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É a verdade a que se chega no processo. Mas, que classe de verdade é esta? Absoluta
e ontológica ou relativa e parcial? Real ou formal?
"Em suma, e como observa, outrossim, UBALDO FERRARI, já que a verdade, como tal,
e superiormente concebida, não pode ser conhecida do homem, cumpre estabelecer-
se a verdade possível, por inteiro, em seus mínimos e peculiares detalhes, como se a
própria verdade fosse pelo juiz pesquisada e, afinal, descoberta. Essa a verdade
processual, cuja perquirição, assim realizada, constitui objeto da prova, no processo
penal".
Dita concepção de um processo penal sem freios e travas encontra-se, a olhos nus,
divorciada de princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito, não se
compaginando, doutra banda, com ditames ínsitos ao atual estágio vivenciado pelo
direito processual penal.
Daí aduzir-se, ainda que a título roborativo, que a verdade objetiva do fato é
inatingível, no processo ou mesmo noutra seara do conhecimento humano - não se
diz que os testes científicos de DNA detém uma possibilidade de acerto de
99,9999...%, mas nunca de 100%? - cingindo-se, pois, o espírito humano a contentar-
se com uma verdade subjetiva, formada no âmbito da subjetividade do ser humano,
a qual, patenteando a convicção da posse da verdade (juízo de certeza), de sua vez,
pode, ou não, conformar-se com a verdade objetiva do fato, em que pese nunca se
possa sabê-lo cem por cento.
Neste diapasão, com Américo Canabarro (1997:03/04), pode-se concluir que casos há
em que o jus puniendi se apresenta adstrito a imposições de ordem formal, as quais,
inclusive, afrontam a verdade dos fatos, admissíveis, inobstante, à vista da
asseguração do Bem-Comum e da segurança da ordem jurídica. É, ainda, o mesmo
Canabarro (1997:04), quem, a título de arremate, pontua:
"Por conseguinte, tanto o processo civil, como o processo penal, transigem com a
verdade real, porém, ambos tudo fazem para evitar que isso ocorra; entretanto, a
verdade não pode surgir de qualquer forma, já que os processos obedecem a regras
preestabelecidas, segundo o ordenamento jurídico vigente".
"Por isso é que o termo 'verdade material' há de ser tomado em seu sentido correto:
de um lado, no sentido da verdade subtraída à influência que as partes, por seu
comportamento processual, queiram exercer sobre ela; de outro lado, no sentido de
uma verdade que, não sendo 'absoluta' ou 'ontológica', há de ser antes de tudo uma
verdade judicial, prática e, sobretudo, não uma verdade obtida a todo preço: uma
verdade processualmente válida".