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: ÍNDICE : Princípio da

Verdade Real no Processo


Penal
Heider Fiuza de Oliveira Filho - Estudante
heiderfiuza@yahoo.com.br

Princípio da Verdade Real no Processo Penal

PRÍNCIPIOS DA VERDADE REAL NO PROCESSO PENAL

Primeiro ponto a ser mencionado quando se fala na finalidade da prova criminal é a


questão da verdade. A doutrina clássica sustenta que o processo penal busca, por
intermédio da prova, a "verdade real". De outro lado, temos os que sustentam que o
que se chega no processo é a verdade formal. Os autores que se dedicaram a tratar
desta teoria (como FERRAJOLI e CARNELUTTI) tiveram em mente, inicialmente, o
problema "verdade". CARNELLUTTI em seu artigo Verità, dubio e certezza, a apartir
de HEIDEGER, afirmou que a verdade está no todo, e o todo é demais para nós,
humanos.

Deste modo partiu-se em busca de categorias como a certeza, a probabilidade, a


possibilidade, dentre outro, mas sempre com a verdade como paradigma.
Problematizando esta discussão, devem-se referir os absurdos inquisitoriais que
gerou a busca pela verdade real, pois dá ensejo ao juiz ir buscar a prova da
condenação ou da absolvição, o que faz com que se rompa qualquer preensão de um
sistema acusatório de processo penal, pois que procura, procura algo, que de per se
já fere a imparcialidade judicial (além do mais, no moderno processo penal, tido
como situação jurídica - James Goldschimidt - não obstante o respeito a actum trium
personarum, a carga da prova é de exclusividade da parte acusadora - Ministério
Público).

De outro lado, ao se buscar a verdade, mesmo que formal, busca-se um excesso


epistêmico (expressão cunhada por Aury Lopes Jr.). Sobre a impossibilidade de se
chegar a verdade dos fatos remetemos o leitor a TARUFFO, Michele. La prueba de los
echos.

O jurista portenho Antonio Dellepiane (2000:30), abraçando idêntico entendimento,


aduz que a verdade, quando presente no espírito humano, caracteriza-se por
configurar uma relação de identidade, de adequação ou acordo entre nosso
pensamento e as coisas objeto do nosso pensar. Para ele, em suma, a verdade "es el
acuerdo del pensamiento com su objeto; adequatio mentis et rei, decían los
escolásticos".

Neste trabalho, em que pese se tenha ciência da existência de concepções


filosóficas outras acerca da verdade, como realçado por Simon Blackburn (1997:401),
a saber, teoria da verdade como coerência; como descitação; como limite ideal;
como redundância; etc; adere-se, nesta empreitada, à teoria da verdade como
correspondência, visto que, na seara jurídico-penal, o julgador terá chegado à sua
verdade, quando, à vista do exame das provas, detiver robusta convicção (juízo de
certeza) de que seu julgado corresponde efetivamente à realidade do fato
criminoso, o que, entrementes, não espanca a possibilidade de ter-se dado a
formação de uma falsa certeza.

É a verdade a que se chega no processo. Mas, que classe de verdade é esta? Absoluta
e ontológica ou relativa e parcial? Real ou formal?

A pergunta "qual a verdade do processo?" cobra, previamente, o saber-se, por


primeiro, se a razão humana é capaz de chegar à verdade, e, ao depois, se para se
atingir a verdade no, sua busca apresenta-se incontida e ilimitada, ou, ao revés e ao
contrário, imperiosamente demarcada por limites advenientes de valores e
princípios outros de maior relevo.

À primeira indagação supraposta - é capaz o entendimento humano de apreender a


verdade? - pensadores de nomeada esquadrinham a questão.

De efeito, na esteira de Luigi Ferrajoli (1995:50), pode-se dar acolhida ao fato de


afigurar-se impossível formular um critério seguro de verdade acerca de uma tese
jurídica, visto que a verdade "certa", "objetiva" ou "absoluta" representa sempre
expressão de um ideal inalcançável. Pensar-se o contrário, acrescenta o pensador
italiano, ou seja, que se pode de fato, na seara do conhecimento humano,
"conseguir e aseverar" uma verdade objetiva ou absolutamente certa é, na
realidade, uma ingenuidade epistemológica.

Outrossim, colhe pertinência a opinião de Rogério Lauria Tucci (1978:91), acerca da


procura da verdade: "Tenha-se presente, para logo, na consecução de tal mister,
que, como correntemente asseverado, a verdade, de modo absoluto, objetivamente
considerada, não pertence ao homem, mas, tão só, a Deus. Daí porque, na arguta
observação de PASQUALE TUOZZI, sua perquirição, como em toda forma de
conhecimento humano, restringe-se à probabilidade de conceber uma idéia, mais ou
menos exata, sobre a ocorrência de prática tida como delituosa; vale dizer, uma
idéia constitutiva de certeza".

Arremata, linhas à frente, o mesmo Tucci (1978:93), aludindo a uma possibilidade de


verdade:

"Em suma, e como observa, outrossim, UBALDO FERRARI, já que a verdade, como tal,
e superiormente concebida, não pode ser conhecida do homem, cumpre estabelecer-
se a verdade possível, por inteiro, em seus mínimos e peculiares detalhes, como se a
própria verdade fosse pelo juiz pesquisada e, afinal, descoberta. Essa a verdade
processual, cuja perquirição, assim realizada, constitui objeto da prova, no processo
penal".

Estatuído, no âmbito deste trabalho, o fato de afigurar-se impossível à razão


humana atingir a verdade - assim, dessa forma, precedida, enfaticamente, do artigo
definido "a" - ou, ao menos, a toda a verdade, resta, para o processo, uma verdade
"hominizada" ou "humanizada", dado que apreciável e determinável, no bojo
processual, por seres humanos: advogados, promotores e juízes de instâncias
individual e coletiva, etc, os quais se apresentam, por sua própria condição humana,
limitados e falíveis em seus juízos, constatação, entrementes, não conducente, só
por si, a que se entenda não se deva laborar, na busca da verdade realizável no
processo, com o ânimo de se alcançar uma verdade (verdade do processo) o mais
possível próxima da realidade dos fatos (verdade do delito), mormente no processo
penal.

Ressalte-se, ademais, que esta verdade do processo só é atingível com obediência às


próprias forças do processo, as quais se quedam moldadas, seja pela impossibilidade
humana de apreender a verdade absoluta, seja, ainda, pela imperiosidade de o
processo adequar-se a regramentos ético-jurídicos inafastáveis, merecedores, a
seguir, de atenção.

Indubitável não se configurar o processo penal como um conjunto anárquico de


disposições tendentes ao apenamento de um crime.

Dita concepção de um processo penal sem freios e travas encontra-se, a olhos nus,
divorciada de princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito, não se
compaginando, doutra banda, com ditames ínsitos ao atual estágio vivenciado pelo
direito processual penal.

De efeito, inobstante haver-se dito que o aspirar-se à verdade do processo, tanto


quanto possível próxima da verdade dos fatos, ou do delito, constitui o patamar a
que deve visar toda persecução penal, não menos verdadeira é a presença, no seio
do ordenamento jurídico, de valores outros, até de maior peso, para a concreção do
sentimento de justiça humana, que o próprio alcance da verdade dos fatos, no
processo.

Destarte, valores como a dignidade humana, a licitude dos meios probatórios, a


inviolabilidade domiciliar, o segredo profissional, etc, por sua própria carga de
relevância jurídica, antolham-se como óbices, absolutos ou relativos, à perquirição
penal da verdade no processo.

Óbices absolutos ou relativos, porque, no molde de ditames constitucionais, alguns


de tais empeços podem ser contornados por fundamentada autorização judicial,
sendo, pois, postos à margem, em face da havida prossecução penal, como, por
exemplo, no caso do segredo bancário ou da inviolabilidade domiciliar (nesta última,
considerada, ainda, a situação de flagrante delito), óbice dito, pois, relativo,
hipótese não ocorrente, doutro tanto, com o princípio da dignidade humana, óbice,
conseguintemente, inarredável e absoluto, já que não se poderia admitir, no âmbito
processual penal, a situação teratológica de proceder-se à tortura do imputado, para
se lhe obter a confissão, ainda que sob a justificativa equivocada de se atingir a
verdade do fato criminoso.

Atém-se, assim, o processo penal, tocantemente à perseguição de delitos, a limites


ético-jurídicos inderrogáveis, merecendo destacada, a esta altura, as vozes
autorizadas de Grinover, Scarance e Magalhães (1997:128), em cuja dicção se colhe:

"Se a finalidade do processo não é a de aplicar a pena ao réu de qualquer modo, a


verdade deve ser obtida de acordo com uma forma moral inatacável. O método
através do qual se indaga deve constituir, por si só, um valor, restringindo o campo
em que se exerce a atuação do juiz e das partes. Assim entendido, o rito probatório
não configura um formalismo inútil, transformando-se, ele próprio, em um escopo a
ser visado, em uma exigência ética a ser respeitada, em um instrumento de garantia
para o indivíduo. A legalidade na disciplina da prova não indica um retorno ao
sistema da prova legal, mas assinala a defesa das formas processuais em nome da
tutela dos direitos do acusado: as velhas regras da prova legal apresentavam-se
como regras para a melhor pesquisa da verdade; seu valor era um valor de verdade.
Hoje, bem pelo contrário, as regras probatórias devem ser vistas como normas de
tutela da esfera pessoal de liberdade: seu valor é um valor de garantia".

Neste diapasão, plenamente delineada a conclusão de que a conformidade fato-


julgado a que se pode chegar, no seio do processo penal, relativamente à apreciação
do fato ocorrido na realidade, qualifica-se tão-somente como relativa, imerecendo
olvido, doutra parte, que a conformidade absoluta entre fato e julgado é prestante
apenas como parâmetro ideal, ao qual deve o julgamento aproximar-se, tanto
quanto possível e na medida das forças do processo, para adquirir o teor de justiça
necessário às decisões judiciais.

Laborando, pois, o julgador, no processo, com limitações devidas à própria condição


de ser humano, a qual lhe obsta o acesso à verdade absoluta, considerados,
outrossim, inderrogáveis freios ético-jurídicos de um procedimento justo, só poderá,
de conseqüência, este mesmo julgador produzir um decisório também condicionado
por tais balizas fático-jurídicas, razão porque ainda quando todas as circunstâncias
conduzam a dar-se pelo atingimento da verdade, no caso concreto, ter-se-á que
admitir, no entanto, que aquilo efetivamente alcançado é tão-somente um juízo de
certeza, conceituada esta, por Malatesta (1996:19), como "a crença de estarmos de
posse da verdade".

Daí aduzir-se, ainda que a título roborativo, que a verdade objetiva do fato é
inatingível, no processo ou mesmo noutra seara do conhecimento humano - não se
diz que os testes científicos de DNA detém uma possibilidade de acerto de
99,9999...%, mas nunca de 100%? - cingindo-se, pois, o espírito humano a contentar-
se com uma verdade subjetiva, formada no âmbito da subjetividade do ser humano,
a qual, patenteando a convicção da posse da verdade (juízo de certeza), de sua vez,
pode, ou não, conformar-se com a verdade objetiva do fato, em que pese nunca se
possa sabê-lo cem por cento.

É, no mínimo, inadequada e falaciosa a dicotomia verdade real e verdade formal,


aventada em manuais de teoria geral do processo, de processo civil ou de processo
penal, qualificando-se a primeira como norte inarredável do processo penal, e, a
segunda como princípio informador do processo civil.

O argumento basilar seria que, no processo civil, o fato incontroverso, quando


envolvente de direito disponível, não cobra maiores perquirições do julgador acerca
do tema probando, o que, via de conseqüência, caracterizaria o acolhimento da
verdade formal. Já, no tocante ao processo penal, a incontroversibilidade dos fatos,
só por si, não gera, no julgamento, efeito acolhedor da vontade concorde das
partes, mesmo porque disporia o juiz de poderes de investigação supletiva da
omissão ou inércia da acusação e da defesa.

O fato de, no processo civil, a verdade formal quedar-se arredada em questões


albergadoras de direito indisponíveis, de par, ademais, com a previsibilidade
também de iniciativa probatória do juiz, finda por derrogar o entendimento de um
processo civil imperativamente informado pelo princípio da verdade formal. Noutro
dizer, no processo civil, também a verdade real merece acato, a saber: quando em
pauta a indisponibilidade dos direitos em lide, prevalece a verdade real; já se os
direitos em testilha detiverem o matiz da disponibilidade, é a verdade formal quem
ganha a contenda.

O raciocínio, mutatis mutandis, presta-se também ao processo penal. De efeito,


situações várias a excepcionam, tais como: a ilicitude das provas; a vedação da
revisão criminal em favor da sociedade; a dignidade da pessoa humana; o princípio
do in dubio pro reo; etc. Neste passo, tem-se que, na hipótese de uma persecução
penal eivada do vício da inconstitucionalidade, por ilicitude da prova colhida, o
indivíduo acusado e efetivamente responsável pelo delito imputado deverá
imperiosamente ser absolvido, com patente desconformidade entre as verdades
processual e fática, adveniente dos limites ético-jurídicos que se impõem, em um
Estado Democrático de Direito, à prossecução criminal. Em conclusão, no exemplo
brandido, a verdade real não se patenteia. Queda-se, pois, excepcionada, para dar
vez a uma verdade processualmente válida, consoante asserta Ada Grinover
(1982:61).

No mesmo molde, caracterizam, ainda, situações de exceção à verdade real


hipóteses em que avultam de maior relevo valores como, v.g., a impossibilidade de
revisão de sentença criminal absolutória trânsita em julgada, ainda que fulcrada em
arrimo probatório discordante da realidade dos fatos.

Neste diapasão, com Américo Canabarro (1997:03/04), pode-se concluir que casos há
em que o jus puniendi se apresenta adstrito a imposições de ordem formal, as quais,
inclusive, afrontam a verdade dos fatos, admissíveis, inobstante, à vista da
asseguração do Bem-Comum e da segurança da ordem jurídica. É, ainda, o mesmo
Canabarro (1997:04), quem, a título de arremate, pontua:

"Por conseguinte, tanto o processo civil, como o processo penal, transigem com a
verdade real, porém, ambos tudo fazem para evitar que isso ocorra; entretanto, a
verdade não pode surgir de qualquer forma, já que os processos obedecem a regras
preestabelecidas, segundo o ordenamento jurídico vigente".

Críticas à indigitada dicotomia verdade real do processo penal e verdade formal do


processo civil partem, ainda, das penas autorizadas de Ada Grinover (1982:62) e
Eduardo Cambi (2001:72/73).

Para a primeira, acatadíssima jurista da USP,

"... a antítese 'material-formal' é criticável quer do ponto de vista terminológico,


quer do ponto de vista substancial. É igualmente simplista a ulterior correlação:
processo penal - verdade material; processo civil - verdade formal. Pressupõe ela a
imagem de um processo civil, imutavelmente preso ao dogma da absoluta
disponibilidade do objeto do processo e dos meios de prova, o que é inexato do
ponto de vista do direito positivo, bem como do ponto de vista histórico".

De sua parte, o segundo, mestre pela Universidade Federal do Paraná, acentua:

"Desse modo, resta superada a dicotomia da verdade material e da verdade formal


que se costumava fazer atribuindo a primeira ao processo penal e a segunda ao
processo civil. A reconstrução dos fatos no processo penal não é mais relevante do
que no processo civil, mesmo porque nem todas as condenações penais redundam na
aplicação da pena de restrição da liberdade e, mesmo assim, em contrapartida, as
conseqüências não patrimoniais de uma condenação civil poderiam ser tão graves
quanto a restrição da liberdade (por exemplo, a perda do pátrio poder). Portanto,
tanto no processo penal quanto no civil, o melhor conhecimento possível dos fatos
constitui pressuposto para uma boa decisão".

Patenteados, de conseguinte, o anacronismo da dicotomia verdade real-verdade


formal e a não incidência da verdade real em casos vários ocorrentes no processo
penal, de bom alvitre se colha, a esta altura, a judiciosa dicção de Grinover,
Scarance e Gomes Filho (1997:130), os quais pugnam por correções terminológica e
de conteúdo da nominada verdade real, tingindo-se-lhe com as tintas da
realizabilidade humana e jurídica (verdade real possível), ao asseverarem:

"Por isso é que o termo 'verdade material' há de ser tomado em seu sentido correto:
de um lado, no sentido da verdade subtraída à influência que as partes, por seu
comportamento processual, queiram exercer sobre ela; de outro lado, no sentido de
uma verdade que, não sendo 'absoluta' ou 'ontológica', há de ser antes de tudo uma
verdade judicial, prática e, sobretudo, não uma verdade obtida a todo preço: uma
verdade processualmente válida".

No processo penal, a verdade real ou material, antes de ser um dogma, é um mito; a


limitação e a falibilidade, características inerentes à condição humana dos
operadores jurídico-processuais, impossibilitam o atingimento, no processo, ou
mesmo em qualquer outra seara do conhecimento, da verdade absoluta, pura ou
ontológica, a qual pertence, única e tão-somente, a Deus; resta, pois, ao processo
uma verdade processual, tendente à verdade dos fatos, a cuja aproximação se volta,
o mais possível, para o alcance do necessário teor de justiça;

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