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Haverá um dia, talvez futuro não tão remoto, que os analistas sociais,
antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e até filósofos, se debruçarão
sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Constatarão uma pandemia. Tanto nos
barracos mais miseráveis, quanto nos centros de poder, acharão o álcool .
Cruzarão essas informações com tipos de decisões, fatos, comportamentos e
atitudes e suas conseqüências e descobrirão relações fantásticas e
desconhecidas.
Claro que já escreveram toneladas de teses contra Descartes, mas, por inércia,
o que funciona mesmo na área da ciência são as lições do Discurso do
Método. Evidentemente amalgamado com as tiradas geniais de Bacon, pois,
afinal, a experiência continua senhora de todos os gênios.
A maioria bebe e bebe muito. Não há mais regra ou horário e, mais que muito
conhecimento técnico ou operacional, a casta política conhece bebida. Sabe
das safras; sabe que o tipo de cana determina a pinga, mas é o tipo de terra que
determina a cana; sabe da água para a cerveja e da cor da garrafa para os
licores e o tipo de gelo para o uísque. Conhecem as misturas malignas,
tomadas em dia de debate no parlamento e as misturas light, para cerimônias
do dia a dia. Sabem quem bebe muito, pouco e as manias de cada um. Sabem
daqueles que são bebidos, alcoólatras em tal grau, que é a bebida que manda.
Enfim, esses cientistas sociais, em artigos e congressos irão propor uma nova
teoria: A Política da Bebida.
O alvoroço que causará essa descoberta terá o mesmo peso daquele causado
pelas contribuições da Escola de Frankfurt ou as denuncias feitas no XX
Congresso do partido comunista da antiga União soviética. Não se falara de
outra coisa. Os antropólogos remexerão na história e descobrirão que
Napoleão era viciado em Abissinto e Crowmell em uísque e Truman não
passava sem um champanhe. Que Maquiavel bebia vinho ao acordar, Getúlio
tinha cachaça na garrafa de café e Collor misturava Bujouler Nouvo com licor
de Pequi. Já os psicanalistas levantarão a hipótese de que todo político teve
problemas na faze oral, intensificada por complexo de castração invertido
durante o Édipo. E os sociólogos demonstrarão que a bebida é um símbolo de
interatividade dos grupos de poder.
É claro que toda essa polêmica causará constrangimentos e reações. Uns, mais
a esquerda, beberão mais e de forma mais descarada, pois, afinal, estão
cumprindo a função pública para a qual foram designados. Outros, mais a
direita, passarão a beber água mineral nos restaurantes e bares e se esforçarão
para elaborar um projeto proibindo bebida alcoólica em Brasília e em todo
setor público. O projeto nunca sairá da intenção. Como irão beber em casa, e
muito mais, cairão babando sobre os primeiros parágrafos redigidos –
bêbados.