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A obrigação das elites do PSD para com o partido e o país


18.04.2008, Paulo Ferreira

Menezes sai à espera de uma "vaga de fundo". Mais do que nunca, será agora incompreensível
que as elites se mantenham no conforto da sombra

Éprovável que a decisão mais inteligente de Luís Filipe Menezes na liderança do PSD tenha sido a sua própria
demissão.
Em termos pessoais, ao anunciar a saída quando ninguém ainda esperava, o líder social-democrata evita ser
"frito" num lume interno que estava a tornar-se insuportável e sonhará com uma "vaga de fundo" das bases
que o elegeram há seis meses para regressar daqui a semanas com uma legitimidade renovada. O discurso feito
esta noite em Sintra, perante militantes, é um forte sinal disso mesmo, apesar de Menezes afirmar que não está
na corrida.
Para o partido, a crise agora aberta pode servir para inverter a curva descendente em que tinha mergulhado,
ganhando tempo precioso para fazer um obrigatória revisão de políticas e de propostas que possa colocar em
oposição ao PS de José Sócrates no ciclo eleitoral que se abre no próximo ano.
É fácil, nestas alturas, apontar o dedo aos críticos que não deram descanso a uma liderança que nasceu
enjeitada por grande parte das elites e dos chamados "barões" do PSD. Mas foi Menezes que lançou as
sementes dessa tempestade.
A sua liderança sempre foi errática - o que não surpreende quando se olha para os constantes zigue-zagues nas
propostas e posições que defendeu nos últimos anos e para o jogo de crítica-apoio-crítica com cada nova
liderança do PSD. Foi desta forma que geriu, por exemplo, os pactos assinados com o PS para a Justiça e para a
revisão das leis eleitorais autárquicas e legislativas.
Depois colocou contra si a quase totalidade dos anteriores secretários-gerais do partido quando pretendeu
alterar o método de pagamento das quotas dos militantes, processo agora essencial nas eleições directas
internas.
Por fim, ensaiou uma forma de combate político a que o país não está, por boas razões, habituado: a rasteira e
indecente tentativa de criar um "caso Fernanda Câncio" terá sido a simbólica gota de água de muitas figuras de
primeira linha do partido.

Ademissão do líder do PSD aumenta agora as responsabilidades das elites críticas do partido. Acabou o tempo
do calculismo, da espera táctica pelo melhor momento para avançar, da tentativa de evitar as travessias do
deserto de uma oposição a um governo que dispõe de uma sólida maioria parlamentar.
Manuela Ferreira Leite, António Borges, Rui Rio, Aguiar-Branco são os rostos mais visíveis dessas elites. Está
agora também nas suas mãos o futuro próximo do PSD. A falta de comparência destes e de outros responsáveis
neste momento decisivo - como aconteceu há seis meses quando Menezes venceu e tinha ocorrido quando
Marques Mendes se tornou líder - será incompreensível e colocá-los-á como parte do problema e nunca da
solução.
Ainda que os prazos colocados para a realização de eleições directas sejam apertados - dia 24 de Maio, daqui a
cerca de cinco semanas - esse não pode ser um argumento válido para que ninguém avance contra a provável
re-candidatura de Luís Filipe Menezes.
Não há democracia de qualidade sem uma oposição forte, credível e que seja, de facto, vista como alternativa a
qualquer governo. Esta verdade torna-se mais urgente num momento em que o país volta a definhar
economicamente, soluça nas chamadas reformas estruturais e teima em não conseguir quebrar a espiral de
perda de competitividade e de mudança de um modelo de desenvolvimento que está esgotado há uma década.
As responsabilidades das elites do PSD extravasam largamente as paredes do partido. Talvez isso nunca tenha
sido tão evidente como agora, o que torna insuportável que se enjeite esse ónus.

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