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FALIMENTAR
∗
Glayton Robert Ferreira Fontoura
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar as modificações trazidas pela nova Lei de
Falências e Recuperação de Empresas quanto à sucessão empresarial sob a ótica do
Direito Falimentar. Com este escopo, inicia-se o trabalho trazendo o conceito da figura
da sucessão do empregador à luz da doutrina. Em seguida, ressalta a previsão legal
existente sobre o tema, tanto na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – quanto na
Lei de Recuperação e Falência, Lei nº 11.101/2005. Uma vez identificada a previsão legal
da sucessão empresarial tanto no Direito do Trabalho quanto no Direito Falimentar, trata
de analisar o conflito entre estas duas normas de caráter especial, trazendo num primeiro
momento, os argumentos de um lado e de outro e, logo em seguida, as teorias acerca da
solução das antinomias existentes entre elas.
PALAVRAS-CHAVE:
ABSTRACT
This study aims to analyze the changes brought about by the new Bankruptcy Law and
Corporate Restructuring on the business succession from the perspective of Bankruptcy
Law. With this scope, begins the work to bring the concept of the figure of the succession
of the employer in the light of the doctrine. Then highlights the existing legal provision on
the subject, both in the Consolidation of Labor Laws - CLT - and in the Recovery Act and
Bankruptcy Law No. 11.101/2005. Once we know the legal provision of succession in both
the Labor Law and the Bankruptcy Law, is to examine the conflict between these two
standards of special character, bringing a first step, the arguments of one side to another,
and soon after theories about the solution of the contradictions between them.
KEY WORDS:
Bacharel em Direito pela Faculdade Metropolitana de Blumenau – FAMEBLU – do Centro Universitário
Leonardo Da Vinci - UNIASSELVI
1 INTRODUÇÃO
2 PREVISÃO LEGAL
2.1 NA CLT
1
MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. 8ª
Edição. São Paulo: LTr, 2000, p. 261.
2
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6ª Edição. São Paulo: LTr, 2007, p. 408.
3
NOGUEIRA, Lidiane Duarte. A sucessão trabalhista e a Lei Nº 11.101/2005. Disponível em:
<http://74.125.47.132/search?
q=cache:P3DgCdYTSVwJ:www.portaldocomercio.org.br/media/DStt02_out07.pdf+sucessão+de+empregad
ores+11.101&cd=12&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 14/06/09.
A CLT é muito clara ao prever, logo em seu décimo artigo, a questão da sucessão
trabalhista ou de empregadores, ao impor, in verbis, que: “Qualquer alteração na estrutura
jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados”. Perceba-se
que ao utilizar a expressão “qualquer”, o texto legal não deixa margem para interpretações
ou extensões para que se possam atingir outras situações.
Neste mesmo sentido escrevem diversos autores, dentre os quais destacamos Mauro
Schiavi6 que leciona:
4
FRIAS, Nidia Caldas. Responsabilidade pelos créditos trabalhistas e a nova lei de falência – Lei N°
11.101/2005. Disponível em: <http://74.125.47.132/search?
q=cache:1oM3QSQX8t8J:www.cej11deagosto.com.br/artigo_nidia.pdf+sucessão+de+empregadores+11.101
&cd=10&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 14/06/09.
5
SOUZA, Marcelo Papaléo de. A nova Lei de Recuperação e Falência e as suas conseqüências no Direito
e no Processo do Trabalho. São Paulo: LTR, 2006.
6
SCHIAVI. Mauro. Aspectos polêmicos e atuais da sucessão de empresas no Direito do Trabalho:
direito material e processual do trabalho. Disponível em: <http://74.125.47.132/search?
q=cache:Qy4WY0KSPkgJ:www.lacier.com.br/artigos/Aspectos%2520pol%25EAmicos%2520e%2520atuais
%2520da%2520sucess%25E3o
%2520trabalhista.doc+ASPECTOS+POLÊMICOS+E+ATUAIS+DA+SUCESSÃO+DE+EMPRESAS+NO+
DIREITO+DO+TRABALHO:+Direito+Material+e+Processual+do+Trabalho&cd=2&hl=pt-
Segundo a melhor doutrina a sucessão trabalhista, disciplinada nos artigos 10 e
448, da CLT tem fundamento nos princípios da continuidade do contrato de
trabalho, despersonalização do empregador, e na inalterabilidade do contrato de
trabalho. Por isso, quem responde pelo crédito trabalhista é a empresa e não quem
esteja no seu comando.
Esse fato demonstra que o dispositivo legal pode ter várias interpretações, o qual
futuramente, ensejará a criação de uma jurisprudência dominante que
eventualmente se transformará em uma súmula do Tribunal competente, mas até
lá, as partes transitarão num ambiente não plenamente seguro do ponto de vista
jurídico.
Também Ulhoa Coelho8 (2005, p. 369) comenta sobre este dispositivo escrevendo:
Fica claro, portanto que, consoante o disposto no artigo 141, II e §2° da Lei
11.101/2005, no que diz respeito à Falência, fica, o comprador da filial ou da unidade
produtiva, isento das obrigações com os empregados da antiga massa falida, constituindo
com eles um novo contrato de trabalho e afastando, portanto, qualquer possibilidade de
sucessão trabalhista.
3 ANTINOMIAS LEGAIS
7
BRANCO Maurício de Melo Teixeira. Renúncia do empregado e sucessão trabalhista na Lei
11.101/2005. Disponível em: <http://74.125.47.132/search?
q=cache:SUsUSoQWot8J:www.diritto.it/archivio/1/26842.pdf+sucessão+de+empregadores+11.101&cd=19
&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 14/06/09.
8
COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação de empresas: (Lei
11.101, de 9-2-2005). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 369.
trabalhista não excluiu a hipótese de sucessão de empresas ou de empregadores
quando a empresa estiver em estado falimentar ou em recuperação judicial.
Uma vez identificado o conflito existente entre as normas, sobre este tema em
especial, escrevem Larroyde e Cardozo9 (2007) que:
Por sua vez, diante do conflito aparente de normas, o princípio da norma mais
favorável induz, inexoravelmente, à aplicação dos artigos que fundamentam a
configuração do instituto sucessório, por ser, sem dúvida, mais benéfica à classe
trabalhadora. O princípio do “in dubio pro operário” autoriza ainda que seja
aplicada a interpretação acerca do disposto no artigo 60, parágrafo único da Lei
nº 11.101 que mais atenda aos anseios dos obreiros envolvidos no caso a
garantia de manutenção dos direitos da categoria e de satisfação dos créditos
trabalhistas porventura pendentes.
[...]
Assim, esta nova mudança tornou-se uma afronta aos princípios da proteção ao
trabalhador, bem como da continuidade do contrato de trabalho, que abrange
tanto o caráter objetivo do contrato, como horário, função, salário, como o
caráter subjetivo, relativo às pessoas do contrato, uma vez que, de acordo com a
nova lei, há necessidade de elaboração de novo contrato laboral. Entretanto, a
alteração que ocorrerá com a sucessão dos empregadores não poderia afetar os
contratos de trabalho, tampouco causar prejuízos ao direito do trabalhador.
9
LARROYD, André de Medeiros; CARDOZO, Marcelo Rocha. Sucessão trabalhista e recuperação
Judicial. Disponível em: <http://www.larroydcardozo.com.br/novo_site/main/default.asp?
pg=noticias&codnoticia=78>. Acesso em 14/06/2009.
10
BRITO, Gracielle Vasconcelos de. A sucessão de empregadores de acordo com a Nova Lei de
Recuperação e Falência. Disponível em: <http://www.oabpb.org.br/espacos.jsp?id=146>. Acesso em
14/06/2009.
As regras para a solução das antinomias são três: a) critério cronológico; b)
critério hierárquico; e c) critério das especialidades. Contudo, nem sempre tais
critérios conseguem solucionar as antinomias a contento, pois pode existir
conflito entre eles. Nesta situação, existindo conflito entre o critério hierárquico
e o cronológico, o primeiro prevalece; divergência entre o critério hierárquico e
o da especialidade, no entender de Bobbio, não há resposta segura, devendo
prevalecer ora um ora outro, com o que não se concorda, pois deve prevalecer o
hierárquico; conflito entre o da especialidade com o cronológico, sobressai o da
especialidade, pois norma geral não revoga a especial.
[...]
Adequação significa que o estado gerado pelo poder público por meio do ato
administrativo ou da lei e o estado no qual o fim almejado pode ser tido como
realizado situando-se num contexto mediado pela realidade à luz de hipóteses
comprovadas. A necessidade, por sua vez, significa que não existe outro estado
que seja menos oneroso para o particular e que possa ser alcançado pelo poder
público com o mesmo esforço ou, pelo menos, sem um esforço
significativamente maior.
A lei 11.101/05 por ser norma especial e específica, prevalece sobre a regra
geral dos artigos 10 e 448, da CLT. Além disso, há inegável interesse social na
não configuração da sucessão trabalhista na falência, como forma de
impulsionar a efetividade do processo falimentar e garantia do recebimento dos
créditos dos credores do falido.
4 CONCLUSÃO
11
MESQUITA, Eduardo Mello de. As tutelas cautelares e antecipada. São Paulo: Revista do Tribunais,
2002, p. 326
Por fim, chega-se ao fim deste estudo com a firme convicção, não de se prestar a
encerrar um assunto tão amplo e complexo como o que se apresentou e sobre o qual
diversos autores renomados se manifestam, mas sim de apresentá-lo de forma sucinta,
trazendo pequenos apontamentos que certamente poderão orientar ao leitor, ainda que de
forma apenas inicial, às posições divergentes havidas neste aspecto.
Sobre o tema em si, posiciono-me junto à tese defendida por Marcelo Papael de
Souza, a qual a transcrevo a seguir:
Feitas essas considerações, concluímos que a regra do art. 60, parágrafo único
da LRF representa uma restrição a um direito fundamental, que são os direitos
dos trabalhadores, previstos no art. 7º da Constituição Federal. Contudo, diante
do denominado princípio (dever) de proporcionalidade, incorre o legislador em
manifesta ilegalidade, ou não? Pode-se chegar à conclusão negativa. A
limitação da aplicação do art. 448 da CLT, que assegura todos os direitos dos
trabalhadores (previstos na Constituição Federal – art. 7º), em face do sucessor,
tratando-se de empresas em recuperação judicial, não é ilegal. Na aquisição de
qualquer bem, o interessado, via de regra, avalia os fatores que possam diminuir
o valor do negócio. Se, no caso da alienação da empresa, ou estabelecimento,
ocorrer a transferência das obrigações, o seu valor sofrerá redução
correspondente a estas. É difícil mensurar com precisão a totalidade das dividas
do devedor, ocorrendo um superdimensionamento destas, podendo gerar o
desinteresse no negócio. Portanto, partindo da inexistência da sucessão do ônus,
haverá a maximização do ativo, ou seja, será alcançado valor superior,
favorecendo não somente o devedor, mas também os credores, haja vista a
possibilidade de satisfação dos débitos. Portanto, conjugando todos os fatores
envolvidos, conclui-se que, pelo princípio da proporcionalidade, a restrição aos
direitos dos trabalhadores se mostra lícita, pois trará benefícios a todos os
envolvidos, possibilitando o pagamento de maior número dos credores, a
manutenção dos empregos, geração de impostos e conservação da unidade
produtiva.
5 REFERÊNCIAS
BRANCO Maurício de Melo Teixeira. Renúncia do empregado e sucessão trabalhista
na Lei 11.101/2005. Disponível em: <http://74.125.47.132/search?
q=cache:SUsUSoQWot8J:www.diritto.it/archivio/1/26842.pdf+sucessão+de+empregadore
s+11.101&cd=19&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 14/06/09.
MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito
do Trabalho. 8ª Edição. São Paulo: LTr, 2000.