas para o
Projecto e concepção de unidades de saúde;
pô-la a funcionar correctamente ao serviço da re- próprio serviço nacional de saúde. Gestão e logística hospitalar; Consultoria em
lação entre a informação e as pessoas, supor- “Estudámos vários casos de arquitecturas de sis- saúde; Sistemas e tecnologias de informação
tando os processos da organização. “Na nossa temas e fizemos arquitecturas para várias entida- na saúde; Investigação e Desenvolvimento,
óptica, a da Engenharia, concentramo-nos na des de saúde, das mais pequenas às maiores, entre outras áreas.
forma como as coisas operam. O grande desíg- sempre baseados no que observámos em Coim- Já a formação em Engenharia da Saúde tra-
nio da Engenharia é instrumentar a acção humana bra, na tipificação dos casos”, diz o Eng.º José balha as competências que, em complemento
no dia-a-dia de forma a reduzir a incerteza e con- Tribolet. à sua formação de base, permitem intervir
trolar o futuro”, comenta. A seu ver, um dos grandes problemas do sistema em diversas áreas da prestação de cuidados
O Eng.º José Tribolet tem trabalhado nesta área de saúde prende-se com a ontologia informacio- de saúde, administração e gestão hospitalar,
há já algum tempo e salienta que uma das coi- nal, de normalização e regulação da informação, consultoria em saúde, análise, selecção e op-
sas mais importantes a ter em conta é a forma um problema que acredita fazer-se sentir em Por- timização na utilização de tecnologias de
como devemos olhar para o sistema de saúde. tugal, tanto no sector privado como no sector pú-
diagnóstico e terapêutica, implementação e
“Interessa perceber o que acontece ao ser hu- blico.
utilização de tecnologias de informação na
mano nestes processos. Todos nós somos pro- “Na famosa reforma da administração pública,
saúde, entre outras.
cessados em actos de saúde ao longo do tempo. onde muita coisa está a ser bem feita, não há
A Pós-Graduação em Sistemas de Informa-
O que nos interessa no sistema de saúde é como uma arquitectura da informação da Administra-
ção para a Saúde tem por objectivo capaci-
os actos de saúde são executados sobre o ser ção Pública. Tudo o que tem a ver com arquitec-
tar os profissionais de saúde para o planea-
humano”, explica tura da informação é, neste momento, completa-
Numa das investigações que coordenou, chegou mente desconhecido, não encontra eco na sen-
mento e implementação de tecnologias e
à conclusão que na área da saúde há apenas sibilidade dos nossos dirigentes”, aponta. sistemas de informação em unidades de
saúde, assim como para a sua gestão. ■

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 21


Entrevista Eng.º João Wemans, Director Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde

Os Engenheiros
fazem bem à Saúde?

A poucos dias da integração da Direcção Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde na de cada uma é muito variável de país para
Administração Central do Sistema de Saúde, I.P., um novo Instituto que irá gerir, de forma integrada, país. Em Portugal, temos um sistema de pro-
as valências de Normalização e Projectos, Planeamento e Investimento e Licenciamento da área tecção social significativo, incluindo o Sis-
das instalações e equipamentos do Ministério da Saúde, a “Ingenium” esteve à conversa com tema Nacional de Saúde (SNS), sendo a
o Eng.º João Wemans, ainda na qualidade de Director Geral, mas que em breve assumirá despesa maioritariamente pública, não só
a Vice-presidência da nova entidade. porque o SNS é público mas, também, por-
Uma conversa que nos mostrou que Portugal tem poucos engenheiros a trabalhar no sector, que, a par deste, existem ainda outros sub-
que a ligação entre a engenharia e a saúde tem muito por onde crescer, e que está projectada sistemas públicos que contribuem para a
a construção de novos hospitais pelo país fora, incluindo a substituição das unidades mais antigas despesa.
da capital por um grande hospital em Lisboa.
Mas nos últimos anos, o sistema privado
Texto Marta Parrado e Ana Pinto Martinho privado do que público, atingindo valores na tem galopado, ao nível dos seguros, das
Fotos Paulo Neto ordem dos 15%. Ora, estamos a falar de ac- unidades hospitalares e clínicas…
tividades que, já sendo muito significativas, Sem dúvida. Cresceu em todos os campos.
Pedia-lhe uma breve contextualização do constituem um mercado que se encontra em Creio que houve, é o meu entendimento,
mercado da saúde, nomeadamente no que expansão, logo, a tendência é para que o peso alguma paragem na expansão do sector pri-
se refere à sua dimensão e à forma como das despesas com a saúde venha a aumen- vado a seguir ao 25 de Abril, devido, nomea-
está organizado. tar. Tal deve-se a vários factores, mas, em damente, à criação do Serviço Nacional de
Em primeiro lugar, o mercado da saúde é, grande medida, ao aumento da esperança Saúde com as características de universali-
hoje, em qualquer país desenvolvido, um média de vida das pessoas. Ou seja, na fase dade de acesso e gratuitidade tendencial e
mercado muito significativo. Nos países da inicial da vida, as despesas com a saúde têm ao seu bom desempenho. Mas, uma vez que
OCDE, as despesas com saúde atingem va- alguma relevância, dada a necessidade de o mercado está em expansão e com um forte
lores na ordem dos 10% do produto interno acompanhamento do desenvolvimento das dinamismo, o sector privado considerou que
bruto (PIB) e Portugal também se encontra crianças. Depois existe uma fase intermédia não seria de desperdiçar as oportunidades
nesse patamar. em que os cuidados são mais esporádicos, que esta expansão apresenta. E, portanto,
diminuindo essas despesas largamente. Na em Portugal, desde a década de 90, temos
Esse valor engloba os sectores público e última etapa da vida, o ser humano neces- assistido ao incremento da presença do sec-
privado? sita de cuidados de saúde bastante mais in- tor privado. Em termos de distribuição das
Sim, refere-se à totalidade. É evidente que tensos, implicando, novamente, um aumento despesas da saúde pelos sectores privado e
este valor é variável entre os 30, sendo que da despesa. público, embora essa relação não seja tão di-
nos EUA as despesas com saúde são supe- Em termos de organização da oferta, ela pode recta como se pensa – por um lado, porque
riores, até porque o sistema é muito mais dividir-se em pública e em privada. O peso as despesas suportadas pelas famílias cobrem

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Entrevista
os dois sectores e porque a despesa pública Essa questão remete-nos para outra ligada diagnóstico e estes deverão situar-se também
também engloba o pagamento de serviços à degradação e desadequação do parque na proximidade dos blocos operatórios…
convencionados com o privado –, 60% per- hospitalar português. Os exemplos são mui-
tence ao SNS e 20% às famílias. Mais uma tos, desde logo o Hospital de S. José, em E para hospitais localizados no centro das
vez relevo que muitos dos serviços de saúde Lisboa. cidades, a possibilidade de expansão será
prestados pelo sector privado são pagos atra- E essa questão está ainda ligada a outra, que ainda mais limitada… mas existe alguma
vés de despesa pública. Dou-lhe o exemplo é a forma como cuidamos do nosso patri- solução em cima da mesa?
da hemodiálise que, sendo feita, em muitos mónio. É evidente que no S. José o problema A questão continua a ser estudada e existem
casos, no sector privado, o seu pagamento é não é de manutenção, é de desadequação várias opções, mas uma solução consensual
assegurado pelo sector público. Isto porque das infra-estruturas às actividades que nelas ainda não. Existem também edifícios em que
o sistema público de saúde inclui os presta- são desenvolvidas, tratando-se de um caso o projecto da estrutura, das paredes exterio-
dores públicos de cuidados de saúde e os extremo. Mas tem todo o “direito” de estar res e da cobertura do edifício foram concebi-
prestadores privados convencionados. desadequado, atendendo a que tem vários dos para uma duração de 50 a 100 anos, as
séculos, e não será possível adequá-lo. Rela- instalações técnicas para um ciclo de vida de
tivamente à desadequação, a rapidez com entre 15 e 50 anos e a organização de espaços
Os níveis de exigências que os edifícios ficam não adequados à me- interiores para uma duração de 5 a 15 anos,
dos edifícios hospitalares fazem deles, dicina praticada é um problema identificado, estando assim mais adaptados para relocaliza-
certamente, dos mais complexos que afecta arquitectos e engenheiros: como ção e redimensionamento de serviços.
em termos de projecto. projectar edifícios em que os seus espaços
possam ser reconvertíveis com alguma faci- Ou seja, tudo fica pronto para tudo?
lidade para novas funções? Este é um pro- Exactamente. Mas isso implica um dimen-
Qual é a intervenção da engenharia na saúde? blema, para o qual ainda não temos solução. sionamento do edifício completamente anó-
Os engenheiros fazem bem à saúde? Na Holanda, por exemplo, num hospital es- malo. É muito difícil projectar sem conhe-
Eu suponho que os engenheiros fazem bem pecífico, chegaram também à conclusão que cer o fim exacto a que se destina, deixando
o que fazem e, em relação à saúde, têm obri- não é possível construir um edifício hospi- em aberto vários futuros possíveis. Nós, en-
gação de fazer bem, contribuindo, primeiro, talar que se mantenha adequado durante genheiros, estamos habituados a projectar
com a concepção de instalações adequadas muitas décadas, pelo que decidiram resolver edifícios, instalações e sistemas, mas conhe-
para a prestação de cuidados, e aqui temos a o problema da seguinte forma: constroem cendo o objectivo para o qual são construí-
componente de projecto; segundo, projec- um edifício hospitalar, projectado para ser dos, agora com o máximo de flexibilidade,
tando equipamentos; e, depois, em todas as utilizado durante 40 anos, num terreno amplo. é difícil. Até porque, tendencialmente, temos
outras componentes que, tendo também a Passados cerca de 20 anos, começam a cons- que ser económicos naquilo que projecta-
intervenção da engenharia, são menos eviden- truir outro para instalar melhor os serviços mos. E, neste caso, haveria uma contradição
tes, como é o caso dos sistemas de comuni- que resistam menos bem à desadequação do entre a economia e a flexibilidade, sendo
cação e informação, que não são específicos edifício, os quais são transferidos para este que, hoje em dia, pensamos que a flexibili-
da saúde mas que se tornam fundamentais segundo edifício. dade é uma questão crítica. Na área da saúde
para o seu funcionamento. A tendência é para Duas décadas depois, procedem à demoli- é seguramente. Temos que pensar que, por
a abertura de mais frentes, porque a medi- ção do primeiro edifício após transferirem exemplo, no Hospital de Santa Maria pas-
cina está em permanente evolução. Aliás, um os serviços que ainda ali funcionavam para sam, por dia, cerca de 10.000 pessoas, entre
dos grandes problemas que se coloca aos en- um terceiro edifício. É preciso é ter espaço funcionários, fornecedores, utentes, acom-
genheiros e aos arquitectos é a velocidade a suficiente para ir construindo à volta e de- panhantes, visitas, etc.. Portanto, estamos a
que a medicina evolui, colocando-nos perante molindo os edifícios mais inadequados. Esta falar de edifícios que suportam fluxos diá-
problemas complexos ao nível da desadequa- é uma abordagem. rios de pessoas muito significativos. Por outro
ção dos edifícios. Dou-lhe um exemplo: as lado, os níveis de exigência do projecto de
taxas de cirurgia realizada em ambulatório – Em Portugal talvez não tenhamos o espaço um hospital são muito elevados. Repare,
que é a cirurgia em que o paciente é admi- e o dinheiro que nos permita adoptar essa temos salas de operações, em que, por exem-
tido, é efectuada a intervenção, e sai sem ne- metodologia… plo, é crítico assegurar a qualidade do ar am-
cessidade de internamento – estão a aumen- Pois, não temos várias das coisas que os ho- biente; temos laboratórios e espaços para
tar, logo, os quartos do internamento tendem landeses têm. Por outro lado, há quem con- tratamento de doentes com doenças infecto-
a sobrar, porque antigamente todos os doen- sidere que podemos construir edifícios im- -contagiosas que requerem pressão negativa
tes que eram operados ficavam. O que fazer plantados num terreno que permita expan- para que o ar entre nesses espaços e não cir-
com quartos de hospitais? Convertê-los em dir esse edifício na horizontal. O que tam- cule para o exterior; em várias áreas é exi-
quê? Os gabinetes de consulta ou as áreas de bém se torna difícil porque esta solução pode gido que a alimentação de energia eléctrica
cuidados intensivos não têm a mesma tipo- quebrar a lógica interna de proximidade dos seja assegurada em permanência e em ou-
logia. Daí que o ideal seria a existência de serviços, ou seja, por exemplo, as consultas tras apenas com períodos de interrupção ex-
edifícios flexíveis. externas devem estar próximas dos meios de tremamente curtos; as questões de segurança

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Entrevista Eng.º João Wemans, Director Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde

de instalações e de pessoas são particular- cuidados continuados, destinada a acolher


mente exigentes; a complexidade e multipli- Na Direcção Geral existem as pessoas que, precisando de acompanha-
cidade de sistemas e instalações em funcio- 9 Engenheiros. É um número mento de saúde, não necessitam de cuida-
namento num edifício hospitalar requerem manifestamente reduzido, totalmente dos hospitalares, altamente especializados,
que o seu controlo seja efectuado através de desadequado, resultando de um que são caros e que, nestas circunstâncias,
um sistema sofisticado de gestão técnica cen- decréscimo sustentado ao longo são inadequados. Neste momento, a Rede
tralizada, e por aí fora. Em suma, os níveis dos tempos e indiciando a pouca Nacional de Cuidados Continuados tem mais
de exigências dos edifícios hospitalares fazem valorização atribuída à carreira de 1000 camas espalhadas pelo país, sendo
deles, certamente, dos mais complexos em
de engenharia neste sector ainda necessário expandir bastante este ser-
termos de projecto. viço. Para a instalação desta rede estão em
previstas nos regulamentos em vigor à data. curso investimentos em novos equipamen-
Essas são as exigências interiores, mas ao Obviamente que a regulamentação geral tem tos e na reconversão de outros.
nível do exterior e da estrutura também ha- vindo a aumentar o nível dessas exigências,
verá que assegurar critérios rigorosos. Um mas consideramos que são ainda insuficien- E por quantos Engenheiros é composta a
dos casos mais recentes será o projecto de tes. A Direcção Geral tem um programa Direcção Geral?
construção anti-sísmica que tem sido de- com o IST, na área de construção de estru- Na Direcção Geral existem 9 Engenheiros.
senvolvido em parceria com o IST. Como turas, para desenvolver e tornar mais exigen- É um número manifestamente reduzido, to-
está esse projecto? tes as nossas especificações nesse campo. E talmente desadequado, resultando de um
Esse é outro dos grandes desafios. Qual é a vamos continuar nesse caminho. decréscimo sustentado ao longo dos tempos
diferença, do ponto de vista sísmico, entre e indiciando a pouca valorização atribuída à
um hospital e um edifício normal? Num edi- Mas em que situação se encontra exacta- carreira de engenharia neste sector. Con-
fício normal, a preocupação, a exigência, é mente esse projecto com o IST ao nível da tudo, há a intenção de inverter esta tendên-
que ele não colapse e que não atinja quem construção anti-sísmica? cia, estando projectada a abertura de vagas
se encontra no interior ou quem se encontra Temos um contrato assinado para mais um para profissionais de engenharia.
nas suas imediações. Em relação a um hos- programa. O contrato inicial foi dedicado à
pital, é diferente. No meio de um sismo, ele identificação do risco sísmico em hospitais E quantos pretendem contratar?
tem que, não só resistir, como ficar a funcio- com a estrutura do de Santa Maria, construí- Pretendemos ter um quadro de engenharia
nar. Num edifício normal, se as redes de água dos nos anos 50. Depois foram abordados com cerca de 25 elementos. Constatando
sofrerem rupturas, é um mal menor, o prin- hospitais mais recentes, nomeadamente o que não é fácil encontrar no mercado enge-
cipal é que não caia. Num hospital, os seus Garcia de Horta… nheiros já com o perfil adequado para a de-
equipamentos e redes de água, de electrici- sempenhar funções, até porque a experiên-
dade, de gases medicinais, etc., têm, neces- E a construção de novos? Há projectos cia na sociedade civil neste campo não é
sariamente, que ficar a funcionar para que nesse sentido? Para onde? ainda superabundante, recorreremos certa-
possa prestar cuidados aos sinistrados. Daqui O Ministério da Saúde tem previstos pro- mente também à admissão de recém licen-
se infere que a resistência sísmica de um edi- jectos em praticamente todas as regiões do ciados.
fício hospitalar tem que ser muito superior. país. Está prevista, nomeadamente, a cons-
Claro que se trata de um desafio, quer para trução de novos hospitais em Faro, Évora, Com os recursos, poucos como vimos, exis-
os engenheiros de estruturas, quer para os Seixal, Lisboa, Cascais, Loures, Vila Franca tentes na área de engenharia, como é feito
engenheiros mecânicos e de quaisquer outras de Xira, Lamego, Vila Nova de Gaia, Póvoa o acompanhamento e a verificação dos pro-
especialidades envolvidas. Naturalmente que do Varzim-Vila do Conde, Braga e ainda jectos? O que é que é assegurado pela Di-
a estrutura do edifício irá sofrer deslocamen- novas instalações para o Instituto Português recção Geral e que tipo de critérios de se-
tos relativos com um tremor de terra, agora, de Oncologia de Lisboa. Em Lisboa, trata-se lecção de projectos utiliza?
pode é ser reforçada de maneira a que a sua de construir um hospital que substitua hos- Em termos de acompanhamento, os enge-
amplitude seja menor, ou instalar ligações pitais muito antigos, como o S. José, Sta. nheiros que trabalham na Direcção Geral
elásticas entre as fundações e a restante es- Marta, Desterro, e outros, alguns a funcio- intervêm, em primeiro lugar, na selecção da
trutura, de maneira a que seja possível amor- nar, inclusivamente, em antigos conventos. melhor proposta, sendo que um aspecto sig-
tecer e absorver uma parte da energia para Ora, não há, obviamente, racionalidade eco- nificativo é a componente de arquitectura.
não a transmitir ao edifício. Este é mais outro nómica em fazer mais investimentos nesses Isto porquê? Porque um dos problemas de
factor demonstrativo da dificuldade inerente hospitais, cujas estruturas não são adequa- um hospital com alguma dimensão é a orga-
ao projecto de um edifício hospitalar. das nem funcionais. A opção tomada foi ter- nização dos circuitos de utentes, de profis-
minar o funcionamento nessas instalações, sionais, de visitantes, assim como as circula-
Que tipo de exigências foram consideradas que foi demasiado prolongado, e construir ções de “sujos” e de “limpos”, etc., etc., o
aquando da construção das unidades hos- instalações novas e adequadas. que coloca enormes desafios à arquitectura.
pitalares que estão em funcionamento? Para além das novas unidades hospitalares, Se o edifício hospitalar não estiver bem con-
Foram consideradas as que se encontravam o Ministério está a desenvolver uma rede de cebido, torna-se numa fonte de enorme con-

24 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Entrevista
fusão e de disfuncionalidade. Em termos de
engenharia, são valorizados a estruturas e
fundações, as instalações e equipamentos
eléctricos, mecânicos, de águas e esgotos,
redes de gases medicinais e de aspiração, o
sistema de gestão técnica, o sistema de se-
gurança integrada e o grau de conformidade
com as exigências dos nossos cadernos de
encargos. Analisamos ainda, obviamente, a
experiência na construção de edifícios pú-
blicos de dimensão e complexidade signifi-
cativas, isto para não reduzirmos a possibi-
lidade de apresentação de propostas apenas
a empresas com experiência específica em
projecto de hospitais, sobretudo porque, em
Portugal, essa experiência ainda é pequena,
embora a existir também seja considerada.

Excluindo a componente do financiamento,


torna-se mais vantajosa a contratação do penalizada caso se verifiquem situações de orçamento para manter uma unidade a fun-
projecto e a execução em separado ou a não disponibilidade, ou seja, se zonas das ur- cionar, é evidente que, a verificarem-se in-
modalidade de concepção/construção? gências, ou de qualquer outro serviço, quar- suficiências orçamentais, a vertente que sofre
Nós preferimos, claramente, a modalidade tos de internamento, gabinetes de consulta, mais facilmente é, tendencialmente, o que é
do projecto separado da construção, porque, casas de banho, etc. não estiverem disponí- adiável. E, normalmente, os cuidados de saúde
ao adquirirmos o conjunto projecto e cons- veis em permanência. E, nesses casos, a en- não são adiáveis, a prioridade é a prestação
trução, o projecto pode passar a ser domi- tidade gestora é duplamente penalizada: por- de cuidados de saúde, donde, tendencial-
nado pela lógica da construção, que é a com- que tem que resolver o problema e através mente, a verificar-se essa questão, é o patri-
ponente de maior valor no conjunto. A qua- de multa por falha no desempenho do edi- mónio que sofre. Contudo, os hospitais são
lidade tem que começar pelo projecto. Nesta fício. uma plataforma na qual se prestam cuidados
questão, a posição da Direcção Geral está de saúde, mas não pode deixar de se inves-
claramente definida e estabilizada. Actual- E existe fiscalização a esse nível? Caso as tir na plataforma, porque, se assim for, a sua
mente, temos um programa que tem algo falhas aconteçam são detectadas pela enti- funcionalidade degrada-se. Da mesma forma
de concepção/construção, que é o programa dade tutelar? que é normal que, nos hospitais, a sua gestão
de parcerias público-privadas da saúde. Neste Existe fiscalização. O contrato prevê espe- global seja realizada geralmente por médicos
tipo de projectos, o contrato inclui mais do cificamente a informação a prestar pela en- ou por administradores hospitalares, não é
que a construção do hospital, pois é adjudi- tidade gestora do edifício a par do acesso em preciso ser engenheiro para gerir o sistema,
cada a concepção, o projecto, a construção, tempo real ao sistema de informação de ges- mas para gerir a plataforma, é preciso. O pro-
a manutenção e a gestão do edifício por um tão pela entidade contratante. blema é que nós temos apenas serviços de
prazo de 30 anos, em paralelo com a pres- instalações e equipamentos (manutenção),
tação dos cuidados de saúde por um período quando deveríamos ter gestores de edifícios.
Nós temos apenas serviços
de 10 anos. Nestes casos, analisamos o pro- É mais do que serviços de manutenção.
de instalações e equipamentos
jecto, ao nível de estudo prévio, porque aí
(manutenção), quando deveríamos
já se podem detectar eventuais falhas ou não Os quadros e serviços existentes não se ade-
ter gestores de edifícios. É mais
conformidades, e depois prolongamos a aná- do que serviços de manutenção. quam às necessidades…
lise até ao nível de anteprojecto. A partir do Não são só os quadros ou os serviços, é, so-
anteprojecto, sendo que a manutenção e o bretudo, a relevância que é dada à questão
desempenho do edifício estão assegurados Como conservamos os edifícios que temos? e a forma como ela é abordada que não são
durante 30 anos, pensamos que as garantias Obviamente que essa actividade não é asse- frequentemente, no meu entender, as mais
existentes nos permitem alguma tranquili- gurada pelos serviços centrais. A insuficiên- correctas, porque, a partir do momento em
dade, pelo que o projecto de execução é ana- cia da conservação é um problema que não que o edifício é construído, tende a assumir-
lisado apenas para verificação de conformi- creio ser exclusivo do sector da saúde, mas -se que só será necessário fazer pequenas re-
dade com o contratado. transversal à sociedade portuguesa e à forma parações, o que não corresponde à realidade.
Para além de ter que assegurar a manuten- como gerimos o património. O edifício precisa ter um gestor, precisa de
ção do edifício hospitalar, a empresa que Na saúde, temos adicionalmente uma difi- alguém que assegure a sua gestão de forma
constrói e gere o edifício durante 30 anos é culdade mais específica: quando temos um integrada.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 25


Entrevista Eng.º João Wemans, Director Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde

humanos se possam focalizar na obtenção


de resultados nestas áreas. Vamos mudar,
portanto, para uma organização mais mo-
derna que potencie o diálogo e a articulação
entre serviços que anteriormente se encon-
travam dispersos e que, para uma melhor
gestão do sistema, foi decido reunir num
único instituto.

Em termos de formação académica, como


prevê que possa evoluir esta vertente de li-
gação entre a engenharia e a saúde?
É muito provável que, com o aumento do
mercado, venham a surgir, nalgumas das es-
pecialidades de engenharia, subespecialida-
des mais orientadas para a área da saúde.
Para tal, será necessário que o mercado tenha
dimensão. Voltando atrás, só para exempli-
ficar: há 25 anos, praticamente todos os pro-
jectos eram feitos por esta Direcção Geral,
logo o mercado não tinha competências nesta
área, sobretudo porque não havia procura.
Ora, à medida que passámos a contratar ao
É quase como fazer medicina preventiva às vés de grupos de hospitais ou de subcontra- exterior, foi-se desenvolvendo competência
instalações… tação. Entenda-se que há hospitais que já externa, e, nos últimos tempos, atingimos
Exactamente. É fazer medicina preventiva, fazem este trabalho de forma eficaz… um nível de contratação nos hospitais que
analisar se estamos a gastar demasiada ener- permite que algumas empresas tenham ganho
gia, se é possível fazer investimentos rentá- Nos casos dos público-privados? especialização em projecto de hospitais. Da
veis na contenção de custos em energia, rea- Refiro-me aos públicos. Porque nos contra- mesma forma que, à medida que o mercado
lizar estudos de custo/benefício relativos a tos de parceria público-privada esse serviço, cresce, é natural que tenhamos, se não ao
investimentos que visem um melhor desem- como disse, está previsto no contrato. Con- nível nacional, ao nível internacional, cada
penho do edifício e dos profissionais que nele tudo, o que acontece nalguns casos de edi- vez mais tendência para que existam subes-
desenvolvem a sua actividade. Portanto, nós fícios com gestão pública, é que, mesmo fa- pecialidades especificamente dedicadas à
não temos a figura do gestor de edifício nem zendo o melhor com o orçamento disponí- saúde e, portanto, que se desenvolvam cur-
a situamos a um nível suficientemente rele- vel, a figura do gestor de edifício não está sos com uma vertente de saúde.
vante na nossa organização. definida nem existe essa responsabilidade
claramente identificada no conselho de ad- Como lhe parece que a Ordem poderá en-
E no enquadramento futuro, com as altera- ministração do hospital. Uma maior relevân- quadrar estes profissionais na sua estru-
ções que possam ocorrer, prevê que essa cia da gestão do edifício seria benéfica para tura?
função possa conquistar maior relevância? o sistema. Não creio que seja este o momento para
Teremos que lá chegar. Não temos soluções abrir uma especialidade na área da saúde.
fechadas, temos que caminhar nesse sentido. E para onde caminhamos agora com o novo Não creio que exista ainda essa necessidade.
Os contratos de parceria público-privada já Instituto da Administração Central do Sis- Agora, a Ordem estará certamente atenta
nos dão uma pista. Obviamente que não será tema de Saúde, deixando de existir a Di- aos desenvolvimentos mais significativos.
necessário seguirmos esse tipo de contrato recção Geral das Instalações e Equipamen- Com a construção de mais hospitais, com
em todas as situações, mas é preciso cruzar- tos da Saúde? unidades privadas de saúde e com progra-
mos a experiência ganha com aquilo que fa- A figura do Instituto permitiu adoptar uma mas mais específicos neste sector, é natural
zemos. Portanto, há pistas que temos que organização mais eficaz, com um desenho que vá acompanhando, através de acções de
explorar, e há actividades que já são desen- mais moderno e mais funcional. Por outro formação, seminários, etc., a evolução deste
volvidas mas que necessitam ser melhoradas lado, vão ser reunidas competências que es- sector. Esta Direcção-Geral, inclusivamente,
e requalificadas. Tudo, naturalmente, com tavam dispersas e a área das instalações e já promoveu seminários na Ordem, e esta-
o devido cuidado, porque, eventualmente, equipamentos da saúde ficará organizada em mos receptivos e interessados em dialogar
para pequenos hospitais, não fará grande sen- três grandes vertentes: Normalização e Pro- com a Ordem, até porque, no campo da en-
tido dispor de uma equipa de engenheiros, jectos, Planeamento e Investimento e ainda genharia, a Ordem é, sem dúvida, uma re-
mas aí também é preciso racionalizar, atra- a de Licenciamento, para que os recursos ferência. ■

26 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Caso de Estudo

Inovação in-house

lado do controlo de custos, quer do lado da


qualidade e eficiência na prestação de cui-
dados de saúde.
Hugo Meireles confessa que um dos pensa-
mentos imediatos foi “já que começava o
hospital de novo, devia começar também
com um bom sistema de informação”. Por
outras palavras, o objectivo era, como sa-
Texto Ana Pinto Martinho
Começar de novo lienta o responsável do hospital, “aproveitar
A história remonta a 1998, quando foi pu- os sistemas de informação já disponíveis para
blicado o estatuto do Hospital São Sebastião conseguirmos um nível de gestão que nos
Para o Hospital São Sebastião, de Santa e nomeado o seu primeiro Conselho de Ad- permitisse ter o melhor desempenho neste
Maria da Feira, começar de novo foi uma ministração. Tratava-se do primeiro S.A. hospital”.
excelente oportunidade para a inovação concebido já numa perspectiva empresarial.
tecnológica. Um caminho de inovação feito Para presidir a esta empreitada, o convite foi A opção por desenvolver in-house
de apostas no desenvolvimento interno e endereçado a Hugo Meireles, que ainda hoje De base, o hospital estava dotado de uma
nas parcerias de investigação, na mantém a responsabilidade da presidência infra-estrutura de comunicações razoável e
construção das soluções tecnológicas que do Conselho de Administração. com capacidade de evoluir. Uma infra-es-
melhor respondessem ao modelo de gestão Hugo Meileres recorda a azáfama do arran- trutura que permitia seguir o objectivo dos
empresarial e aos elevados padrões de que: “Quando cheguei ao hospital encontrei responsáveis do hospital em implementar
qualidade de serviço ao utente. uma unidade em fase de arranque, com uma uma filosofia de computação baseada no pro-
Hoje em dia, os resultados deste esforço equipa de cerca de vinte pessoas. Havia ne- cessamento centralizado (thin client).
de inovação atravessam toda a actividade cessidade de programar a abertura do hos- Resolvida a equação da infra-estrutura de
do Hospital, introduzindo soluções de pital em seis meses, incluindo tarefas como comunicações e de informática, o grande de-
tecnologias de informação ao serviço da a contratação de equipas médicas e funcio- safio colocou-se ao nível dos sistemas de su-
gestão global da instituição. Soluções, nários”. porte à gestão clínica. Afinal de contas, como
essas, que suportam, em processos Mas foi nas tecnologias de informação que sublinha Hugo Meireles, “a área médica,
electrónicos e automatizados, as várias se centraram muitas das preocupações dos como se diz na gíria empresarial, é o core-
dimensões da gestão hospitalar, incluindo responsáveis do hospital. O modelo empre- -business do hospital”. Um desafio que ficou
a gestão do processo clínico, a gestão do sarial que esta unidade de saúde inaugurava ainda maior à medida que começaram a son-
risco, a gestão da qualidade e a gestão impunha um sistema de informação que res- dar o mercado de fornecedores de sistemas
económico-financeira. pondesse às exigências da gestão, quer do de informação.

28 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Caso de Estudo
Hugo Meireles recorda o quão difícil foi a A evolução
busca de soluções, quer a nível nacional, A oportunidade de desenvolver esta apli-
quer a nível internacional: “Fizemos uma cação internamente conduziu a instituição
pesquisa internacional, mas chegámos à con- por uma espiral de inovação tecnológica
clusão de que as soluções eram muito boas sem retorno. Foi como um vício.
mas extremamente caras. E ainda havia a O Hospital São Sebastião foi aprofundando
necessidade de adaptar a solução à língua e parcerias com institutos de investigação,
à realidade nacional. A nível nacional não como o IEETA (Instituto de Engenharia
havia nenhum produto que servisse os in- Electrónica da Universidade de Aveiro),
teresses do hospital”. e com empresas de tecnologias de infor-
Mas também aqui, a dificuldade revelou- mação, com destaque para a Microsoft, a
-se uma oportunidade. Face à inexistên- PT Prime e a Ericsson. Montou um de-
cia de soluções ajustadas às necessidades partamento interno dedicado ao desenvol-
e ao orçamento da instituição, os respon- vimento de sistemas de informação de
sáveis do hospital assumiram uma decisão saúde. Recebeu a colaboração contínua de
que viria a marcar a matriz de inovação alunos de cursos de engenharia e de tec-
tecnológica que há muito lhe é reconhe- nologia na formação das equipas de desen-
cida. A decisão foi desenvolver a solução volvimento interno. Desta dinâmica de in-
internamente. vestigação e desenvolvimento resultaram
“Em alternativa, acabámos por começar a inúmeros outros projectos de inovação.
construir, lentamente e com recursos lo-
cais, um projecto de processo clínico elec- do sobre as aplicações centrais do Ser-
trónico, a que demos o nome de Medtrix. viço Nacional de Saúde, que são geri-
A ideia era criar uma ferramenta que per- das pelo IGIF, o Medtrix é uma apli-
mitisse, ao médico, o registo do processo clí- cação em ambiente Web que garante,
nico de uma forma electrónica, e, à gestão, entre outros aspectos, a gestão elec-
a ligação aos principais centros de custo, trónica do processo clínico do utente,
como os laboratórios de imagiologia e labo- das prescrições e do aprovisionamento,
ratórios de análise”, recorda. além de fornecer os indicadores de
qualidade, financeiros e de re-
cursos humanos.
Foi também o Medtrix que per-
mitiu cumprir uma ambição da
Administração do hospital: aca-
bar com o papel. Hugo Meire-
les explica que a luta “foi no
sentido de eliminar o papel tanto
quanto possível do Hospital.
Neste momento, por exemplo,
na urgência nós só utilizamos o
processo informático, já não uti-
lizamos papel. O papel só é
De facto, as exigências de gestão contribuí- usado numa fase posterior, quando é
ram decisivamente para o desenho da arqui- necessário fazer o arquivo”.
tectura do sistema, como refere Hugo Ao nível da gestão, destacam-se o projecto
Meireles: “Era para mim importante saber, “Prescrição Electrónica”, que gere e pro-
por exemplo, como controlar custos nas cessa, de forma electrónica, a prescrição
despesas de medicamentos ou como acom- interna de medicamentos, a aplicação que
panhar os custos derivados da prescrição gere as triagens de emergência médica, de
de exames laboratoriais, da repetição de pediatria e de utentes em geral, e a solu-
exames ou dos pedidos de exames sem ção que coordena e controla os horários
necessidade”. dos funcionários.
Hoje em dia, é sobre o Medtrix que é su- Na área da imagiologia, a equipa de de-
portada toda a informação clínica e de ges- senvolvimento do hospital concebeu um
tão do Hospital São Sebastião. Trabalhan- sistema de radiologia digital, uma infra-

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 29


Caso de Estudo
tal, o tempo médio de estadia do do- ALGUNS DOS PROJECTOS CHAVE DESENVOLVIDOS
ente na urgência é de duas horas e o
tempo médio de internamento é de Medtrix ePR
O Medtrix ePR é uma das aplicações centrais dos
quatro dias. A média nacional para o sistemas de informação do Hospital São Sebastião.
internamento hospitalar ultrapassa os Desenvolvido com recursos internos, esta é uma
plataforma tecnológica unificada para responder às
seis dias, segundo Hugo Meireles. necessidades dos pacientes. A aplicação fornece aos
O responsável do Hospital São Sebas- médicos uma perspectiva integrada de toda a
tião não tem dúvidas quanto ao con- informação clínica relacionada com os pacientes,
desde a sua admissão no hospital. O sistema tem uma
tributo dos sistemas de informação integração total, quer com as aplicações de gestão do
para estes resultados: “Foram estes SNS (SONHO), quer com todos os sistemas de apoio ao
processo clínico, de imagiologia, de patologia, etc..
meios informáticos que possibilitaram
-estrutura que permite aos blocos operató- estes indicadores de eficiência, ao permitir
rios aceder à radiologia digital e a um sistema acelerar a decisão médica e melhorar a ges- Triagem de Emergência
Para a triagem do atendimento na urgência, foi
de cirurgia guiada por imagem. tão de todo o processo”. concebida uma solução que permite o registo integral
Também o atendimento e a prestação e o controlo desde a entrada na urgência. Entre outras
possibilidades, o sistema permite aferir tempos médios
de cuidados remotos ao doente foram reais de espera, por grupo de doente, por hora, médico
alvo de alguns projectos específicos. O e especialidade.
serviço de mensagens móveis (SMS)
para alerta aos utentes, a rede de tele- Prescrição Electrónica
medicina e a solução de monitorização Implementado com recursos internos, o sistema de
prescrição electrónica oferece um circuito electrónico
remota de doentes no domicílio ou em escalável e padronizável para a prescrição interna
ambulância, são alguns exemplos. de medicação.

Resultados evidentes Telemedicina


Para o responsável da instituição, os Este projecto permitiu a utilização da telemedicina
entre os serviços de Obstetrícia e Cardiologia do
resultados estão à vista. Neste hospi- Hospital e outras instituições de saúde (centros de
Na prática, foi colocar os sistemas de saúde e hospitais) para a prática da teleconsulta.
informação ao serviço da eficiência clí-
nica, da gestão de risco, da gestão da MOBISAÚDE
qualidade e da gestão económico-finan- Num desenvolvimento conjunto entre o Hospital São
Sebastião, o Instituto Nacional de Administração (INA)
ceira. Enfim, ao serviço da eficiência da e a Ericsson, o projecto MOBISAUDE introduziu uma
gestão global do hospital. solução de monitorização remota de pacientes,
quer no domicílio, quer em ambulatório.
“Ou seja, cumprir a nossa missão que é
tentar tratar os doentes com o máximo
de qualidade e com o mínimo de custo”, Portal SMS
Solução desenvolvida internamente baseada em
conclui Hugo Meireles. plataformas web e cliente/servidor para a notificação
dos utentes via mensagens móveis (SMS). Via SMS,
o sistema notifica com antecedência os utentes face
a consultas e exames marcados, entre outros.

SIMoD
O objectivo do projecto, desenvolvido pelo IEETA,
foi testar e avaliar em ambiente real um sistema
inteligente de monitorização domiciliário de variáveis
fisiológicas (ECG, concentração de oxigénio, pressão
arterial, temperatura, etc.) e psicossociais
(mobilidade, ansiedade, fadiga, etc.) que pudesse
ser integrado num serviço de apoio domiciliário
à população de risco.

Radiologia Digital
Com vista à eliminação da utilização de películas
radiográficas, o hospital desenvolveu um projecto
que consistiu na aquisição de um Sistema de Arquivo
e Distribuição de Imagem, vulgarmente designado
por PACS (Picture Archiving Communication System),
permitindo o acesso generalizado das imagens
de radiologia digital a todos os serviços clínicos.
O projecto foi alargado aos blocos operatórios
e ao Serviço de Ortopedia.

30 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Pequenas inovações
que fazem a diferença
São pequenas inovações que ajudam a trabalhar melhor,
racionalizando processos, custos e trazendo melhorias
significativas para todos aqueles que se dedicam à saúde
e para os que dependem dos processos em causa. A “Ingenium”
encontrou alguns casos curiosos de inovação que mudaram
ou estão a mudar a forma de “fazer saúde”.

Texto Ana Pinto Martinho

N
a senda da inovação, a “Ingenium” encontrou Para o segundo exemplo fomos até Portalegre, onde tem por objectivo tornar mais segura a transferên-
alguns exemplos inovadores na área da saúde. o Serviço de Medicina Interna está a utilizar uma so- cia de recém-nascidos e crianças de alto risco de
Pequenas inovações que fazem a diferença. O lução que cruza a tradicional escrita com papel e hospitais distritais para os hospitais centrais.
primeiro exemplo vem do Hospital Curry Cabral, em caneta com uma solução informática que permite Por último, mas não menos importante, levantamos
Lisboa, que através de uma interessante solução in- aceder a dados que anteriormente nem sequer eram o véu sobre um dispositivo que está a ser estudado
formática ajuda os doentes em isolamento da uni- extrapolados. por investigadores originários do INESC Porto e que
dade de doenças infecto-contagiosas a manterem o Em terceiro lugar, damos a conhecer um sistema irá permitir prevenir os efeitos do pé do diabético,
contacto com o exterior e contribui para melhorar os que está a ser estudado pela Faculdade de Ciências uma consequência da doença bastante incapacitante
processos de trabalho dos profissionais de saúde. e Tecnologias da Universidade de Coimbra, e que para os que sofrem de diabetes.

Virtualização traz segurança equipamento especial para ir consultar um


As doenças infecto-contagiosas possuem um raio-x ou umas análises, por exemplo.
lado terrível para os doentes e para quem os A questão do controle das infecções traz
rodeia: a necessidade de isolamento, devido também problemas na limpeza dos equipa-
ao perigo de transmissão da doença por con- mentos e, sendo o teclado um dos mais com-
tacto. As unidades de doenças infecto-con- plicados de limpar, o hospital optou por in-
tagiosas dos hospitais vivem com este desa- troduzir teclados virtuais. Estes teclados con-
fio dia-a-dia, que também se reflecte na sistem num pequeno aparelho que projecta
forma como os profissionais de saúde traba-
lham nestas unidades. No Hospital Curry A unidade de doenças infecciosas do Curry
Cabral, em Lisboa, foi implementado um Cabral é composta por 14 quartos, equipa-
sistema que ajuda os médicos, pacientes e dos com computadores que oferecem acesso
familiares a solucionarem os problemas de- a toda a informação clínica sobre o doente,
correntes da necessidade de isolamento. à Internet e a videoconferência.
Neste caso, as novas tecnologias vieram Uma das questões mais complicadas de re-
facilitar o contacto com os doentes e até solver nesta unidade é o controlo de infec- o teclado na mesa, não havendo contacto
mesmo o trabalho dos prestadores de cui- ções que obriga os profissionais a vestirem com um teclado real. Tendo ainda em conta
dados de saúde. roupa adequada para entrarem em cada um a questão da limpeza, as restantes soluções
dos quartos e a lavarem as mãos quando envolvem placas de televisão, redes wireless
saem de um quarto para outro. (sem fios) e bluetooth.
O sistema em causa veio trazer grandes me-
lhorias neste aspecto, uma vez que facilita a Uma ficha de alta especial
consulta da informação médica do doente den- Apesar de vivermos na era da tecnologia, e
tro do próprio quarto, evitando a saída do pes- dos teclados e dispositivos móveis fazerem
soal médico que necessita vestir equipamento parte do dia-a-dia, a escrita em papel ainda
apropriado para entrar em contacto com os está muito enraizada nos nossos hábitos. Daí
doentes, sendo desnecessário despir e vestir o que, muitas vezes, haja alguma resistência à

32 INGENIUM | Maio/Junho 2007


crianças de alto risco de hospitais distritais diátrico de Coimbra, o Hospital de Santo
para hospitais centrais. André, em Leiria, e a Philips Medical Divi-
O propósito é criar um sistema que permita sion.
ajudar os médicos na tomada de decisões de
transferir o paciente e que permita acompa- Evitar amputações
nhá-lo durante o trajecto entre dois hospi- Um grupo de investigadores provenientes
tais. Ao criar contacto permanente com o do Instituto de Engenharia de Sistemas de
hospital remoto, o médico especialista pode Computadores (INESC) do Porto, está a
desenvolver um aparelho que
tem como objectivo prevenir
utilização de dispositivos electrónicos para os efeitos do pé diabético.
a realização de algumas funções. O WalkinSense é o primeiro
O Hospital de Portalegre encontrou a solu- produto a lançar pela em-
ção para um dos seus problemas, a necessi- presa Tomorrow Options –
dade de ter dados informatizados sobre as Microelectronics, que nasceu
altas dos doentes. Através de uma solução no INESC, e assume-se como
inovadora, é agora possível preencher a ficha o único dispositivo portátil
de alta de forma tradicional, com papel e no mundo para a prevenção
caneta, ficando a informação automatica- do pé diabético. O aparelho
mente registada no sistema informático. recolhe dados sobre a distri-
A caneta utilizada é buição do peso do corpo na
uma peça de hard- planta do pé e sobre a mobi-
ware que ar- lidade, caracterizando os mo-
mazena, vimentos dos pacientes afec-
na sua tados pela diabetes.
analisar, de forma ininterrupta, os sinais vi- O INESC Porto participa na coordenação
tais do doente à espera de transferência, con- do projecto de desenvolvimento do protó-
trolar a evolução do seu estado, detectar al- tipo e de uma das componentes de software
memória, a in- guma anomalia e tomar decisões clínicas, do produto.
formação à medida que o utilizador caso seja necessário. O dispositivo é composto por sensores que
vai escrevendo. A informação armazenada O sistema em desenvolvimento tem por base o médico coloca nas palmilhas do doente,
na caneta é transferida para um computador uma plataforma de telemedicina já existente, permitindo uma monitorização em tempo
onde é tratada por um software específico. pretendendo acrescentar-lhe funções que real, através do processamento e armazena-
As fichas de alta são impressas num papel permitam obter, transmitir, visualizar e ana- mento de dados para o médico avaliar, tendo
especial que contém uma trama, pratica- lisar os sinais vitais do paciente em tempo em conta o quotidiano do doente, sem o li-
mente invisível ao olho humano, que fun- real, para que o médico possa, com base numa mitar a um laboratório. A extrapolação des-
ciona como um sistema de referenciação análise objectiva, decidir da necessidade ou tes dados ajuda a evitar úlceras, amputações
para o sistema de leitura digital da caneta. viabilidade da transferência do doente. ou ainda outras complicações graves que aca-
A solução de Ficha de Alta Electrónica que Actualmente, as transferências são feitas com bam por ser frequentes nos doentes que so-
está implementada no Hospital de Portale- base em informação partilhada por via tele- frem de diabetes.
gre foi desenvolvida tendo por base as ne- fónica. Ora, se o médico tiver acesso directo Os responsáveis pelo desenvolvimento do
cessidades do hospital e permite tratar dados aos sinais vitais do doente e também a infor- produto contam ainda com a colaboração do
e extrapolar resultados como, por exemplo, mação como exames imagiológicos (rx, TAC, Hospital de Santo António e instituições in-
quantas pessoas do sexo masculino estive- ou outros) e outros dados clínicos recolhidos, ternacionais, como o centro norte-americano
ram internadas na unidade, que idades ti- a decisão de transferência será tomada de Clear (Center for Lower Extremity Ambu-
nham ou o tipo de doenças que registavam. uma forma muito mais suportada. latory Research) e a clínica britânica Diabe-
A informação passa a estar centralizada e O projecto está a ser desenvolvido em cola- tic Foot Clinic (Bristol Royal Infirmary), para
disponível num local de fácil acesso. boração com a PT Inovação, o Hospital Pe- a realização dos testes ao produto.

Transferências acompanhadas
O projecto LifeStream, que está ser desen-
volvido por investigadores da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra, tem por objectivo tornar mais se-
gura a transferência de recém-nascidos ou

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 33


Colégios ENGEN
ENG.ª AGRONÓMICA 34 ENG.ª ELECTROTÉCNICA 40
ÍNDICE ENG.ª DO AMBIENTE 36 ENG.ª FLORESTAL 41
ENG.ª CIVIL 38 ENG.ª GEOGRÁFICA 42

ENGENHARIA
AGRONÓMICA Miguel de Castro Simões Ferreira Neto Tel.: 21 387 02 61 Fax: 21 387 21 40 E-mail: mneto@isegi.unl.pt

Audiência com Ministro da Agricultura, AgEng2008


do Desenvolvimento Rural e das Pescas International Conference
m resposta a uma solicitação da Ordem dos Engenheiros, o Ministro da Agricultura, do
on Agricultural Engineering
E Desenvolvimento Rural e das Pescas recebeu, no dia 14 de Maio, uma delegação da
Ordem chefiada pelo Bastonário, Eng.º Fernando Santo.
& Industry Exhibition
A delegação, composta ainda pelo Vice-Presidente Nacional, Eng.º Victor Gonçalves de ob o tema “Agricultural and Biosystems
Brito, pelos Presidentes dos Colégios Nacionais de Engenharia Agronómica e Florestal, En-
genheiros Miguel de Castro Neto e Pedro Ochôa de Carvalho, e pelo Eng.º João Carrilho,
S Engineering for a Sustainable World”,
vai realizar-se em Creta, na Grécia, de 23 a
Técnico Superior da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo deste Ministério, trans- 25 de Junho de 2008, mais uma edição da
mitiu a preocupação da Ordem relativamente ao processo de aplicação do Programa de Re- AgEng International Conference.
estruturação da Administração Central do Estado (PRACE) no Ministério da Agricultura,
do Desenvolvimento Rural e das Pescas, decorrente não só das notícias que têm vindo a
público sobre este processo, mas especialmente devido aos inúmeros contactos efectuados
por profissionais que desenvolvem a sua actividade de Engenheiro Agrónomo nos quadros
técnicos deste Ministério.
Neste contexto, para além da preocupação pela forma como o processo está a decorrer, foi
manifestado o interesse e disponibilidade para promover uma clarificação pública da estra-
tégia subjacente ao Programa de Reestruturação em curso através da realização de um se-
minário na Sede da Ordem dos Engenheiros.

Esta conferência pretende debater os últi-


Os engenheiros agrónomos e o “progresso” mos desenvolvimentos no campo da enge-
da sociedade rural espanhola: 1855-1936 nharia agronómica e dos bio-sistemas, in-
cluindo pela primeira vez uma feira empre-
Agronómica da Ordem dos Engenheiros se sarial, onde irão estar presentes empresas,
associou, foi organizado pelo Seminário de tecnologias, equipamentos e serviços no
Estudos Pós-graduados do Instituto de Ci- campo da engenharia agronómica. A organi-
ências Sociais da Universidade de Lisboa. zação em paralelo de um evento científico
Na sua intervenção, o Prof. Juan Pan-Mon- com uma feira empresarial irá criar uma
tojo deu conta da história dos enxeñeiros oportunidade única para colocar em contacto
agrónomos, pondo especial ênfase na génese os académicos com os agentes da indústria
da engenharia agronómica como estudos su- e dos serviços.
periores e profissão reconhecida pelo Estado; Entre os temas a abordar, para além dos tra-
no discurso económico e social da engenha- dicionalmente cobertos nos eventos anterio-
ria agronómica no séc. XIX; nas transforma- res, irá ser dado particular ênfase ao papel da
ções que tiveram lugar nas três primeiras Agricultura Europeia enquanto produtora de
o passado dia 25 de Maio, decorreu, no décadas do séc. XX, tanto nas origens sociais energia. Também as mais recentes tendências
N Instituto de Ciências Sociais da Univer-
sidade de Lisboa, o seminário “Os engenhei-
dos engenheiros e nos seus perfis profissio-
nais, como nos seus discursos sobre a socie-
no campo da engenharia agronómica e dos
bio-sistemas serão abordadas, com particular
ros agrónomos e o ‘progresso’ da sociedade dade rural; no ambíguo papel dos engenhei- destaque para a forma como a biologia e a en-
rural espanhola: 1855-1936”, proferido pelo ros face às propostas de reforma agrária da genharia estão actualmente a convergir.
Prof. Juan Pan-Montojo, da Universidade II República; e, finalmente, nas consequên-
Autónoma de Madrid. cias da vitória franquista sobre a agronomia Mais informações em:
Este evento, a que o Colégio de Engenharia espanhola. www.ageng2008.com

34 INGENIUM | Maio/Junho 2007


NHARIA
ENG.ª GEOLÓGICA E DE MINAS 43 ENG.ª METALÚRGICA E DE MATERIAIS 50
Colégios
Os autores que pretendam
ENG.ª INFORMÁTICA 47 ENG.ª NAVAL 51 submeter artigos para publicação,
deverão fazê-lo através do e-mail:
ENG.ª MECÂNICA 48 ENG.ª QUÍMICA 52
aafreitas@ordemdosengenheiros.pt

Alteração e evolução Farming Systems Design 2007 sociais da evolução dos sistemas agrícolas em
diferentes contextos espaciais e temporais.
dos sistemas de produção e 10 a 12 de Setembro vai decorrer na Actualmente, existe uma quantidade elevada
de ovinos e caprinos D Catania, Sicília, Itália, um simpósio in-
ternacional sobre “Methodologies for Inte-
de métodos quantitativos e qualitativos que
permitem atingir esses objectivos, no entanto,
no início do Séc. XXI grated Analysis of Farm Production Systems”. mas há uma nítida escassez de integração das
A oportunidade da realização deste evento diferentes abordagens referidas.
onte de Lima vai ser palco, de 15 a 17 reside no crescente interesse que a modela- Assim, os objectivos do simpósio são:
P de Novembro de 2007, do 6.º Seminá-
rio Internacional da Sub-Rede de Sistemas
ção de sistemas agrícolas tem vindo a rece- 1. Fornecer uma oportunidade para integrar
conhecimento entre diferentes discipli-
de Produção da Rede FAO-CIHEAM Sobre nas no campo da análise, desenho e ino-
Ovinos e Caprinos, sendo esta edição dedi- vação de sistemas agrícolas;
cada à alteração dos modos de produção e 2. Comparar abordagens usadas/em desen-
evolução dos sistemas de produção de ovi- volvimento em diferentes grupos de in-
nos e caprinos no início do Séc. XXI. vestigação;
O Seminário, especialmente focado no realce 3. Identificar as ferramentas disponíveis e as
das investigações, instrumentos, métodos e necessidades de investigação futura.
iniciativas de apoio a um desenvolvimento A organização do evento é da responsabili-
sustentável, será organizado em sessões te- dade da European Society for Agronomy,
máticas, incluindo, no final, a realização de da International Environmental Modelling
uma visita técnica. ber tendo em vista a satisfação de múltiplos & Software Society, da American Society
Na primeira sessão serão tratados temas li- interesses, nomeadamente ao nível das alte- of Agronomy e da International Farming
gados à avaliação dos sistemas de produção rações climáticas, da liberalização de merca- Systems Association, que contaram com o
de ovinos e caprinos e os indicadores de sus- dos, das preocupações ambientais e das po- apoio da Società Italiana di Agronomia.
tentabilidade. A segunda sessão versará sobre líticas energéticas. Neste contexto, as abor-
o papel dos sistemas de produção de ovinos dagens da investigação têm de suportar a ava- Informações adicionais disponíveis em:
e caprinos nas áreas protegidas; enquanto liação de aspectos económicos, ambientais e www.iemss.org/farmsys07
que a terceira sessão debaterá a atractividade
da criação de ovinos e caprinos e a valoriza- 4th International Symposium on Intelligent
ção económica.
Information Technology in Agriculture
Este seminário é organizado pelo Ministério eijing, na China, irá acolher, de 26 a 29 agricultura moderna. De entre os tópicos a
da Agricultura, do Desenvolvimento Rural
e das Pescas – Direcção Regional de Agri-
B de Outubro, um Simpósio Internacio-
nal dedicado ao uso de tecnologias de infor-
abordar, destacamos:
1. Tecnologias de informação e comunica-
cultura de Entre Douro e Minho (DRA- mação inteligentes em agricultura, numa or- ção;
EDM), em colaboração com a Organização ganização da China National Engineering Re- 2. Detecção remota e sistemas de informa-
das Nações Unidas para a Agricultura e Ali- search Center for Information Technology ção geográfica;
mentação (FAO), o Centro Internacional de in Agriculture. 3. Tecnologias e dispositivos de agricultura
Altos Estudos do Mediterrâneo (CIHEAM) Este evento, apoiado pelo Ministério da Ci- de precisão;
e a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima ência e Tecnologia chinês, e tendo em conta 4. Sensores agrícolas e tecnologias de con-
(ESAPL) – Instituto Politécnico de Viana a experiência das três edições anteriores, trolo;
do Castelo (IPVC). prevê reunir cerca de 500 especialistas ori- 5. Modelação de sistemas agrícolas, agricul-
ginários de mais de 20 países e regiões, tendo- tura vistual e sistemas de apoio à decisão.
Desenvolvimentos relativos ao programa -se tornado uma importante plataforma in-
poderão ser encontrados em: ternacional para a cooperação e comunica- Informações complementares disponíveis em:
www.draedm.min-agricultura.pt/fao-ciheam. ção internacional no desenvolvimento da http://isiita.nercita.org.cn/index1.asp

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 35


Colégios
ENGENHARIA DO
AMBIENTE Helena Farral E-mail: mhf@fct.unl.pt

9.ª Conferência Nacional do Ambiente


9.ª Conferência Nacional do Ambiente, As áreas de Riscos Ambientais e Saúde, Go- das 157 comunicações distribuídas por 11
A que decorreu no passado mês de Abril,
reuniu no Campus da Universidade de Aveiro
vernação e Ambiente e Educação para o De-
senvolvimento Sustentável foram objecto de
Sessões Paralelas, abarcando os temas de
Biodiversidade, Cidade e Ambiente; Econo-
cerca de 300 participantes. 3 Sessões Plenárias. Os oradores convidados mia do Ambiente; Educação Ambiental;
A Sessão de Abertura contou com a presença foram, respectivamente, a Dra. Susanne Weber- Gestão e Tratamento da Água; Gestão e
do Ministro do Ambiente, do Ordenamento -Mosdorf (Vice-Directora para o Desenvolvi- Tratamento de Resíduos; Gestão e Trata-
do Território e do Desenvolvimento Regional, mento Sustentável e Saúde Ambiente na Or- mento do Ar; Riscos Ambientais; Saúde e
Eng.º Francisco Nunes Correia; da Reitora da ganização Mundial de Saúde, WHO), o Dr. Ambiente; Sociedade e Ambiente; e Terri-
Universidade de Aveiro, Professora Maria He- Jan Pronk (grande impulsionador do Proto- tório e Ambiente.
lena Vaz de Carvalho Nazaré; do Presidente colo de Quioto e actualmente Representante No âmbito da conferência, foi ainda inaugu-
da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. Élio Ma- Especial das Nações Unidas no Sudão) e os rada a Exposição “Da Emergência Planetária
nuel Delgado da Maia; e do Eng.º Carlos Bor- Professores Daniel Gil-Perez e Amparo Vil- à Construção de um Futuro Sustentável” –
rego, na qualidade de Presidente da Comissão ches (Universidade de Valência - Espanha). Década da Educação para um Futuro Sus-
Organizadora. No decurso dos trabalhos, foram apresenta- tentável.

tica da Implementação e Certificação de Sis-


Seminário “Gestão Ambiental na Construção” temas de Gestão na Construção e ao pano-
rama actual da certificação destes sistemas.
estão Ambiental na Construção” foi o tão Ambiental no Sector da Construção, tanto Foram ainda apresentados diversos casos prá-
G tema do Seminário que decorreu no Au-
ditório da Agência Portuguesa do Ambiente,
na perspectiva do seu enquadramento e ten-
dências actuais, como da avaliação do desem-
ticos de empresas com SGQAS’s certificados.
O último painel do evento foi subordinado ao
na Amadora, no dia 23 de Maio. penho ambiental do sector, da prática de ges- tema “Acompanhamento Ambiental de Obra”.
Este evento, organizado pela Associação Por- tão e da futura legislação sobre Resíduos de Consideradas as perspectivas do Dono da Obra
tuguesa de Engenharia do Ambiente, teve Construção e Demolição (RC&D). e do Empreiteiro, foi ainda analisado um caso
por objectivos apresentar o posicionamento A “Sustentabilidade na Construção” foi o se- prático, ilustrativo dos aspectos em causa. Este
do sector da construção face aos novos de- gundo tema tratado no Seminário, no âmbito painel terminou com a apresentação de um
safios em matéria de gestão ambiental e dis- do qual foram analisadas questões relativas à “Guia para o Acompanhamento Ambiental
cutir o papel dos sistemas de gestão de qua- construção sustentável e ao seu projecto e, de Obras”.
lidade, ambiente e segurança no desempe- também, o aspecto da elaboração de relató-
nho das empresas de construção. rios de sustentabilidade na construção. Mais informações disponíveis em:
No evento foi abordada a temática da Ges- Seguiu-se uma sessão dedicada à problemá- www.apea.pt

36 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios

Campanha Douro Limpo


Em prol da Responsabilidade Social em Gestão de Resíduos
abuaço recebeu, no passado dia Esta Campanha, coordenada pela
T 19 de Maio, o segundo Fórum
Participativo, subordinado ao tema
Eng.ª Margarida Correia Marques,
Professora da Universidade de
“Douro Limpo: Cabe-nos a Nós!”, Trás-os-Montes e Alto Douro
desenvolvido no âmbito da Cam- (UTAD), envolve uma equipa plu-
panha DOURO LIMPO. ridisciplinar que inclui elementos
À semelhança do ocorrido no desta Universidade, da Faculdade
Fórum anterior, que teve lugar em de Ciências e Tecnologia da Uni-
Alijó, no dia 21 de Abril, foi de- versidade Nova de Lisboa (FCT/
batida a gestão de resíduos no Alto UNL), da CCDR-N, do IPTM,
Douro Vinhateiro com vista à iden- da Associação Nacional de Con-
tificação dos problemas prioritá- servação da Natureza (Quercus)
rios a resolver na região e ao de- e da Liga dos Amigos do Alto
senvolvimento de propostas con- Douro Vinhateiro Património Mun-
cretas que, simultaneamente, res- dial (LADPM) e abrange 11 dos
pondam aos desígnios das forças municípios que constituem a Re-
locais e integrem as melhores so- gião do Alto Douro Vinhateiro.
luções técnicas disponíveis. A Campanha DOURO LIMPO
Estes Forúns destinaram-se aos culminará com a realização do
diversos sectores da sociedade civil Fórum Participativo subordinado
do Alto Douro Vinhateiro, envol- ao tema “Douro Limpo Sempre!”,
vendo decisores e quadros técni- que decorrerá no IPTM – Delega-
cos da administração regional e ção Norte e Douro, no Peso da
local, responsáveis pelos sistemas Régua, a 15 de Setembro de 2007.
de gestão municipal de resíduos, Nele será apresentada e debatida
empresários, associações comerciais e indus- a proposta síntese resultante do trabalho dos
triais, organizações não governamentais e a dois Fóruns Participativos já realizados, tendo
população em geral. em vista a sua aprovação pelas forças vivas da
região do Alto Douro Vinhateiro.
A Campanha DOURO LIMPO integra o pro-
jecto “Erradicação das Dissonâncias Ambien- A construção da sustentabilidade exige o con-
tais do Douro”, promovido pela Comissão de ciliar de interesses, o formar parcerias e o ex-
Coordenação e Desenvolvimento Regional do plorar alternativas, para conseguir soluções co-
Norte (CCDR-N) e pelo Instituto Portuário laborativas inovadoras. A aproximação das de-
e dos Transportes Marítimos (IPTM). Trata- cisões técnico-políticas das necessidades reais
-se de um projecto co-financiado pela Acção da sociedade, contribuem para um maior grau
Integrada de Base Territorial do Douro do de co-responsabilização, essencial para uma
Programa Operação Norte – ON, o segundo gestão sustentável a longo prazo. Nesta pers-
maior Programa Operacional do Quadro Co- pectiva, a Campanha DOURO LIMPO é uma
munitário de Apoio III. campanha inovadora e constitui um impor-
Esta Campanha resulta da identificação da tante instrumento na construção de uma prá-
deposição ilegal de resíduos, em especial re- tica de responsabilidade social na área da Ges-
síduos de construção e demolição (RC&D), tão de Resíduos. Assim o atesta o entusiasmo
resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos (REEE) e veícu- demonstrado pelos participantes nos Fóruns Participativos que foram
los em fim de vida (VFV), como um dos principais problemas am- realizados, e a relevância das propostas deles resultantes.
bientais do Alto Douro Vinhateiro, região classificada pela UNESCO
como “Património Mundial”. Mais informações disponíveis em: www.dourolimpo.utad.pt

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 37


Colégios
ENGENHARIA
CIVIL Ema Paula Montenegro Ferreira Coelho Tel.: 21 314 02 33 E-mail: ema.coelho@lnec.pt

o início de um novo mandato, justifica-


N se dar a conhecer as principais linhas de
força que irão nortear a actividade do Colé-
Novo Mandato
gio de Engenharia Civil, agradecendo, cons- tempo, em sentido contrário, conhecer as tal clarificar os efeitos do Processo de Bo-
cientes da responsabilidade, a confiança que suas expectativas. É importante que todos lonha, quer ao nível do sistema de ensino,
os Colegas manifestaram nesta equipa. os Colegas valorizem a sua filiação na procurando desafiar as escolas a adequa-
Procurar-se-á dar continuidade à orientação Ordem, independentemente da sua acti- rem os perfis de formação, os curricula e
estratégica incutida no anterior mandato, ac- vidade e da maior ou menor necessidade as acções de formação pós-graduada às ne-
tuando de forma muito articulada com os de estarem inscritos por questões formais. cessidades do sector, quer no plano dos
Colégios Regionais e com o Conselho Direc- A Ordem deve ser uma entidade respei- actos profissionais que cada um pode pra-
tivo Nacional, focando a actividade nas três tada, quer porque a sua postura e contri- ticar. Num contexto em que a actividade
linhas de força seguintes: butos são importantes e assertivos na for- da construção se encontra em recessão em
Clarificar o enquadramento da actividade mação de opinião na nossa sociedade sobre Portugal, e os Engenheiros e as Organiza-
profissional associada à construção, evi- os grandes temas da Engenharia Civil, da ções do sector detêm um saber fazer que
denciando a importância da Engenharia construção e do desenvolvimento em geral, lhes permite olhar para a internacionaliza-
Civil para a qualidade do resultado final. mas também porque nas questões mais ção sem complexos, é importante que a
Sem fomentar a defesa de interesses cor- concretas do dia-a-dia de cada um, en- Ordem ajude a clarificar as condições e os
porativos, estamos convictos que um qua- quanto Engenheiros, nos ajuda a ter um requisitos para alcançar esse objectivo.
dro do sector mais moderno e coordenado, melhor desempenho e mais facilitado.
orientado para a qualidade efectiva das Uma referência nesta área à necessidade A equipa eleita, do Colégio Nacional e dos
obras, graduando os actos em função das da Ordem ter que direccionar também a Colégios Regionais, visa procurar trabalhar
competências e responsabilizando de forma sua mensagem para os Jovens Engenhei- de forma eficaz, empenhada e coordenada
objectiva os vários agentes nas diversas ros, identificando as suas expectativas e para alcançar estes objectivos, esperando
fases do processo construtivo, fará sobres- dificuldades e promovendo iniciativas que conseguir mobilizar a atenção dos Colegas
sair a importância dos Engenheiros Civis os mobilizem. para os desafios que em conjunto vamos ter
para este desiderato. Promover a valorização da formação con- que enfrentar, sem o que o nosso espaço na-
Conseguir aproximar a Ordem aos Enge- tínua e da qualificação dos Engenheiros tural de actuação e o nosso contributo en-
nheiros Civis, através da identificação dos Civis, consciencializando-os desta neces- quanto agentes decisivos para o progresso
principais problemas e interesses dos Co- sidade na gestão das suas carreiras, num irão sendo prejudicados.
legas e da criação de mecanismos ágeis que contexto de exercício de actividade res-
permitam fazer-lhes chegar as mensagens ponsável, ético e orientado para a quali- Hipólito de Sousa
e as iniciativas do Colégio e, ao mesmo dade técnica. Neste âmbito, é fundamen- Presidente do Colégio Nacional de Engenharia Civil

Arquitectura de Terra em Portugal


V Seminário de Arquitectura de Terra promoção de materiais tradicionais com maior
O em Portugal vai decorrer na Universi-
dade de Aveiro entre 10 a 13 de Outubro.
eficiência energética, assim como estratégias
para formação local, com maior integração
Os objectivos do Seminário centram-se na social.
promoção da colaboração universitária no do- O evento, organizado pela Universidade de
mínio da investigação relativa à construção e Aveiro, pela escola Superior Gallaecia, pela
conservação da arquitectura em terra, na me- Fundação Convento da Orada e pela Asso-
lhoria da qualidade da construção, na forma- ciação Centro da Terra, dedica o primeiro
ção e consequente preparação adequada das dia a uma Oficina, estruturada em aulas prá-
técnicas nacionais, regionais e locais interve- ticas, através da qual os participantes ficarão
nientes na construção e conservação da ar- a conhecer as potencialidades da terra en-
quitectura em terra, no aprofundamento da quanto material construtivo actual.
investigação em todos os domínios da arqui- Os dias 11 e 12 serão compostos pelo Semi-
tectura e construção em terra, no desenvol- nário propriamente dito, e o último dia será
vimento local mais sustentável, na divulgação preenchido com uma Visita ao património
da arquitectura contemporânea em terra, na em terra existente no distrito de Aveiro.

38 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios
ENGENHARIA
CIVIL Ema Paula Montenegro Ferreira Coelho Tel.: 21 314 02 33 E-mail: ema.coelho@lnec.pt

“Paredes Exteriores de Alvenaria a Nível Mundial”


Ordem dos Engenheiros acolheu, no dia 17 Além de um prefácio, o livro contém uma série
A de Janeiro, a apresentação do livro “Enclosu-
re Masonry Wall Systems Worldwide” (“Paredes
de capítulos relativos a cada um dos países atrás
referidos, os quais foram elaborados por um
Exteriores de Alvenaria a Nível Mundial”), que painel de autores, especialistas destas matérias
contou com a presença do Bastonário, Eng.º Fer- nos seus países. Para cada país é apresentada a
nando Santo, do editor, Eng.º Silvino Pompeu situação actual, as soluções típicas, os proble-
dos Santos, e dos Autores Portugueses Eng.ª Fer- mas existentes e as tendências de evolução. O
nanda Carvalho e Eng.º Hipólito Sousa. capítulo relativo à situação em Portugal é da
O livro apresenta a situação relativa às paredes autoria do Eng.º Hipólito de Sousa, da FEUP,
de alvenaria de edifícios num conjunto de paí- e da Eng.ª Fernanda Carvalho, do LNEC.
ses representativos das várias regiões do mundo: O livro foi organizado pela comissão CIB (Con-
Países nórdicos, da Europa do Norte; Bélgica, seil International du Bâtiment) W23 – Wall
Holanda, Alemanha, França e Polónia, da Eu- Structures, presidida pelo Eng.º Silvino Pom-
ropa central; Portugal, Itália e Grécia, da Europa peu dos Santos, investigador do LNEC, tendo
do Sul; EUA e Brasil, das Américas; e China e sido publicado pela Editora Taylor Francis (UK
Índia, da Ásia. - www.taylorandfrancis.co.uk).

ENGENHARIA
ELECTROTÉCNICA António Manuel Aires Messias Tel.: 21 002 22 70 Fax: 21 002 80 39 E-mail: aires.messia@edp.pt

o passado dia 17 de Maio teve lugar, na


N FIL, no Parque das Nações, o 8.º En-
contro Nacional do Colégio de Engenharia
Electrotécnica.
Conforme tem sido tradição, a data foi es-
colhida para fazer coincidir o Encontro do
Colégio com mais uma edição do ENDIEL
– Encontro para o Desenvolvimento do Sec-
tor Eléctrico e Electrónico.
Na sessão de abertura intervieram o Presi-
dente do Colégio de Engenharia Electrotéc-
nica, Eng.º Francisco Sanchez, que fez a apre- 8.º Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Electrotécnica
sentação do Encontro, e o Presidente da ANI-
MEE, Eng.º Carlos Cardoso, tendo o Basto- moderado pelo Eng.º António Aires Messias, mente os aspectos relacionados com as qua-
nário da Ordem dos Engenheiros, Eng.º Fer- foi apresentado pelo Eng.º Renato Romano lificações necessárias para o exercício das
nando Santo, feito uma intervenção de fundo (DGE), que fez uma breve referência histó- correspondentes funções técnicas.
em que abordou os temas da regulamenta- rica à regulamentação de segurança e ao es- Ambos os temas foram largamente debati-
ção da profissão, da qualificação profissional tatuto de técnico responsável, e pelo Eng.º dos, tendo sido realçada a sua importância
para os actos de engenharia e dos sistemas Constantino Soares (ISEL), que fez uma para o exercício da profissão e salientada a
de certificação. apresentação sobre as Regras Técnicas e suas conveniência de virem a ser retomados, no
Os temas escolhidos para as duas sessões re- implicações no exercício da actividade dos futuro, em termos eventualmente mais alar-
alizadas foram de grande actualidade e im- técnicos responsáveis. gados.
portância, pelo que o interesse despertado A 2.ª Sessão, dedicada ao Sistema Nacional O Encontro terminou com uma intervenção
entre os engenheiros electrotécnicos tradu- de Certificação Energética e da Qualidade do Presidente do Colégio de Engenharia
ziu-se numa presença de cerca de 150 par- do Ar Interior nos Edifícios, foi moderada Electrotécnica, que sublinhou os aspectos
ticipantes. pelo Eng.º António Machado e Moura, e gerais mais relevantes das intervenções ha-
O tema da 1.ª sessão, “Regulamentação de contou com uma apresentação do Dr. Paulo vidas e terminou apelando a uma maior par-
Segurança de instalações eléctricas de BT”, Santos (ADENE), que sublinhou especial- ticipação dos Colegas na vida do Colégio.

40 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios

SB’07 – Construção, Materiais e Práticas Sustentáveis


Desafios para o novo milénio
o âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia, irá decorrer no IST, em Lisboa, de 12 a 14 de
N Setembro, a Conferência Internacional “Sustainable Construction, Materials and Practices – challenges
for the new millenium (“Construção, Materiais e Práticas Sustentáveis - desafios para o novo milénio”), a
cuja organização a Ordem dos Engenheiros se associa.
O novo milénio lança desafios aos profissionais e investigadores no sentido da construção de um ambiente
sustentável. Deste modo, o principal objectivo da conferência é discutir estes desafios e apresentar soluções
com vista à criação de facilidades e à promoção da adopção de políticas, métodos e instrumentos que acele-
rem o movimento no sentido de um ambiente construído globalmente sustentável.
Nils Larsson, Arquitecto, Raymond Cole, Professor na área da arquitectura, e Charles J. Kibet, professor,
todos com currículo na área do desenvolvimento sustentável, são os principais oradores da Conferência.

Informações adicionais disponíveis em: www.portugalsb07.org

ENGENHARIA
FLORESTAL António Emídio Moreiras dos Santos Tel.: 21 312 48 61 Fax: 21 312 49 83 E-mail: emidio@dgrf.min-agricultura.pt

O Valor da Floresta Portuguesa no Mercado do Carbono


Especialistas, investigadores e empresários reuniram-se,
no passado dia 28 de Março, numa conferência, para debater
“O Valor da Floresta Portuguesa no Mercado do Carbono”.

os últimos anos, o aumento da frequên- Há necessidade, então, de garantir o cum- como se mantém e melhora a produtividade
N cia dos incêndios em Portugal tem vindo
a pôr em causa a capacidade das florestas de
primento das medidas adicionais do Plano
Nacional para as Alterações Climáticas. Te-
florestal, e de que forma a actividade flores-
tal pode ajudar a reduzir a emissão de gases
actuarem como sumidouros de Carbono, resa Avelar, responsável pelo plano, afirmou com efeito de estufa.
tornando-se, ao invés, em emissores de CO2. que, no âmbito das medidas adicionais, o
O alerta foi deixado por José Cardoso Pe- sector da agricultura e florestas representa “Se se espera que, por via das Florestas, haja
reira, especialista do Instituto Superior de cerca de 47% do esforço total de redução. uma diminuição do impacto das emissões de
Agronomia, na conferência “O Valor da Flo- carbono em 3,36 megatoneladas, essa mais-
resta Portuguesa no mercado do Carbono”, A valorização da floresta portuguesa enquanto -valia deveria ser compensada”, defendeu Ri-
organizada pela CAP, E.Value, Grupo Por- património ambiental e a compensação dos cardo Machado, da Federação dos Produto-
tucel-Soporcel e Instituto Superior de Agro- produtores florestais por este serviço pres- res Florestais de Portugal. “Este serviço deve
nomia. tado pelas suas florestas, foi salientado por ser pago, de forma a que os produtores flo-
vários intervenientes, tendo o Presidente da restais sejam recompensados pelo serviço que
Cardoso Pereira salientou que o aumento da CAP, João Machado, destacado a necessi- prestam e possam, por esta via, contribuir
frequência do fogo afecta os valores de car- dade de se avançar na certificação da gestão para a redução dos incêndios e para uma me-
bono armazenados. Este facto pode vir a pôr florestal e de se definirem políticas de médio lhor gestão da floresta”, explicou.
em causa os compromissos assumidos por e longo prazo que confiram estabilidade ao
Portugal no âmbito do Protocolo de Quioto, sector. José Onório, Presidente do Grupo Portucel-
já que embora até 2012 o país possa aumen- Soporcel, destacou o valor acrescentado que
tar anualmente as suas emissões em 27%, o Júlia Seixas, da empresa E.Value e Profes- a floresta portuguesa tem para o país, repre-
facto é que ao ritmo actual as emissões na- sora da Faculdade de Ciências e Tecnologia, sentando 4 % do PIB nacional, 5 % do em-
cionais irão ultrapassar o limite imposto. referiu, por seu lado, que é preciso perceber prego e 9 % das exportações.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 41


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ENGENHARIA
GEOGRÁFICA Ana Maria Barros Duarte Fonseca Tel.: 21 844 37 79 Fax: 21 844 33 61 E-mail: anafonseca@lnec.pt

Apontamento Histórico V Conferência Nacional Publicação


O Mapa da Ecúmen de Cartografia e Geodesia da Directiva Inundações

Centro de Congressos do Laboratório


O Nacional de Engenharia Civil (LNEC),
em Lisboa, abriu as portas, nos dias 19 e 20
de Abril, à V Conferência Nacional de Car-
iz a tradição que, no ágora de Atenas, tografia e Geodesia (V CNCG), evento or-
D se encontrava um disco de bronze com
um mapa circular da ecúmena (o mundo ha-
ganizado pelo Colégio Nacional de Engenha-
ria Geográfica da Ordem, e apoiado pelo Ins-
bitado conhecido), centrado na Grécia. tituto de Engenharia de Estruturas, Território
Uma das Variae Historiae, escritas por Mar- e Construção do IST (ICIST) e do LNEC.
cus Aelianus (c. 170 a 235 AD), conta que A conferência, com mais de 200 participan- nova Directiva Inundações, aprovada
Sócrates (c. 470 a 399 a.C.) usou esse mapa,
a uma escala forçosamente pequena, para
tes, contou com 53 comunicações, distribuí-
das pelas seguintes áreas temáticas: Carto-
A pelo Parlamento Europeu a 25 de Abril,
vai obrigar Portugal a elaborar a cartografia
corrigir a vaidade de Alcibíades (c. 450 a grafia e Sistemas de Informação Geográfica, das zonas consideradas de risco e a realizar
404 a.C.), rico aristocrata ateniense, da po- Detecção Remota, Geodesia e Topometria, planos de gestão das bacias dos cinco rios in-
derosa família dos Alcmeónidas, seu discí- Aplicações do GPS, Geocomunidade, Pro- ternacionais que atravessam o território.
pulo e amigo. jectos em Cartografia, Topografia e SIG e A nova lei, que pretende criar um quadro
Sócrates, apontando para a Ática no mapa, Topografia. A sessão de abertura foi presi- legislativo reforçado para a protecção da
pediu a Alcibíades que lhe mostrasse as suas dida pelo Presidente do LNEC. saúde humana, do ambiente, do património
terras. Tendo Alcibíades respondido que A Conferência foi ainda composta por uma cultural e das actividades económicas, obriga
aquelas não estavam representadas no mapa, exposição técnica, com stands dos principais também à coordenação entre os vários Es-
Sócrates retorquiu, desdenhoso, que então produtores de cartografia nacionais, como o tados-membros das bacias hidrográficas co-
não deviam ser importantes. IGP e o IGeoE, e empresas fornecedoras de muns.
equipamentos e software de aquisição e pro- A Directiva deverá ser transposta para as le-
João Casaca cessamento de informação geográfica. gislações nacionais até meados de 2009.

Publicação da Directiva INSPIRE IUGG2007


o dia 15 de Maio de 2007 entrou em (e.g. metadados, interoperabilidade de dados XXIV Assembleia da
N vigor a Directiva INSPIRE, Directiva
2007/2/EC, do Parlamento Europeu e do
e serviços, utilização de serviços de IG, prin-
cípios de acesso e partilha de dados).
A União Internacional
de Geodesia e Geofísica
Conselho, de 14 de Março de 2007, que es- A Directiva deverá trazer aos cidadãos eu- (IUGG), que irá decor-
tabelece a criação da Infra-estrutura Euro- ropeus a possibilidade de, facilmente, encon- rer de 2 a 13 de Julho em
peia de Informação Geográfica. trarem, através da Internet, informação útil Perugia, Itália, promete juntar mais de 5000
Esta Directiva pretende promover a dispo- em termos de Ambiente e de outras temá- cientistas de todo o mundo.
nibilização de informação de natureza espa- ticas, permitindo também que as autorida- Esta Assembleia será uma oportunidade para
cial utilizável na formulação, implementação des públicas beneficiem com maior facili- analisar a situação global do planeta Terra
e avaliação das políticas ambientais da União dade de informação produzida por outras no âmbito da Geodesia, do Geomagnetismo,
Europeia. A Directiva obriga os Estados-mem- autoridades públicas. da Hidrologia, da Meteorologia, da Oceano-
bros a gerirem e a disponibilizarem os dados grafia, da Sismologia e da Vulcanologia.
e os serviços de informação geográfica (IG) Para mais informação consultar o Sítio INSPIRE:
de acordo com princípios e regras comuns www.ec-gis.org/inspire Mais informações em: www.iugg2007perugia.it

42 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios

oi publicado, pelo Sector de Edições e


História Breve F Artes Gráficas do LNEC, em Maio de Constelação
do Calendário 2007, o livro “História Breve do Calendá-
de Satélites PLEIADES
rio”, da autoria do Eng.º João Casaca.
Os calendários consistem em arranjos de dias
em grupos (anos e meses), em correspon-
dência com fenómenos periódicos (Lunares,
Solares, Lunissolares) ou com um número
de dias do ano fixo (Móveis). Podem ser
classificados como calendários empíricos ou
observados, como o calendário popular islâ-
mico, ou calendários calculados, que são os
mais vulgarizados.
O calendário Gregoriano é uma reforma do stá previsto, para o início de 2008, o lan-
calendário Juliano, devido a Júlio César, que
adaptou os formalismos romanos a uma an-
E çamento da constelação de satélites
PLEIADES, que constitui a componente óp-
tiga estrutura solar de origem egípcia. Este tica do programa de observação da Terra
ensaio descreve a história do calendário Gre- ORFEU, uma cooperação franco-italiana que
goriano e dos calendários da bacia do Medi- prevê também o satélite de radar COSMO-
terrâneo e do Oriente próximo, com ele mais -Skymed.
ou menos aparentados. O Sistema PLEIADES é composto por dois
satélites com uma resolução espacial de 0,7m,
no desenvolvimento da Infra-estrutura Eu- com um campo de vista de 20 quilómetros,
Workshop sobre Informação ropeia de Dados Espaciais. Com a recente capacidade para aquisição de imagens estereos-
Geográfica e SIG publicação da Directiva Inspire, o foco da cópicas e acesso diário a qualquer ponto da
13.ª GI e GIS Workshop – Inspire Time: sessão deste ano é a contribuição das Infra- superfície terrestre, para satisfazer necessida-
A ESDI for the Environment vai ter lugar
na cidade do Porto nos dias 4, 5 e 6 de Julho.
-estruturas de dados espaciais para a análise
e modelação ambiental.
des civis e militares. Os satélites PLEIADES
estão planeados para permitirem o forneci-
Nos últimos anos, a Workshop sobre Infor- mento de informação em menos de 24 horas
mação Geográfica e SIG (GI & GIS), orga- Informações adicionais disponíveis em: e aquisições prioritárias, numa área predefi-
nizada pela Comissão Europeia, fez ênfase www.ec-gis.org/Workshops/13ec-gis nida, em situações de emergência.

ENGENHARIA
GEOLÓGICA E DE MINAS Pedro Alexandre Marques Bernardo Tel.: 21 841 74 48 Fax: 21 841 90 35 E-mail: pedro.bernardo@ist.utl.pt

4.ª Conferência Internacional sobre


Explosivos e Técnicas de Explosão
Federação Europeia de Engenharia/Engenheiros de Explosivos (EFEE) organiza, de 9 a
A 11 de Setembro, a 4.ª Conferência Internacional sobre Explosivos e Técnicas de Ex-
plosão, que terá lugar em Viena, na Áustria.
Em termos de conteúdo, foram submetidas 65 comunicações para apresentação, versando
uma grande parte sobre temas como a fragmentação, as vibrações, os detonadores, a demo-
lição e a saúde e segurança.
A organização do evento, que enfatizará os aspectos ambientais e os requisitos de saúde e
segurança relacionados com todas as áreas da engenharia de explosivos, espera uma adesão
de cerca de 400 a 500 participantes provenientes de cerca de 50 países.
A Conferência é dirigida a utilizadores de explosivos, a produtores de explosivos, acessórios
e equipamento de perfuração, e a investigadores e profissionais envolvidos em todas as ver-
tentes de desenvolvimento e utilização de explosivos.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 43


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ENGENHARIA
GEOLÓGICA E DE MINAS Pedro Alexandre Marques Bernardo Tel.: 21 841 74 48 Fax: 21 841 90 35 E-mail: pedro.bernardo@ist.utl.pt

Criação do Curso Profissional de Técnico de Pedreiras


Portaria n.º 600/2007 de 18 de Maio, do Ministério da Educa-
A ção, cria o curso profissional de técnico de pedreiras (curso do
nível secundário de educação; qualificação profissional de nível 3),
destinado a desenvolver actividades de exploração de pedreiras, quer
de rocha ornamental, quer de rocha industrial, em conformidade
com as orientações e o planeamento da produção e as normas de
segurança e higiene, de qualidade e de protecção ambiental.
As actividades principais a desempenhar por este técnico são:
– Proceder à análise do plano de lavra e estabelecer os procedimen-
tos conducentes ao seu cumprimento;
– Determinar os desmontes necessários de modo a satisfazer a pro-
dução;
– Coordenar o processo de carga e transporte da matéria-prima;
– Acompanhar, controlar e registar todos os procedimentos envol-
vidos na transformação;
– Estabelecer e comunicar os modos operatórios ao pessoal da pro- – Promover e verificar o cumprimento das normas de protecção
dução; ambiental;
– Efectuar o controlo dos aprovisionamentos e dos stocks, bem como – Fazer o controlo da produção de resíduos e do seu correcto tra-
do armazenamento e expedição dos produtos acabados; tamento;
– Organizar e distribuir o trabalho pelo pessoal da produção; – Controlar o cumprimento diário do trabalho e tarefas distribuí-
– Elaborar planos de manutenção preventiva e correctiva e verificar das, bem como da disciplina e da assiduidade, diagnosticando ano-
o seu cumprimento; malias e resolvendo problemas e ou disfunções;
– Verificar o cumprimento das normas de segurança e higiene; – Participar na actualização técnica dos métodos e da organização do
– Promover e verificar o cumprimento de normas de qualidade; trabalho e propor acções de formação individual ou em grupo.

11.º Congresso Internacional


da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas
11.º Congresso Internacional da Socie- T5 – Earthquake Engineering and Rock Dy- Estão previstas várias Visitas Técnicas, de-
O dade Internacional de Mecânica das Ro-
chas vai realizar-se em Lisboa, de 6 a 14 de
namics
T6 – Petroleum Engineering and Hydrocar-
signadamente:
– Metropolitano de Lisboa
Julho de 2007, organizado pela SPG e com bon Storage – Mina Neves-Corvo da Somincor
o apoio da Sociedade Espanhola de Me- T7 – Safety Evaluation and Risk Manage- – Mina Clona em Loulé
cânica das Rochas. O Presidente da Comis- ment – Pedreiras de Mármore
são Organizadora é o Prof. Luís Ribeiro e – Projecto de Fins Múltiplos do Alqueva
Sousa. Vão ser realizados 3 Workshops: – Túnel do Rossio
– “Underground Works under Special Con-
Os temas do Congresso são os seguintes: ditions”, a decorrer no CEDEX, em Ma- Está prevista a organização de uma Exposição
T1 – Rock Engineering and Environment Is- drid, a 6 de Julho de 2007; Técnica com um número máximo de cerca
sues – “2nd Workshop on Volcanic Rocks”, que de 70 stands, bem como a organização de um
T2 – The Path from Characterization to Mo- terá lugar em Ponta Delgada de 13 a 16 programa social e de acompanhantes.
delling de Julho de 2007; Informações sobre o Congresso poderão ser
T3 – Slopes, Foundations and Open Pit Mi- – “Preservation of Natural Stone and Rock obtidas em www.isrm2007.org ou pelo Se-
ning Weathering”, igualmente no CEDEX, em cretariado da SPG (Grupo Português da ISRM)
T4 – Tunnels, Caverns and Underground Madrid, de 12 a 15 de Julho de 2007. através dos seguintes endereços electrónicos:
Mining isrm2007@lnec.pt ou spg@lnec.pt.

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Colégios
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GEOLÓGICA E DE MINAS Pedro Alexandre Marques Bernardo Tel.: 21 841 74 48 Fax: 21 841 90 35 E-mail: pedro.bernardo@ist.utl.pt

XVI Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas

Colégio Nacional de Engenharia Geológica e de Minas, com o abandonadas, descontaminação de terrenos e acções rotineiras de
O apoio do Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Enge-
nheiros (OE), vai realizar entre 1 e 4 de Novembro de 2007 o XVI
monitorização, em explorações mineiras ou obras geotécnicas;
Formação em Engenharia Geológica e de Minas, discutindo em
Encontro Nacional, na cidade de Beja, pretendendo proporcionar particular os aspectos relacionados com o processo de Bolonha;
aos seus membros a oportunidade de reflectir sobre assuntos de in- Aspectos do contexto actual da legislação aplicável às explorações
teresse profissional, numa atmosfera propícia ao convívio. mineiras (designadamente a “nova” Lei de Pedreiras) e às obras no
Esta iniciativa é também uma oportunidade para os estudantes, que domínio da Engenharia Geológica e de Minas.
frequentam os cursos da especialidade do Colégio, contactarem os
colegas que desenvolvem a sua actividade nos diversos domínios de
intervenção da Engenharia Geológica e de Minas.
Há uma redução do custo de inscrição para os membros estagiários
e para os membros estudantes da OE.
Na escolha da cidade de Beja esteve subjacente a grande oferta local
de temas de interesse para os membros do Colégio, quer em ter-
mos mineiros, como o projecto de reabertura da Mina de Aljustrel,
quer em termos geotécnicos, de que são exemplo a continuidade
dos trabalhos complementares do projecto Alqueva e os trabalhos
de Odelouca; ou, ainda, os projectos ambientais, como seja o caso
das Minas de São Domingos, temas esses que deveriam ser mate-
rializados através de visitas técnicas, inseridas no encontro.
A programação do encontro considera:
Um evento de acolhimento, que terá lugar no dia 1 (Feriado – 5.ª
feira), ocasião que poderá motivar algumas palestras específicas, in-
seridas nos temas do encontro, à semelhança do que ocorreu no úl-
timo encontro;
As visitas técnicas terão lugar na 6.ª feira, de modo a aumentar o
leque de opções postas à disposição dos participantes;
As sessões técnicas acontecerão no Sábado, seguidas do habitual
jantar de encerramento;
Existirão opções ao nível de programas de acompanhantes na 6.ª
feira e no Sábado.
O dia de Domingo será livre.

Os temas do encontro deveriam focar os aspectos emergentes, na Apresentação de Comunicações (Sessões técnicas)
área do Colégio, designadamente:
Prospecção Geológica e Mineira, debatendo assuntos como a res- Convidam-se todos os membros do Colégio a contribuir com tra-
ponsabilidade do Estado no reconhecimento do Território e identi- balhos para publicação no livro de Registo do Encontro, através das
ficando as áreas potenciais para novos empreendimentos mineiros, suas experiências profissionais, verificadas num passado recente, nos
algumas das quais estão a ser estudadas neste momento; vários domínios de intervenção da Engenharia Geológica e de Minas
Exploração de recursos geológicos, focando todos os casos de in- e tendo em conta os temas definidos.
teresse nacional, desde as massas minerais metálicas às águas, os seus Os trabalhos a apresentar deverão ser precedidos do envio de um
diversos ambientes de exploração, céu-aberto, subterrâneo, etc.; resumo (por e-mail, para o Secretariado do Encontro - a/c Dra. Alice
Geotecnia, em termos dos actos específicos dos membros do Co- Freitas), com cerca de 400 palavras, que, depois de seleccionados,
légio neste domínio, realçando as suas contribuições recentes, sem- deverão dar origem trabalhos, cada um com a dimensão máxima de
pre que possível através de casos de obra importantes; 10 páginas (com cerca de 2500 caracteres por página), o qual po-
Ambiente, no sentido lato, ou seja, analisando casos como as minas derá ser apresentado oralmente (cerca de 15 minutos, incluindo de-

46 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios

bate) ou na forma de um poster, em função da decisão da Comis- Decisão final (Comissão Científica) sobre a aceitação do trabalho
são Científica e do próprio autor. – até 12 de Outubro de 2007;
Será constituída uma Comissão Científica, com cerca de 10 elemen- Envio das versões finais dos trabalhos (após revisão eventual pela
tos, distribuídos pelas diversas regiões e domínios de especialização, Comissão Científica) – até 19 de Outubro de 2007.
coordenada pelo Eng.º Nuno Grossmann, a qual vai proceder à se-
lecção e revisão técnica dos trabalhos submetidos para publicação Brevemente serão disponibilizadas mais informações a respeito deste
no livro de Registo do Encontro. evento no Portal do Engenheiro (www.ordemengenheiros.pt/; Co-
Haverá uma redução do custo de inscrição para os participantes que légios: Engenharia Geológica e de Minas) e através de circulares es-
(na qualidade de primeiro autor) apresentem um ou mais trabalhos, pecíficas (via CTT).
cumprindo os requisitos definidos (em particular, os temas e os prazos),
desde que este seja aceite para publicação pela Comissão Científica. Comissão Organizadora do Encontro:
Dado que se pretende disponibilizar o documento (Livro de Registo Júlio Ferreira e Silva *
do Encontro) em papel e, eventualmente, em CD, no dia das ses- Pedro Marques Bernardo *
sões técnicas é importante que todos os autores cumpram escrupu- Paulo Sá Caetano *
losamente o seguinte calendário (não serão recebidos trabalhos fora * Colégio Nacional de Engenharia Geológica e de Minas
destes períodos):
Envio de propostas de contribuições técnicas (Resumos) – até 17 Secretariado do Encontro:
de Julho de 2007; Dra. Alice Freitas (Coordenadora)
Informação aos autores sobre a aceitação dos resumos (Comissão Ordem dos Engenheiros – Colégios
Científica) – até 31 de Julho de 2007; Av. Sidónio Pais, 4 - E – 1050 - 212 LISBOA
Envio das versões integrais dos trabalhos – até 4 de Outubro de Tel.: 21 313 26 00 / 63 / 64 – Fax. 21 313 26 72
2007; E-mail: colegios@ordemengenheiros.pt

ENGENHARIA
INFORMÁTICA Mário Rui Gomes Tel.: 21 423 32 11 E-mail: mario.gomes@tagus.ist.utl.pt

a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade


Eng.º António João Simões Monteiro da Informação (APDSI) e Presidente da itSMF
Portugal, Associação Portuguesa dos Gesto-
aleceu o Eng.º António João Simões res de Serviços de Tecnologias de Informa-
F Monteiro, um dos principais apóstolos
da Engenharia Informática em Portugal, que
ção. Ambas as associações, das quais foi mem-
bro fundador, têm tido uma grande capaci-
dedicou a sua vida à liderança associativa dade de mobilização na defesa da Engenharia
profissional e social. Informática e, de um modo mais abrangente,
Licenciado em Engenharia Químico-indus- da Sociedade do Conhecimento.
trial pelo Instituto Superior Técnico, desde A nível profissional, foi, desde 1977, docente
cedo dedicou a sua vida à defesa da Enge- convidado do Departamento de Informática
nharia Informática em Portugal, tarefa que tiplas acções profissionais, para a criação do da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
iniciou com a criação da Associação Portu- Colégio de Engenharia Informática, liderou, Universidade Nova de Lisboa, sendo ultima-
guesa de Informática e terminou a 18 de no âmbito dos então designados Temas Ge- mente responsável pelas cadeiras de “Ges-
Maio de 2007, com a sua morte. rais, a organização, desde 1986 e ao longo tão de Sistemas de Informação” e “Aspec-
O Eng.º Simões Monteiro liderou ou desta- de 10 anos, de um conjunto de conferências tos Socioprofissionais da Informática”.
cou-se enquanto elemento muito activo na profissionais, entre as quais se destacam as De 1980 a 1986 foi director nas áreas de
organização dos primeiros eventos nacionais. Jornadas de Projecto, Planeamento e Pro- Estudos de Informática, Estudos e Produtos
Foi o coordenador-geral da primeira grande dução Assistida por Computador, PPP/AC. de Informática e Gabinete de Desenvolvi-
conferência de informática, o 1.º Congresso Foi candidato a vice-presidente na lista lide- mento e Projectos Especiais na NORMA,
Português de Informática, que juntou profis- rada pelo Eng.º Carvalho Fernandes. Sociedade de Estudos para o Desenvolvi-
sionais dos meios académicos e profissionais. Listar todas as Associações Profissionais que mento de Empresas e, posteriormente, até
Na Ordem dos Engenheiros, além de ter ajudou a criar é uma tarefa difícil. Actual- 1996, Administrador da PROFAC, Consul-
contribuído de modo activo, através de múl- mente, era director-geral da Associação para tores de Sistemas, SA.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 47


Colégios
ENGENHARIA
INFORMÁTICA Mário Rui Gomes Tel.: 21 423 32 11 E-mail: mario.gomes@tagus.ist.utl.pt

De 1996 a 2000 foi membro da Comissão os meios de comunicação social, tendo sido cidade de aglomerar esforços na defesa de
Permanente da “Missão para a Sociedade da um entusiasta na criação do prémio Edito- objectivos comuns e o modo muito sereno
Informação”, entidade que foi responsável rial APDSI – Sociedade da Informação. como liderava todos os processos em que es-
pela publicação do Livro Verde para a So- Como activista empenhado no associativismo tava envolvido. A sua morte constitui uma
ciedade da Informação em Portugal. social, pertencia ao Clube Lyons Internacio- grande perda, mas o modo exemplar como
A sua paixão pelo jornalismo especializado nal e foi membro fundador da Amnistia In- se dedicou à defesa de causas públicas con-
era também antiga. Foi director da revista ternacional Portugal (AIP), de que era actual- tinuará a ser lembrado.
“Informática”, a qual no seu número 0, de mente presidente. Por ironia do destino fa- António, agradecemos o que deste a todos
Setembro de 1974, teve uma tiragem de leceu no dia em que a AIP comemorava o nós.
2.500 exemplares. Foi também director da seu 26.º aniversário. Para quem teve a sorte Eng.º Mário Rui Gomes, Vogal do Colégio
revista “Interface”. Em todas as iniciativas de privar de perto com o Eng.º Simões Mon- Nacional de Engenharia Informática e Representante
em que esteve envolvido fazia a ligação com teiro, há a destacar a sua afabilidade, a capa- do Colégio no Conselho Editorial da “Ingenium”

de experiências e um fórum de discussão de


15.º Encontro Português de Computação Gráfica questões ligadas às aplicações das áreas re-
15.º Encontro Português de Computa- realizam trabalho ou utilizam a Computação feridas, bem como da dinâmica área dos
O ção Gráfica, a realizar entre 15 e 17 de
Outubro, nas instalações da Microsoft, no
Gráfica, o Processamento de Imagem ou a
Visão por Computador. Os objectivos ine-
vídeo jogos, entre as comunidades acadé-
mica, industrial e os utilizadores finais.
Tagus Park, em Porto Salvo, visa reunir in- rentes ao evento centram-se na divulgação Para aceder a mais informações, consultar:
vestigadores, docentes e profissionais que de trabalhos realizados ou em curso, a troca http://adetti.iscte.pt/events/15EPCG

ENGENHARIA
MECÂNICA Aires Barbosa Pereira Ferreira Tel.: 21 389 15 45 Fax: 21 389 14 86 E-mail: aires.ferreira@bp.com

e sequestro de CO2; Eficiência de motores


Clean Air 2007 e poluentes nos transportes; Uso de com-
9.ª Conferência Internacional sobre Energia para um Ambiente Limpo bustíveis alternativos em motores; Redução
9.ª edição da Conferência fessor João Toste de Aze- de emissões de NOx, SOx, CO, partículas,
A Internacional sobre Ener-
gia para um Ambiente Limpo,
vedo. A Conferência in-
cluirá 5 sessões plenárias
metais pesados; Processamento de combus-
tível (gaseificação e reformação) em siste-
designada por Clean Air 2007, com oradores convidados e cerca de 30 ses- mas de energia; Utilização de hidrogénio
tem lugar no Hotel Vermar, na Póvoa de Var- sões temáticas com apresentações orais de como vector energético. Integração de bio-
zim, de 2 a 5 de Julho de 2007. artigos nos diversos temas. Num dos dias da massa e RDF como combustíveis; Uso de
Este evento tem decorrido de forma regular conferência decorrerá uma sessão de apre- poli-geração na indústria e nos edifícios.
de dois em dois anos, tendo atingido uma sentação em poster.
maturidade e audiência significativas ao longo Informações e contactos
das sucessivas edições. Principais temas abordados Maria Fernanda Afonso – Inst. Superior
A organização do evento foi iniciada pela Avanços em combustão limpa; Optimização Técnico – Depart. de Engenharia Mecânica
Professora Maria da Graça Carvalho, do Ins- de centrais termoeléctricas; Combustão e Tels: 21 841 73 78 – 21 841 71 86
tituto Superior Técnico, sendo actualmente gaseificação de biomassa; Redução de emis- E-mail: cleanair@ist.utl.pt
o comité organizador coordenado pelo Pro- sões de gases com efeito de estufa; Captura Internet: http://rgesd.ist.utl.pt/cleanair

Associação Portuguesa de Manutenção


A Industrial (APMI) marcou para os dias
22 e 23 de Novembro, na Exponor, em Leça
9.º Congresso Nacional de Manutenção
pecção constituem as temáticas centrais do sendo que os textos definitivos dos trabalhos
da Palmeira, a realização do 9.º Congresso Congresso, suficientemente abrangentes para aceites, deverão ser remetidos até 31 de
Nacional de Manutenção. permitir a cobertura de vários sectores de Agosto de 2007.
As áreas da Qualidade, Ambiente e Segu- actividade, nomeadamente indústria, trans-
rança; dos Sistemas e Tecnologias de Infor- portes, serviços e florestas.
mação; das Qualificações e Recursos Huma- 30 de Junho é a data limite para envio dos Outras informações disponíveis em:
nos; e das Tecnologias de Execução e Ins- resumos das comunicações ao Congresso, www.apmi.pt

48 INGENIUM | Maio/Junho 2007


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ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS Maria Manuela X. Bastos de Oliveira Tel.: 21 092 46 53 Fax: 21 716 65 68 E-mail: manuela.oliveira@ineti.pt

13. Materiais para aplicações de transporte


MATERIAIS 2007 e engenharia mecânica
14. Papel e têxtil
15. Polímeros
16. Materiais para produção, transporte e
armazenamento de energia
17. Superfícies, interfaces e membranas
18. Modelização e simulação numérica
19. Prospectiva sobre materiais
20. Reciclagem

O evento foi ainda composto por um con-


curso de comunicações em painel, bem como
por um concurso de fotografia em diversas
áreas. Foi ainda atribuído um prémio à me-
lhor apresentação oral feita por um aluno
não graduado.
No dia 3 de Abril, teve lugar uma sessão es-
pecial sobre plataformas tecnológicas do 7.º
Programa Quadro, e de 1 a 7 de Abril de-
correu uma exposição, no Mercado Ferreira
Mesa do Congresso na cerimónia de abertura Borges, sobre o tema os Materiais e a Ci-
dade.
MATERIAIS 2007, XIII Encontro da 2. Caracterização de materiais avançada
O Sociedade Portuguesa de Materiais e IV
Simpósio Internacional de Materiais, decor-
3.
4.
Cerâmicos
Compósitos
No dia 1 de Abril, realizaram-se os seguin-
tes eventos:
reu na FEUP de 1 a 4 de Abril, tendo regis- 5. Madeira e cortiça 1. School on Advanced Materials Characte-
tado a presença de 585 participantes, de 31 6. Materiais e arte risation Methods: Scanning Probe Micros-
países diferentes, sendo que 193 eram es- 7. Materiais electrónicos, magnéticos e fo- copy SPM: AFM/MFM
trangeiros. tónicos 2. Workshop on “Materials and Cultural He-
8. Materiais inteligentes ritage”.
Foram apresentadas 6 comunicações plená- 9. Metais e ligas
rias, 7 lições convidadas, 238 comunicações 10. Materiais e modelação de processos A realização da próxima edição do MATE-
orais e cerca de 350 comunicações em pai- 11. Materiais nano e microestruturados RIAIS, em 2009, está programada para o
nel, distribuídas pelos seguintes tópicos: 12. Materiais para aplicações de engenharia IST, sendo o Prof. Luís Guerra Rosa o Pre-
1. Biomateriais civil sidente da Comissão Organizadora.

Recebeu dois prémios científicos (Gulbenkian,


Professor Manuel Amaral Fortes 1989, e Boa Esperança, 1994) relativos à sua
aleceu, no passado dia 22 genharia Nucleares, leccionou actividade de investigação na área dos ma-
F de Abril, o Professor Ma-
nuel Amaral Fortes, do De-
na Universidade de Lourenço
Marques (Moçambique) dis-
teriais celulares. Foi autor de cerca de du-
zentos artigos científicos, publicados em re-
partamento de Engenharia de ciplinas da área dos Materiais. vistas internacionais de Física, Química e
Materiais do Instituto Supe- Era Professor Catedrático do Materiais, bem como de diversos textos di-
rior Técnico. Instituto Superior Técnico, dácticos.
Manuel Amaral Fortes nas- onde desempenhou diversas Figura de grande prestígio na comunidade
ceu em Lisboa em 1938. Li- funções de gestão. Colaborou científica, o Professor Amaral Fortes era uma
cenciou-se em Engenharia com a Junta Nacional de In- referência para todos os que trabalham em
Químico-industrial no Instituto Superior vestigação Científica e Tecnológica e, pos- Ciência e Engenharia de Materiais, área que
Técnico em 1961 e doutorou-se na Univer- teriormente, com a Fundação para a Ciên- ele ajudou a fortalecer, como insigne Cien-
sidade de Cambridge em 1968. Depois de cia e Tecnologia. Era sócio fundador da So- tista e Professor, com o seu brilhantismo,
um período no Laboratório de Física e En- ciedade Portuguesa de Materiais. dinâmica e competência ímpares.

50 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios
ENGENHARIA
NAVAL Paulo de Lima Correia Tel.: 21 120 92 55 Fax: 21 120 49 87 E-mail: paulolcorreia@hotmail.com

CleanSeaNet – Integrar o CleanSeaNet no sistema nacio-


nal e regional de resposta à poluição ma-
m meados de Abril, entrou em funcio- Assim, como efeito dissuasor e para assegu- rinha;
E namento o sistema Europeu de vigilân-
cia e controlo por satélite de derrames ma-
rar a protecção do ambiente marinho, as pes-
soas que causem poluição marinha ou para
– Tentar localizar os poluidores, por meios
aéreos ou marítimos, tanto quanto possí-
rinhos de hidrocarbonetos, ilegais ou aciden- ela contribuam serão sujeitas a sanções ade- vel nas áreas sob sua jurisdição;
tais, chamado “serviço CleanSeaNet”. quadas. – O Estado costeiro decidirá as medidas ne-
Este serviço, gerido pela Agência Europeia O serviço CleanSeaNet fornecerá imagens cessárias para assegurar o uso das imagens
da Segurança Marítima (EMSA), foi criado de satélite aos Estados-membros, alertando- de satélite recebidas.
-os para existência de poten-
cial derrame de hidrocarbo- As zonas cobertas são o mar Báltico, o mar
netos e informando a sua po- do Norte e as áreas à volta do Reino Unido,
sição. Noruega e Islândia, as águas do Oeste da Eu-
A deriva da película e a iden- ropa desde o Canal da Mancha até ao es-
tificação do navio poluidor treito de Gibraltar, o mar Mediterrâneo, a
será feita pelo uso de mode- parte Oeste do mar Negro, as ilhas Canárias
los matemáticos e pela con- e a ZEE do Atlântico em 2008.
jugação com informação AIS, De acordo com a Directiva, a CE teria de
quando disponível. Actual- apresentar ao Parlamento Europeu e ao Con-
mente, os satélites utilizados selho, até fins de 2006, um estudo de viabi-
para a prestação deste ser- lidade para a criação de uma Guarda Cos-
Foto: Agência Espacial Europeia
viço são o ENVISAT (405× teira Europeia dedicada à prevenção e com-
405km, pixel 150m) e o RA- bate à poluição marinha.
com base no artigo 10.º 2(a) da Directiva DARSAT1 (300×300km, pixel 50m).
2005/35/CE, relativa à poluição por navios O serviço responderá aos pedidos de todos Informação detalhada sobre o CleanSeaNet em:
e à introdução de sanções em caso de infrac- os Estados-membros, EFTA e Comissão Eu- www.emsa.europa.eu/end185d014d015.html e
ções, que entrou em vigor em 1 de Março ropeia, sendo que os Estados serão obriga- EMSA Workshop 07 e 08/02/2006
de 2007. dos a: www.emsa.europa.eu/end645d011.html

Instituto Portuário e dos Governo português divulga posição nacional sobre


Transportes Marítimos o livro verde da Política Marítima Europeia
com nova legislação E ncontra-se disponível no sítio que o Ministério da Defesa Nacional tem na Internet
(www.mdn.gov.pt) a posição nacional sobre o livro verde da Política Marítima
o âmbito do Programa de Reestrutura- Europeia.
N ção da Administração Central do Estado
(PRACE), o Instituto Portuário e dos Trans- Ao longo de 16 páginas, o documento aborda o tema seguindo a organização das áreas
portes Marítimos (IPTM) foi recentemente temáticas do próprio livro verde.
dotado de um novo diploma legal que esta-
belece a missão e atribuições deste Instituto
Público (decreto-lei n.º 146/2007, de 27 de
Abril). Assim, através da portaria n.º 544/2007,
Prémio Anual Internacional
de 30 de Abril, o Governo aprovou os esta- AINE-INNOVAMAR
tutos do IPTM.
Estes diplomas legislativos são importantes o âmbito do protocolo celebrado em 2006 com a Ordem dos Engenheiros, a Associa-
para relançar a actividade do Instituto, das
diversas vertentes da sua acção, seja ao nível
N ção dos Engenheiros Navais de Espanha (AINE) convida as entidades nacionais e os
Engenheiros Portugueses a concorrerem à edição de 2007 do Prémio Anual Internacional
da regulação e fiscalização, da coordenação AINE-INNOVAMAR, no valor de 18.000€.
e planeamento do sector marítimo e portuá-
rio ou da supervisão e regulamentação das A data limite para candidatura ao prémio é 31 de Outubro de 2007, estando o regulamento
actividades desenvolvidas no sector. e demais informações disponíveis em www.ingenierosnavales.com

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 51


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ENGENHARIA
NAVAL Paulo de Lima Correia Tel.: 21 120 92 55 Fax: 21 120 49 87 E-mail: paulolcorreia@hotmail.com

Conselho da CEMT reuniu no Porto


o passado dia 9 de Maio, reuniu, na sede No decurso da reunião foi possível consta- as associações profissionais têm um papel
N da Região Norte, o Conselho da Con-
federação Europeia das Sociedades de Tec-
tar uma expectativa generalizada dos mem-
bros, relativamente às alterações nos respec-
fundamental no estabelecimento de stan-
dards mínimos para o exercício profissional,
nologia Marítima (CEMT), de que a Ordem tivos sistemas de ensino decorrentes da im- no estabelecimento de recomendações para
dos Engenheiros é membro, através do Co- plementação do Processo de Bolonha; tendo o desenvolvimento curricular que satisfaça
légio de Engenharia Naval. sido analisados os requisitos de formação e as diversas áreas sectoriais da engenharia
Estiveram presentes 12 representantes de 9 de desenvolvimento profissional dos Enge- naval e no estabelecimento de padrões de
associações profissionais e tecnológicas de nheiros Navais nos diversos países represen- competência profissional.
engenharia naval, tendo sido a primeira vez tados. Dos assuntos tratados, releva-se, ainda, a
em que a Sociedade Alemã de Tecnologia Manteve-se, de forma consensual, a neces- abordagem da problemática da Plataforma
Marítima (STG) esteve representada. sidade de garantir, nos diversos países, que Tecnológica Waterborne e do seu real inte-

ENGENHARIA
QUÍMICA João Carlos Moura Bordado Tel.: 21 841 91 82 Fax: 21 841 91 98 E-mail: jcbordado@ist.utl.pt

Da complexidade do cérebro à produção de plásticos


Departamento de Engenharia tria do petróleo. Originalmente, plásticos como o polietileno, poli-
O Química do ISEL convidou o
Professor Nicolas Joly, da Univer-
propileno, poliestireno e cloreto de polivinilo, foram produzidos
abundantemente enquanto prevaleceram aspectos como o baixo
sidade d’Artois, para proferir duas custo, solubilidade, flexibilidade e resistência à degradação por mi-
Conferências que tiveram lugar no croorganismos.
início de Abril. Entretanto, devido à escassez das reservas petrolíferas e à poluição
Na primeira Sessão, o Professor Joly abor- originada pela destruição dos plásticos sintéticos, o processamento
dou a complexidade do cérebro, atribuindo essa complexidade a de novos plásticos biodegradáveis, com polímeros orgânicos prove-
duas causas possíveis: ao facto das moléculas bioactivas utilizadas nientes de fontes renováveis, passou a ser necessário, de forma a
para prevenir as doenças cerebrais não poderem ser aplicadas direc- promover um desenvolvimento sustentável.
tamente no cérebro, e/ou o sangue não poder atravessar a barreira Por esta razão, foram empreendidos diversos estudos para avaliar o
sangue/cérebro. Esta situação está relacionada com a ausência de potencial de polisacarídeos vegetais em várias áreas, incluindo com-
um alvo específico destas moléculas no cérebro, mas igualmente pósitos e plásticos. Mas antes, adverte o Professor, é necessário saber
com a hidrofobicidade das moléculas medicinais que não podem ser que tipo de polímero pode ser isolado a partir de fontes renováveis,
transportadas através do sangue até ao cérebro. isto é, polímeros estruturais, tais como a celulose, hemiceluloses,
O Professor Joly avança com o recurso às ciclodextrinas como forma pectinas, mas também polisacarídeos de reserva, tais como o amido
de resolução do problema, uma vez que podem conduzir à inclusão e a inulina. Há ainda produtos comerciais baseados nestes políme-
de complexos solúveis em água com as moléculas bioactivas. ros vegetais usados em diversas áreas, como seja o exemplo da ce-
Por outro lado, relativamente à especificidade do alvo que é a bar- râmica, do biofuel ou dos cosméticos.
reira sangue/cérebro, há alguns receptores específicos dos carbohi- Os plásticos podem ser obtidos a partir dos polisacarídeos e, entre
dratos, pelo que um modo possível é “fixar os carbohidratos sobre estes, os mais vulgarmente usados são a celulose e o amido.
moléculas bioactivas, permitindo uma melhor solubiliza- O Professor Nicolas Joly apresentou o caso do Laboratório
ção no sangue do complexo bioactivo de inclu- onde trabalha, adiantando que nele estudam “a ca-
são, que é a ciclodextrina glicosilada. pacidade de qualquer tipo de polisacarí-
deo vegetal ser convertido em filmes por
A segunda conferência foi dedicada ‘fixação’ dos ácidos gordos (obtidos
à produção de plásticos. De acordo a partir dos óleos vegetais) na ca-
com o especialista, a maioria dos deia polimérica fundamental, e es-
polímeros usados na manufactura tudamos as suas propriedades me-
de plásticos é proveniente da indús- cânicas e físico-químicas”.

52 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Colégios

resse para os participantes nos diversos pro- ropeia depende da vontade de adesão interna que se refere às actividades do Maritime In-
jectos, bem como a articulação com o pro- e externa, sendo difícil apreciar o real resul- dustries Forum.
grama LEARSHIP 2015. tado. O position paper da CEMT, permitiu Os membros do conselho foram convidados
Foi ainda debatida a posição da CEMT no ensaiar um conjunto de propostas para se a apresentar nomeações para o CEMT Award
contexto da apreciação do livro verde da po- testar o sucesso dessa política marítima eu- 2007. Terminada a reunião, os participantes
lítica marítima europeia, que aborda aspec- ropeia. deslocaram-se aos Estaleiros Navais de Viana
tos relativos à investigação, desenvolvimento Foi apreciado o código de ética da FEANI do Castelo, onde lhes foi oferecido um al-
e inovação, regulamentação das actividades e, por proposta do representante nacional, moço e efectuada uma apresentação das ca-
observando os aspectos de segurança e pro- foi recomendado que nesse código também pacidades do estaleiro e da respectiva car-
tecção, competências e empregabilidade, se considerassem os deveres dos engenhei- teira de encomendas, complementada com
ambiente e políticas marítimas nacionais. ros entre si. uma visita às instalações e a um dos navios
Tratando-se de uma política multinacional, A Ordem passou a ser o focal point da CEMT de patrulha oceânica em construção para a
o grau de sucesso da política marítima eu- para os assuntos do ambiente marítimo, no Armada.

talações próprias, Biodiesel de nova geração,


que, se por um lado, requer investimentos
significativos, permitirá, por outro, utilizar
óleos vegetais muito saturados que os pro-
cessos convencionais não podem utilizar
como matéria-prima principal.
Em linhas gerais, o processo consiste em ali-
mentar óleo vegetal, em conjunto com des-
tilados do fraccionamento, a reactores de
hidrogenação/cisão e, após separação de parte
significativa da água formada, proceder a iso-
merização para ajuste preliminar de compo-
sição que permite vir a dispor do índice de
Biodiesel e Desenvolvimento Sustentável cetano pretendido. A hidrogenação, e muito
provavelmente também a isomerização, vão
interesse suscitado nos últimos anos, papel muito importante, e se nas primeiras requerer catalisadores especiais para mini-
O pela produção de biodiesel a partir de
óleos vegetais, deu origem a duas tipologias
o risco de contaminação é elevadíssimo e as
atenções estão focadas no aperfeiçoamento
mizar os problemas de desactivação decor-
rentes da presença de contaminantes consi-
de unidades industriais produtoras: por um do processo para assegurar que o produto derados atípicos em unidades de refinação.
lado, pequenas unidades de funcionamento cumpre as especificações que constam da É claro que, neste caso, o valor de X em BX
descontínuo especialmente vocacionadas Norma, nas de maior dimensão as atenções não é determinável por análise química, visto
para o processamento de óleos vegetais usa- centram-se na valorização das economias de que estamos na presença de uma mistura de
dos – que têm conseguido ver consagradas escala e na optimização do processo. hidrocarbonetos – certamente isenta de es-
na legislação significativas isenções fiscais – e A actual designação de Biodiesel aplica-se, teres –, mas resulta, sim, da proporção de
que transformam tipicamente menos de assim, por um lado, à mistura de Ésteres alimentação.
5.000 Toneladas por ano. Por outro lado, metílicos de ácidos gordos obtida por tran- O sector primário da Economia pode vir a
unidades de média dimensão, com capaci- sesterificação (B100 ou FAME) mas, tam- beneficiar, já que o plano de irrigação a par-
dades inferiores a 150.000 Toneladas por bém, a misturas em que estes são adiciona- tir da Barragem de Alqueva pode vir a per-
ano, que operam com óleos vegetais semi- dos a gasóleo convencional. Poderemos re- mitir a produção de Girassol, ou outras ole-
-refinados, que de momento são maiorita- ferir, a título de exemplo, a mistura com 5% aginosas, criando postos de trabalho em zonas
riamente de Soja. de FAME que é designada por B5. em risco de desertificação e, presumivelmente,
Em qualquer destes tipos de unidades, os O grupo Galp Energia anunciou recente- reduzindo, ainda que pouco, as necessidades
Engenheiros Químicos desempenham um mente a intenção de vir a produzir, em ins- de importação de Crude.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 53


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ENGENHARIA
QUÍMICA João Carlos Moura Bordado Tel.: 21 841 91 82 Fax: 21 841 91 98 E-mail: jcbordado@ist.utl.pt

Eng.º Xavier Malcata galardoado internacionalmente


galardoado com o Danisco International logia da Universidade Católica, e com um
Dairy Science Award 2007, atribuído pela interesse particular pelos produtos tradicio-
American Dairy Science Association, a ins- nais portugueses, constituindo hoje um dos
tituição líder, a nível mundial, em Ciência e mais altos expoentes internacionais da ciên-
Tecnologia de Lacticínios. cia portuguesa aplicada.
Instituído em 1980, este prémio está reser- Recorde-se que, para além deste galardão, o
vado a cientistas residentes num país que não Eng.º Malcata foi distinguido com o título de
os EUA ou o Canadá, e destina-se a galar- Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académi-
doar avanços extraordinários em investigação ques pelo Governo Francês em 1999, e rece-
e desenvolvimento, obtidos fora da América beu o Young Scientist Research Award da
do Norte, durante pelo menos duas décadas American Oil Chemists’ Society em 2001.
de carreira, nos campos da química, bioquí- Xavier Malcata irá receber o galardão em
Eng.º Xavier Malcata, Engenheiro Quí- mica, microbiologia, tecnologia e engenharia Julho próximo, em San António (Texas,
O mico, Professor Catedrático da Univer-
sidade Católica Portuguesa, Director da Es-
– envolvendo leite e produtos lácteos.
Líder de um grupo de investigação consti-
EUA), no decorrer de uma sessão específica
integrante do Congresso Anual da ADSA,
cola Superior de Biotecnologia e Coordena- tuído por mais de 30 pessoas, Xavier Mal- onde irá proferir uma conferência convidada,
dor do Colégio de Engenharia Química da cata tem desenvolvido a sua carreira sempre alusiva às suas contribuições para o avanço
Região Norte da Ordem, foi recentemente sob a égide da Escola Superior de Biotecno- do conhecimento no campo dos lacticínios.

EUROPACAT VIII
UROPACAT, a mais importante conferência europeia de Catálise, é or-
E ganizada de dois em dois anos, sendo que a próxima edição vai decorrer
no Centro de Exposições da cidade de Turku, na Finlândia, entre 26 e 31 de
Agosto deste ano, tendo como tema central “Catálise, desde a teoria até à
prática industrial”.
Catálise é uma das tecnologias chave da Física, Química e Engenharia Quí-
mica. Os químicos sabem que um catalisador é um composto que acelera as
reacções químicas, sem nelas ser consumido. Este fenómeno foi definido pela
primeira vez pelo famoso químico sueco Jöns Jacob Berzelius, em 1835.
No Verão de 2005, a conferência foi efectuada em Sófia, na Bulgária, onde
foram confirmadas, mais uma vez, as cerca de 1000 participações habituais.
A conferência vai incluir todos os aspectos da catálise, como catalisadores,
métodos de caracterização, cálculos teóricos e engenharia de reacções catalí-
ticas. Biocatálise e catálise de polimerização estarão também incluídas no pro-
grama, assim como o papel da catálise na produção de combustíveis “limpos”
no processamento de gás natural e na “sociedade” do hidrogénio.
Turku (Åbo) é uma cidade situada na costa sudoeste da Finlândia, sensivel-
mente em frente a Estocolmo. Sendo a cidade mais antiga da Finlândia, é tam-
bém um dos seus centros de Química e Biociências. A entidade de Turku que
organiza o EUROPACAT VIII é o Centro de Processos Químicos da Univer-
sidade Åbo Akademi, que é a Universidade finlandesa de língua sueca.
Na Finlândia, a investigação química começou em Åbo/Turku, onde o inter-
nacionalmente famoso químico Johan Gadolin (Gadolinium 64Gd) trabalhou
como professor catedrático.

Informações adicionais disponíveis em: www.europacat.org

54 INGENIUM | Maio/Junho 2007


COMUNICAÇÃO
Os mitos urbanos da floresta:
a “floresta natural”
árvores e das florestas nos mitos das pessoas para guiar a humanidade no caminho do
e dos povos. As árvores e as florestas adqui- Bem, para os antigos escandinavos o freixo
riram, desde cedo na história da humani- (Fraxinus spp.) era sagrado, como o eram
dade, simbolismo espiritual em praticamente os carvalhos (Quercus spp.) para gregos e
todas as culturas. No Paraíso Cristão – o Jar- gauleses (Figura 1), a tília (Tilia spp.) para
dim do Éden – criou Deus a Árvore da Vida os germanos, a oliveira (Olea europaea) para
e a Árvore da Ciência do Bem e do Mal, a o Islão, os vidoeiros (Betula spp.) e os larí-
FLORESTAL par com outras de diversas espécies e utili- cios (Larix spp.) para os povos da Sibéria, o
dades (Livro do Génesis, capítulo 2: versí- imbondeiro (Adansonia digitata) para di-
culos 9 e 16). A história de Eva e a maçã é versas tribos africanas (Figura 2), a gingko
obviamente apócrifa: o simbolismo bíblico (Ginkgo biloba) para chineses e japoneses...
António Fabião *
é bem mais profundo do que uma simples Em muitas e diversificadas culturas espalha-
trincadela numa maçã. das por esse Mundo fora, ainda hoje se pre-
Os exemplos deste tipo são inúmeros nas servam e veneram árvores e florestas sagra-
As árvores e os mitos diversas culturas: na cultura Budista, foi en- das (Fischesser, 1981; Vieira, 2000; Thomas,
quanto desfrutava da sombra de um baniano 2000; Crews, 2003; Musselman, 2003;
Na altura em que escrevo estas linhas pas- (Ficus bengalensis) que Buda foi iluminado Swamy et al., 2003).
saram poucos dias sobre a celebração do “dia
da árvore”, designação popular do Dia Flo-
restal Mundial, que se comemora anualmente
a 21 de Março. É uma data pouco conve-
niente para se plantarem árvores em Portu-
gal, como aliás em qualquer país com um
clima do tipo mediterrâneo, em virtude da
entrada na Primavera e da aproximação do
período estival de secura que se lhe segue
dentro de poucas semanas ou, quando muito,
dois ou três meses. É esse o tempo que resta
às jovens plantas para se estabelecerem no
local de plantação e para desenvolverem raí-
zes suficientemente extensas e profundas
para garantirem o seu abastecimento hídrico
durante o Verão sem chuva que caracteriza
o nosso clima. Ou então regam-se, mas é
uma solução que só é praticável em parques
e jardins, ou em exemplares isolados e pe-
quenos arboretos. No entanto, a Festa da
Árvore é sempre mediática, com cobertura
garantida, pelos principais meios de comu-
nicação social, de crianças a plantarem árvo-
res e, não raramente, com presença de Mi-
nistro, Secretário de Estado ou Deputado,
dando visibilidade às temáticas florestal e/
ou ambiental.
Mas não é essa a razão deste texto: o “dia
da árvore” é apenas o pretexto para algumas
considerações, sempre oportunas num País
onde árvores e florestas são sempre tão po- Figura 1 – Um grande carvalho-alvarinho (Quercus robur) na cidade de Viseu.
Este exemplar está classificado como árvore de interesse público, atestando o valor que a nossa sociedade
pulares pelas piores razões, sobre o papel das ainda continua a dar às árvores mais notáveis pela dimensão, idade, ou raridade

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Esta relação mística com a árvore e a floresta
transcendeu desde cedo – e transcende ainda
hoje, noutros contextos e enquadramentos
– a mera vertente religiosa, para atingir aspec-
tos comuns da vida de todos os dias, afec-
tando hábitos e linguagem (Figura 3). Os ro-
manos plantavam uma árvore quando lhes
nascia um filho, costume que foi permane-
cendo até aos nossos dias em muitos países
da Europa e, ocasionalmente, até no nosso
(Fischesser, 1981; Vieira, 2000). Presentea-
vam os seus atletas vencedores com coroas
feitas de ramos de louro (Laurus nobilis), há-
bito que se estenderia posteriormente aos poe-
tas, a outros artistas, ou a estudantes que se Figura 2 – Imbondeiros (Adansonia digitata) nos arredores de Luanda, Angola.
Estas árvores, que podem atingir grandes dimensões, perdem a folha na estação seca,
pretendia de alguma forma louvar. Actual-
ficando com o aspecto que a figura documenta
mente, temos laureados com prémios de vá-
rios tipos, até com o Prémio Nobel. Talvez cia de uma atenção quase obsessiva das so- uma evolução muito longa”. A actual preo-
por serem os “aprendizes” dos eventuais lau- ciedades humanas às árvores e florestas. Ho- cupação da sociedade com o ambiente e os
reados, os estudantes eram designados na mens e árvores ligaram em mitos, crenças e recursos naturais, a par com o desenvolvi-
Roma antiga por baccalaureus (“bagas de tradições os seus destinos, até ao ponto dessa mento de místicas ambientalistas de raiz ur-
louro”), palavra da qual viria a derivar a de- relação influenciar profundamente a lingua- bana, tem contribuído para apagar dos nos-
signação actual de bacharel e, na língua in- gem real e simbólica. Mesmo em português sos conceitos o papel determinante que o
glesa, a de solteiro, solteirão, ou celibatário – e Portugal é tantas vezes apontado como homem tem desempenhado desde tempos
(bachelor), o que parece revestir-se de alguma um país sem tradição florestal – os que não muito remotos, mas especialmente desde o
ironia, considerando que o termo original era se adaptam a um novo local dizem-se desen- final da última glaciação, na formação dos
aplicado aos estudantes mais promissores, que raizados, a queda das folhas serve de imagem ecossistemas terrestres que conhecemos e
dificilmente se veriam a partir daí numa si- quer à calvície, quer à entrada na velhice, o que nos habituámos a chamar, de forma sim-
tuação desse tipo, a menos que por ela pug- tórax humano é popularmente designado por plista, naturais. Vários autores e de variados
nassem activamente (Thomas, 2000). tronco, uma família que prolifera através da domínios do conhecimento têm acentuado
sua descendência cria ramos… o carácter eminentemente antrópico de mui-
A relação natural entre as florestas Uma das frases mais felizes alguma vez es- tos destes espaços ditos naturais.
e as sociedades humanas crita sobre esta relação dinâmica entre ho- Como poderia ser de outro modo, se o de-
mens e florestas e, em particular, sobre a sua senvolvimento económico e social dependeu
Estas tradições culturais e particularidades aplicação no espaço florestal português, deve- ao longo de milénios das árvores e da sua ma-
de linguagem sugerem desde logo a existên- -se a Devy-Vareta (1993), que a formulou deira, como combustível e material de cons-
do seguinte modo: “É um facto adquirido trução? Já esquecemos hoje que as comodi-
que a floresta presente é um produto simul- dades urbanas do fogão a gás e do forno eléc-
taneamente natural e social que resulta de trico têm escassas dezenas de anos. Há não
muito mais de 50 anos cozinhava-se, ainda e
sobretudo, com lenha ou com derivados des-
ta, mesmo em algumas cidades, e o acesso a
combustíveis naturais era uma condição es-
sencial para a sobrevivência física na maior
parte do território português, como, aliás, no
de outros países já então considerados de-
senvolvidos. É certo que a casa de madeira
nunca foi provavelmente muito popular entre
nós, mas a razão pode bem ter-se prendido
com o maior acesso e facilidade de utilização
Figura 3 de materiais menos perecíveis do que a ma-
Esta árvore – um diospireiro (Diospyrus kaki) – encontra-se
em Sintra e a placa informativa que a acompanha é bem
deira para a construção do lar. Como salien-
elucidativa do motivo por que lá foi plantada. tou McNeely (1998), a pressão humana sobre
Nas árvores se tem também procurado, muitas vezes,
símbolos de vida e de paz e, a avaliar por este exemplo,
a floresta, tanto no passado próximo como
com algumas boas razões... no mais remoto, foi constante e generalizada,

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COMUNICAÇÃO
levaram alguns escritores gregos do primeiro permitindo-lhes expandir-se e desenvolver-
milénio antes de Cristo, como Homero e -se social e tecnologicamente.
Platão, a tecer comentários que chegaram Os espaços florestais deverão, por isso, ter
aos nossos dias e que soam familiares quando ficado desde cedo sujeitos ao confronto com
comparados com os textos reproduzidos nos aquelas populações humanas em expansão
media actuais (McNeely, 1998). e desenvolvimento, passando por vicissitu-
Thirgood (1981) relatou algumas das conse- des em tudo semelhantes às que ocorreram
quências nefastas para as florestas dos inúme- noutras partes do Mundo habitadas desde
ros conflitos ocorridos, na Antiguidade, no cedo. Os estudos efectuados na Península
seio do caldeirão de culturas que foi o Medi- Ibérica demonstraram a ocorrência de mo-
terrâneo. A madeira terá sido certamente dificações muito significativas da vegetação,
aquilo que hoje designaríamos como matéria- por acção humana, provavelmente desde o
-prima de elevado valor estratégico: além de quarto ou quinto milénio antes de Cristo,
FLORESTAL ser indispensável para cozinhar os alimentos seguramente desde o terceiro (Pais, 1989;
das populações e dos exércitos em campa- Mateus e Queiroz, 1993; Blanco Castro et
nha, com ela se construíam navios, armas e al., 1997). Quando nos queixamos hoje do
máquinas de guerra. Quem vencia apoderava- mal que se faz às árvores e florestas que tanto
-se das florestas dos vencidos, bem como da gostamos de considerar “naturais” e “vir-
ao ponto de não restarem provavelmente no sua produção de madeira, que sobrexplorava gens”, temos provavelmente alguma razão
Mundo muitas áreas florestais que não te- em seu benefício. Se o não pudesse fazer, no que se refere à escala das alterações que
nham sido significativamente afectadas pelas mais valia que as queimasse. É, por isso, pro- produzimos, mas não no que respeita à sua
sociedades humanas em alguma época. vável que florestas notáveis, como a dos cé- natureza (McNeely, 1998). De facto, o que
Na Europa em geral e na região Mediterrâ- lebres cedros do Líbano, tenham estado por é natural é uma floresta que convive há mi-
nea em particular, a pressão sobre a floresta várias vezes em risco de não sobreviverem no lénios com o homem, reflectindo na sua es-
tem sido, desde há milénios, especialmente seu ambiente natural, estimando-se actual- trutura e composição a acção da cultura ou
intensa e dramática, com episódios repetidos mente que resta no Monte Líbano menos de das culturas humanas que viveram em rela-
de desflorestação e de recuperação da área 3% da área originalmente coberta por aquela ção com os espaços florestais ao longo de
florestal (Thirgood, 1981; Rackham, 1998; espécie (Musselman, 2003), o que não se períodos muito longos.
Blondel e Aronson, 1999). Não se pode co- deve, de todo, apenas a pressões recentes no A principal ferramenta do rural em convívio
locar, portanto, a opção de manter pretensas espaço por elas ocupado. com a floresta, desde tempos remotos, fosse
“florestas naturais” (embora o conceito possa ele agricultor sedentário ou pastor nómada,
ainda ter alguma utilidade na definição dos E em Portugal? foi o fogo. Com ele se limpavam e limpam,
objectivos do ordenamento florestal), mas ainda hoje, os pastos e as terras de cultivo da
tão-somente a de encontrar o melhor com- Como deverá ter acontecido na generalidade invasão de espécies lenhosas arbustivas ou ar-
promisso entre uma floresta que seja sufi- das regiões temperadas do Mundo afectadas bóreas indesejadas, sem grandes encargos que
cientemente próxima do que se supõe que pelas glaciações do quaternário, a floresta as débeis economias rurais raramente podem
seria o seu estado na ausência de perturba- portuguesa, tal como a conhecemos actual- suportar (Alves et al., 2006). As queimadas
ções provocadas pelo homem e uma ocupa- mente, começou a formar-se provavelmente que ocorreram na fase tardia da Idade do
ção do solo que seja útil à sociedade, em ter- entre cerca de 16 e 10 mil anos atrás, quando Bronze (há cerca de 3 mil anos), contempo-
mos da diversidade de bens e de serviços de- o fim da última glaciação alterou significati- râneas da expansão das culturas agrícolas e da
pendentes da existência de áreas florestais vamente as condições climáticas predomi- pastorícia (Mateus e Queiroz, 1993), pare-
(Aplet et al., 1993). nantes no território e fez subir o nível médio cem ter destruído uma boa proporção dos
Neste contexto de intervenção do homem dos mares em mais de 100 metros (Rodri- maciços florestais do nosso País, ou contribuí-
sobre a Natureza, as civilizações que se de- gues et al., 1990). A alteração da linha de do pelo menos para deixar o coberto arbóreo
senvolveram em torno da Bacia Mediterrâ- costa e as mudanças climáticas associadas a mais aberto, um pouco por todo o território.
nea desempenharam sempre, histórica e tra- este processo devem ter induzido nas comu- Os períodos correspondentes ao Bronze Final
dicionalmente, o papel de “inimigos decla- nidades vegetais terrestres alterações pro- e ao Alto e Baixo-império Romanos corres-
rados” da floresta e, em geral, dos espaços fundas, desencadeando novas sucessões eco- ponderam, muito claramente, a fases de grande
naturais, que procuraram humanizar em seu lógicas, as quais influenciaram seguramente expansão da ocupação rural do território, re-
benefício (Thirgood, 1981; Blondel e Aron- a génese da floresta contemporânea. Simul- metendo para o fundo dos vales as relíquias
son, 1999; Alves et al., 2006). As extensas taneamente, as comunidades humanas desta de carvalhais marcescentes e de urzais subar-
desflorestações operadas por Cretenses, Gre- região passaram a ter à sua disposição novas bóreos (Mateus e Queiroz, 1993).
gos, Cartagineses, Romanos e outros, a bem extensões territoriais com um clima mais Entre a Idade do Bronze e o início da Na-
da obtenção de madeira ou da expansão da ameno (principalmente pelo recuo de áreas cionalidade, as modificações sofridas pela
cultura da oliveira, da vinha ou dos cereais, com presença prolongada de neve e gelo), vegetação da Península Ibérica parecem ter-

58 INGENIUM | Maio/Junho 2007


se caracterizado, assim, pelo recuo do co-
berto florestal, em consequência da ocupa-
ção dos solos pela agricultura e pela pasto-
rícia, bem como da exploração intensiva das
matas para a satisfação de necessidades quo-
tidianas das populações rurais, embora cer-
tamente com avanços e retrocessos. A per-
manência, na Península, de Romanos e Ára-
bes acentuou a extensão do espaço rural hu-
manizado, mas, paradoxalmente, ao tempo
da ocupação islâmica, o Ocidente Peninsu-
lar era considerado privilegiado quanto à dis-
ponibilidade de madeira, em comparação
com outras regiões do Islão. Textos de es-
critores árabes dos séculos X a XII mencio-
Figura 5 – Parcela de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) em regeneração nas dunas do litoral,
nam expressamente Alcácer do Sal e áreas perto da Marinha Grande (em último plano, uma mancha de pinhal adulto). Considerada hoje como autóctone do litoral
do Algarve actual como produtoras de ma- arenoso do Norte e Centro, esta espécie foi a escolhida no passado para a fixação das dunas móveis, formando actualmente
pinhais com grande importância ambiental e económica
deira adequada para construção naval, que
era inclusivamente exportada (Torres, 1992). O pouco que se sabe sobre as primitivas con- reta, 1993; Sousa, 1993), contemporânea,
Aos árabes se tem atribuído, aliás, papel de dições de navegabilidade dos principais es- aliás, das fases mais precoces do surgimento
relevo no desbravamento das terras a Sul do tuários portugueses parece confirmar esta da nossa epopeia marítima. No século XVI,
Tejo, bem como na expansão e exploração especulação. Ribeiro (2001), citando outros pelo contrário, quase todos os navios portu-
dos montados de sobro e azinho (Sousa, autores, dá conta da navegabilidade do Mon- gueses eram construídos com madeiras tro-
1993) (Figura 4). dego e do Douro, no início da nacionalidade, picais obtidas em territórios que domináva-
até muito para montante, mos (Devy-Vareta, 1993; McNeely, 1998),
bem como da existência substituindo as importadas da Europa.
de grandes portos asso- A exploração desordenada da floresta por-
ciados, por exemplo, a tuguesa, não obstante as diversas tentativas
actuais pequenas ribeiras da administração central para a contrariar,
da região Oeste: Salir do manteve-se até ao século XIX: só há cerca
Porto abrigaria cerca de de dois séculos se começou a estabilizar um
70 navios de alto bordo e aumento regular da área florestal ordenada
Alfeizerão quase outros em Portugal, bem como a consolidação do
tantos, embora como es- sector na economia nacional (Devy-Vareta,
taleiro. O assoreamento 1993; Alves, 1994; Radich e Alves, 2000;
subsequente, consequên- Alves et al., 2006), em consonância com a
Figura 4 – Um montado de sobro na região de Alpiarça. cia da erosão resultante criação e o desenvolvimento de uma Admi-
Os sobreiros e os montados de sobro, cuja cultura gostamos de considerar
como efectuada em condições próximas da Natureza, foram favorecidos pelo homem,
do corte das matas e do nistração Florestal de tipo moderno, com a
na Península Ibérica, desde há milénios (Foto: André Fabião) desbravamento de terras formação especializada em engenharia flo-
nas serras a montante, restal, que celebra no ano corrente os seus
Posteriormente, após a fundação da nacio- terá acabado com estas condições bem cedo 150 anos (Alves, com. pessoal, Março de
nalidade, a reconquista e a reorganização dos na Idade Média. 2006), e com a intervenção activa na cria-
espaços rurais traduziram-se num reforço Os efeitos desta exploração desordenada das ção e recuperação do coberto florestal. À
substancial da pressão humana sobre os re- matas sobre a disponibilidade de madeiras administração florestal organizada e à activi-
cursos florestais, explorados para madeira para construção naval começaram a fazer-se dade de profissionais da floresta se ficou
de construção, carvão e lenha, expansão da sentir a partir de finais do século XIII, le- então a dever também aquela que é talvez
agricultura e do pastoreio e construção naval, vando à importação de madeiras provenien- a única ou, pelo menos, uma das poucas das
esta última fundamental para garantir as re- tes principalmente dos portos hanseáticos e grandes obras de engenharia ambiental que
lações comerciais com a Europa e o Medi- da Rússia, França e Espanha, embora inicial- alguma vez se concluiu com total sucesso
terrâneo (Sousa, 1993; Ribeiro, 2001). So- mente de forma pouco regular (Devy-Va- em Portugal: a fixação, pela arborização, das
bretudo a Norte do Tejo, a colonização do reta, 1993). A partir do século XIV, con- dunas móveis do litoral, cujo avanço sobre
interior serrano, com a correlativa pressão tudo, a importação de madeiras do resto da as terras de cultura destruía e despovoava,
humana sobre a vegetação natural, deverá Europa foi-se transformando regularmente em finais do século XVIII e no século XIX,
ter criado condições francamente favoráveis de um fenómeno esporádico numa prática campos e aldeias ao longo de grande parte
à erosão acelerada dos solos mais declivosos. comercial comum (Costa, 1993; Devy-Va- da costa (Figura 5).

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COMUNICAÇÃO
em Portugal, uma influência muito antiga do ibérica mais meridional, ao favorecer deli-
homem, que nela buscou desde épocas re- beradamente estas espécies desde há milé-
motas alimento, abrigo, combustível e ma- nios, como, aliás, o fez com outras a que
térias-primas, condicionando, deste modo, achou algum tipo de utilidade.
a sua fisionomia e composição específica. O mito da floresta natural intocada, virgem
Para a sociedade rural, os espaços florestais das pegadas do homem, surge, assim, como
dificilmente constituíram alguma vez um es- um subproduto da cultura urbana moderna,
paço natural no sentido da não intervenção numa sociedade já quase totalmente divor-
com objectivos económicos e sociais. É ver- ciada das suas raízes rurais, que apenas re-
dade que da presença da floresta se podia vive em períodos de recreio e lazer. Qual
esperar protecção e enquadramento das cul- personagem queiroziana de “A Cidade e as
turas e sombra e amenidade para os gados, Serras”, o cidadão urbano já não vê (feliz-
uma vez resolvido pela caça – frequente- mente) no mundo rural a realidade crua e
FLORESTAL mente excessiva e desordenada – o problema incómoda de um dia-a-dia vivido na neces-
da abundância de carnívoros selvagens. Mas, sidade de optimizar para a sobrevivência fí-
além disso, o rural sempre esperou obter do sica e económica o uso dos recursos dispo-
coberto arbóreo a lenha para cozinhar, a ma- níveis, mas tão-somente a felicidade de dis-
O mito urbano da floresta natural deira para cercas e instrumentos agrícolas por de uma ambiente calmo e tranquilo, sem
tradicionais, tantas vezes manufacturados na ruídos e poluições, onde a fauna e a flora
O homem começou a utilizar as árvores e as própria exploração, e o suporte para o cres- mantêm uma riqueza e uma diversidade que
florestas para os mais diversos fins desde cimento de outras plantas cultivadas, como nos vamos cada vez mais desabituando de
cedo no desenvolvimento das suas socieda- por exemplo na vinha de enforcado de entre observar no nosso quotidiano. A floresta na-
des, sendo essa, aliás, uma das razões por- Minho e Vouga (Ribeiro, 1998). Algumas tural deste mito urbano é, talvez, o renascer
que o termo “natural” aplicado às árvores e espécies podem mesmo ter tido um papel das árvores e florestas sagradas de outros
às florestas deve ser entendido dentro dos relevante no fornecimento ao gado de pasto mitos mais remotos que ainda trazemos no
limites dessa relação há muito estabelecida, arbóreo de Verão, época do ano em que mui- nosso inconsciente colectivo. Talvez faltem
tanto em Portugal, como noutras partes do tas espécies herbáceas se apresentam já secas apenas os deuses tutelares e, já agora, sacer-
Mundo. Não é que a floresta deixe por isso e destituídas de valor forrageiro, ou no com- dotes mais dignos e convincentes…
de ser um ecossistema natural, no sentido plemento da alimentação daquele com fru-
de apresentar o funcionamento organísmico tos e sementes nutritivos, como as bolotas. * Departamento de Engenharia Florestal,
que atribuímos aos ecossistemas e de ser um Na Península Ibérica, López González (2004) Instituto Superior de Agronomia,
resultado da acção de forças da Natureza. salientou o importantíssimo papel da acção Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa
Contudo, a floresta actual reflecte também, humana na formação dos montados de sobro Tel.: 21 365 34 88 – Fax: 21 364 50 00
na velha Europa em geral e, em particular, e azinho, hoje emblemáticos da paisagem E-mail: afabiao@isa.utl.pt

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60 INGENIUM | Maio/Junho 2007


COMUNICAÇÃO
Reforço de Terrenos com Resinas Expansivas
Um Caso de Obra: Edifício Monumental
de “Punta Della Dogana”, em Veneza
algumas das causas que provocam assenta- partículas durante o processo de solidifica-
mentos diferenciais que podem induzir des- ção, dando, assim, origem a um aglomerado
locamentos da estrutura de valor superior de partículas e resina no estado sólido. O vo-
ao tolerável provocando fissuração mais ou lume de terreno tratado deste modo melhora
menos grave. substancialmente as características mecâni-
Desde 1996 que se procede ao reforço dos cas de resistência ao corte e à compressão.
CIVIL terrenos de fundação, mediante a aplicação
de uma injecção de resina expansiva, atra- 2.2 – Terrenos Coesivos
vés de tubos de pequeno diâmetro (inferior O efeito da injecção de resina em terrenos
a 20mm) inseridos directamente na funda- com circulação hídrica muito lenta (siltes e
Jorge Alves *
ção. argilas) é diferente do ocorrido com os ter-
As características peculiares do material in- renos granulares. Nos maciços coesivos, a
jectado são: a elevada pressão de expansão, resina, expandindo-se, não consegue perco-
1. Introdução que se desenvolve com a mistura dos seus lar nos vazios, penetrando no solo pelas micro
dois componentes constitutivos, o reduzido fissuras provocadas pela pressão hidráulica.
Quando aparecem problemas nos órgãos de tempo de reacção (poucos segundos) e a A expansão (aumento de 2 a 20 vezes o vo-
fundação dos edifícios existentes, as inter- consequente solidificação do fluído. lume inicial) comprime o terreno circun-
venções, necessárias à sua recuperação, apre- A Resina, que foi desenvolvida em colabo- dante, acelera o fluxo de água existente nos
sentam muitas vezes problemas de difícil ração com a Universidade de Estudos de vazios e adensa o solo, aglomerando, ao
solução derivados das diferentes tipologias Pádua, apresenta as características peculia- mesmo tempo, os sedimentos dispersos na
de construção e da necessidade de preser- res que a tornam particularmente adequada sua massa.
vação das paredes. ao tipo de utilização descrito acima, entre É evidente que, como em qualquer opera-
A tecnologia ilustrada a seguir prevê o me- elas a força de expansão máxima de 10 Mpa. ção deste tipo, deverá ser efectuada uma
lhoramento das características volumétricas Trata-se de uma tecnologia especialmente adequada monitorização no final da injecção,
e mecânicas do terreno subjacente à inter- indicada para edifícios antigos e históricos para verificar a sua eficácia na melhoria das
face terreno-estrutura maioritariamente in- onde, por vezes, é impossível intervir estru- características mecânicas do terreno e nos
fluenciado pelas cargas induzidas, sem inter- turalmente nos órgãos de fundação dos quais ajustamentos que irão ocorrer nas estrutu-
vir onde não seja estritamente necessário, se desconhecem a forma e as dimensões. ras. Esta monitorização é executada com
isto é, para além dos órgãos de fundação. precisão milimétrica, com auxílio de nível
Através de um exame atento das fissuras e 2. Efeito Causado pela Injecção da Resina laser, através do controlo dos deslocamen-
da geologia ocorrente no local, é geralmente tos, verificados em alvos colocados estrate-
possível obter uma boa aproximação das cau- 2.1 – Terrenos Granulares gicamente na estrutura, em relação a um
sas de uma avaria. Quando a intervenção é efectuada em terre- ponto fixo materializado fora da zona de in-
Uma situação geológica variável, infiltrações nos muito permeáveis (areias e seixos), a re- fluência das injecções.
de água ou variações do nível freático, são sina penetra nos vazios do solo e envolve as Não sendo o terreno um meio que transmite
homogeneamente os esforços em todas as
direcções (meio anisotrópico), a direcção
privilegiada para a expansão será inicialmente
a horizontal, provocando a formação de micro
fissuras na vertical. Depois de alcançado um
acréscimo de resistência e de homogeneiza-
ção da massa de solo, dar-se-á uma compres-
são do terreno na direcção vertical, que pro-
vocará a ocorrência de micro fissuração na
direcção horizontal e a consequente eleva-
ção da estrutura que deverá ser controlada
permanentemente com o nível laser para
Figura 1 – Comparação entre a injecção em terrenos granulares e coesivos evitar esforços excessivos.

62 INGENIUM | Maio/Junho 2007


a dissipação do acréscimo das tensões neutras
provocado pela primeira fase de injecções.
A grande flexibilidade do método e o em-
prego de meios de reduzidas dimensões pos-
sibilitaram a execução dos trabalhos, man-
tendo o edifício a funcionar sem necessidade
de trabalhos suplementares, o que represen-
tou uma economia de tempo e de custos.
A perfuração, para colocação dos tubos de
injecção, foi efectuada através dos órgãos de
fundação das estruturas, com diâmetros va-
riáveis entre os 18 e os 26 mm, realizada
com meios manuais pouco agressivos, de
modo a preservar o equilíbrio precário das
estruturas.
Figura 2 – Localização do edifício Durante a primeira fase dos trabalhos, foram
efectuadas injecções sob as fundações do
A rapidez do processo de expansão permite de partículas de solo através do muro cais edifício em níveis variáveis de quatro a sete.
circunscrever cada injecção numa área res- ocorrida durante os trabalhos de reparação As profundidades máximas atingidas foram
trita, sem o perigo da resina fluir para zonas da muralha. de -8,50m, em referência ao nível do mar,
não convenientes. O carácter pontual da in- Com o objectivo de recuperar a edificação na zona do Canal Grande, e de -5,0m, na
tervenção permite restringir a zona a tratar na zona afectada, procedeu-se à consolida- zona do Canal da Giudecca, sendo a distân-
ao terreno efectivamente interessado pelas ção dos terrenos interessados pelas funda- cia entre cada nível de cerca de 1,0m. Re-
cargas induzidas pela estrutura, isto é, a área ções mediante recurso à injecção de resinas sultando uma malha de furos com espaça-
do bolbo de pressões referenciado pela teo- expansivas (Figura 4). mentos de cerca de 50cm.
ria de Boussinesq. As intervenções foram efectuadas em três Nesta fase, foi ainda concretizada uma in-
fases, durante 6 meses, de modo a permitir tervenção pontual em coluna, realizada com
3. Um Caso de Obra

O edifício monumental de “Punta della Do-


gana”, em Veneza, que divide a bacia de San
Marco nos dois canais, Canal da Giudecca
e Canal Grande (Figura 2), foi edificado em
1677 com o fim de funcionar como alfân-
dega para controlo das embarcações que en-
travam e saíam da cidade.
Em Maio de 2003, este Edifício sofreu im-
portantes e inesperados assentamentos na
sua zona mais estreita, adjacente ao Canal
Grande, que provocaram fissuração signifi-
cativa nas estruturas (Figura 3).
Estes fenómenos foram devidos à migração
Figura 4 – Injecção da resina

a colocação de um tubo de injecção num


furo e injectando a resina a uma velocidade
controlada, interessando apenas uma zona
restrita de terreno localizado atrás do muro
cais entre as cotas -8,50 e -3,0 m.
A 1.ª fase da consolidação foi efectuada num
comprimento total de 87,20m.
A seguir apresenta-se um quadro resumo
com indicação dos comprimentos das zonas
tratadas em função do número de níveis de
Figura 3 – Aspecto da fissuração provocada pelo assentamento injecção e a sua localização em planta.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 63


COMUNICAÇÃO 2.ª FASE DA INTERVENÇÃO – Divisão por níveis Os métodos de controlo adoptados foram
Três níveis de injecção 12,00 ml os seguintes:
Quatro níveis de injecção 17,50 ml
– Observação com nível laser dos desloca-
Cinco níveis de injecção 18,10 ml
Total 47,60 ml mentos verticais da edificação durante a
execução das injecções;
– Observação com nível laser, na zona da
edificação tratada, durante um período
de 6 meses;
– Ensaios com Penetrómetro Dinâmico Pe-
sado (DPM30) nos terrenos afectados,
antes, durante e depois da intervenção.
Na Figura 7 apresenta-se a evolução, no
tempo, dos deslocamentos verticais da edi-
CIVIL ficação. No gráfico distinguem-se as diversas
fases de injecção, podendo observar-se um
acréscimo significativo nas cotas dos pontos
1.ª FASE DA INTERVENÇÃO – Divisão por número de níveis sujeitos a um tratamento mais intenso.
Quatro níveis de injecção 16,10 ml
Figura 6 – planta da 2.ª fase de intervenção Na Figura 8 apresenta-se a comparação entre
Cinco níveis de injecção 12,00 ml
Seis níveis de injecção 23,50 ml
Sete níveis de injecção 18,10 ml
Tratamento em coluna 17,50ml
Total 87,20 ml

Figura 7
Deslocamento geral verificado em cada ponto

Ensaios com Penetrómetro Dinâ-


Figura 5 – Planta da 1.ª fase de intervenção mico Pesado (DPM30) nos terre-
nos afectados, antes, durante e de-
pois da intervenção.
A 2.ª fase de injecções foi limitada a 47,60m Os ensaios foram realizados com o
contínuos ao longo da muralha, não tendo penetrómetro DPM30, com um
sido efectuados tratamentos em coluna. pilão de 30kgf e uma altura de queda
O número de níveis de injecção variou de 3 de 0,20m. O gráfico representa o
a 5, passando do Canal Grande ao Canal de número de golpes necessários para
Giudecca. uma penetração de 0,10m. O grá-
Na 3.ª fase da intervenção, trataram-se ape- fico compara os ensaios EPA, efec-
nas 18,0m de fundação, limitados à parte do tuados antes da intervenção, com
edifício situada na margem do Canal Grande, os ensaios EP1, realizados depois da
que foi a zona de terreno que sofreu maio- 1.ª fase, EP2 e EP3, realizados no
res assentamentos. fim da 2.ª fase e EP4 efectuados de-
A monitorização efectuada ao longo do pe- pois da conclusão da 3.ª fase.
ríodo em que decorreram os trabalhos per-
mitiu verificar o sucesso da intervenção, não * Engenheiro Civil, Membro Sénior da OE
só em termos de nivelamento do edifício Especialista em Geotecnia
mas, também, na melhoria das característi- Figura 8
cas mecânicas dos solos. Comparação entre os ensaios de DPM30

64 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Ordem atenta
à legislação profissional
Fernando Santo * calização de obras e às obras públicas, ainda
se mantiveram disposições que merecem uma
Assembleia da República está a apreciar forte crítica por parte da Ordem.

A
DESTAQUE
diversas propostas de lei sobre as quais Da análise da Proposta de Lei n.º 116/10
a Ordem dos Engenheiros apresentou resultou o documento designado por “Con-
contributos, casos da revisão dos Decretos testação da Ordem dos Engenheiros à Pro-
73/73 e 555/99, e dos quais aqui se deixa o posta de Lei n.º 116/10 – Revisão do Decreto
essencial. 73/73”, que poderá ser consultado no Por-
O Parlamento recebeu ainda, muito recen- tal do Engenheiro (www.ordemdosengenhei-
temente, a apresentação do Projecto de Lei ros.pt), no qual se fundamentam as críticas
n.º 384, correspondente ao Regime das As- e se apresenta um conjunto de propostas de
sociações Públicas Profissionais, numa ini- alterações para os artigos que merecem a
ciativa do Grupo Parlamentar do Partido nossa discordância, das quais destacamos, en-
Socialista. Este último documento encon- tre outros:
tra-se em fase de apreciação por parte da O exclusivo da arquitectura para os arqui-
Ordem dos Engenheiros e do Conselho Na- tectos, à revelia do que se encontra apro-
cional das Ordens Profissionais (CNOP), vado pela Directiva Arquitectura, publi-
prevendo-se para breve uma tomada de po- cada em 1985, na qual se reconhecem
sição das duas entidades. competências aos engenheiros civis de 4
universidades portuguesas para elaborarem
A Revisão do Decreto 73/73 projectos de arquitectura. Entendemos
que a situação dos restantes engenheiros
O Governo apresentou, em Outubro de civis e de outros profissionais, reconheci-
2006, a primeira versão da proposta de re- dos legalmente durante os últimos 34 anos,
visão do Decreto 73/73, relativo à qualifica- deverá merecer um tratamento especial;
ção dos técnicos responsáveis pela elabora- A omissão da identificação dos projectos
ção de projectos sujeitos a licenciamento de engenharia necessários para a constru-
municipal. Após um período de audição de ção de um edifício, o que justifica a intro-
diversas entidades e da introdução de algu- dução da identificação desses projectos
mas das alterações decorrentes das críticas outros no capítulo relativo aos edifícios;
formuladas, entre as quais as da Ordem dos Contestamos que as obras de engenharia
Engenheiros, a proposta foi aprovada em civil, para além dos edifícios, sejam desig-
Conselho de Ministros e submetida à apro- nadas por outras obras, exigindo-se a dig-
vação da Assembleia da República sob a de- nidade própria para a designação de obras
signação de Proposta de Lei n.º 116/10, tão importantes como barragens e outras
tendo sido aprovada na generalidade. obras hidráulicas, vias de comunicação, por-
Seguir-se-á a discussão na especialidade, com tos, pontes, etc.;
a audição de diversas entidades, entre as Contestamos a ausência de um quadro
quais a Ordem dos Engenheiros. claro quanto à regulação da função de di-
Apesar da actual proposta contemplar os prin- rector de obra, de acordo com o tipo de
cípios defendidos pela Ordem dos Engenhei- obra e classe de alvarás;
ros, conforme proposta apresentada ao Go- Contestamos que seja reconhecido aos ar-
verno em Dezembro de 2004 e Maio de 2005, quitectos o direito de fiscalizar obras de
designadamente, o alargamento do âmbito de engenharia e consideramos que deverá ser
aplicação do novo diploma, à direcção e fis- limitada essa função para outros grupos

66 INGENIUM | Maio/Junho 2007


profissionais, que não sejam engenheiros borámos uma apreciação e enunciámos um não se pode dar parecer favorável à inexis-
ou engenheiros técnicos. conjunto de alterações a diversos artigos, tência de provas de admissão. Poderemos
A Ordem dos Engenheiros tem vindo a ser conforme consta do documento divulgado discutir se as provas devem acontecer no
recebida pelos diferentes Grupos Parlamen- no Portal do Engenheiro (www.ordemdo- momento da admissão ou após a conclusão
tares, a quem o Bastonário tem apresentado sengenheiros.pt). do estágio, mas não se podem reconhecer as
as posições defendidas no documento, para A preocupação de harmonizar as disposições formações académicas que não dêem as com-
que sejam tidas em conta na discussão da da revisão do Decreto 73/73 com a revisão petências necessárias para a prática de pro-
versão final da Proposta de Lei. do Decreto-Lei n.º 555/99, esteve presente fissões reguladas.
Dado que, em simultâneo, o Governo tam- nos documentos apresentados pela Ordem. A exposição de motivos é omissa num as-
bém aprovou a proposta de revisão do De- pecto importantíssimo, isto é, a condição de
creto-Lei n.º 555/99 – Regime Jurídico da Projecto de Lei n.º 384 membro de associação profissional deve ga-
Urbanização e da Edificação, as propostas Regime das associações rantir, perante a sociedade, que o respectivo
da Ordem procuraram harmonizar diversas públicas profissionais titular satisfaz as condições mínimas para o
disposições comuns aos dois diplomas. desempenho da profissão.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista Sem a prerrogativa opcional de exigência de
Proposta de Lei para revisão apresentou, no Parlamento, uma iniciativa prestação de provas ou, alternativamente,
do Decreto-Lei n.º 555/99 legislativa para enquadrar a organização, as de participação na aprovação da denomina-
Regime Jurídico da Urbanização atribuições e os princípios gerais de funcio- ção e desenho curricular dos cursos de acesso
e da Edificação namento das associações públicas profissio- às profissões, o cumprimento da atribuição
nais, nas quais se incluem as Ordens. estabelecida na alínea b) do n.º 1) “A regu-
No âmbito da simplificação dos procedimen- Comparando com o teor dos actuais estatu- lação do acesso e do exercício da profissão”
tos administrativos, o Governo aprovou, em tos da Ordem dos Engenheiros, nota-se uma fica manifestamente limitado.
reunião do Conselho de Ministros do dia 15 clara redução de âmbito e de atribuições. Para além destes aspectos, há uma clara in-
de Junho, a proposta para revisão do De- O presente projecto de lei remete as asso- tenção, expressa na proposta, de limitar a
creto-Lei n.º 555/99, a qual seguirá para ciações profissionais para uma actividade independência das associações profissionais,
apreciação e aprovação pela Assembleia da quase exclusiva de conservatória de registo nomeadamente quando no n.º 3, do artigo
República. de profissionais, o que não parece, de modo 29.º se refere “o diploma de criação estabe-
Recorde-se que este diploma teve a sua ori- nenhum, aceitável. lece qual o membro do Governo que exerce
gem no Decreto-Lei n.º 166/70, de 15 de Ainda que a lei preceitue, no seu artigo pri- os poderes de tutela sobre cada associação
Abril, que regulava o procedimento admi- meiro, a respectiva aplicabilidade apenas às pública profissional”.
nistrativo para o licenciamento municipal, o novas associações a formar ou às existentes Também o direito dos funcionários públicos
qual introduziu um princípio inovador, para que manifestem vontade de se submeter ao se encontra limitado através do n.º 2 do ar-
a época, em todo o processo tradicional. Foi novo regime, é importante aferir na Ordem tigo 19.º, referindo que “o cargo de titular de
a partir do Decreto-Lei n.º 166/70, que se dos Engenheiros as implicações deste regime órgão das associações públicas profissionais é
atribuiu aos técnicos a responsabilidade pelo geral e compará-lo com as respectivas aspi- incompatível com o exercício de quaisquer
cumprimento das normas e regulamentos rações de desenvolvimento estatutário. funções dirigentes na função pública e com
em vigor, dispensando os serviços da admi- Uma futura proposta de alteração de esta- qualquer outra função com a qual se verifi-
nistração pública da sua verificação. Decor- tutos não poderá ignorar uma eventual lei que um manifesto conflito de interesses”.
rente desta iniciativa, surgiu o célebre De- de enquadramento que na altura esteja em Estes são, entre outros, alguns dos aspectos
creto 73/73, que passou a definir a qualifi- vigor. O presente projecto de lei é clara- que merecem uma forte contestação por
cação dos técnicos que poderiam ser respon- mente condicionante de uma futura proposta parte das ordens profissionais.
sáveis pela elaboração de projectos sujeitos de alteração de estatutos da OE. Não está em causa a existência de uma Lei-
a licenciamento municipal. Um aspecto fundamental diz respeito à visão -quadro que regule a constituição e a orga-
Apesar do Decreto-Lei n.º 166/70 ter, en- dogmática de que a frequência de um curso nização das associações públicas profissionais,
tretanto, sofrido diversas alterações, o mesmo aprovado pelo Estado é suficiente para ga- mas estas não poderão perder o seu estatuto
não sucedeu com o Decreto 73/73. rantir que, após estágio e formação deonto- de entidades da administração pública autó-
Por isso, e decorridos mais de 34 anos, a re- lógica, o candidato pode ingressar na asso- noma do Estado, com a independência que
visão simultânea dos dois Decretos, não pode ciação profissional. Na realidade, mesmo que as tem caracterizado e que sempre soube-
deixar de merecer um especial destaque, fe- não estivesse em causa a qualidade do en- ram preservar ao longo de muitas gerações,
licitando-se o Governo por esta iniciativa, sino, e sabemos que a avaliação é franca- mesmo no tempo do regime ditatorial.
pese embora os aspectos críticos formulados mente negativa, há que atender à presente O texto integral da Proposta de Lei poderá
pela Ordem dos Engenheiros. situação, de pulverização de cursos com de- ser consultado no Portal do Engenheiro
Sobre a Proposta de Lei que o Governo en- signações confusas, e de estruturas curricu- (www.ordemdosengenheiros.pt).
viou à Ordem dos Engenheiros, antes da sua lares não necessariamente orientadas para o
aprovação em Conselho de Ministros, ela- exercício de uma profissão. Por esta razão, * Bastonário da Ordem dos Engenheiros

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 67


Este artigo constitui
o início de uma sequência
de informação que a
Uma Apresentação Geral
“Ingenium” entende
divulgar sobre dos Eurocódigos Estruturais
os Eurocódigos Estruturais
a implementar pelos
Estados-membros da UE.
DESTAQUE

Luís Leite Pinto * do presente texto. Assim, se a matéria for


árida ou de limitado interesse técnico, uma
sua divulgação poderá resultar interessante
quando desafiar para a controvérsia. Se ela
Nota Prévia ocorrer nas linhas que se seguem, o objec-
tivo foi esse e apenas esse.
A apresentação geral de um regulamento é
feita, geralmente, no seu preâmbulo, no qual, 1. Introdução
entre outras informações, se referem ante-
cedentes e se justificam disposições. Uma Do conhecimento que se tem, julga-se que
apresentação ou se limita àqueles aspectos os Eurocódigos estruturais não conduzirão a
ou pode ultrapassá-los, entrando no domí- uma mudança radical dos hábitos de pro-
nio do comentário técnico, artigo a artigo, jecto, como foi o caso, no passado, com as
constituindo, então, o que poderia ser uma revisões regulamentares que adoptaram mo-
“edição anotada”. dernos critérios de segurança, baseados na
É claro que existem outros tipos de apre- consideração de “estados limites” em subs-
sentação, como sejam, por exemplo, as rea- tituição do critério tradicional das “tensões
lizadas sob a forma de seminário ou sob a de segurança”, o qual, aliás, ainda se aplica
forma de artigo de opinião, como é o caso à data e na maioria dos casos ao projecto de

68 INGENIUM | Maio/Junho 2007


fundações e ao de estruturas de materiais rais; Fogo; Pontes; Estruturas de suporte e também, no que respeita à especificação de
como a alvenaria ou a madeira. Reservatórios – com 446 páginas. contratos, sejam eles de construção ou de
Constituirão, isso sim, e disso não se tem prestação de serviços, e à elaboração de es-
dúvidas, um contributo significativo para EN 1993 Eurocódigo 3: “Projecto de estru- pecificações técnicas harmonizadas para os
uma regulamentação completa no domínio turas de aço”, com 20 Partes – nomeada- produtos de construção.
do projecto das estruturas, nomeadamente mente, Regras gerais; Fogo; Aço inoxidável; No Preâmbulo de cada Eurocódigo figuram
através de normas na área da geotecnia, do Cascas; Ligações; Fadiga; Cabos de alta re- as seguintes recomendações da Comissão
fogo e de outros materiais, para além do sistência; Pontes; Torres, Mastros e Chami- aos Estados-membros:
betão armado pré-esforçado, como sejam a nés; Silos, Reservatórios e Condutas; Esta-
madeira e as alvenarias. cas; Gruas – com 1.294 páginas. i) Os Estados-membros devem adoptar os
Eurocódigos.
Em 1975, a Comissão da Comunidade Eu- EN 1994 Eurocódigo 4: “Projecto de estru-
ropeia adoptou um programa no domínio da turas mistas aço-betão”, com 3 Partes – Re- ii) Os Estados-membros devem estabelecer
construção, baseado no artigo 95.º do Tra- gras gerais; Fogo; Pontes – com 317 pági- os parâmetros utilizáveis nos seus terri-
tado. O objectivo do programa era a elimi- nas. tórios, designados por “Parâmetros De-
nação de entraves técnicos ao comércio e, terminados a nível Nacional”.
também, a harmonização das especificações EN 1995 Eurocódigo 5: “Projecto de estru-
técnicas. turas de madeira”, com 3 Partes – Regras iii) Os Estados-membros devem comparar
Durante quinze anos, a Comissão, com a ajuda gerais; Fogo; Pontes – com 220 páginas. os “Parâmetro Determinados a nível Na-
de uma Comissão Directiva com represen- cional” implementados por cada Estado-
tantes dos Estados-membros, orientou o de- EN 1996 Eurocódigo 6: “Projecto de estru- -membro e avaliar o seu impacto no to-
senvolvimento do programa dos Eurocódigos, turas de alvenaria”, com 4 Partes – Regras cante às diferenças técnicas entre cons-
que conduziu, na década de 80, à primeira gerais; Fogo; Selecção e Execução; Métodos truções.
geração de regulamentos europeus. de cálculo simplificado – com 278 páginas.
Em 1989, a Comissão e os Estados-mem- iv) Os Estados-membros, na sequência de
bros da UE e da EFTA decidiram transferir EN 1997 Eurocódigo 7: “Projecto geotéc- um pedido da Comissão nesse sentido,
a publicação dos Eurocódigos para o “Euro- nico”, com 2 Partes – Regras gerais; Pros- devem alterar os “Parâmetros Determi-
pean Comittee for Standardization” (CEN), pecção e Ensaio – com 389 páginas. nados a nível Nacional”, a fim de, even-
com o objectivo de conferir-lhes a categoria tualmente, reduzirem um desvio em re-
de Norma Europeia (EN). EN 1998 Eurocódigo 8: “Projecto de estru- lação aos valores recomendados.
Surge, assim, um programa para os Eurocó- turas para resistência aos sismos”, com 6
digos. Partes – Regras gerais; Pontes; Reforço e re- v) Os Estados-membros devem levar a cabo
paração de estruturas; Silos, Reservatórios e investigações e pôr em comum fundos
2. Programa dos Eurocódigos Condutas; Fundações e Estruturas de su- nacionais, em particular nos domínios da
porte – com 638 páginas. resistência sísmica e da resistência ao
O programa dos Eurocódigos Estruturais in- fogo das estruturas.
clui dez normas, numeradas de 0 a 9, cada EN 1999 Eurocódigo 9: “Projecto de estru-
uma das quais constituída por diversas “Par- turas de alumínio”, com 5 Partes – nomea- vi) Os Estados-membros devem promover
tes”, formando à data um conjunto com damente, Regras gerais; Fogo; “Trapezoidal acções de formação na utilização dos Eu-
cerca de 44.500 páginas e com a seguinte Sheeting”; Cascas – e um número de pági- rocódigos.
distribuição: nas ainda não totalmente definido.
4. Os Eurocódigos e a actual
EN 1990 Eurocódigo 0: “Bases para o pro- 3. Enquadramento geral legislação nacional
jecto de estruturas”, com 2 Partes – Bases
para o Projecto; Pontes – com 119 páginas. Os Eurocódigos dão regras correntes de cál- Os Eurocódigos introduzem legislação ino-
culo para o projecto de estruturas, não es- vadora ou actualizada nos domínios das es-
EN 1991 Eurocódigo 1: “Acções em estru- tando incluídos no seu âmbito elementos truturas metálicas, mistas, de alvenaria, de
turas”, com 10 Partes – Fogo; Neve; Vento; construtivos ou condições de cálculo não ha- madeira e de alumínio, do fogo e do projecto
Temperatura; Acções durante a construção; bituais. geotécnico, constituindo um conjunto coe-
Acções acidentais; Tráfego em pontes; Ac- Os Eurocódigos constituem documentos de rente no domínio da segurança estrutural.
ções devidas a gruas e a outros equipamen- referência, não só no domínio do projecto No que respeita às bases para o projecto e às
tos; Silos e Depósitos – com 757 páginas. estrutural – em que são identificadas duas estruturas de betão armado e pré-esforçado,
exigências essenciais, a n.º 1, relativa à resis- os Eurocódigos não obrigarão, dada a sua ade-
EN 1992 Eurocódigo 2: “Projecto de estru- tência mecânica e estrutural, e a n.º 2, rela- quação geral com a prática corrente do pro-
turas de betão”, com 4 Partes – Regras ge- tiva à segurança contra o incêndio – mas, jecto, a acções de formação de relevo para

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 69


DESTAQUE
além de uma sua apresentação geral. A sua A regulamentação europeia anterior aos Eu-
diferença, naqueles domínios, com a legisla- rocódigos (nomeadamente a alemã, a fran-
ção ainda em vigor é pouco significativa. cesa e a inglesa) reflectia diferentes culturas
A título de comparação, as Partes da EN e progressos técnicos, mas apresentava, na
1990, EN 1991, EN 1992, EN1993 e EN maioria dos casos, exceptuando talvez o caso
1998, que correspondem à actual regula- francês, uma componente informativa com
mentação do projecto de estruturas (REBAP, um peso e uma importância reduzidos e ape-
RSA e REAE), com 400 páginas no formato nas necessária à aplicação correcta e, por
A5, totalizam cerca de 1215 páginas no for- vezes, mais ampla, das disposições regula-
mato A4, ou seja, cerca de seis vezes mais. mentares. O engenheiro de estruturas por-
tuguês, em casos omissos na regulamentação
5. Algumas observações nacional ou que nesta constavam de forma
menos abrangente, podia recorrer, para além
5.1. Princípios, Regras de Aplicação do estudo e o auxílio de textos de autores
e Informações consagrados, àquele conjunto regulamentar
Um regulamento, para além da componente ou a outros, como sejam as normas do ACI
normativa tem, em geral, uma componente e as recomendações do CEB.
informativa de maior ou menor relevo. A Não é o que se verificará, teme-se, com a
primeira integra as disposições regulamen- publicação dos Eurocódigos.
tares propriamente ditas e cuja observância Neles, a componente informativa – nalguns estruturas de madeira – e outros, ainda, que
é, por isso, obrigatória, e a segunda, sob a casos com uma forma que não difere da de dão um conhecimento actualizado, tecnolo-
forma de comentário ou de recomendação, um artigo técnico – tem um peso muito sig- gicamente avançado e coerente com a actual
tem como principal objectivo esclarecer, jus- nificativo, não raras vezes desproporcionado filosofia de segurança estrutural, como são os
tificar, recomendar ou exemplificar as dis- para a qualificação do universo a que se des- Eurocódigos das estruturas metálicas.
posições regulamentares. tina, e que se entende desmotivadora da cria- Também são apresentados códigos de redu-
Nos Eurocódigos não é feita uma distinção tividade que caracteriza a arte de projectar. zida aplicação na actividade corrente do pro-
de natureza gráfica (por exemplo, tipo de jecto de estruturas mas que poderão revelar-
letra, impressão nas páginas de verso) entre 5.2. A qualidade dos Eurocódigos -se úteis, nas suas componentes normativa e
aquelas duas componentes que aparecem, A qualidade global dos vários Eurocódigos é informativa, em situações de natureza oca-
pelo contrário, com o mesmo destaque e in- variável e poderá ser o resultado de diferen- sional ou pontual.
distintamente distribuídas no texto. Os Ane- tes níveis de competência das respectivas No que se refere às três versões oficiais
xos constituem excepção, sendo explicita- comissões redactoras, as quais, por vezes (alemã, francesa e inglesa), deve assinalar-se
mente diferenciados em “Normativos” e “In- apresentam textos normativos de discutível que o que é apresentado como versão origi-
formativos”. qualidade técnica, de desnecessária comple- nal inglesa não o deve ser, pela sua deficiente
É feita uma distinção entre “Princípios” e “ xidade ou de excessiva pormenorização, o sintaxe. Com alguma probabilidade, é a tra-
Regras de Aplicação”. que conduzirá, provavelmente, a dificulda- dução para aquela língua de um texto de um
Um “Princípio” não permite uma alternativa des de leitura e de interpretação e, possivel- relator natural de um dos outros países que
ao que especifica. Uma “Regra de Aplica- mente, num primeiro tempo, a uma maior constituem o CEN. Aconselha-se o utiliza-
ção” permite a adopção de regras alternati- morosidade na sua aplicação. dor a considerá-la como de menor clareza,
vas desde que as mesmas estejam em con- Existem, do ponto de vista estritamente téc- comparativamente à das outras versões, in-
formidade com os Princípios corresponden- nico, bons e maus Eurocódigos, como é, por clusivamente a versão em língua portuguesa,
tes e que sejam, no mínimo, equivalentes a exemplo, neste último caso, o Eurocódigo re- cuja publicação se prevê ocorrer de forma
elas nos domínios da segurança, da utiliza- lativo às acções térmicas. Existem, também, faseada em futuro próximo.
ção e da durabilidade. Assim, pode dizer-se Eurocódigos cuja existência apenas se pode
que uma “Regra de Aplicação” é uma espé- justificar pela preocupação de uniformização, 5.3. A versão portuguesa
cie de recomendação com uma natureza for- como acontece com o relativo a pesos pró- e o Anexo Nacional
temente obrigatória. prios, cujo detalhe ultrapassa a necessidade Em Portugal, a tradução dos Eurocódigos e a
corrente e, mesmo, o bom senso. elaboração dos “anexos nacionais” é, por in-
Nos Eurocódigos, a componente informa- Por outro lado, são introduzidos – a par de cumbência do IPQ, coordenada pelo LNEC,
tiva, na sua forma pura e não na forma de códigos que preenchem um vazio regulamen- que constituiu, para o efeito, uma comissão,
“Regra de Aplicação”, tem uma dimensão tar há muito existente, prejudicial à prática designada por CT115, na qual se agrupam
muito ampliada que ultrapassa os objectivos de um projecto completo, como a acção do dez grupos de trabalho, um para cada Euro-
habituais, entrando no domínio dos concei- fogo – outros que são inovadores a nível na- código. Cada grupo de trabalho é constituído
tos, da formação técnica e da transmissão de cional – nomeadamente os relativos às estru- por técnicos altamente especializados nas
conhecimentos. turas mistas, às estruturas de alvenaria e às áreas específicas do respectivo Eurocódigo e

70 INGENIUM | Maio/Junho 2007


que se encontra especificado nas directivas
ISO/IEC –. No entanto, é matéria de indis-
cutível importância num texto de natureza
normativa.

6. Conclusões

i) Os Eurocódigos constituem em muitos


domínios do projecto de estruturas um
conjunto de documentos normativos que
se revelará valioso para a prática do pro-
jecto de estruturas, quer pela sua actua-
lidade, quer pela sua diversidade quase
exaustiva.
ii) Os Eurocódigos aplicam a mesma filoso-
fia de segurança a todos os materiais e a
todas as construções.
iii) Os Eurocódigos correspondentes à actual
regulamentação em vigor (nomeadamente
que fazem parte dos vários sectores de acti- tanto quanto for possível, de escorreita leitura o RSA e o REBAP), não introduzem al-
vidade relacionados com a análise, o projecto e sem os erros e as deficiências da versão em terações na filosofia de segurança, na sim-
e a construção de estruturas. Os grupos de língua estrangeira que lhe serviu de base. bologia ou nos conceitos adoptados na
trabalho têm como principais responsabilida- análise de estruturas. A sua entrada em
des a verificação da consistência e da quali- 5.4. A tradução para língua portuguesa vigor não constituirá, por isso e na maio-
dade da tradução portuguesa, a elaboração A tradução para língua portuguesa sofre de ria dos casos, qualquer perturbação sig-
dos anexos nacionais e a avaliação de eventu- um condicionamento merecedor de referên- nificativa nos hábitos de projecto.
ais disposições erradas detectadas na versão cia especial. De facto, no Preâmbulo de cada iv) Os Eurocódigos apresentam uma com-
dita original, as quais, no entanto, não podem Eurocódigo, consta: ponente informativa excessivamente im-
ser objecto de correcção na versão portuguesa portante, o que poderá contribuir para
sem prévio assentimento do CEN. “…the National Standards implementing sobreestimar, numa primeira leitura, a
O Anexo Nacional só poderá conter infor- Eurocodes will comprise the full text of the sua componente normativa. Considera-
mações explicitamente deixadas em aberto Eurocode… as published by CEN…”. -se que essa componente informativa ul-
no Eurocódigo para opção nacional, nomea- trapassa, em muito, simples objectivos
damente: “Full text” e “as published” constituem im- justificativos ou exemplificativos, e é li-
– valores e procedimentos para os quais são portantes limitações à elaboração de uma ver- mitadora da criatividade e do estudo dos
apresentadas alternativas no Eurocódigo; são correcta em língua portuguesa, dado que, problemas, podendo constituir, por isso,
– dados específicos do país (geográficos, cli- tendo que ser respeitadas, conduzem, por um incentivo ao não aprofundamento e
máticos e outros); vezes, a um texto pouco claro, desnecessaria- à não optimização das soluções de pro-
– decisões sobre a aplicação dos anexos in- mente redundante e de má construção. jecto, o que se considera incompatível
formativos; Assim, aquelas exigências do CEN/TC250 com uma boa concepção das estruturas.
– informações complementares não contra- terão influência na qualidade da versão por- v) A constituição, organização e actividade
ditórias para ajuda do utilizador. tuguesa dos Eurocódigos, por ser mandató- da comissão CT115 do LNEC permite
rio uma tradução do texto “tal como se en- esperar que a versão portuguesa do con-
Preocupações de natureza sintáctica, de ava- contra publicado”. junto dos Eurocódigos constitua uma do-
liação e de uniformização de toda uma nova Para além da questão de ter que se traduzir cumentação cuidada, não só no domínio
terminologia técnica – que não raras vezes o que está mal redigido, levanta-se, também, exclusivamente técnico mas, também,
toma a forma de neologismo –, de detecção o problema de saber como deve ser tradu- no que respeita à sintaxe, elemento fre-
de erros de conceito, de cruzamento de dis- zido o que distingue uma “Exigência” de uma quentemente relegado para segundo plano
posições relativas a matérias de natureza ho- “Recomendação”, “Autorização” ou ”Possi- nalguma legislação recente deste nosso
rizontal, tais como as relacionadas com a bilidade”, como é o caso dos termos ingle- Estado-membro, mas de grande impor-
“instabilidade”, o “fogo” e a “fadiga”, cons- ses “shall”, “should”, “may” e “can”. É, con- tância na leitura, interpretação e aplica-
tituem algumas das linhas de acção da CT115 trariamente ao que parece, problema de so- ção correcta de uma norma, seja ela ou
do LNEC. lução algo difícil e delicada – por envolver não relativa à engenharia.
Existe, no trabalho da comissão, o objectivo traduções especificadas pelo IPQ, as quais
de editar uma versão portuguesa que seja, se entende estarem erradas, com base no * Eng.º Civil – IST

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 71


ANÁLISE

Localização
do Novo
Aeroporto
de Lisboa
Margem Sul do Tejo - Alcochete e Poceirão

Luís Guimarães Lobato *


ção da área do novo aeroporto de Lisboa. O de Abril aparece a Ota como o local referido
estudo comparado das 14 localizações, agora para o novo aeroporto, contrariando a opi-
or volta do decénio de 1960, o Eng.º tendo em conta a isócrona mais favorável da nião unânime das missões técnicas já referi-

P Victor Veres, então director geral da Ae-


ronáutica Civil, verificou que a expansão
dos transportes aéreos era muito superior à
ligação a Lisboa, acabou por seleccionar a lo-
calização do Novo Aeroporto na área da mar-
gem Sul compreendida entre o Rio Frio e a
das, de não implantar o novo aeroporto na
margem direita do Tejo.
Passemos agora, resumidamente, à enume-
prevista. Nestas condições, o aeroporto da margem esquerda do Tejo. ração das exigências e condicionamentos que
Portela teria dificuldade em acompanhar De facto, não era verdadeira a afirmação de presidiram à selecção pelas missões técnicas,
uma tal expansão por falta de espaço de re- que resultavam dois locais – Rio Frio e Ota da nova localização do novo aeroporto.
serva para a ampliação das instalações técni- – pelo menos enquanto existiu o G.N.A.L..
cas e complementares nos próximos decé- Em virtude de fortes pressões sobre a loca- 1. CAMPO DE VISÃO
nios de exploração do actual aeroporto. Era, lização do novo aeroporto, o Ministro das O novo aeroporto deveria ter um campo de
portanto, necessário encontrar nova locali- Obras Públicas e Comunicações do governo visão livre de 360º até à distância aconselhá-
zação para o novo aeroporto de Lisboa, tanto de Marcelo Caetano, assim que subiu ao vel da manobra dos aviões – aterragem e des-
mais que ele poderia servir de plataforma de poder, extinguiu o G.N.A.L.. Depois do 25 colagem.
distribuição de tráfego aéreo intercontinen-
tal em relação à América, Brasil e países afri-
canos. Aprovada esta proposta pelo então
ministro das comunicações, Eng.º Carlos Ri-
beiro, este determinou que fossem ouvidas
missões técnicas sobre aquela nova localiza-
ção. Para este efeito, foram convidadas as
missões que tinham sido responsáveis pela
construção e localização dos novos aeropor-
tos na Europa e EUA.
As missões em referência foram conclusivas
em relação à exclusão da margem direita do
Tejo para nela se instalar o novo aeroporto,
pelas razões que a seguir serão indicadas. Do
mesmo modo, foram unânimes em designar
14 localizações na margem Sul do Tejo. Na
sequência dos relatórios das missões técni-
cas, o ministro Carlos Ribeiro criou o G.N.A.L.
– Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa
– para prosseguir a concretização da selec- Região da Ota

72 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Margem Sul do Tejo e no fim do dia, provocadas pela proximi-
ANÁLISE
preferência à disponibilidade da larga área
Qualquer localização nesta margem dispõe dade do rio Tejo. com movimentos de terra somente peque-
de campo de visão de 360º e permitiria a lo- nos, facilitando, assim, a construção das pis-
calização de pistas sem interferência de ou- 3. DISPONIBILIDADE DAS ÁREAS tas actuais e da expansão sobre terreno na-
tros corredores aéreos. NECESSÁRIAS PARA AS INSTALAÇÕES tural. Qualquer intercalação de troços de
TÉCNICAS E PARA A GRANDE GAMA pista sobre aterros é altamente indesejável
Ota DE INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES porquanto qualquer pequeno abatimento de
Campo de visão restrito a 180º em virtude do DE SERVIÇOS DIRECTOS E TODA aterros pode levar ao encerramento do aero-
paralelismo com a serra de Montemuro. Loca- A VARIEDADE DE APOIOS DESTINADOS porto durante o tempo necessário para nova
lização condicionada das pistas no sentido Nor- AO FUNCIONAMENTO INTEGRADO consolidação dos mesmos aterros.
te/Sul devido ao posicionamento em relação DO AEROPORTO
à serra de Montemuro. Corredores aéreos com Margem Sul do Tejo
interferência de outros corredores e a linha Margem Sul do Tejo As disponibilidades de superfícies livres de
de indústrias da margem direita do Tejo. A grande planície a sul do Tejo permite es- terreno natural para as instalações técnicas
tabelecer a área necessária para a instalação são totais. Haveria apenas pequenos movi-
2. METEOROLOGIA do aeroporto e sua futura expansão sem quais- mentos de terras para regularização geral do
O aeroporto exige a localização dependente quer limitações de terrenos disponíveis, tal terreno. A distribuição de carga dos impac-
de ventos largos e favoráveis aos movimen- como se concebe na concepção de um aero- tos às pistas seria minimizada pelas próprias

Actual Aeroporto da Portela

tos dos aviões e condições gerais tanto quanto porto nacional e destinado também a serviço características para a sua construção. Deste
possível boas para movimentações aéreas. internacional. A sua localização depende prin- modo, não haveria alteração geotécnica dos
cipalmente da melhor isócrona das comuni- terrenos, não haveria alterações geotécnicas
Margem Sul do Tejo cações e transportes com Lisboa e o resto do hidrológicas das superfícies, onde seriam
Qualquer localização estudada pelas missões País. Como se disse e para satisfação dos con- construídas as instalações técnicas e comple-
técnicas apresentou-se com boas condições dicionamentos enunciados, deveria dar-se mentares do novo aeroporto.
meteorológicas. preferência à área compreendida entre o Rio
Frio e a margem Sul do Tejo. Ota
Ota As instalações técnicas e complementares
As condições meteorológicas deste local são Ota do novo aeroporto teriam de ser construídas
completamente adversas às movimentações Como foi dito, as missões técnicas em causa sobre a criação de uma plataforma geral,
aéreas, segundo conclusões das missões téc- foram unânimes em excluir a margem di- construída acima do nível das cheias do Tejo.
nicas. Primeiro, em virtude das condições reita para a legalização do novo aeroporto, Isto criaria a necessidade de integrar numa
muito desfavoráveis dos ventos dominantes tendo em conta a dificuldade de obtenção unidade, terrenos naturais e aterros. Tam-
do quadrante norte, apresentando-se sem- de áreas extensas e conformadas para uma bém para efeito de disponibilidade desta pla-
pre lateralmente às pistas, não só com for- devida localização. taforma, seria necessário realizar grandes
tes rajadas como turbulências altamente in- movimentos de terra, incluindo os de segu-
convenientes. Segundo, a grande frequência 4. CONSTRUÇÃO rança dos movimentos dos aviões. A execu-
de nevoeiros e brumas nos períodos da manhã Para construção do novo aeroporto é dada ção de aterros bem consolidados e à prova

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 73


ANÁLISE
das infiltrações das cheias do Tejo seria um
obstáculo difícil de vencer para garantir não
haver abatimentos. Mais umas condições
técnicas de exclusão da margem direita do
Tejo para localizar o novo aeroporto.

5. ACESSOS AO NOVO AEROPORTO


Segundo as missões técnicas, os acessos ao
aeroporto deveriam ser os múltiplos das redes
nacionais e regionais, não só em relação a
Lisboa, mas a todo o País. Assim, o novo
aeroporto deveria ficar em relação a Lisboa,
numa isócrona de 20 a 40 minutos por liga-
ção directa a Lisboa. Para este efeito, o aero-
porto seria integrado nas redes nacionais dos
caminhos-de-ferro com ligações directas ao
Norte e ao Sul. Também deveria dispor de
ligações ferroviárias regionais, tipo metropo-
Actual Aeroporto da Portela
litano de ligação a Lisboa. Do mesmo modo,
deveria ser reservado espaço para qualquer
nova ligação ferroviária. As ligações rodovi- áreas especializadas integradas numa unidade Margem Sul do Tejo
árias a Lisboa e sua região e ao Norte e Sul de funcionamento lógico: a área mais impor- A margem Sul do Tejo dispõe de áreas su-
do País deveriam ser integradas com liber- tante em relação às restantes seria destinada ficientes para a criação de uma unidade aero-
dade de circulação nas redes nacionais e re- a todas as instalações técnicas, entre outras, portuária/urbana, desde que seja elaborado
gionais. as pistas e sua expansão, a gare de passagei- o plano de conjunto do novo aeroporto
ros, as instalações técnicas de comando dos
Margem Sul do Tejo movimentos aéreos, as plataformas para es- Ota
A localização na margem Sul do Tejo per- tacionamento de aviões de carga aérea, os Face às exigências do conglomerado técnico-
mitiria, com toda a disponibilidade, as ne- hangares de revisão dos aviões, as oficinas de -urbano do novo aeroporto, foi mais um pa-
cessárias instalações de amplas gares ferro- apoio aos aviões e aos serviços, a gare e mais râmetro de exclusão da margem direita por
viárias e igualmente o estabelecimento de instalações de apoio à plataforma de helicóp- não serem aceitáveis afastamentos entre as
todas as modalidades de transporte ferroviá- teros, os depósitos de redes de abastecimento diversas áreas específicas do conglomerado.
rio. Deste modo, seria respeitada a localiza- de combustíveis e mais todo o equipamento
ção com a isócrona desejada. de apoio ao funcionamento do aeroporto, cais 7. CONCLUSÃO
de movimentação por transporte terrestre de De acordo com as conclusões das missões
Ota apoio à aerogare nas suas modalidades indi- técnicas então encarregadas dos estudos de
A dificuldade de obtenção de espaços livres viduais, públicas e colectivas e parques de es- localização do novo aeroporto, estas foram,
seria grande para o estabelecimento das ins- tacionamento a curto e longo prazo. Gare de no seu conjunto, completamente desfavorá-
talações dos transportes por forma a serem ligações ferroviárias próprias do aeroporto e veis à localização do novo aeroporto na mar-
integrados na isócrona de 20 a 40 minutos, das linhas de passagem das redes nacionais. gem direita do Tejo, até porque o impacto
dada a estreiteza das áreas disponíveis entre Segunda área importante: a das implanta- directo da movimentação aeroportuária seria
a margem do Tejo e as fraldas da serra de ções dos edifícios destinados a serviços e a altamente desconfortável para a população
Montemuro. Foi mais um parâmetro de ex- instalações turísticas e comerciais. da faixa já muito urbanizada da margem
clusão, à qual se juntariam as dificuldades Em virtude da experiência vivida e das exi- Norte do Tejo. Teve-se também em conta
técnicas, por falta de espaço, para o estabe- gências exponenciais verificadas, é necessá- o custo muito menor da construção do novo
lecimento das ligações directas a Lisboa. rio prever uma área importante destinada a aeroporto na margem Sul do Tejo.
instalações industriais, designadamente agro-
6. PLANEAMENTO GLOBAL -industriais e de mecânica ligeiras e finas * Engenheiro Civil do IST, Professor Catedrático do IST,
Em virtude da experiência já havida, foi acon- muito dependentes para a sua expansão do Doutor Honoris Causa UCP – Hon. M. R.I.B.A.,
selhado prever logo à partida as áreas neces- transporte aéreo imediato. Antigo chefe da Repartição de Obras Municipais
sárias para o estabelecimento do novo aero- Finalmente, todo este conjunto de instala- de Lisboa do programa de Duarte Pacheco, Antigo
porto e de sua futura expansão, por forma a ções deveria ser apoiado por uma unidade Presidente do GEPT – Gabinete de Estudos e
constituir uma unidade global aeroportuária urbana de 15 a 20 mil habitantes destinada Planeamento de Transportes Terrestres, Antigo
e todos os seus apoios complementares. Em a todo o pessoal trabalhador do novo aero- Presidente do Comité dos Suplentes dos Ministros da
resumo, seriam consideradas as seguintes porto. Conferência Europeia dos Ministros dos Transportes.

74 INGENIUM | Maio/Junho 2007


ANÁLISE gularidade, o Instituto da Água, o Instituto
de Conservação da Natureza e da Biodiver-
Integração de Requisitos sidade2 (presença obrigatória quando o pro-
jecto intersecta áreas sensíveis3), o Instituto
Português do Património Arquitectónico, o

Administrativos Prévios Instituto Português de Arqueologia e as Co-


missões de Coordenação e Desenvolvimento
Regional (CCDR) geograficamente compe-

à Execução de Projectos tentes. De referir que as CCDR participam


em todas as CA, assumindo o papel de Au-
toridade nos casos definidos na lei. Tal par-

Ferroviários ticipação é reveladora do conjunto diversifi-


cado de especialidades técnicas tuteladas por
tais organismos. Destaque-se, ainda, a fase
João Morais Sarmento *
de CP, que compreende o público interes-
sado e um alargado conjunto de organizações
(incluindo diferentes serviços públicos), sendo
1. INTRODUÇÃO em consideração os efeitos ambientais, assim que estes são, frequentemente, interpelados
O presente texto visa contribuir para a re- como a informação recolhida junto do pú- formalmente pela CA no sentido de emitir
flexão que tem vindo a ser efectuada, no blico interessado. Prova da relevância que o seu parecer (consulta institucional).
sentido de eliminar redundâncias nos vários este procedimento deve assumir, é o facto O processo de AIA deve ser, preferencial-
procedimentos administrativos, que tolhem de que nenhum outro, citado neste texto, mente, realizado na fase de Estudo Prévio,
a capacidade de resposta da administração envolve uma diversidade tão completa de de modo a ser possível assegurar que a de-
pública e frustram quem, junto desta, pre- aspectos ou um processo de Consulta Pú- cisão é ponderada sobre eventuais alternati-
tende obter os licenciamentos ou autoriza- blica (CP) tão divulgado. vas. Nestes casos, a legislação prevê ainda
ções necessárias à prossecução das suas ini- O processo de AIA tem como suporte do- uma segunda fase do processo, realizada
ciativas. cumental um Estudo de Impacte Ambiental sobre o Projecto de Execução, e tem como
O autor é colaborador da REFER e socorre- (EIA), que é avaliado por uma Comissão de objectivo assegurar que as medidas/condi-
-se da experiência que a equipa de Ambiente Avaliação (CA) composta por representan- cionantes identificadas em fase de Estudo
da empresa tem no desenvolvimento das di- tes de diferentes organismos da administra- Prévio são integradas nas diferentes peças
ligências necessárias à obtenção dos referidos ção central e regional. Destaca-se a Agência que suportam o lançamento do projecto, ba-
licenciamentos e autorizações, em fase pré- Portuguesa do Ambiente1 (APA), a quem lizam a sua execução e regulam a sua explo-
via à execução das obras. Nesse sentido, este compete o papel de Autoridade de AIA (nos ração. Esta fase do procedimento assenta
contributo abordará o universo particular deste casos definidos na lei), isto é, a entidade que num documento designado por Relatório de
tipo de obras públicas e com a preocupação superintende o processo e preside ao traba- Conformidade Ambiental do Projecto de
de demonstrar como se processa, actualmente, lho da CA. Nestas CA participam, com re- Execução (RECAPE).
o encadeamento dos diferentes procedimen-
tos prévios à consignação das obras.
Sempre que possível, far-se-á uma aproxi-
mação ao tempo dispendido na preparação
e instrução dos procedimentos, identificando
os prazos, quando previstos nos respectivos
diplomas aplicáveis, ou tendo por base valo-
res médios resultantes da experiência, razão
pela qual este aspecto deve ser encarado com
alguma prudência.

2. O PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO
DE IMPACTE AMBIENTAL (AIA)
O procedimento de AIA (nos casos aplicá-
veis) é o primeiro dos requisitos legais a ser
abordado. Constitui um procedimento ad-
ministrativo, cujo principal intuito visa acau-
telar que, na tomada de decisão sobre a exe-
cução dos projectos, são avaliados e tomados

76 INGENIUM | Maio/Junho 2007


ANÁLISE
signadamente e quando aplicável, a instrução
do pedido de Reconhecimento de Interesse
Público no âmbito da Reserva Ecológica Na-
cional4 (RIP da REN) e autorização para o
uso não agrícola de solos incluídos na
Reserva Agrícola Nacional (RAN).
Quanto à REN, trata-se de um pro-
cesso instruído junto das CCDR, tendo
por base a mesma informação disponível
em fase de Projecto de Execução (esta in-
formação é tratada, quer nos EIA sobre Pro-
jectos de Execução, quer nos RECAPE). A
sua instrução junto da CCDR carece de uma
Declaração de Utilidade Pública Municipal.
Este último documento, que surge enqua-
drado num procedimento concebido inter-
Assim, o produto de um processo de AIA, Deste modo, tomando como base o mo- namente no seio do Ministério com a tutela
em fase de Estudo Prévio, é a emissão de mento em que o Estudo Prévio e o EIA estão do Ambiente (não está transposto num di-
uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) concluídos, pode-se assumir que cerca de 6 ploma legal), visa acautelar que os Municí-
e um parecer sobre o RECAPE. A DIA é a 7 meses depois será possível obter a DIA pios estão conhecedores da acção e se pro-
emitida pelo Sr. Secretário de Estado do (favorável ou favorável condicionada) e ini- nunciam no âmbito do processo. Recorde-se
Ambiente e tem um carácter vinculativo no ciar o desenvolvimento do Ante-Projecto ou que, no âmbito do processo de AIA antece-
processo de licenciamento, assegurado pela Projecto de Execução. dente, há um período de consulta pública,
tutela do projecto. O parecer sobre o RE- Terminado o Projecto de Execução (arbi- em que a prática do Ministério do Ambiente
CAPE é emitido pela Autoridade de AIA, trando-se que o projecto possa consumir 8 passa, sistematicamente, pela consulta for-
seja a APA ou a CCDR. meses a desenvolver, algo que é muito variá- mal das Câmaras Municipais.
O prazo legal para a primeira fase do pro- vel e depende da complexidade do projecto) O desfecho do procedimento da REN resulta
cesso de AIA varia entre 140 a 120 dias úteis e respectivo RECAPE, é lícito assumir que num despacho de RIP, proferido entre o Sr.
(na Figura assume-se um prazo de sete meses), dois meses e meio depois o parecer da CA Secretário de Estado com a tutela do Orde-
dependendo do enquadramento do projecto estará emitido, isto é, 16 a 17 meses e meio namento do Território e o membro designado
na legislação, sendo que para o processo de após a apresentação do Estudo Prévio. do Ministério com a tutela da entidade licen-
RECAPE está estipulado um prazo máximo Sem prejuízo do processo de RECAPE, com ciadora/organismo que promove a acção. É
de 50 dias. Estes são, habitualmente, os pra- a conclusão do Projecto de Execução os pro- de admitir, no plano teórico e ainda que im-
zos utilizados pelas entidades administrati- motores estão habilitados a proceder ao lan- provável, que possa ser proferido um despa-
vas que conduzem tais procedimentos. çamento dos concursos necessários. Anteci- cho em sede de RIP da REN, contrário ao
Há ainda que contar com o tempo que me- par o lançamento do concurso à conclusão despacho emitido em sede de AIA, sendo
deia entre a conclusão do processo de AIA do referido processo encerra riscos que im- que, no limite, o Sr. Secretário de Estado com
e o processo de RECAPE, período que é ne- porta avaliar, uma vez que, em limite, pode- a tutela do Ordenamento do Território pode
cessário para desenvolver os diferentes pro- rão surgir novas medidas ou condicionantes, não viabilizar uma acção já sancionada pelo
jectos de especialidade. Muito embora seja que resultem em trabalhos a mais ou acções Sr. Secretário de Estado com a tutela do Am-
possível, com um variável grau de risco, an- impossíveis de compatibilizar com a emprei- biente. No contexto da actual arquitectura
tecipar o desenvolvimento de uma determi- tada nos termos em que foi lançada. governativa, ambos estão a par na dependên-
nada solução da fase de Estudo Prévio, para Paralelamente, concluído o Projecto de Exe- cia do mesmo Ministério.
a fase de Ante-Projecto ou Projecto de Exe- cução, os promotores ficam na posse dos Outro aspecto a reter é o facto de que, em
cução, sem que esteja concluído o processo dados necessários ao desencadeamento do sede de AIA (fase de Projecto de Execução),
de AIA, é preciso assumir que tal poderá processo expropriativo. já é possível proceder à avaliação neste âm-
não ser, necessariamente, a solução encon- bito, tal como o que acontece na utilização
trada no final do processo. A experiência 3. PROCESSOS DE AUTORIZAÇÃO/ de áreas pertencentes ao Domínio Hídrico5,
mostra que a consulta pública e institucio- LICENCIAMENTO SUBSEQUENTES A AIA sendo de referir, em relação a este último,
nal pode ser de desfecho incerto, caso não Previamente à instrução do processo expro- que os processos só são instruídos pela mesma
sejam antecipados ou conciliáveis os interes- priativo, torna-se necessário satisfazer um CCDR uma vez concluído o processo de RIP
ses dos diferentes actores. conjunto de procedimentos específicos, de- da REN.

1 D.R. n.º 53/2007 de 27 de Abril. — 2 Criado pelo D.L. n.º 136/2007 de 27 de Abril. — 3 Nos termos do ponto i) e ii) da alínea b) do Art.º 2.º do D.L. 69/2000 de 3 de Maio.
4 D.L. 93/90 de 19 de Março com as alterações introduzidas pelo D.L. 316/90 de 13 de Outubro, 213/92 de 12 de Outubro, 79/95 de 20 de Abril, 203/2002 de 1 de Outubro e D.L. 180/2006 de 6
de Setembro. — 5 D.L. n.º 226-A/2007 de 31 de Maio.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 77


ANÁLISE
O processo RIP da REN não tem prazos ad- Obtidos os despachos de Síntese do encadeamento dos procedimentos
ministrativos determinados. A prática revela RAN e REN (por esta ordem ambientais prévios à consignação da obra
que a recolha dos elementos necessários e a e atendendo ao referido no
instrução do processo consome vários meses, ponto anterior), estão os
pelo que se arbitra um prazo de 8 meses para promotores em condições
este processo, incluindo a obtenção da ne- de proceder à instrução do
cessária DUP Municipal (este prazo também processo expropriativo, in-
inclui a obtenção de autorizações suplemen- cluindo a emissão da Decla-
tares, como se verá, e apresentação de dados ração de Utilidade Pública.
complementares/esclarecimentos solicita- Nesta fase decorreram cerca de 2 anos desde De recordar que, obtidas as autorizações/li-
dos). A recente revisão da legislação nesta a apresentação do Estudo Prévio, cerca de cenças, terão sido emitidas três Declarações
área, que introduziu os usos insusceptíveis dezassete meses desde a emissão da DIA de Utilidade Pública (uma das quais de ca-
de pôr em causa o equilíbrio ecológico da (que caduca ao fim de dois anos caso não rácter municipal) e um Reconhecimento de
REN, irá, por certo, contribuir para agilizar seja dado início à execução do projecto) e Interesse Público. Nenhuma destas é emitida
processos. cerca de dez meses desde a conclusão do pelos mesmos dois representantes da Admi-
De regresso ao licenciamento para efeitos Projecto de Execução. nistração Pública e, à excepção da DUP Mu-
da RAN, os pedidos são instruídos junto das Na eventualidade de ser afectada área per- nicipal, têm como denominador comum o
Comissões Regionais da Reserva Agrícola tencente ao Domínio Hídrico e uma vez ul- Ministério que tutela a acção a desenvolver.
(CRRA), organismos tutelados pelo Minis- trapassado o RIP da REN, a CCDR está em
tério com a tutela da Agricultura, que não condições de prosseguir com esta compo- 4. CONCLUSÃO
têm, por norma, papel activo na fase de AIA, nente da avaliação e emitir o seu parecer, Como corolário do exposto, considera-se de
no sentido em que não participam nas Co- sendo usual instruir o processo de RIP da encorajar a prossecução de esforços no sen-
missões de Avaliação. REN com o do Domínio Hídrico (mas este tido de uniformizar procedimentos e sua re-
Estes processos decorrem, habitualmente, último, entretanto, fica suspenso a aguardar gulamentação (tem-se avançado significativa-
de forma mais célere que o processo REN, o desfecho do RIP). mente nesta área), algo a ser acompanhado
sendo de referir que, em muitos casos, são Paralelamente, na eventualidade de serem pela eliminação de processos redundantes,
também peça necessária para que o RIP da afectadas espécies arbóreas com estatuto de sempre que possível e aconselhando-se, quando
REN prossiga, contribuindo para a dilação protecção, é forçoso solicitar a autorização viável, que o momento da AIA seja privile-
do prazo mencionado anteriormente. para o seu abate. Tomando como exemplo giado para este efeito (ainda que definindo
o caso em que são afectados povoamentos, os termos em que tal ocorre), dando a este
terá de ser instruído o respectivo processo instrumento uma maior valia e aproveitando
junto dos Núcleos Florestais. Estes diligen- o reconhecido envolvimento, alargado, de di-
ciam os procedimentos conducentes à emis- ferentes organismos públicos com compe-
são da correspondente Declaração de Utili- tências específicas em matéria de autoriza-
dade Pública, exarada, desta feita, entre o ção/licenciamento em procedimentos subse-
Ministério com a tutela da Agricultura e o quentes.
Ministério com a tutela do empreendimento Complementarmente, em muito facilitaria
em questão. Para a instrução deste processo que se levasse mais além a definição de pra-
tem sido necessário comprovar a conclusão zos para os diferentes procedimentos, permi-
dos demais processos mencionados anterior- tindo o planeamento balizado das acções, por
mente, a recordar, AIA, RAN, REN e Do- parte dos múltiplos promotores, proporcio-
mínio Hídrico. Este procedimento contem- nando-lhes dados que permitam um exercí-
pla a figura do indeferimento tácito ao fim cio de planeamento mais rigoroso.
de 90 dias. Tal significa que cerca de quatro Por fim, será também um bom contributo,
meses após a instrução do pedido, haverá a definição de um único instrumento que
uma pronúncia por parte da respectiva tu- vise declarar/reconhecer a utilidade pública,
tela, ou seja, 22 meses depois da emissão da ou o interesse público de uma acção, ainda
DIA e pouco mais de um ano desde a con- que não constitua peça suficiente para dis-
clusão do Projecto de Execução. pensar as diferentes validações específicas
Como o processo de concurso se pode de- pelas respectivas tutelas.
sencadear logo que esteja disponível o Pro-
jecto de Execução, percebe-se que, na maio- * Responsável da área de ambiente na REFER
ria dos casos, tal processo deixou de ser um (desde Março de 2003). Mestre em Gestão
caminho crítico no lançamento das obras que e Tecnologia de Recursos Minerais (FEUP),
afectem este tipo de condicionantes. Licenciado em Engenharia de Minas (FEUP).

78 INGENIUM | Maio/Junho 2007


ANÁLISE tes ferramentas: Visualizador de Produtos,
Serviços WMS e WFS, e Consulta de Infor-
Informação Geográfica mação Cadastral.

Institucional na Internet O visualizador interactivo de mapas (Figura


1.3) conjuga, numa única interface, a visua-
lização de produtos, como a Carta Adminis-
GeoPortais do Instituto Geográfico trativa Oficial de Portugal (CAOP), a Carta
de Risco de Incêndio Florestal (CRIF), as
Português e do Instituto séries cartográficas: Cartas de Portugal nas
escalas: 1:500 000, 1:200 000, 1:100 000,
Geográfico do Exército 1:50 000 e Ortofotomapas.

Manuela Vasconcelos 1, José A. G. Martins 2 e Luis F. P. Nunes 3

1. INFORMAÇÃO GEORREFERENCIADA
ONLINE DO INSTITUTO GEOGRÁFICO
PORTUGUÊS
O Instituto Geográfico Português – IGP
(www.igeo.pt) integrado no Ministério do
Ambiente, do Ordenamento do Território Figura 1.3 – Visualizador Interactivo de Mapas

e do Desenvolvimento Regional, é o orga-


nismo responsável pela execução da política Os ortofotomapas, com uma resolução de
Figura 1.1 – Páginas do SNIG e da RISE
nacional de informação geográfica. 50cm no terreno, foram produzidos pelo
A Directiva INSPIRE (INfrastruture for SPa- IGP a partir de uma cobertura fotográfica
tial InfoRmation in Europe) pretende “pro- digital adquirida pela Direcção-Geral de Re-
mover a disponibilização de informação de cursos Florestais entre Novembro de 2004
natureza espacial, utilizável na formulação, e Setembro de 2006 (Figura 1.4).
implementação e avaliação das políticas da A especificação WMS é um standard que
União Europeia”. Nesse sentido, o IGP dis- normaliza a forma como os clientes podem
ponibiliza ao público, gratuitamente, um con- requisitar mapas a servidores de mapas e tam-
junto de serviços de dados geográficos de bém o modo como estes servidores devem
acordo com os padrões do Open GeoSpatial descrever e devolver mapas. No essencial, a
Consortium (www.opengeospatial.org), Web especificação WMS define a forma de criação
Map Service (WMS) e Web Feature Service naturais. Aqui existe uma plataforma de vi- e visualização de mapas georreferenciados a
(WFS). sualização de informação cartográfica na qual partir de diversas fontes de dados distribuí-
se encontram ferramentas que permitem o das e heterogéneas. Os mapas são uma repre-
O Sistema Nacional de Informação Geo- desenho e a medição de áreas, medição de sentação visual e bidimensional da informa-
gráfica (SNIG), criado há mais de uma dé- distâncias, entre outras. ção em formato raster. Através dos serviços
cada, é uma infra-estrutura Nacional de O Atlas de Portugal foi um trabalho promo- WMS fornecidos pelo IGP, encontram-se dis-
Dados Espaciais, que visa a organização, pes- vido pelo IGP em conjunto com uma equipa poníveis a CAOP e a CRIF, estando prevista
quisa e visualização dos Metadados, e o acesso científica de renome, com o objectivo de cons- para breve a inclusão de mais produtos.
a produtos e serviços de dados espaciais tituir um valioso e indispensável veí-
(http://snig.igeo.pt/). Neste portal é possí- culo de transmissão de informação de
vel aceder a um conjunto de serviços, tais suporte e apoio à decisão. Depois da
como a Rede de Informação de Situações edição em papel, surgiu a versão di-
de Emergência (RISE), o Atlas de Portugal gital, onde foram integradas novas
e o Perfil Nacional de Metadados para a In- funcionalidades, tais como a criação
formação Geográfica (Figura 1.1). de mapas à medida do utilizador (Fi-
Na página da RISE encontram-se diversos gura 1.2).
tipos de informação que possibilitam a dife- No novo portal do IGP m@pas on-
rentes organismos aceder a dados relaciona- line: (http://mapas.igeo.pt/) são dis-
dos com situações de emergência e/ou risco ponibilizadas gratuitamente as seguin-

80 INGENIUM | Maio/Junho 2007 Figura 1.2 – Atlas de Portugal


2. GEOPORTAL DO INSTITUTO GEOGRÁFICO
ANÁLISE
DO EXÉRCITO, TRADIÇÃO COM FUTURO
Reconhecendo a importância das tecnologias
de informação, nomeadamente na vertente
da rede Internet, o IGeoE está presente em
www.igeoe.pt naquela rede mundial desde
1995, sendo uma das entidades que integrou,
desde a sua constituição, o então Serviço Na-
cional de Informação Geográfica (SNIG).
A evolução da Internet, fruto do progresso
Figura 1.4 – Pormenor da Informação
disponibilizada no m@pas online tecnológico e da adaptação às necessidades
e hábitos dos utilizadores, influenciou forte-
Figura 2.2. – Sistema SERVIR
mente a presença do Instituto na World para geo-posicionamento de alta precisão
Wide Web. Nomeadamente, com o advento (erros inferiores a 5 cm em zonas abrangidas pela rede)

da Web 2.0, a presença meramente infor-


mativa inicial tem vindo progressivamente a
transformar-se numa arquitectura assente
em serviços disponíveis online suportados
pelas tecnologias ligadas à Internet.
Para além da divulgação do Instituto, prin-
cipais actividades e produtos; para além da
A consulta de informação cadastral permite promoção da utilização geográfica (disponi-
visualizar as Secções Cadastrais, respeitan- bilizando informação de acesso gratuito);
tes aos concelhos que possuem Cadastro para além da contribuição para a formação
Geométrico da Propriedade Rústica, em dos cidadãos ao nível do conhecimento geo- ções, desde software comercial a ferramen-
vigor (Figura 1.5). Para aceder à imagem di- gráfico e outras actividades, o IGeoE dispo- tas open source, passando por visualizadores
gitalizada de uma determinada secção cadas- nibiliza: de informação geográfica, como o Google
tralm basta introduzir os dados sobre o con- – um portal designado IGeoE-SIG (www. Earth, por exemplo.
celho, a freguesia e a secção, que se encon- igeoe.pt/igeoesig/igeoesig.asp), que per- Como desenvolvimentos futuros, consequen-
tram nas cadernetas prediais rústicas. mite o acesso, visualização e exploração tes de uma natural evolução para a Web 3.0,
Com todo este conjunto de serviços, o Ins- da informação da Base de Dados Geográ- perspectiva-se uma maior interacção e capa-
tituto Geográfico Português contribui para fica do IGeoE (figura 2.1). cidades de utilização baseadas numa conec-
a disseminação da utilização da informação tividade ubíqua e pervasiva, disponibilização
georreferenciada de base, enquanto suporte de conteúdos para aplicações non-browser,
ao desenvolvimento sustentável do territó- garantindo-se a interoperabilidade de servi-
rio e da sociedade, permitindo aos cidadãos ços, protocolos e formatos de dados, mate-
um melhor planeamento das suas tarefas nas rializados em três vertentes essenciais:
mais variadas áreas de intervenção. – Melhoria da qualidade, rapidez e varie-
dade de serviços disponíveis online;
– Disponibilização online do vasto acervo de
informação geográfica de carácter histó-
Figura 2.1. – Site do Instituto com alguns rico, possibilitando o acesso a investiga-
dos serviços disponibilizados dores, estudiosos, entidades oficiais e à
comunidade em geral;
– o sistema SERVIR que possibilita o geo- – No âmbito dos compromissos internacio-
posicionamento de alta precisão (figura nais, em particular no contexto da União
2.2); Europeia e NATO, alargar e promover a
– serviços web com possibilidade de acesso utilização de informação de cidadania,
Figura 1.5 – Consulta de Secções Cadastrais a informação de cidadania e informação como resultado da participação do IGeoE
de acesso sujeita a condições contratuais. nestas organizações, particularmente em
A Interoperabilidade e a implementação de actividades de co-produção.
normas internacionais permitem a interliga-
ção entre os vários componentes descritos. 1 Eng.ª Geógrafa, IGP
Fruto desta implementação, a possibilidade 2 TCor. Art. Eng.º Informático, IGeoE
de interligação é extensiva a outras aplica- 3 TCor. Art. Eng.º Geográfo, IGeoE

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 81


ANÁLISE escritas e desenhadas do Projecto de Execu- Também se entende que uma revisão cui-
ção. A actividade da Revisão do Projecto cons- dadosa da medição de todas as espécies de

Revisão titui, assim, uma componente essencial dos


objectivos centrais do Investimento: garantia
de qualidade, rigor orçamental e cumprimento
trabalhos constitui uma tarefa indispensável
no controlo da qualidade de projecto. Por
ela se avalia a consistência dos orçamentos,

de Projectos de prazos.
No entanto, levanta questões de competên-
cia e de ética. As habilitações do Revisor
a sua compatibilidade com as peças de pro-
jecto e a suficiência dos trabalhos estimados.
Por outro lado, os procedimentos próprios
devem ser iguais, se não mesmo superiores à definição de quantidades e de qualidades
às do Autor, no que respeita não só às qua- permitem, embora de modo indirecto, uma
Luís Leite Pinto *
lificações profissionais, mas também na ac- verificação da adequação das soluções con-
tividade e experiência comprovadas na ela- ceptuais à realidade construtiva. Assim, o
boração de projectos de idêntica natureza à Dono da Obra deve ponderar, após confir-
1. INTRODUÇÃO do projecto a rever. Por outro lado, pela Re- mação de uma boa concepção e como me-
visão de Projecto obtém-se um conhecimento dida importante de controlo, uma “remedi-
A natureza multidisciplinar dos estudos a aprofundado de soluções, por vezes inova- ção” das quantidades de trabalho avaliadas
desenvolver no âmbito de um Empreendi- doras, cuja autoria tem que ser objecto de pelos autores dos projectos. Esta verificação
mento, o volume total do investimento e escrupuloso respeito. Caso o não seja, a si- das medições deverá ser realizada por enti-
eventuais severas exigências de prazo, acon- tuação deve ser denunciada e severamente dade independente ou, como alternativa de
selham a organização de uma Revisão de Pro- punida, no âmbito da Lei e dos estatutos que menor exigência, poderá constituir uma res-
jecto. De facto, a avaliação dos registos do regulam o exercício da profissão. ponsabilidade dos empreiteiros e fornece-
andamento de obras de grande dimensão, dores para efeitos de apresentação das suas
fundamenta uma permanente preocupação, 2. OBJECTIVOS PRINCIPAIS propostas, eventualmente explicitada em
constante na prática da supervisão das obras: clausulado contratual.
os trabalhos a mais e os erros e omissões do A Revisão do Projecto deve incidir sobre as
projecto. Aliás, a própria Lei, nas disposições diferentes especialidades intervenientes, tendo 3. METODOLOGIA GERAL
relativas a empreitadas de obras públicas, como principais objectivos:
revelava particulares preocupações naqueles i) A avaliação da qualidade das soluções de Tendo em conta o âmbito e a natureza da
aspectos, concretizadas, por exemplo, no projecto, incluindo a sua exequibilidade; Revisão do Projecto, cujos principais objec-
Dec. Lei n.º 59/99 de 2 de Março. Assim, ii) A análise da adequação das especifica- tivos se resumiram anteriormente, os cor-
nele era introduzido um regime relativo ao ções técnicas; respondentes procedimentos devem ter uma
“controlo de custos”, no qual se refere a “res- iii) A verificação da consistência, da compa- natureza semelhante para todas as áreas dis-
trição muito significativa de possibilidades tibilidade e da suficiência da informação ciplinares e serem, de preferência, divididos
de execução de trabalhos que envolvam au- para construção; em duas componentes: a dos procedimen-
mento de custos resultantes, designadamente, iv) A minimização de erros e omissões dos tos nas áreas disciplinares e a dos procedi-
de trabalhos a mais e erros ou omissões”. projectos. mentos nas interfaces técnicas.
No entanto e sem prejuízo das especifica- A análise das peças desenhadas, nomeada- a) Procedimentos nas áreas disciplinares:
ções do Caderno de Encargos, a Revisão do mente as de geometrias ou de dimensiona- – Verificação da concepção e dos cálcu-
Projecto não poderá ignorar o que, em regra mento geral, reveste-se de particular impor- los
e de acordo com a Lei, constituem obriga- tância, porque unicamente através delas o – Verificação das peças desenhadas
ções e responsabilidades do autor do pro- Revisor conhecedor e experiente detecta erros – Controlo das alterações de projecto
jecto geral no âmbito da coordenação das de concepção que podem não ser traduzidos – Controlo das telas finais
actividades de todos os intervenientes: “in- por incorrecções ou erros nos cálculos. É pelo b) Procedimentos nas interfaces técnicas:
tegração das suas diferentes partes num con- desenho que o Autor de um projecto traduz – Informação
junto harmónico e coerente, de fácil inter- uma concepção, que descreve as soluções de – Qualidade
pretação e capaz de fornecer todos os ele- base do problema técnico que lhe foi subme- – Segurança e Saúde no Trabalho
mentos necessários à execução da obra”. tido e que revela o maior ou menor grau da – Gestão de prazos
Em qualquer circunstância, entende-se que sua competência e da sua experiência. Os cál- – Gestão de custos
tanto os objectivos do Dono da Obra como culos são condições necessárias de correcção – Contratação
os trabalhos da Fiscalização beneficiam, em conceptual mas não raras vezes não são con- Qualquer destes dois conjuntos de procedi-
larga medida, de uma actividade de Revisão dições suficientes: podem estar correctos e a mentos, de verificação e de controlo, tem
do Projecto que tenha como objectivo prin- solução ser má. Na base da Engenharia está como base princípios gerais e actividades
cipal, para além das verificações de correcção, a Física e não a Matemática e um competen- principais que podem considerar-se como
de exequibilidade e de compatibilidade das te Revisor não o pode esquecer ou menos- características de uma metodologia de Re-
soluções, uma garantia da suficiência das peças prezar. visão do Projecto.

82 INGENIUM | Maio/Junho 2007


3.1 Princípios gerais
ANÁLISE
A Revisão do Projecto deve desenvolver-se
tendo em atenção, entre outros, os seguin-
tes princípios:
i. A actividade de Revisão não se deve de-
senvolver a jusante ou na fase final da
elaboração do Projecto de Execução, mas,
sempre que possível, a montante, e re-
vestir-se de uma natureza sistemática e
contínua desde o início dos vários estu-
dos. De facto, só assim será possível as-
segurar que os procedimentos dos Au-
tores dos Projectos garantem a indispen-
sável compatibilidade interdisciplinar,
essencial à qualidade da solução global e
ao bom desenrolar dos trabalhos de cons-
trução.
ii. Os estudos das várias áreas disciplinares
devem ser classificados tendo em aten-
ção a sua complexidade técnica, a sua
importância financeira e o seu impacto
no que respeita ao sucesso global do Em-
preendimento. Esta classificação permi-
tirá mobilizar de modo equilibrado e efi-
caz os recursos afectos às equipas de re-
visão dos projectos e definirá a intensi-
dade e o grau de exigência das operações
de verificação.
iii. Qualquer trabalho da Revisão deve ba-
sear-se nos programas elaborados pelo
Dono de Obra para as várias especialida-
des e para projectos específicos. Assim,
uma das primeiras tarefas da Equipa de
Revisão do Projecto deverá ser a de uma
clara e total identificação das soluções
requeridas, no domínio técnico e orça-
mental. 3.2 Acções Periódicas iii. Realização de reuniões com os responsá-
iv. Devem ser oportunamente e completa- veis pelas áreas disciplinares, de modo a
mente identificados todos os eventuais Constituídas e organizadas as equipas de Re- avaliar a situação de cada uma das fases
erros e omissões, incluindo as suas con- visão de Projecto, de acordo com a importân- de projecto e a necessidade de eventuais
sequências no âmbito das interfaces dis- cia, complexidade e volume dos estudos de recomendações de alterações ou de adi-
ciplinares, para efeito de imediata infor- cada área disciplinar, deve ser assegurado, para tamentos.
mação ao Dono da Obra. Em casos crí- além dos trabalhos de verificação técnica, o iv. Realização de reuniões sectoriais de co-
ticos, deverá ser dado ao Autor do Pro- seguinte conjunto de acções periódicas: ordenação interdisciplinar, de modo a
jecto um prazo para apreciação e resposta i. Avaliação da suficiência e adequação dos assegurar a coerência e a suficiência das
formal às questões levantadas, findo o meios humanos e materiais afectos ao soluções.
qual será emitida uma informação ao Projecto de modo a garantir um correcto v. Apresentação periódica ao Dono da Obra
Dono da Obra contendo as recomenda- desenvolvimento dos trabalhos. da situação da Revisão do Projecto, pro-
ções consideradas necessárias para garan- ii. Controlo do planeamento dos projectos, pondo as necessárias medidas correctivas
tia de um correcto desenvolvimento dos mantendo o Dono da Obra informado ao desenvolvimento dos projectos, de
estudos no domínio técnico e tendo em sobre eventuais atrasos, nomeadamente modo a evitar futuras situações de atraso
atenção o cumprimento das metas orça- os que eventualmente prejudicam a acti- em obra.
mentais e das datas de início e de con- vidade da Revisão do Projecto ou as datas
clusão das obras. de início e de conclusão das obras. * Eng.º Civil – IST

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 83


ANÁLISE e privadas, que se pronunciaram favoravel-
mente, após o que foi publicado o PRN 85

Revisão do Plano através do Decreto-Lei n.º 380/85, de 26


de Setembro, concluindo-se, assim, o pro-
cesso de revisão do Plano Rodoviário Nacio-
Rodoviário Nacional nal de 1945, iniciado em 1978.
O PRN 85 teve como principal objectivo a
P R N 2000 necessidade de reduzir a extensão da Rede
Rodoviária Nacional e veio introduzir como
principais inovações estruturantes os concei-
Jorge Zuniga Santo * tos de Rede e de Itinerário.
A partir de 1997, passados cerca de dez anos
sobre a aprovação do PRN 85, iniciaram-se
os trabalhos de revisão do PRN 85, tendo
m Portugal, existem três tipos de redes em consideração a experiência obtida com

E públicas de vias de comunicação rodovi-


ária com características e funções distin-
tas, mas complementares: a Rede Rodoviá-
a sua implementação, os desenvolvimentos
resultantes da adesão de Portugal à União
Europeia e a procura do tráfego rodoviário
ria Nacional, que só existe no Continente, nesse período. Diminuir os custos de operação e facilitar
as Redes Rodoviárias Municipais, uma por A partir de 1985 verificou-se um elevado a competitividade das actividades econó-
cada concelho, e os Arruamentos Urbanos, ritmo de aumento do tráfego, resultado do micas;
integrados nos respectivos tecidos urbanos. bom ambiente da economia nacional e do Desbloquear o desenvolvimento dos cen-
Nas Regiões Autónomas, existem Redes Ro- papel desempenhado pela melhoria da rede tros urbanos;
doviárias Regionais, exploradas de acordo rodoviária no aumento da procura do trans- Possibilitar um urbanismo menos concen-
com a legislação regional própria. porte de pessoas e mercadorias. trado e a melhoria do meio ambiente.
O actual Plano Rodoviário Nacional, que de- Desde a entrada em vigor do PRN 85, o trá-
fine a Rede Rodoviária Nacional do Conti- fego de veículos ligeiros de passageiros e de Foram introduzidas diversas inovações, des-
nente, começou a ser delineado em finais mercadorias apresentou taxas anuais de cres- tacando-se:
dos anos 70, no Gabinete de Planeamento cimento, respectivamente, de 8 e 5 %. Em articulação com propostas de política
da Junta Autónoma de Estradas, por inicia- A revisão do PRN 85 foi concretizada entre de ordenamento do território, na época
tiva de Engenheiros comprovadamente ex- 1998 e 1999, através de dois diplomas: o em debate público, foi criada uma nova
perientes em Planeamento rodoviário estra- Decreto-Lei n.º 222/98 de 17 de Julho e a classe de estradas, as Estradas Regionais,
tégico. Lei n.º 98/99 de 26 de Julho, esta resultante que seriam integradas nas regiões se o re-
A primeira proposta foi apresentada publi- da apreciação parlamentar do primeiro, fi- ferendo de 1998 tivesse sido favorável à
camente no “Congresso 80” da Ordem dos cando, assim, em vigor o designado PRN regionalização;
Engenheiros, onde foi objecto de ampla dis- 2000. Definição dos elementos da Rede Rodo-
cussão, principalmente no âmbito da coor- viária Nacional que deverão ter caracterís-
denação de transportes. No PRN 2000 mantiveram-se os mesmos ticas de Auto-estrada, criando-se uma Rede
A proposta formal e definitiva foi submetida objectivos estratégicos do PRN 85: Nacional de Auto-estradas.
a apreciação de diversas entidades públicas Assegurar o crescimento económico; Em articulação com os instrumentos de

84 INGENIUM | Maio/Junho 2007


ANÁLISE

ordenamento do território, foram previs- Definição de limiares de qualidade ope- soleta por via das alterações introduzidas
tas Variantes e Circulares nos principais racional para as estradas, em função: na rede pelo PRN 85 e a segunda resul-
centros urbanos, para acesso aos corredo- a) do estado actual; tante de uma simples iteração temporal de
res nacionais de grande capacidade, me- b) da qualidade desejável futura e do es- números, na sequência do lançamento de
lhorando as condições de circulação, co- forço de investimento necessário para concursos de concessão, mas sem qualquer
modidade e segurança do tráfego gerado passar de a) a b) num espaço de tempo critério explicável ou compreensível.
nesses locais. razoável e compatível com as condições Definição da participação de outras enti-
Como disposições especiais no sentido de de serviço e segurança exigidas. dades, públicas e privadas, à luz do novo
promover a segurança rodoviária aos vários Selecção dos elementos (corredores ou quadro institucional recentemente criado
níveis da sua aplicação, foram criadas Au- secções) da Rede Nacional de Auto-estra- pelo PRACE, promovendo a articulação
ditorias de Segurança Rodoviária, cujos das para serem explorados em regime de institucional com Autoridades Metropoli-
resultados e recomendações serão tradu- concessão. tanas de Transportes, Autarquias, Conces-
zidos na elaboração anual de um Plano de Criação de duas tipologias de Auto-estra- sionárias, Empresas de TP’s, Serviços de
Segurança Rodoviária. das: Interurbanas e Urbanas, podendo as informação ao utente (TV, Rádio, GSM),
Para melhorar a eficiência do sistema de primeiras ser integradas nos Itinerários Polícia e socorro, além de outros interes-
circulação e transportes foi prevista a ins- Principais da Rede Fundamental e as se- sados no sector.
talação de Sistemas inteligentes de infor- gundas na Rede Complementar, em Itine-
mação e gestão de tráfego nos principais rários Complementares das Áreas metro- Com estas reflexões sobre a revisão do Plano
corredores de grande capacidade e nas politanas. Rodoviário Nacional, já publicamente anun-
Áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Enquadramento das Redes Transeuropeias ciada pelo Governo, e com vista à criação
na Rede Rodoviária Nacional, considerando de condições para as novas formas de con-
Passados 9 anos da entrada em vigor do PRN as duas redes objecto de compromissos in- tratualização entre o Estado e a nova Admi-
2000, e sendo os ciclos de 10 anos os mais ternacionais formais do nosso País: Rede nistração Rodoviária Nacional, pretende-se
razoáveis para a revisão de instrumentos de TERN e Rede GETI’s (Estradas E). contribuir para a evolução do paradigma his-
planeamento sectorial estratégico, como é o Não tendo sido aprovada a regionalização tórico do sector rodoviário, através da nova
Plano Rodoviário Nacional, encontramo-nos, no referendo de 1998, a existência no PRN definição do quadro regulador da Rede Ro-
presentemente, na oportunidade ideal para da classe de estradas regionais ficou total- doviária Nacional do Continente, mais mo-
iniciar esses trabalhos. mente desenquadrada, devendo ser desen- derna, ajustada a novas políticas de transpor-
Para além dos ajustamentos naturais decor- volvido trabalho com vista ao seu enqua- tes, de segurança e ambientais, e que pro-
rentes da passagem do tempo, a revisão do dramento, à luz da nova organização ad- mova também as melhores condições para
PRN deverá manter as suas redes já conso- ministrativa e territorial já anunciada. o nível de vida dos portugueses.
lidadas: Rede Nacional de Auto-estradas, Estabelecimento de critérios de numera-
Rede Nacional Fundamental e Rede Nacio- ção das estradas classificadas e das que
nal Complementar, podendo assentar agora foram ou serão desclassificadas, uma vez * Engenheiro Civil – IST
em modernos critérios de Estratégia e Qua- que ainda vigora no terreno a numeração Coordenador da Especialização de Vias
lidade funcional, cujos principais aspectos do PRN 45 e a mais recente numeração de de Comunicação e Transportes da
podem ser: Auto-estradas, a primeira totalmente ob- Ordem dos Engenheiros

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 85


ANÁLISE 1501 foi edificado um novo Arsenal de Ma-
rinha compreendendo a área entre o Ter-
Arsenal do Alfeite reiro do Paço e o Largo do Corpo Santo,
onde se manteve em actividade por um pe-

Um organismo do Estado ao serviço ríodo superior a dois séculos.


A exiguidade do espaço disponível, a sua lo-
calização na Baixa de Lisboa e as más con-
da manutenção dos navios da Armada dições do solo, foram determinantes para o
início dos estudos para a mudança de local

Uma unidade industrial do Arsenal de Marinha. Das diversas alter-


nativas de localização foi eleito o Alfeite,
onde se podia contar com uma área segura
relevante no porto de Lisboa para o estacionamento da esquadra naval que
se projectava construir.
Victor Gonçalves de Brito *
Em 1928 outorgou-se o contrato para a cons-
trução do Arsenal do Alfeite, ao abrigo do
regime das reparações de guerra alemãs,
tendo as obras de construção sido concluí-
das em Dezembro de 1937.

b) Início da Laboração
O Arsenal do Alfeite entrou em plena labo-
ração em 1938, sendo então considerado um
dos maiores e melhor apetrechados estabe-
lecimentos do género.
O primeiro navio a atracar no Arsenal foi o
Contra-Torpedeiro “Tâmega” e a honra da
primeira reparação coube ao Contra-Torpe-
deiro “Dão”.
A 3 de Maio de 1939 realizou-se a cerimónia
oficial de inauguração do Arsenal do Alfeite
Arsenal do Alfeite é um estabelecimento assim, um centro de excelência que o inte- com o assentamento da quilha da primeira

O industrial integrado na Marinha, que tem


como finalidades principais a construção
e reparação de navios.
resse nacional justifica manter.
O Arsenal é o estaleiro naval mais bem ape-
trechado a operar no porto de Lisboa e pos-
unidade da Marinha de Guerra aí construída.
Tratou-se do navio hidrográfico “D. João de
Castro”. Entretanto, em Janeiro de 1939,
Presentemente, a actividade do Arsenal con- sui, nalgumas áreas, uma capacidade tecno- havia-se iniciado a transferência, em grande
centra-se na manutenção e na modernização lógica única. escala, da aparelhagem do velho Arsenal de
e conversão dos navios da Armada. O pro- Marinha para o Alfeite e, pelo Decreto-Lei
fundo envolvimento do estaleiro na susten- 1. BREVE RESENHA HISTÓRICA n.º 29.595 de 13 de Maio de 1939, foi ex-
tação técnica e logística dos submarinos, uni- tinto definitivamente o Arsenal da Marinha.
dades onde a fiabilidade e segurança de ope- a) Razões da instalação
ração assumem uma importância fundamen- do Arsenal no Alfeite c) Configuração inicial
tal, representa, por si só, uma marca de qua- No século XIX, significativas mutações po- Desde a sua construção, o Arsenal do Alfeite
lidade reconhecida internacionalmente. líticas e económicas e a descoberta do vapor ocupa uma área aproximada de trinta e cinco
A actividade de construção de novas unida- e da electricidade, aliada ao desenvolvimento hectares, sendo oito de área coberta. A quase
des, embora com um peso reduzido na fac- da indústria metalúrgica, alteraram profun- totalidade desta área foi conquistada ao rio,
turação, tem uma acentuada relevância tec- damente a construção naval em Portugal. por meio de aterros executados com areia
nológica. Foi, então, profunda a transformação em vir- proveniente das escarpas confinantes.
A capacidade de projecto, apesar do redu- tude do aparecimento dos navios de aço e
zido número de efectivos, constitui uma sig- da propulsão a vapor, substituindo gradual- d) Fases de actividade do Arsenal
nificativa mais-valia, pela comprovada qua- mente os navios de madeira e à vela. 1939 a 1960 – Preponderância da cons-
lidade das soluções destinadas a satisfazerem Estas circunstâncias influenciaram decisiva- trução de navios, tendo o Arsenal do Al-
os requisitos dos “Armadores”, seja em novas mente a actividade do Arsenal de Marinha, feite atingido na década de 50 o estatuto
construções, seja nas conversões e moderni- cuja criação remontava já ao século XIV. Si- de um estabelecimento de referência na
zações de navios existentes. Consolida-se, tuava-se então na Ribeira Velha, e só em indústria nacional.

86 INGENIUM | Maio/Junho 2007


1960 a 1974 – Equilíbrio entre as activi-
ANÁLISE
dades de construção e reparação. De sa-
lientar o contributo para o esforço de guerra
no Ultramar durante a década de 60.
1974 a 1990 – Clara preponderância da
manutenção de navios.
Ao longo da década de 70, procedeu-se
à modernização e ao aumento do âmbito
de actividade do estaleiro (construção da
doca seca e integração das novas Divisões
de Armamento e Electrónica) e arranque
da manutenção dos navios construídos
em França (fragatas e submarinos).
Nos anos 80, procedeu-se à reorganiza-
ção e reequipamento do estaleiro e ao re-
forço da ligação aos organismos da Super-
intendência dos Serviços do Material.
1990 à actualidade – O Arsenal faz hoje
parte do subsistema logístico de manu-
tenção do 3.º escalão, juntamente com a ção do Arsenal assegura que os submarinos, zado, ao qual se associam mecanismos de
Direcção de Navios e a Direcção de Abas- uma vez reparados e testados, satisfazem os controlo de qualidade, garantindo, assim, ele-
tecimento, sob a égide do V/Alm. Super- padrões de fiabilidade e segurança que os tor- vados padrões de segurança e fiabilidade.
intendente dos Serviços do Material. nam prontos para imersão.
Salienta-se, neste período, a adaptação do Por alvará de 29 de Março de 1990, Sua Ex-
Estabelecimento para manter as novas Fra- celência o Presidente da República conferiu
gatas “Vasco da Gama”. ao Arsenal do Alfeite o título de membro-
-honorário da Ordem do Mérito Agrícola e
Industrial (classe do Mérito Industrial).
Neste início do século XXI, o Arsenal do
Alfeite continua empenhado em manter e
justificar o prestígio internacional granjeado
no passado. A capacidade de gestão de projectos de
grande envergadura por parte do Arsenal
2. OUTROS ELEMENTOS tem sido amplamente comprovada, quer na
RELATIVOS À ACTIVIDADE manutenção de unidades navais, quer na
construção de novos navios. Dispõe de es-
a) Evolução da população do Arsenal pecialistas em sistemas de planeamento, co-
Ao longo da sua existência, construíram-se Em 1940, o Arsenal contava com perto de ordenação e controlo e dispõe das mais mo-
no Arsenal mais de 132 navios e embarca- 1500 trabalhadores, número que foi progre- dernas ferramentas informáticas para planea-
ções diversas, quer para a Marinha, quer para dindo gradualmente até atingir, entre 1976 mento e controlo de produção industrial e
outras entidades nacionais e estrangeiras. e 1980, o maior número de trabalhadores gestão de projectos.
Actualmente, a capacidade do estaleiro tem de sempre, aproximadamente 3500. Nos seus processos nucleares – projectos de
estado, prioritariamente, absorvida na ma- Desde então, tem-se registado uma descida navios, construção e reparação de navios de
nutenção dos navios da Armada. Muito re- gradual, contando actualmente com cerca superfície e manutenção de submarinos – o
levante tem sido a concretização de diversos de 1400, dos quais 107 são militares. Arsenal está certificado de acordo com a
projectos de modernização e de conversão norma ISO 9001:2000, sendo o primeiro, e
de navios, alterações decorrentes de deci- b) Infra-estruturas e recursos actualmente único, organismo da Marinha a
sões de actualização operacional, de mudança Actualmente, o Arsenal possui vinte e nove obter esta certificação. Esta norma estabe-
de missão ou simplesmente de extensão de áreas tecnológicas devidamente apetrecha- lece um modelo e define um conjunto de
vida útil. das, cinco carreiras de construção (desacti- requisitos relativos ao sistema de gestão da
Desde 1974 que a direcção técnica de ma- vadas), uma doca seca, dois planos inclina- qualidade de organizações que queiram de-
nutenção de submarinos compete ao Arsenal dos, uma doca flutuante e 672 metros de monstrar, através de um processo de certi-
que, nesta área, desfruta de uma credibili- pontes e cais de atracação. ficação, a sua capacidade de garantir, consis-
dade reconhecida internacionalmente. Esta O Arsenal possui um completo sistema de tentemente, a conformidade dos seus pro-
responsabilidade significa que a administra- gestão da produção, totalmente informati- dutos e a satisfação dos seus clientes.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 87


ANÁLISE
O Arsenal tem quatro dos seus sete labora- o Arsenal tem executado diversas outras ac-
tórios de inspecção de qualidade acreditados tividades, rentabilizando as capacidades ins-
pelo Instituto Português de Acreditação taladas; são de salientar a manutenção dos
(norma NP EN ISO/IEC 17025). equipamentos de telecomunicações, simu-
ladores e outros equipamentos electrónicos
c) Importância da formação profissional das unidades em terra da Marinha e os tra-
De há muito que se desenvolvem significa- balhos no domínio das inspecções e controlo
tivos esforços no sentido de adaptar as ca- de qualidade, compatíveis com os laborató-
pacidades produtivas aos fins que ao esta- rios existentes.
leiro são atribuídos, pelo que tem sido cons-
tante a aposta na formação profissional.
A existência de cursos de vários níveis, mi-
nistrados aos trabalhadores em várias fases
da sua carreira profissional, tem permitido
conseguir uma melhor qualificação dos pro-
fissionais.
O sistema de formação do Arsenal do Al-
feite está acreditado pelo Instituto para a
Qualidade na Formação.
Com o objectivo de ministrar o ensino se-
cundário em horário pós-laboral, o Arsenal
estabeleceu um protocolo com a Direcção
Regional de Educação de Lisboa do Minis-
tério da Educação.
Desde 1980 que desenvolve actividade for-
mativa no âmbito da Lei da Aprendizagem
(financiada pelo Fundo Social Europeu - Ins- Não pode deixar de ser também referida,
tituto do Emprego e Formação Profissional), por se tratar de uma realização única na vida
ministrando actualmente cursos de nível II do Arsenal, a recuperação da fragata “D. Fer-
e III, que conferem equivalência ao 9.º e ao evitando as contingências de um mercado nando II e Glória”, empreendimento cuja
12.º anos de escolaridade, respectiva- nacional de oferta de serviços de manuten- gestão foi entregue ao Arsenal, na sequência
mente. ção, de resposta e qualidade irregulares. de um protocolo assinado em 1990 entre a
A prestação de serviços de manutenção não Marinha e a Comissão Nacional para a Co-
d) Potencialidades e factores se resume a meras tarefas rotineiras; de memoração dos Descobrimentos Portugue-
diferenciadores acordo com a boa tradição da indústria naval, ses. Durante o período de seis anos que durou
O Arsenal do Alfeite, para além de usufruir o Arsenal, sempre que necessário, desen- a recuperação da Fragata, intervieram, nas
de uma localização geográfica privilegiada, volve soluções tecnológicas de reparação, diversas actividades levadas a cabo, cerca de
dispõe de capacidade industrial em todos os com significado económico e que frequen- 500 trabalhadores do Arsenal do Alfeite, às
domínios da tecnologia, essencial à manuten- temente ultrapassam impasses resultantes quais dedicaram mais de 400.000 horas de
ção da esquadra da Marinha, o que lhe per- de avarias atípicas ou da inexistência de peças trabalho. O navio foi entregue no dia 27 de
mite manter autonomia de actuação, ser um sobressalentes. Fevereiro de 1998. A recuperação desta fra-
pólo tecnológico de excelência, evitando avul- A permanente disponibilidade do Arsenal gata mereceu, da World Ship Trust, a atri-
tados encargos com contratação de serviços para responder aos requisitos da Marinha no buição do prémio “International Maritime
importados, e garantir uma assinalável regu- âmbito da manutenção das unidades navais Heritage Award”. O Arsenal continua a as-
laridade na qualidade dos serviços prestados, e a facilidade de articulação com os restan- segurar a conservação deste navio histórico,
tes organismos da Superintendência dos Ser- que em breve será docado numa doca de
viços do Material, em particular com a Di- Cacilhas que está a ser reactivada. Esta do-
recção de Navios e a Direcção de Abasteci- cagem, ao fim de 10 anos seguidos a flutuar,
mento, permitem ganhos de eficiência no permitirá a execução de trabalhos de con-
funcionamento, constituindo outros facto- servação e restauro, cuja necessidade perió-
res a salientar, sublinhando a vantagem da dica é comum nestes tipos de navios.
existência do Arsenal como estabelecimento
industrial prioritariamente dedicado à exe- * Engenheiro Naval,
cução de trabalhos para a Marinha. Vice-Presidente Nacional
Para além da construção e reparação navais, da Ordem dos Engenheiros

88 INGENIUM | Maio/Junho 2007


OPINIÃO

O Regulamento
Geral do Ruído:
Algumas Notas

Jorge Patrício * sensatez, devendo procurar-se nos princípios


estruturantes da lei a resposta para essa nova
situação. Todas as leis têm as suas lacunas, as
ai entrar em vigor, em Julho próximo, quais decorrem, naturalmente, do carácter

V a segunda fase do novo Regulamento


Geral do Ruído (Decreto-Lei n.º 09/07,
de 17 de Janeiro). Este regulamento subs-
generalista que enforma a sua contextualiza-
ção. E este regulamento não foge à regra!

titui o Regime Legal da Poluição Sonora Esta legislação tem como princípio base o
(RLPS), aprovado em 2000, por força da licenciamento/planeamento em função do
transposição para o direito interno da Di- uso do solo. É esta a linha condutora do RGR
rectiva Europeia sobre Gestão e Avaliação quando estabelece exigências para o ruído
do Ruído Ambiente, que corporizou o De- ambiente recorrendo a critérios de zona-
creto-Lei n.º 146/2006, de 31 de Julho. Dei- mento, à utilização de mapas de ruído, à
xou de se designar RLPS dado que Regime concepção de planos de redução de ruído e
Legal é todo o quadro legislativo sobre a ma- à imposição de obrigações para entidades
téria e não um normativo em particular. gestoras de redes de tráfego, visando a sal-
vaguarda da tranquilidade das pessoas que
Sempre que é publicada uma nova legislação vivem, trabalham, ou simplesmente estão
sobre o ruído instala-se uma efervescência em locais sensíveis ao ruído, em meios ur-
crítica no País. Aconteceu com o Regime banos. A acrescer a esta base fundamental,
Legal da Poluição Sonora e está a acontecer o regulamento contempla alguns aspectos
agora com o actual Regulamento Geral do específicos adicionais, como sejam os asso-
Ruído. Não se percebe esta maré de agitação, ciados ao licenciamento de actividades rui-
quando o que está em causa é a salvaguarda dosas permanentes (estabelecimentos co-
da qualidade do ambiente acústico da nossa merciais e eventuais unidades industriais),
envolvente. Poucos dias após ter sido publi- os relacionados com o licenciamento de fes-
cado (ainda o regulamento não estava em tas e romarias e execução de obras, e o ruído
vigor), e já havia quem procurasse avidamente de vizinhança (este último tendo por prin-
por supostas falhas da lei, construindo cená- cípio a protecção do cidadão relativamente
rios de impossibilidades aplicativas e procu- a vizinhos menos escrupulosos do ponto de
rando ambiguidades implícitas. vista de produção de ruído).

Toda a gente sabe que não existe nenhuma O Regulamento Geral do Ruído assenta num
legislação que consiga cobrir todos os casos princípio de lei-quadro, estando estruturado
possíveis e imaginários. Por isso é que ela é em duas valências: uma jurídica e outra téc-
evolutiva. É sempre relativamente fácil con- nica. É na incompreensão deste dualismo que
ceber cenários onde a sua aplicação não seja está uma das grandes incompreensões na va-
objectiva. Mas quando assim é, tem que haver loração deste normativo. De facto, grande

90 INGENIUM | Maio/Junho 2007


OPINIÃO
tidades licenciadoras e fiscalizadoras e o sis-
tema jurídico nacional.

Por fim, não quero deixar de referir a ex-


trema importância da intervenção dos mu-
nicípios para que o RGR tenha plena eficá-
cia. É fundamental e prioritário que as Câ-
maras Municipais cumpram o seu papel
usando as competências que, por lei, lhes
são atribuídas. Á semelhança do antigo RLPS,
o regulamento estabelece a obrigatoriedade
de zonamento de uso do solo com base na
criação de dois tipos de zonas: mistas e sen-
síveis, as quais devem integrar os respecti-
vos PMOTs. Apesar de já terem ocorrido 7
anos desde a introdução deste conceito, que
eu tenha conhecimento, nenhuma Câmara
parte dos profissionais, não se remetendo à em lugar de estarem a contribuir para o pro- ainda efectuou esta definição. Os municípios
apreciação técnica do RGR – antes espraiando gresso e afirmação da qualidade ambiental na mandaram fazer mapas de ruído e entende-
a sua análise à componente jurídica –, assu- área da acústica, estão sistematicamente a ram ter o seu dever cumprido. Erro crasso!
mem-se mais como advogados do ruído do comprometer a sua credibilidade. Por exem- Os mapas de ruído não fundamentam o pla-
que como técnicos dele. Aos profissionais plo, publica-se o regulamento e aparecem logo neamento, antes, quando devidamente cru-
cabe desenvolver metodologias, produtos e empresas/firmas a promoverem cursos sobre zados com a definição de zonamento exigí-
técnicas para controlar e gerir o ruído. Às ins- o RGR. Não há cursos sobre leis. As leis valem vel, contribuem para a identificação de ne-
tâncias fiscalizadoras e licenciadoras cabe apli- por si próprias. O que pode haver são acções cessidade de acções correctivas visando a
car a lei. E à sociedade em geral cabe cum- de esclarecimento, ou então cursos sobre a melhoria do ambiente acústico. Ou seja, não
pri-la. Se assim for, e se interiorizarmos este temática técnico-científica que a lei aborda. podem ser confundidos como o próprio pla-
desiderato, certamente que não será difícil Por exemplo, nunca se viu um escritório de neamento, e não podem ser assumidos como
usufruirmos de um ambiente sonoro consen- advogados, por mais meritório que seja, pro- ferramentas administrativas, de carácter pas-
tâneo com os padrões de qualidade de vida mover cursos de formação sobre o código sivo, esquecidas nas gavetas autárquicas.
exigíveis pela nossa saúde psico-fisiológica. penal. Além do mais, este pretenso esforço é
inglório porquanto só as entidades de carác- Sendo o RGR um regulamento de licencia-
Este RGR parece ser um normativo equili- ter institucional é que poderão estabelecer mento de autorização e não de fiscalização, a
brado. Mantém a mesma filosofia do anterior, uma espécie de jurisprudência na temática. aplicação dos critérios de zonamento de uti-
ou seja prioriza o uso do solo como aspecto lização do solo, traduzidos na definição de
predominante da política de controlo de ruído. Outro aspecto prende-se com o entendimento zonas mistas e sensíveis, é, pois, o aspecto ful-
Soluciona as ambiguidades até então existen- dos laboratórios de ensaio relativamente às cral, direi o “core business” deste normativo.
tes, e contempla novas disposições identifica- implicações do RGR na sua actividade. É des- É certo que o compromisso a assumir pelas
das pela prática aplicativa do RLPS. Consa- propositada esta preocupação porquanto os Câmaras, com a integração destas definições
gra, sob certas condições, um princípio de laboratórios são acreditados para a realização nos seus PMOTs, irá obrigar muitos municí-
precedência nas medidas correctivas a imple- de medições, sobre um determinado produto pios a desenvolverem planos de redução de
mentar em urbanizações consolidadas. Intro- (ruído), em conformidade com uma norma ruído, que terão obviamente os seus custos.
duz um indicador de ruído para o período de procedimento específica (actualmente a Mas as Câmaras não podem furtar-se a isso.
nocturno e um indicador global para as 24h, NP 1730), para a qual as disposições regula- Têm que assumir as definições referidas, con-
o qual pode ser, na maior parte das situações mentares não são aplicáveis. Ou seja, a apli- sagrá-las nos seus instrumentos de ordena-
correntes, representativo do ruído em perío- cação do regulamento depende das medições mento, desenvolver as acções consequentes
do diurno. É exigente quanto baste, sem ser mas as medições não dependem do regula- e informar os interessados. Caso contrário,
fundamentalista ao ponto de comprometer o mento, dependem de normas. Os laborató- estarão a iludir as suas responsabilidades le-
desenvolvimento económico e os interesses rios têm que ter a sua autonomia técnica, as- gais, tornando passivo o RGR e prejudicando
da comunidade social. Agora, exige-se aos sumi-la, e saberem justificar as opções que o conforto ambiental dos seus munícipes, que
profissionais da acústica e à comunidade téc- tomam, definindo os seus próprios critérios são, na essência, a razão da sua existência.
nica em geral uma postura colaborante, pró- de amostragem e de tratamento de dados,
-activa, aberta e positiva, desenvolvendo a sua como qualquer outra entidade técnica com * Membro da Especialização
actividade e acções integradas naquilo que o funções equivalentes. Quem julgará os resul- de Engenharia Acústica da OE, Presidente
regulamento a eles consagra. Caso contrário, tados por eles obtidos será o mercado, as en- da Sociedade Portuguesa de Acústica

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 91


quadram nos direitos, obrigações e deve- genheiros de Angola, no sentido de distri-
Revista “Ingenium” res da Lei de Imprensa e do Código Deon-
tológico dos Jornalistas.
buir a “Ingenium” junto dos Engenheiros
daquele país, tal como já acontecia com

Estatuto Editorial Cabo Verde e Moçambique.


Foram também editados três livros da co-
INGENIUM EDIÇÕES, LDA. lecção Engenharia, nomeadamente, “A

A revista “Ingenium” é o órgão de co-


municação oficial da Ordem dos En-
genheiros, assumindo-se como o veículo
tigos técnicos e de opinião, análise de le-
gislação e de temas actuais sobre enge-
nharia e com interesse para os engenhei- I – Análise Geral
Apropriação do Território”, “Vigas Arrefe-
cidas” e “Domótica & Segurança Electró-
nica” com uma tiragem de 3.000, 1.000
privilegiado de comunicação com os seus ros, bem como as principais actividades e 3.000 unidades, respectivamente.
membros. Trata-se de uma publicação bi- promovidas pelas Regiões, pelos Colégios Actividade desenvolvida em 2006
mestral e sem fins lucrativos. de Especialidade e pelas Especializações Na sequência do modelo de gestão intro- II – Análise Financeira
A “Ingenium” baseia-se em critérios de de Engenharia. A “Ingenium” procura des- duzido na Ingenium Edições, em Setem-
rigor, honestidade e independência no tra- tacar temas da actualidade na área da en- bro de 2004, deu-se continuidade ao ob- Em 2006, a Revista “Ingenium” conseguiu
tamento dos seus conteúdos, e disponibi- genharia e com relevância para a socie- jectivo de assegurar a sustentabilidade manter o seu desempenho, atingindo os
liza informação dedicada ao universo da dade. económica e financeira desta empresa, objectivos estratégicos, apesar de alguma
engenharia. A “Ingenium” respeita a Constituição da sem subsídios à exploração concedidos quebra da procura no mercado da publi-
A “Ingenium” tem por objectivo divulgar República Portuguesa e de todas as Leis pela Ordem dos Engenheiros, recorrendo cidade.
notícias e eventos, estudos de casos, ar- portuguesas, nomeadamente as que se en- à contratação de publicidade externa e à A nível económico e financeiro, os custos
produção editorial de livros técnicos. aumentaram cerca de 56%, cifrando-se em
Desta forma, foram elaborados contratos 315.539,82 (201.930,53 em 2005).
Demonstração de publicidade com 52 entidades, cujo As rubricas que influenciaram esta varia-
valor total ascendeu a 293.004 , o que ção foram, essencialmente, o custo das
de Resultados Líquidos representou a inserção de uma página mercadorias e das matérias consumidas
dupla, uma página e meia, noventa pági- e os fornecimentos e serviços externos,
Em conformidade com o Artigo 16.º da Lei N.º 2/99, de 13 de Janeiro,
que aprova a Lei de Imprensa, publicamos a Demonstração de Resultados nas ímpares, oito meias páginas ímpares, destacando-se as despesas com os ho-
Líquidos da Ingenium-Edições, Lda.. cinco quartos de páginas ímpares, seis norários e os encargos com os trabalhos
contracapas, um terço de página e catorze especializados em virtude da produção
INGENIUM - Edições, Lda. encartes de publicidade. dos três livros acima identificados.
Demonstração de Resultados Líquidos
O principal trabalho assegurado pela em- Os proveitos registaram um menor acrés-
Euros
presa foi a produção da Revista “Ingenium”, cimo, com um aumento de cerca de 44%
31–12–2006 31–12–2005
Custos e Perdas que continuou a ser publicada bimestral- face ao ano anterior, atingindo o montante
Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas: mente, tendo aumentado a sua tiragem de de 359.094,11 . Esta variação positiva
Mercadorias 21.084,58 6.140,23 forma gradual, ao longo do ano, atingin- das receitas é explicada pela venda dos
Matérias 0,00 21.084,58 0,00 6.140,23
Fornecimentos e serviços externos 267.517,10 189.405,57 do uma produção máxima de 42.500 exem- livros e pelo aumento da publicidade con-
Custos com o pessoal: plares a partir da edição de Julho/Agosto. tratada.
Remunerações 20.768,25 4.157,60
Encargos sociais:
Tal acréscimo deveu-se, sobretudo, a um O resultado líquido do exercício após im-
Pensões 0,00 0,00 acordo estabelecido com a Ordem dos En- postos atingiu o montante de 30.447,66 .
Outros 5.084,81 25.853,06 897,41 5.055,01
Amortizações imobiliz. corpóreo e incorpóreo 474,84 243,31
Ajustamentos 0,00 474,84 0,00 243,31
Impostos 0,20 7,62
Outros custos e perdas operacionais 600,00 600,20 688,61 696,23 INGENIUM - Edições, Lda. INGENIUM - Edições, Lda.
( A )......................... 315.529,78 201.540,35 Balanço Analítico Balanço Analítico
Juros e custos similares Euros Euros
Outros 5,00 30,76 31–12–2006 31–12–2005
Capital Próprio e Passivo 31–12–2006 31–12–2005
( C )......................... 315.534,78 201.571,11 ACTIVO Activo Amortiz. Activo Activo
Capital Próprio
Custos e perdas extraordinários 5,04 359,42 Bruto Ajust. Acum. Líquido Líquido
( E )......................... 315.539,82 201.930,53 Imobilizado Capital 5.000,00 5.000,00
Imposto sobre o rendimento do exercício 13.106,63 13.161,80 Imobilizações corpóreas: Reservas:
( G )......................... 328.646,45 215.092,33 Equipamento administrativo 1.955,40 1.017,43 937,97 486,69 Reservas legais 2.722,03 2.722,03
Resultado líquido do exercício 30.447,66 34.358,54 1.955,40 1.017,43 937,97 486,69 Resultados transitados 57.524,49 23.165,95
359.094,11 249.450,87 Circulante
Sub-total 65.246,52 30.887,98
Existências:
Resultado líquido do exercício 30.447,66 34.358,54
Proveitos e Ganhos Mercadorias 0,00 0,00 0,00 3.385,70
Vendas: 0,00 0,00 0,00 3.385,70 Dividendos antecipados
Mercadorias 61.041,03 8.699,02 Dívidas de terceiros - Curto prazo: TOTAL DO CAPITAL PRÓPRIO 95.694,18 65.246,52
Produtos 14,30 5,72 Clientes c/c 153.708,52 153.708,52 88.609,73
Prestações de serviços 293.691,45 354.746,78 240.397,78 249.102,52 Estado e outros entes públicos 9.582,61 9.582,61 1.769,18 Passivo
Subsídios à exploração 0,00 0,00 Outros devedores 7.317,28 6.681,31 635,97 1.161,09
Dívidas a terceiros - Curto prazo:
Outros proveitos ganhos operacionais 0,00 0,00 170.608,41 6.681,31 163.927,10 91.540,00
Fornecedores c/c 33.509,96 24.075,46
( B )......................... 354.746,78 249.102,52 Depósitos bancários e caixa:
Outros juros e proveitos similares Depósitos bancários 17.689,27 17.689,27 24.863,65 Estado e outros entes públicos 22.865,67 19.470,28
Outros 0,00 0,00 5,01 5,01 Caixa 50,00 50,00 59,02 Outros credores 4.945,41 1.499,60
( D )......................... 354.746,78 249.107,53 17.739,27 0,00 17.739,27 24.922,67 61.321,04 45.045,34
Proveitos e ganhos extraordinários 4.347,33 343,34 Acréscimos e diferimentos: Acréscimos e diferimentos:
( F )......................... 359.094,11 249.450,87 Acréscimos de proveitos 3.543,00 3.543,00 0,00
Acréscimo de custos 29.450,00 0,00
Resultados operacionais: (B)-(A)= 39.217,00 47.562,17 Custos diferidos 317,88 317,88 0,00
Proveitos diferidos 0,00 10.043,20
Resultados financeiros: (D-B)-(C-A)= -5,00 -25,75 3.860,88 0,00 3.860,88 0,00
Resultados correntes: (D)-(C)= 39.212,00 47.536,42 Total de amortizações 1.017,43 29.450,00 10.043,20
Resultado antes de impostos: (F)-(E)= 43.554,29 47.520,34 Total de ajustamentos 6.681,31 Total do passivo 90.771,04 55.088,54
Resultado líquido do exercício: (F)-(G)= 30.447,66 34.358,54 TOTAL DO ACTIVO 194.163,96 7.698,74 186.465,22 120.335,06 TOTAL CAPITAL PRÓPRIO E PASSIVO 186.465,22 120.335,06

92 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Conselho
Jurisdicional

Jurisprudência Disciplinar
este número da “Ingenium”, apre- Invoca, ainda, o arguido que somente deixou Março de 2004, já existindo o conflito

N senta-se um resumo do acórdão do


Conselho Disciplinar, que aplicou a
pena de censura registada a um En-
genheiro Civil por defeitos e atrasos numa
obra de que era técnico responsável e em-
a obra quando a tal foi obrigado pela partici-
pante, nunca tendo abandonado a mesma.
Assim, o arguido considera não ter infringido
qualquer norma do Estatuto da Ordem dos
Engenheiros, designadamente o art.º 87.º.
entre os donos da obra e o empreiteiro/
técnico responsável, interveio como me-
diador do mesmo o Sr. Eng.º..., no decurso
dessas novas negociações foi acordado, atra-
vés de um novo plano de trabalhos, que o
preiteiro. Requer ainda o arguido a suspensão do pre- arguido iria terminar a obra, reiniciando os
Foi recebida, no Conselho Disciplinar da Re- sente processo até ser proferida decisão ju- trabalhos de imediato e rectificando os de-
gião… da Ordem dos Engenheiros, uma par- dicial. feitos existentes na obra, inclusivamente
ticipação da Sra...., contra o Engenheiro.... no que respeita à caleira na cave para dre-
O arguido notificado da Nota de Culpa apre- Fundamentação nagem da água, lançamento das escadas e
sentou a sua defesa. Dos depoimentos do arguido, do Sr. Eng.º... ao muro de suporte de terras.
Em sua defesa diz o arguido ter tido inter- e do Sr. Eng.º..., assim como do Relatório – O arguido, no entanto, não reiniciou a obra
venção na obra identificada na Nota de Culpa, da autoria deste último, resulta como pro- no prazo que tinha sido acordado, tendo
no entanto os factos que lhe são imputados vado que: posteriormente sido afastado da obra pelos
no art.º 4.º e ss. da mesma não correspon- – A obra tinha diversos defeitos, entre os quais donos da mesma face ao novo incumpri-
dem à verdade. os referidos no relatório do Sr. Eng.º..., que mento do acordado por parte do arguido.
Informa ainda o arguido que corre termos, aqui se dá por reproduzido. O arguido com a sua conduta cometeu uma
junto do Tribunal Judicial da Comarca de..., – Existiram alterações na obra em relação infracção disciplinar por desrespeito dos de-
uma acção cível na qual o mesmo é réu. ao projecto inicial, nomeadamente no que veres no exercício da sua actividade profis-
Remete a sua defesa para a contestação ofe- respeita ao muro de contenção de terras, sional, previstos no art.º 87.º, n.º 2 do Esta-
recida no referido processo judicial, apresen- cozinha e casa de banho, sem que tenha tuto da Ordem dos Engenheiros.
tando-a como documento 1 da sua defesa. sido pedida a alteração do projecto. O arguido tem como atenuante o facto de
Na mesma, o arguido alega matéria de Di- – Houve um grande atraso na obra e, a par- não ter nenhuma anterior condenação.
reito que, apesar de relevante para decisão tir de determinada altura, esta encontrava-
judicial, não o é no âmbito do presente Pro- -se quase parada, existindo um desfasa- Da Decisão
cesso Disciplinar. mento a favor do empreiteiro entre o valor Face ao exposto, decide este Conselho Dis-
No que concerne à matéria de facto, o ar- já pago e a execução da obra. ciplinar condenar o arguido na pena de cen-
guido considera e reitera na defesa aqui apre- – Existiram alguns trabalhos a mais na obra, sura registada, prevista nos art.os 70.º, n.º
sentada que sempre prestou os seus serviços alguns relacionados com o aparecimento 1, alínea b) do Estatuto da Ordem dos En-
com a diligência e pontualidade devidas, de águas, o que não era previsível. genheiros e art.º 4.º alínea b) do Regula-
nunca prejudicando o cliente. – Entre Dezembro de 2003 e Fevereiro/ mento Disciplinar.

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Abate de Veículos
em Fim de Vida
Fernando Duarte *

incentivo fiscal ao abate de veículos em pais responsáveis pelo seu relativo fracasso,

O fim de vida foi criado pelo Decreto-Lei


n.º 292-A/2000, de 15 de Novembro.
A exemplo do que acontecia em outros Es-
que pode ser medido pelo facto de, ao longo
dos seis anos de vigência não ter abrangido
mais de 37.000 veículos, cifra pequena se CR/OD, sendo, todavia, necessário que
tados da União Europeia, como a Espanha, tivermos em conta que, em cada ano, são esteja completa, possuindo todos os seus
a França ou a Itália, tal medida destinava-se vendidas cerca de 200.000 viaturas sujeitas componentes.
a proporcionar uma melhoria da segurança ao imposto automóvel. 4.º Deixou também de ser necessária a emis-
rodoviária e reduzir a poluição causado pelos são, pela Direcção-Geral de Viação, da
automóveis, incentivando a compra de car- Visando a simplificação do quadro legal em “autorização de destruição”.
ros novos mais seguros e dotados de tecno- vigor, o Decreto-Lei n.º 33/2007, de 15 de 5.º O certificado de desmantelamento con-
logias menos poluentes e de maior eficiência Fevereiro, introduziu significativas altera- tinua a ser emitido pelo Operador de
energética. ções nesta matéria, sendo de salientar as se- Desmantelamento.
guintes: 6.º Na posse do certificado de destruição,
Tendo surgido numa conjuntura financeira 1.º O requerente do benefício fiscal só ne- podem os interessados dirigir-se, de ime-
difícil, no que se refere às receitas fiscais do cessita de ser titular da propriedade da diato, à Direcção-Geral das Alfândegas e
Estado, o quadro legal criado para facilitar o viatura a abater durante seis meses (era dos Impostos Especiais sobre o Consumo
abate de viaturas em fim de vida, habitual- um ano no regime anterior). (DGAIEC) para requerer o benefício.
mente designado por “regime fiscal do abate”, 2.º Para além dos Centros de Inspecção de
assumiu, desde o início, um carácter tem- Veículos (CIV), as viaturas a abater pas- Para além das alterações agora introduzidas,
porário, que ainda hoje se mantém, uma vez sam também a poder ser entregues nos mantêm-se as outras características deste in-
que a sua vigência vem sendo sucessivamente agora criados Centros de Recepção (CR) centivo fiscal, importando realçar:
prorrogada anualmente. ou nos Operadores de Desmantelamento 1.º O apoio fiscal é de 1000 euros se a via-
(OD). tura a abater tiver mais de 10 anos de
O regime fiscal do abate sempre pecou por 3.º A viatura a abater já não precisa de se uso.
excessivas preocupações burocráticas, po- deslocar pelos seus próprios meios (estar 2.º Tendo mais de 15 anos de uso, o apoio
dendo afirmar-se terem sido estas as princi- em condições de circulação) até ao CIV/ fiscal é majorado para 1250 euros.

96 INGENIUM | Maio/Junho 2007


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o Imposto Municipal Sobre Veículos (IMSV); veis de passageiros (COM/2005/261/final).
o Imposto de Circulação (IC) e o Imposto A proposta do Governo tenta corresponder,
de Camionagem (ICA). deslocando parte da carga fiscal do momento
A reforma pretende privilegiar os veículos de aquisição para a fase de circulação e, gra-
menos poluentes e penalizar os mais poluen- dualmente, ir imputando uma parte cada vez
tes, prevendo uma redução fiscal aos veícu- maior à fase de circulação (IUC).
los com níveis de emissões reduzidos. A cilindrada continua a ser considerada como
A base tributável passa a ser a seguinte: ci- parâmetro (seguro e fácil para a arrecadação
lindrada, nível de emissão de CO2 e nível de receita pela Administração Fiscal) para
de emissão de partículas, no caso dos auto- as tabelas de imposto.
móveis de passageiros, de mercadorias e de A proposta do Governo aponta para que o
utilização mista. novo ISV represente um peso de cerca de
Quanto aos motociclos, ciclomotores, trici- 10% inferior ao do actual imposto automó-
clos, quadriciclos e autocaravanas, a base tri- vel. Os veículos mais poluentes verão a carga
butável é a cilindrada (até 2009). fiscal agravada.
Mantém-se a dupla tributação (uma figura Se o imposto sobre veículos pode baixar na
excessiva e injusta, geradora de efeitos per- altura da aquisição em certos casos, com a
versos). A incidência de IVA sobre o valor tendência que se tem verificado de os auto-
do veículo acrescido do ISV agrava, de forma mobilistas possuírem as suas viaturas durante
substancial, o preço final do veículo. A ele- mais tempo, a carga fiscal total, pelo menos
vada tributação (dupla) na aquisição de au- em determinadas gamas de veículos, aumen-
tomóveis novos, contribui para o alargamento tará.
do mercado de usados importados, muitos A ANECRA disponibiliza no seu site (www.
em fim de vida (segundo dados da ANE- anecra.pt) um simulador que faz os cálculos
CRA, em 2006 foram importados 37.000 a partir da introdução da cilindrada e das
veículos com mais de 10 anos, correspon- emissões de dióxido de carbono do veículo
dendo a 75% do total de usados importados) pretendido.
e, portanto, para a circulação no nosso País, Como muitas pessoas desconhecem as emis-
de motores com tecnologias mais poluido- sões de CO2 do modelo que pretendem, o
ras e de automóveis que potenciam o au- simulador dispõe de um link que indica a
mento do risco na circulação, com a conse- cilindrada exacta e as emissões de CO2 para
quente diminuição da segurança de pessoas todas as marcas e modelos.
3.º Para que exista apoio fiscal é necessário e bens (a partir de 2008, estes automóveis O simulador indica ainda qual a diferença do
que o proprietário da viatura a abater passarão a pagar o mesmo valor de IUC dos que se paga na data da matrícula adquirindo
adquira uma viatura nova sujeita a im- novos, pois a antiguidade deixa de ser tida depois de 1 de Julho e a diferença acumulada
posto automóvel. em conta). de preço em cada ano, somando o imposto
4.º O apoio fiscal concretiza-se através do No sistema do Imposto, operadores e outros na matrícula (ISV) com o anual (IUC) que
abatimento da importância respectiva ao intervenientes no sector automóvel referem se vai pagando, e quando é que se passa a ter
imposto automóvel a pagar pela viatura que a carga fiscal da componente ambiental um pagamento acumulado superior com-
nova adquirida. deveria ser transferida para a fase de circu- prando no segundo semestre deste ano.
5.º Cada viatura nova adquirida só pode ser lação (IUC) e não na aquisição (ISV), por- Também a ACAP (www.acap.pt) disponi-
objecto de um único apoio fiscal. que é na circulação que se polui (princípio biliza um simulador no seu site.
do poluidor-pagador). Está anunciado que, a partir de Junho, a Di-
Reforma da Tributação Automóvel Com um abaixamento mais forte do preço recção-Geral das Alfândegas disponibilizará
de aquisição da viatura, a substituição do no seu espaço na Internet informação sobre
O Governo apresentou, à Assembleia da Re- parque automóvel tenderia a tornar-se mais quanto se vai pagar com as novas regras.
pública, uma proposta de Lei que estabelece rápida, com as vantagens daí advenientes em Os veículos a gasóleo equipados com filtros
a reforma global da tributação automóvel, termos de segurança rodoviária, de eficiên- de partículas de que resultem emissões in-
que entrará em vigor a 1 de Julho. cia energética e de menor poluição, ajudando feriores a 0,005 gr/km, beneficiarão de uma
Com a reforma, são criados o Imposto Sobre também, neste caso, a conter as emissões redução de €500,00 no ISV a pagar.
Veículos (ISV), que é pago no acto de aqui- nacionais de gases com efeito de estufa (Pro- Continua por definir o pagamento do IUC
sição do veículo, e o Imposto Único de Cir- tocolo de Quioto). das viaturas usadas nos stands, e a transfe-
culação (IUC), que se prevê seja pago anual- É, aliás, nesse sentido, que aponta a proposta rência da responsabilidade quando, ao ven-
mente no mês da matrícula do automóvel. de directiva da Comissão Europeia relativa à der o carro usado, o mesmo não é imedia-
São abolidos: o Imposto Automóvel (IA); harmonização dos impostos sobre os automó- tamente averbado pelo novo proprietário.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 97


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Abaixo se inserem tabelas sobre o Imposto de Circulação a pagar.

Tabelas para o Ano de 2007 (IMSV)


(Publicadas no Diário da República, 2.ª série, n.º 36 de 20/2/2007)

TABELA I – Automóveis
Automóveis Imposto anual segundo
o ano de matrícula do automóvel
Combustível utilizado (em euros)
Movidos
Grupos Posteriores Entre 1990 Entre 1977
Gasolina Outros produtos a electricidade
— — — a 1995 e 1995 e 1989
Cilindrada Cilindrada Voltagem total — — —
(centímetros cúbicos) (centímetros cúbicos) 1.º escalão 2.º escalão 3.º escalão
A Até 1000 Até 1500 Até 100 16,21 9,03 5,42
B Mais de 1000 até 1300 Mais de 1500 até 2000 Mais de 100 32,38 16,21 8,46
C Mais de 1300 até 1750 Mais de 2000 até 3000 — 50,29 25,23 11,41
D Mais de 1750 até 2600 Mais de 3000 — 126,96 61,15 23,98
E Mais de 2600 até 3500 — — 201,79 97,06 46,19
F Mais de 3500 — — 357,42 165,26 68,86

TABELA II
Motociclos
Imposto anual segundo
o ano de matrícula do motociclo Tabelas para o Ano de 2008 (IUC)
Motociclos (em euros)
Grupos


Cilindrada Posteriores Entre 1992 Entre 1987
(centímetros cúbicos) a 1996 e 1996 e 1991 A Tabela III, que segue, é uma previsão para
— — —
1.º escalão 2.º escalão 3.º escalão automóveis matriculados entre 1981 e 30
G De 180 até 250 4,86 — — de Junho de 2007, para pagamento no ano
H Mais de 250 até 350 6,69 4,86 —
de 2008 (portanto, só é válida para 2008.
I Mais de 350 até 500 16,21 9,03 5,42
J Mais de 500 até 750 50,29 25,23 11,41 Para 2007, ver tabela I).
K Mais de 750 101,77 49,14 23,98 TABELA III
Automóveis Matriculados entre 1981 e 30-06-2007

O imposto municipal sobre veículos relativo Combustível utilizado


Imposto anual segundo passa a importar é a cilindrada e as emissões
o ano de matrícula
ao ano de 2007 é pago (aquisição do dístico) de CO2 de cada veículo. O valor do IUC
Outros Poste-
nos seguintes prazos: Gasolina
Cilindrada (cc)
Produtos riores
1990
a 1995
1981
a 1984
obtém-se adicionando as duas taxas.
Cilindrada (cc) a 1995
a) De 1 de Junho a 31 de Julho de 2007, Parece, assim, não haver distinção entre au-
≤ 1000 ≤ 1500 16 10 7
se o pagamento do imposto for efectuado > 1000 a 1300 > 1500 a 2000 32 18 10 tomóveis novos e usados, sendo a relevância
via Internet, na página das Declarações > 1300 a 1750 > 2000 a 3000 50 28 14 atribuída à data da matrícula em Portugal,
Electrónicas no sítio www.e-financas.gov. > 1750 a 2600 > 3000 127 68 29 pelo que, os usados importados e matricu-
> 2600 a 3500 — 202 110 56
pt, ou em atendimento front office em lados após 2007/07/01, pagarão IUC igual
> 3500 — 360 185 85
qualquer serviço de finanças; aos novos.
b) De 14 de Junho a 31 de Julho de 2007, Os automóveis a gasóleo pagam menos, pois Para os importados usados, o valor das emis-
nos revendedores ou outras entidades au- admite-se que emitem menos CO2. sões de CO2 é o constante do Certificado
torizadas. Os automóveis movidos a electricidade pa- de Conformidade. Na falta de menção, con-
garão: (i) até 100 V: 16,00-10,00 – 7,00 tará o valor obtido através de medição num
Se vendeu o carro, assegure-se que o novo (ii) Mais de 100 V: 32,00-18,00 – 10,00 centro de inspecções autorizado.
proprietário alterou o título de registo da TABELA IV
propriedade. A Direcção-Geral de Impostos Automóveis Matriculados a partir de 01-07-2007 A partir de 2008, o pagamento do IUC será
cruza informação fiscal com a Conservatória Taxas Taxas feito no mês da matrícula.
Cilindrada (cc) Escalão de CO2 (g/km)
do Registo Automóvel e a conta do imposto Os automóveis matriculados antes de 1981
Até 1250 25 Até 120 50
pode aparecer para pagar ao último proprie- Mais de 1250 até 1750 50 Mais de 120 até 180 75
não pagarão IUC.
tário registado (da mesma forma se foi ven- Mais de 1750 até 2500 100 Mais de 180 até 250 150 Ainda que o automóvel não circule, terá que
dido para sucata ou para peças). Na página Mais de 2500 300 Mais de 250 250 pagar aquele imposto.
das Declarações Electrónicas no sítio www.
e-financas.gov.pt, pode verificar quantos au- Como se repara, deixaram de ser conside-
tomóveis estão registados em seu nome rados a idade e o combustível utilizado pelo Maio de 2007
(constam lá as respectivas matrículas). automóvel como base de cálculo, pois o que * fmduarte@cdn.ordeng.pt

98 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Legislação

Resumo da Legislação
Assembleia da República Declaração de Rectificação n.º 19/2007, de 19 de Março
De ter sido rectificado o Decreto-Lei n.º 10/2007, do Ministério da Eco-
Lei n.º 2/2007, de 15 de Janeiro nomia e da Inovação, que transpõe para a ordem jurídica interna as Di-
Aprova a Lei das Finanças Locais, revogando a Lei n.º 42/98, de 6 de rectivas n.os 2005/59/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26
Agosto. de Outubro, 2005/69/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16
de Novembro, 2005/84/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de
Lei n.º 7/2007, de 5 de Fevereiro 14 de Dezembro, e 2005/90/CE, do Parlamento Europeu e do Conse-
Cria o cartão de cidadão e rege a sua emissão e utilização. lho, de 18 de Janeiro de 2006, que alteram a Directiva n.º 76/769/CEE,
do Conselho, de 27 de Julho, no que respeita à limitação da colocação
Lei n.º 10/2007, de 6 de Março no mercado e da utilização de algumas substâncias e preparações peri-
Autoriza o Governo a estabelecer o regime jurídico dos bens imóveis dos gosas, publicado no Diário da República, 1.ª série, n.º 13, de 18 de Ja-
domínios públicos do Estado, das Regiões Autónomas e das Autarquias Lo- neiro de 2007.
cais.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 50/2007, de 28 de Março
Lei n.º 13/2007, de 9 de Março Aprova medidas de implementação e promoção da Estratégia Nacional para
Autoriza o Governo a aprovar o regime de utilização dos recursos hídri- a Energia.
cos.
Decreto-Lei n.º 114/2007, de 19 de Abril
Lei n.º 17/2007, de 26 de Abril Institui a faculdade de dispensa, no relacionamento com os serviços públi-
Autoriza o Governo a alterar o Decreto-Lei n.º 558/99, de 17 de Dezem- cos, de apresentação de certidão comprovativa de situação tributária ou
bro, que estabelece o regime jurídico do sector empresarial do Estado e das contributiva regularizada.
empresas públicas.
Ministério da Agricultura,
Presidência do Conselho de Ministros do Desenvolvimento Rural e das Pescas

Resolução do Conselho de Ministros n.º 9/2007, de 17 de Janeiro Decreto-Lei n.º 1/2007, de 2 de Janeiro
Aprova o Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade (PNPA) Estabelece as condições de higiene dos locais de extracção e processamento
de mel e outros produtos da apicultura destinados ao consumo humano,
Declaração de Rectificação n.º 8/2007, de 23 de Janeiro complementares aos Regulamentos (CE) n.os 852/2004 e 853/2004, ambos
De ter sido rectificado o Decreto-Lei n.º 233/2006, do Ministério da Agri- do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril, instituindo o res-
cultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, que estabelece novos li- pectivo regime e condições de registo e aprovação.
mites máximos de resíduos de substâncias activas de produtos fitofarma-
cêuticos permitidos nos produtos agrícolas de origem vegetal, transpondo Portaria n.º 89/2007, de 19 de Janeiro
para a ordem jurídica interna as Directivas n.os 2006/53/CE, da Comissão, Altera o Regulamento do Regime de Apoio ao Desenvolvimento da Aquicul-
de 7 de Junho, 2006/60/CE, da Comissão, de 7 de Julho, 2006/59/CE, tura, anexo à Portaria n.º 1083/2003, de 9 de Novembro.
da Comissão, de 28 de Junho, 2006/61/CE, da Comissão, de 7 de Julho,
e 2006/62/CE, da Comissão, de 12 de Julho, nas partes respeitantes aos Decreto Regulamentar n.º 4/2007, de 22 de Janeiro
produtos agrícolas de origem vegetal, publicado no Diário da República, 1.ª Aprova o Plano Regional de Ordenamento Florestal do Douro.
série, n.º 230, de 29 de Novembro de 2006.
Portaria n.º 133/2007, de 26 de Janeiro
Declaração de Rectificação n.º 9/2007, de 23 de Janeiro Define as normas técnicas e funcionais relativas à classificação, cadastro e
De ter sido rectificada a Portaria n.º 1322/2006, do Ministério da Econo- construção dos pontos de água, integrantes das redes regionais de defesa
mia e da Inovação, que define os termos em que devem ser colocadas no da floresta contra incêndios (RDFCI).
mercado as matérias fertilizantes estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 190/2004,
de 17 de Agosto (estabelece regras relativas à colocação no mercado de Decreto-Lei n.º 57/2007, de 13 de Março
adubos e correctivos agrícolas), e que não constam do anexo I do Regula- Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/33/CE, da Co-
mento (CE) n.º 2003/2003, do Parlamento Europeu do Conselho, de 13 missão, de 20 de Março, que altera a Directiva n.º 95/45/CE, da Comis-
de Outubro, nem da norma portuguesa NP 1048, e revoga a Portaria n.º são, de 26 de Julho, que estabelece os critérios de pureza específicos dos
67/2002, de 18 de Janeiro, publicada no Diário da República, 1.ª série, corantes que podem ser utilizados nos géneros alimentícios e altera o De-
n.º 227, de 24 de Novembro de 2006. creto-Lei n.º 193/2000, de 18 de Agosto.

Declaração de Rectificação n.º 18/2007, de 16 de Março Decreto-Lei n.º 62/2007, de 14 de Março


De ter sido rectificado o Decreto-Lei n.º 9/2007, do Ministério do Ambiente, Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/55/CE, da Co-
do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, que aprova missão, de 12 de Junho, relativa ao peso máximo dos lotes de sementes,
o Regulamento Geral do Ruído e revoga o regime legal da poluição sonora, alterando o Decreto-Lei n.º 144/2005, de 26 de Agosto, que regula a pro-
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 292/2000, de 14 de Novembro, publicado dução, controlo, certificação e comercialização de sementes de espécies
no Diário da República, 1.ª série, n.º 12, de 17 de Janeiro de 2007. agrícolas e de espécies hortícolas.

100 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Legislação

Decreto-Lei n.º 63/2007, de 14 de Março Decreto-Lei n.º 28/2007, de 12 de Fevereiro


Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2005/7/CE, da Co- Estabelece a obrigatoriedade de certificação do aço de pré-esforço, para
missão, de 27 de Janeiro, que altera a Directiva n.º 2002/70/CE, da Co- efeitos da sua colocação no mercado.
missão, de 26 de Julho, que estabelece os requisitos para a determinação
dos níveis de dioxinas e de PCB sob a forma de dioxina nos alimentos para Decreto-Lei n.º 49/2007, de 8 de Fevereiro
animais, alterando o Decreto-Lei n.º 33/2004, de 7 de Fevereiro. Estabelece regras de execução do Regulamento (CE) n.º 648/2004, do Par-
lamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março, relativo aos detergen-
Decreto-Lei n.º 110/2007, de 16 de Abril tes.
Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2005/94/CE, do Con-
selho, de 20 de Dezembro, relativa a medidas comunitárias de luta contra Portaria n.º 481/2007, de 19 de Abril
a gripe aviaria. Altera a Portaria n.º 96/2004, de 23 de Janeiro, que determina que os ti-
tulares de licenças vinculadas de produção associadas a centros produto-
Ministério da Economia e da Inovação res hidroeléctricos ou termoeléctricos devem proceder à aquisição ou arren-
damento à entidade concessionária da Rede Nacional de Transporte de
Portaria n.º 12/2007, de 4 de Janeiro Energia Eléctrica (RNT) dos terrenos que constituem o sítio a eles afecto.
Aprova o regulamento aplicável às medidas materializadas de comprimento
e sondas. Ministério do Ambiente, do Ordenamento
do Território e do Desenvolvimento Regional
Decreto-Lei n.º 4/2007, de 8 de Janeiro
Terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 113/93, de 10 de Abril, que transpôs Portaria n.º 32/2007, de 8 de Janeiro
para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 89/106/CEE, do Conselho, de Aprova o regulamento interno da Comissão de Acompanhamento da Ges-
21 de Dezembro de 1988, que aproxima as legislações dos Estados mem- tão de Resíduos (CAGER).
bros no que se refere aos produtos de construção.
Portaria n.º 50/2007, de 9 de Janeiro
Decreto-Lei n.º 10/2007, de 18 de Janeiro Aprova o modelo de alvará de licença para realização de operações de ges-
Transpõe para a ordem jurídica interna as Directivas n.os 2005/59/CE, do tão de resíduos.
Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Outubro, 2005/69/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Novembro, 2005/84/CE, do Portaria n.º 73/2007, de 11 de Janeiro
Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de Dezembro, e 2005/90/CE, Fixa a correspondência entre as classes de habilitações e o valor das
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Janeiro de 2006, que al- obras.
teram a Directiva n.º 76/769/CEE, do Conselho, de 27 de Julho, no que
respeita à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumas Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17 de Janeiro
substâncias e preparações perigosas. Aprova o Regulamento Geral do Ruído e revoga o regime legal da poluição
sonora, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 292/2000, de 14 de Novembro.

Portaria n.º 187/2007, de 12 de Fevereiro


Aprova o Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU II).

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 101


Legislação

Resumo da Legislação
Portaria n.º 219/2007, de 28 de Fevereiro cas, fornecimento de bens e aquisição de serviços que tenham em vista
Aprova as tabelas do subsídio de renda e da renda limite para vigorarem acorrer, com carácter de urgência, a situações extraordinárias decorrentes
no ano de 2007. dos altos índices de pluviosidade verificados em Outubro e Novembro de
2006.
Decreto-Lei n.º 55/2007, de 12 de Março
Terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 327/90, de 22 de Outubro, alterado, Decreto-Lei n.º 67/2007, de 26 de Março
por ratificação, pela Lei n.º 54/91, de 8 de Agosto, e pelo Decreto-Lei n.º Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2005/21/CE, da Co-
34/99, de 5 de Fevereiro, que estabelece medidas de protecção aos povoa- missão, de 7 de Março, e aprova o Regulamento Relativo às Medidas a
mentos florestais percorridos por incêndios. Tomar contra a Emissão de Poluentes Provenientes dos Motores Diesel Des-
tinados à Propulsão dos Veículos.
Decreto-Lei n.º 112/2007, de 17 de Abril
Assegura a execução, na ordem jurídica interna, das obrigações decorren- Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
tes para o Estado Português do Regulamento (CE) n.º 304/2003, do Par-
lamento e do Conselho, de 28 de Janeiro, com as alterações que lhe foram Portaria n.º 121/2007, de 25 de Janeiro
introduzidas pelo Regulamento (CE) n.º 1213/2003, da Comissão, de 7 Elimina a participação de início, suspensão ou cessação de actividade pro-
de Julho, pelo Regulamento (CE) n.º 775/2004, da Comissão, de 26 de fissional dos trabalhadores independentes.
Abril, e pelo Regulamento (CE) n.º 777/2006, da Comissão, de 23 de Maio,
relativo à exportação e importação de produtos químicos perigosos, e re- Ministério das Finanças e da Administração Pública
voga o Decreto-Lei n.º 275/94, de 28 de Outubro.
Decreto-Lei n.º 21/2007, de 29 de Janeiro
Ministério da Saúde No uso da autorização legislativa concedida pelo n.º 3 do artigo 45.º da
Lei n.º 60-A/2005, de 30 de Dezembro, introduz alterações ao Código do
Decreto-Lei n.º 5/2007, de 8 de Janeiro IVA e respectiva legislação complementar em matéria de tributação de ope-
Cria um regime excepcional para a contratação de empreitadas de obras públi- rações imobiliárias, incluindo a revisão do regime da renúncia à isenção de
cas e a aquisição ou locação, sob qualquer regime, pelas administrações regio- IVA na transmissão e na locação de bens imóveis.
nais de saúde, de bens e serviços destinados à instalação das unidades de
saúde familiar, pelos conselhos de administração dos hospitais do Serviço Na- Portaria n.º 211/2007, de 22 de Fevereiro
cional de Saúde e pelo Instituto Nacional de Emergência Médica, I. P., de bens Altera a taxa do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP)
e serviços destinados à requalificação dos serviços de urgência, bem como aplicável ao gasóleo de aquecimento, em conformidade com o que dispõe
quanto a bens e serviços destinados ao desenvolvimento das experiências pi- o Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 2006), apro-
loto em execução e cumprimento dos objectivos da Coordenação Nacional para vado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 104/2006.
a Saúde das Pessoas Idosas e Cidadãos em Situação de Dependência.
Decreto-Lei n.º 71/2007, de 27 de Março
Portaria n.º 155/2007, de 31 de Janeiro Aprova o novo estatuto do gestor público e revoga o Decreto-Lei n.º 464/82,
Cria o Código Hospitalar Nacional do Medicamento (CHNM). de 9 de Dezembro.

Ministério da Justiça Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17 de Janeiro Decreto-Lei n.º 23/2007, de 1 de Fevereiro


Altera o regime jurídico da redução do capital social de entidades comer- Elimina a emissão de passaporte de embarcação, revogando o Decreto-Lei
ciais, eliminando a intervenção judicial obrigatória e promovendo a simpli- n.º 296/78, de 27 de Setembro, e disposições legais constantes do De-
ficação global do regime, cria a Informação Empresarial Simplificada (IES) creto-Lei n.º 265/72, de 31 de Julho, e da Portaria n.º 715/89, de 23 de
e procede à alteração do Código das Sociedades Comerciais, do Código de Agosto.
Registo Comercial, do Decreto-Lei n.º 248/86, de 25 de Agosto, do Código
de Processo Civil, do Regime Nacional de Pessoas Colectivas e do Regula- Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
mento Emolumentar dos Registos e do Notariado.
Decreto-Lei n.º 38/2007, de 19 de Fevereiro
Decreto-Lei n.º 12/2007, de 19 de Janeiro Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2003/122/EURATOM,
Altera o Decreto-Lei n.º 125/2002, de 10 de Maio, que regula as condições do Conselho, de 22 de Dezembro, relativa ao controlo de fontes radioactivas
de exercício das funções de perito e de árbitro no âmbito dos procedimentos seladas, incluindo as fontes de actividade elevada e de fontes órfãs, e esta-
para a declaração de utilidade pública e para a posse administrativa dos pro- belece o regime de protecção das pessoas e do ambiente contra os riscos
cessos de expropriação previstos no Código das Expropriações. associados à perda de controlo, extravio, acidente ou eliminação resultantes
de um inadequado controlo regulamentar das fontes radioactivas.
Ministério da Administração Interna
Decreto-Lei n.º 45/2007, de 23 de Fevereiro
Decreto-Lei n.º 17/2007, de 22 de Janeiro Sétima alteração ao Decreto-Lei n.º 296-A/98, de 25 de Setembro, que re-
Cria um regime excepcional de contratação de empreitadas de obras públi- gula o regime jurídico geral de acesso e ingresso no ensino superior.

102 INGENIUM | Maio/Junho 2007


H I S T O R I A

bram dele, ou melhor dizendo da sua histó-


Origem e criação do LNEC ria e da sua actividade passada e presente
em domínios tão significativos da engenha-
ria portuguesa – feita cá dentro e lá fora.
Maria Fernanda Rollo * de edifícios austeros, onde engenheiros menos Mas será talvez melhor perguntarmos por-
acessíveis se ocupam de problemas comple- que é que nunca nos “lembramos de quase
xos de engenharia. Não saberão exactamente nada” do que temos feito, porque é que
LNEC publicou recentemente um livro quais, mas os mais velhos associarão certa- numa posição reveladora de idiossincrasias

O – e um dos últimos números da Inge-


nium registou-o – sobre a sua actividade
nos primeiros sessenta anos de vida: Labo-
mente o Laboratório à concepção de grandes
barragens e de importantes obras hidráuli-
cas, enquanto os mais jovens se recordarão
e complexos nos esquecemos, com tão in-
justificada frequência, dos nossos contribu-
tos para o progresso e para as conquistas fei-
ratório Nacional de Engenharia Civil. 60 de frequentes menções à intervenção do LNEC tas em termos de desenvolvimento cientí-
Anos de actividade, 1946-2006. O lança- em situações de crise, designadamente em fico, tecnológico, até cultural…
mento do livro, no passado dia 14 de No- túneis e pontes.1 Podemos ver o assunto por outro prisma,
vembro de 2006, integra um programa de Na verdade é mesmo assim. E porém, o sem qualquer espírito celebratório, que esse,
comemorações que o LNEC está a organi- LNEC não só continua a ser uma das mais por natureza, enjeito e rejeito. Porque é que
zar para comemorar o seu 60.º aniversário. prestigiadas instituições portuguesas, como estas coisas raramente são notícia? Porque é
Pois é. Passaram já 60 anos e hoje, tal como tem desempenhado um papel fundamental que, também, frequentemente, se cai na
o livro começa, para grande parte dos por- no quadro do desenvolvimento científico e desvalorização e no desinteresse do que a
tugueses, o LNEC é basicamente um lugar tecnológico nacional… Resta, portanto, saber este respeito se faz em Portugal ou na sua
cercado de muros baixos, com um conjunto porquê, porque são poucos os que se lem- relativização e “esmagamento” por outro tipo

1 “Os sessenta anos do LNEC evocação, comemoração e reflexão”, in Laboratório Nacional de Engenharia Civil. 60 Anos de actividade, 1946-2006, LNEC, Lisboa, 2006, p. 3.
Fotos: LNEC

104 INGENIUM | Maio/Junho 2007


de notícias, menores, mas de consumo asse- nosso passado histórico, para o conhecer, embora naturalmente com altos e baixos,
gurado… Por fim, e se calhar podiam ainda porque temos a consciência de que, quer se advém-lhe do importante trabalho de inves-
evocar-se outros argumentos e aduzir mais queira quer não, é sobre esse passado que tigação e desenvolvimento tecnológico que
razões: porque não desenvolvemos uma cul- também se vai construindo o futuro. tem realizado desde a sua fundação.
tura científica responsável relativamente à Ou seja, que é a partir dele e dos conheci- A criação do Laboratório Nacional de Enge-
memória do nosso passado, garantido a sua mentos que encerra, constituindo-se cumu- nharia Civil data de 1946, e consta do de-
preservação, valorização e divulgação? lativamente em nossa herança, que podemos creto n.º 35 957 de 19 de Novembro. Na
Refiro-me, está bem de ver, à questão colo- caminhar de forma mais segura para enfren- sua génese, encontramos a iniciativa da Junta
cada a diversos níveis: não só quanto ao co- tar os reptos com que constantemente nos de Educação Nacional na criação do Centro
nhecimento do nosso passado histórico, ao

Foto: LNEC
nosso desempenho em diversos domínios,
mas também ao nosso património científico
e tecnológico, de que o LNEC obviamente
faz parte? Certamente todos temos a nossa
quota-parte de responsabilidade nessa “apa-
tia” generalizada e colectiva. Acabamos por
ser todos, de certa forma, cúmplices, víti-
mas e promotores dessa amnésia generali-
zada que impende sobre a nossa Memória.
Essa densa gelatina de superficialidade que
tem envolvido a nossa cultura histórica em
todos os domínios – e que é tanto mais preo- Edifício Principal (Edifício Arantes e Oliveira), inaugurado em 1952
cupante quanto se sente e se sabe que o fe-
nómeno é estrutural e tem raízes profundas temos de confrontar, para conseguirmos de Estudos de Mecânica Aplicada, conver-
para as quais só encontro explicação na falta construir um País onde o futuro tenha lugar tido em 1944 em Centro de Estudos de En-
de formação e cultura que nos tem histori- e nos dignifique: uma sociedade competitiva genharia Civil, anexo ao Instituto Superior
camente caracterizado? e inovadora. Técnico e integrado em 1947 no Laboratório
Não posso deixar de referir a enorme respon- Por isso, devemos louvar as iniciativas que, de Engenharia Civil.2 Mas esta é apenas uma
sabilidade de muitas instituições, públicas ou apesar de tudo, vão surgindo, quer as indi- forma de começar a história. Em boa ver-
privadas, quando são elas próprias que mui- viduais, de matriz fundacional, quer as ins- dade, o LNEC ficou indelevelmente ligado
tas vezes se esquecem de cuidar da sua ri- titucionais, privadas ou públicas, que têm a ao nome do seu fundador, um dos nomes
queza, da sua herança, seja ela material ou ver com o conhecimento desse passado re- maiores da engenharia portuguesa do século
imaterial; e que tantas vezes deixam, por inép- conhecendo-o e adoptando-o para melhor o XX, o engenheiro Manuel Rocha. É perti-
cia, por desinteresse, por falta de recursos, podermos preservar. nente alongar apenas um pouco o tratamento
enfim, por mil e uma razões, reais ou fictícias, É, portanto, disso que se trata; e é afinal de a dar ao desempenho e o protagonismo que
que se perca a memória da sua presença num contas isso que o LNEC procura assegurar, Manuel Rocha assumiu neste contexto. En-
passado mais ou menos longínquo e que o seu deixando o essencial da sua história /memó- genheiro civil pelo IST, do qual foi profes-
património material, documental, tecnológi- ria inscrito e escrito no livro acima referido. sor catedrático, a ele se ficou a dever a fun-
co, … se degrade ou seja mesmo destruído… De resto, desnecessário seria afirmá-lo, a sua dação do Centro de Estudos de Engenharia
tornando a memória, para desespero de quem importância como instituição no domínio da Civil do Técnico, que veio a ser integrado,
a procura salvaguardar, em lixeira. ciência e da tecnologia nacional justifica-o como seu elemento fulcral, no LNEC. Ma-
Mas não vamos por aí… Vamos precisamente plenamente. Ou como se refere, o prestígio nuel Rocha, além de alma mater, veio a ser
pela defesa da preservação e divulgação do do LNEC, mantido durante estes 60 anos, seu director entre 1954 e 1974. Refira-se, a

2 Gustavo Cordeiro Ramos, Objectivos da Criação da Junta de Educação Nacional (actual Instituto para a Alta Cultura). Alguns Aspectos do seu Labora, Lisboa, 1951, p. 26.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 105


H I S T O R I A ção e informação técnica, normalização e re-
gulamentação, informática e projecto e cons-
trução de equipamento).
As alterações profundas que foram sendo
Ilustração: LNEC

introduzidas na sociedade e na economia


portuguesas a partir do pós-Guerra, embora
tenham introduzido descontentamentos e
desequilíbrios, permitiriam ao País encetar
um processo de desenvolvimento económico
e social, comungando do clima de prosperi-
dade que marcou a conjuntura internacional
nas duas décadas seguintes.
Para Portugal, iniciar-se-ia um ciclo de desen-
volvimento, incorporando mudanças estrutu-
rais, não obstante os poderosos factores so-
ciais e políticos de resistência que, subsistindo,
acabariam por condicionar negativamente o
ritmo e o alcance das transformações moder-
nizadoras.
Desde logo, a eclosão da II Guerra Mundial
Instalações do LNEC e seu desenvolvimento ao longo do tempo veio alterar a situação em que se ia proces-
propósito, como a sua obra e a daqueles que tensão e das estruturas metálicas envolvidas, sando “o rumo e o ritmo” da política econó-
o foram acompanhando ao longo dos anos é sempre em estreita articulação com as rea- mica portuguesa: ou seja, o processo que vinha
tanto mais de exaltar quanto, no quadro das lizações, isto é, inserido nos programas na- decorrendo nos anos 30 como que sofre uma
instituições criadas durante o Estado Novo, cionais de obras públicas e procurando en- interrupção onde, numa primeira fase, se nota
se veio a revelar uma das de maior credibi- contrar soluções inovadoras para problemas prudência e contenção (o País deverá “man-
lidade e prestígio nacional e internacional e técnicos nacionais. A acção do laboratório ter na medida do possível a normalidade exis-
uma das que mais fez em prol do desenvol- ultrapassou largamente a questão da electri- tente”3), para depois se traduzir num impor-
vimento científico e tecnológico do País; sa- ficação do País, alcançando, juntamente com tante salto qualitativo – durante a Guerra e
liente-se o papel pioneiro sobre a utilização alguns dos seus investigadores, projecção in- pela conquista do mercado interno por alguns
de computadores em engenharia civil, a par- ternacional. sectores industriais até então com a expansão
limitada pelo poder e interesses do lobi do
Foto: LNEC

Fachada do Edifício Arantes e Oliveira,


comércio importador (alimentação, têxteis,
recuperado em 2006
minerais não metálicos, metalurgia e metalo-
mecânica) e, posteriormente, pelo arranque
formal dos processos de electrificação e de
industrialização em grande parte devido à
doutrinação e ao trabalho legislativo de Fer-
reira Dias (a quem já me referi abundante-
mente em artigos anteriores).
A todo o esforço que se seguiu, em termos
de industrialização e de electrificação do País,
não foram certamente estranhos a participa-
ção e o apoio que o entretanto criado Labo-
ratório Nacional de Engenharia Civil propi-
tir de 1962; a promoção, quatro anos mais Em meados da década de 70, o LNEC, que ciava e a segurança garantida pelo trabalho
tarde, em Lisboa, do 1.º Congresso Interna- havia começado a sua actividade com um científico de ensaio de estruturas aí levado a
cional de Mecânica das Rochas. quadro de 33 técnicos superiores e 61 téc- cabo. Neste, como em muitos outros secto-
Entretanto, seguindo a sua vocação e os ob- nicos auxiliares, já tinha cerca de 1.000 co- res, estavam cabalmente demonstrados os
jectivos para os quais tinha sido criado, o laboradores distribuídos por 7 departamen- elevados níveis de competência atingidos pelo
LNEC desenvolveu estudos e investigação tos (barragens, edifícios, estruturas, geotec- LNEC e a razão de ser da sua criação.
nos domínios dos aproveitamentos hidro- nia, hidráulica, materiais de construção e vias
eléctricos, das barragens, das linhas de alta de comunicação) e 4 centros (documenta- * Professora do Departamento de História
da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
3 António de Oliveira Salazar, Discursos e Notas Políticas, vol. IV 1943-1950, Coimbra Editora, p. 6. da Universidade Nova de Lisboa

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Crónica

Sim, caro leitor:


a história do écran de plasma
que possivelmente tem na sala
origina-se em cenouras checas.

Jorge Buescu * Tim Sluckin é um físico-matemático da Uni- écrans de TV ou de computador, permitindo


versidade de Southampton, e um dos gran- as tecnologias de écran plano. O monitor do
des investigadores mundiais na área dos cris- computador em que escrevo este texto é de
caba de ser publicado em Portugal, pela tais líquidos. O seu livro é notável a vários cristais líquidos.

A mão da editora universitária IST Press,


um admirável livro de divulgação cien-
tífica: Fluidos fora da lei – a história dos
títulos: não é apenas uma obra fantástica
sobre a história e a ciência – a física, a quí-
mica, a engenharia – ligada aos cristais líqui-
Apesar destes 30 anos explosivos, a história
da evolução dos cristais líquidos é tudo menos
cristais líquidos: de curiosidade a tecnologia, dos. Trata-se de uma obra inédita, que o linear. É esta história que Tim Sluckin se pro-
de Tim Sluckin. autor publicou pela primeira vez em Portu- põe contar-nos – e fá-lo de forma magistral,
gal, e não da tradução de uma obra já edi- associando harmoniosamente a ciência por
tada. Quem quiser ler a história contada por trás dos cristais líquidos, a história da ciência,
Tim Sluckin noutras línguas terá de dialogar a petite histoire sempre interessante sobre os
com a editora portuguesa. cientistas envolvidos, e o sentido de humor.
O resultado é uma obra recheada de erudi-
E a história em si é fascinante. Se o leitor ção científica e de leitura irresistível. É dessa
tem idade superior ou igual à minha, lem- história que o autor destas linhas tentará dar
brar-se-á das calculadoras com mostradores um breve resumo.
de LED (light-emitting diodes) vermelhos,
no final dos anos 70, início dos anos 80. Jul- A história inicia-se no longínquo ano de 1888,
gava-se que era o futuro. quando o botânico e químico austríaco Frie-
Mas, como dizia Niels Bohr, as previsões são drich Reinitzer, então na Universidade Alemã
muito difíceis, sobretudo acerca do futuro. de Praga, investigava compostos derivados
Trinta anos depois, os LED desapareceram do colesterol que extraía de cenouras. Sim,
da indústria dos mostradores e a tecnologia caro leitor: a história do écran de plasma que
de cristais líquidos é omnipresente: em todos possivelmente tem na sala origina-se em ce-
os mostradores de máquinas de calcular, em nouras checas.
relógios, em termómetros (os antigos ter-
mómetros de mercúrio, mais do que obso- Reinitzer observou anomalias, fenómenos
letos, foram banidos pela UE pelas proprie- novos que não conseguia explicar no compor-
dades tóxicas do mercúrio), e mesmo em tamento físico de alguns dos seus derivados

108 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Crónica
líquidos do colesterol. Para tentar compre- tífica a Reinitzer, não a Lehmann, pelo que correcto. E Sluckin esclarece: a família Frie-
endê-los, entrou em contacto com o famoso este, semanas depois, publica um artigo nos del era originária da Alsácia, ocupada pela
cristalógrafo Otto Lehmann, da Universidade famosos Annalen der Physik (onde por exem- Alemanha desde as guerras de Bismarck até
de Aachen. plo Einstein publicara a Relatividade em 1918, e tinha tido problemas com as auto-
1905), onde diz contar, pela primeira vez, a ridades alemãs. Mais do que chauvinismo,
Uma das razões da fama de Lehmann era o verdadeira história da descoberta dos cris- Friedel poderia estar a transportar o revan-
seu microscópio de luz polarizada, único no tais líquidos. Tim Sluckin dá o texto alemão chismo político do pós-guerra para a arena
Mundo, que ele próprio construíra e em que do artigo, uma tradução e a sua interpreta- científica.
não deixava mais ninguém tocar. Ora, ao ção pessoal:
analisar, com o seu microscópio, os líquidos Mas a verdade é que os franceses mantive-
de Reinitzer, Lehmann quase saltou de es- “O sacana do Vorländer não me está a ram acesa, nessa fase, a chama dos cristais
panto: viam-se claramente formações cris- fazer justiça! Fui eu quem inventou os líquidos. Nos anos 30, já o interesse cientí-
talinas. Mas, mais do que isso: graças ao mi- cristais líquidos, não foi o Reinitzer! fico sobre cristais líquidos se propaga ao
croscópio de luz polarizada, Lehmann veri- Está bem que a química tem a sua Reino Unido, à Suécia e à (então) União So-
ficou que os fluidos de Reinitzer tinham a piada (...) O sacana!” viética.
propriedade essencial dos cristais: a birre-
fringência. Como diz Sluckin, “se parece um Nesta fase, os cristais líquidos eram uma cou- No entanto, nem todos os capítulos desta
gato, cheira a gato e faz ‘miau’, então deve tada alemã. Mas eis que se interpõe a I Guerra história vêm da ciência pura. Em 1934, a
ser um gato”. Lehmann concluiu, portanto, Mundial e todas as suas convulsões. Não só Companhia Marconi regista uma patente,
estar perante cristais – de um tipo até aí des- a Alemanha perde o exclusivo do interesse em Inglaterra, sobre Melhoramentos relati-
conhecido: líquidos. Em 1888, publica o ar- nos cristais líquidos, como o centro de gra- vos a válvulas ópticas, onde essencialmente
tigo Sobre cristais que fluem, onde introduz vidade se desloca para França, graças aos tra- patenteia tecnologias de cristais líquidos
o conceito e o termo cristal líquido. balhos dos cristalógrafos Charles Mauguin, (ainda inaplicáveis na prática) para vários
François Grandjean e, mais tarde, de Geor- fins, por exemplo “a telegrafia fac-similada”.
Mas Lehmann não teve vida fácil. O quí- ges Friedel. Esta é actualmente conhecida por fax, e só
mico-físico Gustav Tammann foi uma das se tornou de uso generalizado na década de
principais vozes da oposição científica a Leh- Em 1922, ainda em plena ressaca pós-guerra, 80 – embora a tecnologia respectiva estivesse
mann, afirmando que ele estava simples- Friedel publica trabalhos científicos em que, estabelecida meio século antes.
mente a olhar para colóides. deixando cair alguns elogios a Lehmann, o
A polémica científica durou anos, e acabou zurze de alto a baixo: afirma que ele usa ter- Nos anos 40 e 50 do século passado, a in-
por terminar com a vitória de Lehmann, por- minologia inapropriada, que cometeu graves vestigação em cristais líquidos esteve essen-
que entretanto os seus cristais líquidos ti- erros, e que foram muito mais sérios os erros cialmente estagnada. Mas a situação alterou-
nham atraído o interesse de dos numerosos cientis- -se radicalmente no início dos anos 60, so-
outros investigadores que tas, especialmente na bretudo por influência do britânico Charles
tinham confirmado e reali- Alemanha, que o con- Frank na vertente científica (ressuscitando
zado extensões aos seus re- tradisseram. trabalhos de Oseen e Zocher) e de James
sultados. Fergason, engenheiro da Westinghouse, na
“Aaah!”, afirma Sluckin. vertente tecnológica. Frank iniciou a teoria
Entre eles estava o grupo “Estaria o professor Frie- física moderna dos cristais líquidos; Ferga-
da Universidade de Halle del a olhar para os seus son mostrou a sua aplicabilidade prática. É
ligado a Daniel Vorländer. colegas com óculos tri- dele, por exemplo, a patente dos termóme-
Este dedicou-se totalmente colores?” Mais à frente, tros de cristal líquido, em 1963.
aos cristais líquidos, publi- Friedel afirma que foi
cando nas mais prestigiadas sobretudo em França Mas o mais espectacular estava para vir. No
revistas de química. E em que se deram os prin- final dos anos 60, um grupo de investigação
1908 já tinha acumulado cipais passos para a com- da RCA andava a investigar novas tecnolo-
resultados suficientes para preensão dos conceitos gias para utilização em monitores de TV, em
publicar um livro. Foi esse fundamentais”, o que alternativa aos monitores de tubos de raios
livro que marcou a vitória simplesmente não era catódicos. E deparou-se com a ideia de uti-
de Lehmann sobre Tam- lizar cristais líquidos. A RCA rejeitou a ideia
mann. por a achar impraticável (espantoso erro
de avaliação!) e o grupo desfez-se. Um
Mas a reacção de Lehmann dos elementos do grupo, Wolfgang Hel-
foi outra. Vorländer dava o frich, foi para a Europa, para os labora-
crédito pela descoberta cien- tórios Hoffmann-La Roche.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 109


Crónica

Mas Sluckin é um contador de histó-


rias: e ficamos a saber uma multidão
de factos interessantes sobre os cien-
tistas envolvidos. A erudição de Slu-
ckin é enorme, e o seu brilhante sen-
tido de humor torna a leitura
um prazer. É de ir às lágri-
mas o episódio da conferên-
cia científica de um projecto
europeu, que teve lugar em
Fevereiro, numa estância de
No início dos anos 70, quase em simultâneo, programa de produção de esqui dos Alpes Dolomitas, e na
o americano Fergason, por um lado, e Hel- cristais líquidos, os executivos da ICI qual apareceu um inspector da UE – o
frich e Schadt, da Hoffmann-La Roche, por opinaram que os cristais líquidos “Homem de Bruxelas”. Não vou contar mais
outro, patenteiam a ideia-chave que projec- “serão sempre um nicho de mercado”. para não estragar o prazer do leitor.
tou os cristais líquidos para a ribalta: a utili- No ano 2000, menos de 30 anos
zação de dispositivos de nemático torcido depois de tal julgamento ter sido Uma palavra final para a edição, profusamente
(twisted nematic) em mostradores. Seguiu- proferido, nada mais há a dizer senão ilustrada e cuidada. O texto, traduzido do in-
se, nas palavras de Sluckin, a “Mãe de Todas que o nicho em questão vale 20 mil glês por Paulo Ivo Teixeira, provavelmente o
as Batalhas Jurídicas”, que terminou com milhões de dólares por ano. melhor tradutor científico português (já ven-
Fergason a vender a sua patente à Hoffmann- Acontecem coisas destas quando são cedor de diversos prémios de tradução) é per-
La Roche. os contabilistas, e não os engenheiros feito: o livro parece ter sido escrito em por-
ou os cientistas, a mandar numa das tuguês. Diga-se, de resto, que Paulo Teixeira
Restava resolver o problema tecnológico de grandes empresas do sector químico é um físico que fez o doutoramento com Tim
encontrar materiais que pudessem funcionar da Grã-Bretanha”. Sluckin e que trabalha nesta área; foi o seu
como cristal líquido a temperaturas ambien- entusiasmo que levou Sluckin a transformar
tes. A fase nemática dos cristais líquidos co- O resto da história é, provavelmente, conhe- em livro o que, nas suas palavras, era um “pan-
nhecidos andava pela centena de graus, tem- cida do leitor. Os japoneses da Sharp adqui- fleto”. Sem Paulo Teixeira este livro, literal-
peratura não muito agradável numa sala de riram à Hoffmann-La Roche o direito de mente, não existiria.
estar para ver TV. Mas aqui entram os traba- utilizar as patentes de cristais líquidos TN.
lhos de George Gray, da Universidade de Os materiais estavam desenvolvidos. Em O leitor interessado poderá
Hull, que em 1973 consegue, tirando partido meia dúzia de anos, o engenho e as empre- encontrar uma descrição do livro em:
da termodinâmica fundamental (a regra das sas japonesas (Hitachi, Sony, Toshiba…) não http://istpress.ist.utl.pt/lfluidosforalei.html
fases de Gibbs), elaborar misturas de cristais perderam a oportunidade: numa história em
líquidos cuja fase nemática se encontra entre que a contribuição científica e tecnológica * Professor na Faculdade de Ciências
os 9 graus negativos e os 59 positivos. japonesa tinha sido nula, atiraram-se à pro- da Universidade de Lisboa
dução e dominaram o Mundo.
Está tudo a postos para a revolução tecno-
lógica. Olhando para trás, seria de imaginar É difícil avaliar o que é
as grandes empresas numa luta de morte mais extraordinário nesta
para assumir a liderança da tecnologia dos história: os colossais e su-
cristais líquidos. Falta só o tiro de partida. cessivos erros de avaliação
Mas o tiro de partida foi dado com a pólvora do mundo ocidental, que
mais seca desta história. A ICI (Imperial desenvolveu toda a ciên-
Chemical Industries), a maior empresa bri- cia e tecnologia fundamen-
tânica da indústria química, cometeu neste tais e ficou a ver a banda
ponto um erro de avaliação de proporções passar, ou o sentido de
dantescas. Nas palavras de Sluckin: oportunidade japonês.

“(...) ao ser-lhes [à ICI] oferecida a Neste livro delicioso, Tim


possibilidade de participar no Sluckin explica Ciência.

110 INGENIUM | Maio/Junho 2007


Internet

Biotecnologia na Europa Portal da Habitação


http://bio4eu.jrc.es www.portaldahabitacao.pt/pt/nrau/home

Este Portal funciona como ponto único onde os arrendatários,


A biotecnologia é cada vez mais relevante para
senhorios e outras entidades podem interagir e levar a cabo
áreas chave como a saúde, agricultura e pro-
processos legais relacionados com o processo de actualização
cessos industriais. A Comissão Europeia, sob
de rendas urbanas habitacionais e não habitacionais. Assu-
os auspícios do Parlamento Europeu, levou
mido como a plata-
a cabo um estudo que aborda as consequên-
forma tecnológica do
cias, oportunidades e desafios para a bio-
Novo Regime de Ar-
tecnologia moderna, na Europa. Neste site,
rendamento Urbano
encontra uma súmula do relatório e as in-
(NRAU), o Portal da
tervenções realizadas durante um evento
Habitação liga as en-
para apresentação do estudo, no qual foi
tidades envolvidas
também dada a conhecer a nova estraté-
nos procedimentos
gia da União Europeia para a Biotecnologia e para
de actualização de
as Ciências da Vida.
rendas urbanas e
publica a informa-
ção para que os
cidadãos possam
acompanhar a evolu-
ção dos seus processos.

Revista brasileira de engenharia química


www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/
lng_pt/pid_0104-6632/nrm_iso

O “Brazilian Journal of Chemical Engineering” tem por missão


“publicar trabalhos que apresentem os resultados de pesquisa
básica e aplicada, bem como inovações no campo da enge-
nharia química e em áreas relacionadas”. Neste site, pode
aceder a artigos sobre di-
Clima europeu 24 horas
versas áreas de engenha-
www.meteoalarm.eu
ria química, sendo possí-
As condições atmosféricas de 21 países europeus, incluindo Portugal, podem vel pesquisar por autor
ser consultadas neste site que está disponível em 17 línguas. Este projecto ou por assunto. Para além
europeu, que avisa com 48 horas de antecedência a probabilidade de mau disso, estão também dis-
tempo, como chuva com risco de cheias, quedas de neve fortes ou elevadas poníveis os números
temperaturas, é uma iniciativa da Eumetnet, a rede pública de serviços me- anteriores do jornal. O
teorológicos europeus, e da Organização Meteorológica Mundial. Em Portu- site possibilita, ainda,
gal, a entidade responsável pela informação é o Instituto Português de Me- a submissão de arti-
teorologia. gos para publicação.

Notícias do mundo da engenharia


www.sciencedaily.com/news/matter_energy/engineering
O Science Daily é um mega portal onde se encontram relevantes notícias na área da
pesquisa. Uma das suas áreas é inteiramente dedicada à engenharia em geral, po-
dendo entrar em sub-páginas que dizem respeito a ramos mais específicos. A quí-
mica, a engenharia civil, a energia, os materiais, os transportes, a nanotecnologia, os
robots, a física, a energia nuclear e a electrónica são algumas das temáticas aborda-
das. O site oferece a possibilidade de receber estas notícias através de RSS.

112 INGENIUM | Maio/Junho 2007


LIVROS EM DESTAQUE

Paredes Exteriores
de Alvenaria a Nível Mundial
Autores portugueses:
ENGENHARIA ACÚSTICA Fernanda Carvalho, Hipólito Sousa
Autor: P. Martins da Silva Editor: Silvino Pompeu dos Santos
Edição: Ingenium Edições Edição: Editora Taylor Francis

O livro apresenta reflexões sobre a Engenharia Acústica e tem por Esta obra “põe a nu” as paredes de alvenaria e as suas características em
objectivo apresentar “aspectos considerados de interesse de base edifícios de várias regiões do mundo pertencentes a países como a Bélgica, a
para os que desejam iniciar o exercício de actividade profissional Holanda, a Alemanha, a França, a Polónia, Portugal, Itália, Grécia, EUA, Brasil,
neste domínio ou nele se especializarem, evidenciando-se a China e Índia. O livro contém artigos de autores especialistas nesta matéria
colocação da Engenharia Acústica a par das outras especialidades”. nos seus países e está dividido em capítulos que correspondem a um
O documento encontra-se dividido em três partes, uma primeira que determinado país. Em cada um destes capítulos é apresentado o estado actual
aborda “A componente acústica do ambiente”. Uma segunda sobre do país, as soluções típicas, os problemas existentes e as tendências de
“A resposta tecnológica” e a última versa sobre a “Moldura legal”. evolução. O capítulo dedicado a Portugal é da autoria do Eng. Hipólito de
Sousa, Presidente do Colégio de Engenharia Civil da Ordem, e da Eng.
Fernanda Carvalho, do LNEC.

Atlas Urbanístico de Lisboa


O Fim do Mundo Está Próximo? Concepção e Coordenação:
Autor: Jorge Buescu Manuel Salgado e Nuno Lourenço
Edição: Gradiva Edição: Argumentum Edições

Neste livro, a matemática é o fio condutor. Nele são abordados temas Atlas dedicado à caracterização urbanística de Lisboa, onde são apresentados
matemáticos distintos mas, por vezes, relacionados, sempre com humor. os 56 bairros mais representativos da cidade, através de cartas, textos e
Temáticas como o sudoku, as TAC, como ganhar o totobola, o fim do mundo, fotografias elaboradas exclusivamente para integrarem esta obra. O livro
os grilos, os chuveiros ou o sexo e a banha da cobra são abordadas à luz da encontra-se ilustrado com 60 imagens aéreas inéditas e actuais e centra-se
matemática que “tem sempre surpresas a revelar-nos”. O livro resulta da numa análise dos bairros, precedida de uma perspectiva integrada da história
compilação das crónicas com que Jorge Buescu tem, ao longo dos últimos da evolução urbana de Lisboa. Com introdução dos Arquitectos Manuel
anos, vindo a brindar a “Ingenium”. Salgado e Nuno Lourenço, a obra conta com textos da Arquitecta Ana Tostões
e do Dr. José Sarmento de Matos.

Fluidos Fora da Lei – A história Guia Técnico de Reabilitação Habitacional


dos cristais líquidos: Coordenação: José Vasconcelos Paiva;
de curiosidade a tecnologia José Aguiar; Ana Pinho
Autor: Tim Sluckin Edição: Instituto Nacional de Habitação
Edição: IST Press e Laboratório Nacional de Engenharia Civil

A história dos cristais líquidos, apresentada de uma forma original que Trata-se de um livro de carácter essencialmente técnico que nasce da
combina ciência, história, biografia, curiosidades variadas, é a proposta solicitação do INH ao LNEC, no sentido de produzir um documento técnico de
deste livro escrito de uma forma bem-humorada e interessante. A obra narra referência no domínio da reabilitação urbana e do parque edificado. O seu
a verdadeira história dos cristais líquidos que estão nos ecrãs que objectivo é disponibilizar orientações metodológicas, em linguagem
manuseamentos diariamente. Uma história feita de voltas e reviravoltas, acessível, de forma a apoiar todos aqueles que directa ou indirectamente se
mostrando também os investigadores que dela fizeram parte, enquanto encontram envolvidos na tarefa de conservar os tecidos urbanos e reabilitar o
seres humanos do seu tempo. “É um livro não só sobre ciência, mas sobre património edificado. A publicação encontra-se dividida em seis capítulos
como ela realmente é feita e sobre quem a faz”. repartidos por dois volumes.

Maio/Junho 2007 | INGENIUM 113


Agenda

NACIONAL
JULHO SETEMBRO
D S T Q Q S S Concurso Ideias em Caixa 2007 D S T Q Q S S
Conferência ORP3
1 2 3 4 5 6 7 1
8 9 10 11 12 13 14
27 Julho 2007 – data limite para candidaturas 2 3 4 5 6 7 8 12 a 15 Setembro 2007, Universidade do Minho, Guimarães
15 16 17 18 19 20 21 Promovido pela Universidade do Algarve 9 10 11 12 13 14 15
www.norg.uminho.pt/orp3
22 23 24 25 26 27 28 16 17 18 19 20 21 22
29 30 31 www.ualg.pt 23
30 24 25 26 27 28 29

AGOSTO SETEMBRO
D S T Q Q S S Viagem à China – Fórum Regional D S T Q Q S S ICM 2007 – Encontro Nacional sobre “A Instrumentação
5 6 7 8
1 2
9
3
10
4
11
do Centro das Profissões Liberais 2 3 4 5 6 7
1
8
Científica e a Metrologia Aplicadas à Engenharia Civil”
12 13 14 F 16 17 18 17 Agosto a 8 Setembro 2007-06-14 9 10 11 12 13 14 15 15 Setembro 2007 – Data limite envio de comunicações
19 20 21 22 23 24 25 16 17 18 19 20 21 22
26 27 28 29 30 31 www.ordemengenheiros.pt 23
30 24 25 26 27 28 29 5 Novembro 2007, LNEC, Lisboa

AGOSTO Congresso “Aplicações das Probabilidades SETEMBRO


D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 2 3 4 e da Estatística no Contexto da Engenharia” 1 Micromechanics Europe 2007 – MME 2007
5 6 7 8
12 13 14 F
9
16
10
17
11
18
30 Agosto a 8 Setembro 2007, Faculdade de Engenharia 2 3 4 5
9 10 11 12
6
13
7
14
8
15
16 a 18 Setembro 2007, Universidade do Minho, Guimarães
19 20 21 22 23 24 25 da Universidade do Porto 16 17 18 19 20 21 22 http://dei-s1.dei.uminho.pt/mme07
23
30 24 25 26 27 28 29
26 27 28 29 30 31
http://paginas.fe.up.pt/%7ebsconf07
SETEMBRO SB’07 – “Sustainable Construction, Materials SETEMBRO
SITIC – Salão Internacional
D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 and Practices – challenges for the new millennium” 1
de Tecnologias de Informação e Comunicação
2 3 4 5
9 10 11 12
6
13
7
14
8
15
12 a 14 Setembro 2007, IST, Lisboa 2 3 4 5
9 10 11 12
6
13
7
14
8
15 20 a 23 Setembro 2007, FIL, Lisboa
16 17 18 19
23
20 21 22 www.portugalsb07.org 16 17 18 19
23
20 21 22
www.sitic.fil.pt
30 24 25 26 27 28 29 30 24 25 26 27 28 29
Ver Pág. 41

SETEMBRO SETEMBRO
D S T Q Q S S Arch’07 – 5th International Conference on Arch Bridges D S T Q Q S S Sísmica 2007 – 7.º Encontro Nacional
2 3 4 5 6 7
1
8
12 a 14 Setembro 2007, Hotel Pestana Casino Park, 2 3 4 5 6 7
1
8 de Sismologia e Engenharia Sísmica
9 10 11 12 13 14 15 Funchal, Madeira 9 10 11 12 13 14 15 26 a 28 Setembro 2007, FEUP, Porto
16 17 18 19 20 21 22 16 17 18 19 20 21 22
23
30 24 25 26 27 28 29
www.civil.uminho.pt/arch07 23
30 24 25 26 27 28 29 www.fe.up.pt

INTERNACIONAL
JULHO TechnoStone 2007 – 6th International Exhibition SETEMBRO
D S T Q Q S S D S T Q Q S S EIMA & EIMA Garden 2007 – International
for Marble, Ceramic and Cement Products
1 2 3 4 5 6 7 1
Agricultural and Gardening Machinery Exhibition
8 9 10 11 12 13 14
24 a 28 Julho 2007, Damasco, Síria 2 3 4 5 6 7 8
15 16 17 18 19 20 21 9 10 11 12 13 14 15 7 a 10 Setembro 2007, Bolonha, Itália
22 23 24 25 26 27 28 www.technostonefairs.com/technostone/site/englishPages/ 16 17 18 19 20 21 22
23 www.bolognafiere.it
29 30 31
Emain.aspx 30 24 25 26 27 28 29

AGOSTO SETEMBRO
D S T Q Q S S III Expo Internacional de Logística, Servicios, D S T Q Q S S 4.ª Conferência Internacional
5 6 7
2
9
1
8
3
10
4
11
Transporte y Comercio Exterior de las Américas 2 3 4 5 6 7
1
8 sobre Explosivos e Técnicas de Explosão
12 13 14 F 16 17 18 15 a 17 Agosto 2007, Bogotá, Colômbia 9 10 11 12 13 14 15 9 a 11 Setembro 2007, Viena, Áustria
19 20 21 22 23 24 25 16 17 18 19 20 21 22
26 27 28 29 30 31
www.salalogistica.com 23
30 24 25 26 27 28 29
Ver Pág. 43

AGOSTO SETEMBRO Simpósio Internacional sobre “Methodologies for


D S T Q Q S S Taipei International Automation D S T Q Q S S
2 1 3 4 1 Integrated Analysis of Farm Production Systems”
5 6 7 9 8 10 11 Industry Exhibition 2007 2 3 4 5 6 7 8
10 a 12 Setembro 2007, Catania, Sicília, Itália
12 13 14 F 16 17 18 23 a 26 Agosto 2007, Taipei, Taiwan 9 10 11 12 13 14 15
www.iemss.org/farmsys07
19 20 21 22 23 24 25 16 17 18 19 20 21 22
26 27 28 29 30 31 www.chanchao.com.tw/english 23
30 24 25 26 27 28 29
Ver Pág. 35

D S
AGOSTO
T Q Q S S
EUROPACAT D
SETEMBRO
S T Q Q S S Exhibition for Local Community Equipment – Urban
26 e 31 Agosto 2007, Centro de Exposições
1 2 3 4 1
Equipment Building, Fitting and Maintenance
5 6 7 8 9 10 11
de Turku, Finlândia 2 3 4 5 6 7 8
12 13 14 F 16 17 18 9 10 11 12 13 14 15 12 a 14 Setembro 2007, Toulouse, França
19 20 21 22 23 24 25 www.europacat.org 16 17 18 19 20 21 22
26 27 28 29 30 31
Ver Pág. 54
23
30 24 25 26 27 28 29 www.toulousexpo.com

SETEMBRO SETEMBRO
D S T Q Q S S INELTEC 2007 – International Industrial Electronics, D S T Q Q S S
1 1 London Homebuilding na Renovating Show
2 3 4 5 6 7 8 Electrical Engineering and Robotization Fair 2 3 4 5 6 7 8
21 a 23 Setembro 2007, Londres, Reino Unido
9 10 11 12
16 17 18 19
13
20
14
21
15
22
4 a 7 Setembro 2007, Basileia, Suiça 9 10 11 12
16 17 18 19
13
20
14
21
15
22 www.excel-london.co.uk
23
30 24 25 26 27 28 29 www.messe.ch 23
30 24 25 26 27 28 29

SETEMBRO SETEMBRO
D S T Q Q S S D S T Q Q S S AQUATECH – International Exhibition
International Symposium on Shipbuilding Technology
1 1
of Water Management Technologies
2 3 4 5 6 7 8
6 a 7 Setembro 2007, Osaka, Japão 2 3 4 5 6 7 8
9 10 11 12 13 14 15 9 10 11 12 13 14 15 24 a 29 Setembro 2007, Povdiv, Bulgária
16 17 18 19 20 21 22 www.jasnaoe.or.jp/isst2007 16 17 18 19 20 21 22
23
30 24 25 26 27 28 29 23
30 24 25 26 27 28 29 www.fair.bg/en/events/aqua07.htm

114 INGENIUM | Maio/Junho 2007

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