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Cec Coty Cree ot Coren Discurso e text dois conceitos essenciais Leet Serco Conoco Coed a ee ieee ey ceo) Discurso e texto Obj O que vocé deverd saber ao final deste estudo. 1. O que é ideologia. '* Que fatores participam da constituicdo de uma formacdo ideolégica. * De que maneira a marcas ideolégicas se manifestam nalinguegem. + Oque é formacéo discursiva e como essa formacao se relaciona com 2 formacéo ideolégica, ivos 2. Qual a relacdo entre discurso e texto. + Por que a natureza do discurso € social, + Por que o texto é uma manifestacao de natureza individual. Leitura Ao longo da histéria da miisica popular brasileira, muitos compositores procuraram definir, em suas letras, um perfil de mulher ideal. A sequir vocé conheceré duas delas. Textol = Ai que saudades da Amélia Nunca vi fazer tanta exigéncia Nem fazer 0 que vocé me faz Vocé nao sabe 0 que € consciéncia Nem vé que eu sou um pobre rapaz ‘YVocé 86 pensa em luxo € riqueza Tudo 0 que vocé vé, vocé quer ‘Ai, meu Deus, que saudades da Amélia Aquilo sim € que era mulher Perea poser ornare ene ar E achava bonito nao ter 0 que comer E quando me via contrariado Diria: “Meu filho, 0 que se hi de fazer!” Amélia nao tinha a menor vaidade Amélia € que era mulher de verdade ALVES, Ataulfo; LAGO, Mario. Ai que saudades da Amelia, 1941, Disponivel em: . Acesso em: 8 jan. 207 {© Copyright 1941 by Inndos Vitale S.A. Indiistria e Comércio, ‘Todos os direitos reservados para todos os paises. 1 capirutos eae fe cere eee Historia recente das conquistas femininas Texto) Emilia Primeios jonas femi- Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar ee Que de manha cedo, me acorde na hora de tabalhar Seas 'S6 existe uma e sem ela eu nao vivo em paz 1852 | fami VezFemnre), Emilia, Emilia, Emilia, eu nao posso mais 1900” fetes pare pare mule reaiie Oy Ninguém sabe igual a ela ed Preparar o meu café eee Nao desfazendo das outras Emilia é mulher Papai do céu é quem sabe A falta que ela me faz Emilia, Emilia, Emilia, eu ndo posso mais... VASSOURINHA (LOBO, Haroldo; BATISTA, Wilson), Emilia. Rio de Janeiro: Columbia, out. 1941, Disponivel em: chuip://haroldo-lobo.musicas.mus.bt/letras/691754/>, ‘Acesso em: 10 jan. 2001 (© Copyright by Mangioni Flhos 7 Cia. Leda ‘Todos os direitos reservados para todos os paises do mundo, Operarias brasileiras ‘sBoempregadasemte- ___ lagers, cam jomadas de trabalho de até 15, horas; primers regis twos de assio sexual 1. Em 1941, o Brasil foi apresentado a uma mulher “inesquecivel”: Amélia, personagem da misica de autoria de Mario Lago e Ataulfo Alves. A popularidade desse samba, no carnaval de 1942, foi tao rande que o substantivo amélia entrou para o dicionario como sinénimo de “mulher amorosa, passiva e servical”. Identifique, no texto 1, 08 trechos que autorizam a construcéo dessa imagem. * Explique, com base nesses trechos, 0 que faz com que Amélia seja vista come “amorosa, passiva e servical” Apésa leitura atenta do texto 2, podemos construiruma imagem da mulher nele apresentada como ideal. Que caracteristicas definem o perfil de Emilia? Ss ® Se vocé considerar a imagem associada a Emilia, diria que ela é uma Sess mulher independente? Por qué? eons pet, Ha, no texto 2, uma passagem que sugere que as caracteristicas mulheres; tem como bipesag 9 ea ena “passiva e servical", identificadas em Emilia, sao, para o autor, re- paeeaenee feréncia mais ampla para o perfil da mulher ideal. Identifique essa fre que. engranidou assagem, ' Explique por que essa passagem permite ao leitor concluir que 0 autor dda misica recorre a Emia para ctiar a imagem do que considera a eres fil eee mulher ideal. dlavam pocer de vida § Podemos afirmar que, no texto 1, Amélia também é apresentada como morte as marios referéncia para a mulher ideal. Justifique ane enna Aprimeira vista, os textos 1¢2 podem levar oleitor a crer que apenas Se eee seus autores tém como expectativa de mulher ideal alguém como Coase, Amulher ‘Amélia e Emilia, No entanto, se considerarmos que as duas letras de ainda € vista com ine mUsica foram escritas em 1941, talvez seja possivel afirmar que tal copaz de erercer uma perfil de mulher era o que circulava na sociedade da época. Consulte profesdo sem oconsete a linha do tempo e explique por que essa hipdtese € verdadeira. ‘imento do mato. Tecelager Marangel, S20 Paul, anos 1920 Dscunoe texto 3 PRODUCAO DE TEXTO 0 Brasil 0 segundo pals latino-americano ‘Equador foio prime fo) 2 acimitr 0 vor0 femiino A fildsofa francesa Simone de Beauvoir publica 0 segundo. 5210, obra de reteren- (ca para o movimento feminist omega a ser vendila os EUA a pila ant- concepcional, desen- \voMida nos anos 1950 por Gregory Goodwin Pius, Estatuto da Mulher asada permite que 6 brasleirs nessa condicS0 exercam li wemente uma profi so; a pula chega as famacias brasicas Nos EUA, Betty Frie- dan organiza a NOW (tional Organieaton For Noman), dentro ‘do que se corvencic- rouchamarazequnds ‘onda feminista que vareu 0 Ocidente nos Em agosto, mihares ‘de mulheres saem as ruas de Nova York, ‘Washington, Boston, Detroit © tras cidae es americanas para reivindicar oportuni- ads iguaisdeacosso atrabalho e nstucio, peridade de salatios para tarefas iguais, legaleacso do abarto abertira de ceches ‘em regime integra, 1 Pint 4 Autores contemporaneos apresentam, em suas letras de musica, uma mulher muito diferente daquela dos anos 1940. Um bom exemplo é Dandara, de van Lins e Francisco Bosco. Uma musa com nome de guerreira (Os compositores ivan Lins e Francisco Bosco inspireram-se em Dandara Guer- fa, filha da atriz Claudia Ohana e do c= neasta Ruy Guerra, para compor letra de "Dandara”. Atriz como amae, ela é 4 protagonista do filme 1972, de José Emilio Rondeau e Ana Maria Babiana, ‘em que interpreta uma jovem idealsta uma trama que tem como pano de fundo a ditadura militar e a cena do rock carioca dos anos 1970. sereanunie /raroxoo80 Dandara Ela tem nome de mulher guerreira Ese veste de um jeito que s6 ela Ela vive entre o aqui e o alheio As meninas no gostam muito dela Ela tem um tribal no tornozelo Ena nuca adormece uma serpente (© que faz ela ser quase um segredo Feirene eee ott gis bariesterie Ela é livre e ser livre a faz brilhar Ela ¢ filha da terra céu e mar Dandara Ela faz mechas claras nos cabelos E caminha na areia pelo raso Eu procuro saber os seus roteiros Pra fingir que a encontro por acaso Ela fala num celular vermelho Com amigos e com seu namorado Ela tem perto dela um mundo intel E a volta outro mundo, admirado 2 Ela tem nome de mulher guerreira © primeiro verso da misiea faz referénda 8 mulher de Zuri dos Bee a ene Oar Palmares, andar, uma guerra ba ete Serre eae bah negra que vveu no século XVIL Ela é filha da terra eu e mar ee Dandara Aefender oqo de Paar LINS, Iran; BOSCO, Francisco, Dandara, 2004 Disponivel em: Acesso em: 11 jan. 2007 (© 2001 by Sony Music Edicées Musiais Lida Av. das Américas, 3434 -Bloco 4 Salas 519 a 521 - Barra da Tijuda Bj © DIscuRSO ® Dé wm rolé Em “Dandara”, vemos surgir uma imagem de mulher a partir da des- Navic deta eta criggo de alguns de seus aspectos fisicos. Que aspectos sdo esses? oc ewihe deena 4 Algumas caracteristicas e comportamentos também so usados pelos fea autores para “definir” Dandara. Identifique-os. Eequanty clesee eteeey Que imagem de mulher é criada por essa descricdo? Explique role 2. Além de apresentar uma imagem de Dandara, a letra da misicatam- E vocé vai ouvir bém faz referéncia ao modo como, segundo seus autores, ela é vista Apenas quem ja dizia pelos outros. Que reacdes ela provoca em homens e mulheres? Eu nao tenho nada ¥ De todas 2s caracteristicas atribuidas a Dandara, uma delas € destacada Antes de vocé ser ‘como a que causa mais impacto. Que caracteristica € essa? Eu sou, eu sou, eu sou Que trechos da letra refletem o efeito provacado por tal caracteristica? Eu sou amor da cabeca aos pés ei Podemos afirmar que o primeiro verso — “Ela tem nome de mulher guerreira” — oferece uma "chave” para a compreensao do perfil de COSTA, Gal (MOREIRA, Moraes; mulher que seré apresentado no texto. Explique por qué. GALVAO). Fatal Rio de Janeiro: 5 : Philips, 1971 A comparasao entre o perfil de mulher apresentado nas letras das Shee een misicas da década de 1940 (textos 1 e 2) e na de “Dandara” revela ‘Warner Chappell Edigdes Musicais uma transforma¢ao na imagem que se faz da mulher. 0 que pode Ltda, Todos os direitos reservados explicar essa mudanca? Consulte a linha do tempo para elaborar a sua resposta. sl As marcas ideoldgicas dos textos Todas as classes sociais deixam as marcas de sua visdo de mundo, dos seus valores e crencas, ou seja, de sua ideologia, no uso que fazem da linguagem. Mas 0 que é ideologia? Se formos ao dicionario, encontraremos a seguinte definicao para o termo Ideologia é um sistema de ideias (crences, vadic6es,princpios mites) nterde- pendentes, sustentadas por um grupo socal de qualquer natureza ou dimenséo, 25 quai refletem, raconalizam e defender os proprio interesses e compromissos insttuconas, ejam estes moras, religiosos, politicos ou econémicos. ‘A foto mostra Gal Costa em INSTITUTO ANTONIO HOUAISS, Dicindrio Houas da ineua portuguesa show de 1972. Nessa fase de sua Rio de Jancir Objetsa, 2001p. 1565. carrera, ela personificou 0 rom- pimento das atitudes esperadas tal ester eae ates Como seres humanos, recorremos linguagem para expressar nossos senti- no vestuario, nas eparigdes em —_mentos, opinides, desejos. € por meio dela que interpretamos a realidade que pidblco, no modo de antareno nos cerca. Essa interpretaco, porém, ndo ¢ totalmente livre, Ela é construlda comportamento pessoal historicamente a partir de uma série de fltrosideol6gicos que todosnés temos, suman’ — mesmo sem nos darmas conta de sua existéncia, Esses fitros constituem uma formacao ideolégica, ouseja, um conjunto de va- lores e crencas a partir dos quais julgarnos a realidad na qual estamos inseridos. == Imagens de mulher: os valores de uma época Na abertura deste capitulo, tomamos contato, primeiramente, com duas letras de misicas escritas no inicio da década de 1940. Embora tenham sido compostas por autores diferentes, constatamos que apresentavam uma imagem de mulher bastante semelhante. Discurso eteto 5 PRODUCAO DE TEXTO Uma disputa acirrada saves ab YDB. ‘Maria Lago, na década de 1940, “Ai que saudades da Amélia” (de Mario Lago e Ataulfo Alves) e “Praca Onze" (de Herivelto Martins e Grande Otelo) eram os favoritos do concurso que esco- Iheria o melhor samba do cerna- val de 1942. Durante a epresen- taco de "Praca Onze”, aplateia, fo estadio do Fluminense, foi a0 deliro. Mario Lago, ao apresentar ‘sua misica, subiu 20 palco e fez um discurso apaixonado, pro- clamando Amélia 0 simbolo da mulher brasileira. Quando Ataulfo Alves e suas pastoras comecaram @ cantar, 0 estédio praticamente velo abaixo. Como a vitéria seria efinida por aciamacéo, os do's sambas saftam vitoriosos, ms carina Amélia e Emilia, referéncia do perfil de mulher ideal, séo caracterizadas como submissas, boas companheiras, donas de casa competentes, dedicadas a satisfazer as necessidades de seus maridos. O fato de elas serem apresentadas de modo tao semelhante nao é uma coincidéncia. Os autores das letras dos sambas expressam a visao de amplos setores da sociedade da época sobre as qualidades da mulher ideal. Essa visdo de mulher faz parte da formacao ideol6gica da sociedade brasileira na década de 1940. "Nesse sentido, as letras dessas mUsicas revelam marcas ideologicas especifi- Cas, que permite reconstituir um modo também especitico de ver a realidade no Momento em que 0s textos foram escritos. Qutra evidéncia disso é a letra da misica "Dandara”, de 2004. A imagem de mulher nela apresentada é completamente diferente daquela presente nos textos da década de 1940. A caracteristica mais louvada em “Dandara” é a liberdade da personagem. ‘Se ddeal feminino construido em “Ai que saudades da Amélia” e" Emilia €0 da dona de casa submissa que vive para satisfazer as necessidades e aos desejos de seu companheiro, o brilho e a seducao de Dandara decorrem do comportamento oposto: ela é independente, livre e 0 fato de ser assim faz ‘com que os homens fiquem fascinados por ela. € a mulher que, a partir de meados do século XX, saiu da esfera privada, doméstica, para reivindicar seu lugar no espaco publica. ‘Composta em 2004, a letra de "Dandara” correspande a um novo perfil de mulher que resultou da luta de tantas mulheres pela conquista de um espaco na sociedade, Agora, independéncia, autonomia, liberdade fo caracteristicas valorizadas positivamente. ™ As “pistas” da formacao ideoldgica Do mesmo modo como identificamos marcas da formacdo ideoldgica da sociedade brasileira da década de 1940 nas letras sobre Amélia e Emilia, e da sociedade contemporanea na letra de “Dandara", podemos fazer 0 mesmo com qualquer texto. Para isso, basta saber que tipo de informagdes procurar no momento de ler e analisar um texto. Se a ideologia é definida como um sistema de ideias, precisamos identifi- car, No texto, as ideias basicas que, nele presentes, podem ser associadas aos valores, aos principios, as crencas de um determinado grupo social Assim, quando os compositores buscam exemplos do que consideram caracteristicas louvaveis em uma mulher, eles esto explicitando valores espe- Cificos. Se esses valores coincidem com as informacdes disponiveis sobre o que € avaliado positivamente, em uma determinada época, podemos concluir que esses valores s40 representativos de uma formacao ideologica particular. ™ Formacao ideolégica e formacao discursiva Como vimos, & por meio da linguager que explicitamos nossa visio de mundo. No uso que fazemos da linguagem encontramos as pistas da forma- Go ideol6gica, A linguagem, portanto, é a materializacao da nossa ideologia. Textos que valorizam a imagem da mulher como a dona de casa perfeita, por exem- plo, recorrem a um vocabulério que traduz as caracteristicas vistas como Positivas. A mulher € a rainha do lar, 0 anjo do lar, a fada do lar, a mae enema @ cuecrne ninco ango de 1942. Dponiel em: chp/ wm propagandsanigstoggercom.b/>. ‘Seow et 2 20% 0 DIScuRSO eo ena Sonoridade e beleza na mais f completa linha de radios 7~O—__ , 1 _novas geladeiras com cbres interes e maior espaco util ‘para seu maior conforto -o—____ moderna linna de ‘wlevsores G-E exemplar, a esposa perfeita, a santa senhora, express6es que a propagan- da das décadas de 1940, 1950 e 1960 usava para encobrir, na realidade, a verdadeira trabalhadora do lar, a “escrava" que devia manejar todos os eletrodomésticos para manter sua casa permanentemente limpa. Por tras de todos esses termos, podemos identificar uma mesma ideologia no que diz respeito ao papel destinado a mulher. € por isso que a cada formacio ideolégica corresponde uma formacao discursiva especifica, cujas marcas podem ser identificadas nos textos. iene A formacao discursiva é um conjunto de temas (categorias ordenadoras do mundo natural: alegria, medo, vergonha, solidariedade, honra, liberdade, opressao, etc.) e de termos (elementos que estabelecem uma relacao com 0 mundo natural: mesa, carro, érvore, mulher, etc.) que concretizam uma visdo de mundo espectfica Sempre que for possivel identificar, em um conjunto de textos, uma regu- laridade (recorténcia de temas e termos), estaremos diante de uma mesma formacao discursiva. Observe. ‘Companheiro fil do seu la. Amincio antigo de 1942, Dispontvel em: . Acesso em: 2 fev, 2007, Capa de um tivo de recettas, publicado pela Nesté nos anos 1940/1950, Discurso e texto PRODUCAO DE TEXTO el Ansincio antigo de 1942, Disponivel em: . Acesso em: 2 Fes. 2007, 1 capiruto 1 Dirigir um lar 24 de fevereiro de 1960 ‘Somente uma mulher, ¢ dona de casa, sabe reconhece a gran- de tarefa que é bem dirigir uma casa. A dona de casa tem de ser, antes de tudo, uma economista, uma “equilibrista” das financas, principalmente com as dificuldades da vida atual, O lar € 0 lugar onde devemos encontrar a nossa paz de espirito num ambiente limpo, sadio e agradavel e cabe & mulher providenciar isso. [...] ‘Abboa dona de casa é a que sabe dar ordens € acompanha de pertoa sua execucao. Ea que mantéma limpeza, a ordem, 0 capri- cho em sua casa, sem fazer desta um eterno lugar de ceriménias, de deveres, onde tudo é proibido. E a que faz de sua casa o hugar de deseanso, da Felicidade do marido e dos fills, onde eles se sentem realmente bem, 3 vontade, sio bem tratados. O melhor lugar do mundo. LISPEGTOR, Clatice. Corrie fominin (Ong. Aparecida Maria Nunes Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p45. (Fragmento) Bithetes as leitoras [.-] Muitas sio as mulheres que invejam as amigas, pela harmo- nia que estas conseguem em seus lares. Chegam a perguntar qual 0 segredo de viver bem a dois, qual a receita da felicidade conjugal. Nao sabem que, em poder delas mesmas, esta quase semprea chave que abre todas as portas que do para o reino serenissimo de uma perfeita vida em comum. E que a receita de felicidade pode ser, apenas, uma receita... de cozinha, [..] Pode haver uma infinita poesia na familia reunida a volta de ‘uma mesa. E ha sempre essa doce poesia que emana de voce — es- posa, mae e dona de casa. Vocé mesma é poesia, minha amiga! SANGIRARDI, Helena B.A oleria de coxinhar. 19, ed. Sao Paulo: Martins, /d.p. 12. (Fragmento). Temas: harmonia doméstica (paz de espirito, limpeza, ordem, capricho, descanso, felicidade), felicidade familiar (harmonia, viver bem a dois, Felicidade conjugal, perfeita vida em comumn). Termos relacionados aos temas: mulher, dona de casa, casa, lar, ambiente limpo, sadio e agradvel, marid, flhos, mulheres, lares, receita... de cozinha, familia, esposa, mae e dona de casa, Os dois textos apresentam conselhos dirigidos as esposas sobre como alcangar a felicidade na vida familiar. Nessa formacdo discursiva especifica, observamos um encadeamento tematico introduzido pelos conceitos de fel- cidade, harmonia, tranquiidade. Todos esses conceitos correspondem a uma formacao ideolégica que define a felicidade conjugal como decorrente de uma vida em comum em que cabe a mulher a organiza¢ao do contexto familiar, de modo a criar um lar perfeito para seu marido e seus filhos. © DiscuRsO Um sorriso perturbador: a emancipacao feminina Quando Katherine Watson, ums idealsta professo- rade histéria da arte, chega a0 prestigioso Wellesley College, surpreende-se com o perfil de suas alunas Embore estejam em uma universidade, muitas delas acalentam o sonho de se tornarem esposas dedica- des, responséveis por garantira seus maridos uma Vida confortavel, ainda que feita de aparéncias, O conflto entre 05 ideais feminists e libertarios da professora Watson e as expectativas conservadoras de suas alunas torna esse filme um interessante painel representativo do momento em que o perfil da esposa como mulher ideal comecou a Ser QUES-Osomriso de Mono Lisa, de tionado socialmente (anos 1940 e 1950), Mike Newel UA, 2003, Tanto Clarice Lispector, em sua coluna no jomal Correio da Mana, quanto Helena Sangirardi, em seu livro de receitas, manifestam adesio a essa forrmacSo ideol6gica e isso fica evidente nas marcas, em seus textos, de uma mesma formacao discursiva, Ao longo das tiltimas décadas, a participacdo feminina na sociedade mudou bastante. Hoje, 0 ideal de felicidade para uma mulher nao se resume, neces- sariamente, 20 casamento. A realizacdo profissional ea autonomia economica foram importantes conquistas desencadeadas pelo movimento feminista e significaram 0 questionamento do esteredtipo da esposa ideal. ME Leia o texto e responda as questdes de 1 a 4 Sou eu que comeco? Nao sei bem o que dizer sobre mim. Nao me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre criancas, empregadas ¢ liquidacdes, Tenho vontade de cometer harakiri quando me convidam para um cha de fraldas e me sinto esquisita a beca usando um lencinho amarrado no pescoco. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive meddo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vé caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tao feminina quanco as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto corde-rosa, Penso como um homem, mas sinto como mulher Nao me considero vitima de nada, Sou autoritéria, teimosa e um verda- deiro desastre na cozinha, Peca para eu arrumar uma cama e estrague meu dia, Vida doméstica € para os gatos. [..] Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalha- dora, porém traida pela comocao, Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promiscua, doutor Lopes. Séo muitas mulheres numas6,e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo. MEDEIROS, Martha, Divd. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 11. (Fragmento) Discurso e texto 9 PRODUCAO DE TEXTO v 1. Noprimeiro capitulo do romance Diva, de Martha 3. O que quer dizer a personagem quando afirma so Medeiros, a personagem Mercedes conversacom _frer de “hermafroditismo cerebral”? Justifique. © seu analista. Qual é o tema dessa conversa? ™ Por que tal caracteristica ndo é percebida pelos “Sou tantas que mal consigo me distinguir.” A. outros? partir dessa afirmaco podemos identificar 0 4. Ao longo do texto, Mercedes nega uma série de Problema que atormenta a personagem. Qual "valores tradicionaimente associados a imagem ele? de mulher como esposa e mae, caracteristicos = Um “problema” como esse poderia atormentar de uma outra formagao discursiva. Identifique uma mulher que vivesse, por exemplo, na década__o trechos em que isso ocorre. de 1940? Explique. A negacao desses valores su= gere que a formacao discursiva mm Leia. na qual se insere o romance de Martha Medeiros ¢ diferente daquela identificada nas letras Quem me vé caminhando na rua, de salto alto de miisica da década de 1940. € delineador, jura que sou tio feminina quanto as Explique por qué. outras: ninguéin desconfia do meu hermafioditismo cerebral. Discurso e texto: dois conceitos essenciais Quando consideramos os fatores extralinguisticos associados ao contexto de producao de um texto, percebemos a importancia de sua participacao na cons- trucao de sentido, na definicSo de uma formacao ideologica e discursiva Como membros de uma sociedade, tomamos contato com a formacgo discursiva propria do nosso grupo social. Ela se toma a base dos discursos ‘que construimos, mesmo que nao tenhamos consciéncia disso. Por refletic a perspectiva ideolégica de um grupo, o discurso é social. Assim, falamos, por exemplo, no discurso dos oprimidos ou no discurso da classe dominante. on) © termo discurso refere-se a0 uso da lingua em um contexto espectfico, ou Seja, 4 relagéo entre os usos da lingua e os fatores extralinguisticos presentes no momento em que esse uso ocorre, Porisso, 0 dscursoé o espaco da materializacao das formacées ideolégicas, sendo por elas determinado. Nesse sentido, pode ser visto como uma abstracio, porque corresponde & "voz" de um grupo social O texto ¢ 0 espaco de concretizacio do discurso, Trata-se sempre de uma ma- nifestaceo individual, do modo como um sujeito escolhe organizar os elementos de exoresséo de que dispde para veicular 0 discurso do grupo a que pertence: ™ A relacao entre discurso e texto Ha uma relacdo necessaria entre discurso e texto, porque todo texto vir Cula-se ao discurso que Ihe deu origem. © modo como um texto espectfico Manifesta um determinado discurso € 0 que define o seu cardter subjetivo: ele nrasce do olhar especifico de um autor, que toma decisdes particulares sobre como falar sobre determinados temas. A liberdade do autor de um texto, porém, nunca sera total, j& que todos (05 membros de um grupo social expressam, em alguma medida, a formacéo discursiva que reflete a sua ideologia. B10 __cario1 | © DIScuRSO 1, Pesquisa e andlise de dados Ao longo deste capitulo, vocé entrou em contato com diferentes ima- | gens da mulher ideal. Apresentamos, a seguir, algumas miisicas, escritas em diferentes momentos, que constroem imagens de jovem. Sua tarefa seri, em equipe, montar um painelilustrativo das diferentes imagens de jovem, Comecem analisando as mdsicas propostas aqul ise Alegria, alegria Caminhando contra 0 vento Ela pensa em casamento Sem lenco sem documento E eu nunca mais fui a escola No sol de quase dezembro Sem lenco sem documento Euvou Euvou Q 501 se reparte em crimes Eu tomo uma coca-cola Espaconaves, guerrilhas Ela pensa em casamento Em Cardinales bonitas E uma cancao me consola Euvou Euvou Em caras de presidentes Por entre fotos e nomes Em grandes beijos de amor Sem livros e sem fuzil Em dentes pernas bandeiras Sem fome sem telefone Bomba e Brigitte Bardot No coracio do Brasil O sol nas bancas de revista Ela nem sabe até pensei Me enche de alegria e preguica Em cantar na televisio Quem lé tanta noticia? 501 € tio bonito Euvou Euvou Por entre fotos e nomes Sem Ienco sem documento Qs othos cheios de cores, Nada no bolso ou nas maos O peito cheio de amores vies Eu quero seguir vivendo amor Euvou Euvou Por que nao? Por que nao? Por que nao? Por que nao? ‘VELOSO, Caetano. Alegria, alegria, Disponivel em: -, Acesso em: 38 jan. 200%, {© Copyright 1957 by Musiclave Editora Musical Lida, ‘Av Rebougas, 1700 - Sao Paulo - Brasil, Todos os direitos reservados, es Como nossos pais Nao quero Ihe falar, meu grande amor Das coisas que aprendi nos discos Quero Ihe contar como eu vivi e do © que aconteceu comigo Viver é melhor que sonhar Eeu sei que o amor é uma coisa boa Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida [de qualquer pessoa uso @ 14 PRODUCAO DE TEXTO Por isso cuidado, meu bem, hé perigo na esquina Eles venceramn € 0 sinal esta fechado pra nés que somos jovens Para abracar seu irmao e beijar sua menina na rua E que se fez 0 seu braco, 0 seu labio ea sua vor ‘Vocé me pergunta pela minha paixio Digo que estou encantado como uma nova invencao, Eu vou ficar nesta cidade, no vou voltar pro sertio Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estacio Eu sei de tudo na ferida viva do meu coracao ‘Jé faz tempo eu vi vocé na ria cabelo ao vento gente jovem reunida ‘Na parede da memGria essa lembranca é quadro que déi mais Minha dor € perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos Ainda somos os mesmos e vivemos Como nossos pais Nossos {dolos ainda s4o os mesmos ¢ a8 aparéncias nao enganam, nao Vocé diz que depois deles nao apareceu mais ninguém Vocé pode até dizer que estou por fora ou entao que estou inventando Mas € vocé que ama o passado e que nao ve E voce que ama o passado e que nao ve Que o novo sempre vem Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciéncia e juventude Esté em casa guardado por Deus contando 0 vil metal Minha dor € perceber que apesar de termos feito tudo tudo o que fizemos N6s ainda somos os mesmos e vivemos Ainda somos os mesmos ¢ vivemos Como nossos pais BELCHIOR. Como nossos pais. Disponivel em: -chup/ /wiwmphnet-com.br/musicos/belchior/letras/como-nossos. pais htm>, Acesso em: 98 jan. 2007. © Copyright 1976 by Fortaleza Edtora Musical Lda, ‘Aw: Reboucas, 1700- So Paulo - Brasil. Toros os direitos reservados, Geracdo Coca-Cola 1985, ‘Quando nascemos fomos programados ‘Vamos fazer nosso dever de casa A receber 0 que vocés nos empurravam E af entio, voces vao ver Gom 05 enlatatlos dos U.S.A. de nove as seis Suas criangas derrubando reis Fazer comédia no cinema com as suas leis Desdle pequenos nés comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez ‘Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vo Somos 0s filhos da revolugao ‘Somos burgueses sem religiao Somos o futuro da nacio Geracio Coca-Cola Depois de 20 anos na escola Nao ¢ dificil aprender ‘Todas as manhas do seu jogo sujo Nao € assim que tem que ser? m2 carro Somos os fils da revolucéo Somos burgueses sem religiio Somos o futuro da nacio Geracdo Coce-Cola Geracao Coce-Cola Geracao Coce-Cola Geracao Coce-Cola : a et 4 Bo 9S = CN Nos sites abaixo, vocé podera fazer pesquisas sobre letras de ‘mUsicas e também obter informa- (Bes sobre seus compositores eo Contexio em que escreveram: = hupyfletvas.terra.com.bi/ + httpyvagalume.uol.com.br + htipy/musicas.mus.br/letras! ‘s http/wurasbuscaletras.com Lr! ‘= htipyfwwzap-letras.com/ ‘+ htipytwww.webletras.com.bi/ ‘ httpylwwwwlytics.com. br Ve © DISCURSO Escolhemos exemplos que permitem identificar diferencas no perfil de jovem em trés décadas. Sua tarefa, agora, € selecionar misicas que, a partir da década de 1960 até os dias de hoje, ilustrem a mudanca sofrida por esse peril Ap@s selecionarem os textos que participarao do painel, procurem também imagens (fotografias, propagandas, cenas de filmes, etc.) que possam complementar os textos escolhidos. Lembrem-se de que um mesmo discurso pode se manifestar por diferentes meios de expressio (linguagem verbal, cinematogratica, musical, etc.) © resultado da sua pesquisa deverd ser um painel intitulado A imagem do jovem na musica popular brasileira entre os anos 1960 © 2007. 2. Elaboracao = Organizem as informacdes coletadas durante a pesquisa: que décadas estio representadas pelas letras de miisica escolhidas? Vocés conseguiram informagOes sobre como a sociedade via 0 jovem nessas décadas? = No momento de analisar as miisicas, procurem determinar, a partir de informacées presentes no texto, a que classe social pertencem ‘95 jovens nelas apresentados. * A misica estabelece algum projeto de vida associado ao com: portamento dos jovens? Que projeto € esse? Montagem do painel No momento de montar o painel, vocés deverdo seguir os passos abaixo: = Organizar cronologicamente a apresentagao dos textos, para permitir que o leitor do painel possa acampanhar as mudan- as ideolégicas e discursivas ao longo do periodo de tempo considerado. = Identificar cada musica escolhida (titulo, compositor, ano de composicao). ™ Transcrever a letra da musica, destacando os temas e termos co respondentes & formacdo ideolégica por ela representada. ® Fazer um quadro analisando, brevemente, essa formaco ideol6gi- cae explicitando a relacao entre a misica escolhida e a imagem escolhida para complementé-la, quando for 0 caso. Apresentacao do painel No dia combinado para a apresentacdo, 0s varios painéls resultantes do tabalho de cada turma deverao ser expostos, lado a lado, em um local previamente escalhido e divulgado. Representantes dos varios grupos deveréo expor oralmente o resul- tado da pesquisa realizada e também esclarecer as possiveis dividas que surjam por parte dos visitantes da exposicao. Discurso e texto 13 \ ELT ie, A interlocugao e o contexto O que vocé deverd saber ao final deste estudo. 1. O que ¢ interlocugao. ** Que elementos textuais permitem identifica o interlocutor de um texto. + Como se diferencia um interlocutor universal e um interlocutor especifico. * De que modo 0 perfil de interlocutor afeta a estrutura de um texto. 2. Oque é contexto. * Como fatores extralinguisticos contribuem para a construgéo do sentido do texto. Leitura Todos os textos, orais ou escritos, so produzidos levando em consi- deracdo 0 leitor / ouvinte a quem se dirigem. Ao ler o texto transcrito a Segui, observe de que modo essa caracteristica determina a maneira como ele foi elaborado. Do lugar onde a vida é de mentira e dos muitos papéis Amados irmiios do vasto mar, muito teria 0 vosso humilde servo.a vos contar para conhecerdesa verdade sobre a Europa. Para tanto, minha fala precisaria ser tal qual a cachoeira que corre da manha a noite e, mesmo assim, nao seria possivel contar tudo pois a vida do Papalagui assemelhase & vida do mar cujo principio e fim jamais se pode ver com exatidao. A vida do Papalagui tem tantas ondas quanto 0 mar, a grande gua, ¢ pode ser tempestuosa, movimentada, sorriden- te, sonhadora, Tal qual homem algum conseguiria retirar a agua do mar com 0 oco da mao, também no me é possivel trazer-vos o grande mar que é a Europa com a pequenez do meu espirito. Mas ni quero deixar de voscontar, pelomenes, que assim como o mar nao existe sem gua, assim nao pode haver vida na Europa sem a vida de mentira [...] (© lugar da vida de mentiral Nao € facil explicar- vos como € esse lugar que o Branco chama cinema; explicar-vos tao claramente que vos seja fécil com- preender. Em todas as aldeias da Europa, existe este lugar misterioso, mais procurado do que a casa do missionério; que faz sonhar até as criangas e ocupa 9 seu espitito, capiruto 2 0 Papalagi ou ficgao? Capa do liv. Em 1914, 0 escritor alemao Erich Scheurmann (1878-1957) foi para as ilhas Samoa, fugindo da Primeira Guerra Mundial Quando voltou para a Alemanha, publicou O Papalaaui, livro. em que dizia apresentar os coment- Tios de um chefe samoano sobre a Europa. Até hoje ha quem afirme ‘que 5 textos de Tuiavii (0 termo significa chefe) foram criados pelo proprio Scheurmann. © livro fez muito sucesso ao ser lancado e tornou-se uma espécie de “bi- blia” para comunidades alterna- ‘twas da década de 1970, (2 Papatagui:srmo wizada pelos samoanos para designa @ komen Danco, o estrangeiro O cinema é uma cabana maior do que a maior cabana de chefe de Upolu; muito maior até, Escura, mesmo durante o dia, e tio escura que ninguém conhece quem esté perto; tao escura que se fica cego quando se entra e mais, cego ainda quando de novo se sai. Por esta cabana as pessoas arrastam-se a0 longo das paredes, as apalpadelas até vir uma moca com um fogo na mio a fim de levéclos até onde hé lugar. Os Papalaguis ficam sentados uns junto dos outros, na escuridio, sem se enxergarem:; e a sala escura fica cheia de gente, todos calados; cada um sentado numa tibua estreita; ¢ todas as tabuas esto dispostas na direcao cle uma mesma parede, Desta parede, embaixo, digamos assim, de uma garganta profunda, vem um zumbido, um barulho; ¢ assim que os olhos se acostumam a escuridio, vése um Papalagui que, sentado, luta com um bat, batendo nele com os dedos abertos, batendo numas linguetas brancas e pretas, muitas linguetas, que o grande baii vai apresentando; e cada lingueta range alto, com vozes diferentes cada vez que € tocada, de tal forma que produ guinchos sclvagens, desordenados, tal qual uma briga na aldeia. Este barulho todo € para desviar nossos sentidos, para enfraquecé-los,a fim de acreditarmos no que estamos vendo ¢ nao cuvidarmos de que é verdade. Na parede brilha um raio de luz, dando a impressio de uma lua cheia, onde se veem pessoas, pessoas de verdade, que parecem Papalaguis de verdade, vestidos como eles, moyendo-se, andando para ¢4 e para li, correndo, rindo, saltando, tal qual existem em todos os lugares da Europa. E como se fosse a imagem da lua na lagoa, é a lua e niio é; € apenas copia. [..] Mas € certo que estes homens na parede so homens de mentira, ndo sio homens de verdade. Se se pudesse agarré-los, ver-se-ia que sio feitos apenas de luz, que nao é possivel pegar neles. Servem somente para mostrar ao Pa- alagui todos os seus prazeres e pesares, stias tolices e fraquezas. [..] Estas imagens sem vida, que nao respiram, daoao Papalagui muito conten- tamento, Nesta sala escura, ele pode se iludir com uma vida de mentira, sem. sentir vergonha, sem ser visto pelos outros. O pobre fazse de rico, 0 rico fazse de pobre; o enfermo julga-se sadio, o fraco julga-se forte. Na escuridio, cada um vive uma vida de mentira, que jamais viveu, nem viverd na realidade. Entregar-se a esta vida de mentira tornou-se uma verdadeira paixo para © Papalagui. Tao grande, as vezes, que o faz esquecer de sua vida de verdade. E doentia esta paixio porque o homem saudavel nao vive a vida de mentira numa sala escura; vive a vida real, com calor, ao sol claro. SCHEURMANN, Erich, © Papetag comentarios de Tui, chefe da iibo Tiavéa, nos mares do sil. 7. ed. So Paulo Mareo Zero, s/€.p. 7481. (Fragmento. A interiocucio eo contexto 15 F PRODUCAO DE TEXTO : No escurinho do cinematégrafo llustraggo de autor desconhecido ‘que mostra interior decarado de tuna catedral de cinema dofnal do seeulo X0% ‘As primeiras sessbes de cinerna, rmudas até 1929, eramdocumen- tarios e narrativas rudimentares acompanhados por um piano (ou até mesmo por uma orquestra, nas grandes salas) que pontuava as cenas mais emacionantes. 4. O texto apresenta a fala de um chefe samoano, Tuidvil. A quem ele se dirige? ® Localize, no texto, as passagens em que se pode identificar a quem se dirige Tuivi. © Que termos, nessas passagens, marcam a presenca dos owvintes de Tulévii no texto? 2. Tuidvii procura descrever, de modo minucioso, algo que viu na Eu- ropa. O que esté sendo descrito por ele? "= Tuiavii utiiza uma expressao criada por ele para fazer referéncia aquilo que descreve. Que expressao € essa? ' ssa expresséo traduz algum juizo de valor? Por qué? | IB Um mesmo recurso é utilizado por Tuidvii em suas descricées. Leia. [J] minha fala precisaria ser tal qual a cachoeira que corre da ma- | nha noite c, mesmo assim, nao seria possivel contar tudo pois a vida do Papalagui assemelhase vida do mar cujo prinespio e fim jamais se pode ver com exatidao. 3. Que recurso é esse? Transcreva os trechos em que o recurso é empregado. fmm Alem do recurso identificadona questo anterior, umoutro também est muito presente na fala do chefe samoano. Observe o trecho destacado. [..] ndo me € possivel trazer-vos o grande mar que éa Europa (.-] 4. Que recurso ¢ esse? 5. Os dois recursos linguisticos utilizados por Tuidvii séo figuras de lin- guagem. Por que ele recorre com tanta frequéncia a essas figuras, em seu texto? G. Aleitura do texto permite concluir que Tuiavii tem um objetivo caro ao descrever, para seus irmaos samoanos, o “lugar onde a vida ¢ de mentira”. Que objetivo ¢ esse? ® Podemos afirmar que @ opiniao de Tuldvil explcita um conflito de valores. Expiigue. Os leitores dos textos Talvez vocé nao tenha parado para pensar sobre isso, mas todo texto, oral OU escrito, dinige-se a um interlocutor com caractersticas espectficas. © termo interlocutor designa cada um dos participantes de um dilogo. Os interlocutores de um texto, portanto, sao 0s leitores / ouvintes em quem o autor Pensa no momento de elaboré-io. participagao dos leltores nesse “dislogo” & sempre indireta, porque, embora no possam interagir diretamente com o autor, € com base na imagem que faz deles que o autor escreve seu texto. No texto transcrito na abertura deste capitulo, o autor comeca saudando seus "emados irmaos do vasto mar”. Ao fazer isso, identifica os interlocutores 2 quem iré se dirigir. No trecho, Tuidvii apresenta o local de onde Saem os sons do piano como uma garganta profunda, esse momento em diante, explora a imagem da gargants que produz sons (zumbido, barulho, rangidos, vvozes, guinchos), exoandindo as referencas uiizadas para descrever © efeito provocade pela acio de homem sobre © piano. Als, para explcar como os sons s20 produzidos, ele recore 8 uma outa metatora, a da luta, que da lo car auma segunda série de imagens ‘exploradas para melhor descrever © funcionamento do piano (luta com um bad, bate com os dedos, briga na aldeial 0 resultado dessas imagens & ciar para os samoanos algumas referencias do universo Olha 86, Leticia, Esternet ja consertou tudo por aqui. Por tanto J, retribuo 0 seu beijo € explico o titulo: 0 seu poemaacaba com a palavra “sol” ¢ isso me fez ver (lembrar) que vocé é um sol na minha vida outonal. Loira, bronzeada, forte. Nao é papo furado nao. Eu acho isso de verdade, Novidade: estou aqui coma sua peca impressa. Depois da massagem eu vou ler. Pronto: um email inesperado para alegrar sua tarde suada, Se der tudo errado por ai no seu “inbox”, perdoe. Ester mudou meu modelo de netscape mail. Até mais, mulher. Marcelo. ee ere eee, leticia wierzchowski emareelo pies ‘euBtzamo com r, 0 amor nos tempos da internet. Porto Alegre: LRPM, 1999. p. 66, Relato, carta pessoal e-malle dro 51. PRODUCAO DE TEXTO Tete? QE @PResponder W Encaminhar @imprimir @ Exit @ Anterior @Avancar Subject: Re: Ensolarados dias. Date: Wed, 20 Jan 1999 23:44:34 0200 From: “leticia” cleticiaw@netmarket.com.br> To: “Marcelo Pires” Vocé também esté ensolarando a minha vida. Se eu sou o sol, tudo bem, vocé, com esses olhos azulissimos, € 0 meu céu... Sinto saudades suias pra earamba, quis que vocé estivesse bebendo cerve- Ja comigo € jogando conversa fora no bar em que eu estava ainda hha pouco... Sua falta me deixou meio sem assunto, acredite. Meu telefone logo recuperou a razio, entio amanha poderei te ligar sem crises. Tenha uma noite suave e cuide-e... “E tudo mais € a saudade cortando fundo...”, diz 0 Gelso Fonseca aqui do meu lado, € concordo plenamente. Ps: seu emailchegou bem bonitinho, nao se preocupe. E perdoe ‘@ minha peca tao bobinha. Beijos mil, Leticia leticia wierzchowski e¢marcelo pres ‘uBeamo.com.b; 0 amor nos tempos da internet. Porto Alegre: LPM, 1990, p. 67 4. Os textos 3 € 4 s8o reproducdes de mensagens eletrénicas (e-mails). Uma comparagao entre eles e os textos 1 e 2 identificard semelhancas. Quais sao elas? ' Podemos também observar diferencas entre esses dois conjuntos de Marcelo Pires conheceu Leti- textos. Identifique-as. cla Wierzchowski depois de ler 2, Uma diferenca evidente entre as cartas e as mensagens eletronicas é 0 wa O anjo @ 0 resto de nds, a extensdo dos textos. Formule uma hipétese para explicar por que ectinpor des kivou ume (5 e-mails sao bem mais curtos e as cartas, mais longas. elogiando a obra erecebeu outro devolta. Comecou assim uma tro- cade emails que se transformou ‘em namoro e acabou em casa- Escrevo-the ainda sob a impresso encantadora do agradavel ¢ ines ‘mento, no dia 17 de setembro de quecivel domingo que ai passei em sua companhia, 1899. 0 conjunto das mensagens Da minha partida, as 9n20 até a chegada, as 10h45, quase nada hi de US SSeerel ai ET parzig/ OU ‘interessante a relatar. rou um lvo, eu®teamo.com.by, {ue fo! dado como lombranca 205 comvidacis do casamento. Vocé também esti ensolarando a minha vida. Se eu sou o sol, tudo bem, vocé, com esses olhos azulissimos, é 0 meu céu, IB Observe os trechos dos textos 1 e 4, respectivamente. ms2__carmuog f ts NARRACAO E DESCRICAO v 3. Nos trechos, observamos a ocorréncia frequente de pronomes pes- soais. Que funcaio desempenham, nos textos, esses pronomes? Qual a diferenca entre os pronomes destacacios em itdlico e em negrito? ME Releia, Texto 2: [...] recomponho mentalmente todos aqueles lugares por onde andamos, dando velas a imaginacio, que ruma para as paisagens conhecidas em busca da saudade e da recordacio. Atraem-me esses luga- res onde estivemos juntos e que me fazem recordar-lhe mais visualmente uma agradavel associacao de ideias, fugindo a realidade. Texto 4: Sinto saudades suas pra caramba, Que sentimento fez com que Maria Angélica procurasse os lugares onde esteve junto com Emilio? ™ Outra importante diferenca entre as cartas e as mensagens é o grau de formalidade da linguagem utilzada. A comparacéo entre 0s dois trechos cima exemplifica essa diferenca. Por qué? ® Que fatores podem explicé-la?” Carta pessoal e e-mail: definicao e usos Os textos transcritos acima exemplificam dois génetos discursivos: as cartas Pessoais e as mensagens eletrénicas (e-mails) icon Acarta pessoal é um género discussivo em que o autor dotextose dirge aum inter- ‘ocutor especfico, com 0 qual pretende estabelecer uma comunicacao a distance, Amensagem eletrénica ¢ ui género discursive que surgiu com o advento da internet. Caracteriza-se por permitir uma comunicagao escrita muito répida entre interlocutores conectados em rede virtual Postais: breves noticias : E a de quem esta longe he E : Outro género discusivo por eh om pena ec So i encontam dstartes esate, | 1 Ta, Meta = oa ; cem contato € 0 cartao-pos- | * Se, ee eee tal, Ospostaiscostumamasso- | (ET ST) aoe Gia imagens de locals vistados noticias beves sobre quem se encontra em vagam. Também € comum 0 envio de postais com votes de felctaceo em datas especais Carto-postal do ace pessoal das autora Café Au Deux Mago AA finalidade das cartas pessoais (e também dos e-mails pessoais) é manter, Por escrito, uma "conversa" na qual sao relatados e comentados os principais acontecimentos envalvendo os interlocutores durante um determinado espaco de tempo (geralmente, 0 tempo transcortido entre o envio de uma carta ou email e 0 recebimento de uma resposta) fiata, carta pessoal e-malle diéro 53 PRODUCAO DE TEXTO 0 telefonema a U Senhora fala num tlefone de parede (anos 1940), Outro género discursivo oral que se aproxima dos e-mails e cartas pessoais é 0 telefonema pessoal, cuja finalidade & man- ter uma conversa entre dois (ou mais) interlocutores, Em termos de rapidez ne troca de mensagens, o telefonema 6 tao eficiente quanto autro género da internet, 0 chat, no ‘ual se pade canversar nas salas. de bate-papo ou participar de entrevistas em tempo real. Ha ainda programas de comunica- Go imediata, coma o MSN e 0 Google Talk, que permitem aos interlocutores "“conversarem" por escrito, Central do Bras, de Walter Salles. Bras, 1998, 54 canutog A necessidade de contar muitos acontecimentos faz com que as cartas, muitas vezes, sejam | longas. Nelas é também frequente a expresso de senti- mentos pessoais como saudade, alegria, tristeza, etc. A comparacao entre os textos das cartas pessoais e os dos e-mails permite constatara forte relacao existente entre esses dois géneros. Os e-mails pessoais s0 muito semelhantes as do envio e recebiment Re: Bom dial cartas do ponto de vista da sua finalidade. Dada a rapidez ito de e-mails, os textos costumam ser breves. Observe. @responder @Encaminhar @ imprimir @Exduir @Ameror @ Avancar Subject: Date: From: Organization: Tor Mandei um e1 como recebi est mais novidades. noiva, na festa, tem que ter algo novo no corpo (0 vestido, por exerplo), algo velho Re: Bom dial ‘Thu, 27 May 1999 12:09:40 +0000 Marcelo Pires \W/Brasil Publicidade Lida, Leticia cleticiaw@netmarket.com.br> -mail agora mesmo. Mas 1e depois, deixa contar Monica disse que uma Noinicidasua mens gem, 0 autor fazreferen- Caaoutra que acabou de recober e& qual esponde imediatamente (tipoa calcinha) e algo emprestado (uma joia de uma amiga muito querida). Diz que di sorte. E que escrever nome de uma amiga na barra do vestido (por dentro, ‘escondidinho) faza amiga casar. Tem que ficar na moita, que € batata. Mais beijos e mais desejos de sorte, seu futuro marido, No fim da sua men- sagem, © autor faz refe- rencia 4 sua mensagem anteror, a0 retomar 3 quantdade de bajesede- | 5205 de sorte enviads. 10 pode espalhar, mas diz leticia wierzchowski emarcelo pies. ev®tamo,com.br; 0 amor nos tempos da internet. Porto Alegre: L&PM, 1999. p. 84 Atualmente, com o grande acesso & internet por b0a parte da populacdo, © envio e recebimento de e-mails tornou-se uma rotina na vida das pessoas, ‘que cada vez menos escrevem cartas e as enviam pelo correlo. As cartas dos que nao sabem escrever Dora € uma professora aposentada que ganhe @ vida ra estacao ferrovidria Central do Brasil, no Rio de Janeiro, escrevendo cartas para muitos dos analfabetos que por ali passam diariamente. Uma dessas pessoas ¢ Ana, que, acompanhade por seu filho Josué, dita cartas para o marido, ‘ue ficou em Pernambuco. O filme de Walter Salles retrata a cruel situacéo dos muitos brasileros analfabetos, excluidos de uma sociedade letrada, Sg a te NARRACAO E DESCRICAO Depois de assistirem ao filme Central do Brasil, 05 + Qual é 0 grau de exclusao a que estao submetidos alunos deverao organizar um debate no qual sejam —_os analfabetos em uma sociedade letrada? discutidas as sequintes questoes: * De que maneira 0 advento da internet pode agra- * Qual é a funcdo da escrita (e da leitura) na var esse problema, criando milhoes de excluidos Vida das pessoas retratadas no filme? digitais? Ha dados que estimam, hoje, em 600 milhdes os usuarios de correio ele- onico na rede mundial de computadores e que projetam, para 2008, um total de 800 milhoes E claro que 0 acesso & internet € ao correio eletranico esta diretamente relacionado a0 poder aquisitive das pessoas. Em pafses como o Brasil, onde somente 8% da populacio tem um computador em casa, a exclusdo digital corre de modo mais intenso. Entre 05 13,6 milhées de pessoas que acessam a internet em seus domicilios, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), 80% pertencem as classes A ¢ B. ™ Contexto de circulagao As cartas pessoais, como dissemos, tém hoje uma circulacéio bem mais limitada, Ainda assim, a propria definigda do génera determina 0 seu con- texto de circulacéo: so textos enviados especificamente para um (ou mais) interlocutor(es) previamente conhecido(s) pelo autor da carta que, ao escrevé-l, ‘tem 0 cuidado de selecionar 0 seu contetido e de definir sua forma em fungao da imagem que faz dessa(s) pessoa(s). Nesse sentido, so textos pessoais que 1ndo costumam circular em contextos mais amplos. ‘© homem que escreve cartas de amor A principal agéncia de correios de Ho Chi Minh fica perto —_dizem, e 6um poeta. Bem, diz Ngo, “talvez dois ou trés casa- do ro Saigon, na parte mas ranquila da cade, onde os mentes.O amore geal eesval entre os contnentes,com arranha-céus ainda nao furam as nuvens e nenhuma moto- as duas linguas, duas culturas — vocé sabe. Nao € facil”. ‘cicleta cruza as ruas Zaando como um enxame de abelhas. {J umlugeretero—a masbelaagencia de corto em ‘ERS Fane Und con olin dito pitied cara a toda a Asia derspiege/2007/0308/t2662483 hime, Acesso em 8 mar 2007, Duong Van Ngo, um homem forte de77 ans, estaiona sua bicicleta a sombra dos platanos. [.,] Ngo é um mediador entre mundos — um escritor de cartas profissional do tipo que costurnava exstirantigamente, Ele ‘escolhe cada palavra meticulosamente, formula as frases ‘e2utelosamente, burla © estilo da carta. Ele sabe como si0 importantes as palavias, e 0 mal que podem fazer. Ngo no apenas traduz, ee faz uma ponte entre as pessoas, ‘zconselha-as e conforta-as, dscretamente e com pereita atengéo 8 forma. [J ‘As funcionéias do coreio chamam-no de o homer que escieve Certas de amor. Ele js provocou tantos casamentes, : 2 iB a ‘ 5 a ‘Como 0 e-mail pessoal assumiu, em grande escala, o espaco das cartas pessoais, também nao é um género de circulacao geral. Quem envia uma mensagem eletrO- nica escolhe o interlocutor com quem deseja se comunicar. A grande diferenca, no caso dos e-mails, € 0 fato de "circularem” em um universo virtual, o da internet. Relato, carta pessoal, email e dlivio 55 PRODUCAO DE TEXTO Maria Angélica, em sua formatur. B56 carinuog O carater virtual da internet faz com que seja muito facil enviar uma mesma mensagem eletrénica a varias pessoas, se 0 autor assim o desejar. Mas é im- portante lembrar que tanto a carta como o e-mail pessoal constituem géneros discursives de natureza privada, por oposicao a outros géneros de circulacao, piiblica, como a noticia, 0 relat6rio, 0 texto de opiniao, etc., que sao dirigidos @ um publico leitor geralmente amplo. Os leitores de cartas pessoais e e-mails A natureza privada das cartas e das mensagens eletronicas pessoais torna impossivel definir um perfil mais geral para os leitores desses géneros. Esse perfil sempre seré muito especifico e corresponderé a uma pessoa em particular, aquela a quem se dirige o autor do texto. 'ss0 ndo significa, porém, que se possa ignorar, no momento de producéo de cartas e de mensagens eletrOnicas pessoais, a imagem do interlocutor. Justamente por se tratar de alguém conhecido, devemos considerar as carac- teristicas de tal pessoa e, no momento de escrever, utilizé-las como referéncia para a selecao do contetido e do grau de formalidade edequado. ™ Estrutura 0s dois géneros discursivos focalizados nesta secéo apresentam uma es- trutura que contém alguns elementos caracteristicos. AAs cartas pessoais s80 sempre iniciadas por um cabecalho, em que se in- formam o local onde se encontra seu autor e a data em que escreve. A esse cabecalho, segue a identificagio do interlocutor com quem o autor da carta pretende “conversar”. Cumprida essa etapa, inicia-se o texto propriamente dito, Observe os dois exemplos. Santa Tereza, 6 de novembro de 1945. Querida noivinha, Ainda nao faz trés dias que escrevi-lhe ¢ eis-me aqui, novamente, cheio de saudades, para desabafar um pouco 0 tédio que se apodera da gente quando na solidio. Fazenda Saudade, 10/11/1945. Querido ni Parece mentira que tenha recebido uma carta sua tie boa, tio carinhosa. Nao me canso de Ié-la e reléJa, pois é um pouco do seu pensamento que ‘vem até aqui, para suavizar esta saudade tao grande. Cartas do acervo pessoal das autoras. (Fragmento adaptado) Podemos observar, nos exemplos acima, que o grau de intimidade dos autores das cartas com seus interlocutores é grande, e isso faz com que se dirijam um a0 outro afetuosamente (“querida”, “querido"), Uma vez concluido 0 texto da carta, como se trata de uma "conversa" escrita, deve-se incluir uma despedida, com a identificacdo final do autor da carta. Veja, [..] Para voe@, quetida noiva, todos os abracos possiveis do universo e uum beijo de saudade do seu sempre sincero noivo. Até breve Emilio [.-.] Esperando, Emilio, poder dentro em breve abragé-lo, despeco-me beijando-o afetuosamente Maria Angélica Zlata Filipovie (1980- ) nasceu fem Sarajevo e entre os anos de 1991 ¢ 1993 escreveu um didnio sobre 0s horrores que presenciou | durante cuerra da 80snia. Leitora apaixonada, Zlata se denominou 2 “Anne Frank de Sarajevo". Ao contrério da célebre menina judia, via da Sequnda Guerra Mundial, Zata.e sua familia conseguiram so- breuiver & guerra. Em 1993, foram autorizados a dear Sarajevo, Seu diario, orginalmente escrito em se vo Noticias 67 PRODUCAO DE TEXTO . cae “Um pequeno passo para © homem, um grande asso para a humanidade” - ' ! cr de a Os elt, de Philp Kaufman, EUR, 1983, Em 1960, a0 tomar posse como presidente dos Estados Unidos, John Kennedy prometeu: "Dentro de dez anos um americano estar Pisando na Lua". Era a resposta 0 desafio lancada pelos russos em 1957 com o primero satélite artifical, 0 Sputnik, Mas 0 proximo asso na maratona espacial seria dos russos: Yuri Gagarin foio pri= 'meiro homem a chegar ao espaco (1961). Quando viu pela primera vez seu planeta natal, disse a fa- mosa frase: “A Terra é azul”, Esse filme conta a historia dos primeitos sete astronautas esco- Ihidos para voar nas espaconaves americanas, saree v Um minuto depois o astronauta vislumbrava diretamente a super- ficie da Lua. Lentamente, com movimentos extremamente seguros, comecou a descer a escadinha do médulo, pisando sempre com o pé esquerdo. Quando aleancou 0 segundo degrau a televisio comecou a wansmitir diretamente da Lua para a Terra, focalizando perfeitamente © astronauta, J4 sobre o solo Iunar, Armstrong afastou-se do médulo € comecou a executar suas primeiras tarefas, tornando realidade um sonho milenar do homem, Oautor do texto tomou 0 cuidado de oferecer, no primeiro paragra- fo, uma série de informacées que permitissem ao leitor responder a algumas perguntas: 0 qué?, quem?, quando?, como?, por qué?, Identifique, no texto, as respostas para tais perguntas, Agora, compare as informacdes apresentadas no primeiro para- grafo ao tipo de informacao que consta dos pardgrafos seguintes. Podemos afirmar que elas cumprem funcées diferentes. Por qué? Gitagao: atribuicao de autoria Um recurso utilizado com frequéncia em textos jornalisticos 6 a citacao. Por meio de aspas (" ”), que marcam a inicio e o fim da fala de alquém, 0 autor do texto deja claro para o leitor que as informacdes e / ou opinides apresentadas em passagens aspeadas nao sao de sua autoria. Esse recurso € utilizado também em textos narratives e argumentativos, porém com funcao diferente. No caso dos textos expositivos, as citagées cumprem uma funcgo impor: ‘ante: evitar que o jornalista que escreveu uma determinada matéria seje visto como 0 responsavel pela emisséo de determinadas opiniées ou pela efesa de um dado ponto de vista. Coma se espera que as noticias seiam redigidas de modo objetivo e imparcial, o uso das aspas para marcaro inicio © 0 fim da fala de alquém torna-se um mecanismo essencial na separacéo entre aquilo que ¢ texto de autoria (e, portanto, de responsabilidade) do jomalista e o que é a fala de alguém por ele entrevistado (ou de quem ele decide citar) a respeito do fato noticiado, Il As aspas foram utilizadas com frequéncia ao longo do texto. Ob- serve as seguintes passagens: “A porta esta se abrindo”, disse Armstrong as 29h39. Armstrong disse ainda que “a superficie da Lua ¢ fina e pocirenta, como carvéo em pé sob meus pés, Posso ver as pegadas que minhas botas deixam nas finas particulas” “E algo parecido com o deserto no Oeste dos Estados Unidos. Mas é muito bonito aqui fora”, acrescentou Armstrong, Analise 0 uso das aspas nas Passagens acima. Pode se afirmar que, ‘em todos os casos, elas foram utilizadas para atribuir a autoria de uma opiniao ao astronauta Neil Armstrong? Explique. Em alguns momentos, podemos identificar passagens descritivas no texto. A primeira delas aparece jé no primeiro paragrafo. Qual a importancia da descricio em uma noticia como essa? NARRACAO E DESCRICAO. Noticia: definigaéo e usos Jornais, revistas, rédio, televisdo, internet. Por todos os lados, estamos cercados de noticias transmitidas das mais diversas formas. Com 0 avanco das tecnologias de comunicacio, esse género tornou-se parte integrante da vida cotidiana, Anoticia ¢ um texto que apresenta 0 puro registro dos fatos, sem 2 emisséo de ‘piniao por parte de quem aescreve, Sua finalidade € informar de modo objetivo e preciso 2s crcunstincias em que aconteceram fatos de interesse pUblico € ger AA definicgo deixa clara a finalidade da noticia: informar. Porém, nao é qualquer tipo de informaco ou acontecimento que vira noticia. Como 0 ob- Jetivo da noticia, no contexto jornalistico, é o de transmitir informacao a um grande nimero de pessoas, torna-se necessério definir que acontecimentos merecem virar “noticia” O ctitério adotado é o da relevancia. Fatos que afetam aspectos da vide po- ltica, econémica, socal ou cultural de um pafs S80 naturalmente considerados acontecimentos a serem noticiados. Por outro lado, uma ocorréncia familiar, pessoal, particular, embora possa ser relatada a parentes e conhecidos, néo deve virar noticia, porque ndo apresenta relevancia para as pessoas em geral, somente para aquelas dretamente afetadas pelo acontecimento em questao. = Contexto de circulagao Durante séculos, os jornais impressos eram 0 Gnico meio regular de divulgacao de noticias. Com 0 avanco das tecnologias de transmissao de informacéo (radio, televiséo, internet), o contexto de circulacao das noticias, foi radicaimente alterado. Um exemple ilustra bem essa transformacao. Em 11 de setembro de 2001, quando terroristas lancaram avides contra alvos americanos, derrubando as Torres Gémeas, em Nova York, destruindo parte do prédio do Pentagono, em Washington DC, e matando mithares de pessoas, a opinido publica acompanhou, pelas telas de computador etelevisdo, os dramaticos acontecimentos. Portals de noticias, como 0 Terra, 0 UOL, a CNN, a BBC, eram atualizados minuto a minuto para transmitir com maior fidelidade o que acontecia nos Estados Unidos Jornais impressos nao teriam condig6es de levar as noticias @ milhoes de pessoas em todo © mundo medida que os fatos iam acontecendo. Essa constataco nos obriga a concluir algo importante: a depender do meio €em que circulam as noticias, elas assumem configuracdes diferentes. Uma nott- cia redigida para ser postada em um portal da internet provavelmente contars ‘com menos informacées do que a noticia equivalente que sera publicada na edic3o de um jornal no dia sequinte. Isso ocorre porque, com anecessidade de informar os fatos no exato instante em que acontecem, os portais da internet no tém como garantir 0 tempo necessério para a apuracao mais minuciosa dos detalhes do fato noticiado. E comum, inclusive, algumas das noticias veiculadas nesses portais serem atualizadas ao longo do dia, para acréscimo de detalnes e correcao das infor maces iniciais que se mostram inexatas. 0s jornais impressos no enfrentam essas dificuldades, porque dispdemn de mais tempo e podem, assim, trazer informac6es mais completas e bem elaborades. PRODUCAO DE TEXTO Pagina de cinema e DVD do provedor Ter. (eet | Jotnaissensacionalstas: Agora (Sao Paulo) e Mela Hora (Rio de Janeiro), Bm casnios [ETT ganha direito de receber pensao do INSS Os leitores das noticias Como vimos no capitulo 2, 0 perfil dos leitores costuma ser definido pela natureza da publicacao. Jornais, de modo geral, trabalham com um perfil de interlocutor universal, porque sao ditigidos a um publico leitor muito amplo. Seg6es mais gerais, que tratam dos acontecimentos mais importantes no pals no mundo, sdo lidas por adultos e adolescents, homens e mulheres, pessoas de diferentes classes sociais. Por esse motivo, torna-se dificil definir urn perfil de interlocutor muito especifico para os textos que compdem tais secoes. Sedo “Estilo” da evista Cadetno "Metropole" dO Estado de Carta Capital. SFaulo, 'ss0 no significa, porém, que nao haja, no interior dos jornais, secdes vol- tadas para leitores com caracteristicas mais especificas. Os cadernos de esporte @ economia, por exemplo, contarao com leitores interessados particularmente em tals assuntos. Nesse sentido, o perfil dos leitores das noticias sera variavel € correspondera as diferentes secées especializadas de um jornal Também precisamos considerar que ha jornais destinados a um publico com perfil bem especifico. Sao os chamados jornais populares. Nesse caso, a imagem do piiblico-alvo ¢ feita com base em dados estatisticos referentes a renda média dos leitores, Destinados @ pessoas de baixa renda, os jornais populares so publicagées mais baratas que se especializam em noticias sensaconalistas. Tratam de assuntos relacionados 20 cotidiano, explorando o sentimento e a subjetividade nas noticias ue veiculam. Sabem que os seus leitores nao se interessam prioritariamente Por assuntos publicos, por isso se perrritem publicar noticias que apresentam 0 mundo de modo personalizado, singularizando ao maximo os fatos relatados, Em lugar dos acontecimentos mais relevantes para a sociedade, abordam os casos particulares, dramaticos, apresentados em textos “apelativos” Titulo destaque para 0 fato a ser infor: mado pelo texto, A pirémide invertida mostra como as informagoes basicas se Concentram no ico do texto, Lide da noticia: quem ~ Neil Armstrong, © qué — primeiro homem a pisar a Lua quando - as 23h56min de 20 de julio de 1969, © restante da noticia raz outras informacées sobre @ chegade do homer 8 Lua como ~ Neil Armstrong desce do médulo lunar vazio de atmostera, sa no solo da Lua e faz o primero passeio lunar humano, por qué ~ para permit a "con: quista” da Lua pele Terre (pelos seres humans) Embora 0 texta nao explore os desdobramentos da chegada do homem 8 Lua, informa que o 1 ilho e 200 mithses ce pessoas que acompantiaram as imagens estavam fascinadas pelo milagre ‘que testemunharam. ra um mo- mento historico, Ll Homem na Lua L NARRACAO E DESCRICAO = Estrutura Para garantit que os leitores encontrem de modo rapido as princioais informacbes sobre um determinado fato, as noticias tipicas so redigidas de acordo com uma estrutura previamente determinada Desa estrutura faz parte o titulo, que tem a funcéo de chamar a atencao do leitor para 0 que sera informado naquele texto. Abaixo do titulo pode aparecer um olho, enunciado breve que destaca o aspecto principal do que sera noticiado, Apprimeira parte do texto da noticia deve sequir, preferencialmente, a técnica conhecida como “piramide invertida” . A ideia € apresentar as informacdes basicas no inicio do texto, que seré chamado de lide ou lead. A medida que © texto prossegue, o leitor acompanhara a articulacao e 0 desenvolvimento das informac6es apresentadas no lide. CO lide corresponde a primeira frase ou, ern casos especiais, s duas primeiras frases e deve permitir que o leitor possa responder a trés questGes bsicas: 0 qué?, quem?, quando?. Em outras palavras: 0 que aconteceu, com quem aconteceu e quando aconteceu. © corpo da noticia precisa desenvolver as informag6es introduzidas no lide @ responder a duas outras questées: como?, por qua?. Observe. Passeio lunar de Neil Armstrong Oito vezes Armstrong repetiu a lenta e dramatica danca. De costas para a paisagem da noite lunar, com as maos seguras na escada de sua aguia me- talica, procurava com os pés cada degrau da historica descida. Entao veio 0 iiltimo lance: as 23h56min de 20 de julho de 1969, Armstrong estendeu seu pé esquerdo, apalpou cuidadosamente o chio fino € poroso, pressionowo depois com mais forca e s6 entao deixou-se ficar de pé na Lua. O grande € grotesco vulto branco, que horas antes decidiu antecipar o primeiro passeio de um homem na Lua — deveria ser as Sh16min da manha de 21 de julho —emocionou-se: 0 astronauta Armstrong era, a partir daquele instante, Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. ‘Sua mao ainda se apoiou alguns instantes no médulo ja vazio de atmos- fera. Depois, libertou-se totalmente e deu os primeiros passos. Na Terra, 1 bilhao e 200 milhdes de pessoas, reunidas diante dos videos, segundo os céleulos da NASA, ficavam fascinadas pelo duplo milagre da descida e de suas imagens. Na Lua, um homem grande ¢ forte experimentava, naquele instante, a sensacio de pesar como uma crianca: 15 quilos apenas. A Terra conquistava a Lua. Wj, jul. 1969, NOBLAT, Ricardo. artede acer um jomal dio. ‘io Paulo: Contexto, 2008. p. 102. Novica 71 PRODUCAO DE TEXTO a2 cpmos ™ Linguagem A linguagem empregada nas noticias deve obedecer as regras do por- tugués escrito culto e costuma ser definida por frases curtas, com uma estrutura sintatica bésica (sujeito ~ predicado - complemento). Por trés dessa estrutura sintatica mais simples, est o principio de “uma frase-uma idela”, que ajuda a garantir a clareza do texto. Eclaro que isso néo significa abrir mao da qualidade da escrita, nem do estilo do autor, porque so importantes fatores para capturar a atencao do leitor. Observe 0 inicio da noticia da descida do astronauta Neil Armstrong na Lua. Cito vezes Armstrong repetiu a lenta e dramética danga, De costas para paisagem da noite har, com as maos seguras na escada de sua 4guia me- talica, procurava com os pés cada degrau da hist6rica descida. Entao velo 0 liltimo lance: as 23h56min de 20 de julho de 1969, Armstrong estendeu seu PE esquerdo, apalpou cuidadosamente o chao fino e poroso, pressionou-o depois com mais forca e s6 entao deixou-se ficar de pé na Lua © autor do texto manteve-se fiel a0 principio do uso de frases curtas e termos simples, mas isso nao o impediu de utilizar efeitos de estilo. O primeiro € mais interessante deles fol iniciar 0 texto com o niimero de vezes em que 0 astronauta repeti um mesmo gesto, caracterizado metaforicamente como sua “lenta e dramatica danca” Omodulo lunar também foi apresentado por uma metafora: “guia meta- lica”. Em lugar de comecar desse modo, o jornalista paderia ter simplesmente. escrito algo como: Neil Armstrong desceu os oito degraus do médulo lunar. ‘A diferenca entre @ abertura do texto e esta, mais objetiva, é bem grande: 2 primeira delas ajuda o leitor a criar uma imagem mais poética do histérico feito de Neil Armstrong, a segunda ficara limitada a informar o que aconteceu Ro momento em que 0 astronauta americano desceu do médulo lunar. © que pretendemos ilustrar, com essa comparacéo, & que um texto pode ser clato, preciso @ informativo sem que seu autor seja obrigado a abrir m3o. do seu proprio estilo. Uma unica bala na agulha O jornalista Ricardo Noblat, responsével pela reforma editorial do Correio Brasi- lense, faz uma recomendacao importante aos futuros jornalistas Nocés tém s6 uma bala na agulha para capturar a atencio dos leitores: as Primeiras linhas de um texto, Se elas no forem capazes de despertar interesse, chau e béngio, f..] O erro pode estar na excolha dos assuntos. Ou na qualidade dos textos. Ou. nas duas coisas, Osassuntos podem seratraentes. Se oferecides por meio de texion ‘medifocres,ndoserao lidos. Os textos podem ser gramaticalmente corretosecontar ‘uma historia com comeco, meio ¢ fim. Se nao forem instigantes, bye dye leitores NOBLAT, Ricardo. A arts de fazer um jornat dtr Sto Paulo: Contexto, 2003. p.100. (Fragmento) Outro principio a ser considerado no momento de redigir uma noticia diz Fespeito a emisséo de opini6es. Os jornalistas evitam termos que traduzem Parcalidade ou opinigo, porque a finalidade da noticia é, antes de mais nada, informar. Por esse motivo, adjetivos e advérbios devem ser utiizados somente Quando forem indispenséveis para caracterizar um dado fato, jamais para expressar a opiniso do autor do texto. NARRACAO E DESCRICAO Ligcedelelete} 1. Pesquisa e analise de dados As noticias apresentadas neste capitulo resgatam um momento his- ‘6rico para os seres humanos: a conquista do espaco, simbolizada pela descida do astronauta Neil Armstrong na Lua Muitos outros acontecimentos marcaram a face do século XX como uma era de grandes transformagdes ¢ incertezas. Escolhemos alguns deles para que seja montado, em sala de aula, um jornal-mural intitulado O século XX em noticia ™ Alexander Fleming descobre a penicilina (1929) ™ Hitler invade a Pol6nia (12 de setembro de 1939) ® Libertacio do campo de concentragao de Auschwitz (27 de ja- neiro de 1945) ® Desembarque das tropas aliadas na costa da Normandia (6 de junho de 1944) ® Proclamacao do estado de Israel (14 de maio de 1945) Lancamento da primeira bomba atomica (8 de agosto de 1945) ® Assassinato de Mahatma Gandhi (30 de janeiro de 1948) © Gregory Goodwin Pincus desenvalve a pflula anticoncepcional (1953-4) '= Yuri Gagarin é 0 primeiro homem a orbitar a Lua (12 de abril de 1961) ™ Assassinato de Martin Luther King (4 de abril de 1968) ® Festival de rock de Woodstock, nos Estados Unidos (15 a 17 de agosto de 1969) = Nascimento de Louise Brown, 0 primeira bebé concebido por meio da fertlizacao “in-vitro” (25 de julho de 1978) ® Queda do muro de Berlim (9 de novembro de 1989) O presidente da Africa do Sul, Frederik Willen De Klerk, revoga as ahimas lels que sustentavam o sistema segregacionista do apartheid (17 de junho de 1991) = Nascimento da ovelha Dolly, primeiro ser vivo gerado a partir da técnica da clonagem (5 de julho de 1996) cS Como se trata de obter informacbes sobre importantes acontecimentos da historia do século XX, sugerimos que seja consultadoo site da Wikipedia (enciclopédia elet’nica) como ponto de partida para a obtencao de dados sobre 05 fatos a serem noticados. Também pode ser utilizado um mecanisino de busca, como 0 Google, + hitp//pt wikipedia.orgiwik? hitpu/vwnnw.google.com.br/ Notics _73. " PRODUCAo DE TEXTO Escolha um dos acontecimentos identificados e procure obter sobre ele 0 maior ntimero de informacées possivel. ‘Como todos os acontecimentos identificados tém relevancia historica, poderd encontrar muitas informacées a respeito do fato pelo qual vocé se interessou em enciclopédias, sites da intemet e livros de historia. Tam- bém é muito provavel que possa conversar com pessoas mais velhas que tenham testemunhado tal acontecimento e possam oferecer impressoes sobre a sua importancia, De posse das informagGes, sua tarefa serd selecionaras mais relevantes para fazerem parte da noticia que vocé ird redigir. O texto da sua noticia deverd oferecer ao leitor as informagoes basicas sobre o acontecimento escolhido (os dados que compéem 0 lide) e também trazer alguma reflexao sobre a importancia de tal acontecimento para o século XX. Lembre-se de que vocé nao esté escrevendo no momento em que o fato ocorreu, mas, sim, muitos anos depois ¢ pode, por esse motivo, tratar do impacto que esse fato teve para a hist6ria, Trabalhe com o perfil de um interlocutor universal, jd que os aconte- cimentos que dever dar origem as noticias do jornal-mural sao todos de natureza mais geral e, por sua importancia para a hist6ria, provavelmente ‘chamariam a atencao de leitores de perfis diferentes. Dé um titulo a sua noticia que atraia a atencao do leitor. Escolha uma imagem para ilustrar a sua noticia e faca uma legenda que explique a relagio entre imagem e fato noticiado. 2. Elaboracao Lembre-se de que o lide deve aparecer nos primeiros periodos do texto e apresentar, de modo claro, algumas informacées essenciais para o leitor, ™ Garanta que 0 texto da noticia redi trutura da piramide invertida. jda por vocé apresente a es- ™ Se for necessario incluir opinides ou pontos de vista particulares, lembre-se de fazer corretamente o uso das aspas para marcar 0 inicio e o fim da citagao da fala de alguém, ™ Os textos jornalisticos devem ser escritos de acordo com a norma escrita do portugués. Evite, portanto, 0 uso de estruturas tipicas da oralidade. ™ Se for necessario, volte ao capitulo 3 e consulte as informagoes ali apresentadas sobre o perfil do interlocutor universal, 3. Reescrita do texto Releia o texto da sua noticia. Confira as informacbes apresentadase veja se icou claro, no lide, quem fez 0 qué, quando, como e por qué. Verifique também se 0 texto deixa clara a importancia do acontecimento apresen- tado para o século XX. Por fim, lembre-se da recomendacao do jomnalista Ricardo Noblat: “Vocés tém s6 uma bala na agulha para capturar a atencao dos leitores: as primeiras linhas de um texto. Se elas nao forem capazes de despertar interesse, tchau e béncao". £ possivel melhorar 0 inicio da sua noticia, de modo a tornar 0 texto mais atraente para o leitor? Faca isso. Bm caruios O jornalista Edward R. Morrow é um an- cora de TV que, na década de 1950, plena cera do macarthismo nos Estados Unidos, luta para permanecer fiel aos principios do jornalismo e apresentar sempre os dois lados de uma noticia. Isso faz com que denuncie as taticas utilizadas pelo senador Joseph McCarthy em sua cruzada anticomur nista. Inicia-se um grande confronto entre © poderoso senador e Edward Morrow, que determinaré os rumos da recém-implantada TV nos Estados Unidos. * Ao vivo de Bagdé, de Mick Jackson. EUA, 2002. Este filme conta a historia de como uma rede de televisio americana (CNN), dedi ‘cada a apresentacao de noticias 24 horas por dia, se preparou paraa cobertura da guerra ‘no Golfo, em 1990. Esse tipo de coberture ‘nunca havia sido feita por uma emissora de televisd0. Quando foi realizada pela CNN, transformou a guerra em mais um expe. téculo a ser acompanhado pelo piblico. Uma entrevista bombastica concedida Por um ex-executivo da indiistria do tabaco 0 programa jornalistico 60 Minutos, da rede americana CBS, € 0 inicio desta trama que revela o grau de conhecimento dos donos da empresa em que trabalhava sobre a capacidade aditiva da nicotina, Baseado em uma histéria real, 0 filme narra a trajetéria de Jeffrey Wigand, ex- vice-presidente da Brown & Williamson, © do produtor Lowell Bergaman, que o convenceu a apresentar as informacoes que teriam o potencial de destruir a industria do tabaco nos Estados Unidos. = Todos os homens do presidente, de Alan J. Pakula. EUA, 1976, eee Classico do cinema, o filme reconta a ee historia da investigacéo jornalistica do es- c2ndalo de Watergate, que levou arendincia do presidente Nixon, em 1972. A histéria acompanha os passos dos reporteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washing- ton Post, que, sem saberem da gravidade dos fatos, iniciam uma investigacéo sobre @ invasao da sede do partido democrata no prédio Watergate, * httpufboniine:terra.com.br/ Site do Jornal do Brasil, primeiro 6rga0 da imprensa brasileira a desenvolver um portal na internet para transmissao de noticias. + http/foglobo.globo.com/ Portal do arupo Globo de noticias, dentro do qual pode ser encontrada a edicéo digital do jornal 0 Globo. * httpy/www folha.uel.com.br/ Site do jornal Folha de S.Paulo, que se apresenta como “o primeira. jornal em tempo real em lingua Portuguesa”, © httpy/www.estado.com.br! Site com a edicao digital do jornal O Estado de S. Paulo. © httpu/ww.uol.com.br/ Portal de noticias, com links para vérios jornais e revistas. € atua- lizado com frequéncia e, além de apresentar noticias escritas, também conta com a TVUOL, que transmite acontecimentos relevantes da vida politica (a cobertura das CPls do Congreso, por exemplo). © httpu/www.terra.com.bt/ Portal de noticias, com links para varios jomais erevistas, €atualizado com frequéncia e, além de apresen- tar noticias escritas, também conta com a TerraTV, que faz a cobertura de fatos relevantes da vida do pats. Ha também varios links para videos com registro de noticias sobre fatos acontecidos em todas as partes do mundo. © httpywwnw.ig.com.br/ Como 0 UOL e o Terra, trata-se de outro grande portal de noticias, também atualizado com frequén- cia. Na seco "Ultimo segundo", © internauta encontra as noticias mais recentes. Merecem destaque, entre 0s “parceiros" do Ig, 0 The New York Times @ a BBC Brasil, fon- tes seguras de informacées sobre 5 principais acontecimentos do cenério mundial. Notice _75 * Jornalismo popular, de Marcia Franz Amaral, Sao Paula: Con- texto, 2006. Nesta obra, Marcia Amaral trata da importante diferenca entre jornalismo popular e sensacionalismo, Discute o que significa, do ponto de vista da preparacio de um jornal, ter tum perfil preciso do mercado (€ 60 leitor) para o qual um determinado jornal é escrito. Como definir as noticias que podem interessar a um publico da classe C e quais os riscos da popularizacéo: esses so alguns aspectos abordados pela autora = Primeira pagina ~ Folha de S.Paulo, de Carlos Kauifmann Vinicius Mota (orgs.). $30 Paulo: Publifotha, 2006. Reproducao de 223 primeiras paginas do jornal Folha de S.Paulo, que permite uma Viagem pelos acontecimentos mais importantes do Brasil e do mundo, desde 1921 » Aarte de fazer um jornal didrio, de Ricardo Noblat. Sé0 Paulo: Contexto, 2003, ‘Com 35 anos de experiéncia como jornalista, Ricardo Noblat foi convidado para assumir a funcao de diretor de redacéo do Correio Brasiliense. Neste livro, além de contar a histéria da ‘transformagio que promoveu no Correio, Noblat apresenta valiosas sugest6es para jornalis- ‘as iniciantes, Obra de referéncia para quem deseja nao) s6 entender o funclonamento de um jornal diario, mas ‘também aprender importantes conceitos associados & tica jornalistica, (GlID= 2 ee 2 + Jornalismo digital, de JORNALISMO Pollyana Ferrari. Séo Paula: Contexto, 2003. Com a migracao de muitos jornais para a internet, foi preciso criar um novo es- tilo jornalistico, adaptado a0 suporte que surgia. Nesta obra, a autora trata de impor tantes questées para o jorna- lismo digital: como escrever noticias para a internet, como fazer aintegracao de diferentes midias (audio, video, imagens, animacao), © que significa atribuir hiperlinks a um texto. Obra til para quem pretende explorar o género noticia em meio virtual. ae * Manual da redacao; Folha de Ee S.Paulo. Sao Paulo: Publifolha, 2001 Este manual apresenta 0 projeto editorial do jornal Folha de S.Paulo e traz as re- comendagoes que norteiam 0 trabalho de seus jornalistas. Ha um glossario com a definigao de termos jornalisticos, infor- mages sobre a padronizacio @ 0 estilo adotados, além de um anexo gramatical com sugest6es para dirimir as duvidas mais comuns. fen eae = Manual de redacao e estilo, de Eduardo Martins, Sa0 Paulo: OEstado de S. Paulo, 2001 |oestano Des Pau] a © foco de Eduardo Martins, além de esclarecer 0 leitor sobre uma série de duvidas gramaticais frequentes, esta em apresentar orientacoes sobre como escrever um texto de modo claro, simples, sem perder a elegancia e 0 estilo Para ouvir «> * Instinto coletivo, de © Reppa. Rio de Janeiro: Warner, 2001, ‘A musica “Todo camburao tem um pouco de navio negreiro”, do grupo O Rappa, apresenta uma estrutura semelhante ade uma notida. A letra fazo registrode uma cena infelizmente muito frequente em grandes centras Urbanos: um grupo de homens negros conversa em uma lesquina quando passa um camburéo da policia e decide investigé-ios. Os versos fortes do refrao ‘ragam um incémodo paralelo entre o Brasil manchado pela escraviddo ¢ 0 dos dias atuais, em que a cox da pele continua sendo motivo para discriminagéo e violé 76 __carirtos Oque vocé deverd saber ao final deste estudo. = Oque é uma cronica, * Quais sdo as suas caracteristicas estruturais. * Qual a sua finalidade. * Que tipo de acontecimentos dao origem a Leitura + Em que contextos a cr6nica circula e qual © perfil de seus leitores. * Como é a linguagem utilizada na sua ela- boracao. Voc® jé deve ter encontrado, em jornais diérios, textos em que o autor parte de uma experiéncia pessoal, quase sempre a observacéo de um fato cotidiano, a partir do qual elabora uma reflexdo mais geral. Esses textos exemplificam um género discursivo chamado crénica Entre quatro paredes Sai para dar uma volta, outro dia, e notei uma coisa. Fazia um tempo glorioso— melhor impos vel, e com toda probabilidade o tiltimo do género ase ver por estas bandas durante muitos meses gelados —, no entanto quase todos os carros que ‘passavam estavam com 0s vidros fechados. ‘Todos aqueles motoristas tinham ajustado 0 controle de temperatura de seus vefculos herme- ticamente fechados para criar um clima interno idéntico ao que ja existia no mundo exterior, e me ocorreu entao que, no quese refere aar fresco, os ‘americanos perderam de vez a cabeca, ou10 senso de proporeao, ou alguma outra coisa. ‘Ahsim, de vez em quando eles sacm para expe- rimentar a novidade de estar ao ar livre — fazem tum piquenique, digamos, ou passam o dia na praia, ou num parque de diversbes —, mas esses sio acontecimentos excepcionais. De maneira geral, boa parte dos americanos acostumou-se de tal forma a ideia de passar o grosso da vida numa série de ambientes com clima controlado que a possibilidade de uma alternativa nao Ihes passa mais pela cabeca. Por isso fazem suas compras em sheppings fe- chados e vao de carro até esses shoppings com as “Skywalk em Des Moines. Genie 77 janelas do carro fechadas ¢ 0 ar-condicionado ligado, mesmo quando o tempo esta étimo, como nesse dia. Trabalham em escritorios onde no poderiam abrir as janelas mesmo que qui- sessem — nao que alguém fosse querer, claro. Quando saem de férias, em geral viajam numa ‘casa-teboque imensa, que Ihes permite saborear a natureza sem na verdade se expor a ela. Cada ver mais, quando vo a um evento esportivo, 0 jogo € realizado num estidio fechado. Dé uma volta a pé por praticamente qualquer bairro americano, agora no verdo, e nio vera nenhuma crianca andando de bicicleta ou jogando bola, Porque estio todas dentro de casa. Tudo o que vocé vai ouvir é 0 zumbico uniforme dos apare- Thos de ar-condicionado. Gidades do pais inteiro deram ultimamente de construir 0 que chamam de skywalks — pas- sarelas fechadas, e climatizadas, claro —ligando todos 0s prédios do centro. Na minha cidade natal, Des Moines, no estado de Iowa, a primeira “calcadano céu’ foi construida uns 25 anosatrés, entre um hotel ¢ uma loja de departamentos, ¢ Casateboque em estrada do Zion National Park (tah fez tamanho sucesso que logo foram surgindo outras. Hoje ja € possivel andar por quase um quilémetro no centro de Des Moines, em qualquer direcdo, sem nunca botar © Pé li fora, Todas as lojas que ficavam no nivel da rua mudaram-se para 0 primeiro andar, onde agora trafegam os pedestres. Hoje em dia, as tinicas pessoas que se veem nas ruas de Des Moines sio os bébados c os empregados de escrit6rios, que saem para fumar um cigarro. A rua tornowse uma espécie de purgatério, um lugar para onde vocé é expulso, Existem até clubes formados por gente que troca o terno pelo abrigo de sgindstica € passa a hora do almoco fazendo caminhadas ripidas e saudaveis 20 longo de uma wilh com quilometragem marcada nos shywalks Jamais Ihes passaria pela cabeca fazer uma coisa dessas ao ar livre. Chubes semelhantes, integrados por aposentados, podem ser vistos em todos os shoppings do pais. Sao pessoas, compreenda, que marcam encontro nos shoppings nao para fazer compras ¢ sim para fazer seus exercicios didtios Da tiltima vez que estive em Des Moines, encontrei um velho amigo da famflia. Ele estava de abrigo de gindstica ¢ me disse que acabara de sair do Bill Bryson (1951) mudou-se para a Inglaterta em 197. La, além de escrever para jornais como The Times e The indepen. _ “lube do shopping Valley West. Estavamos em abril e0 tempo era espléndido. dent, alcangou 0 sucesso com _Perguntei-Ihe por que 0 clube nao usava um dos muitos belos e enormes 2 publicacao de divertidos los parques da cidade. de viagens. Em 1995, voltou a “No shopping nio tem chuva, nao tem frio, ndo tem morro e nao tem ™orar nos Estados Unidos, de _trombadinha’, ele respondeu sem hesitar. ‘onde continuou a escrever sera ‘Mas nao existe nenhum trombadinha em Des Moines", cu respondi. rnalmente para osjornaisingleses Incapaz de se adaptar a0 modo de vida americano, depois de ter vivido tanto tempo fora, Bryson a familia voltaram @ morar na Inglaterra, onde ele continua a “Exato”, ele concordou sem pestanejar. “E sabe por qué? Porque nao tem ninguém narua para roubar.” Balancou a cabeca enfaticamente, como se eu no tivesse pensado nisso, como de fato no tinha.[...] Enquanto me achava ali parado, um passarinho derrubou sobre o dedio do meu sapato esquerdo o tipo de coisa que vocé em geral no gosta muito que escrever Em 2005, recebeuopre- _U passarinho derrube. Olhei do céu para o sapato e de volta para 0 céu, mio: Aventisnele nance Riso “Muito obrigado”, eu disse, e, creia-me, eu falei de coracdo. divulgacao cientifca com a obra BRYSON, Bil Crnizas de um pats Bom grande. Trad. de Beth Vieira Breve histéria de quase tudo. So Paulo; Companhia das Letras, 2001, (Fragiento) mms __capruiog OO EE a O consumo de energia eo problema ambiental Os Estados Unidos represen- tam, hoje, uma grande ameeca 2 qualidade de vida no planeta Com 5% da populacéo mundial, 0s americanos sao responsiveis por 25% das emissbes de gases causadores do efeitoestuf, Essa relacao desequilibrada tem uma explicacto: 0 altssimo consumo de eneigia elétrica e o grande rnimero de aulomoveis em circue lacdio. Como, nos Estados Unidos, 05 combustiveis fosséis :0 3 principal fonte de eneraia pera © funcionamento de indistrias, cattose elettodomésticos, o nivel de emissio de gases & cada vez ‘meio. A opcao por viver em am- bientes totalmente cimatizados nao afeta somente o bolso dos americanos: interfere no equil- brio do clima da Terra NARRACAO E DESCRICAO Que acontecimento desencadeou o texto de Bill Bryson? = Por que o autor julgou tal acontecimento digno de nota? 2. Transcreva, do inicio do texto, as passagens em que o autor deixa claro estar partindo de uma observacao pessoal, ™ Que elementos desses trechos caracterizam como particular a observa ao feita? 3. No 22 paragrafo, podemos identificar um trecho em que o autor comeca a refletir sobre o significado mais geral que o fato observado por ele pode ter. Identifique essa passagem. * Podemes afirmar que essa passagem recria, para o litor do texto, o inicio de um raciocinio analitico realizado por Bill Bryson. Explique, Em que momento fica evidente que a observacao particular torna-se uma reflexéo mais geral sobre os habitos do povo americano? ® Que elementos dessa passagem denotam a mudanca de perspectiva (de articular para mais geral) observada no texto? mm Releia. Por isso fazem suas compras em shoppings fechados e vio de carro até esses shoppings com as janelas do carro fechadas e o ar-condicionado ligado, mesmo quando o tempo esta étimo, como nesse dia. Trabalham em escrit6rios onde néo poderiam abrir as janelas mesmo que quisessem —niio que alguém fosse querer, claro. Quando saem de férias, em geral viajam numa casa-reboque imensa, que Ihes permite saborear a natureza sern na verdlade se expor a ela. Que relagao de sentido o paragrato acima estabelece com 0 trecho final do 3° paragrafo? Explique. = Em termos formais, que expresso marca 0 estabelecimento dessa re- lagao de sentido? Que tipo de “orientacdo de leitura” essa expresso fornece ao leitor do texto? 6. No 5° paragrafo, Bill Bryson passa a falar dos skywalks. © que so esas estruturas? = De que modo 0 exemplo dos skywalks se relaciona com a questio te- matizada no texto? mH Releia. Arua tornou-se uma espécie de purgatério, um lugar para onde voce é expulso, 7. Por que, no contexto da reflexéo apresentada, Bill Bryson faz essa afirmacao? 8. O texto termina com a retomada da perspectiva particular com que havia comecado. Que fatos séo relatados pelo autor nesse momento? ™ Podemos afirmar que, apesar de Bill Bryson retomar um tom mais pessoal, O texto ndo se desvia da reflexdo central. Por qué? = Como pode ser entendido 0 “Muito obrigado” que o autor dirige a0 passarinho? gy hulu Si sah spe ee lane alee oy, eoica 79 DE TEXTO Acrénicae 0 estilo individual A cronica € um género iscur- sivo que permite a manifestacao de estilos individuais, por ser Um texto inspirado em um olhar subjetivo para acontecimentos cotidianos. No Brasil, houve um ‘crescimento na produgao de crd- nicas.a partir da década de 1950. ‘Autores como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Femando Sa- bino, Rachel de Queiroz, Carlos. Heitor Cony, Otto Lara Resende, alem de promoverem a populer zaco do género, também esta- beleceram seus estilos de modo lato e, com isso, conquistaram leitores figs, so canmuog Cr6nica: definigao e usos Os grandes jornais, de circulagao diria, ¢ as revistas semanais costumam reservar um espaco fixo para a publicagao de crénicas cane A.crénica & um género discursive no qual, a partir da ‘observacao e do relato de fatos cotidianos, 0 autor manifesta sua perspectiva subjetiva, oferecendo uma interpretegao que revla 20 leitor algo que esta por trés das aparéncas ou do € percebida pelo senso comum. Nesse sentido, é finaidade da crnica revelar ay fissuras do real, aquilo que parece invisivel para a maioria das pessoas, ajudando-as 2 interpretar 0 que se passa 8 sua volta, No texto de Bill Bryson, acompanhamos 0 processo de exposicdo de um comportamento caracteristico do povo americano — a opcio por viver em, ambientes climatizados, envoltos por uma falsa “natureza” —, a partir da observacao de um fato aparentemente banal: em um dia de verdo, 0 autor constata que as pessoas dentro dos carros que circulavam pela rua mantinham 05 vidros fechados e 0 ar-condicionado ligado. Esse procedimento ilustra 0 principio desencadeador da cronica: a ob- servagao do real com olhos investigativas, que desejam no s6 “registrar” uma cena (corriqueira ou surpreendente, nao importa), mas sempre ir além do que tal cena ilustra, para buscar seu significado mais geral em relacéo a0 comportamento humano, Como género, a cronica tem ralzes na histéria e na literatura. Durante © perlodo das grandes descobertas, quando as pessoas ainda descobriam territérios misteriosos nos quatro cantos do mundo e se aventuravam nas exploragées maritimas, era comum haver sempre um cronista que acompa- nhava essas expedicoes. Sua funcdo era clara: narrar os acontecimentos de modo cronologicamente organizado. Naquele momento, portanto, fazer uma cronica significava registrar, de modo fie, uma série de fatos ordenados No tempo. A finalidade da cronica, nesse caso, era preservar a meméria dos acontecimentos e, por isso, aproximava-se da historia Até 0 século XIX, era comum encontrar cronicas que apresentavam essa estrutura basica. Nao se tratava mais, é claro, de registrar os acontecimentos de uma expedicao, mas sim os fatos cotidianos. Grandes escritores brasileiros,, Como José de Alencar e Machado de Assis, celebrizaram-se como cronistas de seu tempo. Como os cronistas eram muitas vezes ramancistas ou poetas, © parentesco da crénica com a literatura se estreitou Ags poucos, porém, as crOnicas foram sofrendo alaumas modificacoes significativas. Em lugar, por exemplo, de registrarem varios acontecimentos tipicos de uma sociedade, 0s cronistas passaram a relatar um tnico fato (ou varios fatos que ilustrassem uma tendéncia comum) e, a partir desse relato, a tecer comentarios mais gerais sobre como 0 acontecimento apresentado odia ser interpretado, Quando essa transformacao se consolidou, a crénica assumiu aestruturaea finalidade que ainda hoje apresenta. Escrito para ser publicado em jornais, esse

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