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SÁBADO
– Outras virtudes necessárias para o convívio diário: gratidão, cordialidade, amizade, alegria,
optimismo, respeito mútuo...
Mas Jesus encontra-se à vontade entre pessoas tão diferentes d’Ele. Sente-
se bem com todos porque veio salvar a todos. Não têm necessidade de médico
os sãos, mas os enfermos. Jesus dá-se bem com os tipos humanos e
caracteres mais variados: com um ladrão convicto, com as crianças cheias de
inocência e simplicidade, com homens cultos e sérios como Nicodemos e José
de Arimateia, com mendigos, com leprosos... Esse interesse revela-nos as
suas ânsias salvadoras, que se estendem a todas as criaturas de qualquer
classe e condição.
Jesus revelou também um grande apreço pela família, que é o lugar por
antonomásia onde se devem praticar as virtudes da convivência e onde se dá o
primeiro e o principal relacionamento social. É o que nos mostram os seus
anos de vida oculta em Nazaré, o que o Evangelista ressalta sublinhando – ao
invés de muitos outros pequenos fatos que poderia ter-nos deixado – que
Jesus menino estava sujeito aos seus pais4. A fim de ilustrar o amor de Deus
Pai para com os homens, o Senhor serve-se da imagem de um pai que não dá
uma pedra ao filho se este lhe pede um pão, ou uma serpente se lhe pede um
peixe5. Ressuscita o filho da viúva de Naim porque se compadece da sua
solidão e da sua pena, pois era o único filho daquela mulher 6. E Ele próprio, no
meio dos sofrimentos da cruz, cuida da sua Mãe confiando-a a João7.
II. BOA PARTE da nossa vida está composta de pequenos encontros com
pessoas que vemos no elevador, na fila do autocarro, na sala de espera do
médico, no meio do trânsito da cidade grande ou na única farmácia da
cidadezinha onde vivemos... E ainda que sejam momentos esporádicos e
fugazes, são muitos por dia e incontáveis ao longo de uma vida. Para um
cristão, são importantes, porque são ocasiões que Deus lhe dá para rezar por
essas pessoas e mostrar-lhes o seu apreço, tal como deve suceder entre os
que são filhos de um mesmo Pai. Fazemos isto normalmente através desses
pormenores de educação e de cortesia que temos habitualmente com qualquer
pessoa, e que se transformam facilmente em veículos da virtude sobrenatural
da caridade. São pessoas muito diferentes, mas todas esperam alguma coisa
do cristão: aquilo que Cristo teria feito se estivesse no nosso lugar.
Também nos relacionamos com pessoas dos mais diversos modos de ser e
de comportar-se na própria família, no trabalho, entre os vizinhos...; são
pessoas com temperamentos e caracteres muito diferentes dos nossos. É
preciso que saibamos conviver harmonicamente com todos. São Tomás indica
a importância de uma virtude particular que regula “as relações dos homens
com os seus semelhantes, tanto nas obras como nas palavras”, e que reúne
em si muitas outras: é a afabilidade8, que nos inclina a tornar a vida mais grata
àqueles que vemos todos os dias.
É uma virtude que deve formar como que a trama da convivência. Talvez
não seja uma virtude chamativa, mas, quando não está presente, nota-se muito
a sua falta, pois torna tensas e ásperas as relações entre os homens, e leva
frequentemente a faltar à caridade. Opõe-se pela sua própria natureza ao
egoísmo, ao gesto ofensivo, ao mau humor, à falta de educação, ao
desinteresse pelos gostos e preocupações dos outros. “Destas virtudes –
escrevia São Francisco de Sales – deve-se ter uma grande provisão e bem à
mão, porque devem ser usadas quase continuamente”9.
(1) Mc 2, 13-17; (2) Jo 11, 11; (3) cfr. Mc 11, 3; (4) cfr. Lc 2, 51; (5) cfr. Mt 9, 7; (6) cfr. Lc 7, 11;
(7) cfr. Jo 19, 26-27; (8) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 114, a. 1; (9) São Francisco de
Sales, Introdução à vida devota, III, 1; (10) S. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 429; (11) cfr. F.
Fernández Carvajal, Antología de textos, 9ª ed., Palabra, Madrid, 1987, verbete “Afabilidade”;
(12) S. Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 230.