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Teorias e Modelos da Comunicação

A Utopia da Comunicação…

como resposta aos problemas da sociedade

A ideia de uma sociedade de comunicação vem à luz em meados


do século XX. De maneira ainda mais precisa, as teorias da
comunicação surgem a partir de 1942, data que marca a virada
definitiva do conflito mundial rumo à barbárie. Qualquer pesquisa que
venha a ser feita sobre a matéria não deveria levar em conta essa
aparente coincidência e dar conta de um contexto onde o vínculo
social foi ameaçado em tal profundidade?
Diversos indícios nos sugerem a existência de ligações
subterrâneas entre a guerra que sacudiu meados do século passado,
a escalada das técnicas de comunicação e a formação de uma nova
utopia em torno da comunicação.
Wiener insiste muito sobre o "naufrágio" que, para ele,
espreitava a sociedade. A associação desses dois ápices da barbárie,
que são, de um lado, os campos de concentração e, de outro, o uso
da bomba atómica é, para ele, fruto de uma concepção global da
sociedade que não pode conduzir senão à sua decadência. A ideia
utópica de uma sociedade de comunicação ideal nascerá pois como
uma tentativa de responder, a partir desse ponto de vista, a uma
questão contemporânea.
Isso tudo conduz a um caminho até agora pouco explorado: a
noção de comunicação, nascida no interior das fronteiras estruturais
do mundo científico, e que aí poderia ter ficado circunscrita, não
tomando toda a sua força moderna, toda a sua carga utópica, do
facto de convergir com um contexto histórico particular? Antes de
examinar como os grandes temas contemporâneos da comunicação
se difundiram em seguida a essa convergência, é necessário fazer um
paralelo com o conteúdo que Wiener dá à nova utopia e, mais
globalmente, com o contexto ao qual essas novas teorias darão
ressonância.

O projecto utópico que se articula em torno da comunicação é


ambicioso. Desenvolve-se em três níveis: uma sociedade ideal, uma
outra definição antropológica do homem e uma promoção da
comunicação como valor. Esses três níveis se concentram em torno
do tema do homem novo, que chamaremos de Homo communicans.
Segundo Wiener, esse homem novo corresponde a nada menos
do que a tentativa de recolher, com materiais marginais, os
fragmentos que uma civilização derrotada. O Homo communicans é
um ser sem interior e sem corpo, que vive numa uma sociedade sem

1 Pós-graduação: Tic
2009/2010
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segredo; um ser totalmente voltado para o social, que só existe


através da troca e da informação, numa uma sociedade tornada
transparente graças às novas "máquinas de comunicação". Essas
qualidades de homem da comunicação, que contribuem para
fomentar o ideal do homem moderno, surgem como alternativas à
degradação do humano produzida pela tormenta do século XX.
Wiener tinha consciência de ser um pensador utópico?
Provavelmente, não. Na sua concepção das coisas, ele não faz aí
senão exercer sua responsabilidade científica. Entretanto sua obra
‘’The Human Use of human beings ‘’ inscreve-se muito bem na longa
tradição de obras utópicas. As análises e proposições que ela contém
respondem muito bem à definição dada à utopia por Lesjek
Kolakowski: ou seja: "a de uma fé numa sociedade onde não apenas
as fontes do mal, do conflito ou da agressão são evitadas, mas onde
ainda se realiza uma reconciliação total entre o que o homem é, o
que ele se torna e o que o envolve", uma crença tripla de que "o
futuro, misteriosamente, já estaria lá, [...] de que nós disporíamos de
um método de pensamento e acção seguro, susceptível de nos
conduzir a uma sociedade sem defeitos, conflitos e insatisfações [...]
e de que nós saberíamos o que o homem realmente é, em oposição
ao que ele crê ser".
O programa wieneriano corresponde, quase pontualmente, a essa
definição até mesmo no título ("o uso humano dos seres humanos"),
que não se pode compreender fora de seu contexto utópico: o
problema de todas as utopias é bem o de "fazer qualquer coisa com o
homem".
Enquanto aqueles pensadores estavam mais interessados na
cidade e no urbanismo enquanto meios superiores de organizar a vida
e os costumes humanos, Wiener ocupa-se com uma questão mais
subtil: a arquitectura do vínculo social. Para ele, a nova arquitectura
deverá privilegiar, como jamais sem dúvida se fizera até então, a
"transparência", palavra-chave para entender os fundamentos da
sociedade moderna.
As novas concepções articulam-se em torno de dois princípios.
Qualquer ser que se comunique num certo nível de complexidade é
digno de ver reconhecida sua existência enquanto ser social. Em
seguida, não é o corpo biológico que funda essa existência social
mas, antes, a natureza "informacional" do ser em questão. De um
certo modo, não há mais "ser humano" mas, ao contrário, "seres
sociais", inteiramente definidos por suas capacidades de se comunicar
socialmente.

A nova "humanidade" diz respeito pois a todos os homens mas


pode se estender, também, a todos os seres candidatos ao estatuto
de "parceiro comunicativo" integral. Vê-se bem acerca desse ponto

2 Pós-graduação: Tic
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que o novo pensamento antropológico não é um pensamento


humanista e que, como tal, ele não coloca o homem no centro de
todas as coisas. A "vida" não reside mais no biológico mas na
"comunicação".
Portanto não se pode entender o homem senão vendo-o como um
"ser comunicativo". Como ele dizia:
"Estar vivo é participar de uma corrente contínua de influências
provindas do mundo exterior e de actos que agem sobre ele, no
qual não representamos senão um estágio intermediário. Possuir
plena consciência dos factos mundanos é participar do constante
desenvolvimento do conhecimento e de interagir livremente com
ele".
A comunicação introduz-nos directamente num pensamento que
não se centra nas qualidades intrínsecas do homem mas na sua
relação com outros "seres" (no caso, artificiais). Em resumo, "o
homem wieneriano" é totalmente definido em termos de
comportamento informacional, não possui interioridade e encontra-se
em competição com outros seres, que arriscam vencê-lo sobre o
terreno da complexidade.
"O futuro da Terra não será longo se o ser humano não se elevar
totalmente ao nível de seus poderes inatos. Para nós, ser menos
que um homem é ser menos que algo vivo. Aqueles que não
estão totalmente vivos não vivem muito tempo, mesmo em seu
mundo de sombras. Indiquei [...] que, para o homem, estar vivo
equivale a participar de um vasto sistema mundial de
comunicação".

3 Pós-graduação: Tic
2009/2010

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