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e 21 a 25 de julho de 2009, Porto Velho - RO, foi sede
do 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base
- CEBs, encontro que acontece a cada quatro anos em
um estado do Brasil. O tema que norteou os trabalhos dos
cerca de três mil participantes, assessores e convidados
foi “CEBs - Ecologia e Missão - do ventre da terra, o grito
que vem da Amazônia”. A articulação entre fé e vida foi lembrada 1. Celebração durante o
por um provérbio africano partilhado por dom Moacyr Grechi, arce- 12º Intereclesial das CEBs,
bispo de Porto Velho: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em Porto Velho, RO.
lugares pouco importantes, conseguem mudanças extraordinárias”.
2 - Irmã Julieta Amaral da Costa.
Nesse sentido, o povo das CEBs mostra sua força no enfrentamento Fotos: Jaime C. Patias
dos grandes problemas da humanidade contribuindo para a sua
superação.
Mural-----------------------------------------------------04
Seguindo a metodologia já consagrada do Ver-Julgar-Agir, o Cartas
Encontro às margens do Rio Madeira, apontou desafios para a Igreja
e a sua missão também no contexto urbano. O primeiro deles vem OPINIÃO--------------------------------------------------05
Como estancar o desmatamento da Amazônia?
dos Povos Indígenas nas palavras de Eva Kanoé, educadora na Felipe Amaral
Terra Indígena Sagarana, primeira mulher a liderar a Coordenação
África----------------------------------------------------06
da União dos Povos Indígenas de Rondônia: “não é a natureza que O novo Eldorado do gigante asiático
precisa de nós, somos nós que precisamos dela. Queremos dizer ao Fernando Peinado
mundo e ao Brasil que estamos juntos com os não-índios na cons-
PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
trução de um outro mundo possível”. Essa atitude exige de todos, Discernimento vocacional
compaixão e solidariedade. O grito que brota do ventre da Terra pede Rosa Clara Franzoi
aos cristãos que se pautem por uma VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Karla Maria
- Setembro 2009 3
Mural do Leitor
Ano XXXVI - Nº 07 Setembro 2009 O grão de mostarda passam por nós despercebidos. De outro
Um amigo do Brasil perguntou-me lado situa-se na cultura dominante a lógica
Diretor: Jaime Carlos Patias porque deixei de escrever. Dei-me conta do mega, do big, do extraordinário, das
que nos primeiros meses, escrever era cifras, da eficácia, do lucro e do espetá-
Editor: Maria Emerenciana Raia uma necessidade pessoal. Após um ano de culo que produz visibilidade, impacto e
missão em Moçambique, mais ambientado barulho. Onde se coloca o valor da pessoa
Equipe de Redação: Patrick Gomes na cultura macua, se torna um desafio nesta lógica? Consciente ou inconsciente
Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César expressar o que sinto e vivo. quando colocamos esta lógica no primeiro
Caldeira, Karla Maria, Mário de Carli e Dizer o que para aqueles(as) que estão plano, passamos facilmente por cima das
do outro lado do Atlântico? Confesso que a pessoas e nos esquecemos do grão de
Michael Mutinda
tentação era expressar grandes coisas rea- mostarda ou da célebre frase de Jesus:
lizadas, curiosidades culturais ou os mega “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
problemas sociais de miséria, descaso na justiça e tudo vos será dado por acrésci-
Roseane de Araújo Silva, Humberto
educação e na saúde pública. Poderia mo” (Mt 6,33).
Dantas, Dirceu Benincá, Gianfranco
também relatar o número impressionante de Voltemos nosso olhar a Jesus que
Graziola, Ricardo Castro e Cecília
batismos, do acompanhamento ao projeto aponta o valor das pequenas coisas que
Soares de Paiva
de construção de dez poços este ano, de se tornam grandes na lógica evangélica.
iniciativas de auto-sustentabilidade, do “O grão de mostarda é a menor de todas
Agências: Adital, Adista, CIMI,
sínodo africano ou da caminhada sinodal as sementes, contudo quando cresce,
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência de cinco anos aqui na arquidiocese de torna-se uma árvore, vêm os pássaros
Notícias do Planalto e Vaticano Nampula, norte do país. e se aninham em seus ramos” (Mt 13,
32). Os preciosos grãos de mostarda são
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires
Néo Monteiro
4 Setembro 2009 -
Como estancar o
OPINIÃO
desmatamento da Amazônia?
Área perdida em junho equivale à metade
da cidade do Rio de Janeiro.
de Felipe Amaral que tudo indica ainda existe uma série de carências - que vão
desde a falta de pessoal e materiais para a fiscalização até a
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burocracia e corrupção.
ados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesqui- Além do fato de que hoje, pôr a floresta no chão é mais ren-
sas Espaciais (INPE) apresentaram um significativo tável economicamente para alguns segmentos do mercado local
aumento do desmatamento na Amazônia. Por meio do que preservá-la em pé. Preservar pode ser vantajoso para
da tecnologia implantada que possibilita identificar o outros segmentos com menor poder, mas certamente é melhor
desmatamento em tempo real, é possível ter dados para toda a sociedade. O que existe na verdade é a supremacia
concretos com uma margem de tempo curta. O DE- das formas de exploração, da floresta e dos homens e mulheres
TER, que significa Detecção do Desmatamento em Tempo Real, da floresta. Numa região onde a renda per capta é de R$ 28,00,
foi adquirido em 2004 com o objetivo de auxiliar na fiscalização de que vale ter a floresta?
e controle do desmatamento. O mais alarmante é que recentemente foram publicados os
Segundos os dados divulgados na página do INPE, o mês dados referentes ao desmatamento entre agosto de 2007 e julho
de junho apresentou um desmatamento de aproximadamente de 2008. Durante este período chegou a quase 13.000 Km². O
578 Km² na área da Amazônia Legal. Para os pesquisadores, assustador é que as áreas em risco, que estão em processo
o sistema não permite uma avaliação fiel do desmatamento, de destruição atualmente, áreas onde já existem indícios de
mas traça um panorama, e dá o alerta de possíveis focos de desmatamento, ou algum processo exploratório em andamento,
destruição da floresta. O fato é que em 99% dos alertas dados já somam 27.000 Km². Isto significa que a área que já começa a
pelo sistema no último mês se confirmaram. ser desmatada é o dobro da registrada no período 2007/2008.
Sabendo-se como funciona a dinâmica da destruição na floresta,
Plano ineficiente onde feridas são abertas e ali se inicia o desmatamento em um
O plano governamental instituído pelo Ministério do Meio processo contínuo e de rápida expansão, podemos contabilizar
Ambiente, conhecido como Desmatamento Zero, parece que não estas áreas como perdidas.
está contabilizando os números esperados. Existe um esforço E como estancar este processo? Não existe uma resposta
de governos e sociedade civil para uma redução drástica dos simples, nem mesmo soluções mágicas. As estratégias de ampliar
índices de devastação da cobertura vegetal na região, mas pelo e consolidar unidades de conservação são válidas e saudadas,
mas podem ser um esforço para termos
Luís Lopes
- Setembro 2009 5
O novo Eldorado
do gigante asiático
dos pobres resultados das receitas liberais. Crescem as vozes
Jaime C. Patias
Sinais preocupantes
O Ocidente teme um contágio do autoritarismo chinês, e o
discurso que Barack Obama fez em Gana enfatizou a necessi-
dade de que a África siga lutando pela democracia. Há sinais
preocupantes. Em uma recente visita oficial ao Parlamento
nigeriano, o presidente chinês, Hu Jintao, foi recebido com
um discurso em que se qualificava a China como “exemplo de
desenvolvimento e democracia”.
Rodovias próximas a Johanesburgo, África do Sul.
Além da perda de influência no terreno das ideias, as potên-
cias ocidentais estão preocupadas em ficar relegadas na corrida
O comércio da China com o continente pelas riquezas africanas, à qual outros atores emergentes, como
a Índia, o Brasil ou a Rússia, se dirigiram.
africano em 2008 foi dez vezes maior do A Rússia reaparece no continente depois de tê-lo usado
como campo de batalha na Guerra Fria. A perda de peso da
que no ano 2000. França nos países de fala francesa causou um debate nacional
sobre se a antiga metrópole não soube se adaptar com tempo
de Fernando Peinado
às mudanças no continente. “A maneira de medir a influência de
A
um país na África não pode ser hoje a mesma que há 20 ou 30
China encontrou na África, no começo do século XXI, anos”, explica Roland Marchal, investigador do Ceri/Sciences
o território virgem e promissor que lhe permite saciar Po, instituição com sede em Paris.“Então, tratava-se de uma
sua sede de recursos, da mesma forma que os EUA intervenção colonial, apesar de que esses países já haviam
tiveram o seu “far west” no século XIX, e a Europa, até adquirido a independência. A França colocava e retirava pre-
o século XX, no resto do mundo. Em 2008, o comércio sidentes a seu capricho, e suas companhias dominavam com
entre China e África alcançou um valor de 76 bilhões de exclusividade no Chade, na Mauritânia ou na Costa do Marfim.
euros, dez vezes maior do que no ano 2000. O número Agora, elas se dirigem para onde haja oportunidades de inves-
é quatro vezes superior ao total da ajuda oficial ao desenvolvi- timento, por exemplo, a África do Sul”.
mento que o continente africano recebeu em 2008. Os milionários investimentos chineses estão transformando a
O exótico encontro entre duas civilizações tão afastadas paisagem africana. Autoestradas, represas, portos e aeroportos
beneficia uma e outra. À China, ele traz as matérias-primas e são construídos em muitas ocasiões a pedido de Pequim, que
a energia que a sua voraz indústria necessita e, aos africanos, precisa dessas infraestruturas para transportar suas mercadorias.
um crescimento econômico sem precedentes desde os anos 60, Mas também transformam a paisagem humana com relevantes
quando a descolonização se acelerou. Nos últimos cinco anos, comunidades chinesas na África do Sul, em Angola, no Sudão
a África cresceu em média 5%. ou na Argélia. Calcula-se que já haja na África mais de 750 mil
A ofensiva econômica chinesa está substituindo as antigas emigrantes chineses, que trabalham em regime de semiescra-
potências coloniais europeias. Pequim oferece aos governantes vidão a partir dos parâmetros ocidentais.
africanos uma forma diferente de fazer negócio. Diferentemente Mas, ao mesmo tempo, a presença chinesa está gerando o
da prática de europeus e norte-americanos desde o começo dos ressentimento local. “A China está arruinando a indústria têxtil
anos 90, os investimentos e as ajudas chinesas não estão con- e a economia popular, que eram os motores da região. Só a
dicionados às reformas políticas ou humanitárias. “Você nunca África do Sul ou o Senegal se protegeram, aumentando tarifas”,
irá ouvir os chineses dizerem que não terminarão um projeto assegura Mbuyi Kabunda, professor do Instituto Internacional
porque o governo não fez o suficiente contra a corrupção. Se de Direitos Humanos de Estrasburgo.
eles prometem construir uma estrada, eles a farão”, disse um
porta-voz do governo queniano. Reportagem de Fernando Peinado, publicada no jornal espanhol El País, em 15 de julho de 2009.
O modelo chinês entusiasma os países africanos, cansados Tradução de Moisés Sbardelotto. Fonte: IHU – Instituto Humanitas da Unisinos.
6 Setembro 2009 -
pró-vocações
Discernimento vocacional
Consciência do “chamado” e da “resposta”.
de Rosa Clara Franzoi
adultos esbanjam, dificultam e até matam a própria vida e a
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vida dos outros. São pessoas que diante da proposta do cha-
ando continuidade à reflexão sobre vocação, veremos mado de Deus à existência, não perceberam e nem querem
que existe todo um processo para alguém poder perceber o extraordinário valor da vida humana, com todas
chegar a optar por uma vocação e não ter que se as possibilidades de se realizar e ser feliz. Esta é uma forma
arrepender em seguida. A este processo chamamos de estar dizendo ‘não’ a Deus. É terrível: fazendo uso da sua
‘discernimento vocacional’, ou seja, uma busca de liberdade, a pessoa consegue destruir o sonho de Deus que
conhecimentos sobre as várias vocações, para chegar é o de vê-la desenvolvendo em harmonia dons e capacidades
a fazer a escolha certa. Tanto o discernimento como a voca- para a sua realização e o bem de todos neste mundo.
ção nos remetem ao tema de um Deus que chama e
a pessoa que dá sua resposta, que pode ser positiva
Jaime C. Patias
ou negativa; porque o ser humano foi dotado por Deus
do dom da liberdade. Deus nunca força ninguém; ele
escolhe, convida, aponta o caminho, prontifica-se até
a caminhar com a pessoa, dando-lhe a luz necessária,
mas a decisão é pessoal.
- Setembro 2009 7
sua história, o Seminário teve uma vida movimentada
desde a sua fundação por S. De Jaccobis em Guala,
em 1845, há cerca de164 anos, em meio a persegui-
ções e a outras dificuldades. Em 1869, o Seminário
foi transferido para Keren para depois voltar para
Asmara em 1959. Somado ao significado histórico
das ordenações é preciso recordar que, depois da
estruturação da Igreja Católica na Eritréia em três
dioceses, ocorrida em 1995, é a primeira vez que as
dioceses de Asmara e Keren ordenam cada uma seis
sacerdotes diocesanos.
Timor Leste
O regresso dos deslocados
O drama de quem foi obrigado a deixar a sua
própria casa, terra, todos os bens e as propriedades
é bem conhecido pelo povo do Timor Leste: a nação,
desde o seu nascimento, foi marcada pelo conflito
entre facções pró-Indonésia e independentistas que
Venezuela causaram o deslocamento de milhares de pessoas.
VOLTA AO MUNDO
N
ficarem fechados. A Escritura recorda que estavam com as portas
o ano de 2008, 20 missionários foram mortos no seu e janelas fechadas por medo, quando Jesus apareceu. O mesmo
serviço à missão, sendo oito só no continente asiático. aconteceu no dia de Pentecostes. Porém, a vinda do Espírito
Estes são números oficiais e, muitas vezes, reportam Santo dá novo alento aos discípulos, eles vencem o medo e se
apenas os missionários religiosos, esquecendo os leigos, lançam na aventura missionária: “Recebereis o Espírito Santo e
por isso, acredita-se que o número seja bem maior. Ele vos dará força!” (Atos 1, 8). O Espírito é a força que liberta do
Com uma população beirando os quatro bilhões, a Ásia medo, “empurra” para a missão ou como recorda a Redemptoris
conta hoje com apenas 100 milhões de católicos. A percentagem Missio, ele é o protagonista da missão.
de cristãos na Ásia é a menor em relação aos outros continentes. Peçamos então que estes nossos irmãos cristãos que en-
Não é de se admirar que o continente seja hoje o grande desafio contram tantas dificuldades pelo simples fato de serem cristãos
da missão. A intenção missionária deste mês traz em particular tenham a força necessária para não abandonar a sua fé, que não
três países asiáticos: Camboja, Laos e Myanmar. Lembrando que se sintam desencorajados e amedrontados, mas que a força do
este último país é governado por uma junta militar golpista. São Espírito esteja ao seu lado em todos os momentos e que o seu
países do sudeste asiático, onde a população cristã representa testemunho possa ser uma semente para que Jesus continue
1% no Camboja, 2,1% no Laos e 4% no Myanmar. Ser cristão sendo anunciado como o Salvador de toda a humanidade.
num contexto minoritário não é tarefa fácil, acrescido que muitas
vezes ser cristão significa ser perseguido. Assim, queremos este Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.
vindos de diversas dioceses do Brasil, sua opção pelos pobres e pelo Reino. Foi
o Centro Cultural Missionário (CCM de oferecida uma visão geral dos documentos
Brasília, DF) realizou, de 12 a 22 de julho, do Concílio Vaticano II até a Conferência
a quarta edição do Curso “Formação de Aparecida. O curso proporcionou uma
Missionária para Seminaristas”. Foram grande abertura à realidade missionária
dias de intensa troca de experiências, no Brasil e além-fronteiras e ajudou a
momento privilegiado para os partici- estreitar laços entre as diversas casas de
pantes alargarem os horizontes numa formação. Outros momentos importantes
maior compreensão da missão. Entre os temas abordados foram as visitas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
destacaram-se as motivações pessoais para a missão, a (CNBB) e às Pontifícias Obras Missionárias (POM).
teologia missionária de Paulo e o encontro com outras ex-
pressões religiosas, proporcionando aos participantes uma Fonte: CCM
- Setembro 2009 9
espiritualidade
O grito de Ester
A Bíblia é rica em exemplos de personagens que
“gritam” a Deus em suas aflições.
Jaime C. Patias
Grito dos Excluídos 2007, São Paulo, SP.
de Patrick Gomes Silva “gritam” a Deus para que os escute na residentes dentro das fronteiras daquele
C
aflição. Assim, queremos olhar para os imenso Império. As figuras centrais do
elebrar o Dia da Pátria é um ato gritos de hoje à luz de Ester e, por meio livro são um judeu de nome Mardoqueu
de singular importância na vida deste texto bíblico, rezar e gritar por e com e sua parente protegida chamada Ester,
de qualquer país. No Brasil, 7 todos os excluídos. A oração se encontra nome de ressonâncias simultaneamente
de setembro é a data oficial da no Livro de Ester, capítulo 4, versículos 12 babilônicas e persas. Mardoqueu surge
Independência. Contudo, para a 30. O livro possui alguma problemática como chefe da comunidade judaica; Ester
milhões de brasileiros, ainda hoje quanto ao texto, já que chegou até nós é a personagem decisiva no desenrolar
essa independência não se completou. com variantes provenientes de um texto dos acontecimentos. O livro descreve uma
Por isso, há 15 anos, os movimentos hebraico e grego, porém, aqui não iremos ameaça de morte que se transformou
sociais promovem nesse mesmo dia, em considerar tal questão, apenas olhar para numa afirmação de triunfo. Semelhante
todo o país, o Grito dos Excluídos, como o texto tal qual o lemos na Bíblia. sucesso merece ser celebrado e recordado.
a voz daqueles que esperam pela justa E, de fato, o livro de Ester culmina numa
libertação. São milhões de “gritos” para O livro de Ester festa anual, ainda hoje celebrada entre os
que a vida esteja em primeiro lugar. “A O livro de Ester é uma apaixonada judeus: a festa de “Purim”, ou das sortes
força da transformação está na organi- descrição das experiências dramáticas lançadas e transformadas.
zação popular”. pelas quais passou a comunidade hebraica
“Gritar” contra as injustiças é uma ati- de Susa quando era capital do Império Introdução ao texto bíblico
tude muito humana. A Sagrada Escritura Persa. O texto sugere que os aconteci- A jovem esposa do rei da Pérsia,
é rica em exemplos de personagens que mentos afetariam a vida de todos os judeus Ester, toma conhecimento de que, devido
10 Setembro 2009 -
às intrigas palacianas, fora decretado o
extermínio dos hebreus deportados no
reino. A rainha, na tentativa de salvar o
povo a que pertencia, decide expor-se
Passos da Leitura Orante da Palavra
ao perigo, intercedendo por ele junto do Disposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento
marido. Mas, antes de se apresentar ao e a escuta da Palavra de Deus.
rei, apresenta-se ao Senhor, numa atitude
de penitência e de oração.
1. Invocação ao Espírito Santo
Peça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar”
Leitura
A oração da rainha Ester manifesta a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor, o teu
a forma clássica de oração do povo de Espírito”.
Israel, encontrada sobretudo, no livro
dos Salmos. 2. Leitura (o que a Palavra diz em si)
A primeira parte é um apelo ao pas- Objetivo: Conhecer bem o texto (Ester 4, 12-30)
sado. Quando o israelita clama pelo • Ler devagar e sem pressa!
“Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”, • Sublinhar o que achar importante
ele não apenas relembra os seus feitos, • Ler os comentários presentes na Bíblia
mas requisita para si a aliança contraída • Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil
entre eles e Deus em favor de todo o Algumas perguntas podem ajudar:
povo. Assim, o fiel recorda que é parte Quais são as personagens? Onde decorre a ação?
do povo da aliança e, nesta situação
Quando acontece? O que fazem as personagens?
“confortável”, dirige-se confiante ao Deus
a quem pertence.
Em seguida procede-se à anamnese, 3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim)
ou seja, o fiel “recorda” a Deus todos os Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem!
seus feitos passados como um justo pre- Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - Memorizar
cedente para agir também no presente. Confrontar a sua vida atual com a Palavra escutada:
Obviamente este recordar serve, não a. Sua vida com Deus
para Deus, mas para a própria pessoa b. Sua vida com os outros
que ora, que, lembrando das façanhas c. Sua vida consigo mesmo
dos antepassados, graças ao auxílio do
Senhor, fortalece a confiança de sua alma 4. Oração (o que a Palavra me faz dizer)
e a prepara para fazer sua prece. Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas:
Outro elemento de fundamental im- 1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida
portância para a eficácia da prece eram
2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e opera em sua
os méritos do fiel orante, como que uma
vida
prerrogativa para falar com Deus e alcançar
3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom do Espírito
o que se pretende. Por isso, a sua terceira
estratégia nesta forma de oração é falar Santo.
da própria retidão e pureza. É como dizer
ao Senhor: “fiz minha parte e espero que 5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus)
faças a tua”. Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio.
Por último o fiel contrapõe a sua fé e Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença.
equidade à descrença e iniquidade dos seus
algozes. O inimigo do povo de Deus é, por 6. Missão e Ação (a Palavra me leva aos outros)
conseguinte, inimigo direto do próprio Deus. A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deus tem a
Desta forma, quem ora reforça o pedido dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos e irmãs e de
para que o Senhor se posicione ao lado se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
daqueles que lhe pertencem, destruindo
os seus detratores. Deste modo, todos
poderão reconhecê-lo como verdadeiro
Deus e professar que Ele é o Único. monstrada. Apresentando-se diante de De modo especial por aqueles que são
Deus na sua pequenez e fragilidade, ela os excluídos? O exemplo de Ester nos
Meditação lhe fala de sua solidão. E Deus escuta a leva a crer que Deus escuta os “gritos”
A oração de Ester é feita numa si- sua súplica angustiada. daqueles que a Ele recorrem. O texto
tuação de extrema angústia, não por A passagem bíblica leva-nos a me- termina com o alcançar da graça pedi-
causa de si mesmo, mas por causa do ditar sobre a oração, e a forma como da, assim, temos a certeza de que não
seu povo ameaçado de morte. A rainha fazemos a nossa prece, tantas vezes estamos sós e abandonados nesta luta,
apresenta-se só diante de Deus para marcada por uma oração egoísta que mas ao contrário temos um Deus que
Lhe recordar a vocação do seu povo e a não pensa em quem está ao nosso lado, nos acompanha pelas estradas da vida,
história passada semeada de benefícios mas unicamente nos nossos próprios escutando os “gritos” do seu povo.
divinos. Ester não confia em si mesma, interesses. Ester intercede a Deus pelo
nos seus méritos, mas na bondade e na seu povo. Será que nossa oração tam- Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José
misericórdia de Deus tantas vezes de- bém inclui a intercessão pelos outros? Allamano, em São Paulo.
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Violência religiosa na Ín
testemunho
H
Como minoria, os cristãos indianos são
á séculos as pessoas procuram
pela terra dos segredos; uma
relata o calvário que vítimas das maiores ondas de violência,
que se iniciaram às vésperas do Natal de
pátria capaz de desvendar o
segredo da existência e de dar a
suas coirmãs de 2007, explodindo com força em agosto de
2008. Hindus fanáticos, da Organização
oportunidade de partilhar com a
humanidade o misterioso sentido
congregação e demais Nacional dos Voluntários (Rashtrya Swayen-
sevak Sangh – RSS) deixaram rastros
da vida. Em outras palavras, as pessoas
buscam a terra da “unidade na diversidade”
compatriotas cristãos de destruição nas comunidades cristãs.
Estes foram acusados pela morte do líder
onde seja possível viver a comunidade, estão enfrentando por nacionalista e radical da RSS, Laxmananda
compadecer-se de si próprios e dos outros. Saraswati. O assassino de Saraswati é réu
A Índia possui esses tais segredos. causa de uma onda de confesso, entretanto, os cristãos continuam
sendo responsabilizados por essa morte e
O cristianismo na Índia fanatismo religioso. também porque suas obras sociais estão
A religião cristã chegou à Índia, como incomodando os nacionalistas radicais e
também à Europa, mais ou menos há ainda porque o cristianismo não para de
dois mil anos. Consta que o apóstolo São atendendo os necessitados e construindo crescer. Milhares de cristãos, incluindo
Tomé converteu a Jesus muitos indianos. escolas. Porém, estes não conseguiram padres e religiosas tiveram que se refugiar
Mais tarde chegaram também os europeus fazer um trabalho evangelizador como na floresta, apenas com a roupa do corpo,
para o comércio, e acabaram convertendo esperavam, pois esbarraram com as pro- passando fome e o incômodo dos insetos e
também os locais de trabalho em espaços fundas raízes hinduístas e islâmicas das animais peçonhentos. Centenas de igrejas,
cristãos. Sob o domínio inglês, a partir do populações locais. Atualmente, 74% dos conventos, instituições, casas de família,
século XVIII, missionários protestantes indianos são hindus, 12% são islâmicos e carros e outros pertences particulares
ingleses dedicavam-se não só à evangeli- menos de 3% da população é cristã, com viraram cinzas. Sacerdotes foram humilha-
zação, mas também aos trabalhos sociais, predomínio protestante. dos, mulheres, inclusive religiosas foram
12 Setembro 2009 -
ndia
que delas nasçam novos cristãos”. A Igreja
Católica, pela sua própria natureza, é
chamada a uma missão de paz e o povo
cristão, apesar de tanta violência, ainda
vive a sua fé. Ao contrário, pelo exemplo
dos cristãos, outras pessoas, que não são
cristãs, pedem para conhecer Jesus. Sim,
até quem não é cristão, percebe o amor e
a misericórdia do coração de Deus.
A lei anticonversão
Segundo a Constituição indiana, nenhu-
ma religião tem o direito de forçar alguém
a se converter à sua crença. Assim é na
teoria e a nossa Igreja também concorda
neste ponto; tanto é verdade que a maioria
dos católicos indianos não é de conversão
recente; eles provêm da longa tradição
cristã. Entretanto, algumas correntes pro-
testantes são acusadas de promover o
proselitismo religioso. Por não conhecerem
Mulher indiana. a distinção entre católicos e cristãos, os
hindus radicais atacam indistintamente a
raptadas, violentadas e expostas nuas em Igreja e fortalece as pessoas a ponto de todos. Acredita-se que a Lei Anticonversão
praça pública. Muitas pessoas foram mortas enfrentar, com fé e firmeza, a violência na seja usada por motivos políticos por alguns
e seus corpos foram esquartejados. vida pessoal, eclesial e social. grupos, já que a Igreja é responsável por
obras de promoção humana.
A vida como maior bem Ser sal e luz do mundo
“Não matar”, ordena o Livro Sagrado Os hinduístas fanáticos apertam sempre Previsões animadoras
(Ex 20,13). Isto significa que cada pessoa é mais o cerco, por isso, nós devemos ser Esta triste tragédia traz à lembrança as
amada por Deus. Por isso, a vida deve ser “sal e luz” (Mt 5, 13-14), para respondermos palavras do profeta Jeremias: “Não cessa
cuidada e respeitada como dom de Deus. à violência como fez Jesus, retribuindo de voltar todos os dias a mão contra mim.
Proclamando a sua Palavra - que é perdão, com o bem o mal recebido. Solidária com Já consumiu minha carne e minha pele e
cura e vida nova - a Igreja denuncia a raiz o povo que sofre, a Igreja na Índia viveu partiu os meus ossos. À minha volta armou
da violência. Com sua morte e ressurreição, dias de jejum e orações, como protesto em um cerco de veneno e amargura. Fez-me
Jesus destruiu o muro do ódio que dividia favor da paz. Foram dias de muita tristeza morar nas trevas como os que morreram
o Povo de Deus (Ef 2, 13-17). A comuni- e de medo, com lágrimas a escorrer pelo há muito tempo” (Lm 3, 3-6).
dade cristã da Índia acredita no Reino de rosto. Porém, acreditamos que todas estas Nossa Igreja indiana está convencida
Deus, que se completará no “novo céu e provações não significam derrota; mas, que todo esse sangue não pode permane-
na nova terra” (Ap 21, 1-4). É o Espírito são a proclamação de que o sofrimento cer estéril; à sua hora ele há de produzir
de Deus que guia e que transforma a sua e a perseguição, “são sementeiras para muitos frutos. Não diz um padre da Igreja,
que “o sangue dos mártires é semente
de novos cristãos?” As projeções para
o futuro são animadoras. Prevê-se que
em 2010 os católicos, serão 30 milhões.
Dos católicos atuais, 60 a 70% pertencem
à subcasta dos dalit = os intocáveis. É
justamente por isso que aos católicos é
negada a vida com seus direitos. Meu
país há milênios pratica a espiritualidade
silenciosa, mística; e através dos seus
costumes e rituais, busca um Deus que
une todos numa grande família. A atual
violência contra a religião cristã provém
de grupos fundamentalistas, alheios às
tradições da maioria hindu, que partilha
conosco os seus valores e a fé. De qualquer
forma, nós católicos, estamos vivendo uma
profunda experiência de Deus através
da dor e da provação. Resta-nos unir as
forças para a construção de um mundo
novo nesta querida pátria indiana.
- Setembro 2009 13
fé e política
Cuidar da vida
Chegando à 7ª edição, o Encontro Nacional de Fé e Política
se realizará na cidade de Ipatinga, em Minas Gerais, nos dias
28 e 29 de novembro deste ano. Com o tema “Cuidar da vida:
Espiritualidade, Ecologia e Economia”, o Movimento Nacional
Fé e Política espera que mais de 6.000 pessoas de todas as
regiões do Brasil participem do evento. “O Encontro vem contri-
buir com simplicidade e humildade para discutir temas atuais”,
informa Teresinha Toledo. A Região Nordeste é o foco para
sediar as próximas edições. “Nós não fizemos ainda nenhum
encontro no Nordeste, mas acreditamos que existam grupos
grandes que queiram aderir ao movimento”, explica Teresinha.
Normalmente, as cidades que desejam acolher os Encontros
fazem uma pré-inscrição.
O Estado mineiro tem se empenhado nos últimos anos em
promover encontros, debates, fóruns em torno da participação
da Redação política e da responsabilidade dos cristãos para com o momento
político vivido pela sociedade. Entre as ações exercidas estão
S
a mobilização em torno de políticas públicas e a fiscalização
urgido no final da década de 80 do século passado, da corrupção eleitoral. Estes movimentos têm ganhado força e
com o intuito de reunir grupos informais de reflexão, o espaço na mídia local. O objetivo é lutar pela construção de uma
Movimento Nacional Fé e Política reúne grupos cristãos sociedade alternativa ao capitalismo neoliberal, disseminando a
engajados na política à luz da fé cristã. O Movimento reflexão política, a vida espiritual e a subjetividade daqueles que
tem cunho ecumênico e está aberto a todas as pessoas estão comprometidos com a prática política e social. Aqueles que
que consideram política a dimensão fundamental da abraçam a causa do Movimento rejeitam os valores individualistas
vivência de sua fé. De acordo com Teresinha Toledo, uma das e de absolutização do mercado, defendendo a solidariedade,
coordenadoras, o Movimento é um espaço de reflexão da fé e a cooperação e o direito de todos à vida em plenitude. Lutam
política. “Nós nunca nos preocupamos em ser entidade. Nós ape- por uma sociedade socialista. Para os militantes, as classes
nas animamos e fortalecemos a reflexão do assunto”, esclarece. populares são o principal sujeito de sua história. O Movimento
O sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, membro da Coordenação Fé e Política pretende propiciar aos cristãos engajados na
Nacional explica que o Movimento Nacional Fé e Política “foi política um espaço de reflexão das atividades à luz da fé, dos
motivado pela preocupação de assessores das Comunidades valores evangélicos e dos deságios dessa realidade marcada
de Base e das pastorais sociais entre os anos de 1985 e 1987 pela crescente pobreza e exclusão.
a partir de um texto do teólogo Clodovís Boff sobre os cristãos
e a política, escrito para preparar o 6º Encontro Intereclesial Inscrições para a 7ª edição
das CEBs. Esse foi o começo da história. Nós já tínhamos uma As inscrições para o 7° Encontro podem ser feitas até o
preocupação sobre a questão, mas aquele artigo provocou um dia 11 de setembro pelo site www.fepoliticamg.org.br e custam
debate. Então pessoas ligadas ao Centro de Direitos Humanos R$20,00. Depois desta data e até 13 de novembro custarão R$
de Petrópolis, entre eles Leonardo Boff, Márcia Miranda e Adair 30,00. Mais informações pelo telefone: (31) 3821-8087 com a
Rocha promoveram alguns encontros com intelectuais, políticos Secretaria do 7° Encontro, em Ipatinga (MG), ou com a Secretaria
e assessores das CEBs”. No dia 24 de junho de 1989, realizou- Nacional do Movimento Fé e Política (11) 2081-0294.
se no Rio de Janeiro um encontro maior com umas 30 pessoas.
Naquela altura foram estabelecidas três prioridades: a formação
em termos de pensamento, com a criação de um Caderno de Fé Da redação com informações da Agência Adital e do Movimento Fé e Política.
14 Setembro 2009 -
CEBs
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
e o grito da Amazônia
Texto e fotos de Jaime Carlos Patias
R
ealizado a cada quatro anos
desde 1975, o Intereclesial
das CEBs é um dos eventos
mais importantes da Igreja
no Brasil. A sua 12ª edição
aconteceu em Porto Velho, às
margens do Rio Madeira, no coração
da Amazônia, entre os dias 21 e 25
de julho. Foram inscritos no evento
3.010 participantes de todas as dio-
ceses do país, além de assessores e
convidados. Coube ao Secretariado
Nacional articular a preparação e a
realização do encontro. Nas bases, as
dioceses dos 17 Regionais da CNBB
se organizaram para enviar à capital
de Rondônia seus representantes. O
12º Intereclesial contou com o apoio
de 10 equipes de serviços: comu-
Participantes do 12º Intereclesial reunidos no Ginásio do SESI, Porto Velho, RO.
nicação, transporte e hospedagem,
liturgia, saúde, alimentação, anima- las, seringueiros, ribeirinhos, posseiros,
ção, oficina criativa, ornamentação e "Não é a natureza que pescadores e migrantes do campo
infraestrutura.
precisa de nós, somos nós e da cidade dançaram e colocaram
no altar três grandes tochas. Nelas,
As CEBs na Amazônia que precisamos dela". foram acesas as velas dos cerca de
Várias delegações viajaram dois, quatro mil presentes na cerimônia. As
três e até cinco dias, em sua maioria luzes se espalharam pelos degraus
com ônibus fretados, ou em barcos e superação. A celebração de abertura da esplanada.
aviões. Muitos bispos acompanharam foi realizada ao cair da tarde do dia 21,
as caravanas que, ao longo do caminho na praça ao lado da antiga estação fer- A organização
foram acolhidas por dioceses e paró- roviária Madeira-Mamoré. Ela recorda Além do grande plenário chamado
quias. Na capital de Rondônia todos aos trabalhadores que construíram a “Porto” que se reunia no Ginásio do
contaram com uma generosa acolhida ferrovia e aos indígenas e migrantes SESI, aclamado pela Assembleia “Porto
das famílias e comunidades em 16 pa- nordestinos, o sofrido ciclo da borracha de dom Hélder Câmara”, recordando o
róquias além do apoio do Secretariado na Amazônia. Dando as boas vindas, centenário do seu nascimento (1909-
e das equipes de serviço, em que se dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto 2009), a programação reservou boa
destacaram jovens voluntários. Velho lembrou as sábias palavras do parte do tempo para os trabalhos em
O tema que norteou os trabalhos provérbio africano: “gente simples, doze mini-plenários de 250 participan-
foi “CEBs - Ecologia e Missão - do fazendo coisas pequenas, em lugares tes, nas paróquias e escolas da capital.
ventre da terra, o grito que vem da pouco importantes consegue mudanças Estes levavam os nomes de 12 rios
Amazônia”. Mais uma vez, o povo das extraordinárias”. Essa convicção foi da bacia amazônica: Madeira, Juruá,
CEBs mostrou sua força no enfren- relembrada muitas vezes durante o Purus, Oiapoque, Guamá, Tocantins,
tamento dos grandes problemas da encontro. Representantes dos vários Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi,
humanidade, contribuindo para a sua povos da floresta, indígenas, quilombo- Araguaia e Jari. Em outros momentos,
- Setembro 2009 15
Amazônia só será ouvido se as reli-
giões se derem as mãos. Chega de
divisão, de preconceito e de guerras
por motivos religiosos. Chega de ódio
por projeção distorcida da verdade que
liberta”, disse. O muçulmano Mohamad
Zaglout apontou a discriminação das
religiões como empecilho à paz. “Todas
as religiões possuem a mesma mensa-
gem: paz, amor e submissão ao Deus
único”, considerou. Na sua opinião,
“conhecer a religião do outro ajuda a
construir a paz”. Para os indígenas,
a paz significa o respeito aos seus
direitos: “a paz que nós queremos é
que todas as terras indígenas sejam
demarcadas”, disse a líder Hosana
Puruborá. Na opinião do pastor lu-
Participantes do 12º Intereclesial no Ginásio do SESI durante o Pai Nosso.
terano, Alan Shulz, representante do
os mini-plenários foram divididos em para rezar e assumir um compromisso Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
12 grupos chamados “Canoas”, com pela paz. Compareceram representan- do Brasil “Deus, que cuida da criação,
aproximadamente 20 pessoas cada. As tes das religiões indígenas e dos cultos pode ser encontrado em todas as reli-
manhãs eram ocupadas por reflexões afro-brasileiros, de judeus, cristãos giões”, concluiu, destacando o caráter
e partilhas de experiências entre os ortodoxos, católicos, evangélicos e macroecumênico do encontro.
grupos. Na parte da tarde, os trabalhos muçulmanos. Na sua intervenção, o
aconteciam na grande Assembleia presidente da CNBB, dom Geraldo Testemunhos proféticos
reunida no “Porto”. À noite, centenas Lyrio Rocha, representante da Igreja Uma oração dos índios Xerente
de ônibus transportavam as delegações Católica afirmou: “o grito que vem da do Tocantins, homenageando o amigo
para as paróquias onde aconteciam e missionário do Cimi, padre Gunter
outras atividades e celebrações antes Kroemer, falecido no dia 15 de julho,
Os números do
do descanso nas famílias. introduziu três testemunhos de vida
que emocionaram a plateia: dom José
A realidade e a missão Maria Pires, Marina Silva e dom Pedro
A análise da conjuntura sociopolí- Casaldáliga.
tica e econômica foi apresentada pelo
professor Pedro Ribeiro de Oliveira.
Na perspectiva das mulheres pela irmã
Intereclesial “Negros são diferentes, brancos
são diferentes; é preciso respeitar e
aceitar estas diferenças”, afirmou dom
Julieta Amaral da Costa e do ponto O encontro reuniu mais de José Maria Pires, arcebispo emérito
de vista ecológico por Leonardo Boff. cinco mil pessoas, entre partici- da Paraíba. Dom Zumbi, como é co-
Seguindo a metodologia já consagrada pantes, convidados, equipes de
do Ver-Julgar-Agir, os participantes serviço, famílias acolhedoras e
mergulharam na realidade local para imprensa.
ouvir o grito profético da terra e dos Os delegados somaram 3.010
Povos da Amazônia, símbolos da hu- de quase todas as 272 dioceses
manidade. do Brasil, sendo 2.174 leigos:
Iluminados pela leitura da realida- 1.234 mulheres e 940 homens;
de e atendendo ao convite de Jesus: 197 religiosas, 41 religiosos, 331
“Vinde e vede” (Jo, 1, 39), organizados padres e 56 bispos, dentre os
em grupos, no terceiro dia os partici- quais um da Igreja Episcopal
pantes partiram em missão entre as Anglicana do Brasil, além de pas-
populações indígenas, comunidades tores, pastoras e fiéis das Igrejas
afrodescendentes, ribeirinhas, extra- Anglicana, Metodista, Evangélica
tivistas, assentamentos rurais, áreas de Confissão Luterana no Brasil e
de ocupação, bairros da periferia, hos- Igreja Unida de Cristo do Japão. A
pitais, prisões, casas de recuperação presença de 38 nações indígenas
de pessoas com dependência química, e representantes de nove países nhecido, fez um relato fiel do que foi
menores e pessoas com deficiência. A latino-americanos e caribenhos, e é a opressão deste povo no Brasil,
partilha revelou uma rica experiência cinco da Europa e um da África, desde a época colonial, certo de que
e o desafio de se comprometer com Ásia e América do Norte, mostrou o dia 13 de maio (assinatura da Lei
a missão. o caráter pluriétnico, pluricultural e Áurea) não é data comemorativa para
A oração da manhã do último dia plurilinguístico da Assembleia. os negros, pois a libertação dos escra-
reuniu líderes de oito religiões e Igrejas vos trouxe benefícios apenas para os
16 Setembro 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
brancos. Retratando a escravidão e sua e mesmo assim não foi condenado
cultura de caracterizar o povo negro “Gente simples, ainda”, recordou.
como inferior, dom José fez a passa-
gem para os dias atuais e defendeu fazendo coisas Lições das CEBs
veementemente a consciência de que
negro ou branco não são superiores pequenas, em lugares Uma das grandes lições do 12º
Intereclesial poderia ser sintetizada
ou inferiores, são apenas diferentes
e essas diferenças precisam ser res-
pouco importantes nas palavras de Eva Kanoé, educadora
indígena, primeira mulher a liderar a
peitadas. “A Igreja nada fez contra a
escravidão, pois se servia dela, como
consegue mudanças Coordenação da União dos Povos Indí-
genas de Rondônia: “não é a natureza
contam as cartas dos jesuítas. Até
muito pouco tempo as congregações
extraordinárias”. que precisa de nós, somos nós que
precisamos dela. Queremos dizer ao
religiosas não aceitavam negros”,
disse. Ele também lembrou dois reli-
giosos que são considerados negros
honorários: dom Pedro Casaldáliga
e dom Paulo Evaristo Arns, por suas
ações em defesa de direitos iguais. O
religioso de 90 anos destacou ainda
a importância feminina: “a terra tem
força, a mulher tem força e isto precisa
ser lembrado”.
“É preciso ter fé. Ter fé em Deus,
na vida e em você. A fé remove monta-
nhas”, testemunhou a senadora da Re-
Residindo já em Rio Branco, com in- mundo e ao Brasil que estamos juntos
centivo do pai, Marina mais uma vez com os não-índios na construção de
foi acometida pela hepatite e desta um outro mundo possível”, disse. O
vez se salvou da morte com o apoio Intereclesial reforçou a necessidade
de dom Moacyr Grechi. urgente de uma ética de responsabi-
Lutadora e defensora do meio lidade pelo futuro da humanidade que
ambiente, a senadora é o retrato de nos permita um controle das conse-
um ser humano que não desiste e não quências de nossos atos.
perde a fé. Ao final de seu testemunho, Outro desafio para a Igreja brota
pública e ex-ministra do meio ambiente, Marina Silva repetiu que “a fé remove da articulação entre fé e vida, uma das
Marina Silva. Filha de seringueiros montanhas. Não aquelas que podemos marcas das CEBs. O povo das CEBs
contraiu leishmaniose ainda criança ver, mas aquelas que nos chegam na segue acreditando que os pequenos
e viu seu pai caminhar por 22 horas forma de dificuldades da vida”, disse e excluídos podem e devem fazer a
para trazer um remédio que evitaria emocionada. diferença. Nesse sentido, segundo o
que a doença deformasse seu rosto. Dom Pedro Casaldáliga não esteve teólogo Leonardo Boff, “o Intereclesial
Este gesto de amor marcou sua vida. presente fisicamente ao evento, mas evidenciou uma Igreja em movimento e
Sua batalha pela sobrevivência pros- enviou uma mensagem em vídeo abor- não-institucional, organizada em rede de
seguiu e aos 14 anos viu primos, irmãs dando vários aspectos. “CEBs não é comunidades, com suas expressões de
e a mãe morrer vítimas de doenças movimento, mas sim movimentação”, fé, encarnada nas mais diversas culturas
ocasionadas pela construção da BR disse o bispo emérito de São Félix do dos povos”. A vivência em Comunidades
364, entre Porto Velho e Rio Branco. Araguaia, MT, ao relembrar o papel de Base tem nos Povos Indígenas,
Nesta mesma época contraiu hepatite das comunidades. “A Igreja é o povo e camponeses, seringueiros, ribeirinhos
e por erro médico tomou comprimidos fundamentalmente formada por leigos e quilombolas os maiores exemplos de
utilizados para tratamento de malária. e leigas. As CEBs são encontros inter- comunhão com a natureza e respeito
Debilitada e sem condições de traba- religiosos e interculturais, pois Deus a toda criação e às pessoas.
lho, Marina Silva contou que sofreu não se fecha e sim se abre para as Para o teólogo Benedito Ferraro “o
de depressão, mas venceu esta fase missões”. Comentando sobre a crise grande papel das CEBs nesses mais de
difícil mais uma vez amparada pela econômica, dom Casaldáliga afirmou 40 anos de existência é mostrar uma
fé. Após alguns anos, ela iniciou a que “a Igreja precisa condenar o ca- Igreja com forte compromisso social
luta para aprender a ler e a escrever. pitalismo, pois é um pecado social na busca pela libertação em todos
- Setembro 2009 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
J. Custódio
No dia 25, sábado à tarde, uma grande celebração à beira do rio, já
caminhada de três quilômetros marcou bastante modificado pela construção
o encerramento do 12º Intereclesial. da barragem. O povo ouviu a procla-
Cerca de 10 mil pessoas percorreram mação das bem-aventuranças e fez
as ruas da capital de Rondônia em um ato penitencial. Foram lembrados
direção ao estádio Aloísio Ferreira, mártires como as irmãs Dorothy Stang
animadas por enorme trio elétrico, e Maristela, os padres Ezequiel Ramin
cantando canções das CEBs e ou- e Josimo, os bispos Oscar Romero e
vindo pronunciamentos. A missa no Hélder Câmara, Santo Dias, Chico
estádio foi presidida pelo arcebispo Mendes, Ivair Higino, João Canuto, entre
de Porto Velho, dom Moacyr Grechi, outros. Durante a celebração, o som
concelebrada pelo presidente da CNBB, dos cânticos do povo se misturava com
dom Geraldo Lyrio Rocha e inúmeros os fortes estrondos das dinamites que
outros bispos e padres. Refletindo explodiam as pedras no Rio Madeira,
sobre o texto bíblico da multiplicação mudando seu curso.
dos pães, dom Moacyr destacou a As máquinas na Usina de Santo
importância da eucaristia na vida das Antônio começaram os trabalhos em
comunidades. “Não há fonte de graça 2007 e a previsão é de que em 2016
comparável à eucaristia”, disse. Segun- ela comece a funcionar, gerando 73,5
do o arcebispo, ao multiplicar os pães, megawatts por hora. Além da usina, há
Jesus mostra que veio para satisfazer a construção de eclusas, hidrovias e de
a necessidade de todos, mas conta uma linha de transmissão de 3.070 km,
com a colaboração humana. “Deus não que sairá de Porto Velho para abaste-
faz nada sozinho. Quer sempre contar cer o estado de São Paulo. Para estas
com nossa colaboração. Ele não quer obras estão sendo investidos cerca de
que uns filhos comam demais e outros 28 bilhões de reais, arcados em maior
passem fome”, acentuou. parte pelo governo, com investimento
Em nome da CNBB, das dioceses do Banco Nacional de Desenvolvimento
representadas e de todos os partici- Social - BNDES. Para Hilton Veiga
pantes, dom Geraldo Lyrio agradeceu Monteiro, morador de Rondônia, a
a arquidiocese de Porto Velho pela usina trará desenvolvimento e econo-
acolhida. Já o presidente da Comissão mistas garantem que será um atrativo
de Karla Maria
para a Amazônia da CNBB, dom Jayme às indústrias de alumínio, siderurgia e
Chemello, convidou o povo a assumir os papel, pois se trata de energia barata.
compromissos da Semana Missionária Contudo, ambientalistas argumentam
"A
para a Amazônia, a ser realizada na corda América, chegou a que o alagamento de grandes áreas na
segunda semana de outubro, e a rezar hora de levantar”. Sob este região causará impactos violentos na
pelo aumento do número de sacerdotes grito, a Caminhada dos Már- floresta e desequilíbrio no ecossistema
a fim de que não falte eucaristia para tires, realizada no segundo amazônico, prejudicando também os
as comunidades. dia do 12º Intereclesial das ribeirinhos, pescadores e extrativistas
CEBs percorreu três quilô- da região. Segundo o Movimento dos
13°Intereclesial no Ceará metros, passando pelo Cemitério Santo Atingidos por Barragens - MAB, pelo
No final da celebração, dom Moacyr Antônio, pela mata e pelas famílias menos cinco mil pessoas terão suas
fez a entrega de um barco com semen- ribeirinhas do Rio Madeira. Tudo isso, vidas afetadas pelas obras direta ou
tes típicas da Amazônia aos cearenses em pouco tempo, poderá ser alagado indiretamente. Cerca de 48 famílias
como símbolo do 13º Intereclesial que pela barragem da Usina Hidrelétrica de pescadores e agricultores já foram
será realizado em 2013 na diocese de de Santo Antônio, cujo complexo com- expulsas da área.
Crato, nas terras do Padre Cícero. preende também a construção das
Usinas de Jirau, Guajará e Cachoeira Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora
Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões. Esperança (no lado da Bolívia). da revista Missões.
18 Setembro 2009 -
Roteiro de Encontro
Tema do mês: Juventude e violência
a) Acolhida
b) Oração do Pai Nosso
c) Dinâmica
d) Apresentação do tema, questionamentos e debates de Vanessa Ramos e Jonathan Constantino
e) Divididos em grupo: reflexões de caminhos possíveis
S
para se construir um projeto de vida (aspectos político,
econômico, social, cultural e eclesial) entada naquele ônibus ela olhava pela janela. Passavam diante
f ) Apresentação de propostas, a partir dos grupos de seus olhos pensamentos e paisagens. A vida não era nada
g) Oração conclusiva fácil para uma jovem de 20 anos de idade, negra, moradora da
Foto: Latuff 2007 comunidade do Morro do Adeus, localizada no Complexo do
Comunidade da Fazendinha, RJ. Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. O Complexo do Alemão é
uma das regiões mais violentas da capital fluminense. O Morro do Adeus,
em particular, é uma comunidade com infraestrutura precária. Essa situação
Hoje é invenção
colabora para a proliferação de doenças que atinge principalmente crianças
naquele local. As doenças em geral, surgem nos locais onde as políticas
públicas para a saúde e educação não são desenvolvidas.
Extermínio da juventude
- Setembro 2009 19
Destaque do mês
Centro de Tratamento
recupera dependentes químicos
“A dependência
química não tem
cura, é necessário
um tratamento
diário para o
resto da vida”.
Texto e fotos de Karla Maria
"S
ou careta, não uso drogas”,
lê-se na camiseta de um
jovem, 23 anos, gaúcho,
dependente químico, resi-
dente do Centro de Recupe-
ração Imaculada Conceição Centro de Recuperação Imaculada Conceição - CRIC, em Gravataí, RS.
- CRIC, em Gravataí, RS. O sino toca, são
6h45. É hora de enfrentar mais um dia, O CRIC é uma associação sem fins de Apoio à Ressocialização Pessoal. O
24 horas de oração, disciplina e trabalho, lucrativos, fundada em 2007 por Aristeu GPA possui uma dinâmica que permite
o tripé que sustenta os 46 moradores da Silva e pelo padre Eduardo Delazeri, a partilha das dores e angústias, orienta
do Centro na luta contra a dependência pároco em Canoas, da Paróquia Imaculada a família quanto à postura diante das
química. Conceição. A Obra surgiu em resposta à dificuldades dos dependentes e às visitas
demanda de famílias carentes. “Cada dia, à Fazenda, que acontecem no terceiro
mais pais e mães vinham nos procurar domingo de cada mês. Segundo padre
buscando ajuda para seus 'especiais', sen- Eduardo este apoio é fundamental. “Quan-
do a maior parte, famílias completamente do as famílias chegam a buscar ajuda, o
desestruturadas em todos os sentidos. problema já se agravou profundamente,
Um grupo de voluntários coordenado e todos os recursos emocionais estão
por Aristeu decidiu iniciar um Centro de esgotados. Todos os membros estão
Tratamento, voltado prioritariamente para consideravelmente vulneráveis, é preciso
o atendimento de carentes”, explica padre reconstruir o tecido familiar para que o
Eduardo. processo de recuperação aconteça”,
Para dar início ao tratamento o de- afirmou falando sobre a importância dos
pendente químico precisa procurar junto grupos de apoio, que trabalham sob os
com a família, o Grupo Portas Abertas 12 passos do Amor Exigente.
Imaculada Conceição - GPA. Este Gru- Antes de ir para a Fazenda, o de-
po se reúne semanalmente para apoiar pendente químico passa pela Casa de
os familiares. Segundo o coordenador, Triagem, que fica em Canoas, na Gran-
Aristides, ele deve ser uma extensão da de Porto Alegre. “Chegando aqui ele é
comunidade terapêutica. Os dependentes entrevistado junto com a família, com a
em fase final de tratamento e os gradua- esposa, a mãe e o pai, ele fala um pouco
dos, aqueles que passaram pelos nove do que estava usando e se quer realmente
meses na Fazenda, também participam, se tratar. Aqui ele fica até ter condições
tendo, todavia, momentos específicos de de ir para a Fazenda, um período de no
Padre Eduardo Delazeri. partilha nos grupos do NAREP - Núcleo mínimo 15 dias”, esclarece o coordenador
20 Setembro 2009 -
da Casa de Triagem, Leandro Mielniczuk, mês, o residente tem três saídas mensais
33, também tratado no CRIC. A Casa até a graduação (quando completa nove
de Triagem tem capacidade para até 15 meses - renascimento). A partir daí volta
jovens e, assim como na Fazenda há ao convívio de sua família, sob o olhar do
regras de convivência e um cronograma padrinho. O CRIC orienta o dependente,
rígido com atividades de manutenção, que faça mais três visitas mensais à Fa-
leituras, grupos de reflexão e oração. zenda, participe de reuniões do NAREP
Leandro esclarece ainda que, durante e vá à missa.
a permanência na Casa de Triagem, o Pesquisas apontam que 70% dos
dependente químico recebe assistência casos em tratamento têm recaída, é o que
de médicos, dentistas e psicólogos. Estes lamenta Marcos. “Infelizmente o número
profissionais atuam através do convênio de “abortos” (interrupção no tratamento) é
entre o CRIC e a Universidade Luterana bem maior do que de graduação. A cada
do Brasil – ULBRA. 100 que fazem um bom tratamento, só
15 ficam de pé”.
"Eu vivo só por hoje" O CRIC se mantém por meio de doa-
Marcos Henrique Corrêa, 37, começou ções, recebe semanalmente frutas, legu-
a beber aos 13 anos e usou cocaína por mes e verduras do Programa Coma Bem,
dez. Afastado do emprego, perdeu a esposa das Centrais de Abastecimento do Rio
e o convívio com suas duas filhas. Hoje, Grande do Sul - CEASA. Conta também
19 meses depois é monitor na Fazenda Marcos Henrique Corrêa. com as mensalidades dos residentes (500
onde realizou seu tratamento. “Eu vivo só reais). Quando não há possibilidade da
“A dependência
por hoje, minha missão é ajudar os outros
como um dia eu fui ajudado”.
Todos os monitores do CRIC (Fazenda
e Casa de Triagem) são dependentes
químicos que terminaram o tratamento
química não tem
e passaram a ser referenciais de per-
severança e luta. Eles acompanham os
cura, é necessário um
residentes nas atividades, observam a
saúde e horário da medicação (para os
tratamento diário para
que têm necessidade).
Com uma estrutura simples, a Fa- o resto da vida”.
zenda tem regras de convivência, não
há tempo ocioso. O dia começa às 6h45 Nas acomodações, tudo é extrema-
com o terço, café da manhã e oração. Há mente organizado e limpo, os armários
Horta: atividade de laborterapia.
espaço para a leitura da Bíblia, trabalhos são impecáveis, camas bem esticadas e
manuais, exercícios físicos, alimentação as roupas lavadas. Não se pode acumu- família arcar com este valor, é concedida,
dos animais, ordenha das vacas, cuida- lar mais de três peças de roupa suja, os de acordo com as possibilidades da co-
dos com a horta e o pomar e trabalho na vasos sanitários sempre limpos. O com- munidade, uma vaga de “carente”.
cozinha. Tudo organizado por escalas portamento social é acompanhado: não Cerca de 300 dependentes químicos
em rodízio. se pode mexer nos pertences dos outros, já passaram pelo CRIC e destes, 60 foram
deitar nem sentar na cama que não for graduados. Isso parece pouco, mas quan-
a própria, devem fazer a barba todas as do se pensa que são 60 vidas e famílias
segundas, quartas e sexta-feiras e limpar restauradas, percebe-se quão grande
os pés antes de entrar nas casas. Aqueles é a missão do Centro de Recuperação
que deslizam nos afazeres ou quebram Imaculada Conceição.
as regras ficam de “construtivo”, que são
medidas reeducativas, divididas de acordo Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora
com a infração. da revista Missões.
Em uma segunda-feira, dia de visita
do padre Eduardo, nossa reportagem o
acompanhou e pode ouvir ao fundo o
violão e um canto, uma prece: “entra na
minha casa, entra na minha vida, mexe
Mais informações
Ouça testemunhos de quem
com minha estrutura”. Uma roda de “guris”, superou a "drogadição" no progra-
jovens bonitos e saudáveis se formava, ma Escolhe Pois a Vida, da Rádio
era o momento da oração e do louvor. 106.3MHz, toda segunda às 19h ao
Enquanto isso padre Eduardo atendeu vivo, pelo www.alianca.fm.br
um a um, aqueles que o procuravam para Centro de Recuperação Ima-
uma conversa amiga. culada Conceição (homens) (51)
No terceiro mês na Fazenda o depen- 3472-4552 Gravataí – RS - Casa
dente escolhe um padrinho, alguém que Marta e Maria (mulheres) (51) 3342-
vai ser o responsável por acompanhar e 8012 Porto Alegre – RS.
Espaço na Fazenda. motivar o seu tratamento. A partir do sexto
- Setembro 2009 21
A Consolata peregrina
pela Bahia
Somos chamadas, consagradas e
Escolástica Sevegnani
enviadas. A Mãe Consolata nos ensina
como viver o amor-compromisso a
serviço da missão.
de Cristina Ribeiro Silva
O
quadro de Nossa Senhora Consolata que peregrina
pelo Brasil, chegou à cidade de Monte Santo, no sertão
da Bahia, no dia 4 de agosto de 2008. Foi recebido
festivamente por uma multidão. Passou o mês visitando
as famílias da paróquia no centro, nos bairros e nas
comunidades do interior. Ouviu gemidos inexprimíveis
dos humilhados e os temores cálidos dos aflitos. Derramou bên-
çãos, graças especiais e muita consolação.
Homenagem
Uma grande carreata com motociclistas, ciclistas, cavaleiros,
carro de som e rojões partiu da rodoviária até a frente da igreja
matriz. Jovens vestidas de hábito branco receberam Nossa Senhora
levando-a até o alto da escadaria onde anjos aguardavam-na em
festa. José Jorge Cabral a saudou em nome do povo, seguindo-se O povo acolhe o quadro de Nossa Senhora Consolata, em Monte Santo, BA.
as apresentações: teatro sobre a história da Consolata; coreografia
das baianas e poema-apelo à Mãe Consolata. O coral exibiu a são. Porém, queria receber a Virgem Consolata na Igreja! Rezei:
música “Utopia” encenada por moças trajando túnicas brancas. Ó Mãe Consolata intercede por mim a Jesus... Após meia hora,
Padre Vidal Moratelli, imc, destacou a ação evangelizadora todo o mal estar desapareceu! Aqui estou feliz!”, contou Maria
das irmãs missionárias da Consolata através dos tempos, nos Raimunda dos Santos.
diversos continentes. Enalteceu a presença significativa dos
jovens e lançou-lhes o desafio proposto pelo papa Bento XVI: A oração que sobe aos Céus
“Queridos jovens, o Senhor vos está pedindo que sejam profetas José, um senhor cego, chorando clamava: “Oh! Mãe Consolata
dessa nova época. Mensageiros de seu amor, capazes de atrair olha para este pobre homem que não enxerga! Olha para todos
pessoas a Deus e construir um futuro de esperanças para toda nós aqui! Olha por todo o mundo!” Suas compassadas palavras
a humanidade! Não tenhas medo de dizer sim a Jesus; de achar ecoavam no silêncio profundo dos que acompanhavam a pere-
vossa alegria em fazer a sua vontade. Colocai vossos talentos a grinação. No íntimo de todos reinava a certeza: Maria a mulher
serviço dos demais”. A celebração prosseguiu culminando com a pobre de Nazaré, sábia e destemida, a Mãe universal abraçava
bênção pela intercessão de Nossa Senhora Consolata. neste filho tão humilde todos os povos. Concluindo a peregrinação,
irmã Domingas Moratelli, MC, rezou: “Ó Mãe Consolata peregrina,
A Mãe que consola hoje termina tua passagem em Monte Santo! Entraste em muitos
Um casal que não conseguia ter filhos agradeceu o dom de lares, conheceste muitos rostos! É a nossa realidade. Partes,
uma linda menina. Dona Maria obteve a graça pela oração diária à mas nós tuas filhas e filhos, continuaremos a tua missão. Dá-nos
Consolata. Comovida expressou sua gratidão à Mãe peregrina, que coragem, paz e esperança para prosseguir caminhando com este
é consolo dos aflitos. Arlete de Jesus, animadora de comunidade, povo que tanto amamos!” A Mãe de Jesus e luz das nações segue
há anos vivia com um problema de garganta, que a impedia de peregrinando pelo país em preparação para a festa do centenário
cantar e falar. Confiante realizou uma novena a Consolata e foi das missionárias da Consolata em 2010.
curada. Em lágrimas clamou a todos a graça alcançada. “Hoje 4
de agosto, de 2008 acordei tonta e com mal estar geral, hiperten- Cristina Ribeiro Silva, MC, é educadora em Brasília, DF.
22 Setembro 2009 -
Timor Leste
Projeto Missionário renova a Igreja
Texto e fotos de José Altevir da Silva
É
com espírito de partilha e cooperação intereclesial que está
desenhado o rosto alegre e acolhedor da Igreja no Brasil.
Uma Igreja animada pela fé para ir e falar ao coração da
humanidade, a grande família de Deus. Embalada pela
missão de Jesus Cristo, a Igreja no Brasil, consciente
de que não é “dona da missão”, partiu para as terras do
Timor Leste. Foi no ano de 2000 que a CNBB, juntamente com a
Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB, assumiu um Projeto
de colaboração missionária com a diocese de Baucau, no Timor Aos poucos o povo está reconstruindo o Timor Leste.
Leste. Trata-se de uma missão intercongregacional, chegando
a contar com a participação de oito diferentes congregações. Oliveira (Irmãs Josefinas), Maria Helena Barbosa (Irmãs do
Essa experiência pode abrir novos caminhos de partilha entre Preciosismo Sangue de Cristo), Zélia Neiss (Congregação da
diferentes carismas como dom de Deus a serviço dos excluídos Divina Providência), Ana Fusinato (Irmãs Catequistas Francis-
e esquecidos por este mundo afora. canas), Regina Celi (Irmãs Jesus Crucificado), Anna Christina
(Irmã Franciscana do Sagrado Coração de Jesus) e Ivanilde
Avaliação global Rodrigues (Irmãs Mercedárias Missionárias do Brasil). As sete
Em 2009 o Projeto completa nove anos de existência, sen- missionárias estão morando em duas comunidades, em Laleia
do que o mesmo foi pensado, elaborado e planejado para dez e em Laclubar, na montanha.
anos. Durante todo este tempo as missionárias que lá atuavam O trabalho das missionárias é bastante diversificado, pois,
eram acompanhadas e apoiadas pelas Conferências citadas, tentam responder às necessidades da realidade, sendo sinal e
tendo o Conselho Missionário Nacional - COMINA, como ór- presença de uma Igreja viva e atuante no meio do povo. Há quem
gão responsável diretamente pela reflexão e encaminhamento atua na formação dos seminaristas, lecionando junto às crianças
prático. As missionárias no Timor Leste sempre puderam contar com necessidades especiais, no ensino secundário, na pastoral
com visitas oficiais da CNBB e CRB. Em 2009 foi enviada uma da criança, na infância missionária, entre outras atividades.
equipe formada por dom Pedro Brito Guimarães, bispo de São O povo enfrenta muitas dificuldades, sendo que 80% vive
Raymundo Nonato e membro da Comissão Missionária, padre no campo, o analfabetismo é alto, cerca de 56%. O forneci-
Daniel Lagni, diretor das Pontifícias Obras Missionárias e padre mento de água potável e luz elétrica é irregular; onde tem luz,
José Altevir da Silva, CSSp, assessor da Dimensão Missioná- esta funciona das 18h00 às 23h00, à base de geradores. No
ria e Secretário Executivo do COMINA. A visita que demorou comércio o Timor Leste importa quase tudo. Em geral, o país
quase vinte dias tinha por objetivo fazer uma avaliação global está em fase de reconstrução. Em conversa com pessoas, nós
do Projeto em várias instâncias, tendo em vista a conclusão do ouvíamos dizer: “se é difícil reconstruir o país, ainda mais refazer
mesmo, marcada para julho de 2010, época em que completará o interior das pessoas, marcadas pela violência dos conflitos
dez anos de existência. No momento fazem parte do Projeto ainda muito recentes”.
sete missionárias, de diferentes congregações: Marlene de Durante nossa visita tivemos oportunidade de além da ava-
liação propriamente dita, administrarmos palestras nas escolas,
no seminário, para os padres e missionários brasileiros que lá
se encontram. As temáticas giraram em torno do Ano Paulino,
da Missão em países empobrecidos, da re-evangelização, da
organização missionária da Igreja no Brasil e da espiritualidade
missionária. Foram dias cheios de atividades, mas valeu a pena,
pois estávamos junto a um povo que mesmo sofrido, expressava
fortemente a busca por uma vida digna. O que mais me chamou
a atenção foram as expressões de valores que numa sociedade
marcada pela globalização, já não se percebe muito: o respeito
e a educação para com as pessoas. O Timor Leste tem belas
paisagens. Como é bela a alma daquele povo sedento de Deus!
Mais de 90% da população se diz católica, com uma presença
crescente nos últimos anos de evangélicos. Às missionárias a
nossa gratidão por se lançarem à missão.
Equipe de vistantes com missionárias do Projeto em Timor Leste. José Altevir da Silva, CSSp Assessor Nacional da Comissão Missionária – CNBB.
- Setembro 2009 23
O que você faz com o seu lixo, hein?
“É esta a nossa hora e o tempo é
Infância
Missionária de Roseane de Araújo Silva pra nós, que chegue em todo canto
a nossa voz!” (Zé Vicente)
N
o mês em que entramos na primavera, estação das
Léo Fernandes
flores, vamos refletir sobre o meio ambiente. Vivemos
em uma sociedade que nos leva a consumir cada vez
mais, e muitas vezes de forma desnecessária. Com
isso passamos a produzir uma maior quantidade de lixo,
ou seja, descartamos diariamente materiais orgânicos
e não orgânicos, sem nos preocuparmos em saber onde serão
depositados. Esta preocupação deixou de ser “coisa de ambien-
talista”, tornando-se de muita gente, tanto no setor público, quanto
no privado. Uma das alternativas para a redução da quantidade de
lixo é a reciclagem, que vem gerando empregos diretos e indiretos.
Mas, por que é necessário separá-lo? Fazer a separação do lixo
ou uma coleta seletiva como é chamada, significa seu reaprovei-
tamento, reutilização ou reciclagem, confeccionando um novo
produto. Com toda a certeza, esta ação beneficiará em muito o
nosso meio ambiente. São muitos homens e mulheres envolvidos
neste trabalho; e, em alguns casos crianças que acompanham seus
24 Setembro 2009 -
- Setembro 2009 25
Entrevista
O grito
das mulheres
Mulheres marcam presença no 12º Intereclesial, Ginásio do SESI, Porto Velho, RO.
nas dificuldades do caminho. Enfrentam,
Por que ficar se com garra e teimosia, os desafios vindos
da sociedade, do trabalho, das igrejas. É
lamentando “que a claro que o fato de ser mulher não nos
isenta de repetir os mesmos esquemas
messe é grande e de dominação, presentes em toda parte.
A
comunidade intercongrecional, de quatro
partir do tema do 12º Intereclesial Irmãs. Além dela, integram o grupo uma Por que é importante que a Igreja
das CEBs: “Do vente da terra, salesiana, uma dominicana e uma filha respeite a igualdade de gênero?
o grito que vem da Amazônia”, da caridade de Montreal. No meio das Primeiro, para não revelar ao mundo
ouviu-se o grito das mulheres. atividades do Intereclesial Irmã Julieta uma imagem truncada de Deus com ca-
Durante o encontro, a análise falou à revista Missões. racterísticas apenas masculinas. A imagem
de conjuntura na perspectiva da e semelhança dele é o ser humano na
mulher esteve a cargo de Julieta Amaral Como você avalia a participação das sua integridade: homem-mulher (Gn 1,
da Costa, religiosa da Congregação das mulheres no 12º Intereclesial? 26-27). Segundo, para ser fiel à prática de
Irmãs da Providência de Gap, assessora Dos 3.010 delegados ao 12º Interecle- Jesus que não discriminou as mulheres,
das CEBs e do Centro de Estudos Bíbli- sial, as mulheres eram 1.234. Mais impor- foi seguido por elas desde a Galiléia (Lc
cos – CEBI, Minas Gerais. Nascida em tante que sua participação no Intereclesial, 8,1-3); curou muitas delas, para integrá-las
Campos Gerais, sul de Minas Gerais, esse número demonstra sua participação nos ministérios nas comunidades (Mc 1,
irmã Julieta é biblista, mestra em Teolo- no cotidiano das CEBs. São elas que 29-31); acolheu-as como discípulas (Lc 10,
gia Bíblica e reside atualmente na favela animam as comunidades, sem esmorecer 39); reconheceu seus gestos proféticos (Jo
26 Setembro 2009 -
12, 7); aprendeu com elas a abrangência méstico sofrida por meninas, os números mento da prática de Jesus, e de princípios
de sua missão (Mt 15, 26-28); elogiou-as explosivos de gravidez precoce, além de teológicos excludentes e ultrapassados,
como exemplo de discípulas (Mc 3, 31- tantas outras situações como o trabalho marcados por posições que revelam que
35); admirou-se com sua capacidade de escravo e a dominação masculina. De outro o sistema patriarcal ainda persiste com
partilha e de perseverança (Mc 12, 41-44 lado, o fortalecimento e a articulação de suas marcas milenares de dominação do
e Lc 18, 18); sentiu sua presença corajosa muitos movimentos de mulheres na região homem sobre a mulher.
aos pés da cruz (Lc 23, 48-49); escolheu-as expressam uma enorme capacidade de
como apóstolas dos apóstolos no anúncio resistência e de defesa das mulheres ama- As CEBs seriam um espaço privile-
da ressurreição. Isso sem falar na sua zônicas. Lutando contra relações de poder giado para corrigir essa situação?
presença atuante, como colaboradoras desiguais e violentas, elas vão crescendo Nas CEBs, as mulheres são maioria na
de Paulo, animadoras das primeiras co- em solidariedade e consciência, em força animação, nas lutas pela vida, exercem um
munidades, como diáconas, apóstolas e e criatividade na floresta e nas cidades, número maior de ministérios, mas, conti-
companheiras missionárias em todos os nas comunidades ribeirinhas e operárias, nuam excluídas, embora o esforço para a
momentos (Rm 16). Terceiro, para não ficar de indígenas, quilombolas e de sem-terra. superação de relações dominadoras seja
mais lamentando “que a messe é grande e São movimentos que articulam saúde, evidente. Precisamos ter a coragem de
poucos os operários” quando as operárias ecologia e economia para a vida. dar passos significativos de inclusão em
são muitas, estão aí garantindo a cami- nossas comunidades, sem preocupação
nhada da Igreja sem serem reconhecidas Quanto à participação, a Igreja reflete com a “oficialização”. As mudanças acon-
oficialmente como companheiras, apóstolas a mesma situação que a mulher encontra tecem a partir de baixo, do cotidiano da
e pessoas capazes para o exercício dos em outros setores da sociedade? vida. Inclusive nas celebrações é preciso
ministérios e de participação no poder de Para além das fronteiras da Amazônia, manifestar entre nós um discipulado de
decisão dos rumos da Igreja na construção a situação das mulheres, nesse contexto iguais em todos os ministérios.
do Reinado de Deus. de crise, apesar das muitas conquistas
desses últimos anos, continua exigindo A exclusão das mulheres no ministé-
Entre os compromissos assumidos muitos passos à frente. Corremos o risco rio ordenado estaria impedindo o acesso
no Intereclesial qual destacaria? de nos conformar dizendo: “temos mulheres das comunidades à Eucaristia, alimento
O compromisso de cuidado com o no Legislativo, no Executivo, no Judiciário, fundamental da nossa fé?
meio ambiente, a partir do tema CEBs e em todas as instâncias de poder”. Deixamos É uma injustiça cometida pela Igreja
Ecologia. Esse compromisso foi explicitado de analisar que o número delas é mínimo e Católica, negar às comunidades a celebra-
de muitas formas:
• denunciar as grandes empresas, como
as construtoras de usinas hidrelétricas,
as responsáveis pelo desmatamento,
as poluidoras etc.
• desmascarar o apoio do governo ao
agro e hidronegócio e à legalização
da grilagem de terras que seriam para
a reforma agrária.
• concretizar pequenos gestos no co-
tidiano da vida para fazer justiça ao
grito da Mãe Terra que geme e sofre
com tanta agressão e caminha, se
não for acudida em tempo, para ser
apenas sepultura dos seres que foram
criados para a vida, inclusive nós, os
humanos.
- Setembro 2009 27
Memória, poder e utopia
Atualidade
O
e reuniu 1.100 religiosos e religiosas de Brasil se encontram para rezar, refletir,
projeto “Novas Gerações e Vida todo Brasil, que independente de idade, partilhar e discutir temas próprios da Vida
Religiosa” tem uma história que função institucional e atuação missionária, Religiosa. A caminhada tem sido silenciosa,
se iniciou como prioridade na se uniram em torno de questões comuns simples como o movimento de uma se-
CLAR (Conferência Latino- e manifestaram preocupação com a qua- mente que é lançada em terra boa e pouco
Americana de Religiosos) e foi lidade da presença evangélica da Vida a pouco vai brotando e ganhando forma.
assumido na Assembleia Geral Consagrada no mundo. O Congresso teve Desta figuração nasceu a frase motora
da CRB (Conferência dos Religiosos(as) como tema “Memória, Poder e Utopia” e das Novas Gerações de São Paulo: “nós
do Brasil) em 2001. Atento aos “sinais foi organizado com conferências sobre os acreditamos na semente” – significando
dos tempos”, aos desafios das mudanças eixos temáticos, debates, tribuna livre e que ela é a esperança que nos faz crer
socioculturais e aos apelos da Vida Reli- testemunhos. Alguns dos compromissos na concretização do sonho de uma outra
giosa (VR), o projeto tem como objetivo assumidos no Congresso foram aproveitar Vida Religiosa possível.
oferecer caminhos para que ela acolha a estratégia dos grupos de reflexão para Fomos convidados pela CLAR para par-
as interpelações das Novas Gerações avançar em outras dimensões da VR ticipar do 1º Congresso Latino-Americano
em seus dinamismos, exigências e poten- como missionariedade, inserção e novos e Caribenho em Manágua, Nicarágua
cialidades, num processo interativo entre espaços de presença solidária; buscar entre os dias 22 e 24 de abril de 2009. O
as gerações, em vista da refundação da meios para ajudar as Congregações a Congresso teve como propósito impulsionar
própria Vida Religiosa. Contudo, foi em rever e redimensionar a formação; retornar um processo de revitalização à luz dos
2003 no Seminário Novas Gerações que ao Evangelho, sem atenuantes; buscar a sinais de vida nova e dos desafios da Vida
se decidiu formar grupos de reflexão em realização pessoal mediante a vivência Religiosa em nosso continente.
todo território nacional (64 grupos). Três de uma única paixão: por Deus e pelos O encontro permitiu compartilhar ex-
temáticas mereceram aprofundamento, pobres e continuar ensaiando alternativas periências, carismas e culturas. Éramos
pela importância que adquirem hoje para de convivência humana na dimensão 112 religiosos e religiosas, provenientes
Arquivo CLAR
28 Setembro 2009 -
desafios: identidade das Novas Gerações
Wesley Soares de Araújo
- Setembro 2009 29
Registro - SP Dom Roque Paloschi, bispo de Roraima presidiu a
Apoio aos Quilombolas celebração e lembrou que “as nossas comunidades
Bispos, padres e diáconos negros em carta divul- são chamadas a ser comunidades eucarísticas onde
gada no dia 30 de julho confirmaram apoio às lutas é partilhado o verdadeiro pão, o pão da vida que é
dos povos quilombolas. “Sabemos das dificuldades Jesus”. Disse também que para o diácono “a obediência
múltiplas que os quilombolas enfrentam no Brasil para é sinal de total disponibilidade ao projeto de Jesus e
terem suas terras tituladas”, afirmaram os religiosos. do Reino; a pobreza, como desapego e a caridade
“Dentre os empecilhos, além da lentidão do poder em favor dos excluídos e empobrecidos por um sis-
público para tal, existem os interesses espúrios dos tema de egoísmo e ganância; a castidade como amor
políticos, do agronegócio, das barragens etc”, com- vivido na totalidade de uma doação total a todos até
pletaram. A carta foi aprovada pela 21ª Assembleia a consumação final”. O diácono Corrado é italiano,
Nacional dos Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros estudou teologia em São Paulo e atualmente trabalha
do Brasil, realizada entre os dias 27 e 31 de julho, na Missão Catrimani, junto aos índios Yanomami. Em
em Registro, interior de São Paulo, que debateu o breve ele será ordenado padre.
tema: “Quilombos, terra de Deus”. Na ocasião, os No dia 22 de agosto, em Murang’a, Quênia, foi
mais de 50 participantes do evento escolheram a ordenado padre o diácono queniano Bernard Maina,
nova diretoria do Instituto Mariama. Para presidente a imc, que estudou teologia em São Paulo e realizou
Assembleia elegeu o padre Guanair da Silva Santos. trabalhos pastorais durante um ano em Jaguarari,
Como vice-presidente foi eleito dom Antonio Wag- Bahia. Padre Bernad em breve trabalhará na região
ner da Silva. Para 1º e 2º secretários foram eleitos, da Amazônia. O diácono tanzaniano Rodrick Tumaini
respectivamente, padre Jurandyr Azevedo Araujo e Minja, imc, colega de estudos do padre Bernard
José Luiz Reis Luiz. Para 1º tesoureiro a Assembleia foi ordenado padre em Moshi na Tanzânia, no dia
VOLTA AO BRASIL
escolheu Lázaro Gabriel Lourenço. Já padre Fidele 9 de julho e enviado em missão na Venezuela. Já
Katsan ocupará o cargo de 2º tesoureiro. o diácono Job Mbutu Masyula, imc, que fez seus
estudos teológicos em São Paulo e trabalha na for-
Brasília – DF mação e pastoral em Curitiba será ordenado padre
Conferência de Comunicação no dia 10 de outubro, na sua terra natal, Makima,
Com o tema “Comunicação: meios para a cons- no Quênia. Após a ordenação, Job continuará sua
trução de direitos e de cidadania na era digital”, será missão no Brasil.
realizada de 1 a 3 de dezembro, a I Conferência
Nacional de Comunicação, presidida pelo Ministério Manaus - AM
das Comunicações, com a colaboração direta da Discípulos e discípulas na Amazônia
Secretaria Geral da Presidência e da Secretaria de A CRB - Conferência dos Religiosos e Religiosas
Comunicação Social. Na Portaria 185, de 20 de abril do Brasil convocou seus membros para o I Encontro
de 2009, foram definidos os órgãos do poder público de Missionários e Missionárias na e da Amazônia,
e as instituições da sociedade civil que compõem a que acontece nos dias 5 a 7 de outubro, no Centro
Comissão Organizadora, responsável por regular todos de Treinamento “Maromba”, em Manaus. O objetivo
os aspectos da Conferência. Ela é composta por oito é reforçar a dimensão missionária da Vida Consa-
representantes do Executivo Federal, dezesseis repre- grada e o seu compromisso evangélico e solidário
sentantes da sociedade civil, divididos entre entidades com os missionários naquela Região além de par-
do movimento social, organizações do setor privado tilhar experiências e contribuir com os projetos da
e mídia pública. Os trabalhos serão encaminhados CRB Nacional que mantém e acompanha, nesse
por meio de três comissões internas: de Logística; momento, três comunidades com nove religiosas de
de Metodologia e Sistematização e de Divulgação. diferentes Congregações. A CRB trabalha ainda em
Em preparação à Conferência Nacional, realizam-se parceria com outras seis Congregações presentes na
conferências municipais e estaduais para garantir a Amazônia somando hoje 12 religiosos e religiosas em
participação da população na discussão e definição diferentes iniciativas.
de diretrizes para um determinado setor do Estado. Participam do Encontro missionários e missionárias
O debate deve envolver, entre outros, os seguintes oriundos ou atuando na Amazônia. “Mesmo reconhe-
assuntos: concentração da mídia no país; produção cendo as dificuldades como distância e o custo das
independente e regional na TV e no rádio; políticos passagens, estamos nos empenhando para garantir
donos de rádios e TVs; rádios e TVs comunitárias, a participação de um número significativo de missio-
públicas e controle social das concessões; universali- nários das diversas dioceses e Regionais”, explica a
zação da banda larga de internet; acesso ao telefone presidente da CRB, irmã Márian Ambrósio. Interessados
fixo; fomento à produção do cinema nacional; direito devem preencher a ficha de inscrição e enviá-la para
autoral; rádios e TVs digitais, entre outros. a irmã Antônia Mendes Gomes, assessora do Projeto
de Evangelização da Amazônia, no endereço da CRB
Boa Vista - RR Nacional. Inscrições abertas até o dia 25 de setembro
Ordenações de missionários no valor de R$ 20,00 (pago no local).Conferência dos
No dia 2 de agosto, na comunidade Nossa Senhora Religiosos do Brasil, SDS Bloco H n. 26 Sala 507.
Auxiliadora, Área Missionária do Caranã, na periferia Edifício Venâncio II - Brasília/DF - 70393-900.Fone/
de Boa Vista, Roraima, foi ordenado diácono o mis- Fax: (61) 3226-5540. www.crbnacional.org.br
sionário da Consolata, Corrado Giovanni Dalmonego.
Significativa foi a presença das comunidades da área,
de missionários e missionárias que atuam na diocese. Fontes: CNBB, CRB, revista Missões.
30 Setembro 2009 -
Subsídios Missionários
O Brasil na Missão Continental
O
SIM MISSÕES
s subsídios produzidos Missionários(as)
Pontifícias Obras
pela Comissão respon-
sável pelo Projeto “O Missionárias da Consolata
Brasil na Missão Con- Cx. Postal, 03670 Rua Dom Domingos
tinental”, encontram-se 70084-970 de Silos, 110
disponíveis para download em pági- Brasília - DF 02526-030
na eletrônica criada especialmente Tel: (61) 3340.4494 São Paulo - SP
para divulgar o Projeto. Para baixar Fax:(61) 3340.8660 Tel: (11) 2256.8820
conteúdos como a explicação do
Tríptico (Capelinha Missionária), a pom@pom.org.br redacao@revistamissoes.org.br
Apresentação do Projeto Nacional www.pom.org.br www.revistamissoes.org.br
de Evangelização, vídeos, artigos e
fotos, basta acessar a página: Mundo e Missão Missão Jovem
http://www.revistamissoes.org.br/ Missionários do Missionários
missaocontinental/home.htm
Comunidades, paróquias, dio- PIME do PIME
ceses, grupos e organismos podem Rua Joaquim Cx. Postal, 3211
utilizar o material em eventos e pro- Távora, 686 88010-970
gramas de formação e animação 04015-011 Florianópolis - SC
missionária. São Paulo - SP Tel: (48) 3222.9572
O site recebe e divulga produções, Tel: (11) 5549.7295 Fax: (48) 3222.9967
notícias, artigos e experiências no Fax:(11) 5549.7257
contexto da Missão Continental em
mundomissao@terra.com.br mj@missaojovem.com.br
curso no Brasil. Contribuições podem
www.mundomissao.com.br www.missaojovem.com.br
ser enviadas para a assessoria de
imprensa.
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