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A POLÍTICA DA BEBIDA

Haverá um dia, talvez futuro não tão remoto, que os analistas sociais,
antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e até filósofos, se debruçarão
sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Constatarão uma pandemia. Tanto nos
barracos mais miseráveis, quanto nos centros de poder, acharão o álcool .
Cruzarão essas informações com tipos de decisões, fatos, comportamentos e
atitudes e suas conseqüências e descobrirão relações fantásticas e
desconhecidas.

A historiografia oficial e os analistas de forma geral buscam relações de causa


e efeito para explicar os fatos cotidianos, tanto quanto os acontecimentos
extraordinários, seja da economia, da política, da sociedade. Sempre
entenderam que as relações sociais se fundam a partir de uma causa essencial,
seja o interesse, o poder, a propriedade, a informação. A partir dessa causa,
surgem, numa linha linear determinante, os efeitos que se multiplicam e
estruturam a conjuntura de uma época. Entretanto, o rol de objetos, conceitos
e operadores dessa metodologia acadêmica e científica elimina, por ser esse o
papel da ciência, tudo que lhe parece assessório ou pouco afeito à seriedade
das instituições de saber. Dessa forma, a ciência trabalha com o que é preciso,
claro e evidente, como bem ensinava René Descartes, aquele que, em 1640
estabeleceu o método da positividade do conhecimento.

Claro que já escreveram toneladas de teses contra Descartes, mas, por inércia,
o que funciona mesmo na área da ciência são as lições do Discurso do
Método. Evidentemente amalgamado com as tiradas geniais de Bacon, pois,
afinal, a experiência continua senhora de todos os gênios.

Mas, voltando ao nosso assunto, estamos no futuro e os sisudos sábios das


ciências sociais, por experiência própria, começam a desconfiar que a bebida
alcoólica não é simplesmente uma decoração inocente e periférica no cenário
social. Descobrem que um dos primeiros sinais de poder, um dos primeiros
sinais dos “ritos de passagem” contemporâneos é o copo de cerveja, cachaça,
uísque. são aqueles almoços de negócios, quando o candidato ou o executivo
da coisa pública ou o parlamentar, em pleno início da tarde, se sente no direito
de pedir um uísque ou um vinho ou uma cerveja e mais uma dose e outra e
mais outra. Da mesma forma que Marx teve que descobrir na definição de
salário de Smith a escamoteação da mais valia, esses cientistas irão descobrir
que uma das pedras angulares do poder político nas sociedades
contemporâneas é a bebida alcoólica.

Como um enxame de abelhas, se lançarão sobre esse mel, usando seus


instrumentos de pesquisa e levantamento de dados; os computadores
começarão a receber dados, saídos de surveys, grupos de discussão, notas
fiscais de fabricas e restaurantes, orçamentos públicos. Finalmente,
estarrecidos, descobrirão que o poder nada em álcool.

A maioria bebe e bebe muito. Não há mais regra ou horário e, mais que muito
conhecimento técnico ou operacional, a casta política conhece bebida. Sabe
das safras; sabe que o tipo de cana determina a pinga, mas é o tipo de terra que
determina a cana; sabe da água para a cerveja e da cor da garrafa para os
licores e o tipo de gelo para o uísque. Conhecem as misturas malignas,
tomadas em dia de debate no parlamento e as misturas light, para cerimônias
do dia a dia. Sabem quem bebe muito, pouco e as manias de cada um. Sabem
daqueles que são bebidos, alcoólatras em tal grau, que é a bebida que manda.
Enfim, esses cientistas sociais, em artigos e congressos irão propor uma nova
teoria: A Política da Bebida.

O alvoroço que causará essa descoberta terá o mesmo peso daquele causado
pelas contribuições da Escola de Frankfurt ou as denuncias feitas no XX
Congresso do partido comunista da antiga União soviética. Não se falara de
outra coisa. Os antropólogos remexerão na história e descobrirão que
Napoleão era viciado em Abissinto e Crowmell em uísque e Truman não
passava sem um champanhe. Que Maquiavel bebia vinho ao acordar, Getúlio
tinha cachaça na garrafa de café e Collor misturava Bujouler Nouvo com licor
de Pequi. Já os psicanalistas levantarão a hipótese de que todo político teve
problemas na faze oral, intensificada por complexo de castração invertido
durante o Édipo. E os sociólogos demonstrarão que a bebida é um símbolo de
interatividade dos grupos de poder.

É claro que toda essa polêmica causará constrangimentos e reações. Uns, mais
a esquerda, beberão mais e de forma mais descarada, pois, afinal, estão
cumprindo a função pública para a qual foram designados. Outros, mais a
direita, passarão a beber água mineral nos restaurantes e bares e se esforçarão
para elaborar um projeto proibindo bebida alcoólica em Brasília e em todo
setor público. O projeto nunca sairá da intenção. Como irão beber em casa, e
muito mais, cairão babando sobre os primeiros parágrafos redigidos –
bêbados.

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