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“Poema oculto” foi o título escolhido, após uma votação que envolveu vizinhos e
familiares e quase terminou em briga, pois não acatamos a sugestão da sindica do prédio,
que sugeriu o nome de “Meu país pobre”. Um título interessante, mas triste demais.
As linhas desse poema, como se vê, trazem uma crítica feraz ao Brasil e seu povo,
não poupando estilingadas para todos os lados. Percebi, ao reler os versos pela quinta vez,
que poesia é uma expressão artística, ganhando sentido, característica e cor se lida por
pessoas que apreciam esse gênero. Parece óbvio, mas demorei para fazer esse registro e
formular uma frase, que pretendo seguir eternamente: sem você, o leitor, as poesias
perderiam a sua definição maior.
Pronto! Depois desse aprendizado, eu já poderia escrever os meus próprios versos.
E fui adiante... Carregando um bloco no bolso e uma caneta azul, que sempre vazava tinta,
eu fazia anotações, escrevia frases e procurava descrever o cotidiano em forma de poesia.
Registrava os momentos, sentimentos e situações incomuns. Era delicioso!
Escrevia sobre temas diversos, sempre tentando rimar as palavras. Mal sabia eu que
rimar faz mal e tira toda a criatividade do poeta. Enviava os textos para amigo e leitores,
que faziam comentários muito elogiosos. Animei-me bastante com a pronta aprovação e
segui mais adiante...
Com a ajuda de um amigo, montei um blog, chamando-o de Poemas do Rodrigo
Capella, um nome não muito criativo. A idéia era expor as minhas poesias e, porque não,
conquistar novos e fiéis leitores, o que de fato aconteceu. Minha animação redobrou.
A atualização era semanal, com direito a novas fotos, desenhos e a meus
comentários sempre associados ao tema abordado no texto. Eu simplesmente adorava!
Quando publiquei no blog o poema Atitude, um leitor questionou se eu tinha algum livro de
poesia nas livrarias. Respondi prontamente que não, mas que estava pensando em escrever
um. E era verdade.
Eu já tinha publicado três livros, Enigmas e Passaportes, Como Mimar Seu Cão e
Transroca, o navio proibido, mas sentia a necessidade de lançar uma obra poética.
Precisava seguir ainda mais adiante e decidi não publicar mais textos no blog. Dediquei-me
a escrever poemas num caderninho velho e envelhecido pelo tempo, abordando sempre
temas românticos, medievais e recheados de elementos transformatórios.
6
Agora
Veias da imaginação,
Suar entre gestos,
Sublime a minha volta,
Corda, a toda hora
Eu mesmo perdido,
Tardio é meu vão,
Coração triste e oco,
Nem pensar em perdão.
Esperança
Adorno de madrugada,
Mil fatos a dizer,
Coitada de ti, pobre alma,
Perdida, acabada, ignorada.
Não!
Persistência, eu tive,
Não deu resultado,
Calado, magoado,
Sem resistência.
Fiz jornalismo,
perfeccionismo, vaidade,
caramba, quanta verdade.
10
Floresta
Nadando no vazio,
Cinza e fogo,
Perpétua a alma,
Que insiste em guiar,
Limpar, a consciência.
Ciência, ignorância!
11
Atitude
Reflito o momento,
comento, assuntos assim,
não vejo essência,
em fazer versos pra mim.
12
Bom
Sombras aparecem.
na extremidade aconteceu,
o sincero descompasso.
13
Ção
Jóia brilhante,
unida entre dois poros,
linda ao extremo,
igual a morte,
amada por mim,
não tenha ação,
alegria, minha inspiração.
14
POESIA E LITERATURA
Moacyr Scliar*
*Natural de Porto Alegre (RS), Moacyr Scliar nasceu em 1937. Autor de diversos livros, entre eles
“O exército de um homem só”, “Livro da medicina” e “O mistério da Casa Verde”, Scliar é
considerado, tanto pela crítica quanto pelo público, um dos melhores escritores brasileiros. Membro
da Academia Brasileira de Letras, ganhou várias vezes o Prêmio Jabuti.
15
Ada-Magia
Mágica,
malvada, carência.
Não ser,
mágica,
aguada, arada,
Vasculhada,
amada?
cadê o verso programado
Imune
Percorres jeito,
assumes tempestade,
procuras majestade,
quer ser alguém,
mitos!
Espantalho, me deram,
nome, não tem,
de chapéu amarelo,
de pote ausente,
Os tons variam,
do rosa ao verde,
cinza, azul e vermelho,
não esqueça do espelho.
Corro os traços,
uso aparelho,
forço a imaginação,
quero atenção.
18
Fúria
Corpos coloridos,
imitações pálidas.
Ganância e pudor,
procurando estou.
19
Castigo
Toques sublimes,
não há,
exatidão no correr,
da alma.
Vida, castigo,
adormecidos, estância,
percorre jeitos, paciência.
O que há de errado?
laços, vidas, trapaças?
maços, encantos, matos?
20
Razões
Mares densos,
razões perdidas.
21
Mundo
Pequeno,
dá voltas,
azul,
acorda!
Mude ações,
corações transformados,
amadas, pálidas.
Escapada
Cerca idealizada,
na casa que escolherei,
amada sob o monte,
escondida ao longe.
Decisão oportuna,
vejo fortuna,
largo tudo,
beijo, abraço.
POESIA E PINTURA
Sérgio Ferro*
“Palavra livre. Poesia é uma palavra livre. O que significa que a poesia está
em má situação, pois liberdade hoje é privilégio. E privilégio e liberdade hoje são
incompatíveis.
Liberdade não é sinônimo de arbitrariedade; é livre o que tem todas as
razões de ser o que é em si, o que também é definição de necessidade. Poeta é o
que transforma a necessidade escrita em seu tempo em manifestação de sua
própria liberdade.
Desde a Renascença, a pintura quis ter a mesma liberdade imaginária do
que a poesia. Titiano, Poussin e outros trabalharam muito nesse sentido.
Entretanto, também na pintura, a liberdade coalhou.”
(*) Sérgio Ferro nasceu em Florianópolis (SC), no ano de 1938. É hoje um dos pintores brasileiros
mais respeitados no exterior, com obras expostas em importantes museus, tais como o de
Grenoble, na França, e o de Thessalonique, na Grécia. Desde a década de 70, mora na França, de
onde acompanha de perto as mudanças na pintura brasileira.
24
Bêbado
Mente
Angústia de esperar,
assobio, voltas,
planejar sucesso,
aparente! Ausente?
Maldade
Amigas de vaidade,
perdido no chão, maldade!
27
Fluxo
Mensagem delirante,
em tópicos e rifas,
contatos anônimos,
garantias de cifra.
Acordo cedo,
tarde se faz gente,
sob luz de vela,
outrora vida bela.
28
Altar
Procurei lembranças,
contornando devassas,
olhando matanças.
Vou me matar,
acordaste, longe, distante,
dormirei no altar.
29
Lágrima
Ventos,
atrás de cores vivas,
lindas, noites cruas
Pensar em você,
não morro por quê?
31
Arado
Em constante harmonia,
o sol se encontra com a lua,
o mar se derrete na areia,
você me desdenha.
14 (Catorze)
Apagar os momentos.
No constante jogo,
o número é adorno,
catorze, aposto nele,
por que desperdiçar,
algo que veio de graça?
desgraça!
33
POESIA E DANÇA
Frank Aguiar*
(*) Cantor, compositor e tecladista, Frank Aguiar é hoje um dos mais consagrados músicos
brasileiros. Nascido em 1970, na cidade de Itainópolis (PI), Aguiar construiu, ao longo dos anos,
uma sólida carreira musical, lançando mais de dez discos, entre eles Frank Aguiar – Coração e
Frank Aguiar – 10 anos ao vivo. Em 2006, Frank Aguiar e o Estado do Piauí foram tema do samba-
enredo da Tom Maior, tradicional escola de samba do Carnaval paulista.
34
Beijo na boca
Pretexto,
agora,
sem texto....
Retoque
Poema em branco,
garrancho,
ai, que me perdoar.
Sonhos, repletos,
vozes
você, calado,
e os gestos?
37
Capeta
Ser um poeta?
capeta, perneta, desperta
o mundo de letras,
abafa.
Sem ritmo,
curvas, sem som,
além, exala,
Regresso, o tom,
quem disse que para
ser poeta é
preciso algum Dom?
38
Conferida
Fogo no corredor,
morte,
ardente e cruel,
não sei se vou viver,
pra ver o que é seu.
Identidade conferida.
mudança de ares.
troco sons e mares.
Ignoro a idade,
vida em vão,
sem paternidade,
dor no coração.
39
Do lado
Condição abstrata,
maltrata,
fios de cabelo,
desespero.
sinto falta,
toques,
olhares de ti,
selvagem.
Aqui!
Malvada,
de olhos azuis,
linda, cabelos loiros.
Perfuras,
esperanças afins,
sorriso,
veneno,
sem dó em fim.
Apaixonante,
malvada preversa,
é melhor tê-la assim,
do que longe de mim.
41
POESIA E TEATRO
Bárbara Paz*
(*) Bárbara Paz é atriz e modelo. Nascida no ano de 1974, Bárbara mostrou seu talento em mais
de quinze peças, entre elas A Babá, escrita por Juca de Oliveira e com direção assinada por Bibi
Ferreira, e Vestir o Pai, autoria de Mário Viana e direção do ótimo Paulo Autran.
42
Abertura
Florestas de vida,
passadas e más,
ao reverso da ação,
pura tentação.
luz brilhante,
quanto desespero,
menos tempero,
mais angústia.
43
Poeta Triste
Rabiscos e esboços,
vão se congelar,
prefiro refletir e esperar,
Diversos
Globalização
Invadiu o poema,
entre letras e abrigo,
quer mudar o esquema,
prefiro modo antigo.
Controle global,
ditadura de regras,
palhaço anormal.
Quero escrever
sem dizerem,
o que eu tenho que fazer!
46
Mais Um!
Improvisar o texto,
ler no calabouço,
rimar algumas palavras,
contabilizar o prejuízo.
Olhar o horizonte,
ser contente,
pelo menos por um minuto.
47
Cálice 2006
Acenaram-me da calçada,
era um cálice de vinho,
com lenço branco e úmido,
sorriso nas hastes,
pedia amor.
Apertando-lhe os lábios,
desejando-me pudor.
Descalabro
No descalabro contínuo,
eis os traços perversos,
a aliança constrói pudores,
eu,
em busca de meus amores.
Metafísica explica,
injustiças, latidões e atitudes
bloqueiam ansejos e vontades,
lutam contra projetos e verdades.
Esquecer
Adoecer
Mordo
Mordo os lábios,
veneno percorre bocas,
admiro suas caretas e risadas,
quero amá-la para sempre.
Linda, tu me ignoras,
preferes apalpar o vão
do que guiar um solitário,
acostumado a ouvir não.
52
POESIA E CINEMA
Carlos Reichenbach*
*Carlos Reichenbach é hoje um dos ícones do cinema brasileiro, tendo forte atuação na Boca do
Lixo e na Retomada, importantes movimentos da cinematografia nacional. Dirigiu filmes clássicos,
como “A Ilha dos Prazeres proibidos” (1980), “Extremos do Prazer” (1984) e “Alma Corsária”
(1994). Carlão, como é conhecido no meio cinematográfico, nasceu em Porto Alegre (RS), no ano
de 1945, e atualmente mantém um blog, o Reduto do Comodoro.
53
Liberdade
ao toque do semblante,
desejos se faz ao monte,
no despertar do encanto,
eis, os versos,
estou em pranto.
observo o horizonte,
a vida se faz presente,
ignoro o passado,
busco sabedoria,
num mundo, onde
a ironia, se faz
cada vez mais agonizante.
54
Putaria
A putaria cultivou,
em tempos prolixos,
ganância e pudor,
o poeta se matou.
55
Barro
Sai na revista,
Entrelinha
Que agonia,
Minha cria?
Porra!
Poema doido,
Vou me matar,
Tô louco?
Cadê
Minha
criação de barro?
Ela não
sai
nem em jornal de bairro!
56
Obrigada
Porra!
Amplo, conceito,
Falar das masculinas?
Foda-se o preconceito!
Tenha paciência!
A roda gira,
Topo e chão,
Enquanto ele se acha,
Tem gente de nobre coração,
Dono do mundo,
Que prepotência,
Ele se intitula,
Deus, o soberano.
Nossa, quanto
ENGANO!
58
Sobra
Vermelho intenso,
Morte agora.
Ante
Paranóia ambulante,
A todo instante,
Conquista lares, latidos e mares.
Malabares em punho,
Retração alado,
Vivência que cansa,
O olhar matança.
Caramba!
Cadê a vida, estRESSANTE
No mundo,
Ante!
60
Ar
Linda e bela,
Um anjo colossal,
Dorme no sorriso,
Segurança no tiso.
Atenção
Agonia de esperar,
O tempo, envolvente,
Caminhos, então,
A viver, observar, atenção!
Vida de plebeu,
Você já acendeu o seu?
63
Desprezo!
Ci no ismo
Beijo ardente,
Não muito quente,
Ar sombrio e pesado,
Tudo muito claro.
Registro enterrado,
Memória inocente,
Sombrio mundo quente,
Quer alguém contente?
65
Sem dor
A vida sombria,
Na noite, se mostra crua,
Dia, falta luz,
Quem é que produz?
Calado
Adormecida estás,
Entorno da ilha,
Querendo gritar,
Ao som de uma gralha.
Fogo cruzado,
Amor desgastado,
Estou aqui,
Por enquanto, calado.
67
Caramba
Olhos do avesso,
Penso esperança,
No andar ditongo,
Vejo a crença.
O primor na barreira
Entre avanços e sonhos,
Passo a fronteira,
Entre carros e carroças,
Toque de pirraça.
Sorte
Ausente
Ao toque do som,
Eis meu Dom,
Na vida iguala,
O olhar senzala.
Suspense exila,
O triste momento,
Coração agiu,
Distorce a mente, o que resta?
Você, ausente?
70
POESIA E MÚSICA
Ivan Lins*
*Ivan Lins mostrou-se, durante a Ditadura Militar, um verdadeiro opositor a esse regime, lançando
músicas, como “Aos nossos filhos” e “Desesperar Jamais”, que se tornaram hinos a favor da
liberdade do povo. Em 1999, ele ganhou o primeiro disco de platina com o álbum “Um Novo
Tempo” e fez a trilha sonora do ótimo longa “Dois Córregos”, de Carlos Reichenbach. Ao longo da
carreira, Ivan Lins tornou-se um dos compositores brasileiros mais conhecidos no
71
Troca de sensações,
Gemidos e ternuras,
Ao toque de amores,
Ela e dores.
Tremenda angustia,
Beijos nos lábios,
Entre jeitos e sábios,
O amor que tinha
Uma vida eterna.
Estava perto
dela
Sem nunca
estar AO LADO.
72
Essência
Se queres falar,
A vida intensa,
A morte, vivência
Aqui, essência.
73
Bela
Percorro os palais,
Entre riscos e sinais,
Retoque dos tantos,
Entre cantos e prantos.
Era bela!
74
Agora
Alegria de prisma,
Sonhei os mundos,
Passei fronteiras,
Do sonho, traçado.
Pura maldade
Por quê lutado?
Apesar da ordem,
Viver, alarde.
Na constante pura,
Do aqui, a hora.
Tropecei, morri,
Não sei, agora?
75
O sopro de um cochilo
Ao cochilo do esperar,
Entre trovas, acordar,
O constante calafrio,
Da mulher amada.
Cupim de Natal
Observava a árvore,
Canto por canto,
Estava quase aos prantos,
Queria ver se o furo,
Ia contaminar os enfeites,
Derrubar os galhos,
Estragar papai noel
E paralisar os cavalos.
77
Baladas de amor
Alucinação,
doce como vento,
quero te olhar.
Baladas de amor,
sentidos guiados,
por traços
de limites.
Maramar
Mar,
A vida é mar,
Amar a vida,
Sem Ter pressa
De encontrar
O seu destino,
Meu amor,
Se faz menino
Reflete o Dom,
Da matemática,
Da inspiração,
De um punhado de ação
Do encontrar,
Alguém,
No mar
Reflete o som,
Do borbulhar,
Do seu jeito de amar.