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Trajetória evolutiva
8a edição
1983
CENTRO REDENTOR
Rua Jorge Rudge, 119
Rio de Janeiro, Brasil
Índice
Prefácio da 6ª edição 5
Prefácio da 2ª edição 9
Síntese biográfica 10
Prólogo 16
Introdução 19
1. Matéria e energia 35
2. Matéria viva 45
3. Racionalismo Cristão 52
4. Força e Matéria 60
5. Vibrações 65
7. O pensamento 76
Conclusão 81
Homenagem póstuma 82
Asas partidas 83
O adeus dos colegas da Escola Naval 89
Capitão Aviador Felino Alves de Jesus 91
Ad imortalitatem 92
O exemplo de uma vida 93
A revisão dos nomes das escolas 95
Prefácio da 6ª edição
Othon Ewaldo
Janeiro de 1953.
Síntese biográfica
Como viúva de Felino Alves de Jesus que, apesar de sua partida do mundo físico,
com apenas 31 anos de idade, deixou com a pujança do seu caráter excepcional
exemplos dignificantes para aqueles que tiveram a felicidade de usufruir de sua
convivência, inclusive no meio racionalista, e, ainda, por insistência e sugestão de um
amigo do Racionalismo Cristão e da família Cottas, Professor Edgard Ribeiro Bastos,
senti-me impelida e incentivada para acrescentar algo mais à esta obra, sob feição de
síntese biográfica do seu autor, homem inesquecível pelas atitudes marcantes que
sempre soube assumir, objetivando a narração de fatos que não deveriam permanecer
apenas circunscritos ao âmbito familiar e de amigos mais íntimos, mas sim pela sua
grandeza, serem estendidos ao conhecimento dos leitores e da juventude.
A vida de Felino Alves de Jesus deu motivo para que fosse aprovada a indicação
do seu nome como Patrono de um Centro Cívico e de uma Biblioteca. O Centro Cívico
Felino Alves de Jesus foi criado em 22 de maio de 1950, na Escola José Linhares e a
Biblioteca Felino Alves de Jesus foi criada em 11 de setembro de 1954, na Escola
Arthur Azevedo. A lembrança destas indicações junto à Secretaria de Educação do
antigo Distrito Federal, depois Estado da Guanabara, e hoje Cidade do Rio de Janeiro,
deve-se ao Professor Edgard Ribeiro Bastos que as sugeriu influenciado não somente
pela amizade que dedicava ao homenageado, mas, também, pelo que admirava na sua
vida escolar e profissional.
Recordando inaugurações e cerimônias realizadas, desejo reverenciar a figura do
tão leal e dedicado amigo Orlando José da Cruz (o Othon Ewaldo das crônicas), por
minha mãe carinhosamente tratado “o Amigo da Onça”. Era o orador oficial da família
em todas as cerimônias e melhor do que ninguém se desincumbia daquela missão, pois
aliada à sua cultura e facilidade de expressão, suas palavras exprimiam muito da
admiração que sentia pela figura dos Patronos e do carinho e amizade que nutria pela
família dos homenageados1.
Dizia sempre o amigo Orlando que não desmerecendo a figura dos demais
Patronos de Escolas, Centros Cívicos e Bibliotecas existentes, ninguém melhor do que
Felino para simbolizar um exemplo a ser seguido pelas gerações vindouras.
Era Felino Alves de Jesus filho de Maria Alves de Jesus e Saturnino Antonio de
Jesus, pais humildes, mas honrados, e com algumas carências transcorreu a sua infância.
Morou em ambiente muito simples e alguns de má vizinhança, a ponto de sua mãe
ocupá-lo em atividades na Igreja de Santo Afonso, no bairro do Andaraí (onde chegou a
ser sacristão), a fim de afastá-lo do meio ambiente em que residiam, nas proximidades
do Morro do Arrelia, um dos famosos locais perigosos daquela época. Envidados
esforços, mudou-se a família para Jacarepaguá e aí tudo começou a se modificar. O
menino é matriculado na antiga Escola Bahia, em Jacarepaguá (escola pública de ensino
gratuito) e de tal modo se destacava, que sua professora, a sempre lembrada D. Olimpia
Bitting Borges, passou a tomar interesse por ele, procurando seus pais para que
interrompidos não fossem os estudos do aluno brilhante, que concluído o curso primário
não teria possibilidades de prosseguir estudando.
Naquele tempo, apenas existia um colégio de nível ginasial, mantido pelo governo
e gratuito, o tradicional Colégio Pedro II, com vagas sempre ocupadas por
1
Refiro-me às cerimônias realizadas na Biblioteca Luiz de Mattos, na Escola Itália, e
Centro Cívico Maria Cottas, na Escola Lavínia Escragnolle Dória.
recomendação. Era aprimorado o seu ensino e altamente conceituado o seu Corpo
Docente composto de grandes mestres.
– Quem recomendaria um menino desconhecido e carente de recursos
financeiros?!
D. Olimpia, ciente das dificuldades existentes, empenha-se com um amigo, diretor
de um colégio particular, para conseguir uma matrícula gratuita no curso ginasial.
Todavia, não satisfeita com a orientação que o seu ex-aluno vinha recebendo, resolve
apelar, através de reportagem no jornal “O Globo”, para que melhor fosse olhado o
aluno carente de recursos financeiros e com capacidade intelectual, citando como
exemplo o caso do seu aluno querido, impedido de ter acesso às escolas de nível
ginasial.
Logo se fizeram sentir os resultados daquele alerta! Foi conseguida matrícula no
Colégio Pedro II e Felino recebe aulas dos grandes mestres daquela época.
Cursava ele o 4º ano ginasial, quando sua amiga e ex-professora D. Olimpia o
alerta para a tomada de uma decisão quanto à carreira a seguir. Na situação dele, com
carência de recursos financeiros, deveria ser escolhida uma carreira militar. Felino
escolheu a Marinha. Talvez fosse desnecessário dizer que ele optou pela de mais difícil
acesso, quer pelo exame de habilitação, quer pelo critério de seleção na admissão à
matrícula em sua escola preparatória de oficiais – a famosa Escola Naval (Villegagnon).
É incentivado por D. Olimpia. Apesar de ainda estar no 4º ano ginasial, arrisca,
sem nenhum preparo em curso especializado, o exame de habilitação à Escola Naval,
por causa do limite de idade que seria ultrapassado, caso ele esperasse concluir o curso
ginasial (na época de 5 anos).
Agradável surpresa: é aprovado em 11º lugar! E, depois?!
Surgem os sérios obstáculos do critério de admissão, rigorosíssimo na seleção dos
candidatos, porque para a Escola Naval, naquela época, era selecionada uma espécie de
elite da mocidade que desejava uma carreira militar.
Analisados os antecedentes do aluno classificado em 11º lugar, a Diretoria da
Escola Naval rejeita a admissão por ser filho de um praça da Polícia Militar do antigo
Distrito Federal. Novamente, D. Olimpia se movimenta. Procura seu amigo Almirante
Protógenes Guimarães, na época interventor do Estado do Rio de Janeiro, expõe o
problema do seu pupilo e ameaça com uma reportagem sobre o critério de
discriminação social na Escola Naval. O Almirante Protógenes Guimarães interessa-se
pelo assunto e envida esforços junto à direção da Escola Naval e junto ao Ministério da
Marinha, alertando para o censurável critério que tanto desmerecia a famosa Marinha
Brasileira e o sério problema criado com a exclusão de um aluno classificado dentro do
número de vagas e num dos primeiros lugares, após rigoroso exame de habilitação.
Satisfatoriamente, é resolvido o problema, e a partir daquela época começa a se
modificar o critério de admissão dos alunos aprovados na Escola Naval.
Novo obstáculo: aquisição do enxoval, bastante custoso, dado o número de fardas
e complementos, roupa de cama, calçados etc.
Diante da situação dos pais de Felino, D. Olimpia lembra um ofício endereçado ao
Comando da Policia Militar do antigo Distrito Federal, relatando a notícia alvissareira:
um filho de praça daquela corporação matriculado na Escola Naval! O ofício é enviado
pelo próprio Ministério da Marinha. Recebido o ofício, é imediatamente transcrito na
Ordem do Dia da Corporação e por sugestão do Comandante Aragão o enxoval do
futuro Oficial da Marinha ia ser fornecido pela Policia Militar. Mas, tal foi o regozijo e
tão estimado era o praça Saturnino Antonio de Jesus, que cada praça fez questão de doar
um dia de seu soldo para ajudar na aquisição do enxoval!
Em 23 de abril de 1934, Felino ingressa na Escola Naval e inicia sua carreira
militar. Destaca-se nos estudos, disciplina, trato social e atitudes patrióticas. Em 30 de
dezembro de 1939 sai Guarda-Marinha e classifica-se num dos primeiros lugares. Faz a
viagem de instrução no Navio-Escola Almirante Saldanha e, após, recebe o galão de 2º
Tenente da Marinha.
Decorridos 40 anos, em 1979, numa festividade comemorativa, a figura do colega
Felino é lembrada com carinho e saudade. Seus companheiros de Escola Naval
solicitaram a presença da viúva e filhas às cerimônias comemorativas dos 40 anos de
Oficialato. Hoje são Almirantes, e os da ativa ocupam cargos de evidência e
responsabilidade.
Felino queria ser aviador. Todavia, teria que esperar o posto de 1º Tenente para
ingressar na Aviação Naval.
É criado o Ministério da Aeronáutica, em janeiro de 1941. Felino pede
transferência para a Força Aérea Brasileira (FAB). É matriculado na Escola de
Aeronáutica dos Afonsos em 10 de maio de 1941, tendo como companheiros os
Aspirantes de Villegagnon (Escola Naval) e os Cadetes de Realengo (Escola de Aviação
Militar). É considerado Oficial-aluno. Terminado o Curso de Pilotagem, em 30 de
setembro de 1942, tira o Curso de Pára-quedista, na Escola do Aeroclube de S. Paulo,
onde surgiu o pára-quedismo no Brasil. Ao término do Curso, em 3 de março de 1943,
recebe Menção Honrosa e classifica-se em 1º lugar. Passou a ser o Primeiro Pára-
quedista da FAB e chegou a executar 31 saltos, alguns do tipo retardado.
O Brasil entra na 2ª Guerra Mundial.
Surge o 1º Grupo de Caça e é aberto o voluntariado. Felino inscreve-se como
voluntário para Controlador de Radar. Ocupa uma das 4 vagas existentes e é enviado,
em 30 de março de 1944, para uma Base de Treinamento da Força Aérea Americana, no
Canal do Panamá. Antes de partir, despede-se do Comando da Escola de Aeronáutica
dos Afonsos, e seu Comandante, Brigadeiro Fontenelle, em ofício diz: “Elogio o
Tenente Felino pela correta disciplina militar, dedicação e espírito de sacrifício”.
Em agosto de 1944, em companhia de três colegas ruma para a Itália,
desembarcando em Nápoles. Permanece agregado à Força Aérea Americana, enquanto
aguarda a chegada do 1º Grupo de Caça. Em 7 de outubro de 1944, na Base Aérea
próximo a Tarquínia (Itália) recebe o 1º Grupo de Caça e fica incumbido da ligação
desse Grupo de Caça com a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Diziam seus
colegas que ele era tudo: desde mensageiro, até oficial indicado para tratar de assuntos
ligados com o Estado-Maior das forças em combate. Por ser de grande iniciativa,
merecedor da confiança do Comando do Grupo, só recorria ao Comandante Nero Moura
quando se tratava de problema de extrema gravidade. Apesar das funções em terra, não
deixou de ser aviador. Realizou onze missões de transporte, pilotando o B-25 do Grupo.
Em 2 de maio de 1945, dia em que terminaram as hostilidades na Itália, ele se
desliga do 1º Grupo de Caça recebendo do Comandante Nero Moura o seguinte elogio:
“Por ter de regressar ao Brasil, louvo o 1º Tenente Aviador Felino Alves de Jesus pelos
bons serviços prestados a este comando com tanta espontaneidade e dedicação.
Afastado do vôo por imposição da função que lhe coube, serviu ao Grupo com o mesmo
espírito de sacrifício e patriotismo, trabalhando para a Unidade, em guerra, com
interesse e boa vontade. Inicialmente treinado como controlador de vôo, e neste teatro
de operações não tendo oportunidade para empregar os conhecimentos adquiridos nos
cursos e estágios que realizou no Panamá, Estados Unidos e Itália, destacou-se em
outras funções que lhe foram designadas: coordenador da mala do correio, ligação com
a FEB e chefia da Seção de Armamento do lº Grupo de Caça. Trabalhador incansável,
organizador metódico e oficial disciplinado, o Tenente Felino, pelas suas qualidades e
conhecimentos obtidos em operações de guerra, será sem dúvida uma fonte permanente
de consultas futuras no âmbito da Forca Aérea Brasileira”.
No dia 11 de maio de 1945, Felino volta à Pátria.
Estava havendo no Brasil como que um movimento para o retorno do país à
democracia. Vivia-se a fase da ditadura de Vargas. Liderava um movimento, em prol de
um regime democrata, o inconfundível Brigadeiro Eduardo Gomes. Felino, recém-
chegado dos campos de batalha, procura o Brigadeiro e apresenta-se: “Brigadeiro, vim
de lutar por um mundo melhor, quero ao seu lado lutar por um Brasil melhor”.
A partir desse encontro, começa a participar ativamente da campanha pela
redemocratização do país, sem temer conseqüências. Estava no serviço ativo da Força
Aérea Brasileira. Em serviço, era o militar disciplinado. Fora do serviço era o lutador
incansável, idealista, colaborador dedicado e leal, grande incentivador da Campanha
liderada pelo Brigadeiro Eduardo Gomes que tinha por lema: “O preço da Liberdade é a
eterna Vigilância”.
Era indicado para viagens aéreas com a responsabilidade de conduzir autoridades
civis, militares e eclesiásticas. Apesar de seus superiores hierárquicos conhecerem suas
convicções e ideais espiritualistas, era freqüentemente indicado para conduzir padres e
bispos a Congressos, e numa dessas viagens teve a responsabilidade de conduzir o
Cardeal D. Jaime Câmara que havia solicitado à Diretoria de Rotas Aéreas um piloto
competente para conduzi-lo à sagração de Bispos, no Norte do país. Naquela época, a
aviação brasileira como que engatinhava; suas rotas recém-criadas, falta de
radiocomunicações em alguns campos de pouso; não havia os recursos e a segurança de
hoje. Era uma aventura sobrevoar o rio Tocantins, atravessar o Amazonas, alcançar
Fernando Noronha, no Oceano Atlântico, e aterrar com aparelhos de maior porte em
pequenos campos de pouso. Daí a indicação dos pilotos da FAB para missões de major
responsabilidade. Em todos os lugares onde pousava, Felino fazia amigos, recebia
presentes (pássaros, corcinhas, micos, tartarugas, jabutis) e até uma coleção de arco e
flechas ganhou do cacique de uma tribo, quando pela primeira vez o cacique viu pousar
um avião do Correio Aéreo Nacional, em Xavantina, próximo à tribo. Os padres e
missionários protestantes eram seus admiradores, pela boa vontade com que o piloto
Felino, às vezes até infringindo o regulamento, mas tentando salvar vidas, conduzia
enfermos para as localidades aonde pudessem ser prestados socorros imediatos. Quantas
vidas ajudou a salvar e crianças a nascer! . . . Mas tal era a sua noção de disciplina, que
chegado ao final de viagem, em seus relatórios sempre citava “as indisciplinas"
cometidas.
Resolveu cursar Engenharia. Desejava tirar o Curso de Engenheiro em
Radiocomunicações. Concorre ao exame de seleção à antiga Escola Técnica do
Exército, hoje Instituto Militar de Engenharia (IME) e é aprovado em 1º lugar! Inicia o
curso em março de 1945 e chega até a metade do 2º ano, quando faleceu. A turma a que
pertenceu concluiu o Curso no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e é
cognominada Turma 1951, 1a turma formada por aquele estabelecimento de ensino.
Apesar do pouco tempo de convivência, a figura do colega Felino foi tão marcante que a
rapaziada de então, até hoje, recorda-o pelo seu coleguismo, capacidade intelectual, sua
liderança. Anualmente reúnem-se e relembram, apesar de decorridos 30 anos do
falecimento do colega, passagens e acontecimentos relacionados com eles. Aos que
comparecem às reuniões da Turma 1951 há como que a impressão de que Felino
desapareceu recentemente, tão viva ainda está a lembrança de quem foi para eles um
autêntico líder! Nas homenagens póstumas prestadas por ocasião da Formatura de
Engenheiros do ITA de 1951, foi lembrado, citado, como que o símbolo de união das
Forças Armadas – iniciara sua carreira militar na Marinha, prosseguira na Aeronáutica e
quando de seu falecimento estava agregado à Escola Técnica do Exército. “Para eles foi
o líder a ser seguido” (palavras do orador da Turma 1951, Engenheiro Antonio Carlos
Junqueira de Moraes).
Quando aluno do Colégio Pedro II, Felino auxiliava os camelôs da antiga rua
Larga (hoje rua Marechal Floriano) e com isso adquiria alguns trocados para as
despesas com passagens de bonde e trem. Na Escola Naval, era o aluno-mestre, a quem
os colegas recorriam para elucidar dúvidas. Com enorme satisfação, sempre transmitia
seus conhecimentos aos carentes de melhores esclarecimentos. De nada fazia mistério
ou segredo. O que sabia, transmitia a quem a ele recorria. No período de férias,
arranjava alunos particulares a fim de poder ajudar nas despesas de casa e iniciar sua
biblioteca.
Existe uma passagem interessante: agravando-se o seu estado de saúde, foi-lhe
recomendada uma transfusão de sangue, naquela época feita de doador para receptor.
Terminada a transfusão, enquanto o doador repousava, inicia-se uma conversa entre
eles. O doador comenta que ele fazia lembrar um colega de escola primária, em
Jacarepaguá, muito estudioso, que passava o recreio lendo ou ensinando aos colegas, o
tipo do bom companheiro, que tinha um nome tão engraçado, esquisito e que nunca se
esqueceu do nome dele: Felino!
Veja-se a coincidência: decorridos mais de 20 anos, em 1949, um doador de
sangue, pertencente à Policia Especial (Polícia de elite criada à época da ditadura de
Vargas) ajudando a salvar a vida do colega de escola primária!
Concluído o Curso da Escola Naval, quando já possuía uma remuneração,
resolveu, como que em agradecimento a tudo que havia obtido, ajudar “alguém que
quisesse ser alguém”. Custeou os estudos de um afilhado de seus pais, filho de mãe
viúva enfrentando dificuldades. Matriculou-o num dos melhores colégios do Rio de
Janeiro, e até as despesas com material escolar pagava. Mesmo quando ausente do país,
durante a guerra, nada faltou ao afilhado de seus pais. Encaminhou o rapaz, terminado o
ginásio, para a Escola de Aeronáutica dos Afonsos, não tendo ali concluído o curso, por
motivo de saúde. Depois, já em espírito, Felino deve ter tido a satisfação de ver seu
pupilo formado em Engenharia Civil, na antiga Escola Politécnica, a melhor da época,
do Rio de Janeiro.
Felino era afável, comunicativo, discreto, despido de vaidades, convivia com
humildes, como com grandes personalidades, sabia estar em ambientes simples, como
em ambientes de requinte, apenas se transformava quando envergava sua farda, e em
serviço era rigoroso na disciplina e no cumprimento do dever.
Com estas divagações tive também a intenção de mostrar que vence na vida quem
faz por isso. Apesar das dificuldades e obstáculos “o menino sem recursos financeiros”
estudou. Pelo seu esforço e interesse, recebeu ajuda, teve uma carreira e destacou-se
sempre. Nunca alimentou sentimentos de inveja, recalques ou despeito. Foi sempre
amigo de ajudar e nunca aninhou em seu espírito sentimentos de revolta pelas
adversidades que enfrentou. Dizia ele, recordando o passado, que tudo parecia como
que um sonho e era para ele como que a valorização do que havia alcançado.
Felino nasceu em 9 de maio de 1918. Realizou seu último vôo, comandando um
avião do 2º Grupo de Transporte, em serviço na rota de Fernando Noronha, em 11 de
junho de 1949. Faleceu em 12 de julho de 1949. Apenas 31 anos de vida física. Deixou
exemplos a serem seguidos e que enchem de orgulho aqueles que lhe pertenceram.
Desculpem a falta de modéstia de uma viúva orgulhosa do marido que teve.
Maria Luiza Cottas de Jesus
Prólogo
A origem do homem, sua razão de existir, suas relações com o Universo, são
assuntos que têm preocupado a mente de não poucos estudiosos e investigadores.
Sábios de todos os ramos da Ciência têm exposto suas teorias, algumas vezes
razoáveis, outras vezes absurdas, sobre a matéria inanimada, a matéria viva, o
pensamento, a morte, a destruição ou a imortalidade do indivíduo, o Universo em geral.
Entretanto, fisiologistas, materialistas, espiritualistas, astrônomos etc., não
chegam a um acordo sobre este tão magno assunto – a Ciência da Vida.
Dogmas e preconceitos religiosos, sobretudo, mantêm a mente humana
embrutecida e acorrentada de tal maneira que, acalentada com a doce esperança de um
paraíso eterno, parece ter ela perdido a capacidade de distinguir o plausível do absurdo,
a verdade da mentira, a ciência do misticismo.
Temos de reconhecer que, atualmente, as circunstâncias em que se encontra o
mundo não são mais de molde a permitir uma indefinida escravidão do raciocínio
humano a estes antigos dogmas e preconceitos.
É, entretanto, necessário que aqueles, esclarecidos, que tenham liberto suas
mentes do império do misticismo e do terror ao desconhecido, sejam audaciosos
suficientemente para declará-lo publicamente, a fim de animarem os tímidos e os
covardes a assumirem uma atitude de repúdio aos falsos princípios explanados pelas
seitas e religiões.
Sobretudo, estas últimas, e o baixo espiritismo exercem profundo domínio,
tremenda opressão sobre o raciocínio da criatura, tornando-a medrosa, supersticiosa e
imploradora constante das falsas graças divinas.
A influência é tal que certa seita impede decididamente que seu rebanho tome
conhecimento de qualquer luz esclarecedora sobre o papel do homem neste ínfimo grão
de poeira que é a Terra dentro do espaço universal e infinito.
Revelações não contestadas feitas publicamente nos descrevem os processos
indignos e mesmo imorais utilizados por certas e determinadas criaturas, cuja ação
criminosa e essencialmente política, são prova evidente de um plano seguro de
embrutecimento a perversão da humanidade para um melhor domínio e escravidão.
Inegavelmente os conhecimentos científicos humanos se estão alargando de modo
notável.
Paralelamente com o desenvolvimento da ciência industrial, utilitária, muitos
investigadores já se têm dedicado ao estudo do papel do Homem dentro do majestoso
equilíbrio universal.
O mundo invisível é um tema que indubitavelmente agita, neste século de
profunda inquietude, a mente sequiosa de conhecimentos do curioso habitante do
planeta Terra.
E, à proporção que os conhecimentos se vão desdobrando, à proporção que o
invisível vai sendo vislumbrado com maior amplitude, as concepções espirituais se vão
modificando consideravelmente, permitindo ao raciocínio humano ter uma idéia
suficientemente compreensiva do quadro geral evolutivo universal.
Teorias ousadas explicam a natureza da matéria. O átomo deixou de ser
indivisível e passou a ser estudado como um verdadeiro sistema planetário, contendo
uma extraordinária quantidade de energia,
O éter não é mais considerado como uma simples hipótese. Sua existência é
solicitada insistentemente para justificar determinados fenômenos. – Como explicar a
propagação da luz ou do calor, ou as atrações e repulsões elétricas e magnéticas sem o
suporte éter para as vibrações correspondentes a estes fenômenos?
Gustavo Le Bon adianta mesmo que é, provavelmente, da condensação do éter
efetuada na origem dos tempos por um mecanismo ignorado, que se derivam os átomos,
considerados por vários sábios como núcleos de condensação do éter, que têm a forma
de pequenos torvelinhos animados de uma enorme velocidade de rotação.
Indubitavelmente, diz ele, a grande velocidade de rotação das partículas de éter,
transformadas em torvelinhos, dão à matéria a rigidez e o peso.
Há uma luta contínua entre as teorias apresentadas por cientistas, filósofos ou
simples investigadores, a respeito de força e matéria, ou, melhor, relativas à existência
do Homem e às suas ligações com o Universo em geral.
A quantidade e a heterogeneidade de funções existentes no nosso corpo é
notavelmente grande. E, entretanto, todas estas funções, heterogêneas e complicadas,
engrenam-se surpreendentemente num magnífico equilíbrio fisiológico.
Este extraordinário equilíbrio existente no corpo humano existe igualmente em
todos os outros corpos de todos os reinos da natureza.
Querem os materialistas eliminar a personalidade humana, transformando suas
maravilhosas manifestações inteligentes em exclusiva emanação da matéria.
“Por que é que o sangue, pergunta Raul Pictet em seu Estudo crítico do
materialismo e do espiritualismo, deposita aqui o músculo, ali o osso, mais adiante o
humor vítreo, a unha, a cartilagem, os cabelos, a sinóvia, o conjunto dos tecidos de que
o corpo de todos os animais é constituído?”
Esta pergunta e outras de caráter fisiológico são explicadas por alguns como a
resultante da energia chamada vital, que dirige o crescimento do ser no período
chamado de assimilação, e que aos poucos vai diminuindo de ação, permitindo,
inicialmente, o equilíbrio da assimilação e da desassimilação, e, em seguida, o
predomínio da desassimilação. Qualquer concepção de espírito nestes fenômenos é
afastada por estes fisiologistas, atribuindo eles as manifestações de inteligência, o
pensamento e a vontade, exclusivamente às funções particulares dos aparelhos
orgânicos ou nervosos. Para eles a alma é a resultante das funções cerebrais e quem
pensa é a massa cerebral em seus movimentos moleculares.
Outras teorias consideram o homem diferente dos outros animais, possuindo um
corpo, como estes últimos, porém, também um espírito, eterno e imutável de onde
emanam os atos mentais – inteligência, pensamento, vontade, amor, inveja, egoísmo etc.
Baseados na existência do espírito imortal, muitos imaginam imediatamente um
ser transcendente que lhes dirigirá esta existência eterna: Deus. E se apegam implorativa
e adorativamente a esta entidade, perdendo toda a sua personalidade. Entretanto, de
nada vale implorar se o ser não se coloca de acordo com as leis universais e imutáveis; o
que vale é justamente ter o ser conhecimento destas leis e saber aplicá-las devidamente.
Diz Stuart Mill que “a idéia de Deus e principalmente de uma religião é uma coisa
inútil, porque o homem se acha no mundo abandonado, como todos os outros seres
orgânicos, às violências das leis da natureza, onde não se encontra nenhum atributo de
justiça e bondade para se dizer que o mundo fora criado por um ser dotado destes
atributos”.
As escolas positivistas e naturalistas contemporâneas encerram o pensamento e o
destino do homem no círculo das realidades fenomenais e sustentam que os fenômenos
psíquicos não passam de uma função cerebral, segundo E. Caro, que diz que “vivemos
sob o império matemático de forças fatais e que a idéia que formamos da vida se reduz a
uma série de fenômenos produzidos em um momento preciso, donde amanhã outros
fenômenos nos hão de retirar, verdadeiras aparições acidentais na superfície do tempo e
espaço infinitos. O mundo, pois, não é mais este todo harmonioso em que cada ser – o
mais humilde e o mais sublime – tem a sua natureza determinada, seu destino especial,
em um conjunto de fins previstos e coordenados pelo pensamento criador. Se a
harmonia se produz aqui ou ali, não foi com uma intenção, mas como um resultado.
A moderna concepção exclui a finalidade que presidia a todo o Universo e
regulava cada minúcia, o pensamento supremo que a explicava, e a bondade perfeita
que fazia amá-la. A necessidade reina em lugar da finalidade, uma necessidade
mecânica, segundo uns, dinâmica, segundo outros, mas em todo o caso uma necessidade
sem consciência e sem amor.
Não há senão uma lei e uma força, uma lei que rege as manifestações de uma
força única. Esta força, idêntica a si mesma, debaixo de suas metamorfoses aparentes,
exclui qualquer idéia de começo e de fim; ela não pode ter começado nem cessar de
existir; é tudo o que é ou pelo menos tudo o que nos é indicado sob essa noção de
existência. Conceber que ela tenha podido começar ou que possa acabar, seria conceber
o nada, colocá-la antes ou depois, isto é, conceber uma contradição. As forças físicas,
vitais, sociais, são manifestações diversas dessa força, elas representam, por assim dizer,
os diversos graus de intensidade. A natureza não é mais de que o círculo imenso em que
se agitam eternamente essas diversas manifestações da força, transformando-se umas
em outras. Urna multidão de sistemas se formam e se decompõem, segundo ritmos
determinados. Nisto está todo o segredo do nascimento e da morte. Movimentos que se
integralizam e se desintegralizam, eis a história uniforme, debaixo de aparências
variadas, dos grandes corpos astronômicos, dos organismos vivos e dos organismos
sociais. A história de um corpo vivo é, em ponto reduzido, a do mundo inteiro. A
evolução, o equilíbrio, a dissolução são três fases pelas quais passa toda existência
individual ou coletiva. A astronomia, a geologia, a fisiologia, a história das sociedades
humanas, não representam realmente aos olhos do observador senão combinações dos
mesmos fenômenos elementares variados ao infinito. A vida Universal não passa de
uma sucessão de seres e de formas que exprimem essas combinações de ordem
determinada.
A vida individual não é mais do que um instante nessas variedades infinitas de
movimento, não passando a humanidade de uma coleção desses instantes. A história
inteira da vida coletiva não é mais do que episódios imperceptíveis, perdidos na obra
imensa e eterna da natureza, acidentes sem fim e sem alcance, quantidades
infinitesimais que o pensador pode desprezar na produção universal e infinita. O
incomensurável nos afoga e nos esmaga por todos os lados. De que valeriam aqui os
protestos de uma mesquinha personalidade que não quisesse resolver-se a desaparecer e
que lançasse no vácuo o grito de sua impotência revoltado? Dever-se-ia por isto povoar
a imaginação humana de falsas esperanças, com as quais as velhas religiões e as velhas
filosofias a embriagavam e exaltavam?
Há um meio digno de nos consolar, e que revela a verdadeira imortalidade
representada por nossas obras, nossos trabalhos, nossos pensamentos e pela raça que
procede de nós.
É ainda preciso saber que essa imortalidade é toda relativa e provisória. Não é
mais do que um prolongamento abstrato de nossa existência em um tempo indefinido,
mas certamente limitado, ainda que o limite escape aos nossos olhos e mesmo ao nosso
pensamento. A humanidade morrerá, como cada sociedade a seu turno há de morrer. A
Terra mesma, que os homens habitam, semelhante a um navio que conduz os seus
passageiros, morrerá, não nas forças elementares que a constituem, mas em sua forma e
organismos atuais. O Sol, que é a fonte da vida nesta parte do mundo, se extinguirá. A
morte se estenderá sobre a imensidade sideral, constituindo esta uma espécie de
necrópole gigantesca em que flutuarão confusamente os cadáveres dos mundos e dos
sóis extintos. A própria revolução cósmica terá um fim, pois que ela é um movimento,
mas esse fim não atingirá senão as manifestações efêmeras: só a força é que não se
extinguirá e irá talvez produzir novos universos iguais ou diferentes de tudo o que existe
atualmente.”
“As questões que se agitam no mundo do pensamento e envolvem toda a vida
psíquica do homem, diz o Visconde de Sabóia em sua obra A vida psíquica do homem,
não afetam, como bem disse Max Müller, os interesses da ciência, mas vão diretamente
ao coração, e se devem tornar para todo o homem, aos olhos de quem a verdade, quer
científica, quer religiosa, é sagrada, questões de vida e morte na plena acepção da
palavra, e deixar que a alma constantemente atormentada pelas tremendas lutas e
dificuldades da vida, sorva em doutrinas nefastas o veneno sutil que acaba por destruir
as crenças e todos os frutos da razão, abalando os impulsos generosos do coração,
propondo o desprezo de toda a obrigação e deveres morais, para atender de preferência
aos instintos da animalidade, e não deixar ver no mundo senão uma lei fatal que abre o
campo ao interesse ignóbil, à exploração e satisfação de todas as paixões, é concorrer
para um mal irreparável e faltar à consciência de nossa razão de ser e do dever social.”
* * *
Eis aí a origem deste trabalho, modesto e sincero, em que, aliás, não exibimos a
pretensão de haver formulado qualquer doutrina especial da concepção do mundo e da
vida, mas no qual nos propomos a demonstrar e sustentar que as escolas – materialista,
positivista, transformista, evolucionista, determinista ou fatalista – não dão desses
grandes problemas senão uma solução paradoxal e as mais das vezes falsíssima, apesar
de dizerem que têm o apoio da ciência, cujo nome invocam a cada passo, quando são
certamente muito menos científicas e elevadas em suas conseqüências ou em relação
aos fenômenos psíquicos, à origem e à natureza do homem, ao destino e aos deveres
deste no mundo do que nos mostra a doutrina espiritualista, a partir de Platão, Sócrates,
Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, até Descartes, Kant, Leibniz,
Pascal, Malebranche, M. de Biran, e um sem número de escritores e filósofos modernos,
cujas obras forneceram-nos os elementos fundamentais para este trabalho e para refutar
as doutrinas que vimos expostas nas obras dos mais notáveis e admirados chefes da
escola materialista, a começar por Demócrito, pelos enciclopedistas e por Spinoza, até
Lamarck, Darwin, Haeckel, Herbert Spencer, Stuart Mill, Alex Bain, Mandsley, Wundt,
Luyes, Ribot, Letourneau, Bordeau, Fouillée, Le Dantec, Guyau, Le Bon, Büchner,
Sergi, Mosso, Lombroso e dezenas de outros escritores e biologistas, sem nos
esquecermos de Schopenhauer, Hartmann e Nietzsche, como conspícuos representantes
da grande escola.
Respeitando o gênio e saber imenso de todos estes filósofos, biologistas e grandes
pensadores não deixamos por isto de reconhecer que se eles, dotados de um espírito
superior, foram e são incapazes de se desviar uma só linha da estrada do dever moral,
não quiseram ver a influência que as suas asserções e doutrinas podiam exercer sobre o
ânimo de tantos desequilibrados por uma má educação, sobre os céticos, frívolos, sem
cultura intelectual, além da que lhes é fornecida pela leitura de romancelhos e revistas
pornográficas, dando expansão à ferocidade de seus instintos, a esse egoísmo que não
conhece o amor da pátria, da sociedade e da família e o sacrifício, o heroísmo e a
virtude, e reduzem tudo à aquisição de meios para gozar, e gozar ao infinito, porque as
idéias materialistas, que lhes são incutidas por todos os meios, dão-lhes a segurança de
que não há Deus, não há alma, não há liberdade, não há vontade nem vida de além
túmulo, nem castigo, nem recompensa em outro mundo, e tudo isto por uma forma que
seduz e encanta, mostrando que não há restrição à liberdade moral, e que só existem leis
fatais e mecânicas a que o homem não pode escapar.
* * *
* * *
Embora vários filósofos e escritores tenham, talvez muito tempo antes de Darwin,
tentado demonstrar a doutrina de provirem as espécies superiores de seres orgânicos de
espécies inferiores, não há dúvida de que foi ele quem apresentou, realmente, uma
solução que calou no espírito de muitos sábios a respeito desta matéria.
Em seus livros procurou, com notável originalidade, demonstrar que os seres
orgânicos, sob a ação de várias leis, foram sujeitos, lenta e paulatinamente, desde a sua
fase primordial, e talvez durante milhares e milhares de séculos, a modificações
sucessivas, transformando-se de umas espécies em outras.
O próprio homem passou por todas essas transformações, segundo o que expõe
Darwin no livro Descendência do Homem e a Seleção da Espécie.
“Foi, entretanto, diz o Visconde de Sabóia, única e exclusivamente pelos fatos
resultantes do cruzamento de diferentes espécies animais e do que obtivera com o
enxerto e reprodução de diversas espécies vegetais e do estudo minucioso da vida em
muitas espécies de seres, que Darwin, depois de alcançar mediante uma direção paciente
e admirável inteligência grandes modificações em diversas espécies animais e vegetais,
que eram transmitidas por herança aos produtos seguintes, sempre em contínuo
progresso, e dando geralmente uma variedade mais perfeita, julgou que podia
estabelecer como certo ou ao menos como muito provável o fato que as espécies vivas –
vegetais e animais – descendiam de espécies fósseis, representadas através de gerações
e de épocas geológicas sucessivas por uma diminuta série de organismos originários, e
talvez por um só, bem rudimentário e imperfeito que, sem dúvida, servira de
intermediário entre o reino vegetal e o animal.”
“Ele diz que esse ou esses organismos primitivos, tão simples como a vesícula
germinativa – que é o ponto de desenvolvimento de muitos seres – foram-se sucedendo
em miríades de séculos uns aos outros, transformando-se e dando origem a novas
espécies vivas, até chegarem na escala zoológica ao homem, pelo princípio, segundo
Darwin, de que: natura non facit saltum. As espécies, segundo o célebre naturalista, que
vão aparecendo por meio de lentas e sucessivas modificações e transformações de
espécies precedentes progridem geralmente, mas não universalmente, nem
forçosamente. Algumas até mesmo desaparecem e interrompem a cadeia que as prendia
às espécies anteriores e às posteriores; outras, em virtude de condições especiais, não
desaparecem logo, mas degeneram e ocasionam por fim a extinção do tipo.”
“E assim, continua o Visconde de Sabóia, partindo do germe amorfo, protótipo de
toda a organização, do qual resultaram, nessa sucessão considerável de séculos – de que
a imaginação só pode formar uma idéia abstrata – os seres orgânicos que cobriram a
crosta terrestre, depois de seu resfriamento, Darwin chega à cadeia zoológica na classe
dos vertebrados e faz surgir o homem de um tronco que deu origem ao homem-macaco
ou pitecóide e por outro lado aos antropóides ou macacos catarrinianos sem cauda,
como o orangotango, o gorila, o chimpanzé.
O homem atual é, pois, o resultado de vinte e uma espécies de seres que, de
transformações em transformações, vieram constituir o homem-macaco, de que
procedeu o gênero humano, muito vizinho ou talvez parente muito próximo, segundo
Darwin, Haeckel e outros, dos macacos sem rabo, e assim como estes procedem dos
catarrinianos com cauda – o homem-macaco ou o nosso primeiro antepassado devia ser
dotado de rabo servido por músculos apropriados, ter o corpo coberto de pelos, orelhas
pontiagudas e móveis e pés com artelhos ou dedos que lhe permitiam trepar nas árvores
e ali viver habitualmente, dispondo como arma defensiva de grandes caninos.”
Em sua obra Antropologia e história da criação natural, Haeckel, aceitando e
defendendo a doutrina de Darwin, estabeleceu a teoria do transformismo monístico ou
da unidade da obra da natureza. Referindo-se à gênese do homem chegou à conclusão
de que o estado unicelular, pelo qual este começa a vida individual, permite-lhe afirmar
serem os mais antigos antepassados da humanidade e do reino animal, procedentes de
simples células.
– Entretanto, como surgiram essas células no começo do mundo orgânico?
“Eis-nos, pois, chegados, diz Haeckel, ao protoplasma – origem das moneras.
A questão da origem da vida está toda ligada à da geração espontânea. Nos limites
em que a circunscrevemos, a geração espontânea é uma hipótese necessária, sem a qual
não se poderia conceber o começo da vida sobre a Terra; ela se reduz, então, a saber
como as moneras se formaram à custa dos compostos carbônicos inorgânicos, e como os
corpos vivos apareceram no princípio sobre o nosso planeta até então puramente
mineral. Eles deviam ter-se formado quimicamente à custa de compostos inorgânicos.
Assim devia ter aparecido essa substância complexa, contendo ao mesmo tempo azoto e
carbono e a que damos o nome de protoplasma; ela se acha no mar em enorme
profundidade, e a cada uma de suas partículas amorfas e vivas, damos o nome de
monera.
As moneras primitivas nasceram no mar por geração espontânea, pelo mesmo
modo que os cristais salinos se formam nas águas-mãe. É uma hipótese exigida pela
necessidade de casualidade inerente à razão humana. Com efeito, toda a história
inorgânica da Terra é regida por leis mecânicas, e o mesmo se dá com a história
orgânica. A teoria da geração espontânea não pode ser experimentalmente refutada. Em
verdade, cada experiência negativa demonstra somente que nas condições sempre muito
artificiais em que essas experiências se realizam, nenhum organismo poderá surgir de
substâncias inorgânicas. Mas também é muito difícil provar a geração espontânea por
experiências. Para quem não admite conosco a geração espontânea das moneras para
explicar a origem da vida, não há outra alternativa senão o milagre.”
A teoria evolucionista de Spencer admite a hipótese de que o mundo se constituiu
por uma matéria homogênea dotada de movimento, movimento esse realizado no
sentido da menor resistência. Toda vez que o referido movimento da matéria
homogênea, de acordo com Spencer, encontrou qualquer resistência, diminuindo de
intensidade, a matéria passou de um estado mais difuso a um estado mais concreto,
formando agregados múltiplos e heterogêneos ainda confusos. Em virtude desses
agregados múltiplos, sobre os quais atuou a lei de segregação de acordo com as
afinidades químicas, se agruparam e formaram seres definidos e distintos. É, pois, uma
explicação da causa das variedades de raça e de espécie.
A doutrina transformista, se, por um lado, conta com grande número de adeptos,
por outro lado, paralelamente, é combatida por uma série de estudiosos notáveis que
apresentam várias objeções às suas afirmativas.
* * *
2
A. Mayer
condições próprias, é tão completamente incompreensível que seria afrontar o senso
comum demorarmo-nos mais tempo sobre o assunto.”
Referindo-se à forma da matéria, Büchner afirma que ela é o resultado necessário
de ações e reações materiais conforme o demonstra o desenvolvimento gradual do
mundo orgânico; que com o tempo, pelo concurso duma série por assim dizer infinita de
anos, essas formas orgânicas puderam chegar a esse grau de perfeição, com as
inumeráveis variedades que hoje nos apresentam; que, dessa forma, todas as diferenças
imagináveis aparecem como o resultado de transições e duma transformação incessante
da forma e dos modos da existência, em relação com a diferença das influências
interiores ou exteriores no meio das quais os seres viveram ou foram forçados a viver;
que foi somente passando por metamorfoses sem número que os animais e os vegetais,
saídos de tão humildes e tão imperfeitos princípios, puderam chegar a essa riqueza
exuberante de formas que os caracteriza hoje.
“Essa teoria, continua Büchner, encontra ainda uma prova mais evidente neste
fato em foco pelas ciências biológicas modernas, a saber: que o mundo orgânico por
completo, desde os seres mais inferiores aos mais elevados, desde os mais simples até
os mais complicados, reduz-se, em última análise a um elemento morfológico
extremamente simples e aos seus derivados, isto é, a célula, e que esse elemento
composto dum invólucro, dum conteúdo e dum núcleo, deriva por si próprio de uma
combinação ainda muito mais simples e primordial, o protoplasma ou matéria plásmica.
Este protoplasma, base ou substância da vida, cujas notáveis propriedades vitais se
manifestam como o resultado das propriedades químicas e físicas do carbono que ele
encerra e das suas combinações, apresenta-se unicamente sob a forma de pequenas
massas albuminóides meio coaguladas, homogêneas, susceptíveis de nutrição e de
proliferação, e nas quais todas as funções em vez de aparecerem como propriedades de
certos órgãos, como se vê nos animais superiores, derivam imediatamente da matéria
orgânica amorfa. Essas pequenas massas encontram-se no limite exato entre os corpos
organizados e as substâncias inorgânicas, e assim se vê como, pelo fato de influências e
de circunstâncias de que mais adiante se falara, as formas orgânicas desenvolvem-se
pouco a pouco de combinações mais ou menos amorfas da matéria.”
Segundo Büchner, o cérebro é a sede e o órgão dos pensamentos, estando o seu
volume, a sua forma, o seu desenvolvimento, a sua estrutura, a sua conformação ou a de
suas diversas partes em uma relação estreita com a extensão e a forma das faculdades
psíquicas ou intelectuais de que é a origem. Ele procura demonstrar, pela anatomia
comparada, que o volume e as outras particularidades anatômicas do cérebro se
desenvolvem duma forma determinada, gradualmente ascensional, através de toda a
série animal, até ao mais elevado de todos os seres – o homem. Este, com algumas
exceções, possui, tanto sob o ponto de vista absoluto como relativo, o cérebro mais
volumoso em todo o reino animal, o que explica suas maiores faculdades intelectuais.
“Se o encéfalo de alguns dos maiores animais existentes 3, tais como a baleia, o
elefante, as grandes espécies de delfins, excede o do homem sob o ponto de vista da
massa, essa aparente exceção provém unicamente do desenvolvimento mais
considerável das partes deste órgão que presidem não a inteligência, mas as funções do
sistema nervoso geral, consideradas sob a relação do movimento e da sensibilidade, a
que, em razão do número e do diâmetro mais consideráveis dos cordões nervosos que
recebem, apresentam necessariamente um maior volume; – pelo contrário, as partes do
cérebro que presidem as funções intelectuais não apresentam em nenhum animal um
3
Força e Matéria - Luiz Büchner.
volume tão considerável, uma conformação e uma estrutura tão complicadas como no
homem.
Chega-se a um resultado muito diferente, se se considerar o peso relativo do
cérebro, isto é, a relação desse peso com o do corpo. Aqui ainda, a parte algumas
exceções insignificantes, o homem leva vantagem a todo o resto do reino animal, numa
proporção enorme, pois que o cérebro humano varia entre a qüinquagésima e a
trigésima quinta parte do peso do corpo, enquanto que no delfim o cérebro não
representa senão a centésima, no elefante as cinco centésimas, na baleia as três
milésimas partes do corpo desses animais. Avaliando essa relação pelo cálculo, verifica-
se (segundo Leuret) – sendo representado o peso total por 10.000 que o do cérebro é
representado nos peixes por 1,8, nos répteis por 7,8, nos pássaros por 42,2, nos
mamíferos por 53,8 e no homem por 277,8.
“Não é somente a quantidade4, é também a qualidade do tecido nervoso e a
intensidade correspondente da força e da atividade recíproca de cada elemento, que
determinam o nível das faculdades intelectuais.”
O pensamento, à luz da doutrina materialista, nada mais é que uma segregação
funcional do cérebro.
Diz Carl Vogt que há a mesma relação entre o pensamento e o cérebro que entre a
bílis e o fígado e que entre a urina e os rins”.
E, segundo o filósofo francês Cabanis, “é preciso considerar o cérebro como um
órgão particular destinado especialmente a produzir o pensamento, da mesma maneira
que o estômago e os intestinos a operar a digestão, o fígado a filtrar a bílis etc.”.
Entretanto, a doutrina materialista não especifica claramente o que é força e o que
é matéria. O próprio Büchner diz que “nós não sabemos hoje, como não sabíamos antes,
o que é a matéria em si e a força em si, nem temos necessidade de saber, pois que a sua
separação em duas entidades distintas não se pode efetuar senão pelo pensamento e
nunca em realidade... São sinais que servem para caracterizar dois aspectos ou duas
manifestações de um só e mesmo ser, constituindo a força, segundo Lewes, o aspecto
dinâmico da matéria, e a matéria o aspecto estático da força”.
Um dos grandes argumentos dos materialistas é que a matéria é indestrutível,
imortal e eterna, como a química o tem demonstrado: em todas as combinações, em
todas as composições e decomposições, enquanto que o que foi criado com a matéria
morre e desaparece. Concluem, conseqüentemente, que, em virtude do movimento
incessante da matéria, em suas contínuas transformações, não teve ela princípio nem
terá fim, visto que nada pode vir do nada e nada do que existe pode ser destruído.
De acordo com as conclusões científicas há uma tendência geral das forças para o
repouso relativo ou aparente. Assim sendo, a matéria tende para o repouso absoluto em
uma época imprevisível. Entretanto, quem transmitiu à matéria inerte o movimento
inicial?
O Visconde de Sabóia, em seu livro A vida psíquica do homem, faz um belo
estudo destas questões. Aconselho, aos que conseguirem obter esta obra, a sua leitura e
exame cuidadosos.
A nossa finalidade, ao expormos em linhas rápidas e gerais, diversas das várias
teorias existentes sobre força, matéria, origem e fim dos seres orgânicos etc., não é
propriamente combatê-las, refutá-las, mesmo porque isto exigiria um longo e
documentado volume.
4
Traité de Psychologie - Valentin.
Temos por único fito, ao passar por alto por estes pontos, mostrar a confusão em
que se debatem os estudiosos destas questões, e as profundas divergências entre vários
deles.
Na realidade não procuraremos demonstrar qualquer teoria. Limitar-nos-emos a
expor aquilo que estamos convictos ser a verdade. Tentaremos explicar ao leitor sua
composição astral e física e como utilizar a considerável força de que dispõe: o
pensamento.
O pensamento não é, para nós, uma segregação do cérebro da mesma maneira que
a urina é uma segregação dos rins, embora muitos estudiosos notáveis e conceituados
assim o afirmem.
Diz, por exemplo Charles Richet, em seu livro Humanidade impotente: “Nossa
máquina pensante não é mais do que um pequeno amontoado de células microscópicas
(micróbios de uma espécie particular) sedentas de oxigênio e absorvendo esse oxigênio
do sangue que as irriga. Encerradas em uma sólida caixa craniana, as células são unidas
umas às outras apenas por um filamento de conexões de milésimos de milímetro. Frágil,
muito frágil construção. É milagroso que esses débeis corpúsculos possam efetuar, bem
ou mal, suas múltiplas e delicadas operações durante trinta milhões de minutos – tal é
mais ou menos a duração da vida humana – sem rápido desgaste.
– Que? Esse mesquinho aparelho compreenderá o imenso Cosmos do qual não é
mais do que um imperceptível fragmento? – Que? Essas pequenas granulações
poderiam penetrar um só dos mistérios que vibram em redor deles? Desvendar o imenso
trabalho das leis que governam o mundo, esclarecer as enormes e complicadas
regulações que se prolongam no tempo e no espaço? ”
Querendo demonstrar depender continuadamente a alma do corpo, escreve
Richet: “De fato a alma está em estreita dependência do corpo. A ele esta sujeita dia e
noite a despeito de todas as belas frases que se compraz em pronunciar sobre o seu
domínio.
Basta ficar meio minuto será respirar para compreender até que ponto essa alma,
que é tão orgulhosa, está a mercê do oxigênio. São precisos a essa pobre alma, que tem
sede de conhecimentos infinitos, vinte litros de ar por minuto. Somente a um tal preço
pode lançar-se no espaço e conceber grandes coisas. Toda a nossa capacidade moral
depende da quantidade de oxigênio que circula nos nossos pulmões. Evidência
fragorosa, triste e banal ao mesmo tempo.
O servilismo às condições físico-químicos da vida é inexorável. Pertence ao
coração como a respiração”. Se o coração cessa de bater, bate mal, muito depressa ou
muito lentamente, desaparecem: pensamento, vontade, inteligência, tudo. Mesmo
quando os pulmões respiram um bom ar carregado de oxigênio, mesmo quando o
coração bate regularmente e descarrega um sangue normal no cérebro e nos tecidos, o
pensamento está, ainda, sujeito às condições fisiológicas mais humilhantes.
Que nossa digestão seja laboriosa porque tenhamos comido uma avantajada fatia
de empadão ou algumas batatas mal cozidas, então nossa vontade se torna subitamente
vacilante, nosso caráter rabugento. Acabam-se as idéias, acabam-se os sorrisos. Todas
as coisas se revestem de um aspecto sombrio. Nossa atenção evolou-se e não nos resta
no espírito mais do que uma agitação infecunda. O sono apodera-se de nós, as pálpebras
fecham-se, a vista turva-se, as idéias tornam-se confusas.
Que um mesquinho micróbio verta no sangue alguns centésimos de miligrama do
seu veneno e subitamente, com a febre, toda a energia intelectual desaparece.
Sobre um navio que joga, por pouco que seja, o enjôo paralisa toda a ideologia.
Uma nevralgia dentária, provocada pela imperceptível lesão do esmalte, perturba
grandemente a pobre alma e ela não se pode acalmar senão quando a nevralgia consente
em ir embora.”
Da mesma maneira que Charles Richet, outros estudiosos de prestígio negam,
convictamente alguns, com má-fé outros e, ainda outros ironicamente, a existência do
espírito, simplesmente porque suas manifestações externas se modificam quando o
funcionamento de qualquer órgão é abalado momentaneamente, rompendo o equilíbrio
normal fisiológico.
Entretanto, se o corpo humano é o instrumento de que se serve o espírito para dar
existência material às suas manifestações, claro está que qualquer alteração no
funcionamento deste corpo deturpará, conseqüentemente, suas relações harmônicas com
o espírito. Um pintor não poderá obter telas perfeitas se trabalha com pincel defeituoso;
uma máquina defeituosa não poderá produzir materiais perfeitos mesmo que o operário
que a dirige seja competente e cuidadoso.
E, no entanto, a inteligência é relegada completamente para o plano das
segregações materiais.
São ainda de Richet as afirmativas de que “a inventiva, a facilidade de palavra, a
facilidade de estilo, a aptidão para fazer multiplicações ou versos, para resolver
problemas matemáticos, para compor músicas, a forma da escrita, são tão involuntárias
quanto a memória. A vontade não tem a mínima ação sobre a inteligência. E assim
como nada podemos modificar na disposição dos órgãos de nosso corpo, nada podemos
modificar nas nossas capacidades intelectuais. Assim, por uma terrível complicação de
incapacidade, não só a alma nada pode contra o corpo, mas torna também as atitudes e
as aptidões que o corpo lhe quiser dar.
Todo esse servilismo da alma se resume em uma pequena frase que, como um
dobre fúnebre, soa a cada passo que fazemos no tempo, sem remissão e sem repouso: a
alma envelhece ao mesmo tempo que o corpo.
E essa velhice se manifesta pela transformação da inteligência. Pouco importa, se
é para tal ou qual personagem, aos cinqüenta, sessenta ou oitenta anos que a senilidade
se torna grave. Pouco importa! Ela cresce, progride, triunfa. O ancião não se pode mais
iniciar nas coisas novas; repete as mesmas histórias; perde todo o interesse nos
acontecimentos que o envolvem; sua sensibilidade se atrofia para as coisas morais como
para as cores e para os sons. Tem o espírito de sua idade e embora advertido pelos
exemplos que teve quando jovem, sob os olhos, nada pode alterar nessa fatalidade
inexorável que o arrasta no seu fluxo. Curva-se a cada ano, a cada dia, a cada minuto.
Assiste, sem querer compreender, a essa decadência crescente. Nada corrige, nada
melhora, pois a própria vontade se enfraquece, como a memória, como a vista, como os
ouvidos. Então sobrevive a si mesmo. Por felicidade, quase sempre está bastante
degradado para não se dar conta de sua degradação.”
E com a disseminação de teorias de tal ordem, vai o espírito humano se
embrutecendo, se perturbando, se obsedando, perdendo a noção do caminho exato a
seguir para promover sua evolução contínua aos planos astrais superiores.
Após esta introdução, em que foram apresentados mui resumidamente algumas
das idéias e teorias em vigor, passaremos ao assunto real desta obra despretensiosa, cuja
única finalidade é tentar arrancar o homem do fanatismo religioso e científico em que
vive, de sua tendência excessivamente adoratória aos falsos ídolos sectários, de seu
misticismo, de seu terror, enfim, ao desconhecido.
Liberto o homem de tudo isto, compreenderá claramente que só ele próprio é o
verdadeiro construtor de sua felicidade terrena e de seu progresso espiritual, e que de
nada vale implorar adorativamente auxílio aos fictícios deuses.
Aprenderá, sobretudo, a viver em ressonância com as leis naturais e imutáveis que
regem o Universo.
Não é, em absoluto, de nosso escopo, neste trabalho, atacar a quem quer que seja.
Respeitamos a opinião alheia embora desejemos que ela seja baseada no
raciocínio e na compreensão clara das coisas.
Cada um, de acordo com seu livre-arbítrio e raciocínio, que siga pela estrada que
julgue certa e condutora à Verdade.
Desejamos apenas indicar ao leitor um caminho seguro para chegar, de fato, ao
conhecimento de si próprio.
Este trabalho é um incentivo, um convite, ao estudo do Racionalismo Cristão.
Portanto, concluímos que, para que possa circular corrente por um material, é
necessário que a diferença de potencial entre as extremidades, isto é, o excesso de
elétrons de uma extremidade em relação à outra, seja de valor tal que vença a resistência
oferecida pelos átomos ao longo do qual deve ser estabelecida a corrente.
As diversas substâncias existentes oferecem diferentes resistências à passagem da
corrente, de acordo com a constituição atômica de cada uma. Os metais, geralmente,
oferecem pequena resistência à passagem da corrente, e são, por isso, denominados
bons condutores. O melhor condutor conhecido é a prata. Há substâncias que oferecem
tal resistência à passagem da corrente, isto é, deixam passar uma quantidade de corrente
tão desprezível, que são denominadas isolantes. O vidro e a borracha, por exemplo, são
substâncias isolantes.
Em princípio, podemos afirmar, porém, que todas as substâncias permitem a
passagem de alguma corrente, desde que a diferença de potencial seja suficientemente
alta para isto.
Uma coisa nos chama imediatamente a atenção. Se colocarmos em série átomos
de substâncias diferentes e forçarmos a passagem de elétrons por uma extremidade,
acontecerá o mesmo fenômeno explicado: os elétrons de um átomo passarão para o
átomo vizinho simultaneamente com a entrada de elétrons no átomo da extremidade.
Portanto, concluímos imediatamente que o elétron de uma determinada matéria é
semelhante ao elétron de qualquer outra matéria, o mesmo acontecendo com o próton.
E, então, podemos dizer que todas as substâncias têm a mesma origem - prótons e
elétrons - variando as propriedades de cada matéria com sua estrutura molecular e
atômica.
A Figura 8 nos mostra a estrutura eletrônica dos átomos de hidrogênio, hélio,
oxigênio e magnésio, cujos números atômicos são, respectivamente, 1, 2, 8 e 12.
Praticamente se observa diferença de efeitos com a emissão de elétrons de átomos
semelhantes.
A emissão de elétrons, obtida pelos raios catódicos, pelo calor ou pela luz, por
exemplo, é feita com relativa facilidade e sem que sejam produzidas mudanças químicas
nos átomos em que se efetue a emissão. Daí se conclui que os elétrons, nestas emissões,
saem da parte externa do átomo e não do núcleo.
Entretanto, observa-se, também, uma outra espécie de emissão de elétrons,
completamente espontânea, sem que possa ser regulada por meios artificiais. É o caso
das emissões dos corpos radioativos. Nessas emissões há sempre uma modificação
química nos átomos, pois, os elétrons, uma vez emitidos, já não voltam mais aos
átomos. Daí se conclui que estes elétrons pertencem ao núcleo do átomo.
Cada próton pesa cerca de 1.840 vezes mais que o elétron, de modo que o peso
atômico é fornecido quase que exclusivamente pelo núcleo, onde ficam localizados
todos os prótons.
Os cientistas comparam os átomos a diminutos sistemas planetários em que o
núcleo é o centro de atração e os elétrons giratórios fazem o papel dos planetas.
Ultimamente se admite que as partículas elementares dos átomos não são apenas
as duas estudadas: prótons e elétrons. Admite-se que são quatro: nêutrons, de massa 1 e
carga elétrica 0; pósitons, de massa 0,0015 e carga elétrica + 1 ; négatons, de massa
0,0015 e carga elétrica -1; e mésotons, também denominados elétrons pesados, cuja
massa é 200 em relação ao elétron. 5
5
Esta obra foi escrita em 1947. Neste parágrafo respeitou-se o texto do seu autor. Tendo
em vista as modificações científicas que se têm operado, deliberou-se transcrever a
informação colhida pelo Professor Lázaro Moreira Cezar a respeito do mesmo assunto:
"Atualmente, além do próton, do nêutron e do elétron, são conhecidas dezenas de outras
partículas elementares como, por exemplo, os fótons, os neutrinos, os antineutrinos, os
Entretanto, não nos estenderemos a respeito.
Constantemente fala-se em éter. – Entretanto, o que é o éter? – Existe o éter? – E se
existe, quais são suas propriedades?
A razão principal, supomos, que levou à crença da existência do éter, foi a
impossibilidade da ação à distância sem alguma coisa portadora desta ação. Se o som
produzido pelas vibrações de determinado objeto é transmitido pelo ar,
semelhantemente alguma coisa deve ser o suporte, por exemplo, para a propagação da
luz, ou para as atrações e repulsões elétricas e magnéticas.
Diz Gustavo Le Bon 6 que “sem o éter não haveria o peso, a luz, a eletricidade, o
calor; o universo estaria silencioso e morto, ou se revelaria sob uma forma que não
podemos pressentir. Diz que, embora a natureza íntima do éter chegue apenas a ser
suspeitada, sua existência se impôs desde muito tempo, parecendo a alguns ser mais
certa sua existência que a da própria matéria; e que sua existência se impôs quando foi
preciso explicar a propagação das forças e a ação à distância.”
Admitida a existência do éter, diz-se, então, que todos os astros estão mergulhados
neste mar fluídico, etéreo, cujo início e cujo fim, isto é, cujas posições limites, nosso
campo de lucidez intelectual ainda não pode conceber e que se chama espaço.
Provavelmente todos viram, no mar ou em rios, o que se chama redemoinho. A
água, girando velozmente, produz forças de atração e de tensão.
Admite-se que o éter possua igualmente, seus torvelinhos, seus redemoinhos, com
forças de atração ou de repulsão. E a estas forças de atração ou de repulsão dá-se o
nome de eletricidade. Aos redemoinhos em si, que produzem a eletricidade, dão-se os
nomes de prótons e elétrons. A tensão que os prótons e elétrons produzem é
denominada magnetismo.
“Provavelmente, diz ainda Gustavo Le Bon 7, da condensação do éter efetuada na
origem dos tempos por um mecanismo ignorado, se derivam os átomos, considerados,
por vários sábios, e especialmente por Lamor, como núcleos de condensação do éter,
que têm a forma de pequenos torvelinhos animados de uma enorme velocidade de
rotação. A molécula material, escreve este último físico, está inteiramente constituída
por éter, nada mais. Indubitavelmente, a grande velocidade de rotação das partículas de
éter, transformadas em torvelinhos, dão à matéria a rigidez e o peso.”
Portanto, fisicamente falando, tudo o que vemos, sejam os astros, seja a cadeira
em que sentamos, seja a água que bebemos, nada mais representa que a reunião de um
número extraordinário de prótons e elétrons.
Por esta teoria nós nada mais seríamos que a condensação do éter, isto é,
condensação de torvelinhos do éter.
O número de estrelas que se movem no espaço é enorme. Cada uma delas é um
sol luminoso, e formam, com seus planetas envoltórios, inumeráveis sistemas solares.
A distância entre os sóis é tão extraordinariamente grande, que se mede pelo
caminho que a luz, com sua velocidade de 300.000 quilômetros por segundo, percorre
em anos ou milênios.
pósitrons que têm a mesma massa, mas carga oposta à do elétron e os múons cuja massa
de repouso é 207 vezes maior que a do elétron."
6
Teorias Físico-Matemáticas - Ignacio Puig S. J.
7
Análise das Coisas - Paul Gibier
A velocidade média de deslocamento dos sóis no espaço é de cerca de 100
quilômetros por segundo, formando espirais.
O nosso planeta, a Terra, gira em torno de nosso Sol a uma distância de
150.000.000 de quilômetros. Por aí podemos ver quão desprezível é a quantidade de
matéria de nosso planeta em relação ao Universo.
Da mesma forma que dizemos que a Terra é desprezível em relação ao Universo,
podemos dizer que o elétron é desprezível em relação à Terra. Basta dizer que, para
conseguirmos um comprimento de um milímetro, colocando elétrons lado a lado, seriam
necessários 10.000.000.000.000.000.000.000.000 de elétrons.
Em um átomo, a distância entre os elétrons da parte externa e o núcleo atômico
não chega a um bilionésimo de milímetro; a velocidade destes elétrons é de 1.000 a
150.000 quilômetros por segundo, e em um segundo eles dão milhões ou bilhões de
voltas em torno do núcleo.
Portanto, um átomo contém em si uma quantidade fantástica de energia. Se a
indústria pudesse utilizar esta energia, teria à sua disposição uma fonte gigantesca e
inesgotável de força. Entretanto, tudo indica que não está longe a época de ser possível
a aplicação industrial da energia atômica. A bomba atômica já foi um passo para isso.
Diz Fritz Kahn 8 que “com a energia existente em um átomo de cobre de uma
moeda, seria possível, a um navio de 50.000 toneladas, dar várias vezes a volta da
Terra; que, com uma colher de chá de carvão em pó – desde que ele não fosse queimado
mas desintegrado em seus átomos –, poder-se-ia aquecer por 24 horas, em pleno
inverno, todas as casas de Nova Iorque”.
Muitos físicos adotam a teoria do átomo inextensível, isto é, como sendo
condensação do éter, em movimentos violentamente fortes. À primeira vista parece ser
absurdo; a matéria é formada de partículas que realmente não existem. Neste caso a
matéria não existiria: seria apenas uma ilusão.
– Entretanto, será o éter uma matéria em outro estado, que não o sólido, o líquido
ou gasoso?
“A verdade, diz Paul Gibier 9, é que os físicos estão hoje de acordo, considerando
os corpos mais densos como representando apenas em aparência uma superfície
contínua, como por exemplo, uma esfera oca de prata, cheia de água e soldada
hermeticamente. Colocando sobre uma bigorna esta bola e batendo-se-lhe com um
martelo, a água escapa-se por todos os poros do metal a cada golpe do martelo e vem
aflorar a sua superfície, segundo experiências dos acadêmicos de Florença.”
“O volume das moléculas, continua ele, pode ser, quando muito, avaliado por
milionésimos de milímetros, e mesmo levando em conta o espaço relativamente
considerável que as separa, é ainda por trilhões, quintilhões, sextilhões, que devemos
contá-las em um milímetro cúbico.”
“Elas estão em um estado contínuo de agitação, de projeção, de choques violentos,
de atrações, de repulsões enérgicas, das quais é, sem dúvida, um pálido reflexo o
movimento browniano das partículas microscópicas. Fazemos uma idéia do seu
tremendo turbilhão, quando vemos que no hidrogênio, em pressão e temperatura
ordinárias, as moléculas deste gás estão animadas de velocidade mais ou menos de
8
O Corpo Humano, Fritz Kahn.
9
Análise das Coisas - Paul Gibier
2.000 metros por segundo (Joule) e que cada uma sofre de suas vizinhas cerca de 17
bilhões de choques no mesmo espaço de tempo.”
A Ciência já conseguiu obter vastos conhecimentos sobre os movimentos dos
corpos celestiais. E se admite que as leis dos movimentos moleculares são perfeitamente
semelhantes às que regem os dos corpos-celestiais.
Afirmam estudiosos famosos que a quantidade de energia existente no sistema
solar com possibilidade de transformação não chega a mais de 454a parte da energia que
possuía no estado de nebulosa. Esta quantidade de energia transformável ainda é
enorme, considerada por nossos sentidos, mas ela também ir-se-á degradando. Haverá
uma época, incomensuravelmente distante ainda, sem a menor dúvida, em que não
haverá mais energia transformável no universo. A energia em si persistirá, porém, sob a
forma de movimentos atômicos.
– Como poderia acontecer isto?
Os movimentos dos corpos celestiais ir-se-iam amortecendo, os planetas não mais
circulariam em torno dos sóis extintos; as massas ir-se-iam aglomerando cada vez mais,
ficando, finalmente, reunidas em uma única; esta massa única giraria ainda muito tempo
sobre si mesma até ficar completamente imóvel em relação ao espaço ambiente.
“Tal é o destino do Mundo, diz Paul Gibier 10, como todo o ser que vive, passou
pelo estado embrionário, teve sua infância, adolescência e maturidade; a decrepitude da
velhice já começou.”
Tais são, pelo menos, as conclusões da Ciência moderna com o conhecimento dos
dois elementos “que estão colocados nos dois ângulos inferiores do triângulo”, quero
dizer, a matéria e a força ou energia.
Fato curioso: os bramas e os pandits (sábios filósofos do Oriente), possuem há
milhares de anos uma cosmogonia idêntica; em sua linguagem simbólica denominam
eles este “desmoronamento final” das esferas, esta parada do Universo no ponto morto,
“a noite de Brahma”, a noite durante cujos inúmeros séculos, depois de haver
reabsorvido tudo em si, os deuses juntamente com as coisas, “o Antigo dos dias”
repousa contemplando-se em seu Parabrahm Eterno.
– Que fica sendo o homem no meio dos destroços de astros, volatilizando-se ao
choque uns dos outros? – Que fica sendo a Consciência do ser e que sorte vai ser a sua?
A Ciência ainda não se ocupa disso, mas forçosamente vai ser levada ao estudo
destas coisas, porque as manifestações de consciência no além-da-vida começam a
chamar-nos a atenção, a reclamar o nosso exame.”
* * *
10
Análise das Coisas, Paul Gibier.
– Existe realmente a matéria? – Ou é uma propriedade da energia movimentando
o éter? – Existe o éter? – E, existindo, não é, ele próprio, matéria num outro estado não
conhecido ou analisado?
– Como foi produzida inicialmente a energia do Universo?
– Não será, talvez, a energia, um efeito da matéria excitada por algo que não é
matéria nem energia?
Fizemos então surgir a necessidade de um princípio excitador da matéria.
Se a matéria é a condensação da energia, algo produziu a energia. Se a energia é
proveniente da matéria, algo agiu sobre esta última.
De qualquer forma o nosso raciocínio solicita a existência de um princípio
animador.
– Eu disse raciocínio?
– Será entretanto razoável admitir-se que o raciocínio emane da matéria ou da
energia?
– Não será, talvez, mais aceitável considerarem-se como emanação do Princípio
animador as manifestações de raciocínio ou de inteligência?
Evidentemente deve haver um princípio, o Princípio-lnteligência, que, animando
e excitando a matéria inanimada, nos apresenta a solução para problemas considerados,
anteriormente, insolúveis e misteriosos.
2. Matéria viva
11
O Homem, Esse Desconhecido, Aléxis Carrel
lentos. Deslizam no seu meio como óleo estendendo-se na água, e arrastam consigo o
núcleo que flutua na massa líquida do seu corpo. As células móveis compreendem os
diferentes tipos de leucócitos do sangue e dos tecidos; o seu movimento é rápido. Os
leucócitos de vários núcleos assemelham-se a amebas. Os linfócitos arrastam-se mais
lentamente, como pequenos vermes. Os maiores, os monócitos, são verdadeiros polvos
que, além dos seus braços múltiplos, são rodeados por uma membrana ondulante; com
as pregas desta membrana envolvem as células e os micróbios, de que em seguida se
nutrem com voracidade.
Quando se cultivam em frascos estes diferentes tipos celulares, os seus caracteres
tornam-se tão aparentes como os das diferentes raças de micróbios. Cada tipo possui
propriedades que lhe são inerentes, e que conservam mesmo quando está separado do
corpo durante anos. As raças celulares caracterizam-se pelo seu modo de locomoção,
pela maneira de se associarem umas às outras, pelo aspecto de suas colônias, e pela
proporção do seu crescimento, pelas substâncias que segregam e pelos alimentos que
exigem, tanto como pela sua forma. Cada sociedade celular, isto é, cada órgão, deve as
suas leis próprias a essas propriedades elementares. As células não seriam capazes de
constituir o organismo caso apenas possuíssem os caracteres conhecidos pelos
anatomistas. Graças às suas propriedades habituais, e à enorme quantidade de
propriedades virtuais, susceptíveis de se manifestarem em resposta a modificações
físico-químicas do meio, as células fazem face às novas situações que se apresentam no
decorrer da vida normal das doenças. As células associam-se em massa densa cuja
disposição é regulada pelas necessidades estruturais e funcionais do conjunto.
O corpo humano é uma unidade compacta e móvel, cuja harmonia é garantida
pelo sangue e pelos nervos de que estão providos todos os grupos celulares. A
existência dos tecidos não pode conceber-se sem a de um meio líquido. A forma dos
órgãos é determinada pelas relações necessárias das células com seus vasos nutritivos.
Essa forma depende ainda da presença das vias de eliminação das secreções
glandulares. Toda a disposição interior do corpo depende das necessidades nutritivas
dos elementos anatômicos. O plano arquitetônico de cada órgão é inspirado pela
necessidade que as células têm de estar imersas num meio sempre rico em matérias
alimentares e nunca obstruído pelos resíduos da nutrição.
Sendo a harmonia do corpo humano garantida pelo sangue, vejamos o que é esta
substância. Nada mais que um tecido análogo aos outros em que, entretanto, as células
ficam suspensas num líquido viscoso, o plasma, em vez de estarem fixadas por uma
estrutura. O tecido sangüíneo contém cerca de trinta mil bilhões de glóbulos vermelhos
e cinqüenta bilhões de glóbulos brancos.
Todas as partes do corpo, por menores que sejam, são penetradas por este tecido
móvel, o sangue, que é o meio condutor de alimento para todas as células do corpo. O
sangue, ao entregar o alimento às células, e conseqüentemente aos tecidos, recebe de
volta os resíduos da vida dos tecidos.
Os glóbulos vermelhos são pequenos sacos contendo hemoglobina que, ao
passarem pelos pulmões, recebem oxigênio e o distribuem por todas as células dos
diversos órgãos, recebendo em troca ácido carbônico e outros resíduos. Os glóbulos
vermelhos não são como os glóbulos brancos, células vivas. Estes últimos glóbulos ora
flutuam no plasma dos vasos, ora se dirigem, pelos interstícios dos capilares, à
superfície das células das mucosas do intestino e de todos os órgãos.
Os glóbulos brancos dão, pois, ao sangue a característica de tecido móvel, sendo
susceptível de se dirigir a qualquer ponto em que sua presença for solicitada. Se uma
região do organismo é invadida por micróbios, imediata e rapidamente os glóbulos
brancos acumulam em torno dos micróbios grandes quantidades de leucócitos que
combatem e infecção.
São os glóbulos brancos, ainda, que, indo às feridas da pele e dos órgãos,
produzem a sua cicatrização.
Para nutrir-se, para modificar-se, as células do corpo humano estão continuamente
recebendo matéria do meio exterior. Durante a passagem da matéria exterior através das
células, estas retiram a energia de que necessitam. Portanto, a existência de nosso corpo
físico se esteia completamente na matéria do mundo inanimado.
Entretanto, as leis são infalíveis: mais cedo ou mais tarde nosso corpo devolve ao
mundo inanimado toda a matéria absorvida.
Falando sobre o enfraquecimento do corpo, diz ainda Alexis Carrel, no seu
interessante livro - O Homem, Esse Desconhecido: “Sabe-se que uma alimentação rica
ou pobre demais, o alcoolismo, a sífilis, as uniões consangüíneas, assim como a
prosperidade e o ócio, diminuem a qualidade dos tecidos e dos órgãos. A ignorância e a
pobreza têm os mesmos efeitos que a riqueza. Os homens civilizados degeneram nos
climas tropicais, e desenvolvem-se sobretudo nos climas temperados ou frios. Têm
necessidade dum modo de vida que imponha, a cada um, um esforço constante, uma
disciplina fisiológica e moral, e algumas privações. Tais condições de existência dão-
lhes a possibilidade de resistir tanto à fadiga como às preocupações. Preservam-nos de
muitas doenças, principalmente nervosas, e impelem-nos irresistivelmente para a
conquista do mundo exterior.
A doença é uma desordem funcional e estrutural. A variedade dos seus aspectos é
tão grande como a das nossas atividades orgânicas. Há doenças do estômago, do
coração, do sistema nervoso etc. Mas no corpo doente mantém-se a mesma unidade que
no normal: todo ele está doente, porque não há doença que fique estritamente confinada
num único órgão. Pela velha concepção anatômica do ser vivo, os médicos foram
levados a fazer de cada doença uma especialidade. Só aqueles que conhecem o homem
nas suas partes e no seu todo, sob o seu tríplice aspecto, anatômico, fisiológico e mental,
podem compreendê-lo quando está doente.”
Todos os órgãos possuem nervos sensitivos. Por intermédio destes nervos,
comandados pelo sistema nervoso central, os nossos órgãos entram em contato com o
mundo exterior. Portanto, nós sentimos as coisas exteriores de acordo com a
constituição e o grau de sensibilidade de nossos órgãos dos sentidos.
“Se, por exemplo, a retina registrasse os raios infravermelhos de grande extensão
de onda 12, a natureza apresentar-se-ia aos nossos olhos com um aspecto completamente
diverso. Devido às modificações da temperatura, a cor da água, das rochas e das árvores
variaria com as estações. Os dias claros de julho, em que as menores particularidades da
paisagem se distinguem, seriam obscurecidos por um nevoeiro avermelhado. Os raios
caloríficos, tornados visíveis, esconderiam todos os objetos. Durante os frios do
inverno, a atmosfera tornar-se-ia clara e precisos os contornos das coisas. Mas o aspecto
dos homens seria bem diferente. O seu perfil apareceria indeciso. Uma nuvem
vermelha, saindo das narinas e da boca esconderia o rosto. Após um exercício violento,
o volume do corpo aumentaria, porque o calor libertado formaria à sua volta uma larga
aura. Do mesmo modo, o mundo exterior modificar-se-ia, embora de outra maneira, se a
retina se tornasse sensível aos raios ultravioletas, a pele aos raios luminosos, ou,
12
O Homem, Esse Desconhecido, Alexis Carrel.
simplesmente, se a sensibilidade de cada um dos nossos órgãos dos sentidos aumentasse
de modo notório.
Ignoramos as coisas que não exercem ação sobre as terminações nervosas da
superfície de nosso corpo. É por isso que os raios cósmicos não são apreendidos por nós
embora nos atravessem de lado a lado. Parece que tudo o que atinge o cérebro tem de
passar pelos sentidos, isto é, impressionar a camada nervosa que nos rodeia. Apenas o
agente desconhecido das comunicações telepáticas faz talvez exceção a esta regra. Dir-
se-ia que, nos fenômenos de vidência, o sujeito apreende diretamente a realidade
exterior sem utilizar as vias nervosas habituais. Mas tais fenômenos são raros. Os
sentidos são a porta pela qual o mundo físico penetra em nós.”
Evidentemente o corpo humano surge diante de nossos sentidos como uma
tremenda complexidade. As células que se encontram mais afastadas uma das outras
trocam, entre si, suas secreções. No entanto, apesar da complicada heterogeneidade do
corpo humano, ele age, fisiologicamente, com uma homogeneidade extraordinária.
– O que, pois, administra esta complicada heterogeneidade de funções,
transformando-as numa perfeita homogeneidade fisiológica?
Deixemos, ainda, a pergunta sem resposta.
Em geral, os fisiologistas afirmam que as manifestações de vida, e mesmo de
inteligência, nada mais são que propriedades da matéria, embora concordem que a
matéria componente do corpo humano é exatamente a mesma matéria inanimada
conhecida. Eles, portanto, admitem que a matéria, formando os corpos inanimados ou os
corpos vivos, funciona diferentemente.
– Será, porém, razoável e racional que os movimentos executados pelo homem,
que o equilíbrio e o funcionamento de seu complexo corpo, que as vibrações da matéria
cerebral, sejam simples propriedades da matéria, quando as propriedades desta mesma
matéria nos corpos inanimados, estão tão exaustivamente estudadas pela Física e pela
Química?
Se as manifestações da vida nada mais fossem que propriedades da matéria, a
personalidade humana desapareceria com a morte do corpo, pois a matéria, uma vez
desagregada do corpo, voltaria a outros estados, tomando novas formas.
– E, por que, no momento da morte, deixa a matéria de possuir as propriedades da
vida, se ela, em si, continua sendo a mesma matéria?
Há, portanto, um outro princípio que não a matéria ou a energia, que abandona o
corpo humano, cessando, conseqüentemente, as manifestações de vida.
Entretanto, dizem os materialistas, se há um Princípio-Inteligente que dá vida e
movimento à matéria inerte, por que a inteligência é afetada, se afetados são alguns
órgãos do corpo humano?
Com esta teoria os materialistas crêem ter provado definitivamente que a
inteligência é uma propriedade da matéria, pois basta lesar a matéria organizada para
afetar a inteligência.
Podemos, porém, responder a este argumento dizendo que, se um homem dirige
uma máquina, e se algum órgão desta última sofre alguma lesão, conseqüentemente ele
não mais pode obter a mesma produção da máquina, e não se pode afirmar, também,
que o homem é uma propriedade da máquina.
O grande fisiologista Claude Bernard é de opinião que a matéria, mesmo viva, é
inerte, isto é, desprovida de toda a espontaneidade, porém que pode manifestar suas
propriedades especiais de vida sob a influência de uma excitação, porque a matéria é
irritável.
As religiões dizem que o homem possui uma alma, e que esta, ao abandonar o
corpo, vai para um determinado lugar do espaço receber os prêmios ou castigos, de
acordo com seus bons ou maus atos na Terra.
Cada religião apresenta um Deus à sua moda e feitio.
São atribuídas a Buda, as seguintes palavras, ditas, em seu leito de morte, a seus
discípulos13: “Todas estas opiniões teológicas não passam de quimeras; todas essas
narrativas da natureza dos deuses, de seus atos, de suas vidas, apenas alegorias,
emblemas mitológicos, sob os quais se escondem idéias engenhosas de moral e o
conhecimento das operações da natureza, no jogo dos elementos e na marcha dos astros.
A verdade é que tudo se reduz ao nada; que tudo é ilusão, aparência, sonho, que a
metempsicose moral não é mais que o sentido físico da metempsicose física, deste
movimento sucessivo, pelo qual os elementos de um mesmo corpo, que não perecem,
passam, quando ele se dissolve, para outros meios e formam outras combinações. A
alma não é mais que o princípio vital, resultante das propriedades da matéria e do jogo
de elementos existentes no corpo, onde elas criam um movimento espontâneo. Supor
que este produto do jogo dos órgãos nascido com eles, adormecido com eles, subsiste
quando os órgãos não mais existem, é um romance talvez agradável, mas realmente
quimérico, fruto de imaginação iludida. O próprio Deus não é senão o princípio motor, a
força oculta espalhada nos seres, a soma de suas leis e propriedades, o princípio
animador, em uma palavra, a alma do universo, a qual, em razão da infinita variedade
de suas relações e operações, considerada ora como simples e ora como múltipla, agora
como ativa e logo como passiva, apresentou sempre ao espírito humano um enigma
insolúvel. Tudo quanto ele pode compreender de mais claro nisto, é que a matéria não
perece nunca; que ela possui essencial mente propriedades pelas quais o mundo é regido
como um ser vivo e organizado; que o conhecimento dessas leis em relação ao homem,
é o que constitui a sabedoria; que a virtude e o mérito residem na observância delas, e o
mal, o pecado, o vício, em sua ignorância e infração; que a felicidade e infelicidade
resultam delas, pela mesma necessidade que faz as coisas pesadas descerem, e as coisas
leves subirem, e por uma fatalidade de causas e de efeitos cuja cadeia vai do último
átomo até aos astros os mais elevados.”
* * *
De tudo o que foi exposto neste capítulo o leitor pode depreender que cientistas e
filósofos não chegaram ainda a um acordo ou a uma conclusão sobre a matéria viva.
Materialistas e espiritualistas defendem veementemente a validade de suas teorias
sem se convencerem mutuamente.
– E por que isto?
Por que os homens geralmente só se entendem sobre aquilo cuja existência os
sentidos podem constatar, discutir e analisar.
– Como poderá, então, haver este entendimento, se não podemos ter provas reais
da existência do Princípio-Inteligente?
Mas estas provas existem. O conhecimento do homem já é um fato definitivo.
13
Análise das Coisas, Paul Gibier
O alcance intelectual do homem está apto a apreender os magníficos princípios
explanados pelo Racionalismo Cristão, doutrina que, fundada em 1910, se vem batendo
para libertar a humanidade de turco o que seja dogma, mistério, preconceito,
acorrentamento do raciocínio.
Estuda, leitor, com isenção de ânimo, o Racionalismo Cristão, analisa friamente
suas afirmativas, sem religiosidade, sem fanatismo, simplesmente como um pesquisador
desejoso de descobrir as leis e os princípios básicos da ciência máxima, da “Ciência da
Vida”.
3. Racionalismo Cristão
“Muitas tentativas têm sido feitas, no setor das ciências filosóficas, sem resultados
satisfatórios, por inúmeros intelectuais, para apreender e explicar à humanidade o que
sejam Força e Matéria, na sua concepção genérica.
Força e Matéria, no entanto, constituem, hoje, um tema de simples análise, desde
que desdobrado, sem graves reflexões teóricas, na seqüência dos princípios racionais.
Deste modo ficou o tema ajustado aos moldes de uma invulgar simplicidade, acessível
ao raciocínio comum. Vale dizer que os princípios racionais são espiritualistas, e que,
somente no campo da espiritualidade encontram solução os problemas do Espírito. A
definição de Força e Matéria acha-se, pois, dentro da lógica dos fenômenos psíquicos,
divulgados pelo Astral Superior.
Todos os acontecimentos da vida estão indissoluvelmente ligados à ação da
Força sobre a Matéria, e, por isso, nenhuma compreensão clara pode ser obtida dos
fenômenos que convidam à investigação, sem que, primeiramente, adquira o ser esse
conhecimento básico, fundamental, elementar embora, da composição do Universo.
Daí a importância do assunto e a necessidade de ser ele colocado em posição de
elevada evidência no terreno das cogitações da vida terrena, uma vez que, sem pleno
conhecimento do que seja a criatura humana como Força e Matéria, de nada valem as
divagações filosóficas, no sentido de conduzir o indivíduo pelas normas rígidas de uma
conduta exemplar.
Quanto mais nítida e real for a compreensão do ser no que diz respeito à ação do
espírito sobre o corpo físico, ou generalizando mais, da Força sobre a Matéria, mais
depressa a clarividência do sentido espiritual lhe revelará as funções vitais da natureza
universal.
Força e Matéria são duas expressões que centralizam em si a ciência que confere
o conhecimento de toda a verdade. Os princípios que esta obra reúne apenas encerram a
parcela de ensinamentos contidos naquela Verdade, que estão ao alcance da
compreensão humana, desde que haja por parte do indivíduo o interesse pelo estudo e
pela observação, sem o caráter irredutível de subordinação aos processos empíricos de
falsas proposições.
O ser encarnado tem obrigações intransferíveis a satisfazer, e, por isso, necessita
de apurar os seus conhecimentos sobre a vida, para não estar incorrendo,
constantemente, no erro, em detrimento próprio e da coletividade.
– E que é a vida se não a ação permanente da Força sobre a Matéria?”
A Matéria não possui atributos; estes pertencem à Força e se exteriorizam nas
manifestações do espírito e na substanciação dos três reinos da natureza; os atributos
que se evidenciam nos seres encarnados constituem, apenas, um reduzido número
daqueles que podem revelar espíritos mais esclarecidos que, em decorrência do seu mais
alto grau de evolução, não estagiam mais por este planeta inferior.
“A Força mantém o Universo regido sob leis naturais e imutáveis; são naturais
porque decorrem de uma seqüência lógica no processo da evolução, e são imutáveis
porque são absolutas, e neste sentido não há lugar para o imprevisto, para o acaso ou
para a dúvida; impera, só e sempre, a exatidão, a certeza, a perfeição.
Dentro deste regime deve o ser humano compreender que está a sua atuação, está
a sua responsabilidade e está o seu dever.
Como partícula da Força que é, não pode contrariar o que determinam as leis
naturais, ou alterar o que nelas está estabelecido, sem sofrer as conseqüências dos seus
atos, os quais repercutem, diretamente, na marcha da sua evolução, retardando-a.
Assim, sem este conhecimento inicial do modo pelo qual se desenvolve a
partícula da Força, no ritmo da sua evolução, e sem saber dar à Matéria o valor relativo
que ela possui, não pode conduzir-se a criatura com o aproveitamento que lhe está
determinado, disso resultando ter de submeter-se, em coordenação com aquelas leis,
pela sua livre vontade e em duras experiências, a uma multiplicidade de reencarnações,
que, de outro modo, seriam grandemente reduzidas.
Procurar conhecer a verdade sobre si mesmo é um dever que assiste a todo o
indivíduo, e os melhores esforços que forem empregados para atingir esse objetivo, não
deverão ser poupados, nunca serão demais e nem serão perdidos.
A Força e a Matéria são os dois únicos princípios fundamentais de que se
compõe o Universo. A Força é o agente ativo, inteligente, transformador; a Matéria é o
elemento passivo, inerte, plasmável. Ambos, na sua forma original, indivisível,
fundamental, imponderável, penetram todos os corpos, estendendo-se pelo espaço
Infinito Universal.
A Força age, dispondo dessa inteligência absoluta, que também a define, e
utiliza-se da Matéria, naquele seu estado primário, como condição ou meio para a sua
evolução, a qual não pode ser contida, em obediência a leis imutáveis, que escapam à
apreciação comum, com os limitados recursos que tocam ao planeta Terra
No Universo nada há de novo. Nele, nada se perde. Tudo está criado. Há, só
transformações da Matéria e evolução da Força. Transforma-se a Matéria em matéria
organizada básica, pela ação da Força, e por esta mesma ação formam-se os
inumeráveis corpos compostos, em combinações incontáveis das partículas da matéria
organizada. Composição e decomposição, agregação e desagregação dos corpos, são os
resultados da ação mecânica da vida.
A ciência química, nas suas constantes investigações, classificou perto de uma
centena de elementos básicos da matéria organizada, e deu à partícula fundamental
infinitésima desses elementos o nome de átomo. Os átomos são combinados entre si,
cientificamente, para formar as moléculas, que são, por sua vez, as partículas
infinitésimas dos corpos compostos. Tanto os átomos como as moléculas mantêm-se
agregados uns aos outros enquanto a Força exercer sobre eles a sua ação coesiva, e se
desagregam quando essa ação deixar de atuar.
A matéria organizada, representada por um simples átomo que seja, contém um
potencial de força de extraordinário poder, e cada um desses núcleos de alta
condensação de força mantém-se em perfeito equilíbrio com os demais, na composição
do Todo, em completa uniformidade, cada qual dentro da sua classe, sem nenhuma
alteração na sua constituição específica, justamente porque o que as leis têm
estabelecido não pode sofrer alterações e não há imprevistos para a Sabedoria que é
Una, Integral, Total.
A Força, utilizando-se da Matéria, começa a sua evolução nas subdivisões do
átomo, onde se encontram as primeiras partículas de força concentrada. Passa, depois,
na composição das moléculas, a uma nova ordem de aplicação construtiva.
Em todo o constante agregar e desagregar dos corpos a intensidade da força
nesses núcleos infinitésimos vai aumentando; as vibrações da vida vão se acentuando, o
grau de inteligência vai progredindo, até que, depois de terem, tais núcleos de forca,
feito o ciclo, primeiramente pelo reino mineral,, em seguida, pelo vegetal e depois pelo
animal, ficam em condições de se constituírem em microrganismos de ínfima espécie.
Desses microrganismos, partindo da espécie ínfima, faz a partícula de força a sua
evolução através de outras espécies e de outros organismos, de maior desenvolvimento
no tocante à ação, atingindo sempre formas mais elevadas.
A Força Inteligente que, na molécula e suas subdivisões, se apresenta, apenas,
pela sua expressão vibratória, ou de movimento interno, intranuclear, já nos
microrganismos, além daquela vibração, revela a ação de movimento exterior, a
locomoção. Em organismos mais desenvolvidos, além dessas primeiras exteriorizações,
demonstra o afloramento da inteligência.
Assim, de mudança em mudança, de um corpo para outro, imediatamente
superior, vai evoluindo a partícula da Força, até atingir o grau de espírito, estado em que
fica em condições de encarnar em corpo humano, porque a inteligência nesse grau de
intensidade está apta para raciocinar e assumir com a responsabilidade de exercer a
faculdade do livre-arbítrio.
Como espírito encarna inumeráveis vezes, adquirindo sempre mais inteligência,
mais luz, mais experiência, mais conhecimentos, mais clara concepção da vida e maior
capacidade de raciocínio.
O espírito inicia a sua trajetória, no planeta, em condições próprias ao seu estado
de adiantamento, e em cada reencarnação passa a viver em meio que favoreça o seu
progresso, até que o ambiente que lhe tenha de servir para continuar a sua evolução, não
seja mais o deste mundo.” 14
O globo terrestre é uma esfera de matéria organizada, impregnada de forças que
atuam diretamente sobre os átomos, constituindo-os, unindo-os e mantendo-os em
equilíbrio, na sistemática de uma complexidade de movimentos.
O átomo está em vibração constante pela ação da força no seu interior; liga-se a
outro átomo pela força de coesão, na composição da molécula; as moléculas, por sua
vez, estão ligadas entre si, também, pela ação de uma força de coesão; de um pólo a
outro da Terra passam linhas de força denunciadas pelas bússolas; a força de gravidade
exerce a sua ação sobre cada átomo, atraindo-o para um centro no interior do globo; há
forças que atuam nos átomos para conduzir a esfera terrestre em todos os seus
movimentos.
O diagrama que se segue dará uma idéia geral, porém rudimentar, de como
Força e Matéria se acham associadas no planeta, para a constituição dos reinos da
natureza.
Vê-se, pois, que, no reino mineral, é a força o atributo fundamental
predominante; no reino vegetal, predominam a força e a vida, e, finalmente, no reino
animal, além destes últimos dois atributos, predomina, também, a inteligência.
Não quer isto dizer que não haja vida no reino mineral, nem inteligência no reino
vegetal, mas que, apenas, para simplificar a compreensão de um assunto da mais
transcendente apuração científica, vale dizer que nesses reinos predominam os atributos
fundamentais apontados.
14
Capítulo II, do livro “Racionalismo Cristão”
Diagrama demonstrativo da ação da Força (universal) sobre a Matéria (universal), na
criação e animação de todos os corpos, destacando-se, em cada caso, os seus atributos
fundamentais predominantes, nos três reinos da natureza.
5. Vibrações
Esta elevação circular se desfaz para fora do ponto do choque, tendendo a ocupar
sua primitiva posição horizontal de repouso. Entretanto, a água que está descendo não
pára instantaneamente na posição horizontal: ela se afunda um pouco, produzindo outras
elevações nas partículas de água da vizinhança externa. Estas últimas elevações, ao se
desfazerem, produzem outras, e assim por diante, de modo que, a partir do ponto em
que o objeto se chocou com a água, forma-se um movimento ondulatório, isto é,
vibratório, em todas as direções (Figs. 10 e 11).
Os elétrons tendem a saltar, atraídos por seu centro de força, das trajetórias
eletrônicas mais externas para as internas, libertando, portanto, energia, que se
manifesta sob a forma de uma modificação da tensão eletromagnética do éter na
vizinhança do átomo. Esta modificação de tensão eletromagnética se propaga em forma
de ondas, com a velocidade de 300.000 quilômetros por segundo, e é denominada onda
do éter ou raio.
Os movimentos das ondas do éter se transmitem sempre com a velocidade de
300.000 quilômetros por segundo; o que varia é a freqüência das ondas, isto é, o
comprimento da onda, assim como sua amplitude.
A ação de produzir onda, isto é, movimentos vibratórios, denomina-se irradiação.
De acordo com os comprimentos médios das ondas, são as seguintes as espécies
de irradiações do éter que foram descobertas ou produzidas artificialmente:
a) Corrente elétrica alternada: 1.000 km.
b) Telegrafia sem fio: 1 a 20 km.
c) Ondas de radiotelefonia: 0,1 a 1 km.
d) Ondas curtas: 10 a 100 m.
e) Ondas ultracurtas: 1 a 10 m.
f) Ondas milimétricas: 1 mm.
g) Raios caloríficos: 0,01 mm,
h) Raios luminosos: 0,0006 mm.
i) Raios ultravioletas: 0,000.2 mm.
j) Raios X: 0,000.001 mm.
k) Raios da morte: 0,000.000.1 mm.
l) Raios gama: 0,000.000.000.1 mm.
m) Raios cósmicos: 0,000.000.000.006 mm.
A ciência e a indústria já se utilizam largamente da produção de raios.
Expliquemos rapidamente a mais simples válvula: o diodo (Fig. 16).
Como vimos, os raios luminosos têm para comprimento médio das ondas 0,000.6
mm.
Portanto, os raios X têm as ondas milhares de vezes mais curtas que as ondas
luminosas. Assim sendo, podem atravessar as partes moles do corpo humano, só não
conseguindo propagar-se pelas porções densas, tais como os ossos, coração e fígado.
Colocando-se o corpo humano entre uma máquina produtora de raios X e uma chapa
fotográfica, aparece apenas a imagem das partes do corpo humano que não são
atravessadas pelos raios X.
Modernamente já há aparelhos radiológicos que trabalham com tensões
superiores a um milhão de volts. Os raios X produzidos são de tão curto comprimento
de onda que se assemelham aos raios gama. Estes raios matam à distância os seres
vivos.
Está provado e demonstrado experimentalmente que os átomos do elemento
radium, por meio de explosões, expulsam partículas de sua massa, emitindo ondas de
curto comprimento, cerca de 0,000.000.000.1 mm. Estas ondas formam os raios gama,
que chegam a ser 1.000 vezes mais longos que os raios cósmicos e 10.000 vezes mais
curtos que as ondas luminosas sensíveis. Os raios gama, embora sejam 1.000 vezes mais
longos que os raios cósmicos, são, contudo, extremamente penetrantes e, portanto,
perigosos.
Os raios gama matam plantas, animais e mesmo os homens, pois fundem os
tecidos humanos.
Os efeitos de uma pequena quantidade de radium podem ser observados a 1.000
metros de distância.
São os raios cósmicos que possuem as ondas mais curtas até hoje conhecidas. A
ciência ainda não sabe determinar de que pontos do Universo são irradiados estes raios.
Para chegar à atmosfera da Terra, as ondas dos raios cósmicos viajam uma
distância que a luz, com sua velocidade de 300.000 quilômetros por segundo,
percorreria em dezenas de milhares de nos.
Sendo a matéria descontínua, como já o dissemos, os raios cósmicos, que são tão
inimaginavelmente curtos, conseguem passar pelos intervalos existentes entre as
partículas da matéria. Atravessam a matéria como se ela não existisse.
Ultimamente (1946) cientistas brasileiros solicitaram à Força Aérea Brasileira
aviões que os levassem à sub-estratosfera para, munidos de aparelhos especiais, fazerem
pesquisas sobre os raios cósmicos.
Dos raios descobertos, o homem só percebe os luminosos e os caloríficos.
Hoje o homem pode chegar a uma conclusão: tudo no mundo é composto de
movimentos vibratórios.
Escreve Fritz Kahn, em seu livro O corpo humano: “Talvez nesse momento o Sol
esteja por cima da casa. Ele que nos envia não só luz e calor, mas também, através das
crateras que constituem as manchas solares, enxames de elétrons e raios de
comprimento de onda análogos aos dos raios Roentgen, que incidem sobre o nosso teto,
atravessam-no e vão agir sobre o nosso sistema nervoso. Mas pode ser também que seja
noite. Não haverá então apenas a irradiação das estrelas ou o pálido reflexo da luz solar
sobre o espelho da Lua, mas do espaço escuro, que nos parece inteiramente negro,
incidem sobre nós, em cada segundo, trilhões de raios cósmicos, vindos de mundos
situados a centenas de milhares de anos-luz de nós e que olho algum pode enxergar.
Olhe-se agora para o chão: das profundezas da Terra raios gama ascendem para o nosso
Sol e talvez mesmo, como pretendem os rabdomantas, os veios de água e metal das
profundidades enviem para cima raios com influência sobre a saúde e doença dos
homens e animais. Coloquemos, agora, a mão sobre o coração e sintamos-lhe as
pulsações: a cada batimento uma corrente elétrica flui de suas fibras e se propaga, com a
velocidade da luz, até a ponta dos dedos, pés e cabelos. O homem, com o coração a
pulsar dentro do peito, é um gerador que faz uma oscilação por segundo! Passemos
agora ao pomar e colhamos uma maçã: os frutos emitem raios, o leite também, enfim
tudo quanto vive em torno de nós– as folhas das árvores, as flores, os vermes do chão,
os grãos de poeira no ar – tudo irradia. Tomemos agora do rádio e liguemos
sucessivamente para os diversos pontos da escala, de forma a ouvir o concerto
gigantesco de todas as emissões do mundo. Quer o rádio esteja ligado ou não, as ondas
do éter propagam essas emissões para nossa casa, pelo nosso quarto, nosso crânio e
nosso sangue ininterruptamente, dia e noite, nas horas de sono e de vigília: as notícias
sobre as bolsas de Londres e Nova Iorque, os preços do trigo do Ohio, sinfonias de
Mozart e previsões do tempo, propagandas políticas e as mensagens de navios e
aeronaves. Ininterruptamente esse concerto monstro – fogo cruzado de ondas de éter
vindas de todas as estações do mundo – penetra o nosso cérebro, dia e noite, mesmo no
momento em que estamos a meditar sobre as maravilhas das irradiações deste nosso
mundo. Um estalo do aparelho vem perturbar o nosso pensamento: é que no outro lado
da rua o dentista pôs a funcionar o seu motor. E por sua vez penetram no nosso quarto
as ondas de éter vindas do motor do dentista, do automóvel que passa, do elevador da
casa vizinha, dos motores de corrente alternada, tudo isto envia raios através das casas,
de nós, de nosso cérebro. Fossem visíveis todas essas ondas do éter e veríamos luzes
brotarem subitamente de todos os lados e profundezas, das maiores distâncias à mais
próxima vizinhança e teríamos que fechar os olhos ou protegê-los com a mão. Mas de
nada nos serviria isso, pois também o interior do nosso corpo irradia, cérebro, sangue,
músculos e glândulas, e cada célula é uma microscópica estação de rádio: não só o
homem vive num mundo que irradia, como até ele próprio é um ser radiante! É essa
talvez a maior descoberta da ciência moderna e dentro de 50 anos talvez estejam
antiquados todos os livros até hoje escritos sobre a natureza, só porque os seus autores
nada sabiam sobre os raios.”
Com a finalidade de explicar o que seja o circuito sintonizador de um rádio
receptor, falemos rapidamente sobre o que seja uma bobina e um condensador.
Se enrolarmos um fio em torno de um tubo, uma espira ao lado da outra, teremos
o que se chama uma bobina (Fig. 18).
F=L x C
Em geral se admite, pelo menos por se ouvir dizer, que os médiuns são os
intermediários entre os espíritos e os encarnados, isto é: que os espíritos se comunicam
com os homens utilizando-se de médiuns.
Vulgarmente se pensa que a mediunidade é um privilégio de determinadas
pessoas.
Entretanto, a mediunidade é uma condição inata no espírito de cada ser.
Evidentemente são várias as modalidades de apresentação dos fenômenos de
mediunidade, de acordo com o estado de evolução de cada espírito.
Em princípio podemos afirmar que todo o ser encarnado dispõe, pelo menos, da
mediunidade intuitiva, em um grau correspondente ao seu adiantamento espiritual.
Pensar com elevação e com altruísmo é predispor o espírito para a recepção das
vibrações de progresso emanadas das Forças Superiores.
Contrariamente, os pensamentos de fraqueza, inveja, ódio, maldade sintonizam o
espírito para as intuições obsessoras dos espíritos do astral inferior.
A mediunidade, quando mal orientada, quando mal utilizada, expõe o ser a sérios
perigos.
Muitos loucos são médiuns desenvolvidos que se obsedaram por desconhecerem
as suas faculdades mediúnicas.
Geralmente só se dá a um indivíduo a denominação de médium quando ele possui
a faculdade da mediunidade de incorporação, isto é, aquela mediunidade em que o
espírito desencarnado aparentemente se apossa do corpo do ser encarnado.
A sensibilidade e o sistema nervoso dos possuidores de mediunidade de
incorporação chegam a tal ponto que basta a ação atrativa do pensamento para que,
imediatamente, sejam atuados pelos espíritos do astral inferior.
Os médiuns ignorantes, que se concentram e se deixam atuar pelos espíritos do
astral inferior, isto é, da atmosfera do planeta Terra, terminam por se tornar escravos
dessas forças inferiores.
* * *
O leitor já ouviu dizer, talvez, que se pode adaptar a um rádio uma vitrola. Neste
caso o circuito sintonizador do rádio deixa de captar as ondas de rádio-freqüência
transmitidas por estações emissoras, isto é, o equipamento perde a sua característica de
captar as transmissões feitas à distância. Em outras palavras, deixa-se, por exemplo, de
ouvir a música que uma estação de broadcasting esteja transmitindo. Passa-se, então, a
ouvir a música proveniente de um disco.
Como é isto conseguido? De uma maneira muito simples. Por meio de um
interruptor separa-se a parte do rádio correspondente à amplificação de áudio-freqüência
e liga-se esta parte a um cristal que, por intermédio da agulha da vitrola, está em contato
com o disco. As vibrações enviadas pela agulha, ao correr pelo disco, produzem
voltagens alternadas no cristal. Estas voltagens alternadas, indo ao amplificador de
áudio-freqüência acima referido, produzem, no alto-falante, música gravada no disco.
Portanto, o equipamento deixa de trabalhar como rádio para, cedendo uma parte
do seu circuito, o amplificador de áudio-freqüência e o alto-falante, transmitir as
músicas gravadas nos discos postos na vitrola.
Um tal equipamento chama-se eletrola.
* * *
* * *
Em numerosas ocasiões os aviadores brasileiros têm demonstrado suas virtudes de
coragem habilidade e espírito de renúncia.
Às vezes, cruzando os céus de nossa Pátria, a caminho dum longínquo campo de
pouso – qual clareira aberta no oceano verdejante de nossas florestas, que ondula lá em
baixo –, os aparelhos de bordo denunciam a aproximação do inimigo.
Envolve-o ainda o enganoso azul do infinito, mas, o aviador pressente mais do
que vê - que ele o espera, inexorável, em sua rota, para o bote traiçoeiro!
Mas, continua a avançar, impávido e destemeroso, em direção à fera, ainda
emboscada.
De repente, o horizonte começa a escurecer. Grossas nuvens negras se acumulam
rapidamente à sua frente, tocadas pelo furacão que avança ao seu encontro.
E, dentro em breve, o dia claro e luminoso de há pouco desaparece, engolido pela
escuridão que precede o ciclone que se aproxima, como se as trevas da noite
envolvessem, de repente, a imensidão do infinito!
Um rápido olhar aos aparelhos, um gesto brusco de comando e o pássaro de aço -
pequeno e frágil ante o infinito que o cerca - começa a ganhar altura.
Apesar da velocidade com que procura fugir da tempestade que se aproxima cada
vez mais, as nuvens prenhes de eletricidade se avolumam por todos os lados e abrangem
tão vasta região que parece não haver tempo para escapar à sua fúria.
O solitário navegador dos ares prepara-se para enfrentar a fera ... continua a subir:
3.800, 4.200, 4.700 metros ... já sente a respiração opressa ...
O ciclone açoita o minúsculo pássaro de aço, cujos pulmões possantes resfolegam
com estertor..
O semblante sereno do aviador torna-se mais grave ...
De repente, um fio de luz vivíssimo ziguezagueia entre as nuvens negras, qual
serpente de fogo!
A fera está solta!
Estruge o trovão, medonho urro do furacão que se desencadeia nas alturas.
O frágil aparelho é, repentinamente, iluminado por mil clarões dos relâmpagos
incendiários, como se alguém pretendesse - num flash gigantesco - gravar para sempre
aquelas convulsões da natureza em revolta.
O avião sobe vertiginosamente, envolvido pelo ciclone em redemoinho, que uiva e
assovia em suas asas metálicas, que parecem desprender-se a todo o instante aos
repelões violentos do furacão.
A orgulhosa máquina de aço nada mais é que uma frágil folha seca ao sabor da
tempestade! ...
O avião avança, agora, aos repelões, em plena tempestade, envolvido pela massa
líquida que sobre ele desaba e estala, com fragor, em sua fuselagem e nas asas longas e
trepidantes. Parece avançar lentamente, como gigantesca escavadeira que cava, abre sua
passagem dentro da escuridão, que o envolve por todos os lados .-. .
Ao clarão dos relâmpagos instantâneos e das descargas elétricas, o aviador lança
rápido olhar ao painel de aparelhos e nota, orgulhoso, como aquela frágil máquina
enfrenta o imprevisível cataclismo.
É a luta do homem, orgulhoso e prepotente, contra a natureza, desencadeada em
fúria!
O avião sobe e descai, avança e mergulha, açoitado pela forte ventania e temporal,
já agora desfeito.
Os segundos assim vividos parecem séculos ... Sobe o avião ainda mais: 5.000
metros, 5.400 metros, acusa o altímetro, e só então sente-sé o furacão rugindo lá em
baixo, em direção à Terra
Um quase sorriso de vitória - enigmático e breve - ilumina o rosto moreno do
piloto.
E, dentro em pouco, o infinito azul tranqüilo e imenso, envolve-o outra vez,
silenciosamente...
* * *
Noutra ocasião, prestes a chegar ao seu destino, o nevoeiro cerca-o por todos os
lados. O avião avança em plena escuridão ...
O aviador tem os olhos fixos nos aparelhos que, inexoráveis, apontam-no
sobrevoando o objetivo ... Está a 2.800 metros de altura e a névoa seca é densa ...
– Como descer, se não enxerga a um metro de distância em sua frente?
É forçoso descrever largas curvas para não se afastar muito do ponto de chegada
...
Mas, sente que a descida é impossível, sem graves riscos. Envolve-o a névoa seca,
que penetra tudo ...
– Retroceder ao ponto de partida? A altivez que acompanha nossos aviadores
militares desde a escola, repele a insinuação da prudência. Seria confessar-se vencido,
quase sem luta e sem tentar, pelo menos, dominar as condições atmosféricas adversas ...
E ele continua a voar, às cegas, sempre descrevendo largas curvas ...
– Procurar atingir o campo mais próximo, onde, talvez, não haja esta maldita
névoa a cegá-lo?
– Descer, de qualquer maneira, arriscando-se a ir de encontro a uma montanha ou
edifício alto, a cair, enfim, quando sabe e sente que lá em baixo está o aeródromo, com
sua larga pista de cimento e a grande cidade orgulhosa e frívola?
De lá aconselham-no a retroceder.
– Mas, como?
Há minutos que o problema se apresentou inquietante e urgente ante o aviador,
sereno e quase resignado ao seu destino, enquanto mais um largo círculo é descrito em
meio à escuridão reinante, olhos fixos no indicador de gasolina ...
Súbito, adelgaça-se limitado trecho no espaço: é um raio de sol, brilhante e vivo,
que rompe a névoa e se projeta, como um beijo de luz, sobre a face da Terra!
No rosto sereno do aviador esboçasse um ríctus - quase um sorriso - enigmático e
breve.
O olhar lampeja o pensamento fugaz e comanda o gesto.
A mão nervosa e crispada corre rápida sobre os aparelhos ... Uma alavanca é
acionada. O avião descreve um movimento brusco e se lança, desvairado, pela clareira
de luz aberta para baixo!
A máquina de alumínio brilha, agora, orgulhosa, envolvida pelo feixe de luz,
enquanto desce vertiginosamente ... Precisa aproveitar esse funil luminoso que se abre à
sua frente e pode se fechar de um momento para o outro ... E que já está se fechando
novamente ...
É forçoso aproveitá-lo ... Até onde?
Em três minutos o avião descera 2.500 metros, e, agora, surgia ante o olhar
perscrutador do aviador vitorioso o fundo da Guanabara, com suas águas revoltas e
cinzentas e as montanhas que abraçam a cidade envoltas em brumas.
Mais uma vez, o homem triunfara sobre a natureza adversa.
* * *
* * *
* * *
15
Transcrito da seção “Aviação”, do Correio da Manhã, de 20 de julho de 1949.
Ad imortalitatem 16
Afonso de Morais Gomes
16
Transcrito do Correio Leopoldinense, de 21 de agosto de 1949
17
Librar-se: no sentido de elevar-se (Dicionário Aurélio Viana)
O exemplo de uma vida 18
18
Transcrito de A Razão, do Rio de Janeiro, de 1o de julho de 1950.
Calorosa salva de palmas abafou as últimas palavras do eloqüente discurso do
superintendente do 5o Distrito Educacional.
Um dos amigos do Capitão Felino, em nome de sua família, ofereceu à diretora,
D. Léa Labarte Lebre, uma braçada de rosas, numa homenagem às professoras de
escolas públicas, que têm naquela educadora lídima representante, na nobre carreira que
abraçaram, e agradeceu todas as homenagens prestadas à memória do CapitãoAviador
Felino Alves de Jesus.
Em breves, mas significativas palavras, a Sra. D. Léa Labarte Lebre, visivelmente
comovida, agradeceu a delicada lembrança e, depois do corpo de alunos ter cantado o
Hino Nacional, sob os aplausos dos presentes, encerrou a sessão, que deixou profunda
impressão a todos que tiveram a ventura dela compartilhar, pelo cunho de civismo de
que se revestiu.
A revisão dos nomes das escolas 19
Flora Nobre