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Hl INTRODUCAO ‘© processo de acumulagao capitalista na Eu- ropa ocidental, ocorrido ao longo do século XVIIL, permitiu a ascensao econémica da bur- quesia, classe que na sociedade do Antigo Re- Gime pasowu a exigir profundas mudangas na or- ganizacéo politica do Estado Absolutista. © con- junto das suas idéia foi denominado uminismo @ 0 século XVIII ficou conhecido também como Século das Luzes. Os pensadores, defendendo 05 ideais burgueses, se convenceram que o re- curso a razdo era 0 tinico meio de se eliminar obscurantismo e de se conduzir 0 homem & verdade, ao bem e & liberdade. Logo, conden: vam o Absolutismo, o Mercantilismo, a socie- dade estamental, a servidao, 2 Inquisigao, enfim, as instituigdes fundamentais do Antigo Regime, propondo novas formas de organizagao da socie~ Gade, da politica e da economia, fundadas todas elas na liberdade e na tolerancia. O Muminismo tomou-se uma ideclogia revolucionéria, influen- ciando a Independéncia do Estados Unidos em 1776, a Revolugio Francesa de 1789 ¢ os movi- mentos revolucionarios de independéncia na América Latina. & FUNDAMENTOS Racionalismo racionalismo filoséfico, que serviu de base para o Huminisino, foi expresso por René Des- cartes (1596-1650), pensador francés, que era também fisico e matemético. Entre suas prin- Cipais obras filos6ficas destaca-se 0 Discurso do ‘Método (1637), em que explicou 0 racionalismo por meio célebre maxima “penso, logo existo”. Apoiado em estudos e observagées, Descartes considerava que 0 universo é regido por leis na- turais, que so mecdnicas e tao precisas quanto as leis mateméticas, de modo que s6 se pode atingir o conhecimento por meio da razio e da ciéncia, uma vez que é produto das experiéncias racionais. Dessa maneira, Descartes, criou um método para chegar ao conhecimento fundado na demonstragao matematica, e refutava a fée a crenga baseadas em dogmas religiosos. Os filésofos iluministas condenavam o cristia- nismo porque seus dogmas renegam a natureza. ‘Acteditavam que Deus era inteligéncia em vez de crenca, criador de um universo admiravel- mente ordenado por leis eternas e imutéveis; lo- go, Deus nao devia ser objeto de adoracio, ritos e sacramentos. Bastava estudar a natureza para conhecer as leis divinas e acelté-tes. No campo politico, o racionalismo ofereceu subsidios para a cvitica a todas as instituigoes do Antigo Regime consideradas dogmiéticas. liberalismo © pensamento liberal foi expresso por John Locke (1632-1704). Este pensador inglés foi in- fluenciado pelas idéias politicas surgidas com a Revolucao Gloriosa de 1688, que eliminou 0 go- verno mondrquico absolutista na Inglaterra. En- Ire suas obras destaca-se 0 Segundo Tratado so- bre o Governo Civil, em que desenvolveu uma concep¢ao politica oposta a absolutista, sus- tentada por Thomas Hobbes. Para Locke 0 ho- mem, antes do estabelecimento do governo, vi- ‘via em um estado natural, sem lutas e anarquia; isso quer dizer que sua concep¢ao opunha-se frontalmente 4 de Hobbes. O estado natural im- plicava uma vide comunitaria harmoniosa ¢ go- vernada pela razdo, na qual se prescindia da crenga em um ente superior, Portanto, antes de ‘8 governs existirem, os homens possuiam di- reitos iguais e inalienaveis, como o direito a li berdade, a vida e & propriedade. Ao contrario do que concebiam os idedlogos absolutistas, Locke considerava que um governe legitimo ‘emanava de um contrato social fundado no con- sentimento dos governados, e 0 poder atri- buido a esse governo deveria ser limitado em nome dos direitos naturais dos governados. © pensamento de Locke foi difundido na Fran- a por Voltaire e teve também resson4ncia nos “SISTEMA ANGLO DE ENSINO 64 ‘VESTIBULARES Estados Unidos no contexto da luta pela indepen- déncia e da feitura da Constituigao de 1787. Direitos Naturais Os filésofos acreditavam que a sociedade ideal deveria ser organizada de modo a asse- gurar a felicidade do homem. Esta, por sua vez, 36 podia nascer de um governo que respeitasse os direitos dos individuos nascidos sob a in- fluéncia das leis naturais. Esse governo era escolhido pelos homens e tinha a finalidade de Ihes garantir a felicidade e todas as benesses que em sociedade pudessem gozar na Terra. Portanto, com esse compromisso era firmado um contrato entre o governante e os governa- dos, os quais, por sua vez, poderiam mudar de governo, caso este viesse a violar os direitos dos individuos. Ainda segundo a ideologia iluminista, o go- verno também deveria garantir o direito a liber- dade e & igualdade. O direito a liberdade com- preendia a livre escolha da religido, a liberdade de expressao-e também a liberdades de desen- volver sem entraves o comércio e a industria. Os iluministas exigiam a supressao de todas as for- mas que a impedissem, como a servidao, a in- quisi¢ao e o intervencionismo monopolista na economia. O direito 4 igualdade consistia na eli- minagao dos privilégios fiscais e judiciais conce- didos ao clero'e a nobreza, e estabelecia que to- dos seriam iguais perante as leis e no pagamento de impostos. Ninguém poderia ficar acima das leis e imune aos impostos; todos deveriam ser julgados ¢ tributados pelos mesmos tribunais ¢ impostos. PRINCIPAIS PENSADORES Charles Louis de Secondat, conhecido como bardo de Montesquieu (1688-1775), condenou em suas obras as instituigdes ¢ os costumes do seu tempo. Em 1720, escreveu Cartas Persas, em que ridiculariza os costumes, a moralidade e as instituigdes da monarquia francesa. Contudo, sua obra mais significativa ¢:Do Esptrito das Leis (1748), em-que expés sua teoria sobre 0 govemo organizadorno principio dos trés poderes. Assim, propée que cabe ao. legislativo a elaboragao das leis, que so relagdes necessarias derivadas da natureza'das coisas; a0 executivo cabe aplicé-las na ordem geral; a0 judicidrio; aplicé-las nos ca- sos particulares. Cada um destes poderes é um ‘organismo distinto e independente dos demais. Segundo Montesquieu, “um governo fundado na lei, onde os poderes se limitam uns aos outros, conduzem a humanidade & liberdade”. Montesquieu também classificou as formas de governos em trés categorias, despéticos, monar- quicos e republicanos. Visando explicar 0 predo- minio de cada uma dessas formas em certos paf- ses, estabeleceu relagbes entre as condigdes psi- colégicas de cada povo e a forma de governo adotada. Relacionou também a forma de gover- no com a dimensao eo clima da cada pais. Acre- ditava que a Reptiblica democratica era ade- quada a um pais de temperatura fria, e o despo- tismo, a um pais de temperatura quente, pois seus povos teriam reagdes psicolégicas diferen- tes. Acreditava que a democracia cabia bem a paises pequenos, e o despotismo, a paises gran- des, como a Russia. Frangois-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudénimo literério de Voltaire (1694-1778), era considerado um dos maiores criticos das ins- tituigdes do Antigo Regime. Irénico, cdustico mesmo zombador, cultivou todos os géneros lite- rarios, como poesia, epopéia, tragédias, comé- dias e obras historiograficas. Entre suas obras destacam-se Cartas Filosdficas ou Cartas sobre os Ingleses (1734), em que, influenciado por John Locke, enaltece a Constituigao liberal inglesa, propondo uma “monarquia esclarecida” que pre- servasse a liberdade e a tolerdncia. Voltaire ain- da combateu as injustigas sociais do Antigo Re- gime, como a servidao, as prisdes arbitrarias, a tortura e a pena de morte, e defendeu a liberda- de de expressao com este argumento: “nao con- cordo com uma sé palavra do que dizeis, mas de- fenderei até a morte o vosso direito de dizé-las”. Considerava a Igreja hipécrita, pois abrigava um clero inescrupuloso, isento de impostos, que en- riquecia 4 custa da fraqueza dos homens, man- dando riquezas para o papa e empobrecendo a nagao. Apesar de ser sensivel a sorte dos pobres, Vol- taire desenvolveu uma filosofia social mais fa- vordvel & burguesia. Considerava 0 povo tolo e ignorante e nao acreditava na igualdade entre os homens. Afirmava que a natureza dera aos ho- mens uma inteligéncia desigual, e que da de gualdade de talento nascera uma natural de- sigualdade de fortunas. Voltaire é autor de outras obras importantes, como Dicionario Filos6fico (1752), Céndido (1759), Ingénuo (1767), nas quais defende com veeméncia 0 direito a liberdade de expresso e de pensamento. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, onde recebeu uma rigorosa edu- cacao calvinista. Em 1741, viajou para Franga, e em 1749, na Academia de Dijon, participou de um concurso que propunha o seguinte tema: “Os progressos das artes e das ciéncias tornam os SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTBULARES homens methores e mais felizes?”. A resposta de Rousseau esté em sua obra O Discurso sobre as Giéncias e as Artes. Rousseau sustentou uma tese contréria & dos que acreditavam serem os ho- mens mais felizes gragas aos progressos das ar- tes e das ciéncias. Rousseau afirmava que a civi- izagdo havia corrompido os homens e que os melhores e mais felizes povos eram aqueles que se achavam mais proximos da natureza. Sinte- tizou suas idéias nesta expresséo: “os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe”. A tese de Rousseau ia de encontro com as conviegdes predominantes em seu século ao par- tir do principio que a bondade era natural no ho- mem, que o “bom selvagem” era moralmente superior ao homem civilizado. Em 1753 a Academia de Dijon propés a seus alunos outro tema: “A origem da desigualdade entre os homens”. Em resposta, Rousseau es- creveu o Discurso sobre a Origem e 08 Funda- mentos da Desigualdade entre os Homens. Nessa obra, Rousseau apresenta cuas razes que po- dem explicar a origem da desigualdade. A pri- meira, natural, deriva das diferencas fisicas e intelectuais entre os homens; a segunda, artifi- cial, deriva das diferengas nas condigses sociais provocadas pela instituigéo da propriedade da terra. Assim discorreu: “Os homens comegam cultivando a terra, posteriormente parfilham-na, instituindo a propriedade individual. O primeiro que tendo cercado um terreno teve a habilidade de dizer isto é meu, e encontrou pessoas muito ingénuas para acredité-lo foi o verdadeiro fun- dador da sociedade civil. A partir de entéo, tudo esté perdido, consumou-se 0 pecado original, ca- minha-se para a decrepitude... Da propriedade nasce a desigualdade, a concorréncia, a rivalida- de, 0 orgulho, a avareza, a inveja, a maldade os conflitos e as querras. Os homens consentiram na criagdo de governos ¢ leis sob a aparéncia de garantir a vida e a propriedade de todos, mas na Tealidade nao eram verdadeiramente titeis, se- no aos poderosos... “Tal foi ou deve ser a ori- gem da sociedade e das leis que trouxeram no- Vos entraves ao fraco e novas forgas 20 rico, des- truiram irreversivelmente a liberdade natural, fi- xaram para todo sempre as leis da propriedade e da desiqualdade..” Em 1762, Rousseau escreveu O Contrato So- cial, em que propée um governo formado do consentimento, pautado na vontade geral de proteger os interesses da maioria dos cidadéos, como tinico meio de os individuos conservarem a igualdade e a liberdade que a natureza Ihes, deu. Em 1762, na sua obra Emilio, procurou elaborar um sistema de educacao que preser- vasse a inocéncia e as virtudes humanas préprias dé estado natural, a fim de que o homem con- servasse sua bondade inata. Rousseau inocentou os homens de seus erros a0 encontrar em meio & depravago social a pos- sibilidade de se manter um estado de inocéncia e pureza, Para ele, o estado natural deveria com- binar-se com o estado social. Acreditava que com a reforma das instituigdes sociais, a humani- dade poderia reencontrar sua bondade inata e fazer desaparecer do mundo a petversao. O seu. pensamento serviu de estimulo &s idéias revolu- ciondrias dos séculos XVIII e XIX, especialmente 4 Independéncia dos Estados Unidos e & Revolu- ‘do Francesa. 1 PENSAMENTO ECONOMICO (© pensamento iluminista do século XVII in- fluenciou também o pensamento econémico. Os economistas acreditavam que a economia era uma lef natural e condenavam a abusiva requla- mentagao praticada pelo Estado Absolutista. Consideravam o intervencionismo mercantilista uma manifestago do poder arbitrario do estado, que se impunha aos individuos impedindo a li- berdade e prejudicando o progresso econémico. Suas novas concepgdes formaram 0 liberalismo econémico, um corpo de doutrinas que foi defen- dido por duas escolas: o Fisiocratismo na Fran- ¢aea Escola Classica ou Liberal na Inglaterra, O maior representante da doutrina fisiocrata foi Quesnay (1694-1774), autor do livro Tébua Econdmica, Defendeu o princfpio de que a eco- nomia deve se desenvolver livremente. Conde- nava a cobranga excessiva de impostos ¢ o inter- vencionismo do Antigo Regime absolutista por violar 0 direito a liberdade pessoal ao limitar as atividades econémicas. Os fisiocratas ficaram eternizados pela maxima laissez faire, laissez pas- ser, le monde va lui méme (“deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo”, ou seja, 0 mundo se ajusta naturalmente). Acreditavam que apenas a agricultura gerava riquezas. Consideravam a industria e © comércio atividades secundérias porque, segundo essa concep¢io, néo produziam riquezas: a primeira transforma sem criar, e a segunda se limita apenas em distribuir 0 produtos. Condenavaim também o mercantilismo e a servid4o, priticas que eles consideravam verdadeiros obstaculos ao desenvolvimento econémico. Adam Smith (1723-1790) é considerado o pai da economia classica. Com A Riqueza das Na- ges, escrito em 1776, estabeleceu fundamentos para o capitalismo que até hoje séo importantes. SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIAULARES Nela o autor relata que a Unica fonte de riqueza de uma nagao se origina do trabalho, opondo-se & concepc0 metalista concebida.no mercanti mo. Seguno Smith, a produtividade eficiente é aquela que provém da divisio do trabalho. Como 0 fisiocratas, condenava a intervengao do estado a economia. Para ele, o estado deveria apenas favorecer as livres relagdes econémicas. Conce- eu na idéia da mao invisivel a capacidade da economia de livre mercado de se auto-regular, pela oferta e procura. Acreditava que assim os pregos e os salarios se estabeleceriam natural- mente e de forma justa, possibilitando a produ- (0 de riquezas. Com isso, se opds ao monopélio Comercial, ao protecionismo e ao sistema produ- tivo corporativo, que os fixavam artificialmente. Em suma, afirmava que somente se fosse ado- tado 0 laissez faire, ou seja, se fosse permitida a livre iniciativa, as atividades produtivas gerariam riqueza para o pais. As concepgées liberais da Escola Cléssica, in- troduzidas por Adam Smith, inspiraram no sé- culo XIX os pensadores Thomas Malthus (1766-1834), David Ricardo (1772-1823) e John. Stuart Mill (1806-1873). ‘Adam Smith discorre sobre a divisio do trabathi Um hémem transporte o fio metélico, outro en- direita-o, um teresiro corta-o, um quarto aguga 2 ex- tremidede, um quinto prepara a extremidade superior para receber @ cabeca... O importante fabrico de alfinetes esté portanto dividido em dezoito operegées distintas... Se dividirmos esse trabaiho pelo nimero de trabathadores, podemos considerar que cada um © deles produz quatro mile oitocentos alfinetes por ‘mes se trebalhassem separadarnente uns dos outros 6: ‘$9m ferem sidos educados para este ramo de pro” ugéo, nao conseguiriam produsir vinte alfinetos... (4 iqueca das Napos, capitulo A ENCICLOPEDIA A Enciclopédia foi publicada de 1751 a 1772 e dirigida pelos pensadores Jean D’Alembert (1717-1783) e Denis Diderot (1713-1784). Compunha-se de 35 volumes, que reuniam 0 pensamento econdmico e filoséfico do século XVII. Contava com varios colaboraderes, dentre 05 quais destacavam-se fildsofos, escritores co- mo Voltaire, Rousseau e Diderot, juristas como Montesquieu, mateméticos como D'Alembert, economistas como Quesnay € outros, como pro- fessores, advogados poetas. Todos os colabora- dores tinham em comum o gosto pelos ideais ilu- ministas. A Enciclopédia foi divulgada pela ma- gonaria e exerceu sobre seus leitores uma pro- funda influéncia, por ter criado uma nova cone cepgao de vida e de liberdade a qual despertou a rebeldia contra a ordem estabelecida pelo Antigo Regime. Teve papel importante por ter influen- ciado, entre outras, a Revolucdo que levou a In- dependéncia dos Estados Unidos, a Revolucdo Francesa e, no Brasil, a Inconfidéncia Mineira em 1789. [lO DESPOTISMO ESCLARECIDO Na segunda metade do século XVIII, sobera- nos europeus influenciados pelas concepgoes iluministas, notadamente de Voltaire e de Mon- tesquieu, buscaram modernizar seus estados. Por isso, foram denominados déspotas esclare- cidos. Acreditavam que inspirados nas novas idéias organizariam racionalmente seus estados e levariam a felicidade aos seus cidadaos. Na Russia a déspota esclarecida Catarina II (1729-4796) pretendeu empreender uma grande reforma educacional e juridica inspirada em ‘Montesquieu e Voltaire. Contudo, diante da opo- si¢ao da nobreza, renunciou as reformas e res- tabeleceu a ordem feudal existente, novamente submetendo os camponeses & servidao ¢ alicer- gando o Estado Absolutista czarista em bases aristocraticas. Na Austria o despotismo coube a José II (1741-1790). Sob a influéncia iluminista também ele empreendeu uma profunda reforma de ca- r&ter progressista. Subordinou a Igreja ao Es- tado, concedeu direito & livre expresso religiosa, aos ortodoxos e aos protestantes. Aboliu ainda a servidao e incentivou o comércio. Mas estas re- formas desagradaram 4 nobreza feudal, camada social mais importante que a burguesia, e por isso, progressivamente as reformas foram des- feitas. Na Prassia, o despotismo foi adotado por Frederico II (1740-1788), chamado de “rei filo- sofo” por viver cercado de intelectuais. Frederico suprimiu a tortara e introduziu a toleréncia reli- giosa e a independéncia do poder judiciario. ‘Também desagradou 4 nobreza, que mantinha seus privilégios senhoriais explorando a servi- dio. Na Espanha, Carlos III (1716-1788), com o auxflio dos ministros Aranda, Floridablanca e Campomanes, também empreendeu um progra- ma de reformas. Para reforgar o poder do estado reduziu o do clero, expulsando a Companhia de Jesus da Espanha e de suas col6nias em 1767. A seguir procurou fomentar a economia criando SISTEMA ANGLO DE ENSIND VESTRULARES manufaturas e companhias comerciais. Entretan- to, no conseguiu eliminar a influéncia do cleroe da nobreza, que continuavam socialmente pode- rosos, e no fim grande parte de suas reformas foi desfeita. Em Portugal as idéias iluministas do rei José 1 (1750-1777) deviam-se a influéncia do ministro D. Sebastiéo José de Carvalho e Melo, o Marqués de Pombal (1699-1782). Realizou a reforma po- iitica de modo a submeter a nobreza e o clero ao controle do estado. Para tanto, também expulsou a Companhia de Jesus, restringiu o poder da In- ‘quisiggo, fundou escolas e introduziu o ensino de ciéncias nas universidades, Para poder desenvol- ver a economia, criou indmeras manufaturas, es- timulou o comércio com as colénias, especial- mente com o Brasil, onde criou companhias de comércio monopolizado, destacadamente as Companhias do Paré, do Maranhio, de Pernam- buco e da Paraiba. Procurou regulamentar a ex- tragao de diamantes e aumentou os trilSutos so- bre as minas, para obter um maior rendimento para a coroa. Libertou os indios da escravatura e expulsou 0s jesuftas das missées entre os Tios Uruguai e Paraguai. Como a reforma pombalina desfavorecia a nobreza e o clero em Portugal, que eram extremamente influentes, acabou sen- do desfeita por D. Maria I, que sucedeu 0 rei José I. O despotismo esclarecico, embora tenha ela- borado reformas que aboliram privilégios para impor igualdades, no final afastou-se do projeto liberal estabelecicio pelo Iluminismo. Muitas de- Jas foram apenas temporérias ¢ outras, em con- traposigao aos ideais iluministas, estimularam a economia por meio do intervencionismo mer- cantilista e contribufram para o fortalecimento do Estado Absolutista. SISTEMA ANGLO OE ENSINO 6 VESTBULARES COLONIZAGAO Os primeiros colonos a se es- tabelecerem na América do Norte no século XVII eram em. geral puritanos que sofriam perseguigées religiosas na In- glaterra por néo terem se sub- metido ao Absolutismo an- glicano. Outros tantos eram as vitimas sociais dos cercamen- tos das terras comunais, cam- poneses que migravam para as cidades e ali engrossavam a massa de miseraveis. Assim, por diversos motivos chegaram 4 América, onde iniciaram uma colonizagao peculiar, formando as Treze Colénias. ob? or i Lwistinta tos No Sul, desde a Virginia, a colonizacao propagou-se pela Tegido que hoje compreende as Carolinas, Maryland e Georgia. Nessas terras, os colonos de- senvolveram a cultura do taba~ co progressivamente foi se formando uma sociedade de grandes proprietarios. Nos seus latifiindios, ou plantation, era ‘comum no inicio a utilizagdo da mao-de-obra dos indentured servants. Este trabalhador vinha da Europa para a America atrai- do pela promessa de enrique- cimento, mas por um tempo era obrigado a trabalhar em con- digdes servis. Posteriormente, com a introdugao de outras cul- Ta a] América turas, como a do arroz e do al- godao, os latifundiérios jé pos- suidores de um expressivo ca- pital passaram a utilizar predo- minantemente a mao-de-obra escrava africana. Assim for- mou-se nas colénias do sul uma sociedade escravista latifun- diéria. Ja as colénias do Norte eram chamadas de Nova Inglaterra. Esta regido compreendia os atuais estados de Massachus- sets, Rhode Island, Connecticut e New Hampshire. Como os do Sul, os colonos eram puritanos perseguidos, e na América as- sentaram pequenos aglomera- dos, como a cidade de Plymouth, ‘As 13 col6nias inglosas ‘oritérios franceses sdauitidos pola Inglaterra om 1713 Tonitério espanhol adquirde pote Ingiotoma ern 1768 (ord) Taritéria francés Teritério espanhol [SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIBULARES que foi fundada por pioneiros que vieram no na- vio Mayflower. Nessas terras, desenvolveram a agricultura em pequenas propriedades, mas também manofaturas voltadas para a pesca e a construgo naval, utilizando-se quase sempre de tdo-decobra assalariada. Com isso, em pouco tempo, desenvolveram atividades que atendiam tanto ao crescente mercado consumidor interno quanto as demandas do comércio externo rea- lizado, Essa atividade culminou no expressivo co- mércio triangular, que compreendia a comer- cializagao com as Antilhas, com a compra do agicar para a producdo de rum, que posterior- mente era trocado na Africa por escravos que, por sua vez, eram vendidos na América. Essas atividades somadas a outras propiciaram a acu- mulagao de capitais e acabaram abrindo espaco para a formagao de urna préspera burguesia. Em pouco tempo, as vilas coloniais da Nova Inglaterra transformaram-se em cidades. Nelas surgiram servicos como escolas, entre as quais a escola de Harvard, bibliotecas, imprensa, fazen- do germinar uma classe média com ideais libe- rais que posteriormente liderou @ luta pela inde- pendéncia dos Estados Unidos ¢ também 0 pro- cesso de industrializagao do pais no século XIX. As col6nias do Centro abrangiam os atuais estados de Nova York, Pensilvania, Nova Jersey Delaware. Os colonos ingleses se estabeleceram com os holandeses em Nova York ~ por isso, an- tes de tornar-se Nova York, a cidade era chama- da de Nova Amsterdam -, com os suecos em De- Jaware e com religiosos quakers na Pensilvania, ainda em meio a alemaes e escoceses. Como na Nova Inglaterra, as colénias do centro desenvol- veram a agricultura de cereais em pequenas pro- priedades. Nas principais cidades, como Nova York e Filadélfia, formou-se um expressivo co- mércio e também uma prospera burguesia. De 1607 a 1733, a faixa Atlantica dominada pe- los ingleses sofreu algumas transformagies. Nas Treze Colénias surgiram fazendas, cidades, por- tos, vilas onde se desenvolveram a agricultura, manufaturas e comércio. Nos portoses colonos comerciavam em seus prdprios navios, levando e trazendo mercadorias de varios locais do mundo. Enriquecidos, os colonos pouco a pouco adqui- viam a consciéncia de terem criado a nagao ameri- cana. Em meados de 1770 eram 2.200.000 habitan- tes, entre os quais 400.000 eram escravos negros. As Treze Colénias estavam teoricamente sub- metidas ao regime de exclusividade comercial com a Inglaterra, ou sela, ao pacto colonial. Isso quer dizer que s6 poderiam comerciar com a me- trdpole. Mas na pratica suas relacGes comerciais internas ¢ externas eram independentes. Soma-se a esse fato 0 de que grande parte das colénias dispuriha de algunas liberdades para eleger uma assembléia de representantes que votava as leis junto a um governador, Dessa maneira, se com- ‘paramos essa colonizacao tom as demais no con- tinente, notamos que gozavam de relative li- berdade, a qual era resultante da mentalidade calvinista e do convivio com as idéias liberais. @ INDEPENDENCIA Na medida em que as colénias se tornavam mais importantes economicamente, o governo inglés passava a almejar mais 0 controle sobre elas, Para tanto, adotou varias medidas com 0 ob- jetivo de impedir o desenvolvimento de manu- faturas de tecidos e artigos em ferro, a fim de fa- vorecer 0s produtos ingleses. Em 1733, aprovou a Lei do Melago, impondo pesados impostos e im- pedindo 0 fabrico de rum — como jé vimos, moe- da de troca na compra de escravos na Africa. Pre- tendia com essas medidas aumentar sua receita tributdria. Mas essas proibigdes nfo foram res- peitadas. Os colonos contrabandeavam favore- Cidos pelas costas irregulares do litoral Atlantico. Por outro lado, 0 aumento da populacao no norte das Treze Colénias obrigava os colonos a ‘se expandirem para oeste, em diregao aos terri- térios franceses. Tal situagdo os levou a se uni- rem com a Inglaterra, na Guerra dos Sete Anos (4756-1763) contra a Franca. Com isso, a guerra chegou 4 América e pds colonos ingleses e fran- ceses em conilito. No final de 1763, a Franca foi derrotada e cedeu para a Inglaterra as provincias de Quebec e de Montreal, no atual Canada. Entretanto, a Inglaterra proclamou que so- mente ela poderia explorar esse novo territério, impedindo a expanso dos colonos. Além disso, os ingleses projetaram as despesas da guerra so- bre as ‘Treze Colénias aplicando-lhes impostos, como o da Lei do Agticar, de 1764, semelhante & Lei do Melaco. Essa tributagio passou a incidir também sobre outras mercadorias, como seda, café e vino. Prosseguindo nesta mesma politica fiscal, em 1765 foi aprovada a Lei do Selo, a qual estabelecia que todos os jornais, antincios, diplo- mas, licengas de casamento e muitos outros do- ‘cumentos deveriam ser selados, isto 6, tributados. Essas medidas causaram a discordia. Os colo- nos viam seus negécios ameacades pela Ingla- terra, que passou a ser considerada inimiga. Mas foi como incidente do cha que as tensdes entre Coldnia e Metropole se acirraram. © conflito surgiu quando a Companhia das in- dias Orientais, poderosa empresa inglesa, rece- beu autorizacao para vender o ché na Colénia SISTEMA ANGLO DE ENSINO 70 VESTIBULARES SS sem intermediarios ¢ a pregos reduzidos. Essa pratica afetava diretamente os interesses dos co- merciantes da Coldnia, porque néo consegui- riam concorrer com os ingleses. Ademais, tal si- tuagao poderia abrir um precedente perigoso, que poderia se estender para todo cornércio. Em novembro de 1773, chegou a Boston mais um carregamento de cha. Na noite de 16 de de- zembro 0s colonos os assaltaram e jogaram acar- ga no mar. A aco dos colonos ficou conhecida como Boston Tea Party. O Parlamento inglés reagiu impondo as Leis Intolerdveis. O porto de Boston foi ocupado pelas tropas inglesas e proi- biram-se reunides e outras atividades que pudes- sem ameacar 0s interesses da Inglaterra. Diante das imposigées os colonos organiza- ram uma reuniéo com representantes de todas as colénias. Assim formou-se, em setembro de 1774, o Primeiro Congresso da Filadélfia, que elaborou a Declaracao de Direitos dos colo- nos, reivindicando da Inglaterra a revoga¢ao das Leis Intolerdveis e exigindo a igqualdade de direi- tos com os cidadiios ingleses da metrépole. Os colonos argumentavam que nao poderia haver taxagdes legitimas se eles no contassem com re- presentantes seus no Parlamento. O governo in- glés nao acatou esta reivindicagao, e os ameri- canos passaram a boicotar suas mercadorias ¢ a hostilizar a Inglaterra. As tensdes se agravaram com 0 incidente Lexington, quando as tropas in- glesas entraram em choque com 0s colonos cau- sando baixas. Este fato provocou a reacao que culminou com a reunido do Segundo Congres- ‘so da Filadélfia, cuja principal deliberagao, em 4 de julho de 1776, foi a Declaragdo de Inde- pendéncia. 8886s direitos'se encontram’a vide, a liberdade & busca ‘da felicidede, e as governos foram’ estabele cides pelos homens; para garantir esses direitos, € seu Justo-poder. einana do.consentimento daqueles. qué rongtess0, Ge ‘ral; fomamos por testemunha o'Julz Supremo do’ veiso da retidao de nossas intengdes,.publicamos.e _deéleramos solenemente em nome ¢ Hela autoridade nbia para: com a-cofoa:da Gra-Bretanhie. que todo. laca politico, entre, Estedé da Gra-Bretenhe, est il tuamente, para # manutengéo desta declarécao, 888 vides, nossas-fortunas e o.nosso bem mais'sagra- do, a hon werk A Guerra de Independéncia O general George Washington (1732-1799) assumiu 0 comand dos revoitosos. No inicio ti- veram dificuldades porque os colonos eram inexperientes e pouco armados para enfrentar os ingleses. Mesmo assim, venceram a batalha de Saratoga em 1777. Para contornar essa situagao, 9 Congresso dos Estados Unidos mandou Ben- jamin Franklin (1706-1790), um importante di- plomata, 4 Europa a fim de que negociasse uma alianga com a Franca. Os franceses, com a inten- go de recuperarem as colénias perdidas para a Inglaterra durante a guerra dos Sete Anos, se aliaram aos colonos. Uma esquadra francesa, co- mandada pelo general Rochambeau e acompa- nhada pelo Marqués de La Fayette, foi mandada para a América. Posteriormente, Espanha e Ho- Janda, inimigas da Inglaterra, também se junta- ram aos americanos. Em 1781, depois da batalha de Yorktown, o principal exército inglés, coman- dado pelo general Conrwallis, foi cercado pelos colonos americanos e pela esquadra francesa ¢ finalmente capitulou. Esta derrota inglesa pds fim & guerta de independéncia. Em 1783, foi fir- mado 0 Tratado de Paris, com que a Inglaterra, reconheceu a independéncia dos Estados Uni- dos. O novo pais se estendia dos territérios dos Grandes Lagos até a Fiérida, e do vale do Missis- sipi até o Atlantico. J4 a Franca recebeu somente algurnas ilhas nas Antilhas e alguns pontos do li- toral do Senegal, na Africa. A Espanha recupe- rou territorio da Florida, Para a Franca os resultados da guerra contra a Inglaterra foram pouco compensadores. Nada ‘exigiu dos americanos e ainda Ihes concedeu um, donativo de doze milhGes de libras e seis milhGes, em empréstimos, para reconstruirem o pais. Es- sas medidas deterioraram ainda mais suas finan- a, acelerando a germinacao da Revlugao Fran- cesa, SISTEMA ANGLO OE ENSINO. VESTBULARES A Constituicaéo Americana de 1787 Com o fim da guerra, os Estados independen- tes enviaram seus representantes ao’Congresso da Filadélfia para que elaborassem uma cons- tituigdio. As discussdes foram marcadas por duas. tendéncias, a republicana e a federalista. A pri- meira foi advogada por Thomas Jefferson (1743-1826), que defendia a democracia liberal e a autonomia de cada Estado; a segunda, por George Washington, que desejava um forte go- verno central capaz de manter a unio. Em 1787 aprovou-se a Constituicao, que esta- beleceu um governo republicano liberal estrutu- rado nos principios de Montesquieu sobre a se- paracdo de poderes. Assim, 0 executivo cabia ao Presidente, que era eleito para um mandato de quatro anos e tinha o poder de escolher os minis- ‘tros e de comandar as forgas armadas, embora cada Estado fosse independente em matéria de legislagio local. © legislativo cabia ao Congres- so, formado pela Camara dos Deputados e pelo Senado, e tinha a fungao de votar leis e projetos. A camara dos Deputados era composta por membros eleitos em nimero proporcional ao de habitantes de cada Estado, e © Senado, por dois representantes de cada Estado. O poder judi- cidrio compreendia a Corte Suprema, formada por nove representantes nomeados pelo Presi- dente, cuja fungo era assegurar o cumprimento da Constituigéo. Assim, 0 sistema federativo ti- nha a finalidade de preservar os interesses parti- culares de cada Estadé. Em suma, a Constituigiio norte-americana ‘es- tabeleceu que os Estados Unidos eram uma Re- publica Liberal Democrdtica Federativa e asse- gurava, basicamente, a liberdade econdmica e 0 direito & propriedadle - inclusive de escravos — a seus cidadaos. Originalmente nenhuma autori- dade federal foi eleita pelo povo. O presidente era escolhido por um grupo de individuos sele- cionados, que formavam um colégio eleitoral. Os senadores eram eleitos pelos legislativos esta- duais e os jufzes eram nomeados pelo presiden- te, Vale ressaltar que a Constituicao nao se pro- pds a contemplar os interesses das massas, pois mulheres, indios e escravos nao se incluiam en- tre os que desfrutavam os direitos civis. A Independéncia dos Estados Unidos e, so- bretudo, a Constituigo de 1787, tiveram um pa- pel relevante na Historia por terem posto em pré- ‘ica o liberalismo e algumas concepg6es do Tlumi- nismo francés. Constituiu-se em um modelo re- volucionério que foi seguido pelos franceses em armas em 1789 e pelos revoltosos das demais re- volugées liberais do século XIX levadas a cabo na Europa e também na maior parte da América. SISTEMA ANGLO DE ENSINO. 72 ‘VESTIULARES. Ef SIGNIFICADO A partir da segunda metade do século XVIII, ocorreu uma grande transformagao no sis- tema capitalista: apés séculos de expansio, impulsionada pe- lo processo de circulagao de mercadorias (comércio), o sis- tema passou a ter como setor mais dinamico 0 processo de produgao de mercadorias. Tal mudanga deve-se & Revolugao Industrial. Iniciada na Inglaterra, a Re- volucéo Industrial expandiu-se para outros paises a partir do Inicio do século XTX, e acabou por definir novas formas de exercicio do poder nacional e de exploragao do trabalho em qquase todo 0 mundo. Podemos entender a Revolu- ao Industrial como o proceso de aceleracdo da produggo, em que ocorte a substituicdo: 4) da ferramenta pela méquina. Tal passagem dé a dimensio do nivel de aceleragao da produgdo atingido pela Re- volugao Industrial, na medi- da em que a ferramenta, por mais sofisticada que seja, apresenta uma limitagao in- trinseca: um homem pade utilizar apenas uma ferra- menta de cada vez, enquanto a maquina abre a possibi- lidade de se associarem deze- nas de ferramentas, opera- das por um tinico homern, 2) da forga humana pela forga motriz. O emprego da ferra- A Era das Revolucoes: Revolugae industrial menta é limitado por uma li- mitagéo propria da forca hu- mana. J4 a forga motriz (que move a maquina) representa a possibilidade de aplicar uma forga muito maior a uma série de ferramentas asso- ciadas, obtendo-se significa- tivo ganho de produtividade e rapidez. As primeiras mé- quinas tinham como fora motriz a energia hidréulica 0 vapor (por sua vez obtido da queima de carvéo). 3) do sistema doméstico pelo sis- tema fabril. A produgao dei- xou de ser realizada por arte- sos, em regime doméstico, ¢ passou a ser realizada em lo- cais especializados, as fabri- cas. Tal passage foi decisi- va, ndo apenas por possibi- litar que 0 proprietério (bur- gués) tenha mais controle so- bre a forga de trabalho (assa- Jariada), mas também porque viabilizou a diviséo do tra- halho, que faz aumentar sig- nificativamente a produgao. A Revolugao Industrial ini- ciou-se no setor téxtil, como se vé na cronologia das principais invengdes do século XVII, avan- gando er sequida para 6 setor metaliirgico. “(Gronologla das principals. Tnovagies técnieas: “765i apsrieigoemonto'da:ma-* quine’# vapor (Jamniés Watt: 1768: fidraulico (Richard Arkwright) 177%: t8ar hidréuliog aperteigoa- do (Samuel Crompton) 1785i" tear thecénico (Edmund Carvwright) : Desde a Idade Média, a or- ganizagao da produgao nao- agricola evoluiu da seguinte forma, até chegar a fébrica: 1) Sistema familiar: produgado para consumo local, da pré- pria familia, desvinculada de uma economia de merca- do. Trata-se de sistema tipi- co da Idade Média. 2) Corporagées de Oficio: pro- dugao controlada por um mestre-artesao, com 0 auxilio de poucos empregados. Pro- dug&o em pequena escala, visando o abastecimento de um mercado limitado, O ar- tesio controlava todas as eta- pas da produgao e detinha a propriedade da oficina, das ferramentas e das matérias- primas, 1g6es tipicas fo final da Tdade Média, as corporagées controlavam o quanto produzia cada um de seus membros, por isso as. possibilidades de expansio eram limitadas. 3) Sistema doméstico: produ- Gao artesanal que era enco- mendada e distribuida por um grande negociante, que providenciava também a ma- téria-prima a ser utilizada no processo de produgdo. Tal SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIULARES sistema existiu dos séculos XVI ao XVII, nota- damente na Inglaterra, cuja burguesia contro- Java mercados em franca expansao. 4) Sistema fabril: produggo em larga escala para mercados cada vez mais em expansao, No sis- tema fabril, o trabalhador deixa de ter a posse dos meios de produgio (ferramentas, mAqui- nas, matéria-prima); dispde apenas de sua for- ga fisica, a qual ele troca por um saldrio. Além disso, 0 trabalhador perde o conhecimento técnico necessdrio para produzir mercadorias, transformando-se em mero apéndice da mé~ quina e realizando uma tarefa repetitiva ao Tengo da jornada. Dé-se aqui a separagao en- tre capital e trabalho, com os detentores do ca- pital acumulando a riqueza produzida na fabri- ca. O sistema fabril, 20 expandir-se, desenca- deou 6 processo da Revolucao Industrial a partir do final do século XVII. @ CAUSAS DA PRECOCIDADE INGLESA Dentre as razées que podem explicar o pionei- rismo inglés no processo da Revolucio Indus- trial, podemos citar: Revolusaio Burguesa Pioneira O triunfo da Revolucao Gloriosa, em 1689, fez surgir na Inglaterra um governo burgués, isto é integralmente envolvido com os anseios capita- listas da burguesia ¢ engajado no seu sucesso. A préxima revolugao burguesa européia s6 iria ocorrer em 1789, na Franga, cem anos depois da inglesa. Portanto, enquanto no resto da Europa predominavam governos absolutistas, dedicados a extrair recursos da burguesa para sustentar os privilégios da nobreza, jé existia na Inglaterra um governo integralmente comprometido com 0 en- Fiquecimento da classe dos homens de negécio. Todas as iniciativas necessérias para o desenvol- vimento industrial contariam com pleno apoio governamental. Acémulo de Capital Desde 0 final do século XVII, a burguesia da Inglaterra acumulou mais capital que qualquer outra burguesia nacional, gragas, como vimos acima, a0 envolvimento do Estado inglés nessa empresa. Dessa forma, iniciativas estatais diplo- maticas (assinatura de acordos econémicos) e militares (guerras) foram empreendidas visando A dinamizagio dos negécios. Exemplo tipico de confluéncia de interesses entre Estado Nacional 'e burguesia vé-se na forma como a Inglaterra utilizou seu poder politico e militar para estabe- Jecer uma alianca com Portugal, resultando no controle econémico sobre o pais Ibérico e suas. colénias, mais precisamente o Brasil (que, na época prometia ser inesgotdvel fonte de metais preciosos), Em outras palavras, havia na Ingla- terra capital (proveniente do comércio) dispo- nivel para investimentos no setor da produg&o. Os Cercamentos O processo dos cercamentos promoveu 0 &xo- do rural, uma vez que a populago camponesa foi expulsa das terras comunais. No longo prazo, esse contingente populacional acabou se trans- formando em mao-de-obra dispontvel para a in- diistria urbana, Lembremos ainda que 0 proces- so dos cercamentos foi responsdvel pelo “abur- guesamento” da aristocracia inglesa, fator deci- sivo para se explicar a precocidade da revoluio burguesa no pais. Além desses fatores, costuma-se ressaltar a importancia do fato de existirem vastos depési- tos de ferro e carvao na Inglaterra. Nao é em si um fator determinante, pois havia minas de ferro e de carvao em diversas partes do mundo; mas essa disponibilidade de recursos, associada aos demais fatores jd destacados, é sem divida um fator importante. CONSEQUENCIAS A Revolugao Industrial promoveu a consoli- dagao do sistema capitalista, ao estruturar 0 mo- do de producao na separacao entre capital trabalho: o burgués, proprietdrio do capita) (maquinas, fabrica, matéria-prima, conhecimen- to técnico, fontes de energia) necessita comprar @ forga de trabalho do operario (ou proletario), para realizar um determinado trabalho bragal atrelado @ maquina. As relagdes entre capital e trabalho tornaram- se particularmente violentas com 0 inicio da Re- volucdo Industrial. Os primeiros operarios eram submetidos a longas jornadas de trabalho, sala- rios baixos, condigGes de trabalho arriscadas e aos danos causados pelo carater mecdnico e re- petitivo da atividade na linha de produgdo. Nem mesmo mulheres e criangas eram poupadas, com 0 agravante de receberem ainda menos que os operarios homens. Dessa forma, no surpre- ende o surgimento de movimentos organizados pelos operarios, cujo fim era reivindicar melho- res salérios e condigdes de trabalho mais dignas, No inicio do século XIX, na Inglaterra, surgiu o movimento ludista, dos “quebradores de ma- SISTEMA ANGLO DE ENSINO. 74 ‘VeSMBULARES guinas”: tratava-se de trabalhadores do setor téx- +t] que se revoltavam contra o desemprego pro- vocado pela introduco dos modernos teares me- c&nicos. O movimento foi duramente reprimido pelo governo inglés. Mais tarde consolidaram-se as Trade Unions, sindicatos, cuja fungio era ne- Qociar os direitos dos trabalhadores assalariados de uma mesma empresa ou de uma mesma especialidade, contra os patrées ou o Estado. A principal arma de luta dos sindicatos era « greve. ? Do lado da burguesia, mobilizava-se 0 Estado, , que reprimia os trabalhadores valendo-se de leis e mesmo do uso da forga. Diante de tal situacdo, © operariado passou & mobilizagao politica, vi- sando ganhar espago politico ¢ influenciar a aco do Estado. Nesse contexto, merece destaque a atuag4o do movimento cartista na Inglaterra, que introduziu o movimento trabalhista na luta politica (por exemplo, estimulou-o a lutar pelo di- Teito a voto secreto ¢ universal). PEOPLE'S CHARTER. fo movimento eartista em propaganda do século XIX: vato, ume, aeesso popular 80 relonstidada, eleigées anuais, 8 A SEGUNDA REVOLUGAO INDUSTRIAL A partir do final do século XIX iniciou-se um. processo de renovagao, aceleragao ¢ expansao da industrializacao para outros paises, conhecido como Segunda Revolugio Industrial (ou Re- volugio Tecno-cientifical. As principais inova- @6es do periodo, sempre no sentido de aumentar ainda mais a produgao e a acumulagao de capi- ‘tal, foram: novas fontes de energia, quendo tem inicio o emprego de derivados do petrdleo (1859, pri- meiro poco de petréleo, Estados Unidos) e de energia elétrica (1870, dinamo industrial, Bél- Gica), possibiltando emprego de energia mais eficiente e pratica que 0 carvao. novos setores industriais, como a siderurgia (1856, produgdo de ago pelo processo Besse- mer, Inglaterra, tornando possiveis produtos € mesmo maquinas mais resistentes) e a indts- tria quimica (possibilitando a produgiio em es- cala industrial de uma gigantesca gama de Produtos como tintas, corantes, fertilizantes, munigdes). avangos nos transportes, com a aplicaco em Jarga escala da tecnologia do vapor em ferro- vias (1814, locomotiva a vapor, Inglaterra) ¢ navegagao (1805, navio a vapor, Estados Uni- dos}, viabilizando 0 transporte de grandes vo- lumes de mercadorias a longa distancia, seja por terra ou por mar, e independente das con- digdes climaticas (por exemplo, vento, no caso da navegacio a vela, predominante até mea- dos do século XIX). avangos nas comunicagdes, por exemplo, 0 te- légrafo (1837, Samuel Morse, Estados Unidos}, que tomnava possivel, pela primeira vez, a co- municagao a longa disténcia em tempo real. Ao longo do século XIX, foram sendo langa~ dos cabos submarinos, permitindo a ligaco telegrafica entre os continentes. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 5 VeSTBULARES * novas formas de organizacio do trabalho, in- cluindo o fordismo (producao em série, com introdugao da linha de produgao mecanizada) e taylorismo (controle da produtividade dos operérios, através da andlise técnica de seus estos e movimentos diante da maquina). ‘Além disso, no contexto da Segunda Revolu- gao Industrial foram inventados 0 avido e o mo- tor de combustao interna (0 que viabilizou, por exemplo, a invengao do automével), que seriam utilizados em larga escala apenas no século XX, Os grandes investimentos necessdrios para o desenvolvimento dos novos empreendimentos industriais (siderirgicas, ferrovias, industrias quimicas, refinarias de petrdleo) estavam muito além da capacidade de um “capitio de indus- trias", ou seja, de um tnico investidor, Dai a ex- panséo dos bancos, fundamentais para financiar 0s novos projetos por meio de empréstimos e das sociedades por agdes, tornando ainda mais din&micas as Bolsas de Valores. Ao mesmo tempo, passaram a se multiplicar as praticas monopolistas (como a formagao de trustes e cartéis, bem como a pratica de dum- ping), resultando em forte tendéncia & concen- tracdo de capital. Dessa forma, enfraqueceuse a concorréncia, pratica fundamental para o capita- lismo, segundo a teoria econémica classica ral desde Adam Smith. As novas praticas econd- micas permitem a caracterizacao, a partir do final do século XIX, do capitalismo financeito ou monopolista. Vejamos as principais préticas monopolistas, que se multiplicaram no final do século XIX: senrque capital’ jocigvels: (nor SISTEMA ANGLO De ENSINO 76 ‘VESTIBULARES. 8 ANTECEDENTES A Franga no final do sécu- lo XVIII era uin pafs submetido a0 Antigo Regime. A sociedade dominada pela aristocracia conservava direitos feudais so- bre a posse ea exploragio da terra. Politicamente, o pais era governado pela monarquia ab- soluta, A base econémica ca- pitalista era mantida pela bur- guesia, por meio do pagamento de impostos que sustentavam 0 Estado monarquico. No entan- to, os burgueses estavam ex- clufdos das principais decises do governo. Convencidos de sua importancia social ¢ inspi- rados pelas idéias iluministas, reclamavam para si o direito a igualdade e liberdade, como condig&io necesséria para o pro- gresso do capitalismo. Foi nes- se quadro que eclodiu a Revo- lugéo de 1789: se por um lado esse movimento assemelhava- se a Revolugées Liberais como a Gloriosa de 1688, por outro se diferenciava por ter contado com ampla participacao das ca- madas populares. ‘Antes da Revoluggo, a popu- lagao francesa era de aproxi- madamente 25 milhdes de habi- tantes, formando uma socieda- de dividida (segundo a antiga ordem feudal) em trés estados ou estamentos: primeiro estado (clero}, segundo estado (nobre- za) e terceiro estado (burguesia e caniadas baixas). © clero compunha a pri- meira ordem social no Antigo - Suiam privilégios fiscais e juc A Era das Revolugoes ~-Revolugae Francesa =. Regime e estava dividido em al- to € baixo. O alto clero, de ori- gem nobre, era composto pelos mais poderosos prelados, como cardeais, bispos, abades e su- periores dos conventos. Con- trolavam inimeras proprieda- des rurais, exploravam a terra, por meio da servidao, detinham| direito de cobrar o dizimo e es- tavam livres de impostos. Em troca desses privilégios justifi- cavam a monarquia absoluta pelo direito divino. Ja o baixo lero, dada a sua origem social popular, condenava a opressao das elites e solidarizava-se com as propostas de mudangas na sociedade. A nobreza desfrutava das mesmas condigGes do alto cle- ro, Era constituida por cerca de 350.000 pessoas e possufa gran- des extensdes de terra, explo das por meio da servidao, Além de ocuparem os principais car- gos burocréticos do Estado pos- iais. Entre as diversas catego- tias de nobres, destacavam-s a nobreza de sangue, com- posta por familias ligadas a mo- narquia por ascendéncia; a no- breza provincial, formada por grandes proprietérios rurais que’detinham direitos senho- tlais; a nobreza de espada, que ocupava os principais car- gos militares e desfrutava de pensbes e soldo; e a nobreza de toga, de origem burguesa, ocupava cargos ptiblicos. O terceiro estado represen- tava a maior parte da popula- <0 € possufa uma composigio Social bastante heterogenea. A burguesia era sua camada mais expressiva e se dividia em: alta burguesia (banqueiros e grandes comerciantes, muitos dos quais tinham sido togados), meédia burguesia (profissionais liberais) e pequena burguesia (comerciantes ¢ artesaos), Os burgueses eram os tinicos que pagavam impostos, mas, como Jf ressaltamos aqui, politica- mente eram excluidos. Exigiam a igualdade civil, reclamando reformas que acabassem com 95 privilégios do clero e da no- breza. Do terceiro estado fa- ziam parte ainda as camadas baixas: os sans culottes (tre- balhadores das cidades) e os camponeses (servos ¢ pe- guenos proprietérios, represen- tando cerca de 80% da popula 40). Como os demais segmen- tos excluidos, as massas cam- ponesas também almejavam direitos. — A MONARQUIA NO FIM DO ANTIGO REGIME Estruturada no direito divi- no, 2 monarquia absolutista francesa proclamava 0 rei re- presentante de Deus, confe- Tindo a ele poder ilimitado em todos os dominios. Podia inter- vir na justia, legislar, alterar os impostos sem consulta, além de comandar 0 exército e a diplo- macia, Na Assembléia dos Es- tados Gerais, tinico érgao con- sultivo da monarquia, 0 clero SISTEMA ANGLO DE ENSHO W ‘VESTIBULARES. Ye oe a nobreza defendiam essa forma de governo porque preservava og seus privilégios aristo- craticos. ‘No entanto, no final do século XVIII a estrutu- ra administrativa do pais estava arruinada pelo mau gerenciamento da monarquia. Sua faléncia eminente fez com que’a burguesia comegasse a fazer criticas contundentes, As novas idéias pro- punham um governo fundado no consentimento aos poderes limitados e em uma sociedade pau- tada na igualdade civil. Esta verdadeira “revo- lugao de idéias” se inspirou no liberalismo inglés eno lluminismo. Em 1774, quando Luis XVI ascendeu ao poder, © pais estava endividado em decorréncia dos gastos com a guerra dos Sete Anos (1756-1763). A arrecadacao nao passava de 503 milhdes de li- bras francesas, enquanto as despesas do Estado se elevavam a mais de 629 milhdes e a divida 22umulada estava em torno des bilhoes. ‘Na busca de uma solugao pata a crise, a mo- narquia aproximou-se da burguesia por meio de Turgot, ministro das finangas de 1774 a 1776. Influenciado pelo fisiocratismo, 0 novo ministro pretendia eliminar privilégios fiscais do clero e da nobreza para aumentar os recursos do Esta- do. Mas por ter encontrado resisténcia foi subs- tituido por Necker (de 1776 a 1781), cuja politica ‘“levou a Franca a intervir na guerra de Inde- pendéncia dos Estados Unidos com o propésito ty de recuperar as col6nias francesas perdidas pa- ‘Ta Inglaterra na Guerra do Sete Anos. No entan- © 15, como esse objetivo nao foi alcancado, recor- reu a empréstimos para cobrir as despesas, au- mentando a divida publica, o que provocou sua ‘demissao. Em seguida o ministério coube a Calonne (de 1783 a 1787), que para manter a politica de Necker criou um projeto de imposto sobre as terras da nobreza. Mas para torné-lo possivel teria que ser submetido.a aprovagao de uma Assembléia dos Notéveis, isto 6, dos pré- prios privilegiados. O projeto nem sequer foi examinado e Calonne foi substituido por Brien- ne {de 1787 a 1788) que por também encontrar resisténcia se demitiu, gerando uma crise minis- terial. Enquanto os ministros se sucediam sem nada conseguir, as crises econémicas deterioravam as instituiges do Antigo Regime, levando a monar- quia de Luis XVI a decadéncia. As finangas do pais tinham sido afetadas pelos gastos feitos pela Franca na guerra de independéncia dos Estados Unidos. A essa situago, somaram-se os efeitos do tratado de comércio feito entre Franca e In- glaterra em 1786, que permitia em troca de vi- nhos franceses, a entrada dos tecidos ingleses a baixo prego, concorrendo com o nacional. Ainda, més colheitas em 1788, por causas das secas & inundag6es, aumentaram a miséria. Para superar a crise ministerial Luis XVI read- mitiu Necker. No seu retorno propés a convoca- do dos Estados Gerais com 0 objetivo de aca- bar com os privilégios fiscais. Os Estados Gerais era uma assembléia formada pelos trés estados socials: 0 clero, a nobreza e a bunguesia. Coro cada estado tinha direito a um voto. Para nao fi- car em desvantagem, o terceiro Estado propés a duplicac&o de seus representantes e o voto indi- vidual, Em 5 de maio de 1789, abriu-se a sesso dos Estados Gerais, porém nada foi votado. Em seguida, a burguesia proclamou-se em Assem- bléia Nacional, atrogando-se poderes para decidir sobre os impostos. Em resposta,o rei, apoiado pelo clero e pela nobreza, nao a reco- nheceu. A burguesia passou a exigir uma Consti- ‘twigdio. Em junho de 1789, sob a lideranga do conde de Mirabeau (1749-1791) e do abade Sieyés (1748-1786), ambos lideres reformistas, os depu- tados reuniram-se na Sala do Jogo da Péla, onde Juraram uma alianga, Para tanto transformaram a ‘Assembléia Nacional em uma Assembléia Constituinte. O rei tentou resistir a ela, mas lide- rando as camadas baixas de Paris, 2 burguesia partiu para 0 confrontoe ocupou o Palécio militar dos Invalidos, roubando-lhe as armas. No dia 14 de julho de 1789, tomou a Bastilha, que era 0 ultimo apoio militar de Luis XVI. Com a dis- solucdo das tropas reais, La Fayette passou a comandar a Guarda Nacional, o exército re- volucionario da burguesia, Enquanto isso, no pa- licio de Versalhes, 0 rei se rendeu ao levante de gueses de'milici, que conduziram cinco Saree ‘rs. ioe quale foram pogtacoe ane. pare: fala ‘20,p0der, significava também # desagionacao do. go Regime, ria madida ern que a Gastiha o:énearr ‘sentido, ole parécia abrir‘iniénsa spare todos os poves oprimidos. (ser 80B0UL~A Rote Finca SISTEMA ANGLO DE ENSINO, ai ‘VESTIBULARES. Os camponeses receberam a noticia do 14 de julho com entusiasmo e também se mobilizaram. Tomados por uma forte expectativa, exigiam aboligao dos impostos e o fim dos direitos se- nhoriais, por meio de revoltas. Eclodiram as vio- lentas jacqueries, (revoltas camponesas). Aldeias € castelos foram saqueados, ¢ nobres aterrori- zados pelo Grande Medo emigraram para o In- pério Austriaco, acelerando o processo de extin- (40 de seus direitos senhoriais. TA ASSEMBLEIA NACIONAL (1789 - 1792) Em Paris, a burguesia congregava a socieda- de, e a Assembléia Nacional decidiu eliminar os privilégios da nobreza e do clero. No dia 26 de agosto elaborou a Declaragiio dos Direitos de Homem e do Cidadao, proclamando a igual- dade de todos perante a lei ¢ destruinde definiti- vamente as estruturas do Antigo Regime. Nas palavras do historiador inglés Eric Hobsbawm: Este documento 6 um manifesto contra a socie- dade hierérquica de privilégios nobres, mas nao um manifesto a favor de uma sociedade demo- cratica e igualitéria. “Os homens nascem e vive livres e iguais perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevé a existéncia de dis- < tingdes sociais, ainda que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural sagrado, inaliendvel e inviolavel.” (HOBSBAWM, Eric - A Era das Revolugées) No entanto, o rei se opunha aos decretos € Tecusava-se a ratificd-los, Tomadas pela miséria, as massas populares e a burguesia invadiram 0 paldcio as Tulherias, sede da monarquia, e obri- garam o rej a sancionar os decretos. Em conse- qgiiéncia, novamente a nobreza migrou para o Império Austriaco. Com o propésito de preservar os principios liberais na Declaragao de Direitos fundados na liberdade, na igualdade, na propriedade e na re- sisténcia 4 opressdo, a burguesia elaborou a Constituigao de 1791. Por ela se concebeu um governo no princfpio da separagéo de poderes imaginado por Montesquieu. O-poder executive era confiado 4 monarquia, porém o rei nao tinha mais forga que a lei. “Nao ha, na Franga, autori- dade superior a lei, o rei governa segundo os ditames da lei”. O poder legislativo era formado por uma assembleia inviolavel e indissolivel onde eram criadas as leis. Eleita por voto censita- tio, tinha o poder de fiscalizar os ministros, as fi- nangas e a politica estrangeira. Assim, sob uma discreta aparéncia monar- quista, a alta burguesia, resguardada no voto censitirio tomava 0 pocter criando © Novo Regi- me para uma minoria de 4 milhdes dos 25 mi- IhGes de franceses. Os direitos confinaram-se a uma minoria de proprietérios ¢ as massas foram marginalizadas. Com objetivo de superar a situaglo de faléncia do Estado, a Assembigia confiscou os bens da Igreja para emitir os assignats (papel moeda). Mas para tomar essa iniciativa foi necessario ela- bora uma lei chamada constituic&o civil do cle- To, que submetia o Estado através da cobranga de impostos. O clero dividiu-se; o baixo clero ju- rou a Constituigao, (sendo chamado a partir de ento de clero juramentado), enquanto o alto clero, apoiado pelo papa, se opés (passando a ser chamado de clero refratario). Esse fato foi agravado pela exclusdio das massas do governo, 0 que havia tornado 0 novo regime impopular. Em conseqiiéncia a Assembléia dividiu-se em varias tendéncias como: feuillants (partidarios da mo- narquia constitucional), jacobinos (defensores da Republica democrética), os girondinos (apoiando © governo liberal moderado} e os cordeliers (ex- trema esquerda). Acritica a0 novo regime Assim, a representacao, tornada proporcional. 8° conttibulgée dirers,.coloceré.o dominio: nas Essas dificuldades enfraqueceram o governo da Assembleia, permitindo que Luis XVI tentasse fugir para Império Austriaco com o intuito de or- ganizar a contra-revolugao. Porém, ao ser conhecido na localidade de Varennes, foi obri- gado a retornar a Paris. Ali a Assembiéia suspen- deu seu poder. Tal fato repercutiu nas cortes absolutistas eu- ropéias temerosas com a propagagao da revo- lugdo. Em agosto de 1791, Leopoldo II da At tria e Frederico Guilherme II da Prassia assi- naram a Declaracdo de Pillnitz, oficializando uma agao militar contra a Franga revoluciond- ria. A Franga foi invadida e a Guarda Nacional foi derrotada pelo exército prussiano, coman- dado pelo Duque de Brunswick, cedendo parte do territério francés. Para resistir & invasio, a Assembléia buscou mobilizar as camadas po- pulares através do Manifesto Patria em Pe- Tigo. * ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTISULARES. 73 Tropas numerdsas avangam para.2s nossas. fron- teiras: Todas os que tém horror & liberdede 86 ermam contra a. fossa Conistituigéo. Cidaddos! A pai ent pefigo. . © duque Brunswick ameagava de morte quem resistisse & invasdo ou ultrajasse a familia real. Is- so inflamou ainda mais © patriotismo do povo, provocando uma violenta insurreigao em Paris. Nanoite de 9 de agosto de 1792, criou-se 0 gover- no da Comuna. Os sans-culottes tomaram o pald- cio das Tulherias. A Comuna assumiu o governo da cidade e formou tribunais para julgar os crimes da contra-revolugéo, Membros da nobreza ¢ pa- des refratérios foram aprisionados e executados. Em setembro de 1792, as tropas austriacas fo- ram definitivamente vencidas pela resisténcia popular da localidade de Valmy. Em conseatién- Cia 0s franceses ocuparam a Belgica e varies re- gides as margens do rio Reno, com 0 objetivo de evitar outros ataques contra-revoluciondrios. A Revolucao foi salva, mas gragas a uma nova constituigdo. A Assembléia foi substituida pela Convengao Nacional, que dava inicio & Repa- blica em 1792. §@ A CONVENGAO NACIONAL (1792-1795) Os eleitos para a Convencdo Nacional se agru- pavam em trés grandes partidos. A gironda reunia representantes da grande burguesia, par- tidarios dos ideais berais. Formavam a direita e dentre seus principais lideres destacavam-se Brissot e Vergniaud. A montanha (ou jacobi- nos), representantes da pequena burguesia & dos sans-culottes, era partidaria da justica social, formando a esquerda. Os seus principais lideres foram Saint Just, Marat, Danton e Robespierre Finalmente, a planicie (ou pantano), era também formada por representantes também da burgue- sia, mas era um partido de centro, pois oscilava enire a direita e a esquerda, com quem fazia aliangas temporérias. & A Conven¢éo girondina (1792-1793) No inicio, sob oposi¢ao montanhesa, a Con- vengao Nacional foi liderada pelos girondinos. Entre suas principais decisées destaca-se a con- denagao de Luis XVI por traicao, e em 21 de ja- neiro de 1798, Luis XVI foi guilhotinado. ‘A condenagao de Luis XIV inquietou as mo- narquias absolutistas do resto da Europa. Os im- périos austriaco e russo e a Priissia se uniram militarmente com a Inglaterra e a Holanda, que contestavam a ocupagao francesa na Bélgica, formando a I Coligago. As tropas francesas fo- ram derrotadas. Aproveitando-se dessa situacao, no interfor da Franga os contra-revolucionarios, sob a influéncia da nobreza e do clero fizeram eclodir a revolta camponesa da Vendéia. As derrotas na guerra e 0s conflitos internos precipitaram as manifestagdes dos patriotas con- victos, que exigiam medidas como a criagao ime- diata de um tribunal revolucionério contra os suspeitos e chefes girondinos, bem como de um. exército revolucionario para defender o pais, Es- sas reivindicagoes uniram as camadas baixas Montanha, determinando a queda da Gironda em junho de 1793. 8 A Convensao montanhesa ou jaco- bina (1793-1794) Embora tenha chegado ao poder gragas a0 apoio dos sans-culottes, 03 montanheses com- puseram um governo que protegeu a proprieda- de e manteve o movimento popular dentro de li- mites restritos. No campo social, aboliram a es- cravidao nas colénias e confiscaram as terras dos nobres emigrados, transformando-as em peque- nas propriedades. No campo politico, introduzi- ram uma constituico democrética, assegurando para as camadas baixas participagao mais ativa na vida do pais. Contudo, a revolta da Véndeia e as vitérias da I Coligago tinham criado um clima de insegu- Tanga que cresceu com 0 assassinato do lider da esquerda Marat (1743-1793), em Paris, pela mo- narquista Charlotte Corday, Esse crime revelou que ainda havia o risco de os monarquistas vol- tarem, e fez acelerar a instalagao do Terror. Com 0 apoio dos sans-culottes, os montanhe- ses liderados por Robespierre (1758-1794) cria- ram os Comités da Salvagao Publica e da Se- guranca Geral com objetivo de governar q pais eo Tribunal Revolucionério, para aplicar a jus- tiga. Por meio da Lei dos Suspeitos, o Tribunal Re- voluciondrio condenou a morte intimeros suspei- tos, entre os quais a rainha Maria Antonieta. Sob 0 mesmo argumento, fecharam as Igrejas e insti- tuiu-se 0 “culto do Ser Supremo”, que era a devo- do & Raz4o. No lugar do calendério cristo intro- duziu-se o republicano, que dividia o ano em 12 meses denominados de acordo com as estagdes. Na economia, para eliminar as crises, instituiram. a Lei do Maximo tabelando géneros e salérios. Com isso, parte das dificuldades foi superada. A Vendéia foi vencida e a Coligagao, batida em ‘SISTEMA ANGLO OF ENSINO \VESTIBULARES todas as frentes. Mas Robespierre passou a acre- ditar que a ditadura era 0 tinico meio com que se podia preservar os ideais revoluciondrios. Para tanto, executou os opositores da extrema esquer- da, denominados cordeliers ou hebertistas, € 0s “indulgentes”, criticos da ditadura, como Dan- ton (1759-1794) e Desmoulins (1760-1794). Em 40 dias foram executadas 1.376 pessoas, dentre 0s quais o cientista Lavoisier, o lider conservador Malesherbes e o poeta Chénier. @ A Convensaio termidoriana (1794-1795) A ditadura disfargada de democracia, as exe- cugées e 0 intervencionismo na economia enfra- queceram Robespierre. Em conseqiiéncia, no dia 27 de julho (9° Termidor no calendario republi- cano) a Convengao votou a sua queda. Robes- pierre e mais dezenove partidarios foram guilho- finados sem julgamento. O novo governo foi denominado termidoriano @ liderado pela Planicie. Para restabelecer a pre- ponderancia da burguesia, afastou os sans-cu- Iottes e 2 pequena burguesia do poder. O Comité de Salvacdo Publica perdeu as suas fungies, as leis dos Suspeitos ¢ do Maximo foram suprimi- das e o regime estabeleceu um acordo com a Tgreja, separando-a do Estado. A liminago da Lei do Maximo e do dirigismo econémico provocou um aumento generalizado de pregos, inflacionando os assignats. A instabili- dade reapareceu com manifestacdes populares. TTemerosa, a burguesia para preservar 0 seu po- der, eliminou 0 governo de convengao e criou em 1795 a Constituigéo do ano IIL instituindo o Diret6rio. A nova constituico nasceu para,rea- firmar o direito a propriedade e liberdade econd- mica. Para tanto restaurou 0 voto censitério, mar- ginalizando novamente as camadas populares. 1 O DIRETORIO (1795-1799) © novo governo foi estabelecido sobre o prin- cfpio da separagdo dos poderes. O legislativo era dividido entre o Conselhos dos Quinhentos (cujos membros deveriam ter mais de 30 anos) e dos Anciaos (mais de 40 anos). O executivo era confiado a um Diretorio (junta de diretores) eleito pelos Conselhos. Embora a Constituicao do Diretério tivesse o objetivo de estabilizar 0 pais, nao conseguiu afastar 0s opositores: no- ‘bres emigrados monarquistas e os sans-culottes, Os primeiros tentaram um golpe, mas foram contidos pelo jovern general Napoleao Bo- naparte (1769-1821). Das camadas populares surgiv a lideranga de Graco Babeuf (1760- 1797), critico da propriedade privada. Babeuf, articulou a Conjuragao ou Revolta dos Iguais, visando derrubar o Diretério, mas foi vencido. A essa situacdo instdvel, somou-se a corrup- cdo e a incompeténcia do governo frente a inila- 40 dos assignats. Ao mesmo tempo, a Russia e 0 Império Turco se uniram militarmente com a In- glaterra e a Austria para formarem a Il Coliga- ¢40 contra a Franca. Annova ofensiva coligada enfraqueceu ainda mais 0 regime, Alguns membros do governo do segundo Diretério defendiam a monarquia como a tinica forma de governo capaz de esta- belecer a ordem. Na iminéncia de perder 0 po- der, os burgueses recorreram a um golpe de Estado, contando com a popularidade do gene- ral Napoledo Bonaparte, vitorioso nas campa- nhas do Egito e do norte da Itélia. Assim, Ro- ger Ducos, 0 abade Sigyes, (lideres burgueses) e Napoledo, em 9 de novembro de 1799, deram 0 golpe de 18 Brumério. Apoiados pelas tropas de Paris, deram o golpe de Estado der- rubando 0 regime do Diretério. Em seguida, organizaram um novo governo, formado por um Consulado provisério composto por Napo- leo, Sigyes e Ducos. O golpe de 18 Brumaério fez a burguesia acre- ditar que um governo fundado no poder execu- tivo autoritério eliminaria as agitagdes contra-re- volucionérias e a oposi¢ao popular e consolidaria a obra revolucionaria liberal. Contudo, Napoleao usou o golpe de Estado para satisfazer suas pro- prias ambigGes, e em pouco tempo impés ao pais sua ditadura. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 81 NAPOLEAO BONAPARTE 1B Antecedentes Napoledo nasceu na ilha de Corsega, em 1769, em uma fa- milia da pequena nobreza. ciou seus estudos na escola mi- litar de Brienne e tornou-se ca- pitdo do exército em 1793. Nes- se perfodo, tornou-se um ad- mirador de Robespierre. No- meado comandante de artilha- ria, recebeu a incumbéncia de resgatar Toulon do dominio in- gigs, onde obteve uma grande vitdria. Aos 24 anos tornou-se general de brigada. Sua aco contra a revolta monarquista no Diretério aproximou-o dos membros do governo. Gragas a essa aproximagao, conheceu Josefina de Beauharnais, com quem se casou. Suas ligacdes com oO tério levaram-no também ao comando militar nas campanhas da italia em 1796 e do Egito em 1798. No comando do exército francés na Itélia, Napoleao ven- ceu 08 austriacos em Mantua, tornando a Lombardia ind pendente da Austria e decla- tando Veneza sob sua influén- cia. Em 1797, firmou o Tratado de Campo Formio, pelo qual a Austria tinha de ceder a Fran- a suas provincias belgas, suas possesses A margem do rio Reno, além de reconhecer a in- dependéncia das reptiblicas em torno de Génova, Miléo e Mé- dena, no norte da Itdlia. Com 0 sucesso da Campanha da Ité- 0 Perioie Napoleonico lia, Napoledo conquistou ainda mais prestigio e poder. Mas 0 Tratado de Campo Formio acabou por alinhar a In- glaterra contra a Franca. Esse conflito deu-se mais no campo econémico que no militar, pois os ingleses usaram a estratégia de boicotar os portos franceses para prejudicar, por exemplo, 0 ‘comércio da metrépole com as Antilhas. Para superar essa si- ‘tuago, a Franga decidiu substi- tuir as Antilhas pelo Egito econ- quistar uma rota para a india. A expedi¢o a0 Egito, sob 0 comando de Napoledo, iniciou- se em 1798, com o desembar- que das tropas francesas em Alexandria. Com a Campanha das Piramides, venceu os tur- cos e tomou 0 Egito, que ento era territério do Império Oto- mano. ‘Temendo a expansio france- sa, a Russia e o Império Otoma- no uniram-se a Inglaterra, em uma alianga que se fortaleceu ainda mais com a adesao da Austria ao grupo que formaria a Segunda Coligagao (1798- 1799), Apés a campanha do Egito, Napoleo retornou a Franca nos iltimos anos do governo do Diretério, quando uma nova ofensiva coligada intensificou a oposigao entre jacobinos e mo- narquistas. O golpe de 18 Brumério foi acothido com en- tusiasmo pela burguesia, que aspirava a paz, a ordem interna e 4 retomada normal das ativi- dades. Os conspiradores do golpe nao temiam o general Bonaparte, escolhido para lide- rar © movimento, pois acredi- tavam que acabariam por redu- 2ir sua importéncia. O Consulado (1799- 1802) © Consulado foi constituldo com o fim de dar estabilidade politica ao pais, condiggo indis- pensével a sua reorganizacio, © projeto constitucional propu- nha uma magistratura suprema de Grande Eleitor (reservada a Napoledo) secundada' por dois cOnsules responsaveis pelos as- suntos internos e externos. Restaheleceu-se o sufrdgio uni- versal, porém os cidadaos 56 designavam as listas de perso- nalidades (comunais, departa- mentais e nacionais) para entao 0 primeiro consul eo Senado escolherem os nomes que se- riam membros das assembléias € os funciondrios. Na verdade, ao fazer algumas concessées aparentemente democraticas, pretendia disfarger a ditadura constilar. O poder executive era con- fiado a trés cénsules nomeados pelo Senado para cumprirem mandato de dez anos, O pri- meiro cénsul, que tinha 0 po- der efetivo e era assistido pelos outros dois, encarregava-se da nomeagao de ministros, conse- Iheiros de Estado, oficiais e al- tos funcionérios; ainda dirigia a diplomacia e praticamente de- cidia a paze a guerra, SISTEMA ANGLO DE ENSINO 82 ‘VESTIBULARES A nova constituigdo foi posta em vigor em 25 de Janeiro de 1800 € submetida posteriormente a um plebiscito, de que foram apurados mais de trés milhdes de “sim” contra 1.562 “nao” e quatro mibhoes de abstenges. Bonaparte, como primeiro cOnsul, instalou-se nas Tulherias e foi assessorado pelo segundo cénsul, Cambacérés, jurista moderado, e pelo terceiro cOnsul, Lebrun, renomado financista. Cercou-se de intmeros idedlogos e empreendeu uma ampla reforma, reorganizando o pais. A reorganizasao A reforma administrativa elaborada por Nepoledo caracterizou-se por forte centralizacao, cujo fim era consolidar a obra revolucionéria. Em cada municipatidade o primeiro cdnsu! no- mearia um prefeito, e os distritos seriam sub- metidos a subprefeitos, Areforma judicidria instituiu cortes de ape- Jo, A maior parte dos juizes era nomeada pelo governo, e iniciou-se um trabalho de unificagao juridica que posteriormente influenciaria 0 C6- digo Civil. ‘As medidas financeiras tomadas por Napoledo estabilizaram a moeda ¢ a economia reorgani- zou-se, Para reanimar o crédito e os negdcios em geral, Bonaparte agrupou inimeros banqueiros e constituiu 0 Banco da Franca, que pouco a pouco passou a ser controlado pelo estado. Finalmente, com o intuito de promover a paci- ficago interna, Napoledo concedeu anistia aos emigrados, autorizando o retorno deles ao pais, e procurou aproximar-se da Igreja. Em menos de trés meses, a constituicao ¢ a reorganizacio administrativa consolidaram as principais politicas burguesas revoluciondrias. EIA consolidasaio do regime No plano internacional, Napoleo se dispés a alcangar a paz, levando a Austria a reconhecer os territorios franceses nos Paises Baixos, no Reno ena Itdlia e mantendo apenas Veneza sob sua in- fluéncia. Com o fim da Segunda Coligagao, em 1802, foi estabelecida com a Inglaterra a Paz de Amiens. O Egito foi devolvido a Turquia e os in- gleses restituiram grande parte das colénias francesas. : Para assentar sua autoridade sobre base ainda mais sélida, Napoledo procurou promover a re- conciliagao entre o Estado francés e a Igreja. O papa Pio VII aceitou uma concordata, segundo a qual os bispos seriam nomeados pelo primeiro cénsul e receberiam do papa a investidura espiri- tual. Ao aceitar a venda dos bens do clero ¢ a stbmissao da Igreja ao Estado, o papa permitin que Bonaparte passasse a ser visto como “o pa. cificador do cristianismo”, As pazes e os acordos satisfizeram & opiniéio publica, e Bonaparte viu aumentar ainda mais seu prestigio. Aqueles que ousavam criticar Bonaparte, tanto no exército como nos cargos da administragao civil, eram afastados e exonerados. & O Consulado vitalicio (1802-1804) Para demonstrar a gratidao nacional o Senado propés que se fizesse um plebiscito 0 equal deci- diria se seria dado a Napoledo 0 consulado vita licio: 0 resultado, publicado em agosto de 1802, apontou mais de quatro milhGes de “sim” contra 8.374 de “nao”. Em 4 de agosto de 1802, o Se- nado aprovou a Constituiggo do X Ano, conferin- do a Napoledo 0 titulo de cénsut vitalicio. Dentre as principais reformas dessa fase des- taca-se a judicidria. Em 21 de marco de 1804, foi promulgado o Cédigo Civil, que instituiu nor- mas para a organizacao da familia com o intuito de fazer valer 0 direito de propriedade. © Cédigo consolidou os ideais burgueses de propriedade assegurados na Declaragiio de Direitos do Ho- mem e do Cidadao de 1789, Ainda para satisfazer as necessidades da bur- guesia, e sobretudo para dar a seus futuros ofi- ciais e funciondrios uma formagao homogénea, Bonaparte substituiu as escolas pelos liceus, cu- jos alunos eram submetidos a uma estrita dis- ‘ciplina militar. Ao lado dessas realizacdes, acelerava-se 0 pro- gresso econédmico. O Banco da Franga iniciou, em 1803, a emisséo de uma moeda estavel, 0 franco germinal, que estimulou todas as ati- vidades financeiras. Foram iniciadas grandes obras piblicas e de- senvolveram-se as manufaturas téxteis. Conse- qlientemente, gracas a suas realizacoes, a incli- nag&o napolednica para a ditadura era cada vez mais ratificada pela opinido popular. @ © Império (1804-1815) A crescente influéncia da Franga na Europa ameagava os ingleses e, por extensao, comp! metia a Paz de Amiens. Além disso, o pais vivia ameagado por compids pela restauragao mo- narquista, Para a burguesia, o estabelecimento do Império passau a ser visto com tinico meio de se manter a situacio como estava, ou seja, favo- rrivel aos burgueses e sobretudo as praticas ca- pitalistas. [SISTEMA ANGLO OE ENSINO ry ‘VESTIBULARES, Nesse sentido, uma mogao foi apresentada em abril de 1804, e em 18 de maio foi promulgada a Constituiggo do Ano XIL, que confiava o governo da Republica a um Imperador: Napoledo Bona- parte. Em plebiscito realizado em novembro, 3.572.000 de votantes disseram “sim” ao Império, contra 2.579. No dia 2 de dezembro de 1804, na catedral de Notre Dame de Paris, 0 papa Pio VII sagrava solenemente Napoledo I Imperador dos franceses. regime imperial sufocou a heranga revolu- cionaria de 1789, na medida em que Napoleao conduziu o regime para um absolutismo sem controle. Contando com o apoio popular verifica- do por meio de plebiscitos, o Imperador concen- trou todo o poder em suas mos e passou a exer- cer uma ditadura pessoal com aparéncia demo- cratica. Reduziu os poderes das assembléias delibe- rantes e suspendeu as liberdades puiblicas, im- pondo um rigido esquema policial. Todos os ser- vigos publicos tornaram-se instrumentos de do- minagao e de direcionamento da opiniao. A ad- ministrag&o ¢ a policia estavam intimamente li- gadas; os prefeitos acatavam todas as ordens im- periais. A administracdo centralizada e o regime autoritério abriam caminho para a ditadura. A censura foi imposta 4 imprensa, aos teatros e a toda obra literaria impressa. Napoledo também subordinou o clero e a Igre- Ja, obrigando-os a agir segundo seus interesses. Em 1806 criou o Catecismo Imperial, o qual dis- punha que a submisséo 4 sua pessoa era obr gagio religiosa de todo o Império: “Deus fez Ne poledo nosso soberano e o transformou em mi- nistro de Seu poder e Sua imagem na Terra. Hon- raa Deus’. Para dominar a opinido publica, Napoledo conferiu ao Estado o monopolio da instrugdo — inclusive a de nivel superior (escola de Direito, Politécnica). © ensino secundario nos liceus e nos colégios passou a ter orientacdo militar e, por essa Tazo, a impor rigida disciplina a alunos @ professores. i As conquistas imperiais A proclamagio do Império inquietara ainda mais os soberanos europeus, temerosos da in- fluéncia bonapartista no continente, O czar Ale- xandre I rompeu relacdes diplomaticas com a Franga e aproximou-se da Inglaterra e do Império Austriaco. Formou-se assim a Terceira Coligagao. Napoledo se langou contra a Ingla- terra, empreendendo um ataque maritimo, Em outubro de 1805, na batalha de Trafalgar, a frota franco-espanhola foi destruida pelo almirante in- glés Nelson, que assim assegurou a integralida- de da Inglaterra. Napoledo voltou-se entao contra a Austria. Em 20 de outubro, venceu a batalha de Ulm, avangou rumo a Viena e tomou-a em novembro. Finalmente, depois da batalha de Austerlitz, venceu as tropas austro-russas, e o exército do czar se retirou para a Priissia. Com essas vito- ries Napoledo, em dezembro de 1805, impds 0 ‘Tratado de Presburgo. O tratado determinava 0 desaparecimento do Sacro Império Romano- Germinico, ¢ em seu lugar formava-se a Confe- deragao do Reno, da qual Napoledo seria o pro- tetor. Seus irmios José e Luis Bonaparte torna- ram-se reis, respectivamente, de Napoles ¢ da Holanda. ‘Temendo a hegemonia francesa nos Estados alemies, o rei da Prissia, Frederico Guilherme VI, aliou'se com a Inglaterra e a Russia e juntos se lancaram & Quarta Coligagao militar. Napoledo venceu os prussianos e tomou Ber- lim; a seguir derrotow os russos e estabeleceu com eles 0 acordo de Tilsit, convertendo-se o Im- pério Russo seu aliado. 1 © Bloqueio Continental Napoledo pretendia utilizar a Russia como uma arma econémica contra a Inglaterra. Com esse objetivo, o Decreto de Berlim, de 21 de no- vembro de 1806, instituiu o Bloqueio Conti- nental, que impediria a Europa de comerciar com os ingleses, isto é, de consumir seus produ- tos manufaturados e coloniais. Assim os france- ses esperavam provocar a crise que possibilitaria uma paz favordvel a seu pais. © Decreto de Berlin marcou uma nova fase na expansdo imperial. Nao bastasse esse decreto, Napoledo ainda decidiu, pelo Decreto de Milao (3807), que todos os navios de nagées neutras que visitassem portos ingleses seriam consi- derados ingleses e tratados como tal. Contudo era extremamente dificil aplicar essa medida, pois o contrabando era muito ativo, Para fazer valer o bloqueio na Europa, Napo- Jeo procurou invadir todas as regides costeiras que pudessem contrabandear produtos inglesés, inclusive a peninsula Ibérica. A Franca interveio em Portugal porque a mo- narquia Braganga de Dom Joao VI se mantinha fiel a Inglaterra. O General Junot tomau Lisboa, levando a familia real a fugir para o Brasil. Esta operagéo na peninsula Iberica também possibi- litou a ocupagéo francesa na Espanhe. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 84 VESMBULARES ‘Temendo que os reis Bourbons espanhéis se aliassem a Inglaterra, Napoleao forcou o rei Carlos IV da Espanha a transferir a coroa para seu filho Fernando VI, que posteriormente foi obrigado a abdicar em favor de José Bonaparte, ‘As humilhagées impostas por Napoledo a Es- panha despertaram © sentimento nacional espa- nhol, que uniu nobres, padres, estudantes, bur- gueses e populares em juntas militares contra a ocupagao francesa. A resisténcia espanhola se fez por meio de guerrilhas em todo © pais. Os portigueses con- taram com a ajuda da Inglaterra, que enviou um corpo expediciondrio a Portugal. Junot capitulou em Sintra, e Portugal recuperou sua liberdade. O exército imperial, embora persistente, nao era invencivel, e o patriotismo exaltado dos espanhéis suscitou novos levantes que, apoiados pela Inglaterra, culminaram na total libertacao da Espanha em 1811. Os ausiriacos, desejando restabelecer sua au- tonomia, também se revoltaram e criaram a Quinta Coligacdo. Mas tropas francesas os venceram e assinou-se uma paz. Para solidificd- la, Napoleao anulou seu casamento com Josefina de Beauharnais e casou-se com a arquiduquesa Maria Luisa, filha de Francisco, imperador da ia. @ A Europa napoleénica Nesta fase o territério francés estendia-se, des- de suas antigas fronteiras, até o Baltico ao norte ¢ até Roma ao sul. Estava dividido em 130 depar- tamentos. Muitas regides eram dominadas diretamente por Napolego, enquanto outras nfo passavam de estados vassalos submetidos a soberanos e fun- cionérios franceses oriundos da familia do impe- rador. Em todos esses paises e regides foram abo- Jidos 0s privilégios feudais e introduziu-se a igual- dade civil e os demais direitos idealizados pela Re- volugao. A Prissia permaneceu ocupada pelo exército francés, enquanto a Riissia e a Austria se mantive- ram aliadas & Franga. Somente a Inglaterra conti- nuava itredutivel, hostil a qualquer aproximagiio. Gragas a sua'poderosa marinha, a Inglaterra ocupara varias coldnias francesas ¢ estabelecera acordos comerciais com as colénias portuguesas e espanholas que contrabalangavam os efeitos econdmicos do bloqueio. No entanto, na Europa continental 0 Bloqueio prejudicara a economia de vérios paises, em de- corréncia da incapacidade econdmica da Franga em substituir a Inglaterra. Com isso, na Rissia ena Austria, 0 bloqueio foi rapidamente desrespeitado. #2) Zona de influsncia francesa ‘govornadas pela fe Napoteio SISTEMA ANGLO-DE ENSINO 85 © declinid da Europa napoleénica Os efeitos econdmicos do bloqueio e o temor a hegemonia francesa na Europa fizeram com que a Rissia rompesse sua alianga com a Franca. No final de abril de 1812, 0 czar exigiu a retirada das tropas francesas da Prussia e a anulagao dos impedimentos comerciais. Em conseqiiéncia, Napoledo aproximou-se dos soberanos alemaes e estabeleceu uma alianca com o imperador austriaco. Em junho de 1812, o Grande Exército anunciava a campanha da Rassia: 700,000 ho- mens foram convocados para enfrentar 390.000 russos desarmados ¢ mal organizados. 4 ofensiva francese atingiu os arredores de Moscou. As tfopas russas, comandadas pelo ve- Iho marechal Kutusoy, criaram inimeros obsta- culos, dificultando a vitéria de Napoledo em Borodino, na batalha de Moscou. Em setembro de 1812 as tropas francesas entraram na capital russa, que havia sido totalmente incendiada por sua populagio: ao invés de abrir caminho para GRANDE DUCADO -S NE I ie GuAt rec um tratado, como esperava Napoledo, a ocupa- 0 levou os russos a se sublevarem contra os franceses com o sentimento de quem empreen- de uma verdadeira guerra santa, Depois da intitil ofensive, Napoledo decidiu re- tirar-se, mas muito tardiamente: o frio ¢ a fome, mais os contra-ataques dos resistentes, provo- caram pesadas baixas nas tropas francesas em Berenzina, em 26 de novembro. Em conseqiién- cia do enfraquecimento do exército francés, os demais adversarios encontraram um momento oportuno de se unirem e vencerem definitiva- mente Napoledo. ‘Uma nova coligagao formou-se com a adesio da Priissia, Russia 'e Austria, e novamente as tropas francesas foram vencidas, em outubro de 1613, na batalha de Leipzig, a batalha das Na- goes, Nesse meio tempo, parte da Itdlia e a Ale- manha, a Espanha, a Holanda se sublevaram contra Napoledo, ameagando as fronteiras da an- tiga Franca. Impénio RUSSO poitcas ‘rajeto das tropas napolesnicas Depois da perda da Alemanha, da Holanda e da Espanha, o Império ficou totalmente yulnerdvel & Sexta Coligagao. Em dezembro de 1814, uma pro- clammagio dos aliados indicou Napoleéo como o ‘inico responsavel pela guerra. Os exércitos adver- sdrios (Austria, Inglaterra, Prassia e Ruissia) inva- diram a Franca e bateram as tropas napoleénicas. Os prussianos finalmente tomaram Paris e esta- beleceram um acordo em Fontainebleau, obri- gando Napoledo a abdicar. O imperador retirou- se para a Ilha de Elba, na costa toscana, enquanto na Franca era restaurada a monarquia Bourbon. i Os Cem Dias restabelecimento da monarquia deveu-se & politica de Talleyrand, que conseguiu conciliar os aliados com os monarquistas. A Franga comprome- teu-se a recuar suas fronteiras, e Luis XVI, irmao de Luis XVI, assumiu o poder no pais com 0 com- promisso de respeitar a liberclade e a igualdade. Contudo esses compromissos no evitaram as insatisfagées: a possibilidade de se liquidarem as reformas revolucionérias e o retorno dos emigra- dos inquietavam a bunguesia e o exército. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 86 ee VESMBULARES Napoleio soube tirar proveito dessa situagdo. Fugindo de Elba, desembarcou na Franga em 12 de margo de 1815 e marchou para Paris, onde foi aclamado pela populacao e pelo proprio exército ceaviado para deté-lo. Para satisfazer a burguesia, Napoledo criou um ato adicional as Constituigdes do Império, li- mitando seu poder. Mas nao conseguiu conciliar- se com os liberais, enquanto os monarquistas Teagiam tomando novamente as armas. Com a inteng&o estratégica de bloquear uma ago militar adversaria, o imperador invadiu a Bélgica com um exército de 124,000 homens. Mas foi derrotado pelo exército inglés chefiado pelo duque de Wellington (1769-1852) na bata Iha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Re- tornando a Paris, foi obrigado a abdicar pela segunda vez e deportado pelos ingleses para a iiha de Santa Helena. Em 5 de maio de 1821, aos. 52 anos, Napoledio faleceu. -O.mite napotednico 8 © CONGRESSO DE VIENA (1815) Depois de muitos anos de conflitos e de recon- figurag6es nos limites territoriais e politicos no mapa europeu, 08 soberanos que venceram Na- poleao procuraram estabelecer uma paz durével: 0 Congresso de Viena pode ser considerado um. primeiro esforgo internacional de seguranga co- letiva do mundo contemporneo. O Congresso teve inicio em outubro de 1814. e foi presidido pelo representante da Austria, o principe Metternich (1773-1859), Contou tam- bém com a participagao de Lorde Castlereagh, representante da Inglaterra; Hardenberg, da Prissia; Nesselrode, da Russia e Tayllerand, da Franga, O Tratado de Paris, documento firmado apés a primeira abdicagéo de Napoledo, em maio de 1814, determinava que o poder na Franga devia ser restituido a Lufs XVIII e o pais deveria ceder 08 territérios ocupados. a Mas apés a queda de Napoledo, as aliangas fo- ram substituidas pelas desconfiangas. Os ingle- ses detinham o poder maritime e queriam conter a forga russa no oriente europeu, apoiando a Prissia; os russos, por sua vez, rivalizavam com os ingleses por temerem sua politica expansio~ nista rumo ao Império Otomano e Asia Central; a Austria procurava restabelecer suas influéncias na Europa Central, interferindo na Itilia, na Ale- Mmanha, na Polénia e na peninsula Balcdnica, também disputada pela Riissia. Talleyrand (1754-1838), aproveitando-se des- sas divisdes, deu & Franga uma posicéo excep- cional, apesar de vencida. Teve papel decisivo na restauragao da monarquia Bourbon, fazendo prevalecer o principio da legitimidade. Apesar do objetivo comum - reconstituir 0 ma- pa politico europeu -, os congressistas enfren- ‘taram muitas discussdes, devidas As suas diver- géncias, Apenas em 9 de julho de 1815 foram fi- nalmente estabelecidas as cldusulas territoriais, que alterariam 0 mapa europeu mantendo os principios da legitimidade e do equilibrio entre as grandes poténcias. O periodo que se seguiu ao Congresso de Vie- na.é denominado restauracdo. O documento final determinava que deviam restaurar-se em todas as partes da Europa as antigas dinastias governantes e o poder dos reis anteriores 4 Re- volugao Francesa. Dessa maneira, os Bourbons foram reempossados na Fran¢a, na Espanha e no Reino de Napoles. Roma foi devolvida ao pa- ‘pa, ea familia Braganga voltou a ocupar o trono, em Portugal. A Austria recuperou sua preponderancia na Europa Central, dominando a Itélia ~ que conti- nuava dividida em sete estados -, e exercendo in- fluéncia nos ducados de Parma, Mddena e Tos- cana. Na Alemanha, interferia diretamente na Confederagao Germénica. A Pnissia anexou a Pomerania sueca ¢ exercia sua influéncia também na Polénia. A Réissia ob- teve a maior parte da Polénia, da Bessarabia e da Finlandia, A Inglaterra ocupou as ilhas Jénicas, de Malta, além do Cabo, Ceildo, Santa Liicia, Trinidad To- bago e parte da Guiana. A Franga perdeu a Savdia e regides localizadas em sua fronteira nordeste. Foi obrigada ainda a Pagar uma indenizagdo e a aceltar que 150.000 soldados ocupassem seu territério, De maneira geral, as decisdes do Congresso desagradaram as opiniGes na Europa. A Alema- nha é a Itilia continuavam divididas; a Polénia, sob 0 jugo de povos vizinhos; os cristios dos Bal- SISTEMA ANGLO OF ERSINO 87 VESTBULARES elit cs foram submetidos pelos turcos mugulmanos;. os belgas, pelo rei da Holanda. Contra essa Euro- pa dos principes ergueram-se movimentos libe- ais e nacionalistas. Para conter essas reacoes € fazer valer o que tina sido decidico em 1815, fo- ram estabelecidos dois sistemas: o da Quédru- pla Alianga, influenciado pela Inglaterra, e o da Santa Alianga, influenciado pela Riissia. As quatro grandes nagées (Inglaterra, Austria, Russia e Priissia) passaram a sustentar o poder do rei Luis XVII na Franga. O comando da ocu- pagdo esteve a cargo do general inglés Welling- ton. Com isso, os ingleses conseguiram assumir ‘uma posigdo de destaque no equilibrio europeu. Com a intengao de manter a ordem sob a lide- Accrise do sistema A reconstituigo territorial, em nome da legiti- midaide e da seguranca, passava pela restauraco do antigo regime politico e social ¢, conseqien- temente, pela anulacdo dos ideais revoluciona- ios da sociedade burguesa. No inicio do século XTX, j4 se anunciava 0 ca- rater irrefreavel do desenvolvimento do capita- lismo pré-industrialista e consequentemente da ascensao politica da burguesia. Tanto na Alema- nha como na ltéHa, o movimento liberal se opés ao restabelecimento do regime senhorial e do despotismo. Os belgas catdlicos rejeitavam o ju- go da Holanda protestante; os poloneses recla- mavam maior autonomia. Na verdade, nessas reagGes as decises de 1815 ressoava o ideal na- Peau tLe se ranga da Russia, o czar Alexandre | aliou-se a0 imperador da Austria e ao rei da Prissia firman- do com eles um tratado militar conhecido pelo nome de Santa Alianga. Esse nome inspira-se nos princ{pios crist4os: invocava “a Santissima Trindade” e “as palavras da Sagrada Escritura” - essas referéncias levavam a pensar que 0 czar decidia politicamente em nome de Deus. Alexan- dre | esperava assim inverter o equilibrio alcan- gado no Congresso de Viena que favorecia a In- Glaterra, Para tanto, pretendia isolé-la, Apesar de tudo, foi Metternich quem exerceu um papel preponderante na Alianga, utilizando-a em proveito austriaco, reprimindo o nacionalis- mo alemao e insurreig6es na Italia e na Espanha. [Ey Anerocses da Austia ‘Anexagdos do Prossla Anoxagées da Russie cionalista intimamente ligado 4 ideologia liberal burguesa. 3s objetivos da Santa Alianga ficaram ameaga- dos pelas atitudes contraditérias de seus mem- bros. Isso porque, corn o apoio europeu, os gre- gos emanciparam-se dos turcos, e a Bélgica, com © apoio inglés, libertou-se da Holanda contra- pondo-se a sua legitimidade. A Santa Alianga, ademais, nao péde controlar as revolugdes bur- guesas contrérias a0 Antigo Regime que eclodi- ram em 1830, Somou-se a isso ainda 0 apoio de- cisivo inglés nos processos de independéncia na América Latina, em prejuizo da Espanha e de Portugal. Progressivamente subvertia-se o equill- brio europeu pos-Napoledo e reiniciava-se a era das Revolugoes liberais do século XIX. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 88 VESTBULARES Hf CONQUISTA E COLONIZACAO A chegada dos europeus 4 América significou © jugo das civilizagoes nativas e a exploragio de um extenso continente, possuidor de uma imensa riqueza. Esse processo de dom{nio foi realizado em duas etapas. Primeiro houve a conquista das civilizag6es, por meio do saque de suas riquezas e da destruicdo da sua sociedade e cultura, até que 8 conquistadores finalmente lograram a submis- sio delas. Depois se deu 2 colonizacao, quando fol introduzida uma complexa estruture adminis trativa que impds no Novo Mundo rigorosas rela- bes produtivas e comerciais, cuja finalidade era extrair riquezas minerais e explorar o comércio monopolizado. A conquista e a colonizacao espa- nhola da América fizeram parte da politica mer- cantilista conduzida pelo Estado Absolutista. & As civilizagées Pré-colombianas Entre as primeiras civilizagdes da América pré-colombiana destaca-se a Maia. Originou-se na América Central e ocupava regides que hoje compreendem Honduras, Guatemala e México. Uma das culturas mais notaveis da América, a Maia atingiu seu apogeu no século VIII, mas quando os europeus chegaram até ela, no século XV, jd estava em plena decadéncia. Outra importante civilizagéo foi a Asteca. Origi- narios do oeste do México, 0s astecas tiveram con- tato com os maias ¢ assimilaram os conhecimen- tos produzidos por eles. Foram notaveis constru- tones de pirémides, que serviam como templos e observatorios astronémicos em seus cultos reli- giosos. Os astecas, como os maias, acreditavam que seus deuses precisavam ser periodicamente revitalizados com sangue humano, considerado “agua preciosa” para o Sol e para a Terra; dai ser comum a pratica de sacrificios humanos naquelas sociedades. Criaram uma estrutura de governo teocrética. A cidade de Tenochtitlan, atual Cidade do México, era a capital asteca ¢ possufa aproximadamente cem mil habitantes. A Era das Rev América Espanhola ° = lugoes: pemacaiiad \ Outra civilizagéo se encontrava sobre as altas montanhas dos Andes, na regio dos atuais Peru, Bolivia, norte do Chile e Equador. Trata-se da civilizacdo Inca. Estima-se que antes da chegada dos espanhéis, contava com uma populagao de ‘sete milhdes de habitantes. A principal cidade in- ca era Cuzco. Esta cidade era circundada por muros de blocos de pedra, que protegiam 0 fabu- loso palacio do Sol, cujas paredes de pedra eram recobertas de placas de ouro, Os ineas se denominavam “filos do sol”. Vi- viam sob um Impéric teocratico, cujo governante era considerado um deus, o Inca, e contava com o apoio de uma elite. As camadas baixas estavam organizadas em clas, os ayllus, e eram submeti- das ao trabalho servil. A propriedade da terra era conferida ao deus Sol e ao Inca, e nelas 0s cam- Poneses produziam o necessario para 0 sustento da sociedade. A conquista da América Espanhola Em 1508, quase duas décadas depois de Co- Jombo ter chegado & América, a colonizacao li- mitava-se apenas a duas has, que hoje s30 Cuba Jamaica. Mas logo os espanhois ficaram saben- do da existéncia da civilizagdo asteca e incum- biram Fernao Cortez (1485-1547) de dirigir uma expedicao rumo ao México, Com apenas 583 ho- mens, 16 cavalos e 10 canhdes, Cortez se dispés a coneqtistar a regido que contava com uma popu- lagdo de 1.500.000 habitantes. Favorecidos por uma Jenda asteca que dizia que um Deus viria do mar, Cortez. e seus homens atingiram a cidade de ‘Tenochtitlan. Mas ao tentarem saquear 0 ouro, provocaram uma reacdo sangrenta. Cortez, em represélia, mandou matar Montezuma (1480- 1520), 0 chefe asteca. Mesmo assim foram obri- gados a se retirar. Esse episédio ficou conhecido pelo nome de la noche triste. Em outra tentativa de conquistar Tenochtitlan, Cortez explorou as desavengas entre as varias tribos. Em 1521, ocupou a cidade transformado-a em ruinas com centenas de cadiveres. Para con- ‘SISTEMA ANGLO DE ENSIND VESTIBULARES solidar sua conquista, Cortez.construiu uma igre- ja e uma fortaleza, simbolos arquiteténicos da ‘dominago espanhola. O nome ‘Tenochtitlan foi substituido por Cidade do México. ” A espada, a cruz 6 a fome iam ditimando a familia: selvagem. : «(Pablo Narada) Estimulados pela faganha grandiosa de Cortez, que conseguira vencer a riquissima confedera¢ao asteca, 08 conquistadores espanhéis planejaram avangar rumo ao sul, em diregao & civlizagao Inca. Esta missio foi confiada a Francisco Pizarro. Fayorecidos pela divisdo do Império Inca, 05 es- panhéis utilizaram-se de apenas 180 soldados 37 de cavalos para realizar a conguista. Os espa- nhéis aprisionaram o chefe Atahualpa e exigi- ram para sua libertagdo uma vultosa quantia em ouro, no que foram atendidos. Porém, temendo uma reago, os espanhéis condenaram-no & mor- te. Com isso, as resisténcias logo cairam e Pizarro saquzou a cidade de Cuzco em 1534, converten- do-a numa cidade espanhola. ‘Assim, a conquista espanhola deve-se a uma sangrenta operacao militar que submeteu as civi- lizagées Pré-Colombianas com 0 intuito de pre- parar as bases da colonizagio de exploracao. B Colonizacéo espanhola A colonizagao ocorreu apés a conquista da América, no século XVI. O sistema colonial era um mecanismo da politica econémica mercanti- lista e tinha como objetivo a exploragao das ri- quezas da América, valendo-se do trabalho das populacées nativas, e a transferéncia dessas ri- quezas para a Europa. Dada sua finalidade, 0 co- lonialismo foi estruturado sobre o Pacto Colo- nial, ou seja, sobre o monopélio da metrépole no comércio com as colénias e também das ri- quezas ali produzidas. As terras passaram a pertencer & coroa espa- nhola, Cabia ao rei legislar, delegar poderes, ceder privilégios em forma de cargos adminis- trativos ou direitos de exploragao a todos os resi- dentes, brancos ou indios. Para formalizar 0 po- der do rei em terras to distantes, de modo a ga- rantir para a metrépole o controle sobre suas ri- quezas, foram criadas vérias instituigdes gover- namentais na Espanha ena América. Na Espanha o Real Conselho das indias ti- nha a fungao de interceder em todos os assuntos relativos & administra¢ao das colénias, e a Casa de Contratacion de Sevilha tinha o monopélio. do tréfico comercial. Na América, dentre as varias instituiges des- tacavam-se as quatro grandes unidades adminis- trativas, ou sefa, os vice-reinos de Nova Espa- nha, Nova Granada, Peru, e Prata; as audién- cias, que aplicavam a justica: os cabildos, que se encarregavam da administragio das cidades. Para transportar as riquezas da colénia para a Espanha e vice-versa, a coroa instituiu o sistema de frotas de galedes. Duas vezes a0 ano sala do porto de Cadiz, na Espanha, uma frota de barcos ‘com destino a Vera Cruz, no México, e Portobelo, no Panama. Apenas nesses portos eram desem- barcadas as manufaturas trazidas da Europa, e embarcada a prata a ser levada para a metropole. Apesar do rigoroso controle permitido pelo sis- tema de porto wnico, os espanhdis nao conse- guiam impedir o contrabando. @ As relagées de trabalho na mineracao ‘A mineragiio da prata e do ouro na América era a principal atividade colonial. Pela extrair es- sa riqueza, os espanhéis criaram um sistema produtivo que incorporou o nativo como mao- SISTEWA ANGLO DE ENSINO 20 VESTBULARES de-obra. Dessa maneira, foi instituldo o regime de encomiendas, que consistia na concessao dada a um espanhol pelo rei, afi de que em seu nome explorasse 0 trabalho do nativo na mi- neragao ¢ o cristianizasse, Esse sistema incor- porou @ mita, que era uma relacdo servil j4 exis- tente entre os incas. Os espanhdis a adotaram es- pecialmente nas minas de Potosi, na Bolivia. As condigées de trabalho eram cruéis e levava mul- tos indigenas & morte. As condigses de Vidd ho Poros! s80'atrozésA enor: ‘me montanha'émerge dwn plant sindoco 6 9000rm: 0 cume ‘atinge 4890;'as galerlas‘deseinbocam'a' maior’ ans é-alfida mais duro}. some-se'o frio, 2s dffereneas-de-tompere. ture, a falta dé alimentos... (Pier Crauna— Os abusos praticados nas encomiendas, e as doengas disseminadas pelos espanhéis reduzi- ram muito a populacao indigena na América. No México a populacio no século XVI era de 25 mi IhGes; no século seguinte, ndo passava de um Ihdo € meio. A situagdo era tao grave que pro- duziu a reacao dos padres Antonio Montesinos e Bartolomé de Las Casas (1484-1566), que entraram para a Histérla por denunciar o trata- mento desumano dispensado pelos espanhois aos Indios na América. Em conseqiiéncia a metrépole elaborou as Leis Novas, que proibiam o trabalho forgado aos indigenas com o objetivo eliminar-o sistema de encomiendas. Mas como os colonos: espanhdis resistiram ao seu cumprimento, eclo- diram revoltas indigenas no Peru, como a lide- vada por Tupac Amaru e Tupac Catari no sé- culo XVII, que foram violentamente reprimidas. ARépressio._.- Em 1781, um indio aimaré, Tupac um levante contra o dominio -espanhe sitlou Le Paz. Ele fol capttiradd-¢ por quatro cavalos que © puxavam, (vero Vrges Llosa = Jornal Os Ei A sociedade colonial No espago de algumas décadas, a colonizacao espanhola produziu uma sociedade colonial do- minada por uma elite local dividida em chape- tones ¢ criollos. Os primeiros eram espanhéis que ocupavam os cargos burocraticos, os de- mais, descendentes dos espanhéis, eram os pro- prietarios das terras da colénia. As camadas bai- xas eram submetidas pelas elites: os indigenas 4 servidio, os negros, & escravidéo. Havia ainda uma numerosa populacao mestica (de zambos, indios com negros, chorros, brancos com indios, e mulatos, brancos com negros). @ INDEPENDENCIA Shh Apesar de a colonizacdo espanhola na Améri- ca ter sido essencialmente exploratéria, os espa- nhdis nao conseguiram impedir que se formasse no curso do século XViHI uma elite local, os criolios. Descendentes de espanhéis, detinham o poder econémico, entao constituido basicamente pela grande propriedade. Entretanto, por no se- rem espanhois, eram impedidos de ter acesso aos altos cargos administrativos, confiados ape- nas aos metropolitanos (chapetones). Indignado com 0 fato de ser excluido, o criallo Simon Bo- livar (1783-1830) expressou: “ndo somos {ndios nomn europeus, mas uma espécie que se coloca entre os legitimos donos destas terras e os usur- padores espanhdis” (DOZER, Donald M.— A Amé- Tica Latina). Esta situagSo se agravou pelo fato de a Espanha ser pouco desenvolvida. Sem indiistria, limitava-se apenas a retirar a prata da América para adquirir produtos manufaturados ou industrializados da Inglaterra e depois revendé-los na colénia. Os criolios, conscientes de seus interesses, nao. admitiam meis ficar submetidos 4 dominagao es- panhola. Advogavam a independéncia da Améri- ca Espanhola influenciados pelas idéias libes rias do Huminismo francés e pelo exemplo dos recém-independentes Estados Unidos e da Fran- ga revolucionaria. No final do século XViIL, junta- ram-se também aos interesses criollos os da In- glaterra industrializada, que se opunha ao mono- Polio espanhol porque precisava expandir 0 mer- cado para seus produtos, Essa conjugacao de fatores foi decisiva para que os criollos lograssem a independéncia de seus paises. Os primeiros movimentos ocorreram no inicio do século XIX. Foram acées isoladas, muitas ve- 2e8 levantes locais, como o de Francisco Miran- da (1750-1816) na Venezuela. A primeira colonia na América Latina a tornar- se independente foi o Haiti. Esta ilha era domi- nada por uma elite de latifundiarios brancos de origem francesa que produzia agticar valendo-se do trabalho escravo. No final do século XVII os Jatifundidrios, imbuidos dos ideais libertérios da Revolugao Francesa, romperam com o monopé- lio da-metrépole. Mas nao conseguiram evitar SISTEMA ANGLO DE ENSIN 1 VesTBULARES que esses mesmos ideais mobilizassem 0s escra- vos. Depois de indimeros conflitos, os escravos li- derados pelo negro Toussaint L’Ouverture (1743-103) e por Jean-Jacques Dessalines (1758-1806), em janeiro de 1804 obtiveram da Franga a independéncia do Haiti, Com a revolta dos escravos haitianos nasceu o primeiro pais in- dependente da América Latina. Jean Jacques Dessalines teria dito: “Vinguei a América. Nunca mais um colono ou um europeu pord o pé neste territério com 0 titulo de amo ou proprietario” (Dolzer). lO deséncadeamento do processo processo de independéncia foi acelerado com a invasdo de Napoleéo Bonaparte & penin- sula Ibérica. Essa intervencao francesa original- mente tinha 0 objetivo de fazer valer o Bloqueio Continental na regiao. No entanto, Napoledo destituiu os reis Bourbons do trono espanhol em favor de seu irméo, José Bonaparte. Mas 0 povo manteve-se fiel ao rei Bourbon, Fernando VII, formando as juntas militares que resistiam aos franceses. O mesmo ocorreu na América. Os criolios assumiram as fungoes administrativas coutrora ocupadas pelos espanh6is, especial men- te os Conselhos Urbanos {cabildos), ¢ passaram a comerciar livremente com a Inglaterra, por nio reconhecerem a legitimidade da ocupagio fran- cesa na Espanha. faerie Mas em 1811, com a derrota de Napoledo Bo- naparte na Espanha, Fernando VII se instalou no trono e se disp6s a recuperar o controle sobre as colénias, Nesse mesmo ano foi declarada uma das primeiras independéncias da América Espa- nhola, a do Paraguai, sob a lideranga de José Gaspar Francia (1766-1840). Tentando evitar ‘que esse ideal se alastrasse para 0 resto da col6- nia, os espanhdis desembarcaram tropas na ‘América e executaram uma sangrenta repressao. Mesmo assim, em 1816, Manuel Belgrano (1770-1820) e José de San Martin (1778-1850) proclamaram a independéncia da Argentina. José de San Martin prosseguiu na luta e apoiou os criollos liderados por Bernardo O'Higgins (1778-1842) na independéncia do Chile, em 1818, 0 inglés Thomas Cochrane (1775-1760) na in- dependéncia do Peru, em 1821. Enquanto isso, tomado por forte idealismo Si- mon Bolivar reuniu um patridtico exército de mestigos, negros libertos ¢ criollos. Em 1819 ob- teve a independéncia da Colémbia; em 1821, ada Venezuela; em 1822, a do Equador. Nesta tltima operagéo contou com 0 apoio de José de San Martin. O encontro entre os dois libertadores deu-se na cidade equatoriana de Guayaquil, onde ademais discutiram o destino da América inde- pendente. Bolfvar era partidario de uni-la sob uma reptiblica, enquanto San Martin propunha a diviséio em varias nagdes governadas por princi- pes europeus. Runes ANGLO DF ENSINO 92 ‘VESTIULARES x yer sabe o SUCRE, moeda do, ALBA Nesse meio tempo, os espanhdis reconquis- taram ufna parte dos Andes, que posteriormente foi liberada por Bolivar, Nesta ultima operaco destacou-se 0 indio Antonio José Sucre*(1795- 1830). A regio liberta se separou do Peru em 1825, passando a ser chamnada de Bolivia. Como em todes os dominios espanhéis, 0 ideal de independéncia chegou também a0 Mé- xico. O proceso, cujo carter no infcio era acen- tuadamente social, foi lideraco pelo padre Do- mingos Hidalgo (1753-1811), defensor da de- volugao das terras aos indios e da libertacdio dos escravos. Contudo, Hidalgo fracassou porque nao péde contar com 0 apoio dos criollos, uma vex que seu projeto ameacava os interesses des- sa classe. A independéncia do México somente se efetivou em 1822 com Agustfn Iturbide (1783-1824), que o transformou num Império. Em, 1823, Iurbide foi deposto e formou-se uma Re- pablica, sob o dominio do general Antonio Lo- pez de Santana (1794-1876). Em 1824 uma oligarquia de latifundiarios do sul separou-se do México, criando as Provincias Unidas da Améri- ca Central. Esta unidade sobreviveu até’ 1838, quando se fragmentou devido a pressio do im- perialismo inglés e de oligarquias locais. Foram entlo criados os estados auténomos da Guate- mala, El Salvador, Honduras e Costa Rica. No final, do império colonial espanhol restou apenas Cuba e Porto Rico. Mas no final do sécu- Jo XIX a Espanha saiui derrotada da guerra His- pano-americana e perdeu suas duas tiltimas co- T6nias para os Estados Unidos. Como jé apontamos, os movimentos de inde: pendéncia contaram com 0 apoto € 0 reconheci- mento da Inglaterra interessada na expanséo de seu mercado consumidor. Esta ago diplomitica coube ao ministro inglés George Canning. Mas vale ressaltar que contaram também com 0 apoio dos Estados Unidos, que pretendiam influir no continente, Como os ingleses, os norte-americanos se in- quietavam com 4s intengoes recolonizadoras da Santa Alianga, que pretendia restaurar o dominio espanhol. A fim de impedir tal acdo, o presidente dos Estados Unidos James Monroe, em men- sagem ao Congresso em 2 de dezembro de 1823, declarou: “os continentes americanos, pela condi. 20 livre e independente que assumiram e man- tém, no deverdo ser considerados doravante co- mo objeto de futura colonizacao por parte de quaisquer poténcias européias”. No curso do século XIX, quando os Estados Unidos se transformaram numa nagdo imperia. lista, a doutrina Monroe converteu-se em justi- ficativa para o expansionismo norte-americano sobre as varias regides do continente, especial. mente a América Central. & O significado da Independéncia No inicio do século XTX, o panorama Jatino- americano ficou alterado com a desapari¢ao do antigo sistema colonial. Entretanto, consumada a independéncia, as elites criollas transfor- maram-se em oligarquias latifundidrias e tor- naram-se herdeiras da velha ordem espanhola. Durante mais de cem anos, essas oligarquias, cujos interesses em geral estao ligados aos im. erialistas, impuseram aos latino-americanos re- gimes politicos violentos, como as ditaduras mi- litares. Assim, os caudilhos ou ditadores das novas Reptblicas, jamais trabalharam por justica social, formagao de um estado de direito, dis- tribuigdo da renda, llberdade em todas as suas dimensées democréticas. Em vez disso, busca- ram sempre preservar a integridade dos latifin- dios, o exercicio da corrupgo no setor publico administrativo e os interesses do capital estran- geiro, Em conseqiiéncia, os povos dos paises la- tino-americanos nao conheceram a democracia e ficaram & mangem do desenvolvimento econé- mico e social. Somente no século XX, com as revolugées no México em 1910 e em Cuba em 1959, surgiram as. primeiras tentativas de se reverter a heranga historica da conquista e da colonizagao na Amé- rica Latina, SISTEMA ANGLO DE ENSINO 93 ‘VESTIBULARES. ia 4 istéri Geral Il anglo VESTIBULARES angio Sistema de Ensino ‘CONSELHO EDITORIAL Guilherme Faiguenboim Nicclou Nemo | (COORDENACAO EDITORIAL ‘Asso Foiguenboim EDITORA RESPONSAVEL Magee Ris RevsAo TECNICA Fredman Couy Gomes REMskO Marisa de Olvea ~ ICONOGRARA, ‘Coordenadora: Thais Faletio Peequlsadora: Ana Cristina Melchert =e @: Grética Ediora Anglo ido, x 7 Se IMPRESSAO € ACABAMENTO Pin to De Sea Dados de Cau aa CT te {Stour do Ler, Se ‘Calero gle — Sto Ps: Aga, 19901991 Grea € Ediora Anglo Udo. eon rs es five Gib, 348 - Sone Amar Uoesen (CEP 04755000 - So Paulo - SP ‘ io fox 1) 3273-6000, swremcurcongl comb woot : panne {ates pam loge ema 1am Enon deg B19 Cidigo: 85001647 r El ANTECEDENTES O triunfo da burguesia ao longo do século XIX, tanto do ponto de vista econémico quanto politico, representou também o triunfo do liberalis- mo. Logo, podemos considerd- lo a corrente de pensamento dominante no século XIX. O li- beralismo econémico, ins; rado nas idéias de Adam Smith .— portanto, defensor do livre comércio -, transformou-se em .pratica adotada pelos governos “burgueses da Europa, estimu- Jando a continuidade do pro- cesso de industrializacao. Ain- da que no final do século XIX as préticas monopolistas ¢ res- tritivas ao livre comércio te- nham se ampliado, nao abala- ram 0 sucesso do discurso li- beral, que continuow sendo do- minante em meios burgueses. * O|libéralismo politico tam- bém-evoluiu rapidamente. Ba- seava-ée nos princfpios ilumi- nistas, dentre os quais desta- ‘cam:se o constitucionalismo, o /. @ireito a escola dos governan- “tes através de eleigdes, diviszio *- dos poderes e liberdade de ex- pressio. Tais princfpios foram sendo adotados de forma cada vez mais:ampla ao longo do sé- culo; De fato, pode-se falar de um.processo de “democratiza- G40" do liberalismo, na medida em que esses princ{pios torna- vam-se praticas cada vez mais abrangentes (a esse respeito, Iembremos, por exemplo, do movimento cartista na Ingla- 0 Pensamento no Sécule XIX terra e sua luta pelo progressivo fim dos critérios censitarios nas eleigoes e pela introducio do vo- to secreto). onrreram também nesse sé- fundas transformagoes econ ymicas e sociais, em virtu- de da expansao do processo de industrializagZo. Ao mesmo tem- pe que a produgao industrial ge- Tava gigantescos excedentes de mercadorias, os operarios, encar- regados diretos dessa produ- do, viviam em condigdes mise- raveis, Os bairros operarios cres~ ciam rapidamente em tomo dos cinturdes industriais das cida- des de varios paises, oferecendo um panorama desolador de po- breza. Nesse contexto nasceram diversas correntes de pensa- mento que, partindo da critica a situag&o vigente, propunham tmudangas em beneficio das mas- sas trabalhadoras. Ei SOCIALISMO UTOPICO Essa corrente de pensamen- to, nascida no século XIX, pro~ punha a criagéo de uma socie- dade ideal, embora nao indi- casse os catninhos para se che- gar a ela, Particularmente forte no inicio do século, seus prin- cipais idedlogos eram Henri de Saint-Simon (1760-1825), Char- les Fourier (1772-1837) e Robert ‘Owen (1771-1858). Saint-Simon Julgava que a causa principal dos problemas sociais era o fa- * igualitari to de os interesses das diferen- tes classes sociais serem diver- gentes. Para que fossem supe- radas essas divergéncias, teria- se de criar uma sociedade ideal, composta de apenas trés cate- _ gorias: proprietérios, ndo-pro- prietarios e sébios. Dessa for- ma, nao existiriam “classes ociosas” (militares, clero, no- breza), e aos sdbios séria entre- gue 0 governo, na certeza de” que assim a administracao,da . sociedad seria mais justa e Fourier, Fortemente inspirado‘em Rousseau, Fourier propunha um retorno & natureza, e para tanto concebeu os falanstérios, fazendas coletivas agroindus- triais auto-suficientes, nas quais ndo existiria a propriedade pri- vada e a produgao seria distri- buida entre os trabalhadores de forma justa. Os falanstérios che: garam a existir'gracas a inicia:;~ tivas localizadas dé grupos:i8o=. lados, que acabatam por fuidar: « umas poucas comunidades que: sobreviveram por pouicos.aii9s.. Dessa forma, jamais. ‘oreencontro global da Hi dade com a natureza “SISTEMA ANBLO DE ENSINO tempo reduzido para a época) e havia diversos beneficios para os operarios (hospital, creches, escolas), bem como saldrios maiores. Owen pro- curava administrar a produgao em conjunto com os-trabalhadores, antecipando assim o sistema dé cooperativas. Criticado e boicotado pela bur- guesia inglesa, que o via como potencial ins- pirador de movimentos reivindicativos operé- ios, acabou por se transferir para os Estados Unidos, onde reproduziu sua experiéncia brita- nica na comunidade de New Harmony, também fundada por ele. : Hi SOCIALISMO “CIENTIFICO” Criado pelos pensadores alemdes Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), é tam- bém conhecide como marxismo. Essa corrente do pensamento no se limitava a propor uma al- ternativa de mudanga social, pois partia, para concebé-la, de uma profunda’andlise da histéria econémica e social das sociedades. Daf porque ‘seus autores se autodefiniam “cientificos”. Capa da primeira odigso do Manifesto Comunista de Merx © Engels, publicada no explosivo ano de 1848, A primeira obra a divulgar o pensamnto dé Marx e Engels foi o Manifesto Comunista (1848). Mais tarde, a partir de 1867, comecaram a ser publicados os diversos volumes dée/O.Capital, de Marx, principal obra tedrica dessa corrente. Os principais componentes de sua andlise sé0: Visdo materialista de histéria Marx e Engels desenvolveram uma viséo de historia que enfatiza a importancia dos aspectos materiais, isto é, econdmicos, na evolugao da Hu- manidade. A base socioeconémica de uma ci- vilizagao (formada pela organizacao econémica e as relagdes sociais dela derivadas) corresponde a superestrutura, composta de estruturas polit cas, ideologia e cultura dominantes. Nesse senti- do, mudangas na base socioeconémica acabam por necessariamente afetar a superestrutura, de modo a adapté-la as novas necessidades. O con- junto formado por base socioeconémica e supe- Testrutura caracteriza um modo de produgao, estes vao se sucedendo ao longo da historia (por exemplo: Escravismo, Feudalismo, Capitalismo). Luta de classes As relagdes que os homens estabelecem no processo produtivo s4o relacoes de exploracao, em que uma classe social explora outras. A clas- se dominante, responsdvel pelo controle da ati- vidade econémica, cria e controla a superestru- tura de acordo com seus interesses. O modelo de Estado que conhecemos, por exemplo, é resul- tado da dominacao politica exercida pela classe dominante e atua no sentido de manter a explo- ago econémica de uma classe sobre as outras. No capitalismo, 0 produto da exploragao do proletariado pela burguesia é a mais-valia, com que 0 capitalista assegura a reprodugao de sua propria riqueza e do sistema. Esta pode ser en- tendida, em linhas gerais, como a diferenga entre © valor do bem produzide pelo operério em um determinado tempo e o valor do saldrio efetiva- mente pago a ele por esse tempo. Essa diferenca é apropriada pelo burgués e caracteriza a explo- tagao do trabalho. Revolugao proletaria Como os interesses entre classe dominante e classes dominadas necessariamente se opdem, surge dai um conflito, a luta de classes, cujo pon: to culminante é a revolucdo. A revolugéo é'°0 mo- mento em que as classes dominadas lutam violen- tamente contra a dominagao, destruindo, nésse proceso, nao 6 a classe dominante mas também toda a superestrutura por ela criada. No capita- “SISTEMA ANGLO DE ENSWNO Le VESTIBULARES lismo, as relagdes entre classes so mais simples, pois a burguesia exerce a dominagio e o proleta- riado (operérios) surge como tnica classe domina- da, diferente do que ocorre em outros perfodos da histéria, em que coexistem varias classes domi- nadas. Escrevendo no século XIX, Marx previa 0 advento da revolucdo proletaria, que resultaria na destruigao da burguesia e do capitalismo. Socialismo e Comunismo Com a revolugo proletéria, que iria abolir 0 modo de producao capitalista, seria implantado um novo modo de producdo da vida material, o socialismo. A implantacao do socialismo impli- caria a aboligao da propriedade privada dos meios de produgio (fabricas, terras, comércio) e a criagio da propriedade coletiva, adrninistrada pe- Jo Estado, Porém, o socialismo seria apenas uma etapa (= transigao} a caminho do comunismo, es- ta sim a etapa em que todas as desigualdades se- riam eliminadas e seria extinto, inclusive, o Estado. Ao caracterizar o periodo socielista como de transiggo rumo ao comunismo, Marx concebe que a forma politica do estado socialista seria a dita- dura do proletariado: um governo forte, vio- lento contra os inimigos da revolugao, mas com- prometido com os interesses da massa proletaria, @ ANARQUISMO: O anarquismo propunha, em linhas gerais, a abolic¢ao das instituigoes (como o Estado), vistas como instrumentos de opressdo, € a cooperagio. entre individuos livres. Esta corrente ideolagica teve como precursor Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), que, influenciado pelos socialistas ut6picos, fez criticas contundentes ao capitalis- mo. Em seu livro O que é a propriedade?, Prou- dhon propée a criagao de uma sociedade livre, fundada em um regime de pequenas proprieda- Ges. Outro expoente do anarquismo, Mikhail Ba- kunin (1814-1876), apontava ser necessaria a aco violenta na luta pela supressao do dominio da bur- quesia, Essa violencia seria dirigida contra os prin- Cipais representantes da propriedade privada (os rics) e do Estado (governantes). Suas idéias in- fivenciaram diversos grupos anarquistas atuantes no final do século XIX. O rei da Itélia Umberto I (1900) e o presidente norte-americano McKinley (1901), foram duas das mais conhecidas vitimas de atentados anarquistas levados a cabo no periodo. Particularmente fortes no sul (Italia, Espanha) e leste (Réssia) da Europa, as idéias anarquistas acabaram chegando & América com os imigran- tes e influenciaramn o movimento trabalhista no continente no inicio do século XX. 1 DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA Elaborada pelo papa Ledo XIfl em 1891 e difun- dida pela enciclica Rerum Novarum (“Das coisas novas"), a doutrina social da Igreja definia a po- siggo do clero catélico diante da questo social. Partia da condenacéo ao marxismo, identificado como uma doutrina violenta por pregar a luta de classes, Defendia a propriedade privada ¢ 0 direito dos trabalhadores a se onganizarem em sindicatos. Para sanar a questo da luta de classes, 2 Igreja propunha a conciliagao entre as classes: através da atuagdo conjunta de patrées e empregados, sob supervisdo do clero, surgiriam condigdes mais jus- tas de trabalho, que evitariam a convulsio social e assegurariam o direito & propriedade. Il A ORGANIZACAO DOS TRABALHADORES “Proletérios do mundo todo, uni-vos”. Com es- tas palavras, Marx e Engels encerravam 0 Mani- festo Comunista. Trata-se de um charnado a Tevo- | lugSo mundial: de fato, se o capitalismo é mun- dial, a revolugao e 0 comunismo também deve- riam sé-lo, Em vida, Marx trabalhou no sentido de articular um movimento mundial de trabalha- dores, ¢ este veio & luz em 1854, com o nome “As- sociagao Internacional dos Trabalhadores” ou, simplesmente, a Internacional. 12 Internacional (Londres, 1864) A Primeira Internacional foi um fiasco, na me- dida em que os trabalhadores ou seus represen- tantes, reunidos em Londres diante de Marx, nao SISTEMA ANGLO DE ENSIND ‘VESTIBULARES. chegaram a um acordo sobre a melhor forma de lutar contré o capitalismo. A influéncia do anar- quismo e notadamente a lideranga.de Bakunin, acabaram por dividir e enfraquecer o movimento. 22 Internacional (Paris, 1889) A Segunda Internacional reuniu-se no final do século sob o impacto do movimento social-de- mocrata. Desenvolvida na Alemanha, a social- democracia pretendia reunit os trabalhadores em um partido politico e lutar por melhores con- dices de trabalho aproveitando-se da ampliagao de direito a voto e da possibilidade de eleger re~ presentantes. Assim, a social-democracia previa urn programa'de reformas, incluindo, por exemn- plo, leis trabalhistas. O crescente sucesso eleitoral do SPD (Partido Social-Democrata Alemao), fez com que muitos dos seus membros passassem a acreditar na to- mada do poder através do voto, ¢ nao da revoli- do. A Segunda Internacional confirmou a social- democracia como principal estratégia de luta dos trabalhadores, nao sem enfrentar oposigao den- tro do movimento operario. 32 Internacional (Moscou, 1919) Em 1902, 0 pensador e revolucionario russo Viadimir llitch Ulianov (1870-1924), mais conhe- cido pelo apelido Lénin, rejeitou a social-derno- cracia e langou um novo projeto. Em um livro com 0 sugestivo titulo Que fazer?, Lénin propés a criagao de um partido politico revolucionario que pudesse atuar como vanguarda do prole- tariado, pronta para convocéo a fazer a revolu- 40 no momento oportuno. A vitéria da Revo- lugdo Russa em 1917, sob a lideranca de Lénin, tomnou a proposta marxista-leninista aparente- mente mais adequada como estratégia para atingir 0 socialismo. Em 1919 Lénin convocou uma Terceira Internaciona, com 0 objetivo de ar- ticular partidos leninistas em todo mundo. A partir de ento, passaram a existir duas Inter- nacionais; a Segunda, reunindo partidos socia- listas (ou social-democratas) do mundo todo, em tomo de proposias reformistas cada vez mais mo- deradas; e a Terceira, reunindo partidos comu- nistas (ou marxistas-leninistas) de todo mundo, em toro de propostas revolucionérias radicais. ‘Spee Liar Can aloe, Neon ER Engels Lin Aga o- ‘maha utiieada a _ ‘ovidticae estadow-entlten. SISTEMA ANGLO DE ENSINO FRANCA NO SECULO XIX A restauracgde do Ab- solutismo (1815-1830) ‘Apés a derrota de Napoledo Bonaparte, o Congreso de Vie- na articulou 0 retorno do abso- Tutismo em varios paises da Eu- ropa, inclusive na Franga. De acorcio com o principio da legi- timidade, o trono francés vol- tou a ser ocupado pela familia Bourbon. Assim, em 1815, Luis XVUI (1755-1824), irmao de Luis XV1, executado em 1793, assumiu o poder. No seu gover: no, Luis XVIII procurou gover- nar de forma moderada, fazen- do concessdes a grupos libe- rais, entre as quais figurava, por exemplo, a Constituicio de 1814. Esta, apesar de aparente- mente liberal {assegurava igual- dade perante a lei, liberdade de imprensa e religido, eleig6es pa- rao legislativo), apresentava certas limitagées, como o res- trito cfitério censitario para’o exercicio do voto e a concentra- ‘go de poder nas maos do rei. Apés a morte de Luis XVII, seu irmao, Carlos X (4757- 1836), assumiu o trono da Fran- ca. Seus fortes vinculos com 0 clero e a aristocracia mais retré- grados, bem como suas tenta- tivas de fazer mudancas nas leis em 1830, visando o fim da liber- dade de imprensa, 0 fecha- mento da Assembléia Legisla- tiva, maiores restrig6es ao direi- to a voto; acabaram precipitan- do a manifestacdo popular que levou a Revolucao de 1830. A Europa no Século XIX A Revolugdo de Julho de 1830 pode ser considerada um movimento de inspiracao bur- guesa, pois, apesar de contar com a participagao das cama~ das populares, resultou no esta- belecimento de um regime mo- narquico liberal encabecado por Luis Felipe (1773-1850). Ao mesmo tempo, a revolugao ser- viu de motivago para movi- mentos revolucionarios de ca- rater liberal e nacionalista em outros paises europeus, como Bélgica, Polonia, Itdlia e Alema- nha, naquele mesmo ano. El Luis Felipe (1830-1848) © nome com que o rei Luis Felipe de Orléans entrou para a historia - “o rei burgués” -, 6 bastante significativo. No seu governo, buscou consolidar um regime constitucional franca- mente liberal (ainda que fun- dado na manutengao do voto censitério) e garantir 0 respeito &s liberdades individuais. To- davia, enfrentava crescente oposigao de grupos conserva- dores {articulados no bloco bo- napartista) e populares (tanto republicanos quanto socialis- tas). Lembremos que a conti nuidade da expansao econé- mica e do processo de indus- trializagao na Franga levou a progressiva formagao de uma massa de operarios cada vez mais articulados em torno de propostas populares radicais. Estes grupos realizavam reu- nides de oposicao ao rei disfar- gadas de refeigdes coletivas, é essa tatica ficou conhecida co- mo “politica dos banquetes”. As péssimas colheitas euro- péias desde 1846 e, principal- mente, a praga que afetou as plantagdes de batata em 1848 {conhecida como o “mal das batatas”), resultaram em alta nos pregos e fome generaliza- da. A fome foi o estopim de um novo movimento revoluciond- rio: a Revolugo de 1848. SSSTEMAARGLO CE ENSINO a ‘VESTISULARES ‘eriagdo‘de uma.Constit = tegioes.da Europa (Alemnant magéo da nowaes & Segunda Republica (1848-1852) Foi estabelecido um governo provisério, em que se destacavam o poeta Lamartine (1790- 1869), 0 jornalista e historiador socialista Auguste Blanqui (1805-1881) e 0 operdrio Albert. O novo regime implementou medidas populares, cotno a reducdo da jornada de trabalho, o sufragio uni- versal masculino e a inaugurago das Oficinas Nacionais, fabricas estatais administradas por operdrios, criadas para absorver a mao-de-obra desempregada O prosseguimento da crise econémica, as di- visOes no interior do governo provisério ¢ a culacaéo das oposig¢Ges em um “Partido da Or- dem”, acabaram resultando na expressiva vitéria da burguesia nas eleigdes de abril e, em seguida, na violenta repressdo a grupos socialistas radi- cais. Em julho de 1848, 0 general Cavaignac li- derou tropas que invadiram Paris e massacraram milhares de trabalhadores Hosea 0 do século XIX mostrando a lvta popular em Parts, Finalmente, em dezembro de 1848, Luis Bo- nmaparte (1808-1873), sobrinho de Napoledo, foi eleito presidente. Luis Bonaparte tinha, além de um compromisso com setores conservadores (ourgueses), um forte carisma e apelo popular. Antes do final de seu mandato presidencial de quatro anos, Lufs Bonaparte deu um golpe: arti- culando a burguesia com setores do exército, aboliu a Republica e abriu caminho para a im- plantagao de um novo regime imperial. Karl Marx, atento analista da politica européia na épo- ca, chamou o golpe de O 18 Brumario de Luis Bonaparte, em clara referéncia ao golpe dado por Napoledo em 1799 e as tentativas cada vez mais freqiientes de Lufs Bonaparte de copiar seu lustre tio. 1 Segundo Império (1852-1870) Em 1852, Luis Bonaparte proclamou o Se- gundo Império franeés e passou a governar com © titulo de Napoledo III, Autoritério e centra- lizador, Napoleao III fez um governo voltado pa- ra a burguesia francesa, mantendo as politicas que favoreciam a expansao econémica e © pros- seguimento do processo de industrializagao. Uma de suas principais iniciativas foi a urba- nizagao de Paris, projeto dirigido pelo prefeito nomeado da cidade, o baréo Haussmann. Lar- gas avenidas (os boulevards), pragas circulares, amplos espagos, edificios homogéneos, de facha- das rebuscadas, caracterizavam o projeto que serviu de inspiragao para varias cidades do mun- do a partir de ento (por exemplo, 0 Rio de Ja- neiro do inicio do século XX). Durante o Segundo Império, a Franga adotou uma politica externa agressiva. Napoleao Ill ten- tava ampliar a influéncia francesa e também seu prestigio pessoal, eventualmente comandando tropas nos conflitos em que envolveu seu pais. Dentre eles desiacam-se: [SISTEMA ANGLO DE ENSIN 10 ‘VESTIULARES. «$a Guerra da Criméia (1854-1856), em que aliou-se a Inglaterra contra a Rissia; a intervengao no sudeste Astético seguida do estabelecimento de uma colénia francesa na regio (Vietna, 1858), © envio de tropas para a Italia a fim de com- bater a presenca austrlaca na regido (1859). Tal iniciativa fazia parte da politica das na- cionalidades adotada por Napolego III, vi- sendo 0 apoio a movimentos de emancipa- ‘do nacional; intervengdes na China (1860) e no México (1862-1867), onde Napoleao II apoiow 0 es- tabelecimento de um regime imperial enca- begado pelo principe austriaco Maximiliano de Habsburgo. A interven¢ao no México contrariou frontalmente os interesses norte- americanos, expressos na Doutrina Monroe (1823). A ascensio da Priissia & condicao de poténcia, a partir da década de 1860, significou o surgi- mento de um rival & altura da Franga no conti nente europeu. Apds provocacdes diplométicas feitas pelo chanceler alemao Otto von Bismarck (1815-1898), iniciou-se a Guerra Franco-Prus- siana (1870-1871). Em setembro de 1870, apés ocerco e a derrota francesa na batalha de Sedan, Napoledo IMl foi capturado pelo exército prus- siano. Assim, o Império se desfez em meio A guerra e foi novamente proclamada a Repiiblica na Franca, @ Terceira Republica (1870-1940} Proclamado como “Governo de Defesa Nacio- nal” na Paris em guerra, © novo governo tentou articular uma reagao contra os invasores alemndes e, diante do fracasso dessas iniciativas, buscou negociar um acordo de paz. Sediado em Versa- Ihes e encabegado por Adolphe Thiers (1797- 1877), esse novo governo teve ainda que enfren- tar uma grande sublevacao popular: a Comuna de Paris. A Comuna de Paris, ou governo da cidade eleito pelo povo, foi proclamada em marco de 1871. Foi provocada pela insatisfagao popular diante da guerra e pelas tensoes sociais que se agudizavam na Franca em pleno processo de in- dustrializagao. Desvinculada do governo bur- gués da Terceira Repiiblica, a administracao da Comuna tomou medidas francamente populares, de inspiragdo socialista. Por exemplo, fabricas fo- Tam ocupadas e a acministracdo delas ficava a cargo dos préprios operarios; foi declarada a igualdade civil entre homens e mulheres, o exér- cito regular foi substituido pelo povo armado(a Guarda Nacional), foi concedida isengaéo do pagamento de aluguel durante a guerra, Igreja‘e Estado foram separados, foi criada a pensao para vas € Orfaos de guerra, combateu-se © nacio- nalismo ao se adotar a bandeira vermelha, sim- bolo da “reptblica mundial’. A Comuna de Paris é considerada a primeira experiéncia socialista de governo popular. Porém, tinha muitas limitagées. Facgées politicas diver- gentes (anarquistas, diversas correntes socialis- tas) disputavam o poder. Nao tirou do poder to- das as forgas conservadoras, as quais continua- ram controlando 0 Banco da Franga, por exem- plo. Aiém disso, Thiers negociou um tratado de paz com os alemaes e uniu-se aos inimigos para ‘tirar a Comuna de Paris do poder. Prisioneiros de guerra franceses foram libertados, rearmados e abastecidos pelos alemaes para formar 0 novo, exército francés que teria a missao de invadir Pa~ tis e reprimir a Comuna. Em maio de 1871, a'ci- dade foi invadida, e a Comuna, brutalmente re- primida; estirna-se em 20 mil o mimero de mor- tos, e dezenas de milhares foram feitos prisio- neiros, ‘A Franga pagou um prego alto 4 Alemanha no final da Guerra Franco-Prussiana. O mesmo tra- tado de paz que viabilizou a derrota da Coruna de Paris, conhecido como Tratado de Frank- furt, estabelecia ainda o pagamento de ‘uma pesada indenizacao por parte da Franga e deter- minava a entrega de duas provincias franicesas para a Alemanha: a Alsdcia e a Lorena. Essas condigées humilhantes fizeram surgif entre os franceses um forte sentimento revanchista, que marca as primeiras décadas da Terceira Repi- blica, Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a Franga ainda buscava a “vinganga” pela derrota de 1871. © NACIONALISMO Intredusaéo. © nacionalismo foi uma das mais influentes correntes ideolégicas do século XIX. O prolon- ado periodo das guerras napoleénicas no inicio do século, a luta dos povos por emancipacao ¢ 0 direito de se organizar em estados nacionais, bem como os interesses e rivalidades das bur- guesias nacionais, so fatores que levam ao seu fortalecimento. Além de manifestarse no campo da politica, 0 nacionalismo influencion as artes, (por exemplo, como um dos ‘aspectos do roman- tismo} e a instrugo ptiblica na tentativa de mol- dar uma consciéncia nacional na populagao. SISTEMA ANGLO DE ENSIN| " VESTIBULARES Naprimeira metade do século XIX, a ascenstio. do nacionalismo e do principio das naciona- ;, segundo o qual cada povo deveria ter 0 direito de se organizar em estados nacionais, desferiu mais um golpe no sistema estabelecido pelo Congresso de Viena, fundado, como vimos, no principio da legitimidade. _O processo de unificaco na Itdliae na Alema- nha, que possibilitou a transformagio de deze- nas de unidades politicas em dois éstados cen- tralizados, foi o ponto culminante do nacionalis- mo europeu do século XIX. B Unificagaéo da Alemanha Qs territérids alemies na Europa que antes fa- ziam parte do Sacro Império Romano Germaanico foram submetidos por Napoledo Bonaparte e passaram a ser conhecidos como Confederaco do Reno. Com a derrota de Napoledo, a Confe- deragao do Reno foi abolida e, em seu lugar, fun- dou-se a Confederacao Germénica, formada por 39 Estados mais a por¢do austriaca do Im- pério Habsburgo. Dentre os estados auténomos da Confedera- do Germanica, destacava-se a Priissia, nao ape- fas por ser razoavelmente extensa, mas pelo-fato de abranger as areas mais industrializadas da confederagdo. A préspera burguesia prussiana, “” nesse contexto, via a fragmentacdo politica como obstaculo para seu desenvolvimento, dadas as intimeras barreiras alfandegarias impostas pelos varios estados e 0 fato de o mercado consumidor prussiano ser limitado em vista do crescimiento da produgao. A burguesia prussiana passou a ver a unifica- 40 politica (formagao de um Gnico pafs) como a forma de obter a unificagSo econémica da Ale- manha e, conseqtientemente, de expandir seus negécios. Em 1834, um primeiro passo nesse sen- tido foi dado por meio do Zoliverein, acordo que estabelecia a unido alfandegdria dos 39 estados. Para consolidar seu projeto unificador, a bur- guesia prussiana enfrentaria obstdculos, como as ambigées austriacas em liderar a unificacdo e a tradigo da mobilizacdo popular nacionalista e re- publicana (manifesta em 1848, com tendéncia ao radicalismo). Para enfrentar essas ameacas, 0 rei da Prussia, Guilherme I (1797-1888), da familia Hohenzollern, convocou o chanceler Bismarck oencarregou de executar o projeto. O plano de Bismarck envolvia a mobilizagaio militar sob lideranga monarquica e prussiana e a deflagracao de uma série de guerras que, ad mes- mo tempo, afastaria a influéncia austrfaca e faria nascer entre os alemaes uma consciéncia nacional. Acta Cepetony Recs | ———~ Divisto de Estados Confederagio GermBnica rag Em 1864, Prissia e Austria enfrentaram a Dina- marca na Guerra dos Ducados, que resultou na anexagao das provincias dinamarquesas de Schleswig e Holstein 4 Confederago Germanic, Desacordos entre austriacos e prussianos quanto ao destino das duas provincias acabaram por precipitar a Guerra das Sete Semanas (1866), na qual a Préssia, liderando diversos estados alemées, derrotou espetacularmente a Austria e frustrou assim as ambigdes centralizadoras dos rivais austriacos. Apés a guerra, a exaltagio:-na- cionalista explodiu nos estados alemées. Varios deles aceitaram a lideranga da Prissia ede seu Tei e formaram entao a Confederagio Getma- nica do Norte. Visando atrair os demais estados alemaes & nova Unido, Bismarck planejou mais uma guer- 1a, desta vez contra a Franga de Napoledo Ill. 0 chanceler prussiano convenceu os estados ale- mies a empreenderem a guerra contra os fran- ceses usando como pretexto a disputa pela s\ cessio do trono espanhol e a crise diptomética que surgiu dessa questao. A Guerra Franco- Prussiana (1870-71), como foi chamada, resul- tou em humilhante derrota dos franceses, 0 que serviu para estimular o sentimento nacionalista alemio e tornar ainda mais desejvel, ou acei- tavel, uma unio liderada por Guilherme da Prassia, SISTEMA ANGLO DE ENSIND 12 VESTBULARES Em janeiro de 1871, na Galeria dos Espelhos do Palacio de Versalhes, em territério francés * ocupado pelos alemaes, reuniram-se os represen- tantes dos diversos estados germanicos que acla- tmaram Guilherme I como kaiser (imperador) de todos os alemaes. Nascia assim’ o IT Reich (Se- gundo Império) alemao, Estava concluida a unifi- cago da Alemanha. © novo pis passou por und ise de acl. ‘expansdo econémica. A Alemanha passou a li- derar os setores mais dinamicos da Segunda Re- volugao Industrial (siderurgia, industria quimica, eletricidade), Desenvolveu-se tanto que, na vira- da para 0 século XX, jé tinha condiigses de riva- lizar com a Inglaterra ¢ os Estados Unidos. HI Unificagdo da tralia A Itélia, como a Alemanha, no inicio do sécu- lo XIX estava fragmentada politicamente. Exis- tia forte sentimento nacionalista de cardter po- pular e republicano, que se expressou na revo- lugdo de 1848 sob a lideranga de Giuseppe Garibaldi (1607-1882) e Giuseppe Mazzini (1805-1872), Concomitantemente, desenvolveu-se um mo- vimento pela do de cardter me divulgado pelo jornal Risorgimento, bastante atuante no norte da Itdlia, O movimiento monér- quico era apoiado pela burguesia do Piemonte, | Tegido industrializada cujo interesse pela unifica- so prendia-se a motivos econémicos (bastante semelhante aos que levaram a russia. naa liderar o movimento na Alemanha). O-rei do Piemonte, Vitor Emanuel Il (1820-1878), da di- Bea oemunu noir eceteins EER ome dos Estades Ponsiicios reanexados ao Feino da ta FEB Torri covtidos & Fronga om 190 EEE Pino do Fiemonte-Sardenha [= Terndries unidoe em 1060 nastia Savéia, e seu ministro, o conde de Ca- vour, (Camillo Benso, 1810-1861) abragaram o projeto unificador bungués, Dentre os-obstaculos enfrentados por Cavour contra a unifeacéo, destacavam-se o dominio da Austria sobre vastas regides do norte da penin- sula italiana, o controle politico do papa sobre timlarga faixa de terra‘ha Italia Central fos Es. “allos Fapats) ¢ a-existéncla-do-Reino das Icflids no sul da’ peninsula, um dos’ tlti- mos baluartes da familia Bourbon na Europa. Por volta de 1860, Garibaldi liderava tropas populares (os “camisas vermelhas" em luta pela unificagao no centro e no sul do pafs. Ao mesmo tempo, o Piemonte buscava neutralizar os inte- resses austriacos no norte da peninsula italiana. Para tanto, o Piemonte aliou-se 8 Napoledo II imperador francés, que enviou tropas para com- bater os austriacos, as quals lograram expulsé- Jos da Itdlia em 1839, Mais tarde, quando da Guerra das Sete Semanas (1866), os italianos aproveltaram a derrota da para os prus- sianos e anexaram os tiltimos territofios itallanos ainda sob dominio austriaco, notadamente a re- gido do Veneto. * Ante o progresso da unificacéio, Garibaldi re- Cuou em seu projeto republicano, mesmo apés ter tdo sucesso na Conquista de Népoles, capital do reino das Duas Sicflias. Em nome.da unido dos interesses nacionais, Garibaldi aceitou a lideranca de Vitor Emanyel e do Piemonte no processo. Por essa época; 0 tinico territério italiano ainda ndo submetido & autoridade de Viter Emanuel Il.eram os Estados Papais, em tomo de Rofna, que conta- vam com a protegiio do imperador francés. \VESTBULARES. Em:1870,;com o inicio da Guerra Franco-Prus- siana e a derrota da Franca no conflito, as tropas deste pais retiraram-se dos Estados Papais, abrindo caminho para sua ocupacao pelas tropas do Piemonte. Seguiu-se a transferéncia da capital do pais para Roma e a proclamacao do-reino.uni- ficado da Itélia, O papa reagiu a perda de:.territs- ios, ndo reconhecendo 0 novo Estado italiano: Esta crise foi.chamada de Quest4o;Romana.e estendeu-se até meados do século KX: Somente foi resolvida em 1929, com a assinatura do’ Tra- tado de Latrao, entre o papa Pio'XI eo ditador- italiano Benito Mussolini, O Tratado estabelecia o reconhecimento de estado italiano por:parte-do papa, em troca da criag&o do'Estado do Vatica- no, territério-soberano administrado pela Igreja Catélica, incrustado no meio da cidade de Roma. ‘A principal questo deixada em aberto no'pro- cess0 de‘linificagdo da Itdlia foi’ destino das provincias-irridentas. Tratava-se de territériés austriacos que ainda tinham expressiva popula- ‘ovitaliana, sendo, portanto, reivindicados pelo governo.da Itdlia..A disputa por esses territérios fot um:dos fatores que levaram Itélia e Austria & guerra a partir de 1915, no contexto da Primeira Guerra Mundial. ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTBULARES 15 A EXPANSAO TERRITORIAL Apés 0 final da Guerra de In- dependéncia (1776-1783), os Es- tados Unidos iniciaram um pe- Hiodo de expansiio econémica, prejudicado somente durante as guerras napolednicas, no i cio do século XIX. A Inglaterra, em prolongado conilito com a Franga, fez o que pode para di- ficultar as relages comerciais deste pals com a América, ¢ as- sim entrou em atrito com os Es- tados Unidos. Outra fonte de atrito era a ambigao norte-ame- ricana em relacao ao Canada, entéo colénia inglesa. A ques- ‘Go resultou na Segunda Guer- ra de Independéncia (1812- 1814). Apds uin confronto mi- litar limitado, que teve como apogeu 0 ataque inglés 4 capital norte-americana, Washington, foi assinado um tratado de paz em que se definiam as fron- teiras entre Estados Unidos e Canada, chamado Paz Eternia de Gand, Em meio a rivalidade com as nagGes européias € expressan- do 0 intenso nacionalismo des- pertado pela guerra, em 1823 0 presidente James Monroe lan- cou uma nova doutrina de polt- tica externa, cue passaria a do- minar as relagées internacio- nais dos Estados Unidos: a Doutrina Monroe (1823). Seu prinefpio resumia-se no slogan *a América para os america- nos”; logo, visava combater a influéncia européia no conti- nente, estreitando as lagos com Os Estades Unitios no Seculo XIX as jovens nagdes latino-ameri- canes. A doutrina serviu tam- bém de resposta & opcdo euro- péia, pela articulacao da Santa ‘Alianga ¢ sua politica de reco- lonizagio. Ao minimizar a influéncia européia sobre o continente americano, a Doutrina Monroe, na pratica, fazia dos Estados Unidos a tinica poténcia da re- gido e abria caminho para que no futuro pudesse se impor co- mo nacao imperialista aos pai- ses da América Latina. Alids, 0 expansionismo era t{pico das Treze Col6nias mesmo antes da independéncia, com 0 progres- sivo avango dos colonos em busea de novas terras no ceste da América do Norte. Apés a independéncia, 0 avango ru- mo ao Oeste se acelerou pro gressivamente, com a anexagaio das terras que se estendiam até 0 oceano Pacifico. Dentre as causas que estinu- Jaram a expansao territorial norte-americana rumo ao oeste pode-se citar: * fatores demograficos; a0 longo do século XIX, os Estados Unidos se trans- formaram no principal destino das grandes cor- rentes migratérias que partiam da Europa. Sé en- tre 1845 e 1854, os Estados Unidos receberam trés mi- Ihdes de imigrantes (para uma populagio total de 20 milhées), ¢ este niimero foi aumentando progressiva- mente até o final do século. O Homestead Act, lei de 1862 que possibilitava a distribuig&o de pequenos lotes de terra no oeste, atraiu ainda mais imigran- tes europeus. * fatores econémicos; inte- Tesses ligados a agricul- tura (com a ocupagio de terras férteis do vale do Mississipi), pecudria (prin- cipalmente no sudoeste, regido do Texas) e minera- a0 (notadamente de metal precioso, que originou a “corrida do ouro” da Cali- fornia em 1848-49). * fatores ideolégicos; con- solidou-se no perfodo a ideologia do Destino Ma- nifesto. Tal ideologia, de fimdamento puritano, pre- gava no 36 0 direito nor- te-americano de ocupar terras para implantar suas instituigdes (consideradas virtuosas), como também 0 cardter “missiondrio” dessa ocupagio. Ou seja, tratava-se de executar a vontade de deus e cum- prir a missfio por ele des- ‘tinada ao povo norte-ame- ricano. A ocupagdo do oeste foi fet- ta em etapas, destacando-se: © ocupagéo da margem les- te do Mississipi, cedida pela Inglaterra & nascente nagdo americana no final da Guerra de Independén- cia (1783). [SISTEMA ANGLO DE ENSING 15 VESTIBULARES * anexacao da Flérida, obtida da Espanha mediante pagamento de indenizagao (1819). * compra da Louisiana (margem oeste do Mississipi), adquirida da Franga de Napo- Jeo Bonaparte (1803) + anexagao do Texas (1845), seguido da in- corporagac do territério do sudoeste, aps Bech a A GUERRA DE SECESSAO (1861-65) Causas Durante a colonizagao, j4 eram marcantes as diferengas entre os territérlos do norte e do sul das Treze Col6nias, as quais permaneceram mes- mo apés a independéncia, Nos estados do Sul predominava uma economia agricola de grandes propriedades monocultoras cuja produgao volta- vase para a exportagio. Utilizava-se em larga es- cala 0 trabalho escravo negro de origem africana ¢, a0 longo do século XIX, produzia-se ali sobre- tudo algodao, matéria-prima industrial por ex- celéncia vendida em grande volume principal- mente para a Inglaterra. No Norte, o desenvol- vimento precoce das atividades mercantil e ma- nufatureira acabou por estimular a industrializa- 40, cuja producao pretendia atender um mer- cado interno em franca expanséo. No plano politico, predominava no sul uma poderosa aristocracia rural, enquanto no norte destacava-se uma ascendente burguesia. Os guerra com o México (tratado de Guada- lupe-Hidalgo, 1848). * Tratado do Oregon (1846) com a Ingla- terra, definindo a fronteira com o Canada até o oceano Pacifico. * compra do Alasca (1867), que pertencia & Russia. Peau Meant ‘776: Torvitério original das 13 Colénias ‘1783: Codido pela Inglaterra ‘20 inal da guerra de. independéncia, 11803: Comprado & Franga 1818: Adguirido 8 Espanha 11846: Cedido pela Inglaterra 1848: Tomsdo 20 México 1887: Comprado 3 Riissia += Comentos Migratéri dois grupos disputavam o poder federal, e 20 Jongo do século XIX essa disputa se tornava cada ‘vez mais intensa, na medida em que cresciam as divergéncias entre os grupos quanto aos rumos que o pais deveria tomar. ‘A burguesia do norte, buscando acelerar e consolidar o processo de industrializagao, defen- dia a adogao do protecionismo, pois se sabia incapaz de vencer na concorréncia com pajses mais avancados industrialmente, por exemplo, a Inglaterra. Defendia o trabalho livre assalaria- do, condigao fundamental para a reprodugao de capital em um regime capitalista avangado. A aristocracia do sul, por sua vez, defendia a manutengao do trabalho escravo em seus esta- dos. Além disso, rejeitava qualquer politica pro- tecionista, temendo represélias dos paises para ‘os quais exportava géneros agricolas. Por essa raza eram defensores do livre comércio. ‘A expansio territorial acirrou as disputas en- tre norte e sul, uma vez que os novos estados do ‘este poderiam ser o fiel da balanga ao se alinhar SISTEMA ANGLO DE ENSIND 16 ‘VESTBULARES com um ou com 9 outro bloco. Afinal, apés se- rem aceitos formalmente na Unido, os novos es- tacos passavam a eleger os representantes para 0 Congresso em Washington e poderiam ter pe- so decisivo nas resolugdes dessas quest6es que punham norte e sul em posigSes antag6nicas. além disso, a acelerada imigraco aumentava o mimero de eleitores nos estados onde predo- minava o trabalho livre. Nesse contexto, os lide- res politicos do sul passaram a defender o direito A secessio, isto 6, A separagao caso fossem ado- tadas medidas contrdrias a seus interesses. Em 1860, @ vitéria do advogado nortista Abraham Lincoln (1809-1865) nas eleigGes presidenciais foi considerada intolerével pelo sul, pois Lincoln de- fendia o protecionismo e a manutengiio da unido indissoluvel entre os estados. Em fevereiro de 1861, os estacios do sul proclamaram a secessio fundando um novo pais, a Confederagao dos Estados da América. A rejeigao do norte a se- paragio desencadeou a guerra civil conhecida como Guerra de Secessao. A guerra civil © desequilfbrio entre as forgas era brutal. A Unido (norte) pode mobilizar um exército de centenas de milhares de homens ¢ uma podero- sa marinha de guerra, gracas ao fato de poder dispor de mais recursos financeiros e de um par- que industrial onde apoiar seu esforgo de guerra. Ja a Confederagao (sul) contava com uma po- pulacdo menor e necessitava importar armas, 0 que Somente seria possivel se pudesse dispor de recursos obtidos das exportacdes agricolas —difi- cultadas porque a Unido controlava os mares. ESTADOS CONFEDERADOS ESTADOS DA UNIAO- AAA BLOQUEIO NAVAL Apesar disso, os confederades conseguiram algumas vitorias iniciais na guerra, gragas 4 habil lideranga do general Robert E. Lee (1807-1870). ‘Com o tempo, mobilizagao da Unido se fez sen- tir. Dispunha de um exéreito cada vez maior e mais experiente, no qual destacava-se a atuaciio de Ulisses S. Grant (1822-1885), principal co- mandante do norte nos estagios finais da guerra. Trata-se de uma guerra que mobilizou mais de dois milhSes de homens e se valeu na sua condu- 40 da utilizagao em larga escala de ferrovias, telégrafo, navios blindados e armas de repeti¢ao. O mimero de mortos foi bastante elevado: mais de 600 mil pessoas durante pouco mais de qua- tro anos; nos Estados Unidos havia entaéo pouco mais de 25 milhes de habitantes. Conseqiiéncias Durante a guerra, o presidente Lincoln de- cretou a aboligéo da escravidao nos estados do sul, mas a medida teve poucos efeitos praticos. Somente apés terminada a guerra foi acres- centada & Constituicao norte-americana a 13° Emenda, estabelecendo 0 fim da escravidao em todo o pais. Adotou também as tarifas protecio- nistas que consolidavarn o modelo econémico desejado pela burguesia do norte, e que de fato { i | [SISTEMA ANGLO DE ENSIND a VESTIBULARES deram novo alento ao processo de industrializa- (40. Lincoln no viveu muito tempo apés a guer- a, pois foi assassinado poucos dias apés o en- cerramento do conflito por um sulista charnado John W. Booth (1838-1865), Além da libertagao dos escravos e do elevado: niimero de mortos, uma das prineipais conse- qiiéncias da guerra foi a submissao politica ¢ econémica do sul ao norte. Mas dentro do siste- ma federativo que caracteriza o pais, cada estado tinha forte dose de autonomia; portanto, as elites brancas proprietarias de terras continuaram exercendo 0 poder local. Foi mantido o regime de grande propriedade, o que contribuiu tam- bém para que essa elite continuasse poiderosa, embora nao tivesse condigdes de rivalizar com a burguesia yankee (referéncia aos habitantes do norte). Apésa aboligio imposta pelo norte, os estados do sul adotaram regimes de segregagao racial, isto é, de separago e discriminagao da popula- ao negra. Com 0 final da guerra, membros da elite sulista de origem WASP (branco, anglo- saxo, protestante) passaram a organizar grupos racistas que combetiam a integragao da popu- lado negra e defendiam a segregagio, O mais famoso desses grupos era o Ku-Klux-Klan. A segregac&o durou até jA bem avangado 0 século XX, e'86 foi detrubada gragas & mobi- lizagao da populago negra em torno do movi- mento pelos Direitos Civis, em que se destaca- ram lideres como o pastor Martin Luther King (1929-1968). Durante a década de 1960 proprio governo federal, sensivel A mobilizagao e As reivindicacées da populagao negra, forcou os estados do sul a adotar medidas anti-segregacio- nistas, o que desagradou muito a elite branca lo- cal. Agindo na clandestinidade, esses grupos racistas passaram entéo a adotar prdticas terro- ristas contra ativistas e simpatizantes da causa dos negros. ‘Submetidos inicialmente & escravidao e depois a segregacao, muitos negros do sul migraram para os estados do norte, mais tolerantes. Essa populaggo acabou por se converter em méio-de- obra na indistria do norte, concentrando-se em cidades como Chicago, Detroit, Washington e Nova York. SISTEMA ANGLO OF ENSINO. 18 voy 1 ORIGENS A partir da segunda metade do século XIX, as principais na- des industrializadas do mundo passaram a adotar politicas ex- pansionistas agressivas, as quais, Jevaram a formagéo de impérios. Nesse contexto, Asia e Africa, até entio marginalmente inte gradas 4 economia capitalista, passaram a ser o principal alvo de um novo surto colonial: trata- se do neocolonialismo. ‘Uma de suas principais cau- sas foi econémica. A expansao da industrializacio, notadamen- te a Segunda Revolugao indus- trial da segunda metade do sé- culo, resultou no surgimento de novas demandas nas econo- mias capitalistas, essencialmen- te a ampliagdo do mercado con- sumidor e de novas fontes de matérias-primas. A medida que se dinamizava a economia capi- talista, com a aceleragao cada vez maior do processo de re- produgao do capital, fazia-se necessério o estabelecimento de novas areas para sua aplica- Jo. Mineragéo na Africa do sul, agricultura na fndia, nave- gacdo fluvial no Egito, ferrovias na China, uma infinidade de no- vas oportunidades de investi- mento se abriam para 0s deten- tores do capital. A depressao da década de 1870 também pode ser‘considerada um fator, uma vez, que a abertura de novas frentes econémicas acenava pa- ra superacao da crise. . Outra causa foi de ordem de- mografica. O aumento da ex- 0 inmerialismo no Século XIX pectativa de vida promovido pe- la Revolucao Industrial fez com que a questo demogréfica pas- sasse @ ter importincia vital na Europa. Diversos governos eu- ropeus ja estimulavam a emi- gracdo rumo a América e pas- saram a ver também a coloni- zagao da Asia e da Africa como uma “valvula de escape” para seus problemas populacionais. Territérios como Argélia, Africa do Sul ¢ Australia passaram a receber grande contingente de imigrantes, os quais em alguns destinos (por exemplo, na Aus- tralia) chegaram a ser mais nu- (Holenda EVA’ 5 (odepeado de: Ec HOBSBAWM ~ A Bra dos impéros, 8751814. RU, Paz eTerr, 1988 p.471 “A Erado Copial 10104675. Ri, Paze Tera, 019,2% od. pp. 317-318) Fatores estratégicos contri- buiram com a expansio impe- rialista, na medida em que o desenvolvimento do comercio maritimo internacional e a ex- pansio da navegagao @ vapor (consumidora em larga escala de carvio) levavam as grandes poténcias mundiais a tentar es- tabelecer postos militares e de abastecimento em locais onde as rotas se cruzavam e circula- va grande niimero de navios. Finalmente, pode-se falar de fatores ideolégicos, uma vez que a ocupagao de territérios africanos e asiaticos e 0 domi- nio sobre suas populagdes justi ficavam-se como “missao cis zadora”, isto é, iniciativa de le- var aos povos “atrasados” des- ses continentes os grandes avangos da civilizacao européia. Nas palavras do poeta inglés Rudyard Kipling (1865-1936), essa tarefa era o “fardo do ho- mem branco’. Tal concepgao denota o etnocentrismo euro- peu, ou seja, a certeza sobre a superioridade de sua cultura e a decorrente convicgao de que ‘outras civilizagées, por serem Giferentes, sao “inferiores”. “Muitos dos que partiram da Eu- ropa para a Africa acreditavam nisso, logo, o discurso servia, sobretudo, para mascarar o ver- dadeiro fim dessas empre: exploragao econémica. Ainda no que se refere & ideo- logia, a teoria racista do “dar- winismo social” teve grande importancia, Desenvolvida pelo fil6sofo inglés Herbert Spencer (1820-1903), buscava adaptar & sociologia a teoria evolucionista da “sobrevivencia do mais apto”. De acordo com essa teoria, as sociedades e as nages se én- SISTEMA ANGLO DE ENSINO be 19 ‘VESTIBULARES: contravam em Juta, e, no futuro, apenas as mais adaptadas iriam sobreviver, ao passo que os “in- feriores” seriam subjugados ou eliminades. O dominio imperialista se fazia através da con- quista militar seguida do estabelecimento de uma administraao metropolitana no territério domi- nado. Sempre que possivel, a poténcia coloniza- dora buscava atrair 0 apoio de elites locais ou mesmo criar um corpo de funcionérios nativos, fiis & autoridade da metrdpole, Dessa forme, ga- rantia-se que a exploragdo econémica da colénia se daria em consonéncia com as necessidades do capitalismo industrial. ‘Nesse contexto em que Africa e Asia eram sub- metidas & colonizagao européia, os paises da Amé- Tica Latina mantinham uma estrutura econémica muito semelhante a das novas colénias (lembre-se da situagéo do Brasil no século XIX), Ou seja: ex- portavam géneros agricolas e importavam pro- dlutos industrializados. Todavia, esses paises ja ha- viam proclamado oficialmente sua independéncia politica no infcio do século XIX. Por isso no Jos considerar o colonialismo formal na Asi na Africa, onde havia exploracdo econémica e do- minagao politica, igual ao colonialismo informal na América Latina, onde a exploracao econémica convivia com a independéncia politica. Figur slo do 1915 itcando os am Imports ingles Ge doninic mondan A PARTILHA AFRO-ASIATICA Bi Africa Entre o final de 1884 e o inicio de-1885, qua- torze paises com ambig6es coloniais se reuniram, na Conferéncia de Berlim; com 0 intuito de repartir 0 territério africano entre si. A Inglaterra foi a grande beneficiada com a partilha do con- jente, pois passou a controlar um extenso terri- rio, que inchufa, entre os outros, o Egito € vale do rio Nilo (0 que lhe garantia o controle sobre o canal de Suez}, a Somiélia briténica (¢ 0 acesso maritimo ao mar Vermelho), 0 sul da Africa (e a li- gacao Indico-Atlantico, além de imensos depé- sites yaineras) a Nigeria (um dos territérios mais populosos da A Bélgica consolidou seu dominio sobre o imenso territ6rio do Congo, situado na Africa Central, cuja posse era reivindicada como pro- priedade pessoal de seu rei, Leopoldo II, desde 1875. A Franga passou a controlar um grande territério.no norte da Africa e nas fronteiras do Saara Ocidental, enquanto Portugal continuava mantendo © controle sobre Angola e Mogambi- que, possessées coloniais desde ha muito portu- guesas. SISTEMA ANGLO DE ENSINO| i i i i D Asia No que se refere & partilha da Asia, as potén- jas ndo a negociaram como fizeram com a Africa na Conferéncia de Berlim. Nesse caso predomi- naram os interesses dos colonizadores ja instala- dos ali em ampliar seus territérios coloniais (co- mo caso da Inglaterra, que iniciou a ocupa¢io da india em 1763, eda Holanda, que comegou a se estabelecer nas Indias Orientais a partir de 1605); houve espa¢o.também para novas inicia- tivas isoladas (por exemplo, estabelecimento francés no sudeste.asidtico a partir de 1858) e o estabelecimento de zonas de influéncia sobre o grande império chinés. ‘A China, a0 contrério de outros territérios cobi- ados pelas poténcias colonizadoras, ja era urn im- pério centralizado desde, pelo menos, 0 século XIV. ' Apés os primeiros contatos com os europeus (por- +. tugueses, precisamente) no século XVI, os chine- ses progressivamente passaram a optar pelo iso- ; lamento em relagao ao Ocidente. No século XIX, 0 Chamam a atengao as reduzidas dimensoes dos territérios africanos controlades por Ale- manha e Itdlia. Esses paises, unificados tar- diamente, ainda nao tinham influéncia politica suficiente para éxigir possessdes coloniais. Che- ma a atengio também a autonomia da Etiépia, reino independente situado na Africa Oriental, em territério montanhoso e de dificil acesso, que 36 foi conquistado pelos europeus no sé- culo XX. ° CGMP hn ences ARICA ORENTAL ‘BRITARICA UGANDA (RRR ESPANA TALIA BELGICA ALEMANHA, interesse inglés em explorar o j vasto mercado consumidor chinés, fez com que iniciasse 0 tréfico de épio para a China. Em 1839, o governe chinés apresou a carga de dpio de diversos navios ingle- ses em Canto}, inutilizando-a. Este incidente ser- viu de pretexto para a Inglaterra, invocando os principios do livre comércio, declarar guerra 4 China, A Guerra do Opio (1840-42) resultou em vitéria inglesa e na assinatura de um tratado de paz, o Tratado de Nanquim, que estabeleceu a abertura de cinco portos chineses para o livre co- meércio, além da entrega da ilha de Hong Kong para a Inglaterra, que a transformou em colénia. ‘Neste livro, usamos a grafia tradicional de nomes chineses para a lingua portuguesa. A introduce do sisteme Pinyin pe- Ja Ching em 1979 e seu reconhecimento no mesmo ano pela 1SO (Onganizagdo Internacional para Padronizaggo), resutow na adogao de uma nova grafia, cada ver mais freqbente tam- bbém em portuguds. Assim, nomes de lugares como Pequimn, Cantdo e Tienisin, ou de pessoas como Mao Tse-tung (por exemplo} so grafados no sistema Pinying como, respecti- ‘vamente: Bejing, Guangzhou, Tianjin e Mao Zedong. [5 SiTEMA ANGLO DE ENSINO 2 VESTBULARES Mais tarde, novos conflitos envolvendo o comércio ilegal e a atuaco de missiondrios europeus resultaram na assinatura de novos tratados (Tientsin, 1858; Pequim, 1860) ¢ no estabelecimento de reas de influéncia da Franca, Russia e Estados Unidos na China. A partilha do territério chinés entre ‘essas poténcias (e mais tarde entre a Alemanha e Japio) acabou por transformar o pais em “quintal do mundo”. Renee cnn icicesiien Gi A RESISTENCIA AO IMPERIALISMO ‘A penetragdo européia nos continentes afri- cano e asiatico, e a imposicao de novas formas de ‘organizagao econémica ¢ social, além de uma no- va cultura, incitaram as populagoes nativas a organizar movimentos de \cia. Pouco su- cesso tiveram, diante da superioridade técnica e militar das forgas armadas da era industrial (dota- i canhGes de aco, metralha- interna e fragmenta- 40 politica, realidades predominantes na maior parte da Asia e da Africa. Porém, trés movimen- tos de resisténcia se destacaram por sua tenaci- dade e capacidade de mobilizacao. © primeiro foi a Guerra dos Sipaios (1857), na fndia, também conhecida como o "Grande Motim Indiano”. A palavra “sipaio” faz referéncia aos soldados nativos recrutados pelo exército in- glés na India. O movimento organizado em torno do sentimento de insatisfagdo com a autoridade inglesa se iniciou nos quartéis e envolveu a po- pulago, exigindo que a Inglaterra reagisse com uma ampla mobilizagao militar. A violenta re- pressio inglesa deixou milhares de-mortos. Mais tarde, na China, ocorreu a Revolta dos Boxers (1900). A expansao do nacionalismo chi- nés diante das crescentes humilhagGes impostas. ao pais desde o Tratado de Nanquim (1842), re- sultou na organizagao de grupos xenéfobos € an- ticristdos (ou anti-ocidentais), dentre os quais a “Sociedade dos Punhos Harmoniosos” era 0 mais famoso. Em junho de 1900, simpatizantes do movimento, com o apoio de tropas do Exér- cito Imperial chinés, atacaram estabelecimentos estrangeiros e embaixadas em Pequim e Tientsin. O movimento se espalhou rapidamente pelo nor- te da China. Diante dessa situagao, os coloni- zadores organizaram um exército multinacional, formado por tropas da Inglaterra, Franga, Ale- manha, Italia, Austria, Russia, Estados Unidos é Japio. O discurso do imperador alemfo, Guilherme 1, feito na despedida 4s tropas que embarcavam pa- raa China, nos dé a nogao de quao violenta pre- tendia que fosse @ represso ao movimento: “Tal como os Hunos ha mil anos, sob comando de Ati- Ja, ganharam uma reputagao qpie ainda hoje vive na histéria, assim também possa o nome Alema- nha tornar-se de tal modo conhecido na China ‘SISTEHA ANGLO DE ENSIN 2 ‘VESTIEVLARES. a ae que nenhum chinés jamais ouse novamente olhar com desdém um alemndo’. terceiro grande movimento de resisténcia ao imperialismo foi a Guerra dos Béeres (1899-1902) na Africa do Sul. Como vimos, o estabelecimento inglés no sul do continente africano, iniciado no fi- nal do século XVIII, provocou o deslocamento da \ populaco afrikaner, de origem holandesa, para o i { | interior, onde fundaram as repuiblicas de Orange e Transveal. A descoberta de ouro e diamantes em Johannesburgo e Transvaal atraiu grandes contin- gentes de estrangeiros, principalmente ingleses ‘que cobigavam as terras dos fazendeiros afrikaners, chamacios também de béeres. Em outubro de 1899, 08 atritos resultaram na querra entre béeres e In- glaterra, Apés alguns sucessos iniciais, os béeres no resistiram ao crescente engajamento militar inglés e foram derrotados em 1902. El O IMPERIALISMO JAPONES No processo de expansio imperialista, o Japio representa um caso peculiar. Assim como a Chi- nia, 0 Japio teve breve contato com europeus (no- vamente portugueses) no século XVI e se fechou para a influéncia estrangeira em seguida. No sé- culo XIX, a estrutura politica japonesa lembrava o feudalismo europeu, com o poder baseado nos aristocratas (os daimios), por sua vez mantidos no poder através do servico de guerteiros contra- tados (os samurais), Havia ainda um comandente militar supremo, © xogun, responsavel pela defesa das ilhas no ca- so de invasdo estrangeira e cujo cargo era here- ditario. Durante o longo xogunato da familia ‘Tokugawa (1603-1868), sediado em Edo (Toquio), © pais fechou-se aos europeus. A autoridade do imperador, ou micado, sediado em Kyoto, era meramente formal, pois o poder se concentrava nas maos do xogun, por sua vez sempre em con- flito com a aristocracia local. Em 1853, uma poderosa frota norte-americana, liderada pelo comodoro Matthew Perry, entrou na baia de Téquio e forcou o Japao a assinar um acordo de livre coméreio. Em seguida, outros paises europeus tomaram iniciativas semethan- tes, tentando repetir no Japao o que havia sido feito na China anos antes. Porém, em 1868 a populagéo, tomada de um sentimento fortemente nacionalista, insurgiu-se |) contra o xogunato. O jovem imperador Mitsuhito » (1852-1912) foi colocado na vanguarda do movi- mento que centralizou 0 poder, desarmando gru- Pos de militares e aristocratas e promovendo um { Verdadeiro pacto entre as elites, visando com- bater a crescente influéncia estrangeira no pais. Tinha inicio a Era Meiji, periodo de moderniza- do e ocidentalizagao do Japio. O estado japonés passou entio a coordenar o desenvolvimento de iniciativas industriais, contra- tando técnicos (sobretudo engenheiros) estran- geiros e enviando grande nimero de estudantes Japoneses para 0 exterior. O desenvolvimento dos zaibatsus, grandes conglomerados manufatueiros e banqueiros controlados por familias, acabou por possibilitar a industrializagao do pais. Carente de recursos naturais, 0 Japo em pou- co tempo passou a ser agente de uma agressiva politica imperialist; seu primeiro alvo foi a China. Entre 1894-95, ocorreu a Guerra Sino- Japonesa, de que 0 Japao saiu vitorioso. Essa guerra abriu caminho para a dominagio japo- nesa sobre a Coréia, Manchtiria e Taiwan (a ilha de Formosa). Em seguida, entre 1904-05 ocorreu a Guerra Russo-Japonesa. A espetacular vi- toria japonesa sobre uma poténcia européia re- sultou nao apenas na anexacdo de territérios até ento russos na China, mas também na conso- lidacdo do Japéo como grande poténcia. §@ O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO Apés a Guerra de Secessio, acelerou-se nos Estados Unidos 0 processo de industrializacdo, escorado em um mercado consumidor em plena expansio, por sua vez fruto da chegada maciga de imigrantes ao longo do século XIX. A expan- so territorial rumo ao Oeste j4 configurava um processo de expansio imperialista, que teve con- finuidade mesmo apés a delimitagao das fron- teiras do pais. Os principais alvos da expansio imperialista norte-americana a partir do final do século XIX foram a América Latina e a Asia. A origem das ambic6es norte-americanas em relago a América Latina pode ser buscada na Doutrina Monroe (1823) e na ideologia do Des- tino Manifesto, Durante o governo de Theodore Roosevelt (1858-1919, tendo governado por dois mandatos consecutivos entre 1901-09), foi ela- dorado 0 Corolério Roosevelt, que comple- mentava a antiga doutrina: os Estados Unidos nio apenas rejeitavam a influéncia européia no continente como também se reservavamn 6 direito de se valer da forca para intervir nos pafses lati- no-americanos caso seus interesses fossem ameagados. Inaugurava-se um periodo de segui- das intervengoes na América Latina, principal mente na América Central, no México € no Cari be. Essa politica ficou conhecida com a “politica do grande porrete” (Big Stick Policy). 'SSTEWA ANGLO DE ENSINO| VESTIBULARES Em 1898, os Estados Unidos langaram a pri- meira grande guerra imperialista no Caribe, a Guerra Hispano-Americana. Usando como pretexto a “libertagio” das tltimas colénias espa- nholas na América, Cuba e Porto Rico, os Estados Unidos intervieram na guerra entre espanhéis € nacionalistas cubanos ¢ derrotaram uma Espanha ha muito decadente. Seguiu-se a essa derrota a anexagdo de Porto Rico e a proclamacao de uma independéncia de fachada em Cuba. De fato, a re- piiblica de Cuba passou a ser dominada economi- camente pelos Estados Unidos, a ponto de sua constituicdo ter uma emenda constitucional redi- gida por um senador norte-americano. A Em da Platt dispunha sobre o direito norte-ameri- cano & intervengdo armada no pals sempre que achasse necessério ¢ sobre a cessao de parte do territério cubano aos Estados Unidos para que ali fosse estabelecida uma base, a de Guanténamo. Um dos mais significativos exemplos do in- tervencionismo dos Estados Unides na América Latina deu-se no contexto da construgao do canal do Panamd. Em 1903, o governo norte- americano encorajou um grupo de latifundiarios do istmo do Panamé a proclamar sua indepen- déncia da Colémbia. Os Estados Unidos imedia tamente reconheceram 0 novo pais e enviaram tropas para garantir sua seguranga. Em seguida, 0 novo governo concedeu ao gaverno norte- americano, em caréter perpétuo, 0 direito de construir e administrar um canal ligando o Atlntico ao Pacifico. Somente em 1999 os Esta- dos Unidos entregaram a Zona do Canal ao esta- do panamenho. ‘Além de Porto Rico, a vitéria na Guerra Hispa- no-americana de 1898 resultou na anexagao, pelos Estados Unidos do arquipélago das Filipi- nas, no leste asiatico, O crescente envolvimento dos Estados Unidos nos negécios chineses (in- cluindo a participagao na represséo a Revolta dos Boxers de 1900) e a anexago do arquipélago havaiano, em 1898, sa0 exemplos da expanse do imperialismo norte-americano na diregao do Oceano Pacifico e leste asidtico. > aupagso (data) > lnfudncia SISTEMA ANGLO D§ ENSINO 24 ‘VESTIBULARES | | | i CAUSAS A Primeira Guerra Mundial faz parte de uma seqiéncia de transformagGes decorrentes do processo de industrializaco ini- ciado na segunda metade do século XIX. Nesse periodo, a economia européia j4 se havia expandido com o desenvolvi- mento do capitalismo financei ro e monopolista, que permitia a ampliagao dos intercdmbios internacionais. As grandes poténcias capita- listas, vendo seus mercacios sa- turados, passaram entao a dis- putar 08 territérios disponiveis na Asia e na Africa. A Inglater- ra era a maior detentora de ca- pitais, e a Franca contava com. importantes meios de pressio, nascidos de seu poder econd- mico sobre varios Estados. A Ritssia, a Itdlia e o Império Aus- tro-Htingaro nao tinham condi- Ges de combater a hegemonia inglesa ¢ francesa, mas a Ale- manha, desenvolvendo sua in- dustria exportadora, ascendeu rapidamente - e apesar de no possuir um império colonial, langou-se 4 concorréncia com as outras poténcias. - Outra mudanga significativa era a chegada de dois competi- dores de peso ao cenério inter- nacional: os Estados Unidos e 0 Japao em franco progresso eco- némico e dispondo de forte ma- rinha de guerra, comecavam 2 ter voz ativa nas aliangas e con- feréncias. 1914-1918) Essas polarizagées multipli- cavam as manifestacdes de na- cionalismo. Os alemaes que- riam controlar a Africa Central, obter numerosas zonas de in- fluéncia e ainda manter vivo na Europa o espirito do panger- manismo — corrente que pro- punha a criacdo de uma “Gran- de Alemanha” reagrupando todos os povos germanicos: ale~ mes, austriacos, sufgos e fla- mengos. Os franceses, por sua vee, mantinham acesa a chama do revanchismo contra a Ale- manha e nao renunciavam a suas reivindicagdes sobre a Al- sécia e a Lorena. Nos Balcis, os pequenos estados eslavos cris- thos do Império Turco Otoma- no desejavam a independéncia, também motivados pelo nacio- nalismo. Por firm, essas lutas foram fa- vorecidas pela industrializagao, que viabilizava a produgdo de armamentos aperfeigoados, ao Passo que os crescentes efe- tivos militares eram conduzidos por novas concepgées estraté- gicas. Os Grandes Choques Imperiatistas ‘As nages imperialistas pro- curavam consolidar os seus dominios na Africa. Assim, coe- xistiam no continente o impe- rialismo inglés, francés e ale- mio. A Inglaterra dominava 0 Alto Nilo, regio cobigada pela Franga e pivo do incidente de Fachoda. Mas foi a crise do Marrocos, entre alemaes franceses, 0 principal conflito internacional. Na Asia, a Inglaterra indis- punha-se com a Franca por causa da Birmania e com a Ruissia por causa da Pérsia (Ira). ‘A partir de 1864, a China tam- bém sucumbiria ao imperia- liso das grandes potéacias; em conseqiiéncia da ocupagio da China, Japao ¢ Russia en- traram em guerra em 1904- 1905 pelo controle da Man- chéria, Quanto ao Caribe e América Central, os Estados Unidos as- sumiram sozinhos a lideranea. © imperialismo econémico também atingiu o Império Tur- co, cujas finangas passaram a depender das poténcias que in- vestiam em sua minerago, es- pecialmente na exploragao do petréleo. No final do século XIX, 2 Alemanha obteve a concessio da ferrovia Berlim-Bagdé — cujo projeto uniria Bagdé (lraque) Istambul (capital do Império COtomano) e chegaria depois a Berlim. Além de escoar petr6- leo para abastecer a industria alemé, a ferrovia permitiria que ‘os turcos detivessem o avango Tusso. Essa expansio alema no Go!- fo Pérsico partindo do Império Turco Otomano tornou-se uma questo internacional que en- volveu a Inglaterra, a Russia e a Franga e acabou acelerando a eclosdo da Guerra. SISTEMA ANGLO DE ENSINO B ‘VESTIBULARES HAs Relasdes Internacionais de 1871 alga Até 1890, as relagdes internacionais tinham sido dominadas pelo habilidoso Bismarck. O Iin- perio Alemao j4 se transformara numa grande oténcia, e o chanceler Bismarck, para consolidé- Ja, procurou instituir uma nova order europé ‘TTemendo o revanchismo francés, encorejou investimentos alemaes na Alsdcia e na Lorenae procurou estabelecer aliangas mais proveitosas para o seu pais, Assim criou a Liga dos Trés Im- peradores, envolvendo numa mesma diplomacia os impérios Aleméo, Austro-Htingaro e Russo. Mas esse sistema faliu com expansionismo aus- trlaco nos Balcds: a Austria anexou a Bosnia ¢ a Herzegévina, frustrando o nacionalismo eslavo da Sérvia, apoiado por sua vez pelo Império Rus- 0, Assim, 0 avango austrfaco levou 0s russos a se retirarem da Alianca. Em 1882, 0 sistema trans- formou-se em Triplice Alianga com a adesio da Itdlia, que reivindicava a Tunisia ocupada pela Franga. As relagGes internacionais de 1890 a 1914 tam- bém foratn marcadas pela aproximagao diplo- matica entre @ Franca e a Russia. Além disso, 0 fato de a Alemanha ter se tornado uma concor- rente de peso da Inglaterra, nos campos econd- mico e naval, levou esta poténcia a unirse com a Franca; formou-se entre os dois paises Entente Cordiale. A Primeira Crise Marroquina (1905) © Marrocos, territério livre da domi- nagao imperialista, tinha grande potencial econémico. A Franca tratou de multiplicar suas iniciativas na regiao, no aceitando ne- nhuma participagio alema. Opondo-se & ingeréncia francesa, Guilherme Il da Ale- manha (imperador de 1888 a 1918) desem- barcou em Tanger, em margo de 1905, ¢ afirrnou a independéncia do Marrocos e a igualdade de direitos de todas as poténcias sobre o pais. A Franga mobilizou suas for- gas militares. Para evitar uma guerra, e 1906 a Inglaterra promoveu a Conferén de Algeciras; estabeleceu-se que os pri légios das poténcias no Marrocos serfam reservados por meio da politica de “portas abertas” a todas as nagoes. A Franca e a Alemanha também assumiram um com- promisso semelhante no Congo. Neste periodo a Inglaterra consotidou sua alianga com a Franga e com a Rtissia; em 1907, formaram a Triplice Entente. A Segunda Crise Marroquina (1911) Novos incidentes voltaram a ocorrer no Mar- rocos. A Alemanha acusou a Franga de desres- peitar as decisGes da Conferéncia de Algeciras e enviou um barco de guerra para ocupar © porto marroquino de Agadir. A fim de se evitar um conflito, em novembro de 1911 os beligerantes firmaram um acordo em. Londres, concedendo liberdade de agao a Franca no Marrocos desde que, em troca, abrisse mao de seus territérios no Congo. No final, isso exa- cerbou o sentimento nacionalista tanto na Fran- ga quanto na Alemanha, pois as nagdes conside- Param a compensagdo insuficiente. Tensdo Balednica (1908-1909) A penfnsula Balcdnica agrupava varias nagdes e etnias sob o dominio dos impérios Austriaco e Turco. A Sérvia era um estado eslavo indepen- dente, e pretendia formar com a Bésnia, Heree- govina, Crodcia, Eslovénia e Montenegro uma unidade, a Iugoslavia. Esse projeto sérvio contava, com 0 apoio do Império Russo, mentor do pa- neslavismo. Em 1908 eclodia a Revolugo dos Jovens Tur- cos no Império Otomano. Liderada por jovens Oficiais do exército, pretendia reorganizar e mo- dernizar o pais a fim de'limitar as influéncias das grandes poténcias. Temendo esse movimento, a Bulgaria proclamou sua independéncia. A Austria, ‘por sua vez, reafirmou 0 seu dominio sobre a Bés- nia e a Herzegovina, contando com apoio alemao. Bauniasuror tei) Rats M ELLY SISTEMA ANGLO DE ENSINO Em conseqtigncia, entre 1912 e 1913 ocorre- ram a Primeira e a Segunda Guerra Balcanica, Os turcos sairam dela derrotados, e as terras na peninsula Balcdnica foram repartidas, acirrando a disputas entre as nacionalidades na regio, Os turcos, ademais, acabaram perdendo territorios na Europa, e conseguiram manter apenas uma esireita faixa de terra no continente, A fragilida- de do Império Turco preocupava a Alemanha i teressada em manté-lo para preservar a estrada Ge ferro Berlim-Bagdé. @ A Caminho de uma Guerra Geral No Marrocos e na peninsula Balcdnica as cri- ses tomaram precdria a situagdo de paz. O arma- mentismo e a expansao do nacionalismo acirra- ‘vam as tensdes. As grandes nacdes preparavam- se para um conflito generalizado, aperfeigoando seus armamentos, multiplicando seus efetivos militares e estreitando os acordos de cooperagao. A Crise de Julho de 1914 Os dirigentes do Império Austro-Htingaro pre- tendiam neutralizar o nacionalismo sérvio na pe- ninsula Baleanica. Mas no dia 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo, na Bésnia, o arqui- duque herdeiro do Império Austro-Htingaro, Francisco Ferdinando (1863-1914), foi assassi- nado. O crime foi cometido com a aparente cum- plicidade de oficiais da Sérvia pertencentes a uma faccao nacionalista denominada Mao Negra. Francisco José, imperador da Austria, aprovei tou-se do incidente para tentar eliminar a in- fluéncia sérvia nos Balcas. Com o apoio da Alemanha, a Austria dirigiu 4 Sérvia um ultimato. Mas como a Franca e a Russia deram seu apoio a Sérvia, o Impé- rio Austro-Hingaro sus- pendeu as negociagdes e mobilizou suas tropas, No dia 28 de julho, o Im- pério Austro-Hungaro in- vadiu a Sérvia, e a engrena- gem das aliancas foi acic nada, anunciando a imi néncia da guerra. A Russia mobilizou suas tropas, ea Alemanha declarou-lhe guerra. No mesmo dia foi » decretada na Franga a mo- " Dilizagao geral contra a Ale- iha. Os ingleses, que » inicialmente muttiplicavam + ollados as tentativas de negociacao, ante a violagdo da neutralidade belga pelos alem&es também decla- raram guerra 4 Alemanha. iO CONFLITO A Guerra de Movimento (1914) No infcio da guerra, Franca, Russia, Inglaterra, Sérvia e Bélgica estavam unidas contra a Ale- manha e o Império Austro-Hiingaro. A Itdlia, contrariando sua posigao na Triplice Alienca, proclamava-se neutra, embora reivindicasse 4 Austria territérios fronteirigos. A Entente mostrava-se superior por contar com nagdes ricas em matérias-primas e com acesso &s grandes rotas maritimas. Porém, os alemées e os austriacos haviam se preparado melhor para a guerra. Foi a Alemanha que as- sumiu a lideranga das operacdes militares. ‘Desde a Alianca Franco-Russa, os alemies ha- viam elaborado um plano de luta em duas fren- tes: 0 Plano Schlieffen previa um ataque-surpre- sa através da Bélgica, que lhe permitiria vencer 0 exército francés em seis semanas para depois enfrentar os russos — eis um indicio de que as na- gOes acreditavam que uma guerra de movi- mento se decidiria rapidamente. Apesar do rapido avango que os levou até as portas de Paris, em setembro os alemaes foram Gerrotados na batalha do Mame. O elevado nui- mero de mortos e 0 esgotamento dos exércitos acabaram levando & estabilizacao da frente. iat ei > PosigSes do exérclto alemio > contra-cfensiva francesa Limite do avango alemao am 1918 — Frente estabelacida a partir de 1914 SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTIULARES 27 A Guerra de Posigéio ou Guerra de Trincheira (1915 a 1918) No fim de 1914, nenhum exército fora subme- tido; contrariando as previsdes, a guerra dava si- nais de que ia ser muito longa. Os combates assu- miram uma nova forma, que colocaria em jogo todas as forgas econémicas e demograficas dos beligerantes: os exércitos passavam a fixar-se em trincheiras. Os soldados das primeiras linhas viviam em cima de tensio, em condigées higiénicas deplo- rveis. Foram introduzidas novas armas - como canhGes de grosso calibre (380 a 420mm), mortei- Tos, g4s asfixiante e venenoso, langa-chamas, além de granadas, baionetas, fuzis e metralhado- ras. Também foram utilizados aviago e dirigiveis (zepelins). A importancia dos armamentos na guerra da era industrial levou as nagdes a uma verdadeira mobilizagao. A mo-de-obra feminina veio suprir a falta de trabalhadores devida a am- pliagio do alistamento e a maxima utilizagao dos Teservistas ~ os paises da Entente recorreram até as tropas coloniais. Desde 1914, os aliados haviam iniciado 0 blo- queio maritimo 4 Alemanha. Em 1915, os alemaes declararam as Ihas Briténicas como zona de guerra. A Inglaterra respondeu estendendo o Dioqueio a totalidade das mercadorias destinadas a0 inimigo. Em 1915, a Itdlia entrou na guerra, ao lado da’ Entente (logo chamada de bloco dos Aliados), vi- sando conquistar territérios na Austria. No mes- ‘mo ano, a Turquia entrou na guerra ao lado da Alemanha e da Austria, consolidando 0 bloco das- Poténcias Centrais. Em 1916, ocorreram as mais violentas batalhas do conflito, em ‘Verdun, na Franca, quando franceses e alemiies,'a0 longo’ de meses, lancaram sucessivos atdques. A bata- Jha resultou em mais de um mill de baixas, én-. tre mortos e feridos, sem que houvesse conquis- tas tervitoriais signiticativas. A partir de 1917, o prolongamento da gueria ° | passou a afetar duramente o moral dos comba-. tentes, Renasciam entio as correntes pacifistas. Na Sufca, alguns socialistas, entre os quais o rus- so Lénin, propunham que todo esforgo de paz deveria voltar-se para a construcdo da revolugao proletéria: alegava que “a luta pela paz 6 apenas @ tuta pela realizagao do socialismo”; combatentes e trabalhadores deveriam, segundo Lénin, exigir uma paz sem anexagGes nem indenizacdes. A es- sas tendéncias pacifistas somavam-se as propos tas dos sindicalistas na Franca, na Alemanha e, sobretudo, na Rtissia, onde o regime czarista de- clinava em virtude da corrupeao e da ineficiéncia: SISTEMA ANGLO DE ENSINO 2 minado pelas oposigées revolucionérias, o regi- me mostrava-se incapaz de rhanter a ado militar. i EB O Desentace (1917-1918) © comando militar alemao, encabegado por Erich von Ludendorff, dispés que seria atacado q todo navio inimigo ou neutro que trafegasse nu- | ‘ma determinada zona de guerra ao'longo do lito- ral da Europa Ocidental. Esperava que em seis meses a guerra submarina provocaria a capitula- Go inglesa, em conseqiiéncia da paralisagao de sua economia. Essa politica feria diretamente os interesses dos Estados Unidos, cujo presidente, | Woodrow Wilson (1856-1924, mandato presi- ' dencial de 1913 a 1921), estivera até entdo inclina- doa uma estrita neutralidade. A opinitio ptiblica norte-americana, que simpa- tizava com a Franga e com a Inglaterra, e a pres- so dos bancos, dos quais as poténcias da Entente eram devedoras, levaram Wilson a rever a posigaio dos Estados Unidos. Sob o pretexto de que navios de guerra americanos haviam’ sid@ atacados,’os Estados Unidos intervieram nos conflitos em abril de 1917, e Wilson dew a sua patticipatao ¢ sentido ., de uma cruzada pl Iberia va Semele . Entretanto, sia.a préssdo.revolcionaria socialista:¢ losamenté; deciditam ¢colaborar para'a precipitagao da revolugao- Russis f cllitando o rétorhd de Lénin cio de novembro de 1917, os 5 bolehevistés toma- ) eriftacied ei novo governo & seu Proje beleceu-négociagdes ‘imediatas: cont misticio em detembro de.1917 &, = trais passaram:eftao a’réunir Conaigoe ‘para Jangar uma grande ofensiva contra afr comando, dé ‘qpial o genéral Fer tornou comandante~ seri chefe.) des Indo de soldados cesombarearan na Franga a8 gurando a superioridade dos aliados; Nese ma 5 esulta Sal6nica triunfava na Grécia. As poténcias centrais recuaram sensivelmen- te, e a contra-ofensiva aliada progrediu num ritmo regular: o norte da Franga e a Bélgica Oci- dental foram reocupados, e um exército franco- sérvio partiu da Salénica, penetrando pela Mace- dénia. A desagregacdo interna e os movimentos revolucionarios socialistas, contrarios 4 guerra, acelerou a queda das poténcias centrais ameaga- das pela ofensiva aliada. A Bulgaria foi a primeira a solicitar um armis- ‘Temendo uma ofensiva em Constantinopla, a Turquia negociou a paz com a Inglaterra, em outubro. O Império Austro-Hingaro, em conse qiiéncia de suas derrotas militares, concedeu as minorias o direito de afirmarem suas naciona- lidades: a Republica da Tchecoslovaquia foi pro- clamada em Praga; em um Consetho Nacional anunciava sua intengao de constituir com sérvios, croatas e eslovenos tum Estado iugoslavo. A Hun- gria separou-se da Austria, Carlos I da Austria esperava conservar seu trono, mas retirou-se do poder no final de outubro; era o fim da dinastia Habsburgo. Em 3 de novembro, os austriacos aceitaram o armisticio. Na Alemanha, a situacdo também era insusten- tavel. Greves e revoltas ganharam 0s portos € os grandes centros industriais, atingindo também 0 exército, A agitapao revoluciondria levou & abdi- cacao do imperador Gui- | lherme I e & proclamagao |” da Republica. O novo gover- no assinou o Armisticio de Compiégne em 11 de no- vembro de 1918. Terminava assim a Primeira Guerra Mundial. = A PAZ DE VERSALHES (1919) ‘A Conferéncia de Paz, que reuniw 32 paises, realizou-se em Paris em janeiro de 1919, Os palses vencidos no par- ticiparam; foram somente convocados para assinar os tratados elaborados pelos vencedores. Embora hou- vesse assernbléias plendrias na Conferéncia, as verda- » deiras decisdes foram toma- das pelo Conselho dos Qua- ‘tro: Wilson (Estados Uni- fos), Clemenceau France), loyal George (Inglaterra) € Orlando (Italia). Mar Medtarénee Os principios das negociagdes baseavam-se em Quatorze Pontos de paz propostos pelo pre- sidente Wilson em janeiro de 1918, em mensa- gem ao Congreso dos Estados Unidos. Eles con- denavam a diplomacia secreta; reclamavam a ate- nuagao das barreiras alfandegarias entre os esta- dos, a redugao dos armamentos ¢ a liberdade ab- soluta de navegagao maritima, No que concerne &s conseqiiéncias da guerra, preconizavam um regulamento dos litigios territoriais segundo o principio das nacionalidades. Além disso, expri- miam o desejo de prevenir qualquer conflito fu- turo através de uma Associagao Geral das Na- Ges, a ser criada. Embora houvesse desentendimentos entre os vencedores, estabeleceram-se varios tratados. Além do de Versalhes, com a Alemanha, os ven- cedores assinaram o de Saint-Germain com a Austria, o de Trianon com a Hungria, eo Tratado de Sévres com a Turquia. Em abril de 1919, esta- beleceu-se um acordo sobre a formacdo da Liga das Nagées, incorporado como preambulo ao ‘Tratado de Versalhes. O Tratado de Versaihes estabelecia para a Ale- manha a perda de territérios na Europa, prin- cipalmente a Alsdcia e a Lorena, devolvidos a Franga, e também tima faixa de terra destinada a dar acesso ao mar para a Polénia reconstitufda. (BD Tarvin caadoe pale Atta eo 'SSTEMA ANGLO.OE ENSINO vESTULARES “corredor polongs”, como foi chamado, sepa- rava a Prissia Oriental do resto da Alemanha. ‘Além disso, determinou que a Alemanha perdia as colénias na Asia e Africa, agora divididas en- tre Franga, Inglaterra e Japao (em guerra junto 20s Aliados desde 1915). Os alemies também foram obrigados a reco- nhecer sua responsabilidade no desencadea- mento do conflito e foram obrigados a pagar in- denizagdes aos vencedores. A Alemanha foi obrigada ainda a desarmar-se. © Império Austriaco foi desmembrado. A Hungria tornou-se independente, bem como a ‘Tehecoslovquia. A Sérvia absorveu a Bésnia, a Herzeg6vina, a Eslovénia e a Crodcia. Criava-se entao a lugoslavia (“pais dos eslavos do Sul’). © Império Turco Otomano foi liquidado, pro- clamando-se a Republica na Turquia. Os territé- rios arabes até ento dominados pelos turcos fo- ram divididos entre Franga e Inglaterra. passa a Sr left Portolieme dos grandes A regulamentagao da paz recebeu inimeras criticas, pois varios tratados apresentavam lacu- nas que contrariavam os principios da Liga das Nagées ¢ beneficiavam os grandes paises. A cria- ao de novos estados foi muitas vezes arbitraria — como no caso da Polénia, cujo “corredor” que- brava a unidade territorial alema. Importantes minorias foram reunidas em di- versos paises da Europa central; assim, a Tehe- coslovéguiia passou a agrupar tchecos, eslovacos, alemfes, magiares e polonéses; mals de 14 mi- IhGes de eslavos foram separados em Estados distintos. Outras questSes nic foram definitiva- mente resolvidas: 0 porto de Dantzig era recla- mado pelos poloneses e alemaes; 0 de Memel era reivindicado pelos alemaes e lituanos; o de Flume, pelos italianos e iugoslavos, Alguns ven- cedores ~ como os romenos e italianos — safram insatisfeitos das negociagées. A situagao mais grave, porém, era a dos ven- cidos, que foram julgados e obrigados a aceitar 9s acordos sem que lhes fosse dado 0 direito, de defesa. Os alemées protestaram contra as con- digdes que Ihes foram reservadas e, a seus olhos, 9 Tratado de Versalhes nao foi mais que uma imposigao. & OS EFEITOS DA GUERRA A Europa até entdo no conhecera uma guer- ra tao longa e desastrosa. O saldo da Primeira Guerra Mundial foram mais de nove milhdes de mortos e um grande ntimero de mutilados e viti- mas das epidemias e da fome que sucederam os conilitos. A Franca e a Alemanha perderam um quinto dos homens de 20 a 40 anos, o que obri- gou a industria a empregar cada vez mais mu- lheres, acelerando o movimento de emancipagao feminina. Regides inteiras da Europa foram destruidas, como a peninsula BalcAnica, a Polénia Oriental, 0 ocidente russo, 0 nordeste da Franga e a Bélgica, que tiveram seus campos arrasados, suas estra- das, instalages portudrias e algumas cidades completamente destruidas. As dividas externas cresceram, ¢ a inflacao provocou a depreciagao de varias moedas (libra: 27%; franco: 63%; marco: 98%), empobrecendo muito a populagdo. Em conseqiténcia, no longo prazo, em varios paises da Europa do pés-querra’ ‘ocapitalismo liberal e a democracia foram substi- tuidos pelo intervencionismo econémico e por governos totalitdrios e militaristas, cujas politicas culminaram na eclosao da Segunda Guerra Mun- dial. Por outro lado, muitos paises acumularam ri- quezas: Canada, Australia, Brasil, México e Ar- gentina desenvolveram suas primeiras indistrias; © Japao ampliou suas indistrias metalirgicas, téxteis e quimicas; e os Estados Unidos converte- rarn-se na principal poténcia econémica mundial. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 30 ‘VESTISULARES bbicat El ANTECEDENTES No fim do século XIX, a Riis- sia compreendia um vasto império; com 67 milhGes de ha- bitantes unidos pela lingua es- lava e religiao ortodoxa. Algu- mas de suas provincias ext nas, como a Pol6nia, a Lituania ¢ a Bessarabia (Moldova), con- servavam suas linguas e reli- gides, recusando a russificagao, ou seja, a submisséo ao império ‘identificado pela religizio orto- ‘doxa e lingua eslava russa. O pais era um dos mais atra- sados da Europa; conservava tragos sociais e econémicos feu- dais. Sua economia era essen- cialmente agricola; predomina- va a grande propriedade onde trabalhava a submetida massa camponesa. A indiistria se en- contrava em estado embriona- rie, concentrando uma massa de trabalhadores empobrecidos. No ambito politico, persistia um govern que sequia os moldes do Absolutismo: tratava-se do czarismo, em que o imperador (o czar), santificado pela Igreja 2, concentrava todos as poderes, impondo ao pais um Tegime de opressio. perfil do pais comegou a se alterar com o czar Alexandre [i (1855-1881). Atento para o pro- cesso de industrializa¢do na Eu- ropa, introduziu um conjunto le reformas que desencadea- Tam mudangas na nagao, Abo- a servidao, eliminando as Gividas dos mujiques (campo- Heses) e assegurando-lhes di- A Revolugae Russa reitos juridicos, e realizou tam- bém reformas administrativas. Ademais, construiu estradas de ferro e criou indimeras manufa- turas e pequenas industrias. As reformas implementadas por Alexandre Il garantiam ainda mais liberdade as provincias ex- ternas e as minorias nacionais. Mas um atentado contra 0 czar levou ao fechamento do re- gime e & supressao das refor- mas. Em conseqiiéncia desse tecuo, formou-se na Russia uma ampla oposicéo: os libe- rais desejavam um regime constitucional que assegurasse liberdade econdmica e direito a propriedade; os anarquistas defendiam a destruigao da so- ciedade burguesa por meio da ago direta. Junto com os blan- quistas, partidérios da mesma ideologia, formavam 0 Partido Socialista Revolucionario, que pregava a revolu¢do politica fundada na unio entre traba- Ihadores, camponeses ¢ intelec- tuais. Os marxistas acredita- vam que a luta de classes deve- via destruir a sociedade burgue- $a para, depois da fase revolu-. cionaria, impor a ditadura do proletariado. Estes iltimos fa- ziam parte do Partido Social- Democrata, que a partir de 1903 dividiu-se em duas facgdes: os mencheviques defendiam a instalago do socialismo apenas apés a consolidagao do capita- lismo; j4 os bolcheviques pre- gavam a aceleracéio do proces- So, isto é, a imediata implanta- 0 do socialismo pela ago re- volucionéria. Os bolcheviques eram liderados por Vladimir Iyitch Ulianoy, mais conhecido por seu apelido, Lénin (1870- 1924). Apés 0 atentado contra Ale- xandre Il, seu sucessor, Alexan- dre Ill (1881-1894), inaugurou uma politica de repressio con- tra o terrorismo. Censurou os jornais, as bibliotecas e as uni- versidades, e reprimiu brutal- mente os judeus, lituanos e po- loneses catdlicos que resistiam & russificagao. O novo czar tam- bém acelerou o processo de ex- pansio territorial no Céucaso, no Tarquestéo e na Manchiria. No fim do século XIX, capita- listas estrangeiros comegaram a investir na Russia, precisa- mente em centros industriais sideringicos e petroliferos uni- dos por grandes estradas de ferro ~ como a Transcaspiana (1898) e a Transiberiana (1904). A consegiiéncia desse avango industrial foi o aumento no ni- mero de operérios, entre os quais 0 movimento revolucio- nario recrutaria seus militantes. EIA Crise do Regime Czarista czar Alexandre III, cujo go- verno fora marcado pelo’ au- toritarismo, foi sucedido por Nicolau II (1894-1917); tam- bém era autoritério, porém era mais fraco, e ficou desacredi- tado em razdo dos escaindaios da corte associados ao aventu- reiro Rasputin. RSTEMA ANGLO DE ENSINO 31 VESTBULARES Com a inteng&o de fortalecer o regime ¢ enfra- quecer a crescente oposicao revolucionaria, 0 czar levou a Russia 4 expansao territorial para 0 Pacifico, a qual cul minou na conquista do porto Arthur (Manchiria). No entanto, essa regiao era também ambicionada pelo Japao, o que tornava inevitavel a guerra entre os dois paises. Sobre a Guerra Russo-japonesa (1904-1905), o Ider menchevique Plekhanov afirmou: “Se o czar vencer o Japao, o povo russo sera vencido”, indi- cando que a Unica esperanca para o regime im: popular do czar era a vitdria, com que consegui- Tia conter seu descrédito, Mas a guerra, além de agravar a situacéo econémica da Riissia, termi- nou com a derrota russa, a qual denunciava a in- capacidade governamental. Em conseqiiéncia, a populagdo se mobilizou nas cidades: em 22 de ja- neiro de 1905, a populagéo de Sao Petersburgo, capital do pais, fez uma grande manifestagio. O protesto foi tao violentamente reprimido - da manifestagdo sairam mortas mais de novecentas pessoas - que 0 episddio ficou conhecido como domingo vermelho, ou domingo sangrento. Eclodiram também revoltas camponesas, greves e motins no exéreito e na marinha de guerra, co- mo a revolta dos marinheiros a bord do encou- ragado Potemkin. ‘A amplitude do movimento, conhecido como Revolucdo de 1905, obrigou o czar a aceitar que fosse promulgada uma Constituigao, eleita uma assembléia e garantidas liberdades civis. Assim, foi formada a Duma (assembléia legislativa), que votaria as leis ¢ 0 orgamento, mas nao teria poder para alterar o quadro de ministros; ao czar cabe- Ham os direitos de veto e de dissolugao. Os constitucional-democratas (conhecidos como K-D, liberais partidarios do parlamentarismo) saf- ram vencedores das primeiras eleigdes. Porém, com a retomada da economia, o regime absolutis- ta czarista foi temporariamente salvo. O czar dis- solveu a Duma burguesa a fim de favorecer os con- servadores que colaboravam com seu governo. Essa manobra governamental acentuou as di- vergéncias entre os mencheviques e os holchevi- ques. Os primeiros acreditavam na durabilidade do regime e em sua evolugdo para uma demo- cracia politica que resultaria em mudanga social. Para Lenin, a crise 1905 confirmara que somente por meio da ago revolucionéria seria instaurado 0 socialismo. i A REVOLUGAO DE 1917 APrimeira Guerra Mundial precipitou a queda do czarismo. O Império Russo, membro da Tri- plice Entente, entrou no conflito com um exér- cito mal armado e mal dirigido e sofreu graves derrotas. Em conseqiléncia o governo, enfra- quecido, nao conseguia deter a inflagao e o desa- bastecimento, que arrasavam o pafs aumentando a pobreza e provocando a fome. @ A Revolusdio Burguesa de Fevereiro No infcio de 1917, as dificuldades provocaram uma greve geral em Petrogrado (novo nome da capital, So Petersburgo, desde 1914), e os sol- dados recusaram-se a marchar contra a multi- do. No dia 15 de marco 1917 (fevereiro, no ca- Jendario russo), colocando-se a frente das mas- sas revoltadas, a burguesia depds o czar e insti- tuju uma Reptiblica Liberal. O novo governo liberal era liderado inicial- mente pelo principe Lvov, que em julho foi subs- tituido por Alexander Kerensky (1881-1970). ‘No entanto, os acordos diplomaticos do governo anterior foram mantidos e a Russia nao saiu da guerra. Para as camadas baixas empobrecidas, nada rhudara. Os boicheviques e membros do antigo partido social-democrata logo constataram que 0 go- verno liberal era incompetente. Para combaté-lo, Lénin apresentou um programa de reformas denominado Teses de Abril, que, resumida- mente, propunha “paz, terra e pao”; ou seja, res- tabelecimento da paz, ocupagao das-terras pelos camponeses e combate a fome. Além disso, os bolcheviques propunham a transferéncia do po- der para os sovietes (conselhos de trabalhado- res), a nacionalizagao dos bancos e o controle operario sobre as fabricas. Por meio de uma campanba ativa através do Jornal bolchevique Pravda, Lénin mobilizou as massas. Em jutho de 1917, os bolcheviques con- tavam com mais de 200.000 adeptos e recebiar ainda 0 apoio dos marinheiros e dos soldados. Enquanto isso, a preparagiio metédica dos bol- cheviques para a tomada do poder passou a contar com a ago de Leon Bronstein, apelidado de Trotski (1879-1940), veterano da revolugao de 1905 e presidente do soviete de Petrogrado. Alia- do a Lénin, preparou os bolcheviques para con- verté-los na Guarda Vermelha, milicia revolu- ciondria que recrutava trabalhadores. A Revoluséio Bolchevique de Outubro Lénin liderou a ago decisiva na noite de 6 de novembro (23 de outubro no calendario russo), quando a Guarda Vermelha, sob 0 comando do comité militar revolucionario, tomou 9s pontos SISTEMA ANGLO DE ENSINO 32 ‘VESTIBULARES. i i estratégicos da cidade de Petrogrado. © cruza- dor Aurora bombardeou 0 Palécio de Inverno, Kerensky, abandonado por suas, tropas, teve de fugir. A Repéblica Liberal desaparecia, e surgia no seu lugar a Repéblica Socialista Soviética. Os sovietes, reunidos em congresso, confiaram 0 poder a um Consellio dos Comissarios do Povo, presiido por Lénin e com Trotski nos Negécios Estrangeiros e Joseph Djugachvili, conhecido como Stalin (1879-1953), nos Negécios Internos. Foi Lénin quem conduziu definitivamente 0 pais para 9 socialismo. Em nome dos interesses da revolueao, assumiu © governo em novembro de 1917, procurando satisfazer de imediato as exigéncias populares. Com esse objetivo, por meio de decretos aboliu a grande propriedade ternitorial e doou terras para os camponeses; en- tregou o controle das fabricas aos operarios e concedeu liberdade para as minorias nacionais. Em 3 de margo de 1918, Lénin assinou a Paz de Brest-Litovsk com a Alemanha, retirando 0 pais da guerra. Em troca da paz, a Russia reco- nheceu @ autonomia da Finlandia e dos paises blticos, além de ceder territérios a Poldnia. Ei A RUSSIA DE LENIN (1917-1924) Depois de colocar 6 partido bolchevista no po- der e de dar “terra aos camponeses, fabricas 205 operdrios e paz para os povos’, Lénin se empe- nhow em reerguer a producao. Porém, sua imen- sa obra de reorganizacao foi retardada pelas hos- tilidades externas e por freqiientes sublevagdes internas em oposicao ao novo poder, A Guerra Civil (1919-1921) Antigos oficiais czaristas, latifundiérios e ban- queires, denominados “russos brancos”, cons- tituiram o exército contre-revolucionario. Temen- do a propagagao do bolchevismo, alguns pafses capitalistas da Entente apoiaram’a ago militar com 0 propésito de eliminar a revohucdo: os japo- neses operavam na Sibéria, tropas francesas e in- glesas, no mar Branco e no mar Negro. Entretan- to, os inimigos do regime soviético nao contavam com o apoio da populagao russa e também nao possuiam tanta unidade quanto o Exército Ver- melho, originado da Guarda Vermelha revolu- ciondria e composto por trés milhées de homens. Em 1919 foi criado o Komintern, no Ambito da Terceira Intemnacional, com o objetivo de ex- pandir a revolugao comunista por todo o mundo. Em meio ao conflito, Lenin aplicou sua polftica de defesa revolucionaria, inaugurando o comu- nismo de guerra (1919-1921). Todos os cereais foram requisitados pelo Estado, nacionalizaram- se as industrias, os bancos, as fAbricas e 0 co- meércio interior e exterior. As manifestagdes de resisténcia foram violentamente reprimidas pela agao da policia politica (conhecida como tcheca). ‘Apés indmeras derrotas, ingleses e franceses re- tiraram seus homens e os contra-revoluciondrios foram definitivamente derrotados. No entanto, a produgo industrial e agricola era insuficiente, gerando uma situagao de privagdes. Em meio crise econdmica, a moeda se deteriorava e a pro- ducdo se retraia. Isso impossibilitou a aplicacao imediata de um comunismo integral, como $0- nhavam certos comités operérios, e a insatisfa- Gao gerou novas sublevagées, como o motim dos marinheiros de Kronstadt, que foi reprimido. A estubilizaséo do regime (1921-1924) Dadas as dificuldades que o regime vinha enfrentando, em 1921 Lénin foi obrigado a ado- tar uma politica mais flexivel. Em margo, apro- veitando-se do fim da guerra civil, Lénin inau- gurou a Nova Politica Econémica (NEP) dis- pondo que deveria “abandonar a construgdo imediata do sociatismo”. Com isso, passou-se a tolerar na Russia um “capitalismo dirigido” e controlado. O Estado nao requisitaria mais as co- Iheitas: os camponeses pagariam um imposto e poderiam vender a safra. Embora as terras fos- sem proclamadas propriedades do Estado, reser- vava-se sua utilizago aos camponeses. © comér- cio conheceu uma ampla liberdade, e empresas com menos de vinte trabalhadores passaram a ter o direito de funcionar sem controles. Do ponto de vista econémico, a NEP obteve éxito, pois favoreceu o crescimento das rendas agricolas e industriais. Por outro lado, abriu uma brecha para o sungimento de uma categoria de intermediarios que enriqueceram com facilidade, mostrando-se pouco dispostos a abragar 0 so- cialismo. Consolidada a revolucao, a Russia estava pron- ta para acionar as instituigdes que a transfor- mariam em uma grande potencia. Seu reingresso no cenario internacional foi consagrado em mar- go de 1921, pela assinatura de um acordo comer- cial com a Inglaterra ~ logo imitada pela maioria dos pafses europeus. A Rissia rompia seu isolamento e aproxima- va-se dos poves nZo-russos do antigo império czarista: a Ucrania e regides do Céucaso e da Asia Central uniram-se em uma federaco e jun- taram-se a Russia Soviética. Em 1922, fortnava-se a Uniao das Republicas Socialistas Sovié- ticas (URSS). SSTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTBULARES. mn A Sucessdo de Lénin Lénin morreu em 21 de janeiro de 1924, e a sucessiio foi disputada por membros influentes do partido. O primeiro deles era Stalin, antigo secretario do Partido Comunista. Contrariando a opinido de muitos revoliicionérios, Stalin acredi- tava que 0 socialismo deveria solidificar-se na URSS antes de se estender para o exterior, J4 seu opositor e também postulante ao cargo de Lénin, Trotski, pregava a expansao dos ideais revelucio- narios pela Europa valendo-se da tese da “revo- lugéio permanente” contra o capitalismo. Em dezembro de 1927, em razo da crescente influéncia de Stalin, Trotski foi exclufdo do parti- do. Fugin para a Turquia e depois para 0 México, onde a mando de Stalin foi assassinado, em 1940. Stalin afastou outros adversdrios da mesma for- ma, e se tornou o nico dirigente da Uniao So- viética, : § © GOVERNO DE STALIN (1924-1953) Quando Stalin assumiu poder, a Ruissia atra- vessava um perfodo de incertezas e conflitos in- ternos. Os partidarios de Trotski foram fuzilados ou exilados. As minorias nacionais (poves néo- russos) foram forcadas a se incorporar @ URSS. No poder, Stalin, resgatou algumas caracteris- ticas do czarismo, Como o autoritarismo e a mili- tarizagdo. Aproveitando-se do assassinato de um importante chefe bolchevista, Stalin desencadeou os expurgos, caracterizado por uma implacdvel onda de perseguigao e eliminagao de seus adver- sérios: a policia fez prises em massa, e foi movi- da uma série de processos que legitimavam fuzi- lamentos ou a deportagao dos adversérios para 0s gulags, (campos de concentracao) no norte da Sibéria. . A planificagéo econémica ANEDP, que possibilitara a restauragao da eco- nomia russa apés a guerre civil, se tomnou insu- ficiente para a meta de Stalin de implantacao total do socialismo. Para substituf-la, foram elaborados os Planos Qiiinqiienais, concretizando o plahe- jamento econémico tipico cle uma economia diri- «ida pelo estado. Os primeiros planos tinham co- mo objetivo desenvolver sucessivamente a pro- dugdo de energia, as grandes ind as indiistrias de transformacao:’ 0 Primeiro Plano (de 1928 a 1932) voltava-se & produgio industrial. © setor privado desapare- eu, em proveito do Estado. Um tergo dos inves- timentos foi aplicado na eletrificagao no desen- volvimento da indiistria pesada: em cinco anos, a produgio metahirgica foi triplicada; a de eletrici- dade, quintuplicada. ‘ No setor agricola, a planificago enfrentou al- gumas dificuldades: foi necessario, de infcio, re- gulamentar a propriedade da terra. A NEP per- mitia ao camponés a posse dos bens por ele pro- duzidos, enquanto o plano de coletivizacao etabo- rado por Stalin propunha a formagao de kolkhozes (cooperatives controladas pelos camponeses) ¢ de sovkhozes (cooperativas controladas pelo Estado). Ambas deveriam atingir cotas de produgao pré- estabelecidas, a fim’de tornarem a agricultura au- to-suficiente. © Segundo Plano Qiiingtienal (de 1933 a 1937) pretendia sobretudo desenvolver a indiistria leve. ‘A URSS, por meio do incremento & industria me- talirgica, lancou-se a fabricago sistematica de énibus, tratores ¢ locomotivas. Nesse periodo sur- giu 0 movimento stakhanovista, que consistia em campanhas publicitérias mobilizando os trabalha- dores a empreenderem um esforgo coletivo na rea- lizacao dos projetos produtivistas governamentais. No final, os resultados da economia planificada foram excepcionais. A Unido Soviética foi o unico pais do mundo que néo sofreu a crise de 192: fechada em si mesma, vivendo das trocas inter- nas, néo conheceu nem a superprodugao, nem o desemprego. A capacidade energética cresceu consideravelmente: a producio do carvao ‘tripli- cou, atingindo 165 milhdes de toneladas em 1940; © pals tornou-se 0 segundo produtor mundial de petroleo. Na indtistria metaltingica, passou a ocu- par a terceira posigo no ranking mundial, depois dos Estados Unidos e da Alemanha. vs Mas a economia estatizada criou uma forte tecnocracia, dada ao clientelismo, ao nepotismo eA corrup¢ao. A sociedade hierarquizou-se, cén- cedendo-se privilégios aos funcionérios do alto escalio. Stalin beneficiou-se do éxito da planifica- ao e impés 0 culto & sua perso! », OU Seja, passou a se valer dos meios de comunicagao de massas para exaltar sua posi¢ao de lider e ob- ter 0 apoio popular ao seu governo ditatorial. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 34 ‘VESTISULARES. i ORIGENS A Grande Depressio de 1929, a maior crise econémica do sé- culo XX, teve origem nos Esta- dos Unidos e propagou-se para todo o mundo capitalista. Seus efeitos foram devastadores: fa- léncias generalizadas, desem- prego, deflacio, xenofobia e, principalmente, a descrenca na forma de governo democrittico e na economia liberal de livre mercado. A.ctise originou-se do dese- quilbro nas atividades produti- vas, que remontava & Primeira Guerra (1914-1918). Durante 0 longo periodo de conflito, os Estados Unidos enriqueceram gragas ao fato de se terem manti- do neutros, inicialmente, pois as- sim fomnecian matérias-primas e produtos industrializados para a Europa e avancavam em dinegdo aos mercados sul-ameri- cand ¢ asiético. Sua produgao industrial, entre 1914 e 1918, teve um crescimento acentua- do.,O excedente na balanga co- mercial passou de 435 milhoes de délares, em 1914, a 3,5 bilhées. Ademais, os paises europeus contrafram empréstimos duran- tea guerra que alcangaram a ci- fra de 10 bilhdes de délares, e em Fungo disso em 1918 os Estados Unidos dominavam a metade do ‘ouro mundial. Essa prosperidade se ampliou mesmo depois do Tra- tado de Versalhes: a Europa con- tinuou a importar dos Estados Unidos, cuja produgéo atingia um verdadeiro boom em 1919. A Crise de 1929 ea Grande Degressao Mas vale dizer que o presi- dente Wilson, apés a guerra, tentou conter esse desequilf- brio, justamente por temer suas conseqiiéncias; adotou, para conter a expansao produtiva, uma politica de controle sobre a produgio, que, no entanto, de- sagradou os empresérios. Isso favoreceu 0 Partido Republi cano, que além de obter a maio- ria no Congresso, ganhou as eleigées presidenciais. Warren Harding, candidato dos republicanos, foi eleito com mais de 7 milhoes de votos. Sua administragao republicana li va-se aos interesses do big busi- ness (grande empresariado), lo- go, caracterizou-se pela fraca intervengao do Estado na eco- nomia. Ademais, temendo as concorréncias européia e japo- nesa na indiistria e a canadense na agricultura, o presidente ele- vou as tarifas protecionistas. Em uma era de plena prosperi- dade, os norte-americanos con- firmaram os republicans nas eleigdes de 1928: Herbert Hoo- ver foi eleito presidente pela ampla maioria, Nesse periodo a produgao industrial dos Estados Unidos cresceu 64%. A industria de bens-de-consumo progredia no mesmo ritmo: 0 automével tor- nou-se 0 simbolo do “estilo de vida americano” (american way of life), e a industria auto- mobilistica chegou a produzir 5.300.000 veiculos s6 em 1929, A exemplo de Henry Ford, outros industriais se empenha- ram em uma politica de altos salérios, 0 que contribuia para a ampliagao do mercado interno, A venda a crédito chegou a ‘uma proporgao até entao inima- gindvel (estima-se que em 1929 as instituigdes de crédito em- prestaram 7 bilhoes de délares). A industria orientou-se para a produc&o em massa: a padroni- zacao dos produtos facilitava a fabricacao em série, eo empre- go sistemético da mecanizagao aumentava a produtividade. Esse dinamismo levou os americanos a acreditarem no mito da prosperidade perma- nente, embora a economia ndo escondesse seus pontos fracos: a prosperidade nado era geral; o desemprego ainda subsistia, devido & mecanizacéo; as bases financeiras da expansao indus- ‘rial eram precérias. Inicialmen- te a prosperidade da indiistria provocou uma alta nas ages: em 1925, foram negociados no mercado de valores 27 bilhes de délares em titulos; em 1929, Jé eram 67 bilhGes; especulava- se intensa e desordenadamen- te, e essa pritica mascarava os limites reais do crescimento econémico. Mas ainda mais grave era a crise na agricultura: os produ- tos agricolas tinham pregos baixos, e os produtores nfo po- diam pagar os empréstimos, correndo risco de perder suas terras hipotecadas. A precéria situagdo no campo levou ao éxodo dos agricultores arruina- dos, rumo as cidades, SISTEMA ANGLO DE ENSINO cy ‘VESTIULARES. A economia capitalista internacional liberal Em 1924, a economia mundial alcangou niveis de produtividade superiores aos dos anos an- teriores a Primeira Guerra. Na Europa, & Alema- nha voltou a ser uma das primeiras nagbes indus- trializadas - ao lado da Inglaterra, também recuperada; mas 0 progresso mais espetacular foi © dos Estados Unidos, que se encarregava, em’ 1929, de 44,8% da producao industrial mundial: ‘As estruturas da economia capitalista pare- ciam sdlidas. Os governos renunciavam a inter- vengdes econémicas, limitando suas ages a pro- blemas monetérios e aduaneiros. As empresas privadas dominavam. Entretanto, a capacidade produtiva mundial cresceu, o que tornava mais acirrada a concorréncia. Os paises industriali- zados, empenhados em verdadeiras querras eco- némicas, acabaram constituindo blocos interna- cionais, os quais fixavam quotas de produgio, re- partiam mercados entre si e delimitavam zonas de exploragao. Mesmo assim, a circulacao de ca- pitais no mundo era intensa. Somas consideré- veis foram investidas na Europa Central, e gra- cas a elas a economia alema reerqueu-se. Em 1929, os americanos haviam investido um total de 15 bilhdes de délares - dos quais um terco na Europa. Essa mobilidade de capitais possibilitava a prosperidade, mas determinava entre as eco- nomias uma interdependéncia que poderia tor- nar-se perigosa caso houvesse uma crise. A CRISE A crise nasceu no auge da prosperidade, em. conseqiiéncia da superproducao e da espe- culagdo. A crise agricola persistia, os agricul- tores se endividavam e reduzia-se sua capaci- dade de consumo de manufaturados. Os mer- cados urbanos lentamente ficavam saturados, apesar das vendas a crédito. Enfim, a super- produg&o produzia uma deflagdo, ou a queda generalizada nos precos. ‘Mesmo assim, os lucros das sociedades finan- ceiras possuidoras de agdes continuaram a cres- cer, encorajando a especulagao na Bolsa; entre 1925 e 1929, as cotagdes na Bolsa de Nova York, em Wall Street, tinham crescido duas vezes mais que a produgio industrial - que, por sua ve2, nao contava com igual crescimento no consumo. © crash da Bolsa de Nova York No inicio de outubro de 1929, diversos indices inquietavam os banqueiros ¢ investidores de Wall Street: as estatisticas apontavam deflag3o com a queda dos precos do ferro, do ago, do cobre e, sobretudo, na venda de bens de consumo‘como 0 automével, considerado um’dos iniicativos da prosperidade. . Em 21 de outubro de 1929, a acumulacao de ordens de venda fez baixar ainda mais os pregos daé-agdes, O panico se agravou no dia 24 de ou- tubro (a “quinta-feira negra’), quando ocorreu a guebra da Bolsa de Nova York, ou crash de Wall Street: nao havia compradores para os 16 milhées de titulos jogados no mercado naquele ia. A queda se acelerou nos dias seguintes, e no inicio de novembro as ag6es industrials haviam perdido mais de um tergode seu valor. Uma ligeira recuperagio nos negécios mani- festou-se no iniverne de 1929-1930; porém, na primavera um agrupamento de seis bancos, 0 Banco Morgan, aproveitou a melhora para ven- der titulos adquiridos a baixos pregos em outu- bro, provocando panico novamente. Os valores se mantiveram em baixa até 1932, mesmo os mais seguros: as agdes da US Steel cairam de 250 a 22, as da Chrysler, de 135 a5 pontos. A propagaséo da crise Para superar suas dificuldades, 0 governo norte-americano suspendeu as importagdes; os bancos americanos cessaram de oferecer crédi- tos aos paises estrangeiros e repatriaram os ca- pitas investidos (produzindo, assim, fuga de ca- pitais em outras regides). Como os capitais eram interdependentes, a crise americana tornou-se uma crise mundial. A Austria foi a primeira a se ressentir dessas me- didas: o principal banco austriaco, o Kreditanstalt, feliu, provocando @ queda absoluta da economia nacional. Outros paises da Europa Central tive- Tam seus crashes bancarios. Na Alemanhe, a pro- ducdo industrial caiu 39%, e os bancos nao conse- guiram reembolsar os créditos americanos; ade- mais, as retiradas aceleradas de ouro e divisas ameacavam 0 marco. O Reichsbank (Banco Cen- tral Alemo) se recusou a amparar os bancos pri- vados, provocando muitas outras faléncias. ~ A crise penetrou na Inglaterra rapidamehte. Em setembro de 1981, o governo abandonou 0 padrao-ouro da moeda, e em poucos dias a libra caiu 40%. Essa desvalorizacao abalou algumas moedas-satélites, na Escandindvia, em’ Portugal, no Egito e em varios paises latino-americanos. ‘No Brasil, o café perdeu o mercado e a economia entrou em colapso. As elites cafeicultoras aliadas A Repiiblica Velha se enfraqueceram, abrifido caminho para a Revolugao de 1930,, due levot Getilio Vargas ao poder. A crise financelra"dé Wall Street s6 no chegou a Unio Soviética, cija economia nao era capitalista. “ ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO 6 A crise também desencadeou tensdes sociais, sobretudo nas grandes poténcias econdmicas. O desemprego em massa foi uma das conse- qléncias mais dramaticas da crise: em 1932, ha- via no mundo mais de 30 milhées de desempre- gados, dos quais quase 17 milhGes nos Estados Unidos, mais de 6 milhGes na Alemanha e 3 mi- Ihées na Inglaterra. A classe média arruinou-se. Imimeros comerciantes e pequenos industriais, incapazes de concorrer com grandes empresas, faliram. Em conseqiiéncia, agugaram-se os anta- gonismos sociais ¢ as tenses raciais: nos Estados Unidos, o desemprego atingiu mais os negros que os brancos; na Europa Central, reapareceu 0 anti-semitismo, que acabou convertendo-se no tema essential da propaganda nazista. ‘A SUPERACAO DA CRISE: A NOVA CONCEPCAO NORTE-AMERICANA DE CAPITALSMO- O presidente Hoover se recusava a promover uma intervengo direta do governo federal no dominio econémico. Inspirado nos principios li- berais, acreditava que a economia poderia se re- cuperar naturalmente. Mas as dificuldades che- gatam ao 4pice em 1933, Os valores na bolsa caf- Tam 83%; os saldrios, 60%; e a prodlutividade, 40%. O nimero de desempregades chegara a 17 mi- Ihoes, e 15 milhoes de agricultores, arruinados, estavam impossibilitados de pagar suas dividas. A incapacidade governamental atingiu seu limite maximo, a ponto de tornar Hoover impo- puler, Em 1930, uma maioria democrata conse- Gquiu se instalar na Camara dos Representantes. Nas eleigdes de 1932, embora os dois partidos apresentassem programas vagos, os democratas, liderados por Franklin D. Roosevelt (1882- 1945), eram vistos como depositérios da mudanga e-da solugao para a crise. Em conseqiiéncia, Roo- sevelt conseguiu 28 milhdes de votos, contra 16 mi- Ihdes de Hoover. J4 nas campanhas eleitorais, Roosevelt anun- cieva uma “nova era” com a implantacao do pro- grama de reformas denominado New Deal ("no- vo acordo”). Influenciado pelas idéias do eco- nomista inglés John Maynard Keynes (1883- 1946), Roosevelt afastou-se dos preceitos liberais ¢ defendeu a intervencao do Estado na vida eco- némica. Assumindo a presidéncia em marco de 1933, tomou medidas radicais com o objetivo de combater 0 desemprego e a superproducdo: sus- pendeu temporariamente os créditos bancarios e proibiu 0 entesouramento, fazendo retornar bi- Indes s caixas piiblicas; ajustou os pregos e os salarios para fazer frente a,desvalorizagao do dé- . lar (41%) para aumentar 0 consumo. Defensor do “estado do bem estar soci (welfare state), Roosevelt aumentou 0 gasto ptt- blico, e o Estado acabou assumindo os custos do desemprego: 500 milhées de délares foram ime- diatamente repartidos entre os mais necessita- dos; mais de trés bilhdes de délares foram aplica- dos em grandes ‘obras, como construgées de es- tradas, barragens e usinas, para absorver a mao- de-obra ociosa. Em suma, o New Deal era a res- posta do capitalismo as novas condigdes socio- econémicas impostas pela crise de 1929. Para assegurar a estabilidade da economia, to- maram-se medidas visando 0 aumento geral do poder de consumo, a regulamentacao da concor- réncia eo controle da produgao. Exemplo de me- didas desse tipo foram o Agricultural Adjustment Act (AAA), de maio de 1933, cujo objetivo era resolver os problemas da agricultura através do fornecimento de crédito aos agricultores, e o National Industrial Recovery Act (NIRA), de junho de 1933, visando acabar com o desemprego e, sobretudo, garantir proventos razodveis as em- presas e saldrios suficientes aos trabalhadores. ‘Tanto na indtistria come no comércio, foi esta- belecido um acordo entre patrées e empregados, © qual assegurava aos trabalhadores um salario minimo e liberdade de organizagao. Essa nova legislagao favoreceu o desenvolvimento sindical, tendo 0 governo federal a incumbéncia de servir de 4rbitro em conflitos e greves. Apesar do alcance das iniciativas intervencio- nistas governamentais, o ritmo da retornada eco- némica e do processo de redugao do nimero de desempregados era lento. A recuperagao 36 se concretizou com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que expandiu todos os setores da economia e especialmente a industria armamen- tista. O New Deal foi uma etapa decisiva para os Estados Unidos. A ingeréncia do governo federal nos dominios até entdo reservados & iniciativa privada e no jogo da livre concorréncia deslocou © centro motor da economia de Wall Street para Washington, além de dar forga ao movimento sindical. Durante mais de doze anos, a democra- cia americana personificou-se em Roosevelt, que foi reeleito em 1936, 1940 e 1944. Em diversos paises do mundo, 0 colapso da economia capitalista promoveu as idéias comu- nistas € a descrenga na democracia liberal. Como resposta a essa situacao, surgiram movimentos radicais de direita em defesa do capitalismo, co- mo 0 fascismo na Italia e o nazismo na Alemanha. SISTEMA ANGLO DE ENSINO 7 ‘VESTBULARES. fl INTRODUCAO O Fascismo.e 0 Nazismo fo- ram regimes totalitaristas que se sustentaram por meio do au- toritarismo. O Estado era per- sonificado num tinico Partido, cuja ideclogia submetia toda a populacio. Logo, a ideologia que reduzia a nada o poder po- pular e concedia ao lider pode- Tes ilimitados nao tomava conta $6 do governo, mas do Estado mesmo. Com isso, os indivi- duos nao possuiam direitos, a nao ser os tolerados pelo Esta- do; inexistia liberdade de pen- samento, € os opositores eram considerados traidores e trata- dos como criminosos comuns. Esse regime de governo antide- mocratico e antiliberal, que iso- Jou 9 cidadao da vida publica, foi a solugiio encontrada pelos capitalismos italiano e alemao para superarem as dificuldades surgidas apés a Primeira Guer- ta Mundial e acentuadas com a ‘Depressao de 1929. i O FASCISMO NA ITALIA Origens A Italia, apés a Primeira Guerra, atravessou intimeras crises. As deliberagdes do Tra~ tado de Versalhes no recom- pensaram suficientemente suas perdas humanas e gastos. Os italianos continuavam recla- mando a posse de territérios na costa da Dalmédcia e no Fiume, sem serem atendidos. Superpo- ‘ONati-Fascismo voada e economicamente atra- sada, a Itdlia recorrera a em- préstimos para financiar a guerra ~ 0 que acarretou uma divida muito pesada e a depre- ciagao da moeda italiana, a lira, em 75%. As indtstrias peque- nas faliram, o desemprego do- minava 0 pais. Lentamente, a crise social tomou um aspecto social revolucionario: multipli- cavam-se as greves, acompa- mhadas de pilhagens. Campo- neses no limite da miséria vindicavam a partilha das gran- des propriedades. No contexto da guerra o pais era governado por um regime liberal democratico estruturado em uma monarquia parlamen- tarista. Monarquistas ¢ conser- -vadores compunham uma gran- de forga eleitoral até entio, mas a insatisfagéo popular os estava fragilizando. O governo liberal sentiu os efeitos da crise nas eleigdes de 1919, em que a es- - querda obteve expressiva vota- do, enquanto fora do governo Grupos radiceis incitavam a po- pulagao a fazer uma revolugao. Preocupados com 0 rumo dos acontecimentos, a burgue- sia e 08 grandes proprietérios passaram a apoiar os fascistas, grupo politico decidide a con- ter 0 avango revolucionério pe- laforga. O partido fascista fora criado por Benito Mussolini (1883- 1945), Na juventude, Mussolini havia sido militante socialista; chegou até a ser redator do jor- nal “Avanti”, de esquerda. Mas em 1914 mudou radicalmente de ideologia, tornando-se um ferrenho nacionalista. Em mar- gode 1919, em Mildo, organizou os chamados fasci italiani di combatiment (“feixes italianos de combate”), embrido do futu- To Partido Fascista, que agrupa- va nacionalistas de extrema di- reita. Mussolini impés discipli- na ao partido criando grupa- mentos paramilitares cujos membros, os squadristi, ou ca- misas negras, realizavam agdes violentas contra aqueles que ameagassem 0 Estado capita- lista, . Em suma, o fascismo nasceu das circunstancias proprias da Itdlia do pés-Primeira Guerra, respondendo com violéncia & inquietude popular diante da impoténcia do regime parla- mentar em resolver as crises; em atender a aspirago da clas- se dominante de salvaguardar a ordem estabelecida; em curar a insatisfagao dos nacionalistas, decepcionados com a paz. A ascensdo do Partido Fascista O objetivo dos fascistas era eliminar os adversdrios socia- listas e comunistas e, a0 mesmo tempo, demonstrar quo inca- pazes eram os governos libe- rais, a fim de se projetarem co- mo os Unicos defensores da ordem social com competéncia para fazé-lo. Com apoio finan- ceiro dos grandes proprietarios e dos industriais, e contando com 300.000 membros em-suas SISTEMA ANGLO DE ENSINO B ‘VESTBULARES Bee Sear milicias, organizavam “expedigdes punitivas” As sedes de organizagées politicas e sindicais de ex- trema esquerda, que eram pilhadas e incendia- das e cujos dirigentes eram agredidos ou até mesmo assassinados. Os moderados, por sua vez, achavam que a violéncia fascista era passa- geira, reagdo imediata e util & ameaca bolchevista no pais, e que no futuro haveria de ser neutraliza- da pelo sistema parlamentar. Em 1922, Mussolini, deputado eleito para o Parlamento, preparou um golpe: a Marcha so- bre Roma era uma demonstracao de forga do partido & populagao da capital do pais. Pressio- nado pela burguesia, o rei Vitor Emanuel III con- vidou Mussolini para fazer parte do ministério, ¢ este passou a comandar 0 governo_ No poder, Mussolini ~ que logo mais passaria a ser chamado de Duce (lider, condutor) ~ con- servou a monarquia a fachada parlamentar, mantendo a Camara dos Deputados e 0 Senado, a fim de dar a impresséio de que 0 governo seria moderado, Embora apenas quatro dos 14 minis- tros fossem fascistas, Mussolini dispunha de ple- nos-poderes, e os fascistas conseguiram trés quartos das cadeiras do Parlamento na eleigao de 1924, No entanto, na abertura da seedo, o parla- mentar socialista Giacomo Matteotti (1885-1924) denunciou os métodos fascistas e as fraudes elei- torais, reclamando a invalidacao da eleigao. Seu assassinato provocou um escandalo, comprome- tendo o fascismo. Para assequiar-se no poder, em 1925 Mussolini Jancou as leis fascistas que instauravam a dita- dura na Italia: o Duce seria doravante o tinico res- ponsavel pelo Estado diante do rei, podendo le- Gislar por ordenancas; 0 Conselho de Ministros tornou-se consultivo, e o Parlamento perdeu to- dos os poderes. A imprensa, o cinema e 0 radio foram censurados; proibiram-se os sindicatos as organizacdes nao-fascistas. Em 1926, todos os deputados da oposicao perderam seus cargos. Si- lendiou-se a oposigao através de métodos como a deportacdo ¢ 0 assassinato. O intelectual e diri- gente comunista Antonio Gramsci (1891-1937), por exemplo, foi preso em 1926 ¢ executado em 1997. O fascismo se impunha, assim, pela intimi- dagdo e pela violencia. Os fascistas no poder Para pér fim aos antagonismos resultantes das crises econémicas do pés-guerra, Mussolini pro- punha que o Estado ceveria promover a unio entre as classes sociais (ou uniao capital-trabalho) em uma tnica realidade econémica e politica: propunha, assim, o corporativismo: Em 1927, a Carta do ‘Trabalho estabeleceu que existiriam na Italia apenas dois sindicatos: um trabalhador e outro patronal. A greve e © lockout (greve de pa- tres) foram proibidos, e todo conflito trabalhista passava a ser arbitrado pelo Estado. Os organis- mos sindicais deveriam tornar-se fatores de coo- peracdo entre as classes. ‘Visando solidificar 0 poder da “Grande Itdlia” por meio de uma grande populacdo, Mussolini empreendeu uma politica de estimulo & natalida- de. Em 1931 a populagio italiana chegou a 42 mi- Ihdes de habitantes. Para fazer frente ao aumento populacional e absorver mao-de-obra, realiza~ ram-se grandes obras piblicas: auto-estradas, pontes, estagdes ferrovidrias. A indtistria conhe- ceu grande progresso, com o aumento da capa- cidade hidroelétrica e o fomento a construgio naval, aerondutica etc. Na agricultura, a producao de trigo aumentou, reduzindo-se assim as impor- iagoes. Mussolini preocupou-se também em resolver com o Vaticano a Questao Romana, que surgiu depois de 1870 com a recusa dos papas em acei- tar a anexago de Roma pela, monarquia italiane. Em fevereiro de 1929, o papa Pio XI e Mussolini estabeleceram os acordos de Latrao, dispondo sobre a soberania do Estado do Vaticano e 0 pa- gamento de uma indenizago a Igrefa pela perda de antigos Estados. Assim normalizaram-se as relages entre Igreja e Estado, o catolicismo foi recontiecico na Itélia como religizo oficial e asse- gurava-se a Mussolini o apoio dos catélicos. Ideologia Fascista Em vatios discursos Mussolini aludiu s leitu- ras que 0 influenciaram: em Friedrich Nietzsche, buscara sua “vontade de poder” e seu orgulho dominador, em Henri Bergson, 0 primado da ins- titui¢go sobre a razo; em George Sorel, a apo- logia da ago e da violencia; em Charles Maurras, a aversaéo 4 democracia; e no fildésofo italiano Giovanni Gentile, a nogo do valor absoluto do Estado. Da interpretagao peculiar desta ampla gama de influéncias, o fascismo tirou seu trago essen- cial: a hostilidade agressiva aos princfpios demo- crdticos que dominavam a vida politica da Euro- pa Ocidental. Em discurso de 1921, Mussolini se definiu antiparlamentar, antidemocratico e anticomunista. Para ele o Estado totalitario era fundado na forga, no senso coletivo e na mistica do chefe, que encarnava a vontade das massas: “Tudo é o Estado, nada é contra o Estado, nada esté fora do Estado”, que deve englobar “a orga~ ‘SISTEMA ANGLO DE ERSINO ‘VESTIULARES. nizago politica, econdmica, juridica ¢ intelectual da nado”. Cada individuo deveria ver no Estado a representaciio do ideal da antiga “grandeza ro- mana”, cuja recuperacdo nao dispensaria a quer- ra. Afirmando o militarismo e o nacionalismo, acreditava que a guerra era a Unica atividade ca- paz de regenerar povos ociosos e restaurar as alorias passadas. Segundo Mussolini, o estado corporativista tem 0 poder de estabelecer 0 in- teresse comum entre as classes sociais, enquanto ‘© comunismo as desagrega em lutas de classes. fascismo conseguiu, através da propaganda, mobilizar a juventude, cujas palavres de oréem eram “crer, obedecer e combater”. Da mesma forma, o regime orientou os trabalhadores na obediéncia a0 Estado, ao Partido e ao Duce, atra- vés de uma legislagao social avancada, Conso- lidava-se o culto fanatico a Mussolini — chefe, do partido e do Estado, que conquistara o direito de escolher candidatos em-seguida submetidos a uma ratificago popular meramente formal, pois “o Duce sempre tem raz”. Nao havia espaco pa- ra qualquer atitude critica. “EO NAZISMO NA ALEMANHA A Repiblica de Weimar (1919-1932) Os efeitos da Primeira Guerra Mundial atingi- ram profundamente a complexa composicao social alema. A Alernanha contava, em 1918, com 58 milhdes de habitantes, As classes dirigentes eram com- postas por aristocratas e industriais. Os primei- tos, proprietérios dos latifiindios, formavam os administrativos e militares; os demais, em decorréncia da grande industrializagio e do comércio, projetavam-se como verdadeiros sus- tentdculos da economia. Desses 58 milhdes, 70% compunham a popu- lagdo urbana. Desde a guerra, formara-se uma grande massa proletdria cuja maioria permane- ceu vinculada ao ido Social-Democrata até 1917, quando as ic bolcheviques (marxistas- leninistas) passaram a ser aceitas por muitos tra~ balhadores alemaes. Em 1918, a agitagio Tevolu- cionéria era intensa. ‘Também como conseqiéncia da guerra, o im- perador Guilherme I abdicou em novembro de 1918 e foi proclamada a Republica. Um comité provisério social-democrata tomou © poder. No entanto, o governo ndo conseguiu deter a crise social. Formaram-se nos portos, nas grandes ci- dades industriais e em Berlim intimeros conse- lhos operérios socialistas, que também congre- gavam soldados e marinheiros, como ocorrera na Russia pré-revolucionaria. O grupo Spartakus — uma dissidéncia revolucionaria da social-demo- cracia — tentou um golpe em Berlim, mas foi mas- sacrado em janeiro de 1919. Seus lideres, Kar] Liebknecht (1871-1919) e Rosa Luxemburgo (18707-1919), foram fuzilados. Para assegurar a unidade do pais, depois da re- pressao foi eleita uma Assembléia Constituinte, que se reuniu na cidade de Weimar. A Consti- tuigo elaborada em agosto de 1919 definia a Ale- manha como uma Republica formada por 17 Es- tados. Um Parlamento (Reichstag) eleito por su- fragio universal votaria as leis, ¢ o presidente, também eleito através de sufragio universal, seria assistido por um chanceler (primeiro-ministro} responsével diante do Reichstag. lica de Weimar © govemo republicano era fragil, ndo contava com 6 amplo apoio popular. A esse quadro so- mou-se a crise econdémica, que levou & desva- lorizagao da moeda alema: em 1914, um dolar valia 4,2 marcos; em 1922, 186 marcos. Em conse- qiéncia, os salérios aumentavam nominalmente, mas 0 custo de vida ultrapassava seu valor real. A miséria atingiu tanto a classe trabalhadora quan- to a classe média, causando profunda ingatis- facdo. Em 1923, o pais passou por um processo de hiperinflagao, cujos efeitos foram devas- tadores. No campo politico, a Alemanha também estava agitada. O Tratado de Versalhes ~ chamado pelos alemaes de Diktat {imposigao) ~ criara uma onda de protestos, uma vez que responsabilizava so- mente a Alemanha pela guerra. Os alemaes esta- ‘vam ressentidos com a Franga, que exigiu o con- fisco de bens e anexag6es territoriais, e com a Po- Tonia, que se beneficiou da derrota alema sem ha- ver combatido. Com isso, o nacionalismo lenta- mente tomava corpo, sobretudo em Munique, dominada pela extrema direita. Em 1919 0 operario Anton Drexler fundou um pequeno grupo politico, chamado de Partido Tra- balhista Alemao, ao qual aderiu um veterano de guerra de nacionalidade austriaca, Adolf Hitler (1889-1945). Dotado de prodigiosa oratéria, em pouco tempo Hitler assumiu a lideranca do parti- do, que passou a ser chamado de Partido Nacio- nal-Socialista dos Trabalhadores Alemies (NSDAP, abreviado para “partido nazista”). Tinha como insignia uma bandeira vermelha marcada pela sudstica, e apoiava-se em uma or ganizagao peramilitar, a SA (Sturmabteilungen, ou "grupos de assalto"), cuja tarefa era assaltar ou perturbar as reuniGes de adversarios politicos. As Crises da Repul SISTEMA ANGLO DE ENSINO. VESTIBULARES ocean programa do partido nazista era confuso ¢ demagégico: denunciava os marxistas @ os ju- deus pela derrota alema na guerra, prometia tra- batho a todos, diversas realizagdes sociais e a su- pressio do Diktat de Versalhes. Em 1923, os nazistas tentaram aproveitar-se' do sentimento generalizado de insatisfacdo: nos dias 8 e 9 de novembro, em Munique, Hitler denun- ciou que © governo de Berlim era manipulado por judeus e estrangeiros e tentou um golpe (ou putsch). Apesar do apoio de alguns militares, 0 movimento fracassou. Hitler, condenado a cinco anos de priséio (mas liberado apés seis meses], aperfeicoou o programa do partido em sua auto- biografia, intitulada Mein Kampf (“Minha uta’), publicada em 1925. ‘Apesar das crises, a Repiiblica de Weimar so- breviveu. A economia e o tesouro foram pro- gressivamente se recuperando, gracas criacio de uma moeda estével (0 reichsmark) e a entrada de abundantes capitais ingleses e americanos, vinculados as bolsas de valores de Londres e de Nova York. De maneira geral, a vida politica tam- bem se estabilizou. Em 1925, os partidos de direita elegeram para a presidéncia Hindenburg, velho general monarquista com considerdvel prestigio no exército. A melhora das condigaes de vida reduziu temporariamente a atuagao dos Aascensao do Partido Nazista A estabilidade econémica da Reptiblica Ale- ma passou a depender dos capitais externos. Mas em 1929 a Grande Depressao arrasou a economia norte-americana e a dos demais ps ses capitalistas; para superar as dificuldades in- termas, 0 governo norte-americano suspendeu os empréstimos internacionais e as importa- ges, expandindo a crise para o mundo. ‘A economia alema se ressentiu muito dos efei- tos dessa grande crise. Bruscamente privada de créditos estrangeiros, entrou em colapso. Os desempregados eram um milhao em 1929, trés, milhdes em 1930 e mais de seis milhdes em 1931. As cidades apresentavam um quadro de rara miséria. A situagao favorecia os partidos extre- mistas, que se envolviem em tumultos incessan- tes, A extrema esquerda (os comunistas) ten- tou agruper as varias faccdes de esquerda no intuito de bloquear a extrema direita. Ja a extre- ma direita concentrava-se no Partido Nazista, que sensibilizava os alemaes, com, gigantescas Paradas e desfiles de formagdes paramilitares, como a SA e a recém-criada SS (Schutzstaffeln, ou “esquadrdes de defesa”). Qs nazistas apontavam os democratas, os mar- xistas e sobretudo os judeus como os responsa- veis pelo Diktat de Versalhes, que destruira a Ale- manha. Prometiam trabalho aos desempregados, garantia de propriedade aos camponeses, esta~ belecimento de um preco tinico aos comercian- tes, luta contra o socialismo e contra o capita- lismo especulativo em defesa dos pequenos:in- dustriais e, a todos, a reabilitagéo da Alemanha,a ser desembaragada de estrangeiros e judeus. Para a grande burguesia, Hitler tornara-se um competente defensor do capitalismo contra o bolchevismo. Essa parcela era composta prin- cipalmente pelos grandes industriais capitalistas (por exemplo: Thyssen, Krupp, LG. Farben) que Ihe asseguravam consideravel apoio financeiro. Com isso, o Partido Nacional-Socialista tevé um estupendo crescimento: em 1930, contava com 1.500.000 adeptos e com 107 representantes do Parlamento, o que encorajava Hitler a tentar che- gar ao poder por vias legais. ” Nas eleigdes de julho de 1932, os nazistas ob- tiveram 230 assentos no Reichstag, isto 6, 37.3% dos votos: a burguesia empobrecida desertara dos partidos moderados para aliar-se ao nacio- nal-socialismo. Em janeiro de 1933, o presidente Hindenburg nomeou Hitler seu chanceler. O regime nazista Como ministro, Hitler novamente dissolveu o Parlamento. Os nazistas podiam doravante uti- lizar-se de todos os recursos do poder para pre- parar as novas eleiges. As campanhas eleitorais para o Parlamento se desenrolavam’em uma at- mosfera de verdadeiro terror. As reunides polf- ticas eram perturbadas pela SA, batalhas eram travadas, cometiam-se atentados e assassinatos, Jornais de esquerda eram suspensos ou empas- telados. Em 27 de fevereiro de 1933, alguns dias antes das eleigdes, um incéndio no Reichstag, prepa- Tado pelos nazistas, foi atribuido aos comunistas, © que resultou na pristio de varios lideres da es- querda. Hitler aproveitou-se do falso complé pa- a restabelecer a pena de morte e suspender to- das as liberdades civis e individuais, ¢ também para tentar persuadir os eleitores moderados da iminéncia de uma revolucao comunista. Em margo de 1933 Hitler, dispondo de plenos poderes, criou o II Reich, ou “Terceiro Império” alemao. Em seguida, aplicou os primeiros pontos do programa nazista: supressio das organizagies, sindicais, eliminagao de todas os demais partidos politicos, ampliagao das prerrogativas do poder central e medidas anti-semitas. SISTEMA ANGLO DE ENSINO a ‘VESTIBULARES Em agosto de 1934, com a morte do presidente Hindenburg, Hitler passou a acumular as fungdes de presidente e chanceler. A partir de entéo, os membros do governo e da nagao foram obriga- dos a prestar fidelidade pessoal ao Fithrer (“con- dutor’). Hitler tornara-se senhor abscluto da Ale- manha. A ideologia nazista A ideologia nacional-socialista se inspirava nas concepgées de varios tedricos do partido, so- bretuco nas de Hitler, expressas em Mein Kampf, amdlgama de varias idéias as vezes contraditérias eviolentas. Seus principios bsicos giravam em torno do lema: Ein Reich, ein Volk, ein Fiihrer (“um impé- rio, um povo, um lider”). A base da doutrina era o racismo. A palavra volk (povo ou nagao) exprime a idéia de uma comunidade racial fundada sobre o mesmo san- gue e no mesmo solo. Os nazistas alegavam a existéncia de uma raga superior, os arianos, cu- jos mais puros representantes, os germanicos, teriam a misséo de dominar 0 mundo. Com esse objetivo, defendiam o pangermanismo. Hitler insistia em exaltar as qualidades guerreiras dos antigos povos germéanicos e seu Sentido de de- ver, disciplina e vontade de poder. Mas, segundo Hitler, essa raca pura estava ameagada de conta- minago pelas racas inferiores, e corria o risco de se degenerar. Portanto, era necessério eliminar as forgas nefastas que alteravam a pureza ariana: a ideologia liberal, a internacional marxista, a internacional catélica, os judeus, o espirito criti- co, 0 individualismo, 9 intelectualismo. Era ne- cess4rio fazer dos alemaes um povo forte; a ideo- Jogia nazista encoraja a natalidade, a pratica do esporte e, sobretudo, a formacdo racial da juven- tude. “Todo sistema educacional”, declarou Hi- tler, “deve visar dar as criangas a convicgio de que sao superiores aos outros povos”. “Ein Reich”, em poucas palavras, resumia a ex- pressao politica do Terceiro Reich. “O novo impé- rio nao se deve edificar sobre a base do pais, mas sobre a base nacional e sobre o Partido Nacional- Socialista, que une toda a nagao alema”, Sua base territorial deveria incluir terras do leste europeu, como Polénia, Ucrania e Russia, consideradas parte do Lebensraum, 0 “espa¢o vital” alemao. “Ein Filhrer” era uma referéncia ao poder total concentrado nas maos de Hitler, ponto mais alto de uma estrutura social hierarquizada. Todas as. decisées seriam submetidas 4 autoridade do Fihrer, considerado absoluto e infalivel. Sao re- veladoras as palavras do general Hermann Gé- ring, uma das figuras de proa do nazismo, quan- do da ascenso de Adolf Hitler: “A partir de no possuo mais consciéncia: minha consciéncia chama-se Adolf Hitler”, A organizaséo do Estado Articulando um regime ditatorial e antico- munista e Jogrando, em seguida, promover a ex- pansao econémica, Hitler habilmente conseguiu manipular a classe média ¢ atender as aspiragoes do grande capitalismo alemao abalado pelas crises econémicas. A nova ordem, que segundo Hitler marcaria a ‘Alemanha por mil anos, estabeleceu-se no quadro de um Estado totalitério fundado sobre o fanatis- mo nacional ¢ 0 fervor racista. A vanquarda dessa transformagao era composta pelo ido Na- cional-Socialista, partido tmico, diretamente sido pelo Fihrer. O partido controlava a adminis- tracdo oficial e se apoiava na poderosa SS, que che- gou a ter 500 mil membros, e na Gestapo, policia secreta encarregada de persequicces politicas e de submeter os alemaes a um rigido controle. Além de contar com a SS e a Gestapo, o Estado nazista gontrolava a populacdo alema também através dos meios de informacao e da propagan- da, confiada a um ministro especializado: Joseph GGebbels (1897-1945). Este orientou a imprensa, orddio, o cinema ea literatura na diregao da nazi- ficagao, instigando o culto personalidade de Hitler. Peralelamente desencadeava-se uma grande Juta contra os que eram considerados inimigos do regime. O anti-semitismo oficial surgiu em 1983, quando os judeus foram excluidos da administra- gao, do ensino, da imprensa e das atividades lite- Tarias e artisticas. Nesse mesmo ano foram criados os primeiros campos de concentragao - em Da- chau, depois em Buchenwald e Sachsenhausen. Em 1935, as “leis de Nuremberg” privaram os Jjudeus de seus direitos civis, reduzindo-os a total marginalidade e proibindo-lhes o acesso a luga- es piiblicos. Muitos judeus abandonaram a Ale- manha deixando para tris seus bens. A partir de 1938, depois da Noite dos Cristais, os ataques violentos se multiplicaram com a realizagéio siste- matica de pogroms (aces contra os judeus); os nazistas destrufram suas sinagogas e casas e profbiu-os de deixar a Alemanha. Nos campos de ‘concentragao os prisioneiros eram submetidos a violéncias fisica e moral. A Aso Econémica O governo nacional-socialista introduziu a po- litica do dirigismo, com que pretendia controlar SISTEMA ANGLO DE ENSINO- 42 ‘VESTIGULARES © trabalho e a produgdo segundo os imperativos da politica geral do Filhrer sem que fossem abala- das as estruturas capitalistas da economia alema, Todos os organismos agricolas, industriais e comerciais foram integrados, com o objetivo de harmonizar a produgao e executar as diretrizes governamentais. O Estado determinava a carga horaria de trabalho, os salérios e a margem be- neficidria das empresas. Tanto as liberdades sin- dicais quanto o direito a greve foram suprimidos. : Em 1933, foram acionados os planos qua- drienais com dois objetivos basicos: 0 combate ao desemprego, com a revitalizagao da indiistria, e 0 | rearmamento. A execugao de grandes obras piibli- i cas (ferrovias, auto-estradas) também contribuiu para que o desemprego praticamente desapare- | cesse. O segundo plano quadrienal (1937-1941), jd incluindo o periodo inicial da Segunda Guerra Mundial, visava libertar a Alemanha do dominio es- ‘trangeiro em matérias estratégicas; dispunha que produtos sintéticos, como carburantes, petréleo e borracha, deveriam ser produzidos internamente. PORTUGAL E ESPANHA As dificuldades oriundas dos efeitos da guerra e dos movimentos revoluciondrios de 1917-1919 favoreceram a instalaggo de regimes ditatoriais de extrema direjta em outros pafses da Europa, como Portugal, Espanha, Hungria, Polénia, Iu- goslavia, Turquia, Grécia, Bulgéria. O governo de Portugal, pais subdesenvolvido € predominantemente agrario, era democratico e eleito por sufragio universal. Como os demais paises da Europa, também enfrentava problemas econémicos no pés-Primeira Guerra Mundial, os quais enfraqueceram o governo. A situagio de instabilidade politica foi superada com a implan- taco, em 1926, de uma ditadura militar. O profes- sor de economia Antonio Oliveira Salazar (1899-1970) foi convidado a participar do go- ‘verno, e devido ao seu crescente prestigio acabou assumindo o poder em 1933. Austero e profun- damente catdlico, Salazar rejeitava o liberalismo, a socialismo e a democracia; implantou em Portu- gal um regime que seguia os moldes fascistas. © regime salazarista teve longa duragdo em Portugal, sobrevivendo 4 morte do ditador. $6 foi derrubado em 1974, durante a Revolucio dos ‘Cravos. Na Espanha, a violenta Guerra Civil que aba- Jou 0 pais de 1936 a 1939 resultou na vitéria do general Francisco Franco (1892-1975), que tam- 'bém implantou um regime de orientacao fascista no pais. Tendo mantido a neutralidade espanhola durante a Segunda Guerra Mundial (apesar das pressoes alemas), Franco manteve a ditadura até sua morte, em 1975, quando foi restaurado na Es- panha o regime monarquico parlamentar. VESTBULARES ‘ | | [SISTEMA ANGLO DE ENSINO AS CRISES INTERNACIONAIS: NA DECADA DE 1930 @ Antecedentes As relagées internacionais na década de 1930 eram marcadas pela instabilidade, devido ao ex- pansionismo militarista adotado pelos governos totalitarios. O objetivo imediato desses gover- nos era superar os efeitos da crise econémica mundial de 1929; essas medidas, no entan- to, levaram 4 eclosdo da Segun- da Guerra Mundial, A crise econémica acirrou os nacionalismos, impedindo a Teaproximagao das nagdes eu- Topéias. Além disso, varios pai- ses engajaram-se em uma poli- tica armamentista para superar marasmno industrial e 0 de- semprego. Outra fonte de atrito nesse contexto era a disparidade en- tre as grandes poténcias. Os Es- tados Unidos, a Inglaterra e a Franga enfrentavam a crise em . 80% do ouro mundial, pos- suiam abundantes reservas de divisas e exerciam influéncia em varias regiGes da América Latina, da Asia e da Africa. J4 Alemanha, Itdlia e Japio con- tavam com reservas de ouro e de divisas menores, estavam paralisados pela restrigao de créditos estrangeiros e dispu- nham de poucos recursos natu- rais; os trés paises passaramn entio a reivindicar das demai poténcias, como condigéo mini- ma de sobrevivéncia nacional, acesso a matérias-primas e mercados, bem como o direito a ter colénias e zonas de in- fluéncia econémica. No Japao, a gravidade da crise econémica levou 0 exérci- to a considerar seriamente as idéias do fascismo, alicerces da proposta de criagdo de uma di- tadura militar que estabeleceria uma nova-ordem no Extremo Oriente. Com isso 0 Japo pre- tendia obter matérias-primas na China e no conjunto do Su- deste Asidtico. Na Italia, Mus- solini mostrava-se decidido a expandir para o exterior valen- do-se da forga: “Enfim, Sua Majestade, o canhao, falara”, afirmou, ambicionando territé- rios no Mediterraneo (que que- ria ver transformado em um “Jago italiano”) e na Africa. Na Alemanha, Hitler pro- curava atingir os objetivos ex- postos no livro Mein Kampf. Ini- cialmente, o pais deveria liber- tar-se dos entraves impostos pelo Tratado de Versalhes (so- bretudo das cléusulas que se re- feriam a limitagio de armamen- tos e a desmilitarizagao da re- gido da RenAnia, na fronteira com a Franca). Em seguida, pretendia-se reunir ao Reich to- das as populagées de origem alem, comecando pela Austria. ‘Também seriam empreendidas na Europa Oriental grandes conquistas territoriais, com que se comporia o “espaco vital” in- dispensdvel 4 superioridade da raga alema. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) @ As primeiras crises (1931-1935) Os japoneses na Manchuria, 1931 Nos meios imperialistas japo- neses almejava-se a expansao sobre a China, Em setembro de 1931, os militares japoneses ocu- param a Manchuria. A China pediu a intervenco da Liga das ‘Nages. Temendo sangdes, 0 Ja- pao concedeti a independéncia & Manchiirla, criando o Estado Mandchukuo, que, na realida- de, era um protetorado japonés. A Liga das Nagbes condenou a aco Japonesa. Em resposta, o Japao abandonou a organiza- Gao em 1933, a fim de assegurar para si liberdade de acdo nas proximas conquistas. A Europa e a Alemanha Hitler, buscando uma reviséo do Tratado de Versalhes junto A Liga das Nag6es, exigia para a Alemanha direitos iguais aos das outras poténcias: tendo en- contrado forte resisténcia, tam- bém retirou o pafs da Liga das Nagées em 1933. Em seguida, Hitler acelerou o processo de rearmamento aleméo, que j se havia iniciado hé anos, restabe- lecendo o servigo militar obri- gatorio e promovendo a milita- rizagaio das regides alemas do Sarre e da Rendnia, em flagran- te violagdo as cléusulas do Tra- tado de Versalhes. A Liga das Nagies nao foi capaz. de impe- dir essas iniciativas alemas. “& VESTIBULARES Qs Italianos na Etiépia, 1935 Nos seus projetos de expansio colonial, Mus- solini via o vasto territério da Etiépia, ainda mal explorado, como potencial fornecedor de maté- rias-primas. Até ento a Etiépia era um reino de fronteiras imprecisas e governo fraco, exercido pelo negus (soberano) Haile Selassie (1892-1975). Em 1935, sob pretexto de proteger a Somélia italiana, Mussolini invadiu a Etiopia, utilizando-se de armas modernas (como aviagao, blindados e gs venenoso) ¢ promovendo um verdadeiro mas- sacre. A Liga das Nages, que ndo conseguiu im- pedir mais esta investida, ficou desacreditada. : 2 Conflitos localizados (1936-1939) A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) A Espanha no participou da Primeira Guerra Mundial, conheceu naquele periodo um répido: crescimento econémico. Porém, o nivel de vida da populagéo nio se alterou, e os antagonismos sociais se tornavam cada vez mais graves. O si dicalismo era muito ativo, dominado por soci listas e anarquistas. Em conseqiiéncia, as idéias comunistas se propagavam nos centros indus- triais, nas Astirias, no Pais Basco e mesmo no campo; greves sangrentas eclodiam em grandes ceniros, como Bilbao, Madri e Catalunha. Com 0 objetivo de restaurar a ordem, o gene: ral Primo de Rivera (1870-1930), grande admi- rador de Mussolini, estabeleceu juntas militares que passaram a intervir na politica. Os militares responsabilizavam a democracia liberal espa~ nhola pelos “desequilibrios nacionais’ e implan- taram uma ditadura repressiva, que foi re- conhecida pelo rei Afonso XII. Rivera governou o pais de fato entre 1923 e 1980. Jovens, intelectuais e dirigentes sindicais oposicionistas, além de militarem contra a dita- dura de Rivera, passaram também a se opor monarquia ¢ a reivindicar o estabelecimento de um governo republican democrético. No final, © rei Afonso XIII foi deposto em 1931. Nas eleigdes de 1936, a Frente Popular, com- posta por anarquistas, comunistas ¢ socialistas ...chegou ao governo. Defensora de uma ampla re- forma social, a Frente aterrorizava grandes:pro- prietdrios, industriais e membros do clero. Estes, temendo 0 avango de comunismo, exploraram 0 assassinato de um chefe monarquista, Calvo Sote- lo, para produzir um levante militar em Melilla, no Marrocos espanhol, em 1936, liderado pelo ge- neral Francisco Franco (1892-1975). Esse levante originou a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), No contexto da guerra, democratas, comu- nistas, grupos anticlericais e operarios formaram nas grandes cidades, como Madi e Barcelona, 0 bloco dos republicanos. Contra eles, articulou- se o movimento dos nacionalistas (em torno do partido da Falange Espanhola), agrupando mi- litares, fascistas, monarquistas, latifundidrios, in- dustriais e o clero. A Guerra Civil Espanhola internacionalizou-se com a intervengao de outros paises. Os republi- canos recebiam apoio da Unido Soviética por meio das Brigadas Internacionais, que agru- pavam voluntarios simpatizantes da causa anti- fascista de outros pafses. Os falangistas ou nacio- nalistas, por sua ver, recebiam apoio da Itdlia e da [SISTEMA ANGLO DE ENSINO 45 VESTBULARES Alemanha. Mussolini encorajava a direita espa- nhola, procurando obter vantagens econémicas na Espanha e assegurar a hegemonia italiana so- bre o Mediterraneo Ocidental; j4 Hitler almejava ter primazia na compra de minérios espanhdis, indispensaveis a sua industria de armamentos. No fim de 1937, mais de 60.000 camisas-negras italianos desembarcaram na Espanha. Os alemaes despacharam avides, blindados e técnicos, trans- formande o pais em um campo de manobras on- de experimentaram os armamentos que viriam a utilizar mais tarde, na Segunda Guerra Mundial. Em margo de 1939, o general Franco consoli- dou seu poder ao tomar Madri. Mais de um mi- thao de pessoas morreram no conflito, encerrado quando da implantagao da ditadura de inspira- ‘Gio fascista que se estendeu até 1975. Além dis- so, a Guerra Civil Espanhola estreitou a relagao entre Alemanha e Italia, estimulande a formagéo de uma alianca chamada de Eixo Roma-Berlim, em 1936. © Confiito Sino-Japonés Enquanto se desenrolava a guerra civil espanho- la, o Japao empreendia novas conquistas na China. Os japoneses baseados no Mandchukuo penetra- vam no norte da China ac mesmo tempo que am- pliavam sua influéncia econémica no resto do pais. O ditador chinés Chiang Kai-chek (1887- 1975) havia implantado no pais uma politica favo- ravel 4 burguesia e 20 imperialismo, enquanto a miséria consumia a maior parte da populacao. Nas zonas mais pobres, ampliava-se a. influéncia dos comunistas, liderados por Mao Tsé-tung (1893- 1976). Os comunistas, perseguidos por Chiang Kai-chek, realizaram a Longa Marcha (1934 1935) em dirego & provincia de Chen-si, onde Mao Tsé-tung organizou uma base de resisténcia, Em meio aos conflitos internos na China, cres- cia cada vez mais 0 expansionismo japonés, e as grandes poténcias no se dispuseram a intervir. Aproveitando-se das divisGes internas do pais ¢ contando com a inoperancia da Liga das Nagées, 0 Japao empreendeu uma invaso em larga escala na China em 1937. Com isso iniciou-se uma pro- longada guerra no leste asidtico. @ Panorama europeu em 1938-1939 A partir de 1988, as relagGes internacionais fo- ram dominadas pelas investidas nazistas, favore- cidas pela postura indecisa dos pafses europeus em relacdo ao nazismo e pelas divisoes entre eles. A Inglaterra no considerava as questdes da Eu- ropa Central essenciais para sua sequranga; ade- mais, o primeiro-ministro, Neville Chamberlain (1869-1940), era partidario de uma tolerante polf- tica de apaziguamento em relagao a Alemanha. As iniciativas francesas face a0 expansionismo alemdo eram imprecisas ¢ no constitufam obstd- culo as ambigdes do Reich. Diante da indiferenga SISTEMA ANGLO DE ENSINO da Inglaterra e da Franga, a Unio Soviética, por meio do Komintern, defendia a ago conjunta de comunistas e demnocratas contra 0 fascismo, pro- pondo a criago de Frentes Populares antifascis- tas em todo o mundo. J4 os Estados Unidos sus? tentavam 0 isolacionismo, buscando neutrali- dace e no envolvimento nos assuntos europeus. Logo, a politica nazista nfo encontrou obsté- culos para rapidamiente se impor no cenario eu- ropeu. O ministro de Relagdes Exteriores, Joa- chim von Ribbentrop (1893-1946), formalizava a aproximacao da Alemanha com outros paises, notadamente a Hungria e a Itélia, com os quais, assinou o Pacto Anti-Komintern. No entanto, o grande objetivo alemo era 0 Anschluss, ou seja, a anexagao da Austria. No inicio de 1938, os nazistas austriacos intensifica- vam. suas campanhas em favor da anexacio de seu pafs a Alemanha. Dominando as forcas poli- ciais, os nazistas austriacos neutralizaram seus adversarios e abriram caminho para a ascensdo a chanceler de Seyss Inquart, que, para assegu- rar a ordem no pals, apelou para as tropas ale- mas. A Austria foi ocupada em margo de 1938, e © Anschluss, proclamade ¢ ratificado por 99% dos sufragistas austriacos. Resolvida a questao austriaca, Hitler voltou sua atencio para a Tchecoslovaquia, em cujos ter- ritérios industrializados da Boémia e dos Sudetos vivia uma expressiva populacdo de origem ger- ménica. Com a instalacdo do regime nazista na _ Alemanha, os germanicos dos Sudetos passaram. a reivindicar autonomia, e o governo de Praga, temendo o enfrentamento com a Alemanha,-mo- bilizou seu exército. Buscando evitar o conflito por meio de um acordo, 0 ministro inglés Chamberlain entrevis- tou-se com Hitler, que reivindicava a totalidade do territério dos Sudetos. Para manter a paz, Chamberain convocou a Conferéncia de Mu- na qual se reuniram Hitler, Mussolini, e aed Daladier (1884-1970), primeiro-ministro francés. Uma vez que_a Unido Soviética e a pré- pria Tchecoslovaquia foram excluidas das nego- ciagdes, Hitler nao encontrou dificuldade em obter a totalidade dos territ6rios reivindicados. Posteriormente, Hitler violou os acordos de Mu- nique e acabou por desmembrar toda a Tehecos- lovaquia. Durante um curto espago de tempo, a politica de Chamberlain, vista como “causa da paz”, foi re- cebida pelos partidarios com entusiasmo. Mas os Tesultados da Conferéncia de Munique, sob a in- Jungao de Hitler e com a cumplicidade da Franca © da Inglaterra, levaram a Unido Soviética a sus- eitar da formagao de uma frente anti-soviética, i A questao polonesa (1939) As ilusGes dos partidérios quanto ao apazigua- mento foram dissipadas quando da violacdo dos acordos de Munique. A Inglaterra conscientiza- ‘va-se de que uma Alemanha de 90 milhdes de ha- bitantes poderia romper o equilibrio europeu € ameacar sua integridade. Assim, uniu-se 4 Fran- ga na decisio de se opor pela fora a qualquer iniciativa das ditaduras. Dos pafses limitrofes 4 Alemanha, o mais ameagado pelo nazismo era a Polonia. Hitler até entdo mantivera relagdes cordiais com o pais, cujo governo acreditava que uma reaproximago com os alemaes blaquearia as ambigOes soviéticas em relagio a seu territdrio. Porém, apés o desmem- bramento da Tehecoslovaquia, Hitler passou a exi- gir dos poloneses a cessao do porto de Dantzig (Gdansk) e facilidades de comunicagao através do “corredor polonés”, que separava a Prissia Orien- tal do resto da Alemanha. Essas reivindicagdes eram reiteradas por grupos nazistas em Dantzig, antiga cidade alemA cedida 4 Polénia apés a Pri- meira Guerra Mundial. Diante da perspectiva de um conffito armado, os blocos reforgaram suas posigées diplométicas. A base do sistema alemao era uma alianga defen- siva e ofensiva concluida com a Italia. A Franga e a Inglaterra mantinham suas politicas favoréveis aos paises ameagados pelo Eixo, através de decla- ragoes conjuntas. Nessa situacao, tornava-se de- terminante posicionamento da Unido Soviética, cujo apoio foi solicitado no inicio de 1939 pelos aliados (franceses e ingleses). No entanto, os russos, depois dos episédios de Munique, exigiram acordos precisos de assistén- cia mutua que englobassem todos os.Estados da Europa Oriental, mas Londres e Paris temiam a formacio de uma zona submissa 4 hegemonia soviética e recusavam-se a autorizar a influéncia russa na Europa Oriental. Nesse contexto, Vyascheslav Molotov (1890- 1986), novo Ministro das Relagdes Exteriores s0- viético e fiel seguidor da diretriz stalinista, passou a orientar a politica externa do pafs visando uma aproximagao com a Alemanha: em 23 de agosto de 1939, Ribbentrop assinou em Moscou um pac- to de nao-agressao, o Pacto Ger ti co, que inclufa um protocolo secreto delimitando as esferas de influéncia dos dois signatarios na Europa Oriental e prevendo a futura partilha da Polénia. Aassinatura do Pacto Germano-soviético deu a Hitler liberdade para agir sobre a Pol6nia, que es- tava prestes a passar ento pelo dramatico pro- cesso j conhecido pela Austria e pela Tchecoslo- “SSTENA ANGLO DE ENSINO a7 VESTBULARES __ véquia. No dia 12e setembro de 1939, sem decla- ragao formal de guerra, os exéreitos alemaes in- vadiram a Polénia. Apés uma ultima e infrutifera tentativa de mediagao, Franga e Inglaterra, em 3 de seterabro, declararam guerra & Alemanha, dan- do inicio’ Segunda Guerra Mundial. A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945) 1B Causas ‘Costuma-se dizer que a Segunda Guerra Mun- dial foi uma continuagao da Primeira. De fato, apés a derrota da Alemanha e a imposicao do ‘Tratado de Versaihes, a possibilidade de paz na Europa passou a ser remota: o revanchismo ale- mao eo desejo de ocupar um espaco proeminen- te na economia mundial estimularam 0 reinicio do conflito em 1939, envolvendo os mesmos ad- -versarios principais do conflito anterior: Franca e Inglaterra de um lado, Alemanha do outro. Os primeiros objetivos alemfes na guerra visavam exatamente a reparagao dos prejuizos tomados na Primeira Guerra Mundial; ou seja, visavam a reconquista de territorios perdidos para Polonia e Franga e a revanche contra os franceses. Além disso, o conflito tinha um propésito ideolégico: o regime totalitdrio alemio, liderado por Adolf Hitler, conduziu 0 conflito sob influén- cia do ideario nazista. Assim, desde antes da guerra, Hitler procurou aproximar-se da Itélia fascista (com a formagao do Eixo, mais tarde ampliado com a participagao do Japao) e, duran- te o conflito, empreendeu uma grande ofensiva contra a Unido Soviética. Por mais que os inte- esses econdmicos a serem satisfeitos com a con- quista da Uniio Soviética fossem explicitos, cabe Jembrar que a luta dos nazistas fundamentava-se nos objetivos de destruir o comunismo e de “co- lonizar” com alemaes a planicie russa, a qual fa- ria parte do Lebensraum (= espago vital). ‘A condugao ideolégica do conflito aparece também no projeto de exterminio da populagao judaica européia. A “solugio final”, como foi cha- mada pelos Iideres nazistas, previa uma signifi- cativa mobilizago econémica e militar em nome de um objetivo irracional e francamente assassi- no. O resultado foi o Holocausto, exterminio organizado de milhdes de judeus europeus, além de outras minorias. No leste asidtico, a ascensao do Japio e sua politica imperialista também séio causas do con- flito. Com a progressiva decadéncia das tradicio- nais poténcias coloniais européias apés 4 Pri- imeira Guerra Mundial, os Estados Unidos passa- ram a ser praticamente 0 tinico pafs a defender 0 stato quo colonial na Asia. A ascensio-do Japao desde 0 final do século XIX passou arepresentar uma ameaga para os velhos interesses-estabele- cidos na regiao, provocancojuma intensa disputa imperialista. Desde o final daxdécada de:1930, os Estados Unidos, usando.como pretexto a invasio japonesa da China, passaram aiadotar tnedidas econémicas contra o Japao, incluindo, o blequeio de exportagdes (principalmente.de derivados,de petréleo). Essas medidas geraram,um. impasse que acabou resultando no ataquejaponés & base norte-americana no Pacifico.em 1941...» @ Etapas “ As vitérias do Eixo (1939-1941) oe Em setembro de 1939, 0, exército.alemao in- vadiu a Polénia. As forgas armadas.deste pais fo- ram derrotadas em policos dias. Como’ parte do Pacto Germano-soviético,, tropas, russas, partici- param da invasdo e partilha do pais. Em, abril. de 1940, tropas alemés invadiram a Dinamarca.e a Noruega; em maio, invadiram a Franga.- Esperava-se uma tepeticao do impasse san- grento da guerra de trincheiras, nos moldes da Primeira Guerra Mundial. O exército.francés concentrava-se em um complexo de fortificagées ao longo da fronteira alema conhecido como Li, nha Maginot, reforcado também pelo exército inglés. Todavia, os alemées, violando a neutrali- dade da Bélgica e da Holanda, contornaram,a fronteira, cercando grandes contingentes france- ses e forgando sua rendigdo, bem como a fuga das tropas inglesas. Em pouco tempo, Paris foi tomada e a Franca rendeu-se aos alemies. Chama a atengao a rapidez com.que 2 Alema- nha vencia as batalhas nos estagios-iniciais da guerra. Isso devia-se a tatica da blitzkrieg, ou “guerra relémpago”, baseada na utilizago maci- ga de tropas mecanizadas (basicamente tanques de guerra) e aviacdo de combate. Os impressio- nantes sucessos da Alemanha acabaram estimu- lando a entrada da Itdlia fascista na guerra, o que ‘ocorreu em junho de 1940, pouco antes da derro- ta francesa, : ‘Dessa forma, a Inglaterra se viu isolada:diante de uma Alemanha vitoriosa jé no inicio do con- flito. A fim de neutralizar o inimigo,:Hitler orde- nou violentos ataques aéreos que levaram & Bata- tha da Inglaterra, até entio a maior batalha.aérea de todos os tempos. Os combates logo se,trans: formaram em uma campanha macica de. b bardeios contra as grandes. cidades inglésas, in- cluindo a blitz sobre Londres. fel Sap, Quanto a Franga, parte do pafs.era ocupada e administrada pelos alemées; fot criado um:go- SISTEMA ANGLO OE ENSINO. VESTIBULARES | verno, baseado na cidade de Vichy, que colabo- raya com a nova ordem nazista imposta & Europa dominada. No exilio, o general Charles De Gaulle (1890-1970) tentava articular o movimento da resisténcia francesa, que logo passou a de- senvolver operacées clandestinas dentro da Franga contra as tropas alemis de ocupacao. Durante o perfodo das vitérias do Eixo, as ope- ragGes militares se estenderam até o norte da Afi- cae a peninsula Balcdnica, Em junho de 1941, Hi- tler, rompendo o pacto assinado em 1939, ordenou a invasdo da Unido Soviética. A blitzkrieg con- tra os russos resultou em uma nova seqiténcia de vit6rias da Alemanha. Mas o esgotamento das tro- pas, as dificuldades de abastecimento, as condi- Wes climéticas adversas (0 “general Inverno” rus- 50) € os contra-ataques do Exército Vermelho aca- baram por deter os alemaes as portas de Moscou no final de 1941, Apesar de detido, o exército ale- mao estava longe de ser derrotado, reiniciando as operagSes em larga escala na Unido Soviética na ee niee ener Territério contolado pelo Ebvo (Final de 1942) J (5253 Palaes neutros com govemo de coFientacéo fascista IIT Tartérios contiotados pelos © Aliados Na mesma época, precisamente em dezembro, © Japao declarou guerra aos Estados Unidos com © ataque 4 base naval norte-americana de Pearl Harbor, no Havai. Em pouco tempo, com a neu- tralizago da frota norte-americana, os japoneses tomaram vastas extensdes de terra no leste asié- tico, incluindo Filipinas, Maldsia, Cingapura, Hong Kong, Sudeste asidtico, Indias Orientais, Holandesas (atual Indonésia), Birménia (atual Myanma), além de inameras ilhas do Oceano Pa- sore z | cifico. A maior parte desses territérios, pelos quais 0 Japo tinha grande interesse, eram colé- nas de pafses europeus. O envolvimento e a der- rota desses pafses na guerra européia contra a Alemanha, tornava suas colénias presas faceis do imperialismo japonés; bastava ao Japao enfrentat e derrotar os Estados Unidos para converter-se na tinica poléncia da Asia. Mas a entrada dos Es- tacos Unidos no conflito consolidou 0 bloco dos Aliados. ‘SISTEMA ANGLO-OE ENSINO 49 ‘VESTIBULARES PE oeen ntact A“virada” (1942) Em 1942, tem inicio a grande “virada” na guer- ra: os Aliados, até ento derrotados, passaram a obter vit6rias decisivas em todas as frentes. A ba- talha que melhor simboliza o inicio da derrota do Eixo ocorreu na Unido Soviética, entre o final de 1942 e 0 inicio de 1948: foi a batalha de Stalin- grado, quando o grande exército alemio foi cer- cado destruido pelos russos; o desfecho dessa batalha marca 0 infcio do colapso da Alemanha na frente oriental. Os fatores que possibilitaram a “virada” na guerra e a posterior vitéria dos Aliados, relacio- nam-se & propria discrepancia entre as forgas em luta a partir de 1942: 0 Eixo passou a lutar a0 mesmo tempo contra Estados Unidos e Uni Soviética, ou seja, contra as duas maiores potén- cias econémicas do mundo. Ademais, 0 controle dos mares possibilitou que os Aliados tivessem acesso a matérias-primas em quase todo o mun- ao, assim, a produga9 bélica néo foi interrom- pida, . Além da questo econémica, existem fatores humanos: a populagdo dos paises Aliados era muito maior que a populagao dos paises do Eixo. N&o apenas no que se refere aos Estados Unidos e 4 Unigo Soviética, mas também a Inglaterra, que podia contar com as populacdes dos paises do Império Britanico (Australia, Canada, Africa EES Tonitério controlado pelo Jepéo HID Terit6ria controtado pato Atiados do Sul, India). Além disso, o bloco dos aliados contava com tropas de varios outros paises en- volvidos no conflito, do Brasil 4 China. Em outras palavras, foi uma questo de tempo até que os Aliados passassem a produzir mais.ar- mas para equipar forgas armadas cada vez maio- res. Nesse processo, destaca-se a mobilizacio econémica dos Estados Unidos, convertidos no “arsenal das democracias”. Estando seu territé- rio livre da destruigao provocada pelos combates e contande com uma sdlida base industrial, os, Estados Unidos produziam em larga escala os artefatos bélicos que abasteciam 0 bloco Aliado. Quanto a mobilizagao humana, chama a atenco © engajamento da populagao da Unio Soviética, pafs que sofreu a maior agressio realizada pelo Eixo (estima-se que 20 milhées de russos morre- Tam no conflito) e onde o grosso do exército ale- mio foi derrotado. O grande niimero de mortos e de pessoas mobilizadas contra 0 inimigo no contexto do conflito levam os russos a lembra- rem_a Segunda Guerra Mundial até hoje como. “A Grande Guerra Patriética”. Finalmente, ataques aéreos devastadores rea- lizados pelos Aliados acabaram transformando a Alemanha e o Japao em verdadeiros campos de ruinas, dificultando o prosseguimento de sua producdo industrial. As ofensivas dos Aliados contra 0 Eixo culminaram com o ataque nuclear a0 Japao, em 1945. SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTULARES As vitérias dos Aliados (1943-1945) Em 1943, tropas aliadas desembarcaram na Itdlia, transformando o pafs em campo de bata- Iha. Mussolini tornou-se um verdadeiro “fanto- che” nas mos das tropas alem&s que combatiam na peninsula, Em junho de 1944, ocorreu o Dia D: 0 desembarque de tropas norte-americanas e in- glesas nas praias da Normandia, no norte da Franga. Era 0 inicio da libertagéio deste pais. A partir de entdo, a guerra na Europa trans- formou-se em uma espécie de “corrida” rumo a Berlim: do Oeste aproximavam-se os exércitos dos Estados Unidos e da Inglaterra; do Leste, vi- nham os russos, em processo de expulsdo dos alemies de’ seu territério desde a batalha de Sta- lingrado. : Em abril de 1945, durante 0 cerco de Berlim pelas tropas soviéticas, Hitler suicidou-se. Pou- cos dias depois, logo apis o encontro dos exérci- tos norte-americano e russo, formalizou-se a rendig&o da Alemanha, que se converteu em territério ocupado, Na Asia, a reconquista norte-americana e euro- péla das ilhas do Oceano Pacitico foi possibilitan- do a instalago de bases cada vez mais proximas ao Japao. Multiplicaram-se os ataques aéreos aquele pais, to distante do cendrio principal da guerra. Em agosto de 1945, apés os devastadores ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki, 0 Japao se rendeu. DA paz ‘Uma das peculiaridades da Segunda Guerra Mundial é que os tratacios de paz assinados ao fi- nal do conflito envolveram apenas as partes ven- cedoras: aos derrotados Alemanha e Japo, foi exigida a rendicaio incondicional, que dava aos Aliados 0 direito de trata-los como quisesseni. © Em 1943, ainda durante a guerra, deu-se o pri- meiro entendiménto entre os “trés grandes”, ou seja,os lideres dos Estados Unidos, da Unifio So- viética e da Inglaterra, respectivamente Roose- velt; Stalin e Winston Churchill (1874-1965), na Conferéncia. de Teera. Nesse encontro foi decidida uma estratégia conjunta de condugao da guerra, com ingleses e americanos compto- metendo-se a iniciar em breve a invasio da Eu- ropa Ocidental a firm de aliviar a frente russa. Em 1945, mais uma vez os trés lideres se en- contraram, dessa vez na Conferéncia de Yalta, na Unio Soviética, Em Yalta, articulou-se a cria- Gao de uma “nova Europa” apés o término da guerre, sendo decidlida @ diviséo do continente em duas dreas de influéncia: uma soviética ¢ outra norte-americana, Na prética, a acordo esta- belecia que os paises da Europa Oriental, iberta- dos do nazismo pelo Exército Vermelho, passa- iam a ser socialistas, enquanto os paises da Eu- ropa Ocidental, libertados do nazismo pelo exér- cito norte-americano, seguiriam sendo capita- listas. No mesmo ano de 1945, porém, jé apds encer- rada a guerra na Europa, realizou-se a Confe- réncia de Potsdam, na Alemanha ocupada. Os Rstados Unidos foram representados por seu no- vo presidente, Harry Truman (1884-1972, man- dato de 1945-1953), que havia assumido apés a morte de Roosevelt em abril; e a Inglaterra por seu novo primeiro-ministro, Clement Attlee (1883-1967), sucessor de Churchill. Em Potsdam decidiu-se pela divisao da Alemanha em quatro Zonas de Ocupacao {de Estados Unidos, Unido Soviética, Inglaterra e Franca). O mesmo aconteceria com a capital, Berlim, embora a cidade se situasse no interior da Zona de Ocupa- (0 soviética. Além disso, nessa conferéncia foi langado o projeto de “desnazificagio” da Ale- manha, culminando com a instalacao do Tribu- nal de Nuremberg para o julgamento de cri- mes de guerra, Em poucos anos, as Zonas de Ocupagao dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Franca se uni- Tam para formar a Repiblica Federal da Alema- nha (ou Alemanha Ocidental, capitalista), en- quanto na Zona de Ocupagao soviética foi criada a Repiblica Democratica Alea (ou Alemanha Oriental, socialista). A divisao da Alemanha foi um antincio do que ocorreria a partir de ento em escala mundial: a diviséo do mundo em areas de influéncia de Estados Unidos e Unio Sovié- tica, no Ambito da Guerra Fria. SISTEMA ANGLO DE ENSINO | 51 VESTIBULARES © INICIO DA GUERRA FRIA (1945-1953) i Introdusao Na histéria das relagdes in- ternacionais, a Guerra Fria cor- responde ao periodo de bipola- rizagdo mundial, em que Esta- dos Unidos e Uniao Soviética, as duas superpoténcias emer- gentes ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passaram a disputar a hegemo- nia planetaria. De fato, em 1945 © poder desses dois paises nao encontrava paralelo, ainda mais apés a destruicao da Europa e do Japa, dufante o conflito. O pensador francés Raymond Aron (1905-1983} descreveu a Guerra Fria como um perfodo de “paz impossivel, guerra im- provavel”. A paz era impossivel devido & adogao pelas superpo- téncias de dois sistemas socice- conémicos incompativeis e an- tagénicos, capitalismo e so- cialismo. A guerra era impro- vavel porque os dois paises dis- punham de poderosos arsenais, nucleares - os Estados Unidos desde 1945 e a Unido Soviética a partir de 1949 -, e uma guerra aberta entre as duas superpo- téncias poderia resultar em gra- ve destruigdo ou, no jargao da Guerra Fria, na destruigao mt- tua assegurada. Tanto os Estados Unidos quanto a Unio Soviética inicial- mente buscaram fortalecer suas posicdes através do estreita- mento de lacos com os paises da Europa Os Estados Unidos pro- A Guerra Fria curaram promover essa aproxi- magao ajudando economica- mente os paises da Europa Oci- dental, libertados por eles do dominio nazista. Em 1947, co- megou a ser aplicado o Plano Marshall, financiado e admi- nistrado pelos Estados Unidos. Em seguida, em 1949, foi criada a OTAN (Organizacdo do Tra- tado do Atlantico Norte}, alian- ga militar também liderada pe- Jos Estados Unidos. JA nos paises da Europa Ori- ental, libertados do dominio na- zista pela Unio Soviética, foi im- plantado o socialismo e criado, em 1949, o Comecon, Conselho para Assisténcia Econémica Mti- tua. Em 1955, foi criado o e: valente soviético 4 OTAN: o P: to de Varsévia, alianga militar fses do leste europeu. da Europa em dois blocos gerou o termo Cortina de Ferro, aludindo a implacavel ‘Em 1582, a Espana ingressou na OTAN, 1 SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTBULARES fronteira geogréfica, ideolégica e militar que pas- sou a separar as porgdes Leste e Oeste do conti- nente. A criacdo dos dois blocos militares levot Europa a se rearmar e os Estados Unidos e a Uni Sovietica a manterem fortes contingentes militares, prontos para iniciar uma “terceira guerra mun- dial’, em territério europeu. Porém, 2 guerra nao explodiu. Por maiores que fossem as tenses, a Eu- ropa conheceu nos anos da Guerra Fria um dos mais prolongados periodos de paz de sua historia, Porém, um dos aspectos mais tragicos da Guer- ra Fria foi justamente a transferéncia da disputa begeménica para 4reas periféricas; assim, en- quanto a Europa permanecia em paz ainda que intensamente militarizada), Estados Unidos e Unigo Soviética disputavara violentamente o con- trole sobre territorios na Asia, Africa e América Latina, As duas superpoténcias adotaram polft cas explicitamente intervencionistas, incluindo a intervengdo direta em Areas consideradas de ris- co (por exemplo: os Estados Unidos no Viena, a Uniao Soviética na Tehecoslovaquia), @ Os primeiros atritos © langamento da bomba atémica sobre Hi- roshima e Nagasaki por parte dos norte-ame- ricanos, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, jd anunciava a iminéncia da Guerra Fria. O governo norte-americanos, além de pre- tender com isso precipitar a rendicio do Japao, pretendia também encerrar a guerra antes que as tropas soviéticas ocupassem amplos territé- rios no leste asitico. Além disso, a explosio das bombas no Japo servi como uma demons- tragao de forga dos Estados Unidos diante da Unido Soviética, particularmente &ti] no periodo de intensas negociagSes diplomaticas entre os vencedores da guerra, que passavam entdo a ser rivais na disputa pela hegemonia mundial. No entanto, foi o langamento da Doutrina Truman, em 1947, que marcou o inicio do perfo- do da Guerra Fria. A doutrina de politica externa elaborada pelo presidente Harry Truman con- duziu a diplomacia norte-americana durante a Guerra Fria. Propunha o intervencionismo norte- ameticano em escala mundial, visando conter qualquer avango do bloco socialista. dos apolar. povos livres’ tivas d@ dominagso par mi )-b08SeMternas** No mesmo ano, foi langado o Plano Marshall de reconstru¢o da Europa, assim batizado em referéncia ao secretério de Estado norte-ameri- cano George C, Marshall (1880-1959). Consistie, ‘como vimos, em investimentos em larga escala com 0s quais se’promoveu a recuperacao econd- mica da Europa Ocidental. Os paises do Leste fo- ram convidados a participar, mas a Unido Sovié- tica rejeitou a proposta, considerando que pode- ria abrir espaco a influéncia horte-americana dentro do bloco socialista. ‘Tanto a Doutrina Truman como o Plano Marshall foram politicas decisivas para o desenvolvimento da economia norte-americana no pés-querra, Em 1945, depois de anos.de intensa mobilizagiio eco- némica, os Estados Unidos respondiam por mais de 50% da produgio industrial mundial. O fim da guerra e das volumosas encomendas militares go- vernamentais poderiam representar uma grande retraco econémica, Este desfecho foi evitade com a adogio da Doutrina Truman, que garantiu a ma- nutengao de gastos militares elevados por parte do governo, e do Plano Marshall, pois a reconstru- 40 da Europa aumentaria a demmanda por produ- tos norte-americanos. Inicialmente fora do Plano Marshall, 0 Japao s6 receberia recursos norte-americanos para a recu- peragio econémica a partir de 1950, como parte do Plano Colombo de auxilio econémico para a Asia, A primeira questio diplomatica entre Estados Unidos e Unitio Soviética deu-se em 1948, acerca, da cidade de Berlim. De acordo com o que foi estipulado na Conferéncia de Potsdam, a cida- de foi dividida, apés a Segunda Guerra Mundial, em quatro zonas de ocupacao militar (soviética, norte-americana, inglesa ¢ francesa), ficando to- do 0 conjunto encravado em territério a partir de entéo pertencente & Alemanha Oriental. A pro- gressiva consolidagao de uma economia capita- lista na parte ocidental da cidade, sob ocupacao dos paises capitalistas, foi a causa dos atritos com a Unido Soviética, que nao queria aceitar uma “tha” de capitalismo no meio do socialisme. Em ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO 53 VESTIBULARES. junho de 1948, os soviéticos cortaram os acessos, terrestres que ligavam Berlim ao ocidente, dando inicio a0 Bloqueio de Berlim. A ligagao de Ber- lim Ocidental com a Alemanha Ocidental passou a ser feita somente através de avides (incluindo todo abastecimento da cidade). A “ponte aérea” durou até o ano seguinite, quando a Unido So- viética rompeu o bloqueio. Em 1961, 0 regime socialista da Alemanha Oriental acabaria por construir um muro isolan- do Berlim Ocidental de seu entorno socialista, embora mantivesse abertaa ligago terrestre (ro- dovidria e ferrovidria) com a Alemanha Ocidental: Boer aeee Borfim a Alemanhe durante « Guerra Fria, A explosio da bombs savigtica ¢ otro de. Revoluciio Chinesa, ambos em 1949, resultaram, em vitoria socialista na guerra de propaganda en- tre os dois blocos, t4o tipica da Guerra Fria. Nos Estados Unidos, 0 crescimento da esquerda aca- bow levando ao panico anticomunista, expresso re adogdo do macartismo, ou poltica de "caga as bruxas”. Esta politica originou-se da atuacao do senador Joseph McCarthy (1908-1957), res- ponsdvel pela investigacao de atividades “anti- americanes” utilizando métodos nem sempre le- gais, chegando a restringir direitos civis, O ma- cartismo criou nos Estados Unidos um clima de inseguranga, medo e estimulo & espionagem e ela, bastante intenso até meados de década le Em 1950, explodiu o primeiro grande conflito lo- calizado da Guerra Fria, envolvendo a participagao direta de tropas de uma das superpoténcias, no caso, os Estados Unidos: foi a Guerra da Coréia (1950-1953). COEXISTENCIA PACIFICA (1953-1959) O fim da Guerra da Coréia em 1953, bem co- mo a morte de Stalin no mesmo ano, diminuiram a tensio internacional; essa distens4o acentuou- se com a ascensao do novo lider soviético, Niki- ta Khruschev (1894-1971), Em 1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista da Unido Soviética, 0 novo lider denunciou os crimes co- metidos por Stalin enquanto esteve no poder € condenou praticas stalinistas, como 0 culto & personalidade. Iniciava-se a desestalinizagao na Unio Soviética. Além de libertar pre- sos politicos, Khruschev deslocou as prioridades da economia soviética, da industria pesada para a producdo de bens de con- ‘sumo, elevando 0 padrao de vida da populagao. Procurou conter a corri- da armamentista entre as superpoténcias, reconhe- cendo que um enfrenta- mento direto seria invid- vel na era nuclear e dis- pondo que, portanto, a relagdo entre Estados Unidos e Unio Soviética deveria ser marcada pela coexisténcia pacifica. Khruschev foi ainda o primeiro lider soviético a visitar os Estados Unidos (1959), buscando és- tabelecer relagSes cordiais e propondo até incre- mento no comércio entre os dois pafses. Os su- Gessos do programa espacial sovietico (Sputnik, primeiro satélite artificial, 1957; Yuri Gagarin, primeiro homem no espago, 1961) contributram para o clima de otimismo no pais. Diversas foram as reagGes ao programa efor mista de Kruschev. Por todo o mundo, partidos comunistas se dividiram, com facgdes aceitando ‘ou rejeitando a desestalinizagao. O governo chi- nés, encabecado por Mao Tsé-tung, rejeitou as mudarigas, oque levou a China a romper com os soviéticos em 1959. Na Europa Oriental, alguns dos regimes socialistas tutelados pela Unio So- viética tentaram aprofundar as reformas, nota- damente na Hungria. Em 1956, explodiu no pais um movimento popular, sob a lideranga de Imre Nagy (1896-1958), que exigia a retirada das'tro- pas soviéticas do pais e reformas demoti zantes. A invasao da Hungria e a brutal repres- BERLIM OCIDENTAL SISTEMA ANGLO DE ENSINO. 54 VESTIBULARES so empreendida pelos soviéticos acabaram com omovimento. O episédio htingaro de 1956 demonstra os li- mites das reformas de Khruschev. Mesmo com as mudangas, 0 regime soviético permaneceu uma ditadura de partido tmnico, e apesar do discurso da “coexisténcia pacifica”, a Unido Soviética con- tinuou a adotar praticas intervencionistas em ca- sos de crise. A ascens4o de Fidel Castro em Cu- ba, em 1959, e as crises decorrentes de sua apro- ximagao com a Unido soviética deixariam bem claros esses limites, aumentando a tensio inter- nacional. 1 A TENSAO LESTE X OESTE (1959-1973) Em 1959, depois de anos de luta guerrilhefra, Fidel Castro assumiu o poder em Cuba. As me- didas nacionalistas e a posterior aproximagao com a Unido Soviética resultaram em relagoes ‘tensas com os Estados Unidos. Em 1962, os Es- tados Unidos acusaram a Unio Soviética de pre- parar a instalagao de misseis nucleares de médio alcance em Cuba, capazes de atingir rapida- mente as maiores cidades norte-americanas. O presidente John Kennedy (1917-1963) exigiu a Tetirada dos misseis de Cuba e, como forma de pressio, ordenou o bloqueio naval da ilha. Inicia- varse a Crise dos Misseis, a pior crise entre as superpoténcias durante a Guerra Fria. inicialmente, a Unido Soviética rejeitou a exi- géncia norte-americana e denunciou o bloqueio como ato de guerra contra um pais amigo, Cuba. Seguiram-se intensas negociacées diplométicas, em meio A mobilizagao militar e aos preparativos para a querra: enquanto os Estados Unidos amea- gavam invadir Cuba, a Unido Soviética compro- metie-se publicamente em defendé-la. Finalmen- te, um acordo foi obtido com os soviéticos, que aceitaram a retirada dos miséeis desde que os norte-americanos adotassem medida equivalente em relagéo a seus misseis instalados na Turquia, Na Unido Soviética, 0 episédio foi encarado por muitos como um recuo diplomético, fragi- lizando a posicao de Khruschev diante do grupo conservador formado por burocratas stalinistas e comandantes militares. Em 1964, Khruschev foi afastado do poder e substituido por Leonid Brezhnev (1906-1982). Também nos Estados: _ Unidos, a situacdo politica tornava-se tensa, com © assassinato do presidente Kennedy em 1963 ¢ Oo crescente envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietna. O apogeu das querras no Oriente Médio entre arabes e israelenses (Guerra dos Seis Dias era 1967; Guerra do Yom Kippur em 1973) também colaborou para manter elevado o nivel de tensao internacional nesse periodo. Finalmente, a mobilizagao popular na Tehecoslovaquia contra a dominagao soviética em 1968, em um episodio semelhante ao da Hungria em 1956, abalou 0 bloco socialista. O movimento liderado por Alexander Dubcek (1921-1992) ficou conhecido como a “Primavera de Praga” e também foi reprimido com violéncia pelo exército sovietico. Lideres* soviéticos durante a Guerra Fria Josef Stalin (1922-1953) ‘Nikita Khruschev (1953-1964) Leonid Brezhnev (1964-1982) Yuri Andropov (1982-1984) Konstantin Tchernenko (1964-1985) Mikhail Gorbachev (1985-1991) *Secretério-geral do Partido Comunista da Unio Sovidtica (PCUS) i A DISTENSAO (DETENTE) (1973-1981) A partir da décacia de 1970 comegou a diminuir a tensio internacional, caracterizando a détente ou distensao. J em 1972 Estados Unidos e Uniao Soviética haviam concordado em limitar o tama- nho de seus arsenais nucleares (acordo SALT, “Tratado de Limitacdo de Armas Estratégicas”). Ao mesmo tempo, prosseguia a retirada das wlti- mas tropas de combate norte-americanas do Vietna, que acabaram deixando o pais no ano se- guinte. A manutengdo da détente esta relacionada com a relativa “timidez” da politica externa nor- ‘te-americana no periodo, por sua vez fruto de uma tripla crise: militar, com a derrota no Vien desestimulando novas aventuras intervencionis- tas; econémica, a partir de 1973, com a crise do petréleo gerando inflagaéo e estagnagic econé- mica; politica, fruto do escéndalo Watergate (1972), que envolveu o presidente Richard Nixon (1913-1994) em acusages de espionagem a opo- sitores e suborno de investigadores, resultando em sua renincia dois anos depois. ‘A eleicao de Jimmy Carter & presidéncia forta~ leceu a détente gragas 4 adogao da politica dos Direitos Humanos como principio ético que deveria orientar a politica externa norte-america- na. Durante os anos da Guerra Fria, os Estados ‘Unidos davam apoio a qualquer regime antico- munista, até mesmo a ditaduras. Com Carter, o ‘SSTEMA ANGLO DE ENSINO ‘VESTULARES. 55 critério passou a ser outro: a ditadura deveria ser considerada, antes de tydo, uma ditadura, inclu- sive as anticomunistas. E nessa época, por exem- plo, que estremecem as relacdes entre os Esta- dos Unidos e o regime militar entdo existente no Brasil. Essa politica, no entanto, fez com que os Es- tados Unidos amargassem derrotas na arena in- ternacional. Em 1979, o ditador da Nicarégua Anastasio Somoza (1925-1980), que durante anos havia contado com apoio norte-americano, foi derrubado pela Revolugao Sandinista que deu lugar & implantacao de um regime socialista no pais, No mesmo ano, o x4 (imperador) do Ira, Reza Pahlevi (1919-1980), foi derrubado pela Revolugao Islémica, encerrando décadas de in- flugncia norte-americana no pals. A invasdo so- viética do Afeganistdo, ainda em 1979, fortale- ceu a posi¢io da superpoténcia socialista no Oriente Médio e acabou por levar Carter a uma revisdo de sua politica externa, porém j4 no final do mandato. Presidentes norte-americanos durante a Guerra Fria Harry Truman (1945-1953) ‘Dwight Eisenhower (1953-1961) John FE. Kennedy (1961-1963) Lindon Johnson (1963-1969) Richard Nixon (1969-1974) Gerald Ford (1974-1977) Jimmy Carter (1977-1981) Ronald Reagan (1981-1989) Os reveses internacionais e a oposigo interna ao governo Carter, resultaram em sua derrota nas eleigdes presidenciais de 1980 para o conser- vador politico republicano ¢ ex-ator de cinema Ronald Reagan (1911-2004), que iria promover © retorno 4 politica de enfrentamento com a Unido Soviética ¢ pér fim a détente, i O FIM DA GUERRA FRIA (1981-1989) Antes mesmo de ser eleito presidente dos Bs- tados Unidos, o presidente Ronald Reagan j4 anunciava qual era seu projeto em politica ex- terna: enfrentar e derrotar o “império do mal”, como ele chamava a Unido Soviética. Esse en- frentamento seria realizado através da retomada e aceleragdo da corrida armamentista entre as duas superpoténcias. Segundo Reagan, os Esta- dos Unidos poderiam levar a Uniao Soviética ao colapso econémico se a forgassem a ampliar seus investimentos na area militar; uma vez que a economia planificada soviética, para entrar no- vamente nessa corrida, teria que tirar recursos de outras areas. De fato, em seus dois mandatos como presi- dente dos Estados Unidos, Reagan realizou pesa- dos investimentos em armas de tecnologias avangadas, como misseis de cruzeiro, uma nova geracao de submarinos, mfsseis nucleares langa- dos de submarinos, a tecnologia do “avido invisi- vel” (dificilmente detectado por radar). O plano mais ambicioso foi o projeto da “Iniciativa de Defesa Estratégica”, chamado pela imprensa de projeto “Guerra nas Estrelas”, que consistia em um sistema defensivo para os Estados Unidos baseado no espaco. Dentro da logica da Guerra Fria, as iniciativas militares de uma superpoténcia eram acompa- nhadas pela outra superpoténcia, que jamais admitiria uma “brecha” tecnolégica de poderio militar. Como previsto, a ampliag&o brutal nos gastos militares acelerou o colapso econémico soviético. Tal colapso nao ocorreu da noite para o dia: a economia soviética j4 vinha apresentando pro- blemas desde a década de 1960, As elevadas ta- xas de crescimento econémico da década de 1990 nao foram mantidas nas décadas seguintes, © 0 pais se aproximava da estagnagao econdmica na década de 1980. Nessa mesma década, o co- mércio internacional soviético apresentava perfil semelhante ao de paises subdesenvolvidos, ba- seado na exportacdo de recursos naturais (prin- cipalmente petréleo e gés natural) e na importa- a0 de produtos tecnolégicos (maquinas e equi- pamentos, principalmente na area da informé- tica). Dessa forma, as modernas armas soviéti- cas, efetivamente produzidas para acompanher a corrida armamentista dos anos 80, muitas vezes dependiam de componentes eletrénicos e chips importados dos paises capitalistas avancados: a Unido Soviética convertera-se em um “gigante com pés de barro”. ‘A decadéncia econémica do pa(s refletia sua incapacidade em acompanhar os avangos da Terceira Revolugdo Industrial. Iniciada por volta da década de 1960, representou uma reno- vagio do proceso de industrializagao, com énfa- se Nos setores que fazem uso intensivo de novas tecnologias, como indtistria quimica fina (por exemplo, industria farmacéutica}, biotecnologia (incluindo, por exemplo, a manipulagio g e, principalmente, informatica (e suas intime apicagoes: produgao, comunicacées, administra- ao). SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTIBULARES Os novos setores no s6 dependiam de inves- timentos pesados em pesquisa e tecnologia co- mo também se renovavam constantemente. A partir da década de 1980, por exemplo, a reno- vacao e atualizagéo de softwares passou a ser realizada com uma velocidade impressionante, como se o setor se “revolucionasse” a cada pou- cos anos. Nesse contexto, a economia soviética, dirigida pelo estado, fortemente centralizada e dependente do planejamento, simplesmente néo- conseguiu acompanhar a nova dinamica econé- ica. © aumento dos gastos militares durante os anos Reagan tornou a situagao insustentavel. A. escassez de bens de consumo tornou-se endé- mica, a falta de alimentos, constante, e a infra- trutura do pais comegou a dar sinais de deterio- ragéo (0 que foi tragicamente demonstrado no. acidente nuclear de Chernobyl, em 1985). Aascensao de Mikhail Gorbachev em 1985 ¢ @ proposta de um amplo conjunto de reformas foi uma resposta a essa situacdo. Inicialmente Gorbachev lancou a perestroika (‘reestrutu- racao” da economia), que incluia medidas como a aceitacao da livre iniciativa em pequenas em- presas (pela primeira vez.na Unitio Soviética des- de a NEP de Lénin), além de campanhas visando © aumento da produtividade e o combate & corrupgéo e 2o alcoolismo. Seguiu-se a glasnost (‘transparéncia” politica), prevendo liberdade de expresso, abrandamento do controle sobre a imprensa é libertagao de presos politicos. Ainda fo plano politico, Gorbachev estabeleceu a di- minuig&o do controle do Partido Comunista so- bre o governo, procurando fortalecer o cargo de presidente da URSS, inclusive com a proposta de eleigdes diretas e a admissio de varias candida- turas. No plano externo, Gorbachev abandonou a disputa hegeménica com os Estados Unidos, anunciando o desarmamento unilateral e a re- tirada das tropas soviéticas do Afeganistao (4 chamado de “o Vietna soviético”, em referéncia a firme resisténcia popular local). Em 1986, Gor- bachev e Reagan encontraram-se pessoalmente para estabelecer acordos visando acelerar o pro- cesso de desarmamento. Um dos aspectos da desmobilizagdo militar soviética foi a retirada de tropas baseadas nos paises do Leste europeu, sinalizando o fim da in- terferéncia de Moscou nos governos locais, A partir dai, multiplicaram-se as manifestagoes populares contra os governos socialistas da Europa Oriental, que foram sendo sucessiva- mente derrubados. A queda do Muro de Ber- lim, em novembro de 1989, pode ser considera- do o marco do fim da Guerra Fria. ‘Aautonomia conquistada pelos paises do Les- te europeu foi vista como um estimulo para a independéncia de alguns territérios da Unido Sovietica. Assim, os paises bélticos (Estonia, Le- tOnia e Lituania) que haviam sido invadidos e anexados pela Uniao Soviética em 1940, passa- ram 2 reivindicar independéncia. Movimentos semelhantes ocorreram na Arménia, Azerbaijao, Ge6rgia e Ucrania. Ou seja: a propria integridade territorial da Unido Soviética estava ameacada. Outro problema enfrentado por Gorbachev foi 0 surgimento, dentro da Unido Soviética, de duas forgas de oposicao, os conservatiores ¢ os radicais-reformistas. O bloco conservador, formado pela alta burocracia vinculada ao Par~ ticlo Comunista e pelo alto comande militar, via a politica de Gorbachev levar a Unido Soviética, a0 mesmo tempo, a se afastar do socialismo, a capitular diante dos Estados Unidos na Guerra Fria e, talvez principalmente, a ameagar seus pri- vilégios, J4 0s radicats-reformistas viam as medi- das de Gorbachev como moderadas, chegando a propor a implantacao integral do sistema capi- talista. Em agosto de 1991, os conservadores tenta- ram um golpe, prendendo Gorbachev e insta- Jando uma junta provisoria de governo. Seguiu- se uma ampla movimentacdo popular contraria ao golpe, com a participagao de soldados do exército € oficiais de baixa patente, que conse- guiu anular o movimento golpista. Boris leltsin, lider radical-reformista e presidente da Riissia (portanto, teoricamente subordinado a Gorba- chev, presidente da Uniao Soviética), fazendo hébil uso dos meios de comunicagao de massa, surgiu como Ifder da reacdo popular contra 0 golpe. ‘Ao proclamar a ilegalidade do partido Comu- nista na Riissia e concentrar os poderes até entao nag mfos do desgastado Gorbachey, leltsin abriu ‘o caminho para o fim da Unido Soviética ainda em 1991, dando autonomia as quinze repiiblicas que até entZo a compunham. Desaparecia uma das superpoténcias, encerrando o periodo de bipolarizagao mundial e inaugurando o periodo em que os Estados Unidos deteriam a hegemo- nia mundial. 'SKTEMAANGLO DE ENSWWO 57 ‘vESTIULARES i O SURGIMENTO DO TERCEIRO MUNDO Ao final da Segunda Guerra Mundial, as relagées entre as poténcias imperialists euro- péias e suas colénias na Asia e Africa mudaram, e essa mu- danga abriu caminho para o processo de descolonizacao. Entre as décadas de 1940 e 1950, dezenas de novos paises surgiram nos dois continentes. Esses novos paises, junto com os paises da América La~ tina, integraram o bloco que passou a ser chamado de Ter- ceiro Mundo. A expressao re- flete a bipolarizagao mundial entre Estados Unidos e Unio Soviética, poténcias que lidera- vam, respectivamente, 0 bloco capitalista avangado (“Primeiro Mundo”) ¢ 0 bloco socialista avangado (“Segundo Mundo”). Restava aos paises pobres a fungao de palco onde as sup poténcias se enfrentavam; dai podermos dizer que o processo de descolonizagao afro-asiatico refletiu as disputas da Guerra Fria A principal mudanga que le- vou a descolonizacao foi a de- cadéncia das mais impor- tantes poténcias coloniza- doras - Inglaterra e Franca, mas também Bélgica e Holanda ~apés a Segunda Guerra Mun- dial. Trata-se nao s6 de deca- déncia econémica, em compa- Tago com os Estados Unidos, mas da perda de influéncia po- litica dai resultante, A ascensao 7 A Descolonizagio “ Afpo-asiatica dos Estados Unidos e da Unido Soviética, ambos defensores da descolonizagao, foi, decisiva pa- 7a 0 proceso, No caso dos Estados Ut dos, seus interesses econémi- cos eram claros. Na condigao de maior economia do planeta, ‘os Estados Unidos sé tinham a ganhar com o fim da coloniza- (aoe a abertura dos novos pai- ses ao comércio livre. Além dis- 0, com 0 enfraquecimento das nagdes européias, tornava-se mais facil para os norte-ameri- canos manejar seus interesses politicos em escala mundial, ta- Tefa primordial no contexto do enfrentamento com os sovié- ticos. No caso da Unido So- viética, a luta antiimperialista encaixava-se no projeto mais amplo da luta contra o capi- talismo. Para além da retérica marxista “libertadora”, 0 go- verno soviético, ao apoiar as |u- tas pela independéncia, tinha interesse em ganhar influéncia nos novos paises. A nova situacao foi assim descrita por Kwame Nkrumah (1909-1972), lider da indepen- déncia de Gana: A esséncia do “neocolonialismo” é que um Es- tado que é teoricamente inde- pendente e dotado de todos os atributos da soberania tem, na realidade, sua politica dirigida do exterior. Ou, nas palavras do historiador Mare Ferro: (..) a partir de um certo esté- gio, as poténcias ex-imperialistas ndo tinham mais interesse em controlar “de dentro” as ex-col6- nias, mas “ajudé-las” a se desen- volver, e substituir uma presen- ¢@ vistvel por um governo invi- stvel, este dos grandes bancos - Fundo Monetério Internacional, Banco Mundial etc. Mais do que neocolonialismo, trata-se aqui do neo-imperialismo (..) (itagdes extraides de: M, FERRO - Hisiéria das Colonizap6es. So Paulo, Cia, das Letras, 1996; p. 396), Em 1955, na Conferéncia de Bandung (Indonésia), repre- sentantes de 29 paises africanos e asiaticos se reuniram para manifestar conjuntamente seu apoio a luta contra o colonia- lismo. Além disso, articularam a formagao de um bloco de pai- ses nao-alinhados, na tenta- tiva de criar uma alternativa aos blocos norte-americano e sovié- tio. AFRICA Os principais destaques na descolonizagao da Aftica foram: @ Africa do Sul Apés a Guerra dos Boéres (1888-1902), 0 governo inglé: concedeu relativa autonomia a Africa do Sul; passou a reconhe- cer 0 pais como parte de seu “Dominio” - ou seja, como terri- t6rio com governo préprio, po- rém ainda parte do Império Bri- tanico -, em 1910. Em 1948, a as- censdo ao poder do Partido Na- ional, formado por nacionalis- tas affikaners, consolidou a auto- nomia do pais em relagao 4 In- SISTEMA ANGLO OF ENSINO 58 ‘VESTIBULARES glaterra, embora a Africa do Sul ainda fizesse par- te de Comunidade Briténica (ou Commonwealth, organizagio criada pela Inglaterra a fim de Ihe as- segurar um relacionamento privilegiado com suas ex-colénias). © Partido Nacional foi responsavel pela im- plantagao da violenta politica do apartheid (ou *separaco"), que resultou na segregacao da po- pulago negra, majoritaria ne pais. Condenada internacionalmente, a Africa do Sul oficializou Em 1962 encerrou-se a guerra e foi declarada a independéncia. Na Argélia independente sucederam-se go- vernos autoritdrios, que adotaram uma linha pré-soviética para a polftica internacional nos anos da Guerra Fria. Ja a partir da década de 1990, o pals assistiu A ascensZo de grupos radi- cais islamicos, adversérios do regime republica- no leigo que existia no pais. lat - sua separagéo da Inglaterra em 1961, 20 procle- i Congo mar a Repibblica. p64 ony conseas. Soporte No entanto, a politica do apartheid, de cardter fescista, ainda foi tolerada pelos paises do Ociden- te por um tempo bastante longo. O Ocidente re- cebia, em troca da toleréncia, o engajamento do novo goveno sul-africano no combate ao comu- nismo, resultando em intervengées em paises vizinhos como Angola e Mogambique. Somente a < partir de 1976 2 ONU passou a condenar o YK apartheid, abrindo caminho para sandes inter- nacionais e levando o pais ao isolamento. ‘A mobilizaco da populagio negra contra o re- gime de segregagao foi expressiva. Nesse con- texto, destacaram-se o bispo Desmond Tutu e 0 ativista politico Nelson Mandela, entdo lider do Congresso Nacional Africano, partido de oposi- Go &s politicas racistas. Com o fim da Guerra Fria, crescentes presses dos Estados Unidos da Inglaterra somaram-se & mobilizacao da popu- lagdo negra, resultando na abertura do regime. Em 1991, 0 apartheid foi abolido. Sequiu-se a rea- lizagao de elelcées livres, com participacao da po- pulagdo negra, e Mandela foi eleito presidente. Mandela governou de 1994 a 1999. B Argélia Na Argélia, a intransigéncia francesa em aceitar a independéncia de um territério consi- derado por muitos parte da nacéo deu vazo a uma vioienta guerra. A intensa imigrago fran- cesa para a regiao dificultou ainda mais a situa- <0, pois em 1959 cerca de um milhao de arge- linos de origem francesa, ou seja, cerca de 10% da populacéo, aceitavam a manutengao do do- minio francés. A Frente Nacional de Libertacdo, liderada por Ahmed Ben-Bella, liderou a luta, que assumiu a forma de guerra de guerrilhas. Atos terroristas e extrema violéncia empregada por ambos os la- dos marcararn o conflito. Em 1958, a ascensio de Charles de Gaulle (1890-1970), principal lider francés da Segunda Guerra Mundial, a presi- déncia da Franca abriu espaco para o inicio das negociagbes entre a Franga e a Frente Nacional. Colonizado pela Bélgica, 0 Congo iniciou um violento proceso de independéncia no final dos anos cingtienta. Em 1960, foi proclamada a in- dependéncia do pais, ¢ seu primeiro presidente foio lider esquerdista Patrice Lumumba (1925- 1961). Quase simultaneamente, a provincia de Katanga, no sul de pais, proclamou sua indepen- déncia. Inicia-se entio uma violenta guerra civil, na qual o proprio Lumumba foi morto. A situacdo do Congo apés sua independéncia ilustra de forma dramatica as dificuldades que enfrentavam os novos estados africanos. As dis- Putas entre as grandes nagdes capitalistas pelo controle da regiéo deram lugar a violentos mas- sacres, O fato de empresas mineradoras partici- parem da tentativa de independéncia de Katan- ga, de a Unido Soviética ter interesse em apoiar e armar o novo regime congolés, bem como a atuagao de tropas mercenarias, envolvidas no assassinato de Lumumba, revelam os miltiplos interesses envolvidos na luta pela independéncia do Congo, destacando-se interesses externos € conflitos internos. Até mesmo a demarcacio da fronteira do Congo, definida arbitrariamente pelas poténcias imperialistas no século XIX e reunindo em um mesmo pais diversas culturas e mesmo nagées rivais, gerava instabilidade. Na verdade, essa situagao nao existiu s6 no Congo, mas em varios, paises africanos, e continua sendo fonte de con- flitos até hoje. Em 1965, Mobutu Sese Seko (1930-1997) assumiui a presidéncia do pats através de um gol- pe de estado e governou até 1997. Implantou uma das mais violentas ditaduras africanas. Nes- se periodo o pais passou a se chamar Reptiblica do Zaire, mas voltou a ser Reptiblica do Congo apés a queda de Mobutu. 3 Angola e Mogambique Angola e Mocambique sobreviveram até 0 século XX como as titimas grandes colénias portuguesas na Africa (além da pequena Guiné SISTEMA ANGLO DE ENSINO 59 VESTIBULARES Bissau e das ilhas de Cabo Verde). Nos anos 60, © Movimento pela Libertagio de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto (4922- 1979), e a frente de Libertagéo de Mocambique (Frelimo), liderada por Samora Machel (1933-1986), iniciaram uma guerra de guerri- Thas contra o dominio portugués contando com amplo apoio do bloco soviético. A prolongada guerra era tremendamente im- lar em Portugal, que, por essa época, vivia os Ultimos momentos da ditadura de Antonio de Oliveira Salazar (1889-1970). Em 1974, desen- cadeou-se em Pornugal a Revolugao dos Cra- vos, que restabeleceu 2 democracia no pais ¢ abriu caminho para as negociagoes sobre a inde- pendéncia das colénias africanas. SISTENA ANGLO DE ENSINO 60 ‘VESTIBULARES: @ ORIENTE MEDIO Israel No final da Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), 0 desmembramento do Império Turco Otomano resultou na diviséo de vastos terri- térios do Oriente Médio entre Franca e Inglater- ra. No processo, a Palestina passou a ser admi- nistrada pelos ingleses, que tentavam evitar os Fauna conflitos entre judeus e arabes palestinos pela ocupacao do territério. A criagao do estado de Is- a rael e a saida da Inglaterra da regio, em 1948, og desencadeou um conflito. O plano da ONU de nq Gividir o territ6rio palestino entre drabes ¢ ju-, A deus nao foi aceito, e outros paises érabes (Egito, At Siria, Jordania, Libano e Iraque) passaram a apoiar a Palestina na guerra. Em 1949 Israel ven- ceu a guerra, aumentando a insatisfacao dos pa- lestinos. Yor durante 3 Guerra de Independencia (1948-49) | | irda Palatino sb A | Saat nese térlo Arabe tomado por Israel pala ONL # a formagio do Estado de Israel. O apoio dos Estados Unidos a Israel estimulou ‘0s rabes a se aproximarem da outra superpo- téncia de ento, a Unido Soviética. Assim, um conflito localizado ganhou proporgées mundiais, com norte-americanos e soviéticos apoiando & armando seus aliados na regido e, dessa forma, alimentando 0 conflito. Em 1956 ocorreu uma segunda guerra entre Arabes e israelenses, quando o lider nacionalista egipcio Gamal Abd-el Nasser (1918-1970), de- fensor da causa palestina, nacionalizou 0 canal de Suez, Inglaterra e Franga, que administravam conjuntamente o canal, sentiram-se prejudicadas e reagiram com uma interven¢ao militar apoiada por Israel. Pressdes tanto dos Estados Unidos quanto da Unido Soviética resultaram no encer- ramento das hostilidades. Em 1967, 0 continuo atrito entre Israel e os paises arabes vizinhos resultou na Guerra dos Seis Dias. Em pouco tempo, Israel obteve uma vitéria espetacular, tomando do Egito a peninsu- Ja do Sinai e a faixa de Gaza; da Siria, as colinas de Golan; e da Jordania, a margem ocidental do rio Jordao (conhecida como Cisjordania), territé- ios que contavam com grande populagao de pa- lestinos. Em 1973, nova guerra explodiu, a Guer- ra do Yom Kippur (ou “dia do perdao” judaico). Na década de 1960, foi articulada a OLP, Or- ganizagdo para Libertagao da Palestina, que buscava enfraquecer Israel através de atividades SISTEMA ANGLO DE EXSINO ‘VESTIBULARES guerrilheiras e terroristas, Seu principal lider foi Yasser Arafat (1929-2004). Em 1979, os acordos de Camp David, nos Es- tados Unidos, celebraram a paz entre Israel e Egito, e as tropas israelenses foram retiradas do Sinai. A decadéncia soviética a partir da década de 1980 também contribuiu para o enfraqueci- mento da alianga entre paises érabes contra Is- rael. Dessa forma, a populacao palestina nos ter- ritérios ocupados por Israel iniciou novas formas de luta contra a na¢ao inimiga, conhecidas como a Intifada, a revolta popular contra as tropas de ‘ocupagao. A partir de setembro de 2000, a mobi- lizagZo popular crésceu em intensidade, © a as- censio de grupos radicais islamicos, como o Ha- mas, levou 4 proliferacao de atentados em Israel, inclusive atentados suicidas. ASIA @ india Desde 0 inicio do século jé havia na india mo- vimentos organizados de oposicao ao dominio in- glés, dentre os quais se destacavam a Liga Mu- gulmana e o partido do Congresso Nacional In- diano. Este tltimo passou a ser liderado, em 1918, por Mohandas Gandhi (1869-1948), que mais, tarde passou a ser conhecido como 0 Mahatma (cu “a grande alma”), Gandhi articulou um movi- mento fundado no principio da naio-violéncia, buscando orientar a populagao a enfrentar os in- gleses por meio de praticas como o bgicote e a desobediéncia civil. Em 1947, 0s ingleses concederam independén- cia a India. Todavia, a diviséo do pais em hindus e mugulmanos acabou gerando atritos que resulta- ram na criagdo de dois paises: a {ndia, para os hin- dus, eo Paquistio, para os muigulmanos. A relagdo entre os dois paises tem sido marcada por violén- cia contra minorias, intolerdncia politica (expressa no assassinato-de Gandhi, em 1948) e conflitos fronteirigos (dentre os quais a guerra de 1971 pe- Ja posse da regio da Caxemira). i Coréia Submetida a influéncia japonesa desde o final do século XIX, a Coréia foi formalmente anexada a0 Japéio em 1910. Somente no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a ocupagao japonesa chegou zo fim. A administragao da peninsula co- reana ficou 2 cargo dos Estacios Unides ¢ da Unifio Soviética. A divisio da peninsula, ao longo do paralelo 38, acabou dando origem, em 1948, a dois governos separados: Coréia do Sul (capita- lista) e Coréia do Norte (comunista}. Em 1950, o Norte invadiu o Sul. As répidas vi- térias do exército da Coréia do Norte acabaram levando ao, envolvimento direto dos Estados Unidos no conflito, que enviou para a regio um grande contingente militar. A escalada do confli- to levou também ao envolvimento da China co- munista. Em 1953, apés a morte de aproximadamente dois milhées de pessoas (principalmente corea- nos), foi assinado um cessar fogo, a Paz de Pan- munjon. O acordo estabelecia a manutengao de uma fronteira muito semelhante 4 demarcada em 1945. Desde entéo, nunca houve a assinatura de um tratado de paz definitivo. Dessa forma, até ho- je as duas Coréias mantém fortes contingentes millitares concentrados ao longo da “zona desmi- litarizada” que separa os dois paises, incluindo a presenga permanente de tropas norte-america- nas na Coréia do Sul. A regio permaneceu como um foco de tensio internacional mesmo apés o fim da Guerra Fria, e as recentes pesquuisas norte-coreanas em armas nucleares ¢ tecnologia de foguetes 36 tém agra- vado a situacao. Em outubro de 2008, 0 governo ditatorial da Coréia do Norte, encabegado por Kim Jog-I,, testou um artefato nuclear. A simples realizagio do teste aumentou significativamente a tensiio no leste asidtico. © Viema Viemnd foi colonizado pela Franga no séci- Jo XIX e ocupado pelo Japao durante a Segunda Guerra Mundial. Com a derrota japonesa, o re- torno dos franceses foi visto pela populago co- mo uma tentativa de recolonizagao inaceitével. Por toda a Asia oriental, as vitorias do Japao nos estagios iniciais da guerra derrubaram o mito da “Guperioridade do homem branco” estimulando movimentos pela emancipacao nao s6 no Vietna, mas na Malésia, Cingapura, Indonésia, Laos, Camboja e Filipinas. No Vietnd, a luta pela expulsdo dos Tranceses foi liderada pelo Viet Minh (abreviagdo de Liga SISTEMA ANGLO DE ENSINO. \VESTIULARES. para a Independéncia do Vietna) de Ho Chi ‘Minh (1890-1969). As derrotas militares da Fran- c@ levaram-na a aceitar a independéncia do Viet- 1nd, formalizada em 1954 através da Conferéncia de Genebra. Em um acordo tipico da época da Guerra Fria, o pais foi dividido em Vie do Nor- te, comunista, liderado por Ho Chi Minh, e Vietna do Sul, capitalista. Contava-se que 1956 seriam realizadas eleigdes, visando a unificagao do pais. ‘A popularidade de Ho Chi Minh fez com que 0 governo do Sul, apoiado pelos Estados Unidos, retardasse a realizacao das eleices. Diante dessa situacdo, articulou-se dentro do territério do Sul um movimento pela unificagdo do pals, a Frente pela Libertagao Nacional, popularmente conhe- ido como Viet Cong, cujos membros passaram a dirigir uma guerra de guerrilhas contra o gover- no do Sul. A desestabilizaco do governo do Viena do ‘Sule o crescente apoio popular A unificagaio com o.Norte, levaram os Estados Unidos a enviar tro- pas para a regiao. Os Estados Unidos chegaram a basear 500.000 soldados no Vietnd do Sul entre 1965 e 1973, anos em que a presenga norte-ame- ricana foi mais expressiva. O objetivo dos Estados ‘Unidos era manter no Sul um governo pré-norte- americano. Além da intervengao no Sul, os norte- americanos realizaram ataques aéreos macigos também no Vietna do Norte, acusado de suprir 0 Viet Cong com armas e equipamentos por sua ‘vez obtidos junto a China e Unio Soviética, O prolongamento e a indefini¢do da guerra, além do crescente ntimero de mortos, geraram dentro dos Estados Unidos uma grande mobili- zago contra 0 conflito. A partir do final de 1968, as tropas norte-americanas foram sendo progres- sivamente retiradas da regigo. Em 1975, 0 exér- cito do Vietnd do Norte entrou no Sul, enfrentan- do débil resisténcia local. A queda de Saigon, em abril daquele ano, marcou o fim da guerra e a unificagdo do pais sob regime socialista. Chins Antecedentes Diversos movimentos nacionalistas se desen- volveram na China em reposta a violenta ex- ploragiio imperialista que fez daquele pais 0 “quintal do mundo”. A proclamago da Republica da China, em 1911, foi simultanea & criagdo do partido nacionalista, o: Kuomintang, cujo lider, Sun Yat-Sen (1866-1925), tornou-se o primeiro presidente do pais. Enfrentando a anarquia militar e a intensa presence estrangeira, o regime vivid em permanente instabilidade. Em 1925, a ascenséo de Chiang Kai-chek (1887-1975) & presidéncia, restaurou o dominio do Kuomintang sobre 0 pais. Por essa época, uma nova forma de resisténcia nacionalista se articulava na China com a funda- 40, em 1920, do Partido Comunista Chines. Os comunistas viam na luta antiimperialista um dos aspectos de uma luta maior, a ser levada a cabo contra o capitalismo visando a revolugo so- cialista. Em 1934, 0 governo nacionalista empre- endeu uma violenta persegui¢go aos comunistas, resultando na fuga de seus principais Ifderes ¢ das tropas comunistas do Exército Popular de Li- Zo em diregdo a zonas remotas do interior do pals: foi a Longa Marcha (1934-1935). Além da reorganizagao do partido, a Longa Marcha marcou a ascenso de Mao Tse-tung (1893-1976) 4 condigao de lider dos comunistas. Mao Tse-tung fez uma revisio no pensamento marxista baseando-se na experiéncia chinesa. Afirmava ser possivel fazer uma revoluigo socia~ lista de base carnponesa. Para isso, o movimento revohucionério deveria assumir a forma da “quer- ra popular prolongada’, ou seja, querra de guer- rilhas. Além de organizar os camponeses em um exército, membros do partido deveriam adotar iniciativas sociais a fim de convencer a populacdo pobre e desassistida de dreas rurais a‘apoiar o movimento. O maoismo influenciou diversos movimentos revolucionérios, principalmente na América La- tina, Em 1931, o Japao anexou a Manchtiria; seguiu- se A anexaco a invaso do resto do pais em 1937. Iniciava-se a Segunda Guerra Sino-japonesa, que acabou promovendo na China uma alianga temporéria entre comunistas e nacionalistas con- tra 0 invasor. A derrota do Japao na Segunda Guerra Mundial marcou também o fim do con- {lito com a China eo fim da alianga, tendo inicio a Guerra Civil entre o governo de Chiang Kai- chek e os comunistas de Mao Te-tung. Em 1949, tropas do Exército Popular de Liber- taco entraram vitoriosas em Pequim, abrindo caminho para a implantagao do socialismo na China sob a lideranga de Mao Tse-tung. Aos na- cionalistas coube a Tetirada em direc a flha de ‘Taiwan (Formosa), onde foi mantido 0 regime ca- pitalista, vinculado aos Estados Unidos, ainda sob allideranga de Chiang Kai-chek. @ A Republica Popular da China A criago da Reptiblica Popular da China, so- cialista, encerrou a intervengio imperialista no pals, Foi concebide um projeto de implantacao do socialismo com viés nitidamente stalinista. ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO 63 VesTBULARES Dessa forma, no plano politico, o pais transfor- mou-se em uma ditadura de partido tinico, nos moldes soviéticos, a qual inclufa o “culto personalidad” do lider Mao. No plano econémi- co, medidas drsticas foram adotadas, como a coletivizagao agraria e a nacionalizacao de gran- des empresas. A industrializacao maciga do pais era considerada uma das prioridades ja no pri- meiro plano qiingienal, de 1953. A dificuldade em promover a industrializagao rapida sobre uma base industrial quase inexistente deu ori- gem a um novo projets, o Grande Salto para Frente, que pretendia vincular a produco in- dustrial a comunidades camponesas. Em 1959, os atritos com a Unido Soviética re- sultaram no rompimento entre os dois pafses. Apesar de ambos serem socialistas, a Uniao-So- viética de Khruschev adotava a “desestaliniza- Go” politica, contrariando a prética chinesa. Além disso, os soviéticos reivindicavam a lideranga do bloco socialista, o que era mal visto pela China. O fim das relagdes privilegiadas com a Unido So- viética resultou em maiores dificuldades econémi- cas para a China, chegando a fragilizar a posigao de Mao Tse-tung. Em 1968, Mao langou a Revolugao Cultural, com © objetivo de combater a burocratizacaio do regime e a fim de identificar ¢ afastar contra-revo- luciondrios e reacionérios em geral. Apoiando-se na Guarda Vermelha, formada principalmente por jovens estudantes e camponeses, Mao Tse- tung pretendia, na verdade, afastar do poder seus exfticos e consolidar seu poder pessoal. Poster slusivo # Revoluglo |f Caltural de Mao Tso-tung. No plano internacional, Mao Tse-tung buscou uma aproximagao com os Estados Unidos a partir do inicio da década de 1970. Apesar de se terem enfrentado na Guerra da Coréia e em di- versos conflitos, os dois paises tinham em mum 0 fato de disputarem com a Unido Sovié- tica. A explosio do primeiro artefato nuclear chi- nés em 1964 fortaleceu a posig&o estratégica do pais. Em 1971, sob influéncia norte-americana, a Assembléia Geral da ONU votou uma resolugao substituindo Taiwan pela Republica Popular da China como membro permanente do Conselho de Seguranca. ‘Apés a morte da Mao Tse-tung, o poder man- teve-se nas mos do Partido Comunista e o pais continuou sendo politicamente fechado. Porém, a ascensio de lideres reformistas, como Deng Xiao-ping (1904-1997), marcou 0 inicio de pro- fundas transformagGes econémicas que se carac- terizam sobretudo pela abertura cada vez maior para a economia de mercado. Em pouco tempo a China passou a ter um crescimento econdmico expressivo, transformando-se em uma das maio- res economias do planeta. A tensio existente entre as crescentes liberda- des econémicas e a manutengo do “fechamen- to” politico provocaram manifestagdes de insatis- facéo, como a ocupagao da Praca da Paz Celestial em Pequim por multidées mobilizadas em torno de propostas como liberdade de imprensa e ex- pressio. A violenta represstio a0 movimento re- velou que o governo chinés nao est disposto a abrir mao do modelo politico ditatorial SISTEMA ANGLO DE ENSINO. ‘VESTIBULARES, II REVOLUGAO MEXICANA (1910-1919) Antecedentes Apés a independéncia (1821), 0 México passou a conviver com a instabilidade politica e a agitacdo social, problemas que afligiam também as demais ex- colonias espanholas. No caso mexicano, a proximidade com ‘os Estados Unidos era um fator a mais de desestabilizacao e en- fraquecimento. Por exemplo, a ‘guerra de 1848 contra os norte- americanos, resultou ao México a perda de vastos territérios no norte do pais. Além desse con- flito, o México ainda sofreu uma invasao francesa em 1862, que instalou um Império encabeca- do pelo principe austriaco Ma- ximiliano de Habsburgo, por sua vez derrubado em 1867. Em 1876, um golpe levou ao poder Porfirio Diaz (1830- 1915), que governou como di- tador até 1911, a nao ser durante quatro anos de afastamento. O porfiriato, como ficou conhecido seu longo governo, foi uma €poca de modernizagao do Mé- xico, tendo nesse periodo se de- senvolvido a agricultura em lar- ga escala para exportagio. Nes- se contexto, a consolidagéo do latifiindio provocou a reagio da populacao camponesa, de ori- gem indigena; desde a época asteca, praticava-se no México 0 sistema dos ejidos, em que a terra de uma aldeia (ou pueblo) era explorada coletivamente por A América Latina no Século XX seus habitantes. O avango do Jatifindio comprometeu a ma- nutencao das terras comunais, gerando forte tensdo social. Outra conseqiiéncia da mo- dernizagio do México no final do século XIX foi o surgimento . de atividades complementares & grande lavoura para exporta- Gao, desde bancos e ferrovias até uma incipiente atividade in- dustrial. Setores sociais urbanos passaram a pressionar 0 ditador Porfirio Diaz, reivindicando re- formas liberais. Em 1911, Fran- cisco Madero (1873-1913), can- didato & presidéncia, denunciou fraude nas eleigdes e convocou o povo as armas para derrubar o regime. Esse movimento marca o infcio da Revolugdo Mexicana, Revolucéio e guerra © estopim da Revolugaio Me- xicana ligou-se 4 mobilizagao de setores médios em busca do es- tabelecimento de uma democra- cia liberal no México. Uma gran- de mobilizagao envolveu também os camponeses, encabecados por lideres populares como Emi- liano Zapata (1879-1919) e Pan- cho Villa (1878?-1923) em torno do projeto de reforma agraria Propaganda de re- ‘SISTEMA ANGLO DE ENSINO 65 ¢ da restauragio das terras comunais. O movi- mento obteve algumas vit6rias iniciais, levando Porfirio Diaz a fugir, e Francisco Madero, ao po- der. No entanto, as mudangas politicas nao desar- ticularam a mobilizagéo popular. Em 1911, Zapata langou o Plano de Ayala, no qual constavam as principais reivindicages camponesas, como a devolucéo aos pueblos das terres tomadas pelos grandes proprietérics. Com Pancho Villa liderando o chamado exér- cito do Norte e Zapata o exército do Sul, a re- volugao prosseguiu nos anos seguintes - violenta a0 ponto de Madero ser assassinado em 1913. A promulgagao de uma nova Carta, a Constituicio de 1917, aparentemente pacificava 0 pais com a consolidagao das reformas politicas liberais e a criagao de uma avangada legislacao trabalhista, Mas a ndo-realizagao da reforma agraria ainda provocava insatisfagao no campo. A morte de Zapata ein 1919 e de Villa em 1923 - ambos foram assassinados — desarticulou o movimento cam- ponés, consolidando-se o regime liberal. mente na década de 1930 algumas timidas jativas foram tomadas no sentido da reforma agraria, notadamente durante 0 governo nacio- nalista de Lazaro Cardenas, de 1934 2 1940. @ POPULISMO Alguns paises da América Latina, notada- mente Brasi}, Argentina e México, passaram por um processo de industrializagéio ao longo do século XX. Nestes e em outros paises, o cres- cimento das cidades e des setores sociais urba- nos, como 0 proletariado, foi significativo. Sur- ge entéo na América Latina o populismo como uma estratégia politica de manipulacao das massas (especialmente urbanas) através da atuagao de um lider autoritdrio, carismitico ¢ paternalista. Apoiado pelas elites - e quase sempre proveniente delas -, o lider assumia um discurso popular, afirmando defender os inte- resses da populacao, e encarregava-se da cria~ co de leis trabalhistas e de politicas assisten- Cialistas, Convém lembrar que nos primeiros anos da industrializago e formagao da classe ‘operaria na América Latina, o proprio operaria- do iniciou a articulagao de nao apenas um con- junto de propostas, mas tambéin de uma “visio de si mesmo’ (uma “consciéncia de classe’) inti- mamente ligada 4 sua mobilizagdo e As mu- dangas pretendidas. © populismo acabou por incorporar nao sé 0 discurso, mas também a bandeira de luta criada originalmente pelos proprios trabalhadores: Fazendo intenso uso dos meios de comunica- 0 de massa e controlando a maquina sindical, 0 lider populista promovia, na realidade, a des- mobilizago das massas, enfraquécendo parti- dos de esquerda e evitando irrupSes revolucio- narias radicais. Um dos mais expressivos Ifderes populistas do continente foi o argentino Juan Domingo Pe- r6n, (1895-1974). Militar de carreira, participante da ditadura militar argentina a partir de 1943 na condigao de Secretario do Trabalho, Peron assumiu o poder em 1945 em meio a grandes manifestages populares, que confirmaram sua autoridade na eleigao presidencial do ano se- guinte, Seu governo foi ao mesmo tempo anticomu- nista e anti-americano, conforme expresso em seu discurso nacionalista. Além de articular uma grande central sindical, a CGT (Confederagao Geral do Trabalho), Peron criou programas assis- tencialistas para atender a populagao mais pobre que eram comandados por sua mulher, Eva Pe- rén (1919-1952). A morte precoce de Evita, como era mais conhecida, transformou-a em verdadei- ro objeto de culto religioso no pais. Apesar de reeleito, Perén foi afastado por um golpe em 1955, em meio a choques com a infiuen- 42 Igreja argentina e o inicio de uma crise econd- mica. Em 1973, 0 lider argentino novamente che- gou ao poder; governou até sua morte, no ano seguinte. Entre as.décadas de 1960 ¢ 1970, 0 populismo entrou em crise. O surgimento do populisme de esquerda, cujos lideres se afastavam das elites e propunham reformas cada vez mais profundas, esgotou o modelo (lembre-se de Joao Goulart no Brasil), uma vez que setores populares urbanos expandiam-se e exigiam reformas cada vez mais profundas. Diante da possibilidade de radicali- zacao, as elites acabaram se aproximando das forgas armadas e apoiando a instauragao de vio- Jentos regimes militares no continente. #1 MILITARISMO No contexto da Gueira Fria, qualquer “guina- a” para a esquerda ensaiada em um pais latino- americano, por mais timida que fosse, era vista ‘com desconfianga pelos Estados Unidos, prin- cipalmente apés 0 triunfo da Revolugao Cubana de 1959, Dessa forma, os Estados Unidos tiveram importante papel no sentido de articular oposigaio a movimentos populistas de esquerda no conti- nente e, por conseguinte, de apoiar regimes mili- ‘ares anticomunistas. SISTEMA ANGLO DE ENSINO. VESTBULARES Dentre os regimes militares instaurados na ‘América Latina nesse periodo, destacam-se, alm do brasileiro (1964-1985), 0 argentino eo chileno. Argentina (1976-1983) Em 1976, a ameaga de ascensio de grupos de esquerda (principalmente peronistas) 20 poder provocou um golpe militar. Nao foi o primeiro governo desse tipo na historia da Argentina do século XX; 0 pais jé havia vivido sob uma ditadu- a militar de 1966 até 1973. A novidade estava na violencia desmedida empregada pelo novo regi- me contra seus opositores: até 1983 dezenas de milhares de pessoas haviam sido presas, tortura- das e assassinadas pelo governo; cerca de trinta mil estao desaparecidas até hoje. Na historia da Argentina, 0 periodo ficou conhecido como o da guerra suja. ‘Além de alinhar-se com os Estados Unidos, 0 regime militar argentino adotou uma politica econémica liberal, aprofundando a crise econ6- mica do pafs justamente no auge da “crise da di- vida", que afetou duramente as economias peri- féricas. Em 1982, buscando apoio popular, 0 go- verno invadiu as Ihas Malvinas, ocupadas ¢ administradas pelos ingleses desde 0 século XIX {com o nome de ilhas Falkland) e desde entao rel- vindicadas pela Argentina, A derrota argentina na breve guerra que se sequiu desmoralizou 0 governo e abriu caminho para a redemocratiza- do do pais, consolidada em 1983. Chile (1973-1990) Em 1970 o socialista Salvador Allende (1908- 1973) foi eleito presidente do Chile. Em seu go- verno buscou adotar medidas nacionalistas e po- pulares, como a reforma agraria. Enfrentando ‘oposigtio conservadora, notadamente nes forcas armadas, Allende foi derrubado em 1973 por um golpe militar que recebeu apoio norte-americano @ Jevou o general Augusto Pinochet ao poder. © longo governo de Pinochet (1973-1990) ca- racterizou-se pelo combate violento a grupos de esquerda, inclusive através da articulago com outros governos da regio. De fato, na década de 1970 as ditaduras militares do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai praticavam intenso in- tercambio visando a repressao 4 oposigao; era comum efetuarem trocas de prisioneiros e de in- formagées. Tis praticas, & margem da lei, foram. denunciadas em 1992 e ficaram conhecidas co- mo Operagao Condor. Os Estados Unidos con- tribufam para essas operagoes sobretudo trei- nando quadros e financiando a montagem do aparelho repressivo, bem como promovendo a aproximagao entre os militares desses patses. No final da década de 1980, o fim da Guerra Fria estimulou a democratizagao de ditaduras an- ticomunistas em todo 0 continente. No Chile, em 1988, um inédito plebiscito determinou o afas- tamento de Pinochet. Nas eleigdes de 1989, foi eleito um novo presidente, que assumiu o poder no ano seguinte. SOCIALISMO Aiém de experiéncias socialistas moderadas (e ainda assim abortadas, como a de Salvador Allende no Chile), a América Latina foi paico de movimentos revolucionérios radicais, sendo os dois principais o de Cuba e da Nicaragua. Cuba Desde que se tornou independente, em 1898, Cuba passou para a esfera de influéncia norte- americana. Os Estados Unidos apoiaram uma sucessao de governos autoritérios tolerantes a sua ingeréncia politica e econédmica na ilha, que culminaram com a ditadura de Fulgéncio Batista, de 1952 a 1958 (na verdade, ao deter o comando das Forgas Armadas, Batista j4 dominava a po- litica do pais desde 1934). A crescente oposico a0 ditador Batista resultou na articulagdo de di- versos movimentos, pacificos e violentos, uns li- berais e democratizantes, outros, socialistas e re- voluciondrios. Em 1955, 0 jovem advogado Fidel SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTBULARES Castro, principal figura de oposigiio ao regime desde 1953, saju do exilio no México e retornou a Cuba para iniciar e comandar operagées de guerrilha junto 4 populagSo camporiesa da por- ¢ao oriental da ilha, na regiao montanhosa da Sierra Maestra. Entre os seus seguidores encon- trava-se Ernesto “Che” Guevara (1928-1967), Jovem médico argentino, voluntario no combate 4 ditadura convertido em comandante guerri- Theiro nos combates contra as tropas de Batista. No dia 12 de Janeiro de 1959, o avango das tro- pas guerritheiras levaram 8 fuga de Batista e & ascensao de Fidel Castro. O novo regime anun- ciou medidas nacionalistas e favoraveis & popula- do camponesa que afetavam frontalmente inte- Tesses norte-americanos. Por exemplo, a reforma agraria e a nacionalizaggo das refinarias de aci- car desapropriavam propriedades de grandes empresas agricolas norte-americanas instaladas em Cuba. O governo norte-americano, em repre- salia, suspendeu as importagdes de agiicar de Cuba, vitais para a economia do pais. Cuba, em vez de recuar, saiu em busca de novos mercados © 0s encontrou no bloco socialista. Comegaram entdo a se estreitar as relagdes entre Cuba e Unido Soviética; Estados Unidos, por sua vez, reagiram:com 0 bloqueio econémico a ilha. ‘nagana dos ders da Rovolupio Cubans {"Che" Guerora al Castro. Em 1961, temendo a influéncia soviética em Cuba, o governo dos Estados Unidos patrocinou - uma invasao a iJha. Um grupo de exilados cuba- nos, treinados, equipados e transportados pelas forgas armadas norte-americanas, desembarcou no sul da jlha, na regio conhecida como Baia dos Porcos, a fim de dar inicio a luta contra Fidel Castro. A rapida reag&o militar cubana e o apoio da populacao 20 governo resultaram na destruiggo da forga invasora. Atacado por uma das superpoténcias, Fidel Castro voltou-se para a outra: intensifica-se a aproximacao de Cuba com a Unio Soviética, e o novo regime cubano passa ento a se definir como comunista, termo que Fidel havia evitado até o momento. Um ano depois da invasdo & Bafa dos Porcos, Estacios Unidos descobriram que estavam sendo instalados em Cuba misseis soviéticos capazes de transportar ogivas nucleares. Esta ameaca tio, préxima do territério norte-americano provocou uma agressiva reagZo do governo dos Estados Unidos, nessa época liderado por John F Ken- nedy: 0 episédio ficou conhecido como a Crise dos Misseis, o mais grave confronto entre as ‘superpoténcias durante os anos da Guerra Fria. Kennedy ordenou um bloqueio naval a ilha, que duraria até que os misseis fossem removidos, Apesar de inicialmente assumir uma posigao de enfrentamento, o lider soviético Nikita Khruschev acabou aceitando a retirada dos mfsseis, median- te © compromisso norte-americano de retirar artefatos semelhantes baseados na Turquia. Durante os anos de construg&o do socialismo em Cuba, o macigo apoio soviético viabilizou a prosperidade econdmica do pais. Realizaram-se em Cuba grandes investimentos sociais, notada- mente em educagao e satide. A postura agressiva dos lideres cubanos contra os Estados Unidos atraiu simpatias mundiais, prineipalméfite'na América Latina, Cuba usou seu prestigio para tentar “exportar” a revolugao, apoiando movi-, mentos revolucionarios em todo o continente (por exemplo, na Bolivia, onde morreu Che Gue- vara em 1967, enquanto tentava organizar uma guerrilha camponesa) e também na Africa, com intervenges no Congo (Zaire) e, mais tarde, em defesa do regime socialista de Angola. O fim da Unio Soviética desencadeou forte crise econémica no pais, gerando insatisfacao popular e um desgaste politico cada vez maior. 0 firme controle sobre as Forgas Armadas e o apa- relho policial-repressor, bem como o carisma pessoal do lider Fidel Castro, passaram a ser 0 principal sustentaculo do regime no inicio do século XI. SISTEMA ANGLO OE ENSINO VESTIBULARES @ Nicaragua A Nicaragua, como varias Reptiblicas centro- americanas, também passou para a esfera de i fluéncia norte-americana com a independéncia, © que a obrigava a aceitar o estabelecimento de empresas multinacionais norte-americanas e in- tervengdes armadas que visavam proteger esses interesses econémicos. A presenga de tropas norte-americanas na Nicaragua, de 1912 a 1925, estimulou a criagdo de grupos guerrilheiros anti- americanos dos quais emergiu o principal lider nacionalista da Nicaragua, Augusto César Sandino (1895-1934). Na década de 1970, surgiu um novo movimento guerrilheiro, sensivel 4 crescente pobreza no pais de oposi¢ao a familia Somoza, que concentrava © poder politico desde a década de 1930. O movi- mento foi liderado pela FSLN, Frente Sandinista de Libertagao Nacional, assim batizada em home- nagem ao lider popular do inicio do século, Em 1979, os sandinistas assumiram o poder e passa- ram a executar reformas de cardter socialista. ‘Ao mesmo tempo que recebia apoio de Cuba e da Unido Soviética, o regime sandinista foi obrigado a enfrentar violenta guerrilha contra~ revolucionaria, financiada pelos Estados Unidos ¢ baseada principalmente na vizinha Honduras. ‘A Nicardigua representa mais um caso de con- flito politico interno que ganhou intensidade no contexto da Guerra Fria e praticamente deixou de existir com o colapso da Unio Soviética, Em 1990, 03 sandinistas foram surpreendentemente derrotados nas eleigdes e substituidos por um governo conservador. Dessa forma, a experién- cia socialista ndo teve continuidade no pais. Bi Neoliberalismo e reacdo democratica de esquerda O desenvolvimento econémico da América Latina, fortemente dependente de capital es- trangeiro, possibilitou a expansao da industria em alguns paises, porém manteve o alto grau de desigualdade social. A partir da década de 1980, a segunda crise do petréleo e a subita elevagao das taxas de juros nos mercados mun- digis comprometeram a economia dos paises endividados. A moratéria do México em 1982 marcou 0 inicio da crise da dfvida, marcada por prolongado periodo de explosio inflacio- néria e tendéncia a estagnagao econémica na regido. Ein 1989, foi langado o Consenso de Washington, conjunto de medidas econémicas visando recu- perar as economias latino-americanas. Adotado em maior ou menor escala pela maioria dos pai- ses da América Latina, propunha essencialmente a liberalizagao da economia (ou seja, diminuigao de barreiras alfandegérias e livre movimento de capital), equilibrio das contas piblicas (através da elevacdio de impostos e redugio de gastos go- vernamentais) ¢ a privatizagaio de empresas esta- tais. ‘As politicas do Consenso de Washington es- tabilizaram as economias locais, mas foram um fracasso quanto & promogiio da expansio eco- némica (com a notavel excegao do Chile), agra~ vando uma situacdo social ja precdria. A popu- lago passou a reagir a essas politicas elegendo governos de esquerda. Alguns assumiram 0 poder por via eleitoral, como os governos mo- derados de Luis Indcio Lula da Silva no Bra- sil (eleito em 2002), Tabaré Vazquez ho Uru- guai (2004) e Michelle Bachelet no Chile (2006). Outros assumiram 0 poder também através de eleigdes, mas em meio a crises poli- tico-institucionais, como Hugo Chavez na Ve- nezuela (a partir de 1998), Nestor Kirchner na Argentina (2003) e Evo Morales na Bolivia (2006). Em comum, todos eles fazem um dis- curso de franca oposi¢ao as medidas de ajuste neoliberal e conquistaram seu eleitorado com promessas de mudangas, embora estas nem sempre se tenham realizado, SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘vESTIBULARES. © MUNDO POS-GUERRA FRIA 1 Aspectos econdmicos Em 1944, pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, 4 representantes de 38 paises do bloco dos Aliados reuniram-se na Conferéncia de Bretton Woods, com o abjetivo de defi- nir uma ordem econ6rnica mun- dial mais adequada a visivel su- premacia norte-americana. Dentre os seus resultados, des- tacam-se a criagéo do Fundo Monetario Internacional e do Banco Internacional para Reconstrugdo e Desenvolvi- mento. Ao FMI cabia prover fundos a paises com problemas em seus balancos de pagamen- tos; 0 BIRD deveria prover re- ‘cursos para a reconstrugao das reas devastadas pela guerra. Hoje é chamado de Banco Mundial e oferece emprésti- mos em condigées privilegiadas para projetos de desenvolvi- mento em paises pobres. Porém, as mais importantes medidas foram tomadas em re- la¢do ao sistema monetério in= ternacional: decidiu-se que os Estados Unidos manteriam 0 padréo-ouro como referéncia - de valor para sua moeda (0 dolar), e as demais moedas do mundo seriam livremente conversiveis baseando-se na cotagdo do délar. Em linhas gerais, 0 resultado foi o atrela- mento das economias capitalis- tas mundiais 4 norte-americana, A Nova Ordem Internacional © que refletia a supremacia econémica deste pais. O continuo crescimento eco- némico nos Estados Unidos, estimulado pelo intervencionis- mo estatal (do Plano Marshall aos elevados gastos militares da Guerra Fria), resultou em um perfodo de grande prospe- tidade econémica. Nas do historiador inglés Eric J. Hobsbawm, apés 0 final da Se- gunda Guerra Mundial vieram 0s “trinta anos gloriosos do ca- pitalismo”. Nos paises capitalistas avan- gados, a expansao econémica aliada ao intervencionismo es- tatal gerou beneficios sociais expressivos; péde-se ampliar 0 modelo do Bem-estar Social (o welfare state) nos Estados Unidos, na Europa Ocidental. e no Japao. A implantagéo do bem-estar social era adequada 20s objetivos dos governos' so- cial-democratas, fortes na Euro- “pa apés @ Segunda Guerra ‘Mundial. J4 nos pafses capitalis- tas periféricos, os enormes flu- xos de capital, em forma de em- préstimos bancérios e de inves- timentos diretos de empresas multinacionais, resultaram no desenvolvimentismo, respal- dado na expansio econémica e na industrializagao de certas reas. A ilusio do desenvolvi- mento de paises periféricos iria desmoronar quando os capitais internacionais se tornaram es- cassos no final do século XX. Porém, no inicio da década de 1970, 0 sistema sofreu dois fortes abalos. Em 1971,ém meio a gastos governamentdis cada vez mais descontrolados — devidos inclusive & Guerra do Vietna —, os Estados Unidos abandonaram o padrao-ouro. O resultado foi a vulnerabilidade das cotagies das moedas inter- nacionais, sujeitas a oscilagdes cada vez mais bruscas e, por- tanto, a mudangas repentinas nos fluxos internacionais.de ca- pital. Em seguida (1973), ocor- reu a violenta elevagao nos pre- cos dos combustiveis, ou o pri- meiro choque do petréleo, se- guido do segundo choque de 1979, afetando as economias ca- pitalistas dependentes do pe- tréleo. ‘Na década de 1970, em mui- tos paises capitalistas avangados (por exemplo, os Estados Uni- dos) crescimento da inflagaio foi acompanhado da estagna- ¢&0 econémiica’ Erh meéid'a esse clima de inségiiranga econd- mica, muitas empresas, espe- cialmente do setor produtivo, deslocaram suas atividades para paises do Terceiro Mundo, onde encontraram custos de produ- cdo menores. Assim, a desin- dustrializagaio de alguns pal- ses avangados, especialmente da Inglaterra, foi notdvel, resul- tancio em significative aumehto no indice de desemprego. A ascensao de Ronald Rea- gan a presidéncia dos Estados Unidos, em 198M de Marga- reth Thatcher como primeira ministra da Inglaterra, em 1979 (cargo que ocuparia até 1990), SISTEMAANGLO DE ENSINO 70 1 VESTIULARES abriv caminho para uma mudanga importante nas diretrizes econdmicas desses paises, bern como a uma nova forma de estruturacdo das eco- nomias capitalistas. Tratava-se da ascensao do neoliberalismo. As politicas neoliberais propunham essencial- mente a diminuico do pape! do estado na eco- nomia (0 “estado-minimo”}, o que seria obtido com a privatizagao de empresas estatais e a dimi- nuigSo de gastos puiblicos. Nesse contexto, os go- vernos neoliberais progressivamente sucatearam o estado de bem-estar social, enquanto os servi- gos de educacao e satide cada vez mais iam sen- do transferidos para a iniciativa privada. Na me- dida em que o estado abria mao de seus com- promissos, criavam-se condigées para a eventual diminui¢ao nos impostos. A partir dai, surgiu 0 grande argumento neoliberal: a0 abrir mao de seus gastos, os governos estariam propiciando maior possibilidade de acimulo de capital pri- vado, o que resultaria em mais investimentos, criagdo de empregos etc, Além disso, as politicas neoliberais pregavam © livre comércio e a desregulamentacéio dos mercados, visando dinamizar as trocas inter- nacionais. O crescente comércio internacional, aliado as novas tecnologias da Terceira Revo- lugéo Industrial ¢ ao proprio colapso do bloco socialista, acelerou o proceso de globalizagao da economia, gerando inclusive a formacao ou consolidacgao de blocos econémicos como a Unido Européia, o NAFTA (reunindo Estados Unidos, Canada e México) e o Mercosul (forma- do em torno do Brasil e da Argentina). Deve-se ressaltar que a defesa do livre comér cio muitas vezes limita-se apenas ao discurso. Na prética, diversos paises capitalistas avancados, entre os quais Franga e Estados Unidos, adotam politicas protecionistas, principalmente no setor agricola. . A partir de entao, as economias capitalistas avangadas passaram a seguir, em linhas gerais, uma das duas tendéncias: neoliberal ou social- democrata. Estados Unidos ¢ Inglaterra lidera- vam o bloco neoliberal, apresentando, a partir da década de 1990, expressiva recuperacdo econ6- mica e crescente desigualdade social; j4 pafses da Europa Ocidental, como Franga e Alemanha, mantiveram 0 compromisso com’a social-demo- cracia, apresentando crescimento econémico re- duzido, mas mantendo garantias sociais para sua populagao. Durante a década de 1990, lideres politicos co- mo Bill Clinton (Estados Unidos), Tony Blair (Inglaterra) e até Fernando Henrique Cardoso (Brasil), propuseram uma “Terceira Via”, ou seja, um regime que fosse capaz de adotar medidas favordveis a0 mercado porém sem abrir mao do compromisso social. Esta proposta, no entanto, sempre teve contornos vagos, nao se diferen- ciando muito claramente do que costuma ser chamado de social-democracia. Quanto aos paises pobres, a discussio entre modelo neoliberal e modelo social-democrata é esvaziada frente as enormes caréncias sociais a que estio submetidas vastas camadas da popu- aga. As novas tensées internacionais O fim da Guerra Fria representou o fim do chamado “conflito Leste x Oeste”. Venceu 0 ca- pitalismo, que foi implantado nos paises do Leste europeu, até entdo socialistas. Segundo alguns intérpretes, trata-se de um marco decisivo na historia da Humanidade, Por exemplo, o cientista politico conservador norte-americano Francis Fukuyama, em sua influente tese O fim da Historia (1989), observou que o fim dos regimes socialistas evidenciava o triunfo da democracia liberal baseada em uma economia de mercado, Segundo ele, a Humanidade jamais encontraria um regime mais adequado as suas necessidades. Tal tese, bastante perturbadora, foi e continua sendo alvo de criticas e debates. Ao mesmo tempo que se encerrava o conflito Leste x Oeste, as crescentes desigualdades entre paises ricos e pobres traziam 4 tona o “conflito Norte x Sul’, que esteve mascarado durante os anos da Guerra Fria. Porém, a fron- teira imaginaria que separa o Norte rico do Sul pobre é bastante difusa: as desigualdades so- ciais se agravam cada vez mais no mundo capi- talista avangado, inclusive devido a imigragao em massa (e quase sempre clandestina) de populagao proveniente dos paises pobres. E mesmo no contexto de uma globalizacao cada vez mais intensa, consolidam-se elites interna- cionalizadas, que multas vezes vive em verda- deiras ilhas de riqueza rodeadas de pobreza. Em 1993, outra tese conservadora passou a do- minar 0 debate sobre as relacdes internactonais, quando 0 cientista politico norte-americano Samuel Huntington publicou o ensaio “O choque das civilizagées”. Segundo ele, a principal fonte de conflitos no mundo pés-Guerra Fria seria a identidade cultural-religiosa de grupos humanos. Huntington identifica sete blocos culturais no mundo e procura identificar neles os possiveis focos de atrito. Apesar da andlise muitas vezes inconsistente, Huntington foi bastante influente junto a certos grupos politicos conservadores nos Estados Unidos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO ‘ESTBULARES pensamento conservador, exemplificado pelas duas teses citadas, teve boa aceitagao nos Estados Unidos apés a vitoria na Guerra Fria e foi acompanhado da expansao do pensamento religioso com viés fundamentalista ~ vale obset var que a tese sobre o “choque de civilizacies” pode ser interpretada de forma a incitar a intole- rancia. Na medida em que o pais se tornou a tini- a poténcia global mundial do ponto de vista mi- litar, governos conservadores passaram a utilizar esse poder para promover o intervencionismo. Assim, durante o governo de George Bush (1989-1993), o pais se envolveu na Guerra do Gol- fo (1991) contra o Iraque. Apés a invasao do Kuwait por tropas do Iraque, sob a lideranga de Saddam Hussein, os Estados Unidos enviaram tropas para o Oriente Médio, derrotando o Ira- que e restaurando a independéncia do Kuwait. Assim protegiam-se de eventuais ataques e estabi- lizavam a situagao em uma regido que dispde de recursos vitais para seus interesses econémicos. fato de tropas norte-americanas terem se instalado na Arabia Saudita, territério sagrado para os muculmanos, durante e apds a Guerra do Golfo, acabou alimentando o fundamentalismo islamico de viés anti-americano. Grupos radicais mugulmanos, que jd eriticavam os Estados Uni- dos por seu apoio a Israel e por “praticar e di- vulgar um modo de vida contrério aos ensina- mentos do Isla”, passaram a se voltar frontal- mente contra 0 pais, que comegou a ser chamado por alguns de o “Grande Sata’. Nesse contexto, destacou-se a Al-Qaeda, grupo organizado por Osama bin-Laden. As origens do grupo vin- culam-se & resistncia mugulmana contra o domi- nio soviético no Afeganistao (1979-1985), , a par- tir da década de 1990, passou a realizar ataques terroristas contra alvos norte-americanos em todo o mundo. A mais espetacular ago da Al- Qaeda foi o ataque de 11 de setembro de 2001 a Nova York, que resultou na destruigSo das torres do World Trade Center. O atentado de 11 de setembro trouxe a ques- tao do terrorismo internacional para a ordem do dia. O entdo novo governo norte-americano, liderado por George W. Bush, adotou uma série de medidas restritivas as liberdades civis nos Estados Unidos er nome da prevengao contra novos atentados. No plano externo, foi adotada a Doutrina Bush, que’concede aos Estados Unidos o direito de realizar ataques preventivos contra paises que sejam considera- dos ameaca a sua seguranga ou que estimulem € protejam grupos terroristas. O presidente Bush anunciou a existéncia de um “eixo do mal”, formado por estados ditatoriais, anti- americanos e que produzem ou pesquisam armas de destrui¢do de massa (Iraque, Coréia do Norte, Ira), o qual deve ser enfrentado. No final de 2001, tropas norte-americanas invadiram o Afeganistao, visando destruir as bases da Al-Qaeda e derrubar o regime que apoiava a organizagao. Em marco de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque. Vale observer qué é costume dos govéines norté! -emeticanos traduit complexas guestBesjteraconais ‘em termios’ de lita do'*bem”contra‘o “ ‘s0mpré 0s niorte-ameriéanos deferider 0: ‘ao.entfar na Primeira: Guerra Mundial, argu necessério: enfteritar BA Europa Oriental pés-socialismo Nos paises da Europa Oriental, a transigdo para uma economia de mercado foi feita aos. sobressaltos. O sucateamento da infra-estrutura econénica desses paises nas tiltimas décadas do socialismo dificultou a interacao destes com as. demais economias européias. Gragas 20 apoio dos paises da Unido Européia os problemas fo- ram sendo superados. Em 2004, a Unio Européia foi ampliada com o ingresso de Polénia, Republica Tcheca, Hungria, Eslovaquia, Eslovénia, Esténia, Leténia e Lituania (além de Malta e Chipre). No mesmo ano, iniciaram-se as negociacdes com a Bulgaria e a Roménia, A antiga Alemanha Oriental faz parte do bloco desde 1990, ou seja, desde que se unificou com a Alemanha Ocidental. Outro marco da integragio européia foi a en- trada de paises do Leste europeu na OTAN: em 1999, Hungria, Polénia e Reptiblica Teheca; em 2004, Bulgaria, Roménia, Eslovaquia, Eslovénia, Est6nia, LetOnia e Lituénia. SISTEMA ANGLO OE EXSINO 2 VESTIBULARES: CREAR Sit Lan eu) A.oxpanséo da Organizngao do Tratado do Atléntico Norte durante 0 apés Guerra Fria, Quanto & Unido Soviética, seguiu-se ao seu desmembramento a criagdo da Comunidade dos Estados Independentes (CED, que visava transformar a antiga Unido em uma Federagao liderada pela Russia. Algumas das antigas republics nao aceitaram participar da CEI e buscaram uma aproximagaio com o Ocidente. A Russia propriamente dita, herdeira do arse- nal nuclear da Unio Soviética e grande expor- tadora de petréleo, manteve o posto de poténcia mundial, porém sem a mesma influéncia que tinha nos anos da Guerra Fria, Mesmo assim, o pals passou a ocupar o lugar que até entio per- tencia A Unio Soviética come membro per- manente no Conselho de Seguranga da ONU. Em meio ao processo de redimensionamento politico dos paises da antiga Unido Soviética, a regiao da Chechénia, no sul da Russia, pro- clamou sua independéncia, a qual foi rejeitada pelas autoridades russas, Entre 1994 e 2002, 0 territério foi palco de uma violenta guerra civil com elevado niimero de mortos e a destruigao de cidades como Grozny, sua capital. SISTEMA ANGLO DE ENSINO VvESTBULARES Porém, a mais grave crise européia no final do século XX ocorreu na Iugoslavia. Durante os anos da Guerra Fria, a Iugoslavia manteve um regime socialista ndo-alinhado com a Uniao Soviética. Seu lider foi o marechal Josip Broz, conhecido como Tito (1892-1980), her6i da liber- tagGo nacional consagrado por ter liderado a luta contra a ocupagao nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O reconhecimento da autorida- de de Tito, bem como o interesse em manter 0 pais desvinculado das duas superpoténcias, aca- bou tornando vidvel a unidade nacional, em que pese a grande heterogeneidade de sua popula- do. De fato, desde a sua criacdo, a lugoslavia era Uma complexa unio de eslovenas, croatas, sér- vios e bésnios, entre outros. ‘Com a morte de Tito em 1980 e o desmorona- mento do bloco soctalista a partir de 1990, as diversas reptiblicas da federagao iugoslava’bus- caram a separago, rejeitada pelos sérvios que, a rigor, detiveram 0 poder desde a criagao do pais apés a Primefra Guerra Mundial, em 1918. A partir de 1991, maltiplos conflitos tomaram conta da regio. O exército da lugoslévia, controlado pelos sérvios, tentava impedir as independéncias através da forga armada. Nesse contexto, foi deflagrada a guerra da Bésnia (1992-1995), 0 mais violento conflito europeu desde 1945, que incluiu até préticas de genocidio. Mais tarde, em 1999, ocorreu o mesmo tipo de conflito durante a breve guerra de independéncia de Kosovo. ‘SISTEMA ANGLD DE ENSNO “a ‘VESTIBULARES @ INTRODUCAO. O termo “Africa” foi inicial- mente usadé pelos europeus pa- ra designar as terras situadas na margem sul do Mediterraneo. Mais tarde, a palavra passou a denominar todo o continente. Tal uso peca por ser reducio- nista, pois sugere que a Africa é um espacgo homogéneo e de caracteristicas bem definidas. Apéndice Asnectos da Historia Africana Na verdade, uma das principais caracteristicas do continente é sua grande diversidade social € cultural. A propria diviséo dos povos do continente em milti- plas unidades politicas facititou seu dominio e explorago pelos europeus, processo que se ini- ciou com’a expansao maritima no século XV e atingiu seu cli- max com 0 avango imperialista no século XIX, Bracers 3-Reino lorubé 4: Impérios Mal e Songai Ashanti Apesar das divisdes politicas, che ‘a existir em regides da ‘Sinica impérios centrali- zados duradouros, inclusive an- tes da chegada dos europeus. Alids, lembremos que a ocupa- cao do continente africano é ‘to antiga quanto a humanida- de, pois foi ld que surgiram os primeiros humanos. Observe ° mapa abaixo: Limites do lstomigma (Século XIX) || =] hota do combrcio rane-Sestione ‘Trfico Negreiro (Rotas Maritimas) SISTEMA ANGLO OE ENSINO ry vesmBULARES 1. Vale da Grande Fenda: local onde surgiram os primeiros grupos de hominideos, ha 2 mi- Ihées de anos. De 14 0 Homo erectus partiu para a Asia e a Europa. Mais tarde, surgiu na Tegifio o Homo sapiens, que posteriormente se espalhou pelo planeta. 2, Império de Gana (aproximadamente dos sé- culos VI a XT): a economia desse Império fun- dava-se na agricultura e na pecudria. Desen- volveu amplamente a mineragao de ouro, que alimentava as rotas comerciais que atravessa- vam 0 deserto do Sara e chegavam ao Ktoral do Mediterréneo. O império de Gana teve sig- nificativa importéncia no comeércio europeu do final da Idade Média. 3, Reino Joruba (a partir do século XD; Nele tm destaque atividades como olaria, tecelagem metalurgia do bronze. Tinha como capital a cidade de Oyo Benin. Bergo da religido dos orixds, existente até hoje tanto na Africa quanto na América (no Brasil, chamada de candomblé), considera Ifé sua cidade sagrada. A decadéncia do reino lorubé, no século XVIII, fez com que muitos de seus habitantes fossem escravizados e enviados para a América, dai a forte presenca dessa cultura em nosso continente. 4, Impérios Mali e Songai (aproximadamente dos séculos XII a XVI): situados no alto vale dos rios Niger ¢ Senegal, onde se realizava a agricultura irrigada. O Império Mali tinha co- mo principais cidades Tombuctu e Gao, e de- senvolveu notdvets conhecimentos em astro- nomia. © Império adotou uma politica expan- sionista e, devido a contatos estabelecidos com povos norte-africanos, acabou conhecendo o Islamismo e se convertendo a essa reli decadéncia do Império Mali no século XIV re- sultou na ascensao dos songai, que domina- rama regio até 0 século XVI. 5. Reino Ashanti (século XV ao XVII): neste local os portugueses efetivamente entraram em contato com a Africa negra, em 1482, Além de explorar 0 ouro, os ashantis desenvolveram sofisticadia metalurgia e tecelagem. Com 0 desenvolvimento do trafico negreiro rumo & América, os ashantis passaram a se dedicar a0 comércio de cativos nos entrepostos europeus. 6. Reino do Congo (século XV ao XVII): princi pal reino erigido pelos povos bantos'. Assistiu “Tradicionalmente, identificam-se dois grande grupos lingiifstico-culturais na Africa Negra (ou sub-saarianal: os sudaneses (na porcdo adjacente ac deserto do Saara, incluindo a Africa Ocidental), e 0s bantos (mais ao sul do continente). ao desenvolvimento do comércio e da fundigao de ferro e de cobre (conhecimento utilizado'na fabricagdo de ferramentas agricolas, como enxadas e arados). A partir do século XVI, 0 contato com os portugueses resultou em ma- cigas conversoes ao Cristianismo, inclusive do rei do Congo, e na adaptagéo dessa monarquia aos moldes lusitanos. 7. Império Monomotapa (aproximadamente do século XIV ao XVI); erguido na drea ocupada pelos bantos, o império Monomotapa tinha co- mo capital Zimbabwe, a “cidade de pedra”. Criadores e comerciantes, importavam tecidos e cobre de outras regides da Africa, bem como porcelanas e pérolas da China. Exportavam marfim e ouro. 8, Reino Zulu (século XVIMI a0 XIX): povo banto que ocupava regides da Africa meridional. Foi © principal opositor & penetragao de povos brancos no interior da atual Africa do Sul du- rante 0 século XIX. Na Africa, os limites que separavam os estados ou reinos nao eram definidos por fronteiras fisi- cas, mas pela extensdo das relagdes entre familias e da influéncia dos clas, cujo chefe local (nia Africa ‘ ocidental chamado de sobd) devia obrigacdes a ‘um rei, Convém ainda ressaltar que as diversas unidades politicas mostradas no mapa anterior nao eram contemporaneas, tendo surgido e se su- cedido ao iongo de aproximadamente mil anos, Ei ESTRUTURAS ECONOMICAS E SOCIAIS Em meio a diversidade to grande, podemos identificar apenas algumas caracteristicas gerais ‘comuns, no que se refere a economia e socieda- de, entre os poves africanos, Por exemplo, esses povos dominavam técnicas de metalurgia e de agricultura semelhantes, como o arado de lamina estreita e o basto para cavar. A propriedade fa- miliar da terra também era bastante comum; 0 grupo devia tributos ao chefe local e contava com a mao-de-obra de todos os membros, A amplia- so da familia significava nao sé a possibilidade de aumentar o numero de pessoas trabalhando a terra, como também era uma forma de ostentagdo € prestigio. O desejo de ter muitos filhos, a cobiga dos homens por mulheres férteis'(bem como a competicao entre elas) e os bons tratos aos filhos também caracterizavam essas sociedades. Toda a atividade econémica e a vida social eram marcadas pela presenga da epidemia: em vastas regides da Africa convivia-se com a malaria, a di- senteria e a tripanossomfase (a “doenga do sono”, ‘transmitida pela mosca tsé-tsé). SISTEMA ANGLO DE ENSINO 76 ‘VESTIBULARES. Um dos aspectos mais draméticos da histéria do continente é 0 fato de ter se convertido em exportador de mio-de-obra escrava, Tanto os europeus, no processo de colonizagao da Amé- Tica, quanto os mugulmanos, em comércio vol- tado para o Oceano {ndico, realizaram o trafico negreiro em larga escala para fora do continente. Sem dtivida a escravidao jé existia na Africa antes de os europeus transformarem-na em negécio. Porém, a pratica da escravidao integra va-se a uma estrutura social peculiar, principal- mente na Africa ocidental. Tratava-se da escra- vidéo doméstica ou de linhagem, em que 0 ‘embocu, @ — Entrepostos Fortifcados @® Minas de Ouro Limite Aproximado do Durante muito tempo, o “seqiiestro” de indi- viduos a serem escravizados foi considerado por diversos povos africanos um grave crime. Porém, a chegada dos estrangeiros, sobretudo europeus, mudou essa situagio. A escravido passou a ser parte de um lucrativo comércio, e diversos reinos ou chefes tribais, aproveitando-se disso, passa- ram a se dedicar 4 captura e venda de escravos em larga escala. A chegada dos europeus resultou na “didspora africana”, ou seja, no deslocamento forgado de milhées de pessoas para fora do continente. Para © perfodo de 1451 a 1870, as estimativas para tréfico atléntico so as seguintes: cativo juntava-se ao nucleo familiar-de seu pro- prietério. A aquisi¢ao de cativos era uma forma de ampliar o nimero de trabalhadores na fami. lia; por exemplo, um homem adquiria escravas como esposas e criava os filhos nascidos dessa uniao como livres e incorporados A familia. Guerras, dividas e crimes (como 0 de adultério ¢ bruxaria, cometidos por mulheres) levavam A es- cravizacéo. Mas a identificacao cultural e “étni- ca” (pela cor da pele) favorecia a integracdo do escravo familia e, muitas vezes, possibilitava que progressivamente reconquistasse sua liber- dade. NS a0 %, x ve ‘de ALENCASTRO ~ 0 gato dosviventes: ‘ Sul Sp Paulo, Ca das Leas 200.63) acaptao oe Lu fermopto do Bras Atti SISTEMA ANGLO DE ENSINO VESTBULARES © combate ao tréfico negrei- ro no Atlantico e sua gradativa abolicao, ao longo do século XIX, acabou por deslocar as rotas para o Oceano Indico. Passou a ter destaque entao a cidade de Zanzibar (palavra originada o termo zendj-bar, regiao dos escravos), que atin: giu seu apogeu erm 1880. Lem- bremos que a abolicao da es- cravidéio em alguns paises mu- gulmanos aconteceu bastante tardiamente, por exemplo: em Catar, em 1952, na Ardbia Sau- dita, em 1962, na Mauriténia, somente em 1989. @ INFLUENCIAS EXTERNAS © Olslamismo A historia da Africa esté for- temente ligada ao Islamismo. A expansdo da religido no conti- nente iniciou-se no século VIL, no litoral do Mediterraneo. O norte da Africa inicialmente fez parte de um império centraliza- do, e mais tarde foi divido entre diversos reinos. No século XVI, a regio, com excegao do Mar- rocos, passou a ser dominada pelos turcos. A partir do século XI, devido ao crescente comércio, 0 Isla- mismo expandiu-se rapidamente entre os povos némades do de- serto do Sara e abrangeu uma vasta area, do Senegal ao Sudao. Ao mesmo tempo, a religido ex- pandiu-se na Africa Oriental, especialmente em sua faixa lito- ranea, onde se mantinham con- tatos com a peninsula 4rabe. Zanzibar, grande entreposto co- mercial do Oceano {ndico, pas- sou a ter populagoes de origem arabe, persa, indiana e malaia, além dos africanos nativos, Os haugas, no norte da atual Nigéria, destacaram-se, a partir do século XIV, na tarefa de difun- dir a fé islamica pela Africa Ne- gra, fosse através dos contatos com outros grupos {sobretudo contatos comerciais) ou através da jihad (a “guerra santa’). Es- cravizados e transferidos para a América, muitos haugas manti- veram a fé islamica ¢ ajudaram a articular movimentos de insur- reigao como, por exemplo, a Re- volta dos Malés no Brasil (1835). Durante o século XIX, em meio a0 avanco imperialista eu- Topeu no interior do continente africano, diversos grupos isla micos aceitaram a ascenséo do mahdi, 0 “restaurador da fé”. Através da pregacao da luta con- tra os infiéis, o autoproclamado mahdi acabava por articular uma forma de resisténcia ao impe- alismo contando com a vnida- de religiosa de seus seguidores. © contato com os europeus Na Africa Negra, 0 contato entre africanos e europeus deu- se mais intensamente em dois momentos: primeiro, no con- texto da expansao maritima dos séculos XV ¢ XVI, resultou no reconhecimento e ocupagao do litoral afticano, em que se des- tacaram os portugueses; 0 se-, gundo, no contexto da expanséo imperialista do século XIX, resul- tou na ocupagao e exploracao de territérios do interior africa- no notadamente por ingleses, franceses, belgas e alemes. Inicialmente, na Africa Oci- dental os portugueses busca- vam 0 ouro, descoberto apenas em 1461-62 no litoral da Guiné. Ao mesmo tempo, obtinham mercadorias valiosas como mar- fim, pimenta e madeira. Com a fundagao da fortaleza de Sao Jorge da Mina (1482), os lucros com 0 comércio de escravos passavam a ser cada vez mais ‘vultosos. ‘A EXPANSAO! PORTUGUESA NO)LITORAL AFRICANO| ‘Brove cronologia de expansio portuguesa ao longo da litralatlintienaffcano (séeuo XV]. [SISTEMA ANGLO DE ENGINO B ‘VESTBULARES | Uma vez que os europeus limitavam-se a criar entrepostos (feitorias e escalas para 0 comércio com 0 Oriente) no continente africano, nao se pode falar em colonizagao européia na Africa antes do século XIX. Uma notével excecéo fol a regio do Cabo da Boa Esperanga (Africa do Sul), ocupada pelos holandeses a partir de 1652. A regiao recebetu intensa imigracao de calvinistas holandeses (que passaram a ser chamados aftikaners), caracteri- zando uma colonizagao de povoamento. A partir de 1797, a regiéio do Cabo passou para o dominio inglés, o que acabou provocando o deslocamento dos affikaners em diregao ao interior do continente. No interior da Africa do Sul, os boeres (fazendeiros afrikaners) ocuparam as regides de Orange e ‘Transvaal, entrando em choque com o povo zulu. No século XIX, a ambico imperialista das po- +téncias européias, estimuladas pelos avangos da Segunda Revolucao Industrial, resultou na ex- ploragao de toda a Africa. A Conferéncia de Ber- lim (1884-1885) definiu as linhas gerais da parti- iha do continente, : SISTEMA ANGLO DE ENSING 9 ‘VESTOULARES.

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